12 a America Independente

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Abertura V ocê já reparou que, de vez em quando, parece que tudo acontece ao mesmo tempo na nossa vida? Algumas vezes, dá tudo errado. Nessas horas, é comum ouvirmos que “um problema puxa o outro”, ou, como dizem no Nordeste brasileiro, “além de queda, coice”. Outras vezes, ocorre exatamente o contrário: dá tudo certo. Em todos esses momentos, temos a impressão que estamos vivendo em outro ritmo, muito mais acelerado. Na História, também há momentos em que muita coisa acontece, e muda, com uma velocidade impressionante. Nesta aula, vamos estudar um desses momentos. Em pouco mais de duas décadas, três séculos de colonização espanhola e portuguesa caíram por terra na América. Surgia a América independente América independente América independente América independente América independente. Repœblica pernambucana Na aula anterior, nossa atenção se voltou para o significado da presença da Corte portuguesa no Rio de Janeiro. Vimos como a elevação da colônia à categoria de Reino Unido a Portugal fez com que o projeto de formação de um império luso-brasileiro com sede na “nova Lisboa” ganhasse força. Esse projeto reconhecia algo que já estava ocorrendo havia algum tempo: a inversão brasileira inversão brasileira inversão brasileira inversão brasileira inversão brasileira, ou seja, o fato de que a colônia havia se transformado na metrópole do império português. A fusão fusão fusão fusão fusão de interesses portugueses e brasileiros, entretanto, não ocorria em todo o reino do Brasil. No Nordeste, a situação era muito diferente. Em Pernambuco, no ano de 1817, explodiu um forte movimento regional de contestação à política joanina. Foram muitas as motivações daquele movi- mento, que foi chamado de Insurreição Pernambucana Insurreição Pernambucana Insurreição Pernambucana Insurreição Pernambucana Insurreição Pernambucana. Na província de Pernambuco, e em boa parte do Nordeste, havia um forte sentimento antilusitano. Isso, em parte, era explicado pelo fato de os portugue- ses dominarem o comércio varejista e ocuparem importantes postos militares. O aumento dos impostos para manter a Corte no Rio de Janeiro também era motivo de descontentamento naquele momento de crise das lavouras de expor- tação, especialmente açúcar e algodão. A circulação e o comércio enfrentavam ainda sérios problemas em razão das restrições da legislação portuguesa. Um dos principais locais de discussão de todos esses problemas eram as casas maçônicas, casas maçônicas, casas maçônicas, casas maçônicas, casas maçônicas, que reuniam diferentes setores das elites pernambucanas. A AmØrica independente 12 A U L A MÓDULO 4 Movimento Acesse: http://fuvestibular.com.br/ P/ as outras apostilas de História, Acesse: http://fuvestibular.com.br/telecurso-2000/apostilas/ensino-medio/historia-do-brasil/

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  • 12A U L A

    Abertura Voc j reparou que, de vez em quando,parece que tudo acontece ao mesmo tempo na nossa vida? Algumas vezes,d tudo errado. Nessas horas, comum ouvirmos que um problema puxao outro, ou, como dizem no Nordeste brasileiro, alm de queda, coice. Outrasvezes, ocorre exatamente o contrrio: d tudo certo. Em todos esses momentos,temos a impresso que estamos vivendo em outro ritmo, muito mais acelerado.Na Histria, tambm h momentos em que muita coisa acontece, e muda, comuma velocidade impressionante.

    Nesta aula, vamos estudar um desses momentos. Em pouco mais de duasdcadas, trs sculos de colonizao espanhola e portuguesa caram por terrana Amrica. Surgia a Amrica independenteAmrica independenteAmrica independenteAmrica independenteAmrica independente.

    Repblica pernambucana

    Na aula anterior, nossa ateno se voltou para o significado da presenada Corte portuguesa no Rio de Janeiro. Vimos como a elevao da colnia categoria de Reino Unido a Portugal fez com que o projeto de formaode um imprio luso-brasileiro com sede na nova Lisboa ganhasse fora.Esse projeto reconhecia algo que j estava ocorrendo havia algum tempo:a inverso brasileirainverso brasileirainverso brasileirainverso brasileirainverso brasileira, ou seja, o fato de que a colnia havia se transformadona metrpole do imprio portugus.

