11. conto de verão

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C O N T O D E V E R Ã O Comédia Romântica Texto de: JULIO CARRARA Escrita em 2000

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CCCCOOOONNNNTTTTOOOO DDDDEEEE VVVVEEEERRRRÃÃÃÃOOOO

Comédia Romântica

Texto de: JULIO CARRARA

Escrita em 2000

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PERSONAGENS:

ALAN

MARÍLIA

FRED

GABRIEL

LILIANE

ANA TELMA

PAI DE LILIANE

CENÁRIO: A primeira e a última cena se passam na Serra do Mar. Da

segunda cena em diante, o ambiente sugere as areias da praia do Gonzaguinha

na cidade de São Vicente. Duas barracas de “camping”, esteiras e cadeiras de

praia. Outros elementos que poderão compor o cenário ficarão a critério do

cenógrafo e do encenador.

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CENA 1

(Luz sobe em resistência revelando uma estrada deserta em plena madrugada. Uma

forte neblina encobre, em parte, o lugar. Ouve-se no áudio ruídos de motor de um carro

que custa a funcionar, mesclando com as vozes dos passageiros. Buzinas, faróis que

acendem e apagam e muita fumaça. Logo em seguida entram três jovens: Marília, Fred

e Gabriel. Estão um pouco tensos e cansados.)

MARÍLIA

Eu sabia que isso não ia dar certo. Não sei onde tava com a cabeça

quando aceitei o convite de descer pra praia com vocês.

GABRIEL

Fica fria, Marília... Dá-se um jeito pra tudo.

FRED

Eu tinha certeza que o carro ia quebrar no caminho.

MARÍLIA

E vocês esperavam que essa lataria velha que é o carro do Alan,

aguentasse a viagem toda? Eu falei pra ele de vir de ônibus ou alugar uma

van, mas é teimoso como uma mula. E ainda mais com a quantidade de coisas

que a gente trouxe.

(Nesse momento entra Alan, todo sujo de graxa.)

ALAN

É... não tem jeito, galera. Ferveu!!!!

MARÍLIA

Era de se esperar. E agora, o que a gente vai fazer?

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ALAN

Esperar o carro esfriar para a gente seguir viagem.

MARÍLIA

Você tá zoando com a nossa cara...

ALAN

É a única maneira, Marília. Você vê outra solução?

MARÍLIA

Eu não fico aqui nem mais um minuto. Vou pegar um ônibus e a gente

se encontra lá em São Vicente. (Vai saindo.) Tchau!

GABRIEL

São três e meia da manhã, Marília. Não tem ônibus pra lá esse horário...

E se tivesse com que grana a gente ia pagar?

ALAN

Pô, sem estresse, relaxa...

MARÍLIA

(Com os nervos à flor da pele.) Como eu vou relaxar Alan? Estamos há

quase meia hora nessa estrada; tô com fome, com sede, com medo, a bosta

desse Fiat 147 quebrou, não passa um miserável pra ajudar a gente e você me

pede pra ficar relaxada? Tenha dó.

FRED

Fome não é problema. Minha mãe me fez trazer uns frangos assados

com farofa pra gente comer. Tá aqui na minha mochila. Quer que eu pegue um

pra você, Marília?

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MARÍLIA

Vá se danar, Frederico. Não tô pra brincadeira.

FRED

(Para Alan.) Ô, Alan, dá um jeito na sua mina, mano. O que ela tem? Não

aceita brincadeira...

MARÍLIA

Brincadeira tem hora, sabia?

FRED

É? Não sabia que pra brincar tinha que ter hora marcada...

MARÍLIA

(Irônica.) Engraçadinho!

GABRIEL

Sabe o que é isso, Fred? TPM, saca?

FRED

Que porra é essa?

GABRIEL

Tensão Pré-Menstrual. Algumas mulheres viram verdadeiras megeras

quando estão com isso, e a Marília é uma delas. Tome cuidado, viu Alan?

MARÍLIA

Não é nada disso, Gabriel. Não tô com TPM porcaria nenhuma. O que

eu quero é sair daqui o mais rápido possível... (Começa a chorar.) Inferno! (Alan

aproxima-se dela.) Ah, Alan, mal começamos a viagem e já tá tudo dando

errado!

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ALAN

Não pensa assim. Vai dar certo, sim. Garanto que vai ser o feriado mais

divertido que a gente vai passar junto. Você não confia em mim?

MARÍLIA

Em você eu confio, só não confio no seu Fiat 147. (Chuta o carro.)

(Alan senta-se no chão ao lado da namorada. Fred também se senta e solta o ar dos

pulmões violentamente pela boca.)

GABRIEL

Tô apertado, vou dar um mijão e já volto. (Brinca com Fred.) Quer vir

comigo pra chacoalhar, Fred?

FRED

Vá tomar no cu...

GABRIEL

(Ainda no tom de brincadeira.) Nossa, que mocinha malcriada! É falta de

homem, meu bem?!

(Fred atira uma pedra em Gabriel, mas não acerta. Gabriel vai até o fundo do palco,

rindo. Nesse momento ouve-se no áudio ruídos de um motor de caminhão. Fred,

Marília e Alan, escutam, olham um para o outro e concordam entre olhares. Sorriem

com esperança.)

FRED

É a chance... Ô, Gabriel! (Assobia para Gabriel, que vem fechando a braguilha

da calça.)

GABRIEL

Pô, não posso nem mijar sossegado!...O que foi?

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FRED

(Feliz.) Carona à vista...

GABRIEL

(Esfregando as mãos.) Beleza!!!

ALAN

E o que eu vou fazer com o meu carro?

FRED

Deixa ele aí e vamos dar área.

ALAN

Deixar ele aqui na estrada? Tá maluco?!

GABRIEL

Quem vai querer roubar um Fiat 147, Alan? Ainda mais do jeito que ele

tá. Vamos pegar carona, curtir o feriado e na volta a gente pega ele. Fica frio,

cara. Além do mais, essa lataria não presta nem pra desmanche. Acho que nem

ferro velho aceita ele. Pode dar tétano.

ALAN

Obrigado pela parte que me toca...

FRED

Galera, precisamos agir rápido...

(Todos olham para Marília.)

