11219-38531-1-Sm a Septuaginta–Uma Herança Alexandrina

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Artigo sobre a septuaginta.

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    - A SEPTUAGINTA UMA HERANA ALEXANDRINA AT OS NOSSOS DIAS

    Prof. Me. Luciene de Lima Oliveira (UERJ)

    RESUMOA tradio religiosa conceitua a Septuaginta como sendo a traduo grega

    das Escrituras Hebraicas feita em meados do sculo III a.C. em Alexandria por 72eruditos judeus. Assim, o presente artigo tem por escopo abordar a respeito daSeptuaginta. Todavia, salienta-se que h certas controvrsias em relao suaorigem, aos seus tradutores, como foi realizada a traduo, qual o tempo parafinaliz-la, e, por fim, a traduo grega foi, a princpio, somente da Torh ou engloboutodas as Escrituras Hebraicas dos judeus?, foi uma obra, exclusivamente, do sculoIII a.C. ou foi um trabalho de vrios sculos?. No entanto, apesar dessas discussesem torno da Septuaginta, no h como negar a sua utilidade e a sua importnciapara todos os estudiosos e/ou simpatizantes da lngua helnica.Palavras-chave: Alexandria; Ptolomeu II Filadelfo; Torh; Septuaginta; Bibliotecade Alexandria

    De acordo com a tradio religiosa, a Septuaginta a traduo dasEscrituras Hebraicas para a lngua grega realizada na segunda metade do sculo IIIa.C. em Alexandria, cidade egpcia. Em relao origem dessa traduo grega, tem-se duas verses: umaconsiderada lendria e a outra, histrica. Cite-se, primeiramente, a lendria que seencontra na Carta de Aristias a Filcrates1 . De acordo com essa carta - datadade Alexandria no ano 200 a.C. - o prprio Aristias - que era um oficial da guardareal - escreve a seu irmo Filcrates. Nesse documento, Aristias faz referncia auma certa embaixada que o rei egpcio, Ptolomeu II Filadelfo, enviou a Eleazar, osumo sacerdote de Jerusalm.

    Na verdade, quando o monarca soube da existncia e do grande valordos escritos sagrados judaicos, por influncia de seu bibliotecrio Demtrio deFleron, providenciou-lhes a traduo da Torh para o idioma grego, a fim deilustrar a recm inaugurada Biblioteca Real de Alexandria como se depreende deum trecho dessa carta:

    Eu estava presente quando [o rei] lhe perguntou: quantosmilhares de livros h? Ele respondeu: mais de duzentos, rei; porm, estoume apressando para completar em pouco tempo os quinhentos mil queme faltam. Disseram-me que as leis dos judeus deveriam ser transcritas eformar parte de tua biblioteca. Disse: E o que te impede de faz-lo? Tenstudo o que necessrio tua disposio. Porm Demtrio respondeu: preciso traduzi-las, pois utilizam na Judia uma escrita peculiar, como os

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    egpcios, tento na disposio das letras como na pronncia. Supe-seque empreguem o siraco, porm, no exatamente, mas um dialetodiferente. Quando o rei se informou dos pormenores, deu ordem para seescrever ao sumo sacerdote dos judeus para que se realizasse ocombinado.

    A delegao, que foi mandada Jerusalm, obteve sucesso, pois o sumosacerdote, envia a Alexandria uma cpia da Lei (Torh que abrangia os cincoprimeiros livros dos Escritos Sagrados2 : Gnesis, xodo, Levtico, Nmeros eDeuteronmio) e setenta e dois estudiosos seis de cada tribo israelita.

    Salienta-se que, durante sete dias num banquete com o rei Filadelfo,esses eruditos judeus surpreenderam a todos, com a sua sabedoria, ao seremindagados a respeito de setenta e duas questes. Os tradutores judeus, alojadosna ilha de Faros, comeam, ento, a traduo da Lei, independentemente, dosdemais. At que, ao final de setenta e dois dias, suas tradues se mostraram muitoidnticas. Aps a finalizao de seus trabalhos, a traduo foi lida na presena dereligiosos judeus e do povo em geral que estavam reunidos em Alexandria. Assimsendo, a traduo foi declarada em perfeita conformidade e fidelidade em relaoao original hebraico. O rei ficou satisfeito e a colocou em sua Biblioteca.

