1097 MCR O Literario e Politico Revista Tintas

6

Click here to load reader

description

interessante artigo

Transcript of 1097 MCR O Literario e Politico Revista Tintas

  • O literrio poltico.A leitura em voo rasante de alguns tpicos

    da obra de Joo Paulo Borges Coelho

    MARGARIDA CALAFATE RIBEIROCentro de Estudos Sociais, Universidade de CoimbraCtedra Eduardo Loureno, Universidade de Bolohna

    [email protected]

    A fantasia escreve a crnica.Jos Luandino Vieira

    Numa reflexo sobre a Memria das Guerras Moambicanas, apresentada no Cen-tro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Joo Paulo Borges Coelho adver-te, logo de incio que, no curto espao de cerca de trinta anos Moambique viveu duas guerras praticamente sucessivas. A primeira que se configura como uma Guerra de Li-bertao (1964-1974) envolvendo as foras armadas coloniais portuguesas e uma frente nacionalista, FRELIMO (Frente de Libertao de Moambique) criou as condies para a independncia nacional, a que se seguiu a revoluo socialista1. A segunda, de natureza difusa, difcil de classificar e de designar por um nome consensual, mas ainda filha no s da primeira, como tambm de todo o contexto da Guerra Fria e do Apartheid da vizinha frica do Sul, devastou todo o territrio moambicano ao longo de dezasseis anos, tendo comeado em finais da dcada de 1970 e durou at 1992, acentuando ainda mais a diviso do pas, como bem mostrou Joo Paulo Borges Coelho no seu romance de identificao de um pas (a expresso do historiador portugus Jos Mattoso) que As Duas Som-bras do Rio2. Em 1992 com a assinatura do Acordo de Paz, mediado pelas Naes Unidas, ps-se fim ao esgotamento e estrangulamento do pas e foram criadas condies para as

    1 Conferncia proferida no Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra, 5 de Julho, 2007. Mo-ambique ascendeu independncia em Junho de 1975, tendo a FRELIMO assumido o poder.

    2 Joo Paulo Borges Coelho, As Duas Sombras do Rio, Lisboa, Caminho, 2003.

    Tintas. Quaderni di letterature iberiche e iberoamericane, 2 (2012), pp. 13-18. issn: 2240-5437. http://riviste.unimi.it/index.php/tintas

    IBEROAFRICA

  • Tintas. Quaderni di letterature iberiche e iberoamericane, 2 (2012), pp. 13-18. issn: 2240-5437. http://riviste.unimi.it/index.php/tintas

    Margarida Calafate RibeiroO literrio poltico. A leitura em voo rasante de alguns tpicos da obra de Joo Paulo Borges Coelho

    14

    IBEROAFRICA

    mudanas, rumo ao multipartidarismo e democracia. Assim a memria recente dos moambicanos, e do nosso escritor em particular, que tinha vinte anos no ano da inde-pendncia, 1975, est povoada por um quotidiano atingido pela guerra, nas suas vrias e violentas vertentes e configuraes. Se a isto juntarmos toda a violncia poltica, social e epistmica do longo momento colonial e das suas heranas no Estado ps-independncia, a herana dos moambicanos pesada, e tambm por isso, ou seja, para lidar com o peso da histria que simultaneamente o quotidiano das pessoas que a narrativa da nao se liga e se legitima no momento crucial da luta de libertao que trouxe a independncia, como momento fundador da nao e de inquestionvel glria. Para alm de tudo aquilo que aparentemente interno, esta a narrativa que se ope e se constitui como alternativa narrativa colonial e que assim, e num primeiro momento, coloca sob suspeita a histria nica de que nos fala a escritora nigeriana Chimamandana Adichie, na sua j muito ci-tada conferncia de Oxford, The danger of a single story3, referindo-se hegemonia da narrativa histrica e literria produzida a partir da Europa.

