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Seminário Temático: Teologia de Ação Social pela Igreja Cristã STBE – Belém: 22 a 24 de novembro 2010
Mark Edward Greenwood 1
1ª sessão – Teologia da Ação Social I
A. Teologia, Igreja, Ação Social
1. Base bíblica
2. Base teológica
Conceitos teológicos básicos:
Sobre Deus:
Deus fez o ser humano na sua própria imagem
Deus é amor
Deus é justo, e então não tolera injustiça
Deus deseja que o seu povo cuide dos pobres
Deus deseja que a vida em sociedade do seu povo minimize ao máximo a pobreza
São mandamentos divinos: cuidar do órfão, viúva e “estrangeiro”; respeitar os direitos dos
trabalhadores; não lucrar com juros; não praticar comércio desigual; entre outros.
Sobre a igreja:
O povo Hebreu é o povo de Deus no VT
No NT a igreja é o povo de Deus, o novo Israel, formada por Judeus e Gentios que vivem
conforme a vontade de Deus em Jesus Cristo.
Sobre a igreja e a sociedade:
O relacionamento do povo de Deus com a sociedade sofreu mudanças – do VT ao NT, e ao
longo da história da igreja (desde Jesus até hoje), mas
Os conceitos teológicos básicos não sofreram mudanças,
A nossa tarefa é entender como aplicar estes princípios à vida da igreja em nossos dias.
Para nos ajudar nesta tarefa temos os textos bíblicos e as experiências e reflexões de cristãos ao
longo dos séculos (história da igreja e teologia).
B. Espiritualidade, sociedade e missão
1.Espiritualidade brasileira conforme uns pensadores brasileiros:
DAMATTA (p.109-110):
(espiritualidade brasileira)
“Se na casa e na rua utilizamos o idioma …das coisas práticas deste mundo…no nosso modo de
conceber o espaço religioso, a linha vertical e hierarquizada, que relaciona o céu com a terra…é algo
dominante e crítico.” 1
DE SOUZA (p.39-40): 2
(espiritualidade evangélica brasileira)
“Ao observamos a igreja evangélica brasileira hoje, constatamos um fato irrefutável: ela não tem
refletido, em influência concreta na realidade sociocultural que nos cerca, a amplitude do seu
crescimento numérico”
“Propostas culturais estabelecidas pelo humanismo secular no seio da civilização ocidental… têm
relegado o cristianismo brasileiro a uma dimensão estreita da vida… Segundo essa proposta cultural,
os cristãos poderiam viver e expressar sua fé apenas na esfera privada da vida, sem direito a voz ou
participação concreta nas questões fundamentais de interesse público, como política, mídia, ciências e
educação”
1 p.109-110
2 LEITE, CARVALHO E CUNHA
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“Uma dimensão disso passa… pela incapacidade atual dos cristãos brasileiros de integrarem sua vida
de fé com as diversas esferas da realidade criadas por Deus. Temos aprendido a nos relacionar com o
Deus Salvador e adora-lo, mas não temos aprendido a servi-lo e honra-lo como Deus criador.”
AZEVEDO (p.26-27):
(espiritualidade batista brasileira)
“A. B. Langston… um dos principais teólogos dos batistas no Brasil, apontava que… „o principio por
excelência em que se aprofunda a vida e o pensamento batista, é o princípio do individualismo.‟…
Enquanto igreja, os batistas têm pugnado por absoluta separação do Estado…
A conversão passou, então, a significar, além da negação do passado da pessoa, negação do presente
social...O que resulta, ao nível popular e ao nível pequeno-burguês, é um niilismo. O homem não pode
fazer nada...Não se vive a esperança.”
Se as citações acima representam uma análise verídica das espiritualidades brasileira, evangélica e
batista, e as suas relações com a vida em sociedade, não surpreende então a velocidade lenta pela qual a
ação social torna-se parte da vida da denominação batista.
2. Relacionando o nosso relacionamento com Deus ao relacionamento com outros seres humanos:
Necessitamos de uma espiritualidade não apenas vertical, ou verticalizada, para sentir-nos incentivados
a agir no âmbito social como cristãos. É urgente que entendamos a dimensão horizontal da fé e prática
cristãs bíblicas. Para isso podemos meditar no maior dos mandamentos, que contempla amor a Deus e
ao próximo.
Em Marcos capítulo 12.28-34, nosso Senhor Jesus ensinou outro princípio bastante importante para a
formação de uma vida ética cristã. Nesta conversa entre Jesus e o mestre da lei, podemos entender que
o nosso amor para com Deus é intimamente vinculado ao nosso amor para como próximo. E não
somente isso: quando lemos os textos do Antigo Testamento a que essa conversa se refere, como
Levítico 19, Oseias 6 e Amós 5, podemos descobrir primeiro, que o “próximo” incluí o estrangeiro
pobre, excluído (forasteiro). De fato, como GRENZER (p.31) observa, o mandamento de amar é
utilizado na lei de Deus – Torá – apenas cinco vezes: duas vezes em relação amar a Deus
(Deuteronômio 6.5, 10.12), uma vez em relação amar ao compatriota judeu (Lev 19.18), e
surpreendentemente, duas vezes em relação amar o estrangeiro pobre, excluído (Lev 19.34, e Deut
10.19).
A segundo coisa que descobrimos nas passagens citadas pelo mestre da lei (elogiado por Jesus), é que
Deus rejeita os louvores do seu povo quando eles não estão cuidando das necessidades das pessoas
sofridas e excluídas (Amos 5.21-24, veja 1 Samuel 15.22, Oseias 6.6).
Fica claro então que o amor para com o próximo, que é regido pelo nosso amor para com o Senhor, tem
claras implicações sociais. Tanto é que quando Lucas reconta a mesma conversa entre Jesus e o mestre
da lei, no capítulo 10 do evangelho, Jesus ainda conta a parábola do Bom Samaritano como ilustração
do mandamento maior. O “próximo” que deve ser amado como a si mesmo, é um estrangeiro,
samaritano (36-37a). Deve ser seguido o seu exemplo em cuidar do assaltado(37b), que se contrapõem
à ação dos líderes religiosos, cujos presença na história representa a espiritualidade contemporânea a
Jesus, que deixa-os desviar-se friamente da vítima (31-32).
Um exemplo histórico de espiritualidade nas duas dimensões é o do John Woolman, os Quakers e a
Escravidão (FOSTER, 2008).
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3. A missão do Messias:
O povo batista é um povo missionário, fato ré-afirmado na recente pesquisa sobre a situação da
denominação, publicada no Jornal Batista (edição 19, 2010). A visão missionária da maioria das
igrejas, não obstante, é que missões se resume em evangelismo, plantação de igrejas, e o discipulado
dos novos membros, para serem crentes autênticos na vida particular e familiar.
