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COMPOSIÇÃO CORPORAL EM CRIANÇAS DE 07 A 14 ANOS COM DEFICIÊNCIA MENTAL DA APAE DE CAMPO
GRANDE -MS
Universidade Federal de Mato GrossoCentro Ciências Humanas e SociaisDepartamento de Educação Física
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COMPOSIÇÃO CORPORAL EM CRIANÇAS DE 07 A 14 ANOS COM DEFICIÊNCIA MENTAL DA APAE DE CAMPO
GRANDE -MS
Ana Paula Souza Bezerra
Monografia – Trabalho de Graduação apresentado ao Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul como requisito Parcial para a obtenção do título Licenciado em Educação Física, sob a orientação da Professora Especialista Sarita de Mendonça Bacciotti.
CAMPO GRANDE-MS2003
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1-INTRODUÇÃO
Segundo o relatório da Organização Mundial da Saúde, 10% da população
de países em desenvolvimento, apresentam algum tipo de deficiência, sendo que
metade destes são indivíduos com Deficiência Mental (OMS, 2001).
Os valores pré-determinados pela sociedade ditam que o homem deve ser
perfeito em todos os aspectos e quem não se enquadra nessa regra tende a ser
excluído.Tudo que é diferente causa estranheza e quando isso acontece com o
ser humano geralmente vem acompanhado de preconceito e discriminação.
Dessa forma, por possuírem características físicas e mentais que fogem ao
padrão de normalidade, mesmo nos dias atuais, os indivíduos com deficiência
mental ainda sofrem inúmeras formas de preconceito, sendo constantemente
deixados à margem da sociedade. Ainda assim, embora longe do que seria o
ideal, os programas especiais de ordem política e social como de reabilitação,
moradia, assistência jurídica dentre outras formas de apoio sócio econômico têm
evoluído no sentido de priorizar o desenvolvimento físico e a integração das
habilidades motoras e orgânicas do indivíduo. (ONU, 1975).
Estudos relacionados com problemas de ordem cognitiva e motora vem
sendo realizados no intuito de colaborar para uma melhora na qualidade de vida
desses indivíduos, desmistificando alguns preceitos de atividade física para
pessoas com deficiência mental, já que a princípio fisicamente eles não
apresentam diferenças com relação a outros indivíduos (NUNES, 2003; ORNELAS
e SOUZA, 2001; LAPPUNZINA e FERNÁNDEZ, 1999; BARROS e PIRES NETO,
2000).
O presente estudo considera a necessidade em se conhecer as medidas
antropométricas, que possibilitam fazer uma avaliação do estado nutricional, bem
como das alterações das medidas decorrentes da prática de exercício físico e/ou
dieta (YONAMINE, 2000; GUEDES e GUEDES, 1994; ARAÚJO, 2001) e desse
modo ampliar os conhecimentos na área de Educação Física para que possa
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auxiliar profissionais de outras áreas no tratamento e acompanhamento adequado
aos indivíduos com deficiência mental e o oferecimento de atividades físicas
adequado às necessidades deste público, pois segundo BARROS e PIRES NETO,
(2000) em busca da melhoria em seu estado físico e psicológico, os indivíduos
com deficiência mental passaram a realizar exercícios físicos e conseqüentemente
usufruir os benefícios que os mesmos proporcionam.
A avaliação de pessoas com deficiência mental se faz importante porque
seus dados poderão auxiliar no desenvolvimento de programas e estratégias para
otimizar seu aprendizado, na identificação de atividades a serem trabalhadas que
se adequam a cada indivíduo, assim como na análise dos pontos fortes e fracos
de cada. Esse tipo de avaliação é exigido por lei garantindo o fornecimento de
serviços educacionais adequados e fins apropriados e individualizados para essa
população, após uma avaliação adequada (COMBS, 2003).
A determinação dos componentes estruturais do corpo através da análise
da composição corporal é um dos meios de verificação do estado de saúde
individual mais utilizados na cineantropometria e será empregado para que se
possa a partir dele obter o índice de gordura corporal de cada indivíduo avaliado,
essencial para avaliar seu estado de saúde, nesse sentido a análise criteriosa da
composição corporal é considerada como um dos recursos para amenizar os
riscos à saúde (YONAMINE, 2000).
Os estudos na área de antropometria com indivíduos com deficiência
mental geralmente estão relacionados à Síndrome de Down, por ser uma
patologia bastante estudada e que apresenta características bem definidas. Para
os indivíduos com Síndrome de Down a evolução antropométrica tem sido feita
com tabelas de crescimento de origem americano-européias, já que não existe
registro de variáveis para a população latina (LAPUNZINA e FERNÁNDEZ, 1994).
No entanto, para avaliar uma população de uma escola especial que atende
a indivíduos com deficiência mental associada ou não a outras deficiências, é
necessário considerar a heterogeneidade da população estudada e a dificuldade
em se obter diagnósticos em deficiência mental.
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De acordo com VELHO apud SIMÕES (1998), a utilização dos estudos
sobre os parâmetros da composição corporal se justifica à medida que, para o
desenvolvimento de avaliações mais criteriosas sobre os efeitos de qualquer tipo
de atividade física, existe a necessidade de fracionar o peso corporal em seus
diferentes componentes, como a massa de gordura, a massa muscular e massa
óssea na tentativa de analisar em detalhes, as modificações ocorridas na
constituição de cada um deles.
O alto índice de gordura corporal acarreta numa série de danos à saúde
relacionada com doenças crônico-degenerativas, como doenças coronarianas,
diabetes miellitus e obesidade, justificando assim a necessidade de um
monitoramento de quadros de obesidade devido a sua importância na saúde
pública, RAULINO (2002) considera a obesidade como um problema que atinge
grande parte da humanidade e em especial os indivíduos com deficiência mental.
