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MANUAIS TÉCNICOS PARA A FORMAÇÃO DE EFORMADORES CAPÍTULO 1: EVOLUÇÃO HISTÓRICA E TEORIA DO ENSINO ADISTÂNCIA
Produção apoiada pelo POEFDS e cofinanciado por:
2
FICHA TÉCNICA
O Promotor
Portugal Telecom Inovação, S.A.
Rua Eng. José Ferreira Pinto Basto
3810106 Aveiro, Portugal
Tel: 234 403 200
Fax: 234 424 723
email: [email protected]
A Parceira
eForgest – Consultadoria e Investigação em Educação, Formação, Gestão e Recursos Humanos
Largo Vitorino Damásio, 3 – 1.º Esq.
1200872 Lisboa, Portugal
Tel: 21 397 62 42 / 3
Fax: 21 397 62 44
email: [email protected]
3
ÍNDICE
1. Apresentação do Capítulo – Evolução Histórica e Teoria do Ensino a Distância....................................................7
1.1. Enquadramento........................................................................................................................................7
1.2. Objectivos................................................................................................................................................7
1.3. Destinatários............................................................................................................................................7
1.4. Prérequisitos...........................................................................................................................................7
1.5. Palavraschave ........................................................................................................................................7
1.6. Duração...................................................................................................................................................8
1.7. Vantagens e condições de utilização.........................................................................................................8
1.8. Conteúdo Programático............................................................................................................................8
1.9. Síntese do Capítulo..................................................................................................................................8
2. Apresentação do Módulo 1 – Introdução ao Ensino A DISTÂNCIA .....................................................................10
2.1. Enquadramento......................................................................................................................................10
2.2. Objectivos..............................................................................................................................................10
2.3. Palavraschave ......................................................................................................................................10
2.4. Actividades ............................................................................................................................................10
2.5. Unidades de Aprendizagem....................................................................................................................11
3. Apresentação da Unidade 1 – Conceito e Evolução Histórica do Ensino a distância............................................12
3.1. Sumário .................................................................................................................................................12
3.2. Objectivos específicos............................................................................................................................12
3.3. Palavraschave ......................................................................................................................................12
3.4. O que é o Ensino a Distância..................................................................................................................12
3.5. As Gerações do Ensino a Distância ........................................................................................................14
3.6. Síntese da Unidade................................................................................................................................18
4. Apresentação da Unidade 2 – O eLearning........................................................................................................19
4.1. Sumário .................................................................................................................................................19
4.2. Objectivos específicos............................................................................................................................19
4.3. Palavraschave ......................................................................................................................................19
4.4. A Internet e a Nova Cultura.....................................................................................................................19
4.5. O eLearning ...........................................................................................................................................20
4.6. Comunidades Virtuais de Aprendizagem.................................................................................................22
4.7. Síntese da Unidade................................................................................................................................23
5. Apresentação do Módulo 2 – Teorias e Modelos de Aprendizagem em EaD.......................................................24
4
5.1. Enquadramento......................................................................................................................................24
5.2. Objectivos..............................................................................................................................................24
5.3. Palavraschave ......................................................................................................................................24
5.4. Actividades ............................................................................................................................................24
5.5. Unidades de Aprendizagem....................................................................................................................25
6. Apresentação da Unidade 1 – Conceito e Evolução Histórica do Ensino a distância............................................26
6.1. Sumário .................................................................................................................................................26
6.2. Objectivos específicos............................................................................................................................26
6.3. Palavraschave ......................................................................................................................................26
6.4. A Teoria da Industrialização....................................................................................................................26
6.5. A Teoria do estudo Independente ...........................................................................................................28
6.6. A Teoria da Conversação Didáctica Guiada ............................................................................................29
6.7. A teoria da Distância Transaccional ........................................................................................................31
6.8. Síntese da unidade.................................................................................................................................32
7. Apresentação da Unidade 2 – Perspectivas Teóricas da Aprendizagem .............................................................33
7.1. Sumário .................................................................................................................................................33
7.2. Objectivos específicos............................................................................................................................33
7.3. Palavraschave ......................................................................................................................................33
7.4. O Construtivismo de Piaget ....................................................................................................................33
7.5. O Construtivismo de Vygotsky ................................................................................................................36
7.6. O Comportamentalismo..........................................................................................................................37
7.7. A Cognição Situada................................................................................................................................39
7.8. Síntese da Unidade................................................................................................................................39
8. Apresentação da Unidade 3 – Modelos instrucionais em Ensino a Distância.......................................................40
8.1. Sumário .................................................................................................................................................40
8.2. Objectivos específicos............................................................................................................................40
8.3. Palavraschave ......................................................................................................................................40
8.4. Problem Based Learning ........................................................................................................................40
8.5. Aprendizagem Colaborativa....................................................................................................................42
8.6. Síntese da Unidade................................................................................................................................43
9. Referências bibliográficas..................................................................................................................................44
9.1. Bibliografia .............................................................................................................................................44
9.2. Webliografia...........................................................................................................................................45
5
9.3. Artigos Opcionais ...................................................................................................................................45
6
CARACTERIZAÇÃO DO CAPÍTULO EVOLUÇÃO HISTÓRICA E TEORIA DO ENSINO A DISTÂNCIA
7
1. APRESENTAÇÃO DO CAPÍTULO – EVOLUÇÃO HISTÓRICA E TEORIA DO ENSINO A DISTÂNCIA
1.1. Enquadramento
O presente capítulo pretende ser uma abordagem técnicoprática
sobre as temáticas da Evolução Histórica e das Teorias
associadas ao Ensino a Distância.
Será descrita a evolução histórica do ensino a distância de modo
a perceber e caracterizar a génese deste regime de formação.
Esta descrição é complementada com conteúdos de sequência
relativos à aquisição de saberes relacionados com modelos
teóricos enquadradores das práticas do Ensino a Distância (EaD).
Pretendese desta forma providenciar as bases necessárias à
exploração da temática do EaD, através dos conceitos centrais,
teorias e mecanismos que estiveram na origem das evoluções,
desde os seus primórdios, em difusão via postal, até às formas
mais recentes centradas na distribuição de formação através de
estratégias de eLearning.
Esperase que as visões do processo evolutivo do ensino a distância promovam a procura de informações
complementares para que cada utilizador defina a sua forma de encarar esta modalidade formativa.
1.2. Objectivos
Com este capítulo pretendese que os seus destinatários adquiram conhecimentos e competências para:
• Descrever a evolução histórica do EaD, relacionandoa com os meios de comunicação;
• Identificar os elementos intervenientes na relação pedagógica a distância;
• Descrever as principais teorias do EaD;
• Identificar e caracterizar os diferentes modelos de aprendizagem adaptados ao EaD;
1.3. Destinatários
Formadores, técnicos e outros profissionais da formação que pretendam desenvolver, consolidar e aprofundar
conhecimentos e competências relacionados com a avaliação no ensino e formação a distância.