    A fusofusofusofusofuso de interesses portugueses e brasileiros, entretanto, no ocorriaem todo o reino do Brasil. No Nordeste, a situao era muito diferente.Em Pernambuco, no ano de 1817, explodiu um forte movimento regionalde contestao poltica joanina. Foram muitas as motivaes daquele movi-mento, que foi chamado de Insurreio PernambucanaInsurreio PernambucanaInsurreio PernambucanaInsurreio PernambucanaInsurreio Pernambucana.

    Na provncia de Pernambuco, e em boa parte do Nordeste, havia um fortesentimento antilusitano. Isso, em parte, era explicado pelo fato de os portugue-ses dominarem o comrcio varejista e ocuparem importantes postos militares.O aumento dos impostos para manter a Corte no Rio de Janeiro tambm eramotivo de descontentamento naquele momento de crise das lavouras de expor-tao, especialmente acar e algodo. A circulao e o comrcio enfrentavamainda srios problemas em razo das restries da legislao portuguesa.

    Um dos principais locais de discusso de todos esses problemas eramas casas manicas,casas manicas,casas manicas,casas manicas,casas manicas, que reuniam diferentes setores das elites pernambucanas.

    A Amricaindependente

    12A U L A

    MDULO 4

    Movimento

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  • 12A U L AAs casas manicas - havia

    quatro apenas em Pernambuco -eram sociedades secretas quedifundiam os ideais liberais.Em reunies geralmente regadasa aguardente nacional (exclua-se deliberadamente o vinhoeuropeu), combatia-se a tiraniareal e faziam-se planos paraa derrubada do governo local.

    E foi isso o que ocorreu emmaro de 1817. Foi depostoo governador Caetano Monte-negro, e instalou-se um governoprovisrio em Recife. Entreos lderes rebeldes havia comer-ciantes, fazendeiros, militares epadres. O movimento contoucom a rpida adeso de outrasprovncias nordestinas: Alagoas, Paraba e Rio Grande do Norte. At aquelemomento, era a mais importante rebelio j ocorrida em terras brasileirasmais importante rebelio j ocorrida em terras brasileirasmais importante rebelio j ocorrida em terras brasileirasmais importante rebelio j ocorrida em terras brasileirasmais importante rebelio j ocorrida em terras brasileirascontra o domnio portuguscontra o domnio portuguscontra o domnio portuguscontra o domnio portuguscontra o domnio portugus.

    Alcanado o poder, o governo provisrio de Pernambuco tratou de estabele-cer uma nova ordem legal. A repblica repblica repblica repblica repblica foi proclamada. Foram asseguradasa tolerncia religiosa, a liberdade de conscincia e a igualdade de direitos.Os estrangeiros que aderiam ao chamado partido da regenerao epartido da regenerao epartido da regenerao epartido da regenerao epartido da regenerao e da liberda liberda liberda liberda liber-----dadedadedadedadedade eram considerados patriotaspatriotaspatriotaspatriotaspatriotas. Alm disso, aumentou-se o soldo da tro-pa e eliminaram-se alguns impostos. Garantiu-se a propriedade e manteve-sea escravido africana.

    Para expressar a mudana, nada como uma nova linguagem. Buscava-seromper com as antigas hierarquias por meio de um novo vocabulrio queressaltasse a igualdade entre os homens. A fonte de inspirao era a RevoluoFrancesa. Veja o que nos conta Tollenare, um cronista francs que acompanhoutodas essas mudanas:

    Em lugar de Vossa merc, diz-se Vs, simplesmente; em lugar de Senhor-se interpretado pela palavra Patriota, o que equivale a cidado e ao tratamentode tu [...] As Cruzes de Cristo e outras condecoraes reais abandonamas botoeiras; fez-se desaparecer as armas e os retratos do rei.