    Assim, a Guerra de Libertao constitui a grande narrativa-marcha contra o colonia-lismo e foi desta forma que a lngua portuguesa, que foi a lngua da opresso colonial, se tornou tambm a lngua da emancipao, inscrita numa literatura que denuncia o colo-nialismo e a explorao e anseia pela liberdade para depois se afirmar como uma literatura de combate. A histria da luta e a literatura que a alimenta, constitui assim o mago da narrativa identitria do pas, mas tambm e simultaneamente do regime da FRELIMO que assume o poder na independncia e se afirma como a nica fora capaz de liderar a misso de construir a nao rumo ao socialismo. E foi assim que, nos primeiros anos de inde-pendncia, em nome da criao de um homem novo, se uniformizaram diferenas entre povos, culturas, religies e modos de estar e se foi produzindo uma narrativa-histria mais preenchida por heris ficcionados do que orgnicos, por acontecimentos mais falseados que reais, por fantasias que ia ocultando fantasmas. Os acontecimentos assim narrados e legitimados pelo poder e pelos seus protagonistas transformam-se em mito, apreendido desde a escola, e em pouco tempo esta narrativa nacional, de inimigo concretamente iden-tificvel (o colonialismo portugus) ganha uma feio de verdadeira mitologia coletiva nacional, em que o individual a memrias dos guerrilheiros, por exemplo, que vm por vezes perturbar este discurso homogneo, inquestionvel e escolar fica submerso num discurso coletivo, que comea a excluir mais do que incluir, a silenciar mais do que a nar-rar, a ficcionalizar mais do que a historicizar. A histria como a cincia que tem a funo de narrar e activar a pluralidade das narrativas, fica suspensa, porque, como nos mostra bem Eduardo Loureno, o mito no histria, mas a imagem da histria. E a prpria ideia de consenso gerada em volta da narrativa nacional, faz parte do mito, que assim silencia outras possveis narrativas e o silncio torna-se o grande campo do poder. Mas, como diz o escritor angolano Manuel Rui, o silncio uma fala: ele revela a tenso da histria com o poder, da memria pblica com a memria privada. E aqui que entra a literatura, com as suas estrias em que a verosimilhana muitas vezes toda a verdade, como dizia Machado de Assis, ou os testemunhos dos guerrilheiros, maioritariamente orais, que na

    3 Disponvel em: http://www.ted.com/talks/chimamanda_adichie_the_danger_of_a_single_story.html (documento consultado: 15/08/2012).

  • Tintas. Quaderni di letterature iberiche e iberoamericane, 2 (2012), pp. 13-18. issn: 2240-5437. http://riviste.unimi.it/index.php/tintas

    Margarida Calafate RibeiroO literrio poltico. A leitura em voo rasante de alguns tpicos da obra de Joo Paulo Borges Coelho

    15

    IBEROAFRICA

    sua funo inicial de testemunho, interrogam a memria oficial denunciando o perigo da histria nica por ela construda e provocando a tenso socialmente necessria entre a memria individual e a memria oficial, abrindo o caminho para a pluralidade de nar-rativas. Todavia, em Moambique utilizando exatamente o mesmo tipo de suporte o testemunho - tm vindo a dar estampa algumas memrias-narrativas de nomes ligados aos primeiros governos da FRELIMO, que vm pela via do testemunho-memria acentuar, mas tambm individualizar e matizar a metanarrativa, pretensamente coletiva, construda pela FRELIMO. Esta linha, iniciada por Jacinto Veloso em Memrias de um Voo Rassante (2007) e continuada, por exemplo, por Srgio Vieira com Participei, por isso testemunho (2010) coloca em questo a prpria funcionalidade da literatura-testemunho surgida na sua essncia para dar voz queles que no tm ou no tiveram voz na histria que viveram, de que na poca comtempornea, so exemplos primordiais os testemunhos de sobrevi-ventes do Holocausto ou de muitas outras formas de excluso como foram, por exemplo, os regimes ditatorais da Amrica do Sul. Que silncio que estes testemunhos-memrias pretendem preencher? Ou que outro silncio pretendem construir? Ou ainda que rudo pretendem introduzir em relao narrativa nacional da luta e da Guerra de Libertao por eles protagonizada?

