1. INTRODUÇÃO · Fátima Roberto Chaúque , Dpto de Mineralogia e Geotectônica, Instituto de...

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Estudo geocronológico, litogeoquímico e de geoquímica isotópica de alguns carbonatitos e rochas alcalinas de Moçambique Fátima Roberto Chaúque , Dpto de Mineralogia e Geotectônica, Instituto de Geociências-USP, 2008 17 1. INTRODUÇÃO 1.1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES Carbonatitos são definidos como rochas ígneas contendo mais de 50% de minerais carbonáticos. São comuns em complexos de origem magmática associados com rochas alcalinas. A designação “rocha alcalina”, em termos de composição química, inclui várias séries ou associações variando de saturadas a subsaturadas, predominantemente básicas até largamente ácidas, e de sódicas a potássicas. São caracterizadas pela presenca de feldspatóides e/ou piroxênios e anfibólios alcalinos. Rochas associadas são, portanto, sienitos nefelínicos (fonolitos) e ijolitos (nefelinitos), basanitos e rochas gabróicas com feldspatóides, sienitos peralcalinos (isto é, contendo piroxênio e/ou anfibólios alcalinos), quartzo sienitos e alcali-granitos, juntamente com traquitos peralcalinos, comenditos e pantelleritos. Fenitos também são incluidos por causa da sua relação íntima com rochas alcalinas e carbonatitos, assim como certas rochas ultramáficas e melilitos, incluindo alnöitos e melilitolitos (Woolley, 2001). O continente africano é o mais afetado, não apenas em número mas em área total exposta de carbonatitos e rochas associadas. Das cerca de 450 ocorrências de carbonatitos conhecidos em todo mundo, 40% estão localizados na África (Woolley & Kempe, 1989). Henrich (1966) e Woolley(2001) fizeram uma descrição sumária de 170 carbonatitos africanos, dos quais 70% estão concentrados no sul da África. Das 272 localidades de rochas alcalinas, incluindo carbonatitos, descritas por Woolley (2001), apenas cerca de 35% foram datadas, com idade predominante do Cretáceo. Muito raramente aparecem idades maiores do que 2000 Ma. Embora a grande diversidade de rochas alcalinas, com sua mineralogia exótica, bem como sua relação com as estruturas regionais, particularmente riftes, tenham atraído, ao longo dos anos, o interesse de pesquisadores, principalmente dos petrólogos, poucos progressos foram feitos desde cerca de sessenta anos atrás para a formulação de uma petrogênese compreensiva destas rochas (Woolley, 2001). Como as variedades alcalinas têm as mais extremas composições de todas as rochas ígneas, a compreensão da sua gênese é importante para entender os processos magmáticos e sua evoução. São ainda escassos estudos realizados sobre a petrogénese de rochas alcalinas e carbonatitos do sul da África. Contudo, dados isotópicos de estrôncio (Sr) e neodímio (Nd), compilados das publicações disponíveis de alguns

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  • Estudo geocronolgico, litogeoqumico e de geoqumica isotpica de alguns carbonatitos e rochas alcalinas de Moambique

    Ftima Roberto Chaque , Dpto de Mineralogia e Geotectnica, Instituto de Geocincias-USP, 2008

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    1. INTRODUO

    1.1. CONSIDERAES PRELIMINARES

    Carbonatitos so definidos como rochas gneas contendo mais de 50% de minerais

    carbonticos. So comuns em complexos de origem magmtica associados com rochas

    alcalinas. A designao rocha alcalina, em termos de composio qumica, inclui vrias

    sries ou associaes variando de saturadas a subsaturadas, predominantemente bsicas at

    largamente cidas, e de sdicas a potssicas. So caracterizadas pela presenca de

    feldspatides e/ou piroxnios e anfiblios alcalinos. Rochas associadas so, portanto, sienitos

    nefelnicos (fonolitos) e ijolitos (nefelinitos), basanitos e rochas gabricas com feldspatides,

    sienitos peralcalinos (isto , contendo piroxnio e/ou anfiblios alcalinos), quartzo sienitos e

    alcali-granitos, juntamente com traquitos peralcalinos, comenditos e pantelleritos. Fenitos

    tambm so incluidos por causa da sua relao ntima com rochas alcalinas e carbonatitos,

    assim como certas rochas ultramficas e melilitos, incluindo alnitos e melilitolitos (Woolley,

    2001).

    O continente africano o mais afetado, no apenas em nmero mas em rea total exposta de

    carbonatitos e rochas associadas. Das cerca de 450 ocorrncias de carbonatitos conhecidos em

    todo mundo, 40% esto localizados na frica (Woolley & Kempe, 1989). Henrich (1966) e

    Woolley(2001) fizeram uma descrio sumria de 170 carbonatitos africanos, dos quais 70%

    esto concentrados no sul da frica. Das 272 localidades de rochas alcalinas, incluindo

    carbonatitos, descritas por Woolley (2001), apenas cerca de 35% foram datadas, com idade

    predominante do Cretceo. Muito raramente aparecem idades maiores do que 2000 Ma.

    Embora a grande diversidade de rochas alcalinas, com sua mineralogia extica, bem como

    sua relao com as estruturas regionais, particularmente riftes, tenham atrado, ao longo dos

    anos, o interesse de pesquisadores, principalmente dos petrlogos, poucos progressos foram

    feitos desde cerca de sessenta anos atrs para a formulao de uma petrognese compreensiva

    destas rochas (Woolley, 2001). Como as variedades alcalinas tm as mais extremas

    composies de todas as rochas gneas, a compreenso da sua gnese importante para

    entender os processos magmticos e sua evouo. So ainda escassos estudos realizados sobre

    a petrognese de rochas alcalinas e carbonatitos do sul da frica. Contudo, dados isotpicos

    de estrncio (Sr) e neodmio (Nd), compilados das publicaes disponveis de alguns

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    carbonatitos e rochas alcalinas mesozicas a recentes, exibem uma excelente correlao

    negativa num diagrama Sr vs Nd, o que sugere uma mistura de duas fontes mantlicas, uma empobrecida e outra enriquecida em elementos litoflicos de ons grandes.

    1.2. OBJETIVOS

    A opo desse estudo de carbonatitos e rochas afins de Moambique deveu-se,

    principalmente, sua importncia no contexto geolgico/geotectnico, visto que sua

    distribuio espacial evidencia uma estreita ligao com o Sistema de Rifte da frica

    Oriental. Os carbonatitos, pela sua natureza, so rochas bastante restritas, quase que

    negligveis volumetricamente, quando comparadas com outros tipos de rochas magmticas.

    Contudo, o seu potencial econmico torna-os muito mais valiosos. Alm de serem a principal

    fonte de REEs (elementos das terras raras) ocorrem normalmente associados a mineralizaes

    de fsforo, cobre, zirco, nibio, titnio, vermiculita, magnetita/hematita, e outros.

    Pela carncia de estudos geolgicos que caracteriza todo territrio moambicano, um trabalho

    de reconhecimento voltado para estas rochas especiais torna-se contribuio bastante

    significativa. Dessa forma, foi estabelecida como prioridade para o presente trabalho a

    caracterizao do magmatismo alcalino mesozico de Moambique, mesmo que muito

    preliminar, atravs de anlises petrogrficas, litogeoqumicas e de qumica mineral, para

    algumas amostras representativas. Alm disso, determinaes radiomtricas K-Ar, e anlises

    isotpicas de Sr e Nd, foram planejadas para uma tentativa de enquadramento geotectnico, e

    para obter uma viso preliminar a respeito das possveis fontes mantlicas das rochas

    estudadas.

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    2. METODOLOGIA

    2.1. Obteno de amostras

    So diversas as ocorrncias j identificadas de carbonatitos e rochas afins em Moambique,

    que distribuem-se em diversas partes da regio centro-norte do pas. Os estudos apresentados

    neste trabalho, que incluem aspectos petrolgicos, geocronolgicos, de geoqumica isotpica

    e de litogeoqumica, constituem apenas um conjunto de informaes preliminar, de

    reconhencimento. Com o intuito de se alcanar algumas informaes significativas a respeito

    destas rochas, foi feito o levantamento de um total de 18 amostras, com o apoio de diversas

    instituies moambicanas. Foi selecionada pelo menos uma amostra representativa por

    ocorrncia conhecida e portanto no houve realizao de trabalhos de campo.

    As amostras recebidas das diferentes organizaes moambicanas foram as seguintes:

    1. Departamento de Geologia Econmica (DGE) da Direo Nacional de Geologia

    (DNG), pertecente ao MIREM:

    (i) equipe da Seo de Minerais Industriais (SMI), supervisada por Carlos Dinis, em

    2005 (amostras 12FR e 13FR);

    (ii) equipe da Seo de Geoqumica (SG), orientada por dr. Vicente Manjate, em 2005

    (amostras 01/05, 02/05, 03/05, 04/05 e 05/05);

    (iii) equipe da SMI, em 2007 coordenada por dr. Carlitos Almeida (amostras 1FR,

    Ch2FR, 3FR, 6FR);

    2. Direo Provincial dos Recursos Minerais de Tete (DIPREMT), em 2006, com o

    financiamento da DNG, proporcionou o deslocamento de uma equipe para coleta de

    amostras em dois complexos locais, (amostras 010/06 e SA/06);

    3. Empresa Gondwana, atravs do dr. Reinaldo Matchola, ofereceu duas amostras do

    macio do Muande (Muande1, Muande 2 e Muande 3); e

    4. UniversidadeUniversidade Eduardo Mondlane (UEM), atravs do Departamento de

    Geologia, em coordenao com o Dr. Daud Aliace Jamal, ento director do curso e co-

    orientador do projeto, tambm deu a sua maior contribuio (amostras 5488 e 5489).

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    de salientar que diversas recomendaes sobre os requistos bsicos importantes para a

    escolha das amostras foram feitas, como por exemplo o tamanho (cerca de 2 Kg por amostra),

    o baixo grau aparente de alterao e outras caractersticas. Contudo algumas das amostras

    escolhidas no se mostraram adequadas, especialmente as provenientes de arquivos muito

    antigos, ou do Museu do Departamento de Geologia da UEM. A relao das amostras

    estudadas este trabalho est indicada na tabela 2.1.

    2.2. Preparao das amostras

    A preparao de lminas e pulverizao das amostras de carbonatitos para anlises qumicas e

    isotpicas foram realizadas no laboratrio do Centro Mineral Sul-Leste Africano (SEAMIC),

    sedeado em Dar-es-Salaam, Tanzania. A triturao fez-se em Jaw crusher, Roll crusher e

    almofariz de gata.

