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Ncleo Serasa de Inovao em Servios Fundao Dom Cabral

SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL:Parcerias, Alianas e Inovaes

SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL: Parcerias, Alianas e Inovaes

Ncleo Serasa de Inovao em Servios

Coordenador do Ncleo Serasa de Inovao em Servios Carlos Arruda Organizador do livro Carlos Anibal Nogueira Costa Pesquisadora Snior Rosilia Milagres Pesquisadora Associada Hrica Righi Projeto grfico e reviso de texto Clula de Edio de Documentos (CED) Assessoria editorial Teresa Goulart Superviso de editorao Jos Ricardo Ozlio Impresso Fundao Dom Cabral

Sistema financeiro nacional: parcerias, alianas e inovaes / Carlos Anibal Nogueira Costa / Rosilia Milagres, Hrica Righi, Nova Lima: Fundao Dom Cabral: Ncleo Serasa de Inovao em Servios, 2007. 230 p. 1. Sistema Financeiro Nacional. 2. Parcerias. 3. Inovaes. I. Costa, Carlos Anbal Nogueira. II.Milagres, Rosilia. III. Righi, Hrica. IV. Ttulo.

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Sumrio

Apresentao .......................................................................................................................... 9 Dinmica, regulao, produtos e servios ........................................................................ 19 Fundamentos da dinmica do sistema financeiro ................................................. 20 Poltica monetria e gesto dos bancos ................................................................. 26 Produtos e servios financeiros ............................................................................... 30 Tendncias internacionais ................................................................................................... 41 Inovao no setor financeiro .............................................................................................. 45 Tendncias gerais da inovao em produtos e servios financeiros .................. 49 A importncia e o papel da cooperao entre bancos e outras instituies ..... 51 Conceitos e terminologia de parcerias, alianas e inovaes ............................. 55 Principais vises tericas de parcerias, alianas e inovaes ....................................... 63 A teoria evolucionria ................................................................................................ 65 Vises complementares ............................................................................................ 68 A teoria dos custos de transao ............................................................................ 70 Motivaes e objetivos para parcerias, alianas e inovaes ....................................... 77 As teorias e as entrevistas ....................................................................................... 81

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Parcerias e capital social ........................................................................................................ 83 A gesto das parcerias e alianas ......................................................................................... 89 Evoluo recente e estrutura organizacional do sistema financeiro nacional ................ 99 A reestruturao bancria ......................................................................................... 101 Tecnologia, setor de servios e sistema financeiro nacional .......................................... 115 Tecnologia e setor de servios .................................................................................. 117 Tecnologia no sistema financeiro ............................................................................. 120 Indicadores bancrios quantitativos de tecnologia ............................................... 125 Correspondentes bancrios ....................................................................................... 137 Concluses e Tendncias .................................................................................................... 145 Parcerias, alianas e custos de transao ............................................................. 153 Referncias ........................................................................................................................... 155 Anexos ..................................................................................................................................... 165 Anexo 1 Resoluo 2.707 ............................................................................................... 167 Resoluo 3.110 ............................................................................................... 171 Anexo 2 Relatrio da pesquisa qualitativa ..................................................................... 174

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Agradecimentos Serasa, que, atravs de seu Presidente, Sr. lcio Anbal de Lucca, e de seu Diretor de Desenvolvimento Humano e Organizacional, Milton Luis F. Pereira, vem concedendo todo apoio e respeito - pessoal e institucional ao carter tcnico e cientfico dos trabalhos do Ncleo Serasa de Inovao em Servios da Fundao Dom Cabral. Ao Sr. lcio Trajano, Sr. Fernando Cosenza Arajo e Sra. Elizabeth Vargas, executivos e tcnicos da Serasa, que, atravs de contatos e reunies peridicas com a equipe do Ncleo Serasa, vm prestando ampla assistncia ao bom andamento dos trabalhos, inclusive com sugestes tcnicas / executivas. A Rijane MontAlverne, gerente de recursos humanos da FDC, pelo esforo e amparo na busca de solues das demandas e necessidades de infra-estrutura da pesquisa. A Cludia Vasseur, coordenadora executiva, e Natalcia Arruda, auxiliar administrativa, ambas da FDC, pelo suporte logstico aos trabalhos da pesquisa. A Ricardo Siqueira, assessor de relaes institucionais da FDC; a Lorena Vasconcelos, assistente de comunicao da FDC, e a Andreoli MS&L, pelo apoio divulgao dos resultados da pesquisa. A Teresa Goulart, assessora de imprensa e editorao da FDC, pela cooperao reviso, edio e publicao dos trabalhos da pesquisa. A Jos Ricardo Ozlio, supervisor de edio de documentos da FDC, e a Dayse Lcia Mendes, revisora de textos da FDC, pela disponibilidade e dedicao edio deste livro. A Hrica Righi, mestranda em poltica cientfica e tecnolgica na Unicamp, pelo timo trabalho executivo, tcnico e cientfico como pesquisadora do Ncleo Serasa na 1 etapa da pesquisa, em 2006. A Vanessa Parreiras, pesquisadora associada, por sua contribuio com sugestes tcnicas.

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Prefcio

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ApresentaoCarlos Anbal Nogueira Costa Este livro uma publicao do Ncleo Serasa de Inovao em Servios da Fundao Dom Cabral1. O Ncleo Serasa fruto de uma parceria entre a Fundao Dom Cabral e a Serasa, visando, entre outros objetivos:

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contribuir para o desenvolvimento econmico e social nacional, atravs da produo e divulgao de pesquisas, estudos e artigos, e para a realizao de seminrios e reunies, visando disseminar conhecimentos e inovaes no setor de servios; desenvolver, sistematizar e difundir ferramentas de gesto de inovaes no setor de servios.

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O livro, propriamente, apresenta a sntese dos estudos e pesquisas realizadas, em 2006, na 1 etapa do projeto de pesquisa "Sistema Financeiro Nacional: Parcerias, Alianas e Inovaes", cujo propsito maior investigar, analisar e relatar os processos de formao e de desenvolvimento de parcerias e alianas no sistema financeiro brasileiro, especialmente as ligadas a processos de gerao e transferncia de inovaes2. Essa fase do trabalho do Ncleo Serasa est se concentrando em estudos no segmento dos bancos. So tratados os seguintes temas:1 Os textos foram escritos com dados disponveis at novembro de 2006. 2

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Descrio, breve, do perfil do sistema financeiro nacional. Entendimento terico, conceitual e analtico das parcerias e alianas no setor financeiro.

Nesse trabalho, inovaes so consideradas: novos produtos, servios, processos de "produo" e formas organizacionais.

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Levantamento das principais tendncias internacionais das parcerias e alianas no setor financeiro, sobretudo as relacionadas a processos de gerao e transferncia de inovaes. Relato e anlise de vises e opinies de executivos do sistema financeiro sobre parcerias e alianas no setor bancrio, com ateno especial quelas que ocasionam processos de gerao e transferncia de inovaes. Descrio das motivaes e razes que levam o sistema financeiro / bancrio a desenvolver e implementar parcerias e alianas. Identificao e anlise dos estmulos e obstculos institucionais constituio de parcerias e alianas e gerao e tranferncia de inovaes. As relaes entre tecnologia e sistema financeiro e os indicadores quantitativos de tecnologia bancria.

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J a 2 etapa do projeto, que est sendo realizada em 2007, faz estudos de casos sobre parcerias e alianas em bancos especficos. Os resultados sero publicados em 2008. Os objetos desta pesquisa, que, naturalmente, tambm coincidem com os do Ncleo Serasa, foram escolhidos a partir de trs expressivas e marcantes tendncias na economia mundial:

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A elevao sucessiva da participao do setor de servios na economia. A importncia cada vez maior do sistema financeiro como fora de dinamismo e de influncia sobre o movimento cclico da economia. A crescente relevncia da cooperao entre as empresas e entre essas e instituies em geral enquanto instrumento de gesto de empresas e do setor pblico e de desenvolvimento de inovaes.

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Apesar desse movimento, h uma escassez de estudos sobre processos cooperativos e gerao e transferncia de inovaes no setor de servios e financeiro. A literatura especializada apresenta uma longa tradio em estudos nos setores industrial e agrcola, mas negligencia, em grande medida, o setor de servios. Assim, as tendncias citadas ainda no provocaram o surgimento de um campo de pesquisa especializado e dedicado ao estudo da dinmica do setor de servios, particularmente da gesto dos bancos. Em geral, os bancos so analisados do ponto de vista da poltica monetria, da regulao do Banco Central e de sua influncia sobre os ciclos econmicos. Nesse sentido, cabe ainda destacar que predomina, principalmente no Brasil, a viso de que a rentabilidade do sistema financeiro apenas resultado das altas taxas de juros, havendo pouca visibilidade sobre o papel da gesto e das inovaes, em geral, no alcance de sua lucratividade. Essa iniciativa do Ncleo Serasa tambm reflete uma mudana na postura da literatura econmica, que, at meados da dcada de 1980, considerava o setor de servios pouco importante do ponto de vista de gerao de riqueza, de produtividade e de inovaes tecnolgicas. Por exemplo, no Brasil, a Pesquisa Industrial de Inovao Tecnolgica (Pintec) do IBGE, que o mais abrangente levantamento sobre a atividade de inovao tecnolgica do Brasil, como o prprio nome indica, no inclui o setor de servios em suas pesquisas. O Relatrio Setorial sobre Automao Bancria, elaborado pela Finep (2003, p.1), reconhece essa deficincia: "(...) tivemos grande dificuldade de identificar estudos realizados sobre este segmento para o caso brasileiro" Se, por um lado, isso se apresenta como uma dificuldade, por outro, abre uma oportunidade, desafio e incentivo para a pesquisa. Portanto, apesar da fundamental e crescente importncia do setor de servios e financeiro na sociedade e economia contempornea,

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h uma carncia - no Brasil e no mundo - de estudos sobre parcerias, alianas e redes interorganizacionais nesses setores. Com base nessa face ainda relativamente desconhecida e pouco sistematizada do sistema financeiro, as seguintes questes esto direcionando o projeto:

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A tendncia de parcerias e alianas tambm se verifica no setor financeiro? Por que os bancos constituem ou no parcerias e alianas? Quais tipos de parcerias e alianas so mais relevantes? Como a gesto das parcerias e alianas?

Desse modo, os resultados da presente pesquisa pretendem contribuir para a divulgao de informaes e anlises sobre a dinmica real do sistema financeiro nacional, particularmente no que toca a parcerias, alianas e inovaes.

