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Olavo de Carvalho o mínimo que você precisa saber para não ser um idiota ORGANIZAÇÃO Felipe Moura Brasil 1ª edição 2017

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Olavo deCarvalho

o mínimoque vocêprecisa saber para não ser um idiota

O RGAN I Z AÇÃO

Felipe Moura Brasil

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1ª edição

2017

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Sumário

Nota do editor à edição de colecionador 15

Nota do editor 17

Apresentação: O mínimo que você precisa saber sobre a idiotice, o autor e o livro, de Felipe Moura Brasil 19 JUVENTUDE

O imbecil juvenil 31Geração perdida 33Jovens paranaenses 35

CONHECIMENTODesejo de conhecer 39O poder de conhecer 40Sem testemunhas 43

VOCAÇÃOVocações e equívocos 49A mensagem de Viktor Frankl 51Redescobrindo o sentido da vida 55

CULTURAEspírito e cultura: o Brasil ante o sentido da vida 61O orgulho do fracasso 67A origem da burrice nacional 69A fonte da eterna ignorância 74

POBREZAPobreza e grossura 81Aprendendo com o dr. Johnson 84Direitos e pobreza 86Um paralelo entre Eric Voegelin e Lula 88

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FINGIMENTOUm capítulo de memórias 93Cavalos mortos 96Os histéricos no poder 98

DEMOCRACIADe Bobbio a Bernanos 105A metonímia democrática 107Democracia normal e patológica — I 108Democracia normal e patológica — II 111Extremismo e vergonha 115

SOCIALISMO

1. Fatos x interpretações Que é ser socialista? 121Citações elucidativas 123Lógica da canalhice 125

2. Socialismo x capitalismo Ainda a canalhice 128Confronto de ideologias? 130A vitória do fascismo 132

MILITÂNCIA

1. Espiritualidade x fanatismoA escolha fundamental 137Psicologia do fanatismo 139Ainda o fanatismo 141

2. Modelos x condutas Causas sagradas 143O paradoxo esquerdista 145A autoridade religiosa do mal 150

REVOLUÇÃO

1. Globalismo A revolução globalista 161Onipresente e invisível 164Lula planetário 166Quem foi que inventou o Brasil? 169História de quinze séculos 170

2. Manipulação Guerras culturais 172A elite que virou massa 174

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Armas da liberdade 176A demolição das consciências 179Engenharia da complacência 181Conduzidos à força 183Da servidão hipnótica 185

3. Mentalidade A mentalidade revolucionária 188Ainda a mentalidade revolucionária 193A ilusão corporalista 195Ascetas do mal 197A mentira estrutural 198

4. Sociedade x culpa Direto do inferno 200A fórmula para enlouquecer o mundo 202Sociedade justa 206Regra geral 208

5. Capitalistas x revolucionários Capitalismo e Cristianismo 210O bem e o mal segundo Olívio Dutra 215Dinheiro e poder 218

6. Dinheiro x conhecimento Vaidade mortal 220A contracultura no poder 222O suicídio coletivo dos ricos 224Lembrem- se de Karl Radek 226

7. Revolucionários x mundo melhor O único mal absoluto 227A transfiguração do desastre 230Até que enfim 232

8. Desmascaramento A boa e velha língua dupla 236Língua dupla e estratégia 238Como debater com esquerdistas 241

INTELLIGENTZIA (MAS PODE CHAMAR DE MÁFIA)

1. Analfabetismo & glória Tutto è burla nel mondo 251Glórias acadêmicas lulianas 253Frases e vidas 256

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2. Povo & representação Abaixo o povo brasileiro 258O óbvio esotérico 260Império do fingimento 261

3. Mídia & ocultação Quem eram os ratos? 263O preço do colaboracionismo 266O maior dos perigos 268Saudades da idiotice 270É proibido parar de mentir 272A técnica da rotulagem inversa 274Os iluminados 276

4. Moralidade & inversão Professores de corrupção 282É proibido perceber 284A reciclagem da ética 286Aguardem o pior 287A fossa de Babel 289

5. Universidade & farsa Uma geração de predadores 296A opção pela farsa 298A vigarice acadêmica em ação 301A verdadeira cultura negra 303

6. História & embuste A História oficial de 1964 305Resumo do que penso sobre 1964 308O tempo dos militares e os dias de hoje 310O ano em que o tempo parou 3101968, o embuste que não terminou 312

7. Marxismo & vigarice Devotos de um vigarista 314O plano e o fato 316Debilidades 319

8. Decadência Saudades do jornalismo 321Onde começou a queda 323Da fantasia deprimente à realidade temível 326

9. Hospício O Brasil falante 331Gansos que falam 333A revolução dos loucos 335

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10. Conspiração Teoria da conspiração 338Falsos segredos 340Credibilidade zero 342

EDUCAÇÃOJesus e a pomba de Stalin 357Educação ao contrário 360O futuro da boçalidade 361O novo imbecil coletivo 364Viva Paulo Freire! 366Educando para a boiolice 368

INVEJADialética da inveja 375Da inveja mal confessada 377Desprezo afetado 378A ingenuidade da astúcia 380

ABORTODesejo de matar 385Lógica do abortismo 387Conversa franca sobre o aborto 389

CIÊNCIAA ciência contra a razão 395Sonhando com a teoria final 398Por que não sou um fã de Charles Darwin 400

RELIGIÃO

1. Fé x ideologia O testemunho proibido 407Do mito à ideologia 409Como ler a Bíblia 411

2. Perseguição x silêncio Para além da sátira 412A guerra contra as religiões 415Maquiadores do crime 418Má conselheira 421A briga que ninguém quer comprar 423Cem anos de pedofilia 427

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LINGUAGEM

1. Literatura x língua de pau Longa noite 433A palavra- gatilho 435Figuras de linguagem 437

2. Escritores x fingidores Literatura do baixo-ventre 440Coisas sérias 442Conversa sobre estilo 446

DISCUSSÃOA origem das opiniões dominantes 455Debatedores brasileiros 458Debate e preconceito 460Zenão e o paralítico 462Barbárie mental 465