    A preparao das amostras de sienitos foi feita nos laboratrios do Centro de Pesquisas

    Geocronolgicas do Instituto de Geocincias da Universidade de So Paulo (CPGeo), e do

    Departamento de Mineralogia e Geotecnica do mesmo instituto (GMG). No laboratrio de

    preparao de GMG fez-se a confeo de lminas e no do CPGeo a separao dos minerais de

    interesse, tais como anfiblios, piroxnios e biotita. Os minerais foram separados por

    granulometria, preferencialmente 35-60 mesh. O procedimento constou das seguintes etapas:

    i) triturao e peneiramento da amostra segundo a granulometria desejada; ii) Lavagem das

    fraces, com gua corrente, rinsagem com lcool e lmpada; iii) separao magntica

    (atravs de separador magntico Frantz); iv) separao de anfiblios e biotita por diferena de

    densidade utilizando lquidos densos (bromofrmio).

    Tabela 2.1- Relao de amostras e entidade fornecedora * Amostras disponveis, no utilizadas por causa de seu estado de alterao visvel

    Rocha Localidade Amostra Origem Xiluvo 01/05*; 02/05*; 03/05*; 04/05 e 05/05 DNG Muambe 010/06 DIPREMT Carbonatito Muande 1FR; Md1*; Md2* e Md3* DNG e Gondwana Fema 3FR DNG Rio Mufa 6FR DNG Evate 12FR DNG Mrmore Chdu Ch2FR DNG Salambidua SA/06 DIPREMT Sienito Tumbine 5488 e 5489 UEM Chiperone 13FR DNG

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    2.3. Petrografia

    Com base nos estudos petrogrficos do total de dezoito sees delgadas das amostras

    disponveis, apenas doze foram selecionadas para as diferentes anlises (ver tabela 2.1). O

    critrio de seleo incluiu a excluso de amostras muito alteradas, e a escolha de minerais

    especiais de interesse analtico. Um posterior estudo minucioso para classificao petrogrfica

    dos carbonatitos contou com o auxlio de qumica de rochas e de microssonda, visto ser

    impraticvel a identificao microscpica dos carbonatos.

    O exame microscpico foi feito num microscpio marca Olympus, modelo BX40, com campo

    visual entre 10 e 0,49 mm e aumento mximo de 40x. As feies mineralgicas e texturais

    principais foram fotomicrografadas por meio de conjunto fotogrfico marca Olympus, modelo

    C5050 acoplado ao microscpio.

    2.4. Qumica mineral

    As anlises qumicas das principais fases minerais foram realizadas no laboratrio de

    microssonda do GMG. Utilizou-se instrumental JEOL modelo JXA-8600S equipado com

    cinco espectrmetros dispersivos (1, PET; 2, LiF; 3, LiF; 4, TAP; 5, PET). As correes para

    os fatores de efeito de matriz se processaram atravs do sistema TRACOR de automao da

    microssonda. As condies analticas utilizadas foram: 15 kV para potencial de acelerao; 10

    nA para corrente do feixe electrnico e dimetro do feixe 10 m. Os tempos mximos de

    integrao das contagens de pulsos nos contadores foram de 10 para Ca e Si, 20 para Mg,

    30 para Fe e Mn e 50 para Ba e Sr. Os padres empregados foram: wollastonita (Si),

    fluoreto de brio (Ba), celestita (Sr), calcita (Ca), hematita (Fe), rodocrosita (Mn) e periclsio

    (Mg).

    O estudo visou classificar as principais fases minerais, indistintas ao microscpio, como foi o

    caso dos carbonatos dos carbonatitos, bem como de piroxnios, anfiblios e micas em

    sienitos. Foram analisados tambm, em carbonatitos, apatita e fluorcarbonatos de terras raras,

    estes ltimos identificados apenas na amostra de Xiluvo (05/05). Quase todas as anlises

    foram quantitativas, por disperso de comprimento de onda (WDS). Em poucos casos de

    minerais considerados especiais, tais como fluorcarbonatos de terras raras, monazita e outros,

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    efetuaram-se anlises qualitativas a semi-quantitativas, por meio de disperso de energia

    (EDS).

    2.5. Qumica isotpica Sr e Nd

    Todas as anlises isotpicas foram realizadas no CPGeo. A separao de Sr e Nd foi obtida

    pela tcnica convencional de troca catinica em colunas de resina AG50WX8 para o Sr e

    AG50WX8 e LN para o Nd aps dissoluo com Hf-HNO-HCl. As razes isotpicas 87Sr/86Sr

    e 143Nd/144Nd foram determinadas por espectrometria de massa de fonte slida, num sistema

    de ultra-alto vcuo, de 10-8 mbar, e 10 KV de voltagem de acelerao, com filamentos de Ta e

    Ta-Re e tenses de 8000 V e 10 000 V para Sr e Nd respectivamente. O erro mximo (2) foi

    de 0.003% para Nd e 0.01% para Sr. As razes 87Sr/86Sr foram normalizadas para 87Sr/86Sr =

    0.1194 enquanto que as razes 143Nd/144Nd foram normalizadas para 143Nd/144Nd = 0.72190.

    Os padres usados para as razes 87Sr/86Sr e 143Nd/144Nd foram de M3S-987 e LA-Jolla

    respectivamente.

    2.6. Geocronologia K-Ar

    Argnio foi extraido de piroxnios, anfiblios e biotitas por fuso a 1100oC numa linha de

    extrao de ultra-alto vcuo, a uma presso de cerca de 10-8 torr e purificado por reao

    sequencial com cobre (a 450oC) + zelita e com titnio ( a 800oC). Um traador 38Ar

    praticamente puro foi adicionado, e composio isotpica e concentrao de 40Ar foram

    determinadas num espectrmetro de massa de fonte gasosa tipo Reynolds, com coletor

    adaptado faraday, e com o potencial de acelerao de 1700 V. O padro usado foi biotita SJ-1

    de uso interno no laboratrio do CPGeo.

    O potssio foi analisado, para os mesmos concentrados, pelo fotmetro de chama modelo

    B462 (Micronal), com preciso de 0.01 ppm, a partir de uma alquota de amostra dissolvida

    em HF + H2SO4. No perodo em que foram feitas as anlises de K, os brancos do laboratrio

    mostraram-se adequados, normalmente menores do que 0.01 ppm.

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    2.7. Qumica de rochas

    As anlises em rocha total dos elementos maiores, traos e terras raras (ETR) foram efetuadas

    no laboratrio qumico do GMG. As determinaes dos elementos maiores e de alguns

    elementos-trao foram efetuadas atravs de espectrmetro de fluorescncia de raios X, marca

    Phillips, modelo PW 2400, com tubo de rhdio. Foram usadas tcnicas complementares com

    pastilha de p prensado (PPP), e com pastilha fundida (FGD). Os limites de deteo (LD)

    variam para cada elemento, geralmente abaixo de 10 ppm para elementos-trao, e a perda ao

    fogo determinada por diferena de peso. Para as duas tcnicas foi usado o mesmo padro,

    CAL-S, cujos valores obtidos, recomendados e LD constam de Mori et al (1999). Os

    procedimentos analticos detalhados, as condies instrumentais e as correes usados nas

    tcnicas PPP e FGD tambm podem ser encontrados em Mori et al. (1999).

    Anlises de ETR foram efetuadas pela tcnica Inductively Coupled Plasma-Mass

    Spectrometry (ICP-MS), no instrumento modelo ELAN 6100 DRC (Dynamic Reaction Cell),

    obedecendo procedimentos recomendados em Navarro et al. (2008) e suas referncias.

    Solues foram preparadas usando mtodo de decomposio baseada numa mistura de cidos

    de ataque (Hf e HCLO4; Hf e HNO3; ou Hf, HCl e HCLO4) em forno de microondas, modelo

    MDS-2100. Os padres usados foram JG-3 e JR-1 e as suas concentraes normalizadas para

    os condritos esto projetadas no diagrama multielementar da Figura 2.1.

    1

    10

    100

    1000

    La Ce Pr Nd Sm Eu Gd Tb Dy Ho Er Tm Yb Lu

    Con

    cent

    ra

    o N

    orm

    aliz

    ada

    JG-3 recomendadoJG-3 obtidoJR-1 RecomendadoJR-1 obtido

    Figura.2.1. Diagrama multi-elementos de elementos de terras raras para os padres JG-3 e JR-1. Elementos

    normalizados segundo os condritos C1 de Sun & McDonough (1989).

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    3. CARBONATITOS E ROCHAS ALCALINAS NA FRICA

    Aproximadamente metade dos carbonatitos africanos esto, espacialmente, relacionados ao

    Sistema de Rifte da frica Oriental, ao passo que outras concentraes importantes em

    Angola, Nambia e frica do Sul formam aglomeraes que so colineares com as principais

    falhas transformantes do Atlntico Sul (Woolley, 1987) (Figura 3.1). A maioria ocorre em

    pequenos complexos circulares tpicos, com intruso central do carbonatito, associada a

    rochas alcalinas, compostas principalmente de nefelina e clinopiroxnio mas tambm

    contendo quantidades variveis de melilita, granada melonita, perovskita, apatita e opacos.

    25

    50

    25

    0

    Ramo

    NW

    do ri

    f t

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    frica do Sul

    SW d

    a f

    rica

    Moa

    mbiq

    ue

    ~2200-1750 MA;~1400-1000 MA;~80-60 MA

    ~750-500 MA;~150-30 MA

    ~1100-550 MA;~200-90 MA

    ~750-400 MA

    ~5-0 MA

    Fig.3.1. Mapa esquemtico de localidades alcalinas e carbonatitos no sul da frica (adaptado do Kapustin, 1971

    e Bell, 1989).

    Em muitos complexos carbonatticos, os tipos de rochas concentricamente arranjados tornam-

    se progressivamente pobres em slica em direo ao ncleo, o qual ocupado pelos

    carbonatitos; contudo este modelo pode ser pertrubado por mltiplas intruses. Uma sucesso

    tpica de tipos de rocha a partir da borda para o ncleo consiste de sienito nefelnico, ijoito e

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    carbonatito, com existncia de diques lamprofricos de alnito ou furchito cortando todas

    rochas. Os prprios carbonatitos podem ser concentricamente zonados a partir da mais antiga

    zona externa de carbonatito calctico (svito) seguida por uma zona de carbonatito dolomtico

    (beforsito) e um ncleo, mais novo, de carbonatito ankeritico e sideritico.

    Um carbonatito tpico composto de aproximadamente 75% de carbonatos (calcita, dolomita,

    ankerita, siderita), com menor quantidades de clinopiroxnio, flogopita, anfiblios, apatita,

    magnetita, olivina, monticellita, perovskita e pirocloro. As rochas circundantes aos complexos

    carbonatticos geralmente sofrem intenso metassomatismo sdico. Muitas encaixantes podem

    ser alteradas para sienitos com aegerina, designados por fenitos. Zonas de fenitizao

    apresentam tipicamente centenas de metros de largura.

    Carbonatitos, quando vistos numa distribuio mundial, apresentam vrias idades, e se

    encontram dominantemente associados a rifteamento anorognico e separao continental.