A MetodologiaO projeto parte da hiptese de que h quatro motivaes bsicas no setor financeiro, que interagem no processo de deciso de estruturao de parcerias e alianas e de investimentos na gerao e transferncia de inovaes:

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A manuteno ou a busca de maior espao no mercado diante da concorrncia. A oferta de atrativos aos clientes, seja no sentido de custos seja em termos de confiana, credibilidade, comodidade, agilidade, flexibilidade, segurana e de novas opes de produtos e servios.

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A reduo dos custos internos e da complexidade da gesto operacional e pessoal, como fora de trabalho, imveis, mquinas e equipamentos, manuteno, programas de computao, telecomunicaes, fraudes, especialmente as de origem eletrnica, etc. O cumprimento das regulaes e normas estabelecidas pelo Banco Central do Brasil e por instituies internacionais.

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Em funo da limitao da disponibilidade de literatura acadmica sobre gesto bancria, particularmente no que toca a parcerias, alianas, redes e processos de gerao e transferncia de inovaes, dada uma ateno especial pesquisa exploratria e investigao atravs de averiguaes diretas junto ao sistema bancrio. Quatro formas de pesquisa esto sendo predominantes:

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Reviso da literatura especializada e jornalstica sobre o tema. Pesquisa qualitativa, adotando-se a tcnica de entrevista em profundidade com executivos do setor financeiro. Reunies com representantes, inclusive institucionais, de bancos. Estudos de casos atravs de pesquisa de campo, de reunies com gestores e funcionrios dos bancos e parceiros, com o objetivo de se compreender, entre outros aspectos, as motivaes, as formas de operao, as aplicaes prticas e os resultados do estabelecimento de parcerias e alianas (2 etapa).

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Ento, com base nas pesquisas de campo, bibliogrfica e qualitativa, possvel traar um quadro sobre os principais fatores e estmulos que levam bancos a formarem parcerias e alianas e implementarem inovaes e as respectivas caractersticas de sua gesto, entre outros pontos.

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Para dar maior liberdade aos membros da equipe, todos os textos da pesquisa e os captulos do livro so assinados pelos respectivos autores.

Inovaes e ConceitosEm relao a inovaes, esta pesquisa fez a opo de assumir as diversas faces dos conceitos expostos pelo glossrio da Finep (www.finep.gov.br), j que eles formam um conjunto coerente. Alm disso, a adoo de um espectro amplo de conceitos tem todo o sentido, medida que inovaes abarcam vrias reas de conhecimentos e de atuao empresarial e pblica. A seguir, apresentam-se os conceitos de inovaes.

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Inovao - a introduo, com xito, no mercado, de produtos, servios, processos, mtodos e sistemas que no existiam anteriormente, ou com alguma caracterstica nova e diferente do padro em vigor. Compreende diversas atividades cientficas, tecnolgicas, organizacionais, financeiras, comerciais e mercadolgicas. A exigncia mnima que o produto / servio / processo / mtodo / sistema inovador deva ser novo ou substancialmente melhorado para a empresa em relao aos seus competidores (Polticas Operacionais FINEP). Inov Tecnolgica Inov ao Tecnolgica - definida pela introduo no mercado de um produto (bem ou servio) tecnologicamente novo ou substancialmente aprimorado ou de um processo produtivo tecnologicamente novo ou substancialmente aprimorada na empresa. Inovaes Financeiras - So definidas como oferta de novos produtos ou servios, abertura de novos mercados e introduo de novos processos e formas de gesto no setor.

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Inov Produt odutos Processos Tecnolgicos Ino v ao de Pr odut os e Pr ocessos Tecnolgicos (PPT) - Compreende as implantaes de produtos e processos tecnologicamente novos e substanciais melhorias tecnolgicas em produtos e processos. Uma inovao PPT considerada implantada se tiver sido introduzida no mercado (inovao de produto) ou usada no processo de produo (inovao de processo). Uma inovao PPT envolve uma srie de atividades cientficas, tecnolgicas, organizacionais, financeiras e comerciais. Uma empresa inovadora em PPT uma empresa que tenha implantado produtos ou processos tecnologicamente novos ou com substancial tecnolgica durante o perodo em anlise. A exigncia mnima de que o produto ou processo seja novo (ou substancialmente melhorado) para a empresa (no precisa ser novo no mundo). Esto includas inovaes relacionadas com atividades primrias e secundrias, bem como inovaes de processos em atividades similares. (OECD. Oslo Manual. Paris, OCDE/Eurostat, 1997, cap.3. p. 47) Inovao Gerencial e Organizacional Compreende a introduo de estruturas organizacionais substancialmente modificadas; a implementao de tcnicas avanadas de gesto, bem como a implementao de orientao estratgica corporativa nova ou substancialmente modificada. (OECD, Oslo Manual, 1997, p. 54.)

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Os CaptulosO livro est dividido, alm dessa Apresentao, em 10 captulos e um anexo. Os captulos tratam dos seguintes assuntos:

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Dinmica, Regulao, Produtos e Servios Financeiros - O papel do sistema financeiro na economia e das relaes entre a gesto dos bancos - e a caracterstica destes e poder de criarem moeda - com a regulao bancria e a poltica monetria. Alm disso, o captulo registra um perfil da heterogeneidade e complexidade dos produtos e servios oferecidos pelos bancos ao mercado. Internacionais Tendncias Internacionais - Os indicadores internacionais da inovao em servios financeiros e um levantamento geral sobre inovaes de produtos e servios, particularmente no que toca colaborao no setor. O captulo salienta ainda a importncia da cooperao no sistema financeiro. Conceitos Terminologia Par arcerias, Conceit os e Terminologia de P ar cerias, Alianas e Inovaes - Conceitos de redes, parcerias, alianas e inovaes, definidos por alguns dos especialistas mais reconhecidos na literatura acadmica internacional nessa rea de estudo. Tericas Par arcerias, Principais Vises Tericas de P ar cerias, Alianas e Inovaes - Elementos conceituais bsicos das principais correntes tericas sobre redes, alianas e parcerias e o comportamento das firmas nesse contexto. A opo, nessa pesquisa, foi pelos marcos tericos da Teoria Evolucionria e da Teoria dos Custos de Transao. Motivaes e Objetivos para Parcerias, Alianas e Inov Inovaes - De acordo com a Teoria Evolucionria e a Teoria dos Custos de Transao, so expostos conceitos, crticas, motivaes e razes para o estabelecimento / trmino e para o sucesso / fracasso das parcerias etc. O captulo relaciona tambm essas teorias e as entrevistas em profundidade realizadas para o relatrio da pesquisa qualitativa (Anexo 2).

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Parcerias e Capital Social - Conceitos de capital social e suas relaes com a formatao e o desenvolvimento de parcerias e alianas. A Gesto das Parcerias e Alianas - Relato, comentrio e anlise das mais importantes formas, caractersticas, instrumentos, desafios, dificuldades etc. da gesto de parcerias e alianas pelas empresas de acordo com as principais vises tericas sobre essa questo. Evoluo Recente e Estrutura Organizacional do Sistema Financeiro - Movimento e mudanas no perfil do sistema bancrio nacional nessa ltima dcada e suas influncias sobre a gesto e inovaes bancrias, a partir de indicadores qualitativos e quantitativos. Set Sistema Financeiro Tecnologia, Se t or de Ser vios e Sist ema Financeir o Nacional - Anlise das relaes entre a tecnologia e o setor de servios, particularmente com o sistema financeiro e suas respectivas caractersticas e, ainda, os principais indicadores quantitativos das inovaes tecnolgicas bancrias no Brasil. Tendncias e Concluses - As mais provveis grandes tendncias do sistema financeiro nacional e das parcerias, alianas e inovaes no setor bancrio, a partir das perspectivas mais plausveis da economia brasileira. Anexo 2 - Relatrio da Pesquisa Qualitativa Entrevistas em profundidade com 21 executivos de 16 bancos nacionais e estrangeiros, privados e pblicos e de pequeno, mdio e grande portes. O texto faz um relato e uma anlise dos resultados das entrevistas sobre conceitos, formatos, o papel do Banco Central, as razes e motivaes, a formao, o desenvolvimento e as tendncias das parcerias, alianas e inovaes no setor bancrio brasileiro.

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Dinmica, Regulao, Produtos e Servios Financeiros

Carlos Anbal Nogueira Costa

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Fundamentos da dinmica do sistema financeiroO dinamismo de uma economia est relacionado diretamente capacidade do sistema financeiro de centralizar, canalizar e adiantar recursos para a sociedade investir e consumir. H variados fatores interligados que criam as condies para o desenvolvimento econmico, tecnolgico e social, mas o poder dos bancos de criar moeda e a existncia de um sistema de intermediao de excedentes econmicos na forma financeira e de crdito esto entre os mais importantes (HILFERDING, 1985). So essas funcionalidades, especficas do sistema financeiro, que permitem s empresas e aos consumidores prescindirem, em parte, de poupana prpria e prvia para investir em seus respectivos negcios e em novos empreendimentos ou comprar mercadorias. Sem essa condio, o desenvolvimento mundial estaria num estgio muito anterior ao que se encontra, pois precisaria de se esperar pela acumulao fsica de excedentes econmicos para que se pudesse realizar investimentos e o consumo pessoal acima da mera reposio do desgaste (KEYNES, 1982). Mas, da mesma forma que o setor financeiro absolutamente essencial para impulsionar a economia, ele pode potencializar eventuais instabilidades e crises econmicas cclicas. Se amplos segmentos de devedores perdem a condio de honrar seus compromissos junto ao setor financeiro em razo de uma incapacidade estrutural de pagamento, os bancos deixam de ter capacidade de realizar emprstimos como antes, particularmente durante fases de crises cambiais (KRUGMAN, Paul, 2001). Alguns bancos podem ficar sem condies at mesmo de honrar obrigaes junto a clientes e credores. Essa instabilidade pode se tornar mais aguda em razo de boa parte de os ativos dados como garantias bancrias se desvalorizar e das dificuldades de transform-las em liquidez imediata.

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Em suma, como o arco de negcios do sistema financeiro abarca todos os segmentos econmicos e sociais e boa parte dos credores dos bancos composta pelos prprios concorrentes e pelas instituies financeiras em geral (seguradoras, fundos de penso etc.), uma forte instabilidade no setor pode detonar uma crise sistmica sobre toda a economia. Desse modo, os efeitos multiplicadores negativos criam um crculo vicioso de deteriorao das condies econmicas e sociais.

