11 a Atuação Do Enfermeiro No Controle de Infecção Hospitalar No Estado Do Paraná

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANSETOR DE CINCIAS DA SADE

    PROGRAMA DE PS GRADUAO EM ENFERMAGEMMESTRADO ACADMICO ENFERMAGEM

    A ATUAO DO ENFERMEIRO NO CONTROLE DE INFECO HOSPITALARNO ESTADO DO PARAN

    CURITIBA

    2007

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    MARIA EMLIA MARCONDES BARBOSA

    A ATUAO DO ENFERMEIRO NO CONTROLE DE INFECO HOSPITALARNO ESTADO DO PARAN

    Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado emEnfermagem, Programa de Ps - Graduao emEnfermagem, Setor de Cincias da Sade, daUniversidade Federal do Paran, como parte dasexigncias para obteno do ttulo de Mestre emEnfermagem.rea de Concentrao Prtica Profissional deEnfermagem

    Orientadora: Prof Dr. Denise Siqueira de Carvalho

    CURITIBA2007

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    BARBOSA, Maria Emlia MarcondesA atuao do Enfermeiro no Controle de Infeco no Paran / Maria Emlia

    Marcondes Barbosa. Curitiba, 2007.120f.: il.

    Orientadora: Prof. Dr. Denise de Siqueira CarvalhoDissertao (Mestrado em Enfermagem) Setor de Cincias da Sade,

    Universidade Federal do Paran.

    1. Prtica do profissional enfermeiro. 2. Controle de infeco hospitalar. 3.Servio de controle de infeco hospitalar. I. Ttulo.

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    AGRADECIMENTOS

    A Deus, presena majoritria em todos os momentos da minha vida.

    professora Dr Denise de Siqueira Carvalho, que aceitou o desafio de me orientar, sempreacolhedora e comprometida, ensinou-me a ver os problemas com os olhos da cincia.

    Ao meu esposo Joo e s minhas filhas Rbia e Indira pelo apoio, compreenso e carinho que mededicaram nessa trajetria.

    Aos enfermeiros das CCIH do Paran, que aceitaram o desafio de participar desta pesquisa.

    s professoras: Dr Rbia Aparecida Lacerda, Dr Maria de Ftima Mantovani e Dr Mariluci Maftum,participantes da banca que muito contriburam na concluso deste estudo.

    amiga Maria Francisca (a Chica) e a sua famlia, pelo estmulo.

    colega e amiga Maria Cristina pelo apoio.

    s colegas da turma de Mestrado, em especial a Sandra, a Anice e a Luciana, que se tornaramamigas e companheiras de todas as horas.

    Ao Marcos que, de paciente sob meus cuidados, tornou-se amigo e contribuiu para eu conhecer ooutro lado da infeco hospitalar.

    SESA, na pessoa de Ana Maria Perito Manzochi, pelas valiosas informaes e apoio.

    Universidade Federal do Paran, Setor de Cincias da Sade e todos os colaboradores, queparticiparam da minha caminhada.

    Chefe do Departamento de Enfermagem da UNICENTRO Maria Lcia Raimondo e Direo daFaculdade Guairac.

    A todos que de uma forma ou de outra contriburam para que eu chegasse at aqui.

    Muito obrigada.

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    H homens que lutam um dia e so bons.H outros que lutam um ano e so melhores.

    H os que lutam muitos anos e so muito bons.Porm, h os que lutam toda a vida.

    Esses so os imprescindveis.

    Bertolt Brecht.

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    RESUMO

    BARBOSA, M. E. M. CARVALHO, D.S.A atuao do enfermeiro no controle de infeco hospitalarno Estado do Paran.Curitiba, 2007. 120f. Dissertao (Mestrado em Enfermagem) Programa de Ps

    Graduao, Universidade Federal do Paran.

    Trata-se de um estudo quantitativo descritivo e transversal. Objetivou conhecer a atuao do enfermeiro noControle de Infeco Hospitalar no Estado do Paran. Foi aprovado pelo comit de tica seguindo aResoluo 196/96 do Conselho de Sade. A coleta de dados foi de julho a setembro de 2007, comoinstrumento, utilizou-se um questionrio auto-aplicado enviado via web e correio a todos os enfermeiros doServio de Controle Infeco Hospitalar das instituies hospitalares do Paran que se ajustaram aoscritrios de incluso: cem ou mais leitos. Participaram da pesquisa 56,5% da populao alvo. Informaram

    sobre a caracterizao das instituies quanto forma de prestao de servio, tempo de constituio daComisso de Controle de Infeco Hospitalar e organizao do servio de controle de infeco hospitalar. Osdados apontaram que a prtica desenvolvida na rotina do enfermeiro do Servio de Controle de InfecoHospitalar se concentra na implantao do sistema de vigilncia epidemiolgica (100%); em investimentosem educao continuada, (84,6%); na adequao, implementao e superviso de normas e rotinas (100%)e no fornecimento de parecer tcnico para a aquisio de materiais e equipamentos mdico-hospitalares(73%). Constatou-se que somente 7,6% dos participantes divulgavam as taxas de infeco hospitalar eapenas 3,8% dos enfermeiros estavam envolvidos com programas de imunizao do staff profissional. Asprincipais dificuldades identificadas foram a sobrecarga de trabalho (51,7%), a falta de compromisso edespreparo dos profissionais (58,6%) e a desvalorizao do servio pelos enfermeiros assistenciais (10,3%).Os fatores que facilitaram a atuao do enfermeiro foram o apoio da administrao nas tomadas de decises(27,5%), adeso da equipe de enfermagem s orientaes (20,6%), experincia e conhecimento tcnico(20,6%), aceitao e respeito do corpo clnico (20,6%). Os dados mostraram que as atividades do enfermeiroso norteadas pela Portaria MS n 2.616/98, porm existe falta de tempo hbil para execut-las de formaeficiente. Ressaltou a dificuldade da incorporao dos enfermeiros assistenciais na funo primria depreveno como hbito, bem como de outros profissionais. Evidenciou o papel vigilante do enfermeiro doSCIH, e a necessidade da incorporao de prticas que no centralizem a responsabilidade do controle deinfeco hospitalar apenas num grupo especfico de profissionais, e sim que a preveno dessas infecesseja foco de todas e em todas as reas estimulando o desenvolvimento dessa como uma cultura. O estudotrouxe tona as interfaces da atuao do enfermeiro do Servio de Controle Infeco Hospitalar, no Estadodo Paran e pode contribuir tanto para o desenvolvimento de novas linhas de ao no mbito do controle deinfeco em nvel Estadual, como com a prpria atuao do enfermeiro, pela socializao dos resultados,estimulando-os no aperfeioamento de seu trabalho.

    Palavras-chave: Prtica do profissional enfermeiro. Controle de infeco hospitalar. Servio de controlede infeco hospitalar.

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    ABSTRACT

    BARBOSA, M. E. M. CARVALHO, D.S. The role of nurses in the control of nosocomial infectionParan of state. Curitiba, 2007. 120pg. Dissertation (Masters Degree in Nursing) Post-GraduationProgram in Nursing, Universidade Federal do Paran.

    This is a descriptive and quantitative cross-sectional study. The nurse role in the Hospital Infection Controlin hospitals of the state of Paran was the objective of the study. It was approved by the ethics committee,following the Resolution 196/96 of the Council of Health. The data collection occurred from July toSeptember 2007, using a questionnaire self-applied sent via web and mail to nurses that work at HospitalInfection Control Service in all institutions of Paran that adjusted to the inclusion criteria: one hundred ormore beds. From the target population, 56.5% participated. They informed about the characterization of

    the institutions on how to provide service, time of formation of the Commission of Control of HospitalInfection and organization of the service of nosocomial infection control. The data showed that thepractice developed in the routine of the nurse focuses on the development of the epidemiologicalsurveillance (100%); continuing education, (84.6%), the adequacy, implementation and supervision ofrules and routines (100%) and the provision of technical advice for the purchase of materials andequipments (73%). It was found that only 7.6% of the participants inform the rates of hospital infection andonly 3.8% of the nurses were involved with programs of immunization of the staff. The main problemsidentified were the work overload (51.7%), lack of commitment and preparedness of the professionals(58.6%) and the underestimation of the importance of the service (10.3%). The factors that contribute toimprove the performance of the nurses were: the support of the administration (27.5%), attachment of thenursing staff to the guidelines (20.6%), experience and technical knowledge (20.6%), acceptance andrespect of the colleagues (20.6%). The data showed that the activities of the nurses are guided by OrderNo 2.616/98 MS, but there is lack of time to implement them efficiently. It was shown also the difficulty ofintroducing the primary prevention in the nursing care practice, as well as in other professionals practices.The role of surveillance of the SCIH nurse was emphasized, but it showed also the need for sharing theresponsibility of the control of nosocomial infection with other groups of professionals, and prevention ofthese infections should be the focus of all and in all areas. The study brought to light the interfaces of therole of nurse of the Hospital Infection Control Service, in the State of Paran, and the contribution to thedevelopment of new lines of action under the control of infection in the State level.

    Key words: Practice of professional nurses. Hospital Infection Control. Service Nosocomial InfectionControl.