Torna-se necessário, portanto, entender o processo de crescimento e
desenvolvimento dos indivíduos com deficiência mental, através de testes e
avaliações sistemáticos possibilitando uma elaboração correta dos conteúdos a
serem utilizados nos programas de atividades físicas procurado alcançar uma
otimização dos resultados obtidos com os mesmos (MATOS, 2002). Sabe-se que
a literatura é ampla em relação às características do aspecto motor (MATOS,
2002; BARROS; PIRES NETO, 2000; RAULINO, 2002), contudo na área de
composição de corporal de indivíduos com deficiência mental a produção cientifica
é insuficiente para estabelecer um parâmetro de medidas para essa população.
Deste modo espera-se que os resultados desse estudo contribuam para suprir a
lacuna de trabalhos nessa área.
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2- OBJETIVOS
2.1-Objetivo Geral – Determinar o perfil da composição corporal das
crianças com deficiência mental, da Associação de Pais e Amigos dos
Excepcionais (APAE) de Campo Grande – MS, com idade entre 07 a 14 anos.
2.2-Objetivo Específico – Estimar pela técnica antropométrica de medidas
de espessura de dobras, a gordura relativa e a massa corporal magra da
população em estudo, assim como identificar os possíveis casos de obesidade
nesta população.
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3. REFERENCIAL TEÓRICO
3.1Deficiência Mental
As pessoas com deficiência vêm sofrendo ao longo da história com o
preconceito e discriminação. Na antiguidade, em algumas culturas como a dos
Hebreus e algumas tribos indígenas eram considerados pessoas amaldiçoadas
pelos deuses chegando a ser eliminadas (Do CARMO, 1994).
O início da mudança desse quadro ocorreu com o Renascimento no século
XVIII quando foi implantado um tratamento mais humanitário principalmente com
os indivíduos com deficiência mental. A partir do século XX com os avanços
científicos e a necessidade de aumentar a produção surgiram iniciativas de
reintegração desses indivíduos na sociedade buscando dar-lhes treinamento para
o trabalho (Do CARMO, 1994). Hoje o desafio da sociedade, da família, do
educador e da própria pessoa com deficiência mental encontra-se na busca do
direito de ser diferente.
Segundo ORNELAS e SOUZA (2001) atualmente a Educação Física
Adaptada tem mostrado vários progressos quanto à questão político-social,
proporcionando novos encaminhamentos no intuito de promover o indivíduo na
sua totalidade respeitando suas igualdades e diferenças no contexto social.
3.1.2-Definição
Dentre as definições sobre deficiência mental, este estudo abordará as da
Organização Mundial da Saúde (OMS) e da AMERICAN ASSOCIATION of
MENTAL DEFICIENCY (AAMD).
Segundo a OMS (2001):
“retardo mental (deficiência mental) é definido por inibição do desenvolvimento ou desenvolvimento incompleto da mente, caracterizado
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pelo prejuízo das aptidões e da inteligência geral em áreas tais como a cognição, a linguagem e as faculdades motoras e sociais, podendo ocorrer associadas a outras perturbações físicas ou mentais afetando pessoas independente da idade ou região em que vive”.
De acordo com a definição da AMERICAN ASSOCIATION of MENTAL
DEFICIENCY (AAMD) de 1983, deficiência mental é o estado de redução notável
do funcionamento intelectual expressivamente abaixo da média, estando
associado à pelo menos dois aspectos do funcionamento adaptativo como a
comunicação, autonomia, vida doméstica, habilidades sociais/interpessoais, uso
de recursos comunitários, auto-suficiência, habilidades escolares, trabalho, lazer,
saúde e segurança.
Entende-se por comportamento adaptativo
“o modo como a pessoa enfrenta efetivamente as exigências comuns da vida e o grau em que experimenta uma certa independência pessoal compatível com sua faixa etária, bem como o grau de bagagem sócio-cultural do contexto comunitário no qual se insere” (DSM. IV, 1995).
Esta nova definição abandona a terminologia que classificava a deficiência
mental em leve, severa, moderada e profunda, admitindo-se que o nível de
desenvolvimento alcançado pelo individuo estará sujeito não apenas ao grau de
comprometimento mental como também na vivência do paciente, do sistema
social onde se insere a pessoa e particularmente, do apoio familiar, bem como das
necessidades de apoio e das perspectivas de desenvolvimento.(MIRANDA et. al.
2003).
Com a nova tendência da sociedade inclusiva a utilização do termo retardo
mental tem ficado restrito à área médica. No contexto educacional e pedagógico
as expressões deficiência mental e pessoa com necessidades educativas
especiais têm sido mais utilizadas.
3.1.3-Características Físicas
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Quanto as suas características físicas, BALLONE (2003) relata que as
principais má formações somáticas das anomalias cromossômicas e síndromes
biológicas que acompanham a Deficiência Mental são:
no crânio: craniossinostese (união anormal dos ossos do crânio),
microcefalia (cabeça excessivamente pequena), macrocefalia (cabeça
excessivamente grande);
nos pés e mãos: hálux largos (dedo grande do pé), polidactia (presença de
mais de cinco dedos nas mãos ou pés), sindilactia (fusão congênita dos dedos),
prega única palmar;
nos olhos: epicanto interno (prega cutânea que vai do nariz ao supercílio
na pálpebra), obliquidade para cima e para baixo, coloboma (fenda de íris ou
retina);
nas orelhas: implantação baixa, em abano, displasia (desenvolvimento
anômalo) da hélix, apêndice pré – auricular; boca: lábio superior fino, língua bífida
ou lobulada, palato ogival, fenda labial ou palatina; tórax: hipertelorismo mamário,
mamas supranuméricas ;
nos genitais: escroto bífido, micropênis. As descrições dos termos foram
feitas segundo GUIMARÃES (2003).
A deficiência mental leva ao aumento da prevalência de doenças que
possivelmente estão relacionadas com alterações diversas observadas nesta
população, como a elevada incidência de obesidade, baixos níveis de aptidão
cardiorrespiratória e fraqueza muscular (BARROS et al., 2000).
3.1.3-Características Psíquicas
Geralmente os indivíduos com deficiência mental são pessoas bem
dispostas, alegres, carinhosas muitas vezes capazes de avaliar o ambiente e as
pessoas que as cercam com uma esperteza fora do habitual (MIRANDA, 2003).