    Esto registrados tambm em ambientes de ilhas ocenicas tais como Cabo Verde (Bowden,

    1985).

    Na frica, os carbonatitos demosntram todos os modelos principais de colocao de rochas

    subvulcnicas, incluindo lavas e depsitos piroclsticos. Os mais antigos so do pr-

    Cambriano Superior (Bowden, 1985). Estes so seguidos por carbonatitos e intruses

    associadas (Ilha de Chilwa, Malawi; Monte Panda, Tanzania) pr-datando as lavas baslticas

    e relacionadas associadas com a evoluo de vales do rifte do Cretceo em diante.

    Carbonatitos do Cenozico esto concentrados na regio a norte do equador, o que

    aparentemente indica que a atividade gnea do Rifte da frica Oriental torna-se mais nova em

    direo ao norte. Esta idia sustentada pela falta de ocorrncias de carbonatitos cenozicos

    ao sul do equador. Determinaes recentes de idade indicam idade Proterozica para

    carbonatitos e complexos alcalinos das partes central e oeste dos ramos norte do rifte.

    Os corpos carbonatticos cenozicos esto concentrados principalmente em Uganda, Qunia e

    Tanzania. Na regio oriental de Uganda e na rea do golfo de Karivongo, regio oeste do

    Qunia, a atividade carbonattica comeou cerca de 42 Ma e cessou cerca de 4 Ma atrs.

    Atividades subsequentes foram concentradas na regio sul de Qunia e regio norte de

    Tanzania, e ainda continuam, espetacularmente, como demostrado pelo fluxo de lava

    carbonattica eruptado recentemente a partir do vulco de Oldoinyo Lengai (Wooley, 1989).

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    3.1. EVENTOS TECTONO-TERMAIS ASSOCIADOS A ROCHAS ALCALINAS E

    CARBONATITOS DO SUL DA FRICA.

    De acordo com o histograma (Figura 3.2), produzido a partir dos dados disponveis,

    compilados de diversas fontes (Tabela 1 do apndice), o magmatismo alcalino no sul da

    frica vem manifestando-se desde o Paleoproterozico, mas do Cretceo ao recente est

    fortemente em evidncia. A maior parte das idades do vulcanismo alcalino, na regio sul da

    frica, correlaciona-se com distintos eventos tectono-termais, definidos em vrias partes do

    continente. Entre eles, ao considerar os picos do histograma da figura 3.2, destacam-se os

    seguintes episides:

    Paleoproterozico (acima de 2000 Ma);

    Mesoproterozico (entre 1000 e 1400 Ma);

    Neoproterozico (entre 500 e 800 Ma) e

    Meso-cenozica (a partir de 200 Ma).

    0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    Idade (Ma)

    Num

    ero

    de c

    asos

    Fig.3.2. Histograma de frequncia versus idade de complexos alcalinos e carbonatitos do sul da frica (dados

    compilados de diversas fontes, tabela 1 do apndice).

    Vrias observaes, a partir dos estudos feitos no sul da frica, indicam que a distribuio

    espacial das intruses dos carbonatitos e rochas associadas determinada pelas linhas de

    fraqueza da crosta, com a exceo dos complexos que ocorrem nas regies cratnicas da

    Repblica da frica do Sul.

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    27

    De incio, o magmatismo carbonattico restrito zonas prximas as margens dos crtons,

    geralmente em reas correspondentes a cintures mveis proterozicos. As ocorrncias

    registradas nas zonas cratnicas so as mais antigas, datadas entre Paleoproterozico-

    Mesoproterozico.

    A segunda observao que os carbonatitos ocorrem ao longo de zonas extensivas lineares e

    curvilneas ou em aglomerao nas intersees de falhas. Ao longo da zona curvilnea que

    estende-se do norte do Malawi ao Burundi e leste do Zaire, que constitui o ramo nordeste do

    Rifte da frica Oriental, ocorrem carbonatitos do Neoproterozico-Paleozico. O ramo

    nordeste do Rifte da frica Oriental, que extende-se do sudoeste da Tanzania para norte,

    caracterizado por vulcanismo Tercirio a recente. No extremo sul do rifte predominam

    ocorrncias meso-cenozicas. No sudoeste da frica, ao longo das falhas extensionais ligadas

    formao do Antlntico Sul, ocorrem carbonatitos e rochas afins do Meso-cenozico.

    A terceira observao que os carbonatitos foram colocados em estruturas mecanicamente

    fracas nos cintures proterozicos. Idades meso-neoproterozicas so registradas em algus

    sienitos e carbonatitos de Nambia, Zmbia e frica do Sul (Tabela 1 do apndice). Estas

    anisotropias estruturais so principalmente zonas de cizalhamento, repetidamente

    rejuvenescidas e provavelmente extendidas para nveis profundos no interior da crosta.

    3.1.1. Eventos tectono-termais do Paleoproterozico (2200-2000 Ma)

    O intervalo de tempo de 2200-2000 Ma caracteriza episdios tectono-termais sucessivos ao

    Ciclo Orognico Eburneano, o qual afeta grande parte da frica. Os sienitos e carbonatitos

    com cerca de 2050, e outros dados pouco mais jovens, na frica de Sul, podem ser

    considerados como marcando o fim deste ciclo, e ao mesmo tempo inaugurar uma importante

    tafrognese em muitas regies da frica, em que aparecem intruses granticas e sienticas

    alcalinas, incluindo complexos circulares. De acordo com Cahen et al. (1984), considerao

    similar pode ser efetuada para os granitos ps-tectnicos datados em cerca de 2040 Ma, na

    frica Ocidental.

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    3.1.2. Eventos tectono-termais do Mesoproterozico (1400-1300 e 1300-1050 Ma)

    Dois perodos de eventos tectono-termais so destacados no Mesoproterozico, o primeiro no

    intervalo de idade 1400-1300 Ma e o segundo entre 1300 e 1050 Ma. O primeiro intervalo

    representa a retomada de tectonismo orognico aps um intervalo prolongado de atividade

    gnea anorognica aps o Ciclo Eburneano (Cahen et al., 1984). O evento mais caracterstico

    desse primeiro perodo o cinturo mvel Kibariano, que envolveu sequncias sedimentares e

    vulcano-sedimentares importantes. Na frica do Sul, na esteira do cinturo orognico

    Namaqua-Natal, so registradas idades Rb-Sr e U-Pb com idades de aproximadamente 1300

    Ma em carbonatitos e rochas alcalinas (Tabela 1, do apndice).

    O segundo perodo, com idades posteriores a 1300 Ma, e at 1050 Ma, representa o final do

    ciclo orognico Kibariano marcado, de entre vrios fenmenos datados, por depsitos de

    molassa produzidos em conseqncia ao levantamento consecutivo dos cintures Kibarianos.

    Na frica do Sul, intensa atividade magmtica e hidrotermal ocorreu a cerca de 1150 Ma, no

    cinturo Kheis e no complexo metamrfico de Namaqua. Estes eventos foram seguidos, em

    vrias regies, por intruses ps-tectnicas (Cahen et al. 1984).

    3.1.3. Eventos tectono-temais do Neoproterozico (1050-450 Ma)

    Em algumas regies da frica, existem dois episdios tectono-termais, embora por outro lado

    possam constituir um evento singular comeado a cerca de 785 Ma e terminado por volta de

    730 Ma. Outro intervalo importante, de 700 a 600 Ma e seu perodo posterior, que em

    frica como um todo, estas idades esto ligadas com zonas de atividades, geralmente,

    chamadas Pan-Africanas as quais circundam reas estveis de crtons. Sobre maior parte

    da frica, as reas de atividades do Neoproterozico, nas quais o tectonismo tardio inferior a

    600 Ma regra geral, contm idades mais novas num intervalo entre 600 a 450 Ma, o qual

    tem sido considerado como representao do perodo posterior a episdios precedentes

    (Cahen et al., 1984). As idades entre 750-400 Ma, no sudoeste da frica (Nambia) (Tabela 1,

    no apndice) e no ramo noroeste do Rifte da frica Oriental podem estar relacionadas com

    este perodo de eventos sucessivos.

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    Por outro lado, a consumao do Oceano Moambique est relacionada com o episdio Pan-

    Africano de aglutinao do Gondwana Leste e Oeste. Nos cintures dobrados proterozicos,

    ao longo da margem oriental do crton do Zimbabwe, o Ciclo Orognico Pan-Africano

    expressado por reativao termal e metamorfismo seguido de arrefecimento (na ordem dos

    350oC) a cerca de 500 Ma.

    Meert (2002) reconheceu trs grupos de idades aproximadas relacionados ao Ciclo Orognico

    Pan-Africano. Estes incluem:

    (i) o incio da criao do arco/ofiolitos na Orogenia da frica Oriental entre cerca de 710 e

    800 Ma.

    (ii) Orogenia da frica Oriental entre cerca de 690 e 580 Ma num cinturo N-S partindo do

    escudo Arabiano-Nubiano a norte de Moambique e

    (iii) orogenia Kuunga de cerca de 580 a 460 Ma nas zonas aproximadamente E-W e N-S ao

    longo das margens norte e leste do crton do Kalahari.

    3.1.4. Atividade anorognica Meso-Cenozica

    Na frica, atividade gnea do Fanerozico apenas anorognica, e ocorre em trs grupos de

    idades: O grupo mais antigo, comeando imediatamente aps os eventos Pan-Africanos,

    consiste essencialmente de rochas gneas, incluindo complexos alcalinos. Afeta

    principalmente as zonas previamente marcadas pelo tectonismo e metamorfismo Pan-

    Africano, geralmente com idades entre 600 e 400 Ma. Os dois ltimos grupos, que cobrem o

    tempo a partir do Jurssico (Figura 3.3), constituem pouco mais de 50% dos complexos

    alcalinos e carbonatitos da frica Austral e esto intimamente associados a zonas de

    falhamento do Rifte da frica Oriental.

    O grupo com idades entre Jurssico a Cretceo (190- 65 Ma) corresponde ao setor sul do

    rifte. Num estudo detalhado das lavas baslticas de Drakensberg, na frica do Sul, por Miller

    (Cahen, et al., 1984), determinaes de idades K-Ar em rocha total indicam que o vulcanismo

    comeou, nesta rea, por volta de 190 10 Ma. O segundo grupo, no setor nordeste do Rifte

    da frica Oriental, caracterizado pelo vulcanismo Tercirio a recente, com idades a partir de

    65 Ma. Este vulcanismo Cenozico praticamente restrito a reas de stress tensional (Liu,

    1980) muitas destas sobrepostas a stios de primeira atividade tectono-termal panafricana.

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    0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300

    0

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    8

    12

    16

    Num

    ero

    de c

    asos

    Idade (Ma) Fig.3.3 Histograma de frequncia versus idade de complexos alcalinos e carbonatitos do Mesozico a recente do

    sul da frica (dados compilados de diversas fontes, tabela 1 no apndice).

