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Unidos Pelo Acaso
Roane Lilian
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Prólogo
— Oi mãe...
— Filha, eu acabei de ligar pra Sabrina e ela disse que você já tinha pegado a
estrada, eu fico preocupada, você sabe que eu não gosto que você dirija a noite!
— Eu sei mãe, mas amanhã é véspera de feriado e as estradas vão estar uma
loucura, então eu preferi vir agora que a estrada está deserta...
— Espera ai... Você não está falando no celular enquanto dirige?
— Não mãe, o celular está no viva-voz , minhas mãos estão grudadas no volante
não se preocupe...
— Sei... Então é melhor eu desligar logo...
— Está bem mãe, daqui a pouco eu já estou chegando...
— Fica com Deus filha, eu te amo!
— Eu também te amo, beijo tchau.
Ao desligar ela sorriu.
— Vai amor, anda mais rápido se não aqueles idiotas vão chegar na nossa frente...
— A mais não vão mesmo! – afirmou ele pisando no acelerador, ele passava pelas
placas sem nem dar atenção.
Anita já estava chegando à curva, estava cautelosa, pois sabia que era uma curva
acentuada. Do outro lado vinha o carro muito rápido, quando de repente um bicho
entrou na estrada, com o susto ele desviou o carro o jogando na pista contraria
onde se encontrava o carro de Anita, com a forte batida o carro de Anita foi jogado
para fora da pista rolando barranco a baixo, rodou quatro vezes antes de parar em
uma árvore. Foi tudo tão rápido que Anita nem viu o outro carro, somente o farol
alto que a cegou. De ponta cabeça Anita não conseguia enxergar muita coisa,
apenas o sangue que escorria pelo seu braço que estava esticado a sua frente,
tudo doía, alguém parecia se aproximar.
— Oh meu Deus você esta bem? – O homem suava frio.
— Me ajuda, por favor, me ajuda! - ela tinha dificuldade de falar.
— Calma, eu vou chamar ajuda! – ele estava se afastando.
— Não me deixa aqui sozinha, por favor, não me deixa! Me ajuda!
Mas o homem não parou e sumiu de sua vista, a dor estava cada vês mais forte e
ela se sentia cada vez mais fraca, quando tudo se apagou.
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2 semanas e 3 dias
Anita acordou com uma luz forte, piscou varias vezes antes de conseguir enxergar
algo, o lugar ligeiramente quieto, ela se sentou na cama e olhou em seu redor,
estava no hospital, identificou ela, ela estava cansada e o hospital era frio, ela se
levantou e foi até o espelho, enquanto se olhava ia passeando os dedos no rosto,
para ter certeza de que estava inteiro, respirou aliviada ao ver que era a mesma,
mas seu olhar se deslocou para trás de si no espelho, seu coração disparou, ela se
virou e se aproximou de vagar da cama de onde saiu e viu alguém deitado lá,
estava cheia de aparelhos e com varias ataduras, demorou até identificar, sem
acreditar foi andando de costa até o prontuário da cama onde continha seu nome.
Era ela que se encontrava ali no leito, as lagrimas rolaram pelo seu rosto antes que
pudesse conter, será que estava morta? Não, respondeu a si mesma ao olhar os
aparelhos, que mostrava que seu coração ainda batia. Ela correu para fora e pedia
a ajuda a cada um que encontrava no corredor, mas como esperado era inútil
ninguém a podia ouvir ou ver, depois de muito tentar, Anita se sentou a beira da
escada para chorar sua angustia, ao levantar a cabeça viu sua mãe passar com
flores nos braços, ela seguia para o quarto onde ela estava, colocou as flores no
vaso e cumprimentou a filha com tristeza.
— Ola querida, você havia me dito ―daqui a pouco eu já estou chegando‖, você
nunca foi de mentir meu amor,volta pra mim minha filha, volta!
— Como eu faço isso?
— Todos estão torcendo por você sabia? Até o Frederick – ela riu
— Mãe me tira daqui, Eu quero ir pra casa!
— A Sabrina cancelou a festa, disse que só ira dá-la quando você puder ir...
— Mãe me leva daqui, por favor, diz que você pode me ouvir, como eu saio daqui?
Mãe! – gritou ela em meio o desespero.
— Ela não pode te ouvir! – uma voz suave a avisou, ela enxugou o rosto e se virou,
um garoto estava parado na porta a olhando.
— V- você pode me ouvir?
— É claro que sim
— M-mas como? Porque minha mãe não me escuta? – ele caminhou até a cortina
ao lado abriu e a chamou com a mão, ela parou a sua frente e ele apontou para o
leito, ao ver Anita sentiu um nó na garganta.
— Eu posso te ouvir e te ver por que estou na mesma que você... – Anita o olhou e
ele parecia conformado. – eu te vi no dia em que chegou, sua mãe estava
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desesperada, o normal de qualquer mãe...
— No dia que cheguei? Há quanto tempo estou aqui?
— Duas semanas e alguns dias... Passou por varias cirurgias eu acompanhei tudo,
até cheguei a pensar que não fosse sobreviver, até que entrou em coma, acho que
faz três dias... Eu estava esperando pra te ver, com todos os machucados não dava
pra saber como realmente é... – Anita escutava em silencio, só suas lagrimas
falavam por ela, ao vê-la tão frágil ele decidiu parar de falar.
— Como eu faço pra voltar? – ele deu de ombros com um meio sorriso.
— Eu não sei, afinal se eu soubesse não estaria aqui... sabe pode não parecer mas
aqui não é o lugar mais legal do mundo...
— Há quanto tempo está aqui? – ele baixou a cabeça e caminhou até a janela,
Anita parou ao seu lado.
— Há muito tempo... tempo de mais... – Anita tomou sua dor, repousou sua mão
em seu ombro.
— Eu sinto muito! – ele se surpreendeu com a atitude e sorriu.
— Eu também sinto!
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2 semanas e 4 dias
Já estava tarde e eles conversavam, por um tempo ela até se esqueceu de seus
problemas.
— No dia anterior foi a festa de noivado do meu irmão, era pra eu ter ido embora
junto com os meus pais, mas eu preferi ficar com uns amigos, passamos a noite
inteira nos divertindo, quando o dia nasceu era hora de pegar a estrada, eu estava
de moto, e aconteceu o acidente, eu nem me lembro bem como foi, mas eu acho
que estava no lugar errado na hora errada...
— Isso é terrível, porque sempre tomamos as decisões erradas? por exemplo se
você realmente tivesse ido com os seus pais no dia anterior, talvez não estivesse
aqui agora.
— Pois é, pelo menos eu estou vivo, ou quase, na verdade já não sei, eu não sei se
teria sido melhor eu ter morrido, não sei se posso chamar isso de vida...
— Se você está vivo é porque não era sua hora...
— E de que me adiantou? – Anita não respondeu, na verdade ela não tinha
resposta. – Eu vejo tantas pessoas ir e vir, e tudo que eu posso pensar é quando
vai ser a minha vez.
— Você não deve pensar desse jeito...
— Eu estou cansado, cansado de ver meus pais sofrerem, cansado de ficar entre
essas paredes...
— E nós não podemos sair?
— Claro que podemos, só não é aconselhável... Dizem que quanto mais longe você
for mais difícil é voltar... Eu já pensei muitas vezes em sair por ai, ir o mais longe
que eu pudesse, só pra acabar com todo esse drama, mas eu não sou tão corajoso
quanto eu pensava... – nesse momento as enfermeiras entraram atrapalhando a
conversa. – Opa! Hora do banho...
— É estranho ver alguém cuidando do nosso corpo não é?
— No começo é constrangedor, mas com o tempo você acostuma, até acho que
essa enfermeira gosta de mim. – ele riu e Anita apenas sorriu.
