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1 Literatura Literatura Portuguesa Portuguesa Prof. Augusto Prof. Augusto Sarmento-Pantoja Sarmento-Pantoja Aula 01 Aula 01 T T R R O O V V A A D D O O R R I I S S M M O O

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Literatura Literatura PortuguesaPortuguesa

Prof. Augusto Sarmento-Prof. Augusto Sarmento-PantojaPantoja

Aula 01Aula 01

TTRROOVVAADDOORRIISSMMOO

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Idade MédiaIdade MédiaA Queda do Império Romano tem A Queda do Império Romano tem

pelo menos uma conseqüência pelo menos uma conseqüência negativa : a Europa torna-se um negativa : a Europa torna-se um continente militarmente continente militarmente desprotegido, ou seja, propício às desprotegido, ou seja, propício às invasões bárbaras por ele sofridas a invasões bárbaras por ele sofridas a partir de então ( a arquitetura da partir de então ( a arquitetura da época confirma isso). época confirma isso).

A difusão da filosofia cristã foi A difusão da filosofia cristã foi tão intensa na Europa após a morte tão intensa na Europa após a morte de Jesus Cristo que, já no início da de Jesus Cristo que, já no início da Idade Média, o Cristianismo é a Idade Média, o Cristianismo é a religião oficial do continente europeu; religião oficial do continente europeu; ao contrário do que aconteceu na ao contrário do que aconteceu na Antigüidade, aquele que não é cristão Antigüidade, aquele que não é cristão é BÁRBARO e é inimigo religioso e é BÁRBARO e é inimigo religioso e político dos europeus. político dos europeus.

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Assim, desde o início da Assim, desde o início da Idade Média (476-1453), os Idade Média (476-1453), os europeus ocupam-se com a europeus ocupam-se com a GUERRAS DE RECONQUISTA, GUERRAS DE RECONQUISTA, expulsão dos povos bárbaros - expulsão dos povos bárbaros - principalmente dos MOUROS principalmente dos MOUROS (muçulmanos, adoradores de (muçulmanos, adoradores de Maomé) que instalam-se em Maomé) que instalam-se em grande número na PENÍNSULA grande número na PENÍNSULA IBÉRICA. IBÉRICA.

Nessa época, a Europa é um Nessa época, a Europa é um conjunto de REINOS. Por exemplo: conjunto de REINOS. Por exemplo: no século XI, o território que no século XI, o território que atualmente faz parte de Portugal, atualmente faz parte de Portugal, do Rio Mondego para o Sul, ainda do Rio Mondego para o Sul, ainda estava ocupado pelos sarracenos, estava ocupado pelos sarracenos, e desse rio para o Norte havia o e desse rio para o Norte havia o reino de Leão. Ainda não existia a reino de Leão. Ainda não existia a nação portuguesa. nação portuguesa.

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O FeudalismoO FeudalismoCada feudo possui um Cada feudo possui um

administrador com plenos poderes: o administrador com plenos poderes: o SENHOR FEUDAL. Assim, no sistema SENHOR FEUDAL. Assim, no sistema feudal, o poder do rei é descentralizado feudal, o poder do rei é descentralizado para os feudos, para os senhores para os feudos, para os senhores feudais. feudais.

A atividade econômica principal na A atividade econômica principal na Europa medieval é a AGRICULTURA: o Europa medieval é a AGRICULTURA: o senhor feudal ARRENDA as terras do senhor feudal ARRENDA as terras do feudo aos agricultores - seus SERVOS ou feudo aos agricultores - seus SERVOS ou VASSALOS - que pagam o arrendamento VASSALOS - que pagam o arrendamento com produtos nela cultivados e com produtos nela cultivados e colhidos; quase toda a produção colhidos; quase toda a produção agrícola, assim, é de propriedade do agrícola, assim, é de propriedade do senhor feudal, ficando apenas uma senhor feudal, ficando apenas uma pequena parte dessa produção ao servo pequena parte dessa produção ao servo

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O senhor feudal, por sua O senhor feudal, por sua vez, "presta contas" ao rei de vez, "presta contas" ao rei de "tudo" que diz respeito ao feudo "tudo" que diz respeito ao feudo que administra, além de ser seu que administra, além de ser seu cavaleiro, seu companheiro e cavaleiro, seu companheiro e defensor nas guerras: ele é defensor nas guerras: ele é vassalo do rei.vassalo do rei.