Segundo o DSV. IV (1995) não existem características específicas de
personalidade e de comportamento associados unicamente com a deficiência
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mental. Alguns desses indivíduos são passivos, tranqüilos e dependentes,
enquanto outros podem ser agressivos e impulsivos. A falta de habilidades de
comunicação pode predispor a comportamentos agressivos, que substituem a
linguagem comunicativa. Algumas patologias associadas se caracterizam por
certos sintomas comportamentais sendo os mais comuns o transtorno de déficit de
atenção/hiperatividade, transtornos do humor, transtornos invasivos do
desenvolvimento, transtorno de movimento estereotipado e transtornos mentais
devido a uma condição médica geral como, por exemplo, a demência devido a
traumatismo craniano. Os indivíduos com deficiência mental devido à Síndrome de
Down podem estar em maior risco para o desenvolvimento de demência do tipo
Alzheimer.
3.1.4-Causas e Fatores de Risco Associados
Desde a fecundação do óvulo até o fim da idade infantil o cérebro da
criança está sujeito a ação de agentes nocivos alguns podem ser remediados e
outros ocasionam seqüelas permanentes.De maneira geral a deficiência mental
pode ser congênita ou adquirida, sendo que existem inúmeras causas e fatores de
risco envolvidos.
Os fatores de risco e causas pré-natais são aqueles que incidirão desde a
concepção até o início do trabalho de parto, e podem ser: problemas maternos
como a hipertensão, diabetes e cardiopatias, infecções congênitas (rubéola,
toxoplasmose), incompatibilidade de Rh, uso de drogas ou álcool durante a
gestação, a desnutrição materna e má assistência à gestante (devido à
alimentação e acompanhamento pré-natal inadequado), poluição ambiental e
tabagismo.
Os fatores genéticos como alterações cromossômicas (numéricas ou
estruturais), como a síndrome de Down; alterações gênicas, como os erros inatos
do metabolismo (fenilcetonúria), entre outros.
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Os fatores perinatais incidirão do início do trabalho de parto até o 30º dia de
vida do bebê, e podem ocorrer devido à má assistência ao parto e traumas de
parto; hipóxia ou anóxia (oxigenação cerebral insuficiente); prematuridade e baixo
peso (PIG - Pequeno para idade Gestacional), distúrbios metabólicos graves,
como hipoglicemia por hiperinsulismo.
E por fim os fatores de risco pós-natais incidirão do 30º dia de vida até o
final da adolescência e podem ser meningite, encefalites, traumatismos
intencionais ou não intencionais, intoxicações exógenas (envenenamento)
causadas por remédios, inseticidas, produtos químicos (chumbo, mercúrio);
acidentes: trânsito, afogamento, choque elétrico, asfixia, quedas e infestações por
vermes como a neurocisticircose (larva da Taenia Solium), (KAPLAN e SADOCK,
1993; BALLONE, 2003). Ainda segundo MIRANDA et. al. (2003) existem os
fatores estabelecidos como as síndromes genéticas cromossômicas; erros inatos
de más formações congênitas, fatores ambientais ocasionando cuidados precários
à saúde e/ou educação e fator sócio econômicos como ambiente familiar e/ou
meio desfavorável, violência.
3.1.5-Diagnóstico
O diagnóstico de Deficiência Mental é muitas vezes difícil devido a
numerosos fatores emocionais, alterações de certas atividades nervosas, de
linguagem ou dislexia, psicoses, baixo nível sócio econômico ou cultural, falta de
estímulos entre outros fatores que podem causar dificuldade no ajustamento social
adaptativo adequado, sem que exista necessariamente deficiência mental
(VERDUGO, 1994).
Devido à dificuldade em diagnosticar a deficiência mental não se pode dar
uma porcentagem exata da incidência da mesma. Sabe-se que esta é registrada
em maior número de crianças em idade escolar entre 10 a 14 anos, sendo mais
comum em meninos. Já na idade adulta a prevalência é menor devido ao alto grau
de mortalidade em indivíduos com grau grave ou profundo causado por
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complicações dos transtornos físicos associados à deficiência mental (KAPLAN e
SADOCK, 1993).
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3.2-ANTROPOMETRIA
Desde os tempos antigos o ser humano se preocupa com a forma,
proporção e constituição do seu corpo, intuindo que a capacidade para realizar
trabalho estivesse relacionada à quantidade e proporção dos tecidos do seu
organismo.
A origem da palavra Antropometria vem do Grego “anthropos” que significa
homem e “methro” que equivale à medida. Sendo assim, de maneira simplificada
pode-se dizer que a Antropometria estuda as proporções e medidas do corpo
humano (MATHEWS, 1980; MICHELS, 2002).
Segundo PETROSKI (1999) a antropometria objetiva a determinação de
aspectos referentes ao desenvolvimento do corpo humano, bem como determinar
as relações entre o corpo e a performance, sendo uma técnica muito utilizada. O
autor afirma que isso se deve à boa relação das medidas antropométricas com a
densitometria, obtida através dos métodos laboratoriais; ao uso de equipamentos
de baixo custo financeiro e a necessidade de pequeno espaço físico para sua
realização; a facilidade e rapidez na coleta de dados; e a não invasividade do
método, além de possibilitar o estudo em grandes grupos populacionais.
A correta obtenção do peso e da estatura e a comparação dos mesmos
com os padrões de referência de normalidade para idade e sexo são fundamentais
para mensurar a o estado nutricional (OLIVA e FAGUNDES, 2001).
3.2.1-CINEANTROPOMETRIA
O termo Cineantropometria foi utilizado pela primeira vez por Bill Ross em
1972, no Belgian Journal of Kinanthropologei (BEUNEM e BORMS, 1990). A
Cineantropometria(kines=movimento, anthropos=homem e methros= medida) é
uma disciplina científica que estuda a forma, maturação e o desenvolvimento do
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corpo na ontogênese humana em relação ao crescimento, desporto, atividade
física, trabalho e aspectos nutricionais (PETROSKI,2000).