MARÍLIA

(Compreendendo a intenção.) Êêêêê...

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GABRIEL

Quebra essa, vai Marília. O que custa?

MARÍLIA

Tudo eu, tudo eu... Por que vocês não fazem isso?

FRED

Você acha que algum caminhoneiro vai querer dar carona prum bando

de marmanjo como a gente?

ALAN

Não vou permitir que minha namorada peça carona pra caminhoneiro

nenhum... (Muda o tom.) Mas hoje, só hoje, vou abrir uma exceção... Faz isso

pela gente. Salva a nossa pele.

MARÍLIA

(Depois de uma pausa.) Tá bom, tá bom, tudo eu, tudo eu, tudo eu... vou

me sacrificar por vocês, mas vai ser a última vez...

(Os três pulam de alegria. O caminhão vai se aproximando lentamente. Os garotos

desaparecem e ficam espiando num canto. Apenas Marília em cena. Começa a fazer

caras e bocas, mostra as pernas, etc. O caminhão vai se aproximando. Ouve-se no

áudio ruídos de galinhas cacarejando. Foco nos garotos, atrás da moita.)

GABRIEL

(Fala para os outros, que como ele estão escondidos.) Ihhh, fodeu...

ALAN

Por quê?

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GABRIEL

Não tão sentindo o cheiro e ouvindo o barulho? É um caminhão de

galinha...

FRED

Menos mal. Seria pior se fosse um caminhão cheio de porco com aquele

cheiro horrível de lavagem.

(Muda o foco para Marília, que acena para o caminhão imaginário pedindo carona.

Ouve-se uma freada brusca.)

MARÍLIA

(Fala para o motorista invisível.) E aí, tudo bem, como vai gostosão?... Não

querendo abusar da sua bondade, mas poderia me dar uma carona até a

Baixada? Ó, tô sem grana nenhuma, mas posso te pagar de outra maneira...

(Ouve a resposta.) Tudo bem? (Sorri feliz. Chama os rapazes.) Vamos embora,

galera!!!!

(Os três rapazes saem da moita carregando malas, barracas, tudo o que se pode

imaginar. Alan empurra o carro para fora de cena. Fred, Gabriel e Marília, sobem na

carroceria do caminhão e Alan vai dentro do carro. Saem de cena na maior algazarra.)

CENA 2

(Luz sobe em resistência sobre as areias da praia. No ciclorama, um céu azul cheio de

nuvens. O sol da manhã começa a aparecer no horizonte. Movimentação habitual de

uma praia. Entram Alan, Marília, Gabriel e Fred, totalmente imundos, carregando,

cada um, a sua bagagem. Em seguida começam a montar as barracas e organizar suas

coisas. Quando terminam o serviço, Alan estende os braços para o céu.)

ALAN

São Vicente... aqui estamos nós!

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(Alan agarra Marília.)

MARÍLIA

Ai, Alan, eu tô fedendo à galinha...

ALAN

E daí? Olha a minha cara de preocupado...

(Alan joga Marília na areia e ambos começam a rolar nela.)

GABRIEL

(Cortando o barato, batendo palmas.) Ô, vocês dois, agora não é hora de

ficar se agarrando aí na areia feito dois cachorros no cio.

ALAN

Vá se danar, Gabriel. Tá com ciúme, babacão?

MARÍLIA

Tá parecendo meu pai.

(Alan e Marília se soltam. Fred começa a rir sem controle.)

GABRIEL

O que foi bobo-alegre?

FRED

Tô me lembrando da cara do tiozinho do caminhão quando viu o bando

entrando na carroceria e ficando junto com as suas galinhas.

MARÍLIA

(Rindo.) Ele nem teve tempo de dizer um “não”.

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ALAN

E se dissesse levava porrada...

(Riem. Pouco a pouco vão parando de rir, até um silêncio absoluto.)

GABRIEL

Tá tudo muito bom, mas o que tá faltando aqui nesta praia é mulher...

Muita mulher bonita.

MARÍLIA

(Ofendida, com ironia.) Obrigada, Gabriel.

GABRIEL

Pô, foi mal. Não era isso que eu queria dizer.

MARÍLIA

Mas disse.

FRED

(Olha para fora.) Uau! Olha o Boeing que vem vindo ali...

(Os três olham para fora. Neste instante entra Liliane, uma linda garota, loura

oxigenada e de olhos verdes, trazendo uma esteira e um radinho de pilha. Está com um

rayban, chapeu e uma sacolinha. Fred e Gabriel ficam boquiabertos. Liliane coloca a

esteira no chão e senta-se nela. Tira o rayban e a canga ficando apenas de biquíni.

Liga o rádio. Ouve-se uma música qualquer. Tira um bronzeador da sacolinha.

começa a passá-lo no corpo com uma grande dose de sensualidade, sem notar a

presença dos meninos. Nota-se uma certa dificuldade quando esta vai passar o óleo nas

costas. Quando percebe a presença dos garotos, se dirige para eles.)

LILIANE

Ei, vocês aí poderiam me dar uma ajudinha?

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(Fred, Gabriel e Alan fazem menção de ir até ela. Marília, ao perceber o movimento de

Alan, o impede. Fred e Gabriel param no meio do caminho.)

LILIANE

Podem vir, eu não mordo, não. (Os rapazes ficam bem perto da garota.)

Poderiam passar esse bronzeador nas minhas costas?... Não tô conseguindo...

Acho que Deus deveria ter feito a gente com o braço mais comprido. Toda vez

que venho pra a praia sozinha é sempre o mesmo transtorno, preciso sempre

pedir ajuda pra alguém. Poderiam me fazer esse pequeno favor?

FRED

(Assanhado.) Mas é claro.

(Liliane entrega o bronzeador para Fred que disputa a posse do mesmo com Gabriel.

Liliane, ao perceber o que está acontecendo, tenta apaziguá-los.)

LILIANE

Calma. Não precisam brigar, rapazes... Passa um de cada vez...

(Liliane deita-se de bruços. Os rapazes olham para o corpo da garota, depois um para o

outro. Gabriel começa a passar o bronzeador no corpo dela com certa timidez.)

LILIANE

Passa direito, garoto. Tem medo de mulher, é?

