1” de Maio de 2006 - 120 anos de luta - O movimento ... · a monarquia e pede o fim da guerra. Em...

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Terça-feira 4 de abril de 2006 Edição nº 2147 ESPECIAL Jornada e contratos de trabalho regulamentados, organizaçªo sindical e legislaçıes de saœde e se- gurança. Essas sªo algumas das garantias mínimas que os trabalhadores tŒm hoje. Ainda nªo Ø tudo que queremos, porØm repre- sentam avanços significativos em relaçªo ao que o capitalismo planejou para classe trabalhadora. HÆ atØ 120 anos eram comuns jornadas de 16 horas, inclusive para crianças, controle total e mul- ta para quem bebesse Ægua, se lavasse ou assobi- asse no local de trabalho. Parar a mÆquina, jamais! Esta Tribuna Metalœrgica inaugura uma sØrie de quatro ediçıes sobre a história do 1” de Maio e que irÆ circular todas as terças-feiras de abril. Acompanhe as lutas e as conquistas da classe trabalhadora nestes 120 anos. O quadro O Quarto Estado, pintado em 1901 pelo italiano Giuseppe Pellizza da Volpedo, representa a caminhada dos trabalhadores ao poder Inscriçıes à Maratona estªo abertas No início do século 20, os trabalhadores franceses privilegiam a luta pela jorna- da de oito horas. Assim, a partir de 1906 os operários passam a deixar as fábricas depois da oitava hora de tra- balho. Na França e em outros países europeus, os trabalha- dores organizados continuam conquistando melhores con- dições de trabalho com a pro- teção ao trabalho infantil e feminino, limitações das jor- nadas e ampliação dos dias de descanso. Em 1914, com a Primei- ra Guerra Mundial, o movi- mento operário adota posi- ção antimilitarista e em defe- sa da paz. Na Rússia, a revolução comunista de 1917 derruba a monarquia e pede o fim da guerra. Em 1919, ao fim da Pri- meira Guerra Mundial, os países criam Liga das Nações. Pressionada pelos trabalha- dores, a nova entidade cria a OIT - Organização Interna- cional do Trabalho, que em sua primeira convenção san- cionou a jornada de trabalho de oito horas diárias. No final da Segunda Guerra, em 1949, o movi- mento operário está em ascenção. Os operários dos países não envolvidos territo- rialmente na guerra - como Estados Unidos, Austrália e Canadá -, conquistam jorna- da semanal de 40 horas. A Liga das Nações se transfor- ma na Organização das Na- ções Unidas (ONU). Na década de 50, já em Trabalho ganha regulamentaçªo 1” de Maio de 2006 - 120 anos de luta - O movimento operÆrio no mundo Cartaz francŒs defende oito horas de trabalho, oito horas de lazer e oito horas de descanso JÆ no final do sØculo 19, italianos apresentam a idØia de solidariedade internacional entre os trabalhadores tempos de Guerra Fria, que é a disputa entre os países ca- pitalistas e a União Soviética, acontece uma reacomodação das entidades sindicais, resul- tado das lutas travadas den- tro do movimento operário europeu. As centrais sindicais afi- nadas com os partidos políti- cos sob influência da União Soviética continuam filiadas à Federação Sindical Mundial. Já as tendências operá- rias afinadas com a social-de- mocracia como a Federação Americana dos Trabalhado- res, a Federação Inglesa e a Central Americana lideram movimento de criação da CIOLS - Confederação In- ternacional das Organizações Sindicais Livres. Entre os anos 50 e 70, os trabalhadores, principal- mente europeus, conseguem a ampliação dos direitos tra- balhistas com a adoção do descanso semanal, licença por doença ou maternidade, fé- rias anuais e a diminuição dos anos trabalhados. Nos anos 90, as grandes corporações, fortalecidas com a globalização econômi- ca, iniciam movimento para avançar sobre as legislações nos países onde têm empre- sas e precarizar os direitos tra- balhistas. A Maratona do Trabalhador, uma das atividades de comemoraçªo do 1” de Maio, jÆ tem inscriçıes abertas na Sede do Sindicato ou nas Regionais Santo AndrØ e Diadema. A Maratona serÆ realizada dia 30 de abril, a partir das 8h, num percurso de aproximadamente nove quilômetros, entre a Regional Diadema e a Sede do Sindicato, em Sªo Bernardo. O valor da inscriçªo Ø R$ 5,00. AlØm da Maratona, estªo programadas para as comemaraçıes do 1” de Maio na categoria a exposiçªo de artes plÆsticas e artesanato dos trabalhadores, dias 29 e 30 de abril, na Sede, a premiaçªo do 1” Concurso de Redaçªo e Desenho e homenagens a personalidades que se destacaram na luta dos trabalhadores, dia 29 de abril. Trabalhadores desfilam pelas ruas de Moscou após tomada do poder pela revoluçªo russa Soldados russos comemoram a derrubada do nazismo em Berlim

