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101 presidente vitalício da AD em Brasília, Distrito Federal 87 ” (DANIEL, 2004, p. 356), ficou acertado que os dois líderes deixariam as rusgas de lado em benefício da “obra de Deus”. Apesar de Macalão não conseguir manter a exclusividade de Brasília, aceitou os termos decididos pelos atos convencionais e em dois “festivos” cultos, um em São Cristóvão e o outro em Madureira, os dois líderes col ocaram “uma pedra” na questão. Podemos considerar que o período que envolve a vida e o percurso do Pr. Paulo Leivas Macalão dentro da história das ADs no Brasil foi marcado por tensões, debates e disputas no processo de institucionalização desse movimento. Na história da igreja de ADMM em São Paulo muitas foram às vezes que Macalão se deparou com obreiros que tinham o “espírito” tão independente quanto o dele e , o mesmo não se privou em usar todo o seu poder patrimonial para manter a chamada “unidade” do ministério. Houve um caso da AD Brás, que o mesmo pediu a um General e deputado para intervir contra um processo de divisão que estava ocorrendo naquela igreja 88 (FERREIRA, s.n.t). Polêmico em algumas vezes, em outras um ferrenho cumpridordo que estava “legalmente instituído”, denotam a postura de quem busca “jogar o jogo” na tentativa de manter sobre sua posse o máximo possível, daquilo que podemos denominar de “capital escasso”. Sempre que possível se vale da legitimação de seu carisma, mas ao mesmo tempo e principalmente quando necessário lança mão de seu prestígio instituído. 2.2. A ERA DE MANOEL FERREIRA “O SUCESSOR MAIS INDICADO”? No ano 1982 um fato ocorrido com as principais figuras da ADMM mudaria por completo os rumos diretivos e até mesmo organizacionais da instituição. Este ano foi emblemático, pois as duas principais figuras de “autoridades” constituídas das ADMM, o Pr. Alípio da Silva (vice-presidente) no dia 5 de agosto e o próprio Pr. Paulo Leivas Macalão no dia 26 de agosto faleceram (ALMEIDA, 1983), deixando um vácuo de poder dentro da organização. Vale lembrar, que uma outra figura muito importante na história das ADs no Brasil falecera nesse mesmo ano. Foi o Pr. Cícero Canuto de Lima, da AD Belém SP, mas diferente do caso de Madureira no qual os 87 Episódio ocorrido na Convenção Geral de 1964 em Curitiba PR. (DANIEL, 2004) 88 Caso que trataremos quando falarmos do Bp. Manoel Ferreira, pois o mesmo foi segundo ele chamado para resolver o problema em questão.

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presidente vitalício da AD em Brasília, Distrito Federal87” (DANIEL, 2004, p. 356),

ficou acertado que os dois líderes deixariam as rusgas de lado em benefício da “obra

de Deus”. Apesar de Macalão não conseguir manter a exclusividade de Brasília,

aceitou os termos decididos pelos atos convencionais e em dois “festivos” cultos, um

em São Cristóvão e o outro em Madureira, os dois líderes colocaram “uma pedra” na

questão.

Podemos considerar que o período que envolve a vida e o percurso do Pr.

Paulo Leivas Macalão dentro da história das ADs no Brasil foi marcado por tensões,

debates e disputas no processo de institucionalização desse movimento. Na história

da igreja de ADMM em São Paulo muitas foram às vezes que Macalão se deparou

com obreiros que tinham o “espírito” tão independente quanto o dele e, o mesmo

não se privou em usar todo o seu poder patrimonial para manter a chamada

“unidade” do ministério. Houve um caso da AD Brás, que o mesmo pediu a um

General e deputado para intervir contra um processo de divisão que estava

ocorrendo naquela igreja88 (FERREIRA, s.n.t). Polêmico em algumas vezes, em

outras um “ferrenho cumpridor” do que estava “legalmente instituído”, denotam a

postura de quem busca “jogar o jogo” na tentativa de manter sobre sua posse o

máximo possível, daquilo que podemos denominar de “capital escasso”. Sempre que

possível se vale da legitimação de seu carisma, mas ao mesmo tempo e

principalmente quando necessário lança mão de seu prestígio instituído.

2.2. A ERA DE MANOEL FERREIRA – “O SUCESSOR MAIS INDICADO”?

No ano 1982 um fato ocorrido com as principais figuras da ADMM mudaria

por completo os rumos diretivos e até mesmo organizacionais da instituição. Este

ano foi “emblemático”, pois as duas principais figuras de “autoridades” constituídas

das ADMM, o Pr. Alípio da Silva (vice-presidente) no dia 5 de agosto e o próprio Pr.

Paulo Leivas Macalão no dia 26 de agosto faleceram (ALMEIDA, 1983), deixando

um vácuo de poder dentro da organização. Vale lembrar, que uma outra figura muito

importante na história das ADs no Brasil falecera nesse mesmo ano. Foi o Pr. Cícero

Canuto de Lima, da AD Belém – SP, mas diferente do caso de Madureira no qual os

87 Episódio ocorrido na Convenção Geral de 1964 em Curitiba – PR. (DANIEL, 2004) 88 Caso que trataremos quando falarmos do Bp. Manoel Ferreira, pois o mesmo foi segundo ele chamado para resolver o problema em questão.

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dois líderes faleceram vinte e um dias um após o outro (ALMEIDA, 1983, MACALÃO,

1986), no caso da igreja de São Paulo, Canuto já havia sido “jubilado89” e, em seu

lugar assumira o Pr. José Wellington Bezerra da Costa, que ainda hoje se mantém

no posto de presidente dessa igreja (OBREIROS, ANO 23, Nº 13, p. 41- encarte

especial).

A morte tanto de Macalão, quanto de Canuto pode ser caracterizado como o

fim de um período ou de uma “Era” (FAJARDO, 2015) no qual o poder, o prestígio e

a dominação de certa forma se haviam polarizado entre o eixo Rio – São Paulo. Que

apesar de disporem de ministérios consolidados e importantes, disputaram o

prestígio e a influência nas ADs no Brasil por um período de aproximadamente trinta

e cinco anos. Resultando no fim de uma geração de líderes nacionais, que por meio

de seu carisma se consolidaram como figuras prestigiosas do movimento, uma vez

que o mesmo deve muito a coragem e ao “empreendedorismo” desses homens.

Porém ao mesmo tempo é o início de uma nova geração de líderes, que apesar de

“viver à sombra” desses personagens em seu início, passam a desenvolver uma

experiência nova para as ADs, a qual será abordada a partir da perspectiva do

objeto de nossa pesquisa, as ADMM.

No caso de Madureira a morte dos dois líderes provocou uma espécie de

vácuo institucional, pois nem o mais pessimista ou precavido membro desta

organização poderia ter “previsto” essa situação. Aqui se evidência uma das

principais características do poder nas ADs no Brasil, em especial, na ADMM, a

centralidade do poder e o personalismo característico da figura do Pastor-

presidente. O qual no caso do Ministério de Madureira havia causado um problema,

uma vez que não se havia um sucessor legitimado e que tivesse suficiente prestígio,

que lhe pudesse garantir o domínio da organização. O “general religioso” (ALMEIDA,

1983, p. 83), como era conhecido Macalão havia constituído uma AD

“interregionalizada”, uma vez que já era possível encontrar uma de suas igrejas em

diferentes regiões do Brasil. Esse sistema completamente atípico do modelo

adotado pelas ADs ligadas a missão, no qual o regionalismo é um ponto central.

O problema era quem seria capaz nesse momento de substituir “o grande

líder” que morrera sem indicar um sucessor. Situação que se complica ainda mais,

89 Uma forma de aposentadoria do pastor, no qual a igreja continua cuidando do mesmo, mas ele não exerce nenhum tipo de poder legal nesse momento, apenas dispõe de um prestígio frente aos anos de trabalho dispensados nessa igreja.

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pois o sucessor mais indicado para tomar o lugar de Macalão também estava morto.

O interessante é que segundo a história oficial do movimento, no ano de 1979, em

um relatório produzido pela igreja de Madureira, constava que a mesma dispunha

dos seguintes números:

[...] 200 pastores, 500 evangelistas, 2000 presbíteros, 5000 diáconos, 4000 auxiliares de trabalho (conhecidos como cooperadores), 6000 músicos, 600 igrejas autônomas, 1000 congregações e 3000 subcongregações. O total de membros era calculado em torno de 500 mil. (ALMEIDA, 1982, p.224)

Se apenas considerássemos os números dos denominados ministros

(pastores, evangelistas e missionários), que segundo o atual estatuto poderiam ser

os únicos a participar de um processo de eleições, teríamos o número em torno de

700 possíveis candidatos a sucessão do principal posto diretivo da instituição.

Porém quem disporia de um carisma prestigioso, ou mesmo de um “capital social”

capaz de subjugar a todos os outros possíveis concorrentes na corrida sucessória, a

fim de manter a organização unida e evitando possíveis dissidências, uma vez que

existe um vácuo de poder constituído?

Essa era a grande questão no momento, a qual foi resolvida com a realização

de uma Convenção extraordinária da CNMEADMIF (atual CONAMAD) entre os dias

4 e 15 de setembro de 1982, ao qual elegeu uma nova mesa diretora. A composição

ficou assim, presidente foi eleito o Pr. Lupércio Vergniano, para vice-presidente o Pr.

Nicodemos José Loureiro, para secretário o Bp. Manoel Ferreira (que neste período

era ainda pastor) e para tesoureiro o Pr. Carlos Malafaia. Em que o próprio Bp.

Manoel Ferreira afirmava ser uma reunião com os “pastores-presidentes de maior

representatividade” no Ministério de Madureira (FERREIRA, s.n.t, p. 146-147), ou

seja, a “oligarquia” diretiva constituída. Essa Mesa Diretora ficaria até maio de 1983,

quando seriam feitas novas eleições para o cumprimento correto do tempo

determinado da gestão.

Já na igreja de Madureira ficou como pastor-presidente o Pr. Orosma

Dagoberto dos Santos e tendo como 2º vice-presidente o missionário Paulo Brito

Macalão, filho do falecido Pr. Paulo Leivas Macalão (MP de dezembro de 1982, p.

10). Esse ato era muito mais um reconhecimento da figura do “Macalão pai”, do que

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possíveis qualidades de “Macalão filho”, que mais tarde deixaria de constar nesse,

ou em qualquer outro cargo diretivo da igreja90.

Neste ponto da pesquisa recorreremos novamente aos conceitos weberianos

para nos auxiliar na compreensão do fenômeno da sucessão do poder dentro de

uma organização social, em nosso caso da ADMM. Segundo Weber (2012) a

legitimidade da dominação carismática depende de sua capacidade em conseguir

fazer com que os dominados reconheçam a exclusividade do carisma e esse

reconhecimento deve proceder dos próprios dominados, que ignoram o seu estado

de dominados. Assim, quem teria esse carisma prestigioso para assumir o lugar de

Macalão? Quem seria o sucessor mais indicado? Em meio à pesquisa uma questão

se nos apresentou muito intrigante, pois nessa sucessão como explicar a chegada

do poder e da dominação dentro da ADMM as mãos do Bp. Manoel Ferreira, na

época pastor-presidente da AD Campinas? Pois em nenhuma das biografias, ou

materiais disponíveis conseguimos encontrar alguma referência que apontasse que

ele seria o sucessor91. E ainda no quadro da eleição em caráter emergencial ele

aparece como secretário da Convenção, não se pode negar que seja um cargo

importante, mas que não tem o mesmo prestígio necessário como o do Pr. Lupércio

Vergniano, que assume a presidência do ministério neste mesmo período (MP de

dezembro de 1982, p. 10).

O conceito de “rotinização do carisma”, nos ajuda a explicar como ocorre a

sucessão do poder dentro de uma relação social. O autor nos apresenta a

dominação carismática como extracotidiana e de relação estritamente pessoal,

determinada pelas qualidades pessoais do dominador em sua forma mais pura

(WEBER, 2012, p. 161), mas esse tipo de dominação é de caráter provisório, depois

de um tempo e se tornando em uma relação permanente a mesma deve “modificar

substancialmente seu caráter”, ou seja, ela se tradicionaliza ou se racionaliza (2012,

p. 162) para manter-se frente ao grupo dominado. É aqui que o conceito nos ajuda a

entender como a sucessão ocorre, pois para ele dois são os motivos que levam isso

a ocorrer, 1º) a vontade dos adeptos em que a comunidade continue existindo e ou

90 Atualmente o neto de Macalão, o Pr. André Macalão é pastor-presidente na ADMM em Caldas Novas – GO, mas o mesmo não dispõe de nenhum prestígio na diretoria da CONAMAD, por ser neto do fundador. Pois como a geração passou, são os filhos do bispo que aparecem prestigiosamente em destaque no ministério. 91 Encontramos na biografia produzida pela esposa de Macalão uma pequena menção de agradecimento e incentivo a pessoa de Manoel Ferreira e sua esposa, em meio a muitas outras nesse mesmo tom (MACALÃO, 1986, p. 66). Entretanto nada indicando algo de especial ou de diferente que se possa usar como prerrogativa de ser ele o sucessor indicado.

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2º) a vontade do quadro administrativo para manter a estrutura vigente funcionando

(2012, p. 162).

Ele especifica cinco formas que a sucessão carismática pode ocorre: 1ª) a

escolha de um “novo profeta” seguiria as orientações da liderança circunstancial.

Esse “novo profeta” trará consigo uma nova tradição que não existia na gestão

anterior. A 2ª) seria escolhido por meio de uma revelação (oráculo, sorteio), mas a

legitimação desse novo líder estaria condicionada em sua habilidade técnica de

confirmar a legalização do seu carisma; já na 3ª) seria segundo Weber o caminho

mais comum, pois o sucessor seria previamente designado pelo profeta, ou seja,

sua legitimação é transmitida e aqui o carisma já não é tão importante para quem

está assumindo o posto designado. Na 4ª) o sucessor seria escolhido pelo quadro

administrativo carismaticamente qualificado, no qual traz a ideia de justiça, pois a

figura escolhida é a mais indicada para assumir a posição e a 5ª) escolha se daria

de forma hereditária, sem a necessidade de reconhecimento prévio dos outros, pois

a sua legitimidade é própria do indivíduo (WEBER, 2012, p. 162-163).

No caso das ADs, em especial, a ADMM é muito difícil dizer qual seria a

melhor forma que se procede à sucessão, uma vez que encontramos as diferentes

formas juntas na hora de se decidir quem será o sucessor. Para melhor exemplificar

o que afirmamos segue o relato feito pela esposa de Macalão, a irmã Zélia Brito

Macalão sobre “uma revelação” que o Pr. Lupércio Vergniano havia tido logo que

chegou a São Paulo, após o sepultamento do líder de Madureira. Diz ela,

[...] Conta ele (o Pr. Lupércio) que se achava em uma sala, onde tudo resplandecia, e aparecia uma mesa, fulgurante, onde estava um varão de vestes também resplandecentes. Possuía esse varão em sua linda veste, de mangas talares, punhos com desenhos nunca vistos, a nada semelhante e esse varão, cujo rosto resplandecia, bradava: “Lupércio! Olha a minha arma!”(referindo ao Pr. Paulo Leivas Macalão)92, mostrando algo que brilhava à semelhança de pequeno revólver, e prosseguia: “Esta é a minha arma, que levarei comigo, porém a munição ficará com vocês”. Lupércio, embora não pudesse fitar a sala linda e o rosto do varão, envolvido em luz, viu muitas balas espalhadas pelos cantos da resplendente sala, e entre essas, três balas de ouro. (MACALÃO, 1986, p. 115)

Nem ela e nem o próprio Lupércio dizem quem seriam essas três “balas de

ouro”, mas deixa muito claro que o sucessor já estaria indicado pelo próprio Deus

para ocupar essa posição. De certa forma, o “sucessor assembleiano” acaba

perpassando as cinco formas, lembrando que as mesmas são tipos-ideias puros, 92 Crivos do autor.

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entretanto gostaríamos de enfatizar duas, a terceira e a quarta forma de rotinização,

pois elas indicam muito, o que ocorreu e, ainda ocorre em grande parte hoje sobre a

questão da sucessão. Weber (2012) afirma quando pontua a quarta, que ela não se

dá pelo uso das eleições (que segundo ele deveriam ser analisados posteriormente),

mas sim, por uma forma de justiça que estaria implicado nas ações realizadas

anteriormente pelo sucessor e que é a escolha mais certa. Já a terceira indica a

transferência do carisma ao sucessor e nesse sentido o sucessor não é só a escolha

mais justa, porém a escolha ideal, pois o sucessor acumularia em si mesmo todas as

prerrogativas necessárias para a sucessão.

Encontramos em uma pequena biografia sobre a história da ADMM em São

Paulo um relato sobre a trajetória do Bp. Manoel Ferreira, a qual nos ajuda a

entender como ele alcança o poder dentro do ministério e como ele se perpetua

nessa posição. Assim feita à inserção do conceito weberiano de sucessão,

analisaremos agora a sua trajetória, a fim de identificarmos quais foram as ações e

condições socioculturais que deram ao personagem em questão as prerrogativas

necessárias, para se legitimar como o sucessor do Pr. Paulo Leivas Macalão.

Desbancando nesse momento o próprio Pr. Lupércio Vergniano, que além de ocupar

a segunda “mais importante” igreja do ministério de Madureira, fora escolhido como

o presidente do Ministério de Madureira no ano de 1982.

2.2.1. O Bispo Manuel Ferreira: breve biografia.

O Bp. Manoel Ferreira nasceu em 30 de Maio de 1932, na cidade de

Arapiraca no Estado da Alagoas e ainda criança seus pais se mudam com toda a

sua família para o interior de São Paulo (MACHADO, 2006). Em sua infância e

juventude acompanha o pai nas atividades agrícolas, até que se alista no Exército

Brasileiro na cidade de Lins. Após cumprir seu tempo no serviço militar, vai à cidade

de Bauru e se alista na Polícia Militar daquela cidade93. Opta pelo serviço no Corpo

de Bombeiros e se muda no ano de 1954 para a cidade de São Paulo (FERREIRA,

s.n.t, p. 133). Casa-se aos 25 anos com Irene da Silva Ferreira (ou Bpa Irene, pois

em 2009 foi consagrada a esse cargo) no dia 02 de Maio de 1957, depois de se

recuperar de um acidente no quartel do Corpo de Bombeiros da Praça da Sé em

93 Neste período não havia a necessidade de prestar concurso público para ingressar à polícia, apenas a aptidão do candidato.

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São Paulo. Do casamento tiveram cinco filhos vivos: Wagner (1958), Magner (1960),

Abner (1963), Vasti (1965) e Samuel (1968) e um que falecera com seis meses de

vida por nome Lucas (1967) (FERREIRA, s.n.t).

Realizou seu curso primário em sua terra natal, mas ao se deslocar para

outros centros, buscou continuar seus estudos. Seu curso ginasial foi realizado mais

tarde, quando servia às forças armadas do Estado de São Paulo na cidade de Lins.

Segundo informações obtidas nas revistas de EBD da Editora Betel; orelhas de

livros escritos pelo autor e sites de ADs filiados a Madureira94, o Bp. Manoel Ferreira

se formou em Teologia pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo, Sociologia

pela Faculdade Toledo Pizza de Bauru, Direito pela PUC - SP. Exerceu a função de

advogado95 por um tempo, mas deixou a carreira jurídica para seguir a “vocação

pastoral”, sendo atualmente sua titulação mais alta a de doutor em Divindade pelo

Bible College (EUA). Também exerceu a presidência de diversas instituições e

movimentos religiosos como o Conselho Nacional de Pastores do Brasil (CNPB), a

CGADB (1983-1985) e a Conferência Pentecostal Sul-Americana. Ocupa atualmente

a cadeira de número 03 da AELB96.

2.2.1.1 Sua trajetória e ascensão ministerial dentro da ADMM

Sua conversão se deu nas ADs em Cangaíba – SP, pouco tempo antes do

nascimento de seu segundo filho Magner em 1960, sendo batizado na AD do Brás

que já se situava na Rua Major Marcelino, entretanto segundo ele não existia o

templo, pois a igreja ainda estava em construção. Foi ordenado pastor em 1962,

pela igreja ADMM sem ter exercido as funções de diácono e presbítero

respectivamente, uma vez que segundo o próprio Ferreira, desde muito cedo ele já

atuava como “evangelista ‘ad hoc’” em cultos ao ar livre, em programa radiofônico e

em atividades itinerantes nas cidades vizinhas de Dracena – SP (FERREIRA, s.n.t,

p.136). Tornou-se pastor das seguintes igrejas das ADs: Parapuã (SP), Capão

Bonito (SP), Garça (SP), Bauru (SP), Vila Alpina (SP), Brasília (DF), Campinas (SP)

94 Entre eles ver: http://ad-madureirascc.blogspot.com.br/2011/07/biografia-do-bispo-manoel-ferreira.html 95 Segundo o entrevistado Pr. P-B o Bp. Manoel Ferreira chegou a prestar prova para juiz federal e foi aprovado, mas ao ser designado pelo Pr. Macalão para cidade de Brasília ele desistiu da função que havia alcançado. Encontramos essa mesma fala no jornal “O Semeador” de setembro de 2001, na seção “Suplemento Especial”, p. 02. 96 Ver: http://www.aelb.org/patronos/a03-jairo-moraes/.