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    LISTA DE GRFICOS

    GRFICO 1 CARGA HORRIA DISPENSADA PELOS PROFISSIONAIS MDICOS NOSCIH DAS INSTITUIES PARTICIPANTES DAPESQUISA....................................................................................................... 52

    GRFICO 2 CARGA HORRIA DISPENSADA PELOS ENFERMEIROS NO SCIH DASINSTITUIES PARTICIPANTES DAPESQUISA....................................................................................................... 53

    GRFICO 3 CARGA HOSPITALAR DISPENSADA POR OUTROS PROFISSIONAIS NOSCIH DAS INSTITUIOES PARTICIPANTES DAPESQUISA....................................................................................................... 54

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    LISTA DE TABELAS

    TABELA 1 PRESENA DE SERVIOS DE ALTA COMPLEXIDADE NAS INSTITUIESPARTICIPANTES............................................................................................................. 48

    TABELA 2 DISTRIBUIO DOS HOSPITAIS PARTICIPANTES SEGUNDO A FORMA DEPRESTAO DE SERVIOS NO PARAN, 2007......................................................... 48

    TABELA 3 DISTRIBUIO DAS INSTITUIES PARTICIPANTES, SEGUNDO TEMPO DECONSTITUIO DA CCIH NO PARAN 2007............................................................ 50

    TABELA 4 DISTRIBUIO DOS PARTICIPANTES DO ESTUDO, SEGUNDO PERIODICIDADEDAS REUNIES DA CCIH NO PARAN - 2007............................................................. 50

    TABELA 5 DISTRIBUIO DOS ENFERMEIROS SEGUNDO O TEMPO DE ATUAO DOENFERMEIRO NO SCIH NO PARAN - 2007................................................................ 56

    TABELA 6 DISTRIBUIO DOS ENFERMEIROS QUE COMPEM O SCIH, SEGUNDO AFAIXA ETRIA NO PARAN - 2007............................................................................... 56

    TABELA 7 DISTRIBUIO DAS INSTITUIES DE ENSINO DA GRADUAO DOSENFERMEIROS DO SCIH PARTICIPANTES DO ESTUDO NO PARAN - 2007......... 57

    TABELA 8 DISTRIBUIO DOS PARTICIPANTES SEGUNDO AS RESPOSTAS DAS FORMASDE CONTATO COM O TEMA CCIH DURANTE A GRADUAO NO PARAN -2007................................................................................................................................. 58

    TABELA 9 DISTRIBUIO DOS ENFERMEIROS PARTICIPANTES SEGUNDO AQUALIFICAO PARA ATUAR EM CCIH NO PARAN 2007.................................... 59

    TABELA 10 DECISES COMUNS ADOTADAS PELOS ENFERMEIROS DO SCIH....................... 61

    TABELA 11 PRTICAS DESEMVOLVIDAS NA ROTINA DO ENFERMEIRO DO SCIH.................. 63

    TABELA 12 FATORES QUE DIFICULTAM A ATUAO DO ENFERMEIRO NO SCIH.................. 79

    TABELA 13 FATORES QUE FACILITAM A ATUAO DO ENFERMEIRO NO SCIH..................... 84

    TABELA 14 COMENTRIOS COMPLEMENTARES SOBRE A ATUAO DO ENFERMEIRO NOSCIH................................................................................................................................ 90

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    LISTA DE SIGLAS

    ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia SanitriaAPARCIH Associao Paranaense de Controle de Infeco HospitalarCAAE Certificado de Apresentao para Apreciao ticaAPECIH Associao Paulista de Estudos em Infeco HospitalarCESULON Centro de Ensino Superior de LondrinaCESCAGE Centro de Ensino Superior dos Campos GeraisCIH Controle de Infeco Hospitalar.CCIH Comisso de Controle de Infeco HospitalarCNES Cadastro Nacional de Estabelecimentos de SadeCDC Centers for Disease ControlCRECISS Comisso Regional de Controle de Infeco de Servios de SadeCME Centro de Materiais e EsterilizaoCMUISS Comisso Municipal de Infeco em Servios de SadeEEAN Escola de Enfermagem Ana NriEPI Equipamento de Proteo IndividualFEPAR Faculdade Evanglica do ParanGIPEA Gerncia de Investigao e Preveno de Efeitos AdversosHIV Human Imunodeficiency VirusIBGE Instituto Brasileiro de Geografia e EstatsticaIH Infeco HospitalarIES Instituio de Ensino SuperiorMS Ministrio da SadeNNISS National Nosocomial Infections SurvillanceOPAS Organizao Pan-Americana de Sade

    PCIH Programa de Controle de Infeco HospitalarPUC Pontifcia Universidade CatlicaRDC Resoluo da Diretoria ColegiadaSAS Secretaria de Assistncia SadeSCIH Servio de Controle de Infeco HospitalarSESA Secretaria de Estado da SadeSINAISS Sistema Nacional de Informaes para o controle de Infeces em Servios de SadeSUS Sistema nico de SadeUCISA Unidade de Controle de Infeco em Servios de SadeUEL Universidade Estadual de LondrinaUEM Universidade Estadual de MaringUEPR Universidade Estadual de Ponta GrossaUFPR Universidade Federal do Paran

    UFSM Universidade Federal de Santa MariaUNICENTRO Universidade Estadual do Centro OesteUNIOESTE Universidade Estadual do OesteUNIPAR Universidade ParanaenseUNOPAR Universidade Norte do ParanVE Vigilncia Epidemiolgica

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    SUMRIO

    1 INTRODUO................................................................................................ 13

    2 REVISO DA LITERATURA.......................................................................... 20

    2.1ASPECTOS HISTRICOS DO CONTROLE DE INFECO HOSPITALAR

    NO BRASIL, COM NFASE NO ESTADO DO PARAN.................................... 20

    2.2 O ENFERMEIRO NO CONTROLE DE INFECO HOSPITALAR.............. 26

    2.2.1 Diagnstico da infeco hospitalar (IH)...................................................... 27

    2.2.2 Identificao dos riscos de infeco hospitalar.......................................... 282.2.3 Inspeo da aplicao de tcnicas asspticas........................................... 29

    2.2.4 A evoluo tecnolgica e os princpios bsicos......................................... 30

    2.2.5 Aes de vigilncia sanitria...................................................................... 32

    2.2.6Medidas de isolamento............................................................................... 36

    2.2.7Disseminao das aes de preveno e controle de infeces............... 38

    2.2.8Notificao.................................................................................................. 39

    2.2.9 O ensino terico/prtico sobre o controle de infeco para todos os

    profissionais da instituio...................................................................................

    40

    3 MATERIAL E MTODO.................................................................................... 43

    3.1 TIPO DE ESTUDO........................................................................................... 43

    3.2 LOCAL DO ESTUDO....................................................................................... 43

    3.3 POPULAO................................................................................................... 44

    3.4 CRITRIOS DE INCLUSO........................................................................... 44

    3.5 PERODO DA COLETA DE DADOS................................................................ 44

    3.6 PROCEDIMENTOS.......................................................................................... 443.7 ASPECTOS TICOS....................................................................................... 45

    3.8 ANLISE DOS DADOS.................................................................................... 46

    4 RESULTADOS E DISCUSSO......................................................................... 47

    4.1 CARACTERIZAO DAS INSTITUIES...................................................... 47

    4.1.1 Comisso de Controle de Infeco Hospitalar............................................. 49

    4.1.2 Servio de Controle de Infeco Hospitalar.................................................. 51

    4.2 PERFIL DO ENFERMEIRO DO SCIH............................................................. 55

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    4.3 ATUAO DO ENFERMEIRO NO SCIH NO ESTADO DO

    PARAN................................................................................................................. 625 CONCLUSO..................................................................................................... 98

    6 CONSIDERAES FINAIS................................................................................ 101

    REFERNCIAS...................................................................................................... 104

    APNDICES.......................................................................................................... 112

    ANEXOS................................................................................................................ 118

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    1 INTRODUO

    As infeces hospitalares constituem um srio problema de sade pblica no

    Brasil e no mundo. So causa importante de morbidade e mortalidade relacionada a

    pessoas que se submetem a algum tipo de procedimento clnico-cirrgico como forma

    de tratamento.

    Na Lei Federal n. 8.080/1990 que dispe sobre as condies para a

    promoo, proteo e recuperao da sade, bem como a organizao e o

    funcionamento dos servios correspondentes, o Controle das Infeces Relacionadas Assistncia a Sade, tradicionalmente chamadas de Infeces Hospitalares, est

    considerado no mbito da epidemiologia. Definido como um conjunto de aes que

    proporcionam o conhecimento, a deteco ou preveno de qualquer mudana nos

    fatores determinantes da sade individual ou coletiva, tem a finalidade de recomendar e

    adotar medidas de controle e preveno das doenas e seus agravos (BRASIL, 1990a).

    Conhecer o evento e os determinantes das doenas e agravos sade

    importante para estimular aes para preveno. Desse modo, a infeco hospitalar oevento em questo, uma doena que consta na Classificao Estatstica Internacional

    de Doenas e Problemas Relacionados Sade (CID-10), sob o cdigo B99 doenas

    infecciosas, outras e as no especificadas e que so relacionadas freqentemente a

    eventos classificados sob os cdigos: Y95 - circunstncia relativa a condies

    nosocomiais (hospitalares); Y62 assepsia insuficiente durante a prestao de

    cuidados cirrgicos e mdicos; Y64- medicamentos ou substncias biolgicas

    contaminados e outros referentes a complicaes de assistncia mdica e cirrgica.

    Assim, a infeco hospitalar caracteriza-se como uma patologia causada na

    maioria das vezes por mltiplos microorganismos (bactrias, fungos, vrus) cuja

    progresso associa-se a vrios co-fatores. Para diagnosticar esse tipo de afeco

    necessria a utilizao de metodologias que possibilitem incorporar os vrios fatores,

    permitindo perceber a interferncia da multicausalidade da doena (LOPES et al, in

    COUTO, 1999).

    A multicausalidade um fenmeno determinante para auxiliar na interveno

    dos diversos segmentos da rea de sade no tratamento, no controle e na preveno

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    das infeces hospitalares. Essa caracterstica atribui uma gravidade na afeco que

    tratada na esfera da sade pblica e como tal, constitucionalmente, dever do Estadoa sua ateno, uma vez que ele responsvel direto em garantir o bem-estar da

    populao, centrada no trip previdncia social/assistncia social/sade.

    Por meio de imposio legal, torna-se clara a intencionalidade do legislador

    na valorizao de aes preventivas como forma de subsidiar a promoo da sade do

    cidado, considerando medidas que evitem o surgimento de doenas e suas

    complicaes. No Brasil existe uma preocupao maior com o tratamento e no

    especificamente com a preveno, conforme afirma Ribeiro (2006 p. 01): Os sistemas

    no encorajam a preveno, s a interveno.

    No que concerne sade, torna-se evidente que a principal medida a ser

    adotada a preveno, conforme determina o artigo 196 da Carta Magna:

    Sade direito de todos e dever do Estado, garantido mediante polticas sociaise econmicas que visem reduo do risco de doena e de outros agravos eao acesso universal e igualitrio s aes e servios para sua promoo,proteo e recuperao.

    A partir da Constituio de 1988, o Estado brasileiro passou a ter como uma

    de suas principais funes administrar, de forma ampla e eficaz, os recursos para a

    sade.

    No momento atual, a caracterstica principal na assistncia em nvel

    hospitalar um crescente e contnuo fluxo de intervenes de complexidade cada vez

    maior. Isso se reflete em uma grande quantidade de procedimentos invasivos, exigindotecnologia de ponta e investimento cada vez maiores da indstria, da pesquisa e das

    prprias instituies de sade e do estado. Nesse sentido, os investimentos com os

    cuidados de poucas pessoas superam o que dedicado preveno de doenas de

    uma populao inteira.

