1:1000 urgente

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1:1000 URGENTE

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publicação dos estudantes da fau, junho.2014

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1:1000 URGENTE

A 1:1000 é uma publicação independente aberta à contribuição e participação de qualquer estudante, funcionário ou docente.

Cada 1:100 possui um comitê editorial responsável pelo recebimento das produções gráficas, textos e diagramação, assim como a parte de edição e possível escolha de um tema.

Esta 1:1000 URGENTE! Possui como enfoque o contexto atual da FAU, da USP e da cidade e foi chamada na perspectiva de reunir todas as pautas ligadas aos acontecimentos mais recentes: reforma da cobertura, estúdio-museu, mudanças no ensino, movimento estudantil, greve contra o reajuste 0% dos trabalhadores e docentes da USP, manifestações e greves de diversas classes sociais e movimentos políticos...

Outras 1:1000 de caráter completamente diverso ou completamente semelhante podem ser chamadas a qualquer momento.

comitê editorial Alessandra Iturrieta, Ana Carolina Nicolay, Camila Onia, Felipe Souza, Gabriele Rodrigues, Gabriella DeBiaggi, João Geddo, Tarsila Bianchi.

diagramação Alinne Anno, Eugênia Pessoa Hanitzsch, Felipe Souza.

foto de capa João Guilherme Oliveira.

EDITORIAL 1:1000

PRIVATIZAÇÃO DA UNIVERSIDADE

Este texto pretende contextualizar a USP na inflexão da concepção do ensino superior no Brasil, passando pela história e a situação na qual se encontra esta Universidade.

Na república Velha consolidou-se o uso do ensino superior como instrumento das elites, com formação pouco especializada e visando, principalmente, a burocracia governamental. Mesmo com diversas pressões de movimentos sociais, proposta de reforma universitária na USP, e movimentações para transformação do ensino, como as observadas na FAU na década de 60, tal projeto se manteve, de forma mais ou menos semelhante até a ditadura militar. Nesse momento começa com mais força a aplicação de políticas que transformariam e apontariam para outra concepção de ensino superior. A educação passa a ser configurada como mercadoria, e o diploma universitário como especialização para o atendimento do mercado de trabalho. Institui-se assim um ensino que visa o atendimento individual dos estudantes, sua ascensão social principalmente devido à integração ao mercado. No final da ditadura militar é baixado um decreto que permite a criação de universidades particulares e começa com força a massificação do ensino superior voltada ao atendimento das demandas do mercado. Nas Universidades públicas, não são ampliadas as vagas ou pautado o desenvolvimento do conhecimento que visa a alteração da sociedade, o que as mantém como instrumento das classes dominantes. No limite, o que ocorre é a inflexão de um ensino restrito para as elites a expansão de uma educação para reprodução da força de trabalho de uma classe média.

Na USP, movimentos que buscavam a instituição de uma universidade pública foram cortados bruscamente pela ditadura militar. Hoje, nossa instituição de ensino ainda mantém diversas características do ensino superior das elites e passa, mais fortemente nos últimos anos, por uma inflexão rumo à transformação para a universidade mercadológica. As últimas medidas tomadas pelo estado e pela burocracia da Universidade apontam para medidas privatizantes e pela acentuação da formação mercadológica do ensino, sem nem colocar em pauta a possibilidade da criação de uma universidade verdadeiramente pública.

A possibilidade do pagamento de mensalidades na Universidade é consequência lógica da concepção da educação como mercadoria, e não como produção de conhecimento com objetivo de alteração da sociedade. Além disso, o comprometimento do pagamento de estudantes com o orçamento da USP impossibilitaria que essa tivesse sua composição social alterada, estimulando a universidade a sempre

buscar estudantes que pagassem mais pelo curso. Isso faria com que a USP se comportasse como empresa, buscando obter mais financiamento dos estudantes para conseguir mais verbas.

A política de austeridade e corte de gastos é o clássico caminho para adoção de políticas liberais. Diminui-se a parte do orçamento gerida pelo poder público e aumenta-se a parcela gerida pelo poder privado. O corte de gastos para projetos de extensão, por exemplo, evidencia a negação ao caráter público da universidade, ao mesmo tempo que avançam as bolsas de iniciação científica fornecidas por empresas, a partir de suas próprias demandas, principalmente em institutos como Poli e Fea.

O arrocho salarial de professores e funcionários é um grande ataque aos que trabalham na universidade e ao mesmo tempo uma política de desvalorização do funcionário público. O não aumento do salário de acordo com a inflação é, na prática, a diminuição do salário. Um exemplo da implementação dessa política foi o que aconteceu com a educação básica durante e posteriormente o período da ditadura: a desvalorização dos professores e funcionários da rede pública favoreceu a implementação das escolas privadas na educação básica.

Outra política de privatização é a terceirização dos serviços e funcionários da USP. Coloca-se o dinheiro na mão de atravessadores, as empresas contratadas, que é descontado do pagamento dos funcionários contratados por elas. Essa forma de contratação também dificulta muito a organização dos empregados e representa a substituição da gerência pública da universidade pela privada.

A insuficiência de políticas de permanência (moradia, alimentação, transporte, etc.) não permite que muitas pessoas consigam ser, propriamente, estudantes durante sua formação, tendo que trabalhar para se sustentar. Os que escapam a isso são os que tem privilégio de classe. Muitos nem cogitam entrar na USP por não conseguir se sustentar. A insuficiência da permanência estudantil é mais um apontamento da educação como mercadoria, uma vez que nisso está contida a concepção de que deve fazer a universidade quem consegue arcar com ela.

Frente a inflexão da universidade de elite para a universidade do ensino mercadoria, uma proposta não foi levantada, a da universidade pública. Lutemos por ela.

João Geddo comitê editorial

...todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por

assim dizer, duas vezes (...): a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.

Karl Marx

A lei não garante o bem público.

Esse deve ser um entendimento base para que possamos analisar os significados de políticas legalistas como as do atual reitor da USP, Marco Antonio Zago. Ele tomou posse no início do ano com a promessa de cumprir o papel de bom-moço, para botar ordem na universidade. Essas ideias ganharam ampla aceitação devido às heranças deixadas pela gestão anterior, de João Grandino Rodas.

O ex-reitor ficou conhecido por seu autoritarismo. Ações de coerção das mobilizações de funcionários e docentes - tanto com reforços positivos para os que não se envolviam em atividades políticas, quanto com a implementação de um sistema de progressão de carreira para os funcionários que, além disso, penalizava aqueles que se mobilizavam - somadas à firmação de um convênio da USP com a PM, a entrada da tropa de choque para realizar a reintegração de posse da reitoria, então ocupada, e a prisão de 72 estudantes são apenas alguns dos exemplos mais evidentes.

Além disso, Rodas também deixou uma marca em relação ao montante de gastos realizados durante sua gestão. A construção simultânea de diversos edifícios de grande porte, a realização de um projeto de iluminação super-faturado e a troca da frota de carros da USP antes do prazo previsto são alguns dos fatores para tais gastos, os quais, em grande parte, ainda não estão de fato explicados.

Frente a este quadro, surge na opinião pública a ideia de que Zago teria a tarefa de arrumar a bagunça feita por Rodas. Esta construção de

O AUTORITARISMO E A IMAGEM DA DEMOCRACIA

raciocínio, muito pautada no senso comum, envolve também uma noção de que o mal feito por Rodas foi apenas sua corrupção, o dinheiro da universidade que sabe-se que foi gasto para fins particulares. Isso abre margem para a conclusão de o que deveria ser feito agora seria enquadrar a USP nos parâmetros legais e deixar todas as irregularidades às claras.

A ideia de regularizar a USP, colocando-a na esfera da legalidade, no entanto, está servindo para que sejam tomadas atitudes que vão muito além de simplesmente expor os acordos de desvios de verba. Está servindo - numa apenas aparente contradição - para continuar processos que vem da gestão Rodas.