1.4. Prérequisitos
Conhecimentos de informática na óptica do utilizador. Acesso à plataforma de eLearning, disponível via Intranet ou via
Internet. Motivação e disponibilidade para aprender utilizando as novas tecnologias de formação.
1.5. Palavraschave
• Ensino a Distância (EaD);
8
• eLearning;
• Teorias do EaD;
• Teorias da Aprendizagem;
• Modelos instrucionais;
• Comunidades Virtuais.
1.6. Duração
A duração média prevista para o estudo deste capítulo é de 18horas.
1.7. Vantagens e condições de utilização
As vantagens de utilização deste manual reflectemse na aprendizagem do utilizador na medida em que este lhe
permite o acesso a informação base, aplicações práticas, bibliografias de apoio, orientações de aprofundamento de
conhecimento e exercícios de verificação.
Tudo isto vai permitir ao utilizador do manual adquirir novos conhecimentos e consolidar conhecimentos já adquiridos.
1.8. Conteúdo Programático
Este capítulo é composto por dois módulos:
• Módulo 1 – Introdução ao Ensino a Distância (aproximadamente 7 horas):
o Unidade 1 – Conceito e Evolução Histórica do Ensino a Distância;
o Unidade 2 – O eLearning.
• Módulo 2 – Teorias e Modelos de Aprendizagem em Ensino a Distância (aproximadamente 11horas):
o Unidade 1 – Teorias do Ensino a Distância;
o Unidade 2 – Perspectivas Teóricas da Aprendizagem;
o Unidade 3 – Modelos Instrucionais em Ensino a Distância.
1.9. Síntese do Capítulo
O presente capítulo é composto por dois módulos onde se efectua uma introdução à temática do ensino a distância.
Assim, no primeiro módulo é apresentado o conceito e a evolução histórica do ensino a distância dando especial ênfase
ao conceito de eLearning.
O segundo módulo aborda as principais teorias do ensino a distância, algumas perspectivas teóricas da aprendizagem
e, ainda, os modelos instrucionais no ensino a distância.
9
APRESENTAÇÃO DOS MÓDULOS E RESPECTIVAS UNIDADES DE APRENDIZAGEM
10
2. APRESENTAÇÃO DO MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO AO ENSINO A DISTÂNCIA
2.1. Enquadramento
O EaD tem referências históricas significativas desde os meados
do séc. XIX.
De acordo com Trindade (2000), o aparecimento da primeira
escola de ensino por correspondência na Europa (o Sir Isaac
Pitman Correspondence College), verificouse em 1840, no Reino
Unido. Estes modelos têm evoluído ao ritmo das tecnologias
disponíveis em cada momento histórico, as quais influenciam o
ambiente educativo/formativo e a sociedade.
Devemos referir que existem alguns marcos significativos neste processo evolutivo e que provocaram alterações
substanciais nos processos de ensinoaprendizagem, quer pela introdução de materiais de ensino de valor formativo
elevado, quer ainda pela melhoria das condições de interacção entre o formando e os seus tutores.
O EaD foi utilizado inicialmente como recurso para proporcionar a vastas camadas da população a educação básica, a
qualificação profissional e aperfeiçoamento ou actualização de conhecimentos. Hoje, cada vez mais, é também utilizado
em programas que complementam outras formas tradicionais, presenciais, de interacção e é visto por muitos como uma
modalidade de ensino alternativo que pode complementar parte do sistema regular de ensino presencial.
2.2. Objectivos
O principal objectivo deste módulo é descrever a evolução histórica do EaD, apresentando as principais diferenças entre
as suas gerações, relacionandoas com os desenvolvimentos tecnológicos verificados nos meios e suportes de
comunicação.
2.3. Palavraschave
• Ensino a Distância;
• Gerações do EaD;
• Meios de Comunicação;
• Evolução tecnológica;
• Universidades Abertas;
• eLearning;
• Comunidades Virtuais de Aprendizagem.
2.4. Actividades
• Realização de questionários de autoavaliação;
11
• Realização de actividades pedagógicas.
2.5. Unidades de Aprendizagem
O módulo 1 é constituído por duas unidades de aprendizagem:
• Unidade 1: Conceito e Evolução Histórica do Ensino a Distância;
• Unidade 2: O eLearning.
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3. APRESENTAÇÃO DA UNIDADE 1 – CONCEITO E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ENSINO A DISTÂNCIA
3.1. Sumário
A presente unidade tem como objectivo o conhecimento da evolução histórica do EaD criando condições para a
compreensão deste regime de formação. Assim, visa a aquisição de saberes sobre a perspectiva histórica do EaD e a
sua relação com o desenvolvimento dos meios de comunicação, introduzindo a temática e versando sobre os aspectos
de contexto histórico, social e económico.
3.2. Objectivos específicos
• Compreender o conceito de EaD;
• Associar os elementos diferenciadores do EaD a situações reais;
• Nomear as principais gerações do EaD e identificar as suas características distintivas;
• Caracterizar as especificidades dos regimes de ensino/formação em eLearning.
3.3. Palavraschave
• Ensino a Distância;
• Gerações do Ensino a Distância.
3.4. O que é o Ensino a Distância
Qualquer sistema de educação/formação visa a criação de um ambiente de
aprendizagem que permita ao indivíduo desenvolver um determinado processo
de aprendizagem.
O EaD posicionase como uma alternativa pedagógica ao ensino presencial e
deve utilizar e incorporar as novas tecnologias como meio para alcançar os
objectivos das práticas educativas.
Podese dizer, de forma sucinta, que um regime de EaD é caracterizado por:
• Estudo individualizado e independente;
• Separação física entre professor–estudante durante o processo de
aprendizagem;
• Processo de aprendizagem suportado normalmente em materiais
mediatizados;
• A comunicação bidireccional entre a instituição e os estudantes;
• A relação institucional formalizada tendo em conta actos de natureza
administrativa (matriculas, certificados, etc.) e pedagógica (tutoria e
aconselhamento).
13
Saber Mais “O EaD distinguese da modalidade de ensino presencial por ser um sistema tecnológico de comunicação bidireccional
que pode ser massivo e que substitui a interacção pessoal na sala de aula entre professor e estudante como meio
preferencial de ensino pela acção sistemática e conjunta de diversos recursos didácticos, apoio de uma organização e
tutoria que propiciam uma aprendizagem independente e flexível.” Lorenzo Garcia Aretio (1995)
O EaD caracterizase, segundo Keegan (1996), pelas seguintes características:
• A quase permanente separação entre professor e o estudante ao longo
do processo de aprendizagem, que contrasta com o ensino presencial
tradicional;
• A influência de uma organização, quer na planificação e preparação
dos materiais para aprendizagem quer na preparação de serviços de
apoio a essa aprendizagem;
• O uso de tecnologias para estabelecer a ligação e promover a
comunicação entre o professor e o estudante;
• O estabelecimento de canais de comunicação bidireccionais através do
qual os participantes podem estabelecer diálogo;
• A quase permanente ausência de trabalho de grupo ao longo do
processo, excepção das sessões presenciais que possam viabilizar a
sociabilização ou do uso de meios de comunicação síncrona (ex.:
teleconferência).