    O cenrio descrito acima palco dos interesses da indstria farmacutica e

    de insumos tecnolgicos. Santos Jnior, Freitas e Luciano (2005) comentam sobre o

    interesse na implantao de novos produtos, muitas vezes de eficcia duvidosa e que

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    poderiam ser substitudos pelos j existentes e de eficcia comprovada. Os autores

    afirmam que somente 40% dos novos produtos lanados anualmente no mercadosignificam avano no tratamento ou preveno das doenas e aponta que as

    universidades so celeiros dessas pesquisas. Os hospitais so grandes consumidores

    desses produtos lanados no mercado, pois os profissionais muitas vezes se deixam

    seduzir por novas propostas sem investigar e nem se preocupar com a sua eficcia.

    Em uma viso panormica, no Brasil, segundo o Cadastro Nacional de

    Estabelecimentos de Sade (CNES, 2007), existem 4.985 hospitais gerais assim

    distribudos nos estados: 740 em So Paulo, 598 em Minas Gerais, 505 no Paran, 459

    no Rio de Janeiro, 434 na Bahia, 354 em Gois, 334 no Rio Grande do Sul, 202 em

    Santa Catarina, 204 no Cear, 182 no Par, 166 em Pernambuco, 161 no Mato Grosso,

    127 na Paraba, 111 em Mato Grosso de Sul, 109 em Piau, 97 no Esprito Santo, 80

    em Rio Grande do Norte, 74 em Tocantins, 59 em Rondnia, 37 no Sergipe, 42 no

    Distrito Federal, 27 no Amazonas, 22 no Maranho, 15 no Acre, 11 em Roraima, 06 em

    Alagoas e 06 no Amap.

    Percebe-se que o Paran o terceiro estado com maior nmero de hospitais

    gerais, sendo o primeiro da regio Sul do pas, colocando em evidncia a necessidadee a importncia das aes em controle de infeco hospitalar neste Estado. Ao

    considerar que a maioria das infeces hospitalares ocorre no prprio hospital,

    justificado pelo grau de procedimentos invasivos a que se submetem os pacientes, no

    Estado do Paran a Secretaria de Estado da Sade (SESA), h muito se preocupa com

    a questo.

    Uma pesquisa, realizada pela SESA, sobre o Perfil do controle de infeco

    hospitalar em hospitais pblicos e privados do Estado, no ano de 2005, mostrou quenas 22 regionais de sade do Estado, existem no total 507 hospitais, 406 tm Comisso

    de Controle de Infeco Hospitalar, 215 realizam busca ativa, 196 possuem

    padronizao de antibiticos, 135 o Programa de Controle de Infeco Hospitalar

    totalmente implantado e 147 parcialmente implantado (ANEXO I).

    Pelos resultados apresentados acima, verifica-se que aproximadamente 20%

    dos hospitais do Paran no constituram CCIH, dos que constituram 52,9% realizam

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    busca ativa, 48,1% padronizao de antimicrobianos e 32,3% foram considerados com

    Programa de Controle de Infeco totalmente implantado e atuante1

    .Existe uma normativa federal delibando sobre a implantao de CCIH desde

    1983, Portaria MS n. 196/1983, que recomendava aos hospitais a constituio de

    comisses de controle de infeco hospitalar. A partir de 1997, tornou-se obrigatria a

    implantao de Programa de Controle de Infeco Hospitalar pela Lei n 9.431, de 6 de

    Janeiro de 1997, em todos os hospitais do pas. Portanto, verifica-se que, mesmo com

    esse histrico, encontram-se ainda instituies atuando de forma no legal, pois fogem

    a essa recomendao. No que se refere implantao do Servio de Controle de

    Infeco Hospitalar, a pesquisa da SESA identificou que 9 instituies no o

    implantaram. So dados significantes sob o ponto de vista de estratgia, para uma ao

    governamental.

    A finalidade da pesquisa realizada pela SESA foi alm de levantar as

    dificuldades existentes no funcionamento das CCIH, trabalhar com os diversos

    problemas na busca de solues nesse cenrio. Percebe-se, no Paran, o empenho no

    desenvolvimento de medidas para aprimorar aes voltadas preveno de injrias

    provocadas pela infeco hospitalar. Entretanto, muito tem a conquistar, a pesquisar ea investir, com vistas sade da populao. Isso sugere que, em instncia

    governamental, existe o interesse na promoo sade por meio do Controle e

    Preveno das Infeces Hospitalares.

    Das bases legais oriundas da Constituio de 1988, que regulamentam a

    atuao do Estado na preveno de doenas, destaca-se a Portaria MS n. 930/1992, a

    qual considerou as Infeces Hospitalares como risco significativo sade da

    populao, representando um avano no sentido de conscientizar os profissionais darea de sade sobre a importncia das aes preventivas. Hoje, as aes do controle

    de infeco hospitalar so norteadas pela portaria n MS 2.616/1998, embasada na Lei

    n 9.431/1997.

    1 CCH atuante a que atende os seguintes itens: realizar busca ativa; produzir taxas associadas infeco; realizar investigao de casos e surtos implantando medidas de controle; padronizarantimicrobianos; possuir e supervisionar normas e rotinas; produzir relatrios com indicadores e contarcom laboratrio prprio ou terceirizado.

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    Dentre as deliberaes inclusas na referida Portaria, est a orientao sobre

    como deve se constituir um Programa de Controle de Infeco Hospitalar (PCIH). Trata-se de um conjunto de aes desenvolvidas, deliberadas sistematicamente, com vistas

    reduo mxima possvel da incidncia e da gravidade das infeces hospitalares.

    Para a adequada execuo desse programa, os hospitais precisam constituir

    Comisses de Controle de Infeco Hospitalar (CCIH), rgo de assessoria mxima da

    instituio e de execuo das aes de controle das infeces hospitalares. Essa

    comisso deve ser composta por profissionais da rea de sade, de nvel superior e

    formalmente designado.

    A Portaria define que a CCIH tem como funo elaborar, implementar,

    manter e avaliar o Servio de Controle de Infeco Hospitalar, adequado s

    caractersticas e necessidades da instituio e deve ser composto por membros

    consultores e executores. Os consultores devem ser profissionais representantes da

    medicina, da enfermagem, da farmcia, do laboratrio de microbiologia e da

    administrao.

    Os membros que devem executar as aes do controle de infeco devem

    ser tcnicos de nvel superior, em nmero mnimo de dois, contando elesobrigatoriamente com mdico e enfermeiro, os quais representam o Servio de Controle

    de Infeco Hospitalar e, por conseguinte, so incumbidos da execuo do Programa

    de Controle de Infeco Hospitalar. Dos executores, o enfermeiro citado na Portaria

    com o termo preferencialmente.

    Para formar uma equipe para o Controle de Infeco Hospitalar a presena

    do enfermeiro se faz necessria. Assim, estimula as instituies a contratarem esse

    profissional, com exclusividade ou no para o servio, definindo, por conseguinte, umramo de atuao para a profisso de enfermagem numa rea especfica e complexa,

    visto que realizar o controle de infeco no se trata de tarefa fcil, como lembra

    (FERNANDES, 2000).

    O autor acima comenta que, embora existam recomendaes que orientem

    as aes do controle de infeco hospitalar desde a dcada de oitenta, consolidadas

    em 1998, at hoje elas so difceis de ser implantadas. Vrios fatores tm interferido na

    preveno e no controle da infeco hospitalar. Entre as barreiras encontradas, esto

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    as condies apresentadas pelos hospitais, as polticas de sade, questes

    administrativas, os recursos financeiros das instituies e, principalmente, a capacidadede engajamento dos profissionais de sade com a causa. Isso representa um dos

    maiores desafios para os profissionais que se propem a combater a infeco

    hospitalar.

    As aes de preveno e controle das infeces hospitalares, incluindo a

    constituio das equipes, so norteadas pela Portaria Ministrio da Sade n. 2616/98

    (BRASIL, 1998). No entanto, essa norma no clara em indicar o que esperado de

    cada membro. O enfermeiro considerado como integrante fundamental para as aes

    de Controle de Infeco Hospitalar nas instituies, sendo isso uma grande

    responsabilidade para os enfermeiros que atuam no servio de controle de infeco,

    pois devem justificar sua existncia na Comisso de Controle de Infeco Hospitalar,

    pela competncia em executar suas funes e no apenas pela fora de um dispositivo

    legal. Manter as infeces hospitalares sob controle um desafio permanente. Assim,

    os profissionais partem para uma batalha, muitas vezes solitria de algo que est

    aqum de suas possibilidades, vista a complexidade que ser controlador de infeco

    hospitalar (OLIVEIRA, 2005).Na prtica freqente observar situaes nas quais os profissionais

    imbudos da responsabilidade do controle de infeces hospitalares comentam sobre o

    sentimento de solido no exerccio de sua funo. O enfermeiro, na maioria das vezes,

    o que assume o maior nmero de responsabilidades no SCIH. Isso decorre em

    funo da maior carga horria designada a esse profissional, alm de exigida

    exclusividade para o servio em 6 horas, em relao s demais categorias profissionais

    que compem o Servio. Os outros membros, pela designao da portaria, tm umacarga reduzida, favorecendo o acmulo de outras funes dentro de uma instituio.

    Observa-se, com relao a esse acmulo de funo, que os profissionais

    do mais ateno sua funo de origem, ou seja, o farmacutico, por exemplo, entre

    resolver um problema relacionado ao controle de infeco ou da farmcia, priorizar o

    atendimento da farmcia e assim igualmente com os bioqumicos e mdicos. Essa

    realidade faz com que o enfermeiro freqentemente no conte com uma equipe de

    trabalho, em especial nas instituies que contratam somente o enfermeiro para a

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    execuo do servio de controle de infeco hospitalar. Isso, por desconhecer ou

    desconsiderar a importncia dos demais membros, ou ainda, por considerar onerosopara a instituio.

    O problema nessa situao a sobrecarga de trabalho do enfermeiro que,

    por fora tanto da Portaria MS n. 2.616/1998 que orienta as aes na preveno e

    controle de infeco nos diversos segmentos do hospital, quanto da direo por

    entender que ele foi contratado com exclusividade para o servio, tem a obrigao de

    atentar para todas as situaes e resolver os problemas que envolvam o controle e a

    preveno das infeces hospitalares.