Se o povo batista é um povo missionário, então para este povo praticar ação social, é necessário
demonstrar qual o papel de ação social dentro da missão da igreja, se de fato existe este papel. Uma
reflexão na missão do Messias pode ajudar muito nisso:
Quando o profeta Isaías teve a sua visão do Messias, registrada no capítulo 11 da sua profecia, ele
entendeu o ministério messiânico como uma obra de restauração da vida humana em três aspectos: Nos
versículos 9 e 10 Isaías pinta o maravilhoso quadro, com o qual estamos familiares, da restauração do
relacionamento dos seres humanos com Deus, que juntam-se ao redor da raiz de Jessé, o Messias,
estandarte dos povos. Se voltarmos aos versículos 3 a 5, vemos a ação do toco de Jessé na restauração
da justiça social na sociedade humana. O tema dos versículos 6 a 8 é a restauração de harmonia na
criação. Em termos modernos chamamos isso do resgate do meio-ambiente. É interessante observar, no
versículo 8, a referência ao relacionamento entre a criança e a serpente. Isso nos remete ao estrago feito
na criação pelos primeiros seres humanos através da sua desobediência a Deus (Gênesis
3, especialmente v. 15), estrago que agora é consertado pela intervenção do Messias.
Em João 21 Jesus comissiona os discípulos, enviando-os “na maneira em que o Pai” o enviou. Paulo
identifica a Igreja como Corpo de Cristo, isso é o Corpo do Messias, que no seu ministério cresce à
estatura da plenitude de Cristo, isso é do Messias (Efésios 4.11-13). Chegamos então à conclusão de
que a igreja foi chamada para dar prosseguimento ao ministério do Messias no mundo. O que implica
que devemos nos empenhar em obras que visam a restauração da vida humana nos três aspectos
apresentados por Isaías: na justiça social, no relacionamento com a criação e no relacionamento com
Deus.
Podemos conceituar este entendimento de missão no seguinte gráfico, que serve também para ilustrar o
que Paulo diz em Efésios 1:7-10, and Colossenses capitulo 1, escrevendo que em Cristo Deus
reconcilia todas as coisas a Ele: “que, havendo feito a paz pelo seu sangue da sua cruz, por meio dele,
reconciliasee consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus.” (Colossense 1.20).
Sociedade Indivíduo (espiritual/físico/
emocional/intelectual)
Criação
D E S T R U I Ç Ã O
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Reflexões diversas para auxiliar na conceituação de Ação Social Cristã:
1. Definindo a Pobreza:
De que consiste a pobreza é uma questão complexa.3 Uma pesquisa do vocabulário do hebráico bíblico
define a pobreza como: uma falta das condições básicas para vida (chaser); perda de posses através de
atos de injustiça ou falta de cuidados (yarash); fragilidade ou fraqueza (dal/dallah); necessidade e
dependência (ebyon); o estado de opressão, aflição ou humildade (ani/anau).4
Uma definição contemporânea multifacetada é o modelo proposto por FRIEDMAN: uma “falta de
acesso às bases do poder social”, as bases sendo – recursos financeiros, redes sociais, informação
adequada, um excedente de tempo acima do necessário para sobrevivência, ferramentas para trabalho e
bem-estar, organização, conhecimentos e capacidades, e espaço seguro para viver.5
No entanto, este uso da palavra “pobreza” é muito restrito. Como BARTH alerta, pessoas socialmente
privilegiadas e financeiramente abastadas também podem ser pobres; na sua saúde, intelectualmente,
espiritualmente, e nos seus relacionamentos com os outros, “Entretanto... uma pessoa pobre, no sentido
financeiro da palavra, pode ser rica nesses outros sentidos”6 Ademais, BOFF aponta um uso positivo do
conceito de “pobreza” no evangelho segundo Mateus: é “um outro sentido de pobre, significando um
modo de ser espiritual positivo. Ser pobre é ser humilde, manso de coração, ser mendigo diante de
Deus, que nada tendo de próprio se faz capaz de tudo receber do Alto.”7 Isso BOFF denomina pobreza-
humildade, contraposta à pobreza-opressão.8
De qualquer modo, no contexto de Ação Social, contemplando ações práticas que visam enfrentar
necessidades físicas e materiais básicas, pobreza-injustiça e a definição de “pobreza” conforme
Friedman são os conceitos mais presentes em nossas reflexões. Isso não nega que os financeiramente
ricos também são pobres à sua maneira; simplesmente somos limitados por uma pobreza linguística,
que reflete o fato de que para a sociedade em geral, somente os com poucos meios materiais são
considerados pobres, e consequentemente temos uma palavra só para expressar conceitos de pobreza
diferentes. Também não podemos negar que as formas de pobreza mencionadas por BARTH precisam
ser enfrentadas. MYERS ainda observa que combater as pobrezas dos ricos pode ajudar a aliviar a
pobreza financeira.9 Como também, o tornar-se pobre da maneira sugerida por BOFF aliviaria a
pobreza financeira dos outros.
2. Boas obras servem para glorificar a Deus:
Mateus 5.16, e o conceito de boas obras no Novo Testamento:
A frase traduzida “Boas Obras” – kala erga - pertence a uma família de verbetes que aparecem em
português também com outros significados, como: obras santas, obras justas, algo bem feito,fazer o
bem, entre outros. Todos podem ser vinculados ao conceito de fazer bem; kala erga são bons feitos,
coisas feitas que tenham bons efeitos. Lendo algumas passagens que utilizam essa família de palavras
descobrimos quais atos os autores consideravam boas obras:
Na carta a Tito o conceito inclui ensinar de uma maneira série e sincera, usar palavras sadias e
irrepreensíveis (2.7-8), respeito aos governantes, obediência, não falar mal de ninguém, ser pacifico,
bondoso e cortês (3.1-2). Comentando em Tito 3.8, HANSON (p.194)10
observa que “a preocupação do
autor é que igrejas cristãs locais façam uma contribuição à vida da comunidade toda com as suas obras
de bem-estar social”.
Na sua primeira carta a Timóteo, Paulo considera a supervisão de irmãos uma excelente obra (3.1),
como também considera como boas obras - criar filhos, praticar hospitalidade, lavar os pés dos irmãos,
socorrer os necessitados (5.10). Para os ricos Paulo recomenda a boa obra da generosidade, no repartir
3 CHRISTIAN, God of the Empty-Handed, p.17
4 ibid, p.17
5 ibid, p.37
6 BARTH. “Pobreza” em Dadiva e Louvor (São Leopoldo: Sinodal, 1986) p.351
7 BOFF Teologia do Cativeiro e da Libertação (São Paulo: Círculo do Livro/Vozes, 1980) p.243
8 ibid, p.244
9 Walking with the poor, p.88 (versão inglesa de Caminando con los pobres)
10The pastoral Epistles (London: Marshall, Morgan and Scott, 1982)
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com os outros (6.18). A cura milagrosa do paralítico por Pedro e João em Atos foi uma boa obra (2.9),
como também Jesus, surpreendentemente, considerou o ungir dos seus pés pela mulher em Betânia
(Mateus 26.10).
