10º Boletim Informativo POR OUTRAS PALAVRAS Novembro 2012
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POR OUTRAS PALAVRAS
Boletim Informativo N.º 10, Novembro 2012
POR OUTRAS PALAVRAS?
No dia 16 e 17 de Outubro de 2012 decorreu, em Almeria, a 4ª
Reunião de Parceria e a Conferência Final do Projeto In Other
Words, que tratou o tema da: “Discriminação na imprensa do
século XXI: o desafio dos media”. Esta conferência, além da
apresentação dos principais resultados das Unidades Locais de
Análise nos vários países do projecto, contou com a presença de
diversos especialistas na área dos media e da discriminação, tais
como: Ruby Ortiz, Conselheira da ONU para a Diversidade Cul-
tural, Elena Gijón, Directora de Notícias da Radio Onda Cero,
Mayte Carrasco, dos Jornalistas sem Fronteiras e Marcos Cam-
pos, Produtor Cinematográfico.
Boletim Informativo n.º 10—Novembro de 2012
Monitorização: De 28 de Setembro a 31 de Outubro de
2012, foram monitorizados diariamente 10 jornais de
referência: 3 de âmbito regional (Campeão das Províncias,
Diário As Beiras e Diário de Coimbra) e 7 de âmbito
nacional (Diário de Notícias, Jornal I, Jornal de Notícias,
O Expresso, O Público, Primeiro de Janeiro e Sol).
Nesta edição:
1 - Editorial
2 e 3 - Pela Positiva
4 - Pela positiva
5 - Visibilidade, Visibilidade
6 - Racismo
7 - Racismo, Xenofobia
8 e 9 - Xenofobia, Xenofobia
10 - Xenofobia e Estereótipos
11 - Estereótipos
12—Formação SOS Racismo
IN OTHER WORDS é um projecto financiado com o apoio da Comissão Europeia. A informação contida nesta publicação (comunicação)
vincula exclusivamente o autor, não sendo a Comissão responsável pela utilização que dela possa ser feita.
Visita ao parceiro da Estónia, Tallinn University
Página 2 POR OUTRAS PALAVRAS
pela positiva A notícia ‘Memorial ao Holocausto dos ciganos já existe mas discriminação continua’ pretende
relatar a edificação e inauguração de um monumento em homenagem aos ciganos e às ciganas
vítimas do holocausto nazi. Esta notícia, que dá visibilidade e consequentemente reconhecimento
às atrocidades cometidas contra as
populações ciganas durante o nazis-
mo, é destacada pela positiva, não só
pela visibilidade mas também pela
relação que estabelece entre passado
e presente, entre história e legado,
traçando uma linha de continuidade e
trazendo para o debate a discrimina-
ção racial, particularmente, contra as
populações ciganas, como um proble-
ma central das sociedades contempo-
râneas europeias. A abertura deste
debate é conseguida através de uma
descrição consequente dos aconteci-
mentos históricos, espelhando o racis-
mo larvar que os determinou: ‘o geno-
cídio dos ciganos nos campos de mor-
te nazis teve as mesmas motivações
racistas e desejo de extermínio que
moveram os nazis contra os
judeus’ (sic). Neste sentido, há ima-
gem do que aconteceu há muito com as populações judaicas, é essencial que a memorialização do
holocausto passe pelo reconhecimento das atrocidades cometidas contra as populações ciganas no
sentido de acabar com um silêncio histórico prolongado – argumenta-se que a visibilização de
determinados acontecimentos históricos permite discutir os seus legados e as suas consequências
no presente. Deste modo, o artigo chega mesmo a ser provocador quando evidencia que este não-
reconhecimento (dos factos até ao momento) não pode ser visto ou justificado enquanto um reflexo
da pouca quantidade de população cigana na Europa - dado que estes são a maior minoria da
Europa - insinuando, de certa forma, que tal se pode relacionar mais com o facto de serem a mino-
ria mais pobre e amplamente discriminada actualmente no espaço geopolítico europeu.