A lei não permite, por exemplo, diversas práticas estruturadoras das organizações estudantis, sendo uma das mais importantes a gestão de espaços das unidades pelos centros acadêmicos ou grêmios. De acordo com a lei, não pode haver apropriação privada do espaço e os estabelecimentos comerciais alocados em espaçoes públicos devem passar por licitação (que faz com que o aluguel seja recebido pela instituição legalmente responsável pelo espaço). Em abstrato, essas determinações podem não ser ruins. Mas quando olhamos para a realidade, percebemos que elas impossibilitam a existência de espaços estudantis independentes e organizações com autonomia financeira. Vale dizer que, em paralelo, mas não por acaso, já se fala das intenções de se criar um espaço específico, autorizado pela reitoria, para que os estudantes façam festas. Mascarada de abertura e conceção, trata-se de nada mais do que uma política de controle e separação do que seria o espaço da aula em relação ao espaço da festa (ignorando também outras atividades dos estudantes que não se enquadram no caráter de grandes festas).

Além disso, é importante perceber que muitas das práticas da gestão Rodas ocorreram dentro da legalidade. A Polícia Militar pode muito bem, de

acordo com a lei, continuar no campus. Processar estudantes por atentarem contra a moral e os bons costumes também é completamente lícito. Enquanto a venda de bebidas alcoólicas no campus é, afinal, proibida por lei estadual.

A imagem de que Zago seria uma antítese de Rodas, trazendo a democratização e adequação da universidade é falsa. O que está em questão não são diferenças de personalidade, uma mais autoritária e outra mais aberta, mas sim, duas etapas de um processo em curso. A crise gerada por Rodas, financeira e de representatividade, é necessária para que se possa por em prática uma política de reestruturação da lei, mas que no fundo, visa os mesmo interesses. Cria a oportunidade para que se ataque a oposição à reitoria que opera na ilegalidade, como o movimento estudantil, para que adote políticas de austeridade, cortando salários de docentes e funcionários, para que, se crie uma imagem de democracia legitimada por um processo de mudança realizado pelas próprias pessoas que estão no poder.

De forma geral, o reitor Zago está fazendo a sua parte para que se crie na USP um quadro de universidade sem agitação política que ameace a estabilidade de quem está no poder, mas com o selo dourado da democracia (tão valorizado atualmente), a qual necessitaria apenas de verba para realizar seu bom funcionamento, uma vez que a fonte do poder público secou.

Como conseguir o dinheiro necessário? Ideias vem surgindo aos montes, em reportagens da Folha de São Paulo, por exemplo, basta escolher por onde começar - cobrando pelo estacionamento ou cobrando mensalidades.

Gabriella DeBiaggi comitê editorial

CRISE ORÇAMENTÁRIA: REAJUSTE 0% E PRIVATIZAÇÃOA deliberação do CRUESP pelos 0% de reajuste aos funcionários e docentes das três estaduais paulistas – USP, UNICAMP e UNESP - está colocada sobre dois pontos: o menor valor arrecadado com o ICMS e o comprometimento da folha de pagamento das Universidades. Na USP, a anunciada desde o ano passado “crise orçamentária”, uma das questões centrais em que se pautou a campanha do atual reitor, é também justificativa dada. Em contrapartida, sindicatos dos funcionários e docentes das três Universidades aprovaram greve contra o corte salarial – uma vez que o reajuste 0% significa a não correção da inflação acumulada – e o questionamento sobre a veracidade das crises apresentadas pelos dirigentes das Universidades.

Uma crise, no entanto, resulta de um processo. Os processos têm o caráter de não serem pontuais – ou orçamentários ou administrativos, etc. – mas sim de dizer de toda uma estrutura que, ao ir se remodelando, apresenta uma inadequação: a crise. Compreender os 0% passa, assim, por compreender o processo que o aprovou à luz do tema orçamentário. Trataremos da USP por nos ser mais próxima.

Partindo de outras ‘crises orçamentárias’, havia um acordo na Reitoria e no Conselho Universitário de que a folha de pagamento não comprometeria mais que 80% do orçamento da USP. O chamado ‘orçamento’ é a porcentagem do ICMS destinada à Universidade, que possui outros fundos que são privados. A folha de pagamento é o valor dos holerites dos servidores docentes e não-docentes – salário base + benefícios + bônus. O processo parece começar a se desencadear a partir da gestão Suely – 2006-2009 – quando os 80% deixam de ser compactuados e, em 2007, quando o CRUESP aprova o reajuste 0%. Somado aos decretos de Serra que colocavam em cheque a autonomia universitária, as três categorias das três Universidades aprovam greve em unidade e conseguem reverter os decretos e os 0%.

Cabe aqui uma primeira observação, já que os orçamentos das Universidades não estavam comprometidos e ainda assim o reajuste aprovado foi de 0%.

A gestão Rodas – 2010-2013 – apresenta-se como o grande divisor de águas por ter ampliado a folha de pagamento e utilizado fundos reserva da Universidade. Quanto à reserva, estão as inúmeras obras iniciadas em sua gestão e a locação e compra de terrenos fora do campus Butantã para alocar áreas administrativas da Reitoria. Os números apresentados dizem que o caixa contava com 3 bilhões e agora possui 2 ou 1 bilhão – a diferença

é entre as afirmações de Zago e Rodas à Folha, respectivamente. Quanto à folha de pagamento – comprometida naquele momento em 90% –, a contratação de novos docentes, a progressão de carreira e bônus aos funcionários e docentes. Vale lembrar que os bônus foram dados sob o pretexto da subida da Universidade nos Rankings internacionais e serviram como compra das categorias a fim de que não se mobilizassem – corresponderam a 10% do orçamento.

Outra observação necessária é sobre a progressão de carreira dos funcionários. O pretenso objetivo era equiparar os salários dos que há muito estavam na USP e dos que haviam sido contratados há pouco tempo. Na realidade, a intenção era alterar o perfil do funcionário da USP para mais novo e atualizado, política também realizada nas contratações de funcionários mais recentes. Na FAU, sabemos que o processo da progressão de carreira foi angariado por funcionários enquadrados nas estruturas de poder da Unidade e beneficiou pessoalmente os mais próximos.

Por fim, a gestão Zago e suas maneiras de lidar com a crise. Obras em andamento mantiveram suas atividades; obras já aprovadas mas não iniciadas foram paralisadas. Bolsas de estudantes e verbas para disciplinas e projetos cortadas. Demissão de trabalhadores terceirizados. Sem transparência dos números e bases utilizadas frente a apresentação da crise e suas soluções colocadas. Reajuste 0% aprovado pelo CRUESP para as três Universidades apesar de se encontrarem em situações financeiras distintas.

Como dito, não podemos separar o processo específico orçamentário do processo geral dos rumos da Universidade. Sob esse contexto, é inegável a guinada da USP em favor de atender demandas externas à Universidade e não comprometidas com a sociedade. Casos máximos são as fundações – que, articuladas com as estruturas de poder da Universidade, controlam muitas das deliberações e dos direcionamentos implementados – e os rankings internacionais – que influem no investimento externo na Universidade. Mais do que atendimento de demandas externas, esses casos são a inserção do mercado e sua lógica dentro da Universidade. Os prejuízos são todos, afinal, a autonomia universitária é o princípio da necessidade de liberdade de pensamento da Universidade para sua atuação em favor da sociedade e não manipulada por interesses particulares e privados.

