12/03/2019 Toninho Evangelista - ENAC · do Reino de Deus em um determinado contexto histórico....

1Toninho Evangelista - ENAC12/03/2019

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“ Serás libertado pelo direito e pela justiça”.

(Is 1,27)




“Serás libertado pelo direito e pela justiça”. (Is 1,27)

Justiça = Uma das palavras mais repetidas na Bíblia

hebraica, embora com diferentes matizes. A raiz şdq

aparece 523 vezes.

O apelo a um comportamento ético na vida, especialmente pela

prática da justiça, da retidão, da autenticidade e da verdade,

assentava em Israel na ideia de que o ser humano, fazendo

o bem e fugindo do mal (praticando a şedāqāh), estava a

reverberar (repercutir) no mundo a şedeq, a “justa ordem”

estabelecida por Deus na criação do cosmo e do ser humano,

segundo um plano de harmonia entre todos os seres.


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“Serás libertado pelo direito e pela justiça”. (Is 1,27)

A pessoa será justa ou injusta, não por cumprir rigorosamente

os preceitos em causa, mas por se relacionar justa ou

injustamente com outra pessoa. (Pe. Toninho)




(Isaías 1,27

O primeiro Isaías (1-39) proclamando a transcendência

e o poder envolvente de Deus, condenando as alianças

políticas e pregando que o povo deveria permanecer

fiel ao projeto de Deus, cujo valor maior é a justiça.

Por isso, ele é crítico em relação a um culto desligado

da prática da justiça social (Is 1,10-17). Essa crítica

conclui com oito imperativos que exigem justiça para

com os desvalidos:

FRATERNIDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS


(Isaías 1,27


1- Lavai-vos,

2 - Purificai-vos,

3 - Tirai da frente dos meus olhos

a malícia das vossas ações.

4 - Cessai de fazer o mal,

5 - Aprendei a fazer o bem.

6 - Procurai a justiça [mišpāţ],

7 - Socorrei o oprimido,

8 - Fazei justiça [şedāqāh] ao órfão,

9 -Defendei a viúva.6Toninho Evangelista - ENAC12/03/2019



O Pentateuco e a legislação do direito e da justiça

O Pentateuco narra centralmente o evento do êxodo comodado fundante da experiência religiosa do antigo Israel,sendo que a libertação da escravidão no Egito proporcionouao povo de Deus a sua identidade.

Os profetas e o anúncio da justiçaDeus se revela no Antigo Testamento como aquele que viua miséria de seu povo e ouviu o seu clamor, descendo paralibertá-lo (Ex 3,7-8) e, por isso, essa experiência libertadorase constituiu centro da fé do povo de Israel (Dt 26,5-9).

ANTIGO TESTAMENTO


A sabedoria como educadora da justiça

A sabedoria bíblica visa conduzir a vida mediante um sabercapaz de orientar o comportamento, incluindo informações arespeito de fatos, valores, regras em vista da ação humana,processos sociais e políticos, ou seja, sábio é quem, a partir desua reflexão advinda de Deus, direciona o seu modo de viverem sociedade.

as Sagradas Escrituras do antigo Israel, as quais formam oAntigo Testamento dos cristãos, intrinsecamente trazemconsigo uma ampla reflexão e insistência em convivências maisjustas e amorosas.

ANTIGO TESTAMENTO


Jesus e seu Evangelho do Reino de Deus

Também Jesus de Nazaré, em seu tempo, conviveu com ofenômeno do Estado e do exercício do poder pordeterminadas lideranças políticas. Acolhendo as esperançasreligiosas de seu povo, as quais incluem dimensões sociais epolíticas bem definidas, Jesus de Nazaré anunciou o Evangelhodo Reino de Deus em um determinado contexto histórico.

Anunciou a chegada do Reino de Deus no início do primeiroséculo, em torno do ano 30. Politicamente, era um momentodelicado. O povo judeu, em geral, estava excluído das decisõespolíticas mais importantes.