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e Madureira (RJ), a partir da terceira igreja ele passou a exercer a função de pastor-

presidente. De posse de um “capital cultural” privilegiado o Bp. Manoel Ferreira pôde

ascender rapidamente a funções de grande prestígio dentro das ADs no Brasil, em

especial na ADMM, que segundo as palavras do Pr. P-B, sua história é marcada

pela proximidade ao Pr. Paulo Leivas Macalão, uma vez que nesse período poucos

são os membros que tem formação universitária, principalmente na área do Direito

(Entrevista em áudio, gravada no dia 09/08/2016).

Assim como perguntamos sobre a importância do Pr. Paulo Leivas Macalão

aos nossos seis entrevistados, fizemos a mesma pergunta agora com respeito à

figura e importância do Bp. Manoel Ferreira para ADMM. E as respostas que

obtemos foram bem diferentes das repostas sobre Macalão, pois enquanto o

primeiro é reconhecido por todos como uma figura de fundamental importância para

a existência do Ministério de Madureira, as respostas sobre o Bp. Manoel Ferreira,

vão desde uma figura comparável aos fundadores das ADs no Brasil até um

“adversário que deveria ser evitado” (Pr. P(ex)-B, Entrevista em áudio gravada no

dia 14/07/21016). O quadro abaixo nos ajuda a entender de forma mais clara como

as visões sobre estes dois personagens são bem diferentes entre si, pois quanto

mais próximo à pessoa está do bispo a visão tende a se tornar bem mais

“simpática”, caracterizando uma forma institucionalizada de proximidade. Enquanto

aqueles que estão mais afastados na hierarquia, ou mesmo que romperam com a

instituição já não são tão simpáticos com a figura do mesmo.

Mas uma resposta em especial nos chamou a atenção para compreendermos

como o bispo adquire o prestígio e a legitimidade necessária para assumir a direção

das ADMM, frente aos outros possíveis sucessores de Macalão. O Pr. P-B menciona

que devido a sua formação universitária e cultural, Manoel Ferreira consegue se

aproximar ainda bem cedo em sua carreira ministerial do Pr. Paulo Leivas Macalão,

essa aproximação estava relacionada a diversos problemas de “rebeliões” que

estavam ocorrendo em algumas igrejas de São Paulo. E certamente a sua formação

jurídica “cai como uma luva” para a ação racional-burocrática da administração de

Macalão.

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Quadro 2: As diferentes visões sobre a importância entre o Pr. Paulo Leivas Macalão e o Bispo Manoel Ferreira.

Pr. Paulo Leivas Macalão Bp. Manoel Ferreira

Pr. P-A Apóstolo; Figura histórica;

Fundador; Patriarca das ADMM.

Sua importância é comparável aos fundadores das AD no Brasil; Tornou

conhecida a ADMM ao país.

Pr. P-B

Apóstolo; Evangelista; Ensinador; Poder de atração; Soube fazer discípulo; Fundador de muitas

igrejas das ADMM.

História interna de proximidade com Pr. Macalão; Conseguiu manter a

unidade do ministério e criou órgãos importantes como a Editora Betel.

Criou o nepotismo nas ADMM

Pr. P(ex)-A

Ícone; Fundador; Organizador; Referência como pastor-

presidente; Homem que Deus usou!

Tem a sua importância após a saída da ADMM da CGADB; Soube

centralizar o poder.

Pr. P(ex)-B

Apóstolo; Doutrinador; Suporte da igreja.

Oposto do Pr. P.L.M; Adversário; Figura a ser evitada; Aquele que

abandonou as práticas primeiras da ADMM

Pr. C-A Foi tudo, Fundador; Homem de Deus, Figura fundamental das

ADMM

Administrador diferente da gestão anterior; Centralizador do poder; Não

tem a mesma importância de Macalão. Distante dos membros

Pr. C-B

Pastor; Apóstolo; Assistente social; Pastor que não pedia aplausos;

Pacificador; Exemplo; Legado de amor à obra e a música.

Carismático; Representante da ADMM; Aquele que mantém ADMM

equilibrada.

Assim sua “carreira ministerial” vai ser construída, segundo ele mesmo, pela

sua habilidade em resolver problemas na diferentes igrejas pelas quais passou ao

longo de sua trajetória dentro do ministério. Ele mesmo relata que por muitas vezes

o Pr. Paulo o chamou para que ele pudesse resolver um determinado problema que

estivesse acontecendo em uma igreja (FERREIRA, s.n.t). Na biografia produzida em

comemoração ao centenário da ADs, no capítulo intitulado “Uma viagem através do

tempo com o Bispo Manoel Ferreira” são expostos alguns acontecimentos narrados

pelo próprio bispo sobre sua carreira dentro das ADMM (FERREIRA, s.n.t). Segundo

outra obra sobre o centenário das ADs no Brasil, os autores narram assim a figura

do Bp. Manoel Ferreira,

“Tudo quanto vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças...” (Ec. 9.10). Esse versículo reflete a atitude do bispo Manoel Ferreira, homem que nunca negou o chamado de Deus para trabalhar em Sua Obra. O bispo Manoel Ferreira sempre seguiu as orientações do pastor Paulo Leivas Macalão, a quem considerava mais que um líder, e nunca negou um pedido seu para ir onde quer que fosse, pastoreando diversas igrejas nos Estados de São Paulo,

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Rio de Janeiro e no Distrito Federal, às vezes duas ao mesmo tempo. (PRATES; FERNANDES, 2012, p. 163)

Essa forma utilizada pelo bispo, a fim de justificar sua história dentro da

ADMM se aproxima ao conceito weberiano de sucessão, ou “rotinização do

carisma”, pois em sua fala, ele não foi apenas um obreiro fiel e escolhido por Deus

para essa vocação, mas também é a figura mais indicada para assumir o lugar de

Macalão por justiça, em relação aos serviços prestados ao longo dos anos e de sua

trajetória no ministério, marcando aqui uma tentativa de legitimar sua chegada ao

posto de maior prestígio da igreja. Uma vez que a sua história é construída por essa

fidelidade e habilidade em casos muitas vezes delicados na estrutura diretiva das

ADMM, há uma necessidade de habituar os indivíduos de que sua “carreira

ministerial” é sólida e verdadeira.

A Tabela 3, traz um resumo dos principais passos dados pelo bispo entre os

anos de 1960 até 2000, e nela podemos identificar como ele justifica que a sua

escolha era sem dúvida a mais “justa” (WEBER, 2012) para a continuidade da

ADMM. O fato central que ajuda a explicar essa justificativa (e a proximidade com

Macalão) é por ele mesmo relatado em sua biografia e, ocorre ainda em sua gestão

no campo de Vila Alpina – SP, quando em uma tentativa de alguns pastores, entre

os quais citados pelo próprio bispo estão os “Pr. Álvaro Maceió, José Carlos, Perácio

Grili, Antônio Ianone”, que pretendiam autonomizar (dividir) as igrejas de São Paulo

ligadas ao Brás. O próprio pastor-presidente do Brás Antônio Ianone era uma “das

cabeças” envolvidas e, esses pastores haviam produzido “12 Estatutos” para a

emancipação do que o bispo se refere a “12 setores” (FERREIRA, s.n.t, p. 144), que

na realidade se tratava de alguns Campos, entre eles, o próprio Brás. O Bp. Manoel

Ferreira diz que recebeu a ligação do Pr. Paulo Leivas Macalão pedindo para ele ir o

mais rápido para a igreja-mãe em Madureira – RJ. Entretanto o que nos chamou a

atenção é que Macalão pergunta se ele “conhece alguém ai em São Paulo que

tenha força e que possa mover uma ação, chegar aí no Cartório para impedir e

suspender essas autonomias” (FERREIRA, s.n.t, p. 144). De imediato, o bispo

lembra-se de um General chamado Marcondes97 que era político do Estado de São

97 Encontramos em nossa pesquisa o General Sebastião Marcondes da Silva, que no mesmo período do ocorrido era general e deputado estadual em São Paulo. Eleito pelo MDB no ano de 1974 assume a 8ª Legislatura (1975/1979). O mesmo foi membro efetivo da Comissão de Constituição, Justiça e Redação e suplente nas Comissões de Agricultura e Pecuária e de Serviço Civil. No biênio 1977/79, foi membro efetivo da Comissão de Agricultura e Pecuária e suplente nas comissões de Constituição

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Paulo, o qual atende ao pedido do bispo e os dois seguem para subúrbio carioca.

Depois de conversarem com Macalão e com o Pr. Alípio, voltam a São Paulo e o

General segue ao Cartório. No Cartório o General da à ordem de revogar a

oficialização dos 12 Estatutos, segundo a biografia essa foi a fala do General,

Esse grupo que está aí é um grupo suspeito, eles estão querendo se apossar de uma coisa que não é deles, que a origem é essa aqui o senhor está vendo, esse aqui é o Presidente e a palavra que está vindo aqui é dentro do documento já reconhecido com tudo o Estatuto que deve permanecer é este e o senhor afasta todos estes outros. (FERREIRA, s.n.t, p. 144)

Quem em pleno período ditatorial no Brasil (esse fato ocorreu entre os anos

de 1974-1976) se oporia a uma ordem direta de um general e deputado eleito?

Podemos verificar aqui, em suas devidas aproximações, prevalecer o conceito de

pessoa e indivíduo no qual a ideia do você “sabe com que está falando” se realiza e,

cujo conhecimento das “pessoas” certas proporciona conquistar privilégios frente

aos “indivíduos” (MATTA, 1997). Revelando aqui uma rede de interesses criados por

grupos específicos e, que no caso das ADs no Brasil é uma realidade, pois o que

importa é manter a qualquer custo os “recursos escassos” (SOUZA, 2015) que são e

tão valiosos, mesmo que meramente chamados de “mundanos”. O que mais

explicaria a disposição do General em prestar auxilia a uma causa tão particular de

um grupo de “religiosos” e, em contra partida, temos também a demonstração da

proximidade de um pastor (ou vários) com o poder meramente “mundano”, nos quais

com certeza se materializava uma relação social de ajuda mútua entre ambos.

É claro que o importante aqui para um político é o apoio que esse grupo daria

para o mesmo no período eleitoral e, do grupo em questão nas necessidades como

a apresentada a pouco em nossa pesquisa. Freston afirma que “o mercado

evangélico é visto não apenas como uma boa área de negócios especializados, mas

como fatia significativa do mercado nacional cujas sensibilidades não devem ser

ofendidas” (FRESTON, 2006, p. 26). Pensando ainda nesses processos sociais que

muitas vezes estão separados das relações sociais tidas como comuns, Matta diz,

É essa transformação de pessoa em indivíduo por períodos maiores do que aqueles autorizados pelo nosso mundo rotineiro e cotidiano que deve constituir a bases dos processos sociais de renúncia do mundo e de criação de modos alternativos de existência social. (MATTA, 1997, p. 255)

e Justiça e na de Segurança Pública. Faleceu em 28 de junho de 2004 em São Paulo. Disponível em http://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=288432. Acesso: 30/10/2016.

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Isso explicaria a necessidade do bispo em se reafirmar como o sucessor mais

justo (WEBER, 2012), uma vez que o mesmo não é uma “pessoa comum”, mas sim,

um “indivíduo escolhido”, “provado e aprovado” na obra de Deus pelos muitos

desafios que a ele se apresentaram durante toda a sua carreira. Sendo o mesmo

escolhido pelo próprio Deus para ir para Capão Bonito (ver Tabela 3) e o qual

também tinha a confiança do Pr. Paulo Leivas Macalão, demonstrando desde muito

cedo habilidade para conduzir o “rebanho”. Porém o principal argumento dele era

que a própria esposa do falecido o aceitava como sucessor mais indicado, uma vez

que ao ser indicado a concorrer à presidência da CGADB (FERREIRA, s.n.t, p. 147),

não existia outro igual para essa demanda.

Tabela 3: Carreira ministerial do Bp. Manoel Ferreira de 1960 até 2000.

IGREJAS PERÍODO SITUAÇÃO/PROBLEMA

Parapuã (SP)98

1961-1962

Deu início a igreja naquela cidade, fazendo os cultos em uma Igreja Metodista que cedeu o espaço nos dias que não tivessem atividades. Relata uma situação em que um irmão causou um problema que acabou em uma briga, esse caso foi parar na delegacia da cidade.

Capão Bonito (SP)

1962-1965

Através de uma revelação que o Pr. Benedito Constâncio teve com ele, foi designado para aquela igreja que estava desativada, devido uma divisão que ocorrera na mesma. Muitas dificuldades para reativar o trabalho e financeiras também. Nasce o 3º filho Abner Ferreira (1963). A igreja melhora e há chegada de novos membros.

Garça (SP) 1965-1968

Primeira igreja a ser designada pelo próprio Pr. Paulo Macalão. A mesma enfrentava dificuldades com o pastor que lá estava, pois o mesmo queria tornar a igreja independente da ADMM. Conseguiram manter a propriedade, mas muitos membros acompanharam os dissidentes. Nesse período morre seu filho Lucas, maiores dificuldades financeiras e nasce sua filha Vasti.

Bauru (SP) 1968-1972

Novamente designado por Macalão para resolver problemas de divisão na igreja. Perdem as propriedades para o Pr. Antonio Pinto Cavalcante, que se integra a AD Ipiranga. Nasce o filho caçula Samuel. Adquirem um terreno abandonado, em que os donos faleceram e não havia herdeiros, por um acordo com o prefeito e uma ordem judicial conseguem manter a posse do terreno (usucapião).

Vila Alpina (SP)

1972-1976 Devido a problemas na igreja é transferido novamente. A situação melhora, pois passam a receber salário depois de 13 anos trabalhando. Ganha um veículo zero km da igreja.

Vila Industrial (SP)

1973

Devido à postura autônoma do Pr. Aristides Alves da Silva, Macalão o manda intervir na igreja e assumir a presidência do campo. Tem problemas com um pastor chamado Álvaro Maceió, o qual recebe a igreja do Planalto. Vai ao Campo de São Caetano do Sul resolver um possível foco de divisão neste mesmo período, o qual se resolve com maior facilidade em relação aos outros.

98 No Jornal “O Semeador” de setembro de 2001, diz que a primeira igreja que o bispo esteve à frente foi em Arapuá – SP. Porém essa informação não se confirma em nenhum outro lugar.

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Brasília (DF) 1975-1976

Assume a igreja depois da morte do Pr. José Lacerda para continuar a construção da Igreja da Baleia. Provisoriamente acumula por duas vezes, dois campos, primeiro o de Vila Alpina, depois o de Campinas.

Campinas (SP)

1976-1999

Campinas já havia sofrido um processo de divisão na gestão do Pr. João Prata Viera no mesmo período do problema em Bauru. Agora esse outro trabalho sofria com um novo foco de divisão e o Pr. Paulo o manda pra resolver o problema. Assume no mesmo período que estava em Brasília. Interinamente fica o Missionário Celso Lopes. É eleito presidente da CGADB em 1983. A ADMM é desligada da CGADB em 1989. Assume a Presidência da CONAMAD em 1987. Em 1999 entrega a igreja para o seu filho Pr. Samuel Ferreira.

Madureira (RJ)

1990-1999

Já é presidente da CONAMAD e assume o campo, mesmo sendo ainda presidente de Campinas, após a morte do Pr. Orosma Dagoberto. Pela segunda vez é presidente de dois campos. Passa essa igreja para o seu filho Pr. Abner Ferreira.

(FONTE: FERREIRA, s.n.t)

2.2.1.2. Presidente de duas Convenções: da CGADB à CONAMAD

O acontecimento narrado anteriormente é a chave que encontramos em

nossa pesquisa para explicar como se deu a ascensão do Bp. Manoel Ferreira para

o posto diretivo mais importante da ADMM. Pois com a “crise na ADMM de São

Paulo” (na década de 1970) levou o Pr. Paulo Leivas Macalão a centralizar ainda

mais o poder em si mesmo, uma vez que já era o presidente vitalício da Convenção

de Madureira, agora estava assumindo a presidência de mais um Campo, fato que

se apresentou como um fenômeno quase que rotineiro em nossa pesquisa, pois em

iminência de sofrer com a ação autônoma de um determinado obreiro, Macalão

usava de sua “força institucional” intervindo na determinada igreja/ou campo que

estivesse buscando sua emancipação. Confirmando a descrição feita por Tércio

sobre a forma que Macalão atuava com o seus subordinados, pois quando percebia

que um dos

[...] obreiros de seu ministério demonstrasse personalismo e um mínimo de independência eram severamente repreendidos, às vezes punidos com transferência para outra igreja ou simplesmente excluídos. (TÉRCIO, 1997, p. 109)

Na presidência do Campo do Brás estava o Pr. Antônio Ianone e o Pr.

Lupércio era o seu vice-presidente, o mesmo estava à frente de uma igreja no bairro

de São Mateus (FERREIRA, s.n.t), hoje um Campo tendo como presidente o Pr.

Deiró de Andrade. A biografia que dispomos do Bp. Manoel Ferreira deixa a

entender que o mesmo foi chamado pelo Pr. Paulo Leivas Macalão por ser o único

com experiência para resolver o problema, entretanto ela não explica porque ele não

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é escolhido para assumir o ADMM no Brás, já que ele era o obreiro “mais hábil”. O

quadro diretivo do Brás ficou composto assim, Macalão era o presidente e

comandava a igreja diretamente do Rio de Janeiro, na vice-presidência ficou Pr.

Lupércio Vergniano (FERREIRA, s.n.t). Por quê? Se o bispo era o mais bem

preparado, por que ele não assume pelo menos a vice-presidência? Essa situação

no mínimo indica que o mesmo não dispunha de tamanho carisma e prestígio

necessários para colocá-lo nesse posto, como ele mesmo tenta dizer que tinha. Uma

vez que a eficácia de um prestígio legítimo não necessita de uma “auto justificação”,

o que explica a ênfase desta fala do Bp. Manoel Ferreira e, de outras situações

narradas por ele mesmo depois de passados quase quarenta anos em que o fato

ocorreu? A necessidade de reafirmar-se como sucessor legítimo, o solidificando

neste posto não pelo seu carisma, mas pelo poder patrimonial institucionalizado.

Mesmo depois da morte de Macalão não é o Bp. Manoel Ferreira que assume

a CONAMAD e nem a igreja-mãe do Ministério de Madureira, como já mencionamos

anteriormente em nossa pesquisa (PRATES; FERNANDES, 2012, p. 111).

Novamente quem está em cena é o Pr. Lupércio, demonstrando que a figura mais

prestigiosa, pelo menos em tese, não era a do bispo e sim a de Lupércio. Ele

mesmo apenas compõe a Mesa Diretora, que não é pouco, porém não o “qualifica”

como o sucessor mais indicado de Macalão. Mas então o que explicaria sua

ascensão ao posto diretivo da ADMM? Primeiro sua habilidade em resolver questões

políticas, sem dúvida! Segundo o “vácuo de poder” de 1982, pois com a morte dos

dois principais líderes da igreja repentinamente não se havia um sucessor pronto,

assim os “mais hábeis” levam sempre vantagem nessa “corrida”. Terceiro, um órgão

chamado de “Unidade Fraternal do ABCDMR” (diagrama 3), que era uma espécie de

“convenção informal” de campos da ADMM ligados a Grande São Paulo,

principalmente no ABCD paulista.

Esta entidade, que segundo o Pr. P-B “nunca foi reconhecida pelo Pr.

Lupércio” surgiu no final da década de 1980 e era “um espinho no pé do Pr.

Lupércio”, pois não aceitavam o mesmo e, todo assunto tratado em uma reunião no

Brás, por exemplo, que não agradasse os membros dessa “Fraternal”, eles se

dirigiam a Campinas para falar com o bispo (Entrevista em áudio, gravada no dia

09/08/2016). Assim esse grupo se tornou uma “mola propulsora” para a ascensão do

Bp. Manoel Ferreira, pois muitos dos pastores-presidentes ligados a essa

organização ocupavam cargos importantes na CONAMAD e, em 1987, em uma

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eleição o bispo assume a presidência da CONAMAD. Ao mesmo tempo, essa

organização era um entrave ao Pr. Lupércio, pois minavam sua autoridade e muitas

vezes nem reconheciam o prestígio dele em ocupar a presidência da Convenção de

Madureira. E em último lugar, uma palavra que em uma das entrevistas (esta com o

Pr. P(ex)-A), surgiu e me chamou a atenção, pois se referindo à pessoa do Pr.

