1. Godoy - A Política de Cléon No Livro IV de Tucídides_ Peripécias Da Demagogia

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    Investigao Filosfica, Edio Especial do I Encontro Investigao Filosfica, 2015. (ISSN: 2179-6742)Artigos / Articles

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    A POLTICA DE CLONNO LIVRO IV DE TUCDIDES:

    PERIPCIAS DA DEMAGOGIA

    Maria Elizabeth Bueno de Godoy1

    RESUMO:A demagogia referncia comum nos registros do sculo V a.C. grego, quando se trata deClon. Historicamente retratado por Tucdides, reintroduzido sequncia dos eventos da guerra doPeloponeso aps a tomada do porto de Pilos, na cena do debate em Atenas, tem sua popularidadedestacada na atribuio prpria ao carter do mm ta xaa amia itfa, aa a algia mtia a la t mt (tado dmos ateniense), e o Paflagnio, seu empregado: retrato do bajulador inescrupuloso, cujo controletraduz-se em exageros de indulgncia e lisonja, provedores da justa influncia que tanto lhe apraz,sobre a qual fundamenta sua poltica. O objetivo deste artigo refletir sobre a poltica do Clontucidideano seguindo a proposta de uma leitura dramtica da narrativa do Livro IV, de cujaperspectiva discute-se acerca dos vcios e paixes atribudos ao seu carter, alm das implicaes desua poltica, reflexo mesmo dos vcios e paixes da prpria plis ateniense. Pelo valor intrnseco

    anunciado pelo historiador no prlogo de sua obra, a condio humana revela, na incerteza de tudo queno se pode mensurar, a centralidade da escolha. Na deliberao e na conteno dos mpetos econselhos persuasivos, os atos compem, como em um cenrio, a luta humana contra suas paixes. Ohomem, livre para escolher e deliberar cai ttere delas e j no mais dos deuses, a quem outroraatribua males sem conta. Entre deliberao e ato, a dramtica trajetria da coletividade - corpopolticocujo carter revela-se aventuroso, inquieto e ambicioso, mas tambm inconstante e propensos alternncias de suas paixes, revela assim a face avessa da conduta poltica de Atenas, outroramarcada pela justeza e sobriedade de um Pricles.

    PALAVRAS-CHAVE:Poltica. demagogia. Tucdides. paixes.

    Abstract: Demagogy is a common reference amongst the records of the fifth century BC when Cleonis the main subject. Historically portrayed by Thucydides, reintroduced to the sequence of events inthe Peloponnesian war after the capture of Pylos harbour,at the scene of the Assembly debate in Athens, he has his popularity noticed on the typical attributionof the character. The same feature is exagerated in Aristophanes' comedy, takenunder a domestic allegory of the relationship between the master (representation of the Atheniandemos), and the Paflagonio, its servant: portrait of an unscrupulous flatterer whose control over hismaster is readable through both exagerating indulgence and flattering, providers of the preciseinfluence he so much praises for, and on which he bases his politics. The aim of this paper is to reflectupon the Thucydidean Cleon's politics following the proposition of a dramatic reading of Book IVnarrative. Perspective from which one discusses about the viciousness and passions related to hischaracter, along with the implications of his politics, these the very reflex of the viciousness and

    passions of the Athenian polis itself. For the intrinsic value stated by the historian in his work'sforeword human condition reveals, in the incertitude of all that can't be measured, the centrality ofchoice. On deliberation and on the contention of impetus and persuasive advices the acts build up, asin a scenery, the human strugle against its passions. Men, free to chose and deliberate fall as victimsof the latter and no more of the gods, who they would blame for their many misfortunes. Betweendeliberation and act the dramatic path of community - the political body - whose character revealsitself as one adventurous, restless and ambitious, but nevertheless inconstant and inclined to thechanges of its passions demands, reveals the opposite face of the Athenian political orientation, onceremembered for the rihteousness and sobriety of a Pericles.

    Keywords:Politics, demagogy, Thucydides, passions.

    1Doutora em Histria Social pela Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da Universidade de SoPaulo.

