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    NEGACIONISMO NO BRASIL: AS OBRAS DE S.E. CASTAN

    Elza Helena Loureno Gomes dos Santos*

    Resumo:

    Este artigo prope analisar o primeiro livro escrito por Siegfried Ellwanger Castan,autor e fundador da Editora Reviso. Esta editora no Brasil tem por objetivo divulgar edifundir materiais Negacionistas, que apresentam temas como a Segunda GuerraMundial , o extermnio judeu e o Nazismo, entre outros. Vale ressaltarmos que no setrata de uma discusso da memria, pois para isso, estes textos teriam que apresentarcertas exigncias de justificao, fato este que no ocorre.

    Palavras- Chaves: Negacionismo Editora Reviso S.E. Castan.

    Abstract:

    This article proposes the review of the first book written by Siegfried Ellwanger Castan,author and founder of Editora Reviso. The publisher in Brazil aims to disseminate andspread Negacionists materials, which have themes such as the Second World War,Nazism and the Jewish extermination, among others. Highlighting that this is not adiscussion of memory, because to do so, these texts would have to make certaindemands of justification, a fact that does not occur.

    Keywords: Negacionism Editora Reviso S.E. Castan.

    O Revisionismo Negacionista refere-se especificamente a uma variante, digamos,

    intelectual de movimentos de extrema-direita do ps-guerra. Este projeto, segundo

    Moraes incorpora: (1) a defesa e a reabilitao do nacional-socialismo, do III Reich em

    geral e de Hitler em particular, (2) a tentativa de provar a ausncia de culpa da

    Alemanha pela Segunda Guerra e (3) a banalizao, a justificao ou mesmo a negao

    da inexistncia dos campos de extermnio e do Holocausto nazista. (Moraes, 2004:757). Moraes ainda define que a autodenominao desta corrente como revisionista

    se refere tentativa de correo e de denncia da pretensa falsidade da historiografia

    e de outras narrativas sobre a Segunda Guerra Mundial ( 1939- 1945) e o III Reich

    escritas desde 1945 (Moraes, 2004: 757).

    O fenmeno do Revisionismo existe desde a dcada de 1940, tendo seus

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    *Discente de Graduao da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e bolsista de IniciaoCientfica pela Fundao Carlos Chagas Filho de Amparo Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro.primeiros porta-vozes nos Estados Unidos e na Frana. Progressivamente foi

    encontrando adeptos em vrios pases da Europa, Amrica Latina e Austrlia.

    O presente trabalho, que se encontra em fase inicial, parte integrante do projeto depesquisa Laboratrio de Evidncias: intelectuais de extrema-direita e a inveno do

    passado na negao do Holocausto, do Prof. Dr. Lus Edmundo de Souza Moraes. Esta

    pesquisa objetiva verificar de que forma e por que instrumentos, instituies e

    indivduos inscritos em um campo propriamente intelectual de organizao e

    instituies de extrema-direita produzem uma narrativa falsa sobre um tempo passado

    que se reivindica verdadeira.

    Este artigo tem por objetivo o de mapear as temticas trabalhadas no Brasil peloNegacionismo e sob os argumentos que os mesmos so propalados.

    O Negacionismo no Brasil representado pela Editora Reviso, fundada em 1980, Porto

    Alegre/R.S. Seu fundador foi Siegfried Ellwanger Castan, brasileiro, neto e bisneto de

    imigrantes alemes. Este se dedica a difundir teses segundo as quais o extermnio no

    teria sido mais do que uma farsa inventada pelo sionismo. O lema da Editora,

    destacado em quase todas as publicaes da mesma, : Conferindo e divulgando a

    Histria. Segundo Cruz, a Reviso j publicou at hoje um total de 20 livros, incluindo

    reedies de antigas obras de carter anti-semita, como por exemplo, O Plano Judaico

    de Dominao Mundial: Os Protocolos dos Sbios de Sio.

    As obras de Castan, assim como o de sua Editora, causaram apreenso no somente na

    comunidade judaica brasileira como tambm provocou uma discusso a respeito da

    liberdade de expresso, ou seja, se seria legtimo ou no divulgar idias de contedo

    racista.

    Cruz, em sua tese a respeito da Editora Reviso, descreveu momentos em que estes

    livros foram apreendidos pela polcia em feiras de livros em Porto Alegre, por liminar

    da Justia, sob a alegao de racismo, ocorrendo algumas reaes contrrias ao fato.

    Ressaltamos que, apesar deste acontecimento coincidir com o momento ps-

    democrtico que a sociedade brasileira vivia, aps um perodo de represso poltica, o

    que implicou na no permisso da livre circulao de opinies, idias, etc., ainda hoje

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    podemos ter acesso a tais obras e encontrar fruns de debates e apoios na internet sobre

    as questes levantadas pela Editora1.

    Ainda a respeito dos textos de Castan serem racistas ou no, o mesmo fora processado

    por diversas instncias da Justia Sulista, recorrendo at mesmo a um pedido de Hbeas

    Corpus ao Supremo Tribunal Federal, em 2003. Este manteve a condenao do editor

    S.E. Castan, entendendo que seus contedos faziam apologia ao racismo2.

    Acerca de um de seus livros,Holocausto Judeu ou Alemo? Nos Bastidores da Mentira

    do Sculo, este se constituir em nosso objeto de anlise, sendo tambm nossa fonte

    primria. Este livro, o primeiro de autoria de Castan, foi lanado em fevereiro de 1987,

    e versa sobre a histria da Segunda Guerra Mundial e, principalmente, questo da

    culpa alem pelo incio do conflito em 1939.