Lupércio Vergniano, o entrevistado disse ser ele “uma pessoa muito humilde”

(Entrevista em áudio, gravada no dia 25/07/2016), porém a expressão de humildade

aqui está muito mais para passividade do que para uma pessoa simples e sem um

capital cultural, que não é o caso do referido pastor. Entretanto é nessa falta de

“intrepidez” do Pr. Lupércio Vergniano, somado a sua “passividade” que leva o Bp.

Manoel Ferreira a se projetar como o sucessor legítimo para a ADMM.

Isso ocorre no ano de 198399, na 27ª Convenção Geral em Vila Velha – ES,

pois ao invés do próprio Lupércio sair com a indicação para disputar à presidência

da CGADB, ele cede o lugar para o então Pr. Manoel Ferreira da ADMM em

Campinas. Que não apenas vence as eleições, mas consegue que toda a diretoria

eleita nessa convenção fosse de pessoas ligadas ao Ministério de Madureira.

Segundo o próprio bispo, sua escolha para concorrer a CGADB havia sido feita

anteriormente em uma reunião com a “cúpula oligárquica” instituída naquele

momento posterior à morte de Macalão na ADMM. Em um ar de muita apreensão de

todos que lá estavam, pois não sabiam o que iria acontecer com a ADMM, muitas

vozes se levantaram e pessoas foram indicadas, até que o Pr. Carlos Malafaia pediu

a palavra e, na sua fala citou o seu nome. Segue abaixo a fala do pastor nas

“memórias” do Bp. Manoel Ferreira,

Irmãos eu quero a palavra, eu quero a palavra. Aí o Carlos levantou e disse: “Olha, deixa eu dizer uma coisa aqui, nós temos que partir não dos que querem, mas daqueles que estão credenciados pelo ministério, credenciados pela sua história, credenciados pelo trabalho, pelo reconhecimento do pastor Paulo, pela intimidade do irmão Paulo e aqui tem um nome. Esta noite eu estava orando e num certo momento eu escutei como que o Espírito Santo falando em voz audível e eu escutando. E sabe qual é o homem que o Espírito Santo já escolheu para presidir a CGABD e para ser o nosso candidato? O pastor Manoel Ferreira. (FERREIRA, s.n.t, p. 147)

Ou seja, ele agora não é apenas a escolha mais justa, é também a escolha do

“próprio Deus” por meio do oráculo (WEBER, 2012) e, que recebe o aval final

99 Vale lembrar que o Ministério de Madureira ainda fazia parte da CGADB, seu rompimento com a instituição ocorre apenas no ano de 1989.

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(segundo o bispo) da “lembrança viva” de Macalão no recinto, pois “a irmã Zélia

Macalão disse: ‘Oh irmãos, se o Paulo estivesse vivo, ele ia escolher o nome do

irmão Manoel Ferreira” (FERREIRA, s.n.t, p. 147). Se os eventos ocorreram ao pé

da letra como narrado não temos como confirmar, entretanto a forma como essa

“memória coletiva” (HALBWACHS, 1990) é construída mostra que o bispo foi

ganhando força e o Pr. Lupércio apenas assistiu “humildemente” aos ocorridos sem

ser considerado em nada. Não é sem motivos que o Pr. P-A (ver quadro 2), se

referindo ao bispo diz que ele “tornou conhecida a ADMM ao país” (Entrevista em

áudio, gravada no dia 08/07/2016), enaltecendo a figura do bispo como uma pessoa

habilidosíssima, não só para resolver problemas, mas como capaz de criar a sua

própria tradição dentro do ministério (WEBER, 2012).

No ano de 1985 ele é aclamado naquilo que ficou conhecido nessa

Convenção Geral como “Chapa de Consenso” a vice-presidente (DANIEL, 2004, p.

501), pois as tensões entre pastores ligados a CGADB com relação ao Ministério de

Madureira e sua Convenção já eram mais do que aparentes. E no ano de 1987 já na

presidência da CONAMAD, o Bp. Manoel Ferreira enfrenta uma forte oposição, pois

esse ano é marcado por disputas turbulentas para à presidência da CGADB, uma

vez que, segundo o bispo existia um acordo mútuo para a composição mista da

diretoria da mesma, sendo firmada em uma reunião em João Pessoa – PB. Acordo,

este, que segundo o mesmo não foi cumprido pelos pastores integrantes as ADs de

Missões (FERREIRA, s.n.t, p. 148).

Essa situação levou a presidência da CGADB o Pr. Alcebíades Vasconcelos

(AD do Amazonas) e o vice o Pr. José Wellington Bezerra da Costa (AD Belém –

SP) e com a morte do presidente em 1988, assume o vice que no ano de 1989. Na

1ª Assembleia Geral Extraordinária da CGADB, ocorrida no dia 5 de setembro deste

ano, se levanta a questão das ADMM terem uma Convenção de caráter nacional e

abrir convenções estaduais, o que segundo os requerentes feria o estatuto da

CGADB. Foi então aprovado o desligamento de todas as igrejas filiadas ao

Ministério de Madureira da CGADB, com a perda dos direitos de todos os ministros

(pastores e evangelistas) ligados à mesma (DANIEL, 2004, p. 526-528).

Assim começa então uma nova fase para as ADMM, uma vez que agora eles

eram um “ministério independente” das ADs no Brasil. Nessa fase o Bp. Manoel

Ferreira é obrigado a empreender para não perder as igrejas ligadas a sua

convecção, o qual faz com muita propriedade segundo Cabral (2002), pois cria a sua

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própria editora em 1991 (PRATES; FERNANDES, 2004, p. 122), a Editora Betel que

era responsável por todo o material de educação cristã do ministério e pelo jornal “O

Semeador”, periódico criado na igreja de Madureira em 1960, porém que agora

ganha projeção nacional. É nesse período também que seus filhos passam a se

destacar, pois o pai começa a “incentivá-los ao ministério”, sendo o Pr. Abner

Ferreira o primeiro a ser pastor-presidente no campo de Vila Alpina – SP de 1990

até 1991 (FERREIRA, s.n.t, p. 280). No ano de 1991, ele assume a igreja de

Madureira como vice-presidente, pois o bispo era o presidente tanto do campo de

Campinas (1976), quanto o de Madureira (1990) ao mesmo tempo.

2.2.2. O político Manoel Ferreira.

Alegando muitas atividades dentro do Ministério de Madureira, como a

presidência da CONAMAD, do CNPB (órgão criado em 1993 e que buscava a

inserção política da ADMM no cenário nacional [MARIANO, 1999]) e o Projeto

Portas Abertas para o Oriente, que tinha como objetivo a evangelização (CABRAL,

2002) do povo russo “pós-comunismo” e a construção da primeira igreja das ADMM

na Rússia, levaram o Bp. Manoel Ferreira no ano de 1999 a pedir o seu jubilamento

da presidência das ADMM em Campinas - SP e de Madureira – RJ. As quais ficaram

de posse de seus dois filhos, os pastores Samuel Ferreira e Abner Ferreira (sobre

esse tema falaremos no próximo capítulo de nossa pesquisa).

Sobre o pretexto de uma ameaça a vida religiosa vinda dos rumos políticos da

nação brasileira, pois “a influência satânica na vida política” (FERREIRA, 2000, p.

143) era mais que evidente o Bp. Manoel Ferreira buscou entrar na vida pública.

Assim na década de 2000, o bispo da ADMM dedicou-se a sua carreira política,

participando da eleição a senador em 2002 pelo Rio de Janeiro (MACHADO, 2006),

em 2004 à vice-prefeito da capital carioca na chapa de Luís Paulo Conde e a

deputado federal pelo PTB do Rio de Janeiro em 2006100. Sendo ele apenas eleito

nesta última eleição com 80.016 votos válidos e que segundo seus informes nesta

eleição gastou cerca de R$ 228.499,02, para conseguir ser eleito. Nesta mesma

eleição apoia abertamente a candidatura de reeleição do então presidente Lula,

100 Disponível em: http://noticias.uol.com.br/politica/politicos-brasil/2006/deputado-federal/30051932-pastor-manoel-ferreira.jhtm. Acesso dia 30/10/2016.

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dizendo “que iria pedir aos fiéis da igreja para votar em Lula”101. Prática já bem

comum de sua gestão à frente das ADMM.

O que explica seu interesse na política? A obtenção de um prestígio agora

frente à sociedade brasileira, uma vez que ele já havia percebido o “grande valor”

dos evangélicos para as pretensões políticas (FERREIRA, 2000, p. 147). Mas

apesar de ser o único presidente de uma convenção assembleiana a ocupar um

posto político, seu carisma e prestígio nunca o ajudaram muito, pois se analisarmos

sua carreira política é somente na terceira tentativa de se eleger que o líder de

Madureira consegue os votos para isso. Coisa que o mesmo já identificara algum

tempo atrás e, escrevendo ao jornal “O Semeador” sobre o título “Irmão deve votar

em irmão”, ele se “queixava” do desinteresse dos evangélicos assembleianos em

relação à política, ou mesmo da não militância para os deputados evangélicos e que

muitas vezes era feita para “os ímpios contra os irmãos” (FERREIRA, 2000). O qual

ele diz,

Infelizmente há os que se omitem, em termos de política. Nada fazem, como cristão. Assim agem, por várias razões: não se preocupam em conhecer mais profundamente os problemas nacionais, desconhecem o quanto a Igreja pode fazer para amenizar os problemas brasileiros, e não aplicam o “poder da Igreja”, em favor do Brasil. (FERREIRA, 2000, p. 149)

Demonstrando que mesmo ele ocupando o posto mais alto da ADMM, seu

prestígio não alcançava o “coração dos membros” e, assim, ele não era considerado

como uma opção válida a carreira de “representante do povo evangélico” na vida

pública. O que leva ele a criar o CNPB, este órgão era uma versão mais ou menos

parecida com CNBB católica, o qual pretendia ser uma voz pública desse grupo de

evangélicos (BAPTISTA, 2007) no cenário político nacional. O qual mesmo se

utilizando do CNPB, entidade criada junto com o Bispo Macedo da Universal

(BAPTISTA, 2007) não conseguiu adquirir o prestígio necessário para se consolidar

como uma “voz política” dos evangélicos brasileiros. Vale destacarmos que a criação

do CNPB, em conjunto ao Bp. Edir Macedo da igreja Universal foi duramente

criticado pelos adeptos do seu próprio ministério. Caso que levou o bispo a escrever

um artigo no jornal “O Semeador”, no qual ele tenta explicar a importância do CNPB,

O CNPB prega que devemos respeitar as diferenças das igrejas. Somos unidos em nossas semelhanças e povo. A igreja deve manter sua unidade, defendendo seus direitos adquiridos e conquistando

101 Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0809200609.htm. Acesso dia 30/10/2016.

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novos direitos que as constituições e a vida prática nos permitem adquirir e tomar posse. Há muito o que conquistar... A igreja não pode cruzar os braços! Compete a ela, como um todo, agenciar o Reino de Deus nessa terra! Que jamais paire qualquer dúvida quanto a unidade da igreja, pregada pelo CNPB! (FERREIRA, 2000, p. 39)

Segundo ele a “igreja” tem uma decisiva atuação para vida política. O que não

fica claro em suas falas são as questões de laicidade e da separação entre Estado e

Igreja, entretanto sua postura deixa muito claro que a “igreja” deve estar diretamente

ligada à vida pública. Como ele mesmo diz, “temos que exigir um lugar ao sol com

participação efetiva e ativa, independente de possíveis corrupções” (FERREIRA,

2000, p. 154). Como afirma um de seus filhos, o Pr. Abner Ferreira falando sobre a

questão da participação política, diz,

Os membros das igrejas e os adeptos de qualquer confissão religiosa fazem política com muita frequência, mesmo não tendo consciência disso. As religiões mais bem sucedidas em fazer convertidos e prosélitos e em modificar o comportamento social, são aquelas em que os membros são ensinados a viverem de modo que exerça influência sobre o meio em que vivem e isso, de certo modo, é fazer política. (FERREIRA, 2010, p. 118-119)

O Bp. Manoel Ferreira sem dúvida alguma conseguiu ser o sucessor de

Macalão, o qual imprimiu a ADMM a sua própria tradição, sendo ela aceita por

alguns e criticada por outros. Sua gestão ocorre uma igreja que precisa se reinventar

a medida que perde seus principais líderes de uma só vez e, vê a sua unidade ser

ameaçada pela CGADB. Nisto o Bp. Manoel Ferreira é de fundamental importância,

pois não só conseguiu se ascender ao posto mais importante, mas também de

“recriar” a igreja em meio a sua própria tradição instituída. Caso que analisaremos

no próximo capítulo dessa pesquisa, no qual trataremos sobre as principais

características da ADMM e suas diferenças. Também discorreremos sobre como se

tem articulado a perpetuação do poder “dos Ferreiras” na instituição.

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CAPÍTULO 3 O MINISTÉRIO DE MADUREIRA: Características, Sucessão e Perpetuação do poder.

Neste terceiro capítulo nos debruçaremos na atual forma organizacional da

ADMM e o que diferencia a mesma do restante das ADs no Brasil, principalmente as

ligadas a CGADB. Quais são suas principais características organizacionais que

ajudam a explicar esse modelo atual de sucessão e perpetuação do poder nos

principais postos diretivos e que não se viu nas primeiras décadas dessa instituição.

Interessa-nos aqui compreender como a gestão atual conseguiu não apenas,

legitimar-se como a sucessora “mais justa” (WEBER, 2012), mas também empregar

aquilo que constatamos em algumas de nossas entrevistas como um modelo

“ferreirista” de organização. Também quais são as tensões geradas internamente ao

longo da fundamentação e consolidação desse modelo entre aqueles que não

concordam, ou não coadunam com as práticas que foram instituídas ao longo dessa

gestão.

Por ser uma igreja “autenticamente” brasileira e “interregionalista” desde sua

origem, ainda na década de 1930, ela foi obrigada a desenvolver uma forma de

organização diferente das outras ADs, que se mantinham sobre o domínio dos

missionários suecos/ e ou pastores nordestinos, pois as mesmas eram

regionalizadas. Uma “instituição como padrão de controle, ou seja, uma

programação da conduta individual imposta pela sociedade” (BERGER; BERGER,

1980, p. 193) tende a se acomodar de acordo com os processos e relações sociais

produzidas internamente pelo grupo, onde estão inseridos socialmente. Assim para

manter-se coerente com o meio onde está inserida a mesma deve produzir uma

linguagem que tem como função a objetivação da realidade (BERGER; BERGER,

1980)102. Essa linguagem tende a dar as condições necessárias para que os

indivíduos possam interpretar dentro de seu “microcosmo” social, os papéis que lhe

são “introjetados”, para que os mesmos possam fazer parte da “sociedade”

(BERGER; BERGER, 1980, p.195) a qual estão sendo inseridos.

102 Os autores tendem a falar da linguagem como processo de socialização da criança à realidade objetiva que está inserida, ou seja, a internalização dos códigos, normas e processos a ela disposto no ambiente determinado, para que a mesma consiga se enquadrar e reproduzir esses mesmos valores. (BERGER; BERGER, 1980, p. 194-195).

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Dessa forma e, em suas devidas aproximações, afirmamos que a ADMM (e

as outras ADs) produzem uma forma de “linguagem organizacional” que tendem a

acomodar os seus indivíduos, que segundo sua crença, os mesmos “nasceram

novamente”103 pela confissão de Cristo e pelo Batismo em Águas. Compreender

essa “linguagem organizacional” é de fundamental importância para uma análise da

realidade social produzida por essa organização, pois como afirma Berger “a

representação dos sentidos humanos se torna mimesis dos mistérios divinos” (1985,

p. 51). Assim para o adepto da organização, a linguagem ali processada não é

meramente humana, mas uma “reprodutibilidade” da “organização espiritual” e

sendo isso para o dominador de fundamental importância, uma vez que, quanto

mais “inculcado” estiver essa forma de “linguagem organizacional”, menor será o

risco de uma possível “sublevação” (BOURDIEU, 2013, p. 70-71) de sua dominação.

Optamos por esta tarefa de desnaturalização dessa “linguagem

organizacional” produzida pela ADMM, por entender que “as interações simbólicas

que se instauram no campo religioso devem sua forma específica à natureza

particular dos interesses que aí se encontram” (BOURDIEU, 2013, p. 82).

Conquanto a organização de uma instituição se deva pela obtenção dos chamados

“recursos escassos” e de como eles são necessariamente disputados,

principalmente pela “oligarquia instituída”, que luta para conseguir sempre se manter

no topo dessa pirâmide “sócio-organizacional”.

Esse tipo de busca acaba por gerar, muitas vezes, um processo de

tensão/conflito dentro da instituição entre os diferentes grupos que ali se constituem,

o que acaba muitas das vezes em processos de divisões/ ou autonomias de

determinados indivíduos/ e ou campos, devido à centralização do poder. Podemos

verificar que esse tipo de situação ocorreu tanto na gestão do Pr. Paulo Leivas

Macalão, quanto na atual gestão do Bp. Manoel Ferreira.

3.1. CARACTERÍSTICAS DO MINISTÉRIO DE MADUREIRA.

Para que possamos melhor visualizar e compreender como é o

funcionamento atual da ADMM, nos ateremos nessa seção em três aspectos gerais

103 Baseado no texto bíblico de João capítulo 3, dos versículos de 1 a 21, no qual Jesus em um diálogo com um fariseu chamado de Nicodemos, fala que “lhe é necessário nascer de novo” (Bíblia – ARC).

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da organização que são: a CONAMAD; o CAMPO; e a formatação hierárquica da

organização, comumente chamada na teologia cristã de “Governo da Igreja”. De

forma geral as ADs no Brasil tem uma forma de organização muito semelhante entre

si, porém existem algumas “particularidades” que demarcam certa diferenciação

significativa no funcionamento e andamento da organização em questão. Podermos

perceber que em algumas pesquisas sobre as ADs no Brasil acabam por apresentá-

la como uma unidade organizacional homogênea e sem uma determinada

especificidade entre elas. Os quais podem ser visto nas pesquisas de Souza (1969),

Novaes (1985), Rolim (1985), Leornad (1988), Freston (1993, 1994) uma vez que

estes pesquisadores acabam por apresentar as ADs como uma organização única e

uniforme.

A resposta para este desconhecimento está no fato de que todos os

pesquisadores estavam falando do fenômeno pentecostal como um todo, sendo

assim muito difícil perceber certas especificidades de cada vertente pentecostal

existente. Também pelo fato do movimento aparecer nos censos com um

crescimento considerável a época que produziram os seus estudos científicos,

levando os mesmos a não considerar a possibilidade de estarem se defrontando

com um fenômeno de características heterogêneas. Podemos perceber esse fato

com a tipologia grafada por Freston (1993), que para tentar resolver este problema

conceitual sobre o movimento pentecostal, o pesquisador elaborou um esquema de

compreensão conhecido como as “três ondas”, no qual, na visão do autor, o

movimento pentecostal teria se desenvolvido de forma “estanque” em três

momentos distintos de sua história. Tendo como função na pesquisa em questão ser

uma primeira tentativa de se perceber o fenômeno pentecostal como um movimento

em transformação, acabou por encobrir as próprias contradições produzidas pelo

mesmo, uma vez que as características por ele determinadas como “marcador das

ondas”, podia ser encontrada em diferentes igrejas do movimento pentecostal

indistintamente ao seu período de classificação.

Assim, é necessário para a compreensão do fenômeno pentecostal

assembleiano sempre observar o movimento a partir das dialéticas produzidas

dentro do próprio, a fim de se ter uma compreensão mais próxima da realidade

objetiva do mesmo. Berger afirma que,

O termo “dialética” é útil precisamente para evitar essa falsa interpretação. As legitimações religiosas nascem da atividade

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humana, mas uma vez cristalizadas em complexos de significados que se tornam parte de uma tradição religiosa, podem atingir um certo grau de autonomia em relação a essa atividade. (BERGER, 1985, p. 55)

A advertência de Berger serve para ver a forma com as ADs se organizam

dentro de suas próprias tradições, uma vez que apesar desse movimento ser

apresentado no discurso oficial de seus líderes como uma organização singular e

homogênea, na realidade o que temos é uma pluralidade heterodoxa de

“assembleanismos”. Devemos destacar o surgimento de pesquisas que buscaram

compreender o “fenômeno assembleiano”, a partir da dialética por ele produzida ao

longo de sua história, entre os pesquisadores destacamos Alencar (2010; 2013),

Correa (2006; 2013) Sousa (2010), Costa (2011), Gomes (2013), Fajardo (2015),

entre outras pesquisas produzidas nestes últimos anos pelas mais diferentes

universidades brasileiras. Mas o que esta pesquisa traz de novo, que pode

diferenciar das anteriores? O olhar para a forma de organização da ADMM.

a) a CONAMAD.