(Continua na página seguinte…)
in O Público, 25/10/2012
N.º 10, Novembro 2012 Página 3
(Continuação)
O artigo é claro na explicitação de que há uma relação, entre o passado e o presente, uma linha,
um legado racista enquanto fenómeno histórico que perpassa diferentes espaços e instituições
até ao presente: emprego, habitação, mobilidade, entre outras. Simultaneamente, espelha bem a
contradição entre o discurso (designadamente o de Angela Merkel na inauguração do memorial -
‘A homenagem às vítimas pressupõe também uma promessa, a de proteger uma minoria, um
dever de hoje e de amanhã’ (sic) e a prática, uma vez que ‘A Alemanha, a braços com uma enor-
me vaga de pedidos de asilo de cidadãos dos Balcãs - a maioria deles ciganos, não só recusa a
maior parte, como é dos países da UE que está a tentar repor a obrigatoriedade de vistos para
entrar na zona Schengen aos naturais dos países balcânicos’ (sic). Enfatize-se que, no entanto,
após relacionar ‘o crescimento do racismo em relação aos ciganos’ (sic) com a crise, o artigo acaba
por apontar alguns países como o principal foco do problema, o que se avizinha pouco interessan-
te e mesmo complicado, uma vez que o racismo deve ser entendido e problematizado enquanto
fenómeno político e estrutural, transversal a todas às sociedades contemporâneas para poder ser
combatido como tal.
pela positiva
Alega-se que este conjunto de notícias se deve
considerar no sentido em que ambas visibilizam
de forma bastante positiva a questão da homo-
parentalidade, contribuindo para a proliferação
de um debate informado e anti-homofóbico na
sociedade portuguesa, numa altura em que os
casais viram já concedido o seu direito a casar
mas não à adopção de crianças. Dado que este
debate é muitas vezes impugnado utilizando o ‘interesse da criança’, enfatiza-se que em ambas as
notícias o melhor interesse da criança, é relevado. Este interesse da criança que se alia aqui à
adopção por parte do casal, é ainda legitimado, num dos casos, pelo psicólogo Daniel Sampaio uma
vez que este afere que não há nenhum estudo científico que afira que a orientação sexual dos edu-
cadores tenha uma influência negativa na criança. E, neste sentido, naturaliza-se a adopção de
crianças independentemente da orientação sexual dos pais. Destaque-se, igualmente, que os dois
artigos ponderam a opinião de activistas, académicos e associações, desenhando um quadro com-
pleto e complexo do tema em discussão e permitindo uma discussão informada sobre o tema.
(Continua na página seguinte…)
pela positiva
in Jornal de Notícias, 12/10/2012
Página 4 POR OUTRAS PALAVRAS
pela positiva (Continuação)
Cada uma das contribuições
contribuiu para alargar o argu-
mento e conferir importância ao
acontecimento. Em relação às
imagens que ilustram os artigos
argumenta-se que o Jornal de
Notícias se revela bastante ade-
quada na medida em que apre-
senta o casal em contexto de
homoparentalidade. Pelo con-
trário, a imagem do Público
revela-se bastante descontex-
tualizada e não acrescenta nada
à discussão.
Destaque-se ainda que no Público, embora se evoque
a ideia de que esta decisão só aconteceu porque
‘caiu’(sic) nas mãos de um juiz que já veio expressar
a público a sua opinião favorável à adopção, a notí-
cia mostra bem as contradições latentes na opinião
publica de várias figuras quando denota que ‘Na
reportagem da SIC, uma deputada do PSD que diz
ter votado contra a adopção por casais homosse-
xuais, afirma que ‘neste caso concreto’, que conhece
de perto, por ser amiga de Eduardo Beauté, não tem
dúvidas em aplaudir a decisão do juíz’ (sic).