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    muito simples. Continua a fazer aquilo que j fazes:misturas os negcios pblicos, amassa-los todos juntos, numa pasta.

    O povo conquista-lo quando quiserdes,com umas palavrinhas delicodoces, l tua especialidade.

    Tudo o mais necessrio demagogia tem-lo tu de sobra,voz de safado, baixa condio, ar de valdevinos.

    (Os Cavaleiros, 214-219)

    A demagogia referncia comum nos registros do sculo V a.C., quando se trata de

    Clon. Historicamente retratado por Tucdides, reintroduzido sequncia dos eventos aps a

    tomada de Pilos, no Livro IV, na cena do debate em Atenas, tem sua popularidade destacada

    na atribuio prpria ao carter do 2

    O mesmo trao exacerbado nacomdia de Aristfanes, lembra Lowell Edmunds3, abordado sob a alegoria domstica da

    la t mt (ta dmos ateniense), e o Paflagnio, seu empregado:

    retrato do bajulador inescrupuloso, cujo controle traduz-se em exageros de indulgncia e

    lisonja, provedores da justa influncia que tanto lhe apraz, e sobre a qual fundamenta sua

    poltica.4

    Segundo Maria de Ftima Silva, a comdia foi sensvel inverso social ocorrida na

    poltica de Atenas aps o ocaso de Pricles, procurando retratar no o carter real de Clon,

    mas uma caricatura que melhor refletisse esta nova realidade. Assim,

    a viso global do demagogo contempla as facetas de homem privado epoltico, em competio com outros polticos. (...) Por seu lado, apersonagem do Salsicheiro d ao retrato uma contribuio decisiva. Ele odigno herdeiro de uma dinastia marcada por uma degenerescncia

    giva, hmm aa mat ialta lma ati aamagg i u ati5

    Entretanto, alguns estudos como os de Westlake reconhecem a importncia de sua

    poltica tanto quanto a de Pricles na obra tucidideana, cuja influncia, para o bem ou para omal, o historiador marcadamente salientou.6 O objetivo do presente estudo refletir

    2 Aqui traduzido por lder popular, literalmente compreendido como demagogo. (Thucydide, IV. 21.3. LaGuerre du Ploponnse.Tomes I-V. Livres I-VIII. Texte tabli et traduit par Jacqueline de Romilly. Paris: LesBelles Lettres, 2003 -2009). As demais referncias traduo aqui contemplada da obra tucidideana seroindicadas pela abreviao Thuc., seguida do Livro, captulo e pargrafo correspondentes.3E, huyi Ethi a Rflt i th iti f tai ( -), Harvard Studies inClassical Philology, Vol. 79 (1975), pp.73-92.4 ARISTFANES. Os Cavaleiros, v.214-ss. Introduo e notas de Maria de Ftima Silva. Lisboa: Edies 70,2004.5

    SILVA, M.F de S. Polticos e Mulheres na Comdia Grega. Conferncia proferida na Faculdade de Letras doPorto, em 12 de Maro de 1986.6WESTLAKE, H.D.Individuals in Thucydides. Cambridge, 1968, p.14.

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    brevemente sobre este tratamento sob a perspectiva de uma leitura dramtica dos eventos

    narrados no incio do Livro IV (capitulo 21.3-s), que descrevem os debates na assembleia

    ateniense sobre a evoluo do episdio conhecido como a tomada do porto de Pilos, em 424

    a.C. Evoluo esta que marca a peripcia da poltica demaggica de Clon em que se

    discutem os vcios e paixes atribudos ao seu carter alm das implicaes de sua prxis

    poltica, reflexos mesmos dos vcios e paixes da prpriaplis ateniense.7

    So duas as menes a Clon na Histria. No Livro III, na retomada do debate que

    decidiria enfim o destino dos revoltosos em Mitilene8 e no debate sobre Pilos e Esfactria9,

    ambas retratando sua poltica em tom reprobatrio. Veremos ao longo da discusso que um

