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Ano XI - Edição 123 - Fevereiro 2018 Distribuição Gratuita Samba, axé, batuque e frevo... A alegria é geral Não existe uma certeza histórica sobre a origem do carnaval, porque, inicialmen- te, os egípcios, os romanos, os gregos e até mesmo os hebreus faziam várias festas pagãs, já que esses povos eram politeístas. O objetivo dessas festas era celebrar as colheitas, agradecer e louvar as divindades e os ancestrais, depen- dendo da religião. Mas tudo isso mudou com o fim da Idade Antiga e início da Idade Média. A Igreja Católica decidiu incorporar essas festas pagãs que marca- vam os últimos dias de liberdade, quando as pessoas podiam extrapolar, antes do início da quaresma. Foi assim que surgiu a prática de comemorar os últimos dias antes da quares- ma, batizada como carnaval. A festa pagã se tornou um símbolo para os religio- sos e, a partir disso, foi ganhando forma. No Brasil, o carnaval surgiu no século 17 e é um dos mais puros representantes da cultura nacional. As primeiras festas carnavalescas brasileiras iniciaram-se no século 17, mas somente no século 20 as alegorias invadiram as ruas do Rio de Ja- neiro. A partir disso, o carnaval se tornou um símbolo nacional, não que todo o Brasil seja caracterizado apenas por ele, mas é uma das festas que caracterizam a identidade da cultura brasileira e é uma das coisas que nos diferenciam do restante dos povos pelo mundo. Então, mesmo não tendo nascido no Brasil, na contemporaneidade, ele é muito associado ao nosso país. Por ser um país de dimensões continentais, cada região do Brasil assumiu um carnaval com características diferentes. Seja nos ritmos, seja nas apresentações. Em algumas regiões, vemos as marchinhas, desfiles de alegorias, blocos de rua, trios elétricos, cada um tem a sua peculiaridade. Todos juntos, no entanto, formam a grandiosa festa que é celebrada todos os anos. Cada região, cada estado e cada cidade tem um detalhe dife- rente, uma tradição e, mais recentemente, uma produção específica, geralmente baseada nas influências que tiveram no período da colonização. Em comum, as festas têm a animação Os principais polos do carnaval no Brasil são Salvador, Rio de Janeiro e Recife. Cada um é diferente do outro, mas todos esbanjam alegria para seus foliões. Identidade própria Toda grande nação tem a sua i- dentidade própria, que foi formada através dos séculos ou milênios. A identidade nacional é um conceito que tenta unificar critérios de iden- tificação e pertencimento comuns entre os cidadãos do país em questão. Uma língua comum, um passado em comum, os gêneros musicais, as tradições religiosas e a gastronomia são exemplos de pontos em comum que demonstra a identidade em comum de um po- vo. Página 7 Homo sapiens deixaram a África muito antes do que se pensava Fóssil encontrado em caverna de Israel tem entre 177 mil e 194 mil anos e indica que migração huma- na para fora do continente africano ocorreu ao menos 50 mil anos an- tes do estimado. Um fóssil encontrado numa caver- na de Israel indica que os Homo sapiens deixaram a África cerca de 50 mil anos antes do que se pensava, Página 8 REDAÇÃO DE ESTUDANTE CARIOCA QUE ACABA DE VENCER CONCURSO DA UNESCO COM 50.000 PARTICIPANTES Tema: “Como vencer a pobreza e a desigualdade” Autora: Clarice Zeitel Vianna Silva “PÁTRIA MADRASTA VIL" Onde já se viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência... Exagero de escassez... Contraditórios? Página 13 CULTURAonline BRASIL - Boa música Brasileira - Cultura - Educação - Cidadania - Sustentabilidade Social Agora também no seu Baixe o aplicativo IOS NO SITE www.culturaonlinebr.org A única possibilidade de nos eternizamos nessa frágil vida, é plantando boas sementes. É a melhor herança que deixamos! SEJA ENGRENAGEM Não se torne uma pessoa frustrada quando algo não der certo. Busque respostas para fazer acontecer o que pretendia. Somos uma engrenagem e quando nos deixamos levar pelo inconformismo e paramos a engrenagem não anda. Juntos fazemos a roda girar, se você quiser seguir sozinho e parando, ficará para trás. Não seja conformado, seja descontente para que surjam novas ideias, reinvente-se, fa- ça acontecer, transforme. Leia mais: Página 3 A intolerância ao diverso A diversidade é causa de intolerân- cia e preconceito. Aceitar o diverso é complicado para a maioria das pesso- as, as diferenças culturais ou raciais por exem- plo, excluem e não reconhecem o outro. Leia mais: Página 4 Sentados em uma lanchonete conver- sávamos tranquila- mente sobre diver- sos assuntos e eis que chega a oposi- tora de opiniões, que rejeita qualquer um que possa divergir de- la. Filomena, Filomena dos Santos! Senta-se à mesa, crente que está abafando, ou melhor, agradando... Leia mais: Página 6 AJUDE-NOS a manter estes projetos de educação (Rádio e Jornal)- www.gazetavaleparaibana.com/apoiadores.htm

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Ano XI - Edição 123 - Fevereiro 2018 Distribuição Gratuita

Samba, axé, batuque e frevo... A alegria é geral

Não existe uma certeza histórica sobre a origem do carnaval, porque, inicialmen-te, os egípcios, os romanos, os gregos e até mesmo os hebreus faziam várias festas pagãs, já que esses povos eram politeístas. O objetivo dessas festas era celebrar as colheitas, agradecer e louvar as divindades e os ancestrais, depen-dendo da religião. Mas tudo isso mudou com o fim da Idade Antiga e início da Idade Média. A Igreja Católica decidiu incorporar essas festas pagãs que marca-vam os últimos dias de liberdade, quando as pessoas podiam extrapolar, antes do início da quaresma.

Foi assim que surgiu a prática de comemorar os últimos dias antes da quares-ma, batizada como carnaval. A festa pagã se tornou um símbolo para os religio-sos e, a partir disso, foi ganhando forma. No Brasil, o carnaval surgiu no século

17 e é um dos mais puros representantes da cultura nacional.

As primeiras festas carnavalescas brasileiras iniciaram-se no século 17, mas somente no século 20 as alegorias invadiram as ruas do Rio de Ja-neiro. A partir disso, o carnaval se tornou um símbolo nacional, não que todo o Brasil seja caracterizado apenas por ele, mas é uma das festas que caracterizam a identidade da cultura brasileira e é uma das coisas que nos diferenciam do restante dos povos pelo mundo. Então, mesmo não tendo nascido no Brasil, na contemporaneidade, ele é muito associado ao nosso país.

Por ser um país de dimensões continentais, cada região do Brasil assumiu um carnaval com características diferentes. Seja nos ritmos, seja nas apresentações. Em algumas regiões, vemos as marchinhas, desfiles de alegorias, blocos de rua, trios elétricos, cada um tem a sua peculiaridade. Todos juntos, no entanto, formam a grandiosa festa que é celebrada todos os anos. Cada região, cada estado e cada cidade tem um detalhe dife-rente, uma tradição e, mais recentemente, uma produção específica, geralmente baseada nas influências que tiveram no período da colonização. Em comum, as festas têm a animação

Os principais polos do carnaval no Brasil são Salvador, Rio de Janeiro e Recife. Cada um é diferente do outro, mas todos esbanjam alegria para seus foliões.

Identidade própria

Toda grande nação tem a sua i-dentidade própria, que foi formada através dos séculos ou milênios. A identidade nacional é um conceito que tenta unificar critérios de iden-tificação e pertencimento comuns entre os cidadãos do país em questão. Uma língua comum, um passado em comum, os gêneros musicais, as tradições religiosas e a gastronomia são exemplos de pontos em comum que demonstra a identidade em comum de um po-vo.

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Homo sapiens deixaram a África muito antes do que

se pensava

Fóssil encontrado em caverna de Israel tem entre 177 mil e 194 mil anos e indica que migração huma-na para fora do continente africano ocorreu ao menos 50 mil anos an-tes do estimado. Um fóssil encontrado numa caver-na de Israel indica que os Homo sapiens deixaram a África cerca de 50 mil anos antes do que se pensava,

Página 8

REDAÇÃO DE ESTUDANTE CARIOCA QUE ACABA DE VENCER CONCURSO DA

UNESCO COM 50.000 PARTICIPANTES

Tema: “Como vencer a pobreza e a desigualdade”

Autora: Clarice Zeitel Vianna Silva

“PÁTRIA MADRASTA VIL"

Onde já se viu tanto excesso de falta?

Abundância de inexistência...

Exagero de escassez...

Contraditórios?

Página 13

CULTURAonline BRASIL - Boa música Brasileira - Cultura - Educação - Cidadania - Sustentabilidade Social

Agora também no seu

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A única possibilidade de nos eternizamos nessa frágil vida, é plantando boas sementes. É a melhor herança que deixamos!

SEJA ENGRENAGEM

Não se torne uma pessoa frustrada quando algo não der certo. Busque respostas para fazer acontecer o que pretendia. Somos uma engrenagem e quando nos deixamos levar pelo inconformismo e paramos a engrenagem não anda. Juntos fazemos a roda girar, se você quiser seguir sozinho e parando, ficará para trás. Não seja conformado, seja descontente para que surjam novas ideias, reinvente-se, fa-ça acontecer, transforme.

Leia mais: Página 3

A intolerância ao diverso

A diversidade é causa de intolerân-cia e preconceito. Aceitar o diverso é complicado para a maioria das pesso-

as, as diferenças culturais ou raciais por exem-plo, excluem e não reconhecem o outro.

Leia mais: Página 4

Sentados em uma lanchonete conver-sávamos tranquila-mente sobre diver-sos assuntos e eis que chega a oposi-tora de opiniões,

que rejeita qualquer um que possa divergir de-la. Filomena, Filomena dos Santos! Senta-se à mesa, crente que está abafando, ou melhor, agradando...

Leia mais: Página 6

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Fevereiro 2018 Gazeta Valeparaibana Página 2

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DENTRO DE MIM

Debruçado na amurada de meu navio, vejo a brancura das águas revoltas a rondar os abismos da popa. Estendo meu olhar e sigo a esteira de espumas, o rastro que se afasta do navio até des-manchar-se junto ao céu deitado sobre o mar, no horizonte, à beira do infinito.

Ao contrário do ilusório movimento das águas, é o navio que se movimenta, tal qual eu me movo a navegar no tempo que permanece parado enquanto eu passo. Todos nós passamos.

No movimento de minha vida o tempo vivido aparenta seguir para trás, o chão parece andar de-baixo do meu corpo, e os cenários à minha frente ilusoriamente vêm em minha direção. Passado, presente e futuro são momentos imaginários do tempo que, em verdade, permanece inerte e es-tático, e se limita, imóvel, a contemplar a breve viagem de minha vida, fitando-me com seus olhos postados em três dimensões. Os olhos parados, do tempo, observam minhas contínuas aproxi-mações ao futuro, assistem às minhas chegadas fugidias ao presente, e, finalmente, descortinam as imagens de meus distanciamentos do passado.

Às vezes, meus pensamentos entram em conflito, e contrapõem certezas e dúvidas em minha mente.

Por isso, já cheguei a acreditar que carrego o tempo comigo, como na verdade/mentira de Carlos Drummond de Andrade, em verso sobre a transposição dos Anos:

“É dentro de você

que o Ano Novo

cochila e espera,

desde sempre”.

Não aguento suportar sobre meus ombros o peso de tão grave responsabilidade. Rejeito carregar em meu restrito e frágil peito a ampla dimensão de cada misterioso, imprevisível e incerto Ano Novo, pronto para despertar de seus cochilos e esperas, num berço invadido dentro de mim.

Já tentei, é verdade, mudar o mundo e, segundo minha ingênua crença, para melhor. Mas, o mundo não melhorou, e eu certamente piorei, não apenas por ter sido impotente quando me dis-pus a mudá-lo, mas, também, pela degeneração natural de meus atributos mentais, morais e inte-lectuais.

Não. Não me converti à devassidão, à vadiagem ideológica, à doutrinação dos diabos, nem ao ócio, paterno de todos os vícios. Apenas cansei de tentar promover mudanças que nem mesmo o Criador anima-se a realizar, salvo quando cada um resolve enfrentar a difícil tarefa de mudar-se a si mesmo, e nesse caso, a ajuda deve ser negociada nas intimidades espirituais.

Os votos de um bom Ano Novo, proferidos pelo coração dos seres, ou apenas ditos da boca pra fora, quase sempre têm como tema a satisfação de necessidades ou conveniências individuais, como na estrofe da musiquinha onde desponta a importância de haver “muito dinheiro no bolso, saúde pra dar... e vender(!)”.

Amor, paz, saúde, felicidade, prosperidade, sucesso, riqueza, e outras tantas coisas, podem estar ali, no pulo sobre as ondas, nas preces contritas, na porção de lentilhas, na explosão dos rojões, nos nacos de suínos que fuçam pra frente, nada de peru que cisca pra trás, e em tudo quanto a fé, a tradição, a superstição, ou as manias levam nas asas das esperanças que ainda não morre-ram.

Mas esses votos ou intenções endereçados, ou recebidos, não podem resumir-se num palavrório rotineiro diante do próximo calendário, com um sentido individualista, muitas vezes egoísta e ego-cêntrico.

O verdadeiro ano novo pode, sim, iniciar-se num dia qualquer, de qualquer mês, ontem, agora, amanhã, ou sei lá quando, desde que, em cada minuto, que pode ser fatal, eu desperte um sadio Ano Novo adormecido, que cochila e espera, desde sempre, dentro de mim.

Vicente Cascione

Elefante branco

A expressão vem de um costume do an-

tigo reino de Sião, situado na atual Tai-

lândia, que consistia no gesto do rei de

dar um elefante branco aos cortesões

que caíam em desgraça. Sendo um ani-

mal sagrado, não podia ser posto a tra-

balhar. Como presente do próprio rei,

não podia ser vendido. Matá-lo, então,

nem pensar. Não podendo também ser

recusado, restava ao infeliz agraciado

alimentá-lo, acomodá-lo e criá-lo com

luxo, sem nada obter de todos esses cui-

dados e despesas. Daí o ditado significar

algo que se tem ou que se construiu,

mas que não serva para nada.