in Jornal de Notícias, 12/10/2012
in O Público, 12/10/2012
N.º 10, Novembro 2012 Página 5
visibilidade
Esta notícia foi seleccionada para a secção de visibilidade no sentido
em que expressa a falta de vontade política em fixar cotas para
mulheres em lugares de relevo em grandes empresas na União
Europeia. A linguagem utilizada realça a ideia de esforço e de impe-
dimento de concretização dos objectivos da proposta: ‘foi forçada’,
‘obrigará a’ (sic), dando a ideia de que este processo de instauração
de cotas se afigura como um campo de batalha, denotando não só a
presença de um sexismo estrutural ao nível das instancias mais
altas de poder, demonstrando que se trata de uma questão política e
ideológica, de perpetuação e protecção da ordem vigente. Deixa
igualmente claro qual a função das quotas explicando que, caso con-
trário a relativa equidade entre mulheres e homens não acontecerá
nas próximas décadas. Destaque-se também o recurso ao argumento
dos benefícios que a contratação de mulheres significa para as
empresas - ‘demonstraram que a nomeação de mulheres para cargos
executivos é altamente benéfica para as respectivas empresas’ - que
se acredita não ser o mais adequado, uma vez que os direitos devem
ser atribuídos independentemente dos ditames do mercado.
Esta notícia está em des-
taque pelo facto de que
assinala o carácter
excepcional de um acon-
tecimento como estes,
reiterando a existência
de uma discriminação estrutural no contexto sociopolítico
brasileiro. No mesmo lance, ilustra bem a confrontação
entre dois discursos: mérito e discriminação. Enquanto
que o jornalista enfatiza o mérito do sujeito, o sujeito
enfatiza a transversalidade e a persistência da discrimi-
nação estrutural e o seu impacto na esfera social de opor-
tunidades.
visibilidade
in O Público, 24/10/2012
in O Público, 12/10/2012
Página 6 POR OUTRAS PALAVRAS
Este conjunto de notícias procura reportar, em ambos os casos, acusações a dois astrólogos. Ora, a
primeira notícia - ‘Professor Bambo Acusado de Extorquir em Consultas’ - é destacada numa secção
do jornal denominada ‘Segurança’ e procura descrever ao detalhe toda a situação, enfatizando um
conjunto de dados sobre a vida do alegado arguido, o espaço e o ambiente em que tinham lugar as
consultas de astrologia, bem como as pessoas que trabalham com o professor Bambo. Denote-se que
as pessoas são des-
critas como ‘dois
indivíduos de raça
negra e de forte
constituição para
além de uma fun-
cionária (...)’ (sic),
o que impele ques-
tionar a ênfase
dada aos atributos
físicos dos ‘dois
indivíduos’, ques-
tionando o porquê
da relevância da
descrição dos indi-
víduos para a
situação em causa.
Acrescente-se que a notícia - publicada três dias depois - ‘‘Astrólogo’ burlou mulher a quem prome-
teu ‘expulsar os demónios’’ opta por descrever o astrólogo como ‘jovem africano’. Assim, não deixa de
ser questionável o porquê da menção da cor da pele (no primeiro caso), do continente de origem (no
segundo caso), o que parece conduzir à tentativa de estabelecer uma ideia de perfil ‘racial’. Acres-
cente-se também a falta de precisão de ambas as descrições, designadamente, através do uso do
conceito de ‘raça’ – dado tratar-se de um termo obsoleto -, e de África ser um continente com 54
estados independentes reconhecidos, 2 estados que auto-declararam independência mas não são
totalmente reconhecidos, dois territórios com dependência externa e sete territórios administrados
por países não africanos.
(Continua na página seguinte…)
racismo
in Jornal de Notícias, 15/10/2012
Página 7 POR OUTRAS PALAVRAS
(Continuação)
Se admitirmos ainda as diversidades sociais, culturais, linguísticas, económicas e políticas de cada
um dos estados, denota-se que as caracterizações produzidas são de cariz essencialista e consequen-
temente perigoso. Deste modo, argumenta-se que afirmar que ‘(...) um africano de 23 anos, usou um
estratagema muito
comum neste tipo de bur-
las, prometendo solucio-
nar problemas a troco de
elevadas quantias.’ (sic)
contribui para traçar
uma gramática racista
que relaciona africanos,
negros e astrologia a
‘burla’ - o que se afigura
bastante problemático
num quadro mediático que (re)constrói sistematicamente a figura do estrangeiro como criminoso e
que constrói o espaço português como cultural e ‘racialmente’ homogéneo, excluindo a diversidade
que o constituiu e permitindo o traçar de um conjunto de falácias na forma de entender o espaço
geográfico, político e social.