Além dos servos, os feudos Além dos servos, os feudos contam ainda com os cavaleiros contam ainda com os cavaleiros do senhor feudal e com os do senhor feudal e com os artesãos, aqueles que elaboram artesãos, aqueles que elaboram manualmente as roupas, os manualmente as roupas, os calçados, os utensílios e todos calçados, os utensílios e todos os objetos consumidos pela os objetos consumidos pela sociedade. sociedade.

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O século XII é o de lutas mais O século XII é o de lutas mais intensas entre cristãos e mouros, que intensas entre cristãos e mouros, que vão cedendo terreno pouco a pouco vão cedendo terreno pouco a pouco ante a vigorosa ofensiva dos leoneses. ante a vigorosa ofensiva dos leoneses. Afonso VI é o rei de Leão e chega para Afonso VI é o rei de Leão e chega para reforçar a luta contra os mouros, o reforçar a luta contra os mouros, o nobre francês Henrique de Borgonha. nobre francês Henrique de Borgonha. Sua empreitada rendeu-lhe a mão da Sua empreitada rendeu-lhe a mão da filha do rei e o governo de um dos seus filha do rei e o governo de um dos seus melhores condados: o de Porto-Cale; melhores condados: o de Porto-Cale; pouco tempo depois, o Conde Henrique pouco tempo depois, o Conde Henrique anexa ao seu domínio o condado de anexa ao seu domínio o condado de Coimbra e tem um herdeiro: o futuro rei Coimbra e tem um herdeiro: o futuro rei Dom Afonso Henriques. Dom Afonso Henriques.

Em 1114, Henrique de Borgonha Em 1114, Henrique de Borgonha morre e sua viúva assume o governo morre e sua viúva assume o governo como regente, pois Afonso Henriques como regente, pois Afonso Henriques tem apenas 3 anos.tem apenas 3 anos.

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Ao completar 18 anos, D. Afonso Ao completar 18 anos, D. Afonso Henriques assume o governo e entra Henriques assume o governo e entra em guerra contra os mouros e contra o em guerra contra os mouros e contra o então rei de Leão - Afonso VII - então rei de Leão - Afonso VII - sagrando-se sempre vencedor; aos sagrando-se sempre vencedor; aos Condados de Porto Cale e Coimbra é Condados de Porto Cale e Coimbra é anexado todo o reino de Leão: todo anexado todo o reino de Leão: todo esse território forma a nação esse território forma a nação portuguesa, cujo fundador, D. Afonso portuguesa, cujo fundador, D. Afonso Henriques, é reconhecido como seu rei Henriques, é reconhecido como seu rei inclusive pelo derrotado e ex-rei de inclusive pelo derrotado e ex-rei de Leão - Afonso VII. Leão - Afonso VII.

Como resultado de suas vitórias Como resultado de suas vitórias sobre os mouros que ocupavam muitas sobre os mouros que ocupavam muitas cidades portuguesas, D. Afonso cidades portuguesas, D. Afonso Henriques recebe a alcunha de "o Henriques recebe a alcunha de "o Conquistador". A expulsão dos mouros Conquistador". A expulsão dos mouros também torna-se preocupação dos reis também torna-se preocupação dos reis portugueses que sucedem D. Afonso portugueses que sucedem D. Afonso Henriques, como: D. Sancho I, D. Henriques, como: D. Sancho I, D. Afonso II, D. Sancho II, D. Afonso III , Afonso II, D. Sancho II, D. Afonso III , D. Dinis ( o REI-TROVADOR), etc. D. Dinis ( o REI-TROVADOR), etc.

