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 O USO IMPLÍCITO DAS INDICAÇÕES FORMAIS EM SER  E TEMPO: ALGUMAS QUESTÕES DE MÉTODO Juliana Missaggia Resumo Nesse artigo é apresentado o uso do método indicativo-formal em Ser e Tempo. Embora Heidegger não desenvolva nessa obra nenhuma análise que trate especificamente das indicações formais, sua utilização nos parece clara – não somente pelo uso do termo  formale Anzeige” em diversas passagens, mas também pela própria estrutura dos argumentos. Procuramos demonstrar como a compreensão do uso implícito de tal metodologia é fundamental para a compreensão de Ser e Tempo. Primeiramente, é apresentado o caráter indicativo-formal do chamado “círculo hermenêutico”, o qual Heidegger analisa em vários trechos da obra, sempre em relação com seu aspecto metodológico. A seguir, procuramos exemplificar o uso das indicações formais em Ser e Tempo, através dos conceitos utilizados por Heidegger na exposição do modo de ser do   Dasein. Tal análise é interessante não somente para confirmar a utilização do novo método na obra, mas também para esclarecer, com um exemplo concreto, como ocorre sua aplicação.  Palavras-chave Fenomenologia; método; indicação formal; círculo hermenêutico  Abstract In this paper is presented the use of the formal indicative method in  Being and  Time. Although Heidegger does not develop in this work an analysis that specifically treat of formal indications, its use seems clear – not only by the use of the term "  formale  Anzeige" in several parts, but also by the argument's structure. We try to demonstrate that understanding the implicit use of such methodology is fundamental to understanding Being and T ime. First, we present the formal indicative character of the "hermeneutic circle", which Heidegger analyzes in several parts of his work, always in relation to its methodological aspect. Hereafter, we illustrate the use of formal indications in  Being and  Time, through the concepts used by Heidegger in exposure of the Dasein's way of being. Such analysis is interesting not only to confirm the use of the new method in this work, but also to clarify, with a concrete example, how occur its application.  Keywords Phenomenology; method; formal indication; hermeneutic circle  Doutoranda em filosofia pela PUCRS, bolsista CNPq.

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  • O USO IMPLCITO DAS INDICAES FORMAIS EM SER E TEMPO: ALGUMAS QUESTES DE MTODO

    Juliana Missaggia

    Resumo Nesse artigo apresentado o uso do mtodo indicativo-formal em Ser e Tempo. Embora Heidegger no desenvolva nessa obra nenhuma anlise que trate especificamente das indicaes formais, sua utilizao nos parece clara no somente pelo uso do termo formale Anzeige em diversas passagens, mas tambm pela prpria estrutura dos argumentos. Procuramos demonstrar como a compreenso do uso implcito de tal metodologia fundamental para a compreenso de Ser e Tempo. Primeiramente, apresentado o carter indicativo-formal do chamado crculo hermenutico, o qual Heidegger analisa em vrios trechos da obra, sempre em relao com seu aspecto metodolgico. A seguir, procuramos exemplificar o uso das indicaes formais em Ser e Tempo, atravs dos conceitos utilizados por Heidegger na exposio do modo de ser do Dasein. Tal anlise interessante no somente para confirmar a utilizao do novo mtodo na obra, mas tambm para esclarecer, com um exemplo concreto, como ocorre sua aplicao.

    Palavras-chave Fenomenologia; mtodo; indicao formal; crculo hermenutico

    Abstract In this paper is presented the use of the formal indicative method in Being and Time. Although Heidegger does not develop in this work an analysis that specifically treat of formal indications, its use seems clear not only by the use of the term "formale Anzeige" in several parts, but also by the argument's structure. We try to demonstrate that understanding the implicit use of such methodology is fundamental to understanding Being and Time. First, we present the formal indicative character of the "hermeneutic circle", which Heidegger analyzes in several parts of his work, always in relation to its methodological aspect. Hereafter, we illustrate the use of formal indications in Being and Time, through the concepts used by Heidegger in exposure of the Dasein's way of being. Such analysis is interesting not only to confirm the use of the new method in this work, but also to clarify, with a concrete example, how occur its application.

    Keywords Phenomenology; method; formal indication; hermeneutic circle

    Doutoranda em filosofia pela PUCRS, bolsista CNPq.