(Gabriel, agora bem mais desinibido, pega o óleo e vai massageando as costas da garota.

Fred, todo assanhado, pega o frasco das mãos de Gabriel e lambuza a garota,

massageando depois.)

LILIANE

Vocês vem sempre pra cá?

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FRED

De vez em quando.

LILIANE

Vocês moram aqui na Baixada?

GABRIEL

Não. Somos de Sampa.

LILIANE

Não sei como conseguem viver naquela cidade. É muito barulho,

poluição, gente estressada, um horror!

FRED

Por isso nós viemos pra cá, pra fugir um pouco do estresse provocado

por Sampa e também para caçar algumas “caiçaras”. Captou ou quer que eu

desenhe?

(Gabriel bate em Fred.)

LILIANE

(Curiosa, olhando para Alan e Marília.) E quem são aqueles dois?

GABRIEL

Nossos amigos...

(Gabriel assobia. Alan e Marília aproximam-se.)

MARÍLIA

(Simpática.) Olá. Sou Marília.

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LILIANE

E eu Liliane. E o bonitão aí, como se chama?

ALAN

(Sem entender.) Você fala comigo?

LILIANE

E que outro bonitão, além de você, tá por aqui?

GABRIEL

(Magoado.) Nós sabemos que não somos grandes coisas, mas não precisa

jogar na cara, né?

MARÍLIA

(Cínica, para Liliane.) O bonitão se chama Alan...

LILIANE

Alan! Bonito nome...

MARÍLIA

(Cortando.) ...e ele tem namorada!

LILIANE

Que pena!... Por acaso, é você? Menina de sorte, hein?

MARÍLIA

(Perdendo a calma.) Quer parar de ficar se insinuando pra ele, sua

sirigaitazinha, sua, sua... Surfistinha.

LILIANE

Eu não entendi direito o que você quis dizer...

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MARÍLIA

É que toda oxigenada processa as informações lentamente. Mas existe

uma razão pra isso: a tinta cozinhou o cérebro. (Para Alan, jogando a intenção

para Liliane.) Você sabe Alan, porque essa garota trouxe esse rádio?

ALAN

Não, por quê?

MARÍLIA

Porque não pode ouvir disk-men... E sabe por quê? (Destacando as

sílabas.) Porque o som não se propaga no vácuo.

(Olha fixamente para Liliane, enquanto Alan ri.)

LILIANE

(Joga os cabelos de um lado para o outro.) Também não entendi.

MARÍLIA

(Remedando-a.) “Também não entendi”. Não entendeu? Pois fique sem

entender, minha filha... Vamos sair daqui, Alan, que eu não quero arrumar

confusão com essa... com essa... (Pausa.) Entenda como quiser!

(Saem de perto e vão para o outro lado.)

LILIANE

(Para Gabriel e Fred.) Bichinho temperamental!

FRED

Também você dá em cima do namorado dela, assim, na cara dura! Você

esperava o quê?

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GABRIEL

E ainda chama a gente de feio... mas que falta de consideração...

LILIANE

(Sem se importar.) Meninos, vocês tomam conta das minhas coisas? Eu

vou dar um mergulho... Aliás vocês também precisavam de um bom banho de

mar. Tão com um cheirinho... Bye, bye, boys. (Sai fazendo poses.)

(Fred e Gabriel se entreolham.)

GABRIEL

Que mal-agradecida!

(Ambos se aproximam de Alan e Marília.)

MARÍLIA

Mas que biscatinha!

ALAN

Não precisava baixar o nível, né, Marília?

MARÍLIA

Como não? Ela só faltou se jogar nos seus braços... O que adianta ter um

corpo escultural e o cérebro do tamanho de um caroço de azeitona? E você

bem que gostou né, seu filho da mãe?!

ALAN

Claro. (Marília dá um tapinha em Alan.) Ai. O que é isso, Marília?

(Ouve-se em “off”, pedidos de socorro de Liliane.)

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FRED

O que é isso?

GABRIEL

(Olhando para o mar.) Olha lá, parece que tem alguém se afogando... É a

Liliane.

MARÍLIA

Bem feito...

FRED

Vai lá. Salva ela, Gabriel.

GABRIEL

Eu não posso.

FRED

Por que não pode?

GABRIEL

Por que... eu não sei nadar...

FRED

(Com vergonha.) Nem eu! Eu não devia ter abandonado minhas aulas de

natação...

(Novamente ouvem-se os gritos de Liliane.)

FRED

(Desesperado.) Alguém precisa fazer alguma coisa.

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ALAN

Eu vou lá.

MARÍLIA

(Repreendendo-o.) Alan!

ALAN

A menina tá se afogando, Marília...

MARÍLIA

E me alegro muito.

ALAN

Para de ser criança... Eu já volto!

(Corre até o mar, que está fora de cena.)

MARÍLIA

(Revoltada, para Fred e Gabriel.) Seus inúteis. O que custava entrar no mar

pra salvar aquela bisca?

FRED

Não foi maldade, Marília.

GABRIEL

Você acha que faríamos isso de propósito?

MARÍLIA

Acho.

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(Alan entra com Liliane desmaiada nos braços. Coloca-a na areia e começa a massagear

seu coração. Tapa-lhe o nariz e vai fazer respiração boca a boca. Marília ao ver a cena,

se revolta.)

MARÍLIA

Ah, isso já é demais, Alan. Salvar ela, tudo bem, agora fazer respiração

boca a boca nessa oxigenada é o fim da picada. Deixa essa tarefa pro Fred ou

pro Gabriel que nunca beijaram ninguém na boca...

FRED

Bem que eu gostaria, mas não tenho a mínima ideia de como se faz.

GABRIEL

Nem eu. E o Alan foi escoteiro, Marília, ele manja esse lance de

primeiros socorros.

MARÍLIA

Vocês são dois viadinhos, isso sim. Alan pense bem no que você vai

fazer.

ALAN

Pô, Marília, não fode. Você acha que eu vou abusar da menina na sua

frente?

(Faz a respiração boca a boca em Liliane. Esta, solta uma grande quantidade de água

pela boca. Alan repete o movimento. Liliane acorda meio grogue. Ao ver Alan, o

abraça.)