racismo
xenofobia No quadro das notícias publicadas no decorrer do mês de Outubro, resolveu-se elaborar uma análise
de conjunto sobre a menção da nacionalidade ou da etnia dos sujeitos envolvidos nos acontecimen-
tos noticiados, problematizando a relação que se estabelece com a ideia de grupo relacionado. De
modo geral, as notícias que se seguem contribuem para a (re)criação da ideia de que existem redes
mafiosas ligadas ao fenó-
meno da imigração e que
actuam na Europa de for-
ma sistemática, reiteran-
do a narrativa que insiste
em re-imaginar a ligação
entre imigração e crime.
(Continua na página seguinte…)
in Diário de notícias, 20/10/2012
in Expresso, 23/10/2012
Página 8 POR OUTRAS PALAVRAS
A primeira notícia, ‘Hamidovic, o clã dos miúdos que roubam a Europa’ privilegia - sobretudo na
escolha do título - um determinado recorte no assunto noticiado que nos parece bastante discutível
já que decide enfatizar que estas crianças são carteiristas - ‘(...) há um
clã de miúdos que rouba a Europa (...)’-, como se se tratasse de uma
opção das criança, omitindo inicialmente que estas crianças são parte
de uma rede de exploração e de tráfico humano’: ‘Esta organização cri-
minosa assenta no tráfico e ‘distribuição’ de várias centenas de meno-
res dos Balcãs, a esmagadora maioria raparigas entre os 12 e os 16
anos, por vários países europeus onde são obrigados a roubar carteiras
em locais turísticos criteriosamente escolhidos’ (sic). Além do mais, a
notícia enfatiza a ideia de que a Europa – construída, uma
vez mais, como espaço homogéneo - está constantemente sob
ameaça de estrangeiros que ‘roubam a Europa’ (sic) de forma
organizada e sistemática, ‘ao estilo mafioso’ (sic). Afere-se
ainda que a menção da nacionalidade e da ‘etnia’ das crian-
ças é criticável uma vez que contribui para uma operação
mental e política racista que relaciona ciganos (rom), imi-
grantes e crime, reafirmada também pela ideia de ‘clã’ e de
‘linhagem’ que, de alguma forma, reconduz o leitor a uma
ideia de familiaridade entre os ‘membros’, e contribui para a
construção de um ‘outro’
que se opõe ao ‘nós’. Na
mesma linha da anterior,
a segunda notícia corrobo-
ra e reforça o imaginário
da anterior já que apresen-
ta a ideia de uma ‘rede de
máfia chinesa em Portugal’ (sic). A narrativa que estabelece a relação entre imigração e criminali-
dade continua na notícia ‘Romenos assassinos vão ser julgados no Tribunal de Mira’ através da
referencia (desnecessária) e do destaque dado à nacionalidade dos indivíduos, numa situação em
que a mandatária do crime. A notícia ‘Taxar imigrantes aumenta riscos’, embora inicialmente pre-
tenda alertar para o direito á saúde, acaba por reiterar a ideia de que as doenças são o principal
problema dos imigrantes, designadamente as infecciosas: ‘Doenças infecciosas como o VIH, tubercu-
lose e sexualmente transmissíveis são alguns dos principais problemas das populações imigran-
tes’ (sic). (Continua na página seguinte…)
xenofobia
in Expresso, 23/10/2012
in Diário de Notícias, 15/10/2012
in Diário de Coimbra, 06/10/2012
Página 9 POR OUTRAS PALAVRAS
(Continuação)
Este texto pode contribuir para acordar o fantasma que associa doenças e ‘estrangeiro’ - constituin-
do o ‘imigrante’ como um potencial perigo (viral), espalhado por vários pontos da Europa, relacio-
nando o aumento de infecções em alguns países com a imigração (sic), o que se considera bastante
problemático. Além do mais, deve notar-se que uma das causas nomeadas em alguns estudos sobre
esta questão apontam para o facto de que, alguns casos de doença, se relacionarem com a exclusão
social e a pobreza em que algumas pessoas vivem, devendo portanto ser discutidas no âmbito da
discriminação institucional perpetrada, em grande parte pelos próprios estados.