— Eu acho melhor nós sairmos daqui...
— Por quê? Você não quer ver? Acho que lhe devo uma...
— O que? O que quer dizer com isso? – ela foi o enchendo de tapas leves nos
braços e ele se divertia com sua raiva.
6
3 semanas
Estavam andando no corredor ele estava apresentando todos, quando Anita parou
em sua frente, e sorriu sem graça.
— Nossa... Você já me apresentou tanta gente e eu nem sei seu nome...
— Sou Harry Adams – disse com um enorme sorriso estendendo a mão.
— Anita Garcia – ela apertou a mão dele sorrindo.
— Seria egoísta da minha parte dizer que é um prazer conhecê-la?
— Talvez um pouco... – Anita olhou para a grande mão que segurava a sua e se
sentiu mais segura, e de certa forma até agradecia por não estar sozinha.
E de trás dele ela viu um vulto negro vindo, ele a pós atrás dele e aquela coisa
passou por eles entrando em um quarto mais a frente, Anita foi até o vidro do
quarto e viu o momento em que aquela coisa virou uma pessoa e umas luzes
emanavam dele, ele estava em frente ao leito onde um homem repousava, o
homem parecia ter ficado hipnotizado pela luz, e de bom grado se levantou e
caminhou até a pessoa luminosa, e quando deu a mão foi sumindo aos poucos
junto com a luz, quando havia desaparecido totalmente o vulto deixou o quarto, foi
quando a esposa do homem notou que seu marido havia partido, e gritou pelos
médicos aos prantos. Anita estava pasma e seus olhos já transbordavam quando
Harry pós suas mãos grandes em seus ombros, tentando confortá-la, e aos poucos
foi a tirando dali.
— Pra toda morte há uma nova vida... – Disse a Anita a mostrando o berçário onde
a enfermeira ninava um recém-nascido. Ela se virou e o abraçou forte.
— Eu não quero morrer Harry, não agora! – Ele retribuiu o abraço apertado.
— E não vai... Você só está em um sono profundo, esperando para despertar...
Você vai acordar, eu sei que vai. – Ali ela se sentiu em paz, seu coração se
aqueceu, era como uma renovação de energias e esperanças.
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1 Mês
Quando o dia amanheceu Anita estava ajoelhada sobre si, parecia bem
concentrada.
— Desculpe te atrapalhar, mas o que é que você está fazendo?
— Estou tentando me mexer, você devia tentar também...
— É inútil pra mim...
— Não diga isso, você não pode desistir de si mesmo! Eu vou sair daqui e você
também, então tente, não custa!
— Ta legal, o que eu faço?
— Basta você usar o poder da sua mente pra tentar fazer seu corpo responder, é
só se concentrar bem... – ―hum‖ foi só o que disse e Anita insistiu – Vamos Harry ,
vai fazer bem pra você, tente... – ele se sentou no estrato da cama, se olhou e
tentou, ela ficou satisfeita ao vê-lo tentar e voltou a se concentrar em si. Uma hora
depois e os dois já estavam exaustos, e ela frustrada.
— Nossa, eu não sabia que usar o ―poder da mente‖ cansava tanto...
— E sem nenhum sucesso. Mesmo assim temos que continuar tentando!
Nesse momento duas meninas entraram no quarto:
— Oi amiga! – uma disse alto e a outra a repreendeu.
— Shiu! Estamos em um hospital se lembra?
— São suas amigas? – Harry perguntou interessado.
— São sim. – as meninas continuaram...
— Desculpe... – O rosto de Anita se iluminou ao ver suas melhores amigas.
— Oi Anita, como você está?... Já faz um mês, desculpa não termos vindo antes...
— Mas é que sua mãe disse que era melhor esperar um tempo... Ela não queria
que nós a víssemos tão machucada...
— Mas devo dizer que ainda está gatona! – todos riram.
— Ai amiga, temos tantas coisas pra te contar, em um mês as coisas viraram de
pernas pro ar, você nem imagina...
— Pois é, por exemplo a Lolita foi despedida... Finalmente nos livramos dela!
— Fala serio! Mas já estava na hora né?! – Anita interagia como se elas pudessem
escutá-la.
— E o Christian... ele assumiu o seu romance com a Silvana da contabilidade!
— Eu disse que eles tinham um lance!
— Bem que você disse que eles tinham um caso...
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— Você ta fazendo falta na redação...
— E fora de lá também! Nós até fizemos um mural pra você, todo mundo escreveu
um recadinho pra você e colou lá... quando você acordar vai ter muita coisa pra
ler... – ela riu.
— Ah! Quase ia me esquecendo, sabe o bonitão de Angras? Ele passou lá na
redação semana passada e perguntou de você...
— A gente disse que você tinha viajado, pra resolver uns problemas no sul...
— Não tivemos coragem de dizer a verdade, ainda é difícil de aceitar sabe?
— Mas ele deixou o numero dele e disse que era pra você ligar quando voltasse, o
numero esta lá no mural...
— Todo mundo está torcendo por você amiga!
— Especialmente porque a Sabrina disse que só vai dar aquela festona quando
você puder ir, então vê se não demora heim?! É nessa festa que eu desencalho –
mais uma vez todos riram. – Agora uma dica da sua Best aqui, o bonitão de Angra
não sai por ai distribuindo o numero dele pra todas, então se eu fosse você dava
um pulo dessa cama agora e corria ligar pra ele! – Vick sem duvida era sua amiga
mais engraçada e Marcelina a mais doce. Por fim elas se despediram e foram
embora, Anita ainda ficou sorrindo por um tempo e Harry não deixou barato:
— Parece que alguém aqui já tem um encontro garantido...
— Ele nem é tão bonito assim... - disse ela desconversando.
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2 Meses Depois dos exercícios matinais Harry chamou Anita para dar um volta pelo hospital,
parecia que três pacientes receberiam alta hoje, eles adoravam ver esses
momentos, era como uma motivação, quando estavam passando em frente ao
berçário Anita gritou um ―Ai‖ e levou o dedo a boca.
— O que foi?
— Eu não sei, acho que espetei o dedo em algum lugar. – disse olhando o dedo.
Depois de andar o hospital e se divertir com as altas dos pacientes, voltaram para o
quarto, onde um homem estava parado do lado de fora do quarto, parecia indeciso,
mas por fim decidiu entrar, ele foi até o leito e disse ―Oi‖ ao Harry meio sem jeito,
depois de ver que ninguém o observava ele prosseguiu:
— Você parece muito bem, até melhor que eu, mas também dormindo desse jeito
até meu cachorro! – Ele parecia estar em conflitos com seus sentimentos,
começava as frase calmas e terminava com entonações altas como se estivesse
zangado. Parando pra analisar o homem se parecia muito com Harry, irmão
talvez... – Você precisa voltar logo, a empresa está afundando, papai não consegue
se concentrar nos negócios desde que você ficou nessa cama, estamos todos
cansados, mamãe só fica atrás de curandeiros e charlatões que dizem poder
ajudar, e tudo está em minhas mãos, eu não sei por quanto tempo vou conseguir
segurar suas pontas. – agora parecia muito irritado – Você sempre fez de tudo pra
chamar atenção, mas se quer saber isso já foi longe demais! Eu acho melhor você
se levantar dessa cama antes que eu chute essa sua bunda branquela pra fora
desse hospital! – ele ficou parado como se esperasse resposta, ele passou a mão
pelo rosto repartiu o pequeno buquê de flores que havia trazido e colocou uma
parte no vaso de Harry, se despediu do irmão com um beijo na testa, e ao passar
pela cama de Anita depositou a outra parte do buque em seu vaso, ele a olhou por
um minuto desejou melhoras e se foi. Eles permaneceram em silencio por um
tempo.