Apesar de sua fundação ser na igreja-mãe em Madureira – RJ no ano de

1958, a CONAMAD, ou Convenção Nacional das Assembleias de Deus Ministério de

Madureira é a herdeira da CNMEADMIF - Convenção Nacional dos Ministros

Evangélicos da Assembleia de Deus em Madureira e Igrejas Filiadas e, desde 2003

(PRASTES; FERNANDES, 2012, p. 140) tem a sua sede e foro localizados a

avenida W 5 Sul, Quadra 910, Lotes 33 e 34, Plano Piloto, na cidade de Brasília.

Segundo a história oficial da organização era de desejo do Pr. Paulo Leivas Macalão

que isso ocorre (CABRAL, 2002), mas não encontramos na biografia do mesmo

qualquer menção sobre esse desejo de transferência.

Durante a pesquisa pudemos verificar a existência de uma diferença da

CONAMAD em relação às outras convenções “assembleianas”, como a CGADB,

pois a mesma, não pode ser caracterizada como uma “associação de pastores”.

Assim enquanto as ADs ligadas à missão estão organizadas em vários Ministérios

interligados por uma Convenção Nacional (CGADB) e diferentes Convenções

Estaduais (CONFRADESP104, por exemplo), dependendo de características

104 Convenção Fraternal e Interestadual das Assembleias de Deus no Ministério de Belém. A mesma abrange ainda os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e as igrejas do Sul de Minas Gerais.

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particulares e regionalizadas, a ADMM está organizada em diferentes Campos,

porém todos eles estão ligados diretamente a CONAMAD, que apesar de trazer a

ideia de ser uma Convenção de igrejas, ela carrega em si mesma, a condição de

“órgão máximo hierárquico, deliberativo, legislativo, gerenciador e articulador da

unidade e integração” das igrejas ADMM (ESTATUTO CONAMAD, Art1º, 2013).

A partir do diagrama abaixo podemos verificar que o centro de toda a

organização da ADMM é a CONAMAD, que diferente da CGADB, ela mantém um

controle centralizado do Ministério e apesar da existência de vários Campos, os

mesmos não são autônomos em si (em tese e de acordo ao Estatuto da instituição),

devendo sempre se reportar as diretrizes estabelecidas por este órgão diretivo. Um

bom exemplo que podemos mencionar é o Art. 6º do estatuto da CONAMAD, o qual

afirma que “o Estatuto das Igrejas Filiadas não será reformado ‘in partum’ ou ‘in

totum’, sem autorização expressa da Mesa Diretora da CONAMAD”.

Diagrama 3: Forma de organização da ADMM

Fonte: Autor.

Neste sentido podemos observar uma primeira diferença entra a organização

da CONAMAD, em relação à CGADB, pois a primeira exerce não apenas influência,

Para maiores informações ver Anexo I Convenções nacionais – CGADB e CONAMAD na obra de ALENCAR, 2013.

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mas sim, uma dominação regimental sobre a igreja e os pastores-presidentes, uma

vez que segundo o Art. 5º de seu estatuto “intervirá nas Igrejas” quando houver

casos relacionados a cisões, perturbações da ordem interna, desrespeitos às

normas estatutárias. Assim ao observar o diagrama identificamos que todo o

Ministério de Madureira está diretamente ligado a CONAMAD, se diferenciando da

CGADB, pois enquanto ela centraliza em si mesma, todas as diretrizes de

funcionamento das ADMM, a CGADB é apenas uma “associação de pastores”

(CORREA, 2013), que tem como função criar uma espécie de “identidade

assembleiana”.

E como as estruturas de poder dentro da ADMM estão sobrepostas umas as

outras, precisamos identificar que em cada nível hierárquico temos a constituição de

um quadro diretivo organizado de cima para baixo, o que chamamos na pesquisa de

quadro de especialistas (WEBER, 2012). Sendo todos compostos pelo presidente,

vice-presidentes, secretários, tesoureiros e relator. Já a eleição para a escolha da

Mesa Diretora é realizada em um período de quatro em quatro anos, não tendo um

limite estabelecido para a reeleição de qualquer membro, apenas o presidente atual

ocupa a posição de vitaliciedade, mas que segundo o estatuto na morte do mesmo

os próximos deverão passar por eleições. Portanto a maior posição da ADMM é a

presidência da CONAMAD, hoje ocupada pelo Bp. Manoel Ferreira.

O Art. 96º, diz que,

É vedado a CONAMAD remunerar, por qualquer forma, os cargos da Mesa Diretora, Conselho Fiscal, Comissões ou Conselhos; distribuir lucros, bonificações ou vantagens a dirigentes, mantenedores ou membros, sob nenhuma forma ou pretexto; salvo pagamento efetuado a terceiros por contratos de serviços técnico-profissionais prestados a CONAMAD. (ESTATUTO CONAMAD, 2013)

Como todos os membros são, ou foram Pastores-presidentes de um

determinado Campo, a questão da não remuneração se resolve, pois os mesmo

recebem salários de seus campos no caso dos presidentes em atividade, ou uma

espécie de aposentadoria para os pastores jubilados, que é o caso do Pr. Josué de

Campos que na atual gestão ocupa a função de 1º secretário da CONAMAD. E

apesar de parecer que quem ocupa este posto esteja prestando um serviço

“voluntário”, ou de “vocação”, o que impulsiona a participação no quadro de

especialista é o prestígio oferecido por esta posição, pois como já dissemos a

CONAMAD centraliza tudo em torno de si, até mesmo as propriedades, como

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registra o Art. 3, parágrafo XVIII, cabendo à mesma administrar todo o patrimônio do

ministério.

Dessa forma, estar no topo dessa pirâmide traz para o indivíduo muito

prestígio, uma vez que o patrimônio atual das ADMM é riquíssimo, se considerarmos

todas as igrejas espalhadas pelo país e seus ativos físicos. Sem considerar o capital

simbólico que se produz a quem tem sob seu controle toda essa estrutura. E

podemos assim explicar o desejo de uma grande maioria de pastores em ocupar

essa posição. Ainda nesse sentido precisamos diferenciar um Pastor-presidente de

Campo do Pastor/Bispo-presidente da CONAMAD, pois o primeiro apenas

representaria a figura máxima de poder da igreja que é presidente e das igrejas

filiadas ao seu campo (que não é pouca coisa); já o presidente da CONAMAD é a

figura de máximo poder do ministério não tendo ninguém acima dele, ao não ser o

“próprio Deus”105.

Ainda sobre a presidência e sua importância, vale mencionarmos que apesar

do Bp. Manoel Ferreira ocupar a posição de presidente vitalício, no site da

instituição106, pôde-se verificar que o seu filho mais novo, o Pr. Samuel Ferreira

atualmente ocupa não apenas a 1ª vice-presidência, mas também a Presidência

Executiva da instituição, que mais tarde foi constatado na pesquisa de campo a

veracidade dessa informação, com o depoimento de dois de nossos entrevistados.

Caso que demanda desde já em uma espécie de “sucessão mesmo ainda em vida”,

uma vez que o referido pastor é o que toma a frente nas assembleias do ministério,

segundo os mesmos entrevistados. Porém o que nos chamou a atenção foi o fato de

que no Estatuto da CONAMAD de 2007, no Art. 95 e, em seu parágrafo único,

afirmar que o cargo de 1º vice-presidente também era vitalício e que na época era

ocupado pelo Pr. Lupércio Vergniano, o qual seria mudado apenas com a morte do

mesmo.

Conquanto, apesar de o pastor ainda estar vivo, em uma reforma estatutária

ocorrida em 2013, podemos perceber que foi removido à vitaliciedade do cargo de 1º

vice-presidente, retirando o mesmo de sua posição e, em seu lugar ficou o então Pr.

Samuel Ferreira. Essa ação parece ter sido um “ato violento” jurídico cometido pela

“classe dirigente” atual da instituição, que não respeitou o Pr. Lupércio, pois o

105 Essa relação de autoridade e prestígio de certa forma valeria também para o presidente da CONEMAD, que tem sob sua jurisdição um certo controle dos Campos a ele subordinados, porém o mesmo está abaixo na escala hierárquica em relação ao presidente da CONAMAD. 106 Disponível em http://www.madureiranacional.com.br/. Acesso em 10/11/2015.

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mesmo ainda está vivo, mesmo que incapacitado pela sua doença. Essa violência

procura dar legitimidade burocraticamente à figura do filho do Bp. Manoel Ferreira e,

inevitavelmente fazendo com que o mesmo perca a legitimidade carismática. Assim

podemos perceber que o reconhecimento “do filho” na instituição não é tão unânime

quanto se procura afirmar, uma vez que os questionamentos sobre essas ações

foram aparecendo nas entrevistas realizadas para a nossa pesquisa.

No atual estatuto (2013) em seu Art. 93, parágrafo único, apenas o presidente

ocupa a posição de vitaliciedade, que, entretanto não exerce mais sua função, uma

vez que o Pr. Samuel Ferreira é que tem “dado as ordens”. Assim se demonstrando

que, ocupar esse posto é de fundamental importância, principalmente para os da

família “dos Ferreiras”, que pode até parecer em um primeiro momento como algo

aceito por todos, porém como já mencionamos, podemos constatar a existência de

uma tensão dentro do ministério com esse fato de “empoderamento violento” da

família do Bispo.

Uma segunda característica da CONAMAD é a questão das chamadas

Convenções Estaduais, as quais recebem um nome genérico de CONEMAD107 -

Convenção Estadual dos Ministros Evangélicos das Assembleias de Deus Ministério

de Madureira, mais a grafia do estado, ou país onde ela se localiza. Este órgão se

vincula a ser um braço extensor da CONAMAD em cada país, ou estado da

federação; não sendo permitido que os Campos filiados a Madureira se registrem

em outras Convenções. Também não podem existir mais de uma CONEMAD no

mesmo estado, exceto nos casos do Pará e Amazonas devido as suas extensões

territoriais (ESTATUTO CONAMAD, Art. 8º § 1º). Esse órgão tende a facilitar a

centralização do poder da CONAMAD, pois o mesmo não pode fazer nada sem a

prévia orientação e supervisão da instância superior, existindo apenas para facilitar

na contenção de problemas regionalizados, devido ao tamanho e dimensão

alcançados pelo Ministério de Madureira no território nacional.

Assim percebemos que as estruturas se sobrepõem apenas para reforçar o

poder e a dominação da “oligarquia” constituída, mas que ao mesmo tempo

possibilita a formação de “oligarquias” regionalizadas, nas quais estas devem se

submeter aos que estão no topo dessa pirâmide. Dessa forma as Igrejas do

107 No dia 20 de julho de 1959 foi fundada a primeira Convenção Estadual da ADMM, no Estado de Goiás. Estavam presentes nesse evento os pastores Paulo Leivas Macalão, Antonio Inácio de Freitas, Divindo Gonçalves dos Santos, entre outros (PRATES; FERNANDES, 2012, P. 85).

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Ministério de Madureira estão ligadas as igrejas-mães, ou também denominadas de

Sede ou Campo, já os Campos se ligam as Convenções Estaduais, que por sua vez

estão ligadas a CONAMAD, que ao mesmo tempo aparece ligada diretamente a

toda essa estrutura.

Isso não significar dizer que não existam relações que fujam a essa regra,

pois em duas de nossas entrevistas (uma com o Pr. P-B e a outra com Pr. P(ex)-B)

ouvimos a expressão “ligados a CONAMAD por laços fraternos”. O que significa

essa expressão? Segundo Correa seria “como remédio ou estratégia política para

justificar os ‘desacordos’ vividos em seu meio” (2013, p. 256). Como já discorremos

anteriormente para se alcançar o posto de Pastor-presidente, o “candidato” deve

percorrer (se você não for filho, parente ou amigo) uma estrada muito longa e muitas

vezes bem complicada. Assim, a fim de evitar esse desconforto alguns pastores

abrem a sua própria AD e passam a trabalhar para o seu crescimento. Quando

alcançam um tempo mínimo de cinco anos de existência e um número de “igrejas

agregadas”, muitos deles se vinculam a uma determinada Convenção, pois estar

vinculado a essa entidade garante um prestígio e confiabilidade dessa igreja perante

as outras. Entretanto no caso da CONAMAD, para evitar que a “oligarquia diretiva”

aja soberanamente sobre a igreja em questão, os pastores se ligam a Convenção

“por laços fraternos”, garantindo assim uma determinada autonomia da “cúpula

diretiva” (Entrevista gravada em áudio com o Pr. P(ex), em 14/07/2016) e na pior das

hipóteses, possa se manter o patrimônio adquirido ao longo desses anos (CORREA,

2013, p. 257).

Outro ponto a ser mencionado ainda e, que “foge à regra”, é se um

determinado Pastor-presidente de um Campo tem um tamanho e prestígio

considerável, pois o mesmo acaba adquirindo certa autonomia frente à CONAMAD.

Isso leva a uma tensão constante entre os mesmos, pois pode resultar em uma

ruptura dentro do ministério. Segundo o Pr. P(ex)-A já existe há um bom tempo, “se

não é escancarado, mas já é rachado”, uma vez segundo o pastor, muitas igrejas se

apresentam como “AD Ministério tal”, sem mencionar que é ligada a ADMM. Nessa

entrevista o pastor mencionou que a tensão é muito grande e qualquer mínima coisa

feita, já é um bom motivo para ocorrer o desligamento da determinada igreja da

CONAMAD. Ainda segundo o nosso entrevistado essa tensão existe não apenas em

São Paulo, ou no Rio de Janeiro, mas em quase todo o ministério espalhado pelo

país. Citou ainda o caso da AD em São Bernardo do Campo, que no dia da morte do

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Pr. Roberto Montanheiro, enquanto a cúpula de Madureira vinha para empossar um

novo pastor-presidente designado por eles, o quadro diretivo daquela igreja já

elaborara um Estatuto próprio e empossara um presidente substituto, que a época

era o vice-presidente em exercício (Entrevista em áudio, gravada no dia

25/07/2016). No qual, mesmo com várias tentativas por parte da Diretoria da

CONAMAD, a mesma não conseguiu reverter o desligamento da convenção desse

grande Campo, que está localizado na região da Grande São Paulo.

b) o Campo.

Campo é a designação dada ao conjunto de igrejas ligado diretamente a

igreja mais antiga fundada em uma determinada região e que não necessariamente

precisa ser a única, pois se fizermos uma verificação a priori em São Paulo, por

exemplo, encontraremos sem muita dificuldade alguns campos uns próximos aos

outros. Segundo Fajardo (2015) essa organização do Ministério de Madureira é um

pouco mais complexa que a organização da ADMB, e porque não dizer das ADs das

missões. Uma vez que a organização da ADMB se dá a partir dela ser a única igreja-

sede, ou igreja-mãe e o restante são congregações ligadas diretamente a ela na

capital ou região metropolitana (2015, p. 162). Em bairros específicos temos aquilo

que se denomina de “igrejas setoriais” (2015, p.163), as quais dispõem de certa

autonomia em algumas atividades administrativas, questões mais do dia a dia da

igreja (CORREA, 2013). Já as “sedes-regionais do interior de São Paulo recebem

outra designação, são os ‘campos’”, estas são autônomas, mas mantém um vínculo

com o Ministério do Belém na capital paulista (FAJARDO, 2015, p. 163).

Já a ADMM se organiza a partir de Campos, que seriam igrejas-sedes (ou

igrejas-mãe), com um CNPJ próprio, o que lhe dá certa autonomia, principalmente

para abrir igrejas em qualquer região do país, mesmo nas quais já exista uma igreja

de um determinado campo ligado ao Ministério de Madureira (2015, p.165). Aqui

podemos verificar a marca do “interregionalismo” inaugurado ainda na gestão do Pr.

Paulo Leivas Macalão e, que é uma característica marcante deste Ministério. Essa

certa autonomia dada aos Campos, também pode ser vista, na forma com que eles

queiram se organizar internamente, desde que, não firam cláusulas estatutárias da

CONAMAD. Assim é possível encontrar ainda Campos que exijam um maior rigor

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nos chamados “uso e costumes”108, e, alguns, que adotem uma formatação

semelhante às chamadas “Comunidades Evangélicas”, com a criação de grupos de

louvor profissionais, como é o caso da “Brás Adoração”, conjunto musical liderado

pelo Pr. Samuel Ferreira, nas ADMM do Brás.

Diagrama 4: Forma como se organiza um Campo ligado a ADMM.

FONTE: Autor.

Segundo o diagrama acima, a Igreja-Sede é o “centro-nervoso” de um

determinado Campo, pois é nela que se concentra toda a administração do mesmo

e, é para onde os recursos devem ser encaminhados. De lá são direcionados os

“obreiros” que estarão à frente das igrejas-filiadas (sejam elas as sub-sedes/setores,

ou mesmo as congregações), as permissões de compra de novos terrenos ou “bens

diversos”, reformas das igrejas, ou mesmo a abertura de novas igrejas. Nada pode

ser feito sem o aval da presidência e sua diretoria, por isso mensalmente cada

igreja-filial deve prestar contas do dinheiro arrecadado naquele mês a uma comissão

de contas, previamente estabelecida pela Diretoria do Campo.

Dependendo do tamanho do Campo e a distância onde estejam localizadas

suas igrejas-filiais, a sub-sede/ou regional passa a exercer uma função parcialmente

autônoma, principalmente para resolver determinadas situações administrativas que

surgirem. Mas ainda sim, devem comunicar a igreja-sede suas ações e muitas vezes

108 A mulher é proibida de usar calças e maquiagem, os homens de usa bermudas e praticar esportes, podendo até mesmo proibir a posse de aparelhos de televisão. Esses campos podem ser encontrados na região Centro-oeste brasileiro, como no Estado de Goiás, por exemplo.

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aguardar a aprovação daquilo que pretendem realizar. Mas esse modelo possibilita

que novos Campos sejam criados através de um processo de emancipação

(FAJARDO, 2015), ora pacificamente, ora por meio de uma tensão entre o corpo

diretivo do Campo e o grupo de igrejas, ou mesmo o “obreiro” que lá esteja. No caso

de uma emancipação pacifica, pudemos constatar que muitas vezes ocorre quando

por decisão do Pastor-presidente se resolve emancipar um “setor”, ou conjunto de

igrejas, para que seu filho (ou parente, ou amigo em casos raros) se torne um

Pastor-presidente. Não existindo regras prévias para a emancipação, sendo ela

muito mais uma articulação do próprio Pastor-presidente. Um exemplo disso é o

caso da ADMM em Resende – RJ, que em 2014 foi emancipado pelo Pr. Davi

Cabral em favor do seu filho o Pr. Davi Cabral Junior109.

Neste momento se faz necessário também compreender como se dá a

formatação hierárquica que este movimento adquiriu, uma vez que esse modelo

define quem são os “detentores legais” dos “bens escassos” (patrimônio, renda,

prestígio, etc) tão disputados atualmente e os que estão em condição de dominação

e suas práticas. Assim, ela é de fundamental importância, pois ajuda a relevar os

papéis e as dinâmicas sociais atuais que envolvem a ADMM, constituindo-a como

um agente social produtor de diferentes relações sociais.

c) a formatação hierárquica da organização, ou “Governo da Igreja”.

No Brasil encontramos formas bem específicas de como uma igreja organiza

sua hierarquia (CORREA, 2013), pode-se encontrar igrejas com modelos

denominados de episcopais, congregacionais e presbiterais. Essas formas de

organização hierárquica expressam em muito as questões particulares de cada

seguimento como, por exemplo, o poder e a dominação dentro delas. Também o tipo

de teologia que a determinada igreja e seus membros professam em relação ao

exercício do poder. Assim, como ela tende em alguns momentos a se adequar

também ao contexto histórico-social (BERGER; LUCKAMANN, 2004) onde ela está

geograficamente inserida, ela tem a possibilidade de ganhar novos contornos. Mas

como se processa a forma de organização das igrejas ADMM?

