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    Perspectivas do Investimento em

    Instituto de Economia da UFRJInstituto de Economia da UNICAMP

    Cincia12

    Sistema Produtivo

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    Aps longo perodo de imobilismo, a economia brasileira vinha apresentando firmes

    sinais de que o mais intenso ciclo de investimentos desde a dcada de 1970 estava

    em curso. Caso esse ciclo se confirmasse, o pas estaria diante de um quadro efeti-

    vamente novo, no qual finalmente poderiam ter lugar as transformaes estruturais

    requeridas para viabilizar um processo sustentado de desenvolvimento econmico.

    Com a ecloso da crise financeira mundial em fins de 2008, esse quadro altamente

    favorvel no se confirmou, e novas perspectivas para o investimento na economia

    nacional se desenham no horizonte.

    Coordenado pelos Institutos de Eco nomia da UFRJ e da UNICAMP e realizado com o

    apoio financeiro do BNDES, o Projeto PIB - Perspectiva do Investimento no Brasil tem

    como objetivos:

    Analisar as perspectivas do investimento na economia brasileira em um

    horizonte de mdio e longo prazo;

    Avaliar as oportunidades e ameaas expanso das atividades produtivas

    no pas; e

    Sugerir estratgias, diretrizes e instrumentos de poltica industrial que

    possam auxiliar na construo dos caminhos para o desenvolvimento

    produtivo nacional.

    Em seu escopo, a pesquisa abrange trs grandes blocos de investimento, desdobrados

    em 12 sistemas produtivos, e incorpora reflexes sobre oito temas transversais, con-

    forme detalhado no quadro abaixo.

    ESTUDOS TRANSVERSAIS

    Estrutura de Proteo EfetivaMatriz de Capital

    Emprego e Renda

    Qualificao do Trabalho

    Produtividade, Competitividade e Inovao

    Dimenso Regional

    Poltica Industrial nos BRICs

    Mercosul e Amrica Latina

    ECONOMIA

    BRASILEIRA

    BLOCO SISTEMAS PRODUTIVOS

    INFRAESTRUTURA EnergiaComplexo UrbanoTransporte

    PRODUO AgronegcioInsumos BsicosBens SalrioMecnicaEletrnica

    ECONOMIA DOCONHECIMENTO

    TICsCulturaSadeCincia

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    COORDENAO GERAL

    Coordenao Geral- David Kupfer (IE-UFRJ)

    Coordenao Geral Adjunta - Mariano Laplane (IE-UNICAMP)

    Coordenao Executiva- Edmar de Almeida (IE-UFRJ)

    Coordenao Executiva Adjunta- Clio Hiratuka (IE-UNICAMP)

    Gerncia Administrativa- Carolina Dias (PUC-Rio)

    Coordenao de BlocoInfra-Estrutura- Helder Queiroz (IE-UFRJ)

    Produo- Fernando Sarti (IE-UNICAMP)

    Economia do Conhecimento - Jos Eduardo Cassiolato (IE-UFRJ)

    Coordenao dos Estudos de Sistemas Produtivos

    Energia Ronaldo Bicalho (IE-UFRJ)

    Transporte Saul Quadros (CENTRAN)

    Complexo Urbano Cludio Schller Maciel (IE-UNICAMP)

    Agronegcio- John Wilkinson (CPDA-UFFRJ)

    Insumos Bsicos- Frederico Rocha (IE-UFRJ)

    Bens Salrio- Renato Garcia (POLI-USP)

    Mecnica- Rodrigo Sabbatini (IE-UNICAMP)

    Eletrnica Srgio Bampi (INF-UFRGS)

    TICs- Paulo Tigre (IE-UFRJ)

    Cultura- Paulo F. Cavalcanti (UFPB)

    Sade- Carlos Gadelha (ENSP-FIOCRUZ)

    Cincia- Eduardo Motta Albuquerque (CEDEPLAR-UFMG)

    Coordenao dos Estudos Transversais

    Estrutura de Proteo Marta Castilho (PPGE-UFF)

    Matriz de Capital Fabio Freitas (IE-UFRJ)

    Estrutura do Emprego e Renda Paul Baltar (IE-UNICAMP)

    Qualificao do Trabalho Joo Sabia (IE-UFRJ)

    Produtividade e Inovao Jorge Britto (PPGE-UFF)

    Dimenso Regional Mauro Borges (CEDEPLAR-UFMG)

    Poltica Industrial nos BRICs Gustavo Brito (CEDEPLAR-UFMG)

    Mercosul e Amrica Latina Simone de Deos (IE-UNICAMP)

    Coordenao TcnicaInstituto de Economia da UFRJ

    Instituto de Economia da UNICAMP

    APOIO FINANCEIROREALIZAO

    Projeto financiado com recursos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econmico e Social(BNDES). O contedo ou as opinies registrados neste documento so de responsabilidadedos autores e de modo algum refletem qualquer posicionamento do Banco.

    Documento No Editorado

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    Documento No Editorado

    PROJETO PERSPECTIVAS DO INVESTIMENTO NO BRASILBLOCO: ECONOMIA DO CONHECIMENTO

    SISTEMA PRODUTIVO: BASEADOS EM CINCIA

    COORDENAO: EDUARDO ALBUQUERQUE

    DOCUMENTO SETORIAL:

    Aeroespacial & Defesa

    Marcos Jos Barbieri Ferreira1

    Agosto de 2009.

    1Pesquisador do NEIT Ncleo de Economia Industrial e da Tecnologia do Instituto de Economia daUNICAMP.

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    Sumrio

    Introduo......................................................................................................................................................1

    1. Dinmica Global dos Invest imentos na Indst ria Aeroespacial ..........................................................2I.1. Caractersticas Gerais e Dinmica Concorrencial.....................................................2I.2. Determinantes do Investimento...........................................................................5I.3. Estrutura de Mercado.........................................................................................7

    I.2.1. Indstria Aeroespacial Norte-Americana ..........................................................7

    I.2.2. Indstria Aeroespacial Europia ...................................................................10I.2.3. Indstria Aeroespacial Canadense ................................................................13I.2.4. Indstria Aeroespacial Russa .......................................................................14I.2.5. Indstria Aeroespacial Japonesa...................................................................15I.2.6. Indstria Aeroespacial Chinesa ....................................................................16I.2.7. Indstria Aeroespacial Indiana .....................................................................17

    2. Indstria Aeroespacial Brasileira ..........................................................................................................182.1. Caractersticas Gerais ......................................................................................182.2. Setor Aeronutico ...........................................................................................22

    2.2.1. Embraer A Empresas Lder.......................................................................232.2.2. Cadeia Produtiva da Embraer......................................................................282.2.3. Nichos de Mercado ....................................................................................30

    2.3. Setor de Defesa..............................................................................................312.4. Setor Espacial ................................................................................................37

    3. Perspect ivas de Mdio e Longo Prazo: Cenrios Desejveis ............................................................413.1. Perspectivas de Investimento em Mdio Prazo: 2012 ...........................................41

    3.1.1. Setor Aeronutico......................................................................................413.1.2. Setor de Defesa ........................................................................................463.1.3. Setor Espacial...........................................................................................48

    3.2. Perspectivas de Investimento em Longo Prazo: 2022 ...........................................503.2.1. Setor Aeronutico......................................................................................503.2.2. Setor de Defesa ........................................................................................543.2.3. Setor Espacial...........................................................................................55

    4. Proposies de Polticas........................................................................................................................584.1. Demanda Pblica ............................................................................................584.2. Demanda Privada ...........................................................................................594.3. Tecnologia .....................................................................................................604.4. Ncleo Dinmico de Empresas ..........................................................................61

    Empresas e Inst ituies Entrevistadas ....................................................................................................63

    Referncias Bibl iogrficas .........................................................................................................................63

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    Introduo

    O objeto de estudo do presente trabalho a indstria aeroespacial & defesa,

    sistema produtivo que trata do desenvolvimento, projeto e produo de veculos que se

    movimentam pelo ar e pelo espao.

    A partir da definio acima, observa-se que a indstria aeroespacial & defesa,

    ou simplesmente indstria aeroespacial abrange trs diferentes setores industriais:

    O setor aeronuticoest relacionado com o desenvolvimento, produo

    e manuteno de aeronaves: avies, helicpteros, seus conjuntos e

    partes estruturais, motores, seus componentes e peas, equipamentos de

    comunicao e navegao, sistemas e equipamentos embarcados e parao controle do trfego areo.

    O setor de defesa est relacionado com o desenvolvimento e a produo

    de armamentos: msseis, foguetes, radares, componentes e partes. Nele

    tambm esto includos os diversos sistemas de defesa e de

    comunicao - tanto embarcados como em terra - bem como a integrao

    destes sistemas em rede.

    O setor espacial est relacionado com o desenvolvimento e a fabricao

    de veculos espaciais: satlites e seus equipamentos de bordo, incluindo

    cargas teis, foguetes de sondagem e veculos lanadores; sistemas

    diversos e suas partes, alm de outros servios especializados.

    Estes trs setores que compem a indstria aeroespacial tm como elemento

    comum a mesma base tecnolgica2. Por sua vez, as principais caractersticas desta

    tecnologia so o uso intensivo de inovaes e o carter dual, (civil e militar) de sua

    utilizao. O primeiro aspecto explica porque essa indstria deve ser classificada

    juntamente com os demais sistemas produtivos baseados na cincia; o segundo

    aspecto justifica o fato da indstria aeroespacial ser considerada uma das mais

    estratgicas de toda a estrutura produtiva em nvel mundial.

    2 Esta base tecnolgica comum est assentada na aerodinmica, na resistncia dos materiais, natermodinmica e na eletrnica. (MARTRE, 2001).

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    1. Dinmica Global dos Investimentos na Indstria Aeroespacial

    I.1. Caractersticas Gerais e Dinmica Concorrencial

    A indstria aeroespacial uma das mais importantes dentro da estruturaprodutiva das economias avanadas, particularmente da economia norte-americana.

    Esta importncia decorre tanto do seu carter estratgico, no domnio das tecnologias

    sensveis e na produo de equipamentos de defesa, como dos seus aspectos

    econmicos: gerao de saldos comerciais, elevado valor adicionado e empregos de

    alta qualificao. Desta maneira, a indstria aeroespacial apresenta caractersticas

    bastante especficas, que so apresentadas a seguir:

    1. Cientfico e Tecnolgico-Intensiva: a contnua e crescente introduo detecnologia de ponta, possibilitando a criao de produtos de altssimo valor adicionado,

    o principal fator de competitividade na indstria aeroespacial. Desta forma, a

    infraestrutura de apoio s atividades cientficas de pesquisa e desenvolvimento,

    formada pelas universidades e, principalmente, por centros de pesquisa, apresenta

    uma importncia singular para o desenvolvimento da indstria aeroespacial.