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    Com a publicao das obras completas de Heidegger, ficou evidente para os estudiosos que Ser e Tempo o resultado da complexa reflexo filosfica empreendida pelo autor ao longo dos anos 20. A maioria dos conceitos centrais da obra de 1927 j apareciam nos cursos heideggerianos: encontramos nesses cursos no somente uma viso geral sobre o desenvolvimento das principais noes de Ser e Tempo, mas tambm o esclarecimento daquilo que permanece obscuro numa anlise que se limite somente a essa obra. notrio que muitos conceitos importantes so apresentados ali de maneira excessivamente sucinta ou confusa, o que torna necessria a pesquisa em fontes

    anteriores1.

    Esse , sem dvida, o caso da noo de mtodo apresentada em Ser e Tempo: Heidegger realiza, no pargrafo 7, uma reflexo sobre o mtodo fenomenolgico que guiar sua investigao, o que ocorre a partir da anlise do conceito de fenmeno e do conceito de logos, que formariam a fenomenologia na verso heideggeriana. Para alm do aspecto abstrato e pouco informativo de tal reflexo, permanece indefinido at que ponto Heidegger segue a fenomenologia husserliana ou no, pois suas diferenas em relao ao mtodo fenomenolgico tradicional no so explicitadas.

    Em verdade, por trs dessa dificuldade, est o uso do mtodo indicativo-formal, que surge como uma modificao da fenomenologia tradicional em direo a uma apropriao de elementos hermenuticos. Como o prprio nome diz, indicao formal tem por inteno apontar, indicar uma direo para a qual devemos olhar. E, assim como todo o ato de apontar, h uma incompletude inerente a esse mtodo: a ao de apontar s est completa em seu significado quando algum olha na direo apontada. Nas indicaes formais no h uma determinao conclusiva dos conceitos filosficos, mas sim uma primeira aproximao. Ao procurar proceder de acordo com o mtodo das indicaes formais, dois mal-entendidos bastante comuns em filosofia devem ser

    1 Ver, especialmente, Grundprobleme der Phnomenologie (Wintersemester 1919/20), Phnomenologie

    des Religisen Lebens (Wintersemester 1920/21), Phnomenologische Interpretationen zu Aristoteles (Wintersemester 1921/22), Ontologie (Hermeneutik der Faktizitt) (Sommersemester 1923), alm da importante obra de Kisiel, The Genesis of Heideggers Being and Time. Nesse texto, pressupomos alguns esclarecimentos das indicaes formais que aparecem nessas obras, pois nosso objetivo mostrar seu uso implcito em Ser e Tempo.

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    evitados: o esquema sujeito-objeto e o preconceito da ausncia de perspectiva e ponto de vista2.

    Trata-se de um modo essencialmente novo na elaborao de conceitos, pois a situao concreta do sujeito que filosofa levada em conta (como pano de fundo e contexto inevitvel da atividade de filosofar), do mesmo modo que se evidencia a modificao que pode haver nos conceitos, j que a noo que serviu de ponto de partida pode alterar-se conforme a anlise se desenvolver. A atividade do prprio homem que est filosofando includa como um dos elementos fundamentais da filosofia: no podemos ignorar nossa situao concreta e o fato de que, como entes histricos, j partimos de uma perspectiva determinada. Ignorar esse fator e buscar uma pureza metodolgica que ignora a situao concreta do sujeito filosofante afirmar o dogmatismo e cair na inevitvel dificuldade de fundamentar uma atividade sem a possibilidade de recorrer a elementos externos prpria atividade ou a axiomas primeiros.

    A despeito do fato de Heidegger no desenvolver em Ser e Tempo nenhum comentrio que trate especificamente das indicaes formais, acreditamos que seu uso nessa obra bastante claro; isso evidente no somente pelo fato do termo formale Anzeige aparecer em diversas passagens, mas tambm porque o prprio estilo da investigao filosfica presente na obra mantm as caractersticas do mtodo indicativo-formal. Alm disso, com tal anlise poderemos apresentar um exemplo concreto da aplicao do mtodo, o que mostrar claramente sua utilizao em Ser e Tempo, na mesma medida em que ajudar na compreenso dos conceitos filosficos em seu carter indicativo-formal.