Comer com os olhos

Soberanos da África Ocidental não con-

sentiam testemunhas às suas refeições.

Comiam sozinhos. Na Roma Antiga, uma

cerimônia religiosa fúnebre consistia

num banquete oferecido aos deuses em

que ninguém tocava na comida. Apenas

olhavam, “comendo com os olhos”. A

propósito, o pesquisador Câmara Cascu-

do diz que certos olhares absorvem a

substância vital dos alimentos. Hoje o

ditado significa apreciar de longe, sem

tocar.

Amigo da onça

Segundo estudiosos da língua portugue-

sa, este termo surgiu a partir de uma his-

tória curiosa. Conta-se que um caçador

mentiroso, ao ser surpreendido, sem ar-

mas, por uma onça, deu um grito tão for-

te que o animal fugiu apavorado. Como

quem o ouvia não acreditou, dizendo

que , se assim fosse, ele teria sido devo-

rado, o caçador, indignado, perguntou

se, afinal, o interlocutor era seu amigo ou

amigo da onça. Atualmente, o ditado sig-

nifica amigo falso, hipócrita.

Editorial

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Fevereiro 2018 Gazeta Valeparaibana Página 3

SEJA ENGRENAGEM

Não se torne uma pessoa frustrada quando algo não der certo. Busque respostas para fazer acontecer o que pretendia. Somos uma engrenagem e quando nos deixamos levar pelo in-conformismo e paramos a engrenagem não anda. Juntos fazemos a roda girar, se você qui-ser seguir sozinho e parando, ficará para trás.

Não seja conformado, seja descontente para que surjam novas ideias, reinvente-se, faça a-contecer, transforme. Busque causas para ampliar sua sabedoria e se expor ao mundo, para-do você não sairá do lugar ou ficará a espera de alguém que faça por você e, não se confor-mará com o sucesso dos outros e sentirá a insignificância da inveja.

Jogue-se no futuro, resolva problemas, saia do lado romântico, potencialize seu lado emocio-nal com a razão. Essa é a arte de fazer a vida funcionar por você mesmo. Questione os dog-mas.

Quando fizer o que gosta, se entregue por inteiro a isso: sem horários e nem bloqueie a qua-lidade do que irá fazer, dependa somente da sua caminhada, se entregue por excelência no que fizer e não pare nos pontos negativos que por ventura surgirem.

Mesmo que contente, nunca se satisfaça, pois vencer é estratégia e se fizer sempre um pou-co mais, se for cem por cento no que realizar, tornar-se-á sua melhor versão e com poder de transformação. Não tenha sempre uma única opção, não siga regras, faça descobertas e o que for correto, mas descubra o que é o melhor e prossiga para o próximo nível.

No mundo, não somos uma família e sim um time que quer ganhar e para isso estratégias serão usadas para se defender e sem ninguém para te proteger; idade não tem que ser o li-mite para realizações, apenas sua vontade.

Seu sucesso não dependerá apenas do seu dom, talento ou genialidade, mas muito do seu autoconhecimento para praticar com vontade quase obsessiva o que pretender conquistar. Tudo dependerá do quanto você se dedicar para tornar-se extremamente bom no que fizer. Desenvolva seu potencial através da prática diária e incansável e não pelo imediatismo; em longo prazo conquistará o que almeja. Veja pelos gênios, através dos tempos, que mesmo com dom e talento custou muito tempo para se consagrarem.

Nós não precisamos ser consagrados, mas estamos aqui para realizar algo de bom, contribu-ir para melhorar o que pudermos através de nossas habilidades.

Não seja profissional apenas de formação, e sim do que sabe fazer e bem. Mude sempre, pois atualmente, não basta ser, temos que “estar” e saber construir um caminho próprio.

Escolha o que fazer com seu coração e siga de mãos dadas com a razão nas tuas jornadas, seja incansável, mas feliz...

Somos ansiosos, sobrecarregados de informações e acontecimentos a cada minuto e isso tem invadido nossos pensamentos potencializando nosso dia a dia com intercorrências que nem nos pertencem e, para impedir isso e não perder o foco e metas não devemos concreti-zar nossos pensamentos com essas invasões. Nada é fácil com essa enxurrada de negativi-dades que está à nossa volta que nos impede de seguir sem os julgamentos que fazemos e sofremos diariamente.

Coloque à frente dos pensamentos ou de pessoas negativas toda força do seu propósito para manter a calma e manter a harmonia. Esse é um desafio mais do que necessário enfrentar, pois nossos pensamentos não param e, precisaremos criar hábitos que nos acalmem antes que a velocidade dos tempos nos impeça de nos transformar em pessoas melhores e assim contribuir com nossa “melhor versão” para um mundo melhor.

Não fomos educados para lidar com as incertezas e hoje as coisas que não esperávamos a-contecem em grande velocidade e sem o tempo daquela versão em que fomos criados e fa-cilmente nos desestabilizamos sem saber o que fazer, assim como o tsunami que quando vem, apenas saber nadar não irá adiantar, mas se tivermos preparo e treino para nos agarrar naquilo que pode nos salvar teremos chance e, nessas situações é que podemos nos ajudar e juntos fazer a engrenagem continuar a rodar.

Ter metas e planos faz toda diferença, mostra que você tomou alguma iniciativa, e isso servi-rá para se organizar na vida. Escolher uma direção sem ter um plano te levará a qualquer ca-minho, até mesmo para aquele que não te servirá pra nada e, seguir com planos é bem mais certo do que seguir apenas com esperança.

Mesmo que no caminhar levar um susto, aconteça o que acontecer, com propósitos firmes, agirá e reagirá encaixando tudo nos seus planos como quem aprendeu e treinou para enfren-tar o tsunami.

Se mesmo assim perder algo, é porque aquilo era pra acabar, não fique pensando. Vire a pá-gina!

Genha Auga Jornalista MTB: 15.320

Calendário

Algumas datas

02 - Dia de Iemanjá 04 - Dia do Amigo do Facebook 13 - Dia Mundial do Rádio 13 - Carnaval 14 - Quarta-Feira de Cinzas 19 - Término do Horário de Verão 20 - Dia Mundial da Justiça Social 21 - Dia Internacional da Língua Materna 24 - Promulgação Primeira Constituição Republicana 25 - Criação do Ministério das Comunicações

Ver mais sobre na Página 12

Mas nós dançamos no silencio, Choramos no carnaval,

Não vemos graça nas gracinhas da TV Morremos de rir no horário eleitoral...

Engenheiros do Hawaii

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Crônica do mês

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Fevereiro 2018 Gazeta Valeparaibana Página 4

A intolerância ao diverso

A diversidade é causa de intolerância e pre-conceito. Aceitar o diverso é complicado para a maioria das pessoas, as diferenças culturais ou raciais por exemplo, excluem e não reco-nhecem o outro. Aceitar as diferenças no mesmo espaço de convivência nos remete ao reconhecimento de que essas diferenças exis-tem.

Os valores de cada pessoa já estão estabele-cidos em suas crenças, naquilo em que se acredita. Percebemos e atribuímos um valor a algo, e, ao fazer isso, imprimimos um signifi-cado para aquilo, e nossa conduta já está es-tabelecida. É necessário fazer um esforço pa-ra que isso não ocorra. A discriminação do outro se dá pela ignorância de não sabermos aceitar o diferente, a verdade absoluta sobre o outro não pode ser apreendida. Se reconhe-cermos que a diversidade humana existe, a-cabamos com a violência e a intolerância. Is-so é algo tão óbvio, somos diferentes, mas iguais em um ponto, que é , sermos humanos. Como diz L. Boff: O ponto de vista é a vista a partir de um ponto.

O preconceito está ligado ao que sentimos. A diferença é sentida e percebida por cada um de uma maneira. Tentar racionalizar com con-ceitos pré-estabelecidos não nos leva ao re-conhecimento do valor do outro. É preciso sentir afetivamente. As sociedades estão en-quadradas em formatos culturais sobre a qual foram construídas, que envolvem preconceito e discriminação.

. Somos bilhões de pessoas habitando esse planeta, cada qual com suas características, com suas peculiaridades, físicas, genéticas,

culturais, identitárias. A diversidade faz parte da nossa natureza, então como podemos di-zer o que é normal? Como podemos em no-me da “normalidade” classificar pessoas, en-quadrá-las em algum tipo de conceito ou perfil que achamos ser o ideal. Repito: Somos dife-rentes, cada qual com seus sonhos, quereres, gostos, amores, cada qual com sua vida, suas crenças. Devemos entender que somos to-dos iguais em direitos, mas diferentes na nos-sa essência, diferentes como seres humanos que somos. Quando destoamos do que a mai-oria considera como normal, nos sentimos fra-gilizados e nos tornamos um alvo fácil para pessoas preconceituosas, nos tornando víti-mas daqueles que se arvoram o direito de jul-gar e condenar. Quem faz isso é aquele que compara.

Quando fazemos comparações estamos valo-rizando a diferença. E essa comparação vem carregada de poder sobre o outro. Somos di-ferentes, apenas isso, coexistimos na diversi-dade. Ser igual ou não ser igual, não deveria ser aplicado a pessoas. Tentamos nos res-guardar contra o diverso, porque aquilo que foge ao padrão que consideramos correto, nos causa medo.

Na diversidade reside o respeito a você mes-mo e ao outro. Os Direitos Humanos são prin-cípios que servem para garantir nossa liberda-de e nossa dignidade. O respeito ao ser hu-mano e ao diverso é fundamental para termos uma sociedade com igualdade para todos. O diverso acrescenta, enriquece, é uma troca benéfica para todo mundo. Temos que estar atentos ao que converte as diferenças em de-sigualdades, e cobrar ações e políticas públi-cas de combate a discriminação de qualquer tipo, e de combate a violência causada pela intolerância.

No Brasil predomina um pluralismo étnico i-menso, o país é marcado pela diversidade, alguns poderiam achar que o preconceito e a intolerância deveriam ser menores, mas não é assim. A diversidade não é um privilégio nos-so. Está presente no mundo todo, faz parte de sermos humanos A intolerância reproduz a violência, e essa violência resulta da nossa incapacidade para lidar com o que é diferente. A intolerância em si já é um preconceito. Te-

mos direito a ser o que somos. Trazer o diver-so para a luz do direito nos faz aprimorar a nossa capacidade de compreensão enquanto sociedade, tem o potencial de nos tornar me-nos bairristas e mais tolerantes.É preciso pra-ticar a alteridade,e para isso temos mesmo é que nos colocarmos no lugar do outro. Cofor-me a Carta da Terra, é responsabilidade uni-versal Promover uma cultura de tolerância, não violência e paz, e também “ assegurar que as comunidades em todos níveis garan-tam os direitos humanos e as liberdades fun-damentais e proporcionem a cada um a opor-tunidade de realizar seu pleno potencial”.

Para que a paz possa existir, todos devem se sentir parte da sociedade, devem se sentir in-seridos nela, sem preconceitos e sem discri-minação.

Estamos cada vez mais centrados em nós mesmos, sem percebermos que nossas a-ções são determinadas nas relações com os outros. Só nos completamos nessa relação com o outro. O conflito acaba ocorrendo na medida em que me distancio do outro, achan-do que me basto sozinho. Os conflitos sociais são maiores a medida que ocorre menos alte-ridade nas relações sociais. Através da alteri-dade conseguimos construir uma relação com os diferentes e conseguimos aprender com o contrário, isso é fundamental para evitarmos muitos conflitos. É necessário esse olhar so-bre o outro, nos colocar no lugar do outro, dia-logar.

Esse é o desafio. Pararmos de nos preocupar apenas com nós mesmos. Pensarmos em fa-zer ao outro o que gostaríamos que fizessem a nós, por nós. Para sobreviver é preciso a-ceitar as mudanças. Para continuarmos a e-voluir como seres humanos inseridos em uma sociedade que ainda deixa a desejar quanto aos direitos básicos do homem, temos que continuar insistindo e lutando por um mundo mais justo, com mais dignidade e igualdade de oportunidade a todos. É como diz Albert Camus: “Se o homem falhar em conciliar a justiça e a liberdade, então falha em tudo”.

Mariene Hildebrando e-mail: [email protected]

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Direitos Humanos

A Liberdade e a Justiça

A revolução do século XX separou arbitrariamente, para fins desmesurados de conquista, duas noções inseparáveis. A liberdade absoluta mete a justiça a ridículo. A justiça absoluta nega a liberdade. Para serem fecundas, as duas noções devem descobrir os seus limites uma

dentro da outra. Nenhum homem considera livre a sua condição se ela não for ao mesmo tempo justa, nem justa se não for livre. Precisamen-te, não pode conceber-se a liberdade sem o poder de clarificar o justo e o injusto, de reivindicar todo o ser em nome de uma parcela de ser

que se recusa a extinguir-se. Finalmente, tem de haver uma justiça, embora bem diferente, para se restaurar a liberdade, único valor impere-cível da história. Os homens só morrem bem quando o fizeram pela liberdade: pois, nessa altura, não acreditavam que morressem por

completo.

Albert Camus, in "O Mito de Sísifo"

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Fevereiro 2018 Gazeta Valeparaibana Página 5

A batalha na política A guerra é política. A guerra é a continuação da política por meios da imposição via força bruta. Citando um especialista em guerras, o chinês Sun Tzu, “a suprema arte da guerra é subjugar o inimigo sem lutar”, “se você conhece o inimigo e a si mesmo, você não precisa temer o resultado de cem batalhas”, “somente quando você conhece todos os detalhes da condição do terreno que você pode manobrar e lutar”, “a oportunidade de assegurar contra a derrota está nas nossas próprias mãos, mas a oportunidade de derrotar o inimigo é fornecida pela mesma”.