O primeiro Conselho Universitário do ano que iria discutir as estruturas de poder, como aprovado em

outubro do ano passado, teve a compreensão de que mais do que a estrutura de poder era necessário uma mudança estrutural como um todo na Universidade. Uma mudança frente a concepção de Universidade que a USP hoje carrega. Assim, uma mudança da relação da Universidade com a sociedade, Estado e mercado. Somado à isso, não apenas temos os interesses de muitos em favor de diversos tipos de privatização da Universidade, como também em sua campanha para reitor no ano passado Zago afirmou que por conta da crise orçamentária havia grandes riscos de perda da autonomia universitária.

De certo existe um problema objetivo frente às finanças da Universidade, mas o quanto ele se adequa à interesses maiores há de ser medido. Se o objetivo é alterar o que é a USP, certamente o CRUESP não economizaria esforços para tanto. Rodas e Zago menos ainda. Mais que isso, cabe bem que essa alteração passe desapercebida ou sem maiores forças contrárias, já desgastadas depois de uma greve pelo reajuste. Ainda mais que isso, a maneira mais fácil de aprovar novas formas e ampliar as existentes de privatização da Universidade não é senão garantindo o apoio de docentes e funcionários com a ameaça frente seus salários.

A conta fecha; só não sabemos se as equações estão corretas à medida em que são escondidas pelos conchavos.

Vale pontuar que não se trata de criar mobilização apenas frente a privatização, entendendo o reajuste como questão menor. Isso porque o reajuste 0%, sendo uma medida para a implementação da privatização, torna-se ponto chave a ser combatido por estabelecer a relação dos docentes e funcionários quanto a privatização da Universidade. Ao mesmo tempo, o combate à privatização implica por si só em garantir condições de trabalho aos servidores, já que à liberdade de pensamento é antes necessária a liberdade dos homens, e, portanto, de que suas necessidades estejam supridas.

A autonomia é uma totalidade. Não podemos dizer de autonomia financeira sem estarmos dizendo de autonomia política, de autonomia política sem de autonomia dos indivíduos, etc. A luta pelo reajuste e contra a privatização é manifestação da luta pela autonomia; da luta pela função social da Universidade. Cabe aos que compõem a Universidade cumprir seu papel de cidadãos e defendê-la.

Tarsila Bianchi comitê editorial

Àqueles que se impressionaram com os artigos que tem sido publicados nos jornalões da grande mídia sobre a crise da USP, seja porque acreditam na isenção dos meios de comunicação ou que eles não expressam ideologia alguma: Bem vindos ao deserto do real! Essa foi uma demonstração escancarada de que, sim, as mídias não só se expressam ideologicamente como também atuam politicamente de maneira contundente e ativa.

Dito isso fica um tanto quanto claro que não se deve fazer uma leitura desatenta sem se questionar quais seriam as reais intenções em se guiar a discussão pública em uma direção e não em outra, em insistir em determinados pontos e levar outros ao esquecimento.

Quais seriam, por exemplo, os propósitos em orientar o debate sobre a crise da universidade “pública”, mais especificamente da USP, numa direção estritamente orçamentária, chegando a sugerir possíveis soluções, entre elas a cobrança de mensalidade? Não seria absurdo prever que

a formalização dessas propostas informal numa proposta concreta teria efeito imediato, sísmico, e concentraria as atenções e os esforços cognitivos da nossa sociedade expectadora.

Orbitando inutilmente a economia daria-se margem para que surgissem propostas milagrosas como possíveis alternativas à terrível cobrança de mensalidades ou de estacionamento. Maior participação do capital privado? Expansão da terceirização? Sao apenas especulações mas são medidas que são tomadas nos bastidores e que não afetam diretamente os estudantes atuais e aspirantes, diretamente.

E notem: se em nenhum momento nessas poucas linhas foi dito algo sobre o ensino, ou sobre o papel da universidade publica na sociedade nem assuntos relacionados, não estranhem, esse e o risco que corremos, talvez seja esse o truque.

Danilo Vinhote

ILUSIONISMO

01 Participe de alguma organização política, de preferência aquelas que atraem multidões, tipo PSOL e PSTU.

Isso é muito importante porque estudantil está só no nome desse movimento. A condição atual de cada pessoa pouco importa nesse momento, o melhor ainda está por vir. Universidade que nada, tem que pensar grande, no mínimo o Congresso. Não esses que você vai participar ainda jovem. Estou falando daquele que tem um monte de senador e deputado. Pera, agora fiquei confuso.

02 Descole uma camiseta de cor chamativa com o nome do grupo que participa.

Mas tome cuidado para não se confundir na escolha! Se for amarelo é uma coisa. Roxo é a mesma coisa. Rosa é só mais do mesmo (porque muda toda hora? Será que é pra parecer que está tudo mudado, renovado? Hmm, fica esperto com isso aí). Vermelho é outra coisa. Azul é o mesmo. Laranja já é outra coisa.

03 Defenda o maior número de pautas possíveis, principalmente as que a priori não podem ser negadas.

Na real, você não precisa acreditar de verdade em nada disso. Só querer mesmo garantir o máximo de apoio de todos os grupos. Se conseguir distorcer essas questões para o seu próprio bem, será aclamado pela base.

04 Aqueça bem a voz antes de uma assembleia. Faça alguns exercícios vocais, procure no YouTube alguns exemplos ou converse com amigos do coral.

Nesse espaço democrático de deliberação tudo se resolve pelo grito ou cantiga. Mais dicas sobre isso nos próximos passos.

05 Faça uma fala enérgica e animada. Por isso entenda como gritar mesmo.

Quanto mais alto você fala, mais as pessoas te acham inebriante e encantador. Não estão entendendo nada do que você quer dizer, mas se você erguer o punho pra cima, muitas palmas virão! Não se esqueça de inserir as frases-chaves: “está em greve!”, “nunca visto

10 DICAS PARA O SUCESSO NO MOVIMENTO ESTUDANTIL DA USP

uma mobilização dessa desde...”, “grande vitória do movimento!”, entre outras. Você aprende isso com a prática.

06 Aprenda algumas cantigas! Elas são muito importantes para dar vida a sua fala. Ou se você quiser atacar alguém de outro partido. Basta que seja homem e fale alto: machista! Não defenda cotas: racista!

Realmente existem pessoas que lutam de verdade por essas pautas. Elas nem estão inseridas nesse tópico. Coloco aqui quem quer garantir seu sucesso político a todo custo. Por isso, se você realmente quer isso aprenda essas cantigas, e as utilize no momento que achar mais conveniente! Comece sozinho a cantar com firmeza que uma multidão o seguirá:

cantiga do machista machistas! machistas! não passarão! machistas! machistas! não passarão!

cantiga dos amigos o professor e o funcionário é meu amigo-o, mexeu com ele, mexeu comigo-o o professor e o funcionário é meu amigo-o, mexeu com ele, mexeu comigo-o

cantiga da precarização para barraaar a precarizaçãããoo, greve geral greve geral da educaçããão!

cantiga do racista se cuida! se cuida! se cuida seu racista! a universidade vai tá cheia de cotista!

07 Proposta de consenso! Desenvolva a habilidade de propor consenso sempre que possível, mesmo que o que você defenda num tenha nada a ver com a proposta.

Uma vez que você já participa de algum grupo político há sempre quem se levante como oposição. Pode parecer impossível de acreditar que independentes possam se opor ao seu partido. Mas pra evitar um racha com esses meros estudantes e outros grupos políticos, proponha um consenso! Assim, você garante que a sua proposta inicial seja posta em prática por meio de manobras.

08 Ahh manobras! Instrumento dos deuses! Seu melhor aliado! Não posso explicar aqui como fazer uma porque se trata de um segredo milenar que só os top do rolê sabem fazer. É nesse momento que os peixes pequenos são separados dos tubarões. Observe pessoas fazendo o movimento circular da direção de um volante de carro durante uma fala. #ficaadica, observe a fala de pessoas que tiram foto com políticos e que gostam de dar entrevistas para a mídia. Exemplos a serem seguidos..