PETISMO

1. Lula Louvores à mancheia 469Bondade mesquinha 472Lula, réu confesso 474Ato de rotina 479

2. Tradição & estratégia Nada de novo 482Excesso de delicadeza 483A engenharia da desordem 487Como sempre 489Depois do mensalão 491

FEMINISMOBreve história do machismo 499A era dos masturbadores 500A técnica da opressão sedutora 503

GAYZISMOÓdio à realidade 509Consequências mais que previsíveis 510Já notaram? 516Psicólogos e psicopatas 518

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CRIMINALIDADE

1. Fomentação A longa história do óbvio 525Primores de ternura — 1 526Primores de ternura — 2 528

2. Terrorismo & narcotráfico Não quero citar nomes 530Queremos ser repudiados 533Um discurso dos demônios 535Pensando com a cabeça de George Soros 537

DOMINAÇÃOOs donos do mundo 543O que está acontecendo 545Quem manda no mundo? 547

EUA

1. Bush A desvantagem de ver 553Em nome dos cadáveres 554Avaliando George W. Bush 556

2. ObamaOs pais da crise americana 558O advento da ditadura secreta 562Fugindo da humilhação 564O erro dos birthers 567O Fome Zero de Obama 567O império das puras coincidências 570Salvando o triunvirato global 572Velho truque 574Pensando como os revolucionários 576Desarmando as criancinhas 579Armados e desarmados 581

LIBERTAÇÃOAutoexplicação 587Idiotas reciclados 588Cumprindo meu dever 590Por que não sou liberal 592

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ESTUDOA tragédia do estudante sério no Brasil 597Se você ainda quer ser um estudante sério... 601Pela restauração intelectual do Brasil 606Espírito e personalidade 612

Posfácio à edição comemorativa 615

Sites 623

Sobre o autor 625

Sobre o organizador 627

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Nota do editor à edição de colecionador

Quando, em 2012, Felipe Moura Brasil, amigo fraterno, procurou-me com a ideia de organizar um livro com escritos jornalísticos do filósofo Olavo de Carvalho, encampei-a na hora. Por indisciplina, jamais conseguira ser aluno do professor, mas conhecia sua obra razoavelmente bem, lera todos os seus livros, e sempre o tivera como referência incontornável. A proposta de Felipe, porém, independia de vínculos intelectuais — felizmente, existentes — com o trabalho do autor. Sou — acima de tudo — um editor. Acabara de assumir uma estratégica editoria na Record. E havia ali — antes de qualquer coisa — uma rara oportunidade comercial, porque poucas vezes terá existido demanda reprimida tão poderosa quanto gritante.

Que eu seja claríssimo aqui: Olavo era muito bem editado, mas se tratava mesmo de um absurdo — em termos de mercado — que não estivesse em uma grande casa comercial, com extenso alcance de distribuição. Aquilo tinha fácil e estupefaciente leitura — retrato histórico da hegemonia esquerdista no ambiente da produção/difusão de conhecimento: editoras preferiam perder dinheiro a publicar um autor de cujas ideias discordassem. Ainda mais ras-teiramente — numa fase pré-ideológica: um autor a cuja associação adviria reprovação — caras e bocas — dos pares, da patota. Olavo era interditado — tacitamente proibido. E isso apesar das centenas de milhares de leitores que tinha e — posso garantir — tem. Ou seja, a Record se beneficiava da vala em que consistia editores, mais ou menos medrosos da patrulha, recusarem-se ao papel fundamental do editor: o de ser plural, o de falar para todos os públicos.

Aqui, é preciso prestar homenagem ao maior que conheci, o mais cora-joso, verdadeiramente liberal, por décadas patrocinador do melhor debate público e garantidor do espaço para o contraditório — para o dissenso — no meio editorial brasileiro: Sergio Machado. Que, quando diante da possibilidade de publicar Olavo, vibrou, porque queria editar tudo quanto fosse voz relevante, e disse: “Editor que é editor não tem medo de patrulha.”

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Com todo esse entusiasmo, ainda assim subestimamos a força do livro. Seriam necessárias três impressões — de 5 mil cada — esgotadas ainda na pré-venda para que compreendêssemos, ou começássemos a compreender, o tamanho do que tínhamos em mãos e finalmente produzíssemos 20 mil exemplares para fazer frente inicial ao fenômeno que se revelaria a partir de agosto de 2013, quando O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota chegou às livrarias. Desde então, só festa.

Fato incontornável: O mínimo é um marco — não exagero — na histó-ria do mercado editorial deste país, livro que se impôs imediatamente ao silêncio com o qual a imprensa o recebeu (e ao boicote de alguns livreiros) para se tornar fenômeno comercial de longuíssima duração. Era mesmo sintomático da doença que tomou o corpo deste país: a obra estava, havia meses, entre as mais vendidas quando finalmente — e, ainda assim, num tom exótico — o jornalismo resolveu lhe abrir uma meia página. Não im-portava; não precisava — logo entendi. Beneficiado pela crescente influência de Olavo também nas redes sociais, O mínimo já nasceu com publicidade para além dos canais de divulgação tradicionais. Com o livro, tive a primei-ra experiência real — concreta — sobre a capacidade da internet de fazer circular informações e assegurar que cheguem ao destino interessado. O sucesso retumbante desta obra é o mais genuíno produto do boca a boca.