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O TrovadorismoO TrovadorismoÉ das palavras TROVA e É das palavras TROVA e

TROVADOR ( poeta nobre que TROVADOR ( poeta nobre que faz trovas) que deriva o nome faz trovas) que deriva o nome mais comum que se dá a toda mais comum que se dá a toda Literatura Portuguesa elaborada Literatura Portuguesa elaborada na Idade Média: na Idade Média: TROVADORISMO. TROVADORISMO.

As primeiras cantigas ou As primeiras cantigas ou trovas medievais portuguesas trovas medievais portuguesas são inspiradas nas cantigas que são inspiradas nas cantigas que há muito tempo já eram feitas há muito tempo já eram feitas em Provença, no sul da França. em Provença, no sul da França.

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Cantigas Quanto à Cantigas Quanto à formaforma

• Cantiga de MaestriaCantiga de Maestria: sete versos : sete versos em cada estrofe, sem refrão, em cada estrofe, sem refrão, mais difíceis e sofisticadas.mais difíceis e sofisticadas.

• Cantiga de RefrãoCantiga de Refrão: quatro versos : quatro versos em cada estrofe com repetição de em cada estrofe com repetição de um deles (refrão) no final, mais um deles (refrão) no final, mais populares.populares.

• Cantiga ParalelísticaCantiga Paralelística: há versos : há versos encadeados que repetem a encadeados que repetem a mesma estrutura, com pequenas mesma estrutura, com pequenas variações, em pares variações, em pares consecutivos, com rimas.consecutivos, com rimas.

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Tipos de CantigaTipos de Cantiga• Cantiga de AmorCantiga de Amor

• Cantiga de AmigoCantiga de Amigo

• Cantiga de EscárnioCantiga de Escárnio

• Cantiga de MaldizerCantiga de Maldizer

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Cantiga de AmorCantiga de Amor““Contém a confissão amorosa do Contém a confissão amorosa do

trovador, que padece por requestar uma trovador, que padece por requestar uma dama inacessível, inacessível em dama inacessível, inacessível em consequência de sua condição social consequência de sua condição social privilegiada ou de ele desdenhar a sua privilegiada ou de ele desdenhar a sua posse, impedido pelo sentimento posse, impedido pelo sentimento espiritualizante que o domina.” espiritualizante que o domina.” (MOISÉS, 1993, p. 16)(MOISÉS, 1993, p. 16)

• o homem revela seu amor platônico;o homem revela seu amor platônico;• a amada é sempre idealizada, divinizada a amada é sempre idealizada, divinizada

e cultuada;e cultuada;• a amada é tratada pelo pronome a amada é tratada pelo pronome

SENHORA;SENHORA;• o nome da amada não é revelado o nome da amada não é revelado

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• no relacionamento amoroso o no relacionamento amoroso o homem finge-se inferior a ela, homem finge-se inferior a ela, atitude de Vassalagem.atitude de Vassalagem.

As cantigas de amor, portanto, As cantigas de amor, portanto, apresentam um conteúdo que apresentam um conteúdo que expressa tristeza, solidão, amor expressa tristeza, solidão, amor platônico, desejos não platônico, desejos não realizados, etc, ou seja, possui realizados, etc, ou seja, possui "tom" triste: pertencem ao "tom" triste: pertencem ao GÊNERO LÍRICO e , pelo GÊNERO LÍRICO e , pelo conteúdo melancólico, se conteúdo melancólico, se aproximam bastante com às aproximam bastante com às ELEGIAS.ELEGIAS.