Existem certas passagens que são comentários sobre as boas obras que Deus espera do seu povo.
Mateus capítulos 5 a 7, o chamado sermão no monte, talvez seja a mais rica de todos. Temos Gálatas 5
que contrasta as obras da carne com o fruto do Espírito; e Romanos 12, que vincula boas ações com as
funções que cada um pode cumprir dentro e fora na comunidade de fé. A carta de Tiago expõe como o
cristão de boas obras deve agir. Encorajando atos de misericórdia (2.14-17), condenando o preconceito
de uma classe social contra a outra (2.1-9) e a exploração de trabalhadores por patrões carrascos (5.1-
4).
De acordo com Jesus em Mateus 5, então, devemos praticar essas boas obras para levar pessoas a
glorificar a Deus.
3. Cuidados com os excluídos indica temor a Deus:
A passagem Malaquias 3.5-10 é bastante conhecida pela sua abordagem da questão dos dízimos.
Porém, se analisarmos a passagem no seu contexto, e no contexto das leis dos dízimos, veremos que
“temor a Deus” não é manifesto nos dízimos por si só, mas principalmente no uso correto dos bens
arrecadados.
A frase central que precisamos entender é 3.10 “Trazei todos os dízimos à casa do Tesouro, para que
haja mantimento na minha casa.” Precisamos perguntar – para que precisa-se de mantimento na casa do
Senhor? Em Deuteronômio 26.12 encontramos uma resposta: “Quando acabares de separar todos os
dízimos da tua messe no ano terceiro, que é o dos dízimos, então, os darás ao levita, ao estrangeiro, ao
órfão e à viúva, para que comam dentro das tuas cidades e se fartem” (De três em três anos junte a
décima parte das colheitas daquele ano e dê aos levitas, aos estrangeiros, aos órfãos e às viúvas que
moram na sua cidade, para que tenham toda a comida que precisarem. NTLH).
Normalmente quando a gente lê esta passagem começamos com o versículo 6, por causa das divisões
feitas nas traduções bíblicas. De fato, esta divisão não existe. A profecia começa muito antes, e o
versículo 5 é intimamente ligado com os versículos que o seguem. Havendo entendido o real propósito
para a colheita dos dízimos, podemos entender o que este versículo tem a ver com os seguintes: um dos
direitos dos órfãos, viúvas e estrangeiros que o povo de Deus estava negando era o seu direito de ser
sustentado por uma parte dos dízimos, juntamente com os ministros do culto.
Quase todos nós já temos a noção de que, se não entregarmos o nosso dízimo, nós roubamos a Deus
(v8). O interessante é que o verbo em Hebraico usado para “roubar” neste versículo, , aparece
apenas uma vez mais em todo o Velho Testamento, em Provérbios 22.22-23, quando é relacionado a
furtar o que é direito do pobre!11
Não poderia ficar mais claro então, de que quando negamos o direito
do pobre, inclusive a sua parte dos dízimos, estamos roubando a Deus. Por outro lado, quando
defendemos o direito do pobre, demonstramos temor a Deus.
4. Ministério social é uma imprescindível atividade na igreja local:
Em Atos 6.1-7 vemos que o ministério social é um elemento da vida da igreja que não pode ser
negligenciada. Encontramos uma situação de desigualdade social onde os protagonistas são os
excluídos que levantam a questão. Os apóstolos, reconhecendo a queixa dos excluídos, e a importância
do ministério social, recomendaram que a comunidade escolhesse gestores do cofre social de boa
reputação, cheios do Espírito e de sabedoria. Algo que não é explicitado no texto, exceto no caso de
Nicolau “prosélito de Antioquia”, é que os escolhidos faziam parte do grupo que havia sido
socialmente excluído: os gregos.
Este episódio destaca a importância do ministério social ser praticado de uma maneira participativa.
Os socialmente excluídos devem ter espaço para sugerir rumos para o ministério, e para exercer
liderança nas ações e projetos.
11
HENDERSON, The twelve minor prophets (Grand Rapids: Baker, 1980) p.459
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5. Dar voz e vez aos excluídos é uma ação de líderes tementes a Deus:
O Reino de Deus no Velho Testamento era para ser literalmente Israel e Judá. Como os seus reis
deviam comportar-se? Provérbios 31.1, 8-9; Salmo 72.1-5, 10-14
Em Neemias 5:l-6.9-12, 15 lemos sobre quando Neemias era governador dos judeus, depois da volta do
exílio em Babilônia. Esta era uma época de reconstrução do templo, da cidade e da sociedade. O
templo já estava renovado e as muralhas da cidade estavam em andamento, mas o texto que nós lemos
indica que na sociedade existia ainda muito trabalho para ser feito. Neemias se mostrou um governador
muito preocupado com as condições de vida do seu povo, e ele mesmo atribui isso ao seu temor a
Deus. Além de que, ele provavelmente conhecia a história da derrota de Israel e Judá antes do exílio e
as razões para julgamento de Deus contra eles.
Amós e Isaías eram os profetas através dos quais Deus falou ao povo naquela época passada. Entre
outras coisas, eles condenaram, de uma maneira bem pesada, a opressão social que havia entre o povo
de Deus (ex.: Amós 8:4-l0, Isaías 1:16-17; 3:13-15).
Os oprimidos tiveram o direito de apresentarem causas às autoridades: Deus e as pessoas retas estavam
prontos para agir quando ouviram as queixas. Através dos profetas Deus condenava o povo quando não
estava espiritualmente e socialmente seguindo o seus mandamentos.
6. William Carey (1761-1834)
William Carey é considerado o pai de missões modernas. A ideia de missões vigente na visão de um
grande número de crentes é “Pregar o evangelho por todo mundo”, ou em outras palavras muito usadas,
“Cumprir o ide”. Consequentemente, muitos pensam que Carey era um grande evangelista, que pregou
o evangelho e fundou igrejas em terras indianas. A verdade é maior: Desde o começo Carey teve uma
visão integral de missão, conhecida como o “padrão de cinco dobras” – fivefold pattern, e ainda hoje, a
sociedade missionária que ele fundou baseia os seus alvos nos mesmos princípios. As cinco dobras
eram 1. Igreja Local. 2. Agricultura. 3. Educação. 4. Medicina. 5. Ação Social.
Um historiador disse sobre Carey, “O seu trabalho missionário e a sua horticultura foram expressões
gêmeas do mesmo alvo – enriquecer pessoas com o melhor que Deus tem para oferecer.” Um membro
importantíssimo da equipe missionária de Carey foi John Thomas, médico muito dedicado à população
das comunidades em que os missionários viviam.