O sucesso desta obra é, obviamente e sobretudo, produto da qualidade excepcional dos textos de Olavo de Carvalho, sem dúvida, o filósofo que, entre outras várias análises acuradas, previu, com duas décadas de antecedência, a ascensão do PT ao poder exatamente como se deu; mas também — e diria especialmente — do primoroso trabalho de organização de Felipe Moura Brasil, cuja concepção das partes e ordenação dos artigos, tudo enriquecido por notas de consistência sem precedentes, ergueram um novo edifício a ser escalado por quem doravante quisesse se apresentar como organizador de livro no Brasil. Felipe também é o criador do título, uma provocação atraente de efeito como só poucas vezes ocorre — o que foi valorizadíssimo pela capa tipográfica concebida pelo designer Leonardo Iaccarino, criador também da versão minimalista, completamente diferente, que o leitor tem em mãos.

Esta edição especial celebra, portanto, o feliz encontro de forças só raramente reunidas: o gênio de Olavo, a coragem de Sergio, a engenharia de Felipe e arte de Leonardo. Como editor, honra-me fazer parte dessa história e haver amarrado as pontas cujo nó é na madeira.

Carlos Andreazza São Cristóvão, setembro de 2017

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Nota do editor

O leitor encontrará, ao longo deste livro, três tipos de nota: do Autor, do Organizador e do Editor. Somente as do primeiro, em grande parte biblio-gráficas, são de rodapé, bem como as que servem ao texto de apresentação.

Porque, de modo geral, mais caudalosas, as notas do Organizador e do Editor — com informações e esclarecimentos relevantes, bibliografia complementar e fragmentos de escritos de Olavo de Carvalho não incluídos neste volume — estão concentradas ao final de cada capítulo.

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Apresentação

O mínimo que você precisa saber sobre a idiotice, o autor e o livro

A idiotice

Em grego, idios quer dizer “o mesmo”. Idiotes, de onde veio o nosso termo “idiota”,

é o sujeito que nada enxerga além dele mesmo, que julga tudo pela sua própria pequenez.*

Olavo de Carvalho

Você conhece pessoalmente algum idiota?Só de ler a pergunta, talvez já lhe tenham vindo um ou dois à cabeça. Eu

mesmo, enquanto escrevo, estou pensando em vários. Quem não conhece, não é? Que os idiotas estão por aí, creio estarmos todos de acordo (você, eu, Platão, Sertillanges, Nelson Rodrigues — um timaço, o nosso). Vou passar para a próxima pergunta.

O que você realmente faz para não ser um idiota, nem ser feito de idiota?Bom, talvez esta seja um pouquinho mais difícil. Talvez você precise de

um momento de reflexão e autoanálise. Se quiser, pode desviar os olhos do livro (eu costumo olhar para os pés) e pensar por mais alguns segundos em suas atividades anti- idiotice. Pensou?

Agora confesse: você já se fez essa pergunta antes? Sim? Não? Incons-cientemente? Formulada de outra maneira? Ok.

Mas alguma vez, ou agora, você respondeu a si mesmo, por exemplo, que estuda as estratégias dos canalhas? Seus métodos? Suas técnicas de manipulação? Suas ocultações? Seu legado no ambiente cultural?

* Trecho do artigo “Professores de corrupção”, presente no capítulo Intelligentzia deste livro, à página 282.

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Diga- me: como você pretende não ser um idiota, nem ser feito de idiota, se você pouco ou nada sabe sobre a história e os avanços da canalhice?

Sim: os avanços. A canalhice é a ciência mais avançada do mundo atual — opera em escala global, inclusive — e o seu resultado é justamente a multiplicação de idiotas que jamais se dão conta de sê- lo.

Lembre- se:Os pequenos canalhas se aproveitam da idiotice pronta. Os grandes a

fabricam.Nelson Rodrigues já alertava: “O mundo só se tornou viável porque

antigamente as nossas leis, a nossa moral, a nossa conduta eram regidas pelos melhores. Agora a gente tem a impressão de que são os canalhas que estão fazendo a nossa vida, os nossos costumes, as nossas ideias. Ou são os canalhas ou são os imbecis, e eu não sei dizer o que é pior. Porque você sabe que são milhões de imbecis para dez sujeitos formidáveis.”*

Se estou chamando você de idiota? Claro que não. Estou convidando você a escapar desse estado, ainda que futuro, conhecendo para isso, entre outras coisas, a influência de canalhas (ou imbecis) sobre “a nossa vida, os nossos costumes, as nossas ideias”, “as nossas leis, a nossa moral, a nossa conduta”, através da obra de um (hum) sujeito formidável, que vale por dez.

Estou convidando você a enxergar não além, mas muito além do seu umbigo (e em benefício dele), ampliando a sua imaginação para conceber uma realidade infinitamente mais complexa (embora aqui mastigadinha, como se pode ver pelo índice) do que qualquer idiota supõe existir.

É melhor ser persuadido do que ser manipulado.“Ninguém, hoje em dia”, escreve Olavo de Carvalho, “pode se dizer um

cidadão livre e responsável, apto a votar e a discutir como gente grande, se não está informado das técnicas de manipulação da linguagem e da cons-ciência, que certas forças políticas usam para ludibriá- lo, numa agressão mortal à democracia e à liberdade.”**

Em outras palavras:Você não precisa ser um gênio. Mas convém descobrir qual é O mínimo

que você precisa saber para não ser um idiota.

* Trecho da entrevista concedida pelo dramaturgo à revista Playboy, em novembro de 1979.** Trecho do artigo “Da servidão hipnótica”, presente no capítulo Revolução deste livro, à página 185.

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O autor

É um grande sinal de mediocridade elogiar sempre moderadamente.

Leibniz

Olavo de Carvalho é uma inteligência demolidora.Você vem com a frase feita, ele vem com a britadeira. Você vem com

o reflexo condicionado, ele vem com o tratamento de choque. Você vem com o senso comum, ele vem com a história universal.

Para cada ideia compactada em slogan, ele tem um unzip terapêutico. Para cada cretinice repetida pelo processo inconsciente de copy and paste, ele tem um arsenal de rastreadores que localizam a fraude na origem, não sem revelar o seu percurso.

Como um educador de verdade, Olavo dinamita o mal que paralisa a sua inteligência e oferece as ferramentas com as quais você pode erguê- la, deixando claro que não fará isso por você, porque a educação é uma conquista pessoal.