    sentimento anlogo levara Aristfanes a tambm destacar sua repudia, e em alguns aspectos,

    guardado o devido distanciamento entre os gneros narrativos, os vcios da personagem

    correspondem ao desempenho do demagogo. Destaca-se, na primeira passagem, referente ao

    destino dos habitantes da revoltosa Mitilene, sua defesa de uma poltica agressiva contra a

    inclinao da assembleia deliberao mais moderada.10J na ocasio da audincia sobre o

    destino dos prisioneiros em Esfactria, seus modos so rudes e audaciosos, no obstante sua

    popularidade.11 Em sua leitura mithistrica da obra tucidideana F.M. Cornford declara-o

    conselheiro da extorso, cuja persuaso desperta os nimos j tendenciosos em Atenas quilo

    de vantajoso que havia na captura do porto de Pilos12, sempre confiantes na esperana de sua

    fa 13

    Aps a morte de Pricles dois aspectos podem ser detectados na conduo poltica de

    ta m um, miam fam, afima Rmilly14 O do coletivo

    annimo, representao do dmos, porta-voz da cidade e reflexo da inconstncia em tempos

    de guerra; o outro, mais individualista, feito de homens bem dotados na prtica poltica. 15Sua

    palavra pode elucidar ou enganar, guardadas as devidas propores entre prudncia e

    excessos. Entre ouvinte e orador estabelece-se um liame, que luz da frmula aristotlica

    7 Utilizou-se para o argumento acerca da comdia de Aristfanes, alm dos escritos de H.D. Westlake, L.Edmunds, Leo Strauss (The City and Men), ,W mm (itha a liti), Jauli Rmilly(La voix endeull. Essai sur La tragdie grecque), J w (l Ethti) e Paul Woodruf (The

    Ajax Dilemma). Para a reflexo acerca da tragdia esquileana recorreu-se aos estudos de J. Torrano da Oresteia.8Thuc., III. 36.6.9Thuc., IV. 21.3.10Thuc., III. 36.3.11Thuc., IV. 27.3.12F.M. CORNFORD, Thucydides Mythistoricus. Cambridge, 1907, p.115.13Thuc., V.14.1.14

    De ROMILLY, J.La Loi dans La Pense Grecque. Des origines Aristlote . 2tirage de la 2dition. Paris :Les Belles Lettres, 2002, p.105.15Idem.

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    traduz-se na relao entre opthos de um, e os vcios/virtudes do outro.16O resultado uno, a

    escolha daplis, convertida em ao justa ou ruinosa. Neste sentido, a poltica de Clon que

    Tucdides condena, lembra Westlake, mas seu carter no poderia estar desvinculado dela.17

    Contudo, se interpretada por lentes dramticas, sua ao articula-se a do coletivo annimo,

    ambas comprometidas em ruinosas escolhas. E no seria, ento, o seu thos reflexo do da

    prpriaplis?

    Se o discurso de Clon sobre o destino de Mitilene destaca a violncia persuasiva de

    u at, la umaa a uia vt a a tmaa il Vilia ia

    em suas muitas faces, aliada ganncia (pleonexa), e ao orgulho (hbris)18Nesta o aspecto

    da confiabilidade explorado pelo lder, para enfraquecer ou fortalecer as decises do dmos,

    se entrelaa ao poder de sua persuaso discursiva.

    Peith, ou a fora de persuaso, lembra a eficcia das palavras e frmulas em certos

    rituais religiosos, por isso, palavra religiosa, intemporal, eficaz. A ela se ope a palavra-

    dilogo, laicizada e autnoma que complementa a ao.19 Neste sentido, a palavra no

    comporta mais uma justia, mas o debate contraditrio, a discusso e deliberao. Em sua

    estrutura temos a representao do espao social, cujo modelo se remete aos jogos funerrios,

    s sissitias e diviso do butim entre os guerreiros.20 Viragem que marca uma escolha

    puramente humana medindo a fora de persuaso respectiva dos dois discursos, assegurando a

    vitria de um dos oradores sobre seu adversrio. Onde, inevitavelmente, se passa pela