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    31

    4. ENQUADRAMENTO GEOLGICO

    4.1. GEOLOGIA DO NORTE DE MOAMBIQUE

    A geologia de Moambique pode ser subdividida em terrenos pr-cambrianos e Fanerozicos.

    O pr-Cambriano est representado principalmente nas partes norte e centro-oeste do pas e

    cobre cerca de dois teros deste (Figura 4.1). Sedimentos fanerozicos cobrem a zona das

    grandes plancies costeiras, abrangendo em grande parte a regio sul do pas (desde a sul do

    Rio Save) e a orla costeira. As intruses carbonatticas e alcalinas, de um modo geral,

    ocorrem na regio centro-norte do pas, cortando rochas do embasamento pr-cambriano. O

    pr-Cambriano, na regio norte de Moambique, caracterizado por rochas de mdio e alto

    grau e constitui a extremidade sul do Cinturo de Moambique, definido por Holmes (1951).

    O Cinturo de Moambique parte de um cinturo orognico maior (Orgeno Leste

    Africano) que ocorre ao longo da costa leste da frica, estendendo-se de norte de

    Moambique ao Sudo e Etipia. Holmes (1951) definiu como Cinturo de Moambique a

    extremidade sul do Orgeno Leste Africano, com base nas discontinuidades estruturais entre o

    Crton da Tanzania e sua regio vizinha oriental, e datou a Orogenia Moambicana em cerca

    de 1300 Ma. Mais tarde verificou-se que esse cinturo foi fortemente afetado tambm pelo

    episdio termo-tectnico Pan-Africano (~500 Ma).

    Modelos mais recentes sugerem que o Cinturo de Moambique formou-se durante a coliso

    neoproterozica entre os assim chamados Gondwana de Oeste e de Leste, seguida do

    fechamento do Oceano de Moambique (Jamal, 2005). No nordeste de Moambique, o

    cinturo tornou-se subdividido com o posterior reconhecimento dos Cintures de Lrio e de

    Namama. Imagens aeromagnticas recentes revelam, tambm, o prolongamento do Cinturo

    Ubendiano atravs do Lago Niassa, ocupando reas centrais do norte de Moambique, bem

    como a presena de zonas de cisalhamento NE-SW no nordeste de Moambique (Jamal,

    2005). Na regio nordeste do pas, Jamal et al. (1999) estabeleceram a presena de idades no

    intervalo entre 1000 e 1100 Ma em rochas granitides no cinturo de Lrio. Idade similar

    (~1110 Ma) foi registrada em gnaisses granitides no noroeste do pas, ao longo da estrada

    Manica-Chimoio (Krner e Cordani, 2003).

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    Ainda na regio noroeste (provncias de Tete e Manica), Krner e Cordani (2003) indicaram a

    presena de idades prximas de 1000 Ma, referentes colocao de gnaisses granticos e

    charnoquitos. Os mesmos autores indicam idade de cerca 800 Ma em gnaisses granticos

    fortemente deformados, regio SW de Tete, com a fbrica de cisalhamento cortada por

    pegmatitos datados em 550 Ma.

    Coletivamente, o embasamento pr-Cambriano compreende gnaisses de alto grau, granulitos,

    migmatitos e granitoides, bem como paragnaisses. Idades precisas, determinadas por Jamal

    (2005), pelo mtodo U-Pb em cristais de zirco, demonstraram que as rochas do embasamento

    meso- a neo-proterozico do Cinturo de Moambique, na regio norte de Moambique,

    foram extensivamente retrabalhados entre 650 e 520 Ma. No setor ocidental do norte de

    Moambique, rochas metassedimentares de baixo grau, algumas com diamitctitos, ocorrem

    inconformavelmente sobre o embasamento de alto grau. Estes metassedimentos so

    correlacionados com sequncias Katanguianas do arco Lufiliano e so marcados por um

    tectonismo Pan-Africano posterior.

    Atividades gneas fanerozicas no norte de Moambique so marcadas por conjuntos gneos

    ps-pan-africanos (500-400 Ma) e cretceos. Os conjuntos ps-pan-africanos incluem uma

    grande variedade de corpos intrusivos cambro-ordovicianos de forma circular, filoniana ou

    anelar, formados por granitos, sienitos, monzonitos, gabros, noritos e pegmatitos. Estes

    plutonitos distribuem-se nas provncias magmticas ps-panafricanas. Alguns granitos

    monzonticos tm idades que oscilam entre 360 e 490 Ma; intruses circulares e files de

    leucogranitos potssicos com diferenciados hiper-alcalinos, associados a sienitos so datados

    de cerca de 480 Ma (Afonso et al., 1998).

    O magmatismo cretceo representado por uma atividade gnea bimodal e por carbonatitos,

    quimberlitos e lavas alcalinas. Estes plutonitos e vulcanitos, englobados na provncia alcalina

    de Chilwa, esto alinhados ao longo de uma orientao NNE-SSW, que parece corresponder a

    falhamentos transformantes reativados quando da separao dos blocos do Gondwana

    (Afonso et al., 1998). So integrados neste perodo, por esses autore:

    (i) os granitos e o gabro pertencentes ao macio de Gorongosa; outras intruses granticas

    bem como sienticas a norte do Rio Zambeze, ao longo da margem leste do Rifte Niassa

    (incluindo as ocorrncias, dos sienitos de Tumbine, Chiperone e Morrumbala);

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    (ii) a intruso sienito-carbonattica de Salambidua, o carbonatito filoniano de Cone Negosa, os

    carbonatitos extrusivos, anelares, dos Montes Muambe e do Xiluvo, e os piroclstico-tufos

    carbonatitos de Lupata;

    (iii) os quimberlitos, na bacia do Rio Lunho, sob a forma de diques e chamins.

    Na provncia de Tete, nos bancos do Rio Zambeze, novos carbonatitos (provavelmente

    cretceos), os quais fazem parte do presente estudo, foram definidos nos trabalhos posteriores

    (GTK Consrcio, 2006). Os mesmos nos trabalhos anteriores (Belgrad,1984) classificavam-

    nos como mrmores, o caso dos carbonatitos de Fema, Muande e Rio Mufa. Os trs parecem

    formarem mesma unidade geolgica sendo que Muande separado dos restantes pelo Rio

    Zambeze (Figuras 4.1 e 4.2). Este estudo ir concentrar-se no magmatismo alcalino e

    carbonattico Mesozico, incluindo o carbonatito de Evate.

    4.2. CARBONATITOS DE MOAMBIQUE E ROCHAS ALCALINAS ASSOCIADAS

    Com exceo do carbonatito de Evate, os carbonatitos e rochas alcalinas associadas,

    estudadas neste trabalho, ocorrem numa rea adjacente ao pas vizinho, Malawi, e tambm

    formam parte da Provncia Alcalina de Chilwa, definida por Bloomfield (1968), do lado

    Malawiano. Segundo Real (1966), os carbonatitos e sienitos do territrio moambicano

    mostram grande afinidade petrogrfica, no s entre si, como com ocorrncias conhecidas no

    territrio malawiano e devem corresponder a intruses conteporneas. Belgrad (1984)

    considerara as rochas do Monte Muande e do Monte Fema como mrmores com um protolito

    sedimentar. Entretanto, estas rochas foram recentemente reclassificados como carbonatitos

    pelo GTK Consrcio (2006). Esses mrmores (sensu Belgrad, 1984) j so chamados de

    carbonatitos no presente trabalho. Por outro lado, o magmatismo sientico encontra-se

    principalmente ao longo do Vale do Rifte da frica Oriental, na fronteira com o sul de

    Malawi. Os macios de Tumbine, Chiperone, Salambidua, alm do carbonatito de Muambe,

    afloram no sul da Provncia Alcalina de Chilwa (Figura 4.9), cujas idades de um modo geral

    esto includas no intervalo 116-138 Ma (Woolley, 2001).

    4.2.1. Carbonatitos de Fema-Muande-Rio Mufa

    Os macios do Monte Fema e do Monte Muande ocorrem a noroeste de Tete (Figura 4.2).

    Representam uma nica entidade natural aparentemente injetada na zona de empurro ao sul

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    da suite de Tete, mas so separados pelo Rio Zambeze. Monte Fema est situado no banco

    direito e monte Muande no banco esquerdo. O carbonatito do Rio Mufa (6FR), recentemente

    descoberto, localiza-se a pouco mais de 10 Km SW do carbonatito do Monte Fema (Figura

    4.2). Este carece de estudos prvios, mas mostra uma relao geolgica similar a dos

    carbonatitos de Fema e Muande.

    Hunting et al. (1984) e Belgrad et al. (1984) considerara estas rochas como mrmore da

    Formao de Chdu, todavia, GTK Consrcio (2006) reclassificou-as com base em rocha

    encaixante, ambiente, estrutura/textura, litologia, mineralogia e litogioqumica, incluindo os

    istopos de oxignio e carbono. O critrio mais decisivo para essa reclassificao, seja em

    mrmore ou carbonatito, foram as anlises de rocha total, em que os mrmores de origem

    sedimentar apresentam 160-1530 ppm de Sr,

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    falhamento. Magnetita ocorre na forma dispersa nas rochas ou em segregaes que formam

    corpos de minrio de Ferro, de dimenses restritas Belgrad (1984).

    Tabela 4.1- Anlises XRF de mrmores e carbonatitos associados

    Formao de Chdu (extraida do GTK Consrcio, 2006) Amostra P2O5 Fe2O3 Sr La Ce % % ppm ppm ppm MRMORES Boroma: Obs.9204.1-03 0.076 0.280 460

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    37

    Figigura 4.2- Mapa geolgico da srie de Tete ilustrando os macios carbonatticos de Rio Mufa, Fema e Muande, e mrmores da Formao de Chdu

    (modificado de GTK Consrcio, 2006).

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    38

    Na regio, cobertura sedimentar representada por depsitos do Super-Grupo do Karoo os quais

    so tambm largamente distribuidos. Os mrmores da Forma,co de Chdu encontram-se sobre

    rochas descritas como gnaisses ou como complexo-gneisse-migmattico (Belgrade, 1984).

    As rochas pr-cambrianas que ocorrem nos Montes Fema e Muande, encontram-se tambm no

    carbonatito de Rio Mufa, onde tambm observam-se mineralizaes de magnetita/hematita e

    apatita (Figura 4.3 ). A idade cretcea de Rio Mufa pode indicar tratar-se de um corpo intrusivo

    do Cretceo, pertencente Provncia de Chilwa.

    4.2.2. Carbonatito de Muambe

    O Monte Muambe, localizado a sudeste de Tete (Figura 4.1), considerado a maior das

    ocorrncias da srie de Chilwa, de atividade eruptiva mesozica, a mais de 20 Km norte-nordeste

    do extremo oeste da Garganta Lupata do Rio Zambeze. A estrutura circular com cerca de 7 Km

    de dimetro (Dias, 1961) corta o complexo gabro-anortostico de Tete. Possui a parte externa

    composta de arenitos endurecidos e fenitizados do Super-Grupo do Karoo e camadas de lavas. O

    conjunto eleva-se cerca de 400 metros acima do plano circundante com sedimentos inalterados

    (Figura 4.4).