    O aspecto indicativo-formal do crculo hermenutico

    Em agosto de 1927, depois da publicao de Ser e Tempo, Heidegger responde s cartas de seu aluno Karl Lwith, onde discute algumas questes tericas referentes ao seu trabalho recente. Essa carta especialmente interessante por ser um testemunho bastante claro de como o mtodo das indicaes formais e o problema da facticidade

    2 No seria possvel desenvolver aqui longas consideraes sobre a noo de indicao formal, pois

    pretendemos focar seu uso em Ser e Tempo. Para uma anlise geral de suas caractersticas, tal como aparecem nos cursos dos anos 20, quando foram elaboradas, ver Streeter (1997) e Dahlstrom (1994).

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    ainda ocupavam Heidegger no perodo imediatamente posterior publicao de sua obra magna:

    Os problemas em torno da facticidade persistem para mim com a mesma intensidade que tinham em meus comeos em Freiburg, mas ainda mais radicalmente agora, com as perspectivas que me guiavam em Freiburg. Que eu estivesse constantemente ocupado com Duns Scotus e a Idade Mdia, e da novamente com Aristteles, no de modo algum um mero acaso. E no se pode julgar o trabalho simplesmente por aquilo que foi dito nos cursos ou nos seminrios. Primeiramente, eu tive que ir alm do fctico, levando isso aos seus extremos, de modo que pudesse fazer da facticidade enquanto tal um problema. As indicaes formais, a crtica da usual doutrina do a priori, a formalizao e assim por diante: tudo isso ainda presente para mim, mesmo que eu no fale mais sobre isso agora. (HEIDEGGER, 2007, p. 302)3.

    O termo formale Anzeige e expresses semelhantes aparecem em diversas passagens de Ser e Tempo, ainda que sem uma explicao completa de seu significado4. Mas para a apresentao do carter indicativo-formal da investigao presente na obra fundamental perceber, para alm dessas passagens especficas, como o prprio modo de procedimento segue o aspecto incompleto da indicao formal: Heidegger apresenta os conceitos de maneira provisria e mostra como eles ganham uma concretizao ao longo de sua anlise. Tal anlise segue o caminho indicado pelo conceito provisrio e com isso confirma a efetividade ou no deste. A possibilidade de reviso ou mesmo de rejeio da definio inicial do conceito um dos aspectos fundamentais do mtodo indicativo-formal.

    Podemos perceber esse aspecto da investigao heideggeriana se notarmos a analogia entre as indicaes formais e o chamado crculo hermenutico5. Segundo Heidegger, no se trata de um crculo vicioso, mas sim de um crculo de compreenso necessrio. No h outro procedimento possvel: temos de partir da nossa pr-compreenso de ser para poder buscar um sentido para o que significa ser. Assim como ocorre com as indicaes formais, h um ponto de partida ainda obscuro (o conceito no clarificado de ser) que indica a direo (a anlise do ente que compreende o ser) para buscar uma compreenso completa do fenmeno.

    3 Traduo nossa, como as demais.

    4 SZ. p. 53, 114, 116, 117, 179, 231, 313 e 315. Ser e Tempo, de agora em diante citado como SZ, nas pginas de acordo com o texto em alemo. Em citaes de passagens extensas, acrescentamos a paginao na traduo em espanhol utilizada como base para a traduo das passagens aqui citadas, ainda que um pouco modificada , alm da edio alem.

    5 Para uma anlise mais completa da noo de crculo hermenutico, ver Caputo (1987) e Bontekoe (1996).

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    Essa questo to importante que j no segundo pargrafo de Ser e Tempo Heidegger questiona a legitimidade do aspecto circular de sua argumentao: uma vez que foi estabelecido que o ponto de partida para investigar o sentido do ser ser a anlise do ser do ente que compreende o ser (Dasein)6, no haveria um crculo vicioso? Que coisa seno mover-se em um crculo determinar primeiro um ente em seu ser e, sobre essa base, querer formular em seguida a pergunta pelo ser? No se 'supe' previamente na elaborao da pergunta o que somente a resposta poder nos proporcionar? (HEIDEGGER, 2003, p. 18. SZ, p. 7).