Por sua vez a notícia ‘Os chineses que se
cuidem com ele’, afigura-se como proble-
mática no sentido em que o título - des-
cendente de declarações de José Castelo
Branco na apresentação da intenção de
se candidatar à Câmara Municipal de
Sintra - elabora uma argumentação
xenófoba que pretende ‘acabar com as
lojas de chineses’ (sic). Ora, é duvidosa
por um lado a visibilidade dada ao caso
mas também o facto de toda a notícia se
encontrar na secção artes & vidas e utili-
zar um tom jocoso que tende banalizar e
a despolitizar um conjunto de afirmações
xenófobas, que deveriam ser discutidas
de outra forma. Argumenta-se que estas
declarações nada têm de humorístico ou
irónico, não cabendo aos media naturali-
zá-las, acabando por veiculá-las.
Por fim, acredita-se que este conjunto de notícias elabora um quadro amplo das representações
mediáticas sobre a imigração na imprensa escrita e que contribuem para uma visibilização negativa
da imigração. Acredita-se que os media - principais oradores do discurso público - devem apurar um
sentido de responsabilidade maior face a um conjunto de pessoas que migrou, nasceu e colabora na
construção diária do espaço social, cultural, geográfico e económico em que vivemos e que devem ser
respeitadas.
xenofobia
in Jornal de Notícias, 25/10/2012
Página 10 POR OUTRAS PALAVRAS
Esta notícia é produzida no sentido de assi-
nalar a promulgação das alterações à Lei da
Imigração em vigor, em Portugal. Estas alte-
rações, já discutidas em boletins informati-
vos anteriores, são alterações amplamente
criticadas por um conjunto de instituições
nacionais e internacionais, uma vez que con-
tribuem para criminalizar a imigração e deli-
mitar uma mobilidade que se afigura cada
vez mais reduzida e controlada. O que se
releva discutível nesta notícia é o tipo de
recorte que a corporaliza, no sentido em que
a mesma reproduz a ligação entre criminali-
dade e imigração, excepto quando menciona ‘imigrantes qualificados laboralmente’ (sic), criando a
ilusão de que a lei penaliza somente a criminalidade no geral e que não se trata de uma lei crimina-
lizadora e discriminatória que penaliza imigrantes e todos/as aqueles/as que os/as auxiliarem.
Argumenta-se que é responsabilidade dos media, se a tal se propuserem, sintetizarem a totalidade
das realidades de um facto e não uma mera perspectiva sobre o mesmo, no sentido de permitir a
formação de uma opinião pública consciente.
estereótipos
xenofobia A notícia que se segue reporta, através de um comunicado do SEF, o
‘resultado de uma fiscalização em conjunto com a PSP feita (...) aos passagei-
ros dos comboios nas estações do Rossio e Campolide, em Lisboa. O SEF iden-
tificou 531 passageiros e notificou 12 estrangeiros para comparecerem no ser-
viço [de Estrangeiros e Fronteiras]’ (sic). A existência desta notícia revela não
só a proximidade dos media na difusão de acções policiais a partir da perspec-
tiva da polícia (os seus comunicados), como, acima de tudo, deixa por questio-
nar os métodos utilizados pela polícia (SEF e PSP) durante estas operações de
identificação, em particular, a hipótese de estas identificações se basearem no
prefilamento racial (racial profiling) - uma prática conhecida de discriminação
racial (dado que se trata de um método de identificação altamente discrimina-
tório) contestado por um conjunto de movimentos sociais. in O Primeiro de Janeiro,
in O Público, 08/10/2012
Página 11 N.º 10, Novembro 2012
Página 11 POR OUTRAS PALAVRAS
estereótipos Esta notícia dá conta da variação dos índices de criminalidade violenta no país, com especial desta-
que para a cidade de Lisboa. No entanto, o que se procurará problematizar aqui não é tanto o texto
da notícia mas sim a imagem que a acompanha. Na imagem podemos vislumbrar a presença da
polícia de intervenção num bairro que a legenda traduz como o Bairro do Casal da Mira, na Amado-
ra.