LILIANE

Meu heroi...

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MARÍLIA

(No auge da fúria.) Sua filha da puta, descarada... Agora você vai ver.

(Pega-a pelos cabelos.) O Alan te salvou e agora é a minha vez de te mandar

fazer companhia pra Iemanjá.

(Leva a garota para fora de cena. Alan corre atrás. Fred e Gabriel ficam na areia,

olhando na direção do mar, desesperados. Gritos em off. Liliane volta correndo,

soltando água pela boca. Pega suas coisas e sai correndo.)

LILIANE

Assassina! Assassina!

(Marília volta furiosa. Alan segura a garota.)

MARÍLIA

Você não perde por esperar, sua vagabunda...

(Alan chacoalha Marília. A garota vai se acalmando abraça-o e chora com raiva. Fred e

Gabriel olham tudo muito assustados.)

ALAN

(Seriamente.) Agora vamos ter uma conversa bem séria. Só nós dois. E

você vai me escutar, ouviu bem?

(Fred e Gabriel, ao verem que a coisa está ficando brava, se afastam. Alan olha para

Marília.)

ALAN

Agora vamos conversar como dois adultos...

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MARÍLIA

Agora não, eu tô exausta, quero descansar um pouco. Depois a gente

conversa.

ALAN

Vamos conversar agora. E não adianta fugir... (Marília desvia o olhar.)

Olha pra mim, Marília... Agora me responda, por que você tá agindo dessa

maneira infantil e ridícula? Por que criou essa confusão toda com a Liliane?

MARÍLIA

Por quê? Você ainda pergunta? Ela ficou dando em cima de você como

se eu não existisse.

ALAN

E eu por acaso fiquei xavecando ela?

MARÍLIA

Não. Mas salvou a desgraçada do afogamento. E ainda fez respiração

boca a boca na infeliz. É o que basta!

ALAN

Eu faria isso com qualquer pessoa. Aqui nesse ponto da praia não tem

um salva-vidas sequer. Não ia ficar aqui parado, assistindo de camarote o

afogamento dela. (Noutro tom.) Pô, Marília, a gente veio aqui pra se divertir,

não pra ficar brigando. Esse teu ciúme é tão besta. Por que isso?

MARÍLIA

(Insegura.) Porque eu não quero te perder, Alan. Você é tudo que eu

tenho. Tremo só de pensar que isso possa acontecer um dia.

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ALAN

Se você continuar agindo dessa forma, vai me perder mesmo. Você não

era assim. Quando te conheci, você era diferente. Esse teu ciúme já tá passando

dos limites, tá virando uma obsessão... Eu quero uma namorada, não uma

dona, Marília, entenda isso. Você tá muito insegura comigo e isso não é legal.

MARÍLIA

(Triste.) Eu tô mesmo. Você é tudo o que eu tenho. E tem muita mulher

mais bonita do que eu dando bola pra você e isso me deixa muito mal.

ALAN

Você acha que se eu não te quisesse, eu estaria aqui? Hein?! (Pausa.) Fica

tranquila...

MARÍLIA

Eu vou tentar.

ALAN

E se a Liliane aparecer por aqui, você vai pedir desculpas pra ela pelo

ocorrido.

MARÍLIA

(Altera-se.) Isso, não. Pode me pedir qualquer outra coisa, mas pedir

desculpas pra aquela piranha, nunca!

ALAN

Vai pedir desculpas, sim. É o mínimo que você pode fazer depois do

escândalo todo que armou.

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MARÍLIA

(Rende-se.) Tá bom, tá bom. Eu vou pedir desculpas pra ela, mas se ela

ficar se oferecendo pra você, eu não respondo por mim e armo outro barraco,

tá me ouvindo?

ALAN

Isso não vai acontecer mais. Garanto.

MARÍLIA

Espero.

(Entram Fred e Gabriel, cada um segurando dois cocos. Fred entrega um coco para

Marília e Gabriel entrega outro para Alan.)

GABRIEL

(Para Alan.) E aí, acalmaram os ânimos?

ALAN

Espero que sim.

(Nesse momento começam a chegar alguns turistas, com algumas crianças, que

carregando baldinhos e outras coisas, começam a brincar na areia. O casal, pai das

crianças, começa a passar protetor solar. Alan olha para esse casal.)

ALAN

Essa água de coco tá ótima. (Pondo a mão na barriga.) Mas bateu uma

fome...

GABRIEL

E aquele franguinho com farofa, Fred?

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FRED

Tá na mão!!! (Entra na barraca e volta com duas topperwares com farofa e mais

dois frangos assados cobertos com papel alumínio. Abre o recipiente e desembrulha os

frangos.) Alguém trouxe pratos e talheres?

ALAN

Pra quê pratos e talheres, Fred? Quer bancar o fino aqui nessa praia que

só tem farofeiro?... Frango se come com a mão. (Pega uma coxa e come.) Assim.

FRED

Mas e a farofa?

ALAN

Também...

(Pega um punhado de farofa e põe na boca. Os outros acham graça no fato e repetem o

gesto de Alan, com o frango e a farofa. Depois, cada um pega uma latinha de cerveja e

começam a beber. Já estão um pouco embriagados pelo efeito do álcool.)

FRED

É uma pena que esse frango tá gelado.

GABRIEL

Tá valendo.

(Trincham o frango. Fazem uma brincadeira de falar com a boca cheia de farofa. O

casal, que está ao lado, olha com certo estranhamento.)

ALAN

(Para de comer e oferece o frango para eles.) Vocês querem um pedaço? (O

casal faz cara de nojo e acenam negativamente com a cabeça.) Então, por favor,

cuidem desses ranhentos e não deixem que eles se afoguem...

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FRED

(Fala com a boca cheia de carne de frango e farofa.) O que é que tão olhando?

Nunca viram, não?

(O casal vira para o lado e cochicha.)

ALAN

Ô, Fred, não vamos arrumar briga...

GABRIEL

(Desencanado.) Não vai haver briga nenhuma.

MARÍLIA

Nunca se sabe Gabriel.

GABRIEL

Não vai haver briga nenhuma por uma razão bem simples: eles são

gringos e não estão entendendo nada do que a gente tá falando. Vocês não

sacaram isso, seus babacas? Olha a cor deles. Chegam a ser transparentes!