    Deduz-se, com isso, que a citada portaria abrangente, determina desde o

    modo como deve ser organizado o Programa de Controle de Infeco Hospitalar, a

    instituio da Comisso de Controle de Infeco Hospitalar e do Servio de Controle de

    Infeco Hospitalar. Orienta, ainda, sobre as aes que devem ser realizadas para um

    efetivo controle das infeces hospitalares e a sua composio. No entanto, ao mesmo

    tempo em que norteia, estimula o profissional a assumir muitas funes incompatveis

    com o tempo de que dispe para tal.

    Trata-se de um trabalho instigante, faz com que quanto mais se conhea doassunto, mais se queira conhecer e acaba-se percebendo que se dedicam muitas horas

    para essa funo, alm do combinado no contrato de trabalho. Sendo assim, percebe-

    se que a portaria delineia as aes, prope a composio dos membros, d nfase

    CCIH, na funo de consultoria, mas no que se refere ao Servio de Controle de

    Infeco Hospitalar, no clara quanto especificidade de funes, ou seja, quem faz

    o qu para a operacionalizao das aes.

    Como o enfermeiro o membro com designao de maior carga horriaexclusiva para o servio, as instituies colocam a cargo desse profissional a execuo

    da maioria das atividades pertinentes ao controle de infeco hospitalar. Assim, a

    motivao do estudo foi alicerada no interesse de conhecer a atuao do enfermeiro

    no Estado do Paran.

    Ao entender que a SESA mostra-se preocupada em investigar o nvel de

    atuao do Servio de Controle de Infeco neste Estado, acredita-se que esse estudo

    poder, por meio dos resultados, tambm contribuir para a melhoria dos servios

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    prestados na rea de controle de infeco hospitalar no Paran. Assim, a questo

    norteadora do estudo foi: Como se desenvolve a prtica do enfermeiro no controle deinfeco hospitalar no Estado do Paran?

    O objetivo foi conhecer a atuao do enfermeiro no Controle de

    Infeco Hospitalar no Estado do Paran.

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    2 REVISO DA LITERATURA

    Este captulo abordar os aspectos histricos da infeco hospitalar no

    Brasil, com nfase no Estado do Paran e a atuao do enfermeiro no controle de

    infeco hospitalar.

    2.1 ASPECTOS HISTRICOS DO CONTROLE DE INFECO HOSPITALAR NO

    BRASIL COM NFASE NO ESTADO DO PARAN

    A histria de uma disciplina cientfica, como a dos povos e a nossa prpria, sempre escrita a partir do ponto em que estamos, e faz parte da identidadedesejada, de uma dada comunidade de cientistas. No , portanto, umaseqncia de fatos verdadeiros, e sim uma seleo de eventos passados queexplicam e justificam o presente e permitem uma projeo de futuro(CARVALHO, 1997 p. 31).

    Para entender o presente, necessrio visitar o passado, possibilitando

    reflexes, aprofundamento, reconstrues e analogias. Assim, para identificar a

    evoluo do Controle de Infeco Hospitalar no Brasil, faz-se necessrio visitar o

    passado, as origens, verificar o momento em que se fomentou oficialmente esse

    interesse. Hoje, cada vez mais emergente, justificando a necessidade de estudos

    permanentes nessa rea.

    Ao olhar o passado, compreende-se a relevncia das infeces nosocomiaisna histria dos hospitais e se reconhecem importantes legados que contriburam com

    seu controle. Entre eles destacam-se os feitos de Ignaz Semelweis (1818-1865) que

    instituiu o ato da lavagem das mos, medida eleita como o melhor meio para a

    preveno e controle da IH; Oliver Homs (1809-1894) implantou a prtica de lavagem

    das mos para o controle das infeces cruzadas; Joseph Lister, ressaltou a

    importncia da anti-sepsia em 1860, revolucionando a prtica cirrgica; Florence

    Nightingale (1820-1910) desvendou a importncia da limpeza ambiental e da

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    epidemiologia para o controle e preveno das doenas; Louis Pasteur mostrou ser

    possvel controlar a ao dos microorganismos por meio de tcnicas de desinfeco eesterilizao e William Halstedt preconizou o uso de luvas cirrgicas (FERNANDES,

    2000; MARTINS, 2001 e COUTO, 2003).

    As pesquisas desses ilustres estudiosos do passado so reconhecidas como

    principal impulso para todas as aes que tm como meta o controle das infeces

    hospitalares em todo o mundo.

    No Brasil, a assistncia hospitalar ocorreu no sculo XVI, com as Santas

    Casas de Misericrdias, sendo a primeira construda na cidade de So Paulo, em 1543.

    Porm os primeiros relatos da criao de uma CCIH foram no Hospital Herasto

    Dorneles no Rio Grande do Sul em 1963, seguidos pelos hospitais universitrios como

    o Hospital de Clnicas da UFMG (1978) e o Hospital Sarah Kubicheck (MARTINS,

    2005).

    O comprometimento efetivo com o controle de infeco hospitalar no pas

    concretizou-se no sculo XX, a partir da dcada de 80, com a Constituio de 1988, e a

    preveno passou a ser vista como uma ao poltica e o Controle de Infeces

    Hospitalares como um dos pilares para a preveno de doenas e promoo da sade(BRASIL, 1988).

    Em nvel nacional, a dcada de 80 foi marcante para as aes de controle de

    infeco principalmente pela publicao da Portaria 196/83, do Ministrio da Sade

    (MS), promulgada em 24 de junho de 1983, que foi o marco inicial para o controle das

    infeces hospitalares no Brasil. Tornou-se, ento, obrigatria a implantao de

    comisses de controle de infeco em todos os hospitais. Entretanto, foi a partir de

    1985, com a repercusso da morte do ex-presidente Tancredo Neves, causada por umainfeco nosocomial, que as aes do controle de infeco tomaram maior proporo.

    Esse fato resultou na criao do Curso de Introduo ao Controle de Infeco

    Hospitalar ministrado em todo o pas. No mesmo ano, publicou-se o Manual de

    Controle de Infeco Hospitalar, com o objetivo de recomendar medidas de preveno

    e controle das infeces (BRASIL, 2004).

    Em 1986 aconteceu a VIII Conferncia Nacional de Sade, evento que

    estimulou a reformulao das polticas nacionais em torno da sade com a Reforma

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    Sanitria. Nessa conferncia, evidenciou-se a questo da preveno e promoo da

    sade como dever do Estado. Em 1987 foi fundada a Comisso de Controle deInfeco Nacional, com representantes de todos os estados. No ano seguinte, foi

    estabelecida a criao do Programa de Controle de Infeco Hospitalar, por meio da

    Portaria MS n. 232/88. Em 1989, aconteceu o I Congresso Brasileiro Sobre Infeco

    Hospitalar, em So Paulo, organizado pela Associao Paulista de Estudos em

    Controle de Infeco Hospitalar. Esses eventos representaram o despertar de outras

    iniciativas tanto no sentido de regulamentaes legais como pesquisas voltadas rea

    (MARTINS, 2005).

    A dcada de noventa se configurou como um perodo marcado pelas

    confirmaes, revises e atualizaes das iniciativas ocorridas na dcada anterior de

    80 como a criao da Portaria MS n. 930/1992 (BRASIL, 1992), que estabeleceu a

    obrigatoriedade do Controle de Infeco Hospitalar para todos os hospitais do pas. A

    elaborao dos Manuais de Processamento de Artigos e Superfcies em

    Estabelecimentos de Sade e de Vigilncia por Componentes NNISS (National

    Nosocomial Infections Surveillance), publicados em 2003, regulamentaram o uso de

    saneantes/desinfetantes, as formas de esterilizao e a vigilncia epidemiolgica dasinfeces hospitalares, respectivamente (NNISS, 2003).

    Houve tambm a criao e aprovao da Lei n. 9431/1997, a qual

    determinou a obrigatoriedade de os hospitais manterem programas de controle de

    infeco hospitalar, preconizou a criao de Comisses de Controle de Infeco

    Hospitalar e a criao da Portaria MS n 2.616/1998. Essa portaria, caracterizada por

    uma abrangncia ampla, traa as diretrizes para as aes de controle de infeco

    hospitalar em todo o territrio nacional e revoga todas as anteriores, mantendo-se emvigncia at os dias de hoje (BRASIL, 1998).

    Outro fato importante da dcada de 90 foi a criao da Agncia Nacional de

    Vigilncia Sanitria (ANVISA) em 1999. At ento, o Programa de Controle de Infeco

    do pas estava sob a responsabilidade do Ministrio da Sade e por meio da Portaria

    MS n. 1241/1999, transferiu as atividades do Programa para a ANVISA por entender a

    importncia da associao desse com as aes de vigilncia sanitria de servios de

    sade, fortalecendo tanto o Programa quanto o Sistema Nacional de Vigilncia

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    Sanitria. No mesmo ano, o Ministrio da Sade, por meio da ANVISA, estabeleceu

    tambm o dia 15 de maio como Dia Nacional do Controle de Infeco Hospitalar, com oobjetivo de conscientizar todos os profissionais da sade, bem como, demais

    envolvidos, no propsito para diminuir a mortalidade causada por infeco hospitalar.

    importante lembrar que a definio desse dia se deu em homenagem ao mdico Ignaz

    Semmelweiss que, na mesma data, em 1847, instituiu a prtica de lavagem das mos

    como atitude obrigatria a ser executada por todos os mdicos e enfermeiros que

    atendiam os pacientes. Uma atitude simples e eficiente que reduziu significativamente

    as taxas de infeco hospitalar na poca (MARTINS, 2005).

    No Paran, nessa dcada, ocorre a fundao da Associao Paranaense de

    Controle de Infeco Hospitalar (APARCIH) em 8 de maro de 1990. Essa data que

    representou um marco no desenvolvimento cientfico sobre o tema, bem como a

    promoo de intercmbio de informaes entre os profissionais da rea (APARCIH,

    1990).

    Avanando para a primeira dcada do segundo milnio, com a

    regulamentao da ANVISA, foram traadas metas para 2000, dentre elas: promover

    cursos de controle de infeco hospitalar; realizar diagnstico da situao das infeceshospitalares no Brasil; atualizar o Manual de Processamento de Artigos e Superfcies

    em Estabelecimentos de Sade; reestruturar o Comit Tcnico-Cientfico em Controle

    de Infeco Hospitalar; atualizar o Manual de Microbiologia (OLIVEIRA, 2005).

    Paralelamente, em 2000, no Paran, publicada a Resoluo Estadual

    304/00, em acordo com o Ministrio da Sade, instituindo a Comisso Estadual de

    Controle de Infeco em Servios de Sade. Com o objetivo de promover a criao e

    organizao das Comisses Regionais e Municipais , em consonncia com a PolticaNacional de Controle de Infeco, prope aes que visam preveno e reduo

    da incidncia e gravidade das infeces (PARAN, 2000).