Talvez mais relevante à questão de impacto social na cidade foram duas mudanças estruturais que
Carey causou na Índia. Mesmo em frente oposição dos colonizadores ingleses e, no primeiro caso, dos
próprios indianos, ele promoveu uma campanha política contra a prática normal de incendiar a viúva
viva junto com o corpo do marido falecido (sati) e também fundou a instituição educacional em
Serampore (hoje faculdade), que ainda é uma das mais respeitadas no território indiano. A campanha
contra o sati efetuou uma mudança radical na lei das colônias anglo-indianas, onde a prática foi
declarada ilegal.
Podíamos dizer que Carey foi o pai de missões integrais modernas.12
7. Citações comtemporâneas
Uma das tarefas prioritárias da Igreja como comunidades de discípulos de Cristo...é a incarnação dos
valores do Reino de Deus e a globalização da solidariedade com as vítimas do sistema
institucionalizado de injustiça no nível mundial. (PADILLA, 2002, p.97)
O amor só de palavras aumenta a incredulidade no coração do homem, distancia mais e mais o homem
de Deus; porque nós vamos pregar-lhe a fé, a fé em Deus, e então o deixamos lá, com o seu problema,
com a sua fé, com a sua miséria. E então ele fica se questionando – Que Deus perverso é esse que tem
só palavras? (Francisco Chagas de Souza 1º Seminário Batista Cearense de Ação Social, 1989)
12
Adaptado de AMEY, The Unfinished Story: A Study-guide History of the Baptist Missionary Society
(Didcot: Baptist Union of Great Britain, 1991) p.17
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2ª sessão – Planejando e executando a Ação Social na Igreja I
A. Experiências de Ação Social
B. DVD do nadador da Sri Lanka
C. Etapas de implantação do Ministério Social Cristão na igreja local
1.Quatro princípios norteadores para cada etapa da implantação:
– Oração
– Conscientização
– Mobilização
– Ação
2. As etapas:
Realizar estudos bíblicos e pregações que tratam de questões sociais
Conheça a comunidade, os seus anseios, problemas e desejos (Mateus 11.19)
Analisar como a igreja relaciona-se com a comunidade da qual faz parte
Conheça os recursos e habilidades que existem entre os irmãos da igreja (Atos 4.32-37)
Identifique quais problemas/desejos a igreja pode tratar com os recursos e habilidades que tem
Identificar as pessoas da igreja que querem engajar-se no Ministério Social (pesquisa em culto
– atos de dedicação)
Faça um culto de comissionamento para os integrantes do ministério social (Atos 6)
OBS não estamos falando aqui de uma diretoria de ONG, mas de líderes de um ministério
dentro da estrutura eclesiástica.
Identifique como membros da comunidade podem participar no desenvolvimento do trabalho
e na busca de soluções, assim fazendo COM, não para ou por (João 5.1-9; Elias e a Viúva)
Priorizar ações…fazendo “DNA das ações do Ministério Social da Igreja”
Planejamento das ações (Lucas 14.28-32) atentando aos três níveis de ação:
Buscar recursos externos se forem necessários (2 Cor 8)
Agir
Avaliação das ações (Mateus 11.1-6; 16.13-20)
Continue realizando estudos bíblicos e pregações que tratam de questões sociais como
elemento permanente no ensino da igreja
3.Processo cíclico:
O trabalho do Ministério Social é um processo cíclico, podendo sempre avaliar, iniciar,
encerrar ou repensar ações e projetos
É importante reservar tempo para pensar, repensar e aprender com outros e com Deus
Pra ajudar a igreja nesse processo existem sites atividades e estudos ricos:
http://tilz.tearfund.org/Portugues/PILARES/Mobilização+da+igreja/
http://tilz.tearfund.org/Portugues/PILARES/Desenvolvendo+as+capacidades+de+grupos+locais/
http://tilz.tearfund.org/Portugues/PILARES/Mobilização+da+comunidade/
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3ª sessão – Teologia da Ação Social II
A. Evangelismo e Ação Social na missão da igreja local
Situando a ação social dentro da ação missionária da igreja, como fizemos na primeira sessão, leva
naturalmente à pergunta: Qual o relacionamento entre a Ação Social e o Evangelismo?
Um dos mais comuns conceitos entre os batistas em relação a isso é que a Ação Social prepara o
terreno para o evangelismo, que é uma ferramenta evangelística. Por exemplo, é comum medir o
sucesso de um projeto social evangélico pelo número de pessoas que se converteram como resultado
dessa ação social. Membros de igrejas até reclamam do desperdício de recursos quando a ação do
ministério social não resulta nestas conversões.
Sem dúvida nenhuma, como vemos no ministério de Jesus, boas obras em favor dos outros podem
estimular as pessoas a louvarem a Deus, e às vezes, como no caso do leproso samaritano, isso é
evidenciada por um “voltar para Jesus”, “uma conversão”. Cristo chama os seus discípulos a serem sal
e luz não somente para iluminar o mundo e salgar a sociedade, mas também para que “as pessoas veem
as boas obras e glorifiquem ao Pai que está nos céus”.
Porém, embora este resultado seja muito desejado, ele não deve ser visto como a única meta da ação
social da igreja. Existem perigos em conceituar a Ação Social como uma ferramenta evangelística. Ao
mesmo tempo a bíblia providencia outros motivos importantes e interessantes para desenvolver ações
sociais com outras intenções, além a de levar as pessoas a Cristo.
1. Perigos em ver a Ação Social como uma ferramenta evangelística:
O primeiro perigo em ver a Ação Social como uma ferramenta evangelística é que essa é uma atitude
que pode parecer, e muitas vezes chega a ser, interesseira. Não é incomum ouvir a reclamação de que
tal igreja só ajuda os pobres para fisgá-los, que de fato os crentes não estão preocupados com as
necessidades e sofrimentos do povo, mas só em agregar mais gente para as sua igreja. Infelizmente,
conversas em algumas reuniões de planejamento de ministério social, das nossas igrejas, só serviriam
para reforçar esta impressão. AZEVEDO escreve sobre a motivação evangelística para envolver-se em
ação social assim: “Por mais nobre que isto parece, não é honesto. Não se deve esquecer que o peixe,
ao ser iscado, perde a sua vida. É isto que se pretende com evangelização: matar as pessoas?” (2005,
p.75).
Ao contrário disso, Jesus cuidava das pessoas, enriquecendo as suas vidas, até sabendo, na sua
sabedoria divina, que não todos os auxiliados, curados ou libertados o seguiriam. Em Lucas 17.11-19
lemos que só um dos dez leprosos curados teve a decência de agradecer a Jesus. Interessante é observar
que o verbo utilizado para a volta à Jesus do leproso samaritano, ύποστρευω, é ligado aos verbetes
usados no NT para voltar-se a Deus, επιστρευω, e a conversão, επιστρουη.13
Jesus alimentou e curou milhares de pessoas, mas ao longo do seu ministério agregou apenas setenta e
tantos seguidores fieis. Se a nossa motivação para praticar Ação Social for só evangelística então
sofreremos muita frustração, mesmo se conseguirmos atingir o mesmo (baixo) índice de „sucesso‟ que
o nosso Senhor!