NOVO TESTAMENTO



“A quem compararemos o Reino de Deus? Ou com queparábola o representaremos?” (Mc 4, 30). Como falar de Deushoje? A primeira resposta é que nós podemos falar de Deus,porque ele falou conosco. Portanto, a primeira condição parafalar de Deus é a escuta daquilo que o próprio Deus disse.

Em Jesus de Nazaré nós encontramos o rosto de Deus, quedesceu do seu Céu para se imergir no mundo dos homens, nonosso mundo, e para ensinar a “arte de viver”, o caminho dafelicidade; para nos libertar do pecado e para nos tornar f lhosde Deus (Ef 1,5; Rm 8,14).

NOVO TESTAMENTO



Jesus fala do seu Pai – Abbá – e do Reino de Deus, com oolhar cheio de compaixão, de misericórdia, pelas necessidadese dificuldades da existência humana. Fala com grande realismoe, pode-se dizer, o essencial do anúncio de Jesus tornatransparente o mundo, e a nossa vida é preciosa para Deus.

O anúncio do Reino é fundamental, e Jesus o mostra jápresente entre nós. Às vezes, desanimamos diante dos sinaisde morte e somos tentados a pensar que as coisas estão cadavez piores e sem nenhuma possibilidade de melhorar. Noentanto, somos levados a crer que o Reino está acontecendode maneira escondida, suave, e nossa vida de discípulosmissionários contribui na edificação.

NOVO TESTAMENTO

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Toninho Evangelista - ENAC12/03/2019


Nos Evangelhos nós vemos como Jesus se interessa porcada situação humana que Ele encontra, participando darealidade dos homens e das mulheres de seu tempo, com umaconfiança plena na ajuda do Pai.

Assim como Jesus, devemos estar atentos para captar ossinais dos tempos em nossa época, ou seja, identificar aspotencialidades, os desejos, os obstáculos que se encontramna cultura atual, de modo particular o desejo deautenticidade, o anseio pela transcendência, a sensibilidadepela salvaguarda da criação, e comunicar sem temor aresposta oferecida pela fé em Deus.

NOVO TESTAMENTO


O combate à fome: reflexão sobre a multiplicação dospões em Marcos

Entre os mais necessitados, os famintos ganham destaque.

Existe, por parte de Jesus, a disposição em atender o povosofrido. Ao ver a “grande multidão”, ele se encheu de compaixãopor eles” e, por isso, “saiu do barco” para ir ao encontro dequem esperava por ajuda (Mc 6,34).

Era preciso não “despachar” o povo sofrido (Mc 6,36), mas,sim, rever os próprios recursos: “Quantos pães tendes! Ide evede!” (Mc 6,38). A solução também não estava simplesmente“compra” de alimentos (Mc 6,37), usando uma maior quantia dedinheiro, mas, sim, na partilha de um recurso que já estava àdisposição.

NOVO TESTAMENTO


A atenção a doentes, crianças, mulheres e trabalhadores

As narrativas dos Evangelhos apresentam Jesus como quem, deforma constante, dedicou sua atenção aos doentes. NoEvangelho segundo Marcos, observa-se que, dos dezessetemilagres narrados, catorze giram em torno de curas.

Jesus indicou a postura do bom samaritano como modelo decompaixão e misericórdia ante a quem precisa receber cuidadosespeciais para suas feridas (Lc 10,30-37).

Além dos doentes, outros grupos de pessoas em estado devulnerabilidade ganharam a atenção de Jesus. Ele insistiu nocuidado: quem acaso acolher uma destas crianças em meunome, a mim acolhe...

NOVO TESTAMENTO


A atenção a doentes, crianças, mulheres etrabalhadores

Mesmo inserido em uma sociedade marcada pela dominânciado homem, Jesus de Nazaré cultivou, em relação às mulheres,convivências e diálogos livres de preconceitos. Reconheceu aigualdade delas na ordem prevista por Deus para a criação,acolhendo, junto às suas Sagradas Escrituras, a ideia de queDeus criara a humanidade “homem e mulher”

Cabe mencionar ainda os trabalhadores. Jesus mesmo era f -lho de um “carpinteiro” (Mc 6,3; Mt 13,55). Alguns de seusdiscípulos eram “pescadores” (Mc 1,16) e “coletores deimpostos”

NOVO TESTAMENTO


Aprender com Jesus a ter compaixão dos sofredores

Jesus, como palavra encarnada de Deus, é o auge da história darevelação do Senhor. Nos Evangelhos, até os opositores de Jesus,tanto em termos religiosos como políticos, o descrevem comoquem “era verdadeiro”.