109 Disponível em http://www.catedralcader.com/cader.

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Primeiramente, como já mencionado nesta pesquisa, as ADs no Brasil, em

especial a ADMM tem um formato episcopal com a figura do Pastor-presidente, no

topo da hierarquia. Junto a ele, encontramos um quadro administrativo de

especialistas que lembra muito o modelo presbiteral (ver Tabela 2), ajudando o

mesmo, a garantir não só o monopólio, mas também a manutenção do poder e da

dominação por parte desse grupo, que pode ser definido nas ADs como a Diretoria

do Campo, ou Mesa Diretora da CONAMAD. Cabral (2002) em seu livro intitulado de

“Assembleias de Deus: a outra face da história”, lançado no ano de 1997 (hoje já

está em sua 3ª edição), busca trazer a história das ADMM por um olhar do próprio

Ministério de Madureira. Neste livro o escritor que também é um dos pastores-

presidentes e membro da diretoria da CONAMAD explica como se dá o modelo

hierárquico ou como ele mesmo denominou de “governo da igreja” da ADMM:

[...] no Brasil, prevalece na grande maioria (principalmente nas Assembleias de Deus – Ministério de Madureira), um sistema hegemônico e equilibrado das três formas: a) Episcopal – uma Sede e uma Convenção Nacional (CONAMAD – Convenção Nacional das Assembleias de Deus – Ministério de Madureira), administra a estrutura denominacional, inclusive incumbindo-lhe a designação dos pastores das Igrejas locais; b) Presbiterial110 – é o conjunto de seus ministros (ou presbíteros)111, que toma as decisões pela Convenção Nacional, reunidos em Assembleias Gerais Anuais (ordinárias e extraordinárias), e no âmbito das igrejas locais, nas reuniões ministeriais mensais (onde participam seus ministros e oficiais, para apreciarem as questões locais); c) Congregacional – todos os assuntos locais, decididos pelos ministros e oficiais necessitam ser homologados pela Assembleia Geral Mensal, dos membros da igreja local no templo sede, para que tenha validade (nas Assembleias de Deus a igreja local é estabelecida em um município, setor, ou região eclesiástica, constituída de uma sede e várias congregações), estabelecendo-se desta forma um salutar equilíbrio, para se conter excessos tão prejudiciais [...] (CABRAL, 2002, p. 91)

Precisamos fazer alguns apontamentos desta fala, convergindo com as

entrevistas realizadas para esta pesquisa. O primeiro apontamento a se fazer é que

somente na ADMM a Convenção tem “o poder” de interferir na gestão de um Campo

e concomitante na gestão de um Pastor-presidente (apesar de nas entrevistas

podermos perceber que isso não é garantido, pois depende em muito do prestígio

deste Pastor-presidente com a diretoria instituída frente ao Campo que preside e ao

mesmo tempo dentro do ministério). Isso fica claro na exposição feita no estatuto da

110 Copiando na íntegra do texto original. 111 No caso das ADs no Brasil apenas os pastores, evangelistas e missionários tendem a ter o direito de voto e fala em uma assembleia geral deliberativa.

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CONAMAD, em seu Art. 3º, que fala sobre a função da Convenção, que se pode

identificar nos parágrafos XIV, XV e XVI, dizendo que a mesma tem o poder de

supervisão sobre as igrejas-filiadas, as Convenções Estaduais e sobre os ministros

que são compostos por pastores, pastoras112, evangelistas, missionários(as). Neste

último caso exercendo ações disciplinares sobre os mesmos.

Dessa forma se diferenciando das ADs ligadas a Missão, pois uma Igreja-

Sede é um Ministério autônomo localizado em uma determinada região do país e a

CGADB não tem poder de interferir no dia-dia do mesmo. Por este motivo a CGADB

pode ser enquadrada como uma associação de pastores,

na prática ela (a CGADB) é uma associação que se caracteriza pela força dos pastores associados individualmente em suas convenções estaduais, caracterizando-se, portanto, como uma associação de pastores (CORREA, 2013, p.115).

Sendo o principal papel da CGADB de tentar manter aquilo que podemos

denominar de uma “identidade assembleiana” (ALENCAR, 2013)113. O segundo

apontamento que fazemos é sobre a forma indicada como presbiteral, na qual todos

os considerados ministros, em tese teriam a “mesma voz”. Em uma das entrevistas,

o Pr. C-B relatou que as decisões muitas vezes já vêm “prontas”, sendo elas

decididas pelas comissões escolhidas para apreciar o determinado tema e exposta

ao auditório somente na hora da votação. A mesma é feita pela forma de aclamação,

ou seja, quando o presidente da assembleia diz “os que discordam da decisão se

levante”.

Na fala de nosso entrevistado, fica explicito que mesmo discordando ninguém

tem “coragem” de contrariar o que já foi decidido, pois muitas vezes esse ato pode

representar uma afronta aos “líderes espirituais” da instituição. Na fala do mesmo,

transpareceu a ideia de que existem represálias aos “não concordantes” e

112 Com exceção das ADs independentes (que ou tem Convenção própria, ou são ministérios que vivem fora das suas grandes Convenções), somente a CONAMAD aceita e consagra mulheres como pastoras. Porém o que se pode verificar que as pastoras em sua esmagadora maioria são mulheres dos pastores-presidentes, revelando a posse de um “capital religioso” (BOURDIEU, 2013) de diferenciação entre os demais membros da organização religiosa. 113 Sobre a forma de organização da ADMM e da ADMB Fajardo analisa como se dá na prática a forma de organização de dois dos principais ministérios das ADs no Brasil, Belém e Madureira. Destacando como se organiza o campo religioso assembleiano na cidade de São Paulo, o autor busca compreender essa dinâmica a partir da investigação desses dois “ramos”, uma vez que, a diversidade dos ministérios assembleianos e suas atualizações acompanham as dinâmicas de nossa sociedade. Assim ele tem como premissa “que a expansão das ADs na cidade se complementa ao processo de ministerialização”, o qual para se compreender primeiro se deve “conhecer quais os principais agentes assembleianos ali estabelecidos, bem como suas estruturas organizativas” (FAJARDO, 2015).

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constatamos que essas represálias seriam dadas da seguinte forma, o mesmo seria

designando a uma igreja em um local precário, ou mesmo ficar em uma espécie de

“geladeira” (Entrevista em áudio, gravada no dia 01/08/2016). Por último, em relação

à exposição e “homologação” de determinado assunto pelos “membros comuns”; em

nossa pesquisa fizemos diversas visitas a ADBRÁS, em diferentes reuniões e

eventos. E em nenhum momento percebemos, ou vimos essa interação e, os

próprios entrevistados deixaram muito claro que as decisões vêm de cima para

baixo, sem muito que fazer, apenas deve-se aceitar o que já foi decidido.

Então a fala do autor sobre essa colocação das três formas de “governo da

igreja” trazer “um salutar equilíbrio” (CABRAL, 2002, p. 91) não se sustenta, pois

refletem uma opinião, ou mesmo interesse de ocultar essa forma de “autoritarismo”

velado da “classe dirigente” da instituição. O diagrama abaixo nos ajuda a melhor

compreender como é a composição social atual da ADMM. Daí comparando com a

fala de Cabral, poderemos não apenas ver a realidade, mas tecer uma crítica

naquilo que denominamos anteriormente de “linguagem organizacional” (BERGER;

BERGER, 2004).

Diagrama 5: Pirâmide da composição social de poder e dominação da ADMM

FONTE: Autor.

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Podemos identificar neste diagrama que no topo da pirâmide estão aqueles

que possuem um maior prestígio dentro da organização, assim compondo o que

chamamos de “Elite diretiva”, pois os mesmo são os que organização e determinam

a condução dos “bens de salvação” (BOURDIEU, 2013). Porém ao mesmo tempo,

quanto mais ao topo da pirâmide se estiver localizado, maior é a dependência que o

mesmo tem do bom funcionamento da organização, uma vez que todos os recursos,

principalmente financeiros se concentram na base da pirâmide. Por este motivo,

esse grupo tende a ter uma mínima mobilidade e sendo sua dependência muito

grande. Já os integrantes intermediários ao mesmo tempo ocupam uma posição que

tem um determinado prestígio, mas com uma dependência que não é tão grande da

instituição. Aqui, o que vale é o interesse de alcançar ao topo e por este motivo se

submetem aos que estão na ponta da pirâmide, na expectativa de serem escolhidos

para compor o grupo de “qualificados” e chegar a uma possível presidência no

futuro. Entretanto, tendem a ter uma menor fidelidade à organização, pois ao se

perceber a não possibilidade de alcançar o topo, podem promover divisões sobre o

pretexto de uma nova visão, ou mesmo o não conformismo com as regras

instituídas114.

Por fim, o grupo localizado na base da pirâmide é de fundamental importância

para o funcionamento e manutenção da estrutura, os quais desempenham o papel

de “mão de obra” necessária no desenvolvimento das mais diferentes atividades que

compõe a rotina da organização religiosa, que vai desde a participação nos grupos

de orações e louvores, até a limpeza e manutenção dos templos. Nele podemos

observar a existência daqueles que são denominados de “líderes de departamento”,

os quais são responsáveis pelo bom andamento de grupos como os jovens, ou as

“irmãs”, por exemplo. Assim, este grupo é responsável não apenas para manter a

estrutura financeira da organização, mas são eles que “dão vida” ao movimento

pentecostal, pois todo sentido da “vida religiosa” se processa no dia a dia desse

grupo. Não é sem motivo, que os primeiros pesquisadores do pentecostalismo

puderam afirmar que o mesmo produz uma coesão e sentindo (SOUZA, 1969;

NOVAES, 1985) para os seus membros, desenvolvendo neles a vocação pelo

trabalho e expansão do “Reino de Deus” na terra, mesmo que os tornem para alguns

114 Fizemos menção do aumento do número de igrejas com o logo da AD, mas que são chamadas de autônomas ou independentes, na justificativa de nossa pesquisa.

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pesquisadores seres alienados as realidades sociais existentes (D’EPINAY, 1970;

ROLIM, 1985).

Devemos ainda observar que esse grupo dispõe de menor prestígio na

organização, mas ao mesmo tempo, também, de menor dependência da mesma,

uma vez que se inserem no grupo a partir de uma “experiência de conversão”, que

vai desde a continuidade de uma tradição familiar, uma necessidade extrema, ou

mesmo pela busca de uma resposta “mágico-religiosa” (BITUN, 2007). Neste grupo

pode-se identificar aquilo que se denomina de trânsito religioso (PRANDI, 1996;

MARIANO, 2001), ou religioso em movimento (HERVIEU-LÉGER, 2015), pois a

fidelidade desses indivíduos que estão na base da pirâmide, muitas vezes está

condicionada ao que se pode obter de “benefícios” espirituais. Uma prática comum

em todos os sistemas religiosos, dos mais simples até os mais complexos existentes

atualmente. Segundo Durkheim,

Existem inicialmente as crenças, as práticas e as instituições religiosas. A religião, com efeito, é uma coisa social, pois sempre foi coisa de um grupo, ou seja, de uma Igreja e até, na grande generalidade dos casos, Igreja e sociedade política se confundem. Até recentemente, as pessoas eram fiéis a tais divindades simplesmente porque eram cidadãos de tal Estado. Em todo o caso, os dogmas e os mitos consistiram sempre em sistemas de crenças comuns a toda uma coletividade e eram obrigatórios para todos os membros dessa coletividade (DURKHEIM, 1984, p. 43.).

Nesse sentido não podemos associar essa condição a um determinado grupo,

acreditando que o outro não o faça da mesma forma. As respostas podem até ser

diferentes, mas as perguntas e necessidades são as mesmas para os indivíduos que

veem na religião a resposta para os seus dilemas. Assim podemos também

perceber que as ADs no Brasil não estão livres das dinâmicas e dos processos

criados pela modernidade, os quais fragilizam as relações impondo as mesmas uma

tensão diária, pois a sua permanência se esvai, ou se dilui na imensidão das

relações sociais atuais (BERMAN, 1996; BAUMAN, 2001).

Essa formatação de uma estrutura estruturada que vai se consolidando como

uma estrutura estruturante (BOURDIEU, 2013), serve muito bem para confirmamos

aquilo que afirmamos anteriormente nesta pesquisa, pois o habitus que se forma

sobre as estruturas objetivas das ADs no Brasil, em especial a ADMM, não são fruto

de uma “herança colonial” (SOUZA, 2015), mas sim, de uma resposta objetiva para

a resolução dos problemas que surgem dentro dinâmicas tomadas pela mesma.

Uma espécie de “amalgama” muito bem misturada e elaborada, na qual tanto o

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sistema patrimonial/patriarcal se insere dentro de uma lógica sistêmica racional-

burocratizada. Assim, a necessidade de elucidar este complexo sistema de poder e

dominação é a única forma possível para se compreender como se processam as

atuais formatações dessa organização e suas práticas familiares de prestígio e

sucessão nos postos diretivos da mesma. Será o foco neste momento de nossa

pesquisa, visando demostrar que as atuais relações de sucessão dentro da ADMM

constituem uma prática patrimonialista ou uma questão de herança familiar.

3.2. SUCESSÃO: PATRIMONIALISMO OU UMA QUESTÃO DE HERANÇA?

A prática da sucessão do poder dentro das ADs no Brasil não é um fato ou

dinâmica recente, pelo contrário essa questão já foi motivo de grande tensão na

história do movimento. Que não pode ser considerado como um fenômeno particular

das ADs, mas uma prática humana antiga, uma vez que desde o surgimento da

propriedade privada, e consequentemente da possibilidade de acúmulo daquilo que

denominamos nessa pesquisa de “recursos escassos”, a questão da sucessão traz

consigo conflitos, tensões e privilégios aos grupos que o disputam. Um bom exemplo

é o surgimento da figura do rei na Antiguidade e Idade Média, que passa a ser visto

como uma figura divinizada, ou representante dela, criando toda uma estrutura

hierarquizada de poder, a fim de se manter separado do restante da sociedade e

assim garantir que sua linhagem se mantivesse no topo da relação.

Nas ADs a sucessão se tornou importante na medida em que o movimento

deixou de ser meramente carismático e passou a se tradicionalizar. Assim, a

primeira disputa de sucessão dentro da ADs no Brasil, se deu entre os missionários

e a geração de pastores nativos que foi surgindo no decorrer do desenvolvimento da

igreja. Isso ocorreu na medida em que os missionários escandinavos, que se

mantinham no topo da organização desde a fundação do movimento ainda no início

da década de 1910 (ARAÚJO, 2007), passaram a sofrer questionamentos em

relação à posição de comando e controle das igrejas pelos pastores brasileiros

(ALENCAR, 2013) a partir década de 1930.

É neste contexto que na Convenção Geral do ano de 1937 (na qual o Pr.

Paulo Leivas Macalão foi eleito presidente), vai ser debatido pela primeira vez a

questão da sucessão. A pergunta que surgiu nessa assembleia foi, “como escolher o

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sucessor à frente de um trabalho?” e partiu do pastor brasileiro Heitor Viera, e que

segundo Daniel (2004) foi resolvido da seguinte maneira,

A primeira coisa a fazer o pastor que vai transferir a igreja ao seu colega é orar muito a Deus nesse sentido, até que receba do Céu, por qualquer meio, a direção divina, como os nossos irmãos da antiguidade. Portanto, depois de Deus ter mostrado ao tal pastor quem será o seu substituto, ele o apresentará ao ministério da igreja, e se este também sentir a vontade de Deus, vendo que tal escolha vem do Senhor, o escolhido será apresentado à igreja, que também, estando na vontade de Deus, reconhecerá essa decisão. (DANIEL, 2004, p.134)

Ao analisarmos a resolução da Convenção Geral de 1937, existiria um

processo a ser seguido para a sucessão, que vai desde uma “revelação do oráculo”

carismático, que pode ser o próprio líder que será sucedido (WEBER, 2012, p.162),

até a confirmação do possível sucessor entre o “quadro de especialistas” e a própria

comunidade de membros participante, os quais todos deveriam ter a resposta de

aceitação da parte do próprio Deus (DANIEL, 2004). Esse processo nos é

apresentado pela transcrição do autor, como uma questão na qual demandaria o

envolvimento e a participar de toda a comunidade em questão.

Entretanto essa prática pode ter funcionado enquanto as estruturas ainda

estavam tomando forma, uma vez que o “tamanho” da igreja e a movimentação

financeira não eram tão expressivos. Porém uma coisa é analisarmos esse

fenômeno em 1937, outra coisa é analisarmos nos dias atuais com todas as

demandas que envolvem o “estar à frente” de um Campo, um Ministério, ou mesmo

de uma Convenção. Pois o poder econômico gerado por um “Ministério

Assembleiano” atualmente é riquíssimo e, que ao mesmo tempo está concentrado

nas mãos de uma “oligarquia diretiva”, que não apenas monopoliza o poder se

aproveitando das benesses produzidas pela dinâmica do movimento, mas também

passa a distribuir a quem quiser (de preferência aos amigos mais próximos e aos

membros da família) cargos e benefícios, em contrapartida a carência de boa parte

de sua “membresia” (CORREA, 2014) que se localiza na base dessa relação. Que

fique claro, que o fenômeno da sucessão não se restringe a ministério A ou B, mas

está presente, em praticamente todas as igrejas que trazem a “logomarca” das ADs

no Brasil. E por que não afirmar, que este fenômeno esteja presente também em

outras vertentes do movimento pentecostal brasileiro, não só o assembleiano.

A primeira tentativa de sucessão familiar que encontramos na história das

ADs no Brasil ocorreu ainda na década de 1960, no Estado do Ceará. Quando da

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morte do Pr. José Teixeira Rego, seu genro o Pr. Luis Bezerra da Costa (ou como

era comumente conhecido como Luis Costa), que a época já era o vice-presidente

deste ministério assembleiano, tentou assumir o posto de Presidente em lugar de

seu sogro. Dizemos que tentou, pois a sua estada na presidência durou pouco mais

de um mês, sendo substituído por outro pastor. Esse assunto se arrastaria ainda por

mais dois anos e com contornos muito traumáticos para a “obra” e para os próprios

membros dessa igreja. Até que no ano de 1963 foi oficializado o “cisma” na igreja

cearense, que deu origens então a dois ministérios, o Ministério do Templo Central e

o Ministério de Bela Vista, este último liderado pelo então Pr. Luis Costa115

(ALENCAR, 2013, CORREA, 2014).

Certo que a sucessão é inevitável! E não queremos entrar em um “sofisma”

sobre como ela deve ocorrer, ou qual seria o modo mais justo e ideal. Nossa

questão central é procurar explicar porque ela ocorre nestes moldes atuais. E ainda

mais, buscar uma resposta que explique a atua aceitação por parte da igreja (aqui

se inclui o quadro de especialistas e os membros da base) da prática de sucessão

familiar. Esta por sua vez levanta outra questão importante, pois não verificamos,

exceto algumas exceções como no caso cearense, o interesse das duas primeiras

gerações de filhos de pastores em assumir as igrejas presididas pelos seus pais.

Assim sendo como se explica esse fenômeno atual? Dois fatores nos ajudam

entender esse fenômeno e concomitantemente a responder essa pergunta. O

primeiro seria uma mudança na visão em relação à igreja, pois a mesma na

atualidade não seria vista como uma “entidade espiritual”, na qual a vocação e o

serviço ao sagrado seriam a questão primordial do indivíduo. Porém ela agora passa

a ser entendida como uma empresa, ou propriedade de cunho familiar, que está de

posse de uma determinada família, a qual ocupa a posição diretiva já há algumas

décadas. O segundo fator estaria ligado diretamente ao primeiro, pois uma vez que

a igreja é uma propriedade/empresa familiar há a necessidade da profissionalização

da função do Pastor-presidente (CORREA, 2014, p. 105). Pois o mesmo não

desempenha mais a única função de “pastorear o rebanho” ele é um administrador,

gestor, construtor, organizador do Campo, ou Ministério que está à frente (ver

quadro 1). Esse acúmulo de funções traz uma nova configuração a figura do Pastor-

115 O Pr. Luiz Costa não conseguiu se legitimar como sucessor de seu sogro nesta ocasião, mas ao falecer cerca de 30 anos depois de fundar oficialmente o Ministério de Bela Vista, o pastor foi sucedido de forma pacífica por seu filho o Apóstolo José Teixeira Rego Neto.

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presidente (não que os das gerações anteriores não desempenhassem esses

mesmos papéis), o de garantir domínio e permanência da família sobre todos esses

recursos que foram adquiridos ao longo dos anos.

Essa afirmação pode ser confirmada em nossas entrevistas, nas quais a

maioria dos nossos entrevistos quando perguntamos a eles sobre a questão da

sucessão familiar, fizeram apontamentos diretos a questão argumentada

anteriormente. Durante as entrevistas procuramos dividir a pergunta em duas partes,

sendo a primeira se eles concordariam com essa prática atual de sucessão familiar,

e, a segunda, o que motivaria a procura dos filhos de um pastor-presidente a seguir

a carreira do pai, uma vez que tanto na primeira e segunda geração não temos essa

relação vista com frequência.

Quadro 3: Quadro comparativo sobre a questão da sucessão familiar na ADMM

Você concorda com a atual forma de

sucessão familiar da ADMM

Por que os filhos da primeira e segunda

geração não seguiram os passos dos pais

O que explicaria a atual aceitação por parte dos filhos em seguir a carreira de

pastor

Pr. P-A

Sim; Deve-se encaminhar o seus

filhos para o pastorado.

Devido a não querer sofrer o que seus pais sofreram no

decorrer de sua história ministerial. Decepção como

o ministério

Acaba não respondendo!