    Figura 4.3- fotografia ilustrando mineralizaes de magnetite e apatite.

    Apatite

    Magnetite/hematita

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    39

    Laterito e soloCarbonatitoRochas k-feldspticas

    Brecha e aglomeradoDiques bsicosArenitos de Karoo

    400m

    3406

    1618

    Figigura 4.4- Mapa geolgico do monte Muambe (adaptado do Woolley, 2001).

    As rochas feldspticas, descritas essencialmente como fenitos potssicos, cortam arenitos e

    formam uma espcie de dique anelar elevado, com uma depresso interna. Esta possui elevaes

    ngremes de carbonatitos e rochas vulcnicas afins (aglomerados, tufos e diques bsicos), e em

    alguns lugares as rochas feldspticas so intensamente brechadas (Dias, 1961). So freqentes

    diques de nefelinito olivnico e fonolito. Os primeiros contm fenocristais de augita e alguma

    olivina numa matriz rica em piroxnio e uma base de gro muito fino que contem nefelina. Os

    fonolitos contm fenocristais de nefelina numa matriz de nefelina e augita, com feldspatos

    subordinados (Dias, 1961).

    Cilek (1989), registrou presena de fluorita e de muitos minerais silicticos nos carbonatitos. As

    ocorrncias que podero ter significncia econmica so as de mangans, ferro, nibio e terras

    raras. Fluorita foi registrada em brechas feldspticas e em rochas associadas do complexo

    carbonattico. So observadas tambm fracas mineralizaes de Nb, Ta, Ce, Y, Zr, Th, Mn, Fe e

    F (Dias, 1957).

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    40

    4.2.3. Carbonatito de Xiluvo

    A suite carbonattica de Xiluvo constituida por calciocarbonatitos de granulao fina a mdia e

    localiza-se a cerca de 14 km oeste da vila de Nhamatanda (GTK Consrcio,2006).

    Morfologicamente, Xiluvo caracterizado por uma srie de elevaes formando uma estrutura

    sub-circular com mais de 4.5 km em dimetro externo, constituida por um grupo de elevaes

    com um mximo de 443 metros de altitude. Estas elevaes delimitam uma depresso interna

    tipo caldeira com um dimetro de cerca de 3 km.

    O complexo do Monte Xiluvo formado, da parte interna para externa, pela sequncia:

    (i) um ncleo central constituido por carbonatito;

    (ii) um anel em volta do ncleo constituido de brechas vulcnicas, as quais podem ou no

    apresentarem fragmentos de rochas carbonticas e

    (iii) uma zona externa em volta do anel, muito complexa, na qual rochas traquticas cortam

    rochas xistosas quartzo-feldspticas (GTK Consrcio,2006).

    As rochas carbonticas, ocupando a parte central da estrutura do anel, cobrem uma rea de

    aproximadamente 4.5 km2 (Figura 4.5). Localmente, os carbonatitos so cobertos de solos

    avermelhados e por vezes apresentam fenmenos de carstificao. A litologia da zona interna

    dominada pela ocorrncia de carbonatitos macios de cores verde escuro e castanho claro, por

    aglomerados carbonatticos e por veios carbonticos. Um segundo tipo de carbonatito ocorre em

    volta do primeiro e foi descrito como carbonatito traquitide, devido sua similaridade com as

    rochas traquticas (GTK Consrcio,2006). A litologia principal dos carbonatitos pode ser descrita

    como aegirina-pirocloro-apatita carbonatito, de granulao grossa e estrutura bandada (fase 1).

    Camadas carbonatticas de hematita-calcita de granulao mdia a fina (fase 2) cortam os

    carbonatitos primrios (Hormer et al., 2000).

    As brechas vulcnicas so cortadas por veios e diques carbonatticos, silicticos e dolerticos

    (Melluso et al. 2004). Incluem clastos angulares de fragmentos lticos, provenientes das rochas

    encaixantes, tais como gnaisses quartzo-feldspticos e filitos. Seu tamanho situa-se normalmente

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    41

    entre 10 a 40 cm. Algumas partes das brechas so fragmentos de carbonatito (Hormer et al.,

    2000).

    Brecha vulcnica

    Sedimentos ps-KarooCarbonatitosVeios quartzticos

    Basaltos toleticos (Karoo)Migmatitos (Grupo de Matambo)GranulitosGnaisses e micaxistos (Grupo de Nhamatanda)

    2 km

    Mt Xiluvo

    10 Km 34

    Figura 4.5- Mapa geolgico regional e do complexo carbonattico de Xiluvo (adaptado de Woolley, 2001 e da carta

    geolgica de Moambique, escala 1:1000 000, 1987).

    4.2.4. Carbonatitos de Evate

    Os carbonatitos de Evate integram-se na estrutura de Monapo, situada prxima da costa

    moambicana, 150 Km ao sul de Pemba (Figura 4.1). Contrariamente maioria dos carbonatitos

    e intruses alcalinas com idades Meso-Cenozicas, as rochas dessa estrutura possuem idade pre-

    Cambriana registrada, e foram metamorfoseados durante eventos tectnicos Moambicanos e/ou

    Pan-Africanos. Na estrutura de Monapo (Figura 4.6), os carbonatitos ocorrem no interior da

    unidade mais antiga e so deformados e metamorfoseados juntos aos outros componentes da

    estrutura de Monapo (Siegfrid, 1999).

    A unidade considerada pr-Moambicana da estrutura de Monapo caracterizada por trs

    principais tipos de rochas: magnetita-apatita carbonatitos, biotita-quartzo-feldspato gnaisses e

    quartzo-feldspato gnaisses leucocrticos. Embora os carbonatitos, no geral, estejam

    meteorizados, quantidades significativas so encontradas como afloramentos pouco alterados

    (Figura 4.7). Os carbonatitos formam veios, indicando uma relao intrusiva.

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    42

    40

    15

    10 Km

    Gnaisses granulticosGnaisses supracrustais moambicanosGnaisses pr-moambicanosMigmatitos

    Sienitos e monzonitosGnaisses aluminosasGnaisses nefelnicosMrmores e carbonatitosGnaisses gabricos

    MONAPO

    Figura 4.6- Mapa geolgico simplificado da estrutura de Monapo (adapaptado da carta geolgica de Moambique,

    escala 1:1000 000, 1987).

    Figura 4.7- Fotografia mostrando um afloramento do carbonatito de Evate.

    Siegfried (1999) mapeou uma das unidades litolgicas maiores como corpo carbonattico,

    limitado por uma aurola de fenito potssico. Este corpo tem 3 km de comprimento e 700 m de

    largura, sendo constituido de um carbonatito calctico de granulao grossa, branco, com

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    43

    quantidades variveis de apatita, diopsdio, magnetita e pirrotita. O corpo dispe-se

    conformavelmente com os gnaisses granulticos datados em cerca de 960 Ma e apresenta

    foliaes onduladas, muitas vezes definidas por concentrao de apatita. Alm disso, aparenta

    deformao e sua idade deve corresponder epoca dessa deformao.

    A mineralizao de apatita confinada nas bandas carbonticas dentro de sucesses de gnaisses

    dobradas isoclinamente. Segundo Beltchev (1983), os fosfatos seriam de origem sedimentar,

    entretanto uma associao carbonattica agora favorecida. Hunting (1984) indica que a

    variedade de apatita fluorapatita, bem cristalizada, de cor azul, azul-verde e amarela, no

    havendo sinais de uma cristalizao mais nova.

    4.2.5. Intruso sientica de Tumbine

    Tumbine, localidade a sul do Lago Chilwa, uma intruso tpica quase circular, com cerca de 8

    km de dimetro, em gnaisses e granulitos (Figuras 4.1 e 4.8). Consiste de sienitos alcalinos e

    subalcalinos com diques de microsienitos e traquitos. Os sienitos alcalinos so predominantes,

    compostos de feldspatos micropertticos, biotita, anfiblio e titanita. Os sienitos subalcalinos so

    esverdeados, rochas de granulao mdia, compostos de ortoclsio perttico, pouco quartzo,

    estruturas mirmequticas e apatita. Incluem minerais mficos, como aegerina-augita, biotita, e

    anfiblios sdicos com ncleos de piroxnio (Belgrad, 1984). Depsitos residuais de lateritas

    aluminosas e caulim so restritos.

    4.2.6. Intruso sientica de Chiperone

    Chiperone, a cerca de 50 km sul da intruso de Tumbine (Figura 4.8), uma intruso oval que

    penetra o embasamento constituido de gnaisses, migmatitos e granulitos. Consiste de sienito

    nefelnico cortado por alguns pegmatitos tambm sienticos e diques dolerticos. Os sienitos

    nefelnicos so compostos, alm de nefelina, por micropertita, microclnio, biotita, anfiblio,

    apatita e muito raramente, quartzo, epdoto, magnetita, e titanita (Belgrad, 1984).

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    44

    15

    Complexode Tete

    16

    3635

    Tumbine

    Chiperone

    Salambidua

    MuambeL.

    Chi

    lwa

    L.Malombe

    Lago Malawi/Niassa

    0 50 km

    Centro carbonatticoSedimentos ps-Karoo

    Sienitos

    Super-grupo de Karoo

    Granulitos mocambicanosComplexo gabro-anortostico

    MALA

    WI

    MO

    A

    MB

    IQU

    E

    Oc.nd

    ico

    Moca

    mbiqu

    e

    Mal

    awi

    Zm

    bia

    Tanzania

    Zimba

    bwe

    L.Niassa

    Figura 4.8- A insero mostra a localizao da Provncia Alcalina de Chilwa, no extremo sul do Sistema do Vale do

    Rifte da frica Oriental. O diagrama maior ilustra a geologia regional e a distribuio dos carbonatitos e maiores

    intruses de sienitos e sienitos nefelnicos (adaptado do Simonetti & Bell, 1994 e Bloomfield, 1965).

    4.2.7. Intruso de Salambidua

    O Monte Salambidua, situado a leste de Tete (Figuras 4.1 e 49), tem forma elptica, com

    dimenses de 9 a 12 Km e pouco menos de 1000 metros de altitude (Dixey, 1955). A parte

    oriental da intruso situa-se em Malawi (Figura 4.10). Este corpo gneo alcalino corta sedimentos

    do Karoo Inferior, os quais so deslocados e metamorfoseados, formando corneanas quartzticas

    negras de textura muito fina (Real, 1966).