    importncia do centro como ponto referencial aojusto, pois estando sob o alcance dos olhos

    de todos aqueles reunidos, figura o local onde so depositados os prmios a serem partilhados

    li a gua ( )21

    O helenista Marcel Detienne afirma que entre a verdade (Altheia) e o engano (Apte)

    da palavra est apenas a escolha humana22, e lembra que para Plato, Dke (justia) e Apte

    so vias de conduta divergentes.23 ambiguidade discursiva impe-se a seduo de peith; e

    dxa (opinio), por sua instvel natureza, a ordem de kairs, tm a a humaa

    16ARISTTELES.A Retrica das Paixes. Prefcio de Michel Meyer. So Paulo: Martins Fontes, 2003. 17Westlakeadmite que Tucdides tenha exposto o carter de Clon, sobretudo no segundo debate que precede aexpedio captura dos peloponsios em Esfactria. O argumento ser retomado adiante.18CORNFORD. Op.cit.,1907, p.147.19 DETIENNE, M. A Inveno da Mitologia. Traduo Andr Telles. 2 Ed. Rio de Janeiro: Jos Olympio;Braslia, D.F.: UnB, 1998.20Segundo Marcel Detienne o processo de laicizao da palavra acompanha o homem desde a poca micnicaat a reforma hoplita. (Idem).21

    Colocados ao centro vista de todos. (Detienne, M., op.cit., 1988, p.48).22Ibid, p.56.23Ibid, p.59.

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    vl24Tempo este da contingncia e da ambiguidade. Assim, dxa veicula duas ideias

    solidrias: a de uma escolha, e a de uma escolha que varia em funo da contingncia. 25

    Alternncia na qual Clon fundamenta sua sabedoria. Sabedoria esta que, repudiando o antigo

    cdigo moral dos aristo, apoia-se na fora a itia, tat, , a aia

    hmm mum26

    So trs os traos notados no desempenho de Clen nessa segunda passagem: a

    pleonexa, expressa nas duras exigncias condicionadas aos enviados de Esparta; o ataque

    confiabilidade alheia fosse aos espartanos que solicitam uma audincia privada, fosse aos

    mensageiros com ms notcias das condies do cerco em Esfactria; e, por fim, a persuaso

    com a qual convence aplis s duras demandas impostas a Esparta.

    Vejamos, primeiramente, a impi tm ta a uai

    ele, os atenienses exigiram a rendio dos homens na ilha, que deveriam ser encaminhados a

    ta a u lami viam lh titui iia, ga, a aia 27,

    territrios estes que pertenciam s aliadas de Esparta e conformavam perdas territoriais de um

    tratado anterior28 o que nos leva a crer que sua incluso s exigncias denota a falta de

    interesse em uma efetiva negociao.29

    Tucdides destaca, antes mesmo de afirmar que os atenienses haviam sido persuadidos

    por Clon, o nimo geral a amlia , l amiiavam

    mais.30Conclui-se, ento, que ganncia do dmos bastava uma liderana que lhe despertasse

    as paixes. Para Legon, o episdio em questo marca uma viragem nos objetivos polticos de

    ta Rverso referenciado pelo episdio de Pilos, no que as demandas impostas por

    Clon em 425 (e aparentemente acirradas na sequncia dos eventos), so vistas como uma

    maa aa lga a gua31

    24

    Idem.25Ibid, p.60.26REW, J l Ethti, The Classical Quarterly, New Series, Vol. 44, N1 (1994), p.27.27O plano de retomada dos portos megricos de Nisia e Pegas era de importncia estratgica para os planos deexpanso do imprio ateniense. (Thuc., IV. 21.3). 28Rtiaam-se da Eubeia no muito tempo depois e fizeram com os lacedemnios e seus aliados um tratadopor trinta anos, entregando Nisia, Pegas, Trezena e Acaia, pois esses eram os territrios dos peloponsios que osati tavam ua (Thuc., I.115).29Wtlak a m a hit, huyi xlai why th thia tk a unfavourable view ofthe Spartan overtures- he includes the much quoted phrase (21.2)before he mentionsth iflu f l u th thia ati (Wtlak,1968, p.66).30Thuc., IV. 21.2.31h m t ha a tikig val f jtiv i th wak f th yl pisode, even IF we treat

    the specific demands made by Cleon in 425 (and apparently raised still higher thereafter) as a ploy to prolong thewa (E, R h a f iia Journal of Peace Research. Vol.6 N4, Special Issue on PeaceResearch in History, (1969), p. 328).