O segundo perigo de um programa de Ação Social que visa como alvo principal a conversão dos não-
crentes, é que a igreja passa a não preocupar-se com os problemas sociais dos próprios irmãos. Ouve-se
às vezes a reclamação de que os recursos da igreja estão sendo usados para beneficiar os „incrédulos‟,
enquanto irmãos necessitados estão sendo esquecidos, e este fato é utilizado por alguns como um
argumento contra ação social. O que não percebe-se nestes casos é que a ação social que não contempla
as necessidades dos irmãos é fruto da visão de que Ação Social é uma ferramenta evangelística, pois os
irmãos já são salvos, então não precisam mais ser fisgados.
13
THAYER, A Greek English Lexicon of the New Testament (Grand Rapids: Zondervan, sem data
[orig. 1889]) p.243-244; L‟EPLATTENIER, Leitura do Evangelho de Lucas (São Paulo: Edicões
Paulinas, 1993) p.159.
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2. Uma perspectiva diferente
Uma perspectiva diferente sobre o relacionamento entre Evangelismo e Ação Social vem quando
percebemos que evangelizar pode também ser um ato de Ação Social. Isso é porque uma vida
transformada em Cristo pelo perdão dos pecados, e pela ação ré-criativa do Espírito Santo, pode ter um
impacto social tremendo, só pela mudança efetuada na pessoa e na sua comunidade. Vemos isso na vida
de Zaqueu (Lucas 19.1-10). A sua conversão o levou a restituir o que tinha roubado (justiça) e a doar
metade dos seus bens aos pobres (amor). Quando tais pessoas levam a ética do Reino de Deus para
dentro da sua profissão e para a sua prática de cidadania, o efeito na comunidade é multiplicado ainda
mais.
Vemos o impacto social da transformação efetuado pelo Espírito Santo na vida do convertido em
Gálatas 5.13-25. Vemos esse potencial de transformação social ao compararmos as características
pessoais que Paulo considera inapropriadas para aqueles que pertencem a Cristo, com o caráter que ele
considera o fruto de viver pelo Espírito Santo. O comentarista MacGorman divide as “obras da carne”
(19-21) em três categorias: Sexo, Culto e Relacionamentos Sociais; observando que uma vida regida
pelos desejos da carne traz desgraça para a vida familiar, a vida espiritual e os relacionamentos sociais.
Muitos de nós, hoje, podemos testemunhar pessoalmente a esta trágica verdade; testemunhas, e vítimas
(ou às vezes culpados) como somos, da destruição efetuada por bebedeiras, violência e outros males
nas nossas comunidades.
Por outro lado, as qualidades positivas que Paulo denomina “Fruto do Espírito” (22-23) são tão
benéficas para a sociedade, que não existe lei contra elas. Por isso que vale a pena estar constantemente
alerto e preparado para o conflito entre os desejos da carne e do Espírito que existe em nós (17). Assim
poderemos viver o Fruto do Espírito em famílias e comunidades de amor e justiça.
3. Evangelismo e ação social no minsterio da igreja:
Resultado desta reflexão, entendemos que a Ação Social não é uma ferramenta evangelística, mas que o
evangelismo e ações sociais se entrelaçam nos seus motivos e efeitos. São atos de obediência a
diferentes mandamentos bíblicos complementares, que resumem-se no mandamento de amar a Deus e
ao próximo.
Os dois têm efeito salvífico: Evangelismo diz respeito ao resgate do indivíduo do pecado e da sua
transformação. Ação social diz respeito ao resgate e transformação da sociedade dos efeitos do pecado.
As duas ações são requeridas pelo Senhor Jesus dos seus discípulos. Nisso, o discipulado (ministério
que segue naturalmente um evangelismo bem sucedido) deve incluir preparação dos seguidores de
Jesus para se engajarem nestes resgates e transformações sociais. Cada um de nós precisa aprender a
perguntar-se “Eu estou refletindo as características de Deus, de justiça e amor, nas minhas atitudes e
ações?”
Ao mesmo tempo em que boas ações de compaixão e justiça podem trazer pessoas ao Senhor, não fazer
Ação Social pode ser considerado um ato anti-evangelístico, pois muitos são afastados do evangelho
quando não percebem o amor de Cristo na ação dos crentes. O perigo é que deixemos muitas pessoas
morrer sem Cristo, pois estas podem olhar para a igreja, procurando o amor de Deus que tanto
declaramos, e não encontrá-lo.
Não há relação hierárquica entre evangelismo e ação social nas prioridades da missão da igreja, os dois
são imprescindíveis. Necessitamos nas nossas igrejas tanto um evangelismo quanto uma ação social
bem desenvolvidos. Assim, não só almejamos que o indivíduo seja liberto do pecado, mas ainda mais,
que a sociedade seja lberta do pecado e os seus efeitos.
4. e na prática?
São inúmeras as formas que um programa de ação social pode tomar no ministério de uma igreja local,
algumas das quais estudaremos na 4ª sessão. Pensando especificamente na relação entre evangelismo e
ação social, a tabela a seguir sugere algumas maneiras de inserir abordagens espirituais em ações
sociais de estilos diversos.
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A integração de Ação Social com Evangelismo
(SIDER, OLSON e UNRUH, p.107: Traduzido e adaptado por M E Greenwood)
A abordagem evangelística/espiritual em programas de Ação Social Cristã pode ser classificada em cinco tipos, de acordo com a maneira em que a dimensão espiritual for tratada:
Exemplo prático:
1. Tipo Passivo
Quando a dimensão espiritual for: não verbalizada não integrada ao programa não obrigatória
1. O envolvimento da igreja com grupos e associações comunitários 2. Projetos sociais sem conteúdo espiritual, mas que funcionam dentro da igreja
2. Na base do convite
Quando a dimensão espiritual for: Não verbalizada dentro do programa social; Verbalizada, sim, nas outras atividades às quais
as pessoas são convidadas Não integrada ao programa Não obrigatória
1. Convites a estudos bíblicos e cultos oferecidos a beneficiários / participantes de programas sociais
3. Tipo Relacional
Quando a dimensão espiritual for: Não verbalizada dentro do programa social; Verbalizada, sim, em conversas informais com
trabalhadores do programa Não integrada dentro do programa social; Presente em amizades/contato cultivados
propositalmente através do programa Não obrigatória
1. Sala de oração para participantes / beneficiários, com membros da igreja disponíveis para orar com eles 2. Conversas informais pelo espaço do projeto, tomando cafezinho etc, sempre pronto para dar uma explicação da fé que temos (1 Pedro 3.15)
4. Abordagem Integrada-optativa
Quando a dimensão espiritual for: Verbalizada, exceto para clientes do projeto que
expressam o desejo de não participarem em atividades com conteúdo espiritual
Integrada ao programa Não obrigatória
1. Oração durante reuniões de planejamento, onde não-crentes estão presentes na função de participante ou líder de programa. 2. Realizando formaturas para cursos profissionalizantes durante o culto dominical, levando uma mensagem evangelística relacionada de alguma forma com a profissão relevante
5. Abordagem Integrada-obrigatória
Quando a dimensão espiritual for: Verbalizada Integrada Obrigatória
1. Estudos bíblicos com temas relevantes como parte do currículo de cursos profissionalizantes 2. Momentos de ação de graças, com recipientes de cestas básicas na hora da entrega
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B. Ação Social e seus níveis de impacto diferenciados
2 Reis 4.1-7 – reflexão em grupos:
1. Esta passagem estimula algum pensamento em relação a sua experiências de Ação Social?
A importância de valorizar o potencial dos beneficiários; também de engajar as famílias e a
comunidade na busca para uma solução do problema – não agir como “salvador da pátria”.