09 Encare tudo o que for possível como uma graaaande vitória!

Assim você pode contar para os seus netos e sobrinhos como você foi responsável por construí-la com o seu graaaande movimento. Se participar de um entro acadêmico, insira pequenas pautas locais, assim sair de greve com uma graaande vitória vai ser muito tranquilo!

10 Por fim, não se posicione muito contra o senso comum ou de formas que a mídia possa falar mal – o importante é construir uma boa imagem do seu partido na opinião pública.

Seu maior objetivo deve ser não se isolar da opinião pública. Métodos radicais devem ser evitados ao máximo. Nada de piquete ou ocupação. E se for pra ocupar, tente sair o mais rápido possível e já vá avisando a Folha ou o Estadão que a saída já está sendo providenciada!

Micael Camargo Amâncio

No dia 08 de junho de 2014, o Proc. Adm. em questão completará 15 anos sem que a Reitoria tome as providências cabíveis. Um total descaso, protegendo um Grupo organizado que faz o que bem entende e nada acontece a eles. Uma quadrilha do colarinho branco que tem total liberdade nas suas ações.

Até quando terei que esperar a boa vontade da Reitoria da USP para resolver este impasse e responsabilizar os verdadeiros culpados por estes desmandos.

Na gestão do Prof. Dr. João Grandino Rodas o número de Procuradores da Procuradoria Geral da USP dobrou e, mesmo assim, este processo ainda não foi encerrado.

O que será que está acontecendo na Reitoria? Protocolei um ofício no dia 18 de março de 2014, solicitando atenção a este caso, mas até a presente data não recebi nenhum retorno.

Um verdadeiro descaso. 

GEORGENALDO FALCÃO

Analista p/Assuntos Administrativos FAUUSP RG 6.431.454-6 – ssp/sp

NF USP 2.445.425

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Combinaram essa festa pra mais cedo os papeizinhos dos docinhos estão amassados é tarde é tarde chegamos atrasados

Olhem os restos de copos vestígios de embalagens de presentes onde estão os convidados pois não fui, pois não fomos Não para esse fim de festa

estariam todos dormindo? ... silêncio na casa

FESTA(para ser lido em voz alta)

Dançemos sozinhos pois a música está quebrada dos discos velhos riscos não subirá nossa balada

: Descobrir nosso ritmo , talvez seja isso, ou tentar outra parada pois a festa a ca bou mais cedo . acabou mais cedo, meu amor. somos nós e mais nada

Arthur Moura Campos

O curso de design foi criado à revelia da Fau prof. Minoru Naruto, em reunião da Coc-Design, 2010

Imagino que essa observação seja suficiente para compreender as mazelas sofridas pelo curso de design desde a sua criação, tanto por parte de seus estudantes quanto de seus professores e funcionários (estes sistematicamente boicotados da estrutura administrativa da Fau).

Tal frase remonta à época em que três professores do curso assinaram uma carta em que se negavam a continuar dando aulas às sextas-feiras, devido ao barulho dos repiauers que, naquele tempo, insistiam em começar por volta das 18h, atrapalhando as aulas à noite.

Deu-se início a uma mobilização dos estudantes do curso em favor da manutenção das aulas perdidas, o que culminou, no primeiro de semestre de 2011, com a proposta de criação de um Centro Acadêmico do curso de design. Foram inúmeras reuniões em que tentamos discutir a possibilidade de criação de um espaço de discussão em que as questões do curso pudessem ser colocadas em pauta, já que o gfau não se dispunha – ou melhor, se contrapunha – a fazê-lo.

Éramos inexperientes, nossas discussões eram rasas e muito pautadas em questões meramente práticas, muito pouco políticas ou politizadas. Queríamos encontrar espaço dentro da Fau – do prédio e da instituição –, queríamos ser ouvidos, queríamos nos sentir parte da faculdade.

Organizamos uma assembleia para tentar dar início à criação do C.A., que foi um fracasso, principalmente porque a maioria de nós sequer havia participado de uma assembleia antes. Questão, aliás, totalmente compreensível: as assembleias da Fau ocorriam sempre ao meio-dia, horário em que dificilmente os estudantes de design podiam se fazer presentes; além disso, os próprios estudantes de arquitetura e urbanismo acreditavam que o curso de design havia sido criado à revelia da Fau, de modo que ofendiam, menosprezavam e boicotavam os estudantes de design em quaisquer uma de suas ações e participações.

O ano de 2011 transcorreu de maneira agitada com a iminente criação do CA. Eu, pessoalmente, estava comprometida com uma construção política interna. Nunca fui uma pessoa engajada, opinativa; pelo contrário: sempre me abstive de discussões, de um modo geral. Mas, desde 2010 – e nisso sinto que a conjuntura da Fau teve um peso enorme –, alguma coisa me movia a defender meus pontos de vista, discutir, articular. Essa e outras questões da minha vida pessoal fizeram com que, em outubro de 2011, quando

2011 & SEUS MOMENTOS QUE NÃO VOLTAM MAIS

a PM tentou prender três estudantes que portavam maconha no estacionamento da FFLCH, eu estivesse extremamente interessada em compor o movimento reativo que estava surgindo.

Naquele outubro veio a ocupação do prédio administrativo da FFLCH, depois a ocupação da Reiroria, cuja violenta reintegração de posse legou 72 estudantes presos, ocasionando a deflagração da greve de estudantes no mesmo dia, em uma assembleia com mais de 3000 presentes. Essa assembleia indicou que os cursos organizassem, por sua vez, assembleias para deliberar adesão à greve. Eu e outros estudantes do design resolvemos fazer uma assembleia exclusiva do nosso curso.

Seria, finalmente, a nossa mobilização: a nossa voz seria gritada e teria de ser ouvida após anos de silêncio. Apesar da beleza potencial da manifestação, eu e meus colegas imaginávamos que dificilmente a greve seria aprovada. O que aconteceu, entretanto, foi justamente o oposto: tivemos uma assembleia com mais da metade dos alunos matriculados presentes, e que, por não estar contaminada pelos vícios do movimento estudantil, conseguiu promover um diálogo real entre os estudantes, os quais deliberaram por uma entrada consciente e consequente na greve.

Foi um momento bonito, o mais relevante de toda a minha graduação. Nós, estudantes de design, conquistamos nosso lugar na Fau, lugar esse que nunca mais será tirado de nós. Conseguimos conversar com os estudantes de arquitetura, desmanchar preconceitos e criar vínculos políticos, pois nos compreendemos como partes de um mesmo todo, com interesses comuns que portanto deviam ser defendidos em conjunto.

No entanto, era patente a diferença entre os cursos nessa mobilização. Talvez poque a carga histórica dos contextos diretos em que nos encontrávamos diferisse. Era como se o curso de design fosse uma criança em relação ao curso de arquitetura, o qual, obedecendo a essa lógica, seria um velho.

Crianças são pessoas que viveram pouco, por isso sabem pouco do mundo, têm dificuldade de tomar atitudes por si só e costumam acreditar no que ouvem por aí; não têm opinião formada sobre quase nada e reclamam demais sem ser capazes de tomar certas atitudes sozinhas, ao mesmo tempo que tendem a estar sempre em paz com o mundo. Por não terem maturidade para pensar a fundo nem mesmo sobre as suas próprias vidas, as crianças acabam não conseguindo desenvolver pensamentos mais complexos, como a sua inserção na sociedade e o por que dela.

Em oposição, velhos têm muita segurança sobre tudo o que afirmam. Mais do que isso, têm mais coragem que os mais jovens para dizer qualquer coisa. Tendem a não se importar com a opinião dos outros, acreditam que sua opinião é sempre a melhor. Não adianta tentar discutir com os velhos: eles não dialogam, só repetem tudo o que querem, indiferente a quaisquer argumentos, sem considerá-los na sua linha de raciocínio. Em sua defesa, o peso do tempo (a experiência de vida).