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    Retratado na comdia como pattico, rude, inconstante, pouco inclinado a ouvir e

    muito a ser coagido, o dmos ateniense confirma a frmula aristotlica e garante

    argumentao de seu lder a confiabilidade necessria para a garantia dos interesses em jogo.

    Se afastado da influncia de um lder como Clon, votaria certamente pela paz:

    PAFLAGNIO (Ao Povo)Pois bem, aposto a minha cabea em como nunca apareceu um homem maisempenhado na causa do povo, ou mais teu amigo do que eu.(...)SALSICHEIRO

    l gva a ia u t ua macacos me mordam se isso! O que tu queres rapinar a vontade, receber subornos das cidadesaliadas, e que o Povo, com a guerra e a poeira que ela levanta, no veja astrafulhices que tu fazes; antes por misria, por necessidade e falta de salrio,

    ande atrs de ti como um cordeirinho. Mas se chegar o dia que ele possaregressar aos campos para viver em paz, revigorar-se a comer espigas e dardois dedos de paleio com um bom bagao, que vai reconhecer quanta coisaboa lhe roubavas, pala do soldo.32

    Sobre a ira com que Clon ataca as intenes espartanas, acusando-os de intenes

    escusas, ela fortalece o argumento sobre a importncia da confiabilidade dos oradores. Assim

    procedendo, descarta valores como a prudncia e a tranquilidade, revertendo-os em covardia e

    engano.33

    Aps o longo cerco, esgotadas as foras dos homens na ilha, e diante de uma

    assembleia de nimos arrependidos, Clon apela para o que chama de inaptido e falta de

    coragem para a captura dos peloponsios em Esfactria, propondo-se a traz-los, ele mesmo,

    m vit ia! Emu ta u ta a virtude do sbio a impetuosa (e

    mesmo insana)34proposta acaba por agradar mesmo aos mais moderados, pois viam nela uma

    oportunidade de imediata vantagem: livrar-se de Clon, ou ter os espartanos em suas mos.35

    A esta altura a narrativa tucidideana nos leva exposio da figura de um bufo, o qual,

    enredado por sua prpria gabolice, levado a assumir os riscos de tal empresa. O autor nota

    32Os Cavaleiros, vv. 790-92; 801 e ss. Veja-se tambm Thuc., V.16.1.33 Thuc., IV. 22.2. Ver tambm o argumento de Nicole Loraux acerca da sedio das palavras do perodo dagua (RX, ui a i a alava A tragdia de Atenas. A poltica entre as trevas e autopia. So Paulo: Edies Loyola, 2009, pp. 91-120.34RRI IRE, ui lt hitia magg i O Fardo e o Fio. Na contramo da

    procisso historiogrfica. (Intrigas Tucidideanas acerca da escrita da histria). So Paulo: Armazm Digital,2015, pp. 199-228.35Thuc., IV. 28.5.

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    que, na passagem em questo, os moderados fazem oposio aos chamados atenienses, que

    ui taa vi ua ita ltia, i ial ( )36

    Na anlise de Westlake, a narrativa do segundo debate37contm um tom muito mais

    pessoal do que a do anterior, j que Tucdides parece aqui estar mais interessado em expor o

    carter de Clon que sua poltica propriamente dita.38 Cada movimento da personagem

    minuciosamente examinado e interpretado para seu descrdito e sua perfeita associao

    figura do tpico demagogo. Lembra que sua atuao na captura dos homens em Esfactria

    contou com mais um golpe de sorte (um incndio acidental que precipita as

    movimentaes)39, e com os planos orientados e conduzidos por Demstenes, que Clon j

    havia anunciado como seu companheiro naquela empresa.40

    O sucesso da expedio fortalece sua liderana e poltica, mas ilustra uma trajetria

    cujos vcios arrastam a plis a demandas mais ruinosas. Edmunds nota que o distrbio