    Ora, o crculo no vicioso por uma razo bastante simples: o que dispomos de antemo uma compreenso mediana e limitada de ser; ao partimos dessa compreenso inicial no pretendemos chegar a um resultado do qual j dispomos, mas sim encontrar um conceito explcito do sentido do ser, que constitua a compreenso completa que ainda no nos acessvel. A semelhana com as indicaes formais de fato bastante evidente: em seu procedimento metodolgico oferecido um caminho para seguir so indicados os passos adequados da investigao , mas ao longo da prpria investigao os conceitos iniciais ganham novas formas e significados, crescendo em complexidade e s ento confirmando se o caminho inicial era adequado. Ao fim do percurso, no possumos os mesmo conceitos do incio, mas sim conceitos mais complexos e ricos.

    Mas, como alerta Heidegger no pargrafo 32, o decisivo no sair do crculo, mas sim entrar no crculo da forma correta (HEIDEGGER, 2003, p. 156. SZ, p. 153). Essa ressalva fundamental, pois, assim como ocorre com as indicaes formais, o conceito provisrio de que dispomos inicialmente e o modo como seguiremos sua indicao no so elementos aleatrios e indiferentes ao resultado da investigao. Se, por exemplo, tomamos o conceito inicial em um sentido obscuro ou ficamos presos ao seu significado provisrio, certamente no obteremos um resultado adequado; nesses casos, o crculo de fato seria vicioso, pois em um caso no samos do ponto de partida e em outro voltamos ao mesmo lugar do incio. O crculo hermenutico satisfatrio ser aquele que funciona como uma espiral: estamos sempre indo alm do ponto inicial, mas mantemos uma estrutura adequada que coerente com o ponto de partida.

    6 Devido pluralidade de tradues em portugus para o termo e as confuses que podem gerar,

    optamos por no traduzir o termo Dasein.

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    Heidegger volta a tratar do crculo hermenutico no pargrafo 63, onde realiza uma anlise do procedimento metodolgico at ento utilizado, com a inteno de deixar claro quais so os fundamentos e consequncias da ontologia fundamental desenvolvida ao longo de Ser e Tempo:

    Mas mesmo a ideia de existncia formal e existenciariamente no vinculante leva consigo um contedo ontolgico determinado, embora no explcito, que () pressupe uma ideia do ser em geral. () Mas, no temos de esclarecer a ideia do ser em geral por meio da elaborao da compreenso do ser que prpria do Dasein? No entanto, esta no pode ser originariamente compreendida a no ser sobre a base de uma interpretao originria do Dasein feita atravs da ideia de existncia. No resulta, ento, inteiramente evidente que o problema da ontologia fundamental se move em um crculo? (HEIDEGGER, 2003, p. 307. SZ, p. 314).

    Com essa nova formulao do crculo hermenutico, Heidegger pretende apontar para outra caracterstica fundamental desse procedimento, que sua relao com o prprio modo de ser do Dasein. O crculo existe no por um mero acaso ou por uma falha da investigao filosfica, mas sim devido ao tipo de compreenso que caracterstica do Dasein: este ente possui um modo peculiar de ser, que o leva a estar sempre antecipado em relao a si mesmo, pois projeta-se em direo s suas possibilidades. Do mesmo modo, o Dasein no um ente neutro em relao sua situao atual, pois seu contexto histrico e suas concepes prvias determinam aquilo que ele , assim como suas escolhas em relao s possibilidades futuras. De fato, negar o crculo hermenutico ignorar o tipo de compreenso que constitui o modo de ser fundamental do Dasein; negar, ocultar ou querer superar o crculo equivale a consolidar definitivamente esse desconhecimento (HEIDEGGER, 2003, p. 307. SZ, p. 315).

    Tambm nesse aspecto o crculo hermenutico que marca a anlise de Ser e Tempo semelhante s indicaes formais: o mtodo indicativo-formal mantm uma clara relao com o Dasein concreto, pois exige deste uma postura filosfica especfica que est em consonncia com seu modo de ser. De fato, a conformidade entre os procedimentos no um mero acaso: a indicao formal essencialmente hermenutica e circular e, por trs da justificao do crculo hermenutico em Ser e Tempo, est o prprio mtodo indicativo-formal que serve de base para a formulao dos conceitos filosficos da obra.