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““Cantiga da Cantiga da Ribeirinha”Ribeirinha”

No mundo non me sei parelha,No mundo non me sei parelha,

mentre me for como me vai,mentre me for como me vai,

ca já moiro por vós – e ai!ca já moiro por vós – e ai!

mia senhor branca e vermelha,mia senhor branca e vermelha,

queredes que vos retráiaqueredes que vos retráia

quando eu vos vi em saia!quando eu vos vi em saia!

Mau dia me levantei,Mau dia me levantei,

que vos enton non vi fea!que vos enton non vi fea!

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E, mia senhor, dês aquel di’, ai!E, mia senhor, dês aquel di’, ai!

me foi a mi mui mal,me foi a mi mui mal,

e vós, filha de don Paaie vós, filha de don Paai

Moniz, e bem vos semelhaMoniz, e bem vos semelha

d’haver eu por vós guarvaia,d’haver eu por vós guarvaia,

pois eu, minha senhor, d’alfaiapois eu, minha senhor, d’alfaia

nunca de vós houve nen heinunca de vós houve nen hei

valia d’ua correa.valia d’ua correa.

(MOISÉS, 1993, p. 16-17)(MOISÉS, 1993, p. 16-17)

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Cantigas de AmigoCantigas de Amigo““Contém a confissão amorosa Contém a confissão amorosa

da mulher, geralmente do povo (...). da mulher, geralmente do povo (...). Sua Sua coitacoita nasce de entreter amores nasce de entreter amores com um trovador que a abandonou, com um trovador que a abandonou, demora para chegar, ou está no demora para chegar, ou está no serviço militar (...). A moça dirigi-se serviço militar (...). A moça dirigi-se à mãe, às amigas, aos pássaros (...), à mãe, às amigas, aos pássaros (...), mas quem compõe ainda é o mas quem compõe ainda é o trovador. Ao invés do idealismo das trovador. Ao invés do idealismo das cantigas de amor, a de amigo respira cantigas de amor, a de amigo respira realismo em toda a sua extensão; realismo em toda a sua extensão; daí o vocábulo daí o vocábulo amigo amigo significar significar namoradonamorado e e amanteamante.” (MOISÉS, .” (MOISÉS, 1993, p. 21)1993, p. 21)

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Tipos de Cantiga de Tipos de Cantiga de AmigoAmigo

• RomariaRomaria

• SerranilhaSerranilha

• PastorelaPastorela

• Marinha ou Marinha ou BarcarolaBarcarola

• Bailada ou Bailada ou BailiaBailia

• Alba ou Alba ou AlvoradaAlvorada

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RomariaRomariaPois nossas madres van a San Pois nossas madres van a San

SimonSimonde Val de Prados candeas queimar,de Val de Prados candeas queimar,nós, as meninas, punhemos de nós, as meninas, punhemos de

andarandarcon nossas madres, e eles entoncon nossas madres, e eles entonqueimen candeas por nós e por siqueimen candeas por nós e por sie nós, meninas, bailaremos i.e nós, meninas, bailaremos i.

Nossos amigos todos iranNossos amigos todos iranpor nos veer, e andaremos nóspor nos veer, e andaremos nósbailand' ant' eles, fremosas em cósbailand' ant' eles, fremosas em cós

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e nossas madres pois que alá vane nossas madres pois que alá vanqueimen candeas por nós e por siqueimen candeas por nós e por sie nós, meninas, bailaremos i.e nós, meninas, bailaremos i.

Nossos amigos iran por cousirNossos amigos iran por cousircomo bailamos, e podem veercomo bailamos, e podem veerbailar moças de bon parecerbailar moças de bon parecere nossas madres, pois lá queren e nossas madres, pois lá queren

ir,ir,queimen candeas por nós e por siqueimen candeas por nós e por sie nós, meninas, bailaremos i. e nós, meninas, bailaremos i.