    Ainda, por meio da Resoluo Estadual 304/2000, no Paran, institui-se a

    Comisso Estadual de Controle de Infeco em Servios de Sade que tem como

    objetivo geral, fomentar a criao e organizao das Comisses Regionais e Municipais

    em consonncia com a Poltica Nacional de Controle de Infeco.

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    Segundo informaes da equipe da SESA, atualmente, no Estado existem

    seis Comisses Regionais (CRECISS) formalmente constitudas e dezesseisComisses Municipais (CMUCISS). Essas comisses tm como desafio incentivar o

    envolvimento das instituies de sade e de ensino com as questes em torno do

    Controle de Infeco Hospitalar, assim como promover a conscientizao da

    comunidade sobre o tema. Percebe-se que esse fato foi uma iniciativa louvvel, porm

    na prtica ainda so escassas as aes articuladas para atingir os objetivos propostos

    (PARAN, 2001).

    Visando ao desenvolvimento de aes sistemticas na preveno e reduo

    da incidncia e da gravidade das infeces em servios de sade, a importncia do

    acompanhamento e anlise de dados epidemiolgicos de infeco em servios de

    sade e a necessidade de realizar o diagnstico situacional, dos problemas

    relacionados ao controle de infeco no Estado, o Secretrio do Estado da Sade

    institui a Resoluo SESA n 0435/2003. Nessa Resoluo determinada a

    composio dos membros da Comisso Estadual de Controle de Infeco Hospitalar,

    que devem ser representantes dos diversos segmentos que envolvem o controle de

    infeco no Estado (PARAN, 2003).Na esfera legal, surgiu a Resoluo RDC n. 48/2000, que institui o Roteiro

    de Inspeo do Programa de Controle de Infeco Hospitalar. A esse respeito, Lacerda

    (2003) comenta que, por ser um instrumento amplo, no considera as especificidades

    da instituio, o preparo dos avaliadores e as dificuldades da sua eficcia. Na prtica

    isso se constata quando se defronta com avaliadores cujo conhecimento limitado

    sobre o assunto em questo, ou que atendem a interesses polticos locais, perdendo o

    carter de imparcialidade e idoneidade.Administrativamente, a ANVISA cria em 2002 a Unidade de Controle de

    Infeco em Servios de Sade (UCISA) e assume dimenso poltica por meio da

    Portaria MS n. 385/2003 e passa a ser intitulada Gerncia de Investigao e

    Preveno de Efeitos Adversos (GIPEA). Agregando a vigilncia sanitria de servios

    de sade, fortalecendo o Programa de Controle de Infeco e o Sistema Nacional de

    Vigilncia Sanitria (Brasil, 2004a) formou-se um carter de unidade nas aes relativas

    ao Controle de Infeco Hospitalar.

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    Dentre as iniciativas que consolidaram a insero do Programa de Controle

    de Infeco na ANVISA foi a publicao da Resoluo RDC n. 33/2003 da ANVISA,que classificou os resduos de servio de sade nos seguintes grupos: A- resduos

    potencialmente contaminados; B- qumicos; C- radioativos; D- comuns e E-

    perfurocortantes e estabeleceu que o Plano de Gerenciamento de Resduos e de

    Servios de Sade (PGRSS) deveria observar rotinas e processos definidos pela CCIH

    do estabelecimento (ANVISA, 2003a).

    Relacionado ao Gerenciamento de resduos Slidos de Sade, no Paran foi

    aprovada a resoluo n 002/2005 que estabeleceu diretrizes para a aplicao do Plano

    simplificado de gerenciamento de resduos de sade nas instituies que gerarem at

    30 litros, por semana, com exceo dos resduos quimioterpicos e radioativos

    (PARAN, 2005).

    Mais recentemente, a ANVISA visando unificar o registro dos eventos de

    vigilncia epidemiolgica, no controle de infeco, criou um sistema uniformizado de

    informaes e o disponibilizou gratuitamente para todas as instituies de servio de

    sade do pas. O desenvolvimento de um software- SINAIS (Sistema Nacional de

    informao para o Controle de Infeco em Servios de Sade), em 2004, de domniopblico, visou a sistematizao da busca ativa, propondo critrios para definir infeco

    hospitalar e a padronizao da notificao das IH em todo o territrio nacional, a fim de

    desenhar o perfil das infeces hospitalares no Brasil (ANVISA,2006). Atendendo a

    esse propsito, no Paran, em 2006, ocorreu a capacitao de 70 profissionais de

    sade para utilizao do Sistema de Notificao de Infeces em Servios de Sade

    (SINAIS). Esta iniciativa foi da ANVISA, com apoio da Secretaria Estadual de Sade.

    (PARAN, 2006).A equipe da Secretaria Estadual de Sade do Paran informou que em 2007,

    com apoio da SESA, houve a reproduo do curso SINAIS, nas regionais de Cianorte,

    Foz do Iguau, Cascavel e Pato Branco.

    Percebe-se, por esse breve levantamento, que no Brasil os eventos

    relacionados ao controle de infeco hospitalar representaram avanos a partir da

    dcada de oitenta, em especialdepois da morte do ex-presidente Tancredo Neves. O

    relevante nesse episdiofoi a participao da sociedade no processo, ou seja, quando

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    a populao tambm se alertou para um problema impulsionou tanto a comunidade de

    profissionais da sade como instncias governamentais a se envolverem com a causa.No mbito da assistncia a sade em uma dada formao social concreta, e importante

    compreender que o controle e preveno das infeces hospitalares se estendem para

    alm de aes focais, e sim aes maiores, relacionadas no s assistncia,

    inovaes ou modelos tcnico-assistenciais, mas da elaborao de estratgias que

    visem o envolvimento de muitos, voltados para mesmo foco considerando-se a IH um

    fenmeno histrico-social (LACERDA, 2003).

    No Paran, a Secretaria de Estado da Sade acompanha as iniciativas

    ministeriais e ao mesmo tempo cria mecanismos para identificar problemas internos

    relacionados efetivao de sistemas de controle de infeco hospitalar nas

    instituies prestadoras de servio de sade do Estado, demonstrando interesse e o

    compromisso com a promoo da sade por meio da preveno das infeces

    hospitalares.

    2.2 O ENFERMEIRO NO CONTROLE DE INFECO HOSPITALAR

    O controle de infeco jamais ser um simples negcio, a nossa forma desermos socialmente teis, contribuindo a partir do nosso conhecimento e prticaprofissional com o aprimoramento da qualidade de vida de nossos semelhantes(FERNANDES, 2000, p. 3).

    O conhecimento o modo pelo qual os profissionais se inserem na

    sociedade e essa vai depender da conscincia de seu papel, da noo das foras queinteragem com suas abstraes e, principalmente, da sua vontade de intervir. A histria

    de cada um uma seqncia de pequenas decises que vo construindo o seu dia-a-

    dia. Conhecer a atuao do enfermeiro como referida pela Portaria MS n 2616/1998

    merece destaque. Assim, procurou-se identificar a contribuio da literatura a esse

    respeito.

    Fernandes e Fernandes (2000) explicam que a participao do enfermeiro,

    oficialmente no cenrio do controle das infeces hospitalares foi baseada na

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    experincia inglesa que encabeou esse profissional como controlador de infeco

    hospitalar. Porm ao observar a histria da enfermagem percebe-se o enfermeiroimbricado no controle de infeco desde Nightingale. Lacerda e Egry (1997) enaltecem

    a importncia do seu trabalho para a recuperao da sade. Foi com Florence

    Nightingale que comeou a se desenvolver uma sistemtica formal para a conquista de

    um conhecimento distinto, aes fundamentadas, conquistando para a enfermagem sua

    importncia original, a de restabelecer a sade por meio do uso da limpeza, ar puro,

    calor, dieta e repouso, ou seja, aes de controle sobre o meio. Fatores esses

    fundamentais na preveno do controle das infeces hospitalares.

    Dentre as atividades realizadas por enfermeiros, caracterizando-os como

    controladores de infeco, integrantes ativos no Servio de Controle de Infeco

    Hospitalar, destacam-se as seguintes: diagnosticar e notificar os casos de infeco

    hospitalar; identificar os riscos de infeco hospitalar; inspecionar a correta aplicao

    de tcnicas asspticas; avaliar e orientar a implantao de medidas de isolamento e

    introduzir medidas de preveno da disseminao de microorganismos; ser um elo

    entre todos os setores do hospital como disseminador das aes de preveno e

    controle de infeces; executar aes de vigilncia sanitria nos setores do hospital afim de identificar problemas relacionados IH e assim elaborar medidas preventivas ou

    corretivas; realizar a notificao de doenas compulsrias; colaborar com os servios

    de sade ocupacional; informar outras instituies sobre casos de IH transferidos;

    realizar ou participar de atividades de ensino terico/prtico sobre o controle de

    infeco para todos os profissionais da instituio entre outras (LACERDA, 1987).

    Verifica-se uma semelhana nas funes citadas, com as orientaes

    advindas da Portaria MS n 2.616/1998, que revelam uma rea de atuao abrangente,definidora da participao do enfermeiro no cenrio do controle de infeco. Percebe-se

    que as atividades citadas se fundem com a de outros profissionais componentes da

    equipe do Servio de Controle de Infeco Hospitalar e/ou mesmo dos que prestam

    assistncia sade na instituio, como o caso, por exemplo, do diagnstico das

    infeces.

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    2.2.1 Diagnstico da infeco hospitalar (IH)

    No uma tarefa simples: exige o conhecimento do histrico do paciente, do

    conceito de Infeco Hospitalar e comunitria e o relacionamento dos eventos ocorridos

    com o paciente aps a internao. A Portaria MS n 2.616/1998 define como IH aquela

    adquirida aps a admisso do paciente e que se manifeste durante a internao ou

    aps a alta, quando puder ser relacionada com a internao ou procedimentos

    hospitalares. Tambm esto delineados os critrios gerais para diagnstico das

    Infeces Hospitalares, incluindo algumas especificidades, como IH em recmnascidos; infeces ps-cirrgicas; pacientes provenientes de outros hospitais que

    internam com infeco, bem como a classificao de cirurgias conforme potencial de

    contaminao so informaes estas relevantes para a definio do diagnstico

    (BRASIL, 1998).