Ora, o que fica por explicar é a escolha desta imagem para ilustrar a notícia, uma vez que noutras
publicações sobre o mesmo tema em que são referidos os territórios, não consta nenhum bairro da
Amadora. Considera-se que esta escolha contribui para a perpetuação da construção de representa-
ções mediáticas negativas sobre determinados espaços, sistematicamente associados à violência e à
criminalidade pelos media e, consequentemente, pelas audiências. Como resultado, as acções vio-
lentas levadas a cabo pela polícia nestes espaços - tal como aquela que se testemunha na imagem -
são facilmente legitimadas perante a opinião pública, o que é preocupante.
in Diário de Notícias 26/10/2012
com António Guterres; no dia 6
(sábado) “Antirracismo, entre
dimensão cromática e estratégia
política: que alianças e o exemplo
dos “Black Panthers”, dinamizada
por Mamadou Ba, Jackilson Perei-
ra e LBC, “Criminalização da imi-
gração”, com Nuno Silva, Ana Car-
la Ferreira e Mónica Catarino e,
finalmente, “Memória”, com
Manuel Loff, Miguel Cardina e
Nuno Dominguos. No dia 7, reali-
zou-se a Assembleia Geral do SOS
Racismo, em que, para além do
debate de várias questões ligadas
à actividade, nacional e internacio-
nal desta associação, foram eleitos
os novos corpos gerentes.
Espera-se que a forma muito posi-
tiva como decorreram as sessões,
sempre com uma intensa troca de
informações e um debate muito
vivo, tenha resultados significati-
vos da acção do SOS Racismo, na
medida em que os seus activistas
ficarão mais apetrechados para
intervirem na realidade social con-
tra as diversas discriminações,
que, infelizmente, têm vindo a tor-
nar-se cada vez mais agressivas
para os cidadãos e famílias em
maior situação de fragilidade: imi-
grantes, moradores em bairros
sociais, entre outros.
Mais informações em:
http://sosracis.wordpress.com
Nos passados dias 5, 6 e 7 de
Outubro, realizaram-se as jorna-
das anuais de formação do SOS
Racismo, na Quinta da Fonte
Quente, na Tocha.
Como vem sendo habitual, conver-
giram naquele local algumas deze-
nas de activistas das causas anti-
discriminatórias, provenientes
principalmente de Lisboa, Porto,
Aveiro e Coimbra. Foram tratados
diversos temas nas seis sessões
previstas no programa: no dia 5,
6.ª feira, “Os Media e as discrimi-
nações”, apresentada por Carla
Duarte, do IEBA e dinamizadora
do projeto Europeu ‘In Other
Words’ em que o SOS Racismo
participa e por Carla Cerqueira,
da Universidade do Minho e da
UMAR, “Os ciganos e a escola”,
com Luís Braga e Ana Cruz e “A
intervenção social nos bairros’,
sugestões de leitura
Página 12 N.º 10, Novembro 2012
- SOS Racismo (org.) (2001), Ciganos: números, abordagens e realidades, Lisboa: SOS Racismo.
- Filme - Cabral, Bruno (2010), “20 ANOS A QUEBRAR TABUS”. Lisboa: SOS Racismo.
- SOS Racismo (org.) (2005), IMIGRAÇÃO E ETNICIDADE: VIVÊNCIAS E TRAJECTÓRIAS DE MULHERES EM PORTUGAL, Lisboa:
SOS Racismo.
na internet
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Conheça a política e actividades da Comissão Europeia na área da Justiça em: http://ec.europa.eu/justice/index_en.htm
créditos Edição: IEBA Centro de Iniciativas Empresariais e Sociais, Novembro 2012
Revisão: ULAI Unidade Local de Análise de Imprensa - APPACDM Coimbra, APAV, GRAAL, NÂO TE PRIVES, SOS RACISMO
Contactos: IEBA Parque Industrial Manuel Lourenço Ferreira, Lote 12 - Apartado 38, 3450-232 Mortágua, [email protected]
Formação SOS Racismo 5, 6 e 7 de Outubro - Tocha