Nós, as crianças, éramos novatos em política; eles, os velhos, eram muito experientes. As nossas assembleias eram conversas frequentemente confusas, mal dimensionadas; as deles eram atos políticos inflamados, radicalizados.

Em outubro de 2013, quando uma assembleia geral dos estudantes novamente deflagrou greve, optou-se pela realização de assembleias unificadas dos estudantes da Fau, e não mais divididas entre design e arquitetura, dado o estreitamento de laços e a afinidade política construída entre os cursos. No entanto, foi sendo percebido um envolvimento maior dos estudantes de design, mesmo sendo estes minoria na faculdade. Por isso, quando uma assembleia dos estudantes da Fau deliberou a saída da greve, estudantes de design sentiram vontade de se organizar em uma nova assembleia, exclusiva do curso, na qual votaram pelo cancelamento daquele semestre letivo, por entender que ele não poderia ser finalizado, uma vez que não havia contado nem com metade das aulas previstas.

Em 2014, a paralisação organizada antes do fórum paritário sobre a reforma da cobertura teve grande adesão dos estudantes de design, mas não dos de arquitetura. Durante esse período, os estudantes de design conseguiram discutir em diversos momentos, articulando-se para tentar compor uma unidade estudantil que já se encontrava esfacelada.

Mas se nós, estudantes de design, herdamos esse ensejo político dos estudantes de arquitetura, onde estavam eles nesse momento, se não batalhando única e exclusivamente pela manutenção das suas aulas, furando paralisações e se dispondo a aceitar ofertas mesquinhas das instâncias superiores da Fau, em contraposição à defesa de um projeto pedagógico coerente, em que a permanência no edifício teria papel central?

O que vemos hoje são pouquíssimos estudantes (de arquitetura e design) se esforçando ao máximo para tocar a gestão do gfau, sendo esse grupo de não mais de dez pessoas que se coloca em todas os momentos de agitação política dentro da Fau, e mesmo fora dela,

na relação com o movimento estudantil da Usp, por exemplo.

Como eu, hoje os estudantes que participaram ativamente das mobilizações de 2011 participam pouco ou não participam mais do cotidiano da Fau. Mas, se a adesão do design representou uma expansão da mobilização, por que agora enfrentamos esse período de retração generalizada?

Alguma coisa mudou. Alguma coisa que faz com que as pessoas tenham medo, e optem pela cerveja sem álcool, o doce sem açúcar e o café descafeinado – parafraseando Slavoj Žižek. Estaria a Fau atrasada em relação à guinada pós-moderna, portanto vivendo uma crise com mais de vinte anos de delay?

Mesmo porque, a desmobilização não é exclusivamente política. O espectro alienante do desinteresse em todos os âmbitos da vida ronda a Fau. Até 2011, por exemplo, debates, exposições, palestras e outros eventos, organizados autonomamente por estudantes, enchiam o Piso do Museu todas as semanas...

Enfim, não sou capaz, nem acredito que alguém no momento seja, de explicar o esvaziamento do espaço [político] da Fau, mas não consigo fazer com que a questão deixe de me intrigar e nem deixar de especular a seu respeito. Por isso, propus-me, aqui, a levantar parte da memória dos meus anos de Fau. Quem sabe, com sorte, de posse dos meus relatos, outras pessoas queiram também especular.

Eugênia Pessoa Hanitzsch

AS REFORMAS, O CONSELHO CURADOR E O EOA A interdição das salas de aula e estúdios, condição atual deliberada pela própria FAU, carrega em si um processo que não se iniciou em 2012, início da reforma do edifício. Anteriormente, já era claro a falta de comprometimento com manutenções e pequenas obras no prédio. Entendendo o edifício como parte de uma proposta político pedagógica construída a partir da década de 60 para o ensino da arquitetura no Brasil, apreende-se das atuais condições do edifício um modo de se compreender o ensino.

Ao Conselho Curador, órgão consultivo e paritário fruto da mobilização dos estudantes em 2009 frente às reforma s nos espaços da FAU, foi atribuído a tarefa de orientar as intervenções tendo em vista os usos do edifício, atrelando estas à realidade da escola. Um de seus objetivos é a formação do Escritório-Oficina Acadêmico (EOA), espaço formado por estudantes, docentes e arquitetos que coordenaria as reformas, tornando-as parte de nossa formação através de atividades, disciplinas, etc. As reformas carregariam outro significado à escola. O EOA substituiria o GEEF (Grupo Executivo dos Espaços Físicos), grupo que atualmente coordena a reforma da FAU e é formado apenas por arquitetos contratados, ou seja, membros externos ao cotidiano da escola e que não possuem de fato o entendimento do uso dos espaços.

Em contrapartida ao que foi atribuído ao Conselho Curador, as condições que lhe foram realmente dadas desde o início dificultaram sua atuação, chegando-se ao ponto de culpabilização do Conselho pelas atuais condições nas quais o edifício se encontra. Como representante discente do Conselho Curador, creio ser essencial o entendimento das forças políticas no qual o Conselho se insere - externa e internamente - para que se compreenda como o potencial político do Conselho Curador é restringido. Esse entedimento revela intenções veladas na reforma da FAU.

Os procedimentos da obra dados à construtora Jatobeton são feitos pelo GEEF, no papel da arquiteta Eunice, sob coordenação da Diretoria. Desde que decidiu-se por iniciar a obra, o Conselho Curador não foi acionado, e ao longo desta sempre teve que fazer pedidos de esclarecimentos a fim de obter informações verídicas sobre o planejamento da obra, o que nunca era realmente feito. Assim, fazer qualquer tipo de proposição sobre ela era praticamente impossível, pois não tínhamos informações básicas. Dos envolvidos com a reforma (Diretoria, GEEF e Jatobeton), o Conselho é o único com representação discente, portanto constituia um espaço onde os estudantes poderiam ter informes importantes.

O ESPAÇO E A AUTONOMIA

As demandas colocadas ao Conselho são questões no âmbito de análise do ralo a ser colocado na cobertura ou a medida de abertura do Domu, ou o informe de onde ocorreu determinado lixamento: questões pontuais cuja resolução não podem de fato melhorar a reforma. Essas demandas visam construir a imagem de participação do Conselho Curador no processo.

Só houve de fato o envolvimento da comunidade FAU nas questões da reforma quando existiram “momentos de crise” e o esforço das gestões do GFAU em construir mobilizações urgentes. Em 2013, quando houve a decisão de saída das atividades letivas do edifício, os estudantes mobilizados conseguiram barrar tal decisão. Houve a compreensão da importância dos espaços do edifício à nossa formação e das relações sociais que ele propõe; a partir dessa compreensão, os estudantes organizaram várias atividades autonomamente. O Piso do Museu, que passava por um momento de esvaziamento, passou a abrigar essas atividades e ganhou um novo ritmo cotidiano.

DOCENTES E ESTUDANTES: INTERESSES ALINHADOS Contudo, os estudantes não continuaram acompanhando e se aprofundando na questão, quando houve o incidente na sala 811. Em Congregação, os docentes propuseram como solução a interdição das salas e estúdios, o que foi feito. Sem esses espaços para aulas, era iminente a pulverização dos estudantes em outras unidades da USP, proposta que os docentes já vinham defendendo. Em todas essas questões o envolvimento do Conselho Curador foi praticamente nulo pois não era de interesse por parte da diretoria. Somente os estudantes posicionavam-se favoráveis ao Conselho; deliberações, contudo, sem força política real. Para impedir a pulverização, os estudantes discutiram diversas propostas em Assembleiais, entre elas a possibilidade de uso do Piso do Museu como estúdio. O desgaste da maior parte dos estudantes em relação à questão e as manobras da diretoria fizeram com que essa última solução fosse sendo priorizada, sem seu o real entendimento.