    Convm sublinhar que a narrativa dessa Carta perdeu crdito em algunspontos, pois o escritor que se denomina Aristias, diz que grego e pago, masmostra, no decorrer da narrao, que um judeu, adorador do Deus dos PatriarcasIsraelitas e, alm do mais, um admirador dos costumes judaicos. Apesar deconsiderada lendria e fantasiosa por alguns, essa narrativa da Carta de Aristiasganhou confiana, sendo aceita por religiosos e estudiosos como Filo de Alexandria(sculo I a.C.) que a utilizou em seus escritos sem mencionar o nome de Aristiase considerava os tradutores como profetas inspirados (De Vita Moysis II, 6). JFlvio Josefo (sculo I d.C.) repete o relato de Aristias quase que de modo literal(Ant. Jud. XII, 2). Telogos como Tertuliano ( sculo III d.C.) e Agostinho (sculoIV d.C.) tambm enfatizam que os setenta e dois tradutores foram inspirados porDeus.

    bom lembrar que o relato contado por esse determinado Aristias foiaceito por muitos religiosos at o incio do sculo XVI d.C., pois, depois, foi postaem dvidas por pesquisadores como Louis Vives e H. Hody.

    H certas objees s idias contidas na Carta, tais como: a) como poderiaalgum localizar, facilmente, as 12 tribos de Israel para encontrar os eruditos judeusde cada tribo? j que o povo judeu havia estado em cativeiros e, conseqentemente,os membros das tribos estavam espalhados. Caso a embaixada enviada por PtolomeuII levasse os membros de cada tribo judaica para a traduo, todo judeu tinhaconscincia de que o responsvel oficial pela escritura era a tribo de Levi (cf.Deuteronmio, 17:18; 31: 25-26 e Malaquias 2:7). Desse modo, as outras onze

    tribos no iriam desobedecer s regras divinas e aceitar uma proposta de traduode seus santos escritos, sabendo que tal tarefa no era da competncia deles.

    Na verdade, apesar dessas controvrsias em torno dessa pseudo Carta,indaga-se se no existe algum fundamento histrico e alguns fatos verdicos nosdetalhes narrados, uma vez que a Torh foi mesmo traduzido em Alexandria e notempo de Ptolomeu II na metade do sculo III a.C. No entanto, at que ponto ummonarca pode ter influenciado essa traduo, o exato nmero de tradutores etc.no se podem precisar com maiores detalhes e absoluta certeza.

    Assim que, convm destacar a origem do ponto de vista histrico queparece ser a mais aceita e plausvel no momento. Nos dois ltimos sculos anterioresa Cristo, os judeus constituam cerca de 2/5 da populao de um modo geral,principalmente, em Alexandria, sendo muito numerosos no Egito. Ao lado daPalestina e da Babilnia, a cidade de Alexandria se tornou um importantssimoncleo judeu. A propsito, muitos dos judeus estabeleceram residncia emAlexandria aps exlios. Sublinhe-se que, no tempo do rei do Egito Ptolomeu IIFiladelfo (285-246 a.C.), os judeus receberam privilgios polticos e religiosos.Possivelmente, esses judeus tinham perdido, em grande parte, o contato com ohebraico antigo, j que sua lngua familiar, agora, era o grego alexandrino, isto , akoin. bom sublinhar que o contexto histrico e social de Alexandria era favorvele propcio para uma traduo das Escrituras Hebraicas para o grego. Todos admitemque a Septuaginta foi redigida em grego popular, a koin dilektos.

    Sellin e Foher pontuam que a primeira traduo a aparecer foi a da Torhem Alexandria em meados do sculo III a.C., graas ao trabalho de vrios tradutores,e que as tradues dos outros livros do Antigo Testamento se sucederam em umespao bastante dilatado. O que deu ocasio, porm, a essas tradues foi odesejo do judasmo de fala grega de poder ler e entender diretamente o AntigoTestamento em grego, em vez de se limitar incmoda situao da simplestranscrio em grego, isto , da reproduo do texto hebraico em letras gregas.Quanto ao mais, as opinies divergem, naturalmente, entre si no que diz respeito origem e histria primeira da LXX (SELLIN-FOHER, 1977, p. 771).