Na política do regime oficialmente tido como democrático, a guerra não é com armas de fogo e nem com armas brancas, e não se recorre a violência física, a golpes. Nesse tipo de situação, as batalhas são entre ideias diferentes e opostas, entre valores diferentes, entre conceitos de “certo e errado” diferentes e até antagônicos. O poder da boa argumentação, de convencer o público de que a proposta defendida é a preferível, é o que faz vencer as batalhas na democracia.

Parece que o eleitorado mundial está guinando para a Direita, nas Américas principalmente. É perceptível um sentimento de decepção com a Esquerda no ar. Referente ao nosso Brasil, em linguagem figurada, a condição do “terreno” é amplamente favorável à Direita, e desfavorável à Esquerda. E sempre foi assim. Afinal, onde a Esquerda tem errado e onde ainda erra?

Antes de seguir, há erros que não são exclusivos da Esquerda. Há erros que são comuns a Direita, ao Centro e à Esquerda no Brasil. Há erros que são costumes, hábitos, são culturais. Um desses erros é a atitude de querer resolver problemas fazendo leis e mais leis. No Brasil, se faz tantas, mas tantas leis que algumas elas até se contradizem e se anulam umas às outras. Há pessoas em posição de poder que não sabem lidar com certos problemas e não têm paciência para procurar uma solução realmente inteligente, e daí fazem uma lei proibindo algo ou obrigando algo referente ao problema. Há muitas leis que a população não introjeta. Esse método de querer resolver problemas criando leis uma atrás da outra é autoritarismo. Para se conseguir que a população concorde, por exemplo, com os direitos humanos e discorde da pena de morte, que tenha consciência cívica, que a classe média apoie programas de governo de transferência de renda para os mais pobres como o Bolsa Família, é necessário um persistente trabalho de conscientização, com muita paciência, “a conta-gotas”, boas argumentações frequentes, estudos bem-

feitos sobre os problemas, suas causas e como aplicar soluções, e não recorrer ao “quem pode mais, chora menos” ou ao “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. E esse tipo de trabalho de conscientização tende a levar décadas.

Outra recomendação à muita gente de ideologia de Esquerda, principalmente os mais exaltados, aos extremistas, povo não é só o proletariado e os camponeses, não é só os trabalhadores assalariados, o burguês industrial, o empresário, o banqueiro, também são partes integrantes do povo. Não funciona desconsiderá-los como parte do povo e se recusar a entender o lado dos ricos. Não concordar com eles, é uma coisa. Mas demonizá-los furiosamente dentro das casas legislativas e publicamente, é outra coisa. Outro ponto, alguns mandatários esquerdistas insistem em se expressar furiosamente, raivosamente, a berrar na tribuna do Parlamento e diante das câmeras de televisão. Parece que esses representantes da classe menos favorecida da sociedade querem extravasar as mágoas, os ressentimentos, os rancores. É verdade que o Lulinha paz e amor tomou muita porrada depois, mas foi o discurso de paz e amor dele que convenceu a maioria do eleitorado a lhe dar uma oportunidade em 2002. Antes, o discurso de braveza dele assustava a maioria. Ao menos ele reconhece que não pode ser mais radical. Bom para ele! Não significa que a Esquerda tem que apertar a mão da Direita ou do Centro. Nada disso! Pegou mal o Lula apertar a mão do Maluf. Mas a Esquerda tem a necessidade de esfriar a cabeça e o sangue, acalmar os ânimos. Seguir o exemplo de “fogo e fúria” do Trump não vai funcionar em favor da Esquerda brasileira.

No Brasil, nos últimos anos, muita gente bradou “a nossa bandeira jamais será vermelha”. O que isso significa? Significa que, no imaginário popular, principalmente no pessoal da classe média, ainda paira a “ameaça comunista soviética”, propaganda muito bem-feita durante o Regime Militar, que não deixa de dar prejuízos para a Esquerda. As coisas ficariam menos difíceis para a Esquerda se esta parasse de usar a cor vermelha, estrela e principalmente foice e martelo como símbolo. Por questões psicológicas, o público brasileiro não aceita.

No mundo há uma diversidade de religiões. Mas no contexto do Brasil, a religião mais poderosa é o Cristianismo, tanto o Católico Romano quanto o Evangélico. A religião, através da história, tem tido enorme influência na vida das diversas sociedades, em seu modo de pensar e de agir. O poder de manipulação das massas da religião

institucional é maior ainda e mais forte que o da mídia. É verdade que as instituições religiosas buscam cada vez mais poder sobre a sociedade civil, que promovem inação e o tribalismo, mas o “terreno” no Brasil é muito mais favorável à fé religiosa cristã do que à ideologia política de esquerda. Uma vez aconteceu um atentado terrorista envolvendo fundamentalistas muçulmanos, lá na França, e um deputado esquerdista aqui aproveitou a oportunidade para criticar os evangélicos no Brasil, os fundamentalistas daqui. A maioria dos brasileiros não aceita críticas contra a Bíblia e contra os princípios do Cristianismo. O deputado em questão desfavoreceu politicamente a própria Esquerda. Ter ideologia sim, mas é necessário também ser pragmático e ter bom senso, pés no chão, não inventar de querer nadar contra a correnteza forte. Para a Esquerda, será menos prejudicial se esta concordar em não criticar as religiões em geral, entender que fé, crença, e mesmo não-crença, é algo individual, pessoal, íntimo, deixar as pessoas crerem no que quiserem. Defender a laicidade do Estado é outra coisa! Defender o Estado laico e liberdade religiosa sim, bater de frente com o Cristianismo enquanto fé, não vai funcionar uma vez que o voto dos evangélicos tem muito peso no Brasil, assim como o poder econômico e financeiro das Igrejas. O voto dos católicos também. Ser neutro e não tomar partido contra nenhuma religião é mais seguro.

A Esquerda política necessita reiniciar, de um recomeço, e rever alguns conceitos, mudar a forma como se apresenta para a sociedade civil. Mas essa decisão compete à própria Esquerda, pois o interesse em se levantar novamente é dela mesma. Ninguém nasce sabendo de tudo, as pessoas costumam errar com a intenção de acertar. Mas persistir no erro é falta de sabedoria. A realidade é que o mundo não é justo nem quer ser justo. O mundo é interesseiro e egoísta. A população que consome não se interessa em abrir mão do consumismo, das conquistas materiais, do conforto, do entretenimento e do lazer em favor da responsabilidade socioambiental, muito menos por compaixão aos pobres e miseráveis excluídos. O correto é as pessoas terem senso de responsabilidade social e ambiental, mas não é assim que as coisas são. Deve-se esforçar, empenhar para que o mundo melhore, mas sem fantasiar a realidade com idealismos. A Esquerda tem a liberdade de decidir o que quer para si. Se quer continuar sendo sempre a mesma, vai ter sempre os mesmos resultados. Se concordar em aceitar mudanças, aí poderá ter outros resultados.

João Paulo E. Barros

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Política

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Contos e Poemas da Genha

Fevereiro 2018 Gazeta Valeparaibana Página 6

TOLERÂNCIA

Sentados em uma

lanchonete conversá-

vamos tranquilamen-

te sobre diversos as-

suntos e eis que che-

ga a opositora de

opiniões, que rejeita

qualquer um que

possa divergir dela. Filomena, Filomena dos Santos!

Senta-se à mesa, crente que está abafando, ou me-

lhor, agradando...

Chegou porque sabia que é um lugar que geralmente

frequentamos para descontrair depois do trabalho e

perto do metrô, o que facilitava na hora de irmos em-

bora.

Porém sempre resmungava do lugar por ser difícil

para estacionar e acabava parando em lugar proibido,

porém, fácil para nós que só dependíamos do metrô.

Constantemente, insistia em nos levar para outros

lugares do interesse dela, mas acabávamos indo para

o mesmo lugar porque era nosso point preferido e na

esperança dela não comparecer...

Eis que nesse dia...

Depois de resmungar como sempre, começou a im-

plicar comigo.

- Nossa Suzana, parece que você engordou, anda se

alimentando melhor, aumentou a cesta básica? Ironi-

zou Filomena, ou melhor, Filó!

Com bem pouco humor respondi que não, mas que

estava com uma ameba estagiária na minha barriga e

que me aconselhava o cardápio todos os dias. (risos

entre os amigos).

- Bem melhor assim, continuou retrucando Da. Filó!

Antes você era muito magrela, precisava de umas

gordurinhas, pois uma mulher sequinha não é nada

atraente.

- Com certeza Filó, respondi. Meu propósito agora é

ser como você e ainda desfilar como modelo plus,

enquanto é moda.

Na verdade, realmente eu engordara uns dois quilos

por conta de mudar o horário do trabalho o que me

permitia fazer as refeições com mais tranquilidade e

de 58 fui para 60 quilos. Claro que para uma

“amiga”, não passaria despercebido, principalmente

mulher, pois os homens nem sequer notaram. En-

quanto ela segurava fielmente a boca, porém não e-

magrecia nenhuma grama e se esforçava muito para

não passar dos seus 69 quilinhos.

Tenho pensado: “o que fazer com pessoas indesejá-

veis como essa”?

Se me manifesto em não gostar de alguma coisa, sou

logo atacada e, por muitas vezes, “ao optar pelo ver-

de e a outra insistir que deveria escolher o amarelo,

acabo ficando com o azul” para não entrar em polê-

mica e nem mostrar intolerância. E assim tenho feito

insatisfeita e incomodada.

Bem, cheguei à conclusão de que tolerar nem sem-

pre é virtude e sim um defeito então: Chega!

Por que tolerar tudo que me “enfiam” goela abaixo?

Filomena, numa dessas conversas e retrucando sobre

esse meu ponto de vista disse:

- Você nem sempre pode contestar, pois recebemos

determinações do alto escalão e de quem tem o poder

nas mãos, seja na esfera política ou profissional.

- Então, respondi, tenho que aceitar a maioria desses

irresponsáveis que ferem meu direito de conviver

com a disciplina e a ética e, nem sempre quem está

“por cima”, significa que amanhã estará na mesma

posição e isso não permite nos manter embaixo do

que não é certo ou o melhor.

- Eu não estou nem aí, responde minha “amiga”, não

me afeta...

- Afeta sim, querida Filó. Temos que tomar atitudes

mais rígidas como cidadãos. Você que contesta tudo

que não lhe agrada ou não lhe convém, porque não

intervém quando vê alguém jogar lixo nas ruas, pes-

soas que vê sair do restaurante bebendo e que entra

no carro e sai dirigindo, denunciar quem desrespeita

as leis do trânsito, aqueles que furam filas. Não te

incomodam?

- Acontece, ela retruca, que nesse país não há fiscais

suficientes para atender a demanda e, eu não ganho

pra me incomodar com essas pessoas, isso é proble-

ma de fiscalização.

- Então, disse eu; sejamos nós os fiscais, pois paga-

mos impostos e não temos a contrapartida e, o cida-

dão tem sim que fiscalizar aquele que não usa o bem

público de maneira adequada e assim como posso

reclamar de quem governa, posso fiscalizar o que

reclama e não cumpre sua parte como cidadão, pois,

esses, também nos prejudicam.

Certamente, não acostumada com minhas interven-

ções em cima do que ela sempre me fala, negligen-

ciou a conversa mudando de assunto e, obviamente

sentiu-se afetada com o que falei, pois uma pessoa

que diz não estar preocupada com o que de errado os

outros fazem com nossa cidade e bens e essa persona

não grata, que vive “politicamente correta” nos basti-

dores e não se preocupa com o que está à sua volta

desde que não lhe afete, decidiu ir embora e creio

que dificilmente entrará nas minhas conversas sem

ouvir meu ponto de vista. Daqui pra frente vou pon-

tuar o que não concordar.

Não somos obrigados a ser tolerantes a tudo e pode-

mos manifestar nossas

opiniões livremente. Creio que devemos sim conferir

a conta, apontar o dedo sobre cada item que estiver

errado, exigir respeito do motorista, do cobrador, da

recepcionista...

O brasileiro não respeita pontualidade, nunca chega

no horário marcado e, no entanto, reclama do atraso

do funcionário, da entrega, nos shows, do médico,

mas ele mesmo não é pontual; como se só o seu tem-

po fosse precioso. Aliás, um exemplo desse compor-

tamento é a Filó.

Por que precisamos de tantas regras, placas, fiscali-

zações, multas, bafômetros, testemunhas?

O que somos?

Somos incapazes de discernir o certo do errado, não

temos disciplina coletiva e nem medimos as conse-

quências de nossas atitudes e, por isso, somos vigia-

dos, enganados. Passamos adiante o que nós mesmos

reclamamos e isso se repetirá nas próximas gerações.

Somos espelho!

Infelizmente, como dona Filomena, interferir na vi-

da do próximo, reclamar do que não funciona, olhar

somente para seu próprio umbigo, saturar a paciência

daquele que tolera é quase que uma cartilha seguida

pela maioria.

A negligência é a parceira do brasileiro e nosso am-

biente social é simplesmente deseducador.

Pra mim chega! Tolerância e intolerância devem ser

usadas na hora e na medida certa.

Genha Auga Jornalista MTB:15.320

AJUDE-NOS a manter estes projetos de educação (Rádio e Jornal)- www.culturaonlinebr.org/apoiadores.htm

O MUNDO E A MORTE

PARTIR E SENTIR A AUSÊNCIA

DE TUDO E DAQUI,

DEIXAR A SAUDADE

CORROER O CORAÇÃO

DE QUEM FICOU

E ME AMOU.

IR E NÃO PODER LEVAR NADA DO QUE FIZ,

DEIXAR SOMENTE

NÚMEROS DE DIAS QUE VIVI

E NÃO LEVAR UM POUCO DE TI

E TU, FICAR SEM MIM.

FICAR COM O PADECER

DA ESPERA DO TEU PARTIR.

RESTA-ME TUA MORTE

ESSA SERÁ MINHA ÚLTIMA SORTE.

MESMO MORTO, NÃO SUPORTAREI TE DIVIDIR.

NOS FUNERAIS NINGUÉM FALA A VERDADE

PORQUE OS FUNERAIS NÃO SÃO PARA OS

MORTOS

SÃO PARA OS VIVOS.