    Entretanto, os grandes conglomerados aeroespaciais tm crescentemente incorporado

    intrafirma as atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), particularmente nossetores aeronutico e de defesa. No setor espacial, a quase totalidade das atividades

    cientficas realizada pelos laboratrios pblicos, em geral subordinados s agncias

    espaciais. Por fim, cabe destacar que a pesquisa cientfica e tecnolgica realizada na

    indstria aeroespacial apresenta uma natureza dual, na qual coexistem caractersticas

    militares e civis, que se retroalimentam.

    2. Complexidade Tecnolgica: os produtos dessa indstria, sejam

    aeronaves, foguetes, msseis ou satlites, na realidade so sistemas integrados quecompreendem um conjunto de componentes e subsistemas projetados para se

    adequarem uns aos outros. Esta elevada complexidade, por um lado, permite que a

    indstria aeroespacial incorpore, de forma contnua e crescente, as inovaes

    tecnolgicas originadas em outras indstrias, como a mecnica, eletrnica e a qumica.

    Por outro lado, as elevadas exigncias impostas pela indstria aeroespacial permitem

    um alto nvel de difuso das inovaes tecnolgicas para outros setores da economia.

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    3. Conglomerao: observa-se a constituio de grandes conglomerados

    que englobam os setores aeronutico, defesa e espao, de forma que a indstria

    aeroespacial pode ser classificada como um oligoplio concentrado em nvel mundial.

    Estes conglomerados tornaram-se o tipo de estrutura organizacional predominante,

    demonstrando que a construo de vantagens competitivas nessa indstria passa,

    necessariamente, pelo tamanho da empresa.

    4. Controle Nacional: apesar da atuao global, o carter nacional dos

    conglomerados aeroespaciais no apenas permanece, como foi reforado. Desta

    maneira, a maioria dos pases tem evitado a desnacionalizao de suas empresas;

    buscando, ao contrrio, transform-las em grandes conglomerados aeroespaciais que

    possam enfrentar a acirrada competio mundial. Mesmo no caso de empresas ditasmultinacionais, como a europia EADS, o carter nacional permanece, ainda que de

    forma compartilhada.

    5. Parcerias: a contnua incorporao de avanos cientficos e tecnolgicos

    que se reflete em crescentes custos de desenvolvimento de novos produtos tem levado

    as indstrias aeroespaciais dos diferentes pases a se associarem no desenvolvimento

    dos novos projetos. O maior exemplo disto a construo da Estao Espacial

    Internacional, que envolve, as at ento rivais, agncias espaciais russa (Roskosmos)e norte-americana (NASA), alm da participao das agncias europia (ESA),

    canadense (CSA) e japonesa (JAXA).

    6. Presena do Estado: observa-se que o Estado o grande agente

    coordenador da indstria aeroespacial, no apenas nos setores em que o controle

    direto, como o militar e o espacial, mas tambm nos segmentos comerciais. Na China,

    Rssia e ndia a coordenao direta, pois a indstria aeroespacial estatal. No caso

    da Europa os diferentes Estados nacionais tm atuado de forma conjunta, buscando acriao e o desenvolvimento de uma indstria aeroespacial de carter regional. Nos

    EUA, a coordenao tem sido feita, na maioria dos casos, atravs das concorrncias

    pblicas para os setores militar e espacial, que, aos poucos, foram selecionando as

    empresas vencedoras. Por fim o Canad, onde a coordenao se d atravs do apoio

    ao desenvolvimento tecnolgico.

    Apesar das grandes diferenas existentes entre os setores que compem esta

    indstria (aeronutica, defesa e espao), o padro de concorrncia de todos eles est

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    centrado na contnua introduo de inovaes tecnolgicas e nas condies de

    financiamento destas inovaes.

    A introduo de inovaes tecnolgicas propicia o surgimento de um novo

    projeto dominante3

    que rompe com a trajetria tecnolgica ento vigente, obrigandoas empresas concorrentes a adotar estas modificaes, com o risco de no mais

    permanecerem no mercado. Mesmo no caso das inovaes incrementais, que no

    implicam num rompimento da trajetria vigente, a sua adoo significa um importante

    elemento de diferenciao frente s demais empresas. Desta maneira, a indstria

    aeroespacial marcada por um elevado dinamismo tecnolgico, que continuamente

    revoluciona as estruturas desta indstria a partir de dentro.

    Por outro lado, a crescente complexidade tecnolgica, que se reflete noselevados custos de desenvolvimento de novos produtos, tambm tem, continuamente,

    elevado as necessidades de escala mnima para operao na indstria aeroespacial.

    Desta forma, as ltimas trs dcadas foram marcadas por um amplo processo de

    reestruturao patrimonial: fuses, aquisies e associaes, que levaram a uma

    crescente concentrao nesta indstria.

    Entretanto, estas operaes patrimoniais, que vinham desde o Ps-guerra, no

    apenas se intensificaram nas ltimas dcadas, como tambm ampliaram o escopo. Oprocesso de concentrao no ficou restrito s empresas de um determinado pas ou

    de um determinado setor. Atualmente, a indstria aeroespacial est estruturada como

    um oligoplio concentrado em nvel mundial, onde apenas um pequeno nmero de

    atores globais global players passa a ter condies de operar nessa indstria.

    Assim, a indstria aeroespacial est assentada sobre dois movimentos

    aparentemente antagnicos, o dinamismo e a concentrao, mas que, na realidade, se

    reforam mutuamente. O elevado nvel de maturidade dessa indstria faz com ela

    apresente uma estrutura muito mais estvel, apesar do alto grau de dinamismo

    existente. Na indstria aeroespacial, a grande empresa , ao mesmo tempo, causa e

    conseqncia do elevado dinamismo tecnolgico.

    3 Segundo UTTERBACK (1996, p.26) Um projeto dominante, em uma classe de produto, , pordefinio, aquele que adquire a fidelidade do mercado, aquele que os concorrentes e inovadores

    precisam adotar para terem pelo menos a esperana de dominar uma parcela significativa do mercado.O projeto dominante geralmente adquire a forma de um novo produto sintetizado a partir de inovaestecnolgicas introduzidas de forma independente em variaes do produto anteriores.

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    I.2. Determinantes do Investimento

    Na indstria aeroespacial os investimentos so determinados tanto pelo nvel de

    demanda quanto pelo dinamismo tecnolgico. Entretanto, para uma anlise mais

    precisa, importante uma diviso entre as reas militar, comercial e cientfica, pois,

    mesmo apresentando tecnologias similares, a dinmica concorrencial entre essas

    reas bastante diferenciada. A rea militar inclui todo o setor de defesa e os

    segmentos militares dos setores aeronutico e espacial. Por sua vez, a rea comercial

    est centrada no setor aeronutico, alm do segmento civil do setor espacial. Cabe

    ainda destacar que as atividades cientficas e exploratrias do setor espacial no

    devem ser classificadas dentro da lgica comercial ou militar.

    Pelo lado do dinamismo tecnolgico, observa-se que na rea militar o ritmo dos

    investimentos dado pela disputa entre as potncias pela supremacia tcnico-militar.

    O equipamento militar, seja ele um avio, mssil ou satlite, precisa apresentar uma

    tecnologia equivalente ou superior aos dos seus reais ou potenciais adversrios, para

    que possa realizar as misses para as quais foi designado. Sendo assim, quanto maior

    o grau de rivalidade entre os pases, mais rpida tende a ser a incorporao de novas

    tecnologias. Na rea civil, ao contrrio, uma nova tecnologia precisa ser selecionada e

    sancionada pelo mercado, adquirindo, em geral, a forma de um projeto dominante. Porfim, o segmento cientfico do setor espacial obedece a uma lgica prpria, pois a

    dinmica tecnolgica est diretamente vinculada s encomendas pblicas. Os

    programas cientficos de explorao espacial das grandes potncias econmicas vm

    ditando o ritmo dos investimentos deste segmento industrial, desde sua origem no Ps-

    Guerra4.

    Pelo lado da demanda, uma expanso das encomendas proporciona o aumento

    dos investimentos em modernizao e ampliao da capacidade produtiva. Na rea

    civil, a expanso da demanda est diretamente relacionada ao nvel de atividade

    econmica e s condies de financiamento. Nas reas militar e cientfico-espacial, a

    demanda est diretamente relacionada aos interesses do Estado em renovar e ampliar

    os equipamentos utilizados por suas foras armadas e avanar com os programas de

    explorao espacial.

    4

    Na indstria aeroespacial as inovaes disruptivas, mais radicais, so introduzidas pelas reas militar ecientfica. Na primeira, as inovaes visam garantir a superioridade frente aos adversrios e, nasegunda, visam possibilitar a realizao atividades de explorao do espao.

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    Cabe destacar o papel do Estado, cuja presena fundamental na

    determinao dos investimentos da indstria aeroespacial, tanto no que se refere

    demanda, quanto no apoio ao desenvolvimento tecnolgico. Nas reas militar e

    espacial a demanda pblica de crucial importncia. Na totalidade dos pases

    produtores de armamentos, o setor de defesa, incluindo o segmento militar dos setores

    aeronutico e espacial, est voltado, prioritariamente, ao atendimento das demandas

    de suas foras armadas. As exportaes de armamentos, alm de apresentarem um

    carter complementar5, ainda necessitam do apoio, ou pelo menos, da anuncia do

    Estado. Com relao ao segmento cientfico do setor espacial, a demanda

    praticamente se restringe s encomendas pblicas. Na rea comercial, o Estado pode

    influenciar na demanda atravs da proteo seletiva de segmentos de mercado.

    O Estado tambm centraliza seus esforos no apoio ao desenvolvimento e

    introduo de novas tecnologias na indstria aeroespacial. Para isto, os principais

    instrumentos utilizados so: a) apoio direto s atividades de P&D atravs da criao de

    centros de pesquisa; b) recursos a fundos perdido para o desenvolvimento de novos

    projetos nas reas cientfica e militar; c) incentivos e subsdios fiscais para projetos

    comerciais; alm de financiar os investimentos em ampliao de capacidade produtiva

    e na comercializao. Alm disso, o Estado o principal agente coordenador do

    processo de reestruturao patrimonial (fuses, aquisies e alianas estratgicas)

    dessa indstria, no apenas em nvel nacional, mas tambm em escala global.

    Destaca-se ainda o papel das empresas lderes de capital nacional, pois so

    estas que compem o ncleo dinmico da indstria aeroespacial, realizando os

    investimentos necessrios para atender a demanda e incorporar as inovaes

    tecnolgicas. Desta maneira, a existncia de um conjunto de empresas bem

    sucedidas, centradas na figura de uma ou mais empresas lderes, de fundamental

    importncia na determinao dos investimentos da indstria aeroespacial,

    particularmente no que se refere ao desenvolvimento tecnolgico, pois so as

    empresas, com o apoio do Estado, que propiciam o elevado dinamismo tecnolgico

    dessa indstria.

    5 Na maioria dos casos somente so vendidos ao exterior os equipamentos j utilizados pelos pases

    exportadores. Mesmo que as exportaes representem um volume maior do que o vendido no mercadointerno, so as encomendas nacionais que garantem o desenvolvimento e produo dos armamentos,que posteriormente so exportados.