Para a deliberação da questão, os estudantes determinaram o Fórum paritário em contraposição à Congregação, que foi acatado. Contudo, a solução proposta pelos estudantes para a questão foi uma decisão histórica tomada: o uso do Piso do Museu como estúdio, no qual as mesas ocupavam quase que integralmente seu espaço. Apesar do Fórum lotar o Piso do Museu, muitos não sabiam dos interesses velados por parte dos docentes e do peso

político de determinadas questões. As deliberações, esvaziadas de entendimento político pela maioria, apenas legitimaram o processo que a antecedeu: decidiu-se pela continuidade da interdição dos estúdios e salas, sem nenhuma solução específica para a questão, por saída de grande parte das atividades letivas do prédio da FAU, que ficariam espalhadas por várias unidades da USP, e pelo uso do Piso do Museu como estúdio, conforme decisão dos estudantes. A Congregação seguinte, que deveria ratificar ou não as decisões do Fórum, em breve e vazia reunião decidiu por aceitá-las, o que mostra que elas não iam contra os interesses da Congregação, ou seja, não houve real contraposição da comunidade FAU ao modo como a reforma era gerida. Posteriormente, várias decisões do Fórum nem mesmo chegaram a ser colocadas na prática.

Quanto ao EOA, este seria uma possibilidade de mudança do andamento da reforma pois auxiliaria a gestão e, visto sua composição, haveria uma postura distinta em relação ao GEEF. Entretanto a consolidação do EOA barra na ausência de docentes para compô-lo e no seu esquecimento pela comunidade FAU. Atualmente estão reabertas as inscrições de docentes para compor o EOA, no entanto não há ânimos por parte da categoria. Enquanto o EOA não existe, o Conselho Curador rasteja-se em pareceres que lhe são demandados e na dependência ao GEEF ao qual é submetido. Os esforços dos representantes discentes em construí-lo e torná-lo propositivo é restringido pelos docentes e funcionários que o compõe e não arriscam posicionar-se contra os interesses da Diretoria.

A CONCRETIZAÇÃO DE UM PROJETO O processo da reforma da FAU abriu espaço para que se concretizasse um projeto de escola, projeto este deliberado pela comunidade FAU no Fórum paritário. As condições dos espaços do edifício, o uso do chiqueiro e do estúdio 2 como sala de aula, a falta de informações verídicas sobre a obra e a deslegitimação do Conselho Curador fazem parte desse projeto. Contudo, frente a este, é essencial o papel que os estudantes exerceram, tentando barrar decisões tomadas nos restritos órgãos colegiados, fazer viva a discussão do ensino e lutando por uma organização autônoma. Quando o Fórum ocorreu as posições já estavam determinadas: os docentes há muito defendiam a saída das atividades letivas e os estudantes, desgastados e com mobilização enfraquecida, deliberaram pelas atividades acadêmicas no seu espaço.

O Conselho Curador conjuntamente ao EOA foram uma tentativa por parte dos que acreditavam que o edifício, o ensino e a formação do arquiteto poderiam ser de fato rediscutidos na escola por todas categorias, de forma aberta e igual. No entanto, cabe refletir se, frente às posições coniventes e às manobras políticas dos docentes em geral, é possível a construção conjunta visando tais objetivos, sobretudo em uma instância institucionalizada como o Conselho Curador. Aos estudantes, é necessário o entendimento da atual pulverização e da decisão de ocupação do Piso do Museu com atividades de estúdio, grave condição deliberada.

Camila Onia comitê editorial

NÃO PRETENDE A CONSTRUÇÃO DA ESCOLA A pauta das assembleias do AUH(1)para o ano de 2014 refere-se a reformulações para o ensino de história da FAU. Mais atreladas ao curso de Arquitetura e Urbanismo, essas mudanças também atingem o Design. Tal pauta foi decidida na primeira assembleia dos docentes do AUH de 2014 e veio como sugestão da chefe de departamento, Ana Lanna. Como base da discussão, partiu-se de um documento, escrito pela chefia, que retoma as discussões sobre ensino realizadas nos últimos quatro anos pelo departamento, sendo a proposta do AUH para o PPP de 2012(2) um dos principais alicerces desse processo.

Este documento, escrito por alguns professores do AUH e sob liderança de Ana Lanna, em sua primeira gestão como chefe de departamento, tinha como pontos centrais a sobreposição da pesquisa dos docentes ao ensino e à extensão junto à profissionalização da graduação. Travestido de humanista, possuía um viés totalmente mercadológico. Contra essa proposta e em busca da construção de um real debate entre os estudantes e a FAU como um todo, a Comissão de Ensino (3) e membros do GFAU teceram comentários críticos(4) e apresentaram aos estudantes que, em assembleia, repudiaram o documento em bloco. O posicionamento dos estudantes foi levado à Coc-AU(5), onde, no entanto, não se abriu espaço para real discussão. À revelia do que foi discutido nas reuniões do órgão e sem considerar o posicionamento dos estudantes, o PPP aprovado teve como base a proposta levada pelo AUH.

Ao reiterar essa proposta do AUH para o PPP de 2012 sem avaliar criticamente como se deu seu processo histórico de construção - desconsiderando posicionamentos políticos contrários, seus agentes, as políticas da universidade e sociedade como um todo-, o AUH rememora um acontecimento pontual totalmente descontextualizado. Ao colocar a necessidade de consolidação das diretrizes do documento apenas como um fato, sem abrir margem para questionamentos - tanto de seu conteúdo quanto da forma como em que foi construído - se consolida como prática do cotidiano uma visão que entende a história apenas como um fluxo natural, e não enquanto uma construção social dialética, em que os indivíduos poderiam atuar alterando a direção de seu curso e suas tendências.

A entrada de novos docentes em meio a esse processo, em aparência aberto e democrático, acelera ainda mais a implementação desse projeto de ensino e uma ruptura (mesmo que nem sempre

A ATUAL CONSTRUÇÃO DO ENSINO DE ARQUITETURA

seja intencional) de toda a construção sobre o ensino de história para o departamento ao longo da existência da FAU. Essa ruptura se dá, a medida em que não se compreende os processos históricos e não se posiciona claramente em relação a eles; à medida em que não considera, apaga. Fato que os novos docentes, por não terem vivido uma mínima parte disso, tem menos compreensão do que docentes mais antigos.

Vale ainda pontuar que também está sendo reformulado o que o departamento entende enquanto docência. Ano passado, um dos pontos mais discutidos foi o estabelecimento de um novo perfil de docente que norteou os pontos para os concursos para novas contrações. Neste ano, tem sido aprovado pelo Conselho que os novos professores já possam realizar atividades externas à USP (no caso de docentes RDIDP(6) configurando uma nova relação de dedicação do docente com a FAU, pois valoriza a realização de atividade profissionais do docente de dedicação integral mesmo antes dele se incorporar e compreender sua posição em relação à FAU.

Também estão sendo alteradas no AUH as formas de funcionamento das suas estruturas de decisão. As decisões mais burocráticas continuam passando no Conselho, ao passo em que as decisões em relação à políticas centrais, no caso o ensino, passaram a ser discutidas em Assembleia. Isso poderia contemplar a participação de mais docentes na tomada de decisões, mas na prática o resultado é outro. Um dos motivos é que os docentes possuem relações muito hierárquicas, que interferem no funcionamento da assembleia(8). À construção real de um debate se sobrepõe um desejo geral de reestruturar e reposicionar o departamento na FAU, que parece ter ficado desarticulado antes das últimas chefias. Para isso, há um grande receio em se discutir de fato as coisas e travar esse processo, assim, todas as assembleias são pautadas na busca por consensos, impossibilitando uma argumentação real.