    Dentre seus objetivos especficos, Castan pontua querer oferecer um outro lado sobre as

    duas Guerras Mundiais e demonstrar que existe um plano em prtica de um grupo que

    se julga superior e que obtm vantagens materiais extrados de outros povos( Cf.

    Castan, 1989:11).

    Castan procura abranger vrios tpicos que se relacionassem com a histria do povo

    alemo e sua participao na Segunda Guerra. Entretanto, fica claro que a argumentao

    principal est em torno de uma conspirao internacional judaica contra os alemes.

    Uma das preocupaes centrais de Castan a de indicar que o cinema, jornais, televiso

    e Imprensa, so, em todo tempo, manipulados pela comunidade judaica, que

    trabalhavam (am) com afinco para difamar a Alemanha atravs destes meios de

    comunicao. S.E. Castan ainda se apropria de textos de Ea de Queiroz, quando

    diplomata em Londres, e de Henry Ford, em 1920, que descreveriam a forte influncia

    judaica na Alemanha e de como isso era perigoso.

    O clmax do livro se encontra nos temas referentes Segunda Guerra Mundial e a

    ascenso do nazismo.Neste livro, ressaltando novamente que fora publicado no Brasil, Castan faz meno

    extrema importncia do surgimento e ascenso do Partido Nacional Socialista dos

    Trabalhadores Alemes para a revivificao da Alemanha aps a Primeira Guerra e,

    especialmente, aps o Tratado de Versalhes: Aps a maior espoliao de todo o sculo

    1Sobre tal debate, interessante ver o texto de Adriana Dias: Links do dio: o racismo, o revisionismo e o

    neonazismo na internet.http://www.aguaforte.com/osurbanitas4/AdrianaDias2006.html. ltimo acesso:15/ 05/ 2008.2Informaes sobre o processo se encontram disponveis no sitedo S.T.F.: http://www.stf.gov.br

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    (...) tinha sido armado o palco para o surgimento de um movimento nacionalista

    alemo (Castan, 1989: 38).

    Outro ponto de destaque no livro de como o autor afirma que o genocdio praticado

    durante a Segunda Guerra teria sido uma inveno dos Aliados, judeus e sionistas e que

    Hitler, em todo o tempo, teria evitado a guerra ao mximo. Tal tpico discutido por

    ele emHitler e o Extermnio, apontando como prova um discurso pronunciado por ele,

    em 30 de Janeiro de 1939 (Castan ,1989: 148). Compe seu discurso tambm alegar

    que foi a Alemanha quem teria sido vtima de extermnio, e no os judeus. Ele se baseia

    em fotografias de bombardeios de cidades e civis alemes pelos Aliados. Assim, o autor

    acredita ter encontrado o porqu a suposta inveno do extermnio: o de desviar a

    ateno do mundo em relao ao que supe ser a real catstrofe, os bombardeios contra

    os alemes (Castan, 1989: 235-266).

    Sobre os mtodos utilizados pela Editora, os textos negacionistas tentam adotar um

    discurso cientificista. Sobre as fontes relativas Segunda Guerra, a Editora critica o uso

    desmedido das fontes oficiais, alertando para o fato de que estas devem ser lidas

    criticamente por terem sido produzidas pelos pases que venceram a guerra.

    Cruz, a respeito de um dos mtodos utilizados pela Reviso, destaca a Sub-Interpretao

    dos textos. Castan sugere a leitura literal das fontes: dessa forma, temos o seguinte

    raciocnio: tratamento especial significa tratamento especial, e no haveria o que

    discutir. (CRUZ, 1997: 183). A formao de seus textos ainda conta com a

    manipulao de documentos verdadeiros com citaes falseadas ou parciais, mudando

    o sentido original para que se encaixe na cadeia argumentativa. (MORAES, 2004:

    759).

    Milman a respeito da argumentao caracterstica utilizada pelos negacionistas, ainda

    pontua a seguinte questo: Testemunhos dos sobreviventes, documentos e fatos

    incontroversos sobre a sua planificao ou execuo so simplesmente denunciadoscom invenes do sionismo internacional e dos governos que ele supostamente

    controla. ( MILMAN, 2000: 139)

    Enfim, as concluses chegadas at o presente momento so: que os negacionistas

    ocupam o lugar de fornecedores de dados com o objetivo de superar o peso social e

    poltico negativo dos crimes nazistas, buscando assim dissolver as barreiras sociais

    expanso organizativa do neonazismo.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:

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    CASTAN, S.E. Holocausto Judeu ou Alemo? Nos bastidores da mentira do sculo. Porto

    Alegre: Reviso, 1989.

    CRUZ, Natlia dos Reis. Negando a Histria: A Editora Reviso e o Neonazismo. Niteri:

    Universidade Federal Fluminense, 1997. Diss. de Mestrado.

    KRAUSE-VILMAR, Dietfried. A Negao dos assassinatos em massa do nacional-socialismo:

    desafios para a cincia e para a educao poltica. In: MILMAN, Luis. VIZENTINI, Paulo

    Fagundes (orgs.)Neonazismo, Negacionismo e Extremismo Poltico. Porto Alegre: Ed. UFRGS,

    2000.

    MILMAN, Luis. Negacionismo: Gnese e desenvolvimento do extermnio conceitual In:

    MILMAN, Luis. VIZENTINI, Paulo Fagundes (orgs.) Neonazismo, Negacionismo e

    Extremismo Poltico. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2000.

    MORAES, Lus Edmundo de Souza. O Revisionismo Negacionista In: SANTOS, Ricardo

    Pinto dos (org.) Enciclopdias de Guerras e Revolues do sculo XX. Rio de Janeiro: Elsevier,

    2004.

    POLLACK, Michel. Memria, Esquecimento, Silncio. In: Estudos Histricos, vol. 2, n 3,

    1989.