    Os telogos concluem, ainda, que a traduo do Pentateuco, seja em suaforma original, seja em forma Targmica3 , j existia desde meados do sculo IIIa.C., a traduo dos Profetas da coleo hebraica j existia por volta do ano 200a.C. e, por fim, a traduo da maioria dos demais livros j estava presente no Isculo a.C. (idem, p. 772). Opinio parecida tem Charpentier a respeito da Septuaginta que , para ele,na realidade, uma obra heterognea, comeada no sculo III a.C. e continuada ato fim do II sculo a.C. De acordo com Charpentier, a verso grega abrangia todosos livros que se achavam na Bblia Hebraica, e, depois, acrescentou-se algunslivros que s existiam no grego. Estes livros - denominados de deuterocannicospelos catlicos e apcrifos pelos protestantes - so: Tobias, Judite, Sabedoria,

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    Sircida, I e II Macabeus, Baruque e as passagens gregas de Daniel e Ester(CHARPENTIER, 1981, p. 57). O telogo italiano Leloir lembra ainda que, conforme o prlogo de Eclesistico,o sobrinho de Ben-Sirach constata que a Lei, os Profetas e os outros Livros Judaicosexistem numa traduo grega e que essa diferia um pouco da hebraica. Sem dvida,para o religioso, a traduo do Pentateuco fora feita no decorrer do III sculo a.C.,a dos Profetas nos incios do II sculo e a traduo dos Hagigrafos4 estava emelaborao quando o sobrinho de Ben-Sirach escrevia seu prlogo cerca do ano132 a.C. (LELOIR, 1969, p. 23). J Thackeray defende que a traduo da Septuaginta foi executada emduas etapas, exceo da Torh; primeiramente, traduziram-se aquelas passagensnecessrias leitura no servio religioso da sinagoga e, depois, aos poucos, aspartes restantes (apud SELLIN-FOHER, 1977, p. 772). Em relao forma de traduo que se encontra na Verso dos Setenta,tem-se tambm alguns comentrios dignos de nota.

    Charpentier salienta que a traduo , s vezes, uma adaptao que umasimples traduo. Cita, por exemplo, a substituio de almah, a jovem mulher - doescrito hebraico de Isaas 7: 14 - por parthnos, virgem na verso grega deMateus, 1: 23. E, acrescenta que as verses dos diversos livros do AntigoTestamento grego diferem muito no vocabulrio, no estilo, na forma, e, s vezes, htradues muito livres; outras, mais literais, o que demonstra que elas no seriamobra dos mesmos tradutores (CHARPENTIER, 1981, p. 57). A opinio de Charpentier seguida por Leloir (LELOIR, 1969, p. 23), quandoenfatiza que as diversas partes da traduo tm, de fato, caractersticas literriasdiferentes e no foram elaboradas todas por uma mesma pessoa e muito menosnuma mesma poca. O telogo italiano enfatiza que a traduo grega obra doshebreus do Egito e no da Palestina. Sublinhe-se que o vocbulo Septuaginta dado, universalmente, coleo completa dos livros do Antigo Testamento, pois, por motivos obscuros,arredondou-se o nmero para setenta (como se fosse o nmero exato detradutores). A traduo grega recebe, ento, a designao de LXX que representao numeral 70 em algarismos romanos (mesmo que a Carta de Aristias mencioneque eram setenta e dois tradutores). Deve-se sublinhar que a Septuaginta possui tradues dependentes eindependentes. Entre as tradues dependentes da Septuaginta, citem-se,principalmente, a Vetus Latina, uma verso latina antiga, as verses rabes, armnia,copta, etipica, eslava etc. que foram feitas tendo por base a verso grega dosLXX. A propsito, devido grande propagao da Verso Grega dos Setentaentre os cristos primitivos, as cpias dessa verso passaram a ser numerosascom o tempo e foram surgindo alteraes, havendo a necessidade de restaurar o

    texto sua pureza original. Assim que, pouco a pouco, a LXX perdeu estima ecrdito dentro do Judasmo, uma vez que houve a constatao de diferenas entreo texto original hebraico e o texto grego traduzido. Convm lembrar a respeito doTratado de Soferim5 I, 8, esse declarou que o dia em que a Torh foi traduzida to infeliz quanto aquele em que foi fabricado o bezerro de ouro.6