Se uma pessoa estiver com dificuldades, deve procurar alguém que possa auxiliar, dar
conselho e pistas.
A viúva fez uma reivindicação dentro dos seus direitos.
Ação de Eliseu resumiu-se em direcionar sabiamente a viúva – muitas vezes é só isso que o/a
líder de um trabalho social precisa fazer. (Os milagres de Jesus muitas vezes dependiam da
ação da pessoa beneficiada para terem efeito.14
)
A ação de Eliseu não somente resolveu um problema de momento, mas criou uma
oportunidade para a família não passar pelo mesmo problema futuramente.
2. Três níveis de ação social:
Assistência (auxílio) - ajuda emergencial que ameniza sofrimento
Serviço (oportunidade) - programas que oferecem ferramentas para uma vida digna
Ação (transformação) - ações que combatem problemas sociais sistêmicos
Eliseu evitou uma ação assistencialista, e agiu no nível de serviço social: encorajando a
geração de emprego e renda.
OBS: Os termos como utilizados aqui não correspondem aos conceitos profissionais e jurídicos de
Assistência Social e Serviço Social. Desde 1993, a lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), lei Nº
8.742, de 7 de dezembro de 1993,15
“dispõe sobre a organização da Assistência Social no Brasil”, e
inclui na sua definição de Assistência Social todos os três níveis de ação contemplados
corriqueiramente como distintas nas teologias de Ação Social Cristã; uma diferenciação que originou-
se com o pastor batista, Hélcio Lessa, nos anos sessenta do século passado, no seu livro Ação social
Cristã.
Pela lei brasileira, assistência social são as ações em todos os três níveis, e serviço social é o empenho
das organizações em providenciar essa assistência.
Acredito que devemos modificar os verbetes que utilizamos na teologia cristã para diferenciar entre os
três níveis de ação e os seus impactos, para remover os possíveis conflitos linguísticos e conceituais.
Pois atualmente assistência social no conceito legal e assistência social na literatura cristã funcionam
efetivamente como homônimos. Assim existe o perigo de entender que os programas de assistência do
governo sejam assistencialistas, enquanto, de fato, não todos são.
A minha proposta de mudança de verbete encontra-se nos parêntesis acima.
3. Quais problemas sociais sistêmicos são destacadas por meio desta passagem?
Crédito / dívidas
Escravidão
Falta de previdência adequada
Pessoas ociosas, apesar do seu potencial produtivo
4. Quais ações de Transformação Social poderiam prevenir que uma viúva ficasse em uma situação
parecida hoje?
Pressionar para uma responsabilidade maior por parte de financiadores e cartões de crédito
Programas de orientação na igreja e comunidades sobre orçamento familiar, e o uso
responsável de crédito
14
Ex.: Mateus 12: 13, 14:16-17; Lucas 8:43-44; Marcos 2:2-5; Lucas 8:43-44; João 2:7-9, 5:1-9. 15 Disponível no site: http://www.mds.gov.br/cnas/legislacao/leis/relacao-de-leis/
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Fiscalização maior para que a mão-de-obra obrigatória não possa ser trocada para o
pagamento de dívidas.
Educar sobre a importância de poupança, previdência, e planos funerárias / seguro de vida.
Encorajar grupos de apoio mútuo financeiro entre grupos afins.
Alertar à importância da contratação de mais empregados, em preferência a maior lucro, para
empresas.
Ter responsabilidade em manter os pagamentos de INSS de empregados da igreja e projetos
em dias.
5. Alguns exemplos de como crentes podem agir no nível de Transformação Social:
Conselhos municipais, estaduais e nacionais:
- Meio ambiente (Netinha no Ceará),
- Criança e Adolescente (Rosilene – Minas Gerais)
- outros
Eleições – voto ético e consciente; www.transparência.org
Movimentos e fóruns - Habitação (Ceará)
C. Ação Social com Responsabilidade Social
1. Além de pensar sobre os três níveis de impacto de Ação Social devemos refletir um pouco sobre o
conceito de Responsabilidade Social. O conceito por trás deste termo é o seguinte:
Em tudo que uma organização fizer, ela deve examinar o efeito que tais ações têm no âmbito
social, para verificar se são positivos ou negativos.
2. A igreja e os nossos projetos sociais cristãos são instituições que também devem ser submetidas a
esse quesito:
Escrevendo “às doze tribos que se encontram na Dispersão” (a igreja espalhada pelo império Romano),
Tiago alerta que cristãos devem praticar atos de misericórdia (2.14-17), mas ao mesmo tempo as igrejas
devem evitar preconceito de uma classe social contra a outra (2.1-9) e a exploração de trabalhadores
por patrões carrascos (5.1-4). Nota-se que Tiago estava alertando patrões crentes contra a exploração
dos trabalhadores. Portanto nós também devemos examinar as nossas práticas empregatícias nas nossas
igrejas, em projetos sociais e na vida particular, para certificarmo-nos de que não estamos agindo com
irresponsabilidade social. Malaquias 3.5 e Deuteronômio 24.14-15, também destacam a importância do
povo de Deus agir com responsabilidade social, e alertam às consequências da irresponsabilidade
social.
Existe uma série de perguntas que podemos fazer para verificar se estamos agindo com
responsabilidade social nos projetos e igrejas:
Pagamos o jornaleiro em dia?
Pagamos salários dignos a funcionários de projetos e igrejas?
Cumprimos os direitos sociais dos empregados / pastores [INSS, previdência, etc.]?
Cumprimos os nossos deveres para com os governantes?
Temos lutado egoisticamente nas prefeituras para obtermos terrenos para a construção de
templos enquanto negligenciamos as pessoas sem-teto ou em barracos em nossas cidades?
Os coordenadores dos projetos ganham um ordenado apropriado para pessoas que lutam ao
lado dos financeiramente pobres?
Os nossos investimentos são éticos?
Cuidamos do meio ambiente?