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    Por fim, importante ressaltar que os investimentos da indstria aeroespacial

    enfrentam importantes questes ticas, dentre as quais podemos destacar: a) no setor

    aeronutico, o debate ambiental questiona as elevadas emisses de CO2 para a

    atmosfera; b) no setor espacial, a discusso socioeconmica que questiona o trade-off

    entre os elevados investimentos destinados explorao espacial e os recursos

    necessrios para combate a fome e a pobreza; c) o setor de defesa que enfrenta

    questionamentos socioeconmicos em relao ao volume de recursos despendidos em

    armamentos e a discusso tica sobre quais os limites da defesa.

    I.3. Estrutura de Mercado

    A seguir sero apresentados os principais pases produtores da indstria

    aeroespacial, com destaque para a anlise das suas empresas lderes, que, junto aos

    Estados Nacionais, so os principais agentes do investimento nessa indstria. A

    grande importncia dessas empresas lderes tambm se deve ao fato de serem a

    ponta de lana da indstria aeroespacial, coordenando os investimentos de uma ampla

    e complexa cadeia de fornecedores.

    I.2.1. Indstria Aeroespacial Norte-Americana

    Os EUA consolidaram a sua liderana na indstria aeroespacial ao longo da II

    Guerra Mundial, de modo que esta se tornou hegemnica no Ps-Guerra. No

    segmento comercial, a hegemonia da indstria norte-americana somente passou a ser

    contestada nos anos 70, com a criao do consrcio europeu Airbus. Na rea militar, a

    diviso do mundo pela Guerra Fria fez com que o bloco sovitico buscasse

    acompanhar as inovaes tecnolgicas do complexo industrial militar norte-americano,

    porm, a hegemonia tecnolgica sempre permaneceu com os EUA6. No setor espacial,

    os EUA somente alcanaram a hegemonia a partir dos anos 60, com o projeto Apollo,

    executado pela recm criada NASA7, a agncia espacial norte-americana.

    Posteriormente, nos anos 80, os EUA consolidaram esta liderana com o programa do

    6 Desde o final dos anos 50, o Defense Advanced Research Projects Agency (DARPA), do Departamentode Defesa do EUA, tem sido a instituio responsvel pela coordenao e financiamento de novastecnologias de uso militar, Em 2007, esta agncia apresentou um oramento de US$ 3,2 bilhes.(DARPA, 2008).7A National Aeronautics and Space Administration (NASA) uma agncia civil do governo dos EUA,

    criada em 1958, sendo responsvel pela pesquisa e desenvolvimento de tecnologias e programas deexplorao espacial. Em 2007, esta agncia apresentou um oramento de US$ 16,6 bilhes. (NASA,2008).

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Governohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Estados_Unidos_da_Am%C3%A9ricahttp://pt.wikipedia.org/wiki/1958http://pt.wikipedia.org/wiki/Explora%C3%A7%C3%A3o_espacialhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Explora%C3%A7%C3%A3o_espacialhttp://pt.wikipedia.org/wiki/1958http://pt.wikipedia.org/wiki/Estados_Unidos_da_Am%C3%A9ricahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Governo
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    nibus Espacial e, atualmente, participam em conjunto com outros pases da

    construo e operao da Estao Espacial Internacional8.

    Apesar de a indstria aeroespacial norte-americana estar assentada, desde sua

    origem, em empresas privadas, o papel do governo tem sido essencial, tanto nacoordenao do processo de consolidao como no estmulo ao desenvolvimento

    tecnolgico. Relativamente a esses processos os principais instrumentos utilizados

    pelo Governo Federal dos EUA esto relacionados s encomendas pblicas. Por um

    lado, as concorrncias para fornecimento de aeronaves militares, armamentos e

    veculos espaciais foram, aos poucos, selecionando as empresas vencedoras. Por

    outro lado, as demandas das Foras Armadas e do setor espacial por produtos cada

    vez mais sofisticados passaram a exigir a crescente incorporao de inovaestecnolgicas. Cabe destacar que os programas militares e espaciais so utilizados

    pelas empresas privadas como meio de se obter o domnio das novas tecnologias que,

    posteriormente, so transferidas aos projetos comerciais.

    Figura 1 - Processo de Consolidao na Indstria Aeroespacial Norte-Americana, 1992-2006

    Fonte: EADS. In: Cabral Pinto, M.A.C. & Migon, M. N. (2006).

    Para manter a posio de liderana em escala global, a indstria aeroespacial

    norte-americana tem passado por um amplo processo de consolidao, que teve a sua

    8

    A International Space Station(ISS) um laboratrio espacial que comeou a ser construdo em 1998,sendo um projeto conjunto das agncias espaciais norte-americana, canadense, europia, russa ejaponesa. (ISS, 2008).

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Ag%C3%AAncia_Espacial_Canadensehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ag%C3%AAncia_Espacial_Canadensehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ag%C3%AAncia_Espacial_Canadensehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ag%C3%AAncia_Espacial_Canadense
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    origem na dcada de 70, mas se aprofundou de maneira significativa a partir dos anos

    90. Este processo de consolidao, marcado por um grande nmero de operaes de

    fuses e aquisies, levou a uma ampla concentrao e especializao da indstria

    aeroespacial dos EUA. Hoje esta indstria est concentrada nos quatro grandes

    grupos resultantes do processo de consolidao:

    Boeing: em 2007, faturou aproximadamente US$ 66,3 bilhes e

    empregou 159 mil funcionrios, sendo a maior empresa aeroespacial do mundo9. Est

    voltada para a produo de grandes avies comerciais, dividindo com a europia

    Airbus o mercado mundial praticamente ao meio. A Boeing tambm a maior

    subcontratada da NASA tendo uma participao de destaque nos principais programas

    espaciais dos EUA. No ano 2000, a Boeing adquiriu a fabricante de satlites HughesSpace and Communications e, em 2006, criou uma joint-venture com a Lockheed

    Martin (a United Launch Alliance), cuja funo era a realizao de lanamentos

    espaciais para o governo norte-americano, utilizando os foguetes Atlas (Lockheed) e

    os Delta (Boeing).

    Lockheed Martin: o maior conglomerado blico do mundo, respondendo

    sozinho por 19% do mercado mundial de defesa e 40% das exportaes de armas dos

    EUA, com destaque para a produo de avies de combate, msseis balsticos esistemas de defesa. A Lockheed Martin tambm possui uma destacada atuao no

    setor espacial, particularmente em veculos lanadores, segmento em que participa

    atravs da United Launch Alliance. Em 2007, a Lockheed Martin empregou mais de

    140 mil funcionrios e faturou US$ 41,8 bilhes. Deste faturamento 84% se referem s

    encomendas realizadas pelo governo dos EUA10.

    Northrop Grumman: esta empresa deixou de participar do setor

    aeronutico11 concentrando-se no setor de defesa, inclusive em segmentos fora daindstria aeroespacial, como construo de navios militares12. Em 2007, a Northrop

    9THE BOEING CO., 2007.10LOCKHEED MARTIN CORP., 2007.11 O ltimo modelo de aeronave produzida pelo grupo Northrop Grumman foi o bombardeiro stealth B-2

    Spirit e atualmente participa com 25% do programaF-35 Lightning II, liderado pela Lockheed Martin.12 Em 2001 a Northrop Grumman adquiriu o estaleiro Newport News Shipbuilding se tornando a maiorfabricante de navios militares do mundo.

    http://www.is.northropgrumman.com/systems/f35jsf_ctol.htmlhttp://www.is.northropgrumman.com/systems/f35jsf_ctol.htmlhttp://www.is.northropgrumman.com/systems/f35jsf_ctol.html
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    Grumman empregou mais de 122 mil funcionrios, com um faturamento de

    aproximadamente US$32 bilhes13.

    Raytheon: grande conglomerado do setor de defesa que atua

    principalmente na fabricao de msseis e sistemas integrados. Em 2007 empregou 77mil funcionrios e faturou US$ 21 bilhes14.

    Alm destes quatro grandes conglomerados, outros trs grupos merecem

    destaque dentro da indstria aeroespacial norte-americana. O primeiro o grupo

    General Dynamics, um dos grandes conglomerados do setor de defesa dos EUA que

    se especializou em veculos militares, alm de controlar a Gulfstream Aerospace, uma

    das empresas lderes mundiais no segmento de jatos executivos15. Outro importante

    grupo norte-americano a Textron Company, grupo que controla a Cessna, ldermundial na fabricao de avies leves, e a Bell Aerospace, maior fabricante de

    helicpteros dos EUA16. Por fim, a United Technologies Corp. que concentra suas

    atividades aeroespaciais na produo de helicpteros, atravs da Sikorsky, e de

    turbinas, com a Pratt&Whitney17.

    I.2.2. Indstria Aeroespacial Europia

    A indstria aeroespacial europia apresentou um pujante desempenho desdesua origem, na primeira dcada do sculo XX, at a II Guerra Mundial. A destruio

    causada por este conflito blico levou ao enfraquecimento da indstria aeroespacial

    europia, que foi superada pela norte-americana nas primeiras dcadas do Ps-

    Guerra. Nas ltimas quatro dcadas, a sada encontrada pelos europeus para superar

    as limitaes da sua indstria aeroespacial esteve centrada num processo de

    consolidao tanto em nvel local, com as polticas de escolha das empresas campes

    nacionais, como em nvel europeu, com o desenvolvimento de projetos conjuntos e aposterior consolidao em escala continental.

    13 NORTHROP GRUMMAN, 2007.14 RAYTHEON, 2007.15 A General Dynamics faturou US$ 27,2 bilhes e empregou mais de 83 mil funcionrios, em 2007.(GENERAL DYNAMICS, 2007).16 Em 2007, o grupo Textron empregou mais de 44 mil funcionrios e faturou aproximadamente US$ 13,2

    bilhes, 70% na indstria aeroespacial. (TEXTRON CO., 2007).17 A United Technologies um diversificado grupo industrial que, em 2007, faturou US$ 54,7 bilhes,40% destas vindos da indstria aeroespacial. (UNITED TECNOLOGIES CORP., 2007).

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    Figura 2 - Processo de Consolidao na Indstria Aeroespacial Europia, 1992-2006

    Fonte: EADS. In: Cabral Pinto, M.A.C. & Migon, M. N. (2006).

    Dessa forma, as empresas aeroespaciais europias tambm passaram por um

    intenso processo de consolidao de forma que atualmente so poucos, mas robustos

    os grupos aeroespaciais localizados no continente europeu:

    European Aeronautic Defence and Space Company (EADS): criada no

    ano 2000, como resultado da fuso de trs grandes empresas aeroespaciais da

    Europa: a alem DaimlerChrysler Aerospace (DASA), a francesa Aerospatiale-Matra e

    a espanhola CASA, o maior conglomerado aeroespacial europeu e um dos mais

    diversificados do mundo, tendo faturado US$ 57,2 bilhes e empregado mais de 116

    mil funcionrios no ano de 200718. No segmento comercial do setor aeronutico, o

    grupo EADS divide com a norte-americana Boeing o mercado mundial de grandes

    avies comerciais praticamente ao meio, alm de controlar a Avions de Transport

    Regional (ATR), lder mundial na fabricao de aeronaves regionais com propulso

    turbolice19, e a EADS Socata, a maior fabricante de aeronaves leves da Europa. O

    conglomerado tambm controla a Eurocopter, que a maior produtora de helicpteros

    do mundo. No segmento militar, a EADS participa da produo de avies de combate e

    de transporte, alm de sistemas de defesa e comunicao. Por fim, a EADS possui a

    18EADS, 2007.19 Joint-venturecom o grupo italiano Finmeccanica.