— Seu irmão?
— É...
— Ele parecia meio zangado...
— Nós nunca fomos grandes amigos, se é que me entende...
— Mas ao mesmo tempo ele parecia cansado e tristonho.
— Somos irmãos não somos? Deve estar sendo difícil pra ele, meu pai sempre foi
muito exigente com ele, e ainda tem a empresa... São muitas coisa nas costas dele.
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— Entendo. – Anita foi até seu leito e viu algo em sua mão, olhou duas vezes pra
ter certeza. – H-harry! – disse ela baixo e repetiu duas vezes mais alto, assim que
Harry se aproximou Anita se jogou em seus braços rindo e rodando, o obrigando a
fazer o mesmo, ele a segurou pelos ombros a fazendo parar e perguntou qual o
motivo da comemoração. – Eu senti Harry! Eu senti!
— Sentiu o que?
— Veja, eu levei uma picada no dedo de verdade, e eu senti, lembra hoje cedo no
berçário?
— Oh meu Deus! – ele começou a rir também e passaram a noite como crianças
que acabaram de ganhar brinquedo novo.
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3 Meses e 2 semanas — Então doutor, como está meu filho?
— O quadro dele ainda é estável dona Sonia, porém registramos uma alta nas suas
atividades cerebrais nesses últimos meses, mas isso ainda é muito pouco pra dizer
qualquer coisa... – com um meio sorriso ela acariciou o filho.
— E quanto a minha filha doutor?
— A sim eu queria mesmo falar com a senhora, queira me acompanhar...
Tempo depois Harry e Anita estavam fazendo seus exercícios.
— Fala serio, por hoje já chega mim.
— Ah Harry deixa de ser preguiçoso e continue... - uma moça entrou no quarto,
assim que a viu Harry disse ―Nicole‖ com tamanha surpresa e suavidade que Anita
sacou logo a importância dela, ela caminhou devagar até o leito de Harry passou as
mãos sobre seu cabelo e sorriu dizendo:
— Oi Harry, você está tão bonito, vejo que estão cuidando direitinho de você aqui...
Desculpa não ter vindo mais te ver, mas você sabe como são finais de semestres é
sempre uma correria que não sobra tempo pra nada, estou com o mesmo esmalte
já faz quase um mês só pra você ter uma idéia, mas valeu a pena, eu passei nos
exames finais, terminei a faculdade semana passada, e daqui dois dias será a
formatura... Eu queria que você estivesse lá, mas pelo menos seus pais já
confirmaram presença, eles vão te representar. – ela fez uma pausa e segurou sua
mão – Eu precisava tanto conversar com você, é por isso que vim aqui, no final do
mês quando eu pegar meu diploma eu irei embarcar de volta para Nova York, nós
teríamos terminado a faculdade juntos se aquela dia não tivesse acontecido, você
poderia iria comigo pra Nova York, mas parece que nunca as coisas saem como o
planejado não é? – seus olhos começam a marejar e ela teve que tomar fôlego –
Harry eu sei que você vai acordar, e esse será o dia mais lindo do mundo, mas eu
não posso esperar mais, eu quero voltar pra Nova York livre, você sempre será o
meu primeiro e grande amor, mas eu não posso me prender a você, me desculpa...
– delicadamente ela tirou sua aliança, enxugou o rosto tomando forças e as colocou
dentro de um envelope, que deixou sobre a mesa – Caso você não se lembre
dessa conversa eu deixei tudo explicado nessa carta. – Ela se reclinou sobre ele e
o beijou de leve, Anita estava muito emocionada, olhou pra Harry que estava perto,
ele estava parado e sem expressões, ela parecia sentir por ele. – Adeus Harry e
obrigado por todos os momento lindos que passamos juntos, eu nunca me
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esquecerei deles, vou levá-los comigo.
Ela saiu se recompondo, e Anita não sabia o que dizer para confortá-lo então
permaneceu em silencio, ela queria abraçá-lo forte o abrigar perto do seu coração e
protegê-lo da dor, mas não teve coragem de tomar iniciativa. Ele se virou devagar e
saiu, Anita pensou em segui-lo, mas era melhor lhe dar espaço, é o que homens
querem em situações complicadas.
Ele devia a amar muito, e ela também, carregar uma aliança por tanto tempo e
estar sozinha, devia ser muito difícil, mais difícil ainda devia ser perdê-la, pobre
Harry pensou ela segurando as mãos no peito.
Mais tarde naquela noite o encontrou deitado no gramado do hospital, tão solitário.
— O luar está lindo hoje... – disse se sentando ao seu lado, tentando parecer
casual, ele nada respondeu – Você esta bem? – ele balançou a cabeça afirmando
que sim – Você pode conversar comigo se quiser, às vezes é bom desabafar com
alguém...
— Obrigado, mas não quero falar sobre isso...
— Se guardar tudo dentro de si, isso só ira lhe fazer mal.
— Eu sei.
— Você pode a encontrar em Nova York quando você acordar...
— Quando eu acordar... – ele disse em tom de deboche.
— Sim, quando esse dia chegar ela vai estar lá, ela gosta de você eu vi isso nos
olhos dela...
— Quando esse dia chegar ela já vai estar com um alguém, o homem da vida dela
talvez...
— E quem garante que esse homem não seja você?
— Eu sei que não sou, não da pra explicar, eu só sei.
— Eu sinto muito.
— É melhor assim, eu queria ter a deixado livre a mais tempo, mas não pude, agora
ela pode viver a sua vida, seguir seu caminho, sem se preocupar com ninguém, eu
fui só um peso morto.
— Não diz isso, você não escolheu estar aqui, foi um acidente.
— Um maldito acidente... – disse ele com uma lagrima rolando por sua face, Anita
se aproximou e o puxou pra si, o fazendo deitar sobre suas pernas, onde ele se
aconchegou e deixou sua dor escorrer por seus olhos, sem manter pinta de auto-
suficiente, sem embromação, só um coração ferido pela vida.
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No dia seguinte...
— Anita corre, você precisa ver isso! – disse ele a puxando pela mão.
— O que? O que foi? - perguntou enquanto corria.
— Esta tendo o maior barraco lá na recepção! – dizia ele rindo alto e a forçando a
correr.
Quando chegaram lá embaixo estava realmente uma tremenda confusão, nem dava
pra entender o porquê de tanta bagunça, Harry ria tanto que parecia que ia rolar
pelo chão a qualquer momento, e Anita não sabia o que era mais engraçado, a
briga na recepção ou Harry rindo tanto. E o vendo rir daquela maneira, nem dava
pra pensar que tinha sofrido uma seria perda na noite passada, ela ficou ali o
olhando e analisando que até se esqueceu de prestar atenção na discussão, e logo
o seguranças apareceram para acabar com o show, chegaram dizendo ―Isso aqui é
um hospital não um circo, então se querem bancar as palhaças, eu devo pedir que
se retirem!‖.
— Ah não! Que intrometidos, não é sempre que se tem agitação por aqui, que
pena, eu achei que a baixinha ia conseguir ―cegar a canela‖ da recepcionista. –
disse enxugando os olhos de tanto rir. – ai ai, minha barriga está até doendo.
— Você parece tão feliz...
— E isso é ruim?
— Não claro, mas eu achei que estaria sentido por ontem...
— Eu não posso lamentar pelo resto da vida, o que aconteceu, aconteceu e já
passou. – ela o olhava incrédula.
— O ultimo relacionamento que eu terminei já faz um ano e ainda me sinto
desconfortável, como vocês podem ser tão práticos?
— A vida é curta pra tantas lamurias minha amiga!