(Riem. O casal arruma suas coisas e vão embora levando as crianças.)

ALAN

(Falando para os turistas.) Good bye friends, so long!

FRED

Ô, meu Deus, cadê as mulheres dessa praia? Não aguento mais olhar

pra pernas peludas e sungas salientes...

GABRIEL

A única que tinha, a Marília espantou...

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MARÍLIA

Vai começar?

GABRIEL

(Erguendo as mãos, se rendendo.) Foi mal. Desculpe.

ALAN

Esse pedaço aqui da praia é deserto mesmo. Não foi esse o combinado

da gente? De vir pra um lugar calmo onde a gente pudesse descansar e

acampar tranquilo, sem ter que aguentar aqueles bichos do mato que nunca

viram mar, rolando na areia e se transformando em bife à milanesa?

FRED

Que merda viu...

(Silêncio. Alan convida o grupo.)

ALAN

Em vez de ficar aqui jogando conversa fora, por que a gente não vai dar

um mergulho? Olha que mar lindo, que sol maravilhoso convidando a gente!

Vamos?

(Silêncio de Gabriel e Fred.)

GABRIEL

Esqueceu que não sabemos nadar?!

ALAN

Ah, fica no rasinho, caramba. Não tem perigo. As ondas dessa praia não

passam de trinta centímetros de altura. Acho que vocês não são tão idiotas de

se afogarem, né?

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MARÍLIA

(Irônica.) Eles eu não sei, mas teve uma piranhinha muito idiota que

conseguiu realizar essa proeza.

ALAN

Vai começar? (Para os garotos.) Vamos?

FRED

Tá bom. Mas me esperem um pouco...

(Entra na barraca. Demora um pouco.)

ALAN

(Impaciente.) Anda logo, Fred.

FRED

(Off.) Já vou. (Tempo. Logo aparece com óculos de mergulho, uma boia de

bichinho na cintura e dois enormes pés-de-pato.) E aí? Como estou?

MARÍLIA

(Zoando.) Uma gracinha! (Riem do ridículo do rapaz.)

ALAN

O último que chegar é mulher do padre!

(Saem de cena correndo. Fred demora um pouco mais para alcançá-los devido a grande

parafernália que está usando.)

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CENA 3

(Luz sobe em resistência revelando o pôr do sol. Alan e Marília estão sozinhos,

sentados numa enorme pedra com os cabelos úmidos e despenteados. De vez em

quando, as ondas rebentam nas pedras molhando o casal. Estão abraçados e o clima

está bastante agradável.)

ALAN

(Apreciando o pôr do sol.) O pôr do sol é tão lindo, né, Marília? (Inspira o

ar.) Como é bom respirar um pouco de ar puro, sentir esse cheiro de maresia,

ouvir as ondas rebentando nas pedras... Sabe que eu era capaz de ficar assim, a

minha vida inteira? Parece que... não sei... que a gente se desliga, se dissolve,

se desintegra... (Pausa.) Bobagem minha, né?

MARÍLIA

Eu não acho. Sabe, infelizmente a gente vive num mundo consumista

onde o que mais conta é o dinheiro... Dinheiro, dinheiro, dinheiro, sempre

dinheiro. As pessoas se matam de trabalhar, muitas vezes trabalhando de dia e

de noite, se estressam, envelhecem rápido pra no fim do mês receber uma

merreca de salário, que mal dá pra pagar o aluguel e outras contas, e quando

vão ver... tão com 50, 60 anos e infelizmente, não curtiram os prazeres da

vida... Os meus pais são exemplos vivos disso. Por que as pessoas ficaram tão

obcecadas em só ganhar dinheiro? Tem outras coisas na vida mais importantes

do que isso... Quer mais do que a gente? Estamos sem um puto no bolso e

estamos aqui, curtindo esse lugar maravilhoso, numa boa sem se preocupar

com o relógio.

ALAN

Você fez um belíssimo discurso, mas são as regras impostas pela

sociedade.

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MARÍLIA

Sociedade!!! Bah, eu quero que essa sociedade se dane...

ALAN

Vamos mudar de assunto? Não tô com saco pra ficar aqui filosofando

sobre a vida, sobre o que é certo ou errado, justo ou injusto... (Lento.) O

importante é que estamos nós dois aqui, sozinhos, sem aqueles pentelhos do

Fred e do Gabriel torrando a paciência... O importante é que eu amo você...

MARÍLIA

(Incrédula.) O que você disse?

ALAN

Isso mesmo que você ouviu.

MARÍLIA

É a primeira vez que você me diz...

ALAN

(Continua.)... amo você?

MARÍLIA

É. (Abraça o rapaz.)

(Alan beija-lhe a boca, o pescoço e a orelha de Marília e em seguida passa a mão pelo

seu corpo.)

MARÍLIA

(Tensa.) Não, Alan...

ALAN

Por que, não?

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MARÍLIA

Alan, a gente precisa conversar.

ALAN

(Compreendendo.) Eu tenho camisinha...

(Pega o preservativo da bermuda e beija a garota. Em seguida, deita-a na pedra.)

MARÍLIA

(Levantando-se.) Alan, eu sou virgem... (Suspira.) Pronto, falei!

ALAN

Eu vou devagar...

MARÍLIA

Na verdade, eu ainda não tô preparada pra transar com você.

ALAN

Tudo bem... Vai ser quando você quiser e se sentir preparada...

MARÍLIA

Olha pra mim, Alan... (Alan olha para a garota.) Você promete que não vai

me deixar?

ALAN

Você é a mulher da minha vida, Marília.

MARÍLIA

(Vai cedendo.) Esse é o discurso que todos os garotos fazem quando

querem transar com uma menina... (Pausa. Alan beija-lhe a orelha e diz algo no

ouvido da garota.) Ai, Alan, assim eu não aguento. Você me mata com essa voz

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de travesseiro... Até hoje você, foi o único homem que fez minha vida virar no

avesso.

ALAN

Você também. Eu fico maluco quando sinto o teu perfume, quando beijo

a tua boca, quando olho pra esses olhos...