Pr. P-B

Sim e Não, a sucessão deve

depender principalmente da

vocação do indivíduo.

Geração mais temerosa a Deus; Não estavam apegados aos bens

materiais; Igreja não era vista como um “Reino”, ou

propriedade.

A possibilidade de abandono depois da aposentadoria; Ela é

um “Reino” ou propriedade;

Profissionalização do pastorado.

Pr.

P(ex)-A

Até concorda, desde que o filho tenha uma história de fidelidade

com a igreja.

Não havia por parte dos pais incentivo para que os filhos assumissem em seu

lugar

O medo do pai em ser retirado da igreja de perder rendimentos; Forma de manter o

padrão socioeconômico.

Pr.

P(ex)-B Não, “sou totalmente

contra!”

Porque não entendiam ser a igreja um negócio, ou

propriedade.

A transformação da igreja em um negócio

familiar; Patrimônio herdado.

Pr. C-A Não

Peso e responsabilidade pelo cuidado “as almas”; Sofrimento dos pais pelo

cuidado com a igreja.

Nepotismo; O encanto gerado pelo poder;

Patrimonialismo; Igreja-empresa.

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Pr. C-B Não

Não se olhava para igreja como um negócio; A visão

era geral para todos os obreiros que faziam parte do Campo e ajudaram no

seu desenvolvimento.

Um clã; Um negócio Uma hierarquia

familiar;

O que podemos perceber ao observar o quadro acima, é que quanto mais

afastado o indivíduo está do poder diretivo, maior é a sua recusa em aceitar a

sucessão familiar. O qual é visto por estes indivíduos como uma forma de negócio,

propriedade, clã, patrimônio, ou seja, uma forma de exclusivismo do poder pela

classe diretiva. Alencar (2013) e Correa (2013) já apontavam em suas pesquisas

para essa questão de um “patrimônio familiar” (ALENCAR, 2013, p. 228).

Já os pastores que ainda ocupam uma presidência e os pastores que

ocuparam no passado, tem uma percepção mais ou menos moderada. O que nos

possibilita a fazer uma importante análise de duas respostas, pois ao observarmos a

resposta do Pr. P-A que é, não apenas favorável, mas em sua fala faz um

apontamento de que o Pastor-presidente “deve encaminhar os filhos ao pastorado”

(Entrevista em áudio, gravada no dia 08/07/2016), pois para ele os pais da primeira

e segunda geração acabaram não tendo essa preocupação com os seus filhos e

muitos deles acabaram nem mais sendo “crentes”. Em contra partida, o Pr. P(ex)-B

ao responder essa questão, foi categoricamente enfático e contrário à sucessão

familiar, pois atualmente esses pastores em sua visão, transformaram a igreja em

um negócio rentável. Ele mesmo chegou a fazer um trocadilho dizendo “pequenas

igrejas, grandes negócios” (Entrevista em áudio, gravada no dia 14/07/2016).

Pois bem, para o pastor-presidente em exercício, ou seja, que está na ativa

do movimento é necessário manter a relação incentivando os filhos, uma vez que

pra ele “estamos tratando da obra de Deus”, já o pastor dissidente entende que esta

relação apenas se dá porque houve um “desvio no percurso”, demonstrando ser

essa uma questão muito complexa. Poderíamos indagar a seguinte questão, se

mudados os papéis entre os entrevistados, as impressões seriam as mesmas, ou

cada um tenderia apenas a legitimar suas ações a partir de onde estivessem

falando? Uma pergunta difícil de ser respondida! Mas que expressa claramente que

não é uma unanimidade a questão de sucessão familiar entre essas personagens

importantes da história da ADMM.

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Cabe aqui ainda mais uma análise, a partir de uma mesma fala dos pastores

Pr. P-B e Pr. P(ex)-A, os quais tocaram em um ponto muito interessante. Refiro-me a

questão de que muitos pastores-presidentes incentivam o seus filhos a ocuparem a

sua posição visando manter sua renda depois do seu “jubilamento” (ou

aposentadoria), como a profissão de pastor não existe legalmente no Brasil, estes

depois de deixarem à presidência são sustentados pela última igreja que passaram.

Dessa forma, ao colocar um parente próximo na presidência, o mesmo garantiria

que seu padrão de vida não fosse afetado, pois segundo a fala do Pr. P-B, na

atualidade existe inúmeros casos de pastores que foram abandonados pelas antigas

igrejas e hoje vivem em um estado de miséria total (Entrevista em áudio, gravada no

dia 09/08/2016). Essa resposta nos ajudaria entender um dos lados desse prisma

tão complexo, que é a sucessão dentro da ADs no Brasil.

Podemos então perceber que formatação patrimonialista atual das ADMM é

sim, baseada em uma condição hereditária de garantia não apenas da

sobrevivência, mas, e, principalmente por manter a posse de toda a riqueza que

essa organização gera no decorrer de seu funcionamento. Mesmo que a riqueza

estatutariamente seja ligada a igreja e não ao pastor o mesmo acaba por usufruir

das benesses e de todo o “capital social” que se produz.

Porém vale aqui mencionarmos a existência de muitos pastores, os quais não

se resumem apenas aos que entrevistamos durante nossa pesquisa, que buscam

viver de forma justa e sem “ostentar” uma vida luxuosa, pelo contrário o que

podemos perceber é que estes homens se sentem constrangidos com a situação

atual da ADMM e das igrejas em geral. Entretanto é inegável que muitos queiram

chegar à ponta da pirâmide com a intenção de se beneficiar de toda a situação que

essa posição oferece. E segundo o Pr. P-B, o grande responsável pelo atual

nepotismo não apenas, dentro ADMM, mas dentro das ADs no Brasil é o Bp. Manoel

Ferreira (Entrevista em áudio, gravada no dia 09/08/2016), que desde sua ascensão

ao principal cargo diretivo da instituição, trouxe consigo os seus filhos e em muitos

casos também os “aliados”. Por este motivo vamos agora nos debruçar na

explicação da ascensão e chegada dos filhos do bispo ao poder diretivo da ADMM e,

como os mesmos gradualmente foram firmando a sucessão familiar como uma

prática não apenas aceitável, mas justificável “por uma ação divina”.

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3.2.1. Os Filhos do Bispo como Pastores-Presidentes: “Os Mais Ungidos?”.

Em sua trajetória ascendente dentro da ADMM, o Bp. Manoel Ferreira nunca

escondeu a satisfação em conduzir seus filhos a posições de destaque dentro do

Ministério. Assim desde que o bispo assumiu o posto de presidente da CONAMAD,

seus filhos passaram a desfrutar de uma condição prestigiosa que os legitimaram a

ocupar postos destacados dentro da organização. E que foram aumentando

gradativamente até os dias atuais nos quais “demandariam algum tempo” para

descrevermos nesta pesquisa a quantidade de ocupações dos mesmos. Optamos

por fazer uma tabela na qual está demarcado cada uma das funções dos filhos e

neto do bispo atualmente e que ajuda a demostrar essa condição prestigiosa que

afirmamos.

Tabela 4 - Principais postos e funções ocupados por parentes do Bp. Manoel Ferreira na ADMM116

Nome Presidente em: Grau de

parentesco Outras funções

Magner de C. Ferreira Marechal

Hermes – RJ Filho

2º vice-presidente da CONEMAD – RJ

Abner de C. Ferreira Madureira – RJ Filho

3º vice-presidente da CONAMAD, Presidente da CONEMAD – RJ, Gerente de publicações da Editora Betel. Presidente do IBE – Instituto Bíblico Ebenézer.

Samuel Cássio Ferreira Brás – SP Filho

Presidente Executivo da CONAMAD; 1º vice-presidente da CONAMAD; Presidente da CONEMAD – SP; Secretário Executivo e do Conselho deliberativo da Editora Betel

Manoel Ferreira Netto Campinas – SP Neto Até o momento apenas a presidência de ADMM em Campinas

Fontes: CONAMAD; CONEMAD SP e RJ.

116 Dos cinco filhos do bispo apenas dois Vagner Ferreira e Vasti Ferreira Aranha (ambos dois pastores, [CABRAL, 2002, p. 162]) não ocupam posições diretivas dentro do Ministério de Madureira. Entretanto, além dos filhos e neto aqui registrados, duas de suas netas foram consagradas como as primeiras Evangelistas do Ministério pelo próprio avó o Bp. Manoel Ferreira. São elas Nátaly Ferreira, filha do Pr. Magner Ferreira e Marinna Costa Ferreira, filha do Pr. Samuel Ferreira. Disponível em: http://pastorguedes.blogspot.com.br/2013/09/bispo-manoel-ferreira-consagra-duas.html. Acesso: 01/09/2016.

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Ao observarmos o quadro em questão, todos os três filhos e o neto do bispo

são pastores-presidentes de Campos importantes do Ministério de Madureira. Os

três filhos são presidentes, ou vice-presidentes de convenções estaduais, sendo

dois deles, Abner e Samuel Ferreira presidentes das convenções estaduais do Rio

de Janeiro e São Paulo respectivamente e ocupam ao mesmo tempo, a posição de

vice-presidência da CONAMAD. Atualmente o Pr. Samuel Ferreira é o Presidente-

Executivo da mesma, ou seja, é ele que preside a Convenção Nacional. Se isso não

bastasse, ambos ainda ocupam cargos diretivos dentro da Editora Betel, órgão

criado no ano de 1991 “com o objetivo de produzir Literatura Cristã, materiais para o

Ensino Bíblico Dominical, livros, Bíblias e Harpa Cristã” (PRATES; FERNANDES,

2012, p. 122) e o jornal oficial da instituição “O Semeador”.

O que explicaria a concentração de tanto poder nas mãos dos filhos e neto do

Bp. Manoel Ferreira? E ainda mais, o que explicaria a aceitação (se não uma

aceitação ativa, pelo menos passiva) dos membros da ADMM dessa concentração

de poder nas mãos “dos Ferreiras”? Segundo Bourdieu,

Na luta simbólica pela produção do senso comum ou, mais precisamente, pelo monopólio da nomeação legítima como imposição oficial – isto é, explícita e pública – da visão legítima do mundo social, os agentes investem o capital simbólico que adquiriram nas lutas anteriores e sobretudo todo o poder que detêm sobre as taxinomias instituídas, como os títulos. Assim, todas as estratégias simbólicas por meio das quais os agentes procuram impor a sua visão das divisões do mundo social e da sua posição nesse mundo podem situar-se entre dois extremos: o insulto, idios logos pelo qual um simples particular tenta impor o seu ponto de vista correndo o risco da reciprocidade; a nomeação oficial, ato de imposição simbólica que tem a seu favor toda a força do coletivo, do consenso, do Estado, detentor do monopólio da violência simbólica legítima. (BOURDIEU, 2003, p. 146)

Ou seja, esse grupo tem a posse de um considerável capital simbólico, que foi

adquirindo ao longo de sua trajetória (explicitamos isso no capítulo anterior, quando

focamos sobre a ascensão do bispo dentro da ADMM), o qual passa a se impor

dentro da instituição, por meio das “nomeações oficiais” (BOURDIEU, 2003) e

quando necessário pelo uso da “força” também. Não foram poucas às vezes, que

ouvimos ou em off, ou mesmo nas entrevista sobre a postura truculenta “dos

Ferreiras”, sempre que buscavam legitimar uma de suas ações.

“Os Ferreiras” foram criando as condições necessárias para uma “legitimação

prestigiosa”, pois como este grupo está no poder, seus atos são legitimados dentro

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da “força do coletivo”, ou “do consenso” mútuo, conseguindo impor a ideia de que

eles são os “herdeiros” legítimos dessas posições, que os colocaria em uma posição

de destaque pela “escolha divinizada”. O que difere do Pr. Paulo Leivas Macalão, no

qual o seu carisma era o agente legitimador e prestigioso de sua dominação117, já

“os Ferreiras”, necessitam da imposição por meio da tradição para se legitimarem

em suas posições.

Dessa forma a escolha dos filhos do bispo, é sim, pelo fato dos mesmos

serem “os mais ungidos”. E não apenas por disporem de um capital simbólico e

social adquirido, que lhe é conferido o “reconhecimento por uma instância oficial”

(BOURDIEU, 2003, p. 148) que é a Igreja, mas também por serem eles escolhidos

pelo “próprio Deus” para este serviço. Podemos perceber isso, na fala do bispo no

ano de 1999, quando em uma matéria do jornal oficial da ADMM, “O Semeador” ele

discorre sobre a satisfação dele em ver os seus filhos (Abner e Samuel) ocuparem a

presidência de dois Campos importantes do ministério, o Campo da igreja-mãe do

ministério que é o de Madureira no Rio de Janeiro e o Campo de Campinas, interior

de São Paulo. Assim afirma o Bp. Manoel Ferreira,

Exatamente nesse tempo, nossa família vive momentos de indescritíveis regozijos, visto que experimentamos memoráveis e inesquecíveis dias – quando tivemos “singular ocasião” de empossar nossos queridíssimos filhos: pastor Samuel Cássio Ferreira, como presidente da igreja evangélica Assembleia de Deus em Campinas – São Paulo, 26 de março de 1999; e o pastor Abner Cássio Ferreira, como presidente da igreja evangélica Assembleia de Deus em Madureira, Rio de Janeiro, em 10 de abril de 1999! Aleluias!!! (O SEMEADOR, maio de 1999).

A explicação apresentada pelo bispo para a “nomeação oficial” de seus filhos

foram os múltiplos compromissos que o mesmo assumira ao longo dos últimos anos

até esse acontecimento. Entre esses compromissos podemos destacar a

presidência da CONAMAD, do CNPB, do Projeto Portas Abertas para o Oriente

(CABRAL, 2002, p. 161), sem contar ainda, a sua pretensão à carreira política118,

117 Fique claro que o próprio Pr. Paulo Leivas Macalão em algumas situações usou do poder racional-burocrático para fazer valer aquilo que ele entendia ser necessário para a sobrevivência da ADMM e de seu poder instituído. 118 Reservamos no capítulo anterior dessa pesquisa uma seção para tratar sobre a carreira política do Bp. Manoel Ferreira, pois o mesmo tentou ser Senador da República, Vice-prefeito do Rio de Janeiro e Deputado Federal. Tendo êxito apenas como Deputado Federal pelo Rio de Janeiro na legislatura de 2006-2010, o qual foi eleito com 38.057dos votos válidos, com uma porcentagem válida de 0,90%. Para ser eleito o bispo à época gastou cerca de R$ 228.499,02, sendo o número de doações recebidas para a sua campanha 57. Dados disponível em: http://noticias.uol.com.br/politica/politicos-brasil/2006/deputado-federal/30051932-pastor-manoel-ferreira.jhtm. Acesso no dia 20/11/2016.

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que com certeza, demandou muito tempo e esforço do mesmo. Uma coisa é certa,

seus filhos ao longo de suas “histórias ministeriais” apenas confirmaram o prestígio

que “ganharam” nessas presidências, pois os mesmos já ocupavam os postos de

vice-presidência em ambos os Campos que o bispo era presidente. Apenas tiveram

a sua “nomeação oficializada” (BOURDIEU, 2003), garantindo assim o seu legítimo

prestígio de serem os “ungidos do senhor”, pelo menos como dirigentes dessas

igrejas.

Neste caminho as descrições históricas e oficiais do movimento têm como

papel não apenas o de legitimar essa “nomeação oficial”, mas também, o de

transparecer que todos estes eventos ocorreram sem nenhum problema, ou mesmo

questionamento do porque deveriam ser eles em ocupar essas posições. Essa “fala”

apenas tende a reforçar a construção da tradição patrimonialista, que busca ser

justificada a partir de uma ação racional-burocrática, porém as determinações se

fazem pelo grupo que domina a ponta da pirâmide, sem possibilidade de

questionamentos pelo que estão na base. E, por fim, o “sagrado” apenas aparece

como “a cereja desse bolo”, ou seja, se está tudo certo entre os homens, é porque

tudo já está certo no céu; será? Vejamos uma dessas descrições históricas.

Em culto solene com a presença de toda a liderança do Estado do Rio de Janeiro, membros da mesa diretora da CONAMAD, lideranças de outras denominações, autoridades civis e militares, foi dada a posse ao Pr. Abner Ferreira, para a presidência da Igreja-mãe de nosso ministério; sendo o mesmo o quarto pastor na linha sucessória do pastor Paulo Leivas Macalão. Num clima de regozijo e fervor espiritual e ações de graça pela vida do casal, pois a missionária Marvi Borges Ferreira, ao lado de seu esposo, tem demonstrado denodo e envolvimento pleno nas atividades ministeriais, tendo ambos muito a oferecer, por serem jovens e dinâmicos; bem como em São Paulo, o casal: Pr. Samuel Ferreira e a missionária Queila, realizam um grande trabalho, tendo sido anfitriões de dois grandes eventos nacionais, crescendo dia-a-dia na consideração e respeito de todos os integrantes deste ministério. (CABRAL, 2002, p. 161)

Sem dúvida alguma, ao lermos um relato como esse o que fica aparente é

uma visão de que até o “céu e terra pararam para ver esse acontecimento”. O qual

movimentou todo um contingente de “pessoas prestigiosas” que compareceram

nesta solenidade, apenas para confirmar a legítima posição que os filhos do bispo

estão ocupando. Assim, a nova geração pode não apenas se manter no poder, mas

ao mesmo tempo empregar uma nova dinâmica de gradual concentração do poder,

prestígio e dominação em suas mãos.

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Outro ponto fundamental para conseguirmos compreender as dinâmicas

atuais desse processo de sucessão na ADMM, é a estratégia da “posição

geográfica”, para se demarcar o poder. Dentro do ministério não encontramos um

único e concentrado foco de poder, mas sim, três – Brasília, Rio de Janeiro e São

Paulo. Que tem como princípio uma maior concentração do mesmo nas mãos “dos

Ferreiras”, uma vez que se posicionando nestes três centros de poder, esse grupo

busca minimizar os focos de possíveis divisões dentro do ministério. Como desde

1999, o Bp. Manoel Ferreira não preside mais nenhum Campo, apenas concentrou o

poder em outros focos, como já pontuamos, ele viu nesta estratégia um meio de

legitimar sua pretensão política. Aqui se explica porque ele transfere a CONAMAD

para o Distrito Federal no ano de 2003 (PRATES; FERNANDES, 2012, p. 140),

apesar de hoje, praticamente apenas exerce o papel de “uma figura ilustrativa”. Não

é intenção dessa pesquisa afirma que o bispo não tenha mais influência ou

importância para a estrutura atual constituída de Madureira, porém que o mesmo

não exerce o seu papel de presidente com tanto “dinamismo” com antes, não exerce

mesmo.

A seguir faremos uma breve análise dos dois “principais filhos” do bispo, os

pastores Abner e Samuel Ferreira119, na intenção de perceber o papel

desempenhado por ambos não apenas para a manutenção da estrutura atual, mas

também como promotores destas transformações geracionais. Buscaremos ainda

compreender como esses dois personagens equilibram e disputam ao mesmo tempo

o poder que a eles lhe estão conferidos, na tentativa de manter a atual estrutura da

ADMM em funcionamento, sem, porém, perderem o prestígio aos possíveis

adversários.

3.2.1.1. O Pr. Abner Ferreira: pastor da “igreja-mãe” Madureira.

O Pr. Abner de Cássio Ferreira120 é o terceiro filho, dos cinco ainda em vida

do Bp. Manoel Ferreira e da Bpa. Irene Ferreira. Nascido no ano de 1963 na cidade

de Capão Bonito em São Paulo (FERREIRA, s.n.t, p. 139), acompanhou o pai em

119 Na 39ª Assembleia Geral Ordinária realizada nos dias 22 a 25 de março de 2017, em São Paulo, na ADMM – Brás, os filhos do Bp. Manoel Ferreira, Abner e Samuel Ferreira foram consagrados a ao posto eclesiástico de bispos. Junto a eles também fazem parte os pastores Oídes José do Carmo, Abigail de Almeida e Daniel Malafaia; todos agora Bispo da ADMM. 120 Pode-se encontrar uma breve biografia dele no site da ANE – Associação Nacional de Escritores, disponível em: http://www.anenet.com.br/abner-ferreira/. Acesso no dia 12/11/2016.

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sua trajetória por várias cidades paulistas a frente das igrejas ADMM. Formado em

teologia pelo IBAD, além dessa, ainda acumula outras duas graduações na área do

direito e do jornalismo, que tem como papel acabar com o “estigma” dado aos

pastores pentecostais assembleianos de não terem formação cultural. Como seu

irmão Samuel desde muito cedo já estava envolvido com o dia-a-dia do ministério

pastoral de seu pai.