De acordo com BEUNEM e BORMS (1990) os aspectos quantitativos de
medida relacionados ao movimento incluem: a) os componentes de constituição
como dimensões, proporções, forma, composição, e maturação, b) capacidades
motoras condicionais e coordenativas como força, flexibilidade, velocidade,
equilíbrio, coordenação e características cardiorrespiratorias e c) medidas dos
níveis de atividade física e habilidades motoras.
A partir dessas mensurações são desenvolvidos índices e equações
estatísticas que são comparadas com valores referenciais, de acordo com as
características de sexo e idade dos indivíduos mensurados (BÖHME, 2000).
Dessa forma o estudo cineantropométrico permite descrever o atual estado do
fenótipo do ser humano e indiretamente, as influências hereditárias ou ambientais
sofridas por ele.
3.3.2-Composição Corporal
A avaliação da composição corporal é um dos instrumentos de verificação
do estado de saúde individual mais utilizados na cineantropometria, já que através
dela pode-se detectar índices de gordura corporal que em quantidade acima dos
níveis normais podem acarretar numa série de complicações fisiológicas
relacionadas com doenças crônicas degenerativas. Segundo BURKIRK apud
PIRES NETO (1996) o estudo da composição corporal serve como meio para
caracterizar populações, estudar aspectos nutricionais, além de servir como
embasamento para prescrição de dietas, administração de medicamentos e
avaliação da aptidão física.
BÖHME (2000) define a composição corporal como sendo referente à
quantidade e proporção dos diversos constituintes do corpo humano, os quais
estão relacionados com a saúde, doença e qualidade de vida do indivíduo.
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“O tamanho e a forma corporais são determinadas basicamente pela carga genética e forma a base sobre a qual são dispostos, em proporções variadas os três maiores componentes estruturais do corpo humano: osso, músculo e gordura” (PETROSKI, 1995).
A tabela a seguir mostra o modelo de referência da composição corporal de
uma criança e de um adulto jovem.
TABELA 1- Composição química de crianças e adultos
AUTOR HASCHKE (81)
FOMON (82)
LOHMAN (84a)
LOHMAN (84b)
BROZEK (63)
COMPONENTES / IDADES
9 anos 0,1 ano 8 anos 9 anos Adulto
% ÁGUA 75,5 84,4 77,0 76,6 73,8
% MINERAL 4,7 2,8 4,6 5,4 6,8
% PROTEÍNA 19,2 12,8 18,4 18,0* 19,4
% CARBOHIDRATO 0,6 - - - -
DENSIDADE (g/cc) 1,082 1,024 1,085 1,084 1,100Fonte: Adaptado de PIRES NETO, C. S. & PETROSKI, E. L. Apostila de Composição corporal Pires Neto, UFSM, 1996.* Valor inferido por PIRES NETO & PETROSKI, 1996.
Os valores apresentados na Tabela 1 mostram diferenças nos
componentes de crianças e adultos, como a redução da porcentagem de água nos
adultos e o aumento de proteína, mineral e gordura para o homem na idade
adulta, devido à variação da substância matriz, que forma a base do tecido
conjuntivo. Esta substância matriz é composta principalmente de polissacárideos e
de proteínas e sua quantidade diminui conforme a idade, resultando na
desidratação do espaço extracelular e a diminuição do turgor dos tecidos
(WEINECK, 1990).
Para facilitação do estudo da estrutura corporal, pode-se fracioná-la em
dois ou mais componentes. O modelo de quatro componentes, por exemplo, é
constituído por lipídios, água, minerais e proteínas. O modelo de dois
componentes é o mais utilizado pra se acompanhar as alterações da massa
magra (MCM) e massa de gordura (MG), conforme Yonamine (2000). A MG
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encontra-se armazenada nos principais órgãos, músculo e em tecidos ricos em
lipídio, essenciais para o funcionamento do Sistema Nervoso Central.(GUEDES,
1994; 1995). Segundo MATHEWS, (1980) MCM é o peso total do corpo menos o
peso da gordura corporal.
Existem diversos métodos para que se possa avaliar a composição corporal
de um indivíduo e são classificados em métodos diretos ou “IN VITRO”,
determinados através da análise química e dissecação de cadáveres, métodos
indiretos ou “IN VIVO”, utilizados em pessoas vivas tendo o referencial proveniente
do método direto, e por fim o método duplamente indireto.
Quanto as técnicas podemos citar a dessimetria (PH), condutividade
elétrica corporal, ressonância magnética, contagem de potássio-40, bioimpedância
elétrica, índice de massa corporal entre outras.
Uma das estratégias mais utilizadas e inclusive recomendadas pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) para inferir a composição corporal,
sobrepeso e obesidade é o uso do Índice de Massa Corporal (IMC). Entretanto, o
IMC faz relação simples de massa total e estatura sendo válido para grandes
populações de adultos. A fórmula para cálculo do IMC é a seguinte
Segundo YONAMINE (2000) o uso indiscriminado do IMC para adultos e
crianças pode levar a conclusões precipitadas, já que não leva em consideração a
composição corporal e a distribuição da gordura do individuo. Para Dos ANJOS
(1994) “o IMC deve ser usado somente para indivíduos acima de 20 anos quando
se pensa em usar os limites para definição de normalidade (20<IMC<25)
atualmente recomendada”. A justificativa para isso encontra-se no fato que a
criança por estar em fase de crescimento apresentam modificações constantes no
peso e estatura.
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Corroborando com o autor, RICARDO e ARAÚJO (2002) relatam que
embora o IMC seja amplamente utilizado existem inúmeras restrições teóricas ao
uso e às faixas de normalidade por ele propostas. Os autores sugerem a utilização
do Recíproco Índice Ponderal (rip) com os mesmos pontos de corte do IMC, a
partir dos cinco anos e meio de idade, por apresentar maior lógica matemática e
maior consistência, sofrendo assim menor influência de dados externos da altura.