LEMBRARÃO-SE DO BEM QUE FIZ

E DO MAL CERTAMENTE, NO FUNERAL NÃO.

AS ORAÇÕES CHEGARÃO ATÉ MIM

AS PIADAS TAMBÉM,

TUAS LÁGRIMAS E DOR,

MEU PRÓPRIO CHEIRO

DISFARÇADO EM FLOR.

O MUNDO É UM CONTADOR DE DATAS

E NÃO DE ANSEIOS,

AS COISAS ACONTECEM

POR QUE TERÃO QUE ACONTECER,

NÃO PORQUE DESEJAMOS.

ALGUÉM NOS COMANDA

NOS DÁ E NOS TIRA.

EU ME FUI, VOCÊ NÃO.

FOI JUSTO, MERECEMOS?

QUEM É QUE SABE...

QUEM COMANDA QUIS ASSIM!

Genha Auga

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Identidade própria

Toda grande nação tem a sua identidade pró-pria, que foi formada através dos séculos ou milênios. A identidade nacional é um conceito que tenta unificar critérios de identificação e pertencimento comuns entre os cidadãos do país em questão. Uma língua comum, um passado em comum, os gêneros musicais, as tradições religiosas e a gastronomia são e-xemplos de pontos em comum que demonstra a identidade em comum de um povo.

Referente ao Brasil, é um país novo no mun-do. Ainda não está totalmente formado. Co-meçou a ser formado no início do século XVI, mas se tornou um Estado independente no século XIX. Muitos afirmam que o Brasil é um país sem identidade própria. A composição do povo brasileiro é multiétnica, tendo em vista a variedade de grupos que tem constituído a nossa população. Além do nativo indígena, o africano e o europeu colonizador, imigrações importantes, como a italiana, japonesa e ára-be, contribuíram e muito, para ampliar ainda mais a enorme diversidade histórico-cultural brasileira.

O próprio ex-colonizador do Brasil, Portugal, levou muito tempo para ser formado como é hoje. No passado, a região era habitada por celtas lusitanos e galaicos, cônios, iberos, que não falavam latim, até que os romanos, após dois séculos tentando, conquistaram a região em 140 a.C. e dominaram até 411 d.C., de-pois vieram os visigodos entre 415 e 417 e suevos em 409, ambos povos de origem ger-mânica, e depois os árabes muçulmanos em 711, e a reconquista cristã na Península Ibéri-ca começou em 722, o Condado Portucalense se tornou independente de Leão em 1135 e a formação do território português na Península

Ibérica foi concluída em 1249. O Portugal da Idade Média era certamente bem diferente da Lusitânia pré-romana. E contatos com outros continentes com as grandes navegações e o colonialismo também modificaram a identida-de portuguesa através dos séculos.

A grande maioria dos países receberam influ-ência externa na sua formação cultural, eles não se formaram hermeticamente fechados do restante dos países. Um exemplo, o carna-val tem origem na Europa, mas o Brasil tem o seu próprio modelo de carnaval, que é um concurso anual de escolas de Samba. Outro exemplo, o gênero musical rock, surgiu nos EUA, mas o Brasil tem o seu rock nacional em língua portuguesa, como exemplos, a Jovem Guarda, Os Mutantes, Raul Seixas, Legião Urbana, Titãs, Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso, Paulo Ricardo & RPM, Engenheiros do Hawaii, Skank, Sepultura, Angra, Pitty, en-tre outros exemplos, o rock não descaracteri-zou a identidade brasileira. Mas gêneros mu-sicais nacionais também fortalecem a identi-dade nacional, como a MPB, Sertanejo, Forró, Pagode, o já citado Samba, o Axé, o Frevo, a Lambada, entre outros, são manifestações da diversidade brasileira.

Há religiões que são transnacionais, como o Cristianismo, o Islã e o Budismo, mas o Brasil tem as suas manifestações próprias de cren-ça espiritual como a Umbanda, o Candomblé, o Babaçuê, Santo Daime, o Xamanismo Ca-timbó, a Jurema Sagrada, a mitologia Tupi-Guarani, são manifestações da diversidade brasileira. Ah, o Espiritismo de Allan Kardec é de origem francesa lá no século XIX, mas es-tá mais presente no Brasil do que na França.

O folclore brasileiro é interessante, persona-gens como o Saci Pererê, o Boitatá, o Curupi-ra, a Pisadera, o Boto, a Mula-sem-cabeça, e

personagens de origem estrangeira como o Lobisomem e a Sereia (Mãe-D'água no folclo-re brasileiro), o brasileiro é um povo muito cri-ativo, com um grande imaginário popular.

É natural que na formação da identidade de uma nação haja elementos de origem estran-geira, não é necessário que seja hermetica-mente autóctone. Até o nosso idioma nacional veio de fora, mas temos uma ortografia nossa, regionalismos linguísticos nossos, e ao mes-mo tempo estrangeirismos linguísticos como anglicismos, francesismos, hispanismos... não destroem a identidade nacional de um povo. São transformações naturais conforme as é-pocas, o passar do tempo.

A questão política, se o Brasil ainda tem pro-blemas, é porque ainda não encontrou o seu modelo de sistema político realmente adequa-do. Já que a intenção e a prioridade são solu-cionar problemas, é válido o Brasil experimen-tar outro sistema que funciona bem em outro país assim como acabar criando o seu próprio sistema político, segundo as suas característi-cas culturais, desde que o sistema funcione bem, em favor da maioria da população. O que é fato incontestável, é que o atual método político não serve. Só vamos descobrir qual é o método que vai realmente funcionar se abri-mos as nossas mentes para novidades e ex-perimentarmos métodos diferentes, mesmo que acabemos por criar um método político novo genuinamente brasileiro, ou adotemos um Parlamentarismo europeu, ou asiático, ou africano, o importante é que seja um sistema político que funcione bem.

A identidade nacional brasileira ainda está em processo de formação e desenvolvimento. Não está finalizado ainda.

João Paulo E. Barros

Fevereiro 2018 Gazeta Valeparaibana Página 7

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O exemplo na História

A milênios atrás, na Roma antiga, no ano 494 a.C., houve a Revolta do Monte Sagrado. Tal revolta ocorreu porque a plebe não tinha direi-to às magistraturas da República Romana, não tinha cidadania, e os plebeus decidiram sair de Roma e fundar a sua própria cidade-Estado, deixando Roma sem mão-de-obra e sem contingente para o exército. Os patrícios de Roma se desesperaram e fizeram conces-sões aos plebeus, que concordaram em vol-tar.

Empresas estatais brasileiras não existiram desde sempre. Elas foram fundadas no sécu-lo XX por governos brasileiros. Bancos esta-tais também foram fundados por governantes nacionais. Isto significa que a privatização do patrimônio público não é o fim de tudo, outras estatais podem ser fundadas no futuro. No entanto, os políticos defensores do liberalis-

mo econômico, políticos brasileiros que de-fendem interesses de grupos estrangeiros e do mercado impõem ditatorialmente que as empresas construídas com capital público, com dinheiro público, sejam privatizadas sem ao menos consultar a opinião do povo em ple-biscito ou referendo, se as oligarquias domi-nantes exigem privatizações, então é melhor o proletariado pensar em alternativas às no-vas estatais. Porque se novas estatais forem criadas, os liberais vão querer impor privatiza-ções de novo.

Quando o proletariado vai libertar a mente das crendices do atual sistema? Quando o proletariado vai acordar e perceber que não precisa de emprego, e sim de trabalho e de ativos? Quando o proletariado vai tomar a ini-ciativa de parar de trabalhar para a burguesia e passar trabalhar para si mesmo, deixando a burguesia sem mão-de-obra? Quando o pro-letariado vai começar a fundar as suas pró-

prias empresas comunitárias, cooperativas? Os seus próprios bancos comerciais e de in-vestimentos? O petróleo do pré-sal foi privati-zado e vendido “a preço de banana” para gru-pos estrangeiros pelo governo entreguista.

Mas, os hidrocarbonetos são as únicas fontes de energia da natureza? Será que não há ou-tras? O proletariado ainda não aprendeu que é preferível ter maioria absoluta em todas das casas legislativas do que ter uma pessoa pro-letária na presidência da república? Se o mer-cado serve aos interesses da burguesia, por que o proletariado não constrói o seu próprio mercado alternativo? Os antigos plebeus de Roma já provaram que a união faz a força. Por que o proletariado não segue o exemplo deles e não vira as costas para a burguesia e para a aristocracia de uma vez por todas?

João Paulo E. Barros

Opinião

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Fevereiro 2018 Gazeta Valeparaibana Página 8

Homo sapiens deixaram a África muito antes do que se pensava

Fóssil encontrado em caverna de Israel tem entre 177 mil e 194 mil anos e indica que migra-ção humana para fora do continente africano ocorreu ao menos 50 mil anos antes do esti-mado.

Fóssil de mandíbula traz nova luz sobre migração humana

Um fóssil encontrado numa caverna de Israel indica que os Homo sapiens deixaram a África cerca de 50 mil anos antes do que se pensava, revelou um estudo publicado nesta quinta-feira (25/01) pela revista especializada Science.

Fragmentos faciais, incluindo a parte mandíbula e vários dentes, foram encontrados no sítio arqueológico Caverna Misliya, localizada no Monte Carmel. Os ossos têm entre 177 mil e 194 mil anos.

Até agora, os fósseis mais antigos de Homo sapiens encontrados fora da África tinham entre 90 mil e 120 mil anos e também foram descobertos em Israel.

"Misliya é uma descoberta emocionante. Ela fornece a clara evidência que nossos ances-trais migraram da África muito tempo antes do que acreditávamos", afirmou o coautor do es-tudo Rolf Quam, paleoantropologista da Universidade de Binghamton.

Desde quando o ser humano existe?

Segundo o estudo, o fóssil chamado de Misliya-1 possui dentes semelhantes aos dos huma-nos modernos, além de mostrar padrões e características da espécie humana. Outras evi-dências encontradas na caverna revelaram que seus habitantes caçavam animais grandes e usavam o fogo. Ferramentas de pedra e lâminas sofisticadas para a época também foram descobertas no local.

Após a localização de fósseis no Marrocos recentemente, pesquisadores anunciaram que os Homo sapiens apareceram na África há cerca de 300 mil anos. A descoberta representou um marco nas pesquisas sobre as rotas migratórias dos humanos. Com o achado em Israel, uma nova luz é lançada nesta área de pesquisa e em estudos sobre a evolução da espécie humana.

A descoberta em Israel reforça a ideia de que os humanos migraram da África por uma rota ao norte, ao longo do vale do Nilo e da costa leste do Mar Mediterrâneo, e não por uma rota ao sul através do estreito Bab al-Mandeb, costa da Árabia Saudita, subcontinente indiano e leste da Ásia, argumentou o paleoantropologista autor do estudo, Israel Hershkovitz, da Uni-versidade de Tel Aviv.

Hershkovitz disse ainda que acredita que o Homo sapiens pode ter surgido há 500 mil anos.

Os humanos de Misliya eram provavelmente nômades e migravam pela região no decorrer das estações do ano ou em busca de alimentos, acrescentou Quam.

Porque precisamos fazer a Reforma Política Popular no Brasil?

Seus impostos merecem boa administração. Bons políticos não vem do nada. Para que existam bons políticos para administrar

o país, toda a sociedade precisa colaborar para que eles possam nascer e terem su-cesso. É preciso um sistema eleitoral moderno para melhorar a qualidade da política. Os políticos "tradicionais" tem horror à reforma política, porque ela pode mudar a situa-ção atual onde eles usam e manipulam o eleitor e são pouco cobrados !

FRASES SOBRE PROGRESSO

Indira Gandhi: “O poder de questionar é a ba-se de todo progresso humano”.

* * *

Aldous Huxley: “Devemos o progresso aos insatisfeitos”.

* * *

George Bernard Shaw: “O homem razoável se adapta ao mundo; o irascível tenta adaptar o mundo a si próprio. Assim, o progresso de-

pende do homem irascível’.

* * *

Shaw, de novo: “O progresso é impossível sem mudanças; e aqueles que não conse-

guem mudar as suas mentes não conseguem mudar nada”.

* * *

Thomas Edison: “A insatisfação é a principal motivadora do progresso”.

* * *

Oscar Wilde: “A desobediência é, aos olhos de qualquer estudioso da História, a virtude

original do homem. É através da desobediên-cia que se faz o progresso, através da desobe-

diência e da rebelião”.

* * *

Wilde, de novo: “Para um homem ou para u-ma nação, o descontentamento é o primeiro

passo para o progresso”.

* * *

Wilde, mais uma vez: “O progresso não é se-não a realização das utopias”.

* * *

Robert A. Heinlein: “Progresso é feito por ho-mens preguiçosos que procuram modos mais

fáceis para fazer as coisas”.

* * *

Millôr Fernandes: “Há os que acreditam sin-ceramente que o progresso é uma máquina

trabalhando feito louca, no meio de operários miseráveis, para fazer bugigangas para crian-

ças ricas”.

* * *

Marquês de Maricá: “Todos reclamam refor-mas, mas ninguém quer se reformar”.

* * *

John Clapham: “Avanço econômico não é a mesma coisa que progresso humano”.

Evolução humana

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Fevereiro 2018 Gazeta Valeparaibana Página 9

SENSO INCOMUM

De 458 a.C. a 2018 d.C.: da derrota da vin-gança à vitória da moral!

Coincidentemente, no dia do julgamento do recurso do ex-presidente Lula no TRF-4 me encontro na Grécia. E visitei o templo da deu-sa Palas Atena. Fiquei pensando sobre a his-tória. Eu estava ali, no berço da civilização. E vendo o “lugar” em que a mitologia coloca o primeiro julgamento da história.

Os gregos inventaram a democracia. E, acre-ditem, também inventaram a autonomia do Di-reito. O primeiro tribunal está lá na trilogia de Ésquilo, Oresteia, nas Eumênides, peça repre-sentada pela primeira vez em 458 a.C. Aga-menon, no retorno da guerra de Troia, é as-sassinado na banheira de sua casa por sua mulher, Clintemestra, e seu amante, Egisto. Orestes, o filho desterrado de Agamenon, ati-çado pelo deus Apolo, é induzido à vingança.