    (tarattein) causado pela poltica de um lder como Clon pode ser interpretado como a

    perturbao e confuso daquele que interrompe, grita e gesticula para causar efeito ao

    discurso.41Vcios bem ilustrados por Aristfanes na fala do escravoDemstenes que, voltado

    para o pblico, lamuria-se da conduta do outro.

    Vai da o Paflagnio fila o prato que um de ns tinha preparado e vai d-lo

    ao patro de presente. Ainda um dia desses, tinha eu estado em Pilos aamassar o po da Lacnia e o tipo, passa de corrida, deita-lhe a unha e vaiele servi-lo.42

    Westlake assim os resume, contrapondo aos fatos as intenes do poltico:

    (i) Clon acusa os mensageiros de Pilos de falso testemunho acerca da realsituao do cerco em Esfactria,pois se sente pressionado pelas crticas suaconduta nas negociaes de paz (27.3);(ii) quando escolhido para checar as informaes pessoalmente, aconselha osatenienses a no perderem seu tempo enviando mais observadores,pois sabe

    que ter que se retratar das acusaes ou mentir a assembleia com um falsorelato; urge-os a enviarem reforos ilha,pois percebe que este o desejo doPovo (27. 3-4);

    36E, , huyi Ethi a Rflt i th iti f tai (-83),Harvard Studies inClassical Philology, Vol. 79 (1975), p. 79.37Thuc., IV. 27, 3-29.1.38WESTLAKE, H.D., op.cit., 1968, p.69.39Thuc., IV. 30.40Thuc., IV. 29.1.41

    E, , h ithai l itua f th, The American Journal of Philology, Vol.108, N2 (Summer, 1987), pp.233-234.42Os Cavaleiros, vv.53 e ss.

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    (iii) ataca Ncias, acusando os generais de falta de coragem e mpeto,garantindo que se estivesse no comando j teria capturado os espartanos(27.5);(iv) quando os atenienses sugerem que v a Pilos e Ncias, em nome dosdemais generais, lhe oferece o comando das tropas, a princpio aceita,pois nocr na boa vontade do strategos (28.2);(v) tenta retroceder, retirando sua proposta,pois est alarmado e no contavaque Ncias fosse to longe a ponto de entrega-lo o efetivo (28.2);(vi) quando Ncias o pressiona mais insistentemente, apoiado pelo clamor doPovo, continua seus esforos para retroceder (28.3);(vii)por no conseguir recorrer a qualquer expediente fugindo sconsequncias de seu discurso, aceita o encargo; ento, determina que tropaslevaria consigo, fazendo a famosa (insana) promessa de capturar ou matar osespartanos na ilha em vinte exatos dias (28.4).43

    O autor cr que o tom dramtico da assembleia, que precede a expedio, se deva

    muito mais irresponsabilidade da prpria assembleia, do que ao desempenho do poltico44,

    apesar da sabida hostilidade de Tucdides. Julgamento que se apoia na impresso criada pelo

    tm aial lat gu at ta a aativa ii a mai

    consideraes esto suboriaa a u j x vi l, afima45

    Ao propor-se uma leitura dramtica das passagens supracitadas apresenta-se o drama

    esquileano como aporte para tal dilogo e apresenta-se, aliada ao carter da liderana poltica

    de Clon, a potencializao de suapersuaso perniciosa. Assim, uma nica sentena fixa-lhe

    o thos l, mai vilt imi a fiaa v46 Seu desempenhoevolui ao longo do episdio, evidenciando outros vcios, como a ganncia (pleonexa), o

    orgulho e o engano (apte), todos aliados esperana de maiores ganhos (elps), marca