O EaD deve ser compreendido como uma prática educativa mediatizada, uma modalidade de se fazer educação, de se democratizar o conhecimento.
Nesta modalidade, a relação pedagógica entre professor/estudante e entre
estes é mediada pelo uso de uma determinada ferramenta tecnológica, o que
implica que os seus actores não se encontrem presentes faceaface, no
mesmo espaço físico e, eventualmente, nem se encontrem no mesmo tempo.
Apesar de directamente relacionado com as componentes tecnológicas de
suporte, o EaD não é uma prática recente, nem se refere exclusivamente ao
uso das novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) como
mediadores do processo de aprendizagem.
Na secção seguinte iremos apresentar uma perspectiva da evolução histórica do EaD ao longo do tempo, naquilo que
se consideram ser as Gerações do EaD.
14
3.5. As Gerações do Ensino a Distância
A definição das diferentes gerações do EaD varia de autor para autor, de acordo
com os critérios que os próprios definem.
Alguns autores consideram a tecnologia utilizada como critério fundamental para
fazer esta distinção, enquanto outros preferem caracterizar as diferentes eras
face à forma de interacção entre os diferentes participantes, ou ponto mais
comum, relacionando os suportes tecnológicos, com o tipo de interacção que
permitem.
Por exemplo, Garrison publica um artigo em 1985 em que defende que “a evolução tecnológica conduziu ao surgimento
de paradigmas alternativos ao nível dos princípios e conceitos associados à Educação a Distância, identificando neste
domínio a existência de três gerações de inovação tecnológica” (Garrison in Gomes, 2003), as quais são consideradas
na perspectiva das modalidades de comunicação bidireccional disponíveis.
O autor define a existência de uma primeira geração tecnológica associada ao ensino por correspondência, ou seja, a partir do momento em que foi possível aliar à palavra impressa um meio de comunicação bidireccional, como são os
serviços postais.
A segunda geração tecnológica definida por Garrison (telecommunications generation) iniciase com o recurso a tecnologias de comunicação electrónica como sejam o telefone e a teleconferência (áudio e/ou vídeo). Esta nova
geração tecnológica veio permitir uma interacção mais rápida e eficaz entre os diferentes participantes de um programa.
Finalmente, o autor identifica uma terceira geração tecnológica (computer generation) baseada nas possibilidades de interactividade que se perspectivavam na época com o desenvolvimento dos computadores e agora substancialmente
confirmadas com o boom da Internet.
Informação Útil Também Bates (1995) assume a existência de três gerações tecnológicas, evidenciando a importância da interacção
entre professor e estudantes e destes entre si, na definição e descrição de cada uma das gerações.
Estes autores apenas consideram os suportes tecnológicos de comunicação bidireccional na sua análise. Por outro
lado, mais recentemente, a autora Maria João Gomes propõe uma distinção entre gerações que não faz esta
segregação:
“O potencial das diferentes tecnologias, mesmo quando permitindo exclusivamente a comunicação unidireccional (caso
das emissões radiofónicas ou televisivas, por exemplo) parecenos um aspecto importante em qualquer esforço de
sistematização da evolução dos modelos de ensino a distância tendo em conta a sua caracterização do ponto de vista
das tecnologias utilizadas”. Maria João Gomes (2003)
Na sua análise, Gomes estabelece os seguintes critérios para a distinção entre as gerações do EaD:
• Media e tecnologias utilizadas na representação e distribuição de conteúdos;
• Media e tecnologias utilizadas na mediação da comunicação professor/estudante, e destes entre si;
• Modelo comunicacional adoptado entre professores e estudantes;
• Modelo comunicacional adoptado entre estudantes.
15
Estes critérios, comummente aceites, são a base da diferenciação entre as várias gerações, tal como propomos de
seguida:
Primeira Geração – Cursos por Correspondência
A primeira geração do EaD é comummente associada aos Cursos por Correspondência, que surgiram em meados do século XIX, tendo a Revolução Industrial como pano de fundo.
Nessa época, o EaD caracterizouse pela utilização do sistema de correspondência como mediador dos processos de
comunicação pedagógica. Neste modelo, a comunicação resumese essencialmente à troca de documentos, em
suporte de papel e através do correio tradicional, entre professor e estudante.
Os estudantes adquiriam o conhecimento através do estudo dos materiais pedagógicos entregues pela entidade
formadora, executando depois testes de avaliação para comprovar os conhecimentos adquiridos. Para além dos
materiais, o estudante só comunicava com o seu instrutor para tirar eventuais dúvidas que pudesse ter. Embora com
custos relativamente baixos o EaD por correspondência é afectada pela dependência do tempo que o correio demora
entre uns e outros actores, sujeita a atrasos e/ou perdas de correspondência.
Assim, esta geração caracterizouse pela dificuldade de uma comunicação síncrona, em dois sentidos, entre
professor/estudante e estudante/professor. No entanto, actualmente existem ainda cursos de formação que têm este
meio de comunicação como base.
Segunda Geração – Universidades Abertas
A segunda geração do EaD iniciase com a possibilidade tecnológica que permite o recursos a múltiplos media, como o
texto, som, imagem estática e imagem vídeo, para a representação dos conteúdos a transmissão de som e imagem. O
factor despoletador desta segunda geração foi o surgimento das primeiras Universidades Abertas, no final da década de
60 do século XX.
Em Inglaterra, a Open University abriu em 1969 com cursos a distância, cujos modelos pedagógicos se baseavam
essencialmente nas emissões de rádio e televisão, gravações de cassetes áudio e vídeo e materiais escritos. A
comunicação com os estudantes era feita via telefone, fax ou correspondência, continuando a ser principalmente
unidireccional.
A utilização do telefone possibilitou aqui o surgimento da comunicação síncrona entre professores e estudantes. No
entanto, comunicar neste suporte podese tornar bastante dispendiosos pelo que os contactos mantidos por telefone se
limitavam ao mínimo indispensável. No entanto, verificase nesta 2ª geração, que a interacção entre estudantes
continua a ser inexistente.
A proliferação das cassetes de vídeo e da televisão por cabo e por satélite veio permitir novas realidades no EaD.
Assim, com a possibilidade de comunicar via satélite, verificase um grande impulso no acesso à educação mediada
pela tecnologia permitindo uma maior abrangência de públicos.
A possibilidade dos estudantes consultarem o material de ensino a qualquer hora do dia (salvo as excepções à
transmissão televisiva) foi crucial para que se criassem várias aplicações educacionais. Também o ensino por
correspondência ganhou um novo fôlego ao incorporar estas novas tecnologias.