O pressuposto para o uso da espessura de dobras baseia-se na literatura
na qual alguns estudos apontam que grande quantidade de gordura total,
aproximadamente 50%, encontra-se no tecido subcutâneo, confirmando que
medidas de espessura servem como indicador da quantidade de gordura
localizada em determinada região do corpo (MATHEWS, 1980).
Apesar da dessimetria ou pesagem hidrostática ser considerada como
sendo uma das técnicas não invasivas mais válidas, não poderá ser utilizada
nesse estudo devido aos requisitos exigidos para sua realização como maior
disponibilidade de tempo e material como a piscina adequada e principalmente o
procedimento adequado dos avaliados durante a pesagem que se torna
praticamente inviável quando se diz respeito à crianças com deficiência mental.
O presente estudo utiliza a fórmula de LOHAMN (1986) validada para
meninos por YONAMINE (2000) e SLAUGHTER (1988) validada por BOTARO
(2001) e YONAMINE (1999) para meninas.
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3.4-Obesidade
A capacidade do ser humano armazenar gordura está diretamente
relacionada com sua sobrevivência, pois a gordura é fonte de energia para o
organismo. Todavia, quando ocorre um acúmulo excessivo dessa reserva surgem
diversas disfunções de ordem anatômica e fisiológica.
A incidência da obesidade vem crescendo de modo acentuado nas últimas
décadas, não só nos países desenvolvidos, como os Estados Unidos, mas
também dos países em desenvolvimento, como o Brasil, o que levou a doença à
condição de epidemia global. Na América Latina estudos apontam a obesidade
como um problema mais freqüente e mais grave que a desnutrição (SANTOS et.
al., 2002; CONSENSO, 1998).
Os benefícios da vida moderna aliada ao conforto e agilidade e ao consumo
de alimentos altamente calóricos têm feito com que o homem gaste menos
energia na realização dos seus afazeres diários favorecendo o quadro de
obesidade considerada hoje um dos mais graves problemas de saúde pública
(OMS, 2002; YONAMINE, 2000; AÑEZ E PETROSKI, 2002).
A obesidade não pode ser considerada apenas como um problema estético,
pois seus efeitos vão além da aparência física, interferindo diretamente na saúde
do indivíduo independente da sua raça ou idade.
3.4.1-Definição
Parece fácil dizer se um indivíduo é obeso ou não apenas visualmente,
todavia em termos científicos, o conceito de obesidade torna-se mais complicado.
O sobrepeso é caracterizado quando uma pessoa tem uma proporção de
peso maior que a ideal para sua estatura, sem que haja mudanças substanciais na
sua constituição física (CONSENSO, 1998). Apesar da diferença existente entre
os dois o sobrepeso é condição favorável ao desenvolvimento da obesidade.
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Existem tabelas de peso padrão que se baseiam em médias populacionais,
sendo que uma pessoa pode apresentar sobrepeso segundo essas tabelas e
ainda apresentar um conteúdo de gordura corporal abaixo do normal se avaliado
de outra forma ou segundo outro procedimento (AÑEZ e PETROSKI, 2002).
“Admite-se que a porcentagem de gordura corporal deve situar-se entre 15 e 18%
para o sexo masculino e entre 20 e 25% para o sexo feminino” (BALLONE, 2003).
A obesidade é um distúrbio no metabolismo energético, onde ocorre um
armazenamento anormal de energia, sob forma de triglicérides, no tecido adiposo,
levando a um comprometimento da saúde (SIGULEM et al., 2001). Já
TRISCHLER (2003) a define como sendo um nível de excesso de gordura no qual
os riscos de saúde relacionados à gordura começam a aumentar.
O padrão de referência de normalidade mais utilizado é o do National
Center for Health Statistics (NCHS) data sendo que o indicador nutricional mais
empregado em adolescentes e adultos é o índice de massa corporal (IMC), obtido
dividindo-se o peso, em quilogramas (kg), pela estatura em metros elevada ao
quadrado através do qual se obtém um número seguido de Kg/m2. (OLIVA e
FAGUNDES, 2001), Em adultos, segundo o valor do IMC, pode-se dividir a
condição nutricional em seis grupos que deve ser interpretado conforme a
seguinte tabela:
TABELA 3-Classificação do sobrepeso em adultos de acordo com o IMCClassificação IMC (KG/m²) Risco de MortalidadeAbaixo do Peso <18,5 baixoNormal 18,5-24,9Sobrepeso 25-29,9 grandeobesidade classe I 30-34,9 moderadoobesidade classe II 35-39,9 severoobesidade classe III >40 muito severo
Fonte Consenso Latino Americano de Obesidade (1998)
A obesidade é considerada uma doença crônica e os indivíduos obesos
estão propensos a apresentar doenças coronarianas, hipertensão, diabetes
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mellitus, câncer do cólon, reto e próstata, calculose na vias biliares, aterosclerose,
apnéia noturna diretamente ligadas ao desequilíbrio entre a alimentação e o gasto
energético (GUEDES, 1994; YONAMINE, 2000; ALVAREZ, 1996; COLE, 2000).
3.4.2-TIPOS DE GORDURA
A disposição do componente de gordura é resultante das células adiposas
(adipócitos) existentes em dois depósitos do corpo humano. O primeiro
considerado a "gordura corporal essencial", é aquela armazenada internamente
nos principais órgãos, intestinos, músculos e nos tecidos ricos em lipídios
existentes por todo o sistema nervoso central. Este tipo de gordura é
indispensável a um funcionamento fisiológico normal e, ainda acredita-se que não
esteja totalmente esclarecido se esse depósito de gordura é consumível ou se é
apenas uma reserva armazenada. O outro depósito de gordura, a "chamada
gordura corporal de reserva", consiste na gordura estocada no tecido adiposo que
protege os vários órgãos internamente de impactos e a gordura subcutânea
depositada debaixo da superfície da pele. Com relação à "gordura corporal de
reserva", a distribuição proporcional em relação à massa corporal total em ambos
os sexos é bastante mais similar, entretanto ainda com uma superioridade entre
as mulheres, fazendo com que, em igualdade de condições, a mulher apresente
sempre um componente de gordura superior quando comparada ao homem
(GUEDES, 1994).