    indelvel de seu discurso. Quando enfim, j na campanha em Anfpolis, Tucdides descreve

    sua runa e morte pouco gloriosa47, lg u um a ia tajtia ltia a

    agm48, aplis gui, m ftia tmia, ut u lh faa a ha i

    de todos que vai ser senhor. E da gora, e dos portos, e da Pnix. Conselho calca-lo aos ps;

    generais, cortas lhes as vazas; pes algemas, mandas para a pris49

    No Agammnon, primeira tragdia da Oresteia de squilo, potncias como hbris,

    peith e te vigoram em um plano paralelo ao humano, no obstante encontrem frtil acolhida

    nas escolhas das personagens.50A responsabilidade do agente, portanto, est atrelada ao plano

    43WESTLAKE, H.D., op.cit, 1968, p. 71.44Ibid, p.70.45Ibid, p.75.46Thuc., III. 36.6.47Thuc., V. 1.48

    CORNFORD, F.M., op.cit., 1907, p.147.49Os Cavaleiros, vv. 165-ss.50CORNFORD, F.M., op.cit., 1907, p.153.

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    moral. Lesky nota, em seu estudo sobre responsabilidade e deciso na tragdia esquileana,

    que as duas esferasreflexo humana e liberdade de deciso, e interveno divina formam

    uma intrnseca trama na qual os horizontes dessa responsabilidade se limitam, muitas vezes,

    imiilia imta l u51 hmm, atav a a, x-se s

    incertezas. Muitas, portanto, pressupem um aspecto duplo o que se revela em todas as

    a, tu a u m a i52Acompanhando o drama, percebe-se que

    toda ao paira sobre desgnios incertos, duais. Vejamo-lo brevemente.

    Deitado no teto do palcio dos Atridas o vigia desempenha sua funo, espreita de

    um sinal luminoso, anncio da conquista de Troia. Como co de guaa, a lt, ua

    aig a lia a u a lia fa vi53:

    Agora seja feliz afastamento de fadigas,O surgir nas trevas o fogo mensageiro.Salve, luzeiro na noite, annciode diurna claridade e de muitos coroscompostos em Argos por esta conjuntura.54

    O fogo era o mensageiro divino que trazia a Argos a notcia da vitria, prenncio do

    retorno de Agammnon. Sobre o Atrida paira, contudo, aura ambgua: o retorno marca sua

    vitoriosa campanha contra Pramo e a justeza da punio imposta a Troia em nome de Zeus

    Hspede. Ainda assim, lembra que o preo por to grande feito reverteu-se em terrvel mcula

    ter imolado a prpria filha pela qual dever responder. Assim, o fogo de Zeus se abateu

    sobre troianos, mas volta-se agora para o palcio de Argos.55

    insolncia de Agammnon, em uma relao de complementaridade, apresenta-se a

    persuaso de Clitemnestra. Cegado pelo desejo (ros), que o move, o Atrida se deixa

    convencer dos (funestos) propsitos da esposa. Segundo Torrano, a fala da rainha

    litmta maifta uma aat iv tiva56Primeiramente, se dirige ao

    coro a quem justifica seus sofrimentos, a insegurana instaurada por to longa ausncia, os

    rumores que afastaram Orestes do palcio.57Enfim, recoba li timt

    51 EKY, , ii a Raility i th agy f hylu, The Journal of Hellenic Studies,Vol. 86 (1966), p.78.52Idem.

    53TORRANO, J. Estudo e Traduo da Oresteia I. Agammnon. So Paulo: Iluminuras, 2004, p.40.54 SQUILO. Oresteia I. Agammnon. Vv. 278-80. Estudo e Traduo Jaa Torrano. So Paulo: Iluminuras;FAPESP, 2004. As prximas referncias obra sero abreviadas pela inicial do poema (A.), seguida dos versoscorrespondentes.55

    LESKY, A., op.cit., 1966, p.83. Ver tambm CORNFORD, F.M., 1907, p.149.56TORRANO, J. Op. Cit., 2004, p.61.57A., vv. 855-s.