De acordo com Keegan (1993), os estudantes eram já nesta segunda geração membros de uma forma embrionária de
comunidade de aprendizagem, onde lhes era permitida a hipótese de discussão e análise crítica de ideias, valores e
perspectivas, apesar de ainda não se verificarem interacções exclusivas entre estudantes.
16
Terceira Geração – Ensino Assistido por Computador
A terceira geração do EaD é caracterizada pelo desenvolvimento do ensino assistido por computador. Tornase assim possível usufruir das capacidades da imagem, do som e do movimento para transmissão/construção de conhecimentos
e permitindo a introdução de ferramentas que possibilitam uma maior interacção e flexibilidade no processo de
aprendizagem. Aproveitamse assim as capacidades da imagem, do som e do movimento para a transmissão de
conhecimentos e para a introdução de ferramentas que possibilitam maior interacção e flexibilidade de estudo.
O desenvolvimento de software educacional foi o principal factor impulsionador que permitiu aos estudantes fazerem
uma aprendizagem a distância assistida pelo computador.
Outra característica distintiva desta geração é a possibilidade de interacção/comunicação entre estudantes, apesar de,
nesta altura, este ainda não ser considerado um elemento fundamental para o desenvolvimento das actividades de
ensino/aprendizagem.
“Um dos elementos característicos desta geração é, então, a introdução do elemento «interactividade», ao qual está
associada a possibilidade de processos de feedback em relação às actividades de aprendizagem com um carácter de
imediatismo, o que até aí não era possibilitado pelas tecnologias de difusão disponíveis ”. Blanco in Gomes (2003)
Quarta Geração – Internet, Interactividade e eLearning
A quarta geração é marcada por uma aprendizagem mais flexível do que a que se verificava na geração anterior. Esta aprendizagem tem como base o recurso a informação e conteúdos presentes na Internet e nas redes de computadores.
Assim, as novas TIC trouxeram ao EaD uma flexibilidade ainda mais alargada, ou seja, os formandos podem aceder aos
conteúdos formativos a qualquer hora e em qualquer lugar, desde que devidamente apetrechados com um computador
e uma ligação à Internet.
As novas TIC possibilitam também a disponibilização de um feedback mais rápido e eficaz sobre o desempenho dos
estudantes na construção das suas aprendizagens. A interacção entre os diversos intervenientes, mesmo de forma
assíncrona, é cada vez mais imediata permitindo uma aprendizagem orientada face aos objectivos específicos de cada
estudante.
Deste modo, também os conteúdos instrucionais estão agora mais vocacionados para os seus utilizadores os quais,
para além de interagir directamente com os restantes estudantes e com os professores através da mediação
tecnológica com base na Internet, interagem também com os o próprio material formativo, seja de forma funcional ou
operacional. Assim, e de acordo com Gomes (2003), “a comunicação directa e frequente entre todos os intervenientes
(professores e estudantes) possibilitada pelos diversos serviços de comunicações mediadas por computador tornase
um princípio característico desta geração de inovação tecnológica no ensino a distância.
Por outro lado, começam também a surgir as plataformas de aprendizagem, os Learning Management Systems (LMS)
que facilitam a interacção, e criam verdadeiros ambientes virtuais de aprendizagem. Um LMS não é mais que um
software de gestão de sistemas de ensino/formação que tem como principais objectivos centralizar e simplificar a
administração e gestão dos programas de eLearning. Estes sistemas cobrem todos os processos de aprendizagem dos
modelos de EaD, possuindo vários perfis de utilização e administração e ferramentas de apoio aos sistemas permitindo
a realização de inscrições, relatórios, avaliação, tracking de utilizadores, etc..
Deste modo, podemos considerar que um LMS apoia a planificação e o desenvolvimento dos processos de
aprendizagem, permitindo a formandos e tutor uma partilha colaborativa de informação e conhecimento. Dentro destes
ambientes virtuais começam então a surgir verdadeiras comunidades virtuais de aprendizagem.
17
Saiba mais sobre os LMS em: http://wikipedia.org//wiki/Learning_Mangement_Systems
São exemplos de LMS:
• Moodle (http://moodle.org);
• Dokeos (www.dokeos.com);
• Blackboard (www.blackboard.com);
• Formare (www.formare.pt);
• etc..
A caracterização das diferentes gerações do EaD pode ser sistematizada como demonstra o quadro seguinte:
1ª Geração
Ensino por
correspondência
2ª Geração
TeleEnsino
3ª Geração
Multimédia
4ª Geração
“Aprendizagem em
rede”
Cronologia 1833 1970s... 1980s... 1994...
Representação de
conteúdos Monomedia Múltiplosmedia
Multimedia
interactivo Multimedia colaborativo
Distribuição de
conteúdos
Documentos
impressos e
recorrendo ao
correio postal.
Emissões em áudio
e/ou vídeo
recorrendo a
emissões
radiofónicas e
televisivas.
CDROMS e
DVDs recorrendo
ao correio postal.
Páginas Web
distribuídas em redes
telemáticas.
Ficheiros em rede para
download e upload.
Comunicação
professor/aluno Muito rara Pouco frequente Frequente Muito frequente
Modalidades de
comunicação
disponíveis
Assíncrona com
elevado tempo de
retorno.
Síncrona,
fortemente
desfasada no
tempo e transitiva.
Assíncrona, com
pequeno
desfasamento
temporal e
síncrona de
carácter
permanente (com
registo
electrónico).
Assíncrona individual
ou de grupo, com
pequeno desfasamento
temporal e síncrona
individual ou de grupo
e de carácter
permanente (com
registo electrónico).
Tecnologias
(predominantes)
de suporte à
comunicação
Correio postal Telefone Telefone e correio
electrónico
Correio electrónico e
conferências por
computador
18
3.6. Síntese da Unidade
Em síntese, o EaD caracterizase por:
• Uma separação no espaço e no tempo dos actos de ensinar e aprender;
• Uma separação no espaço e no tempo entre professor e estudante;
• Ênfase na auto aprendizagem e autonomia do estudante/formando que dialoga com a estrutura e interage com
os outros e com o próprio material através dos media e do uso das novas tecnologias;
• Comunicação bidireccional.
Numa perspectiva histórica, podemos considerar a existência de quatro gerações de ensino a distância:
• A primeira geração surge na segunda metade do século XIX e foi caracterizada pela utilização de materiais
impressos através do suporte da correspondência por correio;
• A segunda geração caracterizase pela utilização da televisão, rádio (e mais tarde das emissões por satélite)
que serviam de suporte a registos vídeo e áudio no apoio aos processos de aprendizagem;
• A terceira geração surge com a disseminação dos computadores. É caracterizada pela utilização de suportes
multimédia e por um ensino assistido por computador;
• A quarta geração é a geração da Internet e da interactividade. Surge nas últimas décadas do século XX e é
caracterizada pela disponibilização de recursos multimédia e interactivos disponibilizados através de redes de
computadores;
19
4. APRESENTAÇÃO DA UNIDADE 2 – O ELEARNING
4.1. Sumário
A presente unidade tem como objectivo particularizar o conceito de eLearning, apresentar as suas principais
características e especificidades, enumerando as suas principais vantagens e alguns obstáculos à sua plena
implementação dentro dos regimes de EaD.