    Outro porm o silncio produzido pela guerra civil. De facto, esse um silncio colectivo, sem prvio acordo, mas aparentemente consensual. No h ainda em Moam-bique uma narrativa da guerra civil, uma guerra sem nome, sem heris e sem batalhas. Para o poder, ela fractura e acusa a vulnerabilidade da narrativa da Guerra de Libertao e portanto da nao, e, no limite, do prprio regime que com ela se legitimou como a nica forma de poder para levar a cabo as conquistas da independncia e da revoluo; para os antigos oposicionistas ela inconfessada e inconfessvel; para os vizinhos regionais, nomedamente a frica do Sul, ela agita dessassossegados fantasmas; para a comunidade internacional, mais uma guerra dos orfos africanos da Guerra Fria. Em Moambique, na sua configurao poltica atual de domnio eleitoral da FRELIMO, a guerra civil o fantasma ntimo da narrativa da nao, que no se consegue reelaborar pelo menos em inimigo complementar, como habitualmente dizem os franceses. E aqui que entra a literatura moambicana ps-independncia, que no resiste narrao: Babalaze das Hie-nas, de Jos Craveirinha, Terra Sonmbula de Mia Couto, Ventos do Apocalipse, de Paulina Chiziane, vrias vozes poticas e, muito particularmente, a escrita acadmica e a escrita literria de Joo Paulo Borges Coelho, questionam este desencontro com a histria, ao mesmo tempo, que se manifestam pela responsabilidade tica e poltica de assegurar as condies essenciais ao direito de narrar e de promover a pluralidade da narrao, com-batendo assim o perigo da outra histria nica, para retomar a perspectiva da escritora nigeriana j citada, Chimamanda Adichie, relativamente narrativa colonial e s outras histrias nicas. assim que a literatura moambicana ps-independncia vem preencher o vazio historiogrfico para usar uma expresso de Roberto Vecchi, num outro con-texto na sua capacidade de inscrever na histria a estria de uma personagem, e assim inibir os silncios e denunciar os sonoros rudos. Estria de uma persongem, registo de um ambiente, percepo de uma geografia, celebrao de um amor, que alterou a histria do mundo, mas que de outro modo ficaria submerso no grande curso da histria. Nesta medida a literatura pode tornar-se um inimigo ntimo da histria, ou numa leitura mais apaziaguadora um amigo complementar, dependendo dos contextos em que actua. Mas

  • Tintas. Quaderni di letterature iberiche e iberoamericane, 2 (2012), pp. 13-18. issn: 2240-5437. http://riviste.unimi.it/index.php/tintas

    Margarida Calafate RibeiroO literrio poltico. A leitura em voo rasante de alguns tpicos da obra de Joo Paulo Borges Coelho

    16

    IBEROAFRICA

    os textos que ela produz sero sempre um espao de desinquietao dos seres, de reinter-rogao do espao, de desarrumao do discurso histrico esperado e de tenso entre uma memria individual, por ela tambm representada, e a memria pblica de que o discurso histrico de sentido nico tambm faz parte.

    Como defende Rita Chaves, sem fazer romance histrico, Joo Paulo revela-se pre-ocupado com alguns elementos que fazem parte do reino de sua outra funo, entre os quais destaca-se o universo da memria4. Mas Joo Paulo Borges Coelho no actua na recuperao de tempos histricos antigos como o seu colega Mia Couto fez em O Outro P da Sereia ou Ungulani Baka Khosa em Ualalapi. O tempo da escrita de Joo Paulo Borges Coelho o intenso presente ou um passado prximo que se manifesta e perturba o pre-sente, enquanto herana que activa as mudanas de um pas e assim que a sua escrita se ergue no universo da literatura moambicana atual como um exerccio contra o esqueci-mento e um questionamento dos mltiplos silncios historiogrficos por via da literatura. Este sem dvida o seu territrio de caa e desde os seus primeiros escritos a tenso entre literatura-histria-memria enforma os seus textos, maioritariamente situados num con-texto ps-independncia.