(Alan beija a garota, acaricia-lhe o corpo, passa a mão em suas ancas. A garota faz o

mesmo, acariciando-lhe os cabelos, o peito, o abdômen e demonstra um pouco de

insegurança ao tocá-lo.)

ALAN

Fica calma... Relaxa.

MARÍLIA

(Preocupada.) E se aparecer alguém?

ALAN

Não vai aparecer ninguém. Pode escrever na sua agenda: essa vai ser

uma noite inesquecível.

(Alan e Marília transam. Em momento algum a cena deve ser apelativa. Luz vai

descendo em resistência ficando apenas o pôr do sol. A noite cai.)

CENA 4

(Fred e Gabriel estão sentados nas cadeiras, perto das barracas.)

GABRIEL

Onde será que foram aqueles dois?

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FRED

Devem estar em qualquer escurinho, fodendo...

GABRIEL

Pô, você só pensa em sexo, Fred!

FRED

E tem outra coisa melhor pra se pensar?... No fundo, no fundo, eu tenho

um pouquinho de inveja do Alan e da Marília, sabe? É tão legal ver um casal

como eles, né? Apesar de serem bem diferentes um do outro, de brigarem o

tempo todo, eles se combinam...

GABRIEL

Bem que poderia pintar uma mulher pra gente, não?... Vai ser muito

azar se a gente não conseguir catar nada por aqui.

FRED

A única que pintou com certeza nunca mais vamos ver.

GABRIEL

(Começa a sonhar.) Liliane... Como eu queria deitar com ela aqui na areia,

encher aquela boquinha de beijos.

FRED

Vamos parar de ficar sonhando! Não tem mais volta. O único jeito de

estar com a Liliane é quando... (Gesto de masturbação.) estivermos soltando

pipa...

GABRIEL

Eu não sou punheteiro.

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FRED

Aham, Cláudia, senta lá...

(Liliane entra em cena com uma mochila. Senta-se em um canto e chora. Fred e Gabriel

ficam olhando para ela, sem reconhecê-la.)

GABRIEL

O que será que aconteceu com ela?

FRED

E eu sei lá.

GABRIEL

Parece que o caso é sério. Eu vou lá.

FRED

Eu vou com você.

GABRIEL

De jeito nenhum. O que a gente combinou lá em Sampa? Não vem

empatar, não. Eu vi primeiro.

FRED

Eu sempre fico na mão...

GABRIEL

Problema seu. E não venha atrás de mim, porque se isso acontecer eu

arregaço sua cara. (Caminha até Liliane, deixando Fred de lado. Põe a mão na cabeça

da garota.) Posso te ajudar? (Liliane levanta a cabeça. Gabriel, quando depara com a

garota, se ilumina.) Você?

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LILIANE

(Triste.) Por favor, me abrace forte.

(Gabriel abraça a garota. Fred, ao observar a cena, de longe comenta.)

FRED

(Para si.) Mas que cara rabudo!... (Entra na barraca, chateado.)

GABRIEL

O que aconteceu?

LILIANE

Minha vida acabou...

GABRIEL

Como acabou?

LILIANE

Eu fugi de casa. Não aguentava mais tanta pressão do meu pai. Era

briga o tempo inteiro. Ele não pode ver ninguém feliz, porque a felicidade das

pessoas incomoda aquele filho da puta. Por isso deixei tudo pra trás. O que eu

quero é nunca mais olhar pra cara daquele imbecil.

GABRIEL

Não fale assim...

LILIANE

Se você soubesse quanta raiva eu tenho guardada dentro de mim. Mas

você não compreende. Só quem sente na pele entende o que eu tô passando...

(Levanta-se cambaleando.) Agora eu vou embora, Gabriel. Foi muito bom te

conhecer...

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GABRIEL

Vai pra onde?

LILIANE

Pra qualquer lugar onde eu possa me sentir livre de tudo isso. Nem que

pra isso, eu precise rodar bolsinha no calçadão da praia...

GABRIEL

Não vai embora coisa nenhuma. Muito menos rodar bolsinha. Você vai

ficar aqui comigo, com a galera... Não vou admitir, em hipótese alguma que

você fique sozinha...

LILIANE

(Depois de uma longa pausa.) Você é mais legal do que eu pensava, sabia?

Não é fácil encontrar um cara assim, feito você.

GABRIEL

Imagina. Tá cheio de neguinho feio como eu por aí...

LILIANE

Quem disse que você é feio? O problema é que eu sou burra mesmo...

Tão burra que sou que não percebi que... (Liliane, impulsiva, beija Gabriel na

boca.) Desculpa. Você deve tá me achando uma vagabunda.

GABRIEL

Não, juro que não... Conta comigo, Liliane, pro que der e vier. Nós

vamos juntos pra São Paulo e você vai começar uma vida nova, longe do seu

pai... Isso se você quiser, claro!

LILIANE

Claro que eu quero... Você tem alguma dúvida?

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GABRIEL

Amanhã de manhã eu vou com você até a sua casa. Você vai enfrentar o

seu pai e se libertar desses fantasmas...

(Nesse momento aparecem Alan e Marília, de mãos dadas. Liliane olha para ela e se

refugia em Gabriel.)

MARÍLIA

(Irônica.) Apareceu a Loira Burra?

ALAN

(Repreendendo-a.) Marília...

GABRIEL

Marília, ela não te fez nada...

MARÍLIA

Claro. Ainda não teve tempo.

ALAN

Marília, o que a gente conversou?...

MARÍLIA

Tá bom, Alan. (Para Liliane.) Quero que saiba que é contra a minha

vontade, mas o Alan me obrigou a te pedir desculpas.

ALAN

Isso é jeito, Marília?

GABRIEL

Você é uma insensível mesmo, não. Devia pelo menos respeitar o

momento que ela tá passando...

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LILIANE

(Chorando.) Desculpa, eu não vim aqui pra criar caso com vocês. Só não

tinha pra onde ir e o Gabriel pediu pra que eu ficasse aqui...

GABRIEL

Ela saiu de casa.

ALAN

(Para Marília, repreendendo-a.) E se fosse com você, Marília?