Ser discípulo ou discípula de Jesus inclui a tarefa de compreenderas dimensões sociais e políticas iluminadas pela Boa-Novaanunciada pelo Mestre único. Afinal, o “Reino dos Céus” é apresença da justiça.

NOVO TESTAMENTO


Os Padres da Igreja e o cuidado com os mais vulneráveisOs Padres da Igreja deixaram em seus escritos a preocupação eo cuidado com os pobres, com os doentes, como expressão doseguimento de Jesus.

As reflexões dos Padres da Igreja não só vão ao encontro dadimensão do culto litúrgico, mas também são um chamado paraque o Estado promova a verdadeira felicidade dos homens e dospovos.

O fel não pode prestar culto ao Senhor e, ao mesmotempo, ignorar o irmão que está na necessidade. Deus nãoatende a oração daquele que não escuta o grito do pobre,porque não poderá jamais haver culto autêntico se aqueles queo celebram são causa de injustiça.

NOVO TESTAMENTO


A contribuição da Doutrina Social da Igreja

A Doutrina social da Igreja nasce das Sagradas Escriturase da fé viva da Igreja. Ela, de modo especial, se volta para adignidade da pessoa humana, com especial atenção aossofrimentos dos mais pobres, que são presença de Cristo (Mt25,31ss).A Doutrina Social da Igreja não é uma teoria social, poistem uma finalidade prática, evidenciada pelos Pontífices. O Papa SãoPaulo VI, na Encíclica Populorum Progressio (PP), utilizou a expressão“mudança das estruturas”.

João Paulo II, por sua vez, falou de “pecado social e de estruturasde pecado” e diz ser um dever do cristão mudar essas estruturasque obstaculizam o Reino de Deus, sendo essa “uma tarefa queexige coragem e paciência”.

NOVO TESTAMENTO


A contribuição da Doutrina Social da IgrejaO Papa Francisco, por sua vez, indica que a DoutrinaSocial a Igreja não pode ficar em generalidades aoafirmar:

Os ensinamentos da Igreja acerca de situações contingentes estão sujeitosa maiores ou novos desenvolvimentos e podem ser objeto de discussão,mas não podemos evitar de ser concretos – sem pretender entrar emdetalhes – para que os grandes princípios sociais não fiquem merasgeneralidades que não interpelam ninguém. É preciso tirar as suasconsequências práticas, para que possam incidir com eficácia também nascomplexas situações hodiernas.

Embora a justa ordem da sociedade e do Estado seja dever central dapolítica, a Igreja não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça.

NOVO TESTAMENTO



Participação

NOVO TESTAMENTO


O quadro pintado por Pedro Américo sobre o grito de independênciaevidencia um traço marcante da cultura política brasileira: o povo estásempre assistindo aos fatos políticos, ao invés de participar delesdiretamente.

A pintura sugere que alguns iluminados sabem o que é bom e o realizam “para” o povo, e não “com” o povo.

A Doutrina Social da Igreja evidencia a necessidade de uma participaçãoativa e consciente dos cristãos leigos e leigas na vida da sociedade,sendo esse um de seus princípios permanentes.

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Participação

NOVO TESTAMENTO


É fundamental o papel da comunidade cristã nessa participaçãoativa, uma vez que essa não é uma ação individual. A DoutrinaSocial da Igreja enfatiza a necessidade de um processo dediscernimento a ser levado a termo pelas comunidades cristãs,com auxílio do Espírito Santo.

O Papa Bento XVI, no seu ensinamento social, ao falar daparticipação conjunta dos homens, afirma a necessidade de umprincípio da gratuidade como expressão da fraternidade:

Enquanto dom recebido por todos, a caridade na verdade é umaforça que constitui a comunidade, unifica os homens segundomodalidades que não conhecem barreiras, nem confins.