    Citado por Ilmar Mattos e Luiz Affonso de Albuquerque, Citado por Ilmar Mattos e Luiz Affonso de Albuquerque, Citado por Ilmar Mattos e Luiz Affonso de Albuquerque, Citado por Ilmar Mattos e Luiz Affonso de Albuquerque, Citado por Ilmar Mattos e Luiz Affonso de Albuquerque, Independncia ouIndependncia ouIndependncia ouIndependncia ouIndependncia oumortemortemortemortemorte, p. 49-50, p. 49-50, p. 49-50, p. 49-50, p. 49-50

    A expanso do movimento por outras provncias alimentou a idia decriao, no Nordeste, de uma repblica em moldes federativos federativos federativos federativos federativos, como j ocorrianos Estados Unidos da Amrica (EUA). Na federao, cada Estado possui uma cada Estado possui uma cada Estado possui uma cada Estado possui uma cada Estado possui umaampla autonomia perante o poder centralampla autonomia perante o poder centralampla autonomia perante o poder centralampla autonomia perante o poder centralampla autonomia perante o poder central. Pensou-se, inclusive, na constru-o de uma capital para esse novo pas. Tudo isso, no entanto, durou muitopouco. A represso organizada pelo governo joanino foi eficaz e, em maio,a revoluo j havia sido derrotada em todo o Nordeste.

    Recife, no inciodo sculo XIX(1817), foi palcoda InsurreioPernambucana.

    Em tempo

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  • 12A U L A Mas no bastava a derrota militar. O movimento havia tomado uma

    dimenso que inquietara o governo. Era importante reafirmar o controle sobrea regio. Da a necessidade de uma represso exemplar: esquartejamentos,fuzilamentos e prises.

    Apesar disso, o clima revolucionrio em Pernambuco no se esgotou emo clima revolucionrio em Pernambuco no se esgotou emo clima revolucionrio em Pernambuco no se esgotou emo clima revolucionrio em Pernambuco no se esgotou emo clima revolucionrio em Pernambuco no se esgotou em18171817181718171817. Vrios lderes da insurreio, mais tarde libertados e anistiados, iriam terum importante papel nas lutas pela ruptura poltica com Portugal e em outrogrande movimento de carter republicano: a Confederao do Equador (1824).

    Esse fato pode ser explicado, entre outras coisas, pelo avano de umaconscincia antilusitana na provncia, difundida especialmente por uma insti-tuio que formava parte da elite pernambucana: o Seminrio de OlindaSeminrio de OlindaSeminrio de OlindaSeminrio de OlindaSeminrio de Olinda,tambm chamado de ninho de idias liberais. Ocorria o que o historiadorCarlos Guilherme Motta denominou a descolonizao das conscinciasdescolonizao das conscinciasdescolonizao das conscinciasdescolonizao das conscinciasdescolonizao das conscincias.

    Ainda em 1817, o sonho da Repblica pernambucana, ou nordestina,foi desfeito. Mas, em grande parte da Amrica, naquele mesmo momento,o sonho republicano estava virando realidade, como veremos, com a ajudade alguns revolucionrios de 1817.

    Repblicas americanas

    O trabalho do historiador, como voc tem visto, baseado em fonteshistricas. Em todas as nossas aulas, voc vem tomando contato com algumasdelas. Mas no basta reunir um grande nmero de fontes para, ento, escreverHistria. O fundamental do trabalho do historiador obter e reunir fontes pararesponder a uma determinada questo, a um determinado problemaresponder a uma determinada questo, a um determinado problemaresponder a uma determinada questo, a um determinado problemaresponder a uma determinada questo, a um determinado problemaresponder a uma determinada questo, a um determinado problema.Seno, a Histria seria simplesmente uma mera reunio de dados. Alm disso,as questes que o historiador procura responder esto, em geral, relacionadascom as preocupaes do seu prprio tempo.