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    alva58, dirige-se ao marido, oferecendo-lhe digna acolhida, lisonjeando sua condio

    de agente divino, portador da justia, oferecendo-lhe as prpuras.

    O convite em si, no revela a inteno; mas a fala ambgua de Clitemnestra lhe apraz o

    orgulho. Agammnon, mesmo inebriado, no se deixa convencer de sbito, alegando os

    excessos da acolhida59, temeroso da inveja humana e da ofensa aos Deuses.60Breve instante

    de prudncia, ao que a rainha ter que empenhar ardilosa fala para tocar-lhe as paixes: etapa

    por etapa de seduo enganosa, ancorada em argumentos de modo a refutar e eliminar as

    a u imm ia a ua, lui ua ua61

    Retornando ao episdio de Pilos e Esfactria, desloca-se a perspectiva trgica do

    orador para a de Atenas, destacando, entre deliberao e ato, a dramtica trajetria da

    coletividade - corpo poltico uno cujo carter revela-se aventuroso, inquieto, dinmico e

    ambicioso, mas tambm inconstante e propenso s alternncia ua aix falha m

    uma ambiciosa tentativa, imediatamente concebe outra; to rpido o ato seguido da deciso

    que desejo e poder confundem- m uma ia62 thos ateniense que Tucdides j

    destacara no discurso de Corinto, por ocasio da deflagrao do conflito.63

    Neste sentido, cegada por Elps, Atenas cumpre os desgnios contemplados pelas

    paixes, sempre persuadida por aqueles que as enalteam. O retorno da frota enviada de

    Esfactria Sicilia, cujas instrues haviam sido encerrar os conflitos na regio, encontraram

    os atenienses de nimos alterados, cegos no propsito de maiores vantagens. 64 De to

    determinados, os atenienses indignavam-se a qualquer resistncia, acreditando-se capazes de

    qualquer conquista. Razes que Tucdides converte em advertncia moral, retomando o

    argumento de seu relato da tomada de Pilos sobre os perigos e as vicissitudes aliados

    Fortuna (tche):

    A razo era sua boa fortuna, que contra qualquer clculo havia atendido maioria de suas investidas, fossem elas fceis ou no. A causa para tal, aimprevisvel prosperidade de muitos de seus desgnios, que agora lhessugeria poder e fora em esperanosas cobias.65

    58TORRANO, J. Op. Cit., 2004, p. 61.59A., vv. 922-ss.60A., vv. 914-ss.61TORRANO, J. Op. Cit., 2004, p. 63.62CORNFORD, F.M., Op.cit., 1907, p.167.63Thuc., I. 70.64Thuc., IV, 65.3.65

    , . (Thuc., IV. 65.4).

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    Combinao entre os constrangimentos das contingncias e de anank (necessidade),

    as inconstncias da vontade humana, e a sbita mudana to caracterstica das vicissitudes do

    acaso que a potica narrativa de Herman Melville destaca em seu clssico Moby Dick:

    A rgida trama da necessidade, nunca alterada de seu curso final - em cadavibrao sua, tendendo justamente a ela mesma; a vontade, ainda livre paracardar entre os fios dados; e a Fortuna, apesar de restrita em seu jogo entreas justas linhas da necessidade e, por outro lado, guiada em seu ritmo pelavontade, ainda que assim prescrita por ambas, a Fortuna as comanda,alternadamente, sendo Dela o ltimo e derradeiro sopro sobre os eventos.66

    Na ausncia de um moderado como Pricles, Atenas, inclinada persuasiva e

    demaggica poltica do momento, descalava os ps, pronta a pisar emprpuras.

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    66h taight wa f ity, t t wv fm it ultimat u its every alternating vibration,indeed, only tending to that; free will still free to ply her shuttle between given threads; and chance, though

    restrained in its play within the right lines of necessity, and sideways in its motions directed by free will, thoughthu i t y th, ha y tu ul ith, a ha th lat fatuig lw at vt MELVILLE,H.Moby Dick. Penguin Popular Classics (1851), 1994, p.214.

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