— Eu queria ser homem...
— Deus que me livre disso! Você é tão bonita e delicada, não ficaria bem usando
cuecas! – disse rindo.
— Tem razão, e eu odiaria ter que fazer a barba todo dia!
— E você teria me traumatizado, não pegaria bem eu ter chorado no colo de um
homem. – eles riram juntos.
— Não serio... eu estava dizendo que eu queria ser como vocês, superar rápido o
fim. Meu noivado se foi a tanto tempo, mas toda vez que eu o encontro, eu fico sem
saber como agir, e me da um nó na cabeça.
— Noivado? Quantos anos você tem?
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— Vinte e um só, mas eu realmente pensei que ele fosse o cara com quem eu
queria passar o resto da minha vida. Eu até agradeço por ele ter decidido cancelar,
teria sido um grande erro, hoje eu consigo ver isso. Mas por outro lado apagar tudo
que ele foi é bem difícil pra mim.
— Você não precisa apagar tudo, é só virar a pagina e continuar a viver, o que
passou tem que ficar no passado.
— Viu? É tão fácil pra vocês...
— Pra vocês também! A única diferença é que você gostam de sofrer por ―amor‖,
vocês se agarram as coisas como se essas fossem a única coisa que importa.
— Não é bem assim!
— Vai dizer que você nunca colocou uma musica fossa e ficou se lembrando dele e
vendo fotos, e indo atrás dele pra ver se ele estava mal também?
— Talvez...
— Viu só! Vocês precisam disso pra viver – ele sorriu, e foi a primeira vez que Anita
reparou em como seu sorriso era lindo, ela se fixou e depois deslizou o olhar pelo
seu rosto de menino, e seu corpo de homem, realmente uma combinação perigosa.
– Anita?! – Sua voz rouca era tão gostosa, ela ruborizou, e ele não entendeu. – O
que foi? – Será que ele tinha percebido, ele se virou disfarçando o calor.
— Eu vou tomar um ar...
— Tomar um ar? Por quê? No que estava pensando?
— N-nada, eu só estava viajando, desculpe.
— Estava pensando nele?
— Nele?
— Seu ex oras!
— Ah sim! Quer dizer, não! Eu não estava pensando nele...
— Estraanho!
— Quer saber? A gente já ficou muito tempo longe do quarto, é melhor nós
voltarmos e começar nossos exercícios de novo, já perdemos muito tempo, e... e...
bom, deixa pra lá. – Droga! Pensou ela, havia se justificado demais.
Quando entrou no quarto viu muitas flores espalhadas e alguns balões.
— De onde veio tantas flores?
— No mínimo pensaram que eu já tinha morrido...
— Não fala isso!
— Mandaram pra dizer que ainda se lembram de mim.
Anita viu um cartão que dizia feliz aniversário e entendeu os balões.
— Hoje é seu aniversario?
— Pois é... – Ela o abraçou.
— Parabéns! – Ela afrouxou o abraço e depois soltou ao ver que ele não
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correspondeu, ele estava olhando pra fora. Ela esfregou mão de leve no braço dele,
e quis saber o que se passava. – O que foi Harry?
— Eu vou sair!
— Claro que vai!
— Eu vou embora...
— O que? Você não pode fazer isso!
— Claro que posso, e vou!
— Mas e o seu corpo? Harry se lembra? Quanto mais longe, mais difícil é voltar!
— Eu não vou voltar... Eu estou cansado de ficar aqui, sabe o que é passar cinco
anos dentro desse maldito hospital esperando um milagre?
— Talvez esse foi seu erro, ficar esperando! – ele a fitou por um momento depois
foi até a cama.
— Eu não quero mais ficar vendo todos receberem alta ou morrer e eu ficar aqui no
meio termo, já que estou vivo eu quero viver!
— E você acha que sair por ai como uma alma penada é viver?
— Não, mas é melhor do que ficar preso aqui!
— Harry você tem que lutar se quer sua vida de volta! E se quer tanto sair daqui
devia se esforçar mais pra acordar do que ficar tento idéias ridículas de sair por ai!
— Você não entende, só esta aqui há três meses e já reagiu ao tratamento, isso
não é nada comparado aos meus cinco anos parado em uma cama!
— Você não pode desistir agora Harry, tem pessoas te esperando, e muitas
pessoas que acreditam em você!
— Que acreditam? Aposto que a maioria das pessoas que me mandaram essas
flores, mandaram por dó, e compaixão pela minha família!
Ele saiu e Anita o seguiu até a portaria.
— Não pode ir, não pode desistir!
— Eu já desisti há muito tempo, só me faltou coragem pra admitir.
— Eu vou com você.
— Não, você vai ficar e levantar daquela cama, e se ainda lembrar de mim, me
visite algum dia. – Anita começou a chorar.
— Fica, por favor?
— Desculpe. – ele deu um beijo em sua testa, enxugou o seu rosto com um toque
suave – Adeus Anita, foi ótimo te conhecer. – Respirou fundo e partiu sem olhar pra
trás, Anita o viu desaparecer por entre os carros.
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3 Meses e 3 semanas
No quarto ela ficou monitorando cada batida de seu coração, se sentiu tão só, a
noite foi vazia e silenciosa. O dia logo veio e Anita acordou sem disposição para
exercícios então decidiu andar pelo hospital, ao passar em frente de um quarto viu
um dos pacientes se levantar da cadeira de rodas e anda até o enfermeiro, eles
comemoraram, um misto de sentimentos a invadiu, alegria, tristeza, medo,
motivação, e se perguntou onde Harry estaria agora, e antes que viesse a chorar,
ela tratou de apagar isso, continuou sem rumo.
Sentiu um frio na espinha, se virou e viu um vulto negro passar, seu coração
acelerou e ela correu subindo as escadas , ao chegar no topo viu o vulto indo pelo
corredor, suas pernas tremeram, mas ela a firmou e correu, passou pelo vulto que a
seguiu com o olhar, ela continuou, entrou no quarto e correu para cama de Harry, e
ficou ali parada esperando. O vulto chegou à porta e a olhou, mesmo congelando
de medo ela abriu os braços em defesa de Harry, o vulto continuou seu caminho e
Anita abaixou os braços devagar, seus joelhos não agüentaram e ela se agachou
no chão tentando recuperar o fôlego.
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Dois dias depois
Anita estava deitada, mergulhada em seus pensamentos. Sua mãe chegou, ela
parecia preocupada, disse algumas coisas, chorou, rezou. Isso deixou Anita tão
impotente, ela queria abraçar a mãe, saber o que estava acontecendo, Anita fechou
os olhos e se concentrou, ela podia sentir sua mãe a segurando pela mão, ela
tentou e de repente as lagrimas de sua mãe cessaram, ―filha?!‖ ela a olhou e
chamou pelo médico.
— E-ela apertou minha mão!
— A senhora tem certeza disso?
— É claro, eu estava aqui conversando com ela, e ela apertou minha mão!
— Isso pode ter sido só um espasmo, as vezes o nosso corpo faz isso...
— Não, foi ela que quis, querida faz de novo, você está me escutando não está?
Ela apertou a mão do médico e ele sorriu, e logo mandou as enfermeiras fazer
varias avaliações, Anita estava tão feliz por ter conseguido e queria contar pra
alguém, mas quem? Ela se sentou na cama de Harry e começou a falar, mesmo ele
não estando ali, pensou em como foi fraca não tendo o impedido.
— Ah Harry se ainda estivesse aqui...
— O que aconteceria? – Um sorriso surgiu ao ouvir aquela voz, ela o olhou e sem
pensar correu para seus braços, o apertando forte.
— Eu nem acredito que tenha voltado, pensei ter te perdido...