Alencar (2014, p. 116) afirma que há um crescimento considerável no número

de pastores que obtiveram um título universitário nestes últimos anos da história

assembleiana. Em contraposição aos primeiros anos das ADs, no qual “raramente”

se encontrava um pastor com formação universitária, segundo o autor se pode

constatar o crescimento de um “estamento pastoral-acadêmico”, que passou a

ocupar importantes postos diretivo dentro da organização. Se nos primeiros anos do

movimento esse tipo de formação era visto e entendido como um entrave para o

bom e saudável crescimento do movimento, pois “a letra mata, mas o espírito

vivifica”; nestes últimos anos a formação universitária seria entendida como um

requisito fundamental para o pleno desenvolvimento pastoral no mundo moderno.

Para Alencar (2014, p. 129) esse crescimento acentua a “polissemia

assembleiana”, entretanto para nossa pesquisa constata que essa ação tem a

intenção de demarcação de posições e prestígios entre os pastores-presidentes e os

membros, conquanto o “capital cultural” provindo da educação produz e promove

essa distinção (BORDIEU, 2007). Essa prática fica clara, pois além das funções que

ocupa dentro do Ministério de Madureira, o pastor Abner é Membro da Academia

Evangélica de Letras do Brasil (AELB) e da Associação Nacional dos Escritores

(ANE). Algumas de suas obras são “Direitos do Consumidor”, “Política: Um assunto

altamente espiritual”, “Reconstruindo a Integração Ministerial”, “Jó – aguardando

com esperança a resposta de Deus” e “Elias – O exterminador de Baal”. Longe de

ser um teólogo reconhecido no Brasil e no mundo seus trabalhos demarcam aqui,

uma posição de destaque e distinção entre os pastores que ocupam cargos diretivos

na CONAMAD e mesmo nas ADMM.

Entre os filhos do bispo, o Pr. Abner Ferreira é o primeiro a assumir uma

presidência de um Campo, que ocorreu na igreja de Vila Alpina – São Paulo, entre

os anos de 1990 e 1991 (FERREIRA, s.n.t). Sua curta presidência se dá pelo fato de

que “convidado” pelo pai se muda para o Rio de Janeiro e passa a ocupar a vice-

presidência da igreja-mãe, até que no ano de 1999 se torna o pastor-presidente do

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Campo de Madureira (PRATES; FERNANDES, 2012). Posição que ocupa até os

dias atuais. Ele está na igreja-mãe de onde todas as outras começaram, assim

conservando não apenas a tradição, mas a “memória coletiva” (HALBWACHS, 1990)

da organização.

Sendo adquirido o terreno no ano de 1948 (ALMEIDA, 1983), demoraria ainda

mais cinco anos para que o próprio Pr. Paulo Leivas Macalão pudesse realizar a

inauguração desse templo (PRATES; FERNANDES, 2012). De características

góticas e vitrais bem coloridos o templo de Madureira se ergueu oponente no bairro

que dá nome ao ministério e sendo inaugurado no dia 1º de maio de 1953 (CABRAL,

2002). Assim o templo localizado no Rio de Janeiro é aquele que tem por função

conservar viva à memória histórica do Ministério e, não é sem motivo que o Bp.

Manoel Ferreira assume a presidência desse Campo, pois conservar a memória é

garantir a legitimidade e o prestígio. Agora, ele faz isso temendo uma possível

disputa de poder, que segundo um de nossos entrevistados é isso que motiva sua

decisão, pois ele receoso de que um outro pastor de prestígio considerável quisesse

assumir esse campo, o bispo busca se cercar de todos os lados.

[...] Havia uma conversa, aliás, havia uma preocupação com Madureira, porque Madureira é a sede do ministério, né! Então muitos olhos estavam sobre Madureira e, existem pastores-presidentes, principalmente no Rio, de renome e “caras” que dirigem Campos enormes, o “cara” tem um ministério grande, se ele der um grito lá, meu amigo, ninguém segura o “cara”. Então algumas coisas veem acontecendo nesse meio de caminho no sentido e, elas vêm acontecendo assim, no sentido, pra não rachar Madureira. Porque Madureira já é rachado hoje, tá! (Pr. P(ex)-A, Entrevista em áudio, gravada no dia 25/05/2016)

Assim mesmo ocupando a presidência do Campo de Campinas – São Paulo,

o bispo assume Madureira também e como ele não poderia estar em dois lugares ao

mesmo tempo resolve esse problema colocando um filho no Rio e, outro em

Campinas.

3.2.1.2 Pr. Samuel Ferreira: “De Campinas ao mundo”.

O Pr. Samuel de Cássio Ferreira121 é natural de Garça – São Paulo, nascido

no ano de 1968, sendo ele o filho caçula do casal Ferreira. Em uma reportagem da

121 Dados biográficos retirados da revista “EETAD em revista” de maio a outubro de 2012. Disponível em http://eetad.com.br/v4/revista/. Acesso dia 10/11/2016.

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“Revista IstoÉ” de 2011122, com o título “Um pastor moderno entre radicais”, o

referido pastor é apresentado como símbolo de modernidade e sucesso ministerial,

com um visual jovial, sem bigode, cabelo muito bem arrumado e alguns quilos a

menos, depois de uma operação bariátrica (bem diferente das características físicas

que tinha quando era pastor da ADMM em Campinas – SP). Com roupas finas e de

“grife” caras, o pastor está à frente de uma das maiores ADMM, o Campo do Brás

(sem contar a sua influência ao Campo de Campinas – SP, uma vez que o seu filho

é o pastor-presidente da mesma).

Consagrado ao pastorado quando ainda tinha 19 anos123 de idade, no mesmo

ano de seu irmão Abner Ferreira, iniciou seus estudos teológicos no IBAD,

posteriormente se transferindo para os Estados Unidos, no qual se formou como

bacharel, mestre e doutor em Teologia. Ele ainda acumula outras duas formações,

sendo uma em Letras e Inglês pela Universidade Californiana de Los Angeles e a

outra em Direito pela UNIP. Como seu pai e seu irmão, ele é membro da AELB e até

o momento dessa pesquisa escreveu três livros sendo eles “Os três grandes

conselhos”, “Como superar a Crise de Esperança no Mundo” e “Inveja, a síndrome

do Punhal”124. E assim como seu irmão, essa formação e produção servem para

demarcar uma distinção e prestígio frente aos outros pastores e membros da ADMM.

Sua carreira de pastor-presidente se inicia em 1999, aos 31 anos de idade na

ADMM em Campinas – São Paulo. Perguntado certa feita sobre se suas grandes

atribuições não pesavam pela sua pouca idade, ele responde,

A idade não traz o peso, o pesado são as obrigações dos cargos. A necessidade traz para qualquer idade as consequências do peso, mas o cargo nos ensina a conviver com o mesmo. (O Semeador, junho de 2001)

Assim a sua escolha não demandava de experiência na vocação pastoral, até

porque, o mesmo não tinha experiência alguma. Em nossa pesquisa não

encontramos nenhuma indicação que o referido pastor tenha ocupado este posto

anteriormente a Campinas. E mesmo quando assume a igreja em Campinas no ano

de 1999, o Pr. Samuel Ferreira não tinha nem de perto todo o reconhecimento e 122 Disponível em: http://istoe.com.br/138157_UM+PASTOR+MODERNO+ENTRE+OS+RADICAIS/. Acesso no dia 10/11/2016. 123 Existe um conflito de datas que revelariam a idade correta do Pr. Samuel Ferreira quando ele foi consagrado a pastor, pois no jornal “O Semeador” de junho de 2001, no caderno “O Brasil em foco”, na matéria “Conheça o Pr. Samuel Ferreira”, ali ele afirma que sua consagração se deu no ano de 1989, ou seja, aos 21 anos e não aos 19 como afirma a revista. Mas segundo a própria revista da EETAD, os dados foram fornecidos pela assessoria de impressa do Pr. Samuel Ferreira. 124 Disponível em http://www.adbras.com.br/2016/pastor-samuel-ferreira/. Acesso dia 10/11/2016.

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prestígio que hoje “ostenta” nas ADMM e Brasil. Tanto o seu crescimento na ADMM,

quanto o de seu irmão Abner se dão pela influência de seu pai, questão clara na fala

do Pr. P-B quando diz “que o Bp. Manoel Ferreira foi praticamente o autor e

incentivador desse negócio de nepotismo, porque é a partir dele que começa a

ocorrer essas coisas” (Entrevista em áudio, gravada no dia 09/08/2016). Porém na

trajetória ministerial do Pr. Samuel Ferreira são dois os eventos marcam o seu

“antes e depois”. O primeiro é a 36ª AGO (Assembleia Geral Ordinária) em 2001 e o

segundo é a sua posse na ADMM do Brás em 2006, está última trataremos em uma

seção a parte.

A 36ª AGO é considerada pelos órgãos oficiais da instituição como “A maior

Assembleia da história da CONAMAD” (O Semeador, maio de 2001, p.1), pois nela

três situações marcaram a história oficial da instituição. Primeiramente nessa

Assembleia se deu o reconhecimento do título de Bispo ao pastor Manoel Ferreira;

em segundo lugar ocorreu a maior “Cruzada Evangelística125” já realizada pela

ADMM até então e, em último a eleição da Mesa Diretora na qual tanto o Pr. Samuel

como o seu irmão Pr. Abner Ferreira foram eleitos como vice-presidentes da mesma.

Porém, qual a relação desses eventos com o Pr. Samuel Ferreira? Por ser o

organizador tanto da AGO, quanto da Cruzada na cidade de Paulínia – São Paulo,

seu nome se projeta dentro do Ministério de Madureira e, o mesmo passa agora não

apenas a ser conhecido, mas também reconhecido em âmbito nacional como uma

figura icônica da ADMM. Segundo Cabral (2002),

[...] a 36ª AGO da CONAMAD realizada em abril de 2001 em Paulínia – SP, sob os auspícios da Igreja em Campinas – SP, presidida pelo Pr. Samuel Ferreira, organizador da maior assembleia convencional já realizada pelas Assembleias de Deus no Brasil, com a presença de aproximadamente dez mil ministros de todo o país e representações internacionais dos EUA, da Rússia, da Jordânia – Oriente Médio, além de vários países da América Latina e da Europa – culminando com a grande cruzada evangelística no último dia do conclave com cerca de 70.000 pessoas, onde foram ordenados 1200 novos ministros e missionários para atender ao crescimento da obra de Deus no Brasil e no exterior, foi digno de destaque o reconhecimento ao cargo de Bispo do presidente da CONAMAD, Dr. Manoel Ferreira, tornando-o o primeiro Bispo das Assembleias de Deus. (CABRAL, 2002, p. 163-164)

125 Denominação dada a um evento que tem como função promover um ajuntamento de pessoas, especialmente pessoas “não crentes”, no qual são convidados cantores gospel e pregadores renomados, tendo como finalidade última o convencimento dessas pessoas a “aceitarem a Jesus Cristo como Salvador”.

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Não conseguimos confirmar a veracidade dos números que foram expressos

nesse evento, uma vez que os números são diferentes, principalmente os fornecidos

pelos organizadores de um evento. Durante a pesquisa encontramos três números

diferentes sobre a quantidade de pessoas que estiveram na “Cruzada de Paulínia”

(como ficou conhecido o evento). Segundo Cabral (2002, p. 163) compareceram ao

evento cerca de 70.000 pessoas, já Prates e Fernandes (2012, p. 138) afirmam que

estiveram presentes 110 mil pessoas. O jornal “O Semeador” de junho de 2001, em

entrevista feita pelo Pr. Jandiro A. Silva com o Pr. Samuel Ferreira, se afirmou que o

número de participantes chegou em 140 mil pessoas, este último, segundo os

referidos pastores, foi o número divulgado pela Policia Militar do Estado de São

Paulo a época. Qualquer que for o número real dos participantes deste evento é

neste momento que se marca o processo de ascensão e legitimação do Pr. Samuel

Ferreira dentro dos principais postos diretivos da ADMM.

Uma vez que não é o sucesso no número de participantes que nos leva a

fazer essa afirmação, mas sim, que nessa 36ª AGO da CONAMAD além de seu pai

ser elevado a um posto de “o primeiro Bispo assembleiano do Brasil”, uma posição

honorífica que apenas serve para demarcar uma condição prestigiosa e de distinção

(BOURDIEU, 2007) “megalomaníaca”126 do bispo dentro da organização, que não se

vêm nos líderes fundadores das ADs no Brasil. Esse título é justificado pelo próprio

Manoel Ferreira e a cúpula diretiva a época, devido os trabalhos prestados pelo líder

da ADMM na Rússia a partir do ano de 1995, pois após a 17ª Conferência

Pentecostal Mundial realizada em Jerusalém, o bispo e sua esposa seguem para

cidade de Moscou e ali enfrentam dificuldades para entrar no país. Ao ficar retido

[...] no aeroporto por dezenove horas [...] se colocou de joelhos e sentiu em seu próprio corpo um pouco do sofrimento russo e orou: “Senhor, abre uma porta para ganharmos os russos para Jesus!” (PRATES; FERNANDES, 2012, p. 126-127)

Enquanto a CGADB, liderada pelo Pr. José Wellington Bezerra da Costa

estava na “Década da Colheita” (1990-2000), movimento que previa a “conversão”

de cinquenta milhões de pessoas ao pentecostalismo, de preferência assembleiano

(ALENCAR, 2013, p. 290), Manoel Ferreira criou o Projeto Portas Abertas para o

126 Hoje é muito comum encontrar líderes assembleianos com títulos honoríficos não comuns aos primeiros líderes deste movimento, citamos os líderes Túlio Barros Ferreira (in memoriam) da AD Missão Apostólica da Fé - RJ (antiga AD em São Cristóvão) e José Teixeira Rêgo Neto da AD Bela Vista – CE, ambos se denominaram de Apóstolos em suas igrejas.

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Oriente127 (CABRAL, 2002), no qual tinha por princípio a evangelização do povo

russo “recém-saído” do comunismo e a construção da primeira igreja pentecostal

assembleiana na Rússia. Esse projeto demandou diversas viagens àquele país, dos

líderes brasileiros e dos líderes da igreja russa para o Brasil. Também a mobilização

de todo o ministério com vultosas arrecadações para a compra de uma propriedade,

na qual seria “construído um seminário preparatório para os pastores das antigas

Repúblicas Socialistas, que funciona até hoje” (Pr. P-B, entrevista em áudio gravada

dia 09/08/2016). Segundo o jornal “O Semeador” de setembro de 1996, a ADMM

ganhou do governo russo na época um terreno onde seria construído o primeiro

templo da ADMM, que ficou conhecido como o “Projeto do Grande Templo”

(PRATES; FERNANDES, 2012, p. 128). Entretanto não obteve a permissão do

governo russo para seguir com a construção e a atividade cessou e, hoje não se fala

mais nada desse projeto e que fim o mesmo levou.

As versões que explicam o porquê da nomeação de Manoel Ferreira a bispo

parte de duas vertentes, uma que no ano de 1998 morreu o “bispo mais antigo da

Rússia, Dr. Felipe Grikhowst” e o conselho de bispos da Rússia decidiu que o pastor

brasileiro deveria ocupar esse lugar pelos trabalhos prestados naquele país

(PRATES; FERNANDES, 2012, p. 132), sendo consagrado pela Igreja Russa ao

cargo de bispo. O segundo é que fora do Brasil há a necessidade de um nome como

superintendente ou bispo para representar a igreja e Manoel Ferreira era apenas

pastor-presidente da CONAMAD, por isso foi consagrado (Pr. P-B, entrevista em

áudio gravada dia 09/08/2016). Qual é o real motivo da consagração parece ser um

“mistério”, mas o importante em nossa pesquisa é que nessa 36ª AGO, Manoel

Ferreira pede o reconhecimento de sua “consagração” a essa função à Mesa

Diretora da CONAMAD. Em uma comissão especial liderada pelo Pr. Davi Cabral, é

aprovada a função em caráter de “primus inter pares” e exclusivo ao pastor Manoel

Ferreira, que se torna o único bispo da ADMM128.

Nesta condição a 36ª AGO marcou a confirmação da família “dos Ferreiras”

como um grupo distinto e prestigioso que passou a concentrar o poder e dominação

da ADMM em suas mãos. Muito diferente do período de Macalão, que apesar de sua

127 Outro nome dado ao projeto era “Janelas Abertas para o Oriente” (PRATES; FERNANDES, 2012, p. 128). 128 Como já mencionamos em notas anteriores, essa condição de “exclusividade” deixou de existir por iniciativa do próprio Bp. Manoel Ferreira, que sugere a partir de uma “revelação” divina em consagrar mais cinco pessoas a mesma função dele, fato que ocorre na 39º AGO do ano de 2017. Sendo dois deles, os seus filhos Abner Ferreira e Samuel Ferreira.

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independência e centralização do poder, o mesmo não teve pretensão alguma de

estabelecer dentro do ministério o patriarcalismo/patrimonialista tão comum na

gestão do Bp. Manoel Ferreiras. E como já mencionamos anteriormente é nesta

Convenção que o Pr. Samuel Ferreira tem o seu nome projetado para o Brasil, pois

agora não é apenas conhecido, mas sim, reconhecido, uma vez que passa a ocupa

a posição de 4º vice-presidente da CONAMAD (seu irmão Abner era o 5º vice-

presidente). Porém a verdadeira “cereja do bolo” viria anos mais tarde com a

“tomada” da presidência da ADMM campo do Brás, episódio que analisaremos a

seguir em nossa pesquisa.

3.2.1.2.1. O Campo do Brás.

Os ano de 2000 até 2010 foram marcados por agitações frente à

consolidação do poder, prestígio e dominação “dos Ferreiras” dentro do Ministério de

Madureira, desta forma, não é sem razão, que os mesmos buscam se legitimar

através dos prestígios das “nomeações oficializadas” (BOURDIEU, 2003). Caso que

abordamos na seção anterior em que buscamos demonstrar que o poder da referida

família vem sendo construído não pelo uso “exclusivo” do carisma, mas sim, por

posturas patrimonialistas com a utilização relativa apenas do poder racional-

burocrático. Fato que constatamos durante a pesquisa, na qual verificamos que até

meados dessa primeira década do século XXI, pelo menos três significativos

Campos em São Paulo (Perus, Vila Gerty e Santo Amaro) romperam as relações

com a ADMM e se tornaram Ministérios independentes com convenção própria, ou

se filiando a uma convenção já existente129 (ainda na década de 1990, o Campo de

São Bernardo do Campo já havia rompido relações com ADMM).

Dessa forma surgiu a necessidade de garantir que o poder se mantivesse

concentrado nas mãos “dos Ferreiras”, por este motivo o Campo do Brás era de vital

importância para esse projeto, conquanto o mesmo é a base central do Estado de

São Paulo. E se a igreja-mãe em Madureira representa a “memória coletiva” da

tradicionalização do movimento, a igreja inaugurada no ano 2006, na Avenida Celso

Garcia nº 560 no Brás – São Paulo, é a marca da modernização do movimento.

129 Este último é o caso da AD Vila Gerty, pois a mesma hoje é filiada a COMOESPO (Convenção dos Ministros Ortodoxos das Assembleias de Deus do Estado de São Paulo e Outros), convenção liderada pela AD Ministério do Ipiranga.

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Assim o Brás é sem dúvida nenhuma a demarcação do “poder simbólico e

econômico” da ADMM, pois a igreja se localiza na cidade mais rica, do estado mais

rico do país. Sobre uma estrutura de um templo moderno e pujante para época, que

buscou ofuscar todos os demais templos que se concentravam na mesma avenida

pelo modernismo de sua construção, todo em aço, concreto e janelas aparentes

empregando um “ar arrojado” a um templo assembleiano, o mesmo lançou o

Ministério de Madureira definitivamente para o século XXI130.

Imagem 1: Templo-sede da ADMM Campo do Brás

Fonte:Panoramio131.

O qual não era o perfil da gestão anterior, uma vez que o Pr. Lupércio

Vergniano pertence à segunda geração de pastores assembleianos. Porém não

queremos afirmar que esse seja o motivo que levou o Pr. Samuel Ferreira a se

130 Alencar tipifica esse novo estilo de construção assembleiana como “templo-shopping”, o qual tende a oferecer maior conforto aos seus adeptos, uma estrutura para o que mesmo possa consumir produtos “gospel” como livros, cd’s e camisetas, por exemplo, e, uma “cerimônia litúrgica” que mais se assemelha a um “show” (2013, p. 255-258). Esta cerimônia geralmente é gravada por uma equipe profissional de filmagens mantida pela própria instituição, a qual é transmitida em horários próprios nas quatro emissoras diferentes que a igreja mantém um contrato. Ainda existe uma programação mantida em rádio que a igreja dispõe em horários semanais pela manhã e tarde. Toda essa nova estética e configuração marca essa igreja como uma ADMM moderna e que demanda de toda uma estrutura que não se vê nas antigas ADs no Brasil. 131 Disponível em: http://www.panoramio.com/photo/30297706. Acesso em 25/11/2016.