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    diviso Astrium, que a maior empresa europia, e a terceira maior do mundo, no

    setor espacial, atuando na produo de satlites, lanadores e servios espaciais20.

    BAE Systems: em 1999, a British Aerospace, que estava em negociao

    para se unir s demais empresas europias na EADS, abandonou este projeto e sefundiu com a tambm britnica MarconiElectronic Systems21, criando a BAE Systems.

    Em 2007, este conglomerado faturou US$ 31,4 bilhes, empregando mais de 97.500

    funcionrios22. Nos ltimos anos, a BAE Systems buscou diminuir sua participao no

    setor aeronutico e ampliar a participao no setor de defesa, de forma que se

    transformou no maior conglomerado de defesa da Europa e o terceiro maior do mundo.

    A BAE Systems produz de avies de combate23e sistemas integrados, alm de atuar,

    fora da indstria aeroespacial, na fabricao de veculos militares e navios de guerra. Finmeccanica: este grupo italiano o terceiro maior conglomerado

    europeu do setor aeroespacial, tendo faturado US$ 19,6 bilhes e empregado mais de

    60 mil funcionrios em 200724. A Finmeccanica apresenta uma estrutura bastante

    diversifica, atuando em todos os setores da indstria aeroespacial 25. No setor

    aeronutico, participa da fabricao de avies militares e comerciais26, alm de

    controlar a AgustaWestland, a terceira maior fabricante de helicpteros do mundo. O

    grupo italiano se destaca no setor militar com a produo de msseis, torpedos ecanhes, alm de sistemas de defesa. No setor espacial, a Finmeccanica controla 67%

    da Telespazio, empresa que fornece servios de satlites.

    Thales: no ano 2000, o grupo francs Thomson-CSFadquiriu a empresa

    britnica Racal Electronics plc, criando assim o grupo Thales. Em 2007, este grupo

    faturou US$ 18 bilhes e empregou 68 mil funcionrios. As atividades do grupo esto

    voltadas para a rea eletrnica, especificamente projeto e integrao de sistemas e

    20 A EADS Astrium a principal contratante na produo dos foguetes Ariane 5 e acionista (30%) daArianespace, a empresa que opera e comercializa os servios do foguete. (EADS ASTRIUM , 2008).21 A Marconi Systems era a subsidiria dos segmentos de defesa General Electric Company. (BAESYSTEMS, 2008).22BAE SYSTEMS, 2007.23 A BAE Systems participa do setor aeronutico apenas atravs consrcios e joint-venturescom outrasempresas.24FINMECCANICA, 2007.25 O grupo Finmeccanica tambm atua nos setores de energia e transporte, que responderam por 18%

    do faturamento do grupo, em 2007. (FINMECCANICA, 2007).26Na aviao comercial controla a Aerei da Trasporto Regionale (ATR), joint-venturecom a EADS paraproduo de avies regionais.

    http://en.wikipedia.org/wiki/British_Aerospacehttp://en.wikipedia.org/wiki/Marconi_Electronic_Systemshttp://en.wikipedia.org/wiki/Thomson-CSFhttp://en.wikipedia.org/wiki/Racalhttp://c/Documents%20and%20Settings/diascarolina/Configura%E7%B5%A5s%20locais/Temp/General%20Electric%20Companyhttp://c/Documents%20and%20Settings/diascarolina/Configura%E7%B5%A5s%20locais/Temp/General%20Electric%20Companyhttp://en.wikipedia.org/wiki/Racalhttp://en.wikipedia.org/wiki/Thomson-CSFhttp://en.wikipedia.org/wiki/Marconi_Electronic_Systemshttp://en.wikipedia.org/wiki/British_Aerospace
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    fabricao equipamentos avinicos, alm de sensores para aeronaves. Em 2006, o

    grupo Thales adquiriu a diviso espacial do grupo Alcatel, assumindo as duas joint-

    ventures com o grupo italiano Finmeccanica, 67% da Thales Alenia Space, a maior

    fabricante de satlites da Europa e 33% da Telespazio.

    Destacam-se ainda, a tradicional empresa francesa Dassault Aviation que

    atualmente tem 46,3% do seu capital controlado pela EADS e a SAAB, empresa

    smbolo da independente indstria aeroespacial sueca27, que, desde 1998, tem seu

    controle compartilhado pela britnica BAE Systems.

    A consolidao da indstria aeroespacial europia foi marcada, ao longo das

    dcadas, pela forte presena dos Estados Nacionais, que sempre atuaram como

    coordenadores desse processo, mesmo tendo-se em conta que a maioria dasempresas aeroespaciais europias , atualmente, de controle privado. A presena do

    Estado tambm observada nos programas de desenvolvimento tecnolgico, por

    exemplo, o 7th Framework Program (2007-2013) da Unio Europia, que est

    destinando mais de US$ 11 bilhes para o desenvolvimento de novas tecnologias no

    setor aeronutico28. Isto sem levar em conta os recursos disponibilizados por cada pas

    na rea militar. Por fim, importante destacar os investimentos realizados pela ESA29,

    a agncia espacial europia, cujo oramento de 2007 foi de US$ 4,2 bilhes.

    I.2.3. Indstria Aeroespacial Canadense

    A indstria aeroespacial canadense est voltada para o segmento civil do setor

    aeronutica, com uma grande empresa nacional, a Bombardier, e diversas subsidirias

    estrangeiras, com destaque para a subsidiria da norte-americana Bell Helicopter. A

    participao da indstria canadense nos setores espacial e de defesa bastante

    restrita e est voltada para a produo de pequenos componentes e sistemas de altatecnologia, com destaque para a empresa Spar Aerospace30. Em 1996, o governo

    canadense criou a agncia Technology Partnerships Canad (TPC), para apoiar o

    desenvolvimento tecnolgico das empresas aeroespaciais31. No perodo 2007-2010, a

    27 ISA, 2005.287th FRAMEWORK PROGRAM, 2008.29 A European Space Agency (ESA) uma organizao intergovernamental criada em 1975, e queatualmente conta com 18 pases membros. (ESA, 2008).30 Subsidiria do grupo aeroespacial norte-americano L-3 Communications.31TPC, 2008.

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    TPC est destinando US$ 900 milhes para P&D em empresas privadas. Por sua vez,

    a agncia espacial canadense (CSA) apresenta um programa bastante modesto com

    oramento de aproximadamente US$ 350 milhes, para o ano de 200732.

    Bombardier: a lder mundial no segmento de avies executivos, alm deatuar na produo de avies regionais, tanto de propulso a jato quanto turbolice. No

    ano de 2007, a Bombardier Aerospace faturou US$ 9,7 bilhes e empregou

    aproximadamente 28 mil funcionrios33. O principal projeto da Bombardier uma nova

    famlia de jatos capazes de transportar entre 110 e 130 passageiros, a chamada C-

    Series.

    I.2.4. Indstria Aeroespacial Russa

    Com o colapso da URSS, em 1991, a indstria aeroespacial russa, que chegou

    a ser a segunda mais importante do mundo nos setores militar e espacial, iniciou um

    perodo de grave crise, seja pelo desmantelamento da estrutura econmica planificada,

    seja pela drstica reduo da demanda das foras armadas soviticas e de seus

    antigos aliados, devido derrota sofrida na Guerra Fria. No final dos anos 90, iniciou-

    se um processo de recuperao desta indstria. No setor aeronutico, os bureausde

    design, onde os avies eram projetados, passaram a se fundir com as fbricasprodutoras de aeronaves, criando-se uma estrutura empresarial prxima ocidental,

    apesar de todas as empresas continuarem sendo estatais. Em 2006, o governo russo

    avanou no processo de consolidao, criando duas novas holdingsque passaram a

    reunir as principais empresas aeroespaciais do pas, a UABC, em avies, e a

    Oboronprom Corp.34 em helicpteros e sistemas de defesa. Em 2007, a

    Rosoboronexport, tornou-se a empresa responsvel por todas as exportaes de

    armas da Rssia. Esta ampla e profunda reestruturao tem buscado a racionalizao

    da estrutura produtiva dado que esta indstria empregava mais de 500 mil pessoas,

    mas faturava, anualmente, menos de US$ 7 bilhes.

    United Aircraft Building Corporation (UABC): passou a reunir as principais

    fabricantes de avies do pas: Sukhoi, MiG, Ilyushin, Tupolev e Yakovlev. Apesar das

    empresas manterem um elevado grau de autonomia, o planejamento estratgico

    32CSA, 2008.33

    BOMBARDIER, 2007.34 A Oboronprom passou a reunir as principais fabricantes de helicpteros russas: Mil Helicopters,Kamov e a Rostvertol. (OBORONPROM, 2008).

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    passou a ser coordenado por esta nova holding35. Todas as empresas, que agora

    fazem parte da UABC, foram especializadas na produo de avies militares devido

    necessidade de acompanhar, ou mesmo superar, as inovaes introduzidas pela

    indstria aeroespacial norte-americana, durante o perodo da Guerra Fria. Dentro do

    esforo de recuperao, a Sukhoi foi escolhida para ser a ponta de lana da nova

    indstria aeroespacial russa, fornecendo avies no estado da arte, tanto para o

    mercado militar, quanto para o civil. Neste contexto, em 2008, a Sukhoi realizou o

    lanamento de seu primeiro avio comercial, o SSJ-100, um moderno jato regional36.

    A Roskosmos, agncia espacial russa, foi criada depois do fim da URSS,

    assumindo o programa espacial sovitico. Em 2007, o oramento da Roskosmos foi de

    US$ 2,2 bilhes. Atualmente, o setor espacial russo se destaca pela produo dosveculos lanadores de grande porte, Proton e Soyuz37, utilizados em vos espaciais

    tripulados, na construo da Estao Espacial Internacional e em atividades

    comerciais38.

    I.2.5. Indstria Aeroespacial Japonesa

    A derrota na II Guerra Mundial levou paralisao da indstria aeroespacial

    japonesa. Esta indstria ressurge no final dos anos 50, no contexto da Guerra Fria, e,

    desde ento, tem se concentrado na rea militar atravs da produo, sob licena, de

    avies, helicpteros e, mais recentemente, msseis de projeto norte-americano. Os

    projetos prprios de aeronaves ficaram restritos a alguns avies militares de segunda

    linha e a um avio turbolice comercial, este ltimo produzido nas dcadas de 60 e 70,

    sendo a nica aeronave japonesa que obteve sucesso comercial desde o Ps-guerra.