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4ª sessão - Planejando e executando a Ação Social na Igreja II
A. Possíveis Modelos Administrativos para Ministério Social na igreja local
Ministro de Ação Social que forma seu próprio grupo de apoio, ou equipe de trabalho
Conselho/comissão
Diretoria
Pessoa Jurídica distinta, mas estatutariamente ligada à igreja
Além de ter uma equipe de dentro dos modelos acima, o Ministério Social precisará
de voluntários, membros e congregados da igreja, e às vezes técnicos contratados.
A igreja que tiver condições deve considerar remunerar o Ministro de Ação Social
Não importa o modelo adotado, é imprescindível que os responsáveis pelo ministério prestem relatórios
criativos e encorajadores em cultos e relatórios técnicos em sessões administrativas.
Lei do voluntariado: É muito importante seguir as normas da lei nº 9.608 de 18 de fevereiro de 1998.
Todo voluntário deve assinar o termo de voluntário regido por esta lei, e os termos assinados devem ser
guardados junto com os documentos legais da igreja/projeto.
Imprescindível também são momentos de oração a favor do ministério social.
B. Portes diferenciados de Ação Social
1. Não é necessário fundar uma associação ou ONG
Uma questão que dificulta a ação social das igrejas batistas é a percepção de que para fazer ação social
é necessário um projeto estruturado e registrado. Muitas das nossas igrejas são pequenas e
financeiramente limitadas, sem muitos membros experientes na administração de instituições, então
consideram-se incapazes de fazer ação social.
Porém a percepção de que uma associação ou ONG é necessária para ter um trabalho social na igreja é
equívoca. É perfeitamente possível ter um programa com impacto social considerável sem ter a
estrutura de projeto, e sem muitos recursos financeiros. Desde que conste nos estatutos da igreja entre
as atividades principais ações sociais e de assistência social (sendo melhor ainda enumerar um leque
abrangente de possíveis áreas de atuação), um programa de ação social pode ser caracterizado
simplesmente por ações sociais coordenadas pela igreja. Por exemplo:
Capelania prisional e/ou hospitalar
Programas esportivos com reflexões sobre cidadania e espiritualidade
Palestras sobre cidadania e/ou meio ambiente
Orientações sobre finanças e orçamento familiar
2. Igrejas podem agir como núcleos de projetos maiores
Uma possibilidade para uma igreja pequena é vincular-se a um projeto maior e estabelecido, tornando-
se um núcleo daquele projeto e dispensando assim a necessidade de uma estrutura burocrática pesada
no nível local.
Várias igrejas são anfitriãs de cursos de organizações como SENAI, SEBRAE, CDI (cursos de
informática e cidadania).
Pode-se também convidar fóruns comunitários e grupos de auxílio mútuo, como os Alcoólicos
Anônimos, para usarem os espaços da igreja.
Igrejas podem abrir seu espaço para programas do governo e ou prefeituras.
Quando o espaço da igreja é aberto conscientemente a estas organizações, com o acompanhamento da
liderança da igreja, tais parcerias têm um considerável potencial de impacto na comunidade.
Uma outra possibilidade fértil e impactante é promover, com o incentivo ativo do pastor e igreja, o
envolvimento de membros em ONGs e associações já estabelecidas na comunidade; no papel de
voluntário, patrocinador, conselheiro, ou outros.
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3. Considerações importantes sobre associações e ONGs
De acordo com a lei nº 12.101, de 27 de novembro de 200916
, que “dispõe sobre a certificação das
entidades beneficentes de assistência social e regula os procedimentos de isenção de contribuições para
a seguridade social”, existem certas ações de assistência social que requerem certificação pelos
conselhos respectivos à sua atividade principal, para poderem enquadrar-se dentro do SUAS ou SUS
(Sistemas Únicos de Assistência Social e Saúde, respectivamente) que, para o seu funcionamento, é
importantíssimo. Por exemplo, abrigos de idosos ou crianças, que requerem internos encaminhados
pelos poderes públicos, ou escolas, que precisam aderir às normas do Ministério de Educação (MEC).
Entidades certificadas gozam de prioridade (seção III Art.18, §4°) no acesso a verbas e parcerias
governamentais, como também estão em uma posição privilegiada na busca de parcerias no setor
privado. Entidades certificadas também têm isenção de muitos impostos, que é uma vantagem em
relação a entidades sociais não certificadas, porém não em relação à igrejas, que já gozam de isenção
de impostos como “templos de qualquer culto”.
A legislação em relação a estas questões é bastante complexa, então é recomendado que qualquer igreja
praticando ações sociais, consulte advogados e contadores de confiança para verificar se as atividades
estão dentro dos parâmetros legais. Enquanto há legisladores que argumentam, com base na
constituição e da LOAS, que igrejas têm o direito de serem reconhecidas como instituições de
assistência social17
, muitos outros argumentam que não, e não é a prática normal. O entendimento
vigente é que uma igreja, por ser entidade religiosa, deve criar uma ONG juridicamente separada para
qualquer serviço social que queira certificar-se e enquadrar no SUAS ou SUS.
Não obstante, antes de fundar uma associação ou ONG, uma igreja deve considerar os seguintes pontos
importantes:
O estatuto da igreja permite que ela crie outros órgãos para cumprir os seus objetivos?
Os objetivos no estatuto incluem ações de assistência social?
Existem membros suficientes com experiência administrativa para formar uma diretoria e
conselho fiscal (normalmente doze pessoas, mais doze diferentes para o terceiro mandato)?
Vai abrir para pessoas não-membros da igreja para servir na diretoria e conselho fiscal?
Todos os anos haverá de fazer várias declarações junto a órgãos públicos (Prefeitura, Estado e
da União)
Precisa ser diligente no registro e direitos sociais de empregados e voluntários
O estatuto deve ser redigido de maneira tal que a instituição e seu patrimônio, mesmo
independentes, não possam ser desmembrados sem a autorização da assembleia da igreja
Outras questões administrativas, como, por exemplo: observar bem as leis pertinentes a
projetos sociais.
C. Parcerias saudáveis:
Independentemente do porte do seu trabalho social é importante que parcerias com outras organizações
tenham as seguintes características:
Confiança e respeito mútuos entre a igreja e o parceiro
Responsabilidade dos dois lados
O parceiro não ofusca os dons e recursos da igreja local
Transparência na comunicação e prestação de contas entre a igreja e o parceiro
O parceiro têm objetivos centrais compatíveis com o trabalho social da igreja
O parceiro não impede a fé ou testemunho evangelístico da Igreja
[SIDER, OLSON E UNRUH, p. 229-232]
16
Disponível no: http://www.mds.gov.br/cnas/legislacao/leis/relacao-de-leis/ 17 SILVA, Ricardo. “O direito constitucional das organizações religiosas de serem reconhecidas como
instituições de assistência social.” Jus Navigandi, Teresina, ano 14, n. 2185, 25 jun. 2009. Disponível
em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/13044>. Acesso em: 20 nov. 2010.