Soma-se a isso, a gradativa desconstrução dos Grupos de Disciplinas(7). A desarticulação de grupos que poderiam levar posicionamentos melhor consolidados e autônomos confere mais peso à contribuições individuais. Essa desvalorização da construção conjunta favorece aos que estão mais alto na hierarquia, na medida em que reduz as possibilidades de contraposição.

A mudança do significado dos GDs também está pautada no conceito de transversalidade proposto aos conteúdos. Os docentes do departamento defendem a dissolução das fronteiras entre os

campos do saber, na tentativa de integrar o conhecimento entre as diferentes sequências e disciplinas. No entanto, não atentam para o fato de que, ao partir de uma visão fragmentada que não percebe a totalidade na qual a questão se insere acabam por descontruir o conteúdo em sua especificidade, ficando apenas na superficialidade das áreas. Isso se exemplifica no atual processo, no qual o AUH desconsidera a sua relação com a FAU e realiza uma mudança pontual que interfere em todo um projeto de escola.

É importante ressaltar que os processos apresentados não estão em ordem linear, até porque eles acontecem simultaneamente e não são necessariamente compreendidos dessa maneira pelos membros do departamento. No decorrer desse processo, já foram aprovadas diretrizes gerais sobre o conceito de história, o ponto de partida que deve orientar a construção das disciplinas e a relação a ser estabelecida entre elas. A próxima pauta a ser deliberada diz como essas mudanças devem atingir as disciplinas obrigatórias, seja enquanto conteúdo ou enquanto formas de avaliação, em resumo, uma tentativa de transformar os conteúdos básicos obrigatórios da graduação nos temas da pesquisa dos docentes.

O que fica é a gravidade da situação. Um departamento que passa por uma reformulação dessa amplitude não coloca essa discussão para a FAU porque não pretende se compreender enquanto parte de uma escola. Nega a visão da totalidade do conhecimento a ser construído nessa escola e sua relação crítica para com a sociedade. Ao colocar a deliberação acima do debate, e um novo projeto de ensino acima do próprio ensino (já que visa, não a um projeto de escola, mas um reposicionamento estratégico do órgão), a construção da discussão coletiva é negada.

Negada a construção em conjunto, mantidas as relações de autoridade e a total incompreensão (proposital ou não) da conjuntura política, as reformulações de ensino do AUH se alinham perfeitamente às mudanças que a reitoria pretende para a graduação. O novo reitor, o reitor do diálogo, promete revalorizar a graduação transformando-a em um instrumento para pesquisas dos docentes financiadas pela CAPES e cada vez mais alinhadas aos interesses dessa instituição. Assim, mesmo que não tenha sido discutido, o alinhamento aos interesses de quem está no poder é realizado.

PREDOMINA A INÉRCIA Um órgão bastante desarticulado e esvaziado é a CoC-AU. Como já dissemos, em 2012 uma de suas atribuições foram as reuniões sobre o PPP e a deliberação sobre seu caráter. Em 2013, sua principal pauta foi as atividades complementares para A.U, em que a pesquisa, na forma da Iniciação Científica quase assumiu um peso muito maior na pontuação em relação à extensão.

Em 2014, continuaram as dificuldades de marcar reuniões e organizar as pautas de discussões. Porém, nas últimas reuniões foi colocado que deveria se iniciar o debate sobre o PPP. Um dos docentes colocou uma série de propostas de como encaminhar a discussão e já implantar alterações para semestre que vem, novamente, sem uma discussão sobre as propostas e sem tentar compreender o contexto atual. Como justificativa argumentou-se que essas propostas poderiam ser implantadas como experimentações e teste. Isso demonstra um descompromisso com a construção de uma proposta real, além de, implementar medidas, à princípio, pontuais mais que com um tempo constituírão uma outra concepção de curso. Além disso, foi proposto que a discussão sobre ensino fosse debatida somente entre os docentes, dando a entender que os estudantes acabavam atrapalhando a discussão.

Outro ponto, é que algumas propostas apresentadas por docentes do AUH, estavam em consonância com as atuais mudanças do departamento, o que não é um problema em si, mas explicita como mudanças tidas como “pontuais” influenciam a FAU com um todo sem se colocar nessa posição.

Ao mesmo tempo, o departamento de Projeto e o departamento de Tecnologia quase não discutem as questões do ensino. O AUP chegou a considerar iniciar uma discussão, mas a partir de um questionário em que os estudantes responderiam e os professores analisariam. Ao serem questionados pela representação discente sobre esse formato de discussão, os docentes concordaram sobre a ineficiência desse método. No entanto, desistiram de tentar iniciar o debate e a chefia de departamento, Heliana Comin vargas, chegou a afirmar que se o

Conselho que essa discussão não aconteceria em sua gestão. Fica a pergunta: que atividade docente é essa que nega a discussão sobre o ensino?

E OS ESTUDANTES? Na Arquitetura, há um sentimento geral de incômodo com a atual situação. No entanto, enquanto não houver um interesse real em iniciar esse debate de forma autônoma (o que não significa isolamento) e que busque construir a FAU enquanto escola, continuaremos com medo de paralisar o semestre enquanto se adia o debate da política e do ensino. No presente, somos estudantes de arquitetura que não lutaram de fato contra as interdições das salas de aula e dos estúdios! Faremos algo para lutar pela nossa; formação?

notas (1) Departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto. Uma vez por mês ocorre o Conselho de Departamento, seguido de Assembleia dos docentes

(2) Projeto Político Pedagógico é um documento exigido pelo MEC a cada cinco anos a todos os estabelecimentos educacionais.

(3) Grupo de estudantes que se propunham a colocar a discussão sobre o ensino da FAU

(4) Disponível em gfau.org.br

(5) Comissão Coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo. Órgão consultivo ao qual cabe discutir temas relacionados ao ensino e pedagogia.

(6) RDIDP - Regime de ddicação exclusivados docentes a universidade

(7) Até recentemente, o AUH se estruturava a partir de Grupos de Disciplina, os quais eram compostos por professores que, no conjunto de suas disciplinas, constituíam uma área de estudos pertinente aos cursos de arquitetura e urbanismo e design.

(8) Além disso, há a questão de não haver regimentalmente o direito de representação discente nas assembleias. Como muitas vezes o que pauta a atuação docente é a lei e não a ética, a representação dos estudantes pode ficar fragilizada assim como acontece nos departamentos de Projeto e Tecnologia que chegaram a negar a participação dos RD’s em suas assembleias.

Luiz

Gre

cco

CARTA ABERTA AO PROFESSOR JOÃO SETTERecentemente, este professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP soltou dois textos se posicionando em relação a duas organizações políticas bem distintas – um em relação à greve dos rodoviários e outro em relação a um posicionamento do grêmio da FAU.

Apesar dos contextos completamente diferentes sobre os quais os textos escritos pelo professor se colocam, não custa fazer algumas associações entre os dois casos.

Fica bem claro, na forma como os textos estão escritos, que ele não demonstra incômodo algum em dizer o que considera que seriam os melhores rumos para organizações das quais não faz parte. Não apenas isso, ele parece querer desmoralizar e desconstruir aqueles que se organizam em formas das quais discorda:

No caso dos rodoviários, sua greve é apontada como “um caos sem controle e estranhamente autônomo em relação à representação legítima da categoria”, por não ter sido organizada pelo sindicato.

No caso do grêmio dos estudantes – o qual, através de seus representantes discentes, levou um posicionamento contrário à criação de disciplinas em línguas estrangeiras à congregação da FAU –, João Sette aponta uma não representatividade da vontade real dos estudantes, que desejariam que se criasse a maior quantidade de intercâmbios possível:

“Das centenas de alunos que, a cada ano, procuram e pressionam a Ccint para uma maior agilidade quanto à oferta de convênios. Das centenas de alunos que fizeram seguidos abaixo-assinados para beneficiar-se da então “bolsa USP”, ofertada até o ano passado. Das centenas os alunos que se inscrevem junto ao programa Ciência Sem Fronteira (CSF) para poder viajar ao exterior com bolsa do Governo Federal. São eles que o GFAU e os representantes discentes na Congregação estão representando, e em nome deles que se posicionam “contra a internacionalização”? E o caso dos alunos do próprio GFAU que pleiteiam intercâmbios? São contra a internacionalização?”.