“Educação”, ensina ele, “vem de ex ducere, que significa levar para fora”, exatamente o contrário do que se costuma fazer no Brasil, onde o simples diálogo entre pessoas de áreas profissionais ou “tribos” distintas tornou- se, senão impossível, no mínimo deprimente.

Se as universidades formam habitantes de cada departamento, Olavo orienta você a ser um habitante da cultura. Se as escolas fabricam um exército de militantes, Olavo indica o caminho para voltar a ser gente, de preferência madura. Se a mídia encobre a realidade com eufemismos, Olavo alfabetiza você de novo, chamando as coisas pelo nome, doa a quem doer. Se o empresariado dá provas de ódio ao conhecimento, Olavo dá receitas de como alcançá- lo, incutindo ao mesmo tempo este desejo. Se o ambiente visual urbano torna o essencial indiscernível do irrelevante, Olavo conduz você pela selva, enquanto vai ordenando o caos. Se o acesso a lazeres e prazeres ilimitados infunde nas pessoas um sentimento de culpa traiçoeiro, Olavo mostra com quantos sacrifícios se restitui a sanidade, em prol de uma felicidade duradoura.

Tudo com o mais autêntico bom humor. Tudo com o mais envolvente dos estilos.

Seja em livros, artigos de jornal, apostilas de curso, aulas, vídeos ou programas de rádio, Olavo une a linguagem popular à alta cultura, no todo

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e nas partes, variando apenas, de acordo com o formato, a intensidade de cada uma, mas sempre com o poder de educar e divertir ao mesmo tempo os seus milhares de leitores, ouvintes e alunos, e com a coragem de expor ao ridículo a quadrilha de “intelectuais” que corrompe o país.

É um homem de fé, sem dúvida. “A fé”, dizia José Ingenieros, “se con-firma no choque com as opiniões contrárias; o fanatismo teme vacilar diante delas e intenta afogá- las, enquanto agonizam suas velhas crenças”.*

Incapazes de manter suas ideias de pé no choque com as opiniões e argumentações demolidoras de Olavo, seus adversários tentam afogá- las, marginalizá- las e xingá- las — não raro fingindo- se alvos de insultos in-justificados ou afetando superioridade à base de risadinhas — no intuito de afastar o público do mais breve contato com o autor.

Se você quiser obedecer ao comando e maldizê- lo sem ler ou fugir, fique à vontade.

Olavo de Carvalho não é para frouxos.

O livro

Regra: a busca da perfeição não é nada se não for inseparávelda necessidade de difundir todo o bem que se possui.

Louis Lavelle

Este livro é fruto espontâneo dos meus estudos da obra de Olavo de Car-valho e da necessidade incontornável de divulgá- la aos amigos, parentes, leitores e brasileiros em geral, da maneira que julgo mais objetiva, educativa e contundente para despertar suas inteligências e orientá- los em questões fundamentais da existência e da convivência humanas, sem deixar de mostrar como o ambiente cultural do país e a canalhice global interferem em cada uma.

Dado o abismo cada vez maior entre o universo midiático- educacional e a realidade, e portanto entre o povo exposto às classes falantes e os ver-dadeiros sábios, as recomendações de leituras esparsas via e- mail ou link nas redes sociais, muito embora importantes, não me pareciam suficientes para cumprir estes objetivos, de modo que tratei de montar um material ao mesmo tempo consistente e abrangente que eu pudesse atirar no colo das pessoas ao meu redor, sobretudo as mais dispostas a discutir o que não estudaram, e dizer:

* Ingenieros, José. O homem medíocre. São Paulo: Ícone Editora, 2006.

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“Toma. Sem isto aqui, não dá nem para começar a conversar.”Sim. É verdade que Olavo de Carvalho publicou outros livros extraor-

dinários, que também devem ser lidos por quem queira avançar na vida intelectual, mas nenhum deles facilita tanto a vida do leitor comum — leigo ou iniciante em assuntos políticos e técnicas filosóficas — quanto este, do qual só não se pode dizer que o pega pela mão porque seria mais correto dizer que o pega pela orelha, não sem lhe dar umas boas e merecidas palmadas por ter vivido tanto tempo como um bichinho, sem saber que diabos está acontecendo.

Se “a suprema alegria de um professor (...) é a de poder abrir a seus alunos um horizonte bem maior que a circunferência de um prato de lentilhas”,* a do organizador de sua obra é torná- la ainda mais atraente e acessível ao grande público, em prol da formação de uma elite pensante não apenas capaz de distinguir um prato de lentilhas de todo o legado da cultura universal, mas também de perceber que a absorção deste último pode ser bem mais nutritiva.

Em busca deste resultado, nada mais natural do que recorrer aos ar-tigos jornalísticos de Olavo de Carvalho, chamarizes instigantes de uma obra quase inabarcável e sob o impacto dos quais muitos de seus leitores — os menos frouxos, modéstia à parte — saem em busca de suas aulas, descobrindo, então, as dimensões infinitamente maiores da sabedoria do filósofo — para muito além, é claro, da caricatura que dele fazem seus ad-versários políticos e do próprio rótulo de “polemista”, quase sempre usado no Brasil para rebaixar quem exibe provas, documentos e análises lógicas irrefutáveis a um nível igual ou inferior ao daqueles que fazem discurso histérico- militante. Na maior parte dos casos, a polêmica está nos olhos de quem não lê.

Este livro, no entanto, não é uma simples compilação de artigos, mas sim uma compilação de temas essenciais — todos eles renegados à obscu-ridade no país —, sobre os quais os artigos vêm lançar luz, importando para a seleção menos a data e o veículo em que foram publicados do que o potencial de cada um em iluminar esses temas, ainda que, em favor da abrangência, eu tenha priorizado os mais sintéticos entre os milhares que reli ou descobri durante este trabalho, enquanto me perdia, como tantos lei-tores, ouvintes e alunos, nas páginas virtuais do site de Olavo de Carvalho.