Regulao e Gesto BancriaPara evitar o desencadeamento desse processo desintegrador da economia, o BC vem assumindo, mais ativamente, o papel de regulador e fiscalizador da gesto bancria e de "emprestador de ltima instncia". (MINSKY, 1986) Posto esse quadro, a atividade financeira pressupe ampla liquidez, confiana e credibilidade das instituies bancrias e de suas congneres. A capacidade de criar moeda, a guarda de valores monetrios, a venda de ttulos, a intermediao financeira e a assessoria a negcios diversos, entre outros aspectos, implicam a necessidade de uma gesto dos negcios e de uma conduta institucional, legal e tica rigorosa por parte do sistema financeiro. Mas a particularidade mais especial dos bancos - a capacidade de criar moeda - que o ponto nevrlgico do sistema financeiro. Em razo de poder utilizar os depsitos vista para alavancar a concesso de crdito a pessoas fsicas e jurdicas, o banco tem a condio de multiplicar a moeda em circulao e de ampliar a concesso de financiamento muito acima do volume de capital prprio, dos ttulos prprios vendidos no mercado e dos recursos disponveis, nominalmente, na conta de depsitos vista. Em funo dessas caractersticas apontadas, o sistema financeiro objeto de forte controle e regulao pelas autoridades monetrias. H uma srie de leis, regras e normas que o setor

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deve seguir rigidamente, o que impe uma gesto administrativa e contbil com menor nvel de liberdade do que em outros segmentos. No Brasil, fora a fiscalizao padro da Receita Federal, aprofundada por conta da CPMF, auditorias independentes permanentes e exigncias de prestaes de contas, fiscalizaes e auditorias - contnuas ou intempestivas por parte do BC - fazem parte da rotina bancria (Manual de Superviso, 2006. Disponvel em: ). No que toca aos crditos, por exemplo, os bancos devem seguir os limites de risco impostos pelo BC. Quanto mais arriscados forem os emprstimos, maior a exigncia de capital prprio, com o objetivo tanto de desestimular a concesso de crditos de alto risco quanto para incentivar os bancos a adotarem um comportamento prudente na anlise de crdito (Relatrios de Estabilidade Financeira, Diversos, 2002 a 2006. Disponvel em: ). Todavia, a regulao no se d apenas em nvel nacional. O conjunto das caractersticas intrnsecas ao setor tornou imprescindvel o controle sobre o sistema financeiro tambm em plano internacional, especialmente aps a flexibilizao e liberao do cmbio, da globalizao, das novas facilidades de investir em mercados internacionais e das grandes crises financeiras globais de 1971/73, 1979/82, 1991/92 e 1997/98. Como resposta a essas questes e problemas, instituies internacionais, como o FMI e o BIS, esto estimulando, recorrentemente, a implementao de medidas de comportamento mais prudente pelo setor financeiro em todo o mundo. Os Acordos I e II de Basilia, deliberados pelo Comit da Basilia (representantes dos BCs da Frana, Blgica, Canad, Alemanha, Japo, Reino Unido, EUA, Luxemburgo, Itlia, Espanha, Sua, Holanda e Sucia), so exemplos dos cuidados crescentes sobre a sade financeira mundial por meio do incentivo ao estabelecimento de regras preventivas e mais rigorosas para amenizar os riscos inerentes atividade bancria (Princpios da Basilia. Disponvel em: )

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Com a execuo de sistemas de controle de riscos mais cautelosos, o BC evita que a economia se acelere sobremaneira atravs da oferta indiscriminada de crdito. Afinal, os bancos, como as empresas em geral, tambm querem aproveitar a expanso econmica e vender seu principal produto, que o crdito. O problema que pode ocorrer, como j aconteceu diversas vezes na histria econmica, uma oferta de crdito sem a devida anlise de risco e cuidado sobre a capacidade de pagamento dos respectivos devedores. Esses podem, em certas conjunturas, perder a condio financeira de honrar seus compromissos. Se esse processo alcana, simultaneamente, diversos segmentos econmicos, a economia passa a ser ameaada por uma crise sistmica, em funo de uma tomada de crdito no passado que se mostra, no presente, acima das condies concretas e objetivas da realizao de vendas de bens e servios e de lucros de muitas empresas. A partir desses instrumentos de monitoramento, controle e transparncia, os BCs podem, de acordo com as especificidades de suas respectivas economias e de seus mercados financeiros, agir com maior eficcia e eficincia para executar suas estratgias e atingir seus objetivos, procurando sempre estimular um sistema de crdito mais dinmico e, ao mesmo tempo, seguro. A idia que a liberdade de se lanar inovaes financeiras seja estimulada, porm de forma sustentvel. Mas no apenas aos BCs que interessa a fixao e difuso das normas universais indicadas pelo Acordo da Basilia. Com maior acesso a informaes sobre as operaes e a contabilidade dos bancos, os mercados de ttulos financeiros podem premiar os mais seguros e confiveis, atravs da aceitao de juros menores, e penalizar os com gesto mais temerria, atravs da cobrana de remuneraes mais altas. De forma anloga, ocorre o mesmo com os acionistas dos bancos, pois os que conseguem aliar transparncia, prudncia e lucratividade tm suas aes valorizadas ao longo do tempo e se mantm mais competitivos (Cartilha de Governana Corporativa, 2002. Disponvel em: ).

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Para cumprir as normas e regras impostas pela regulamentao do BC, os bancos tm de, obrigatoriamente, contar com sistemas de inteligncia com forte contedo de tecnologia da informao (Fiscalizao - Relatrio de 8 Anos, ). O BC, inclusive, exige que os sistemas computacionais dos bancos atendam a uma srie de requisitos de segurana, agilidade e armanezamento de dados. As anlises de crdito tambm esto sendo mais rigorosas em razo do maior controle e fiscalizao do BC. Na busca de reduo da inadimplncia, os bancos tm se valido de softwares que possam combinar diversas variveis para se calcular os riscos e a as taxas de juros mais adequadas aos variados tipos de clientes e mercado e de suas respectivas histrias. Alm disso, usam parceiros especializados para ajudar na gesto do risco, de tal sorte que haja uma articulao entre os interesses dos bancos e o cumprimento da regulamentao. Portanto, nesse cenrio de risco e regulao das atividades financeiras que devem ser estruturadas as parcerias, alianas e inovaes. O caminho na busca da reduo dos custos e do aumento da produtividade, eficincia e qualidade no livre. H restries normativas, legislativas e tributrias. H o comportamento do mercado e da concorrncia. E h as exigncias dos clientes.

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Poltica Monetria e Gesto dos BancosO sistema financeiro nacional ainda sujeito a outros tipos de regulao, to ou mais importantes para sua gesto quanto o controle institucional pelo BC (COSTA, 1999):

da poltica monetria, atravs do uso da taxa de juros bsica da economia e de outros instrumentos, como o nvel de depsitos compulsrios e da tributao; da poltica financeira, atravs do direcionamento obrigatrio de parte dos depsitos vista para crditos com teto prefixado das taxas de juros para determinadas reas, como microcrdito, agricultura e habitao.

Ento, talvez mais do que em muitos outros segmentos econmicos, a diferena entre custos e receitas indeterminada a priori. Antes de tudo, pela volatilidade da inflao, que pode ser maior ou menor do que se esperava por ocasio das decises dos preos dos produtos e servios bancrios, especialmente quando so prefixados, tanto na ponta da "venda" quanto na da "compra de dinheiro". Mas h ainda a influncia exgena da taxa de juros bsica da economia, estabelecida pela poltica monetria, que tambm est relacionada diretamente ao comportamento da inflao. Quando h presses inflacionrias, o padro que o BC eleve as taxas de juros, fazendo com que os custos das captaes novas para os bancos se elevem, ocorrendo o movimento inverso quando h presses deflacionrias. Outra influncia a do cmbio, que interfere nos custos das captaes externas, tanto na hora de transformar a moeda externa em nacional, quanto no movimento inverso por ocasio do pagamento dos crditos.

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Como parte do crdito antigo concedido baseada em novas captaes, essas podem ter custos maiores ou menores em decorrncia da trajetria ascendente ou descendente da taxa de juros bsica do cmbio. Como decorrncia, podem ocorrer maiores ou menores descasamentos entre os custos de "compra de dinheiro novo" e "de venda de dinheiro velho" pelos bancos. Isso pode resultar em maiores ou menores lucros para uma parcela ou at mesmo para a totalidade dos bancos. No caso de queda dos lucros, dependendo de sua magnitude, pode elevar a desconfiana em relao sade financeira dos bancos mais atingidos e, conseqentemente, ao aumento de seus custos de captao e desvalorizao de suas aes. Se esse processo de descasamento entre as receitas dos ativos e os custos das despesas com os passivos for muito acentuada e disseminada, pode haver ameaas de risco sistmico e de aprofundamento da instabilidade econmica. Portanto, como as polticas monetria e financeira moldam os custos e as receitas dos bancos, elas influenciam diretamente sua gesto. Todas as decises de negcios, de estrutura de custos, de investimentos, de oferta de produtos e de servios dos bancos, a exemplo das demais atividades empresariais, passam pelos preos relativos, pela margem de lucro e pelo custo / benefcio e de oportunidade. Nos bancos, como h custos que no esto sob seu controle em funo da regulamentao e das referncias de juros fixadas pelo BC, a busca de reduo de custos e a elevao das receitas mais acentuada nas reas que detm maior soberania. Em sntese, os bancos tm autonomia relativa para dominar o custo administrativo, o portflio de negcios e com quem deve manter relaes financeiras e comerciais. Mas o BC tem autonomia, tambm relativa, para estabelecer as polticas monetria e financeira, atravs da taxa de juros bsica, dos nveis dos depsitos compulsrios, de parte dos tributos financeiros, de medidas de regulamentao etc.