3.4.5-CLASSIFIÇÃO da OBESIDADE
A obesidade pode ser classificada quanto à origem (endógena e exógena),
a distribuição (central e periférica) e quanto à morfologia (hiperplásica e
hipertrófica).
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Origem
A obesidade de causa nutricional (exógena) representa o tipo mais
freqüente de obesidade, cerca de 95% dos casos (SIGULEM et. al., 2001).
Esse tipo de obesidade reflete o excesso de gordura em virtude de um
balanço positivo de energia entre a ingestão e o gasto calórico (FISBERG, 1995).
O segundo tipo de obesidade, a chamada endógena se deve a causas
hormonais como as alterações do metabolismo tireoidiano, gonodal, hipotalâmico,
alguns tumores como o craniofagingeoma e síndromes genéticas como a
Síndrome de Down.
Distribuição
O aumento de riscos a saúde associada à obesidade é relacionado não
apenas com a quantidade de gordura total de corporal, mas também, com a qual a
gordura está distribuída, especialmente na região abdominal (gordura visceral). A
obesidade centrípeta ou do tipo "maçã" se caracteriza pelo acúmulo na região
abdominal, sobre tudo na região intra-abdominal, não só de gordura visceral
profunda, mas também de subcutânea. Esta obesidade é também conhecida
como abdominal, da parte superior do corpo ou obesidade da parte inferior do
tronco (gordura mais centralizada).
A obesidade subcutânea ou tipo "pêra”, caracterizada pelo acúmulo de
gordura na região glúteo-femural – quadril, nádegas e coxa (gordura periférica), é
conhecida também como obesidade da parte inferior do corpo (GUEDES, 1998).
A obesidade com predomínio de deposição de gordura na região
abdominal, com maior freqüência associa-se à intolerância à glicose e
principalmente, à hipertensão arterial (DIRETRIZES SOBRE OBESIDADE, 2002).
Morfologia
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Na obesidade hipercelular ocorre aumento do número total de células
adiposas, que pode se tornar até cinco vezes superior ao número encontrado em
indivíduo adulto normal (de 40 a 60 x 109 células). Esta forma de obesidade se
desenvolve na infância ou adolescência, porém pode também ser observada
naqueles com mais de 75% de excesso de peso corporal. A obesidade hipertrófica
caracteriza-se por um aumento de tamanho da célula adiposa por acúmulo de
lipídeos. Inicia-se na idade adulta e na gestação e correlaciona-se melhor com a
distribuição andróide de gordura (GUEDES, 1998).
3.4.3-Causas
A obesidade de causa nutricional representa o tipo mais freqüente de
obesidade, cerca de 95% dos casos (SIGULEM et. al., 2001).
O quadro de obesidade está relacionado com diversos fatores, podendo ser
os mesmos genéticos, fisiológicos (fatores endócrino-metabólicos), ambientais
(prática alimentar e atividade física) e psicológicos (GYTON; HALL, 1996&,
SIGULEM et. al,2001).
Fatores Genéticos
Os genes podem comandar o grau com que o organismo se ajusta ao
armazenamento de energia assim como aos fatores psíquicos que estimulam o
apetite (GYTON; HALL, 1996) e conseqüentemente estão relacionados com a
obesidade. Resultados de pesquisas com gêmeos idênticos apontaram
semelhança entre seu peso corporal apresentando variação de mais de 1Kg
durante toda vida com condições semelhantes, ou em mais de 2,3Kg em
condições diferentes (GYTON; HALL, 1996).
Entretanto existe uma dificuldade em indicar quais as reais influências
nesse quadro, já que os fatores ambientais onde o indivíduo é inserido
determinaram entre outros seus hábitos alimentares (SIGULEM et. al. , 2001).
22
Fatores Psicológicos e ambientais
HAMMER apud SIGULEM et. al., (2001) descreve o comportamento
alimentar como um fenômeno que envolve aspectos cognitivos, desenvolvimento
social e emocional.Algumas pessoas recorrem ao ato de comer como um meio de
aliviar suas tensões durante ou após passarem por situações estressantes seja no
trabalho ou no lar.
Os fatores ambientais relacionados com a obesidade decorrem dos seus
hábitos alimentares e do seu nível de atividade física. A alimentação inadequada,
aliada ao consumo de álcool, tabagismo e o sedentarismo contribuem para o
desenvolvimento da obesidade.
Quando a quantia de energia (alimento) ingerida pelo organismo é maior
que o gasto das que são consumidas ocorre o acúmulo de gordura e conseqüente
aumento do peso corporal (GYTON e HALL, 1996).
As evidências científicas demonstram que a atividade física realizada de
modo adequado tem um impacto muito amplo na saúde do homem, reduzindo o
risco tanto de desenvolver, como de morrer de doenças crônico degenerativas,
além de contribuir para a melhoria da prevenção das doenças não-transmissíveis
e reforçar o bem-estar e a saúde geral (OMS, 2002).
3.4.4-Tratamento
Considerando a obesidade como condição de risco para saúde, o seu
tratamento faz-se inteiramente necessário.
Basicamente o tratamento da obesidade consiste na aquisição de hábitos
alimentares saudáveis e na prática regular de atividades físicas. Contudo se o
tratamento convencional não apresentar resultados satisfatórios, o uso de outras
soluções como medicamentos ou em casos extremos cirurgia de redução do
estômago torna-se necessário (HALPERN, 2002).
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Sabe-se que a atividade física acelera o metabolismo ajudando no gasto de
energia, sendo assim, a não realização associada a outros fatores de risco como o
alcoolismo e o tabagismo, favorecem o desenvolvimento de doenças crônico
degenerativas.
O CONSENSO LATINO AMERICANO em OBESIDADE (1998) aponta
várias evidências científicas da prática regular de atividade física no controle da
ingestão alimentar e aumento do gasto energético e da circulação cardíaca.