    O primeiro romance de Joo Paulo Borges Coelho, As Duas Sombras do Rio (2003) , para os meus olhos europeus, ocidentais, um trabalho de antrpologo em literatura que abre o campo da literatura moambicana, mais referenciada e produzida a Sul, a outros espaos, outros povos, outras vozes e outros arquivos do pas. Mas no no trao colonial de procura de um exotismo ou da tradio que ali veria o bero de identidades perdidas. Trata-se antes de um apelo poltico a uma Nova Geografia ps-guerra civil para usar o eco do pronunciamento do gegrafo brasileiro Milton Santos que acolhe as diversi-dades de Moambique no como um problema a eliminar, como nos primeiros anos da revoluo, mas como uma riqueza a resgatar. Uma nova Geografia no apenas portanto na senda de Milton Santos, mas na absoluta necessidade de re-cartografar e re-identificar um pas: Indcos Indcios, nas suas duas latitudes I Setentrio e II Meridio vai prosseguir esta misso cartogrfica com as estrias que compem a histria e sobretudo com a recuperao da memria dos lugares. Mas provavelmente ser Campo de Trnsito a narrativa mais iminentemente poltica e trgica de Joo Paulo Borges Coelho, em que o autor interpela a histria e o poder. Campo de Trnsito a narrativa possvel de uma socie-dade que exerce as maiores violncias em nome de uma utopia, a partir do facto histrico nunca mencionado do que foram os campos de reeducao em Moambique e de todos os campos de concentrao do mundo e do trauma que estes espaos inscreveram na sociedade, narrado atravs do seu personagem J. Mungau, que sem entender levado para um campo, onde se torna o prisioneiro 15.6 de um espao onde se formavam (ou deforma-vam) seres, sem memria, e portanto sem resistncia, ficando merc dos mais fortes. O grau de vulnerabilidade em que as pessoas se encontravam face a um poder que se exerce arbitrariamente sobre elas denuncia os limites ticos e humanos do poder e a entrada na irracionalidade de que os dirigentes do campo so representantes. E assim que, a meu ver e de forma muito breve neste ensaio, a escrita de Joo Paulo Borges Coelho se afirma tambm como o lugar das subjectividades da histria, pelo reconhecimento de que tam-

    4 Rita Chaves, Notas sobre a fico e a histria em Joo Paulo Borges Coelho in Margarida Calafate Ribeiro, Maria Paula Meneses, Moambique - Das palavras escritas, Porto, Afrontamento, 2008, p. 193.

  • Tintas. Quaderni di letterature iberiche e iberoamericane, 2 (2012), pp. 13-18. issn: 2240-5437. http://riviste.unimi.it/index.php/tintas

    Margarida Calafate RibeiroO literrio poltico. A leitura em voo rasante de alguns tpicos da obra de Joo Paulo Borges Coelho