"Pois nossas madres vam a San Simion" "Pois nossas madres vam a San Simion" Pero Viviaez (CV 336/CBN 735)Pero Viviaez (CV 336/CBN 735)

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SerranilhaSerranilha

En Arouca a casa faria; En Arouca a casa faria;

atant’ ei gran sabor de a fazer, atant’ ei gran sabor de a fazer,

que já mais custa non recearia que já mais custa non recearia

nen ar daria ren por meu aver, nen ar daria ren por meu aver,

ca ei pedreiros e pedra e cal; ca ei pedreiros e pedra e cal;

e desta casa non mi míngua al e desta casa non mi míngua al

se non madeira nova, que se non madeira nova, que queria. queria.

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E quen mi a desse, sempr’ o E quen mi a desse, sempr’ o serviria, serviria,

ca mi faria i mui gran prazer ca mi faria i mui gran prazer

de mi fazer madeira nova aver, de mi fazer madeira nova aver,

en que lavrass’ a peça do dia, en que lavrass’ a peça do dia,

e pois ir logo a casa madeirar e pois ir logo a casa madeirar

e telhá-la; e, pois que a telhar, e telhá-la; e, pois que a telhar,

dormir en ela de noit’ e de dia. dormir en ela de noit’ e de dia.

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E, meus amigos, par Santa E, meus amigos, par Santa Maria, Maria,

se madeira nova podess’ aver, se madeira nova podess’ aver,

logu’ esta casa iria fazer logu’ esta casa iria fazer

e cobri-la; e descobri-la-ia e cobri-la; e descobri-la-ia

e revolvê-la, se fosse mester; e revolvê-la, se fosse mester;

e se mi a mi a abadessa der e se mi a mi a abadessa der

madeira nova, esto lhi faria. madeira nova, esto lhi faria.

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PastorelaPastorelaAi flores, ai flores do verde pino,Ai flores, ai flores do verde pino,e sabedes novas do meu amigo!e sabedes novas do meu amigo!i Deus, e u é?i Deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo,Ai flores, ai flores do verde ramo,Se sabedes novas do meu amado!Se sabedes novas do meu amado!Ai Deus, e u é?Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,Se sabedes novas do meu amigo,Aquel que mentiu do que pôs Aquel que mentiu do que pôs

comigo!comigo!Ai Deus, e u é?Ai Deus, e u é?

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Se sabedes novas do meu amado,Se sabedes novas do meu amado,Aquel que mentiu do que mi á Aquel que mentiu do que mi á

jurado!jurado!Ai Deus, e u é?Ai Deus, e u é?

- Vós me perguntades polo voss' - Vós me perguntades polo voss' amigo,amigo,

E eu ben vos digo que é san e vivo.E eu ben vos digo que é san e vivo.Ai Deus, e u é?Ai Deus, e u é?

- Vós me perguntades polo voss' - Vós me perguntades polo voss' amado,amado,

E eu ben vos digo que é viv' e sano.E eu ben vos digo que é viv' e sano.Ai Deus, e u é?Ai Deus, e u é?

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E eu ben vos digo que é san' e E eu ben vos digo que é san' e vivovivo

E seerá vosc' ant' o prazo saído.E seerá vosc' ant' o prazo saído.Ai Deus, e u é?Ai Deus, e u é?

E eu ben vos digo que é viv' e E eu ben vos digo que é viv' e sanosano

E seerá voac' ant' o prazo E seerá voac' ant' o prazo passado.passado.

Ai Deus, e u é? Ai Deus, e u é? "Ai flores, ai flores do verde pino," "Ai flores, ai flores do verde pino,"

D. Dinis (CV 171/CBN 568) D. Dinis (CV 171/CBN 568)

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Marinha ou Marinha ou BarcarolaBarcarola

Ondas do mar de Ondas do mar de vigo,vigo,

se vistes meu se vistes meu amigo!amigo!

E ai Deus, se verrá E ai Deus, se verrá cedo!cedo!

Ondas do mar Ondas do mar levado,levado,

se vistes meu se vistes meu amado!amado!