Quanto ao uso de medicamentos, GYTON e HALL (1998) afirmam que a
medicação é utilizada para reduzir a fome, atuando diretamente nos centros de
alimentação no hipotálamo. Entretanto, esse procedimento pode ser perigoso
porque o fármaco atua diretamente no sistema nervoso central podendo interferir
na pressão arterial.
A falta de atividade física associada a outros fatores de risco favorecem o
desenvolvimento de doenças crônico degenerativas. Segundo o relatório da
Organização Pan-americana da Saúde de 2003, estima-se que atualmente 60%
da população não pratica atividade física suficiente para favorecer a melhoria da
saúde.
Alguns tratamentos envolvem restrições alimentares para diminuir a
ingestão energética total, sendo que a dieta para redução de peso deve limitar
essa ingestão (FRANCISCHI, 2003).
O objetivo do tratamento do individuo obeso é levá-lo ao que se chama
saúde metabólica, cardiovascular e respiratória, ou seja, deve-se almejar chegar a
um peso em que as condições desfavoráveis à saúde associadas a obesidade
estejam ausentes ou sejam atenuadas (HALPERN et. al., 2002)
Por todos esse fatores relacionados à mudança de comportamento para o
tratamento da obesidade, torna-se necessário cada vez mais a divulgação de
programas informativos e educativos para difundir na população conhecimentos
sobre a saúde e estimular o desenvolvimento de um estilo de vida saudável.
3.4.2-Obesidade na infância
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Existe um estereotipo errôneo de que criança gordinha é sinônimo de
criança saudável.
Devido ao progressivo aumento de sua incidência, mesmo nos países em
desenvolvimento, a obesidade infantil tem sido um importante fator de
preocupação na área de saúde pública (YONAMINE, 2000; ROGGATO e VALLIN,
2002).
A prevalência da obesidade em crianças está aumentando rapidamente
sendo associado a diversos fatores de risco para possíveis doenças de coração e
outras doenças crônicas incluindo a hipertensão, diabettes, e ateroscleroses
(COLE, 2000).
Dentre as suas principais causas encontram-se a diminuição das atividades
físicas, a mudança do padrão alimentar com maior ingestão de gorduras, o acesso
facilitado a alimentos tipo "fast-food", a falta de controle dos pais, bem como a
instabilidade familiar.
A obesidade em idade precoce está associada ao aparecimento e
desenvolvimento de fatores de risco que podem predispor o indivíduo adulto à
maior incidência de distúrbios metabólicos funcionais (GUEDES,1998)
BALLONE (2003) afirma que “crianças obesas podem fazer parte dos
grupos de riscos com maiores probabilidades de virem a sofrer, na idade adulta,
de distúrbios tais como a hipertensão, diabetes, doenças respiratórias, transtornos
coronarianos”.
“Jovens com maior quantidades de gordura no tronco com relação às
extremidades tendem a ter um comprometimento do seu estado de saúde com
altos índices de pressão arterial e nas taxas de lipoproteínas” (GUEDES, 1995).
A detecção da obesidade precoce possibilita que se faça as intervenções
necessárias para um controle do peso corporal e conseqüentemente uma
prevenção das patologias que ocorrem em decorrência da mesma.
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4- MATERIAIS E MÉTODOS
4.1-Tipo da Pesquisa
O Presente estudo é tipológicamente descritivo (THOMAS e NELSON,
2002).
4.2-População e Amostra
A população da pesquisa foi composta de 51 alunos, sendo 20 meninas e
31 meninos regularmente matriculados no Centro de educação Especial (CEDEG)
da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais APAE de Campo Grande-MS
no ano de 2003 com idade entre 7 e 14 anos, selecionada de forma aleatória. Os
indivíduos do sexo masculino apresentaram idade de 11,13 + 2,26 anos (média e
+ desvio padrão), enquanto que as do sexo feminino apresentaram idade de 11,7
+2,47 anos.
4.2.1-Critérios de Exclusão
Para este estudo não foram avaliados os indivíduos com Paralisia Cerebral
e os portadores de deficiência física que utilizam cadeira de rodas, pela falta de
instrumento adequado para mensuração.
4.3-Período da coleta de dados
A coleta foi feita numa única fase, correspondendo a 03 meses, iniciando
em junho e terminando em agosto de 2003.
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4.4-Instrumentos
Foram utilizados: uma balança digital com precisão de 100 gramas, para
obtenção da massa corporal, um estadiômetro com precisão de 1mm
especialmente construído para este estudo, um adipômetro Langhe (Cambridge
Cientifica Instruments, USA) -precisão de 1mm e um Hapenden (John Bull Brithish
Indicators, England)-precisão de 0,2mm. Todos apresentam precisão idêntica em
todas as aberturas de 10g/mm². Uma fita métrica inextensível de fibra para
aferição de perímetros.
4.5-Tratamento Estatístico
O Percentual de Gordura nos meninos foi determinado pela equação
Lohman (1986) que utiliza a soma das dobras cutâneas do tríceps (TR) e
subescapular (SE).
A tabela 04 apresenta as equações utilizadas para predizer a gordura
relativa da amostra.
Tabela 04- Equações para cálculo do % de gordura corporal 1- 8-18 % G = 1,35 ( TR + SE) - 0,012 ( TR + SE)2 - C
2- 6-17 % G = 1,33 (S TR + SE) - 0,013 (TR + SE)2 - 2,5(c) 3,91 = SLAUGHTER et al (1988); geral para o sexo feminino; = ou 2,0 para negros e 3,0 para brancos; = quando a soma das dobras cutâneas TR e SE for maior que 35 mm.2 = LOHMAN (1986); C = constantes por sexo e idade, ver tabela 03.
A Tabela 3 mostra as constantes de idade, sexo e raça utilizados por Lohman
TABELA 03- Valores da constante (C), por idade e sexo.SEXO RAÇA I D A D E S
6 7 8 9 10 11 12 13 14
MAS BR 3,1 3,4 3,7 4,1 4,4 4,7 5,0 5,4 5,7
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Fonte: PIRES NETO, C.S & PETROSKI, E.L. Assuntos sobre equações da gordura corporal relacionado a crianças e jovens. In. Apostila de Composição corporal Pires Neto, UFSM, 1996.* Valor inferido por PIRES NETO & PETROSKI, 1996.