    Esses dados so conseguidos por meio da busca ativa de casos para a qual

    realizada a reviso dos pronturios e examinados os pacientes. No pronturio,

    identificam-se dados como o tempo de internao, o diagnstico na internao, osresultados de exames laboratoriais, em especial os de microbiologia e pesquisa de

    antgeno-anticorpo, RX e outros exames que evidenciem IH. No exame clnico do

    paciente se realiza entrevista e exame fsico em busca de sinais e sintomas que

    possam confirmar o diagnstico de IH.

    Segundo orientao da ANVISA, o diagnstico da infeco hospitalar

    atribuio exclusiva da CCIH, sendo responsabilidade dos membros executores, em

    funo da busca ativa de casos. Para minimizar a possibilidade de erros nesse

    processo, importante que a forma de realizar o diagnstico seja sempre a mesma.

    Nesse sentido, no Brasil, existe a recomendao para a utilizao dos componentes

    NISS, padronizando no pas inteiro esse mtodo. Para isso, foram capacitados em

    todos os estados profissionais para a utilizao do software SINAIS. As informaes

    oriundas dessa esto disponveis na Web, [email protected](ANVISA, 2004).

    2.2.2 Identificao dos riscos de infeco hospitalar

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    Segundo Ferreira (2004), risco significa perigo ou sinal de perigo, portanto,no que se refere infeco hospitalar pode-se pensar que desde que o paciente entra

    na instituio para tratamento de sade, est exposto a esse risco. O objetivo primordial

    de identific-lo poder encontrar subsdios e/ou lanar mo de estratgias para a

    preveno e o controle das infeces que muitas vezes so evitveis.

    Para coibir o mximo possvel esses riscos so necessrios aplicao de

    boas prticas assistenciais. As queixas relacionadas ao controle de infeco derivam da

    integrao de todos os setores e o controle de infeco. Aqui se aplica um dos

    postulados de Hipcrates, citado por Fernandes (2000, C. 3, p. 33) toda a arte principia

    a capacidade de observar, ou seja, observando a instituio em todos os seus

    segmentos possvel identificar tanto os eventos j reconhecidos de risco, como os

    emergentes.

    Couto (2003) define que os riscos para infeco hospitalar podem ser

    classificados em riscos intrnsecos e riscos extrnsecos. O primeiro risco descrito advm

    da imunidade do prprio paciente, ou seja, quanto menor a imunidade, maior o risco.

    Seguindo essa tica, apresentam maiores riscos: os recm-nascidos, os acidentados(especialmente os grandes queimados e os politraumatizados), os pacientes com

    neoplasias malignas, os receptores de rgos, os diabticos, os idosos, os aidticos e

    os obesos entre outros.

    Os riscos extrnsecos podem ser classificados quanto: estrutura, agresses

    ao hospedeiro e qualidade do processo de cuidado dispensado ao cliente. Entende-se

    por estrutura o conjunto de recursos que se colocam disposio do trabalhador para

    que ele possa efetuar a assistncia, incluindo a o nmero de pessoal, equipamentos erea fsica. Nessa ltima considera-se todo o aspecto do ambiente, potencial

    condicionante em muitos casos para a transmisso de IH, por albergarem diversos

    invasores como os animais sinantrpicos.

    Os sinantrpicos so animais que, nos lugares onde h concentrao de

    populao humana, possuem a caracterstica de adaptao, sobrevivncia e

    proliferao. No contexto das infeces hospitalares, so aqueles animais que por seus

    hbitos de alimentao ou trnsito, afetam a sade humana, como por exemplo, os

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    artrpodes rasteiros (baratas, formigas, pulgas, percevejos, carrapatos, aranhas,

    escorpies e lacraias); os voadores (moscas, mosquitos, marimbondos, vespas eabelhas); as aves (de maior importncia so os pombos); e os mamferos (roedores,

    morcegos e gatos). Esses animais representam uma ameaa significativa para a sade

    do hospital. Portanto, alm dos aspectos de limpeza, precisam ser preconizados meios

    para controle, como as manutenes preventivas de equipamentos onde se podem

    albergar os vetores, sendo necessria a utilizao de armadilhas apropriadas e

    dedetizao (COSTA, 2000).

    Portanto, a participao do enfermeiro fundamental na elaborao de

    manuais e do plano de Gerenciamento de Resduos de Servio de Sade bem como

    opinar nas questes de construo e reformas, no que concerne a rea fsica da

    instituio. Para tanto, precisa se apropriar desses contedos de forma a passar

    confiana em seus atos, estando principalmente atento s modificaes nas polticas de

    sade que norteiam as aes de preveno e controle das infeces hospitalares.

    2.2.3 Inspeo da aplicao de tcnicas asspticas

    Segundo Garner (1997), a aplicao de tcnicas asspticas um esforo

    fundamental para o controle de infeco. Envolve prticas que contribuem para a

    eliminao dos microrganismos nos equipamentos e no ambiente, bem como evita a

    transmisso cruzada de microrganismos, por meio da correta aplicao de tcnicas,

    seguidos os rigores asspticos. O objetivo de cada tcnica prevenir infeco, otimizar

    a cicatrizao das feridas e minimizar o tempo de recuperao do paciente que sesubmete a qualquer procedimento invasivo.

    Portanto, inspecionar a aplicao de tcnicas asspticas envolve o controle

    de procedimentos invasivos de diversas naturezas e realizados por vrias categorias

    profissionais a que o paciente pode ser submetido durante o seu internamento. A

    inspeo da correta aplicao de tcnicas asspticas exige do enfermeiro competncia

    tcnico-cientfica e estar convencido da importncia do rigor dos princpios de assepsia,

    no desempenho de cada uma delas. Estar alerta, tambm, s recomendaes

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    preconizadas pelos Guidelines do Center for Desease Control (CDC), rgo norteador

    das medidas de Preveno de Infeces (OLIVEIRA, 2005).Observa-se nesse aspecto, que se trata de uma atividade diretamente

    relacionada com os conceitos de assepsia, anti-sepsia, desinfeco e esterilizao,

    bem como da habilidade prtica do profissional, para poder avaliar a sua aplicao.

    Para tanto, importante ter clareza desses conceitos e a sua aplicabilidade na prtica.

    Caracteriza-se um dos pontos altos das aes envolvidas na preveno das infeces e

    um dos principais aspectos da vigilncia epidemiolgica e sanitria da instituio.

    Destaca-se que, pela prpria formao, essa atividade integrante do fazer

    profissional de todo o enfermeiro.

    2.2.4 A evoluo tecnolgica e os princpios bsicos

    O enfermeiro deve estar alerta a respeito da evoluo tecnolgica e ao

    mesmo tempo manter-ser fiel aos postulados historicamente preconizados para o

    controle da infeco hospitalar. Em muitos casos a escolha deste ou daqueleproduto/servio fica a cargo desse profissional. Para que ele tome decises

    imperativo manter-se atualizado para que suas aes sejam embasadas no senso

    crtico, nas orientaes da ANVISA, bem como em leis correlatas que regem neste

    mbito, ou seja, estar atento aos registros, s informaes cientficas, resultados de

    novas pesquisas e inovaes tecnolgicas, sem abandonar princpios e prticas cuja

    eficincia j est h tempos comprovadas.

    Nesse sentido, destacam-se os postulados de Semelweis e Nightingale,citados por Carraro (2004). Semelweis preconizou a lavagem das mos como forma de

    prevenir infeces, prtica defendida por diversos autores como primordial a ser

    realizada antes e depois da realizao de qualquer procedimento de assistncia.

    descrita de duas formas, a lavagem simples das mos e assepsia das mos, sendo que

    a segunda deve preceder procedimentos invasivos de maior risco como, por exemplo,

    cirurgias.

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    Oliveira e Armond (2005) comentam que as mos so a principal via de

    transmisso de microorganismos, sendo sua higienizao um dos principaisprocedimentos na rotina dos profissionais da rea. Apesar de bvio o seu benefcio,

    um dos principais desafios na atuao do SCIH.

    A lavagem das mos , sem dvida, um mtodo simples e eficaz no controle

    de infeco hospitalar, tanto que mereceu destaque num captulo especial na Portaria

    MS 2.616/1998. Esse anexo dispe desde a tcnica de lavagem simples das mos e

    anti-sepsia cirrgica at a disposio de pias nas diversas reas hospitalares para

    facilitar a sua prtica. Contudo, freqente observar a baixa adeso a essa prtica por

    diversos profissionais que atuam nos servios de assistncia sade. Os argumentos

    da no lavagem das mos so vrios. Entre eles, apresenta-se a indisponibilidade de

    pias e torneiras de fcil acesso. Essa dificuldade foi percebida pela indstria, que no

    tardou em desenvolver pesquisas e lanou o lcool-gel para equacionar tal dificuldade.

    Houve tambm a edio da Resoluo RDC n 46, de 20 de fevereiro de 2002, da

    ANVISA (Brasil, 2002b), que proibiu a venda do lcool 96 % GL, e estimulou a indstria

    na fabricao do lcool-gel. Nesse contexto, o enfermeiro um contumaz2 vigilante,

    incentivador e orientador para que essa prtica acontea em todos os nveis de atuaoprofissional na assistncia ao paciente, inclusive na avaliao da eficcia de produtos

    novos com promessas de melhorar ou substituir a lavagem das mos.

    Nightingale demonstrou a eficcia da limpeza e controle do meio ambiente,

    props o isolamento dos pacientes, separando os mais crticos; atentou para a limpeza

    dos materiais. Introduziu a higiene e sanitizao do ambiente como medidas profilticas

    da infeco hospitalar. Outra contribuio fundamental de Nightingale foi no campo da

    pesquisa epidemiolgica, pois tinha o hbito de registrar suas observaes com riquezade detalhes, permitindo a anlise da evoluo dos doentes e a identificao de fatores

    de risco (CARRARO, 2004).

    Um estudo de Lacerda, realizado em 1997, relaciona o desenvolvimento da

    assistncia hospitalar com as prticas de controle de infeco e aponta que, por um

    lado, o controle de infeco tem como premissa direta ou indireta de reduzir custos e,

    por outro, h uma incessante incorporao de novas tecnologias, cada vez mais

    2Contumaz = costume = cultura

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    sofisticadas e caras que nem sempre so contabilizadas. Sem negar a importncia do

    avano tecnolgico para o diagnstico e tratamento das doenas, importante avaliarse todo espao que lhe dado garante a eficcia e eficincia tcnica a que se prope.