— Eu sou um idiota, me comportei como uma criança mimada, eu entendi quando
me vi só. Pensei que podia simplesmente sair por ai, mas não a nada pra se fazer
quando se esta assim, então decidi voltar seja pra acordar, ou seja, pra partir de
uma vez...
— Obrigada por voltar.
— Acho que alguém tem novidades para contar...
Ela sorriu e o puxou contando se suas façanhas, estava animada por tudo que
aconteceu, mas estava ainda mais por tê-lo perto.
E ele estava feliz de vê-la sorrir, foi muito difícil sair daquele jeito, mas estava cego
aquele dia, e mais tarde se arrependeu de partir daquela maneira. Agora só aquele
sorriso importava, senti suas mãos sobre as dele, estava protegido outra vez, e com
energia para recomeçar.
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4 Meses
Hoje o dia nasceu preguiçoso, depois de seus exames corriqueiros, Anita estava
sorridente, tudo estava fluindo muito bem, se sentia pronta para acordar a qualquer
momento. Harry também estava se esforçando, seu retorno pareceu motivá-lo mais,
porém ainda havia um longo caminho a percorrer. Tudo estava em seus lugares,
mais o dia ainda guardava uma surpresa, e ela não era boa.
Era tarde de visita, Anita tinha recebido as amigas com as fofocas colocadas em
dia, pena Anita não poder contar como tem sido. Já quase terminando o horário de
visitas Henrique irmão de Harry apareceu, bem vestido como sempre, porem com
uma expressão intrigante, diferente das outras vezes, ele conversava em um tom
suave e delicado, podia se ver claramente que passara noites sem dormir, o
cansaço estava estampado em sua face, dizia meias palavras e se perdia entre as
orações. Ficou quieto por um instante, então abaixou a cabeça escondendo
algumas lagrimas que lhe escaparam, disfarçou e se levantou, com o olhar distante,
como se não quisesse encarar o irmão, começou a falar.
— A vida não tem sido muito justa com a gente, e tudo vem desandando, é como
se você fosse uma das bases mais importantes da nossas vidas, e sem você tudo
esta desabando... Eu tentei de tudo, os melhores médicos, as melhores instalações,
mas não foi suficiente, você nos deixou Harry, nos abandonou. Eu tentei te cobrir,
eu cuidei de tudo, mas não da mais, eu estou cansado, eu não tenho mais forças
pra cuidar do papai, a mãe, nem mesmo de mim. Eu não queria desistir, mas a
empresa não esta nada bem, nossa família esta quebrada, e precisamos
descansar. Precisamos sofrer de uma vez para a ferida se curar, Eu Te Amo, sinto
muito não ter demonstrado quando pude, e eu vou me arrepender pelo resto da
minha vida, mas eu tenho que tomar uma decisão, na verdade eu já tomei... Nós
vamos deixá-lo ir, vamos te libertar e nos libertar. Até o fim desse mês nós
desligaremos as máquinas, eu sinto muito. - E ao notar o quanto suas palavras doía
em si próprio, ele partiu sem se despedir.
Anita estava estática, e Harry calado. O silencio se prolongou por muito tempo, é
como se não houvesse palavras nesse momento.
— Harry... – ela segurou seus ombros, e ele se entrelaçou em seus braços
enquanto o silencio dizia por ele. Os médicos e enfermeiros entravam e saiam, e ali
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eles ficavam abraçados a olhar pra longe. Até que o gelo foi quebrado. – Isso não
pode terminar assim Harry, eles não podem fazer isso!
— Sim, eles podem e vão fazer... Talvez estejam certo, é hora deles viver –
enquanto falava Anita negava – Quando entrei em coma, eles estacionaram
também, eles entraram em coma comigo, eu devia ter deixado eles antes...
— Para! – ela se exaltou e retomou a calma – Para de dizer essas coisas, você
esta melhorando eu posso sentir.
— Me desculpa Anita, mas está tarde...
— Você não vai desistir agora, se o fizer então todos esses anos terão sido perda
de tempo...
— Eles desistiram de mim, porque lutar?
— Eu não vou deixar eles te levarem, e você não vai desistir, eu não permito que
faça isso! – ele a olhou e passou a mãos pelo seu rosto.
— tudo vai ficar bem, eu prometo. – ele a deixou e ao olhar para si, ela estava
chorando, seu corpo chorava pela tensão que seu espírito sofria, ela caminhou e se
deitou junto de si.
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O dia seguinte...
— Anita eu estive pensando... – ele entrou no quarto e não tinha ninguém, achou
estranho, mas continuou, percorreu o hospital inteiro a sua procura, sem resposta
voltou pro quarto. – Anita?! Mas onde você se meteu? – foi até os pés de sua cama
e congelou ao vê-la abrir os olhos. Piscou varias vezes até se acostumar com a luz,
levantou a mão de vagar até alcançar a cabeça. A enfermeira entrou e se
surpreendeu logo correu chamar o medico responsável, que veio rápido.
— Anita? – ela o olhou meio confusa e ele sorriu – Bom dia, eu sou o Doutor
Fernandes e estou muito feliz por ter acordado.
— O-onde? C-cadê a minha mãe?
— Calma, eu vou te explicar tudo, mas primeiro eu tenho que te examinar, tudo
bem? – ela acenou com a cabeça e depois ele voltou a lhe falar – Você se lembra
do que aconteceu?
— Sim, eu estava dirigindo pra casa e então um outro carro surgiu... ele me deixou
lá, porque ele me deixou?
— Ele chamou o resgate, mas não ficou esperando, não conseguiram identificar
que bateu no seu carro...
— A minha mãe sabe que estou aqui? Eu disse que já estava chegando, ela deve
estar preocupada!
— Sim sim, sua mãe sabe que esta aqui, alias ela está caminho... Mas eu preciso
te dizer algo, quando chegou ao hospital você estava muito mal, e passou por
algumas cirurgias, e acabou entrando em coma, isso já faz uns quatro meses...
— Quatro meses?!
— Querida! – sua mãe entrou correndo e foi abraçá-la. – Oh meu Deus, obrigada!
Minha menina, como está meu amor?
— Cansada – ela riu dado os fatos.
— Escute, é melhor não se esforçar, descanse e amanhã nós daremos os próximos
passos, está bem? - Anita consentiu e ao se acomodar no travesseiro olhou ao
lado, ao ver aquele leito sentiu um frio na barriga.
— Quem é esse?
— Harry Adams ele é irmão do meu chefe, que nos ajudou cobrindo nossas
despesas, graças a ele você esta aqui querida. – Esse nome soava tão conhecido,
parecia tão significativo que chegava a incomodar.
— O que aconteceu com ele?
— Ele sofreu um acidente de moto, uns quatro ou cinco anos atrás, e desde então
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está ai, eu sinto muito pela família dele, me desesperei quando pensei que você
também ficaria assim, mas graças a Deus você acordou, eu rezei tanto...
— Eu o conheço...
— Sim, creio que o tempo que passou nesse quarto tenha ouvido bastante sobre
ele, o medico disse que você nos escutava...
— Não, é diferente, eu realmente o conheço, eu não sei explicar, mas é o que sinto!
— É melhor descansar querida...
Ela adormeceu olhando aquele leito.
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Dia 1
O dia começou agitado, muitas perguntas, exames e visitas.
— Tenho boas novas Senhorita Garcia...
— Hoje todas as novas estão sendo boas Doutor Fernandes. – ela sorriu.
— A senhorita parece ter despertado de um sono de beleza, e por isso será
transferida para um quarto comum...
— Isso quer dizer um pezinho a mais fora daqui?
— Realmente, mas já está pensando em nos deixar?