    Boedeker aponta para um aspecto interessante da relao entre indicao formal e crculo hermenutico:

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    (...) eu no posso compreender o significado de uma indicao formal ontolgica at que eu mesmo tenha realizado o que ela demanda. At que eu tenha feito isso, no existe nenhuma instncia de ser realizada para que eu observe, e ento no posso ver o que ela demanda. Por outro lado, no posso realizar intencionalmente o que a indicao formal demanda a no ser que eu tenha compreendido o que ela demanda! A compreenso das asseres ontolgicas envolve, portanto, um segundo tipo de 'crculo hermenutico': no entre a compreenso de ser implcita do Dasein e a sua interpretao ontolgica explcita, mas sim entre o significado dos termos ontolgicos e o fenmeno que eles indicam (BOEDEKER, 2005, p. 165).

    Ora, a prpria indicao formal apresenta uma circularidade: ao contrrio de procurar estabelecer um mtodo rgido de definio conceitual, onde um termo permanece o mesmo durante toda a anlise, Heidegger procede de modo a permitir uma transformao no conceito utilizado inicialmente. Porm, a mudana conceitual que permitida no pode ser aleatria, pois isso resultaria em uma completa instabilidade para o discurso filosfico. O que ocorre um crculo no vicioso, onde o conceito que serve de indicao formal aponta para uma direo onde a anlise filosfica ir se desenvolver. Porm, durante seu desenvolvimento, possvel que o conceito indicativo acabe por mostrar suas falhas ou outros elementos que no estavam visveis ao princpio e que podem ser ento explicitados, a partir de uma nova apropriao do conceito.

    Um exemplo de aplicao do mtodo: a anlise do modo de ser do Dasein como indicao formal

    Uma vez que j realizamos uma exposio mais geral do aspecto indicativo-formal de Ser e Tempo, especialmente atravs do crculo hermenutico, interessante agora apresentar um exemplo concreto de aplicao do mtodo. claro que, devido dificuldade da obra, no ser possvel realizar uma longa anlise de diversos conceitos, mas tomar um conceito particular como exemplo certamente esclarecedor para o entendimento do funcionamento das indicaes formais, assim como do projeto heideggeriano desse perodo. Nesse sentido, nos parece apropriado analisar a maneira como Heidegger busca estabelecer o modo de ser do Dasein, pois esta uma questo central em Ser e Tempo e permite uma observao esclarecedora do modo de utilizao do mtodo.

    J no pargrafo 4, Heidegger aponta para a necessidade de perceber que no se pode definir adequadamente a cincia sem considerar sua relao com o Dasein: para o filsofo, a cincia um tipo de comportamento do homem e por isso tem o modo de ser

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    deste ente. O Dasein um ente privilegiado, pois aquele que compreende o ser. Assim, para analisar a questo sobre o sentido do ser, o primeiro passo ser analisar o ente que compreende o ser. Como esclarece Heidegger: ser necessrio aclarar de forma provisria esse carter eminente do Dasein. Para isso, a discusso ter que antecipar anlises posteriores, que somente ento sero propriamente demonstradas (HEIDEGGER, 2003, p. 22. SZ, p. 12). O aspecto indicativo formal aqui claro: primeiro ocorre uma anlise provisria e somente depois haver uma demonstrao do que foi indicado inicialmente.

    Ao modo de ser do Dasein, enquanto ente que compreende o ser e est aberto para suas possibilidades de ser, Heidegger reservar o termo existncia (Existenz)7. Na medida em que o Dasein possui uma compreenso de ser, ele pode compreender no somente seu ser, mas tambm o ser de outros entes. Nesse sentido, qualquer ontologia parte necessariamente do Dasein. Conforme o prprio filsofo destacou, a noo de existncia e outros conceitos somente ganharo um esclarecimento completo ao longo

    das anlises posteriores. Heidegger esclarece tambm, no pargrafo seguinte, que ao desenvolver a

    analtica existencial do Dasein, no se pode perder de vista a pergunta pelo sentido do ser, pois essa questo que serve de guia para toda a anlise e que estabelece quais so seus limites. A inteno no elaborar uma ontologia completa do Dasein como pretenderia uma antropologia filosfica , mas sim apenas apontar as estruturas fundamentais para a elaborao da questo sobre o sentido do ser. Assim, a anlise ser incompleta e, uma vez que possui o carter de uma indicao formal a anlise do Dasein no somente incompleta, mas tambm provisria, pois em um primeiro momento apenas se esclarecer o ser deste ente, sem dar uma interpretao completa de seu sentido. Mas, assim que tenhamos alcanado este horizonte [para a interpretao do ente], a anlise preparatria do Dasein dever ser repetida sobre uma base mais alta, propriamente ontolgica (HEIDEGGER, 2003, p. 28. SZ, p. 17).