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Leitura recomendada:
Segue uma lista de obras divididas por temática. Algumas são fáceis para se encontrar ainda em
livrarias ou on-line, outras não tanto. As mais essenciais para a sua leitura estão impressas em negrito.
Encontra-se também muito material no site www.batistas.com , na página de Ação Social, seguindo os
links na coluna “material de apoio”. Além de uma leitura da Filosofia de Ação Social da CBB,
recomendamos especialmente os links “Reflexão Bíblica”, “Manuais Práticos” e “Passo a Passo”.
Reflexão Bíblica Blackburn, Jane (coord.)
Renascer na Esperança (Recife: Diaconia, 2002)
Didaquê A Missão Integral da Igreja: Uma abordagem na perspective do Pacto de
Lausanne (Manhumirim: Didaquê, 2000)
Brasil 500 anos: Desafios sociais à luz da Bíblia
(Belo Horizonte: Manhumirim: Didaquê, 2000)
Sede de Justiça (Manhumirim: Didaquê, 2001)
Vivendo e aprendendo: Provérbios para ontem e para hoje
(Manhumirim: Didaquê, 2002)
Gaede Neto, R.,
Pletsch, R. e
Wegner, U.
Práticas Diaconais: Subsídios Bíblicos
(São Leopoldo: Editora Sinodal/CEBI, 2004)
Grenzer, M. Primeiro e segundo mandamento: Marcos 12:28-34 (São Paulo: Paulinas,
2008)
Lima, D. de S. (ed.)
Atualidades 1998: Temas atuais à luz da Bíblia (Rio de Janeiro: JUERP,
1998)
Peskett, H. e
Ramachandra, V.
A mensagem da Missão: A Gloria de Cristo em todo o tempo e espaço
(São Paulo: ABU Editora, 2005)
Queiroz, C. P.
Eles Herdarão a Terra (Curitiba: Encontro, 19982)
Estudos de caso Andrade, S. e von Sinner,
R. (orgs.)
Diaconia no Contexto Nordestino (São Leopoldo: Editora Sinodal, 2003)
Bobsin, O. (org.)
Desafios Urbanos à Igreja: Estudos de Caso
(São Leopoldo: Editora Sinodal, 1995)
Foster, R Rios de Água Viva (São Paulo: Vida, 2008) [Cápitulo 5, Justiça Social]
Yamamori, T., Myers, B.
L., Padilla, C. R., e Rake,
G. (eds.),
Servindo Com os Pobres na América Latina: Modelos de Ministério
Integral (Belo Horizonte:Descoberta, 199?)
Reflexão teológica Andrade, S. (et. al.) Saúde, Violéncia e Graça: A Missão Integral e os Desafios para a Igreja
(Viçosa: Ultimato, 2003)
Azevedo, I. B. de O que é Missão Integral? (Rio de Janeiro: MK Editora, 2005)
Bernardo, S. e
Moraes, L. P. de L.
Ação Social da Igreja de Cristo. (Rio de Janeiro: JUERP, 1998)
Seminário Temático: Teologia de Ação Social pela Igreja Cristã STBE – Belém: 22 a 24 de novembro 2010
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Brito, P. R. b. de, e
Mazzoni-Viveiros, S. C.
(orgs)
Missão Integral: Ecologia e Sociedade (São Paulo: A Rocha Brasil, 2006)
Comblin, J.
Pastoral Urbano: O dinamismo na evangelização (Petrópolis: Vozes, 1999)
Jones, J.
Jesus e a Terra: a ética ambiental nos evangelhos (Viçosa: Ultimato, 2008)
Kirk, J. A, O Que é Missão? (Belo Horizonte: Descoberta, 2006)
Leite, A. C. L.,
Carvalho, G. V. R. de and
Cunha, M. J. S (orgs.)
Cosmovisão Cristã e Transformação (Viçosa: Ultimato, 2006)
Lessa, H da Silva
Ação Social Cristã (Guanabara: Movimento “Diretriz Evangélica”, sem data)
Linthicum, R. C. A Transformação da cidade (Belo Horizonte: Missão Editora, 1990)
Revitalizando a Igreja (São Paulo: Bom Pastor, 1996)
Monteiro, M. (et al.)
Pastoral Urbana: A co-responsabilidade das igrejas no Nordeste
(Viçosa: Ultimato, 2002)
Padilla, C. R.
Economía humana y economía del Reino de Dios (Kairos: Buenos Aires,
2002)
Missão Integral: Ensaios sobre o Reino e a Igreja
(São Paulo: FTL-B/Temática, 1992)
O que é Missão Integral? (Viçosa: Ultimato, 2009)
Queiroz, C. P.
“Evangelização e responsabilidade social, 30 anos depois” in Evangelização e
Responsabilidade Social
(São Paulo: ABU Editora; Belo Horizonte: Visão Mundial, 20042) 15-38
Sócio-político Cavalcante, R. Cristianismo e Política (Viçosa: Ultimato, 2002)
DaMatta, R. O que faz o brasil Brasil? (Rio de Janeiro: Rocco, 1984)
Freire, P.
Pedagogia da Esperança: Um reencontro com a Pedagogia do oprimido
(São Paulo: Paz e Terra, 19996)
Pedagogia do Oprimido (Rio de Janeiro: Paz e Terra, 200540
)
Freston, P. Religião e Política, sim –Igreja e Estado, não (Viçosa, MG: Ultimato,
2006)
Freyre, G. Homens, engenharias e rumos sociais (Rio de Janeiro: Record, 1987)
Manuais práticos Andreola, B. A. Dinâmica de Grupo: Jogo da vida e didática do futuro Petropolis: Vozes,
2003)
Barbosa, A. Oficinas para Crianças, adolescentes e jovens: socializando experiências
(Recife: Diaconia, 2004)
Seminário Temático: Teologia de Ação Social pela Igreja Cristã STBE – Belém: 22 a 24 de novembro 2010
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Carter, I. M., Mobilização da Igreja. (Teddington: Tearfund, 2004) disponível no site:
http://tilz.tearfund.org
Chappell, C. F Ministério Comuntário Cristão (Rio de Janeiro: UFMBB, 1991)
Lopes, A. V. K. Saber Viver: Um curso de qualidade de vida para mulheres (Rio de Janeiro,
[s. N.], 2007) [veja www.clickfamilia.org.br ]
Ministerios Comunitarios Iglesia, Comunidad y Cambio (Buenos Aires: Kairos, 2002) [Três manuais –
de Actividades, del Coordinador, del Facilitador]
Obras que abrangem todas as áreas acima: MYERS, Bryant Caminando con los pobres: Principios y Prácticas de Desarrollo de
transformación (USA: Orbis Books, 1999)
Sider, R. J.,
Olson P. N.and
Unruh, H. R.
Churches that make a difference: Reaching your community with Good News
and Good Works (Grand Rapids: Baker, 2002)