    Imagine-se, agora, tendo de escrever a histria da independncia da Am-rica Espanhola. Se voc quisesse escrever sobre tudo, certamente seria soterradopelas fontes. Existem milhares delas. Alm disso, a independncia, apesar de tersido um processo interligado, teve caractersticas particulares em cada colnia.Como sair dessa? H apenas dois caminhos: ou escolher um caso que sirvade modelo ou partir para explicaes de natureza geral. Qual voc escolheria?

    Depende, claro, das questes que voc deseja responder. Nossa preocupa-o central, nesta aula, tentar compreender por que a Amrica seguiuo caminho da repblicacaminho da repblicacaminho da repblicacaminho da repblicacaminho da repblica e no o da monarquia, como o Brasil. Ora, como essefenmeno foi geral, a melhor estratgia ser escolher a segunda das opespropostas. Voc no faria o mesmo?

    Em aulas anteriores, j estudamos que as principais caractersticasda Amrica Espanhola foram a utilizao do trabalho compulsrio indgenae o rgido controle do comrcio externo das colnias (ver Aula 7).

    No sculo XVIII, essa situao comeou a se modificar. O exclusivo comer-cial foi sendo gradativamente superado, seja por presses de outras potnciaseuropias em busca de mercados, seja por necessidades da prpria metrpole,que se mostrava incapaz de abastecer e manter seu enorme imprio colonial.Isso significou a extino do sistema de portos nicos e um maior intercmbiocomercial entre as prprias colnias. A situao poltica, no entanto, manteve-se inalterada: os principais cargos administrativos continuavam nas mosdos espanhis.

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  • 12A U L AComo na Amrica Portuguesa, as elites nativas da Amrica Espanhola (os

    chamados criollos) comearam a se afastar cada vez mais dos interesses metro-politanos no final do sculo XVIII. Por outro lado, a independncia dos Estados, a independncia dos Estados, a independncia dos Estados, a independncia dos Estados, a independncia dos EstadosUnidosUnidosUnidosUnidosUnidos, a Revoluo FrancesaRevoluo FrancesaRevoluo FrancesaRevoluo FrancesaRevoluo Francesa e o avano do liberalismoavano do liberalismoavano do liberalismoavano do liberalismoavano do liberalismo abriram-lhes novaspossibilidades de atuao. No havia, no entanto, nenhum elemento quereunisse os diferentes interesses das elites criollas - que, quando muito, expres-savam seu descontentamento por meio de movimentos de carter regional.

    Foram as mudanas na conjuntura externa, ou seja, os graves conflitosinternos vividos pela Espanha entre 1807 e 1815, que modificaram substan-cialmente a dinmica das lutas pela independncia na Amrica Espanhola.A interveno direta de Napoleo Bonaparte na poltica espanhola, que culmi-nou na escolha de seu irmo Jos Bonaparte para o trono da Espanha, em 1810,desencadeou uma violenta reao de setores da sociedade espanhola vinculados dinastia Bourbon, derrubada pelo imperador francs.

    As repercusses no mundo colonial foram imediatas. Ainda em 1810,em diversas colnias foram organizadas juntas governativas com o intuitode assegurar a liberdade comercial e a autonomia administrativa. A situao,no entanto, estava longe de ser resolvida. Um dos motivos era a atitude ambguaambguaambguaambguaambguade parte significativa das lideranas criollas, que oscilavam entre a defesada dinastia espanhola deposta por Napoleo Bonaparte e a ampliao da lutapara confirmar a separao do imprio espanhol.

    Esse duplo jogo polticoduplo jogo polticoduplo jogo polticoduplo jogo polticoduplo jogo poltico permaneceu, em grande parte da AmricaEspanhola, pelo menos at os anos de 1814-1815. E contribuiu para que a Coroaespanhola - novamente sob o domnio da dinastia Bourbon, aps a quedade Napoleo - retomasse o controle de grande parte de seus domnios america-nos por volta de 1815-1816.