* Carvalho, Olavo de. A dialética simbólica. São Paulo: É Realizações, 1997.

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Tratei, pois, não apenas de organizar aquele empilhamento sem fim de textos, mas de resgatar na obra jornalística recente e antiga do autor o que ela tem de atemporal, de ferramenta útil à compreensão da realidade em outras circunstâncias para além daquelas das quais cada texto emergiu, não sem a intenção de exemplificar o quanto o jornal também é, ou deveria ser, um espaço para análises capazes de sobreviver ao tempo — e até de prever, com acerto, uma infinidade de acontecimentos —, sendo bem mais do que o simples comentário das notícias da semana. Não é porque a notícia envelhece, afinal, que a reflexão correspondente deve envelhecer junto.

Se há (e garanto: como há!) uma dificuldade em agrupar textos de Olavo de Carvalho por temas para fins editorais, isto se deve não à obsolescência deles, mas, pelo contrário, ao fato de o autor buscar sempre a unidade por trás das manifestações isoladas e os fundamentos por trás das discussões públicas, o que torna cada texto seu um amálgama (duradouro) dos ele-mentos mais díspares, entre os quais só um organizador irresponsável (ou obsessivo) como eu ousaria procurar um fio condutor interno e comum a outros textos, capaz de justificar o nome e a composição de capítulos e seções — uma raridade compreensível, aliás, em seus livros, cujas seleções costumam ser justificadas apenas pelo título geral da obra e limitadas aos artigos recentes.

De todo modo, como os textos de Olavo de Carvalho são sobre tudo e mais alguma coisa, cada capítulo deste livro contém um tanto dos temas de outros; e, portanto, nenhum se esgota em si mesmo, mas sim fornece a base mínima para a compreensão dos demais. Por exemplo: como falar de Cultura sem falar de Conhecimento? Pior: como falar de Obama sem falar de Mídia, Ocultação e Manipulação? No entanto, há seções ou capítulos isolados com cada um (ou dois) desses nomes, podendo o leitor recorrer às suas especificidades para entender melhor o todo, sem deixar de ter alguma visão do todo dentro de cada um.

Se seguir a ordem é importante? Sim e não. Ela tem decerto um pro-pósito, qual seja, o de guiar o leitor a partir das questões individuais de formação da personalidade, de busca da sinceridade, do sentido da vida e do conhecimento, de obtenção enfim das ferramentas mentais e morais necessárias para não ser um idiota, para depois introduzi- lo gradativa-mente (ou violentamente, dependendo do caso) em problemas culturais, sociais, políticos e intelectuais, cujos efeitos sobre a sua visão de mundo, a sua psique e as suas ações são bem maiores do que ele (você?) talvez imaginasse antes.

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Por viver no Rio de Janeiro (e no Facebook), entre inúmeras pessoas que só de ouvir a palavra “política” saem correndo desinteressadas do que quer que se diga depois, quisera eu ter empurrado para o fim — ou para fora — deste livro as partes referentes a ela, mas a culpa não é minha nem de Olavo de Carvalho se a politização de tudo, da linguagem à vida huma-na, foi e é instrumento e causa da idiotização geral, da qual já não se pode escapar sem entender minimamente a atuação dos grupos que disputam ou monopolizam o poder, manipulando e demolindo as consciências. Se o capítulo Revolução, portanto, vem antes de Educação, Religião e Linguagem, por exemplo, é porque já não se pode compreender o estado destas sem compreender o estágio daquela.

Contudo, convém ressaltar: este é um livro educativo; não didático. O leitor seguramente encontrará pelo caminho referências a questões que só serão examinadas em detalhe mais adiante — ou mesmo fora do livro, posto que seu objetivo também é servir de convite à obra do autor —, de modo que pode usar e abusar da liberdade de escolher a sua própria or-dem de leitura e até os temas de sua predileção, como se estivesse diante de uma minienciclopédia carvalheana, eterna fonte de consultas para esclarecimentos variados.

Se, em vez de encher o índice de descrições, usei apenas uma pala-vra (Vocação; Inveja; Democracia) para nomear os capítulos, e uma ou duas — ora em par (como Analfabetismo & glória; História & embuste), ora em oposição (como Sociedade x culpa; Revolucionários x mundo melhor) — para as seções, não é (só) porque sofro de TOC literário (e você não imagina com que dor me rendi ao famigerado “mundo melhor”, composto por abomináveis duas palavrinhas em vez de uma), nem (só) porque quero atrair o maior número de leitores, mas pelo simples fato de que, salvo algum novo padrão revolucionário de conduta, ninguém vai a um restaurante (nem a um bordel, soprou- me o diabo) para comer o cardápio. Quanto mais preciso e visual ele for, creio, mais favorecerá o apetite — agora e para sempre.

De resto, só a assimilação do conteúdo fará o leitor notar que Gayzismo, por exemplo, não é, no mundo real, um capítulo isolado como é no livro; mas se alguns temas não vêm dentro de outros que o englobam ou que lhe deram origem, é justamente pelo motivo citado, isto é: eu não quis transformar o índice em uma árvore genealógica mais complexa do que já é, incluindo itens como o 3.7.4.2 da seção 5.6.1 do capítulo 8 parte B; muito menos deixar metade do livro dentro do capítulo Revolução. Ou seria Criminalidade?

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Jorge Luis Borges escreveu em O Aleph: “O que viram meus olhos foi simultâneo; o que transcreverei, sucessivo, pois a linguagem o é. Algo, entretanto, registrarei.” Olavo de Carvalho, como Borges, vê tudo simul-taneamente na realidade, transcreve de forma sucessiva em cada texto — embora muitos pareçam em 3- D —, e eu, contando que o leitor vai tirar conclusões menos do índice do que da leitura do livro, organizo- os de forma sucessiva, também, por seções e capítulos. Algo, entretanto, registraremos.