O delineamento estatístico foi feito através de uma estatística descritiva,
média, desvio padrão sendo que os dados coletados foram transcritos a uma
planilha no Excel. A relação gordura/ peso corporal foi estimada a partir de valores
de espessura das dobras cutâneas determinadas nas regiões triciptal (DCTR),
subescapular (DCSB) e panturrilha medial (DCPM), mediante o uso das equações
idealizadas por Lohman, (1986) para meninos e SLAUGHTER et al.(1988) para
meninas.
Foram utilizados os seguintes pontos de corte:
Tabela 5 – Tabela dos pontos de corte de Deuremberg et. al. (1990)Crianças e adolescentes de 7 a 17 anos
Masculino FemininoExcessivamente baixa Até 6% Até 12%
Baixa 6.01% a 10% 12.01% a 15%Adequada 10.01% a 20% 15.01% a 25%
Moderadamente alta 20.01% a 25% 25.01% a 30%Alta 25.01% a 31% 30.01% a 36%
Excessivamente alta Maior que 31.01% Maior que 36.01%Fonte: Deurenberg,P. et. al. (1990)
4.6-Procedimentos Metodológicos
Primeiramente foi contatada a direção do CEDEG/APAE para oficialização
do convite feito pela UFMS (Universidade Federal de Mato Gross do Sul) para a
realização da pesquisa.
Posteriormente foram enviados aos responsáveis das crianças uns pedidos
de autorização para realização da pesquisa, só participando os alunos
autorizados.
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Antes de cada sessão de avaliação foi dada uma explicação aos alunos
sobre os procedimentos e os objetivos da pesquisa.
Quanto a utilização da avaliação antropométrica, optou-se pela mesma
devido à relativa facilidade de seus procedimentos quando utilizados em estudo de
campo, ao baixo custo, possibilidade do uso em grandes grupos e principalmente
por sua não invasividade, para uma divisão inter-relacional entre massa corporal
gorda e massa corporal magra. Essa técnica utiliza medidas de circunferência
(Cs), diâmetros ósseos (DOs) e espessuras de dobras cutâneas (DCs) em vários
segmentos do corpo, esses dados são utilizados associados ou não e aplicados
em equações específicas conforme a faixa etária.
4.7-Técnicas de Mensuração
As técnicas para mensuração utilizadas seguiram os protocolos de PETROSKI (1999).
Massa Corporal - Medida antropométrica que expressa o volume corporal.
A massa total foi aferida numa balança digital posicionada no solo sem
desnível onde a avaliado se manteve em posição ortostática com o menor número
de roupas possível e com os pés descalços, de frente para o avaliador.
Estatura Corporal - É a distância compreendida entre a planta dos pés e o
ponto mais alto da cabeça (vértex).
O avaliado em posição ortostática (em pé) com os pés descalços, em
postura ereta tendo os calcanhares encostados na parede, a cabeça orientada no
plano de Frankfurt paralela ao solo e marcada num momento de apnéia após uma
pequena inspiração. Em alguns casos onde por algum motivo o avaliado não
conseguiu ficar na posição adequada a aferição foi feita com o mesmo deitado
sobre um colchonete e com o auxílio de um prisma foi marcado um ponto da
cabeça até o maléolo.
Dobra cutânea - Consiste na dobra de duas camadas de pele e duas de
tecido adiposo subcutâneo. É mensurada (mm) e determinada em pontos
anatômicos específicos, sendo eles:
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Dobra cutânea triciptal (DCTR)- determinada na face posterior do braço no
ponto médio entre o processo acromial da escápula e o processo do olécrano da
ulna.
Dobra cutânea subescapular (DCSB)- localizada abaixo da extremidade
inferior da escápula. Pinçada obliquamente ao eixo longitudinal,sendo localizada a
dois centímetros abaixo do ângulo inferior da escápula.
Dobra cutânea da panturrilha medial (DCPAM)-o quadril e o joelho devem
estar flexionados em ângulo de 90°,com os pés sobre um banco, localizada no
ponto interno de maior perímetro da panturrilha. Pinçada no sentido paralelo ao
eixo longitudinal
Perímetro - É uma medida em volta de um corpo ou segmento do mesmo.
Perímetro do braço (Pbr) - localizado no ponto meso-umeral com cotovelo
flexionado em 90° com a fita posicionada na maior circunferência.
Perímetro da coxa - localizado na região médio-femural com o avaliado
procurando distribuir o peso do corpo nas duas pernas.
Perímetro da panturrilha (Ppan) -a fita é posicionada na maior
circunferência com a perna formada um angula de 90° com a coxa.
4.8-Limitações do estudo
Quando se faz esse tipo de avaliação é preciso que se tome o cuidado em
explicar todo o procedimento a ser seguido assim como as posições que o
avaliado deverá permanecer durante a realização das medidas e o objetivo da
pesquisa. Esse cuidado também foi tomado com os participantes desse estudo,
onde explicações foram dadas em sala de aula pelas professoras e antes da
avaliação pelos pesquisadores.
Algumas dificuldades foram encontradas com relação à autorização dos
pais para que seus filhos fizessem parte da amostra, já que foi enviado um pedido
ressaltando que se a criança por algum motivo se recusasse a fazer alguma
medida, a mesma seria imediatamente dispensadas. Além disso, alguns pais por
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falta de informação ou mesmo por não entender o sentido da pesquisa não
assinaram a autorização.
Quanto aos procedimentos metodológicos foram encontradas dificuldades
de ordem ortopédicas (algumas alturas foram tomadas com o indivíduo deitado
sobre um colchonete) e para cumprir todos os protocolos, pois nem todos
permaneciam na posição adequada o tempo necessário para se coletar os dados
atrapalhando o andamento do trabalho.Também como fator de limitação
apresenta-se a falta de uma equação específica para essa população levando a
um erro de estimativa muito grande, já que a equação não discriminou o indivíduo
realmente por não se adequar ao mesmo.
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