    No pargrafo 9, Heidegger esclarece, ainda que provisoriamente, alguns aspectos sobre o modo de ser do Dasein. Em primeiro lugar, o Dasein um ente que

    7 Segundo Inwood (2002, p. 58): Devido sua confuso de dois tipos de SER, ser-o-que e ser-como, Heidegger ocasionalmente sugere que a nica caracterstica do Dasein ser, i.e., existir no sentido tradicional. Porm a Existenz o modo de ser de Dasein, no o fato de que ele : o Dasein responsvel por seu ser-como e no (exceto pela possibilidade de suicdio, que Heidegger raramente menciona) por seu ser-o-que.

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    lida a todo o momento consigo mesmo e com seu ser. Sua essncia s pode ser concebida a partir de sua existncia, a qual aponta para um modo de ser radicalmente diferente daquele dos entes simplesmente dados (Vorhandensein). Alm disso, o Dasein possui o carter de ser-cada-vez-meu (Jemeinigkeit), pois seu ser jamais algo indiferente a ele, mas algo com o qual este ente deve lidar constantemente de um modo ou outro. O carter indicativo-formal dessa anlise reafirmado e esclarecido em diversas passagens posteriores, como vemos no pargrafo 12:

    Nas consideraes preliminares (9) j destacamos algumas caractersticas de ser que esclarecero a investigao posterior, mas que, ao mesmo tempo, recebero nela sua concretizao estrutural. O Dasein um ente que em seu ser se comporta de maneira a compreender este ser. Com isso fica indicado o conceito formal de existncia [Damit ist der formale Begriff von Existenz angezeigt]. O Dasein existe. O Dasein , alm disso, o ente que sou cada vez eu mesmo. (HEIDEGGER, 2003, p. 62. SZ, p. 53).

    Ora, as consideraes preliminares permitem a exposio da indicao formal do conceito de existncia. Tal conceito, por possuir essa caracterstica, guiar a investigao realizada posteriormente (ao indicar o caminho adequado) e, ao mesmo tempo, encontrar nela sua concretizao. Pois ao seguir a indicao, como vimos, encontramos a realizao do conceito que foi empregado provisoriamente no incio da anlise.

    Uma retomada explcita dessa questo aparece no pargrafo 25, quando Heidegger volta a tratar do modo de ser do Dasein, relembrando novamente que a resposta pergunta acerca de quem este ente (o Dasein), j foi aparentemente dada com a indicao formal (formalen Anzeigen) das determinaes fundamentais do Dasein (9) (HEIDEGGER, 2003, p. 119. SZ, p. 114). Se partirmos da caracterstica desse ente de ser sempre pertencente a si mesmo, poderemos notar como isso aponta para uma estrutura ontolgica, na mesma medida em que contm a indicao ntica de que o Dasein a cada vez um determinado eu. Perguntar pelo quem do Dasein sempre apontar para o eu ao qual ele corresponde em cada caso. Esse eu algo que mantm uma identidade, apesar das mudanas e multiplicidade de vivncias pelas quais passa. A despeito da diversidade de fenmenos e experincias com as quais nos defrontamos, sempre vivenciamos tudo a partir de uma posio determinada, a partir de nosso eu.

    Heidegger questiona, porm, em que medida sua anlise sobre o eu no corre o risco de ser limitada pela aparente evidncia e clareza da auto-interpretao do Dasein. O filsofo alerta que o 'eu' deve ser entendido somente como uma indicao formal

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    (formalen Anzeige)8 (HEIDEGGER, 2003, p. 121. SZ, p. 116) e, portanto, questionar sua interpretao inicial e aparentemente bvia fundamental para o processo. Conforme havia sido analisado anteriormente (especialmente nos pargrafos 9 e 12), h a indicao de que no parece ser possvel conceber um eu sem um mundo e tampouco um eu isolado de outros eus. assim que se mostra a interpretao do Dasein a partir de sua cotidianidade. Porm, esta constatao fenomnica no deve nos induzir a considerar a estrutura ontolgica do que assim 'dado' como algo bvio e que no necessita de uma investigao maior (HEIDEGGER, 2003, p. 121. SZ, p. 116), ao contrrio, devemos questionar a validade dos dados fenomnicos iniciais, embora tenham sido eles que guiaram toda a anlise.