    17

    IBEROAFRICA

    bm as subjectividades do sujeito fazem parte do andamento da histria e, no limite, a fazem regressar marcha pela humanidade. semelhana de Campo de Trnsito que lida com o impacto do poder socialista na vida das pessoas, tambm em Crnica da Rua 513.2 a narrativa centra-se no impacto do ps-independncia na cidade de Maputo na vida das pessoas, com a sada dos colonos portugueses, e do seu sentimento de perda, e o realoja-mento dos moambicanos numa rua de colonos e o seu sentimento de ganho. Aqui, nesta rua que um micro-cosmos de um pas em acelerada transformao, vo desenhar-se as construes de novos poderes e de novas vulnerabilidades face ao poder, agora no mais o poder colonial mas o poder que liderou a independncia. Mas enquanto Campo de Trn-sito nos d a cartografia de um espao de excluso da nova nao habitado por identidades fundadas pelo silncio, Crnica da Rua 513.2 mete em cena personagens comuns que vo reagindo ao estado suspenso da histria que os fundadores / heris da nao independente lhes vo proporcionando integrar e interpretar, ao mesmo tempo que excluem da nova nao os antigos colonos. Em ambos a inquietude e a vulnerabilidade dos seres e da sua condio face ao poder nas suas vrias, pequenas e grandes, expresses.

    As terras de Moambique, que o poeta Eduardo White apresenta como uma janela para o Oriente e Eduardo Loureno v como uma varanda sobre o ndico, constituem a janela de observao do mundo de Joo Paulo Borges Coelho, a partir da qual reflete sobre os temas que enformam a sua obra - o poder, a condio humana, a memria dos actos e dos rastos, dos caminhos e dos trilhos. Estas terras de Moambique foram e continuam a ser espaos de encontro de pessoas, de culturas, de memrias e de esquecimentos. Estes encontros, rematando rotas martimas e continentais milenares, e unindo povos, lnguas, religies e saberes, so o fermento do tecido social do Moambique5 que a obra de Joo Paulo Borges Coelho ajuda a resgatar e a compreender, como pas criado pela moderni-dade colonial europeia, e portuguesa em particular, que emerge para uma independncia marcada pela luta e pela guerra. Desta forma a obra de Joo Paulo Borges Coelho uma obra que est sendo escrita espera da Histria, representando na literatura moambicana uma literatura de fundao virada para o futuro, como a literatura de Mia Couto tambm o , e, para usar um exemplo muito clssico, mas da minha paixo, como o texto camo-niano foi e ainda pode ser para a nao portuguesa. Pelos temas que aborda e sobretudo pela maneira como os aborda, a obra de Joo Paulo Borges Coelho questiona a sociedade moambicana sobre os seus protocolos de recordao e esquecimento, ou seja, sobre o que fica consensualizado como o que se deve recordar e o que se deve esquecer. Denuncia o silncio que este consenso gera, e nessa medida, uma obra que exige do regime demo-craticamente eleito uma democracia com memria, pois Joo Paulo Borges Coelho no renuncia liberdade de ser, de escrever e de assim tecer os outros lados dos outros da Histria.

    5 Texto reelaborado a partir do texto que escrevi com Maria Paula Meneses, Cartografias literrias in-certas e que constituiu a introduo do livro que organizmos Moambique Das palavras escritas, Porto, Afrontamento, 2008.

  • Tintas. Quaderni di letterature iberiche e iberoamericane, 2 (2012), pp. 13-18. issn: 2240-5437. http://riviste.unimi.it/index.php/tintas

    Margarida Calafate RibeiroO literrio poltico. A leitura em voo rasante de alguns tpicos da obra de Joo Paulo Borges Coelho

    18

    IBEROAFRICA

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    Adichie, Chimamanda, The danger of a single story, in http://www.ted.com/talks/chimamanda_adichie_the_danger_of_a_single_story.html (documento consultado: 15/08/2012).

    Chaves, Rita, Notas sobre a fico e a histria em Joo Paulo Borges Coelho, in Margarida Calafate Ribeiro Maria Paula Meneses, Moambique - Das palavras escritas, Porto, Afrontamento, 2008.

    Coelho, Joo Paulo Borges, As Duas Sombras do Rio, Lisboa, Caminho, 2003., ndicos Indcios Setentrio, Lisboa, Caminho, 2005., ndicos Indcios Meridio, Lisboa, Caminho, 2005., Crnica da Rua 513.2, Lisboa, Caminho, 2006., Campo de Trnsito, Lisboa, Caminho, 2007.