E ai Deus, se verrá E ai Deus, se verrá cedo!cedo!

Se vistes meu Se vistes meu amigo!amigo!

e por que eu e por que eu sospiro!sospiro!

E ai Deus, se verrá E ai Deus, se verrá cedo!cedo!

Se vistes meu Se vistes meu amado!amado!

e por que el gran e por que el gran cuidado!cuidado!

e ai Deus, se verrá e ai Deus, se verrá cedo!cedo!

"Ondas do mar de vigo" "Ondas do mar de vigo" Martin Codax (CV 884/CBN Martin Codax (CV 884/CBN

1278) 1278)

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Bailia ou BailadaBailia ou BailadaBailemos nós já todas tres, ai Bailemos nós já todas tres, ai

amigas,amigas,so aquestas avelaneiras frolidasso aquestas avelaneiras frolidase quem for velida como nós, e quem for velida como nós,

velidas,velidas,se amigo amar,se amigo amar,so aquestas avelaneiras frolidasso aquestas avelaneiras frolidasverrá bailar.verrá bailar.

Bailemos nós já todas tres, ai Bailemos nós já todas tres, ai irmanas,irmanas,

so aqueste rarno destas avelanas,so aqueste rarno destas avelanas,e quem for louçana como nós, e quem for louçana como nós,

louçanas,louçanas,

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se amigo arnar,se amigo arnar,so aqueste rarno destas avelanasso aqueste rarno destas avelanasverrá bailar.verrá bailar.

Por Deus, ai amigas, mentr' al non Por Deus, ai amigas, mentr' al non fazemos,fazemos,

so aquesto rarno frolido bailemos,so aquesto rarno frolido bailemos,e quen ben parecer, corno nós e quen ben parecer, corno nós

parecemos,parecemos,se amigo amar,se amigo amar,so aqueste ramo so' l que nós so aqueste ramo so' l que nós

bailemosbailemosverrá bailar. verrá bailar.

"Bailemos nós já todas três…" "Bailemos nós já todas três…" Airas Nunes (CV 462/CBN 879) Airas Nunes (CV 462/CBN 879)

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Alba ou AlvoradaAlba ou AlvoradaLevad’, amigo, que dormides as Levad’, amigo, que dormides as

manhãas frias;manhãas frias;

todalas aves do mundo d’amor todalas aves do mundo d’amor dizian:dizian:

leda m’and’eu!leda m’and’eu!

Levad’, amigo, que dormide’-las Levad’, amigo, que dormide’-las frias manhãas;frias manhãas;

todalas aves do mundo d’amor todalas aves do mundo d’amor cantavan:cantavan:

leda m’and’eu!leda m’and’eu!

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Todalas aves do mundo d’amor dizian:Todalas aves do mundo d’amor dizian:

do meu amor e do voss’em ment’avian:do meu amor e do voss’em ment’avian:

leda m’and’eu!leda m’and’eu!

Todalas aves do mundo d’amor Todalas aves do mundo d’amor cantavan:cantavan:

do meu amor e do voss’i enmentavan:do meu amor e do voss’i enmentavan:

leda m’and’eu!leda m’and’eu!

Do meu amor e do voss’em ment’avian:Do meu amor e do voss’em ment’avian:

vós lhi tolhestes os ramos que siian:vós lhi tolhestes os ramos que siian:

leda m’and’eu!leda m’and’eu!