    O fundamental perceber que a prpria indicao formal do eu do Dasein aponta para o modo como a anlise deve ser interpretada:

    () das indicaes formais (formalen Anzeigen) dadas mais acima (9 e 12) acerca da estrutura de ser do Dasein, exerce a funo [de ser o fio-condutor da questo], no tanto esta de que se falou at aqui, quanto aquela segundo a qual a 'essncia' do Dasein se funda em sua existncia. Se o 'eu' uma determinao essencial do Dasein, ento dever ser interpretada existencialmente. A pergunta pelo 'quem' somente poder ser respondida mostrando fenomenologicamente um determinado modo de ser do Dasein (HEIDEGGER, 2003, p. 122. SZ, p. 117).

    Assim, as indicaes formais inicialmente consideradas devem ser explicitadas a partir de uma interpretao existencial. Embora no seja possvel desenvolver aqui uma longa exposio do desenvolvimento dessa questo pois isso implicaria a anlise de diversos conceitos de Ser e Tempo e da relao entre eles , interessante ressaltar

    8 Sobre tomar o eu como um conceito de carter indicativo-formal, comenta Arenhart (2004, p. 289): [Heidegger] trata do 'eu' no contexto da anlise da funo significante (Bedeutungsfunktion) dos pronomes. Os pronomes, includo o 'eu', so 'indcios formais'. Prontamente isso quer dizer que sua funo lgico-semntica invarivel no a de representar gneros/classes de coisas ou de estado-de-coisas, ou seja, no so expresses classificatrias. Alm disso, tambm 'eu' funciona como um 'indcio formal' que, cada vez que usado, preenchido com outro contedo, ou seja, por sua mediao, outro falante atual se refere em cada caso a si mesmo (p. 297). Trata-se aqui das chamadas expresses essencialmente ocasionais, que Husserl desenvolve na primeira das Investigaes Lgicas. Tais expresses relacionam-se em muitos aspectos com as indicaes formais, como o fato de s poderem ser compreendidas quando se considera seu contexto especfico. Segundo Van Buren: No desenvolvimento de sua noo de 'indicao formal', Heidegger pegou o termo Anzeige, indicao, da teoria dos sinais da Primeira Investigao de Husserl, 'Expresso e Significado', sobre a qual Heidegger ministrou seminrios formais e informais no comeo dos anos 20. Inclusive havia um participante, Gnther Stern, que submeteu para Husserl em 1924 uma dissertao sobre 'O Papel da Categoria da Situao nas Proposies Lgicas', na qual ele utilizou as leituras de Heidegger do conceito de indicao das 'expresses ocasionais' de Husserl (VAN BUREN, 1994, p. 328).

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    algumas consideraes do aspecto indicativo-formal das noes que analisamos, tal como aparecerem no pargrafo 63.

    Heidegger passa a analisar o carter metodolgico da analtica existencial, percebendo a estrutura da sua investigao e tornando explcitas algumas questes que perpassaram toda a pesquisa. Como observa logo a princpio: o caminho percorrido at aqui pela analtica do Dasein se converteu em uma demonstrao concreta da tese que ao comeo foi somente formulada: o ente que somos ns mesmos o mais distante ontologicamente (HEIDEGGER, 2003, p. 303. SZ, p. 311). Isso se explica pelo prprio modo de ser do Dasein e a estrutura do cuidado (Sorge)9: enquanto um ente que se reconhece como um eu no mundo, o Dasein possui responsabilidade e preocupao consigo mesmo e com as coisas e pessoas que lhe so caras; ao perceber a si mesmo e sua situao concreta, o Dasein um ente que est jogado junto aos entes do mundo, ao mesmo tempo em que se projeta em relao s suas possibilidades futuras e que faz parte de um mundo significativo que j existia antes dele. Ao ocupar-se com as coisas do mundo em sua cotidianidade, o prprio modo de ser do Dasein parece ficar encoberto e faz dele ontologicamente mais distante que outros entes (como esses que servem de ocupao).