Até então, essa era a lei. Era a tradição. Ores-tes deveria matar sua mãe (Clintemestra) e seu amante, Egisto. E ele mata os dois. Aí vem a culpa. É assaltado pela anoia, a loucura que acomete quem mata sua própria gente. Ao assassinar sua mãe, Orestes desencadeia a fúria das Eríneas, que eram divindades das profundezas crônicas (eram três: Alepho, Tisí-fone e Megera). As Eríneas são as deusas da fúria, da raiva, da vingança (hoje todas as Erí-neas e seus descendentes estão morando nos confins das redes sociais). Apavorado, Ores-tes implora o apoio de Apolo. Pede um julga-mento, que é aceito pela deusa da Justiça, Palas Atena.

Constitui-se, assim, o primeiro tribunal, cuja função era parar com as mortes de vingança. Antes, não havia tribunais. A vingança era “de ofício”. As Eríneas berram na acusação. É o corifeu, o Coro que acusa. Não quer saber de nada, a não ser da condenação. E da entrega de Orestes à vingança. Apolo foi o defensor. Orestes reconheceu a autoria, mas invoca a determinação de Apolo. E este faz uma defesa candente de Orestes. Os votos dos jurados, depositados em uma urna, dão empate.

Palas Atena absolve Orestes, face ao empate. O primeiro in dubio pro reo. Moral da história: rompe-se um ciclo. Acabam as vinganças. É uma antevisão da modernidade.

Em pleno século XXI, autoridades não escon-dem e acham normal que o Direito valha me-nos que seus desejos morais e políticos. Na Oresteia, os desejos de vingança sucumbiram

ao Direito. Embora a moral seja uma questão da modernidade, é possível dizer que o Direi-to, nesse julgamento, venceu a moral. Não a-prendemos nada com isso.

Como falei alhures, o julgamento de Lula não é o Armagedom jurídico. Mas que o Direito já não será o mesmo, ah, isso não será. Na ver-dade, o Direito foi substituído por uma TPP (teoria política do poder). O PCJ (privilégio cognitivo do juiz) vale mais do que as garanti-as processuais e toda a teoria da prova que já foi escrita até hoje.

O mundo apreendeu muito com a Oresteia. Depois do segundo pós-guerra, aprendemos que a democracia só se faz pelo Direito e com o Direito. E o Direito vale mais que a moral. E, se for necessário, vale mais do que a política. Sim, quem não entender isso deve fazer qual-quer coisa — como Sociologia, Ciência Políti-ca, Filosofia, religião, moral etc. —, menos praticar ou estudar Direito.

Temos um milhão de advogados, parcela dos quais se comporta como as Eríneas das Eu-mênides. Vi, entristecido, aqui da Grécia, nas redes sociais brasileiras, pessoas formadas em Direito — muitas delas com pedigree — torcendo por coisas como “domínio do fato”, “ato de ofício indeterminado” e quejandos. Pa-rece que esquecemos que o Direito é/foi feito exatamente para impedir o triunfo das Erí-neas.

Meus 28 anos de Ministério Público e quase 40 de magistério mostraram-me que, por mais que um discurso moral, político ou econômico seja tentador, ele deve pedágio ao Direito. Al-guém pode até confessar que matou alguém, mas, se essa confissão for produto de uma intercepção telefônica ilícita, deve ser absolvi-do, porque a prova foi ilícita. Esse é o custo da democracia. Você pode pensar o que quiser sobre o réu; mas, como autoridade, só pode agir com responsabilidade política. Dworkin, para mim o jurista do século XX, sempre disse que juiz decide por princípio, e não política ou moral. Simples assim. E, assim, o custo da democracia é que a acusação, o Estado, deve ter o ônus da prova. Não é o juiz que faz a prova nem é o juiz que intui provas. A teoria da prova é condição de possibilidade. Ou va-mos apagar centenas de anos de teoria da prova.

Isso quer dizer, de novo — e minha chatice é produto de minha LEER (Lesão Por Esforço Epistêmico Repetitivo) —, Direito não pode ser corrigido pela moral. Isso tem me conduzido. Disse isso nos momentos mais difíceis, inclu-

sive no caso das nulidades contra Temer, de Aécio e dos indevidos pedidos de prisão do ex-presidente Sarney. Bueno: é só acessar mi-nhas mais de 300 colunas neste site. E meus mais de 40 livros. E 300 artigos. Todas as se-manas denuncio, aqui na ConJur, a predação do Direito pelos seus predadores naturais — a moral, a política e a economia. E me permito repetir o poeta T. S. Eliot: numa terra de fugiti-vos, aquele que anda na direção contrária pa-rece que está fugindo. Mais: faz escuro, mas eu canto, diria Thiago de Mello, eternizado pe-la voz de Nara Leão.

Por tudo isso, fazendo minha oração à deusa Palas Atena ao cair da tarde do dia 24 — com o peso de mais de mais de 2.500 anos de his-tória e mitologia —, fico pensando no que vai acontecer com o Direito brasileiro depois disso tudo. Se a moral e os subjetivismos valem mais do que o Direito, o que os professores ensinarão aos alunos? Teoria Política do Po-der? Mas de quem? A favor e contra quem? Por isso, de forma ortodoxa, mantenho-me nas trincheiras do Direito. É mais seguro. Ali-ás, foi o que fez a diferença para a modernida-de: a interdição entre a civilização e a barbárie se faz pelo Direito. Até porque, se hoje você gosta do gol de mão, amanhã seu time pode perder com gol de mão. E aí não me venha com churumelas.

Post Scriptum: Há um momento do julga-mento de Lula em que o presidente da turma diz: "Terminamos a primeira fase — a das sus-tentações orais. Faremos um intervalo de 5 minutos e, na volta, o relator lerá seu voto". Ups. Ato falho? O relator lerá seu voto? E as sustentações? Lembro que, no julgamento mi-tológico de Orestes, os jurados não tinham o voto pronto. Cada um votou depois de ouvirem a defesa e a acusação. É incrível como, no Brasil, 2.500 anos depois, os votos vêm pron-tos e não levam em conta nada do que foi dito nas sustentações orais. Nem disfarçam. Afi-nal, por que manter, então, esse teatro? Se a decisão está tomada? Isso não é um desres-peito a quem sustenta? Insisto: o ensino jurídi-co no Brasil tem futuro? Ficções da realidade e realidade das ficções! E pior: há milhares de professores que, por aí afora, não protestam contra isso tudo. Aliás, de quem é a culpa do livre convencimento? Os professores são co-autores. Artigo 29 do CP na veia. Mesmo as-sim, resisto.

Autor: Lenio Luiz Streck Jurista, professor de Direito Constitucional e pós-doutor em Direito.

Justiça x Poder

Este foi um dos mais provocativos e originais debates que ocorreram entre filósofos contemporâneos e serve de introdução sucinta a suas respectivas teorias filosóficas. Embora o debate tenha se iniciado ancorado na linguística e na teoria do conhecimento

(interesses centrais dos dois filósofos, que, pode-se dizer, são as mentes acadêmicas que definem o final do século XX), ele acabou se tornando uma discussão muito mais ampla, abrangendo temas da história e do comportamentalismo, até a criatividade, a

liberdade e a luta pela legitimidade política.

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Fevereiro 2018 Gazeta Valeparaibana Página 10

E SE A DIREITA VENCER? “E se a direita vencer todos os pleitos eleitorais de 2018? E se ela conseguisse colocar Lula na cadeia e criminalizasse o PT e todos os partidos de esquerda? Não é esse o sonho do mercado e da elite tupiniquim?

Pois então, façamos um pequeno passeio pelo sonho do mercado e das elites que comandam hoje o país e veja-mos o que ele teria para oferecer ao povo brasileiro…

Em primeiro lugar, teríamos uma radical reforma previ-denciária para “modernizar” o país. Afinal, o que são - para a direita - aqueles que não conseguem os benefí-cios da aposentadoria privada? São vagabundos que não tiveram o mérito de poupar dinheiro ou ex-parasitas oriundos do funcionalismo público e que mamavam nas tetas do Estado...

Os direitos trabalhistas virariam uma miragem e apenas a livre negociação reinaria. “Nada mais justo”, pensari-am os liberais seguidores de Dória e companhia. Sindi-catos, considerados um insulto ao espírito empreende-dor, morreriam de inanição.

E assim iniciaríamos o país onde os justos patrões dão o justo salário aos bons trabalhadores.

Serviço público? Para que e para quem? Para que ter saúde pública se a privada é melhor? Teríamos o fim da “injustiça” de se cobrar impostos daqueles que cuidam de sua saúde em benefício dos ignóbeis que se estropi-am devido aos vícios e maus hábitos...

E a mesma lógica seria aplicada para a educação, para o transporte e para qualquer outra coisa que hoje é pú-blica e que a direita deseja colocar nas mãos do merca-do privado…

Aqueles que querem estudar, que paguem. Aqueles que querem mais conforto, que poupe dinheiro para comprar um carro. E aqueles que não tem dinheiro, que traba-lhem mais!

Afinal, para a elite o pobre só é pobre porque é pobre de espírito. É porco, é vagabundo, é sujo, é irresponsável, é ignorante, é devasso, é bebum… Sua família é um bando... uma verdadeira “ninhada” fruto da irresponsabi-lidade sexual de pais e mães que se reproduzem como os bichos…

Se a direita ganhasse, teríamos finalmente um país sem aquilo que a elite mais detesta nesse mundo - o povo brasileiro.

Que se encerrem as cotas que beneficiam apenas a escória! Que se acabe com a bolsa família que estimula a vagabundagem! E o que é esse programa “Minha Ca-sa, Minha Vida” senão um grande cortiço, dado pratica-mente de graça, para essa gente feia e pequena?

O Brasil seria finalmente uma “casa limpa e arrumada”. A ordem e a moral acabariam com a “devassidão es-querdista”. “Cura gay para homossexuais!” “Censura para tudo o que é indecente!” “Paulada nos insatisfei-tos!” “Fogueira para os criminosos!”

Pois é… a direita é sobretudo o ódio que se alimenta de seu próprio ódio…

E de onde vem tanto ódio?

Vem de longe... Vejamos...

Caso singular na História, a elite brasileira é a única que se envergonha de seu país e tem ódio do seu próprio povo.

Sempre foi assim…

Até o século XVIII, as elites se envergonhavam de sua origem negra e indígena. Seu sonho era voltar para Por-tugal… Mas em Portugal eram consideradas mestiças e desterradas… em Lisboa eram vistas como "dejetos endinheirados"…

E por isso eram cuspidas de volta para o Brasil…

Aqui possuíam suas terras e tiravam sua renda. Para além disso, aqui podiam expurgar sua frustração de se-rem rejeitadas na metrópole… Tinham a mão pesada com os negros e os índios. E dessa violência uma multi-dão de mulheres negras e indígenas pariu uma nação de filhos bastardos, indesejados e desvalidos.

Por isso, a negação da brasilidade das elites é mais que um gesto de anti-patriotismo, é uma negação de paterni-dade… Uma tentativa de se eximir das responsabilida-des dos filhos que elas mesmos geraram, fora do casa-mento, “na cozinha”, “no mato”, “no cabaré”, quase sem-pre pelo uso da força…

No século XIX, a elite brasileira quis se tornar france-sa… E isso durou até o início da República… Trazia pesados casacos do rigoroso inverno europeu para exibí-los no verão carioca…

E ainda naquele século, promoveram a primeira grande tentativa de exterminar com a nossa brasilidade, dando generosos incentivos para os europeus trabalharem e conseguirem terras no país.

A nossa grande onda imigratória foi o reverso daquela ocorrida nos EUA. Ali os imigrantes receberam cidadani-a com a contrapartida de lutarem contra a escravidão e pela unificação de um país dividido pela guerra civil.

Aqui os imigrantes receberam a cidadania para consoli-dar a exclusão social da maioria dos trabalhadores bra-sileiros (ex- escravos negros) e dividir o país entre os “civilizados” europeus e os “incorrigíveis” brasileiros…

E por fim chegamos nos dias atuais quando a nossa elite brasileira sonha em virar norte-americana… Conti-nua se rebaixando a um país estrangeiro em detrimento do seu próprio país, como sempre fez...

Não se importa em ficar - feito gado - horas a fio numa imensa fila para tirar um “visto” de turista para visitar a Disneylândia… E já no aeroporto descobre que não é bem vinda… pois é latina americana…

Novamente ela é cuspida de volta para o Brasil… E aos prantos se despede do Mickey e do Pateta… Entra rai-vosa na nossa pátria, lamentando ser brasileira...

Ela sempre quis ser de outro país, mas nunca se esfor-çou em criar um país melhor…

Pois a rigor, nossa elite nunca teve um plano de gover-no, um plano de país... apenas se limitou a ter um plano para a sua família. E o plano sempre foi deixar o país...

Na impossibilidade de deixá-lo, quer vendê-lo barato para os estrangeiros (preferencialmente os norte-

americanos). Talvez tenha a ilusão burlesca de que pos-sa vir a ganhar a cidadania americana, se leiloar todas as nossas riquezas…

E essa elite se representa por uma direita que quer ex-terminar - com todas as forças - um povo que, de secu-lar tradição, ela sempre detestou.

Por isso a vitória da direita é a derrota do povo brasilei-ro. Por isso o nosso judiciário precisa tratar as lideran-ças da esquerda como bandidos... Como gente impres-tável… Uma gente que ousou um dia tentar vangloriar o Brasil com o slogan, “Sou brasileiro, não desisto nun-ca!”.

Sim. O Brasil viveu uma época singular em que o povo tentou se olhar com um pouco mais de dignidade e a-mor próprio. E essa felicidade tinha que ser violentada por uma elite que quer provar que somos os piores em tudo. Que precisa mostrar a todos nós que não há no mundo um povo tão corrupto e imprestável.