Neste “algo”, estará decerto o analfabetismo funcional e moral das clas-ses falantes, tema recorrente na obra do autor e no presente livro, ainda que este não seja uma documentação, como o best seller O imbecil coletivo,* da “redução da vida intelectual a megafone de interesses partidários”** através da análise do discurso de seus representantes. Digo isto para o caso de leitores desconfiados ou mal- intencionados não encontrarem nesta com-pilação — temática, repito — prova suficiente de que o sistema de ensino e os meios de comunicação brasileiros foram quase inteiramente ocupados pela pseudointelectualidade esquerdista, já que aqui a prioridade é, além de descrever o quadro geral, oferecer, em doses homeopáticas, os meios de descontaminação moral e linguística de seus venenos idiotizantes.

Da juventude à maturidade, do fingimento à sinceridade, da economia à cultura, da ciência à religião, da linguagem à discussão, da militância à vocação, do regime militar ao petismo de Lula e Dilma, do governo de George W. Bush ao de Barack Hussein Obama (passando pela Guerra do Iraque e pela crise financeira americana), da democracia à ditadura mun-dial, do capitalismo ao socialismo — de tudo a mais um pouco, enfim, não há tema obscuro que os donos do microfone não obscureçam ainda mais. E não há melhor antídoto para o provincianismo mental brasileiro do que ler Olavo de Carvalho.

Este livro, cuja gestação também me serviu de automedicação, é, portanto, uma tentativa dupla: a de organizar o saber — “condição mais óbvia para o desenvolvimento da inteligência”, segundo Olavo — e a de compartilhá- lo, a fim de “levar para fora” o leitor e consolidar aquilo que o nosso maior filósofo e educador definiu em “Espírito e cultura: o Brasil ante o sentido da vida”:***

* São Paulo: É Realizações, 1996. ** Ver o artigo “Onde começou a queda”, no capítulo Intelligentzia, à página 323.*** Texto presente neste livro, no capítulo Cultura, à página 59.

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Acontece que a esse impulso fundamental [para o conhecimento] corres-ponde um outro, derivado mas não menos forte: aquele que leva o homem que entreviu a ordem e o sentido a desejar repartir com os outros homens um pouco daquilo que viu. Não há certamente maior benefício que se possa fazer a um semelhante: mostrar- lhe o caminho do espírito e da liberdade, pelo qual ele pode se elevar a uma condição que, dizia o salmista, é apenas um pouco inferior à dos anjos. Tal é, substancialmente, a forma concreta do amor ao próximo: dar ao outro o melhor e o mais alto do que um homem obteve para si mesmo. Amamos o nosso próximo na medida em que o elevamos à altura dos anjos. Fazemos- lhe o mal quando o rebaixamos à condição de bichinho, seja com maus-tratos, seja com afagos.

Nessas duas exigências está contida, dizia Cristo, toda a lei e os profetas.

Neste livro está contido, digo eu, um pouco do melhor e do mais alto que obtive para mim mesmo.

Eu vi Olavo de Carvalho. E agora o reparto com você, leitor, na espe-rança de que também se afaste da condição de bichinho e se eleve à altura dos anjos.

Se eu acho que você deve agradecer a mim, à Editora Record e a quem lhe indicou ou deu de presente este livro por tamanho gesto de amor?

“Ora porra!”, como diria Olavo.Sem dúvida que sim.

Felipe Moura Brasil www.felipemourabrasil.com.br

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JUVENTUDE

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O imbecil juvenilJornal da Tarde, São Paulo, 3 de abril de 1998

Já acreditei em muitas mentiras, mas há uma à qual sempre fui imune: aquela que celebra a juventude como uma época de rebeldia, de indepen-dência, de amor à liberdade. Não dei crédito a essa patacoada nem mesmo quando, jovem eu próprio, ela me lisonjeava. Bem ao contrário, desde cedo me impressionaram muito fundo, na conduta de meus companheiros de geração, o espírito de rebanho, o temor do isolamento, a subserviência à voz corrente, a ânsia de sentir- se iguais e aceitos pela maioria cínica e autoritária, a disposição de tudo ceder, de tudo prostituir em troca de uma vaguinha de neófito no grupo dos sujeitos bacanas.

O jovem, é verdade, rebela- se muitas vezes contra pais e professores, mas é porque sabe que no fundo estão do seu lado e jamais revidarão suas agressões com força total. A luta contra os pais é um teatrinho, um jogo de cartas marcadas no qual um dos contendores luta para vencer e o outro para ajudá- lo a vencer.

Muito diferente é a situação do jovem ante os da sua geração, que não têm para com ele as complacências do paternalismo. Longe de protegê- lo, essa massa barulhenta e cínica recebe o novato com desprezo e hostilidade que lhe mostram, desde logo, a necessidade de obedecer para não sucumbir. É dos companheiros de geração que ele obtém a primeira experiência de um confronto com o poder, sem a mediação daquela diferença de idade que dá direito a descontos e atenuações. É o reino dos mais fortes, dos mais descarados, que se afirma com toda a sua crueza sobre a fragilidade do recém- chegado, impondo- lhe provações e exigências antes de aceitá- lo como membro da horda. A quantos ritos, a quantos protocolos, a quantas humilhações não se submete o postulante, para escapar à perspectiva ater-rorizante da rejeição, do isolamento. Para não ser devolvido, impotente e humilhado, aos braços da mãe, ele tem de ser aprovado num exame que lhe exige menos coragem do que flexibilidade, capacidade de amoldar- se aos caprichos da maioria — a supressão, em suma, da personalidade.