— É o que eu mais quero, sinto como se tivesse passado um século aqui... – ela riu
— Pois bem, se tudo continuar as mil maravilhas como está, não teremos porque
prende-la aqui...
Ao deixar aquele quarto ela levou a sensação de estar se esquecendo de algo...
Estva conversando animada com sua amiga Victoria.
— É muito maluco isso, é como se eu tivesse ido dormir ontem que seria a quatro
meses atrás e acordado hoje... – um barulho interrompeu a conversa, ao se virar
Anita viu um homem alto, bonito, com seus 25 anos no Maximo, ele tinha esbarrado
na mesinha perto da porta.
— Desculpa ter interrompido a conversa de vocês...
— Ah esta tudo bem...
— Eu soube que você tinha acordado e vim lhe trazer um presente... – elas se
olharam – Eu não sabia o que trazer então trouxe essas flores, acho que todas as
mulheres gostam de flores...
— Eu amo flores! – disse Vick , ele deu um meio sorriso e desprendeu duas flores
do buque e deu a ela, depois entregou o buque a Anita, que as sentiu e sorriu.
— Obrigada... Me perdoa se estiver sendo indelicada, mas eu não me lembro de
você...
— Ah sim, perdão, sou Henrique irmão do seu ex-colega de quarto, e chefe de sua
mãe...
— Ah sim, minha mãe me falou de você, eu o agradeço pelo imenso favor que fez a
minha mãe e a mim também, acho que não temos como retribuir o que fez...
— Está tudo bem, só de vê-la bem já me o suficiente, eu sei muito bem tudo que
sua mãe passou, e o mínimo que eu poderia fazer era lhe estender a mão...
— Muito obrigado mais uma vez...
— Bom eu vou deixá-las conversar, ainda tenho muito o que fazer. Até mais Anita.
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— Anita como é que você consegue fazer isso? Até em coma você conhece esses
pedaços de mau caminho! – Disse Vick rindo assim que ele saiu.
— Fala serio, Vick do que você ta falando?
— Hum saquei, você viu primeiro, está bem...
— Para com isso garota! – e ali elas ficaram rindo e conversando até acabar o
horário de visitas.
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Dia 2
A noite estava fria e o silencio pairava, Anita sentiu aquela sensação de
esquecimento mais uma vez, na verdade desde que acordara sentiu isso. Ela se
levantou e caminhou lentamente até a porta, averiguou os dois lados do corredor, e
quando teve certeza de que ninguém a veria saiu em passos leves. Subiu as
escadas, e avistou o corredor, alguns enfermeiros que ali estavam entraram
conversando em uma das salas, e de forma rápida e silenciosa Anita adentrou seu
antigo quarto. Viu sua cama vazia, e foi até a cama de Harry, ela o olhou por algum
tempo, e soube que seja lá o que estivesse esquecendo Harry era a chave do
enigma. De onde ela o conhecia? Essa era a pergunta que não saia de sua mente,
não se lembrava dele de nenhum lugar, nunca foi nas festas da empresa em que
sua mãe trabalhava, seu rosto era tão familiar e tão desconhecido ao mesmo
tempo, e quanto mais ela pensava mais ficava confusa. Ela caminhou até a
cabeceira da cama, e meio sem jeito lhe tocou o braço, sentiu um arrepio, e
deslizou até a mão que estavam um tanto quanto geladas.
— Senhorita Garcia?! – disse a enfermeira ao entrar no quarto, dando um susto em
Anita que se afastou bruscamente. – O que está fazendo aqui?
— É... Eu, nada! – ela fez cara de ironia e Anita ruborizou. – Bom, eu não consegui
dormir e decidi dar uma volta pra clarear, ai eu lembrei dele e vim visitá-lo, só isso.
— Hum... Mas a senhorita devia estar descansando, não é bom que fique
perambulando por ai, não está cem por cento ainda!
— Eu sei, e já estou indo pro meu quarto...
— Quer que eu lhe acompanhe?
— Ah não, não precisa, eu vou direto pra cama, chega de passeios noturnos! – ela
sorriu sem jeito e o olhou uma ultima vez antes de sair.
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Dia 4
O médico entrou para visitá-la e Anita quis conversar.
— Doutor, desde que eu acordei estou com aquela sensação de estar me
esquecendo de algo, algo muito importante e acho que tem alguma coisa haver
com o Harry.
— Sim claro, vocês dividiram o mesmo quarto, escutaram as mesmas conversas, é
natural que se sinta ligada a ele...
— Mas não é só isso, eu não tenho a menor idéia mas eu preciso descobrir e
rápido!
— Eu só acho que esteja um pouco tensa pelo ocorrido...
— Que ocorrido?
— A família de Harry vira no final do mês para desligar os aparelhos, isso deve...
— Como assim desligar? – interrompeu Anita.
— Bom, a família vem enfrentando muitas dificuldades e decidiram que é a hora de
deixá-lo descansar...
De repente um flash surgiu em sua mente e as palavras que ela ouviu foram ―Eu
não vou deixar eles te levarem, e você não vai desistir‖, então tudo clareou.
— Caramba! A-agora eu estou me lembrando, era isso doutor, isso é o algo
importante que eu estava me esquecendo... O senhor tende impedir!
— Eu não posso Anita, é uma decisão que não cabe a eu tomá-la...
— Mas o senhor pode dizer a eles que ele está melhor, que há esperanças! –houve
um pequeno silencio e Anita prosseguiu – O senhor não vai ajudar não é?
— Entenda, Harry teve melhoras pouco significativas, não posso fazê-los crer em
algo que não condiz com a realidade... – agora muito seria Anita fitava o medico.
— Doutor, para alguém que está cinco anos em uma cama, acho que qualquer
melhora é significativa!
— Oras eu não estou dizendo que... – ele tentou se explicar, mas Anita se deitou
virando-lhe as costas dando o caso como encerrado. – Me desculpe Anita, mas
nem todos tem a mesma sorte que você...
Então deixou o quarto, mas suas palavras não a convencera, ela disse que iria o
proteger e é isso que iria fazer.
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Ela se levantou e mais uma vez nas escondidas foi até o quarto de Harry.
— Agora eu me lembro, e eu farei o que for preciso para impedi-los, eu preciso falar
com alguém, seu irmão talvez, eles precisam me ouvir... – ela sentou ao seu lado,
segurando forte a sua mão – Talvez isso seja maluquice minha, talvez com o
acidente eu tenha pirado de vez, eu realmente não entendo o que se passou
conosco, mas eu vou deixar a razão de lado e tentar ouvir o que o meu coração diz,
e eu não sei o que fez, mas é o seu nome que está aqui... Eu acredito em você
Harry, sei que vai sair dessa, e eu vou te ajudar. – Anita se debruçou sobre o leito e
beijou Harry suavemente na testa, ela abriu os olhos levemente e o olhou, depois
sorriu meio sem graça, tirando onda com sigo mesma. – Em contos de fadas isso
funciona melhor... – ela caminhou até a porta e antes de sair disse – Eu tenho que
ir antes que percebam minha ausência, mas agora é a hora Harry, você precisa ser
forte, precisa acordar, somos só você e eu contra o mundo, não deixa eu me divertir
sozinha...
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1 semana
Já era um pouco tarde quando Henrique chegou atendendo ao pedido de Anita.
— Você queria me ver?
— Sim, eu queria conversar com você...
— E sobre o que quer conversar? – Henrique estava feliz pelo chamado, ele
parecia gostar bastante de Anita.
— Bom, é um pouco delicado... Eu queria lhe fazer um pedido, e acho que só você
pode me ajudar.
— Se estiver ao meu alcance, seria um prazer ajudá-la...