MARÍLIA

(Depois de uma longa pausa, muda radicalmente.) Olha, imagino como você

deve estar se sentindo... Não sei o que faria se estivesse no seu lugar... Acho

que nem teria coragem pra tanto... (Pausa.) Desculpa o mal jeito, viu?... Posso

te dar um abraço?

(Ambas se abraçam. Marília beija a face da garota.)

LILIANE

Prometo nunca mais dar em cima do seu namorado.

GABRIEL

Acho bom!

ALAN

(Brincando.) Ah, que pena...

(Marília dá um tapa no ombro de Alan.)

LILIANE

Até porque eu encontrei uma pessoa maravilhosa.

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ALAN

E o Fred?

GABRIEL

Deve tá dormindo na barraca

ALAN

Por falar em dormir, tô quebradaço. Vamos dormir, Marília?... Boa noite,

galera. (Ambos entram na barraca.)

GABRIEL

Eu também tô acabadão. É uma pena que só tenha duas barracas. (Para

Liliane.) Você se importa de dividir a mesma barraca comigo? Prometo que

vou me comportar como um bom menino.

LILIANE

Se for assim, eu aceito. Mas e o Fred?

GABRIEL

Deixa comigo... (Bate na barraca.) Ô Fred!

FRED

(Saindo, com mau-humor.) O que foi?

GABRIEL

Libera a barraca...

FRED

Pra quê?

GABRIEL

Pra Liliane dormir aí dentro.

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FRED

Mas e eu?

GABRIEL

(Joga para ele um saco de dormir.) Dorme aí...

FRED

Mas essa barraca é minha!

GABRIEL

Eu sei. Mas a Liliane não pode dormir aqui fora.

LILIANE

Eu não ligo Gabriel... (Gabriel faz com que ela se cale.)

FRED

Mas cabe nós três aí dentro...

GABRIEL

Nem pensar. Do jeito que você é tarado?! Quer uma dica? Dorme aí

fora, meu irmão. Quem sabe aparece uma desdentada com cabelo de palha pra

te agasalhar durante a madrugada. Bons sonhos...

(Durante as últimas falas, Gabriel já entrou na barraca. Liliane, que está fora é puxada

delicadamente para dentro. Fred fica fora, com cara de tacho resmungando o tempo

todo. Entra no saco de dormir e deita-se na areia, furioso. Passagem de tempo. Fred

bate na cara tentando matar os borrachudos. Ouve-se o rebentar das ondas. Nesse

momento aparece uma menina cuja descrição é a mesma que Gabriel fez. Seu cabelo é

semelhante com os cabelos de espiga de milho, tem na testa uma serpente tatuada e não

têm os dois dentes da frente. Ao ver Fred, senta-se perto do rapaz, fazendo poses

sensuais. Fred continua matando os insetos.)

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ANA TELMA

Ei, garotão... (Toca em Fred.)

FRED

(Acordando, assustado, berra.) AAAAiiiiii. (Tenta sair do saco.) Vade retro,

Satanás, Xô, capeta de Caruaru... Minha Nossa Senhora do Perpétuo Socorro,

me acuda... Sai assombração, espectro do mal... Retro, retro, retro!

ANA TELMA

(Ofendida.) Aiii... É assim que você me recebe?

FRED

(Treme.) Vá embora, criatura! Vá embora!

ANA TELMA

Pois agora é que eu não vou... Precisava me destratar? Eu sou um ser

humano, viu?

FRED

Não parece... Parece mais aquelas criaturas tenebrosas dos filmes do Zé

do Caixão.

ANA TELMA

Vem cá, gostosão. Que eu tô louquinha pra te possuir... (Agarra Fred.)

FRED

Por favor! Socorro!

ANA TELMA

Me dá um beijinho, delícia! (Faz um bico e sorri, ficando bem visível sua

banguela.)

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FRED

(Virando o rosto.) Ai... Abriram a rede de esgoto bem na minha cara...

Eita porra... A danada é banguela.

ANA TELMA

É para ajudar na minha especialidade... Eu sou ótima na... (Cochicha no

ouvido de Fred.)

FRED

(Berrando.) Socorro!

(Ana Telma entra no saco e agarra Fred, que dá um berro tenebroso.)

CENA 5

(Amanhece. Fred está dentro do saco de dormir, tremendo e com os olhos esbugalhados.

Alan sai da barraca, espreguiçando-se. Faz alguns alongamentos e ao ver Fred,

caminha até ele.)

ALAN

Fred! (O rapaz não se move.) Fred!

(Alan chama Marília, Gabriel e Liliane. Os três saem das barracas e olham o rapaz, em

estado de choque.)

GABRIEL

O infeliz não se mexe. O que será que aconteceu?

ALAN

Sei lá. Parece que viu assombração.

(Alan chacoalha Fred. De repente, Fred, ainda em estado de choque, se move.)

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FRED

Fui estuprado!!!

TODOS

O quê?

GABRIEL

Você deu o cu, Fred?

FRED

Antes fosse... Acho que teria sido melhor. Ela apareceu, Gabriel!

GABRIEL

Ela quem?

FRED

A desdentada com cabelo de palha, que você disse. Entrou no saco de

dormir comigo, me agarrou e... Sinto enjoo só de lembrar... Vocês não ouviram

os meus berros?

TODOS

Não.

GABRIEL

Você sonhou.

FRED

Que sonho, o quê? Foi de verdade. Eu tô todo arranhado, chupado e

com o pinto doendo...

LILIANE

Você ficou impressionado com que o Gabriel disse.

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FRED

Se ela aparecer de novo eu me suicido...

ALAN

Vai, cara, relaxa. E trate de se levantar porque o feriado acabou e a gente

tem que arrumar as coisas pra voltar pra Sampa.

GABRIEL

Mas antes eu vou com a Liliane até a casa dela pra...

LILIANE

(Corta, tensa.) Não precisa, Gabriel...

GABRIEL

Por quê?

LILIANE

Porque a “criatura” tá vindo aí...

(Entra o pai de Liliane. Alan, Marília e Fred ficam num canto enquanto Liliane e

Gabriel encaram o pai.)

PAI

Eu sabia que iria te encontrar... Anda, vamos pra casa.

LILIANE

Não vou.

PAI

O que você disse?

