11. MNN _ Fim de jogo [09-11-2014]

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Em movimento Movimento Negação da Negação PT e a crise da dominação burguesa no Brasil Programa único Em movimento julho 2015 abril maio junho julho março fevereiro janeiro 2014 dezembro novembro outubro setembro agosto julho junho maio abril março fevereiro janeiro 2013 dezembro novembro outubro setembro agosto Fim de jogo Autor Conselho editorial Data 09112014 “Se trago as mãos distantes do meu peito É que há distância entre intenção e gesto (…) E se a sentença se anuncia bruta Mais que depressa a mão cega executa, Pois que senão o coração perdoa”. Fado Tropical Nem mesmo se iniciou o novo mandato da presidente Dilma, aliás, mal completaramse dez dias do fim do 2o turno, e o desenrolar dos acontecimentos produz um sentimento de incômodo mesmo no mais aguerrido dos militantes petista. Como aquele clima de festa, de disputa, de luta de classes, diria ele, pode ser suplantado pela frieza dos números, elevações de tarifas e pelo velho trocatroca de Brasília? Pois parece que a música está com a razão: cuide que a ação se faça mais que depressa, antes que o coração perdoe. Assim, três dias após a eleição, o Banco Central elevou a taxa de juros em 0.25%, medida que surpreendeu os analistas e foi vista como um aceno de agrado ao mercado. Mais do que isso, é a maior taxa desde novembro de 2011, quando a chamada selic bateu a casa dos 11,5%. A medida vem logo após meses de campanha em que João Santana, o marqueteiro do PT, construiu a imagem de Aécio como aquele que “sempre plantou dificuldades para colher juros” e Marina como aquela que quer tirar o sustento da mesa das famílias mais carentes para pôr na roda dos banqueiros, tal qual o brilhante esquete da TV. Mas e agora, Dilma, como explicar esse aumento? Não se explica. O silêncio é melhor. Melhor ainda é atender ao clamor do coração e se ocupar de outros assuntos, vindo à público “deflagrar” a reforma política “por meio de um plebiscito” e assumir um “compromisso rigoroso com o combate à corrupção e com a proposição de mudanças na legislação atual para acabar com a impunidade”. Palavras de efeito que podem encantar a família que senta à mesa na hora de jantar, mas que tão logo ecoam nos corredores do Congresso são prontamente repreendidas pela base aliada do PT. Repetese assim a mesma situação de quando a presidente pretendia atender “o clamor das ruas”, em junho de 2013: suas palavras foram jogadas ao vento e as ações enterradas por Renan e toda quadrilha, que não concordavam com propostas “bolivarianas” vindas do PT. Nove dias depois, onze após a vitória, o governo Dilma ocupouse de nova medida para agradar o mercado e, mais Compartilhe Facebook Twitter Outras redes sociais “A produção capitalista produz, com a inexorabilidade de um processo natural, sua própria negação. É a negação da negação.” –Marx, O capital. Livro I Cap. XXIV, 1867. Receba o boletim Entre em contato

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Em movimento

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Fim de jogo

Autor Conselho editorialData 09­11­2014

“Se trago as mãos distantes do meu peitoÉ que há distância entre intenção e gesto(…)E se a sentença se anuncia brutaMais que depressa a mão cega executa,Pois que senão o coração perdoa”.Fado Tropical

Nem mesmo se iniciou o novo mandato da presidente Dilma,aliás, mal completaram­se dez dias do fim do 2o turno, e odesenrolar dos acontecimentos produz um sentimento deincômodo mesmo no mais aguerrido dos militantes petista.Como aquele clima de festa, de disputa, de luta de classes,diria ele, pode ser suplantado pela frieza dos números,elevações de tarifas e pelo velho troca­troca de Brasília?

Pois parece que a música está com a razão: cuide que a açãose faça mais que depressa, antes que o coração perdoe.Assim, três dias após a eleição, o Banco Central elevou a taxade juros em 0.25%, medida que surpreendeu os analistas e foivista como um aceno de agrado ao mercado. Mais do queisso, é a maior taxa desde novembro de 2011, quando achamada selic bateu a casa dos 11,5%. A medida vem logoapós meses de campanha em que João Santana, omarqueteiro do PT, construiu a imagem de Aécio como aqueleque “sempre plantou dificuldades para colher juros” e Marinacomo aquela que quer tirar o sustento da mesa das famíliasmais carentes para pôr na roda dos banqueiros, tal qual obrilhante esquete da TV. Mas e agora, Dilma, como explicaresse aumento?

Não se explica. O silêncio é melhor. Melhor ainda é atender aoclamor do coração e se ocupar de outros assuntos, vindo àpúblico “deflagrar” a reforma política “por meio de umplebiscito” e assumir um “compromisso rigoroso com ocombate à corrupção e com a proposição de mudanças nalegislação atual para acabar com a impunidade”. Palavras deefeito que podem encantar a família que senta à mesa na horade jantar, mas que tão logo ecoam nos corredores doCongresso são prontamente repreendidas pela base aliada doPT. Repete­se assim a mesma situação de quando apresidente pretendia atender “o clamor das ruas”, em junho de2013: suas palavras foram jogadas ao vento e as açõesenterradas por Renan e toda quadrilha, que não concordavamcom propostas “bolivarianas” vindas do PT.

Nove dias depois, onze após a vitória, o governo Dilmaocupou­se de nova medida para agradar o mercado e, mais

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“A produção capitalista produz, coma inexorabilidade de um processonatural, sua própria negação. É anegação da negação.” –Marx, Ocapital. Livro I Cap. XXIV, 1867. Receba o boletim

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uma vez, contradizendo suas palavras de campanha:  aumentodo combustível. Ora, os preços, então, estavam represados,candidata? — diria o adversário no debate.

Tal aumento, anunciado por Guido Mantega, não veio sozinho.O ministro da Fazenda confirmou que, até a metade destemês, um pacote fiscal mais severo deve sair do forno, poiscortes são necessários para “equilibrar as contas e cumprir ameta do superavit primário”. Quais os alvos de Mantega? Nalista estão os gastos com subsídios, citando especificamenteos concedidos nos empréstimos feitos pelo BNDES por meiode taxas menores do que as de mercado. “Vamos diminuir ossubsídios financeiros, isso é uma redução de despesa”.Mantega disse também que o governo deve cortar despesascom seguro­desemprego, abono salarial, auxílio­doença epensão por morte.

Antes que as intenções se tornem atos, o mesmo incômodotoma de assalto o militante petista que ainda guarda no peito oadesivo de campanha. Então, para atingir a meta do superávit(leia­se a reserva do PIB paga aos bancos e credores), oministro propõe cortar seguro­desemprego e outros direitos dostrabalhadores? Não estaríamos num governo tucano ou pondoem prática a “nova política” de Marina?

Não, são apenas os “ajustes necessários” na economia, diria apresidente. Se quem paga a conta são os trabalhadores e ocrescimento econômico, e quem diretamente se beneficia é o“tal mercado” — que não ganha eleição, como bem lembrou oex­presidente Lula —  é porque “há distância entre intenção egesto” deixando que a mão cega execute antes que o coraçãoperdoe mesmo apenas dez, quinze dias após o fim do jogoeleitoral. Que venham “mais mudanças”!