    As derrotas militares alertaram as lideranas criollas para a importnciade definir com maior clareza os rumos da luta pela independncia. Entreaqueles que se preocupavam em produzir uma estratgia que pudesse reunirdiferentes setores sociais e polticos estava o lder criollo Simn BolvarSimn BolvarSimn BolvarSimn BolvarSimn Bolvar.Em seus escritos, ele defendia o princpio da autodeterminao autodeterminao autodeterminao autodeterminao autodeterminao da Amrica.Dizia ele, no ano de 1815, que esta metade do globo pertence a quem Deusfez nascer em seu solo. Para Bolvar, havia uma unidade americana queultrapassava classes, cor ou raa:

    Estamos autorizados, desse modo, a crer que todos os filhos da AmricaEspanhola, quaisquer que sejam sua cor e condio, esto ligados por umafeto fraternal e recproco, que nenhuma maquinao poder alterar. (...)At o presente, admira-se a mais perfeita harmonia entre os que nasceramneste solo, no que diz respeito nossa questo; no de se temer que nofuturo acontea o contrrio, porque ento a ordem estar estabelecida (...).Equilibrada como est a populao americana, seja pelo nmero, pelascircunstncias, seja, enfim, pelo irresstvel imprio do esprito, por quemotivo no se podero estabelecer novos governos nesta metade do mundo?

    Simn Bolvar, Simn Bolvar, Simn Bolvar, Simn Bolvar, Simn Bolvar, Escritos polticosEscritos polticosEscritos polticosEscritos polticosEscritos polticos, p. 78, p. 78, p. 78, p. 78, p. 78

    Em suas palavras, Bolvar fazia questo de no mencionar os histricosconflitos sociais e raciais existentes na Amrica Espanhola. O momento agora erade unidade poltica. Portanto, era preciso envolver toda a AmricaAmricaAmricaAmricaAmrica, do indgenaao criollo, na luta pela libertao.

    Simn Bolvar

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  • 12A U L A Bolvar era tambm um rduo defensor da repblica. Acreditava que

    o melhor caminho da Amrica Espanhola era a formao de pequenas repbli-cas. O que distinguia as pequenas repblicas era a conservao das suasfronteiras e a sua permannciapermannciapermannciapermannciapermanncia, ao contrrio dos grandes imprios, propensos expanso territorial, decadncia e tiraniaexpanso territorial, decadncia e tiraniaexpanso territorial, decadncia e tiraniaexpanso territorial, decadncia e tiraniaexpanso territorial, decadncia e tirania.

    Muito diferente, afirmava Bolvar, era a poltica de um rei,

    (...) cuja inclinao constante se dirige para o aumento das suas possesses,riquezas e poderes: com razo, porque sua autoridade cresce com essas aquisi-es, tanto em relao a seus vizinhos como a seus prprios vassalos, que neletemem um poder to formidvel quanto seu imprio (...). Por tudo isso penso queos americanos, desejosos de paz, cincia, artes, comrcio e agricultura, preferi-riam as repblicas aos reinos (...)

    Simn Bolvar, Simn Bolvar, Simn Bolvar, Simn Bolvar, Simn Bolvar, Escritos polticosEscritos polticosEscritos polticosEscritos polticosEscritos polticos, p. 68-69, p. 68-69, p. 68-69, p. 68-69, p. 68-69

    A crtica de Bolvar tinha endereo certo: as monarquias europias, espe-cialmente a espanhola. Mas tambm pode ser interpretada como um recadoa algumas lideranas criollas que insistiam na defesa do regime monrquico naAmrica. Segundo ele, a monarquia no traria, como se dizia, a tranqilidadepoltica, e sim a guerraguerraguerraguerraguerra entre as nascentes naes americanas. A formaode pequenas repblicas poderia acomodar melhor os diferentes interessesdas elites criollas.