    Ainda no segmento aeronutico civil, a indstria japonesa tem se destacado como uma

    importante fornecedora de aeroestruturas, inclusive partes sensveis, como asas e

    sees da fuselagem, para os principais modelos de aeronaves produzidos pelas

    empresas lderes mundiais: Boeing, Airbus, Embraer e Bombardier.

    35 UABC, 2008.36 O programa SSJ-100conta com o apoio comercial e tecnolgico de diversas firmas ocidentais, comdestaque para a norte-americana Boeing, as francesas Thales e Snecma e a italiana Alenia (grupoFinmeccanica). (ORTEGA, 2007).37Os foguetes Protonso produzidos pela Khrunichev e os Soyuzpela TsSKB-Progress / Roskosmos.

    (ROSKOSMOS, 2008).38 Os foguetes Soyuz so utilizados em atividades comerciais pela Starsem, uma joint-venture daRoskosmos com a EADS/Arianespace. (STARSEM, 2008).

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    Cabe destacar que a quase totalidade dos projetos aeroespaciais do Ps-guerra

    foi realizada atravs da participao conjunta das trs maiores empresas aeroespaciais

    japonesas: Mitsubishi, Kawasaki e Fuji, alm de outras empresas menores. Essa

    atuao conjunta das empresas aeronuticas japonesas foi institucionalizada em 1973,

    com a criao do Japan Aircraft Development Corporation (JADC), um consrcio

    liderado pela Mitsubishi. O principal projeto aeronutico da indstria aeroespacial

    japonesa o lanamento de um avanado jato regional, o Mitsubishi Regional Jet

    (MRJ).

    Atualmente a JAXA, a agncia espacial japonesa39, participa do projeto da

    Estao Espacial Internacional, alm de diversos programas de explorao do espao.

    Em 2002, o governo japons transferiu para a Mitsubishi a responsabilidade pelaproduo e lanamento dos foguetes de grande porte H-IIA, principal programa

    espacial japons voltado para fins comerciais40.

    I.2.6. Indstria Aeroespacial Chinesa

    A indstria aeroespacial chinesa esteve, at 1999, concentrada em uma nica

    grande holdingestatal, a Aviation Industry of China (AVIC), empregando mais de 560

    mil funcionrios. A partir daquele ano, a holding foi dividida em duas, as chamadas

    AVIC I e AVIC II. Ambas so empresas estatais controladas pelo governo central,

    atuando de forma cooperada em diversos projetos41. Cada uma dessas holdings

    controla dezenas de empresas dos diversos segmentos que compem o setor

    aeroespacial. Incluem desde fabricantes de partes e peas at os produtores finais de

    avies, helicpteros, motores aeronuticos e msseis. Em ambos os casos as holdings

    esto concentradas na atividade militar, particularmente na produo de avies e

    helicpteros de projeto sovitico. Mais recentemente foram desenvolvidos alguns

    projetos prprios, como o caa supersnico J-10 Chengdu e o jato de transporte

    regional ARJ-21 Xiang Feng. Na realidade, existe certa especializao entre essas

    duas holdings: enquanto a AVIC I est mais focada nos avies maiores e mais

    sofisticados, a AVIC II se concentra nos mdios e pequenos avies e nos helicpteros.

    39 A Japan Aerospace eXploration Agency(JAXA) foi formada, em 2003, pela fuso de trs instituiesde pesquisa: NASDA (foguetes e satlites), NAL (aeronutica) e ISAS (pesquisa espacial e planetria).(JAXA, 2008).40H-IIA, 2008.41AVIC, 2008.

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    Em 2008 foi criada uma nova holdingaeroespacial, a Commercial Aircraft Corporation

    of China (CACC), que tem como objetivo fabricar avies comerciais de grandes porte

    com tecnologia prpria e capazes de competir, no longo prazo, com as grandes

    construtoras mundiais Airbus e Boeing.

    A Administrao Espacial Nacional da China, criada em 2003, responsvel

    pelo programa espacial do pas, tendo apresentado um oramento de US$ 550 milhes

    no ano de 2007. Duas outras empresas estatais fabricam o foguete Longa Marchae os

    satlites chineses42. O programa espacial chins teve origem no final dos anos 50,

    mas iniciou os lanamentos comerciais somente em 1985 e apenas em 2003 realizou o

    primeiro vo espacial tripulado.

    I.2.7. Indstria Aeroespacial Indiana

    A indstria aeroespacial da ndia esta voltada prioritariamente para a rea militar

    e espacial. O setor aeronutico indiano surgiu na dcada de 40, com a criao da

    Hindustan Aeronautics Limited (HAL), e, desde ento, est concentrada nesta nica

    grande empresa estatal. A HAL direciona os recursos na produo de aeronaves

    militares, sob licena ou por intermdio de projetos prprios, alm de participar do

    programa espacial indiano fornecendo componentes estruturais para os satlites e

    veculos lanadores. Em 2007, a HAL faturou aproximadamente US$ 2,3 bilhes e

    empregou mais de 30 mil funcionrios43.

    No setor espacial, destaca-se a importncia do Indian Space Research

    Organisation (ISRO), a agncia espacial indiana, criada em 1969, que permitiu ndia

    se posicionar de forma competitiva no mercado mundial de satlites e veculos

    lanadores44. O oramento da ISRO programado para 2008 foi de aproximadamente

    US$ 1,3 bilho45

    .

    42Os foguetes so produzidos pela China Academy of Launch Vehicle Technology(CALT), e os satlitesso produzidos pela China Aerospace Science & Technology Corporation (CASC). (CALT, 2008 eCASC, 2008).43 HAL, 2008.44 Os principais programas so: o PSLV - Polar Satellite Launch Vehicle, usado para lanar os satlites

    IRS (Sensoreamento) e o GSLV - Geosynchronous Satellite Launch Vehicle, utilizado para lanamentodos satlites classe INSAT(Comunicao e Meteorologia). (ISRO, 2008).45ISRO, 2008.

    http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Administra%C3%A7%C3%A3o_Espacial_Nacional_da_China&action=edit&redlink=1http://en.wikipedia.org/wiki/China_Academy_of_Launch_Vehicle_Technologyhttp://en.wikipedia.org/wiki/China_Aerospace_Science_and_Technology_Corporationhttp://en.wikipedia.org/wiki/China_Aerospace_Science_and_Technology_Corporationhttp://en.wikipedia.org/wiki/China_Academy_of_Launch_Vehicle_Technologyhttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Administra%C3%A7%C3%A3o_Espacial_Nacional_da_China&action=edit&redlink=1
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    2. Indstr ia Aeroespacial Brasileira

    2.1. Caractersticas Gerais

    A criao do Centro Tcnico de Aeronutica (CTA), em 1946, possibilitou aconstituio da infraestrutura cientfica e tecnolgica sob a qual se constituiu a indstria

    aeroespacial brasileira. Em 1950, o CTA foi transferido para a cidade de So Jos dos

    Campos (SP), e desde ento, a indstria aeroespacial brasileira vem se concentrando

    nesta regio.

    A indstria aeroespacial um caso singular e atpico dentro da estrutura

    produtiva brasileira, pois o nico setor de alta tecnologia46em que o Brasil possui

    uma destacada competncia em nvel global. Em alguns segmentos de mercado, comoa aeronutica comercial, a indstria brasileira posiciona-se como uma das lderes

    mundiais, graas ao domnio tecnolgico e qualidade de seus produtos. Atualmente,

    a indstria aeroespacial brasileira a maior do Hemisfrio Sul, tendo como

    competidoras as indstrias dos pases desenvolvidos.

    Segundo o Eng Walter Bartels47a indstria aeroespacial brasileira movimentou

    US$ 6,2 bilhes, em 2007, representando aproximadamente 2% da indstria mundial, o

    que muito significativo por ser uma indstria de alta tecnologia e de carterestratgico.

    Tabela 1- Indicadores da Indstria Aeroespacial Brasileira1, 2004-2007

    Indicadores 2004 2005 2006 2007

    Receitas (US$ bilhes) 4,2 4,3 4,3 6,2

    Particip. no PIB Industrial (%) 1,9 1,5 1,5 1,9

    Exportaes (US$ bilhes) 3,5 3,7 3,9 5,6

    Particip. nas Exportaes (%) 3,3 3,1 3,0 3,4Empregos Diretos 18.000 19.800 22.000 25.200 1. Empresas afiliadas a Associao das Indstrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB).

    Fonte: AIAB (2008).

    Na tabela 1, observa-se que, ao longo dos ltimos quatro anos, as receitas

    da indstria aeroespacial brasileira apresentaram uma elevada taxa de expanso,

    46 Pelo critrio da OCDE as indstrias de alta tecnologia so: aeroespacial, tecnologia da informao,

    eletrnica e farmacutica (OECD, 2008).47 Entrevista concedida, em 17 de outubro de 2008, pelo Eng Walter Bartels, Diretor Presidente daAssociao das Indstrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB).

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    19

    aproximadamente de 50%. O crescimento permitiu que esta indstria mantivesse

    a sua participao no PIB Industrial, mesmo sendo um perodo de excepcional

    desempenho da economia.

    O desempenho das exportaes foi ainda melhor, chegando a se expandir 60%em apenas quatro anos. Cabe a ressalva de que parte dessa expanso apenas

    nominal, dado que o Real apresentou uma elevada valorizao em relao ao Dlar no

    perodo. Por outro lado, as exportaes realizadas pela indstria aeroespacial

    brasileira expandiram-se mesmo com uma significativa valorizao cambial,

    demonstrando que a competitividade internacional desta indstria est assentada

    sobre a elevada capacidade tecnolgica das empresas brasileiras.

    Outra importante vantagem competitiva da indstria aeroespacial brasileira que, mesmo importando um grande volume de matrias primas e componentes

    utilizados no processo produtivo, ela possui a capacidade de gerar elevados supervits

    comerciais.

    Tabela 2 - Indstria Aeroespacial Brasileira1: Participao das Exportaes e Importaes no

    Faturamento, 2000-2005 (R$ milhes)

    AnoReceita Lquida

    (RL)

    Exportaes

    (X)

    (X / RL)

    %

    Importaes

    (M)

    (M / RL)

    %

    2000 9.562 6.733 70 3.305 35

    2001 12.698 8.714 69 4.148 33

    2002 10.452 8.279 79 3.494 33

    2003 9.184 6.483 71 3.407 37

    2004 11.514 10.174 88 5.037 44

    2005 10.426 9.006 86 4.757 46 1. NCM 8802 e 8803, no inclui msseis, radares e sistemas de defesa.

    Fonte: Elaborao prpria a partir de dados da SECEX e da PIA.

    A indstria aeroespacial no apenas exporta produtos de alta tecnologia como

    destas vendas internacionais tm se direcionado aos pases mais avanados. A

    Amrica do Norte responde por quase metade das exportaes do setor, como

    observado no grfico 1. A Europa, por sua vez, o destino de aproximadamente das

    exportaes desta indstria. Por fim, cabe destacar a elevada participao do Resto

    do Mundo, que pode ser explicado, principalmente, pelas recentes vendas de avies

    ndia e aos pases do Oriente Mdio.