Obviamente que o ódio é semeado também para que a miséria imposta ao povo seja considerada justa. O siste-ma político e o poder judiciário estão nas mãos da direi-ta para criar um verdadeiro estado de terra arrasada. Querem matar qualquer esperança de cada brasileiro de um dia viver em um país melhor, pois isso é inconcebí-vel para a elite brasileira.

E qual seria o fim disso? Simples: o fim do próprio Bra-sil. A vitória da direita é, em síntese, a decretação de nossa fragmentação territorial, a total perda de nossa soberania e a instauração da barbárie a níveis estratos-féricos.

Ela vence, o país acaba.

Por isso é importante alertar que uma batalha decisiva está por vir em 2018. Com Lula ou sem Lula, é preciso defender - nas urnas e nas ruas - o Brasil do perigo de seu próprio extermínio.

A direita tem apenas o ódio. Mas o ódio ganha votos até certo ponto. Pois o povo não consegue compartilhar um ódio tão grande, com raízes tão profundas e contra ele próprio...

Por isso, com medo de que o povo a rejeite novamente nas urnas, a direita quer liquidar com a democracia e com o presidencialismo no Brasil antes de 2018…

Saber o que está em jogo é a condição fundamental para vencê-lo. E cabe a cada um de nós, que estamos do lado do Brasil, lutarmos contra as hordas da direita, financiada por uma elite que odeia o nosso país, mais do que qualquer estrangeiro.

Não podemos duvidar, enfim, que a solução para o Bra-sil está e surgirá das mãos do seu próprio povo. Por mais que o concreto de ódio das elites tente sufocar toda uma nação, sempre teremos a força para vencê-lo.

Como já disse um dia nosso maior poeta, “Mas eis que o labirinto - razão e mistério - presto se desata: Em ver-de, sozinha, anti-euclidiana, uma orquídea forma-se.” E ela nasce... vencendo o ódio, o medo e o concreto...”

Carlos D’Incão

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Politizando

O espectro político esquerda-direita é um conceito geral de enquadramento de ideologias e partidos. Esquerda e direita são muitas vezes apresentados como opostos, embora um indivíduo ou grupo em particular possa eventualmente assumir uma posição mais à esquerda numa matéria e uma postura de direita ou até de extrema-direita noutras. Na França, onde os termos se originaram, a esquerda tem sido chamada de "o partido do movimento" e a direita de "o partido da ordem."

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Fevereiro 2018 Gazeta Valeparaibana Página 11

O abismo da fome e a fome de Justiça

– Alguém, por favor, atenda, estão batendo palma na frente de casa novamente.

– Deixa que eu atendo desta vez.

Estávamos na primeira semana de janeiro de 2018. Junto de minha família eu passava a temporada de verão na praia, como era tradi-ção desde os tempos dos meus avós. Nessa época era comum pessoas, buscando ganhar o pão de cada dia, passarem de casa em ca-sa oferecendo produtos e serviços. Mas nós já não necessitávamos de mais nada e ape-nas atendíamos e dispensávamos os merca-dores. Naquela ocasião, eu me ofereci ao a-tendimento.

– Pois não, o que desejam? – perguntei a um casal postado em frente ao portão, abaixo de um impávido sol do meio dia.

– Gostaríamos de saber se tem algum resto de comida para levarmos para casa – disse o homem com humildade, ao lado da mulher que envergonhadamente olhava para os la-dos.

– Sim, tem sim, e não é resto.

Ao tempo em que respondia, surpreso com um pedido assim tão direto, eu olhava para os dois, que não aparentavam ser pessoas em situação de rua. Porém, eram claramente vul-neráveis. Entregamos todas as sobras de co-midas da geladeira e do freezer, mais alguns alimentos frescos. Alguns o casal saboreou ali mesmo, levando a maior parte embora como planejado.

Mais tarde, conversando sobre o episódio, lembrei duma situação que havia vivido no trabalho pouco antes do recesso de final de ano. Num dia da semana qualquer tinha esta-do pela manhã no Presídio. Lá, depois de a-dentrar nas galerias como sempre fazia e per-ceber que a superlotação ainda estava grave, que a falta de estrutura perdurava e que pro-blemas sérios de saneamento continuavam a existir, reuni-me com representantes dos de-tentos e com a direção prisional para outra vez, mais uma vez, numa teimosia que não me deixa desistir, tratarmos das condições de vida no complexo.

Entre muitas questões, de visita familiar, tra-balho e estudo (os 800 detentos do Presídio, ao contrário dos da Penitenciária, nada obs-tante cumprirem penas às centenas, não tem acesso a trabalho algum e tampouco a estu-do) a atendimento à saúde, houve o momento

em que discutimos sobre a alimentação. Pedi-am os detentos por uma cota maior de ali-mentos no jantar, pois estavam passando fo-me, uma vez que ele era servido às 17h e de-pois disso apenas às 7h da manhã do dia se-guinte é que recebiam novo alimento, no café da manhã. Além disso, a reclamação também envolvia o café, que estava chegando nas ce-las frio e fraco, com resíduos.

Disse aos detentos que exigiria da empresa contratada pelo estado para o serviço que melhorasse a qualidade do produto e que ofi-ciaria ao Promotor de Justiça, pois era a pes-soa competente para fiscalizar a situação. A partir dali a conversa, que sempre se manteve cordial e respeitosa, ficou mais amena. Retor-nei ao Fórum no início da tarde e sem tempo para me sentir cansado, porque esse era um capricho que numa Vara de Execução Penal em final de ano não é apropriado, encaminhei as diretrizes resultantes da inspeção prisional.

No final do expediente, outro fato envolvendo alimentação ocorreu. Entre as várias decisões e despachos do dia, mandei soltar oito apena-dos com direito à progressão ao regime aber-to ou regime domiciliar. Quando é um número desses eu sempre peço que os tragam ao Fó-rum ao mesmo tempo e os reúnam na sala de audiências. Então, antes da soltura eu explico a decisão de cada um, o que eles precisam fazer, como se reportar com dúvidas e como sempre devem seguir o que a justiça mandar etc. Também dou alguns conselhos, mas sem ar professoral. Apenas tento explicar sobre a vida fora da prisão, coisa que muitos já não sabem mais como é.

Naquela ocasião, um pouco antes eu havia ganhado um bolo de natal de um estabeleci-mento comercial que frequento o ano todo. Era um bolo daqueles com cobertura de sus-piro e frutas cristalizadas, bem bonito e gosto-so. Eu mais a assessoria saboreamos a meta-de da iguaria. Quando então fui falar com os detentos, todos eles estavam sentados ao re-dor da mesa, olhando para aquele bolo ao centro, que não tinha sido retirado da mesa depois do lanche. Imediatamente mandei bus-car uma faca e guardanapos e disse:

– Vocês hoje além de serem soltos, ainda te-rão direito a um pedaço de bolo de Natal – Todos sorriram e agradeceram. Alguns mais envergonhados declinaram, outros degusta-ram seu pedaço com satisfação.

É da natureza humana de qualquer ser vivo a necessidade de alimentar-se, isso é óbvio. E fome todos sentem. Mas há casos em que a

fome resulta na necessidade do faminto pos-tar-se a frente de outra pessoa e pedir por co-mida.

Diferente do caso do bolo de Natal, a fome de boa parte da população carcerária do Brasil e a fome das pessoas abaixo da linha da pobre-za – e aqui não pretendo traçar algum parale-lo entre pessoas presas e pessoas economi-camente vulneráveis, porque o que gera vio-lência não é a pobreza, a violência segue a linha da riqueza, o jovem pobre e sem refe-rências familiares e institucionais é mais sus-cetível de ingresso na marginalidade, de se tornar violento e de ser vítima dessa mesma violência – essa fome é muito maior, ela sai do vazio e dolorido estômago do faminto e acerta em cheio a alma do saciado, que só não fica com mais compaixão porque em fren-te a esse flagelo sente que não tem esse di-reito.

Vivemos em terras onde o ditado “no lugar de dar o peixe, ensine a pescar” não tem muita eficácia. Ninguém aprende a pescar com a barriga vazia.

E é essa a realidade que tenho visto por esse vasto Brasil, tão rico em sua diversidade ali-mentar e produtiva que em muitos lugares é tido como o celeiro do mundo, porém tão in-justo e concentrado em sua riqueza que o nú-mero de pessoas abaixo da linha da miséria, que vive com menos de 6 reais por dia, chega aos milhões. Obviamente isso resulta em uma massa de excluídos, a maioria de crianças e adolescentes cujas oportunidades de cresci-mento com dignidade não se apresentarão.

Temos a obrigação de lutar pela superação de toda essa tragédia social.

Essa ação deve ser imediata, pois parece que quanto mais dizemos que queremos e que somos, não somos, não queremos tanto as-sim, não agimos. Corremos o risco de olhar tanto para o abismo que nos acostumaremos a isso. Até que um dia seremos surpreendi-dos com ele, o abismo, olhando para nós, com fome. Não podemos chegar a esse pon-to.

Fome por justiça, amor e felicidade é a única fome que traz evolução humana. Pessoas i-dealistas, que agem na vida com a alma fa-minta de seus ideais, vivem e se movimentam na busca incessante de um mundo mais dig-no. É dessa busca, dessa fome que devemos nos alimentar.

João Marcos Buch Juiz de direito da Vara de Execuções Penais de Joinville/SC.

Fome x Justiça

Você sabia que o desperdício de alimentos atinge um terço de toda comida produzida no mundo? Pois é, a produção em excesso e o transporte são fatores significa-tivos para esse problema. Mas além disso, há desperdício de alimentos na cozinha da nossa casa. Vamos dar uma olhada mais profunda nessa questão. De acordo com a FAO (agência das Nações Unidas preocupada em erradicar a fome), 54% do desperdício de alimentos no mundo ocorre na fase inicial da produção, que são a manipula-ção pós-colheita e a armazenagem. Os outros 46% do desperdício, de acordo com a mesma fonte, ocorrem nas etapas de processamento, distribuição e consumo. Quando lembramos que todos os dias 870 milhões de pessoas passam fome, esses dados sobre desperdício se tornam aterrorizantes.

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Fevereiro 2018 Gazeta Valeparaibana Página 12

Algumas datas comemorativas

02 - Dia de Iemanjá

24 - Primeira Constituição Republicana

Iemanjá, também conhecida como "Rainha do Mar" é um orixá africano, e faz parte da religião do candomblé e de outras religiões afro-brasileiras. O Dia de Iemanjá é a maior festa de Iemanjá, onde milhares de pessoas se vestem de branco e vão às praias depositar oferendas, como espelhos, joias, comidas, perfumes e outras obje-tos.

Origem do Dia de Iemanjá

Inicialmente, o Dia de Iemanjá era comemorado em conjunto com a Igreja Católica, porque o 2 de fevereiro também é dia de Nossa Senhora da Conceição. Porém, nos anos 60, houve uma reação da Igreja, que começou a considerar a celebração um culto pagão. Atualmente, a data conta com devotos do candomblé e da umbanda, em sua maioria.

No dia de Iemanjá também é celebrado o Dia de Nossa Senhora dos Navegantes, uma santa católica. No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina ainda existe esse sincretismo entre Iemanjá e Nossa Senhora dos Navegantes (por isso que algumas imagens de Iemanjá são representadas por uma mulher branca, uma referência a santa católica). No Rio de Janeiro Iemanjá é sincretizada com Nossa Senhora da Glória.

História de Iemanjá

Iemanjá é também conhecida por Yemanjá, Iyemanjá, Yemaya, Yemoja ou Iemoja. O nome Iemanjá é derivado da expressão Iorubá, que quer dizer "mãe cujos filhos são peixes".

Iemanjá era a orixá de uma nação iorubá, os Egba, que viviam inicialmente em um local no sudoeste da Nigéria, entre Ifé e Ibadan, onde há um rio chamado Yemanjá. No século XIX, por causa das guerras entre povos iorubás, os Egba foram obrigados a se afastar do rio Iemanjá e passaram a viver em Abeokuta. No entanto, continua-ram cultuando a divindade, que segundo a tradição, passou a viver em um novo rio, o Ògùn.

O Dia Mundial da Rádio celebra-se anualmente a 13de fevereiro. A data foi escolhi-da pois foi neste dia que a United Nations Radio emitiu pela primeira vez, em 1946, um programa em simultâneo para um grupo de seis países. A data foi declarada em 2011 pela UNESCO e o primeiro Dia Mundial da Rádio foi celebrado em 2012.

Dia Mundial da Justiça Social. O Dia Mundial da Justiça Social é comemorado anual-mente em 20 de fevereiro. Esta data é de extrema importância para ajudar a fortale-cer a luta contra a pobreza, exclusão, preconceito e desemprego, em busca do de-senvolvimento social dos países.

Criada pela UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciên-cia e a Cultura, em 17 de novembro de 1999, o Dia Internacional da Língua Materna tem o objetivo de promover a diversidade linguística e cultura entre as diferentes nações.

Além disso, esta data também convida a todos os países membros da UNESCO e suas matrizes a refletirem sobre a preservação das particularidades linguísticas e culturais de cada sociedade.

Origem do Dia Internacional da Língua Materna

A ideia para proclamar um dia dedicado à língua materna surgiu a partir do Dia do Movimento da Língua, criado em 1952 e celebrado desde então em Bangladesh.

Um grupo de estudantes organizaram uma campanha para incluir o bengalês como uma das línguas oficiais do Paquistão, em 21 de fevereiro de 1952. No entanto, aca-

baram sendo todos assassinados por forças policiais, que atearam fogo em seus corpos.

Este movimento em prol da inclusão do bengalês começou quando Muhammad Ali Jinnah, general paquistanês, declarou que o idioma Urdu passaria a valer como lín-gua oficial tanto no Paquistão do Oeste, como no Leste (local que tinha como língua principal o bengali).

Esta data marca a Constituição de 1891, a primeira do Brasil como uma República. A Primeira Constituição Monárquica do país havia sido outorgada por D. Pedro I em 1824.

A Constituição de 1891 foi criada a partir da assembleia constituinte, a qual foi con-vocada na Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889.