    Devido a esses fatos, havia a necessidade de substituir a verso gregacorrente por novas verses feitas a partir do texto hebraico consonantal. Foi assimque surgiram as tradues gregas independentes de: quila (130 d.C.) que sepreocupou em reproduzir cada particularidade do texto hebraico, trata-se de umaobra literal; de Teodocio (160 d.C.) que foi uma traduo muito aceita no crculocristo, sendo uma espcie de reviso da traduo grega; e, por fim, a traduo deSmaco (218 d.C.) que harmonizou a reproduo literal do texto hebraico e dogrego. Essa traduo de Smaco foi, depois, usada por Luciano (sacerdote deAntioquia e mrtir no incio do sculo IV d.C.) que publicou uma edio corrigidade acordo com o hebraico, tal edio , por vezes, chamada de Koin ou Loukianos. H tambm a Hxapla de Orgenes, grande erudito da igreja primitiva, queno , propriamente, uma verso, mas uma obra compendiada. Orgenes comps,em Cesaria, a sua Hxapla ou verso de seis colunas em 228 d.C. As seiscolunas estavam dispostas da direita para a esquerda, contendo os seguintestextos: 1) O texto hebraico; 2) o texto grego traduzido do hebraico; 3) a verso dequila; 4) a verso de Smaco; 5) A Septuaginta; 6) a verso de Teodocio. Naverdade, a quinta coluna era a mais importante, uma vez que o maior objetivo daobra de Orgenes era explicar as relaes entre a LXX e o texto hebraico. O erudito,atravs de certos sinais, marcava o que a traduo grega tinha a mais do textohebraico e o que ela possua de menos7 . Ressalte-se que Jernimo consultou, almde rabinos judeus, essa obra de Orgenes no sculo IV d.C. para a traduo daVulgata Latina.

    Hoje, no h um exemplar original da Septuaginta, mas, somente, cpias,a mais antiga data de 325 d.C. que o Cdex Vaticanus. O Cdex Sinaiticus pertencetambm ao sculo IV d.C.; j o Cdex Alexandrinus e o Cdex Ephraemi Syri receptusdatam do sculo V d.C.

    A primeira edio impressa da Septuaginta foi a da ComplutensianaPoliglota que foi publicada em Alcal (provncia de Madri) em 1514-1517, sendodistribuda em 1522 pelo cardeal Ximenes.

    Convm lembrar, agora, da importncia e da utilidade da Septuaginta nosprimrdios do Cristianismo. No Novo Testamento, as citaes do AntigoTestamento, muitas vezes, so da LXX. Sublinhe-se que as referncias ao AntigoTestamento do texto grego so, aproximadamente, quarenta e uma no total.

    Muitos dos judeus e gentios em geral que estavam em Jerusalm no diade Pentecostes 33 d.C. eram de regies onde se falava o grego. Sem dvida, elescostumavam ler a Septuaginta (Atos 2: 9-11).

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    O discpulo Felipe explicou uma passagem da Verso Grega para umhomem da Etipia que regressava de Jerusalm. O etope lia, em voz alta, um roloreligioso; Felipe, ao se aproximar, explicou-lhe o sentido daquelas palavras. Oeunuco creu tanto na profecia de Isaas que chegou a ser batizado pelo discpulo(Atos 8: 26-38). A passagem da LXX que o etope lia era de Isaas 53: 7-8 queprenunciava o sofrimento do Messias: .

    7 Ele foi oprimido, mas no abriu a sua boca: como um cordeiro foilevado ao matadouro, e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores,ele no abriu a sua boca.8 da opresso e do juzo foi tirado; e quem contar o tempo da sua vida?Porquanto foi cortado da terra dos viventes: pela transgresso do meupovo foi ele atingido.

    O apstolo Paulo, em suas viagens missionrias, pregava a muitos gentiose a gregos que adoravam a Deus (Atos 13: 16, 26; 17: 4, 12). Essas pessoas, comcerteza, haviam chegado a temer ao Deus Uno e Criador por terem obtidoconhecimento Dele pela Septuaginta. Alis, ao pregar o Evangelho de JesusCristo em regies onde se falava o grego, Paulo, muitas vezes, citava partes daLXX. No versculo subscrito de I Corntios, o apstolo Paulo citou Isaas 64: 4.

    Mas como est escrito: as coisas que o olho no viu, e o ouvido noouviu, e no subiram ao corao do homem, so as que Deus preparoupara os que o amam. (I Corntios 2: 9)

    Em outra ocasio, o apstolo Paulo fez referncias a algumas partes deGnesis 22: 18; 12: 3 e 18: 18.

    Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela f osgentios, anunciou, primeiro, o evangelho a Abrao, dizendo: Todas asnaes sero benditas em ti.De sorte que os da f so benditos com o crente Abrao. (Glatas, 3: 8)

    Os captulos 6 e 7 de Atos dos Apstolos um bom exemplo do uso daSeptuaginta pelos judeus. Estevo, na sua defesa, contou alguns fatos acerca dahistria israelita e cita direto a Verso Grega. Em Atos 7: 14, Estevo mencionaque setenta e cinco almas foram com Jac ao Egito, quando Jos mandou chamarseu pai e a sua parentela. Sublinhe-se que a LXX que traz esse nmero de setentae cinco pessoas, pois, de acordo com o texto hebraico de Gnesis 46: 26-27 e xodo1: 5, relatam que foram setenta almas. Na verdade, os outros cinco eram netos deJos que estavam j no Egito: dois filhos de Manasss (Nmeros, 26: 29) e trsfilhos de Efraim (Nmeros, 26:35). No versculo 43, o dicono faz referncia a umcerto deus Renf que est na LXX, porm, no escrito hebraico de Ams, 5: 26 onome desse deus em hebraico Quijum, no havendo, portanto, uma transliterao

    de nomes prprios.Como se infere a respeito da Septuaginta, a maioria dos estudiosos da era

    moderna acredita que foi uma traduo feita, paulatinamente, que abrangeu dosculo III ao I a.C. com exceo da Torh que foi uma obra, exclusivamente, dasegunda metade do sculo III a.C. Quanto ao nmero de seus tradutores, no sepode afirmar, com certeza, quantos eram.

    Apesar dessas questes em torno da traduo grega dos escritossagrados hebraicos, pode-se dizer que, essa obra teve ampla difuso e aceitaoentre aqueles lugares onde estavam, especialmente, os judeus da dispora;antes de haver, mais tarde, uma rejeio por parte do judasmo. A LXX, nos primrdiosdo Cristianismo, foi utilizada pelos apstolos, discpulos e pelo prprio JesusCristo. A propsito, a verso em grego do texto hebraico, aonde quer que ia,disseminava, entre os povos, as profecias a respeito da vinda do Messias e dosltimos tempos.

    Enfim, para todos os estudiosos do grego bblico ou do grego em geral aVerso dos Setenta tem grande valor, pois possuem, em suas mos, uma traduodireto do hebraico para o idioma helnico, mesmo que essa traduo, no decorrerdos tempos, tenha recebido crticas por parte de especialistas e no seja a original.

    Documentao Textual

    A Bblia Sagrada. Traduo de Joo Ferreira de Almeida. So Paulo: SociedadeBblica do Brasil, 1969.Antigo Testamento Poliglota: Hebraico, Grego, Portugus, Ingls. So Paulo:Vida Nova, Sociedade Bblica do Brasil, 2003.

    Bibliografia

    CHARPENTIER, E. Para Uma Primeira Leitura da Bblia. Traduo de Pe. Jos Raimundo. So Paulo: Edies Paulinas, 1981.SELLIN, Ernst. & FOHRER, G.. Introduo ao Antigo Testamento. Traduo de D. Mateus Rocha. So Paulo: Edies Paulinas, 1977. Vol. I________________________ . Introduo ao Antigo Testamento . Traduo de D. Mateus Rocha. So Paulo: Edies Paulinas, 1977. Vol. II.SILVA, Antnio Gilberto da. A Bblia atravs dos sculos. Rio de Janeiro: CPAD,1986.VINE, W. E. Dicionrio Vine O Significado Exegtico e Expositivo das Palavras do Antigo e do Novo Testamento. Traduo de Lus Aron de Macedo. Rio de Janeiro: CPAD, 2002.

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    Vrios Especialistas. Cem Problemas Bblicos. Traduo de Tarcsio do Nascimento Teixeira. So Paulo: Edies Paulinas, 1969.

    Notas

    1 Esta Carta de Aristias considerada um documento pseudo-epgrafo para designar os livrosreligiosos no-cannicos. A denominao de Carta de Aristias a Filcrates apareceu em ummanuscrito, pela primeira vez, em Paris do sculo XIV: o Ms. Parisinus, 950 da BibliotecaNacional de Paris. Convm lembrar que, apesar dessa delegao enviada Jerusalm constituiro tema central da carta, h outros assuntos tais como: a liberdade de cem mil escravos judeus noEgito, a descrio da cidade de Jerusalm e do Templo entre outras abordagens.