    Em 1816, aps um breve exlio na Jamaica e no Haiti, Bolvar voltou Venezuela para liderar a luta pela independncia em grande parte donorte da Amrica Espanhola. Em seus exrcitos havia soldados ingleses,irlandeses e at brasileiros, que tinham participado da InsurreioPernambucana de 1817. Um desses brasileiros, Jos Incio de Abreu e LimaJos Incio de Abreu e LimaJos Incio de Abreu e LimaJos Incio de Abreu e LimaJos Incio de Abreu e Lima,tornou-se importante liderana militar no exrcito do lder criollo.

    Enquanto Bolvar obtinha vitrias no norte, San MartnSan MartnSan MartnSan MartnSan Martn, outra importanteliderana criolla, libertava do domnio espanhol a Argentina e o Chile. O maiorproblema para os exrcitos rebeldes era a conquista do Vice-Reino do Peru,fortaleza do domnio espanhol na Amrica. Tal feito s foi alcanado em 1825,sob a liderana de Bolvar. quela altura, San Martin j havia se afastado da luta,por discordar das idias republicanas de Bolvar.

    Estava extinto, assim, na Amrica do Sul, o imprio espanhol. O projetode Bolvar de formao de pequenas repblicas havia sido implantado empraticamente todo o continente. Mas uma parte importante desse projeto noteve condies de se concretizar: Bolvar sonhava tambm com uma AmricaAmricaAmricaAmricaAmricaunidaunidaunidaunidaunida, com uma confederao Americanaconfederao Americanaconfederao Americanaconfederao Americanaconfederao Americana. Nesse ponto, o general vitoriosoem tantas batalhas sofreu uma importante derrota. Provavelmente no perce-beu que, para as lideranas criollas, o que interessava agora era arrumar a casa,isto , formar em cada nova repblica o Estado nacional.

    Ser que conseguiriam? Deixemos para depois essa questo. Tratemosde voltar para as terras brasileiras, ou melhor, para a Amrica que estavacomeando a deixar de ser portuguesa....

    Releia a aula e explique de que forma Simn Bolvar defendia o regimerepublicano.

    Pausa

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  • 12A U L AImprio do Brasil

    As revolues no estavam ocorrendo apenas na Amrica Espanhola.Na Europa, novos movimentos revolucionrios eclodiram no ano de 1820.Lutava-se contra o absolutismo monrquico. A onda revolucionria atingiutambm a pennsula Ibrica. Em Portugal, o movimento vitorioso desencadeadona cidade do Porto defendia a elaborao de uma ConstituioConstituioConstituioConstituioConstituio para o pas, eexigia o imediato retornoimediato retornoimediato retornoimediato retornoimediato retorno de d. Joo VI.

    A reao inicial de d. Joo VI foi permancer no Reino do Brasil e acompa-nhar os acontecimentos. Afinal, seu retorno imediato significaria reconhecero poder das Cortes portuguesas, o rgo encarregado de elaborar umaConstituio para o pas. O rei portugus tinha conscincia de que sua voltapoderia representar o fim do seu poder absoluto em Portugal. As Cortesexigiam que ele aceitasse e respeitasse a futura Constituio.

    Por mais que d. Joo tentasseadiar sua deciso, as presses forammaiores que o seu desejo de perma-necer em terras brasileiras. Em abrilde 1821, oito meses aps a eclosodo movimento conhecido como Re-Re-Re-Re-Re-voluo voluo voluo voluo voluo do Portodo Portodo Portodo Portodo Porto, d. Joo VI retornoua Portugal. Mas deixou aqui seu filhoe herdeiro: o prncipe d. Pedro.

    A revoluo em Portugal foi muitobem recebida por militares e comer-ciantes portugueses sediados no Reinodo Brasil. Era a possibilidade de sedecretar o trmino da concorrnciaestrangeira, com o restabelecimentorestabelecimentorestabelecimentorestabelecimentorestabelecimento

    do pacto colonialdo pacto colonialdo pacto colonialdo pacto colonialdo pacto colonial e do exclusivo comercialexclusivo comercialexclusivo comercialexclusivo comercialexclusivo comercial. J os grupos que haviam sidobeneficiados pela poltica de d. Joo de concesso de ttulos, empregos e terrasmostravam-se contrrios ao retorno da famlia real para Lisboa. Temiam perderseus privilgios e seu poder, com uma possvel recolonizaorecolonizaorecolonizaorecolonizaorecolonizao. Isso poderiasignificar, tambm, o fim da poltica de abertura econmica iniciada coma abertura dos portos brasileiros.