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Terça-feira4 de abril de 2006Edição nº 2147

ESPECIAL

Jornada e contratos de trabalho regulamentados,organização sindical e legislações de saúde e se-gurança. Essas são algumas das garantias mínimasque os trabalhadores têm hoje.

Ainda não é tudo que queremos, porém repre-sentam avanços significativos em relação ao queo capitalismo planejou para classe trabalhadora.

Há até 120 anos eram comuns jornadas de 16

horas, inclusive para crianças, controle total e mul-ta para quem bebesse água, se lavasse ou assobi-asse no local de trabalho. Parar a máquina, jamais!

Esta Tribuna Metalúrgica inaugura uma sériede quatro edições sobre a história do 1º de Maio eque irá circular todas as terças-feiras de abril.Acompanhe as lutas e as conquistas da classetrabalhadora nestes 120 anos.

O quadro O Quarto Estado, pintado em 1901 pelo italiano Giuseppe Pellizza da Volpedo, representa a caminhada dos trabalhadores ao poder

Inscrições à Maratonaestão abertas

No início do século 20,os trabalhadores francesesprivilegiam a luta pela jorna-da de oito horas. Assim, apartir de 1906 os operáriospassam a deixar as fábricasdepois da oitava hora de tra-balho.

Na França e em outrospaíses europeus, os trabalha-dores organizados continuamconquistando melhores con-dições de trabalho com a pro-teção ao trabalho infantil efeminino, limitações das jor-nadas e ampliação dos dias dedescanso.

Em 1914, com a Primei-ra Guerra Mundial, o movi-mento operário adota posi-ção antimilitarista e em defe-sa da paz.

Na Rússia, a revoluçãocomunista de 1917 derrubaa monarquia e pede o fim daguerra.

Em 1919, ao fim da Pri-meira Guerra Mundial, ospaíses criam Liga das Nações.Pressionada pelos trabalha-dores, a nova entidade cria aOIT - Organização Interna-cional do Trabalho, que emsua primeira convenção san-cionou a jornada de trabalhode oito horas diárias.

No final da SegundaGuerra, em 1949, o movi-mento operário está emascenção. Os operários dospaíses não envolvidos territo-rialmente na guerra - comoEstados Unidos, Austrália eCanadá -, conquistam jorna-da semanal de 40 horas. ALiga das Nações se transfor-ma na Organização das Na-ções Unidas (ONU).

Na década de 50, já em

Trabalho ganha regulamentação1º de Maio de 2006 - 120 anos de luta - O movimento operário no mundo

Cartaz francês defende oito horas de trabalho, oito horas de lazere oito horas de descanso

Já no final do século 19, italianos apresentam a idéia de solidariedadeinternacional entre os trabalhadores

tempos de Guerra Fria, queé a disputa entre os países ca-pitalistas e a União Soviética,acontece uma reacomodaçãodas entidades sindicais, resul-tado das lutas travadas den-tro do movimento operárioeuropeu.

As centrais sindicais afi-nadas com os partidos políti-cos sob influência da UniãoSoviética continuam filiadas àFederação Sindical Mundial.

Já as tendências operá-rias afinadas com a social-de-mocracia como a FederaçãoAmericana dos Trabalhado-res, a Federação Inglesa e aCentral Americana liderammovimento de criação da

CIOLS - Confederação In-ternacional das OrganizaçõesSindicais Livres.

Entre os anos 50 e 70,os trabalhadores, principal-mente europeus, conseguema ampliação dos direitos tra-balhistas com a adoção dodescanso semanal, licença pordoença ou maternidade, fé-rias anuais e a diminuição dosanos trabalhados.

Nos anos 90, as grandescorporações, fortalecidascom a globalização econômi-ca, iniciam movimento paraavançar sobre as legislaçõesnos países onde têm empre-sas e precarizar os direitos tra-balhistas.