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    Grfico 1 - Indstria Aeroespacial Brasileira1: Exportao por regio, 2006

    Aladi4,9%

    UnioEuropia (27)

    22,3%

    Nafta49,4%

    sia1,4%

    Resto doMundo (*)

    21,7%

    Mercosul0,3%

    (*) frica, Oceania, Oriente Mdio e demais pases.1. NCM 8802 e 8803, no inclui msseis, radares e sistemas dedefesa.

    Fonte: Elaborao prpria a partir de dados da SECEX.

    Dada a sua posio singular na estrutura produtiva nacional, a indstria

    aeroespacial de grande importncia para o desenvolvimento tecnolgico do pas,

    permitindo a criao de empregos de alto nvel, como pode ser observado na tabela

    abaixo.

    Tabela 3 - Escolaridade dos Trabalhadores na Indstria Brasileira:

    Aeroespacial X Transformao, 2005

    Aeroespac ial1 Transformao

    Superior completo 26% 6%

    2 grau completo e superiro incompleto 60% 35%

    2 grau incompleto ou inferior 14% 60%

    Total 100% 100%

    Grau de EscolaridadeIndstria

    1. CNAE 353, no inclui msseis, radares e sistemas de defesa.

    Fonte: Elaborao prpria a partir de dados da RAIS.

    Na tabela 3, observa-se que apenas 14% dos funcionrios da indstria

    aeroespacial no possuem o 2 grau completo, enquanto para o total da indstria de

    transformao esta proporo chega a 60%. Por outro lado, os trabalhadores com nvel

    superior completo representam mais de dos funcionrios empregados pela indstria

    aeroespacial. Esta maior qualificao se reflete numa maior remunerao. A tabela 4

    mostra que a remunerao dos trabalhadores da indstria aeroespacial , em mdia,

    trs vezes maior que o total da indstria de transformao.

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    Tabela 4 - Remunerao Mdia do Trabalho na Indstria: Aeroespacial X Transformao, 2005

    Aeroespacial1 Transformao

    81 25 325%

    Aero /

    Transformao

    Remunerao por hora trabalhada (R$)

    1. CNAE 353, no inclui msseis, radares e sistemas de defesa.Fonte: Elaborao prpria a partir de dados da RAIS.

    As caractersticas estruturais da indstria aeroespacial produtos com elevado

    coeficiente tecnolgico; elevada dependncia dos grandes projetos da empresa lder

    ou das encomendas pblicas; grande prazo de maturao desses projetos fazem

    com que as condies de financiamento dos investimentos seja um dos elementos

    centrais para a capacitao dessa indstria. Assim, o governo federal, atravs do

    Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES) e da Financiadorade Estudos e Projetos (FINEP), tem sido o parceiro de ltima instncia no fornecimento

    de recursos para os investimentos da indstria aeroespacial brasileira.

    Grfico 2 - Indstria Aeroespacial Brasileira: Segmentao da receita, 2007

    Espacial

    0,4%

    Defesa

    6,7%

    Aeronutico

    92,9%

    Outros

    8,4%

    Embraer

    84,5%

    Fonte: Elaborao prpria a partir dos dados de AIAB (2008) e da EMBRAER (2007).

    Outra caracterstica marcante da indstria aeroespacial brasileira a elevada

    concentrao da sua estrutura produtiva. Enquanto o setor aeronutico contribuiu com

    aproximadamente 93% das receitas geradas por esta indstria, no outro extremo

    encontra-se o setor espacial, cujo faturamento representou insignificantes 0,4% do

    total. Por sua vez, o setor de defesa encontra-se numa posio intermediria, tendo

    faturado pouco mais de US$ 400 milhes, ou 6,7% das receitas, no ano de 2007.

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    Esta concentrao no apenas setorial, mas tambm empresarial, dado que a

    empresa lder do setor, a fabricantes de avies Embraer, responde por mais de 80%

    das receitas da indstria aeroespacial brasileira. Apenas a ttulo de comparao, o

    valor de um nico avio vendido pela Embraer, o modelo EMB-170, superior

    totalidade da receita obtida pelas empresas brasileiras no setor espacial48.

    O fato da indstria aeroespacial brasileira estar centrada numa grande empresa

    lder no uma deficincia; ao contrrio, permite que esta empresa tenha uma

    insero ativa no mercado global. A existncia de uma conceituada empresa nacional

    num setor de grande visibilidade como a indstria aeroespacial importante para a

    prpria imagem do pas no exterior49. A deficincia, por sua vez, reside no fato de que,

    na indstria aeroespacial brasileira, s a Embraer possui a escala empresarialnecessria para ser competitiva no mercado internacional.

    A indstria aeroespacial estratgica para o pas, pois ocupa uma posio de

    destaque na estrutura produtiva nacional e internacional, sendo importante para o

    desenvolvimento econmico, tecnolgico e social, alm de ter um papel central na

    estrutura de defesa nacional.

    A seguir, uma anlise das oportunidades de investimento em cada um dos

    setores que compe esta indstria:

    2.2. Setor Aeronutico

    Em 2007, as empresas do setor aeronutico faturaram aproximadamente US$ 6

    bilhes50. Entretanto, mais de 85% destas receitas foram obtidas por uma nica

    empresa, a Embraer Empresa Brasileira de Aeronutica S.A., demonstrando a

    elevada concentrao que existe neste setor industrial. Com relao s demais

    empresas aeronuticas, observa-se que a quase totalidade delas faz parte da cadeiaprodutiva da empresa lder, sendo poucas as empresas que operam de forma

    48 Enquanto um avio EMB-170, para 70 passageiros, vendido por aproximadamente US$ 30 milhes,a parcela do faturamento das empresas que est diretamente relacionada ao setor espacial foi de,aproximadamente, US$ 25 milhes, no ano de 2007.49 Da mesma forma que a Coria possui a LG, o Japo possui a Toyota e os EUA possuem a Apple, oBrasil possui a Embraer.50 As empresas aeronuticas afiliadas AIAB faturaram US$ 5,8 bilhes, em 2007. Acrescendo aexistncia de um conjunto da ordem de 70 pequenas empresas, no associadas AIAB, com uma

    receita estimada entre US$ 100 milhes e US$ 200 milhes. Desta maneira, o volume total de receitasdo setor aeronutico brasileiro, no ano de 2007, pode ser estimado em US$ 6 bilhes. (Entrevistaconcedida, em 17 de outubro de 2008, pelo Eng Walter Bartels, Diretor Presidente da AIAB).

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    independente. Esta caracterstica estrutural faz com que a evoluo do setor

    aeronutico apresente uma forte correlao com o desempenho de sua empresa lder.

    2.2.1. Embraer A Empresas Lder

    Fundada em 1969, em So Jos dos Campos (SP), como empresa estatal de

    capital misto, a Embraer foi privatizada em 1994. No ano de 2006, realizou uma ampla

    reestruturao societria que a transformou na primeira companhia brasileira de

    grande porte com capital totalmente pulverizado. Esta reestruturao societria

    permitiu que a Embraer continuasse utilizando o mercado de capitais internacional para

    se capitalizar, sem que deixasse de ser uma empresa brasileira, dado que os

    acionistas estrangeiros, seja isoladamente ou em grupo, tero no mximo 40% do total

    de votos, independentes da quantidade de capital que possuam na empresa51.

    Desde o incio das suas atividades, a Embraer se dedica ao desenvolvimento

    das tecnologias-chaves que determinam o avio como um produto final. Desta forma,

    os investimentos foram direcionados para a capacitao na rea de projetos e

    montagem de avies e na integrao de sistemas. Esta estratgia permitiu que, a partir

    de meados dos anos 90, a Embraer se posicionasse como uma das lderes mundiais

    na fabricao de avies comerciais. Cabe destacar que, nos ltimos 40 anos, a

    Embraer foi a nica nova empresa aeronutica a entrar no segmento de aeronaves

    civis a jato.

    Depois de uma intensa disputa com a concorrente canadense Bombardier, em

    2006, a empresa brasileira atingiu a liderana no mercado de jatos regionais, e se

    consolidou como a terceira maior fabricante de avies comerciais do mundo, atrs

    apenas da norte-americana Boeing e da europia Airbus, ambas atuando no segmento

    de grandes aeronaves. Esta bem sucedida estratgia empresarial se refletiu numdesempenho financeiro excepcional: a receita lquida saltou de US$ 1,3 bilho, em

    1998, para US$ 5,2 bilhes, em 2007, um crescimento de 300% em apenas uma

    dcada52.

    51 As outras duas regras estabelecidas pelo acordo acionrio foram: a) nenhum acionista ou grupo deacionistas ter direito a voto superior a 5%, desestimulando a concentrao de aes em poucoscontroladores, e; b) qualquer acionista ou grupo de acionistas est proibido de adquirir uma participaoigual ou superior a 35% do capital da Embraer, salvo com expressa autorizao da Unio, na qualidade

    de detentora da golden share, e sujeita realizao de uma Oferta Pblica de Aquisio (OPA).(EMBRAER, 2006).52 EMBRAER, 2007.

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    Grfico 3 - Embraer: Evoluo da Receita Lquida, 1998-2007 (US$ milhes)

    0

    1000

    2000

    3000

    4000

    5000

    6000

    98 99 00 01 02 03 04 05 06 07

    Anos

    (US$ milhes)

    Fonte: Elaborao NEIT/IE/UNICAMP a partir de dados da EMBRAER (2007).

    No segmento de aeronaves comerciais, que representa mais de 60% do seu

    faturamento, a Embraer investiu em duas famlias de avies53: a) a ERJ-135/145de 35

    a 50 assentos, um sucesso comercial com mais de 1.000 unidades entregues desde o

    incio de sua produo em 1996; b) a EMB-170/190 (E-Jet), aeronaves com

    capacidade entre 70-110 passageiros, que entrou em operao no ano de 2004. Nesta

    ltima categoria, a Embraer a nica fabricante mundial.

    Quadro 1 - Embraer: Mercados & Aeronaves, 2008

    MERCADOS CARACTERSTICAS GERAIS

    Regional A aviao regional o principal mercado da Embraer, que produz duas famlias de j ERJ 135/145(35-50 assentos)

    EMB 170/190ou E-Jets(70-110 assentos)

    Executivo Iniciando a atuao neste mercado com a adaptao dos modelos regionrecentemente, lanando uma linha de pequenos avies executivos (VLJ):

    Linage 1000(18 assentos) Legacy 600(13 assentos)

    Phenom 100 e 300(6-9 assentos)

    Militar Aeronave turbolice de treinamento avanado e ataque leve: EMB 314 Super Tucano

    Modelos de vigilncia area e guerra eletrnica:

    EMB 145 AEW&C e RS/AGS

    Fonte: Elaborao NEIT/IE/UNICAMP a partir de dados da EMBRAER (2007).

    53 Famlia de aeronaves: verses derivadas de um modelo bsico que permitem atender demandasespecficas, alm de propiciar menores custos e maior disponibilidade para os operadores.