    O retorno de d. Joo VI representou uma importante derrota desses grupos.E agora? Que caminho seguir? Como garantir a relativa autonomia adminis-trativa, poltica e econmica obtida com a presena de d. Joo VI em terrasbrasileiras? Quais eram as alternativas?

    Segundo o historiador Jos Murilo de Carvalho, as opes eram apenasduas: manter a unio com Portugal ou partir para a independncia. Em favor daprimeira soluo,

    argumentava-se que ambos os pases eram fracos para enfrentar o jogoduro da poltica internacional da poca (...). Sem o apoio de um paseuropeu, o Brasil ficaria exposto aos perigos da fragmentao e dasguerras civis, a exemplo do que ocorrera na Amrica Espanhola (...).(...) A unio dos dois pases em bases igualitrias seria, assim, benficapara ambos os lados. Esta era uma posio que agradava a membros daelite brasileira integrados ao sistema administrativo colonial e aosportugueses j presos ao Brasil por laos econmicos e familiares.

    Jos Murilo de Carvalho, Jos Murilo de Carvalho, Jos Murilo de Carvalho, Jos Murilo de Carvalho, Jos Murilo de Carvalho, A monarquia brasileiraA monarquia brasileiraA monarquia brasileiraA monarquia brasileiraA monarquia brasileira, p. 17, p. 17, p. 17, p. 17, p. 17

    O prncipe d. Pedro

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  • 12A U L A Essa orientao, no entanto, logo foi superada pelos acontecimentos.

    As Cortes portuguesas resolveram partir para a radicalizao. Exigiamo imediato retorno do prncipe d. Pedro. Como este se recusava a atenders exigncias, iniciou-se um processo de esvaziamento de sua autoridade.

    No restava alternativa, portanto, seno partir para o confronto aberto: paraa independncia. Mas que independncia seria essa? Independncia comrepblica, nos moldes da Amrica hispnica, ou uma independncia quepreservasse a tradio monrquica?

    O projeto republicano no vingou. Era visto com enorme desconfiana porsetores expressivos das elites polticas, especialmente aqueles com base no Riode Janeiro.

    Um dos seus maiores opositores era o paulista Jos Bonifcio de Andrada eSilva, que via na repblica o caminho mais curto para a anarquia e a fragmenta-o poltica, como estava ocorrendo na Amrica Espanhola independente.A unidade polticaunidade polticaunidade polticaunidade polticaunidade poltica deveria ser preservada pela monarquia.

    Os escritos de Jos Bonifcio foram muito alm da defesa da monarquia,como nos conta a historiadora Emlia Viotti da Costa. Em 1821, em trabalhoa ele atribudo, denominado Lembranas e apontamentos, o professor, cientistae burocrata Bonifcio

    falava na criao de colgios e de uma universidade, sugeria a fundaode uma cidade central no interior do pas com o fito de desenvolvero povoamento, (...) apresentava sugestes sobre o tratamento dos ndios(...); pleiteava enfim a igualdade de direitos polticos e civis. Defendiaainda a necessidade de emancipar os escravos gradualmente e [sugeria]uma poltica de terras que impedisse a concentrao de terras nas mosde alguns, (...) recomendando que todas as terras doadas que no seachassem cultivadas fossem reintegradas massa de bens nacionais.