Anita segurou sua mão e o trouxe para sentar-se perto, e o olhando nos olhos de
Henrique que se mantinha fixos aos dela prosseguiu.
— Eu queria que você adiasse o desligamento dos aparelhos, não, na verdade
peço que cancele. – Henrique logo se levantou e se virou.
— E-eu não posso fazer isso, você não entende...
— Com certeza não entendo, Harry está melhorando e é preciso continuar!
— Melhorando? Ele ainda está desacordado em cima de uma cama, que melhoras
vê nisso? – disse em um tom grave, o stress ao falar do irmão parecia apenas ter
aumentado nesses últimos dias.
— Você pode não as ver, mas estão lá! – Retrucou, então ele voltou a olhá-la.
— Você não sabe o quanto estamos sofrendo com isso, não sabe o quanto essa
decisão pesa em meus ombros, não faz idéia!
— Eu posso não sabe, mas o que sei é que Harry estará de volta em breve, só que
pra isso acontecer temos que lhe dar mais tempo, e eu te peço, por favor, não tire
isso dele.
— Você não tem o direito de me pedir isso! – O tom alto voltou junto a sua voz meio
tremida – No que se diz respeito as minhas decisões cuido eu! – Anita ficou calada
o encarando, pensando no por que dele estar agindo assim, enquanto ele
recobrava a calma. – Escuta, eu não queria ter gritado com você, eu sei que só esta
querendo ajudar, sei que tem algum sentimento pelo meu irmão, mas estamos tão
cansados, nós queremos viver e nada vai fluir enquanto Harry estiver naquela
cama.
— Só que ele não vai ficar ali pra sempre.
— Só Deus sabe o quanto eu queria que ele saísse dessa, eu queria poder
acreditar nisso, mas foram cinco longos anos, e eu sou só um cara com muitos
problemas, está na hora de tirar meu time de campo, eu sinto muito.
— Ótimo! Se não vai ajudar, então acho que não temos mais nada pra conversar...
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— Anita eu não queria que você ficasse magoada comigo, eu só...
— Está tudo bem, eu é que sinto muito em tomar o seu precioso tempo, obrigado
por tudo e foi realmente bom te conhecer, mas é só, adeus!
Ele pensou em dizer algo, mas desistiu então se retirou.
Imediatamente ela se dirigiu ao quarto de Harry.
— É hora de agir Harry, ninguém parece querer ajudar, então somos só você e eu.
Por favor, me de um sinal, um toque de fé é só o que precisamos. – Ela o observou
esperando o sinal que não veio. – Sabe que seu irmão não está fazendo por mal,
não é? Ele só está fraco, como você já esteve antes, ele precisa de você, sua
família toda e... eu também preciso, então chega de moleza, está na hora de voltar
a vida!
— Anita?! – disse o medico – Sabia que lhe encontraria aqui, está bem?
— Por fora sim...
— Quer conversar sobre isso?
— Não obrigado.
Se despediu rapidamente de Harry e voltou ao seu quarto.
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5 Dias depois...
O sol brilhava forte lá fora, mas o coração de Anita estava frio, parecia que todos
estavam tendo um bom dia, menos ela.
— Bom dia! – disse o Doutor de boca cheia e Anita retribuiu com um sorriso mais a
menos. – Oras, anime-se tenho boa novas pra a senhorita!
— Me surpreenda...
— Eu já liguei para sua mãe e ela está a caminho, por a Senhorita está de alta!
— Sério? – estava feliz com a noticia, mas não o suficiente para comemorar.
— Parabéns vai poder voltar para sua casa, eu sei que já estava com saudade.
— Realmente uma ótima noticia...
— Mas não pense que vai se livrar de mim, ainda quero te acompanhar e qualquer
mal estar quero que venha me ver, estamos entendidos?
— Claro. – agora pode sorrir de verdade.
Anita tinha se arrumado e estava junto a sua mãe na portaria fazendo o fechamento
em suas papeladas quando viu Henrique passar com uma senhora ao lado, ela
fingiu não o ver.
— Estou tão feliz que vai pra casa meu amor, eu já espalhei a noticia para as
meninas e elas disseram que assim que saírem do trabalho vão dar uma
passadinha lá em casa pra te ver.
— Eu também estou feliz em poder ir pra casa...
— Mas parece preocupada...
— Não é nada, só estava pensando...
— Em Harry?
— Como sabe?
— Eu te conheço, sei que esse menino mexeu com você, só não entendo por quê?
— Eu também não sei, talvez o fato de estar ao lado dele por tanto tempo, ou por
ele estar enfrentando tudo que eu passei, até pior eu diria... – nesse momento Anita
sentiu um arrepio que a fez tremer, ela automaticamente se benzeu.
— O que foi isso? – riu sua mãe.
— Nada eu só me arrepiei, eu não sou supersticiosa, mas dizem que quando você
se arrepia assim é porque a morte passou perto... – de repente ela se calou, sentiu
o coração apertar, ela olhou ao redor e viu o momento que uma moça subindo as
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escadas teve o mesmo arrepio, sem pensar Anita correu para o elevador mais
próximo, apertou varias vezes o botão, sua mãe a chamava sem entender nada, o
elevador estava demorando de mais para chegar então ela se pois a correr pelas
escadas, e sua mãe a seguindo, porém não tinha o mesmo pique para acompanhá-
la. Anita subiu os três andares em um minuto e ali estava o corredor, passando sem
nem ver as pessoas, ela adentrou o quarto com o coração em pulos.
— Anita?! – disse Henrique a segurando forte.
— Não podem fazer isso! – ela gritou tentando se soltar.
— Quem é essa garota? – quis saber a Senhora.
— Deixe ele em paz! Me solta!
— Anita se controle...
— Por favor, faça isso logo, eu não agüento ficar aqui! – disse a senhora
provavelmente mãe de Harry, que estava muito tensa.
— Não!!! – e seu grito foi em vão, o medico se aproximou e em um simples toque,
tudo estava acabado. – Harry! – ela fraquejou sobre suas pernas, e Henrique a
soltou aos poucos para que pudesse se firmar. Aos prantos ela caminhou até o
leito, o medico ia intervir, mas Henrique fez sinal para não fazê-lo. Ela se sentia tão
dolorida e insignificante, não conseguira protegê-lo, sua promessa estava quebrada
junto a todo seu ser, ela estava deitada em seu peito quando a esperança voltou a
brilhar em seu olhar. Talvez fosse um sonho, ou alucinação, não era real, o coração
de Harry batia forte, ainda estava respirando, então sorrindo ela disse.
— Ele ainda esta aqui, está vivo.
— O que? Como? – disse a mãe de Harry se desprendendo dos braços de
Henrique.
— Isso é surpreendente, o paciente nunca deu nenhum sinal de que poderia
respirar sem os aparelhos, incrível!
— Meu filho, meu bebe ele está aqui, ele quer viver!
— Eu não sei o que dizer... – disse Henrique emocionado olhando para Anita, que
foi em sua direção. – Estava certa, o que eu estava fazendo?
— Está tudo bem agora – Anita o abraçou forte.
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1 Mês Anita estava no escritório, em seu mural ainda estava muitos recados não lidos,
estava de volta a sua rotina, mas nem tudo estava igual. Ela se sentou em sua
mesa, e escolheu alguns bilhetes para ler, eles eram bastante engraçados, um
deles era um numero de celular, que as garotas tinham anotado e estava escrito
bem grande ―Bonitão de Angras‖ Anita riu alto, então amassou o papel e o jogou no
lixo. Nesse momento o telefone tocou.
— Care estúdio, no que posso ajudar?
— Oi, Anita?
— Oh sim, Henrique?
— Sou eu...
— O que foi? Aconteceu alguma coisa?