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Ento, os bancos no conseguem prever e controlar uma srie de custos importantes e de fatores que influenciam a dinmica econmica geral e a sade financeira de seus clientes. O motivo que esses aspectos esto relacionados evoluo das polticas pblica e econmica, estrutura tributria, ao nvel de atividades de setores econmicos especficos etc. Alm disso, os bancos, particularmente no Brasil, enfrentam uma expressiva insegurana jurdica em funo da lentido e dos conflitos nas interpretaes da legislao nas diversas instncias e entre os juzes do sistema judicirio, por exemplo: a execuo das garantias dos devedores inadimplentes e a constitucionalidade de certos impostos so permanentemente cercadas por forte incerteza. Assim, tanto para seguir a regulao do BC, quanto para se manterem lucrativos, os bancos precisam utilizar avanados instrumentos de gesto, como parcerias, alianas e inovaes tecnolgicas e financeiras, visando, entre outros aspectos, a reduo dos custos, aumento do mercado, fidelidade dos clientes e clculo ponderado dos riscos embutidos em seus negcios. Para isso, fundamental a utilizao intensa de tecnologia de informao, atravs tanto de hardwares com grande capacidade de armazenamento e velocidade no tratamento de dados quanto de softwares que possam cruzar diversos dados e variveis econmico-financeiras. O pressuposto que quanto menores os custos fixos e operacionais e maiores os acertos nos clculos dos riscos e da rentabilidade lquida futura, maior a probabilidade de os bancos terem sucesso na expanso de seus negcios e lucros. Para subsidiar as decises dos negcios dos bancos, preciso, ento, somar a capacidade de anlise dos recursos humanos dos departamentos afins de outros agentes (parceiros) e disponibilidade de softwares possantes o suficiente para cruzar informaes e testar, rapidamente, as diversas hipteses

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abordadas nos pareceres sobre os negcios. Qual o risco presente e futuro dos clientes? Qual o risco presente e futuro dos setores em que os clientes esto inseridos? Qual o impacto dos crditos sobre a ponderao dos riscos dos ativos e, portanto, sobre o capital prprio do banco para cumprir as exigncias do BC? Essas so algumas das questes bsicas que sempre devem ser respondidas pelas anlises de crdito. neste quadro geral brevemente sintetizado que os bancos trabalham e traam suas estratgias. De um lado, a poltica monetria e as regulamentaes institucionais e legais balizam a gesto administrativa e dos custos e receitas. Por outro lado, a concorrncia e a capacidade de demanda e de pagamento do mercado limitam a liberdade dos bancos em fixarem os preos de venda de seus crditos, produtos e servios. Por sua vez, a mobilidade dos parmetros dos custos e das receitas financeiras torna esse mercado extremamente voltil. Isso provoca um conjunto de iniciativas por parte dos bancos para manter os custos baixos e, ao mesmo tempo, a capacidade de concorrncia. Entre essas iniciativas destacam-se as parcerias, alianas e inovaes, inclusive para superar as limitaes das competncias internas e de capitais para investimentos. Dado esse conjunto de caractersticas do setor, o desafio como conciliar, no curto, mdio e longo prazos, a maior lucratividade possvel. Alguns dos caminhos utilizados pelos bancos so os examinados neste trabalho: parcerias, alianas e inovaes com os objetivos gerais de: a) cumprir a legislao; b) reduzir custos; c) elevar a capilaridade; d) somar competncias para tornar a gesto mais eficiente e eficaz, desenvolver inovaes e lanar novos produtos e servios; e) aumentar a capacidade de alavancagem financeira; f) participar de projetos grupais de financiamento e de estruturao de negcios mais sofisticados e de maior porte.

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Produtos e Servios FinanceirosNem os bancos nem os usurios bancrios constituem-se uma massa uniforme de empresas e pessoas. Ao contrrio, os segmentos sociais, os portes das empresas, os objetos dos crditos, a liquidez das garantias so muito distintas, sobretudo para os grandes e mdios bancos que trabalham com uma multiplicidade de clientes. A exigncia de capital prprio, a estruturao das operaes financeiras, a complexidade das anlises de risco e os custos em pessoal e investimentos em tecnologia de informao e comunicao (TIC) so algumas limitaes e razes que impem grande maioria dos bancos se especializarem em nichos de mercado. Por conseguinte, uma das caractersticas do sistema financeiro que sua clientela um retrato da sociedade nacional: ampla, heterognea e segmentada. Esses aspectos tomam uma dimenso ainda maior quando se considera o cruzamento de produtos, servios e pblicos-alvos. Por exemplo (FORTUNA, 2006):

segmentos sociais e econmicos, como micro, pequenas, mdias e grandes empresas, assalariados, autnomos, profissionais liberais, faixas etrias, baixa, mdia e alta renda, pequenas, mdias e grandes famlias; crdito e financiamento, como capital de giro e investimentos para empresas da indstria, agricultura e servios, desconto de ttulos e duplicatas, automvel, habitao, crdito pessoal; investimentos e aplicaes financeiras, como CDBs, fundos de investimentos, poupana, aes; outros produtos, como seguros, previdncia, cartes de crdito, consrcios, ttulos de capitalizao; servios, como contas correntes, depsitos e retirada de recursos, transferncia de recursos, pagamento e

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recebimento de boletos, taxas e impostos, dbitos automticos, cofre, custdia, cmbio, assessoria financeira, folhas de pagamento, cobranas. Em suma, o setor se relaciona, permanente e recorrentemente, com todos os segmentos econmicos e sociais e a imensa maioria dos cidados. Como quase a totalidade das relaes comerciais, de consumo, de trabalho e da previdncia e segurana social passa pela intermediao e transferncia cotidiana de valores monetrios, o conjunto dos usurios toda a sociedade. Esse variado e extenso arco de atuao significa que o dinamismo da economia est relacionado diretamente capacidade do sistema financeiro e ao estado-da-arte tecnolgica, entre outros aspectos, de: a) disponibilizar contas correntes; b) transferir recursos monetrios; c) realizar emprstimos e pagamentos; d) organizar e intermediar investimentos financeiros; e) oferecer seguros e previdncia privada (FORTUNA, 2006).

Credibilidade e funcionalidades do sistema financeiroOutra condio indispensvel para o pleno funcionamento do sistema financeiro a credibilidade (KRUGMAN, 1999). O descrdito de um sistema financeiro quebra a confiana na moeda nacional, gera mais incerteza e limita o desenvolvimento econmico e social. Quanto maior a confiana nos bancos, menores so os custos financeiros das transaes e maiores so as probabilidades de a economia crescer com estabilidade. Se um sistema financeiro fica sob suspeita pela sociedade, a tendncia de se transferir o poder da moeda nacional para outro tipo de ativo ou moeda internacional, minando a agilidade e flexibilidade dos circuitos de

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compra e venda de produtos e servios e dos negcios em geral. Essas so algumas das principais preocupaes dos governos e dos respectivos bancos centrais ao regularem o funcionamento, a organizao e as regras que o sistema financeiro deve respeitar para manter suas atividades (ROBERTS, 2000). Mas, alm de contribuir com o processo de confiana na moeda, o sistema financeiro deve ser organizado para ser funcional ao desenvolvimento econmico. A formatao funcional dos bancos varia conforme as regulaes nacionais. No passado, pases como os EUA, a partir da crise de 1929, e o Brasil, aps o estabelecimento do regime militar, em 1964, estabeleciam que os agentes financeiros fossem especializados em produtos e servios, como bancos comerciais e de investimentos, distribuidoras de ttulos e valores mobilirios e poupana imobiliria. J pases como a Alemanha e o Japo baseavam suas regulamentaes na forma de conglomerados financeiros, inclusive com as holdings podendo deter fortes participaes acionrias em empresas industriais (TAVARES, 1976; CARVALHO et al., 2000; HOWELLS; BAIN, 2001).

Bancos universais e especializadosContudo, a tendncia internacional, desde os anos 80, de os bancos se tornarem universais se imps. Assim, os bancos centrais nacionais mais importantes acabaram por sancionar o movimento do mercado, criando regulamentaes adequadas a agentes financeiros que oferecem mltiplos e diversificados tipos de crdito, de ttulos e de produtos e servios3. O Brasil no escapou dessas tendncias. Os grandes bancos mltiplos brasileiros, com a experincia, os conhecimentos adquiridos ao longo do tempo, a percepo da possibilidade de lidar com atividades que possuem sinergia com sua atuao original e o avano tecnolgico tornaram-se verdadeiros "balces de negcios" (COSTA , 1999). Atualmente, atendem a uma diversificada e ampla gama de clientes e oferecem uma carteira

No que toca s participaes dos bancos em empresas nos setores industrial, agrcola e de servios, elas tm sido aceitas desde que haja restries nas relaes financeiras entre elas, particularmente na direo dos bancos para as empresas das quais so acionistas.3

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integrada de produtos e servios (FORTUNA, 2006). Os grandes bancos tambm procuram, individualmente ou atravs de parcerias e alianas, participar de praticamente todos os segmentos de negcios financeiros e nichos da economia, por exemplo:

Mesmo quando as empresas no financeiras buscam financiamento direto junto aos investidores, os bancos universais aproveitam sua expertise e sua capilaridade para servirem como intermedirios entre aquelas empresas e o mercado, o que, inclusive, lhes permite participar e lucrar com o processo sem elevar sua alavancagem financeira, de acordo com as regras prudenciais determinadas pelo BC e indicadas pelo Acordo da Basilia. Em relao ao crdito consignado, os bancos menores, muitas vezes, atravs de correspondentes bancrios, conseguem funding com os grandes bancos, realizam os emprstimos e, posteriormente, vendem suas carteiras para eles, mas no necessariamente para os mesmos que alavacaram os crditos.

Sem dvida, exercer essa pluralidade de atividades de forma eficiente e eficaz um grande desafio para os grandes bancos de varejo. No toa que a complexidade da execuo simultnea de um conjunto de operaes diferentes uma das barreiras entrada no segmento dos grandes bancos universais. Dessa forma, os bancos de mdio e pequeno portes procuram estabelecer suas competncias e especializaes nos nichos de mercado que podem competir de forma rentvel a mdio e longo prazos (COSTA, 1999). De uns anos para c, h uma conscincia dos mdios bancos de que no devem tentar fazer tudo o que os grandes bancos fazem, mas concentrar-se naquelas atividades que tm maior sinergia entre si e aproveitar o fato de que podem dar um tratamento mais gil e personalizado aos seus clientes. Com mais razo ainda, os bancos pequenos tm se especializado em poucas atividades.

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Para se inserirem de forma eficiente, eficaz e rentvel nos mercados-alvos, os bancos, independentemente do porte, esto implementando estratgias baseadas no uso crescente de parcerias, alianas e inovaes. Com o objetivo de ilustrar a enorme multiplicidade de atividades que os bancos universais podem exercer, a lista a seguir apresenta uma amostra da variedade da oferta de produtos e servios (FORTUNA, 2006).