A Maratona do Trabalhador, uma das atividades de comemoração do1º de Maio, já tem inscrições abertas na Sede do Sindicato ou nas

Regionais Santo André e Diadema. A Maratona será realizada dia 30de abril, a partir das 8h, num percurso de aproximadamente novequilômetros, entre a Regional Diadema e a Sede do Sindicato, em

São Bernardo. O valor da inscrição é R$ 5,00.

Além da Maratona, estão programadas para as comemarações do 1º deMaio na categoria a exposição de artes plásticas e artesanato dos

trabalhadores, dias 29 e 30 de abril, na Sede, a premiação do1º Concurso de Redação e Desenho e homenagens a personalidades

que se destacaram na luta dos trabalhadores, dia 29 de abril.

Trabalhadores desfilam pelas ruas de Moscou após tomadado poder pela revolução russa

Soldados russos comemoram a derrubada do nazismo em Berlim

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Publicação diária do

Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

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Repórteres: Carlos Alberto Balista,

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Repórter Fotográfica: Raquel Camargo

Arte e Editoração Eletrônica: Eric Gaieta

CTP e Impressão: Simetal ABC Gráfica

e Editora Fone: 4341-5810

Escravidão e revolta de camponeses1º de Maio de 2006 - 120 anos de luta - O movimento operário no mundo

Classe operáriasurge na Inglaterra

A história da luta operá-ria por melhores salários emelhores condições de traba-lho é marcada por massacres,assassinatos, fuzilamentos etodo tipo de repressão porparte das elites.

Se hoje existe uma jorna-da de trabalho regulamenta-da e outros direitos, devemosà coragem e à garra desde osprimeiros operários, que su-peraram o medo e enfrenta-ram patrão, governo, políciae a justiça de suas épocas. NaAntiguidade, os governantesusavam o trabalho escravo.

Na Grécia, eles eram tra-tados como ferramentas quefalavam. Esse tipo de escravis-mo em massa terminou coma queda do Império Roma-no, no século 5. Roma, inclu-sive, registrou a primeira re-

volta em massa de escravos,liderada por Spartacus.

Durante a Idade Média,quando a maior atividade erano campo, as revoltas doscamponeses por terra e con-tra a fome eram esmagadaspelo senhor feudal, que tinhao poder de vida e morte so-bre seus súditos.

Nesse longo caminhoentre o feudalismo e o capi-talismo, milhares de campo-neses perderam suas vidas aoexigir condições mínimas desobrevivência.

Nas cidades, a situação serepetia. Na Itália do século14, os nobres de Florença nãovacilaram em sufocar ummovimento dos artesãos, quedurante dois meses dominoua cidade exigindo redução dohorário de trabalho.

A classe operária surgiuna Inglaterra, na segundametade do século 18, com aRevolução Industrial.

As novas descobertaspossibilitam a invenção damáquina a vapor e o setor têx-til ganha o tear e a máquinade fiar mecânica.

Antes dos teares, os pa-nos eram confeccionados nascasas em fiações primitivas.Com a máquina, as pessoasdeixam a casa e se unem aoutras, na fábrica, para ope-rar os teares, decretando ofim das comunidades aldeãse a produção artesanal.

Tudo se modifica, a vida

das pessoas, seus costumes,cultura e a relação com o tra-balho.

Nas fábricas, as condi-ções de trabalho são terríveis.Jornada de 16 horas, contro-le total e multa para quembeber água, se lavar, assobiarou acender a luz a gás cedodemais. Parar a máquina, ja-mais!

Os patrões exigem dascrianças o mesmo esforço.Nas minas britânicas, elas sãousadas para transpor galeriasmuito estreitas puxando va-gões de carvão mineral.Grande parte morria antesdos 20 anos.

Aumento da exploração sobre otrabalho faz nascer a organização

As novas tecnologias aumentam a dis-tância entre aqueles aos quais falta de tudo eos outros aos quais sobra até o supérfluo.

Nas fábricas, os trabalhadores se desco-brem iguais na luta contra o opressor, au-mentando a união e a organização.

No início do século 19, em 1819, os ope-rários britânicos em Manchester, a principalcidade industrial do País, são recebidos combalas de canhão ao exigirem redução da jorna-da de trabalho e melhores condições de vida.

Depois do massacre, o governo aprovalei limitando em 12 horas a jornada de tra-balho dos menores entre 9 e 16 anos.

Diante da decisão do Parlamento, os pa-trões se rebelam e iniciam um locaute (grevede patrões) alegando que esse benefício traba-lhista reduziria os lucros a ponto de fechar asfábricas. A mesma alegação que os patrões usamaté hoje diante de qualquer reivindicação.