Participação

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A questão das Políticas Públicas se coloca, portanto, dentrodo quadro de uma cultura política da participação, onde as pessoassejam protagonistas na vida social e sejam atendidas as exigênciasdo bem comum

Na ação pastoral da Igreja, deve ser estimulada aparticipação das comunidades eclesiais, em parceria com outrasinstituições privadas ou públicas, bem como com movimentospopulares entidades da sociedade civil




Cidadania

Afirmando o princípio da participação, a Doutrina Socialda Igreja pede que os cidadãos intervenham nas tarefasgovernativas, exercendo sua cidadania em prol do bemcomum, sendo essa uma mediação concreta da caridade.

É preciso realçar a importância dos cristãos leigos e leigase outras pessoas de boa vontade que estão na políticapartidária exercendo cargos públicos eletivos, pois aconsecução e aprovação das Políticas Públicas passa por essaesfera.

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Cidadania

Os cristãos leigos e leigas devem estar presentes no vastomundo da política. Pode-se dizer que Cristo estará presentenesse meio se os cristãos lá estiverem.

Não são poucos os que se recusam a entrar na vida político--partidária por entenderem que não se pode mudar nada nodifícil jogo político. Para esses, vale a admoestação deEzequiel: “Eles não te ouvirão, porque esse povo tem cabeçadura. No entanto, saberão que por ali passou um profeta”

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Cidadania

Para a Doutrina Social da Igreja, “a política é uma forma exigente dese viver a caridade cristã, embora não seja a única”,60 e por isso oexercício do poder político deve se caracterizar por um serviçodesinteressado a todos, mas privilegiando os mais pobres.

Não menos importante do que a atuação político-partidáriaé a questão relativa à uma cidadania ativa.

É necessário ressaltar que as questões referentes a fé e a polí-tica não são as mesmas que entre Igreja e Estado. Quando Falamosde “fé”, estamos no nível das motivações profundas que movem ocristão leigo ou leiga a se inserir na “política”,

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Cidadania

Historicamente, a questão da cidadania em nosso país seapresenta problemática, pois as relações entre fé e políticaforam sempre entendidas na linha da relação entre Igreja eEstado, de modo que foi nesse nível institucional queocorreram os conflitos, sendo as soluções buscadas pelasautoridades que representavam essas duas instâncias.

São João Paulo II afirmou que “todos e cada um têm o direito eo dever de participar da política, embora em diversidade deformas, níveis, funções e responsabilidades”.

NOVO TESTAMENTO



Cidadania

“Na sua dimensão social e política, esta diaconia da caridade éprópria dos leigos, chamados a promover organicamente obem comum, a justiça e a configurar retamente a vida social.(Papa Bento XVI)

O Papa Francisco nos lembra que desenvolvemos a dimensãosocial de nossa vida quando nos configuramos como “cidadãosresponsáveis dentro de um povo, não como uma massaarrastada pelas forças dominantes”

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Bem Comum

O Bem comum é um dos princípios permanentes da DoutrinaSocial da Igreja, relacionado com outro fundamental, que é oda dignidade da pessoa humana. Qualquer Política Públicadeverá levá-lo em conta, privilegiando, no entanto, os maisvulneráveis da população, pois “a existência de milhões deempobrecidos é a negação radical da ordem democrática. Asituação em que vivem os pobres é critério para medir abondade, a justiça, a moralidade, enfim, a efetivação da ordemdemocrática. Os pobres são os juízes da vida democrática deuma nação”.

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Bem Comum

Hoje, infelizmente, observa-se “a perda de direitos econquistas sociais, resultado de uma economia que submete apolítica aos interesses do mercado”,82 enquanto ela deveriaestar submissa ao bem comum, o que tem aumentado onúmero de pessoas em situação de pobreza nos últimos anos.

Por causa do princípio da subsidiariedade, a Doutrina Socialda Igreja quer conclamar a todos os cristãos e pessoas de boavontade a não esperarem de braços cruzados pela ação doEstado no campo das Políticas Públicas,

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