É verdade que ele se submete a isso com prazer, com ânsia de apaixonado que tudo fará em troca de um sorriso condescendente. A massa de compa-

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nheiros de geração representa, afinal, o mundo, o mundo grande no qual o adolescente, emergindo do pequeno mundo doméstico, pede ingresso. E o ingresso custa caro. O candidato deve, desde logo, aprender todo um vocabulário de palavras, de gestos, de olhares, todo um código de senhas e símbolos: a mínima falha expõe ao ridículo, e a regra do jogo é em geral implícita, devendo ser adivinhada antes de conhecida, macaqueada antes de adivinhada. O modo de aprendizado é sempre a imitação — literal, servil e sem questionamentos. O ingresso no mundo juvenil dispara a toda velocidade o motor de todos os desvarios humanos: o desejo mimético de que fala René Girard, onde o objeto não atrai por suas qualidades intrín-secas, mas por ser simultaneamente desejado por um outro, que Girard denomina o mediador.

Não é de espantar que o rito de ingresso no grupo, custando tão alto investimento psicológico, termine por levar o jovem à completa exaspera-ção, impedindo- o, simultaneamente, de despejar seu ressentimento de volta sobre o grupo mesmo, objeto de amor que se sonega e por isto tem o dom de transfigurar cada impulso de rancor em novo investimento amoroso. Para onde, então, se voltará o rancor, senão para a direção menos perigosa? A família surge como o bode expiatório providencial de todos os fracassos do jovem no seu rito de passagem. Se ele não logra ser aceito no grupo, a última coisa que lhe há de ocorrer será atribuir a culpa de sua situação à fatuidade e ao cinismo dos que o rejeitam. Numa cruel inversão, a culpa de suas humilhações não será atribuída àqueles que se recusam a aceitá- lo como homem, mas àqueles que o aceitam como criança. A família, que tudo lhe deu, pagará pelas maldades da horda que tudo lhe exige.

Eis a que se resume a famosa rebeldia do adolescente: amor ao mais forte que o despreza, desprezo pelo mais fraco que o ama.

Todas as mutações se dão na penumbra, na zona indistinta entre o ser e o não- ser: o jovem, em trânsito entre o que já não é e o que não é ainda, é, por fatalidade, inconsciente de si, de sua situação, das autorias e das culpas de quanto se passa dentro e em torno dele. Seus julgamentos são quase sempre a inversão completa da realidade. Eis o motivo pelo qual a juventude, desde que a covardia dos adultos lhe deu autoridade para mandar e desmandar, esteve sempre na vanguarda de todos os erros e perversidades do século: nazismo, fascismo, comunismo, seitas pseudor-religiosas, consumo de drogas. São sempre os jovens que estão um passo à frente na direção do pior.

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Um mundo que confia seu futuro ao discernimento dos jovens é um mundo velho e cansado, que já não tem futuro algum.

Geração perdidaJornal da Tarde, São Paulo, 3 de agosto de 2000

Hyppolite Taine conta que, aos 21 anos, vendo- se eleitor, percebeu que nada sabia do que era bom ou mau para a França, nem das ideologias em disputa na eleição. Absteve- se de votar e começou a estudar o país. Décadas depois, vieram à luz os cinco volumes das Origines de la France Contemporaine (1875), um monumento da ciência histórica e um dos livros mais esclarecedores de todos os tempos. O jovem Taine não votou, mas o Taine maduro ajudou muitas gerações, na França e fora dela, a votar com mais seriedade e conhecimento de causa, sem deixar- se iludir pelas falsas alternativas da propaganda imediata. Saber primeiro para julgar depois é o dever número um do homem responsável — dever que o voto obrigatório, sob a escusa de ensinar, força a desaprender.

Taine foi muito lido no Brasil, e seu exemplo deu alguns frutos. Entre os que tiveram seu caminho de vida decidido pela influência dele contou- se o jovem Affonso Henriques de Lima Barreto. Ele aprendeu com Taine que as coisas podem não ser o que parecem. Como romancista, ele fixou a imagem da ambiguidade constitutiva das atitudes humanas no duelo de personali-dades do major Quaresma com Floriano Peixoto, onde o passadista se revela um profeta e o progressista um ditador tacanho e cego. Mas a mensagem dessa história, ainda que consagrada pelo cinema, não se impregnou na mente das novas gerações. Talvez não venha a fazê- lo nunca, precisamente porque, amputada da ética taineana da prioridade do saber, que lhe serve de moldura, ela se reduz a uma observação casual que pode ser dissolvida numa enxurrada de lugares- comuns. Hoje, de fato, raramente se encontra um jovem que não queira, antes de tudo, “transformar o mundo”, e que, em função desse parti pris, não adie para as calendas gregas o dever de perguntar o que é o mundo.

Sim, no Brasil, cultura e inteligência são coisas para depois da aposen-tadoria. Quando todas as decisões estiverem tomadas, quando a massa de seus efeitos tiver se adensado numa torrente irreversível e a existência entrar decisivamente na sua etapa final de declínio, aí o cidadão pensará em

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adquirir conhecimento — um conhecimento que, a essa altura, só poderá servir para lhe informar o que deveria ter feito e não fez. Antevendo as dores inúteis do arrependimento tardio, ele então fugirá instintivamente do confronto, abstendo- se de julgar sua vida à luz do que agora sabe.

Embalsamado num nicho de diletantismo estético, o conhecimento perderá toda a sua força iluminante e transfiguradora, reduzindo- se a um penduricalho inócuo, adorno inofensivo de uma velhice calhorda. Eis onde termina a vida daquele que, na juventude, em vez de esperar até compreender, cedeu à tentação lisonjeira do primeiro convite e se tornou um “participante”, um “transformador do mundo”.

Eu também caí nessa, mas tive a sorte de minha carreira de transfor-mador do mundo ser detida, logo no início, por uma chuva de perplexi-dades paralisantes que me forçaram a largar tudo e a ir para casa pensar. Acossado de perguntas que ultrapassavam minha capacidade de resposta, fui privado, pelo bom Deus, da oportunidade de tentar moldar o mundo à imagem da minha própria idiotice.