Mantm contas correntes para depsitos vista, captam depsitos a prazo, repassam recursos externos e so intermedirios na compensao de cheques. Recebem e realizam pagamentos de tarifas, impostos e taxas de servios pblicos e de boletos de pessoas jurdicas e fsicas e de cartes de crdito, inclusive atravs de dbito automtico. Realizam operaes de crdito, atravs de leasing, desconto de ttulos, securitizao de recibveis e crdito pessoal, direto ao consumidor e consignado etc. Fazem servios de cobrana e de controle e execuo de folhas de pagamentos e vendem fianas e avais bancrios. Vendem seguros de vida, agrcolas, residenciais, de unidades industriais, empresas, lucros cessantes e planos abertos e fechados de previdncia complementar. Vendem CDBs, ttulos pblicos da dvida e externa e de capitalizao, debntures, poupana etc. Financiam empreendimentos industriais, comerciais e imobilirios, atividades agrcolas, setor pblico etc. Financiam exportaes e importaes, fazem transferncias internacionais e captam recursos externos.

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Vendem consrcios de automveis, motocicle tas, caminhes, mquinas e equipamentos agrcolas, eletroeletrnicos, imveis. Podem exercer o papel de investidores diretos em empreendimentos industriais, agrcolas, comerciais e de infra-estrutura, seja como acionistas minoritrios ou majoritrios. Negociam, atravs de corretoras especializadas, vista ou no mercado de derivativos (mercados de futuros, a termo, de opes e swaps), com ativos prprios ou de terceiros: principalmente aes, cmbio, moeda e commodities agrcolas e industrializadas. Podem ser proponentes, organizadores, coordenadores e intermedirios de negcios. Alguns exemplos ajudam a deixar mais clara essa atividade relacionada a finanas corporativas, essencial para o desenvolvimento econmico:

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Project finance: Os bancos, em geral aliados a alguns investidores potenciais, desenham um investimento, na maioria dos casos de infraestrutura. Trabalhando como um consrcio, contratam o projeto tcnico preliminar e o executivo, fazem o estudo de viabilidade jurdica e econmico-financeira, organizam uma sociedade de propsito especfico para ser responsvel pela gesto do negcio e lanam ttulos para financiar o projeto. A remunerao do financiamento deve ser prxima taxa de lucros mdia da economia e as garantias so assentadas nas receitas futuras / fluxo de caixa do empreendimento. Mercado de capitais: 1) Os bancos estruturam e fazem o lanamento de ttulos de dvida na

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forma de debntures, notas promissrias, commercial papers, eurobonds, securitizao de recebveis etc; 2) estruturam e fazem o lanamento de aes para abertura ou aumento de capital, atravs da abertura de capital, emisso de novas aes, de debntures conversveis em aes e de oferta secundria de aes.

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Fuses, aquisies e reestruturao patrimonial: Os bancos assessoram e estruturam processos de fuses e aquisies, privatizao, formao de joint ventures, acordos de acionistas, cises, engenharias financeiras para processos de reestruturao etc.

Podem ser organizadores e administradores de fundos de investimentos, definidos pela CVM como "uma comunho de recursos, constituda sob a forma de condomnio, destinado aplicao em ttulos e valores mobilirios, bem como em quaisquer outros ativos disponveis no mercado financeiro e de capitais" (CVM, Instruo 109. Disponvel em: ). De acordo com a Associao Nacional de Bancos de Investimentos (Anbid. Disponvel em: ), "um fundo de investimento um condomnio que rene recursos de um conjunto de investidores, com o objetivo de obter ganhos financeiros a partir da aquisio de uma carteira de ttulos ou valores mobilirios". Os fundos tm personalidade jurdica prpria e vetado o cruzamento de seus ativos com os das instituies gestoras. Por grandes blocos de tipos ativos, os principais fundos, no Brasil, so os classificados como de Curto Prazo, Referenciado DI, Renda Fixa, Previdncia e Aes.

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Para se ter uma idia da importncia desse instrumento, em setembro de 2006, o patrimnio lquido dos 4.925 fundos existentes, com 10,8 milhes de cotistas, alcanava R$817 bilhes no Pas (Anbid, outubro/2006), enquanto o saldo de crdito do sistema financeiro atingia, em junho de 2006 (BC), R$638 bilhes no setor privado e R$21 bilhes no setor pblico, totalizando R$659 bilhes. A imagem dos bancos gestores no mercado exerce um papel crucial nas vendas dos Fundos, pois os seus investidores buscam segurana, rentabilidade e liquidez, acentuando, dependendo do respectivo perfil da aplicao, algum desses aspectos.

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Assumem a funo de private banking, que se define, segundo a Anbid, como "segmento das instituies financeiras destinado a atender a clientes que possuem uma disponibilidade mnima de investimento definido por cada instituio, sendo que, raramente, esse valor inferior R$1 milho. Para atender demanda desse tipo de cliente, as instituies prestam servios muito mais abrangentes que os tradicionais servios bancrios e de crdito prestados nas agncias. So atendidos por profissionais altamente capacitados (os gerentes de relacionamento ou private bankers) a entender o perfil e o objetivo patrimonial de cada cliente, sugerir realocao de ativos financeiros e no financeiros, fornecer informaes que o auxiliem na tomada de deciso, alm de identificar as necessidades relacionadas s questes legais e tributrias, sucesso familiar e empresarial e, at mesmo, a mercados mais especializados, como arte e antigidade, e encaminh- los a profissionais habilitados e especializados nessas questes."

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At o incio da dcada de 2000, a maioria dos grandes bancos no tinha instrumentos apropriados mais consolidados para lidar com o nicho de mercado dos private bankings, ao contrrio de alguns bancos especializados que j nasceram com estratgias especficas para esse pblico (COSTA, 1999). Contudo, os grandes bancos, atualmente, reviram sua postura e esto implementando estratgias agressivas direcionadas a esse perfil de clientes, inclusive com forte campanha de marketing.

Prestador de servios de custdia: Serve como guarda de ativos, seja fisicamente seja por meio escritural, cumprindo o papel de assegurar aos aplicadores financeiros e investidores em geral que os ativos - por exemplo, de fundos de penso, de investimentos, de derivativos, ttulos em geral - sob sua guarda esto seguros de riscos de fraudes e dolos de qualquer natureza. Atualmente, os servios de custdia compreendem ainda a informao detalhada sobre valor e riscos dos ativos, clculos de indicadores risco e do valor das cotas, emisso de relatrios consolidados etc. O total de ativos custodiados em setembro de 2006, segundo a Anbid, alcanava 1,37 trilho de reais.

A "alternativa" das parcerias e alianasA despeito do atraso no desenvolvimento e na aplicao de inovaes de gesto e tecnolgicas na economia em geral, algumas particularidades do Brasil reforam a opo de parcerias, as alianas e inovaes pelo sistema financeiro, por exemplo dimenses da populao, especialmente da parcela de baixa renda, cujos pequenos valores por operao muitas vezes no compensam as despesas e a complexidade administrativa de atend-la diretamente. Como as tecnologias antiquadas, via de regra, tm custos maiores (as transaes eletrnicas significam

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entre 33% e 50% dos custos das transaes com cheques, por exemplo), o uso de inovaes tecnolgicas torna-se atrativo, mesmo com o custo de mo-de-obra mais baixo que nos pases desenvolvidos (BACEN, 2005). A despeito de os custos de transao estarem sendo amenizados com a TIC, o tamanho do territrio, das regies metropolitanas e da populao, a heterogeneidade e segmentao social e o nmero de municpios 4 tornam as parcerias e alianas instrumentos indispensveis para os produtos e servios bancrios alcanarem a populao e as empresas que esto dispersas. Assim, considerando essa enorme variedade de clientes e de campos de atuao, os bancos estabelecem estratgias diferenciadas de acordo com o que consideram mais de acordo com seu porte e expertise. Para exercer todas essas atividades, sobretudo num ambiente caracterizado mais ou menos, mas permanentemente, pela incerteza, os bancos precisam utilizar uma grande infra-estrutura fsica, tecnolgica e de recursos humanos. Alm disso, no se pode esquecer o alto grau de regulao sobre o sistema financeiro, que pressupe o respeito s normas e regras institucionais definidas pelo BC, em consonncia com o Acordo da Basilia. Portanto, apesar de lidar principalmente com o capital de terceiros, h fortes barreiras entrada no segmento dos bancos de fato universais. Algumas das principais maneiras de os bancos, de qualquer porte, responderem a esses desafios so atravs da formatao de parcerias e alianas estratgicas, que amenizam, pelo menos parcialmente, os investimentos em inovaes tecnolgicas e de gesto, produto e marketing e infra-estrutura, contribuindo para superar as limitaes de capital (FDC/Ncleo Serasa de Inovao em Servios, 2006). Nesse sentido, pode-se afirmar que os bancos, em geral, de todos os portes, vm implementando parcerias, alianas e inovaes para conseguirem executar um atendimento responsvel, tico e competente, pressupostos essenciais para maximizar sua rentabilidade a mdio e longo prazos.

4

5.561 municpios, sendo que 1.382 tm at 5 mil habitantes, 1.308 tm entre 5 mil e 10 mil habitantes, 1.384 tm entre 10 mil e 20 mil e 963 tm entre 20 mil e 50 mil, fora os bairros e distritos longnquos e pobres (IBGE, ).