4.2. Objectivos específicos
• Caracterizar o papel da Internet na transformação cultural das sociedades;
• Nomear as principais características associadas às comunidades virtuais de aprendizagem;
• Caracterizar os modelos de ensino/aprendizagem baseados em regimes de eLearning;
• Identificar os principais benefícios associados aos regimes de eLearning;
• Compreender os principais obstáculos que se verificam actualmente face à implementação de soluções
educativas em eLearning.
4.3. Palavraschave
• Internet e Nova Cultura;
• eLearning;
• Comunidades virtuais de aprendizagem.
4.4. A Internet e a Nova Cultura
A génese da Internet dáse entre o final da década de 60 e início da década de
70 do século XX. A primeira experiência de transmissão de dados entre dois
computadores ocorreu a 20 de Outubro de 1969, na Universidade da Califórnia
em Los Angeles, com recurso a um router denominado Interphase Message
Processor (uma máquina usada para transferir dados que tinha o tamanho de
um frigorífico).
A Internet como hoje a conhecemos, a World Wide Web (WWW), apenas
surgiria cerca de 10 anos mais tarde no Laboratório Europeu de Física de
Partículas (CERN), em Genebra. Desde essa altura, os desenvolvimentos
tecnológicos foramse sucedendo de forma exponencial até que, chegando aos
dias de hoje, a Internet se encontra cheia de páginas com imagens, sons, links
entre páginas e tornouse numa imensa rede de redes onde o acesso a um
gigantesco reservatório de informação é muito mais rápido e simples.
Saber Mais Para saber mais sobre o CERN aceda a: http://www.cern.ch
20
O desenvolvimento da Internet surge então numa época de profundas
reestruturações sociais, tendo contribuído para que estas se sucedessem a um
ritmo ainda mais vertiginoso. Desde o advento da Internet que se vêm
verificando alterações cada vez mais acentuadas entre a sociedade civil, o
estado e as estruturas de poder. Mas estas alterações já vêm de trás, estando
geralmente associadas aos principais desenvolvimentos tecnológicos da
segunda metade do século XX, como o telefone, a rádio e a televisão.
No entanto, as transformações sociais promovidas pelo desenvolvimento das
novas TIC e, em particular, da Internet, não se limitam à
centralização/descentralização das estruturas de poder entre o EstadoNação, a
sociedade civil e outras estruturas organizacionais.
Os novos meios e as novas formas de comunicar contribuem igualmente para alterações culturais tão ou mais
profundas como as que se verificam actualmente nas estruturas de poder.
Saber Mais “Nós não vemos (...) a realidade (...) como ela é, mas como são as nossas linguagens. E as nossas linguagens são os
media. Os nossos media são as nossas metáforas. As nossas metáforas criam o conteúdo da nossa cultura...) O
surgimento de um novo sistema electrónico de comunicação, caracterizado pelo seu alcance global, a integração de
todos os meios de comunicação e interactividade potencial, está a mudar e mudará para sempre a nossa cultura”. Postman in Castells (2003)
4.5. O eLearning
O conceito de eLearning não é consensual, existindo diversas definições, umas mais abrangentes que outras.
“eLearning é tão só “uma forma de disponibilização da informação utilizando TCP/IP”. Rosemberg (2002)
Dada esta definição, podemos então tentar definir eLearning como sendo também uma modalidade de EaD que
pressupõe que os processos de ensino/aprendizagem são baseados em conteúdos educacionais disponibilizados na
Internet.
Esta modalidade de ensino/formação foi impulsionada por diversos factores
dos quais podemos destacar os desenvolvimentos tecnológicos que originaram
a denominada Revolução Digital e uma realidade educativa que pressupõe a
incorporação dos novos paradigmas de aprendizagem construtivistas.
Os desenvolvimentos tecnológicos do final do século XX fizeram com que os
computadores e a Internet tivessem uma disseminação generalizada tornando
se em ferramentas de trabalho, educação e lazer de uso generalizado um
pouco por todo o mundo e promovendo alterações culturais e de modos de
vida, a qual se torna cada vez mais mediada pela tecnologia. Deste modo,
surgem também novas necessidades educacionais, seja para a actualização
das competências profissionais (relativas ao trabalho com as TIC) seja na
concepção e desenvolvimento de metodologias e práticas de distribuição de
conhecimento.
21
Por outro lado, os novos paradigmas de aprendizagem construtivistas
trouxeram algumas alterações às práticas educativas, não só a nível do ensino
formal mas, de forma mais acentuada, no âmbito da formação profissional.
Deste modo, temse verificado nos últimos anos um aumento significativo de
profissionais que procuram aprofundar os seus conhecimentos e melhorar a sua
situação profissional. A população activa (adultos) começa agora a sentir uma
maior necessidade em actualizar e aprofundar conhecimentos, passando a
aprendizagem a ser encarada como um processo ao longo da vida, o que
provoca uma necessidade de actualização constante.
A implementação e desenvolvimento do eLearning trouxe assim novos significados para a educação e fez explodir as
possibilidades para a difusão do conhecimento e da informação. Dadas as suas características, o eLearning abre novas
perspectivas para a distribuição e partilha de conhecimento, tornandose numa forma de democratizar o ensino para as
camadas da população com acesso às novas tecnologias.
Com o desenvolvimento da tecnologia na web, os processos de interacção em tempo real passaram a ser uma
realidade, permitindo que o estudante tenha contacto com o conhecimento, com o professor e com outros estudantes,
por meio de uma sala de aula virtual ou de outras formas de comunicação mediadas pela tecnologia.
O eLearning é uma opção cada vez mais válida para desenvolver programas educativos. Apesar dos custos de
desenvolvimento de programas de qualidade poderem ser elevados, existem diversos benefícios que levam as
organizações a investir cada vez mais neste regime de ensino. As suas características levam a que estes benefícios se
estendam também aos estudantes que frequentem este tipo de programas.
Para saber mais sobre os benefícios e os condicionantes do eLearning aceda a: http://www.dso.iastate.edu
Benefícios do eLearning
Na perspectiva das organizações, não obstante existirem normalmente custos de desenvolvimento elevados
(associados principalmente à concepção de conteúdos multimédia), estes podem ser amortizados e rentabilizados a
curto/médio prazo através da replicação dos programas de formação que utilizem os mesmos conteúdos instrucionais.
Por outro lado, não existem encargos com o espaço físico em que se desenrolariam as aulas tradicionais em presença.
No entanto, estes encargos são substituídos pelos custos de manutenção dos LMS onde serão alojados os programas
de educação/formação.
No que respeita aos próprios estudantes, a flexibilidade dos programas de eLearning acaba por ser a maior vantagem.