    A mesma autora estimula a reflexo sobre o fato de existirem programas de Vigilncia

    Epidemiolgica de infeco hospitalar ou sofisticados equipamentos de esterilizao,

    entretanto, faltam recursos bsicos como papel toalha para a lavagem das mos.

    Os recursos tcnicos so necessrios e adequados, mas h que se avaliar

    suas formas de utilizao. Considera-se, nesse mbito, as condies dos recursos

    humanos existentes, seu preparo e sua conscientizao. Nesse sentido, Barbosa,

    Vieira e Abbot (2006) identificaram que, mesmo com freqentes capacitaes e

    treinamentos em servio, com vistas conscientizao para uso de EPI, por exemplo,

    ainda persistem comportamentos negando a necessidade de autoproteo, com o

    argumento da percia e habilidade tcnica, ou seja, quem a possui no tem risco de se

    contaminar. Alerta-se com isso a necessidade da incorporao da cultura da preveno

    e quebra de mitos, um desafio que no fcil de atingir.

    2.2.5 Aes de vigilncia sanitria

    No art. 4 da Lei n 8080/90 a Vigilncia Sanitria definida como um

    conjunto de aes capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos sade e de intervir

    nos problemas sanitrios decorrentes do meio ambiente, da produo e da circulao

    de bens e da prestao de servios de interesse da sade, abrangendo o controle de

    bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem com a sade,compreendidas todas as etapas e processos de produo e, o controle da prestao de

    servios que se relacionam direta ou indiretamente com a sade (BRASIL, 1990a).

    O enfermeiro utiliza como estratgia a vigilncia sanitria com o objetivo de

    identificar problemas relacionados IH e elaborar medidas preventivas ou corretivas.

    Atualmente, no pas, as diretrizes para o Controle da Infeco em Servios

    de Sade so traadas pela Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria, criada em janeiro

    de 1999. A fuso das aes de controle de infeco hospitalar com as da vigilncia

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    sanitria resultou no fortalecimento de ambas, dada a proximidade de objetivos. A

    abrangncia das aes de preveno e controle das infeces hospitalares avanapara a anlise dos aspectos estruturais e organizacionais da comisso, valorizando a

    preveno e o controle de riscos relacionados a ambiente e materiais. No mbito intra-

    hospitalar, vigiar a instituio sob os aspectos sanitrios fortalece a preveno e o

    controle das infeces, uma vez que essa atua na retaguarda da estrutura fsica da do

    hospital.

    Dentre os aspectos vigiados pelo enfermeiro do SCIH, est o relacionado ao

    uso dos anti-spticos, desinfetantes e esterilizantes. Ele deve se atentar para as

    determinaes da Portaria n. 15 de 23 de agosto de 1988, da Secretaria de Vigilncia

    Sanitria do Ministrio da Sade que determina que o registro de produtos saneantes

    domissanitrios, com a finalidade antimicrobiana, seja procedido de acordo com as

    normas regulamentares. A referida norma tem como objetivo definir, classificar,

    regulamentar parmetro para registro e os requisitos para rotulagem, bem como

    estabelecer o mbito de emprego dos saneantes, com a finalidade antimicrobiana.

    Apresenta ainda definies de artigos crticos e semi-crticos, desinfetantes,

    esterilizantes, substncias microbicidas e microbiostticas e superfcies fixas (BRASIL,1988b).

    Em 1994, o Ministrio da Sade lanou o Manual de Processamento de

    Artigos e Superfcies em Estabelecimentos de Sade, cujo contedo apresenta os

    parmetros para avaliar a adeso dos hospitais norma; explicita critrios de seleo,

    escolha, aquisio e uso de produtos; e descreve, mtodos fsicos e qumicos do

    processamento de artigos e superfcies e de algumas substncias em estabelecimentos

    de sade. Tem como objetivo proporcionar aos profissionais a possibilidade deesclarecer dvidas, bem como colocar em prtica as especificaes apresentadas,

    optando pela melhor que se adeqe s condies de cada unidade (BRASIL, 1994).

    Destaca-se, aqui, a importncia de diferenciar os conceitos de artigos

    crticos, aqueles que entram em contato com tecido orgnico estril, como por exemplo,

    agulhas e cateteres. E carecem de esterilizao para o seu uso; semi-crticos, aqueles

    que entram em contato com mucosas; esses artigos necessitam de esterilizao ou

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    desinfeco de alto nvel e artigos no crticos, materiais que entram em contato com a

    pele ntegra, necessitam de limpeza para serem utilizados.Graziano, Silva e Bianchi (2000) afirmam que o material considerado limpo

    quando livre de matria orgnica. O artigo estril quando livre de quaisquer

    microorganismos. A desinfeco um processo de destruio e inibio de

    microorganismos exteriores ao corpo que so produtores de doena, ou evitam seu

    crescimento. A esterilizao um processo pelo qual ocorre a destruio de todas as

    formas de vida microbiana. Nesse aspecto o enfermeiro do SCIH auxilia nos processo

    de compra desses produtos, avalia a qualidade e atenta eficcia da esterilizao dos

    produtos, avaliando e convalidando todas as fases.

    Outro ponto importante na vigilncia sanitria se refere arquitetura

    hospitalar. Fiorentini, Lima e Karman (1995), responsveis pela elaborao dos Textos

    da srie Sade e Tecnologia para o Ministrio da Sade, comentam que a arquitetura e

    a engenharia hospitalar muito tem a contribuir na luta contra a infeco hospitalar.

    Definem que o seu papel na preveno de infeco pode ser compreendido sob os

    aspectos de barreiras, meios e recursos fsicos, funcionais e operacionais relacionados

    a pessoas, ambientes, prticas, equipamentos, instalaes e fluidos. Figueiredo (2003)tambm chama a ateno para a arquitetura do hospital na preveno das infeces

    hospitalares, enaltecendo a questo dos recursos fsicos e operacionais, acrescentando

    aqui tambm a quantidade e a qualificao de profissionais envolvidos nas aes e

    servios.

    Verifica-se na prtica que o hospital, apesar de todas as crises que enfrenta,

    est sempre crescendo, e freqente se observarem reformas. O ideal seria que no

    momento da estruturao bsica da unidade hospitalar j fosse prevista possvel reade crescimento, no entanto isso no ocorre. O que se v so reformas, nem sempre

    adequadamente planejadas, levando principalmente riscos de contaminao.

    pertinente a participao da CCIH no planejamento. O enfermeiro do SCIH, ao exercer

    sua funo, fiscaliza, passando por todos os setores do hospital, certamente est atento

    aos riscos advindos de uma construo. Assim, a sua participao no planejamento de

    qualquer construo ou reforma subsidia estratgias de modo que haja o menor risco

    para o paciente e a menor perda para a instituio.

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    Ainda no que se refere construo, Graziano (1994) ressalta a importncia

    dos cuidados com o sistema de ventilao, a implantao de trfego unidirecional depessoas e material, a eficcia nos processos de esterilizao e dos mtodos de

    assepsia em especial na preveno de infeces em centro cirrgico. Explica que os

    procedimentos cirrgicos devem ser executados sob rigoroso controle de limpeza: na

    sala de operao, nos equipamentos, mobilirio, piso, paredes e portas, para garantir

    eficiente controle da infeco hospitalar no ambiente. A implantao do trfego

    adequado controla melhor o nmero de acesso e trnsito de pessoas na sala cirrgica.

    Esses so aspectos arquitetnicos que corroboram com o controle de preveno das

    infeces, principalmente nesse ambiente que destinado realizao de

    procedimentos invasivos.

    Na vigilncia sanitria tem sido amplamente discutida a questo do

    tratamento dos resduos de servios de sade. Desde a publicao da RDC n 33/2003,

    com a pretenso de uniformizar o gerenciamento dos resduos de servio de sade em

    nvel nacional, outras resolues surgiram. Todas com o objetivo de conclamar as

    instituies prestadoras de servio de sade a elaborarem o seu Plano de

    Gerenciamento de Resduos de Servios de Sade, cujo principal finalidade asegregao adequada e destino final com menor risco para os pacientes, profissionais

    e proteo ao meio ambiente (BRASIL, 2003a).

    Garcia e Zanetti-Ramos (2004) comentam que os resduos slidos de sade

    so um tema polmico, pois enquanto alguns o consideram grande perigo sade,

    outros no acreditam que os resduos possam interferir na sade das pessoas. Esse foi

    o ponto que originou a portaria supracitada, pois com a responsabilizao das

    instituies prestadoras de servios de sade, desde a gerao at o destino final epela segregao adequada do seu prprio lixo, foram medidas consideradas como

    formas que contribuem para diminuir a produo do lixo e promover a sade pblica,

    bem como a conservao dos recursos naturais e a proteo do meio ambiente. As

    mesmas autoras relacionam o gerenciamento dos resduos slidos de sade como

    medida de biossegurana ao consider-la como a que visa a manuteno da sade do

    trabalhador e da comunidade e a preservao do meio ambiente.

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    O enfermeiro controlador de infeco hospitalar interage com a sade

    ocupacional nas imunizaes e medidas que necessitem do afastamento deprofissionais; trabalha em conjunto com a comisso interna de preveno de acidentes,

    priorizando as precaues-padro (PEREIRA et al., 2005).

    Assim, desde a publicao da Resoluo RDC n. 33/2003, todos os

    profissionais atuantes no controle de infeco hospitalar foram inseridos no desafio de

    reduzir a produo dos resduos slidos de sade como medida de proteo ao

    paciente, equipe e ao meio ambiente. Tarefa de considervel dificuldade, por se tratar

    de uma atitude que no envolve somente a instituio, mas outros rgos

    governamentais e privados. O dilema maior, talvez, seja por envolver questes

    financeiras.

    2.2.6Medidas de isolamento

    O advento da emergncia de doenas consideradas erradicadas bem como

    o surgimento de novas doenas e bactrias cada vez mais resistentes geroumodificaes no sistema de precaues. Uma pesquisa do CDC sobre estratgias para

    preveno de infeco dentro do ambiente hospitalar mostrou a evoluo de

    terminologias: em 1970, falava-se em precaues de isolamento, em 1983, precaues

    universais, em 1987, precaues com substncias corporais, depois, precaues

    padro e hoje simplesmente precauo, compreendendo todos os tipos de isolamento

    bem como as barreiras de autoproteo (COUTO, 2003).