    Emlia Viotti da Costa, Emlia Viotti da Costa, Emlia Viotti da Costa, Emlia Viotti da Costa, Emlia Viotti da Costa, Da monarquia repblica, Da monarquia repblica, Da monarquia repblica, Da monarquia repblica, Da monarquia repblica, p. 56p. 56p. 56p. 56p. 56

    Das palavras, Jos Bonifcio partiu para a ao. Em janeiro de1822, teve importante participao no Dia do Fico Dia do Fico Dia do Fico Dia do Fico Dia do Fico - episdioem que o prncipe d. Pedro resolveu permanecer no Brasil, apesardas presses portuguesas. Logo depois, tornou-se ministro ded. Pedro e esteve no centro dos acontecimentos at a proclamaoda independncia, em 7 de setembro daquele mesmo ano.

    Sua estratgia foi isolar e reprimir tanto setores portuguesescontrrios independncia (os chamados ps-de-chumbops-de-chumbops-de-chumbops-de-chumbops-de-chumbo) comoaqueles grupos liberais que, apesar de reconhecer a importnciada participao de d. Pedro na luta pela autonomia poltica,exigiam que o poder do prncipe fosse limitado por uma Consti-tuio. Eram os chamados democratasdemocratasdemocratasdemocratasdemocratas. Bonifcio temia que essaspropostas afastassem do movimento o prncipe e membrosdo ApostoladoApostoladoApostoladoApostoladoApostolado, sociedade secreta que reunia importantes fazen-deiros e polticos de projeo.

    Como as Cortes portuguesas trataram de partir para o con-fronto direto, retirando do controle do prncipe o poder sobrevrias provncias brasileiras, Bonifcio e o Apostolado, como apoio dos democratas, democratas, democratas, democratas, democratas, pressionaram d. Pedro. Este, finalmente,

    Em tempo

    Jos Bonifcio

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  • 12A U L A

    resolveu promover a ruptura, proclamando a independncia brasileira.Trs meses depois, em dezembro, d. Pedro era aclamado imperador e defensorperptuo do Brasil. Comeava a histria do Imprio brasileiro.

    Em viagem pelo Brasil, entre os anos de 1816 e 1818, o cronista francsTollenare observava o quanto era difcil [para d. Joo] ser ao mesmo temporei de Portugal e do Brasil e agir paternalmente para com os dois povos quetinham interesses opostos. Um, dizia ele, no pode viver sem o monoplio,o progresso do outro exige sua supresso. (Citado por Emlia Viotti da Costa,Da monarquia repblica, p. 36-37)

    Escreva um pequeno texto comentando as afirmativas de Tollenare.

    Voc, que acompanhou atentamente esta aula, percebeu que a independn-cia na Amrica passou por diferentes caminhos.

    O caminho republicano, tentado no Nordeste brasileiro em 1817, foi consa-grado na Amrica Espanhola. A repblica norte-americana havia sido o princi-pal modelo seguido.

    J na Amrica Portuguesa, optou-se pela trilha da monarquia constitucio-nal. A Europa era ainda a nossa fonte de inspirao.

    Apesar dessas diferenas, todos os novos pases americanos iriam enfrentardesafios semelhantes: a construo do Estado, a manuteno da ordem sociale a estabilizao econmica.

    Nas prximas aulas, vamos estudar como o Imprio do Brasil enfrentouessas e outras questes.

    Exerccio 1Exerccio 1Exerccio 1Exerccio 1Exerccio 1Releia o item Repblica pernambucana Repblica pernambucana Repblica pernambucana Repblica pernambucana Repblica pernambucana. Identifique as principais mudan-as na ordem legal estabelecidas pelo movimento revolucionrio que,em 1817, instituiu uma repblica em Pernambuco.

    Exerccio 2Exerccio 2Exerccio 2Exerccio 2Exerccio 2Releia o item Imprio do Brasil Imprio do Brasil Imprio do Brasil Imprio do Brasil Imprio do Brasil e explique por que Jos Bonifcio combatiaa forma republicana de governo.

    ltimaspalavras

    Exerccios

    Pausa

    Aclamaode d. Pedro.

    Acesse: http://fuvestibular.com.br/

    P/ as outras apostilas de Histria, Acesse: http://fuvestibular.com.br/telecurso-2000/apostilas/ensino-medio/historia-do-brasil/