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Do meu amor e do voss’i enmentavan:Do meu amor e do voss’i enmentavan:

vós lhi secastes os ramos en que vós lhi secastes os ramos en que bevian:bevian:

leda m’and’eu!leda m’and’eu!

vós lhi tolhestes os ramos que siian:vós lhi tolhestes os ramos que siian:

e lhi secastes as fontes em que e lhi secastes as fontes em que bevian:bevian:

leda m’and’eu!leda m’and’eu!

vós lhi secastes os ramos en que vós lhi secastes os ramos en que bevian:bevian:

e lhi secastes as fontes u se e lhi secastes as fontes u se banhavan:banhavan:

leda m’and’eu!leda m’and’eu!Levad’, amigo, que dormides as manhãas friasLevad’, amigo, que dormides as manhãas frias

Nuno Fernandes Torneol (CBN 641 — CV 242)Nuno Fernandes Torneol (CBN 641 — CV 242)

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Cantiga de EscárnioCantiga de Escárnio

““Cantiga de escárnio Cantiga de escárnio conteria sátira indireta, conteria sátira indireta, realizada por intermédio do realizada por intermédio do sarcasmo, a zombaria e uma sarcasmo, a zombaria e uma linguagem de sentido linguagem de sentido ambíguo” (MOISÉS, 1993, p. ambíguo” (MOISÉS, 1993, p. 27)27)

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Cantiga de EscárnioCantiga de EscárnioMort’ é Don Martins Marcos, ai Deus, se Mort’ é Don Martins Marcos, ai Deus, se

é verdade?é verdade?

Sei ca se el é morto, morta é torpidade,Sei ca se el é morto, morta é torpidade,

morta é baviequia e morta neiciidade,morta é baviequia e morta neiciidade,

morta é covardia e morta é maldade.morta é covardia e morta é maldade.

Se Don Martinh’ é morto, sen prez e sen Se Don Martinh’ é morto, sen prez e sen bondade,bondade,

ôi mais, maos costumes, outro senhor ôi mais, maos costumes, outro senhor catade;catade;

mais nono achardes de Roma atá cidade;mais nono achardes de Roma atá cidade;

se tal senhor queiredes, alhu-lo se tal senhor queiredes, alhu-lo demandade;demandade;

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pero um cavaleiro sei eu, par caridade,pero um cavaleiro sei eu, par caridade,

que vos ajudaria a tolher d’el soidade;que vos ajudaria a tolher d’el soidade;

mais (queredes) que vos diga ende ben mais (queredes) que vos diga ende ben verdade?:verdade?:

non é rei nen conde, mais é-x’outra non é rei nen conde, mais é-x’outra podestade,podestade,

que non direi, que direi, que non direi...que non direi, que direi, que non direi...

Mort’ é Don Martins Marcos, ai Deus, se é verdade?Mort’ é Don Martins Marcos, ai Deus, se é verdade?

Pero da Ponte, (C.V. 1189 - C.B.N. 1655)Pero da Ponte, (C.V. 1189 - C.B.N. 1655)

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Cantiga de MaldizerCantiga de Maldizer

““A cantiga de Maldizer A cantiga de Maldizer encerraria sátira direta, encerraria sátira direta, agressiva contundente, e agressiva contundente, e lançaria mão duma linguagem lançaria mão duma linguagem objetiva e sem disfarce objetiva e sem disfarce algum.” (MOISÉS, 1993, p 27)algum.” (MOISÉS, 1993, p 27)

A maior parte das cantigas A maior parte das cantigas satíricas eram de maldizer, no satíricas eram de maldizer, no entanto costumeiramente entanto costumeiramente tendemos a confundi-las por tendemos a confundi-las por sua proximidade temática.sua proximidade temática.

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Cantiga de MaldizerCantiga de Maldizer

Traj’ agora Marinha SabugalTraj’ agora Marinha Sabugal

a velha que adusse de sa terra,a velha que adusse de sa terra,

a que quer ben, e ela lhi quer a que quer ben, e ela lhi quer mal;mal;

e faz-lh’ algo, pero que muito lh’ e faz-lh’ algo, pero que muito lh’ erra;erra;

mais ora quer ir moiros guerreiar mais ora quer ir moiros guerreiar

e quer consigo a velha levar,e quer consigo a velha levar,

mais a velha non é doita da mais a velha non é doita da guerra. guerra.