A possibilidade de se trabalhar de forma assíncrona permite aos estudantes participar e completar os seus programas
de formação ao seu próprio ritmo, de acordo com a sua disponibilidade.
Este aspecto torna o eLearning numa das opções educacionais mais viáveis para quem pretenda realizar uma
educação contínua ao longo da vida. Será assim a opção ideal para quem tem responsabilidades familiares ou agendas
profissionais muito preenchidas. O eLearning permite uma comunicação efectiva, mediada pela tecnologia, entre todos
os intervenientes num programa, independentemente da distância física que os separa, nem do desfasamento temporal
em que possa ocorrer.
Outro benefício para os estudantes será a redução de alguns custos face às soluções tradicionais (em presença), por
exemplo, os custos de deslocações dos formandos. Assim, verificase também uma maior adaptabilidade às
necessidades dos estudantes devido aos seus modelos essencialmente construtivistas, e uma maior variedade de
experiências de aprendizagem face à utilização de conteúdos multimédia com representações múltiplas de conceitos ou
de experiências. Os streams de vídeo e áudio têm a vantagem de poder ser vistos/ouvidos tantas vezes quantas
22
necessário para os estudantes construírem efectivamente a sua aprendizagem.
Condicionantes do eLearning
No entanto, os programas de eLearning também são alvo de algumas críticas. Neste âmbito mencionase a falta de
interacção face a face entre o tutor e o estudante e o isolamento a que este possa estar sujeito. Estas limitações podem
ser amenizadas através da comunicação mediada pela tecnologia ou pela própria estrutura dos conteúdos instrucionais,
que podem fornecer o diálogo e a interacção necessária entre tutores e os estudantes. Da mesma forma, as discussões
em fórum e a prossecução de projectos colaborativos podem fazer diminuir esse sentimento de isolamento, levando ao
desenvolvimento de verdadeiras comunidades virtuais de aprendizagem.
Outro problema muitas vezes associado ao eLearning é o facto de funcionar melhor com um determinado tipo de
público altamente motivado, autoorganizado, autodirigido e assertivo e com algumas competências práticas de
informática e de navegação na Internet. Apesar de ser mais simples, e menos dispendioso, desenvolver programas para
este público, com estratégias instrucionais adequadas e com conteúdos de qualidade, qualquer público pode beneficiar
e conseguir bons resultados na frequência de programas de eLearning.
Os conteúdos de qualidade têm, no entanto, custos de desenvolvimento mais elevados. No entanto, este problema pode
ser diluído através da reutilização dos conteúdos instrucionais desenvolvidos.
Apesar da crescente implementação deste tipo de programas, existe ainda
alguma desconfiança do público face ao relativo insucesso de algumas
iniciativas quando implementadas pela primeira vez. As razões para uma
implementação menos conseguidas foram as seguintes:
• Ausência de estratégia formativa adequada;
• Falta de formação e apoio aos tutores;
• Má utilização das técnicas pedagógicas;
• Resistência às novas tecnologias;
• A ainda débil implementação de soluções de Internet em banda larga;
• A falta de interactividade dos conteúdos.
No entanto, estas primeiras experiências servem também como uma oportunidade para analisar e aprender com os
erros cometidos e trabalhar no aperfeiçoamento e na melhoria contínua desses programas. Hoje em dia, e cada vez
mais, o eLearning fornece opções educativas que se adequam a praticamente todos os perfis de público.
4.6. Comunidades Virtuais de Aprendizagem
A Internet, tal como já a caracterizámos, veio abrir uma nova era de interacção e aprendizagem em rede. Estão a surgir,
online, novas formas de sociabilidade e a vida quotidiana de cada um de nós está cada vez mais adaptada aos novos
ambientes tecnológicos.
A criação de laços em rede, o trabalho colaborativo e cooperativo, e a própria sociabilização que existe na Internet
promovem a construção de verdadeiras Comunidades Virtuais.
“Comunidades Virtuais são grupos sociais surgidos na Rede, em que os intervenientes participam no debate o número
de vezes necessário e com sentimentos suficientes para formarem teias de relações pessoais no ciberespaço”. Rheingold (1996)
23
No eLearning, mais particularmente, a utilização de ferramentas cooperativas e colaborativas na interacção de todos os
participantes com vista à construção de conhecimentos e competências individuais, determina a existência de uma
Comunidade Virtual de Aprendizagem.
Exemplo de Comunidades Virtuais de Aprendizagem são os programas de eLearning, que apesar da flexibilidade do
modelo, mantêm a estrutura de turma, de modo a fomentar a colaboração entre os participantes na construção do
conhecimento. Estas comunidades são, em primeira instância, um grupo de pessoas que, para a concretização dos
seus projectos individuais, são levadas a interagir regularmente. Esta interacção levou ou desenvolvimento de uma
verdadeira comunidade de aprendizagem. Ou seja, nestes casos, a comunidade resulta de um conjunto de opções
pessoais de um grupo de indivíduos em torno de interesses ou objectivos específicos comuns.
4.7. Síntese da Unidade
A Internet, dado o seu carácter universal e as suas potencialidades de comunicação, veio potenciar um conjunto de
alterações sociais e culturais que se verificaram e continuam a verificar desde a segunda metade do século XX.
Estas novas formas de comunicação conjugada com um acesso cada vez mais fácil e democrático à informação
permitiram também o desenvolvimento de novas práticas e modelos educativos. O eLearning surge assim como uma
opção cada vez mais séria aos modelos de ensino presenciais. A flexibilidade, conveniência, a facilidade de acesso e a
adequação individual dos programas de ensino/formação em eLearning são os principais argumentos a favor deste
regime.
O eLearning promove também novas formas de ensinar/aprender baseadas nas teorias construtivistas. Neste âmbito, o
desenvolvimento de comunidades virtuais de aprendizagem está associado a estes novos paradigmas pedagógicos em
que grupos de indivíduos trabalham colaborativamente de modo a cumprir os seus próprios objectivos pessoais.
24
5. APRESENTAÇÃO DO MÓDULO 2 – TEORIAS E MODELOS DE APRENDIZAGEM EM EAD
5.1. Enquadramento
As fundamentações teóricas de determinada área descrevem as
práticas generalizadas e determinam as formas básicas de futuros
desenvolvimentos. O propósito da teoria é o de criar uma ordem
conceptual e de simplificar a descrição de fenómenos complexos.
Esta ordem irá reflectir os valores e suposições que modelam a
prática fornece um enquadramento de base para o
desenvolvimento de um campo de estudo através de uma
descrição coerente de práticas correntes bem como a previsão e
análise de tendências correntes e emergentes.
O estudo teórico do EaD no século XX centrase principalmente
nos constrangimentos da distância e em estratégias de
aproximação, principalmente organizacionais, que pretendiam
diluir estas dificuldades geográficas.
Actualmente, o estudo do EaD focase principalmente nas questões educacionais associadas à transacção ensino
aprendizagem, mais especificamente nos assuntos relacionados com a comunicação sustentada e com as novas
tecnologias de comunicação emergentes, independentes dos tempos e dos espaços.