    Isolamento a segregao de um caso clnico do convvio de outras pessoasdurante o perodo de transmissibilidade de doenas infecto-contagiosas, a fim de evitar

    que os susceptveis sejam infectados. Segundo Armond e Oliveira (2005) os

    profissionais de sade esto expostos diariamente a doenas infecto-contagiosas,

    passveis de serem transmitidas pelo contato com sangue e outros lquidos corporais de

    pacientes. Dessa forma, a adoo de medidas de isolamento tem sido recomendada na

    prtica profissional e a partir da publicao do Guideline for Isolation Precautions in

    Hospital pelo Center for Disease Control and Prevention(CDC).

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    Todo paciente deve ser considerado potencialmente portador de patgenos,

    mesmo que no apresente sintomas, portanto, na manipulao de sangue e todos osfluidos corpreos devem sempre ser adotadas as seguintes precaues: lavagem das

    mos; uso de Equipamentos de Proteo Individual (EPI); uso de vacinas contra a

    hepatite B; uso de equipamentos de reanimao respiratria; uso de curativos em

    feridas exsudativas e medidas de preveno de acidentes prfuro-cortantes (OLIVEIRA;

    ARMOND e CLEMENTE, 2005).

    A Associao Paulista de Estudos em Controle de Infeco (APECIH)

    divulgou um Manual de Orientaes para o Controle de Infeces em Pessoal da rea

    de Sade (1998) no qual afirma que dentre vrios estados sobre acidentes com

    exposio a material biolgico entre profissionais da sade tm mostrado maior risco de

    transmisso a Hepatite B em acidentes perfurocortantes uma taxa de 6%. Na Hepatite

    C em acidentes perfurocortantes ocorre uma de 3% a 10% de contaminao, enquanto

    com o HIV em acidentes perfurocortantes a taxa de transmisso de 0,3% e, de 0,1%

    em acidentes com exposio de mucosa. No h registros de nenhuma transmisso em

    exposio de pele ntegra.

    Estudo realizado pelo Centro de Controle de Doenas (CDC) evidenciou umareduo de aproximadamente 80% no risco de transmisso do HIV, por acidentes

    perfurocortantes quando utilizado o AZT em esquema de profilaxia ps-exposio. A

    utilizao de imunoglobulina hiperimune contra o vrus da hepatite B e o incio do

    esquema vacinal contra o vrus da hepatite B, ambos iniciados at 24 horas aps a

    exposio de um indivduo no previamente vacinado, diminuram o nmero de

    infeces agudas ou evitaram a evoluo para quadros crnicos entre profissionais de

    sade e a evoluo da infeco crnica pelo vrus da hepatite C pode ser modificadapelo uso de interferon. Tem sido recomendado, por rgos internacionais e pelo

    Ministrio da Sade, que tais exposies sejam tratadas como emergncias mdicas,

    seguindo-se os protocolos preconizados. Assim, deve-se ressaltar que a melhor

    profilaxia para essas exposies ocupacionais continua sendo o respeito s normas de

    biossegurana e estar vacinado contra hepatite B e ttano (APECIH, 1998).

    Sarquis et al., (2004) defende que necessrio compreender que os temas

    relacionados sade do trabalhador da enfermagem tm uma caracterstica especial,

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    no devem ser analisados isoladamente e sim associados as questes biolgicas, as

    condies de vida no trabalho e os fatores determinantes para riscos de acidentes,doenas ocupacionais e do trabalho. Diz que a legislao trabalhista vem

    gradativamente incorporando a preocupao com a preveno e o tratamento dos

    acidentes de trabalho e doenas ocupacionais agregando aspectos relacionados

    sade do trabalhador.

    Percebe-se nesse aspecto que a ateno sade ocupacional se integrou

    no Controle de Infeco Hospitalar, inserindo-se como uma estratgia de vigilncia a

    observao da equipe de sade, visando identificar os fatores e procedimentos de

    risco, bem como adequadas medidas de controle (PEREIRA, et al, 2005).

    2.2.7Disseminao das aes de preveno e controle de infeces

    Talvez seja esta a tarefa mais complexa atribuda ao enfermeiro: a de

    disseminar informaes que pontuam as aes em prol do controle de infeco. uma

    misso nobre que exige muito conhecimento, definio e, principalmente, apropriaoda difcil e ao mesmo tempo encantadora arte da comunicao.

    Para Oliveira, Armond e Clemente (2005) a divulgao das informaes de

    grande importncia para a vigilncia epidemiolgica porque ao socializar estes

    conhecimentos, aumenta a responsabilidade da adoo de medidas de controle pelos

    profissionais que realizam atividades assistenciais. Enfatiza que a divulgao da anlise

    dos dados deve ser de rotina para todos os profissionais envolvidos na assistncia bem

    como para a administrao da instituio. Muitos profissionais ao tomaremconhecimento dos resultados e quando os ndices so referentes ao seu servio

    especfico, passam a repensar sua prtica e se envolvem mais com as medidas de

    preveno e controle, com a vigilncia propriamente dita, ou seja, o retorno das

    informaes pode ter impacto relevante sobre as taxas de infeco.

    Para tanto, fundamental a eleio do correto veculo para divulgao, a

    clareza do contedo, a objetividade, contextualizado e com informaes pertinentes, de

    preferncia utilizar-se de grficos e tabelas para facilitar a interpretao e estmulo a

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    novos estudos. Um instrumento de valia para atender esse objetivo a educao

    permanente. O enfermeiro precisa aliar pesquisa prtica e estar alerta s evoluespara poder acompanhar as mudanas necessrias conforme muda o comportamento

    do doente e da doena e assim ser um articulador das aes de controle de infeco no

    cenrio hospitalar.

    O registro dos eventos ocorridos e as decises da CCIH em atas tambm

    consistem num valioso instrumento de comunicao. Nelas ocorrem os registros

    histricos de todas as decises tomadas pelos consultores e executores ao logo do

    tempo. Por meio da ata verifica-se a evoluo dos fatos ocorridos no mbito do controle

    e preveno do Controle de Infeco Hospitalar, sendo uma forma de proteo acerca

    dos processos decisrios, evidenciando a fora da equipe. Pela ata da CCIH se

    conhece a histria do Hospital, uma vez que as aes de preveno e controle a

    permeiam como um todo (SILVA; SANTOS, 2001).

    2.2.8Notificao

    A Portaria MS n. 2.616/1998 aborda dois tipos de notificao compondo o

    Controle de Infeco. A primeira, notificar ao Servio de Vigilncia Epidemiolgica os

    casos e surtos diagnosticados ou suspeitos de infeces associados utilizao e/ou

    produtos industrializados (BRASIL, 1998).

    Deve-se considerar que o hospital uma instituio que usa extensa gama

    de insumos, desde medicamentos, soros e produtos de limpeza. Define-se que papel

    do enfermeiro responsvel pelo servio de controle de infeco hospitalar dispor demecanismos de alerta para identificar qualquer interao que possa ocorrer entre os

    produtos e o paciente. Para isso necessrio que o profissional possua conhecimentos

    que lhe permitam avaliar a qualidade dos insumos e participar da padronizao dos

    produtos utilizados no ambiente hospitalar. Nesse sentido, a comunicao entre o

    enfermeiro assistencial e o enfermeiro do Servio de Controle de Infeco Hospitalar

    (SCIH) uma estratgia que se mostra eficaz para identificar precocemente problemas

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    relacionados qualidade dos produtos hospitalares, pois notificaes dessa natureza,

    realizadas assim que o problema seja detectado, permitem uma adequada interveno.O segundo tipo de notificao refere-se s doenas de notificao

    compulsrias em todo o territrio nacional e em territrios especficos. O Ministrio da

    Sade estabelece que em territrio nacional notifica-se: coqueluche, clera, dengue,

    meningite e outras doenas meningoccicas, difteria, doena de chagas (casos

    agudos), febre tifide, febre amarela, hansenase, leishmaniose tegumentar e visceral,

    peste, poliomielite, raiva humana, rubola, sndrome da rubola congnita sarampo,

    sfilis congnita, AIDS, ttano, tuberculose, varola, hepatites virais e em reas

    especficas devem ser notificadas: esquistossomose e filariose. Essas doenas ou

    suspeita delas devem ser informadas ao organismo de gesto estadual ou municipal do

    SUS (BRASIL, 2006b).

    Notificao a comunicao do acontecimento de determinada doena ou

    complicao dessas, autoridade sanitria, realizada por profissionais de sade, ou

    qualquer pessoa, com a finalidade de adoo de medidas de interveno apropriada. O

    enfermeiro do SCIH deve notificar ou orientar a notificao tendo como regra o

    seguinte: notificar a simples suspeita da doena. No necessrio aguardar aconfirmao do caso, oportunizando a adoo de medidas de preveno e controle;

    enviar os instrumentos de coleta de notificao mesmo na ausncia do caso; deve se

    utilizar meio mais rpido possvel (telefone, fax, e-mail, pessoalmente) ao servio de

    Vigilncia Epidemiolgica do municpio. Depois de notificados, os casos devero ser

    arrolados juntamente com os demais no Boletim de Notificao Semanal (MACHADO;

    FRANA, 2001).

    2.2.9Oensino terico/prtico sobre o controle de infeco para todos os profissionais

    da instituio

    A educao constitui a principal ferramenta para o controle e preveno das

    infeces hospitalares. Segundo a Organizao Pan-Americana de Sade (OPAS,

    1994), a educao permanente requer avanar alm da fragmentao, integrando as

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    diversas reas de ateno sade a fim de permitir a reviso crtica da cultura

    institucional, dos modos de pensar, perceber e atuar que servem de suporte aosprocessos de trabalho, de interao e comunicao. Tambm devem facilitar a

    apropriao ativa do saber cientfico integrado ao saber da experincia, partindo da

    anlise do processo de trabalho e dos problemas da prtica e, finalmente, permitir o

    fortalecimento dos objetivos da equipe multiprofissional, em funo de valores

    partilhados. Os programas de educao continuada devem ser elaborados conforme a

    realidade institucional em funo dos objetivos propostos. Devem ser avaliadas quanto

    ao seu contedo programtico, adequao das estratgias de ensino e efetiva

    participao dos funcionrios.

    Treinamento e orientaes, relacionados preveno e controle das

    infeces hospitalares tm a funo de capacitar os trabalhadores que prestam

    assistncia direta ou indireta ao paciente, de forma a conscientiz-los, fazendo com que

    todos se comprometam com a mesma causa (BARBOSA, VIEIRA e ABBOT, 2006).

    Lacerda (2003) lembra referindo-se questo dos mitos e rituais que muitas

    prticas de Controle de Infeco Hospitalar antes consideradas necessrias hoje j no

    so, devido emergncia de novos