O que há em comum nos posicionamentos de João Sette? Tanto no caso dos rodoviários, quanto no caso dos estudantes, parece haver uma incompreensão por parte do professor acerca de formas de organização que não se pautam no centralismo ou na representação indireta.

O sindicato dos rodoviários quis aceitar uma oferta de aumento salarial das empresas de transportes, os trabalhadores não. A partir de então, eles passaram a organizar o movimento autonomamente, dispensando um sindicato que faz concessões que eles não estão dispostos a fazer. Os estudantes, por sua vez, também não delegam suas decisões a representantes eleitos.

Os posicionamentos levados aos colegiados, inclusive os relativos à internacionalização e à criação de disciplinas em francês e inglês, são aqueles definidos em reuniões abertas em que todos os estudantes têm o mesmo poder de voz e voto.

No entanto, em seus textos, João Sette não coloca meras discordâncias de tais formas de organização, na realidade, coloca os responsáveis por levá-las a cabo como culpados por irem contra o que seria uma representação legítima das categorias em questão. Mas, frente a tantas organizações políticas e mobilizações no Brasil e no mundo, por que esses dois casos específicos teriam sido escolhidos para serem criticados pelo professor?

No caso da carta escrita ao gfau, é fácil perceber o nível de envolvimento pessoal na questão da internacionalização – além de membro da Ccint (órgão que deveria ser responsável pelas políticas de internacionalização da unidade, as quais não foram de fato definidas até hoje), o professor escreve como o propositor de uma das disciplinas em língua estrangeira que foram barradas pelo gfau junto a outros professores.

No entanto, para entender a contraposição aos rodoviários, é necessário buscarmos no texto qual agente é apontado positivamente pelo professor: “uma série de fatores que, na esteira das mudanças que estão sendo implementadas pela Prefeitura, certamente devem incomodar o setor [empresários de transportes], ou pelo menos parte dele.”. A Prefeitura, portanto, é a parte que ele defende. E isso pode ser visto não apenas como uma defesa do poder público como defensor do bem público, mas, mais especificamente, como uma defesa do partido que ocupa a Prefeitura atualmente, o PT, com o qual João Sette parece ter bastante acordo.

Para concluir, façamos então, de forma semelhante ao professor em seu texto sobre a greve dos rodoviários: após “não acusar ninguém” e “apenas juntar os pontos”, indicaremos algumas atitudes que seriam urgentes:

_Que se entenda que não cabe a um professor da USP decidir qual a porcentagem de aumento salarial que os rodoviários (ou qualquer grupo de trabalhadores) deve aceitar;

_Que se entenda que, de forma geral, não cabe a pessoas não envolvidas definir qual a forma de organização política de uma categoria da qual não fazem parte, e que fazer isso é se colocar em uma posição autoritária e de superioridade;

_Que se entenda, por fim, que a política não é feita a partir de uma soma de vontades pessoais, mas sim de posicionamentos e debates que tem em vista o bem comum e a construção social desejada;

_Que os professores da FAU façam o seu papel na discussão sobre a internacionalização da faculdade, especialmente nos colegiados que têm essa função exclusiva, e se encontrem fisicamente para pensar o assunto, adotando um pensamento minimamente crítico;

_Que o facebook deixe de ser usado como um substituto para o debate, em que a validade de argumentos se mede por quantidade de curtidas.

Atenciosamente, Gabriella DeBiaggi

Estão estourando a cada dia mais greves pelo país, e greves que refletem a organização direta dos trabalhadores, muitas vezes superando a burocracia dos sindicatos. Uma greve de rodoviários em São Paulo se repercutiu em greves em Osasco, Diadema e mesmo em Salvador e São Luís, onde a greve continua. Em São Paulo, o MTST organiza atos com mais de 20mil nas ruas, os metroviários em greve propõem ato e há possibilidades de unificação entre as categorias em luta. Vemos a possibilidade de forjar uma unidade entre a luta de estudantes, trabalhadores e movimentos sociais.

Motivos nunca faltaram para as greves e lutas de trabalhadores e estudantes. Não há nada de novo em que a precariedade das condições de vida cause insatisfação e revolta aos trabalhadores e juventude - a má qualidade dos serviços públicos, a não garantia de direitos e do emprego e a alta cobrança que recai sobre a população com impostos e o aumento da inflação, sem aumento dos salários, só se agravam com o tempo.

Com a aproximação da Copa, no entanto, esta insatisfação crescente ganha outra dimensão, um inimigo comum se aclara frente à aliança do Estado com essa organização internacional que é a FIFA. A promessa do bem estar garantido pelo casal governo-mercado reverberou em apenas mais precarização do trabalho e exclusão da população pobre em um processo que se cega para as contradições do desenvolvimento econômico e cultural proposto pelas políticas da velha esquerda que hoje está no poder.

SERVINDO A QUEM? Em resposta às críticas vindas das classes trabalhadoras e população marginalizada impos-se a ostensiva presença da PM nas ruas sinalizando a relutancia em dialogar com a população. O diálogo travado é com o mercado internacional, suas fundações e organizações. E a necessidade de calar os debate e gritos levantados fica clara nas manifestações da mídia oficial que constantemente buscam criminalizar as manifestações de luta por moradia e contra a Copa tratando como terrorismo a posição política e condição de marginalidade.

A desconstrução das reinvindiações políticas se dá pela repressão, quanto à qual poderiam ser citados inúmeros casos e em diversas escalas, seja com a crescente militarização do Estado com investimento em novos materiais e táticas da PM ou com os abusos policiais recrudescentes no trato com a população das periferias e com manifestantes. Mas se dá também na mídia oficial que boicota as manifestações de rua e continua a produzir um

conteúdo de baixo valor cultural e político, alienando a população, além de manipular as manifestações construindo sobre ela discursos despolitizados e fragmentados.

LUTA É TRANSFORMAÇÃO SOCIAL As lutas dos diversos coletivos (MST, MTST, Passe LIvre, metroviários, rodoviários, garis, e demais classes trabalhadoras) ganha mais força nesse momento, mas não representa apenas um despertar de classes isoladas para a conquista de suas pautas específicas e sim a possibilidade de colocar em pauta a questão da transformação social e da contraposição não apenas ao governo, mas à política econômica do capitalismo, uma vez que fica claro que não representa mais que a reprressão estatal, imposição cultural, gentrificação e exploração da população.

Este processo tende a ganhar mais força à medida em que estas lutas se unificarem para além da defesa de pautas específicas. Movimentos que defendem exclusivamente suas próprias vitórias acabam não tendo vitória nenhuma, pois minam a força de um movimento unificado e se negam à construção de uma vitória de todos.

A importância na união das lutas e pautas fica evidente em todas as escalas, como podemos ver até mesmo na USP. Iniciamos esta greve na USP que já se propõe à unidade com os trabalhadores, e fica claro que apenas a pressão das três categorias pode estabelecer a defesa da universidade pública autônoma e gratuita. Ainda, superar o isolamento, para se ligar às lutas em curso e somar forças não só aos trabalhadores da USP, mas à luta dos trabalhadores na cidade, nas ruas torna-se portanto premissa para a construção de uma mobilização capaz de impor derrotas ao Estado-mercado e erguer um mundo novo.

Alessandra Iturrieta Ana Carolina Nicolay

MOBILIZAÇÃO CRESCENTE

JUNHO.2014