5.2. Objectivos
O principal objectivo deste módulo é conhecer a principal fundamentação teórica associada ao EaD e os seus autores
de referência, bem como as principais perspectivas teóricas da aprendizagem, nomeadamente as perspectivas
socioculturais e as perspectivas cognitivas.
5.3. Palavraschave
• Industrialização;
• Estudo Independente;
• Conversação Didáctica Guiada;
• Distância Transaccional;
• Perspectivas Socioculturais da Aprendizagem;
• Perspectivas Cognitivas da Aprendizagem;
• Construtivismo, Complementarismo e Cognição Situada;
5.4. Actividades
• Realização de questionários de autoavaliação;
• Realização de actividades pedagógicas.
25
5.5. Unidades de Aprendizagem
O módulo 1 é constituído por três unidades de aprendizagem:
• Unidade 1: Conceito e Evolução Histórica do Ensino a Distância;
• Unidade 2: Perspectivas Teóricas da Aprendizagem;
• Unidade 3: Modelos Instrucionais em Ensino a Distância.
26
6. APRESENTAÇÃO DA UNIDADE 1 – CONCEITO E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ENSINO A DISTÂNCIA
6.1. Sumário
A presente unidade tem como objectivo dar a conhecer os principais desenvolvimentos teóricos do EaD. Neste âmbito
serão apresentadas a Teoria da Industrialização de Otto Peters, a Teoria do Estudo Independente de Charles
Wedemeyer, a Teoria da Conversação Didáctica Guiada de Borje Holmberg e a Teoria da Distância Transaccional de
Michael Moore. Serão analisados os postulados base de cada teoria, e identificadas algumas adaptações realizadas
pelos autores, de modo a acompanharem o desenvolvimento do EaD, nomeadamente com o surgimento das novas
tecnologias da comunicação e da informação e dos novos paradigmas pedagógicos.
6.2. Objectivos específicos
• Conhecer os fundamentos das principais teorias do Ensino a Distância e aplicar estes conceitos aos programas
existentes;
• Reconhecer a importância de autores de referência para o desenvolvimento do EaD.
6.3. Palavraschave
• Industrialização;
• Estudo Independente;
• Conversação Didáctica Guiada;
• Distância Transaccional.
6.4. A Teoria da Industrialização
A teoria de Otto Peters baseiase na sua consideração em adoptar no EaD
metodologias similares aquelas que são características do modelo industrial.
Considera assim a possibilidade de incorporação de técnicas de produção
industrial como a divisão de tarefas, a produção em massa, e a sua própria
organização, de modo a atingir uma economia de escala e a reduzir os custos
unitários. A Teoria da Industrialização não pretende ser uma teoria de
ensino/aprendizagem, mas sim um modelo organizacional.
Inicialmente, a abordagem de Peters aproximouse de uma objectivação do
processo de ensino, reduzindo as formas de aprendizagem partilhada,
mantendo os estudantes afastados do discurso crítico e de interacções
pessoais.
Com as alterações sociais e tecnológicas que temos vivido nos últimos anos,
Peters mantém a sua teoria baseada na independência e no autoestudo,
embora passe a admitir a existência de contactos sociais definidos de forma
informal e individualmente controlados. No entanto, mantémse uma forte
identificação com o ideal de independência consistente com o modelo industrial.
27
Informação Útil Conheça melhor o trabalho de Otto Peters em: www.fernunihagen.de
A interpretação de Peters baseiase na forma como se integram os aspectos do EaD nos pressupostos do processo de
industrial:
• Divisão do Trabalho e Especialização de Funções: Promovese a divisão de tarefas típicas do desenvolvimento dos processos de ensino. Assim, a produção de materiais de ensino, o acompanhamento das
sessões, a avaliação, etc., são realizadas por vários actores diferentes. As organizações a desenvolver
programas de EaD promovem a criação de um modelo de desenvolvimento em equipa.
• Mecanização: Neste aspecto, Peters considera o paralelismo entre a mecanização do processo industrial e a mediação tecnológica do EaD. Considera que a tecnologia permite superar as barreiras da distância e do
tempo no processo de ensino/aprendizagem a distância. Assim, Peters considera que só com recurso a
equipamentos e tecnologias que suportem o processo comunicacional é possível o EaD.
• Linha de Montagem: A visão da linha de montagem surge no seguimento da divisão de tarefas características do modelo industrial. Neste âmbito, Peters considera que a concepção e produção dos materiais de ensino
deve ser realizada por uma sequência de peritos que incluem autores e especialistas em diferentes áreas. O
desenvolvimento do processo de ensino/aprendizagem organizase igualmente por uma sequência de etapas
distintas, com responsabilidades repartidas pelas tarefas administrativas, concepção de materiais, helpdesk,
tutoria dos estudantes, realização da avaliação e pelos registos e certificação.
• Produção em Massa: No que respeita à vertente de produção em massa do modelo industrial, Peters preconiza o desenvolvimento de uma grande quantidade de pacotes de materiais de ensino. Perspectivase
assim a possibilidade de atingir um grande número de estudantes ao transferir o acto da transmissão de
conteúdos para os materiais de ensino e atribuir a outros agentes (p. ex tutores) as funções complementares
ao processo de informação conducentes à construção das aprendizagens.
• Trabalho Preparatório e Planeamento: O planeamento dos programas tem uma importância fulcral em EaD. O investimento na fase de produção de materiais de estudo deve ser elevado e envolver uma multiplicidade de
especialistas. Deve existir um especial cuidado na testagem dos materiais numa perspectiva de se garantir a
sua adequação aos objectivos de ensino.
• Objectivação do Processo Produtivo: Esta característica do modelo industrial é notória no EaD pela definição de objectivos pedagógicos, pela adequação dos conteúdos instrucionais aos públicosalvo e pela
formalização de muitos procedimentos de avaliação (de características formativas ou sumativas). Recorrese
com frequência a testes de escolha múltipla com resposta automática, por exemplo, de modo a permitir ao
estudante uma rápida informação sobre o seu desempenho.
• Concentração e centralização: A concentração e centralização de recursos humanos e tecnológicos são particularmente relevantes nos sistemas de EaD que impliquem grandes investimentos em tecnologia como por
exemplo sistemas de difusão por TV ou, mais recentemente, plataformas de gestão da formação, websites ou
conteúdos instrucionais multimédia.
28
Saber Mais “...I am not opposed to other forms of teaching and learning, and especially not to face to face elements or other forms
of “guided didactic conversation” in distance study. I do not want to deshumanise the instructional process in distance
learning.” Petters (1998)
6.5. A Teoria do estudo Independente
Charles Wedemeyer foi um reconhecido investigador e teorizador na área do
EaD. A sua Teoria do Estudo Independente pode ser considerada um dos
principais eixos teóricos do EaD, tendo desempenhado um papel importante na
credibilização e disseminação destas práticas educativas.