Entre os principais destaques desta Constituição está a definição da escolha da figu-ra do presidente da República através de votos diretos, sendo que as eleições para este cargo deveriam ocorrer a cada intervalo de 4 anos.

A partir desta Constituição o Brasil passou a ser um país oficialmente "democrático", visto que as principais decisões políticas passaram a estar nas mãos dos cidadãos.

No entanto, mesmo o voto passando a ser direto e universal, ainda existiam muitas segregações entre quem podia participar das eleições. Por exemplo, mendigos, a-nalfabetos e mulheres não tinham direito a votar.

Além disso, destaca-se a criação dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, bem como a separação entre Estado e Igreja. Acresce a liberdade de culto para as outras religiões além da católica.

A constituição de 1891 foi alterada em 1926.

O horário de verão foi instituído com o objetivo economizar energia no país em fun-ção do maior aproveitamento do período de luz solar.

A medida foi utilizada pela primeira vez em 1931 e depois em outros anos, sem re-gularidade. Em 2008, ganhou caráter permanente e passou a vigorar do terceiro do-mingo de outubro até o terceiro domingo de fevereiro do ano seguinte.

Em 25 de Fevereiro de 1967, foi criado o Ministério das Comunicações no Brasil. Este órgão é uma das esferas do poder executivo federal. Ele é o responsável pela criação e cumprimento das normas e leis que regem as políticas públicas das comu-nicações.

Suas principais atividades se dividem em três áreas de atuação: a radiodifusão, os serviços postais e as telecomunicações.

A radiodifusão é um ministério que coordena as concessões de emissoras de rádio e televisão, em canal aberto.

Os serviços postais formulam e propõe políticas e novos serviços para o setor, efetu-a a técnica e controla as tarifas, além de fiscalizar os serviços postais existentes, monitorando a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.

Nas comunicações, a quebra do modelo monopolista, em 1995, abriu o mercado brasileiro para a oportunidade de serviços de telefonia a um baixo custo, seriam eles o, móvel banda B, serviços via satélite, redes corporativas, etc.

“Em 16 de julho de 1997 foi aprovada a LGT, Lei Geral de Telecomunicações, que definiu as linhas e ternos gerais de um novo modelo institucional e criou um órgão regulador independente, a Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL)”.

Fonte:

25 - Dia da Criação do Ministério das Comunicações

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13 - Dia Mundial do Rádio

21 - Dia Internacional da Língua Materna

20 - Dia Mundial da Justiça Social

19 - Término do Horário de Verão

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Fevereiro 2018 Gazeta Valeparaibana Página 13

Agradeço ao destino por ter-me feito nascer pobre. A pobreza foi-me uma amiga benfazeja;

ensinou-me o preço verdadeiro dos bens úteis à vida, que sem ela não teria conhecido. Evitando

-me o peso do luxo, devotou-me à arte e à beleza...

Anatole France

Agradeço todas as dificuldades que enfrentei; não fosse por elas, eu não teria saído do lugar.

As facilidades nos impedem de caminhar. Mesmo as críticas nos auxiliam muito.

Chico Xavier

A gratidão é o único tesouro dos humildes.

William Shakespeare

A gratidão da maioria dos homens não passa de um desejo secreto de receber maiores favores.

François La Rochefoucauld

Os homens apressam-se mais a retribuir um dano do que um benefício, porque a gratidão é

um peso e a vingança, um prazer. Tácito

Não cobres tributos de gratidão.

Chico Xavier

Expresse gratidão com palavras e atitudes. Sua vida mudará muito de modo positivo.

Masaharu Taniguchi

Agradeço pela crítica mais severa apenas se ela permanecer imparcial.

Otto Bismarck

Agradeço a todas as pessoas que me quiseram mal. Aprendi, com elas, a perdoar e a

precaver-me contra as intempéries do mundo. Augusto Branco

Agradeço todas as dificuldades que enfrentei; não fosse por elas, eu não teria saído do lugar.

As facilidades nos impedem de caminhar. Mesmo as críticas nos auxiliam muito.

Chico Xavier

Sou muito grato às adversidades que apareceram na minha vida, pois elas me

ensinaram a tolerância, a simpatia, o auto-controle,a perseverança e outras

qualidades que, sem essas adversidades eu jamais conheceria.

Napoleon Hill

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REDAÇÃO DE ESTUDANTE CARIOCA QUE ACABA DE VENCER CONCURSO DA

UNESCO COM 50.000 PARTICIPANTES

Tema: “Como vencer a pobreza e a desigual-dade”

Autora: Clarice Zeitel Vianna Silva

“PÁTRIA MADRASTA VIL"

Onde já se viu tanto excesso de falta?

Abundância de inexistência...

Exagero de escassez...

Contraditórios?

Então aí está!

O novo nome do nosso país!

Não pode haver sinônimo melhor para BRA-SIL.

Porque o Brasil nada mais é do que o exces-so de falta de caráter, a abundância de ine-xistência de solidariedade, o exagero de es-cassez de responsabilidade.

O Brasil nada mais é do que uma combina-ção mal engendrada - e friamente sistemati-zada - de contradições.

Há quem diga que 'dos filhos deste solo és mãe gentil', mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe.

Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil, está mais para madrasta vil.

A minha mãe não 'tapa o sol com a peneira.'

Não me daria, por exemplo, um lugar na uni-versidade sem ter-me dado uma bela forma-ção básica.

E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome. Por-que a minha mãe não iria querer me enga-nar, iludir.

Ela me daria um verdadeiro Pacote que fosse efetivo na resolução do problema, e que con-tivesse educação + liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me adianta ter educa-ção pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa.

A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade.

Uma segue a outra...

Sem nenhuma contradição!

É disso que o Brasil precisa: mudanças es-truturais, revolucionárias, que quebrem esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem!

A mudança que nada muda é só mais uma contradição.

Os governantes (às vezes) dão uns peixi-nhos, mas não ensinam a pescar.

E a educação libertadora entra aí.

O povo está tão paralisado pela ignorância que não sabe a que tem direito.

Não aprendeu o que é ser cidadão.

Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade: nossa participa-ção efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não modificam a estru-tura.

As classes média e alta - tão confortavelmen-te situadas na pirâmide social - terão que fa-zer mais do que reclamar (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)...

Mas estão elas preparadas para isso?

Eu acredito profundamente que só uma revo-lução estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efei-tos, possa acabar com a pobreza e desigual-dade no Brasil.

Afinal, de que serve um governo que não ad-ministra?

De que serve uma mãe que não afaga?

E, finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona?

Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um posiciona-mento perante o mundo como um todo. Sem egoísmo.

Cada um por todos.

Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas.

Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil?

Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil?

Ser tratado como cidadão ou excluído?

Como gente... Ou como bicho?

Premiada pela UNESCO, Clarice Zeitel Vi-anna Silva, 26 , estudante que termina Fa-culdade de Direito da UFRJ em julho, concor-reu com outros 50 mil estudantes universitá-rios. Ela acaba de voltar de Paris, onde rece-beu um prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultu-ra (UNESCO) por uma redação sobre 'Como vencer a pobreza e a desigualdade.' A reda-ção de Clarice intitulada 'Pátria Madrasta Vil',foi incluída num livro, com outros cem tex-tos selecionados no concurso. A publicação está disponível no site da Biblioteca Virtual da UNESCO.

Parabéns Clarice!

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Fevereiro 2018 Gazeta Valeparaibana Página 14

Só acredito em você se você disser o que eu quero ouvir

Quando os dados contradizem nossas convic-ções, tendemos a ignorá-los ou manipulá-los.

Assim fazem criacionistas, ativistas antivacina e ‘conspiranoicos’ do 11 de setembro.

Só acredito em você se você disser o que eu quero ouvir 18 teorias conspiratórias que o farão enxergar a televisão com outros olhos

Já reparou como as pessoas sempre mudam de opinião quando confrontadas com dados que contradizem suas convicções mais pro-fundas? Pois é, eu também nunca vi isso acontecer. E tem mais: a impressão que dá é que, ao ouvir provas esmagadoras contra aquilo que acredita, o indivíduo reafirma as suas opiniões. O motivo é que esses dados colocam em risco sua visão de mundo.

Os criacionistas, por exemplo, rejeitam as pro-vas da evolução oferecidas por fósseis e pelo DNA, porque temem que os poderes laicos estejam avançando sobre o terreno da fé reli-giosa. Os inimigos das vacinas desconfiam dos grandes laboratórios farmacêuticos e acham que o dinheiro corrompe a medicina. Isso os leva a defender que as vacinas cau-sam autismo, embora o único estudo que rela-cionava essas duas coisas tenha sido des-mentido há bastante tempo, e seu autor tenha sido acusado de fraude. Quem defende as teorias da conspiração em torno dos atenta-dos de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos se fixam em minúcias como o ponto de fusão do aço nos edifícios do World Trade Center, porque acreditam que o Governo mentia e realizou operações secretas a fim de criar uma nova ordem mundial. Os negacio-nistas da mudança climática estudam os a-néis das árvores, os núcleos do gelo e as ppm (partes por milhão) dos gases de efeito estufa porque defendem com paixão a liberdade, em especial a dos mercados e empresas, de agi-rem sem precisar se ater às rigorosas normas governamentais. Quem jurava que Barack O-bama não nasceu nos Estados Unidos disse-cava desesperadamente sua certidão de nas-cimento em busca de mentiras, porque estava

convencido de que o primeiro presidente afro-americano dos EUA era um socialista empe-nhado em destruir seu país. Os defensores dessas teorias têm em comum a convicção de que seus adversários céticos colocam em ris-co sua visão de mundo. E rejeitam os dados contrários às suas posturas por considerarem que provêm do lado inimigo.

O fato de as convicções serem mais fortes que as provas se deve a dois fatores: a disso-nância cognitiva e o chamado efeito contra-producente. No clássico When Prophecy Fails (“quando a profecia falha”), o psicólogo Leon Festinger e seus coautores escreviam, já em 1956, a respeito da reação dos membros de uma seita que acreditava em OVNIs quando a espaçonave que esperavam não chegou na hora prevista. Em vez de reconhecerem seu erro, “continuaram tentando convencer o mun-do inteiro” e, “numa tentativa desesperada de eliminar sua dissonância, dedicaram-se a fa-zer uma previsão atrás da outra, na esperan-ça de acertar alguma delas”. Festinger cha-mou de dissonância cognitiva a incômoda ten-são que surge quando duas coisas contraditó-rias são pensadas ao mesmo tempo.

Em seu livro Mistakes Were Made, But Not By Me (“foram cometidos erros, mas não fui eu”, 2007), dois psicólogos sociais, Carol Tavris e Elliot Aronson (aluno de Festinger), documen-tam milhares de experimentos que demons-tram que as pessoas manipulam os fatos para adaptá-los às suas ideias preconcebidas a fim de reduzirem a dissonância. Sua metáfora da “pirâmide da escolha” situa dois indivíduos juntos no vértice da pirâmide e mostra como, ao adotarem e defenderem posições diferen-tes, começam a se distanciar rapidamente, até que acabam em extremos opostos da ba-se da pirâmide.

Corrigir uma falsidade pode reforçar as per-cepções equivocadas do grupo, porque colo-ca em risco a sua visão de mundo

Em outras experiências, os professores Bren-dan Nyhan, do Dartmouth College (EUA), e Jason Reifler, da Universidade de Exeter (Reino Unido), identificaram um fator relacio-nado a essa situação: o que chamaram de efeito contraproducente, “pelo qual, ao tentar

corrigir as percepções equivocadas, estas se reforçam no grupo”. Por quê? “Porque colo-cam em perigo sua visão de mundo ou de si mesmos.”

Por exemplo, os participantes do estudo fo-ram apresentados a falsos artigos de impren-sa que confirmavam ideias errôneas, porém muito difundidas, como a de que havia armas de destruição em massa no Iraque antes da invasão norte-americana de 2003. Quando confrontados posteriormente com um artigo que explicava que na verdade essas armas nunca haviam sido encontradas, os que se opunham à guerra aceitaram o novo artigo e rejeitaram o anterior. Entretanto, os partidá-rios do conflito bélico argumentaram que o novo artigo os deixava ainda mais convictos da existência das armas de destruição em massa, pois seria uma prova de que o ex-ditador Saddam Hussein havia escondido ou destruído seu arsenal. Na verdade, dizem Nyhan e Reifler, entre muitos destes últimos participantes “a ideia de que o Iraque tinha armas de destruição em massa antes da inva-são encabeçada pelos Estados Unidos persis-tiu até bem depois de que o próprio Governo de George W. Bush chegasse à conclusão de que não era assim”.

Se os dados que deveriam corrigir uma opini-ão só servem para piorar as coisas, o que po-demos fazer para convencer o público sobre seus equívocos? Pela minha experiência, aconselho manter as emoções à margem; dis-cutir sem criticar (nada de ataques pessoais e nada de citar Hitler); ouvir com atenção e ten-tar expressar detalhadamente a outra postura; mostrar respeito; reconhecer que é compreen-sível que alguém possa pensar dessa forma; tentar demonstrar que, embora os fatos sejam diferentes do que seu interlocutor imaginava, isso não significa necessariamente uma alte-ração da sua visão de mundo.

Talvez essas estratégias nem sempre sirvam para levar as pessoas a mudarem de opinião, mas é possível que ajudem a que não haja tantas divisões desnecessárias.

MICHAEL SHERMER

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Socializando

Ouvir mais e falar menos

Ouvir mais do que falar é extremamente ele-gante, além de ser um meio para conseguir informações e conhecer melhor as pessoas.

Muitos que querem aprender essa habilidade acabam descobrindo também como se ex-pressar sucintamente, outra característica for-midável em momentos de socialização. Para começar a mudança, pense em quando você

fala e o tempo que passa se expressando e trabalhe para reduzir seu tempo de fala. Em seguida, você terá que trabalhar sua habilida-de em escutar o que os outros dizem.

Preste atenção quando alguém estiver falan-do com você, faça contato visual, sorria, mos-tre que está acompanhando a conversa. So-mente depois dessas medidas você consegui-rá falar menos e ouvir mais.