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LILIANE

Isso mesmo que você ouviu. Eu não vou voltar pra casa...

PAI

Não me desafie, menina. Você não sabe do que eu sou capaz! Vem

comigo, porque senão...

LILIANE

Senão o quê? Vai me bater? Vai me matar? Eu não tenho mais medo de

você.

PAI

O seu lugar é lá em casa e não aqui, junto com esses delinquentes...

LILIANE

Você não sabe o que fala... Vá embora, vá. Esqueça que eu existo. Eu

sempre fui uma sombra na sua vida mesmo. Vai... o que tá esperando? Que eu

estenda na areia um tapete vermelho pra Sua Excelência passar?

PAI

Malcriada. Eu devia era te...

(Caminha até ela e vai lhe dar uma bofetada. Gabriel se precipita.)

GABRIEL

Se você encostar a mão nela, eu te arrebento.

PAI

Vai me desafiar, seu moleque?

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GABRIEL

Por que não bate em mim, hein? Tá com medo de encarar alguém do seu

tamanho?

PAI

(Pausa.) Você não tem pena da sua mãe?

LILIANE

Eu tenho pena de você, porque esse é o pior sentimento que uma pessoa

pode nutrir pela outra. Não tenho porque ter pena da minha mãe, porque o

que eu sinto por ela é muito maior do que você pensa: amor, carinho, respeito,

que são sentimentos desconhecidos por você, palavras que não existem no seu

dicionário de merda... Eu só preciso de um tempo pra acertar minha vida e

quando isso acontecer, eu venho buscar minha mãe pra morar comigo e viver

longe da vidinha medíocre que ela, infelizmente, leva com você.

PAI

Você não sabe o que diz...

LILIANE

Sei, sim. Não sou mais nenhuma criança... Posso fazer o que me quiser e

você não tem nenhuma responsabilidade para comigo. (Estende os braços com

um gesto preciso, que diz: “some daqui”.) Faça o favor...

PAI

Você vai se arrepender...

LILIANE

Vou te pedir pela última vez: não me procure mais. Não se preocupe, eu

vou embora desta cidade com esses “delinquentes” e você nunca mais vai me

ver.

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PAI

Eu tenho vergonha de ser seu pai...

LILIANE

...e eu de ser sua filha.

(O pai fica sem argumentos e sai. O clima é tenso.)

LILIANE

(Quebrando o gelo.) Eu preciso crescer. E é por isso que eu tô chutando

tudo pro alto e indo embora com vocês, sem nenhuma sombra me

perseguindo e me fazendo sentir culpada...

GABRIEL

É isso aí... E nada de baixo astral...

ALAN

S’imbora, galera!

(Começam a desmontar as barracas e arrumar as coisas. De repente, Marília para e

pensa.)

MARÍLIA

Ihh...

FRED

O que foi?

MARÍLIA

A bosta do carro do Alan... Espero que funcione.

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ALAN

(Pega a chave do carro.) Vai funcionar.

(Sai de cena. Ouve-se no áudio o ruído de partida de carro; Alan berra, feliz.)

ALAN

Pegou... Pegou. (Volta.) O feriado acabou... Mas em breve estaremos de

volta, São Vicente... Iuhhuuu...

GABRIEL

(Brandindo.) Isso aí... E que o Fred, da próxima vez, consiga voltar pra

São Paulo com uma peituda gostosa.

FRED

(Desiludido.) Todo mundo é feliz... Menos eu. Até o Gabriel, que é o

Gabriel conseguiu uma namorada... E eu o que consegui? Perder o cabaço

com um ser de outro planeta.

MARÍLIA

Deixa de drama, idiota...

(Nesse instante aparece Ana Telma.)

ANA TELMA

(Sem ver Fred; chamando.) Bonitinho, tesão da minha vida. Iuhuuuu. Cadê

você? Vamos repetir a noite maravilhosa que tivemos ontem?

FRED

(Desesperado ao ver Ana Telma.) Vamos embora! Rápido!

ALAN

Por que a pressa?

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FRED

No carro eu explico, mas vamos sair daqui o mais depressa possível...

(Fred pega a barraca e sua mochila. Todos fazem o mesmo. Sobem no carro e

atravessam a cena. Ana Telma olha para Fred, que se esconde no interior do carro.)

ANA TELMA

Não me deixa, amor... Diz que eu sou a mulher mais gostosa do mundo,

diz... Eu tô tão carente... (Chorando.) Não faz isso com sua Telminha... Eu vou

te encontrar nem que seja no inferno...

(Ana Telma corre atrás do carro. Alan, assustado acelera e o veículo e sai em

disparada, deixando a garota a ver navios. Ana Telma pega a cueca de Fred e sai

limpando as lágrimas.)

CENA 6

(Muda luz. Estamos na Serra do Mar. O carro de Alan começa a falhar até dar uma

nova pane. Muita fumaça sai do motor. Todos saem do carro, preocupados, enquanto

Alan e Fred ficam às voltas com o carro.)

MARÍLIA

Mas que merda! Vai começar tudo outra vez.

(Dá um suspiro profundo. A cena que se segue é toda em mímica. Marília e Liliane

pedindo carona. Ruídos de carros que passam a toda velocidade. Alan, Fred e Gabriel

unem-se às meninas. Ouve-se no áudio ruídos de um caminhão mesclados com os

ruídos de porcos. O caminhão freia e Ana Telma está junto com os porcos.)

ANA TELMA

(Para Fred.) Oi, tesão... Eu jurei pra mim mesma que iria te encontrar,

nem que fosse no inferno...

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(Fred engole em seco e fica paralisado. Enquanto isso, o motorista do caminhão oferece

carona aos jovens.)

VOZ

Tão indo pra São Paulo? Essa menina também vai pra lá. Querem uma

carona?

(Alan, Marília, Fred, Gabriel e Liliane passam mal, tapam o nariz e desmaiam em

conjunto, caindo estatelados no acostamento. Até o Fiat, para protestar, solta uma

baforada de fumaça, fazendo todos desaparecer. Black-out final.)

ESTA HISTÓRIA NÃO TERMINA AQUI

Abril, Maio, Junho/2000

OBSERVAÇÃO: Perdidos na Serra é a continuação desta história.