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Tendncias Internacionais

Rosilia Milagres Hrica Righi Ana Luiza Arajo

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A importncia das alianas, redes, parcerias e outras formas de colaborao interorganizacional no so percebidas apenas na literatura, mas tambm nas estratgias realizadas pelas empresas atualmente. um movimento que se consolida como fruto do aumento da competio e da incerteza, do ritmo do progresso tecnolgico e da aplicao da cincia ao processo produtivo que marca o contexto da economia do aprendizado (JOHNSON ; LUNDVALL, 2000). Esses elementos favorecem formas organizacionais mais flexveis, descentralizadas, e que consigam se adaptar rapidamente a mudanas no ambiente externo. Hagerdoon (2002) apresenta evidncias empricas que mostram a evoluo dessa tendncia organizacional. Analisando dados de colaborao em P&D para setores industriais entre 1960 e 1998, ele encontrou um claro padro de crescimento em termos do nmero de novas parcerias estabelecidas (que se intensificou a partir de 1980). Alm disto, essa base de dados indica que formas mais flexveis de cooperao (tais como redes e alianas estratgicas) tornaram-se predominantes, em contraste com as relaes mais formais, como joint ventures. A dinmica atual da economia tem afetado diretamente o setor financeiro. Mudanas tm causado crescentes demandas de aumento de produtividade e melhoria nas condies competitivas dos bancos, afetando reas como participao no mercado, competitividade, tecnologia e demanda do consumidor. Para sobreviver a esses obstculos, necessrio que os bancos se adaptem e inovem com maior agilidade (FREI et al, 1998). O propsito deste captulo investigar e coletar argumentos, dados e casos no cenrio internacional que nos ajudem a entender como o setor financeiro enfrenta os desafios e a dinmica da economia atual. As alianas fazem parte de suas estratgias? Entretanto, importante ressaltar inicialmente a escassez de estudos sobre a atividade inovativa no setor servios, em especial no setor financeiro. A literatura apresenta uma longa tradio em estudos no setor industrial, negligenciando em grande medida o setor servios. Esse quadro tem mudado com a incluso do setor

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em pesquisas quantitativas, como o CIS (Community Innovation Survey) e com a conduo de surveys especficos para o setor, como o SIID-project5. Essas iniciativas refletem uma mudana de postura na literatura econmica, que, at meados dos anos 80, no considerava o setor servios importante do ponto de vista de gerao de riqueza (aumento de produtividade) e dinmica inovativa. Barras (1986) foi o pioneiro nessa mudana de viso, lanando as bases do estudo da inovao em servios, ainda que inicialmente o considerasse como um setor dependente ou dominado pela indstria. A falta de estudos ainda maior quando se estreita o foco para o setor financeiro. Frame e White (2002) realizaram um estudo bibliogrfico abrangente sobre estudos empricos de inovao financeira e concluram que uma caracterstica marcante dessa literatura a relativa falta de estudos empricos que testem hipteses ou realizem anlises quantitativas da inovao financeira. Citam tambm o estudo bibliogrfico de Cohen (1995), o qual encontrou 357 livros e artigos sobre o tema inovao em geral, sendo que nenhum deles aborda os servios financeiros. Essa constatao reflete a dificuldade de medir a inovao nessa rea. Segundo Mulders e Hertog (2003), a situao se agrava dado que nem as prprias instituies financeiras possuem uma clara definio de inovao ou conseguem medi-la internamente. A discusso aqui apresentada estrutura-se a partir de uma reviso da literatura e de coleta de dados secundrios. Este captulo est dividido em duas partes. Na primeira, sero apresentados indicadores gerais da inovao em servios financeiros, cuja principal fonte o CIS 3. A segunda parte dedica-se a realizar um levantamento geral das principais tendncias observadas no cenrio internacional, isto , os principais drivers da inovao em servios financeiros. Um foco particular dado s questes referentes colaborao no setor.

Este foi um projeto conduzido na Holanda com o objetivo de desenvolver medidas para a atividade inovativa no setor servios do pas.5

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Inovao no setor financeiro6 Devido escassez de trabalhos empricos neste campo, estes dados constituem o melhor material disponvel (MULDERS; HERTOG,2003, p. 28) 7

Sero apresentados alguns indicadores de inovao no setor financeiro, explorando particularmente os resultados do 3 Community Innovation Survey (CIS 3 daqui adiante) 6 . Em primeiro lugar, importante apresentar o que se entende por inovao financeira. Frame e White (2002) caracterizam-na de acordo com quatro tipos: i. novos produtos (ex.: emprstimos a taxas de juros ajustveis); novos servios (ex.: Internet banking); novos processos de "produo" (ex.: eletronic recordkeeping for securities); novas formas organizacionais (ex.: bancos baseados apenas na Internet).

O relatrio cita que especialistas do setor acreditam que o ltimo grande produto inovador desenvolvido pelos bancos foi o carto de crdito, desenvolvido em 1966 pelo Barclays Bank. Outras inovaes, como o carto de dbito, pagamentos eletrnicos, entre outros, so meras derivaes do primeiro. Reafirma-se a idia de que inovaes em produto no setor financeiro so raras. O relatrio considera como inovao de produtos os novos produtos efertados e desenvolvidos pelo banco. Como inovao em processos, considerado o jeito de trabalhar, ou seja, como fazer, fazer melhor, mais rpido e mais barato. J a inovao nos servios financeiros so os que abrangem os consumidores. Isto , a empresa utiliza o conhecimento das preferncias do consumidor e desenvolve maneiras de entregar melhor os servios.

ii. iii.

iv.

8

9 O CIS 3 um survery realizado em todos os pases pertencentes Unio Europia, alm da Islndia e da Noruega, com o objetivo de avanar no entendimento do processo inovativo e de seu impacto na economia (em termos de emprego, produtividade, padres de comrcio, crascimento, entre outros).

Considerando que o processo o verdadeiro produto do setor servios, a inovao no setor bancrio refere-se muito mais ao processo e s mudanas organizacionais do que aos novos produtos (FAIRCHILD, 2003). De acordo com relatrio publicado pela Deloitte & Touche LLP (GENTLE; CONTRI, 2005), os produtos desenvolvidos no setor financeiro oferecem pouco retorno aos bancos e apresentam facilidade de imitao pelos concorrentes7. Os consultores afirmam que a melhor estratgia para os bancos, atualmente, intensificar o investimento nas inovaes em processo e servio para conseguirem se diferenciar e se destacar no mercado. Mas os bancos no podem e nem devem deixar de investir em inovao em produtos, pois, de acordo com os autores, "as instituies financeiras com produtos antigos perdero participao no mercado no longo prazo" (GENTLE; CONTRI, 2005, p. 6). O relatrio indica que os bancos devem encontrar uma combinao ideal de inovao em produto, processo e servios8 , para garantir a competitividade. O CIS 3 9 (1998-2001), por sua vez, prope medidas para a atividade inovativa nos diversos setores da economia. Entre as

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quase 458 mil empresas com mais de 10 empregados existentes na Unio Europia em 2000, a pesquisa revela que cerca de 44% apresentaram alguma atividade inovativa no perodo estudado, sendo 23% inovadoras em produtos e em processos, 10% apenas em produtos, 7% apenas em processos e 3% abandonaram a atividade inovativa. H, entretanto, diferenas setoriais significativas. As tabelas a seguir apresentam as diferenas entre a indstria e os servios:

TABELA1Tipologia dos inovadores, indstria, EU, 1998-2000Nmero de empresas (milhares) 279 130 122 27 24 71 8 149 Proporo do nmero total de empresas (%) 100 47 44 10 8 25 3 53

Total Empresas com atividades de inovao Inovadoras bem-sucedidas Inovadoras de produtos, apenas Inovadoras de processos, apenas Inovadoras de produtos e processos Empresas com atividades de inovao em curso e/ou abandonadas, apenas Empresas sem atividades de inovao

Fonte: Eurostat, NewCronos (theme/innovation_cis3)

TABELA 2Tipologia dos inovadores, servios, EU, 1998-2000Nmero de empresas (milhares) 178 71 64 20 9 35 7 107 Proporo do nmero total de empresas (%) 100 40 36 11 5 20 4 60

Total Empresas com atividades de inovao Inovadoras bem-sucedidas Inovadoras de produtos, apenas Inovadoras de processos, apenas Inovadoras de produtos e processos Empresas com atividades de inovao em curso e/ou abandonadas, apenas Empresas sem atividades de inovao

Fonte: Eurostat, NewCronos (theme/innovation_cis3)

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TABELA 3

Proporo de empresas com atividades de inovao que citam fontes selecionadas de informaes dirigidas inovao como sendo altamente importantes, EU, 1998- 2000 (%)

Fornecedores Outras de empresas equipamentos, Competidores materiais, Clientes e outras Dentro da dentro do grupo componentes ou empresas do empresa empresarial ou software fregueses mesmo ramo Universidades e outras instituies de cursos superiores

Institutos de pesquisa governamentais ou sem fins lucrativos

Conferncias, reunies, publicaes Feiras e profissionais exibies

To t a l

38 7 19 7 13 17 13 9 18 17 24 40 23 29 20 31 20 27 10 14 11 17 15 19 24 20 19 27 11

9

20

28

12

5 4 8 4 6 4 2 12

3 3 6 3 3 2 1 6

11 9 11 9 15 10 12 24

16 17 5 18 14 17 9 14

Indstria

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Minerao e extrao, e eletricidade, gs e gua (C e E)

39

Manufatura (D)

37

Servios

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Comrcio atacadista e de comisses

38

Transportes e comunicaes, e intermediao financeira

34

Atividades de computao, P&D, atividades de engenharia e consultoria, teste e anlise

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Fonte: Eurostat, NewCronos (theme/innovation_cis3)

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TABELA 4Proporo de empresas com atividades de inovao envolvidas em cooperao para inovaes, EU, 1998-2000 (%)To t a l Indstria Minerao e extrao (C) Manufatura (D) Eletricidade, gs e gua (E) Servios Comrcio atacadista e de comisses (51) Transportes e comunicaes (I) Intermediao financeira (J) Fonte: Eurostat, NewCronos (theme/innovation_cis3) Atividades de computao, P&D, atividades de engenharia e consultoria, teste e anlise (72, 73, 74, 2, 74.3) Fonte: Eurostat, NewCronos (theme/innovation_cis3) 19 17 13 17 35 22 16 15 21 34 Essa constatao deve ser tomada com cautela, todavia, porque h diferenas importantes no mtodo de coleta dos dados. Primeiro, nem todos os setores pertencentes ao subgrupo servios foram includos (restaurantes e hotis, por exemplo, no esto na amostra). Segundo, porque a escolha de empresas com mais de dez empregados significa um vis negativo para os servios, que dominado por pequenas e mdias empresas. Alm do mais, servio um grupo extremamente heterogneo, formado por um conglomerado de atividades que vo desde os servios financeiros at o atendimento sade e o comrcio.10

Deve-se notar que os servios apresentam uma mdia menor que a indstria em termos gerais (40% de empresas inovadoras contra 47%) 10 . Analisando os servios financeiros separadamente (financial intermediation), observa-se um maior nmero de empresas inovadoras (58%), se comparado ao subgrupo servios ou mdia geral. Esse dado ajuda a desmistificar a idia de que os servios, notadamente o setor financeiro, no so criadores de inovao. A tabela a seguir investiga quais foram as principais fontes para a inovao de acordo com grupos. Para as empresas com alguma atividade inovativa no perodo estudado, tanto na indstria quanto em servios, as fontes internas (a prpria em presa) parecem ser as mais im por tantes (37% e 40% respectivamente), seguida dos consumidores e clientes (27 e 31%) e fornecedores de equipamento, de software, de materiais e de componentes (19% e 20%). Para o setor financeiro em especfico, alm das fontes internas empresa (34%), mostraram-se impor tantes os clientes e consumidores (24%), os fornecedores de equipamentos, materiais, componentes e software, bem como os competidores (17%). Em termos de cooperao11, as empresas de servios apresentam uma mdia maior que as industriais (22% contra 17%). Destacando

Uma pequena nota: no mbito do CIS3, cooperao entendida como a participao efetiva em P&D conjunto e outros projetos de inovao com terceiros, sejam empresas ou organizaes no comerciais.11

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os servios nos vrios subgrupos de atividades, observa-se que as firmas do setor financeiro apresentam uma forte tendncia a cooperar (21%), que uma mdia ligeiramente inferior dos servios, mas superior medida total (de todos os setores da economia). Em suma, as evidncias organizadas pelo CIS 3 mostram no apenas que o setor financeiro um setor dinmico em termos de criao de inovaes, mas tambm que depende, em grande medida, de atividades de parceria e cooperao tecnolgica para inovar.