Quem escolhe as próprias palavras com crité-rio costuma ter mais atenção das pessoas. Já aqueles que insistem em ficar repetindo suas opiniões em cada oportunidade, ou quem sempre tem uma história chata para contar, costuma não ser interessante e perde o inte-resse do interlocutor.

Além disso, esse comportamento acaba por divulgar muito mais informações do que deve-ria.

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Fevereiro 2018 Gazeta Valeparaibana Página 15

Voluntariado

Alguns sabem exatamente onde ou com

quem querem trabalhar. Outros estão prontos

a ajudar no que for preciso, onde a necessi-

dade é mais urgente. Cada compromisso

assumido, no entanto, é para ser cumprido. ...

O voluntariado não compete com o trabalho

remunerado nem com a ação do Estado.

Os Mandamentos do Voluntário

1. Todos podem ser voluntários

Não é só quem é “especialista” em alguma

coisa que pode ser voluntário. Todos podem

participar e contribuir: o que cada um faz bem

pode fazer bem a alguém. O que conta é a

motivação solidária, o desejo de ajudar, o pra-

zer de se sentir útil.

2. Voluntariado é uma relação humana, ri-

ca e solidária

Trabalho voluntário não é uma atividade fria,

racional e impessoal. É contato humano, é

relação de pessoa a pessoa, oportunidade

para se fazer novos amigos, intercâmbio e

aprendizado.

3. Trabalho voluntário é uma via de mão

dupla: o voluntário doa e recebe

Voluntariado não tem nada a ver com obriga-

ção, com coisa chata, triste, motivada por

sentimento de culpa. Voluntariado é uma ex-

periência espontânea, alegre, prazerosa, gra-

tificante. O voluntário doa sua energia e criati-

vidade mas ganha em troca contato humano,

convivência com pessoas diferentes, oportuni-

dade de viver outras situações, aprender coi-

sas novas, satisfação de se sentir útil.

4. Voluntariado é ação

O voluntário é uma pessoa criativa, decidida,

solidária. Não é preciso pedir licença a nin-

guém antes de começar a agir. Quem quer,

vai e faz. Claro que quando a ação se dá no

interior de uma instituição – como uma esco-

la, uma biblioteca ou um hospital – a contribu-

ição do voluntário deve estar bem articulada

com as necessidades e procedimentos da en-

tidade que o recebe.

5. Voluntariado é escolha

As formas de ação voluntária são tão variadas

quanto as necessidades da comunidade e a

criatividade do voluntário. Durante muito tem-

po o voluntariado no Brasil se concentrou na

área de saúde e no atendimento a pessoas

carentes. A ajuda a pessoas em dificuldade é

fundamental, mas, hoje em dia, abrem-se

também novas oportunidades nas áreas de

educação, atividades esportivas e culturais,

proteção do meio ambiente, luta contra a vio-

lência etc. Cada necessidade é uma oportuni-

dade de ação voluntária. Basta olhar em volta

e dar o primeiro passo.

6. Voluntariado é compromisso

Cada um contribui, na medida de suas possi-

bilidades, com aquilo que sabe e quer fazer.

Uns têm mais tempo livre, outros só dispõem

de algumas poucas horas por semana. Al-

guns sabem exatamente onde ou com quem

querem trabalhar. Outros estão prontos a aju-

dar no que for preciso, onde a necessidade é

mais urgente. Cada compromisso assumido,

no entanto, é para ser cumprido. Uma peque-

na ação bem feita tem muito valor. Nada é

mais decepcionante do que prometer e não

ser capaz de realizar.

7. Cada um é voluntário a seu modo

Alguns são capazes individualmente de iden-

tificar um problema, arregaçar as mangas e

agir. Outros preferem atuar em grupo. Grupos

de vizinhos, de amigos, de estudantes ou a-

posentados, de colegas de trabalho que se

mobilizam para ajudar pessoas e comunida-

des. Por vezes é uma instituição inteira que

se mobiliza, seja ela um clube, uma igreja,

uma entidade beneficente ou uma empresa.

No voluntariado é assim: não há fórmulas

nem receitas a serem seguidas.

8. Voluntariado é uma ação duradoura e

com qualidade

O voluntariado não compete com o trabalho

remunerado nem com a ação do Estado. Sua

função não é tapar buracos nem apenas com-

pensar carências. Uma sociedade participante

e responsável, capaz de agir por si mesma,

não espera tudo do Estado. Assume também

a sua parte sem abrir mão de cobrar dos go-

vernos aquilo que só eles podem fazer.

9. Voluntariado é uma ferramenta de inte-

gração social

Compartir alegria e aliviar o sofrimento de ou-

tros, melhorar a qualidade de vida em comum

é um direito de todos. Todos têm o direito de

ser voluntários. Os jovens, as pessoas porta-

doras de necessidades especiais, os aposen-

tados e os idosos têm muito a contribuir com

seus valores, experiência e criatividade. Asse-

gurar a todos o direito de ser voluntário signifi-

ca construir uma sociedade mais tolerante

com as diferenças, mais solidária e unida.

10. No voluntariado todos ganham: o vo-

luntário, aquele com quem o voluntário tra-

balha, a comunidade.

Ao mobilizar energias, recursos e competên-

cias em prol de ações de interesse comum, o

voluntariado combate a indiferença, a discri-

minação e a exclusão social, fortalece a soli-

dariedade e a cidadania, reforça o pertenci-

mento de todos a uma mesma sociedade. A-

judando aos outros, ajudamos a nós mesmos

e a todos.

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Podemos mudar o Brasil, os cidadãos não aceitam mais o papel

de agentes passivos da política.

Todo ano, o Programa das Nações Unidas

para o Desenvolvimento (o Pnud da ONU) e-

labora um relatório que analisa um grande

problema nacional, apontando sugestões de

solução. Esse documento, publicado junto

com a divulgação dos índices de desenvolvi-

mento humano (IDH), têm grande impacto po-

lítico. Ele ajuda prefeitos, governadores, mi-

nistros e empresários a definirem suas estra-

tégias. E também aumenta a cobrança públi-

ca para resolver determinado problema. No

entanto, o tema central da ONU é tradicional-

mente escolhido por um grupo de especialis-

tas da instituição.

Este ano, a ONU decidiu fazer uma consulta à

sociedade para escolher qual é a questão pri-

oritária para o país. O programa começou

com reuniões para consultas públicas em seis

capitais. Depois, a ONU organizou encontros

com grupos de moradores das 10 cidades

com pior IDH do país. Também mandou um

questionário para os 4.009 cursos de pós-

graduação em desenvolvimento no país. E

agora ampliou para a população. A ONU está

fazendo uma consulta na internet. Qualquer

um pode opinar. As sugestões que os leitores

de ÉPOCA deixarem nos comentários serão

encaminhadas também para a equipe que

vai contabilizar o tema mais votado. Ou os te-

mas.

"O primeiro impacto positivo disso é que obri-

ga as pessoas a estabelecer prioridades para

o país", diz Flavio Comim, coordenador do

relatório. "Isso é um amadurecimento do pú-

blico, que começa a pensar com a cabeça do

gestor, que precisa escolher entre uma ação

e outra". Para ele, o segundo efeito positivo é

aumentar a participação do público nas solu-

ções.

Assim, estamos lhe perguntando: O que mu-

dar no Brasil?

[email protected]

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Os agricultores que alimentarão

o mundo

Crescimento econômico e dinâmica popula-

cional serão importantes motores de transfor-

mação da sociedade nas próximas décadas.

A Organização das Nações Unidas (ONU) es-

tima que a população mundial deverá atingir

cerca de 9,8 bilhões até 2050, crescimento

que será acompanhado por evolução da ren-

da e da demanda por alimentos. Em função

das mudanças demográficas, teremos uma

população mais urbana, mais idosa, mais rica

e mais exigente, demandando mais frutas, le-

gumes, proteína animal, além de alimentos

mais elaborados e sofisticados. Essa realida-

de pressionará os setores agroalimentar e a-

groindustrial e poderá elevar os riscos relacio-

nados à poluição, esgotamento do solo, da

água e da biodiversidade, além de intensificar

estresses devido às mudanças climáticas glo-

bais.

Outra preocupação crescente refere-se ao ti-

po de unidades produtivas e de agricultores

que serão necessários para garantia da segu-

rança alimentar e nutricional das populações

no futuro. Afinal, sem agricultores e sem fa-

zendas não há sistema alimentar. Assim, uma

ação central em qualquer estratégia de de-

senvolvimento é a busca de condições que

viabilizem econômica, social e ambientalmen-

te a produção de alimentos, proporcionando

renda e condições de vida dignas aos agricul-

tores, aos trabalhadores do campo e suas fa-

mílias, além de proteção aos recursos natu-

rais. Esta discussão ocorre em meio a um

grande debate, energizado por certo viés ide-

ológico, que antagoniza pequenos produtores

e a agricultura de maior escala na discussão

dos modelos de produção de alimentos mais

adequados para o futuro.

Para melhor contextualizar esta discussão, é

preciso examinar os números levantados pela

Organização das Nações Unidas para a Ali-

mentação e Agricultura (FAO), em 2016, so-

bre os agricultores no mundo. O estudo cobriu

167 países, que representam 96% da popula-

ção mundial, 97% da população ativa na agri-

cultura e 90% das terras agrícolas, mostrando

existirem cerca de 570 milhões de proprieda-

des rurais em todo o globo. A Ásia concentra

74% delas, sendo que a China responde por

35% e a Índia, por 24%. Nove por cento são

encontrados na África Subsaariana, e 7% na

Europa e Ásia Central. Fazendas na América

Latina e Caribe representam 4% e apenas 3%

estão localizadas no Oriente Médio e no norte

da África. Treze por cento das fazendas estão

em países de baixa renda e 4% nos países

mais ricos, ficando os países em desenvolvi-

mento de renda mediana com 83% de todas

as propriedades rurais do globo.

A FAO estudou também uma amostra de 111

países e territórios com um total de cerca de

460 milhões de propriedades rurais e concluiu

que 72% delas têm menos de um hectare, 12-

% têm entre 1 e 2 hectares, 10%, entre 2 e 5

hectares. Apenas 6% das fazendas do mundo

são maiores que 5 hectares. Com o cresci-

mento populacional, a tendência é de frag-

mentação ainda maior das unidades produti-

vas nos países mais pobres. Durante a última

década, na África, o tamanho médio das pro-

priedades foi reduzido de 2,4 para 2,1 hecta-

res, e de 2,2 para 1,1 hectares na Índia, entre

1970 e 2011. Reduções no tamanho das pro-

priedades impedem os agricultores de viver

de maneira digna, ampliando a migração para

as cidades. Some-se a isso o fato de que

cresce em todo o mundo o número de agricul-

tores ativos com mais de 60 anos de idade,

grande parte sem perspectivas de sucessão,

já que os filhos buscam outras profissões.

Estudos da FAO também revelam que o pro-

gresso e o crescimento da renda provocam a

redução no número de agricultores e o au-

mento no tamanho das propriedades. As mai-

ores, com uma superfície superior a 5 hecta-

res, cobrem 27% das terras em países de bai-

xa renda, 43% nos países de renda média

baixa, 96% nos países de renda média alta, e

97% em países de alta renda. Países desen-

volvidos, grandes produtores e exportadores

de alimentos, como Estados Unidos e Holan-

da, por exemplo, têm menos de 1% da força

de trabalho no campo. Ainda assim, cerca de

14% da economia holandesa e 5.5% da gi-

gantesca economia americana resultam da

produção agrícola.

Portanto, a dura realidade que se apresenta

no horizonte de 2050 não poderá ser enfren-

tada a partir de um estéril embate entre pe-

quenos e grandes produtores. Ambos são es-

senciais, uma vez que dobrar a produção de

alimentos em prazo tão curto exigirá a mode-

lagem de uma agricultura cada vez mais di-

versificada e especializada. O mundo precisa-

rá investir na intensificação do uso das terras

já destinadas à produção, além de expansão

prudente de área, com rigoroso balizamento

na sustentabilidade. A agricultura comercial

de maior escala seguirá se ampliando com o

avanço do progresso econômico, especial-

mente para prover produtos de grande de-

manda como soja, milho, carnes, açúcar, fi-

bras, dentre outros.

Os pequenos produtores continuarão sendo

uma maioria muito importante para o futuro da

segurança alimentar, mas sua viabilidade de-

penderá de apoio e políticas públicas relacio-

nadas à propriedade da terra e à sucessão,

ao acesso a conhecimento, tecnologia e finan-

ciamento, além de mercados amigáveis à lógi-

ca da inclusão produtiva. A produção se tor-

nará mais diversa e especializada para ga-

nhar a preferência de consumidores cada vez

mais exigentes. Hortaliças, frutas, cafés e pro-

dutos especiais ligados à moderna gastrono-

mia já sustentam modelos mais sofisticados e

rentáveis de pequena produção em muitos

países, e certamente se expandirão no futuro.

O Brasil, neste momento, realiza um novo

Censo Agropecuário para levantamento de

informações sobre o seu setor agropecuário.

Este retrato atual do mundo rural brasileiro, a

ser aprontado em 2018, nos permitirá traçar

um perfil detalhado da produção e dos nossos

agricultores, base para projetarmos o futuro

que queremos para as múltiplas agriculturas

que povoam nosso imenso e diverso país.

Autor: Maurício Antônio Lopes

Presidente da Embrapa

Edição 123 - Fevereiro 2018 - Última página

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Nove em cada dez das 570 milhões de propriedades agrícolas no mundo são geridas por famílias, fazendo com que a agricultura familiar seja a forma mais predominante de agricultura e, consequentemente, um potencial e crucial agente de mudança para alcançar a segurança alimentar sustentável e a erradicação da fome no futuro. Os dados fazem parte do novo relatório das Nações Unidas. A agricultura familiar produz cerca de 80% dos alimentos no mundo. A prevalência e a produção significam que “são vitais para a solução do problema da fome”, que atinge mais de 800 milhões de pessoas