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    45

    1550

    2

    3 4

    5 6

    7 8

    1

    MALAWI

    MOAMBIQUE

    1555

    5 km Figura 4.9- Mapa geolgico do Macio sientico do Monte Salambidua, em Moambique. 1- talus, 2- aluvio, 3-

    sienito pegmattico, 4- sienitos, 5- sedimentos do Karoo, 6- complexo granito-gnaisse, 7- lineaes e 8- fraturas

    devido ao arrefecimento (modificado do Belgrad, 1984).

    Em Malawi est descrito um carbonatito, que compreende uma variedade granular, considerada

    intrusiva sub-vulcnica, e uma variedade com textura traqutica (GTK Consrcio, 2006). O

    carbonatito, associado a fenitos brechados cortados por veios de carbonatitos e veios com fluorita

    e aglomerados (GTK Consrcio, 2006). No topo do Monte Salambidua, do lado moambicano,

    aparecem sienitos hornblndicos (alcalinos) com os quais se associam diques de slvsbergito e

    veios de microfoiaito, nefelinito, tinguaito, camptonito e sienito porfirtico. Na massa principal

    do sienito ocorre uma abertura preenchida com aglomerados feldspticos (Dixey, 1955).

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    46

    5. CARACTERIZAO DOS SIENITOS DE MOAMBIQUE

    5.1. PETROGRAFIA

    Quatro amostras de rochas sienticas foram analisadas microscopicamente. Trs delas so lcali-

    feldspatos sienitos, pertecentes as intruses sienticas de Tumbine (amostras 5488 e 5489) e

    Salambidua (SA06). A quarta um nefelina sienito (13FR) pertencente ao corpo sientico de

    Chiperone.

    5.1.1. Tumbine(5488; 5489) e Salambidua (SA/06)

    As ocorrncias de Tumbine e Salambidua foram estudadas por Belgrad (1984), que descreveu os

    dois tipos petrogrficos predominantes. As rochas mais freqentes so sienitos alcalinos, rochas

    hololeucocrticas de granulao grossa a mdia, hipidiomrficas em textura, compostas de

    cristais tabulares de feldspatos alcalinos at 1.3 cm de comprimento e constituentes mficos

    (cerca de 5%), tais como hornblenda, aegirina-augita e subordinadamente biotita. Acessrios

    observados so ilmeno-magnetita, titanita, e apatita. Alm dos sienitos, slvsbergitos ocorrem

    como fcies traquticos satlites, de granulao fina, holocristalinos e raramente porfirticos. So

    rochas tpicas ricas em sdio, predominantemente compostas de feldspato-sdico com algum

    feldspato-potssico e minerais mficos ricos em sdio.

    As trs amostras estudadas de lcali-feldspato sienitos de Tumbine e Salambidua so muito

    similares, e correspondem grosso modo descriofeita por Belgrad (ver Tabela 5.1). Elas

    possuem cor cinza-clara a cinza-escura e microscopicamente apresentam textura granular

    hipidiomrfica de granulao grossa a mdia. Feldspato alcalino o mineral mais abundante nas

    trs amostras, geralmente ocorre na forma subidiomrfica, com hbito tabular alongado, podendo

    apresentar forma xenomrfica. So comuns intercrescimentos micropertticos, pertticos ou

    mesopertticos com formas irregulares, anastomosados ou como finas lamelas retilneas. A

    geminao segundo a lei de Carlsbad ocorre com menor frequncia. Nos dois sienitos de

    Tumbine alguns cristais mesopertticos apresentam incluses de anfiblio, piroxnio e biotita,

    exibindo um aspecto poiquiltico.

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    47

    Tabela 5.1- Descrio petrogrfica das amostras estudadas de sienitos de Tumbine, Salambidua e Chiperone

    Localidade Composio mineralgica (%) Textura Classificao e amostra Principal Secundria Tumbine 5488 e alcali-feldspato~85 titanita~2 granulao grossa/mdia, alcali-feldspato- 5489 piroxenio+anfiblio>5 apatita~1 hipidiomrfica sienito biotita2 granulao grossa/mdia, alcali-feldspato- piroxnio+anfiblio>5 opacos~2 hip-diomrfica sienito biotita~2 Chiperone 13FR nefelina~40 apatita5 carbonatos5

    Piroxnios, anfiblios e biotita aparecem de modo subordinado (Tabela 5.1). Os piroxnios,

    classificados como diopsdio/augita pelas anlises com microssonda, constituem cristais

    geralmente xenomrficos irregulares, de cor verde a verde-claro, biaxiais positivos e com relevo

    e birrefrigncia elevados. Em muitos casos apresentam bordas de reao, substitudos por

    anfiblios e biotita. Fraturas e desenvolvimento poiquiltico de apatita e opacos so comuns

    (Fotomicrografia 5.1)

    Os anfiblios, em alguns casos identificados nas anlises de microssonda como ferropargasita,

    ocorrem nas bordas de reao dos piroxnios, e raramente como cristais isolados, prismticos,

    alongados, subdiomrficos com at 3.3 mm de comprimento. Apresentam pleocroismo nas cores

    marron a verde-escuro ou castanho avermelhado. Como nos piroxnios, fraturas e

    desenvolvimento poiquiltico de apatita e opacos so frequentes.

    No caso da biotita, ela ocorre quase sempre nas bordas dos piroxnios, embora ocasionalmente

    se apresente como cristal isolado (Fotomicrografia 5.2). Os cristais possuem pleocroismo

    variando nas cores marron a castanho-escuro/avermelhado, subidiomrficos a idiomrficos, com

    at 2.5 mm de comprimento. Nas duas amostras de Tumbine, incluses de apatita e titanita so

    comuns. Titanita aparece tambm como um dos acessrios mais comuns, ocorrendo como gro

    xenomrfico, frequentemente nas bordas de reao de opacos, ou intersticial (Fotomicrografia

    5.3).

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    Fotomicrografia 5.1 (lcali-feldspato sienito de Salambidua-SA/06)- Piroxnio com pleoclorismo verde-verde claro e

    bordas de reao com anfiblio e biotita. Observar agregados de anfiblio no lado esquerdo e cristais de biotita do

    lado direito do gro central de piroxnio. Objetiva 4X, comprimento da foto 3.25 mm, polarizadores paralelos,

    intensidade da luz 6, sem condensador.

    Fotomicrografia 5.2 (lcali-feldspato sienito de Tumbine-5588)- Cristais de biotita com incluses de apatita e

    titanita. Objetiva 1.25X, comprimento da foto 10.40 mm, polarizadores paralelos, intensidade da luz 4, sem

    condensador.

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    49

    Fotomicrografia 5.3 (lcali-feldspato sienito de Tumbine-5488)- Observar titanita nas bordas de opacos e um cristal

    isolado na parte inferior direita. Objetiva 4X, comprimento da foto 2.60 mm, polarizadores paralelos, intensidade da

    luz 11, sem condensador.

    5.1.2. Chiperone (13FR)

    O nefelina sienito de Chiperone parecido aos lcali-feldspatos sienitos de Tumbine e

    Salambidua no que concerne cor, granulao e aspeto textural. Por outro lado, nefelina constitui

    um dos principais componentes da rocha. Ocorre intersticialmente na forma de prismas

    hexagonais idiomrficos a subidiomrficos, ocasionalmente xenomrficos, formando cristais

    geralmente equidimensionais com dimenses da ordem de 2-3 mm. Feldspatos com

    intercrescimento perttico so comuns, com lamelas de formas regulares. Ocasionalmente

    aparecem cristais submilimtricos de plagioclsio junto a diminutos cristais de lcali-feldspato e

    nefelina, como cristalizao secundria em biotita e anfiblio ou em bordas de reao de lcali-

    feldspatos. Os feldspatos formam cristais tabulares com dimenses de at 10 mm de

    comprimento e cerca de 3 mm de largura. Mostram fortes sinais de alterao, que se destaca pela

    cor acastanhada, melhor observada em luz paralela (Fotomicrografia 5.4).

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    Fotomicrografia 5.4 (nefelina sienito de Chiperone-13FR)- Cristal de biotita no canto superior esquerdo e anfiblios

    no lado direito mostrando intercrescimento com feldspatos albticos. Objetiva 4X, comprimento da foto 3.25 mm,

    polarizadores paralelos, intensidade da luz 4, sem condensador.

    Piroxnio, anfiblio e biotita apresentam caractersticas similares com as j descritas para os

    lcali-feldspato sienitos. Eles apresentam intercrescimento acentuado com lcali-feldspato, muito

    provavelmente albita. Pequenos cristais minsculos de plagioclsio por vezes acompanham esta

    paragnese, carter tpico de cristalizao residual (Fotomicrografia 5.4).

    5.2. QUMICA MINERAL

    Para este trabalho, as anlises de qumica mineral foram priorizadas para aqueles minerais de

    difcil especificao por microscopia ptica, como o caso dos minerais mficos. Apenas duas

    amostras (SA/06 e 5488) foram submetidas ao estudo microqumico atravs de anlises em

    microssonda electrnica Os resultados analticos de elementos maiores e menores esto

    indicados nas tabelas 2 e 3 do apndice , que inclui tambm as frmulas estruturais calculadas na

    base de 22; 23 e 6 tomos de oxignio para biotita, anfiblio e piroxnio respectivamente.

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    51

    5.2.1. Piroxnios

    Os piroxnios, nestas rochas, representam a fase mfica mais importante em termos quantitativos.

    Foram analizados, nas amostras SA/06 e 5488, quatro cristais de piroxnio. A nomenclatura

    estabelecida obedeceu s recomendaes da Subcomisso de Piroxnios da International

    Mineralogical Association-IMA (Morimoto, 1989).

    0 0.4 0.8 1.2 1.6 2

    0

    0.4

    0.8

    1.2

    1.6

    2

    TumbineSalambidwe

    Quad

    Ca-Na

    Na

    2Na

    Ca+

    Mg+

    Fe2

    +

    0 20 40 60 80 100

    100

    80

    60

    40

    20

    0100

    80

    60

    40

    20

    0

    hedembergitadiobsdio

    augita

    pigeonita

    Ca2Si2O6(Wo)

    Fe2Si2O6(Fs)Mg2Si2O6(En)

    clinoferrosilitaclinoenstatita

    (A) (B)

    outros

    Fig. 5.1. A) Diagrama de classificao para piroxnios segundo Morimoto (1989). O grfico define os quatro grupos

    de piroxnios: os do quadriltero Mg2Si2O6(En) - Fe2+Si2O6(Fs) CaMgSi2O6(Di) CaFe2+Si2O6(Hd) denominado

    Quad, os sdico-clcicos, os sdicos e outros que incluem minerais de Mn-Mg-Li. B) Diagrama ternrio de

    classificao En-Fs-Wo (Morimoto, 1989), onde: En = 100Mg/(Ca+Mg+Fe2++Fe3++Mn+Na), Fs =

    100(Fe2++Fe3++Mn)/ 100Mg/(Ca+Mg+Fe2++Fe3++Mn+Na) e Wo = 100Ca/(Ca+Mg+Fe2++Fe3++Mn+Na).