    A confirmao de teses iniciais como o caso desta que analisamos mostra de maneira exemplar o aspecto indicativo-formal da analtica existencial: diversas teses e conceito que ao incio haviam sido somente formulados ganham uma demonstrao concreta atravs da analtica. Conforme j dissemos, o contrrio tambm possvel: muitas vezes a investigao nos leva a reformular ou mesmo descartar as formulaes provisrias iniciais. Isso no significa uma falha na anlise, mas justamente demonstra sua efetividade e capacidade de revisar os erros.

    Heidegger confirma novamente o aspecto indicativo-formal de sua investigao, ao mostrar que sua direo estabelecida de antemo por aquilo que o conceito inicial indica: j est tudo iluminado, ainda que de modo crepuscular, pela luz de uma ideia 'previamente suposta' de existncia; do mesmo modo, tambm a ideia inicial possui algo que a guia, pois a indicao formal (formale Anzeige) da ideia de existncia se guiava pela compreenso de ser que se encontra no prprio Dasein (HEIDEGGER,

    9 No cabe aqui desenvolver essa noo. Ver SZ, 12, 41, 42, 43, 63, 64, 65.

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    2003, p. 305. SZ, p. 313). Com isso Heidegger pretende deixar claro que a estrutura indicativa-formal de toda anlise provm justamente do modo de ser do Dasein:

    No teria essa pressuposio [da ideia de existncia e do ser em geral] o carter de um projetar compreensivo, de tal maneira que a interpretao na qual esse compreender ocorre comea ao dar a palavra justamente quele mesmo que ser interpretado, a fim de que ele decida desde si mesmo se ele proporciona, enquanto tal ente, a constituio de ser com vistas ao qual ele foi aberto no projeto formalmente-indicativo (Entwurf formalanzeigend)? H outra maneira na qual esse ente tome a palavra com respeito ao seu ser? Na analtica existencial o crculo na prova no pode sequer ser evitado, posto que ela no prova nada segundo as regras da lgica de inferncia. O que a compreenso comum quer eliminar, a fim de evitar o crculo e acreditando atingir a mxima rigorosidade da investigao cientfica, nada mais do que a prpria estrutura fundamental do cuidado (HEIDEGGER, 2003, p. 306-7. SZ, p. 314-5).

    Assim, devemos reconhecer que o que guiou toda a anlise foi justamente o carter peculiar da compreenso de ser do Dasein. Da mesma maneira que o modo de ser do Dasein parecia encobrir a investigao, tambm devido ao seu modo de ser e de acordo com esse modo, que a anlise pode ser esclarecida. Aqueles que tentam evitar o crculo pensando que ele sinal de uma investigao sem cientificidade , acabam, na verdade, por eliminar a estrutura do cuidado, sem a qual no podemos compreender o modo de ser do Dasein e tampouco levar a anlise adiante. Como Heidegger reafirma diversas vezes, o prprio filosofar antes de tudo um tipo de comportamento do Dasein.

    Concluso

    Diante dessa exposio, podemos perceber que o uso da indicao formal esteve presente na elaborao dos conceitos de Ser e Tempo, ainda que Heidegger utilize o termo formale Anzeige sem um desenvolvimento detalhado. Em verdade, sem a compreenso do carter indicativo formal dos conceitos presente na obra, muito difcil definir que tipo de mtodo a encontramos. Ao mesmo tempo em que o filsofo continua usando expresses tpicas da fenomenologia e filiando sua obra a tal corrente, evidente seu distanciamento do mtodo de Husserl. De fato, a apropriao da hermenutica evidenciada claramente pelo conceito de crculo hermenutico uma fonte de inovao que impossibilita compreender a obra heideggeriana como dentro do escopo da fenomenologia transcendental tal como desenvolvida por seu mestre.

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    Em verdade, o que estava em questo na busca por uma fenomenologia hermenutica e pelo mtodo indicativo-formal era mais do que um interesse por apontar para o carter interpretativo da filosofia. Heidegger estava, de fato, questionando a prpria filosofia, no somente em sua histria (enquanto filosofia da tradio), mas tambm em suas possibilidades mais fundamentais. O que estava em jogo no era apenas o trabalho por definir as dificuldades, erros ou acertos do mtodo husserliano e saber modificar a fenomenologia mantendo o que havia de interessante, mas antes, buscar em meio a isso um campo genuno para o filosofar enquanto uma atividade do Dasein. Ser e Tempo , acima de tudo, a grande elaborao sistemtica de uma longa reflexo filosfica que culminou em um novo mtodo filosfico.

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