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    De forma a ampliar seus ganhos e diminuir os riscos de concentrar suas vendas

    em apenas um nico segmento de mercado, a Embraer, ao longo dos ltimos anos,

    vem investindo na diversificao de suas operaes, como pode ser observado no

    grfico 4.

    Grfico 4 Embraer: Receita por Segmento de Mercado, 2002-2007

    0%

    20%

    40%

    60%

    80%

    100%

    2002 2003 2004 2005 2006 2007

    Servios/Outros

    Defesa

    Executiva

    Comercial

    Fonte: Elaborao NEIT/IE/UNICAMP a partir de dados da EMBRAER (2007).

    O principal segmento escolhido para realizao de novos investimentos foi o de

    jatos executivos. Para isto, ela comeou aproveitando as sinergias existentes e lanou

    modelos derivados dos seus mdios e grandes jatos comerciais. Em 2002, lanou o

    Legacy-600, um moderno jato derivado do ERJ-135, cujas vendas tm apresentado um

    bom desempenho e, em 2006, lanou um jato executivo de grande porte, o Lineage-

    1000, derivado do EMB-190, sendo um dos maiores avies executivos em srie do

    mundo. Alm disso, ela est investindo em uma nova categoria que apresenta

    excelente perspectiva de crescimento, a dos Very Light Jets (VLJ). Nesta categoria a

    Embraer apresentou os modelos Phenom-100 ePhenom-300, cujas primeiras entregas

    esto previstas para ocorrer ainda em 2009.

    Ainda dentro de sua estratgia de diversificao, a Embraer est buscando

    ampliar a sua atuao no segmento de defesa. Os avies de vigilncia area e

    sensoriamento remoto, respectivamente EMB 145 AEW&C eRS/AGS, que utilizam a

    plataforma do modelo comercial ERJ-145, esto entre os mais sofisticados do mundo.

    Estas aeronaves foram produzidas, na dcada de 90, para atender a demanda do

    Sistema de Vigilncia da Amaznia (SIVAM) da Fora Area Brasileira (FAB), mas

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    tambm foram exportadas para as foras areas da Grcia, do Mxico e da ndia. Nos

    ltimos anos, a Embraer tambm investiu na produo das aeronaves de treinamento

    militar EMB-314 Super Tucano54, alm de participar, em conjunto com a empresa

    israelense Elbit, dos programas de modernizao dos atuais caas, F-5 Tiger II eAMX,

    da FAB.

    A Embraer tambm est investindo no segmento de prestao de servios

    aeronuticos, devido, principalmente, a sua entrada no segmento de jatos executivos.

    Apesar das semelhanas tcnicas com os avies comerciais, o mercado de jatos

    executivos apresenta, como um dos fatores competitivos determinantes, a existncia

    de uma rede de servios ps-venda de escala global 55. Por fim, um segmento em que

    a Embraer atua de forma restrita o de produo de aeroestruturas para outrasempresas aeronuticas56.

    Cabe destacar, que a Embraer tambm tem adotado uma estratgia de

    progressiva internacionalizao de suas atividades, na qual se destacou a constituio,

    em 2003, da Harbin Embraer Aircraft Industry (HEAI), uma joint-venture entre a

    Embraer e a empresa chinesa AVIC II, que tem como o objetivo a montagem final,

    venda e assistncia tcnica das aeronaves ERJ-145destinadas ao mercado chins.

    No final de 2004, foi adquirida a Indstria de Aeronutica de Portugal (OGMA) e, noano seguinte, iniciou-se a construo das instalaes da EMBRAER Aircraft

    Maintenance Services (EAMS) em Nashville, nos Estados Unidos.

    A Embraer possui uma insero ativa no mercado internacional, com 95% das

    vendas realizadas no exterior. Em virtude disso, ela se posicionou entre as trs

    maiores exportadoras brasileiras em todos os anos da presente dcada. Esta forte

    atuao internacional da Embraer num setor de alta tecnologia tambm tem

    contribudo para promover a prpria imagem do Brasil no exterior. Como resultado, aEmbraer , atualmente, o nico global player que o pas possui na rea de alta

    tecnologia, fazendo com que o setor aeronutico ganhe relevncia dentro da estrutura

    produtiva brasileira.

    54 Esta aeronave utilizada pelas foras areas do Brasil e da Colmbia, alm de estar em negociaespara ser exportada ao Chile, Equador, Repblica Dominicana e Guatemala.55 No setor de defesa, as foras areas possuem suas estruturas de manuteno de aeronaves. Nomercado de aviao comercial, a maioria das companhias areas possui centros de manuteno para

    atender, pelo menos, as necessidades mais imediatas. (FERREIRA, 2008.a)56 A Embraer parceira de risco da Sikorsky no desenvolvimento e fabricao do trem de pouso, dosistema de combustvel e do tanque de combustvel do helicptero Helibus S-92. (ELEB, 2008).

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    Apesar de sua destacada participao na estrutura produtiva brasileira e no

    setor aeronutico mundial, a Embraer apresenta uma escala empresarial pequena

    quando comparada a outras grandes empresas do setor aeroespacial mundial, como

    pode ser observado no grfico 5. Alm disso, a Embraer no est constituda como um

    conglomerado aeroespacial que atua nos setores aeronutico, defesa e espao, como

    a maioria de suas concorrentes.

    Grfico 5 - 20 Maiores Empresas Aeroespaciais1do Mundo2, 2007

    0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0

    Embraer (Brasil )Dassault (Frana)

    Goo drich (EUA)Safram (Frana)Thales (Frana)

    Textron (EUA)Bombardier Aerospace (Canad)

    Honeywell Aerospace (EUA)L3 Communications (EUA)Rol ls-Royce (Reino Unido)

    Finmeccanica (Itlia)GE Aviation (EUA)

    Raytheon (EUA)United Tecnologies (EUA)General Dynamics (EUA)

    BAE Systems (Reino Un ido)Northrop Grumman (EUA)

    Lockh eed Martin (EUA)EADS (Europa)

    Boeing (EUA)

    (US$ bilhes)

    1. Somente foram contabilizados os negcios aeroespaciais de cada grupo.

    2. Por falta de informao contbil os grupos russos e chineses no foram classificados

    Fonte: Elaborao prpria a partir dos Relatrios Anuais da Empresas.

    Por fim, importante ressaltar que est ocorrendo uma ruptura na atual

    trajetria tecnolgica, decorrente da introduo de um novo projeto dominante no setor

    aeronutico civil, o B-787 Dreamliner, da Boeing57. Esta alterao na trajetria

    tecnolgica de fundamental importncia para o setor particularmente para as

    empresas fabricantes de aeronaves, pois modifica as tecnologias-chaves que

    determinam o avio como um produto final, a comear pela forma de projetar e montar

    as novas aeronaves. A Embraer, como uma das empresas lderes na fabricao de

    avies, ter suas vantagens competitivas colocadas prova pela introduo deste

    57

    Esta aeronave incorpora uma srie de inovaes tecnolgicas, em grande parte derivadas dasubstituio das chapas de alumnio pelos materiais compostos, como a matria-prima predominante danova aeronave (FERREIRA, 2008.a).

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    novo projeto dominante, posto que as inovaes tecnolgicas trazidas pelo Boeing 787

    no ficaro restritas ao segmento de grandes avies comerciais e, aos poucos, sero

    difundidas para todos os segmentos do setor aeronutico.

    2.2.2. Cadeia Produtiva da Embraer

    A cadeia produtiva da empresa lder apresenta uma estrutura de mercado no

    apenas concentrada, mas, tambm, estratificada e que pode ser dividida em dois

    grupos: os parceiros de risco e as empresas subcontratadas.

    Os parceiros de risco da Embraer so quase que exclusivamente empresas

    estrangeiras58 com posio j consolidada na indstria internacional. Estas

    participaram, em conjunto com a Embraer, do desenvolvimento das famlias de aviesERJ-145 e E-Jets, contribuindo financeira e tecnologicamente para estes projetos59.

    Em 2000, a Embraer criou o Programa de Expanso da Indstria Aeroespacial

    Brasileira (PEIAB), com o objetivo de ampliar o adensamento da cadeia produtiva

    aeronutica atravs do estmulo aos seus parceiros para se instalarem no Brasil60.

    Este programa visava aumentar a agregao de valor realizada pela indstria nacional,

    facilitando assim a elaborao conjunta de projetos e a entrega de partes e peas das

    aeronaves. Como resultado, diversos parceiros de risco instalaram unidades produtivas

    no pas, mais especificamente na regio de So Jos dos Campos, destacando-se,

    dentre eles, a Aernnova61, Sobraer62, Latcore, C&D Interiors, Parker Hannifin e

    Pilkington Aerospace. Entretanto, estas empresas no transferiram para o pas todas

    as etapas produtivas, mas apenas as etapas finais, trazendo componentes semi-

    acabados do exterior e realizando a montagem final no Brasil. Apesar disso, todas

    estas subsidirias so empresas de mdio ou grande porte, que atuam na fabricao

    de estruturas, interiores, motores aeronuticos, avinicos, trens de pouso, sistemas

    hidrulicos e eltricos.

    58 A nica parceira de risco de capital nacional a ELEB Equipamentos S.A., subsidiria da prpriaEmbraer voltada para a produo de trens de pouso. (ELEB, 2008).59 No projeto ERJ-145, a contribuio dos parceiros de risco foi quase que exclusivamente financeira,dado que a Embraer j havia desenvolvido o projeto. (SABBATINI et.al., 2007).60Desde 2003, o BNDES tem apoiado e incentivado esta poltica de adensamento da cadeia produtivado setor aeronutico.61 A Aernnova a antiga Gamesa Aeronutica.62 A Sobraer - Sonaca Brasileira Aeronutica, criada em 2000, uma subsidiria integral da Sonaca

    belga voltada para produo de componentes estruturais. A Sobraer tambm controla outras duasempresas, criadas em 2004, a Sopeaero, voltada para produo de peas de alumnio, e a Pesola,destinada fabricao de peas usinadas. (FERREIRA, 2008.b).

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    34/74

    29

    Com relao s turbinas, cabe destacar que apenas os servios de manuteno

    so realizados no pas. Trs empresas merecem destaque: a norte-americana GE-

    Celma, localizada em Petrpolis (RJ); a britnica Rolls-Royce, em So Bernardo do

    Campo (SP); e a Pratt&Whitney Canad (PW&C), em Sorocaba (SP). Estas trs

    empresas tambm so fornecedoras da Embraer: a GE-Celma parceira de risco no

    projeto EMB-170/190, sendo responsvel pelo fornecimento das turbinas que so

    produzidas nos EUA 63; a Rolls-Royce inglesa a fabricante das turbinas da famlia de

    aeronaves ERJ-145; e a PW&C foi escolhida para fornecer os motores dos jatos

    Phenom64.