Tendncias gerais da inovao em produtos e servios financeirosTendo visto o que inovao em servios financeiros e algumas formas de medi-la, essa seo pretende ir alm, investigando suas principais foras motrizes e formas organizacionais caractersticas. Entre os drivers da inovao no setor financeiro, Mulders e Hertog (2003) destacam trs: desregulao, mudanas na relao produtor-usurio e desenvolvimentos em Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC)12. A desregulao que marcou o mercado financeiro nos anos 90 levou a uma ampla reestruturao do setor, de forma a causar intensa concentrao por meio de uma srie de aquisies, fuses e privatizaes. Tal fato ocasionou o aumento da competio do setor e, conseqentemente, a diversificao de atividades e produtos. Ou seja, a nova regulao e legislao impactaram no apenas as formas de organizao dos bancos, mas tambm a sua atividade inovativa.12

Estas seriam as foras motrizes externas de acordo com a argumentao desses autores. Eles discutem tambm foras internas, especficas a cada organizao, mas que no sero discutidas aqui por estarem alm do mbito deste trabalho.

O setor financeiro nos EUA, por exemplo, pode ser apontado como um exemplo que correlaciona inovao e regulao. Como salientado por White (2002, p.1): O setor de servios financeiros americano est enfrentando um perodo dinmico de inovaes. Essas mudanas so incentivadas pelo desenvolvimento rpido de duas tecnologias

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- processamento de dados e telecomunicaes - que so o centro dos servios financeiros. O setor financeiro tambm um dos setores mais regulados na economia norte-americana - apesar das duas dcadas de ampla desregulamentao (...) Ademais, a pesada camada de regulao governamental nos servios financeiros tem certamente influenciado o andamento das inovaes financeiras, sendo tambm influenciada por elas. No que se refere relao produtor-usurio, observaram-se algumas tendncias marcantes: aumento da demanda do consumidor, segmentao, customizao de produtos e servios, elevao do poder de escolha13. Essas mudanas ocorreram no sentido de intensificar a relao entre o banco e o cliente e assim o padro de exigncia pelos servios, apesar da reduo nas relaes face a face e nos contatos pessoais - hoje predominam os servios automatizados e do tipo self-service. Este um ponto fundamental, dada a caracterstica sui generis da inovao em servios de dependncia da interao com o cliente. Por fim, os desenvolvimentos em TIC ocasionaram o surgimento de novos canais de distribuio de tecnologia, maior transparncia no setor, reduo das barreiras entrada, alm da possibilidade de acesso constante ao sistema bancrio (7 dias por semana, 24 horas por dia), de atendimento self-service e de um melhor gerenciamento das relaes com os clientes. Frame e White (2002) afirmam que as condies externas que influenciam a atividade inovativa do setor so as tecnologias dominantes (particularmente TIC), a regulao, as condies macroeconmicas e os impostos. Entre os novos elementos propostos, as condies macroeconmicas revelam-se um fator importante determinando o ritmo da atividade inovativa. Os autores argumentam que condies instveis na economia levam ao aumento da incerteza no sistema e, conseqentemente, dos riscos associados s transaes financeiras. Como resultado, fomentam a criao de inovaes que visem contornar tais adversidades. J em relao aos impostos, a idia que, quanto mais elevados estes forem, maiores os incentivos inovao, j que os agentes

O cliente tem atualmente mais informao e liberdade para escolher sua instituio financeira.13

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envolvidos estaro em busca de reduzir ao mximo possvel a quantia paga ao governo. Entretanto, se os outros argumentos parecem razoveis, este ltimo controverso e merece uma investigao mais detalhada14.

A importncia e o papel da cooperao entre bancos e outras instituiesPara os objetivos deste texto, contudo, o crucial o argumento referente s tecnologias de informao e comunicao. No apenas porque os bancos so considerados o setor lder em adoo de TIC15, mas tambm porque sua aplicao depende em grande medida da interao entre produtor-usurio, isto , das parcerias que as instituies financeiras estabelecem com seus fornecedores. Conforme colocam Mulders e Hertog (2003, p. 20): Clientes, fornecedores de tecnologia e instituies pblicas tambm contribuem para novas idias e inovaes. Em geral, pode- se dizer que o sistema financeiro um setor muito fechado se for considerada a cooperao com terceiros e, em especial, com instituies pblicas (de ensino). Institutos de Pesquisa Pblica no so desconhecidos dos bancos, mas, ao mesmo tempo, eles no insistem na cooperao. Aparentemente eles no suprem os conhecimentos requeridos pelos bancos. Entretanto, isso varia de acordo com o tipo de inovao. Por exemplo, alguns bancos envolvem institutos (semi)-governamentais no desenvolvimento de inovaes mais sustentveis (...) A cooperao com fornecedores de tecnologia parece ser mais desenvolvida. Isso ocorre de diversas maneiras: i) fornecedores oferecem aos bancos sistemas com padres ou tecnologias que, geralmente, precisam ser ajustadas para aplicaes mais concretas e/ou idia de negcio; ii) os bancos

Essa investigao est alm do objetivo desse texto.14 15

Gasta cerca da metade dos recursos investidos em sistemas e equipe de TIC.

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pagam os fornecedores para desenvolver uma soluo (customizada) para um problema especfico; iii) os bancos entram em alianas para desenvolver novos servios. Alm do que, quando os bancos esto investigando novas aplicaes ou possibilidades tecnolgicas, alianas com fornecedores de tecnologia so a forma de cooperao mais comum e bemsucedida. Ou seja, no campo do desenvolvimento e aplicao de TIC que as formas de cooperao no setor financeiro parecem ser mais relevantes e freqentes. Embora esses estudos tenham um foco no ambiente europeu (especificamente a Holanda, no caso de Mulders e Hertog), alguns dos argumentos parecem vlidos para o caso brasileiro. Por exemplo, a pesquisa de Fucidji (2003), que investigou a automao bancria no Brasil, constatou que, na atual fase de automao (a qual teve incio na ltima dcada), os sistemas de informao so muito pesados e complexos, de forma que justificam os vultuosos investimentos em gesto da informao e reforam a interao entre usurio e produtor16. Em relao cooperao, Faerman et al (2001) apresentam quatro fatores interligados que podem incentivar ou inibir a cooperao entre os bancos. So eles: disposio para cooperar; obstculos e incentivos existentes; liderana; e o nmero e a variedade de atores envolvidos na parceria. Segundo os autores, as cooperaes podem ser favorecidas ou desfavorecidas pelas experincias pessoais e institucionais. Variveis como confiana e comportamento so citadas pelos autores como incentivos formao de alianas e parcerias, bem como o contrrio pode ser responsvel pelo receio de acerto entre os atores. Outro fator levantado pelos autores a existncia de obstculos e incentivos que influenciem o desenvolvimento do projeto cooperado. Isto , problemas/vantagens que podem atrapalhar/ auxiliar a "pr-disposio" dos parceiros em cooperar, por exemplo, restrio econmica, questes tecnolgicas e conexes sociais.

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Para se ter uma idia, os bancos no Brasil gastaram R$ 3,54 milhes em TIC apenas no ano de 2002. Dados apresentados no relatrio da Finep assim como dados apresentados na pgina da Febraban apontam para o aumento de investimentos dos bancos na rea de automao bancria.

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importante ressaltar que, enquanto o primeiro fator uma questo estrutural, esse segundo item descoberto, geralmente, durante a vigncia da parceria. A liderana, por sua vez, est diretamente ligada aos dois fatores apresentados, uma vez que so os dirigentes que decidem a disposio da instituio em formar alianas com outras instituies e em que nvel os obstculos e incentivos influenciaro no desenvolvimento do projeto. Os autores expem ainda que tanto a reputao quanto a maneira de gerenciamento das parcerias pelos dirigentes so importantes para o sucesso/fracasso da parceria. De acordo com Faerman et al (2001, p. 377): Estudos de caso de cooperaes bem-sucedidas apresentam lderes gerenciando ativamente o processo cooperativo, particularmente nos estgios iniciais e durante os momentos problemticos. Estudos tambm mostram que cooperaes fracassadas apresentam lderes agindo com pequenos interesses ou participando de brigas polticas. E, por fim, os autores explicam que o nmero e a variedade de atores envolvidos em uma parceria so determinantes para o seu sucesso/fracasso, pois afetam a dinmica do grupo e o custo de deslocamento para acordos. A homogeneidade dos participantes e a equipe enxuta so fatores que influenciam positivamente no sucesso das parcerias, entretanto, equipes muito diversificadas e grandes tendem a ser um obstculo para o bom andamento do projeto. A diversidade e o nmero maior de pessoas tambm podem ser pontos positivos, dada a quantidade de opes e vises a serem discutidas. Mas os autores enfatizam que essa vantagem depende do grau de heterogeneidade existente entre os participantes. Alertam, portanto, que os gerentes dessas parcerias precisam de um cuidado especial na determinao da equipe de trabalho. Uma concluso interessante em relao s inovaes no setor na rea de redes apresentada por Frame and White (2002, p. 11) :