— Na verdade sim, e eu queria que fosse a primeira a saber...
— Por Deus me diga logo!
— Harry... Ele está de volta!
— Quando?
— Hoje cedo quando a enfermeira veio vê-lo ele estava acordado!
— E-eu vou correr pra ai assim que der o horário do almoço...
— Então até daqui a pouco, beijo!
Anita não podia se sentir mais feliz, estava emocionada também, e contou cada
segundo até o almoço chegar, então logo foi para o hospital.
Ela entrou rápido e subiu as escadas, ao chegar no corredor suas pernas travaram,
o corredor parecia maior e ele estava com um frio na barriga.
— Anita! – disse Henrique passando pelo seu lado, abraçou a cumprimentando, ele
estava tão bem que nem parecia o mesmo homem de antes, não havia mais
olheiras, ou aparência de cansaço, sem contar que seu sorriso estava incrível. –
Que bom que veio, eu contei para meus pais, mas eles estão presos no transito,
será a primeira visita alem de mim, creio que Harry irá adorar vê-la, e... Anita? Você
está bem?
— É... Estou, eu só estou um pouco apreensiva.
— Oras, então vai lá! – ela mordeu os lábios e não conseguiu se mexer então
Henrique a pegou pelo braço e a arrastou – Venha, não tem porque travar agora... -
Ele entrou primeiro anunciando. – Harry, eu trouxe alguém que você vai gostar de
ver... Anita.
Ela entrou meio acanhada, ele estava deitado olhando para fora, e aos poucos foi
se virando, e foi quando seus olhos se encontraram nos dele, seu coração quase
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parou. ―Oi‖ foi tudo que conseguiu pronunciar no momento. Ele olhou para o irmão
como se procurasse uma resposta, e Anita não pode resistir às lagrimas que lhe
vieram ao olhar. Henrique deu um pulo e tentou esclarecer.
— Ah... Anita calma ele ainda está meio confuso entende... – ela balançou a
cabeça que sim e escondeu o rosto entre as mãos, Henrique a abraçou e levou
para fora – Olha, não fica assim... Me da um minuto pra falar com ele, Okay? – ele
a deixou ali e correu pro quarto.
Anita estava tão feliz e triste ao mesmo tempo, caminhou até o elevador e parou no
refeitório, sentou em uma mesa com um café bem forte, ela entendia que ele não a
reconhecera, mas mesmo assim ainda doía, pesou que ele ficaria bem mais feliz se
ao invés dela visse Nicole, ou qualquer outro alguém que seja.
— Anita! Ufa, pensei que tivesse ido embora... Você está bem?
— Estou, me desculpa por ter reagido desse jeito, eu acho que não tava
preparada...
— Não, não precisa se desculpar, a culpa foi minha, eu devia ter conversado com
ele antes de você chegar, eu não pensei que isso fosse acontecer.
— Nunca se sabe não é... – disse forçando um sorriso.
— Bom, mas agora esta tudo certo ele quer te ver.
— Não, eu acho que não é uma boa idéia, eu não quero forçar nada entende...
— Que isso, foi só um erro de comunicação.
— Eu sei, mas é melhor deixar pra lá, meu horário de almoço já esta acabando, é
melhor eu voltar pro trabalho agora, não quero me atrasar...
— Tem certeza que não quer subir?
— Tenho.
— Então está bem, qualquer coisa me liga ta bom?
— Sim, obrigado por me ligar, eu realmente agradeço sua consideração.
— Só fiz o que era certo...
— Obrigado, agora eu tenho que ir – ela deu um meio abraço e um beijo e já estava
saindo quando disse – Diz ao Harry que fiquei muito feliz por ele de coração!
— Eu digo.
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Alguns dias depois...
Era domingo e Anita estava jogada no sofá trocando de canal em canal a televisão,
seu celular tocou, antes de atender leu o nome de Henrique.
— Oi Rick, o que conta? – houve um breve silencio
— Anita... – Aquela voz não era de Henrique.
— Quem está falando? – houve mais uma pausa.
— É o Harry. – Anita gelou por um momento.
— H-harry?
— Eu queria falar com você, a gente podia se ver? – agora a pausa veio por Anita.
— É... Claro, ainda está no hospital?
— Estou sim.
— Okay estou indo ai, é... até daqui a pouco...
— Até.
Ao desligar Anita ainda ficou pensando um pouco, então correu pro quarto se
arrumar. Correu dar um beijo em sua mãe e depois saiu.
Lá estva ela novamente, entrando no hospital, subindo aqueles andares, andando
por aquele corredor, ela parou na porta e bateu de leve.
— Licença... – Harry estava fazendo sua terapia diária.
— Entre, é a gente pode terminar isso mais tarde? – a enfermeira consentiu e se
retirou, enquanto Anita entrava de vagar, ela parou aos pés da cama. – Se quiser
sentar...
— Estou bem aqui.
— Eu queria pedir perdão pelo outro dia...
— Não precisa, eu também passei por isso e sei como é...
— Eu insisto.
— Está perdoado. – ele sorriu e Anita também sorriu.
— Agora que estou perdoado, eu queria te agradecer, eu ainda não me lembro
direito, mas Henrique me contou tudo que fez por mim, Obrigado!
— Pode achar maluquice, mas eu sabia que você voltaria, e eu me recordo como
se eu tivesse lhe prometido que te protegeria...
— Eu também tenho algumas lembranças estranhas, e na verdade naquele dia que
você apareceu eu fiquei sem ação, não exatamente por não te reconhecer e sim
por conhecer você desse mundo paralelo, vamos chamar assim...
— E como você está?
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— Bem, ainda tenho muito a fazer, mas estar aqui já é uma vitoria.
— Sim, nós conseguimos, vencemos nossos desafios...
— Eu ainda não venci todos... Me disseram que não sabem se conseguirei voltar a
andar, e meu braço esquerdo ainda está meio bobo, mas eu não vim até aqui pra
desistir agora. – disse com um lindo sorriso no rosto, que iluminou todo o quarto.
— Você vai conseguir tudo que deseja, eu sei disso. – ela se aproximou e segurou
sua mão, então ele fechou os olhos e respirou fundo.
— Sim, é esse, eu senti esse toque varias vezes, pensei ter imaginado, mas foi
real.
— Eu vou estar ao seu lado sempre, porque você me trouxe de volta...
— E você me trouxe de volta... – eles riram.
É engraçado como o acaso pode mudar nossas vidas, talvez fosse destino, talvez
estivesse mesmo escrito. Às vezes há mal que vem para o bem, para trocar as
coisas de lugar, concertar o que estava errado, reorganizar a nossa vida e nos
ajudar a aprender a priorizar tudo que realmente importa.
O acaso traz pessoas importantes, e leva o que não é insignificante. Nunca se sabe
quando a pessoa mais importante da sua vida irá aparecer, pode ser em uma loja,
na saída do cinema, ou por que não em um momento de dor? Seja como for o
acaso sempre terá um plano mal resolvido para nos surpreender...
E com certeza o acaso nos uniu.
35
Unidos Pelo Acaso por
Roane Lilian
Agradeço a todos os leitores que
compartilharam seus momentos com meu livro,
Espero ter agradado a todos e prestado
uma boa leitura, espero que assim como eu
vocês tenham sonha durante a historia.
Este é meu Segundo livro publicado online,
Tenho um enorme carinho com essa historia
que sem duvida foi a mais gostosa de escrever.
Gostaria de agradecer a todos que me
impulsionam a continuar, que me inspiram.
Espero um dia poder ver esse ou algum outro
de meus livros publicado, mas por enquanto
só o carinho de vocês já me é o suficiente.
Obrigado e até a Próxima
Um grande Beijo a todos.