    2 Denominado, mais tarde, de Pentateuco.

    3 Salienta-se que os targuns, que significa interpretaes, eram parfrases ou explicaesem aramaico do Antigo Testamento. Quando os judeus retornaram Palestina (cf. o Decretode Ciro, rei medo-persa, que se encontra em Esdras, 1: 2-4; 6: 2-5 e II Crnicas, 36: 23),haviam perdido o uso da lngua de seus antepassados, ento, havia a necessidade de umintrprete. Assim sendo, a leitura em pblico dos escritos sagrados era acompanhada de explicaopelo leitor, para que todos compreendessem como atesta Neemias: E leram no livro, na Lei deDeus: e, declarando, e explicando o sentido, faziam que, lendo, se entendesse (cap. 8: 8). Aprincpio esses targuns eram simples e resumidos, sendo, pouco a pouco, aperfeioados.

    4 A diviso da Bblia Hebraica trplice: a Lei, os Profetas e os Escritos Hagigrafos (que seconhece no meio cristo pela denominao de livros histricos e poticos; inclui tambm olivro de Daniel que considerado histrico).

    5 Os Soferins eram copistas, diga-se escribas, que faziam grandes estudos minuciosos dosmanuscritos sagrados e corrigiam os possveis erros; faziam tambm confrontaes de cpiascom cpias. Os trabalhos dos Soferins se iniciaram no tempo de Esdras (400 a.C.) e chegaramat o ano de 200 d.C.

    6 O episdio desse bezerro de ouro se encontra em xodo, 32: 1-18. Os israelitas fizeramesse bezerro para ador-lo, pois pensavam que Moiss havia morrido no Monte Sinai, porcausa da demora do levita em descer do Monte.

    7 Alm da Hxapla, h uma segunda obra de Orgenes que a Ttrapla, obra essa que no possuias duas primeiras colunas da Hxapla.

    O FILSOFO GREGO: UM ANDARILHO EM BUSCADE SUA PRPRIA SOMBRA

    Dulcileide Virginio do Nascimento (UERJ / FGV)

    RESUMOA filosofia grega encontrou em Plato um de seus principais representantes. Umade suas teorias tentava solucionar o problema da realidade e das aparncias, daunidade ou pluralidade do ser. Seria, entretanto, a fonte dessa dualidade a psychehumana?A partir da filosofia platnica e das teorias do neoplatnico Plotino, enfocaremos,neste artigo, o incio de uma pesquisa que tem por objetivo descrever a trajetriados estudos filosficos relacionados psyche na tentativa de visualizar neles opercurso de uma humanidade que ainda caminha em busca de sua prpria sombra.Palavras-chave: filosofia; psyche; Plato; Plotino.

    Cada corpo movido de fora inanimado. O corpomovido de dentro animado, pois que o movimento a natureza da alma (Fedon 245 e).

    O homem nutre em seu interior o desejo por compreender, principalmente,o que v, mas tambm o que sente, imagina e acredita existir...

    A filosofia, ao buscar solucionar problemas relacionados vida, como aquesto da moral, encontra, inicialmente, em Plato uma preocupao, ou melhor,indagaes sobre o sentido metafsico e cosmolgico da realidade. Questes comoa inconstncia da vida, o contraste entre paixo e razo e a peregrinao do homem,prisioneiro em seu prprio corpo, levaram-nos a iniciar uma pesquisa em torno daquesto da alma na filosofia.

    Antes de tratarmos da alma, propriamente dita, na filosofia, necessriotecer alguns comentrios mitolgicos. A palavra psych, alma em grego, o nomede uma princesa que causou cimes em Afrodite por conta de sua beleza e porquem Eros se apaixonou. Psych tambm o substantivo grego utilizado paranomear o animal que chamamos de borboleta. A borboleta, em sua trajetria, nascena forma de uma lagarta, luta para sobreviver e se transformar, mesmo presa em umcasulo e, finalmente, liberta-se quando lhe crescem as asas...assim tambm ocorreucom Psych, que ao vencer vrios empecilhos, ganha o perdo, o amor pleno deEros e a imortalidade, ao comer ambrosia e ser conduzida pelas asas de Eros aoOlimpo. Acreditamos, portanto, que a imagem da borboleta a metfora perfeita daalma platnica.

    Encontramos, tambm, no mito hesidico das raas, Eros como foraprimordial e como responsvel por unir todos os seres. Assim como em Hesodo,o mito de Eros e Psique, descrito por Lcio apuleio (150 d.C.) no romance