Mas essa sorte é rara. O Brasil é o país do gênio prematuro, degradado em bobalhão senil logo na primeira curva da maturidade. Quando con-templo esse circo decrépito da revista Bundas,1 onde cômicos enferrujados se esforçam para repetir as performances de trinta anos atrás, que na sua imaginação esclerosada se petrificaram em emblemas estereotipados de “vida” e “juventude”; quando, lendo Caros Amigos, vejo homens de cabelos brancos se esfalfando para recuperar sua imagem idealizada de patota juvenil dos “Anos Dourados”, não posso deixar de notar que em todas essas pessoas que falam em nome do futuro o sentimento dominante é a saudade de si mesmas. Não falta a esses indivíduos a consciência de que suas vidas falharam. Mas atribuem a culpa aos outros, ao governo militar que impediu sua geração de “chegar ao poder”. No entanto, a desculpa é falsa, porque, mal ou bem, eles estão no poder. Eram jovens militantes, hoje são deputados, são catedráticos, são escritores de sucesso, são formadores de opinião. Por que, então, lambem com tanta nostalgia e ressentimento as feridas da sua juventude perdida? É porque foi perdida num sentido muito mais profundo e irremediável que o da mera derrota política. E agora é tarde para voltar atrás.

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Jovens paranaensesFolha de Londrina, 26 de abril de 2003

Num livro já antigo, Wilson Martins escreveu que o Paraná era “um Brasil diferente”. Tenho comprovado isso, repetidamente, desde que comecei a dar aulas neste estado, dois ou três anos atrás. Os brasileiros de hoje são taga-relas e preguiçosos: não estudam nada e opinam sobre tudo. Os estudantes paranaenses são notavelmente mais humildes e interessados em aprender.

A importância da humildade no aprendizado já era enfatizada, na Idade Média, por Hugo de São Vítor, um dos maiores educadores de todos os tem-pos. Humildade significa, no fundo, apenas senso do real. O culto universal da juventude obscureceu essa verdade óbvia a ponto de que todo mundo já acha natural esperar que, aos 15 ou 18 anos, um sujeito tenha opiniões sobre todas as coisas e, miraculosamente, elas estejam mais certas que as de seus pais e avós. O resultado dessa crença generalizada é desastroso: todos os movimentos totalitários e genocidas dos últimos séculos — comunismo, nazismo, fascismo, radicalismo islâmico etc. — foram criações de jovens, e sua militância foi colhida maciçamente nas universidades.

O culto da juventude traz, como um de seus componentes essenciais, o desprezo pelo conhecimento: se ao sair da adolescência o sujeito já traz na cabeça todas as ideias certas, para que continuar estudando?

No Brasil, esse preconceito arraigou- se tão fundo, que já parece impos-sível extirpá- lo. O efeito disso é que milhões de jovens, incapacitados para perceber as mais óbvias realidades, se creem investidos do direito divino de julgar todas as coisas, homens e fatos. Além do conhecimento, falta- lhes às vezes até aquele mínimo de integração da consciência, sem o qual um sujeito não pode sequer argumentar de maneira razoável. Sua pretensão arrogante contrasta tão deploravelmente com a sua falta de recursos inte-lectuais que nenhum educador dotado de bom senso se aventuraria a lhes ensinar o que quer que fosse.

Raríssimos estudantes, hoje em dia, sabem distinguir princípios gerais de tomadas de posição sobre acontecimentos específicos. Adotam uma opinião sobre isto ou aquilo, sobre o homossexualismo, sobre a guerra no Iraque, e fazem dela imediatamente um princípio universal, extraindo- lhe conclusões que desmentem os próprios princípios da lógica ou do direito nos quais, não obstante, continuam se baseando para raciocinar sobre tudo o mais. A “autodeterminação dos povos”, por exemplo, é usada para

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justificar a soberania de Saddam Hussein, ao mesmo tempo que se deixa de aplicá- la à minoria curda, sendo quase impossível mostrar ao falante que há aí uma contradição. Em casos como esse, uma opinião política singular se sobrepõe de tal modo aos princípios fundantes do próprio raciocínio que uma pessoa neurologicamente normal acaba tendo o desempenho cerebral de um mongoloide. Outro dia encontrei na internet um site de jovens homossexuais que demonizavam os EUA, terra de promissão do movimento gay, e defendiam entusiasticamente as ditaduras islâmicas, nas quais o homossexualismo é crime punido com a morte. Na antiga retórica greco- latina, isso chamava- se “argumento suicida”, como no caso de um judeu que fizesse propaganda nazista. O argumento suicida era tão raro que os manuais de retórica mal o citavam. Hoje em dia, tornou- se a coisa mais comum do mundo e, nas falas de estudantes brasileiros, quase um paradigma. Os exemplos que citei são só dois entre milhares. Quanto mais lisonjeada por pais e educadores, mais a juventude se torna estúpida e inca-paz, anunciando uma maturidade de ressentidos, fracassados e invejosos.

Tenho me defrontado com esses tipos no Brasil inteiro, mas garanto: entre os estudantes paranaenses o número deles é bem menor.

Não sei como explicar esse fenômeno. Não conheço a história cultural do estado a ponto de arriscar alguma hipótese. Apenas assinalo o fato e reconheço ver nele um raro sinal de que, para a cultura deste país, nem tudo está perdido.

Nota

1. Nota do Organizador: A revista Bundas, uma sátira à revista Caras, foi lançada em junho de 1999 pela Editora Pererê. À frente da iniciativa, que buscava retomar a lin-guagem despojada do antigo Pasquim, lançado trinta anos antes e extinto havia menos de dez, estava o cartunista Ziraldo. Os colaboradores eram Luis Fernando Verissimo, Chico e Paulo Caruso, Frei Betto, Aldir Blanc e outros. Millôr Fernandes se afastou logo nos primeiros números. Com a venda nas bancas diminuindo a cada semana e a falta de publicidade, a revista teve de encerrar suas atividades em dezembro de 2000, após 77 edições e três almanaques especiais.

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