Em 1824, depois de muita luta dos tra-balhadores, o governo inglês reconhece as as-sociações de empregados e eles passam a termelhor organização, inclusive promovendogreves em cidades do interior do país.

Em 1847, os trabalhadores conseguemaprovar a lei que reduziu a jornada de 10 horaspara adultos, voto universal e reformas sociais.

Cartaz do filme Spartacus, sobre a primeira revolta de escravos durante o Império Romano

Até a Revolução Industrial, toda a produção era feita em casa por artesãos

A primeira máquina avapor, inventada porJames Watt, ao lado.Abaixo, crianças naprodução

Fuzilamento público dos integrantes da Comuna de Paris, em gravura de autor desconhecido do Museu Nacional de Portugal

1º de Maio nasce como dia de luta

Se a Revolução Indus-trial que começou na Ingla-terra determinou uma novaeconomia mundial, a Revo-lução Francesa, iniciada em1789, disseminou entre aclasse operária questões polí-ticas e ideológicas a partir dosconceitos de liberdade, igual-dade e fraternidade.

Surgem, então, dezenasde movimentos operários rei-vindicando, além de melho-res condições de trabalho, ofim da propriedade privadae a socialização dos meios deprodução.

São movimentos violen-tos, reprimidos também comviolência pelos governantes epatrões. Em 1831, os traba-lhadores em Lyon pegam asarmas e ocupam a cidade,num ambiente de revolta quese espalharia por toda a Fran-ça e a Europa. É a Primaverados Povos e o ano, 1848.

Em vários países, os ope-rários pegam em armas con-tra os regimes das elites. NaFrança a revolução derrubaa monarquia.

Nesse mesmo ano, Karl

Na França, um governo de trabalhadores1º de Maio de 2006 - 120 anos de luta - O movimento operário no mundo

Nos Estados Unidos, osoperários criam uma associa-ção em 1827, mas a organi-zação dos trabalhadores sóganha força depois da guer-ra civil de 1848.

Em 1881 nasce a Fede-ração Americana do Trabalhotendo como bandeira princi-pal a jornada diária de oitohoras. Em 1886, depois devárias greves, muitas delas re-primidas com extrema vio-lência, a associação chama u-ma greve nacional para o dia1º de maio.

O impacto da greve foigrande e, a partir daí, vários

Marx e Friedrich Engels pu-blicam, em fevereiro, o Ma-nifesto Comunista.

Em 1864, franceses eingleses realizam congressopara criar uma coordenaçãode trabalhadores de diferen-

tes países. O encontro acon-tece em setembro e ficou co-nhecido como a Primeira In-ternacional.

A abertura é feita porMarx, que avisa: “A emanci-pação da classe trabalhadora

deve ser feita por ela mesma”.Em 1871, os operários

de Paris tomam o poder e de-cretam a Comuna, consti-tuindo o primeiro governodos trabalhadores da História.

Do programa da Comu-

na constava: terra aos campo-neses, instrumento de produ-ção aos operários e trabalhopara todos. A Comuna éesmagada cem dias depois,30 mil operários são fuziladose outros milhares deportados.

Estados aprovam a lei dasoito horas.

Em Chicago, na época avanguarda do capitalismonorte-americano, a políciaataca assembléia de milharesde trabalhadores promoven-do uma carnificina com de-zenas de mortos, milhares deprisões e, depois, cinco enfor-camentos.

Em 1889, trabalhadoresreúnem-se em congresso, emParis, fundando a SegundaInternacional.

Nele é aprovado o 1º deMaio do ano seguinte comoo dia em que os trabalhado-

res devem organizar grandesmanifestações em seus paísesreivindicando a redução dajornada de trabalho e outrasreivindicações específicas.

Dois anos depois, no se-gundo congresso da Segun-da Internacional, com ava-lia-ção positiva das manifes-tações já realizadas, os parti-cipantes decidem tornar per-manente o 1º de Maio comoum dia de luta dos trabalha-dores de todos os países paraapresentarem e conquista-rem reivindicações comuns,entre elas a redução da jor-nada de trabalho.

O manifesto comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels, afirma que a sociedade é dividida entre explorados e exploradores

Cartaz convocando o 1ºde Maio (acima) diz queos homens morrem eas idéias ficam, numaalusão aos cincooperários norte-americanos enforcados(ao lado)