    A frmula estrutural geral dos piroxnios pode ser expressa como M2M1T2O6, onde M2

    corresponde aos ctions em coordenao octadrica com arranjo irregular, M1 aos ctions em

    coordenao octadrica regular e T aos ctions em coordenao tetradrica. De um modo geral,

    pode-se dizer que os piroxnios dos lcali-feldspatos sienitos de Salambidua e de Tumbine so

    clcicos.

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    52

    Na Figura 5.1A observa-se que os pontos encontram-se projetados essencialmente no campo

    referente ao Quad (piroxnios clcicos). Ainda de acordo com Morimoto (1989), quando

    mostrados graficamente no diagrama ternrio En-Fs-Wo (Figura 5.1B), os piroxnios so de

    composio clcica, correspondendo diopsdio/augita.

    5.2.2. Anfiblios

    Os anfiblios ocorrem normalmente como produto de alterao ps magmtica, substituindo

    piroxnios. Foram analisados dois cristais na amostra de Salambidua e apenas um na amostra de

    Tumbine (Tabelas 2 e 3 do apndice). Segundo a International Mineralogical Association- IMA

    (1997) a frmula estrutural padro dos anfiblios representada pela expresso

    AB2C5VIT8IVO22(OH), onde A corresponde 1 stio por frmula unitria, com nmero de

    coordenao 12, ocupado por Na e K; B 2 stios M4 por frmula unitria, com o nmero de

    coordenao 6, preenchidos por Fe2+, Mn, Mg, Ca e Na; C 5 stios octadricos, compostos por

    2M1, 2M2 e 1M3 por frmula unitria, ocupados por Al, Cr, Ti, Fe3+, Mg, Fe2+ e Mn e T 8 stios

    tetradricos em, 2 grupos de 4, preenchidos por Si, Al, Cr3+, Fe3+ e Ti4+.

    5 6 7 8

    0

    0.2

    0.4

    0.6

    0.8

    1

    ferro-edenita

    hastingsita(AlVI

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    53

    A classificao dos cristais de anfiblio estudados foi feita conforme Leake et al (1997),

    obedecendo os limites dos campos estabelecidos na figura 5.2, resultando em anfiblios clcicos

    tipo ferropargasita. Como parmetros de distino tm-se: (Ca+NaB)

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    54

    0 20 40 60 80 100

    100

    80

    60

    40

    20

    0100

    80

    60

    40

    20

    0Al

    Mg Fe2+

    Flogopita

    Estonita

    Annita

    Siderofilita

    A

    0 20 40 60 80 100

    100

    80

    60

    40

    20

    0100

    80

    60

    40

    20

    0Mg

    Al+Ti Fe2++Mn

    B

    Fig.5.3. Diagramas Mg-Al-Fe e (Al+Ti)-Mg-(Fe2++Mn) segundo Rock (1982)-A e Foster (1960)-B para biotitas de

    alcali feldspatos sienitos de Salambidua e Tumbine.

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    6. CARACTERIZAO DOS CARBONATITOS DE MOAMBIQUE

    6.1. PETROGRAFIA

    As amostras carbonatticas de Moambique escolhidas para este estudo podem ser classificadas

    em dois grupos distintos: (i) as amostras de Xiluvo, Muambe e Evate, com calcita como

    carbonato principal, e variedades texturais fina e mdia-grossa; e (ii) as amostras de Muande

    Fema e Rio Mufa, de granulao mdia-fina a mdia grossa, com predominncia ou presena

    significativa de dolomita (Tabela 4 do apndice). Os carbonatos constituem a fase mineral mais

    importante de todas as amostras estudadas, ocupando mais de 95% do volume modal das rochas.

    Ocorrem na forma de cristais xenomrficos a subidiomrficos, com granulao muito varivel de

    submilimtrica a milimtrica. So geralmente lmpidos e desprovidos de feies de exsoluo.

    6.1.1. Xiluvo (04/05; 05/05), Muambe (010/06) e Evate (12FR)

    As amostras dos carbonatitos de Xiluvo, Muande e Evate exibem textura granular xenomrfica a

    hipidiomrfica, caracterizada por cristais equidimensionais, com dimenses muito variveis, de

    submilimtricas a milimtricas. A variao textural de equigranular a inequigranular bandada.

    Na amostra de Evate notam-se, frequentemente, sinais de deformao e de recristalizao

    (Fotomicrografia 6.1). As rochas so compostas de mais de 95% de calcita, subordinadamente

    ocorrem opacos, pirocloro, apatita, magnetita e, no caso da amostra 05/05, fluorcarbonatos de

    terras raras, barita, flogopita e aegirina.

    Minerais opacos tais como magnetita e sulfetos acham-se presentes em quantidades apreciveis

    nas quatro amostras. Ocorrem disseminados nos carbonatos, inclusos ou intersticiais, como gros

    subidiomrficos a xenomrficos, raramente idiomrficos, com dimenses compreendidas entre

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    Pirocloro constituinte acessrio e foi identificado apenas numa das amostras do carbonatito de

    Xiluvo (04/05). Ocorre como cristais pequenos, subdiomrficos a idiomrficos, com dimenses

    em torno de 0.25 mm. colorido, de castanho-escuro a quase preto. Os cristais apresentam,

    frequentemente, forma dodecadrica regular (Fotomicrografia 6.2).

    Fluorcarbonatos de terras raras foram observados na outra das amostras do carbonatito de Xiluvo

    (05/05). Apresentam-se como constituintes isolados ou associados a outras fases residuais,

    preenchendo os espaos intergranulares. Ocorrem geralmente como conjuntos de diminutos

    cristais micromtricos aciculares ou fibrosos, em forma de plumas ou de ramos arranjados

    paralelamente ou em leques (Fotomicrografia 6.3). So incolores ou levemente amarelados, de

    birrefregncia alta e extino reta. Em alguns casos, os fluorcarbonatos de terras raras aparecem

    fortemente impregnados de xidos de ferro (provavelmente hematita ou goethita), depositados

    irregularmente na superfcie dos cristais e nos espaos entre eles.

    Apatita aparece com dimenses submilimtricas nas amostras de carbonatitos de Xiluvo e

    Muambe. Por outro lado, no carbonatito de Evate (amostra 12FR) bastante frequente e com

    dimenses de at 6.5 mm. Ocorre na forma de prismas subdiomrficos a idiomrficos, por vezes

    xenomrficos, inclusos nos carbonatos ou intersticiais.

    Aegerina ocorre em concentraes apreciveis apenas numa das amostras de carbonatito de

    Xiluvo (05/05), disseminada nos carbonatos e aparece como cristais submilimtricos de forma

    acicular (Fotomicrografia 6.4). Flogopita foi encontrada, em propores bastante reduzidas, na

    amostra 05/05 do carbonatito de Xiluvo (05/05) e na amostra de Muambe (010/06). Os cristais

    geralmente aparecem preenchendo microfraturas, embora possam ocorrer como incluso em

    carbonatos ou em espaos intergranulares. So idiomrficos com o comprimento at 0.15 mm.

    Finalmente, quartzo aparece como produto de recristalizao na amostra de carbonatito de Evate

    (12FR), preenchendo os epaos intergranulares, que tambm incluem apatita (Fotomicrografia

    6.1).

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    Fotomicrografia 6.1 (calciocarbonatito de Evate-12FR). Cristais finos neoformados, constituidos de

    quartzo+apatita+opacos. Objetiva 1.25X, aumento intermedirio 1.25, comprimento da foto 8.32 mm, polarizadores

    cruzados, intensidade da luz 12, sem condensador.

    Fotomicrografia 6.2 (calciocarbonatito de Xiluvo-04/05). Pirocloro idiomrfico de colorao castanho-escura incluso

    em carbonato calctico. Objetiva 10X, aumento intermedirio 2, comprimento da foto 0.65 mm, polarizadores

    paralelos, intensidade da luz 10.

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    Fotomicrografia 6.3 (calciocarbonatito de Xiluvo-05/05). Abundantes cristais de fluorcarbonatos de terras raras, na

    forma de fibras alongadas e concentradas em feixes, geralmente impregnados por xidos hidratados de ferro.

    Objetiva 10X, aumento intermedirio 2, comprimento da foto 0.65 mm, polarizadores cruzados, intensidade da luz

    12, sem condensador.

    Fotomicrografia 6.4 (calciocarbonatito de Xiluvo-05/05)- Cristais aciculares de aegerina. Objetiva 10X, aumento

    intermedirio 2, comprimento da foto 0.65 mm, polarizadores cruzados, intensidade da luz 6, com condensador.

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    6.1.2. Fema (3FR), Muande (1FR) e Rio Mufa (6FR)

    As trs amostras estudadas dos carbonatitos de Fema, Muande e Rio Mufa apresentam texturas

    porfirtica (Fema) e granular xenomrfica (Muande e Rio Mufa). As amostras de Fema e Muande

    possuem granulao media a fina, e tm como principais componentes carbonatos dolomticos.

    Calcita aparece em propores negligiveis, acompanhada de opacos, apatita, anfiblios,

    piroxnios, flogopita e monazita. No carbonatito de Rio Mufa, a granulao mdia a grossa, e

    calcita aparenta constituir a fase carbontica principal.

    Nas amostras de Muande e Rio Mufa, carbonatos cristalizam-se como gros xenomrficos de

    granulometria muito varivel. Os maiores cristais so frequentemente alongados, irregulares, com

    dimenses de at cerca de 6 mm de comprimento; Os menores so equidimensionais,

    subdiomrficos, s vezes idiomrficos, com dimenses que podem atingir 0.1 mm e at menos.

    Os carbonatos da amostra de Fema formam uma textura porfirtica bem desenvolvida

    (Fotomicrografia 6.5), com gros equidimensionais subdiomrficos a idiomrficos. Os maiores

    cristais tem dimenses da ordem de 1.0 mm e os menores cerca de 0.1 mm.

    Em alguns casos, especialmente no carbonatito de Rio Mufa, ao longo das clivagens e nos

    interstcios ou nas bordas dos gros, observam-se deposies de xido de ferro (muito

    provavelmente magnetita, hematita, goethita ou limonita) exsolvido (Fotomicrografia 6.6).

    Opacos ocorrem com pouca frequncia, xenomrficos a subdiomrficos, poucas vezes

    idiomrficos, com cristais de tamanho varivel de

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    esporadicalmente nas de Rio Mufa e Muande. Aparece inclusa em carbonatos, subdiomrfica a

    xenomrfica, raramente idiomrfica, com dimenses da ordem de 2.0 mm.

    Fotomicrografia 6.5 (magnsiocarbonatito de Fema-3FR)- Textura porfirtica com xenocristais de dolomita em

    matrz fina carbontica. Objetiva 4X, aumento inermedirio 2, comprimento da foto 1.63 mm, polarizadores

    paralelos, intensidade da luz 8, sem condensador.