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...nem a literatura sobre inovaes como um todo e nem a literatura sobre inovao financeira apresentam de forma satisfatria como os efeitos externalizados pelas redes (ROHLFS, 1974) influenciam o tipo e a velocidade das inovaes. Com as redes, os benefcios aos colaboradores aumentam medida que mais membros juntam-se ao grupo. Alm do que, economia de escala e compatibilidade entre os participantes so normalmente importantes caractersticas das redes. As implicaes para a inovao esto obscuras, mas so potencialmente importantes. Inovaes incrementais, a partir da compatibilidade da rede, so claramente possveis. Mas o problema de escala para a criao de novas redes pode desencorajar inovaes to grandes. Em termos de tendncia, um importante estudo a ser considerado foi realizado pela IBM Consulting Service (2005). De acordo com esse relatrio (p.1): Uma das foras que compem esse mercado revela que o futuro exigir extrema eficincia e excelncia operacional de todos os bancos, enquanto a liderana ser conquistada pelas instituies mais inclinadas a adotar a inovao em produtos, servios e processos, antecipando-se e atendendo s necessidades dos clientes. Por fim, para colocar em prtica essas prioridades, os bancos precisam se concentrar em sua fora principal - as atividades nas quais so excelentes - e formar parcerias com os melhores especialistas do setor para as demais iniciativas: obter mais fazendo menos. A partir dos dados e autores apresentados, possvel afirmar que as alianas no so estratgias adotadas apenas pela indstria no cenrio mundial. Os bancos tambm necessitam formar parcerias para sobreviverem no mercado. Assim, com a preocupao com a intensa dinmica da economia, como o aumento da exigncia do cliente, e com o acirramento da competio, os bancos buscam cada vez mais solues que facilitem o seu processo, agradem seus clientes e, conseqentemente, mantenham-nos no mercado.

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Conceitos e Terminologia de Parcerias, Alianas e Inovaes

Rosilia Milagres Hrica Righi Ana Luiza Arajo

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O contexto atual marcado por um processo intensivo em P&D, pela acelerao da competio por meio de inovaes em produtos e servios e pela intensificao do avano das tecnologias da informao, entre outros. Esse processo de transformao pode ser detectado em diferentes setores da economia - tradicionais ou no; setores industriais ou prestadores de servios - e contribui para inovaes (radicais e incrementais), inovaes de produtos / servios e processos, e tambm para a reestruturao das empresas e de suas relaes com o mercado. Em conseqncia, percebe-se maior dinamismo dos mercados e os ciclos dos produtos encurtaram-se de maneira marcante. H, nesse sentido, uma necessidade de flexibilidade crescente e lead time reduzido. Portanto, novas formas de organizao da produo, que priorizam estrutura horizontal de informao, descentralizao da produo ou modularizao, e novas formas de organizao do trabalho, que permitem maior autonomia, polivalncia e distribuio da inteligncia, fizeram-se presentes. No campo organizacional, esse novo contexto representou grandes desafios para as empresas e sua antiga forma de organizao marcada pelo fordismo, pela especializao, diviso do trabalho e separao entre concepo, execuo e controle da produo. Apresenta-se a necessidade de adaptao do processo produtivo s freqentes mudanas nas quantidades, mix e desenho de produtos. Desse modo, diminuem-se, substancialmente, as vantagens da coordenao hierrquica. Conseqentemente, cresce a importncia das redes de firmas, consubstanciando-se em forma intermediria de coordenao entre a firma verticalizada e o mercado atomizado, conforme apontado por Tigre (1998). Uma recente pesquisa sobre tendncias no setor financeiro mundial, desenvolvida pela IBM (Institute for Business Value), constatou que os bancos lderes otimizaro seu desempenho ao se transformarem em empresas especializadas, administrando

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internamente apenas componentes de negcios estratgicos e diferenciadores e formando parcerias com os melhores especialistas do setor para as atividades que no trazem vantagem competitiva. (HEDLEY et al, p. 2) A literatura especializada (POWELL, 1998; GULATI et al, 1999) tambm demonstra que as firmas continuam utilizando as estratgias de cooperao. A formao de redes, particularmente a formao de alianas estratgicas, tem apresentado crescimento. Alianas estratgicas tornaram-se uma das estratgias mais comuns adotadas pelas firmas, segundo Gulati (1998). Schifrin, citado por Rond e Bouchikhi (2004), afirma que o nmero de novas alianas criadas a cada ano excede 10.000. Pesquisas tambm demonstram que boa parte das alianas cria valor, justificando sua utilizao por parte das organizaes (ANAND; KHANNA, 2000). Acompanhando essa tendncia, a literatura sobre o tema vasta. Em uma breve anlise nos principais jornais e revistas especializadas nos ltimos 20 anos, podem-se encontrar inmeros papers e pesquisas sobre o tema. Os recortes analisados so diferenciados, tendo em vista as diferentes bases tericas utilizadas. Muitos autores baseiam-se na teoria dos custos de transao, ou na teoria evolucionria, outros em correntes como resource-based-view, knowledge-based view ou ainda relational view, entre outras tantas. Para cada recorte terico so utilizados approachs variados, que contemplam conceitos, motivaes, razes para o trmino ou fracasso da parceria etc, em uma perspectiva diferenciada. Entretanto, embora muitas pesquisas na rea possam ser encontradas, elas tm convergido para temas relacionados aos desenhos das parcerias, sua forma de regulao e sua performance. Um tema que ainda tem despertado pouca ateno refere-se aos processos e evoluo das parcerias (ROND; BOUCHIKHI, 2004). preciso investigar como a gesto dessas parcerias se diferencia e como pode contribuir para o sucesso destas.

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Particularmente em relao ao setor financeiro brasileiro, ainda h muito o que ser investigado. Como se sabe, o setor como um todo alvo de poucas pesquisas, tendo em vista a dificuldade de informaes e dados tanto primrios quanto secundrios. No que se refere especificamente s redes e parcerias, pouco se sabe sobre motivos, parceiros preferenciais, causas de rompimentos etc. Este captulo faz parte de um projeto de pesquisa que visa mapear a formao de redes das firmas no setor financeiro. O captulo tem por inteno discutir elementos conceituais bsicos na busca do entendimento desse mapa. Nesse sentido, ele apresenta algumas correntes tericas e seus principais elementos constituintes, uma vez que elas do suporte ao entendimento de redes e do comportamento das firmas nesse contexto. Para o estudo em questo, optou-se pelos marcos tericos da teoria evolucionria e da teoria dos custos de transao. O objetivo aplicar importantes conceitos que formam os alicerces dessas escolas para as configuraes em rede. No que se refere teoria evolucionria, os elementos centrais dizem respeito s rotinas e competncias, como fonte de vantagens competitivas, e preocupao com a questo do aprendizado e conhecimento. Para os entrevistados, a unio de competncias constitui-se tambm um aspecto primordial para a formao de parcerias. Salienta-se a importncia do entendimento dessas variveis, uma vez que elas marcam a leitura de redes, como ser visto nos aspectos tericos do texto, assim como nas entrevistas com executivos do setor aqui relatadas. Alm disso, apresentam- se tambm algumas crticas e vises complementares a essa corrente terica, como knowledge-based view, dynamic capabilities e resource-based view. Em relao segunda escola - teoria dos custos de transao-, chama-se ateno para a varivel confiana, item apresentado pelos respondentes desta pesquisa como central para a formao de parcerias. Outro ponto importante refere-se aos custos de

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transao, que apareceu em nossas entrevistas como uma das causas para o estabelecimento de acordos cooperativos. No caso dessa teoria optou-se por acrescentar uma importante crtica escola realizada pela corrente conhecida como relational view. As firmas constituem-se uma importante fonte de conhecimento. Mas, segundo a teoria evolucionria, inovao entendida como um processo interativo, que envolve firmas, fornecedores, consumidores, instituies de pesquisa, governo, universidades etc. O conhecimento, portanto, embora presente nas rotinas das firmas, fruto de um processo coletivo. com base nessa troca de conhecimento entre instituies que as redes so explicadas (GIURI; HAGERDONN; MARIANI, 2002). Firmas que pretendam ser inovadoras precisam tomar parte em parcerias formais e/ ou informais, visando compartilhar suas habilidades. Uma rede pode ser definida em termos de suas conexes, interaes e trocas de conhecimento e informao. O conhecimento est incorporado nos indivduos e em suas organizaes e, portanto, os agentes e os ndulos de interao entre eles podem representar a rede. (CIMOLI, 2002) Diferentemente das relaes de cooperao entre duas empresas, as redes so formadas por relaes entre vrias empresas, sejam elas do mesmo setor ou situadas ao longo de uma cadeia produtiva. O conceito de rede abrangente, uma vez que inclui no apenas empresas, mas, tambm, atores, como universidades, centros tecnolgicos, instituies financeiras e governo (BALESTRO et al, 2004). O conceito utilizado na pesquisa qualitativa realizada ao longo do projeto foi "redes inter-organizacionais so arranjos estratgicos que englobam firmas ou instituies com o objetivo de, em conjunto, compartilhar, desenvolver ou ofertar novos produtos, tecnologias ou servios." No entanto, os entrevistados revelaram que, na prtica, o conceito de redes se confunde com o conceito de alianas estratgicas. Eles so entendidos como similares. De certo modo, como ser visto a seguir, a literatura autoriza a utilizao desses conceitos

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de forma interdependente, confirmando em alguns aspectos a percepo dos respondentes. Gulati (1999, p. 397) afirma que: Uma aliana estratgica usualmente definida como um acordo de cooperao entre duas firmas iniciado voluntariamente, envolvendo troca, compartilhamento ou co-desenvolvimento, e podem ser includas contribuies de parceiros de capital, tecnologia ou de recursos especficos. Ainda segundo o autor (1998), as alianas podem ocorrer como resultado de um variado conjunto de motivos e objetivos; podem adquirir diferentes formas que cortam os limites horizontais e verticais dos relacionamentos da firma. Ring and Van de Ven (1994) inclui parcerias, joint ventures, consrcios de pesquisas e outras formas de configuraes em rede como relaes inter-organizacionais ou redes de alianas estratgicas. Segundo Gulati (1998, p. 295): ...apesar de as alianas estratgicas focarem apenas uma troca dentro do conjunto, os precursores-chave, os processos e a renda, associados a cada uma delas podem ser definidos e formatados pelas redes sociais em que as empresas esto embebidas. Pode-se, ento, entender alianas como um arranjo que se insere no espao das redes. A partir de seu espectro de relacionamentos, as firmas podem desenvolver parcerias como as alianas. Gula