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“apossar” do Campo do Brás, pelo contrário, o mesmo é de fundamental importância

para quem deseja manter-se no topo da ADMM. Uma vez que o mesmo, tanto pelo

seu tamanho atual e a posição onde ele se encontra na federação, por si, só, já se

explica. Outro fator relevante é que o Campo do Brás já havia sofrido com tentativas

de divisões, que fora resolvido em um episódio em que houve a necessidade da

intervenção de um militar-deputado na época (ver o capítulo 2).

Por fim, ocupar essa igreja remeteria a se dispor na época também do templo

mais moderno e arrojado do Ministério, por este motivo era imprescindível “aos

Ferreiras” a posse dessa igreja. A situação foi tão “avassaladora” que o Pr. Lupércio

Vergniano não pode nem fazer a inauguração do templo, que em sua gestão foi

adquirido o terreno e construído o prédio. Sendo inaugurado no dia 15 de novembro

de 2006 (FERREIRA, s.n.t, p. 82) e que segundo o Pr. C-A, que é membro da

ADMM no Brás, a transição que ocorreu no poder da igreja entre o Pr. Lupércio

Vergniano e o Pr. Samuel Ferreira não ficou, até hoje, claramente explicado, pois em

uma AGE (Assembleia Geral Extraordinária) realizado no dia 12 de junho de 2006

(FERREIRA, s.n.t) e liderada pelo Bp. Manoel Ferreira, em conjunto com a Diretoria

da CONAMAD empossou o Pr. Samuel Ferreira sem ter dado um “motivo justificável”

para essa ação.

Segundo a versão oficial, a reunião ocorreu tranquilamente e a aprovação da

transferência do “poder da igreja” foi aceita de forma unânime pelos que lá estavam,

mas segundo o nosso entrevistado (e mais dois outros obreiros que estavam

presentes, porém me falaram isso em off) “o clima era tenso, com uma aparência de

golpe camuflado” (Entrevista em áudio, gravada no dia 13/07/2016). Através de

muitos acordos internos ficou decidido que o filho do Pr. Lupércio, o Pr. Márcio

Vergniano assumiria o Campo de Osasco e a igreja do Brás manteria o “sustento” do

antigo pastor até a sua morte. Também ele continuaria ser vice-presidente vitalício

da CONAMAD até o final de sua vida, porém, como já explicitamos anteriormente,

em 2013 com a reformulação do Estatuto da CONAMAD essa condição foi retirada e

o Pr. Samuel Ferreira alçou para a posição de 1º vice-presidente, sendo até a escrita

dessa pesquisa o Presidente-executivo da Mesa Diretora da CONAMAD.

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3.3. OS CONFLITOS INTERNOS.

Em nossa pesquisa se pode comprovar que os conflitos internos dentro da

ADMM eram uma situação muito comum e constante dentro da instituição.

Lembrando que o poder e a dominação são questões passíveis a resistência e

constantes conflitos. Bourdieu (2013) deixa essa situação muito clara, quando afirma

sobre as disputas existentes entre o sacerdote e o profeta no meio religioso e a

ADMM não é uma exceção à regra, entretanto como uma organização social

(BERGER, 1985) a mesma tende a enfrentar as mesmas condições de tensão

social. Foi assim como o Pr. Paulo Leivas Macalão, que enfrentou muitos problemas

nesse sentido (nesta pesquisa falamos sobre as discordâncias com a igreja em

Brasília e mais tarde em Anápolis – GO) e, o Bp. Manoel Ferreira, seus filhos e a

Mesa Diretora da CONAMAD não estiveram (e nem estão) isentos dessas questões

e desafios para manter o seu domínio sobre a organização.

Como já mencionamos na seção anterior de nossa pesquisa, em se tratando

apenas de São Paulo nestes últimos vinte cinco anos, pelo menos quatro

significativos campos se emanciparam e hoje são igrejas independentes e sem

vínculo algum com a ADMM132. São eles a AD Nova Gerty, localizada na cidade de

São Caetano do Sul em São Paulo, fundada em 1951, que se emancipou no ano de

2002133; a AD Ministério de São Bernardo do Campo134 fundada em 1957, mas que

no ano de 1993 com a morte do Pr. Roberto Montanheiro foi a primeira igreja de São

Paulo a se emancipar, no mesmo dia em que estavam velando o corpo do referido

pastor (Pr. P(ex)-B, entrevista em áudio gravada no dia 14/07/16). Temos também a

AD Ministério de Perus135 fundada em 1947, mas que em 2002 já desempenhava

uma relação apenas de “laços fraternos” com a ADMM (segundo pastores desse

ministério), sendo 2006 o ano do rompimento definitivo. E por último temos o caso

132 Segundo o Pr. P(ex)-A essa condição não se restringi a São Paulo apenas, no Estado do Rio de Janeiro alguns Campos vivem em constante tensão com a CONAMAD, esperando qualquer pequeno motivo para romper com o ministério (Entrevista em áudio, gravada no dia 25/05/2016). Encontramos um artigo em um site gospel falando sobre a tentativa do Bp. Manoel Ferreira em tomar posse das ADMM em Gama - GO e Taguatinga – DF. Está última é presidida pelo Pr. Benedito Domingos, na qual ocorreu uma situação inusitada, pois os “obreiros” do campo e leais ao referido pastor, jogaram suas carteiras de membros da CONAMAD no chão em sinal de protesto a tentativa do bispo em assumir a igreja. Disponível em: http://www.pulpitocristao.com/2015/07/ganancia-de-manoel-ferreira-revolta.html. Acesso no dia 12/11/2016. 133 Informações cedidas pela secretaria da instituição por contato telefone. 134 Disponível em http://www.iead-msbc.com.br/#about. Acesso no dia 15/11/2016. 135 Disponível em http://www.adperus.com.br/institucional.php. Acesso no dia 15/11/2016.

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da ADSA Brasil136 (Assembleia de Deus Ministério de Santo Amaro) fundada em

1951, entretanto em 2003 se emancipou do Ministério de Madureira em meio a um

processo bem turbulento.

Ainda na gestão do Pr. João Galdino de Lima o Campo de Santo Amaro,

conhecido pelo seu rígido padrão moral estava construindo a nova igreja-sede,

situado a Rua João Alfredo nº 527. Um grande e moderno templo, o qual estava

sendo construído no mesmo período do templo do Brás. Por ser um Campo que a

época contava com um número bem significativo de igrejas-filiais, “os Ferreiras”

resolveram no começo dos anos 2000 mudar a gestão ali instituída. Com a negativa

do Pr. Galdino e de sua diretoria esse caso chegou a ser levado aos tribunais se

arrastando por alguns anos. No final a ADMM perdeu essa causa e o Campo de

Santo Amaro se tornou ADSA Brasil (Pr. P(ex)-A, entrevista em áudio gravada do dia

25/07/2016). Segue a fala do próprio Bp. Manoel Ferreira sobre o Pr. Galdino e que

remete ao caso, ele disse,

Um homem fiel, trabalhador, forte, mas, infelizmente, depois foi levado por assessores, maus conselheiros e deixou-se enveredar por um caminho difícil. Agora, era um homem trabalhador, muito fiel a Madureira, até onde pôde. Construiu um grande trabalho para o lado de Santo Amaro e hoje eu não sei como está aquele campo, mas a verdade é que enquanto ele esteve conosco deu prova de muita fidelidade e de muito trabalho (FERREIRA, s.n.t, p. 152).

O que chamou nossa atenção nesse caso foi, a postura do Pr. Galdino frente

ao ocorrido, pois o mesmo passou a direção da igreja a seu filho Pr. Marcos Galdino,

que à época nem “crente era” (segundo dois de nossos entrevistados). Seu

“pastorado” a frente do ministério de Santo Amaro foi relativamente curto e no ano

de 2014, o referido pastor, transferiu à presidência do ministério para o seu filho Pr.

Marcos Galdino de Lima Junior, então Vice-Presidente do Ministério. O qual assumiu

a responsabilidade de ser o mais novo pastor-presidente da ADSA Brasil, se

mantendo até hoje como tal (Pr. P-B, entrevista em áudio gravada no dia

09/08/2016). Temos nesse caso a estrutura estruturada (BOURDIEU, 2013) muito

típica das atuais ADs no Brasil, no qual o poder é delegado a filhos, genros, netos,

sempre na tentativa de manter o patrimônio familiar herdado.

Findado esse período de turbulência do poder e dominação “dos Ferreiras”

dentro da ADMM, principalmente porque os mesmos se posicionaram em lugares

136 Disponível em http://www.adsabrasil.org.br/historia-da-assembleia-de-deus-ministerio-em-santo-amaro/. Acesso dia 15/11/2016.

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bem estratégicos como Brasília Sede da CONAMAD, Madureira Igreja-mãe e Brás

Sede do poder simbólico e econômico, a referida família conseguiu consolidar seu

projeto de legitimação do prestígio através da “nomeações oficializadas”

(BOURDIEU, 2003) e pelas truculentas137 disputas pelo poder. Entretanto isso não

quer disser que entre eles, internamente tudo seja “paz, amor e flores”, uma vez que

historicamente brigas de irmãos já causaram dramas, divisões e mortes.

Em duas de nossas entrevistas, foram mencionadas as tensões constantes

entre os irmãos Abner e Samuel Ferreira pela posse do poder no ministério e sendo

o pai muitas vezes o apaziguador desses conflitos. Esse conflito não se restringe

apenas aos dois, pois os outros filhos, até mesmo o único filho que não é pastor-

presidente faz críticas severas a postura dos irmãos (Pr. P-B, entrevista em áudio

gravada no dia 09/08/2016). E é inegável que os dois irmãos sejam líderes

extremamente habilidosos não apenas para manter o poder concentrado entre eles,

mas também como fazer com que essas desavenças fiquem “abafadas” entre eles,

porém como disseram os Pr. P-B e Pr. P(ex)-A, a tensão entre os dois é bem visível,

principalmente nas Assembleias Gerais.

[...] Hoje o Manoel Ferreira já “desapareceu”, não fica assim muito claro, mas quem acompanha a coisa, quem sabe da história, hoje é o Samuel. E a coisa é tão “braba” que a disputa é Samuel e Abner e, os dois quando estão juntos, assim na frente dos outros são amigos, um reverente ao outro. Mas ou dois, um só falta matar o outro, por causa da disputa, disputa, por causa da disputa. A disputa é “braba”! (Pr. P(ex)-A, entrevista em áudio gravada no dia 25/07/2016)

Bem ou mal o que essas tensões e conflitos gerarão para o futuro da

instituição só o tempo revelará, entretanto é que as lutas pelo poder, prestígio e

dominação são uma realidade não apenas entre os Campo do Ministério de

Madureira, mas também, entre os membros da família do próprio Bp. Manoel

Ferreira. Estas situações demarcam as novas realidades que a organização tem que

enfrentar, em meio a um mundo inserido no turbilhão da modernidade (BERMAN,

1986), uma vez que a mesma é parte integrante dessa sociedade e fruto das

tensões e transformações resultantes das relações sociais e suas contradições.

Todas essas questões e complexidades refletem o que são as ADs ligadas ao

Ministério de Madureira hoje, que desde seu nascimento se constitui como uma

137 Não foram poucas às vezes durante a pesquisa e nas entrevistas que ouvimos, ora em off, ora abertamente que muitas das ações promovidas pelos “Ferreiras” ocorriam de forma bem truculenta e muitas vezes gerando grandes tensões.

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igreja autenticamente brasileira e interregionalizada, claramente ligada à figura de

seu fundador. E que logo cedo passou a centralizar o poder em seu carisma, porém

que ao longo dos anos foi obrigado em seu processo de tradicionalização a criar

uma “oligarquia diretiva” para ajudá-lo a manter o poder. Sendo nesse processo de

tradicionalização que o poder patrimonial foi se constituindo como uma marca desse

segmento assembleiano (não que os outros estejam livres desse mesmo fenômeno),

na constituição do prestígio do Pastor-presidente e de seu quadro de especialista.

Com a chegada das novas gerações esse poder patrimonial, passou a se legitimar

através de regras burocráticas de “nomeações oficializadas”, porém o que se pode

perceber é que nesta dinâmica do movimento o que temos é a prática de

beneficiamento de parentes e pessoas próximas aos líderes. E ainda mais a

sucessão dos principais postos de comando agora se dá pelo grau de parentescos

dos líderes, transformando a instituição em uma propriedade privada das “classes

diretivas”. Gerando dentro da mesma, constantes processos de tensões e conflitos

entre os que estão no topo da pirâmide pela disputa e conservação do poder

instituído.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como vimos no decorrer desta pesquisa, as Assembleias de Deus, em

especial o Ministério de Madureira é o resultado das diferentes contradições que a

mesma produziu durante todo o seu desenvolvimento histórico e social no Brasil. De

um movimento nascido e impulsionado pelo carisma de seu fundador, ao poder

patrimonialista da gestão atual “dos Ferreiras”, que busca em ações racionais

burocráticas manter consolidado a sua dominação patrimonialista, a ADMM

expressa às condições de um movimento que reproduz as condições e relações

sociais produzidas na sociedade que está inserida. Em seus mais de 87 anos de

existência a ADMM não é mais aquela iniciada no subúrbio carioca no final da

década de 1920. Apesar de nascer autônoma e “interregionalizada” na postura

carismática do Pr. Paulo Leivas Macalão, essa igreja viu ao longo dos anos a

gradativa “profissionalização” do poder do Pasto-presidente, junto ao seu quadro

administrativo de especialistas. Essa nova estrutura de poder e dominação

assembleiana, que é contrária aos padrões modernos de democracia, possibilitou a

criação de uma forma de poder sucessório, no qual transformou a igreja em um

patrimônio particular de algumas poucas famílias e seus associados.

Sendo então o propósito dessa pesquisa compreender quais são as causas

que ajudem a explicar o porquê esse processo foi ocorrendo dentro dessa

organização (e que ajuda a entender o que ocorre também em outras igrejas ADs no

Brasil) e aceito por boa parte de seus membros, mesmo em um período histórico

que valoriza os processos democráticos. Dessa forma optamos em analisar o papel

do Pastor-presidente, pois ele é hoje a principal figura de poder e dominação nas

ADs. Seu prestígio é tão grande que atualmente os mesmos são figuras

inquestionáveis dentro da instituição e que tem transferido esse “poder”, em muitos

casos, a um de seus familiares.

Mostramos durante a pesquisa que esta figura não é uma “mera herança” da

colonização brasileira, mas sim, um produto da dialética produzida pela disputa

interna de poder do grupo social. Assim rejeitando as respostas oferecidas pelos

intelectuais do “culturalismo liberal conservador” brasileiro, que buscam explicar

essas figuras como “estoques culturais herdados”, anulando dos mesmos suas

particularidades concretas de agentes produtores de relações e tensões sociais.

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A partir dos conceitos de poder e dominação weberiano demostramos que a

figura do Pastor-presidente se legitima por um direito que é construído em torno de

sua pessoa e que se solidifica pela existência do “quadro administrativo de

especialistas” que se formam na instituição. Estes são responsáveis em manter o

mesmo no topo da instituição e distribuindo parcelas do poder apenas entre os mais

próximos. Percebemos que nas relações sociais produzidas pela a ADMM é de

fundamental importância à existência de grupos “estamentais” que tendem a manter

o poder e dominação estáveis o máximo possível. Entretanto, apesar de concentrar

esse “grande volume” de poder na instituição, a figura do Pastor-presidente não

nasce com a instituição, ela é criada ao longo dos anos em um momento, em que as

estruturas da mesma se veem ameaçadas pelas novas demandas existentes dentro

do pentecostalismo assembleiano, em virtude da industrialização e urbanização

brasileira, que gerou tensões e fragmentações dentro do movimento.

Portanto sua criação é uma resposta às ameaças que o movimento passa a

sofrer dentro da nova dinâmica social do país. Sua carreira é construída dentro da

organização a partir de sua fidelidade a igreja e sua capacidade em resolver

questões administrativas, dessa forma ele acaba desempenhando um papel muito

mais de um gestor, do que mesmo de um “pregador e ensinador da palavra”. Porém

encontramos àqueles que alcançam o posto de Pastor-presidente mediante práticas

corruptas de beneficiamento, que podem ser obtidas devido a questões relacionadas

à consanguinidade, ou mesmo por se buscar criar um grupo de “vassalos”, que

serão leais a esse senhor. Tudo isso na tentativa de conseguir o máximo possível de

capital social pra si mesmo, o que legitimaria sua perpetuação e possibilitará uma

sucessão futura, a fim de garantir o padrão de vida que foi adquirido ao longo dos

anos em detrimento da maioria dos membros da instituição.

Entretanto, durante a pesquisa ficou claro que mesmo criando toda uma

estrutura patrimonial de poder, a qual possibilita o Pastor-presidente a acumular uma

condição prestigiosa, o mesmo depende da aceitação por parte daqueles que se

concentram na base da organização, uma vez que, sua dependência é total dos

mesmos. Assim, a necessidade por parte do Pastor-presidente em se respeitar uma

conduta ética (pelo menos figurativamente) e regramento financeiro, sob a pena de

ser destituído de seu cargo se isso não for minimamente respeitado. Essa condição

expressa à força que a massa dos membros pode obter, mas que ainda não se

deram conta que tem; caso semelhante à população brasileira em geral.

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Ainda na pesquisa analisamos a trajetória dos dois principais líderes da

ADMM, como se constituiu a carreira de ambos e quais foram os principais desafios

enfrentados pelos personagens em questão. Nisto ficou evidente que o fundador do

movimento, o Pr. Paulo Leivas Macalão apesar de possuir um capital simbólico e

cultural, o qual o diferenciava dos demais pares de sua época é lembrado como o

principal responsável pelo “sucesso” dessa AD, graças ao seu carisma “inigualável”.

Porém, o mesmo foi obrigado a tradicionalizar seu poder, na tentativa de manter

coesa e unida a igreja por ele iniciada. Sofrendo a oposição de “reformadores” pela

estrutura que criou, Macalão lançou mãos muitas vezes de ações racionais

burocráticas, não apenas para manter seu poder, como para punir seus adversários.

Usou de sua influência carismática algumas vezes e, em outras os poderes legais

instituídos, mesmo que fossem de militares. Já o seu sucessor precisou desenvolver

a sua caminhada, sob a sombra de Macalão e se consolidar em meio à ameaça

constante do surgimento de um possível sucessor, mais prestigioso do que ele.

Mesmo o Bp. Manoel Ferreira de posse de um capital cultural privilegiado e

sendo ele (segundo o próprio bispo) um especialista em resolver problemas de

ordem administrativa do ministério, nunca foi reconhecido como o sucessor

esperado de seu antecessor. Conquanto, somando suas habilidades de articulação

e os acontecimentos visando à posse do poder, analisados nesta pesquisa, Manoel

Ferreira não apenas conseguiu ser aceito como o sucessor legítimo, mas

empreendeu uma nova tradição pautada no personalismo e reconhecimento de

títulos honoríficos, que garantissem prestígio legítimo de ser ele o sucessor mais

justo ao principal posto de comando das ADMM. Em conjunto a tudo isso, o

“primeiro bispo” assembleiano inaugurou uma prática que seria seguida por muitos

outros líderes da ADs no Brasil, o nepotismo. Instituindo dois de seus filhos como

seu sucessor nos Campos onde estava (Madureira e Campinas), Ferreira promove a

ascensão de sua família aos principais postos diretivos do ministério, os quais

reforçaram ainda mais a figura personificada e mitificada do Pastor-presidente.

É nesta condição que a ADMM caminha atualmente, desligada da CGADB

desde 1989, desenvolvendo uma prática centralizadora de organização, na qual

todas as igrejas a ela filiadas devem coexistir sob a tutela de um único estatuto.

Dessa forma se diferenciando da CGADB, que apesar de sua grande influência se

mantém como uma “associação de pastores”. Já a CONAMAD concentra em si

mesma, os poderes e prestígios diretivos da organização, não sendo sem motivos

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que a família “dos Ferreiras” buscaram e buscam garantir esse “monopólio” pra si

mesmos. Isso não significa a aceitação passiva de outros líderes que desejam

alcançar esse posto prestigioso, explicando assim, as tensões existentes

internamente e que por algumas vezes geraram o rompimento de alguns Campos,

que acabaram se desligando de Madureira e fundando suas próprias Convenções.

No demais, a ADMM é uma expressão do pluralismo que denominamos de

“assembleanismo” brasileiro, que ao longo dos seus mais de 105 anos de história

produz e reproduz as questões inerentes aos grupos sociais instituídos no país.

Suas tensões, disputas, transformações e expressões são sinais de que esse grupo

está intimamente “ligado às coisas desse mundo”, muito mais do que eles mesmo

pensam.

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ANEXO I

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