    Fotomicrografia 6.6 (ferrocarbonatito de Rio Mufa-6FR)- Carbonatos xenomrficos com exsoluo de xidos

    hidratados de ferro nas bordas e nas clivagens. Objetiva 4X, comprimento da foto 3.25 mm, polarizadores paralelos,

    intensidade da luz 8, sem condensador.

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    Fotomicrografia 6.7 (ferrocarbonatito de Rio Mufa-6FR)- Richterita em seo basal, com relquias de flogopita nas

    bordas. Objetiva 10X, aumento intermedirio 1.25, comprimento da foto 1.04 mm, polarizadores cruzadosos,

    intensidade da luz 10, sem condensador.

    Fotomicrografia 6.8 (ferrocarbonatito de Rio Mufa-6FR)- Pequenos cristais de monazita, com alta birefrigncia, nos

    interstcios carbonato-carbonato e carbonato-apatita. Objetiva 4X, aumento intermedirio 2, comprimento da foto

    1.63 mm, polarizadores cruzados, intensidade da luz 9, sem condensador.

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    Apatita o mineral mais frequente entre os acassrios. Ocorre como incluso em flogopita e

    anfiblios, ou como cristais subdiomrficos a idiomrficos, prismticos hexagonais, com

    dimenses muito variveis. Os cristais alongados variam entre

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    6.2. LITOGEOQUMICA

    O presente estudo geoqumico do magmatismo carbonattico de Moambique muito preliminar,

    visto que apenas aquelas amostras escolhidas para este trabalho foram analisadas para elementos

    maiores, menores e traos (Tabela 5 do apndice). Com exceo do carbonatito de Xiluvo, para o

    qual duas amostras foram analisadas (04/05 e 05/05), e quatro outras anlises esto disponveis

    em Melluso et al., 2004, apenas uma amostra (com esperana que possa ser representativa) para

    cada ocorrncia de carbonatito foi analisada (1FR, 3FR, 6FR, 12FR e 010/06). Foi incluido neste

    estudo um mrmore (Ch2FR) da Formao de Chdu, visto que admitia-se a possibilidade de ser

    um carbonatito.

    Em cinco dessas amostras (Xiluvo-05/05, Rio Mufa-6FR, Fema-3FR, Muande-10/06 e Chdu-

    Ch2FR), nas quais anlises petrogrficas microscpicas revelaram a presena de alguns minerais

    adicionais, alm dos carbonatos predominantes, foram feitas anlises de qumica mineral, em

    cristais escolhidos de calcita, dolomita, apatita, mica e anfiblio. Foi tambm analisado um cristal

    de fluorcarbonato de ETR de Xiluvo (Tabelas 6-10).

    6.2.1. Qumica de elementos maiores

    Os pontos analticos das oito amostras analisadas neste trabalho, e mais as quatro constantes de

    Melluso et al. (2004), foram projetados num diagrama ternrio de classificao (Figura 6.1)

    segundo o sistema proposto por Woolley e Kempe (1989), baseado na qumica das rochas,

    usando o peso percentual de CaO, MgO e (FeO+Fe2O3+MnO). Nesta figura, com exceo de

    uma amostra que situa-se no campo dos ferrocarbonatitos, quase no limite com o campo dos

    magnsiocarbonatitos, as demais amostras de Xiluvo projetam-se no campo dos

    calciocarbonatitos. As amostras de Muambe e Evate, e tambm a do mrmore de Chdu,

    encontram-se projetadas no campo dos calciocarbonatitos, como o caso da maioria das amostras

    de Xiluvo. Por outro lado, as amostras de Rio Mufa e Muande exibem uma composio parecida,

    no campo dos ferrocarbonatitos, mas muito prximo do limite com o campo dos

    magnsiocarbonatitos. Finalmente, a amostra do carbonatito de Fema projeta-se, bem definida,

    no campo dos magnsiocarbonatitos.

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    MgO FeO+Fe2O3+MnO

    Magnesiocarbonatito Ferrocarbonatito

    0 20 40 60 80 100

    R. carbontica:Chidwe

    100

    80

    60

    40

    20

    0100

    80

    60

    40

    20

    0 Carbonatitos:

    XiluvoMuandeFemaMararaMuambeEvate

    Calciocarbonati to

    CaO

    R.Mufa

    Chdu

    Fig.6.1 Projeo das amostras de alguns carbonatitos de Moambique no diagrama CaO-MgO-(FeOt+MnO)

    (segundo Woolley & Kempe,1989).

    Embora sua projeo aparente se integre perfeitamente no campo dos calciocarbonatitos, o

    mrmore de Chdu mostra um carcter qumico muito diferente do dos demais carbonatitos. O

    exame da tabela 5 do apndice indica que seus teores de slica, de alumnio e de sdio so muito

    elevados para um carbonatito normal, sendo mais adequados para um calcrio ou mrmore

    impuro. Por outro lado, fsforo, que um dos diagnstico para os carbonatitos, aparece com

    teores baixos na amostra de Chdu, os quais melhor se aproximam aos valores obtidos em

    mrmores da mesma Formao (Tabela 4.1) por GTK Consrcio (2006).

    Os teores de ferro e magnsio relativamente altos nas amostras de Muande, Fema e Rio Mufa

    equiparam-se aos valores tpicos dos carbonatitos ferromagnesianos definidos por Woolley &

    Kempe (1989). Nas amostras de Muande e Fema resultam da predominncia da fase dolomtica

    (Tabela 4 do apndice), enquanto que na amostra de Rio Mufa o enriquecimento de ferro e

    magnsio pode estar associado impureza da calcita, a qual foi definida como calcita ferrosa

    segundo os dados da qumica mineral, com contedos de xido de ferro total entre 1.2 e 1.8 %

    (Tabela 7 do apndice). O contrrio verifica-se nas amostras de Xiluvo, Muambe e Evate,

    refletindo uma natureza quase puramente calctica.

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    As maiores variaes de fsforo observadas entre amostras de carbonatitos(Tabela 5 do apndice)

    explicam-se pelas propores relativas de ocorrncia de apatita (Tabela 4 do apndice).

    As baixas concentraes de Na, K e Ti em todas as amostras traduzem a paragnese carbonattica

    montona, destituda de feldspatos, micas, e minerais similares.

    6.2.2. Qumica de elementos menores

    O padro de distribuio dos elementos incompatveis para os carbonatitos estudados, e para o

    mrmore de Chdu, esto representados no diagrama multielementar (diagrama spider) da figura

    6.2. Esta representa as concentraes dos elementos incompatveis (incluindo alguns elementos

    de terras raras, La, Ce, Nd e Sm) normalizadas em relao ao manto primitivo. A normalizao

    foi obtida de acordo com os valores preconizados por Sun & McDonough (1989).

    XiluvoMuambeEvateChidweFemaMuandeMarara

    0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18

    0.01

    0.1

    1

    10

    100

    1000

    10000

    RbBa Th Nb Ta La Ce Sr Nd Sm Zr Hf Y Yb

    Amos

    tra/M

    anto

    Prim

    itivo

    K P Ti

    Figura 6.2- Diagrama multi-elementos de elementos incompatveis para rochas carbonatticas. Elementos

    normalizados em relao ao manto primitivo (Sun & McDonough, 1989). Linhas destacadas reprepsentam perfs

    mdios mundiais de clciocarbonatito (azul), magnsiocarbonatito (preto) e ferrocarbonatito (vermelho),

    estabelecidos por Woolley & Kempe (1989).

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    A figura 6.2 mostra que, de um modo geral, os espectros multielementares dos elementos

    incompatveis para as amostras dos distintos corpos carbonatticos so similares nos padres de

    distribuio. So caracterizados pelas anomalias positivas fortes de Th, ETR, Y, e Yb, suves de

    Hf e variveis (fortes e suves) de Ba e Nb; pela maior abundncia de P e Sr, e pelas anomalias

    negativas de Rb, K, Zr e Ti. As amostras de Xiluvo salientam os mais altos teores na maior parte

    dos elementos incompatveis. Assim como no caso dos elementos maiores, de novo o mrmore

    de Chdu mostrou um padro diferente das demais rochas carbonticas, com os menores valores

    para quase todos os elementos do diagrama.

    Ba e Sr normalmente ocorrem substituindo Ca em minerais carbonticos e fosfatos, portanto,

    seus valores elevados uma das caractersticas qumicas dos carbonatitos. A presena de

    pirocloro (amostra 04/05), barita e concetraes significantes de apatita (amostra 05/05), alm de

    calcita (Tabela 4 do apndice), deve ter contribuido bastante para teores muito elevados de Ba e

    Sr nos carbonatitos de Xiluvo (Tabela 5 do apndice). O mesmo verifica-se nas amostras de

    Fema, Rio Mufa e Evate para valores de Sr.

    Nb, U, Th e Pb exibem contedos elevados nas amostras de Xiluvo, Muambe e Evate quando

    comparados aos das restantes amostras. Dados petrogrficos revelam presena do pirocloro numa

    das amostras do carbonatito de Xiluvo (amostra 04/05), onde esses elementos tendem a alojar-se

    na estrutura cristalina. Embora no tenha sido observado pirocloro nas sees delgadas analisadas

    de Muambe e Evate, no se pode descartar a possibilidade da sua ocorrncia, visto ser de esperar

    problemas de natureza estatstica. Na amostra de Rio Mufa teor de Pb deve estar relacionado com

    a presena de monazita, a qual constitui um dos acessrios apreciveis.

    Zn numa das amostra de Xiluvo (04/05); Cu e Co na amostra de Rio Mufa e V, Ni e Co na

    amostra de Muande, aparecem como anomalias geoqumicas. No geral, valores de Cu no so

    altos particularmente em carbonatitos. O mais alto valor mdio mundial estabelecido em

    magnsiocarbonatitos sendo de 27 ppm com intervalo entre 4 e 94 ppm, sem incluir dados do

    Palaborwa, frica do Sul, o qual poderia aumentar significantemente (Woolley & Kempe, 1989).

    No entanto a amostra do Rio Mufa apresenta 184 ppm.

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    Os teores relativamente baixos de P, refletido nos diagramas como anomalias invertidas

    (negativas) para as amostras de Xiluvo, Muambe e de Rio Mufa, refletem concetraes modais

    baixas de apatita.

    As concentraes muito elevadas de F nas amostras de Xiluvo, Fema e Rio Mufa podem estar

    relacionadas com a presena de flor-apatitas, identificadas pela microssonda analtica (Tabelas

    6-8 do apndice). Muito provavelmente a explicao seja a mesma para amostras de Muambe e

    Evate nas quais anlise de apatitas no foi realizada.

    Valores elevados de S, Cr e Cu na amostra do mrmore da Formao de Chdu provavelmente

    refletem a presena de sulfetos identificados microscopicamente (Fotomicrografia) e por me