    As empresas subcontratadas, por sua vez, se encontram na base da pirmide

    da cadeia produtiva. Em geral, so pequenas empresas de capital nacional, commenos de 50 funcionrios, altamente especializadas e com elevada capacidade

    tecnolgica nas reas de servios de engenharia, usinagem e tratamento de

    superfcies. Estas empresas concentram suas atividades na prestao de servios

    para a Embraer e seus parceiros de risco, que em geral, respondem por mais de 90%

    das suas receitas. Desse modo, o desempenho das subcontratadas est totalmente

    atrelado expanso da empresa lder. Como forma de superar esta elevada

    dependncia e a baixa escala produtiva, nos ltimos anos tem se verificado algumas

    operaes de consolidao. Em 2003, 15 empresas da regio de So Jos dos

    Campos formaram um consrcio voltado para exportao, denominado High

    Technology Aeronautics (HTA). Apesar de vantajoso, a criao deste consrcio no foi

    suficiente para superar as deficincias das pequenas e mdias empresas

    subcontratantes. Essas deficincias esto sendo parcialmente superadas nos ltimos

    anos atravs de algumas operaes patrimoniais, com destaque para a criao da

    Grauna Aeroespace SA, resultante da fuso de trs mdias empresas nacionais65,

    que, recentemente, se capacitou para fornecer peas de turbinas para PW&C. Outras

    duas fornecedoras merecem ser citadas pelo elevado coeficiente tecnolgico de seus

    produtos e servios. A primeira a brasileira Akaer Engenharia, empresa especializada

    63Em 2007, a GE-Celma foi a maior empresa exportadora de servios do Brasil. (ENAEX, 2008).64 Ainda no segmento de manuteno de turbinas, observa-se a presena de mais duas empresas noligadas cadeia produtiva da Embraer: a francesa Turbomeca, voltada para a manuteno de turbinasde helicpteros e, a brasileira Focal, que se concentra no reparo de turbinas de aeronaves militares.65

    Criada em 2005, a Grauna Aerospace resultante da fuso de trs pequenas empresas fundadas porex-funcionrios da Embraer: Grauna Usinagem, SPU Indstria e Comrcio de Peas e Bronzeana.Todas elas j atuavam como fornecedoras da Embraer desde os anos 90. (FERREIRA, 2008.b).

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    no projeto e desenvolvimento de aeroestruturas, sendo metade do faturamento obtido

    no exterior66. A segunda a AEL-Aeroeletrnica, subsidiria do grupo israelense Elbit,

    voltada para desenvolvimento, fabricao e manuteno de sistemas eletrnicos

    embarcados em aeronaves militares que foram produzidas ou modernizadas pela

    Embraer, respectivamente os modelos EMB-314 Super Tucanoe F-5-M.

    2.2.3. Nichos de Mercado

    Alm da cadeia produtiva da empresa lder, composta pela Embraer e seus

    fornecedores, o setor aeronutico nacional tambm formado por empresas que

    atuam em segmentos de mercado bastante especficos, como a montagem de

    helicpteros e a fabricao de avies leves.

    A Helibras, fundada em 1978, continua sendo a nica fabricante de helicpteros

    da Amrica Latina, com uma unidade produtiva em Itajub (MG). Em 2007, esta

    empresa faturou US$ 148 milhes e empregou 248 funcionrios que atuam na

    produo, montagem, venda e manuteno dos helicpteros da Eurocopter (EADS),

    que sua controladora67. O nico modelo produzido no pas do helicptero leve HB-

    350 Esquilo e de suaverso biturbinaHB-355, com um ndice de nacionalizao que

    varia em torno dos 50%. A Helibras a empresa lder nacional, respondendo por mais

    de 50% da frota brasileira de helicpteros a turbina68.

    O Grupo Aeromot, de Porto Alegre (RS), um dos dois nicos fabricantes

    nacionais de avies leves do Brasil, com a linha de motoplanadores Ximango. Alm

    disso, este grupo tambm atua na manuteno de aeronaves de pequeno porte69. O

    outro fabricante a Indstria Aeronutica Neiva, subsidiaria integral da Embraer, que

    est localizada em Botucatu (SP), sendo responsvel pela fabricao do avio agrcola

    66 Entre os clientes estrangeiros destaca-se: a Boeing, onde foi subcontratada pela espanhola Aernnova;e a Airbus, onde foi subcontratada pela belga Sonaca e pela alem P3. (Entrevista concedida, em 4 dedezembro de 2008, pelo Dr. Fernando Coelho Ferraz, Diretor de Engenharia e Qualidade da AkaerEngenharia Ltda.).67 A Eurocopter possui 76,7% do capital, o restante das aes pertence a dois acionistas brasileiros, oEstado de Minas Gerais, atravs da MGI Participaes, que possui 12,5% e a Bueninvest, com 10,8%.(HELIBRAS, 2008).68 FERREIRA, 2008.c.69 Os motoplanadores AMT-200 Super Ximango e AMT-300 Turbo Ximango so produzidos com

    moderna tecnologia de material composto (fibra de vidro e fibra de carbono). Estes modelos vm sendoexportados para diversos pases como Austrlia, Frana, Alemanha, Japo, Reino Unido e EstadosUnidos. (AEROMOT, 2008).

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    EMB-200 Ipanema70, alm de tambm produzir componentes e subconjuntos para os

    demais avies da Embraer.

    2.3. Setor de Defesa

    No Brasil, o setor de defesa da indstria aeroespacial surgiu e avanou ao longo

    dos anos 70 e 80, dentro de uma poltica que visava dotar o pas de moderna indstria

    blica que propiciasse uma maior autonomia em tecnologias aeroespaciais

    indispensveis defesa nacional. Nesse contexto, deu-se inicio a um grande nmero

    programas militares, que implicaram na criao de diversas empresas voltadas para o

    desenvolvimento e produo de equipamentos de defesa que apresentavam uma

    maior sofisticao tecnolgica.

    Entretanto, estes programas militares foram pulverizados em um grande nmero

    de empresas, que, em sua maioria, no apresentavam capacitao tecnolgica,

    financeira e administrativa suficientes para levar frente os projetos para as quais

    haviam sido contratadas. A isto se somam as severas restries oramentrias

    impostas s Foras Armadas Brasileiras e a inexistncia de uma poltica de longo

    prazo para a rea militar, que foram agravadas ainda mais pela lgica neoliberal dos

    anos 90. Esta conjuno de fatores fez com que a maioria dos programas militares

    sofresse atrasos sucessivos, sendo muitos deles cancelados. Neste contexto, as

    empresas que atuavam no setor de defesa tiveram como destino a diversificao para

    outras reas ou a falncia. Uma das excees deste perodo foi o projeto do Sistema

    de Vigilncia da Amaznia (SIVAM) estabelecido em 1994 e terminado em 200271,

    dado que os demais projetos militares continuaram sofrendo com as demandas

    irregulares e os baixos volumes de recursos disponibilizados.

    Atualmente, o setor de defesa est subdimensionado e desestruturado paraatender as necessidades estratgicas do Brasil, tanto no domnio de tecnologias

    sensveis, quanto em prover um poder de dissuaso adequado posio ocupada pelo

    pas no atual contexto mundial. As empresas do setor de defesa da indstria

    aeroespacial faturaram aproximadamente US$ 400 bilhes em 200772; um valor

    extremamente reduzido quando comparado ao setor aeronutico brasileiro ou quando

    70 O EMB- 200 Ipanema o primeiro avio de srie no mundo a sair de fbrica certificado para voar comlcool combustvel. (NEIVA, 2008).71 SIVAM, 2008.72 AIAB, 2008.

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    contrastado com o setor de defesa em nvel mundial. Apenas a ttulo de comparao, o

    grupo Denel73, lder do setor de defesa na frica do Sul, faturou o equivalente a todo o

    setor de defesa da indstria aeroespacial do Brasil. Por sua vez, a diviso de defesa

    aeroespacial do grupo italiano Finmeccanica faturou mais de 10 vezes a receita de

    todas as empresas brasileiras que atuam neste setor74.

    A pequena dimenso do setor de defesa da indstria aeroespacial se reflete no

    reduzido porte das suas empresas, j que as maiorespossuem, em mdia, de 200 a

    500 funcionrios e faturam entre US$ 20 milhes e US$ 80 milhes. Outra deficincia

    da estrutura produtiva do setor de defesa sua elevada segmentao, com cada

    empresa atuando em nichos de mercado bastante especficos: Avibras (foguetes),

    Mectron (msseis), OrbiSat (radares portteis), Omnisys (radares de longo alcance) eAtech (sistemas de defesa e simuladores). Isto faz com que estas empresas

    apresentem economias de escala e de escopo75muito baixas, dificultando no apenas

    o avano para geraes de produtos mais avanados, mas tambm na obteno de

    recursos e garantias para financiar as suas operaes. Apesar destas severas

    restries, as maiores empresas tm procurado manter uma razovel capacitao

    tecnolgica, possibilitando, inclusive, algumas exportaes, particularmente no

    segmento de foguetes.

    As empresas lderes do setor de defesa so remanescentes da dcada 80, caso

    da Avibras, ou, ento, acolheram projetos deste perodo, como so os exemplos da

    Mectron, da Atech e da Omnisys. Entretanto, cabe destacar que estas empresas no

    apenas retomaram antigos projetos militares, mas realizaram grandes investimentos na

    atualizao e modernizao desses projetos, de forma que a maioria delas se

    capacitou para avanar em produtos de maior contedo tecnolgico. Porm,

    importante salientar que os programas militares, particularmente os mais sofisticados,

    tm contado com o decisivo apoio dos centros de pesquisa tecnolgica da Aeronutica

    (CTA) e do Exrcito (CTEx), visando superar no apenas as deficincias das empresas

    nacionais, mas tambm os embargos dos pases desenvolvidos transferncia de

    tecnologias sensveis.

    73 O grupo sul-africano Denel faturou US$ 408,8 milhes em 2007. (DENEL,2007).74 Em 2007, a diviso Defense and Security Electronicsdo grupo Finmeccanica faturou US$ 5,4 bilhes.

    (FINMECCANICA, 2007).75 Economia de escopo obtida quando existe reduo nos custos (produo, desenvolvimento,administrativo, financeiro, etc.), pelo fato de uma empresa fabricar diferentes tipos de produtos.

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    A seguir so apresentadas as principais empresas que compe o setor de

    defesa da indstria aeroespacial brasileira.

    Avibras

    A Avibras Indstria Aeroespacial SA uma empresa privada, com estrutura

    administrativa profissionalizada, mas de controle familiar que, em 2007, faturou US$

    28,1 milhes e empregou aproximadamente 600 funcionrios. Esta empresa foi

    fundada em 1961, em So Jos dos Campos (SP), e, desde ento, vem atuando

    dentro da indstria aeroespacial, inicialmente nos setores aeronutico e espacial76,

    tendo, a partir dos anos 70, se concentrado no setor de defesa. Pode ser considerada

    a principal empresa sobrevivente da estrutura industrial de defesa criada ao longo dos

    anos 70 e 80, graas sua elevada flexibilidade e destacada atuao no mercadointernacional. Esta empresa ainda mantm uma elevada capacitao produtiva e

    tecnolgica, que permite a ela desenvolver, integrar, certificar e produzir dif