No seu trabalho, Wedemeyer procura afastarse das concepções
organizacionais e administrativas que considera associadas ao ensino por
correspondência focandose nas concepções pedagógicas associadas aos
processos de ensino/aprendizagem a distância, colocando o Homem e a
aprendizagem no centro das práticas educacionais, numa perspectiva
humanista da educação.
O conceito de aprendizagem independente é caracterizado por:
• Processo de ensino individualizado;
• Progressão do estudante no programa através de actividades por si realizadas de acordo com as
competências a adquirir;
• Importância reduzida da interacção entre estudantes;
• Estudante responsável pelo ritmo da sua aprendizagem, tendo liberdade para interromper e recomeçar os
programas de acordo com a sua vontade;
• Separação entre estudante e professor;
• Conteúdos instrucionais maioritariamente apresentados em suporte impresso.
Saber Mais “The term independent is thus more that a descriptor for a kind of non traditional learning that makes use of distance
teaching; it is a link with advanced learning and personality theory, and is generic to the entire range of learning
programs which demonstrate the new emphasis on the learner and on learning.” Wedemeyer (1981)
O processo de ensino individualizado assenta na ideia fundamental de que será através da actividade do estudante que
se produzirá a aprendizagem. Este terá uma grande responsabilidade no processo uma vez que será ele a definir qual o
seu ritmo de aprendizagem, qual as actividades que realiza e qual a finalidade do seu trabalho. Como resultado desta
flexibilidade e da conveniência da autodeterminação de metas e actividades, Wedemeyer suporta a liberdade de
29
escolha do estudante.
Para além da flexibilidade em escolher o seu percurso de acordo com as competências que pretende adquirir, o
estudante pode ainda regular o programa às suas necessidades. Assim, tem a liberdade de interromper e recomeçar os
programas como entender de acordo com a sua disponibilidade.
No que diz respeito à separação entre os professores e estudantes, este conceito referese não só à distância física,
mas também às eventuais diferenças psicológicas, sociais e culturais. Estes outros tipos de distâncias não são
específicos do EaD, podendo estar presentes em qualquer situação de ensino/aprendizagem, mesmo em contexto
presencial.
Podemos então considerar que a aprendizagem independente pressupõe e conduz realmente a uma separação entre o
processo de ensino e o processo de aprendizagem.
6.6. A Teoria da Conversação Didáctica Guiada
Borje Holmberg foi outro dos grandes teorizadores do EaD do século XX. A
visão de Holmberg sobre o EaD baseiase nas suas convicções de que a
questão mais importante na educação é a aprendizagem. A administração, o
aconselhamento, as metodologias de ensino, os grupos de trabalho, a
participação e a avaliação são apenas importantes na medida em que
sustentam o processo de aprendizagem do estudante.
A sua teoria implica que a adopção de um estilo de conversação que crie
empatia leva a um aumento de motivação para aprender relativamente à
apresentação convencional dos conteúdos. Afirma simplesmente que um
procedimento que se provou eficaz no ensino tradicional é aplicável também na
EaD.
Deste modo, o autor considera necessário existir no EaD uma conversação
didáctica guiada com objectivo de promover os processos de aprendizagem. A
presença de elementos que promovam uma conversação de sucesso, como a
empatia entre os interlocutores, é válida tanto em contextos de ensino
tradicional como nos contextos de EaD.
Argumenta que a conversação didáctica guiada deverá ser uma conversação amigável, promovida por materiais de
autoaprendizagem bem desenvolvidos e resultar em sentimentos de relação interpessoal, prazer intelectual e
motivação para o estudo.
Saber Mais A empatia entre aqueles que ensinam e aqueles que aprendem é universalmente considerada uma boa base para os
processos de aprendizagem. Facilmente perceptíveis, as apresentações tipo conversação e uma interacção amigável
ajudam os estudantes a aprender.
Keegan (1996) sistematizou os sete conceitoschave que Holmberg formalizou na sua teoria da conversação didáctica
guiada:
Os sentimentos de relacionamento interpessoal entre as partes que ensinam e as que aprendem promovem a
motivação e o prazer pelo estudo por parte do estudante.
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Estes sentimentos podem ser cultivados por materiais didácticos bem desenvolvidos e uma comunicação a distância
bidireccional adequada.
O prazer intelectual e a motivação promovem a prossecução dos objectivos e o uso de processos e métodos de estudo
adequados.
O ambiente, a linguagem e as convenções sobre conversações amigáveis favorecem os sentimentos de relacionamento
interpessoal, de acordo com o postulado 1.
As mensagens transmitidas e recebidas em forma de conversação são mais facilmente percebidas e lembradas.
O conceito de conversação pode ser transferido com sucesso para os media utilizados no EaD.
O planeamento e a orientação do trabalho, sejam promovidos pela organização de ensino ou pelo próprio estudante,
são indispensáveis para o estudo organizado, o qual é caracterizado por objectivos conceptuais implícitos ou explícitos.
A conversação didáctica guiada pode manifestarse assim de duas formas diferentes: uma forma de conversação real e uma forma de conversação simulada.
• A conversação didáctica guiada real referese a um tipo de conversação bidireccional entre os estudantes e o professor, realizada de forma mediada síncrona ou assíncrona – por exemplo, pelo telefone ou carta, e
actualmente também por email, SMS, fórum, etc..
• A conversação didáctica guiada simulada referese a uma forma de conversação indirecta, de carácter unidireccional, incorporada nos conteúdos instrucionais apresentados aos estudantes (manuais impressos,
vídeo, áudio e mais recentemente conteúdos multimédia interactivos).
De acordo com a visão de Holmberg, os materiais pedagógicos para EaD devem:
• Ser de fácil acesso, claros, de fácil leitura e com uma densidade de informação moderada;
• Fornecer instruções sobre o que fazer e o que evitar e sobre as temáticas mais importantes que devem ser
consideradas para a aprendizagem;
• Promover a troca de ideias, o questionamento e a selecção dos conteúdos/temáticas que devem ser rejeitados
e aceites como fundamentais para o processo de aprendizagem;
• Envolver emocionalmente o estudante de modo a que este tome um interesse pessoal pela matéria e pelas
suas problemáticas;
• Utilizar um estilo pessoal com a utilização de pronomes pessoais e possessivos;
• Demarcar as mudanças de tema através de separadores explícitos ou, no caso de materiais áudio/vídeo,
através da mudança de locutor, de pausas significativas (no caso de materiais vídeo, a existência de um ecrã
separador).
31
6.7. A teoria da Distância Transaccional
Moore desenvolveu a sua teoria numa altura em que as ideias de Peters e
Wedemeyer sobre o EaD começavam a disseminarse, tomando estas como
base dos seus estudos.
Na sua Teoria da Distância Transaccional, Moore defende que no
desenvolvimento de programas de EaD se devem ter em conta três variáveis: o diálogo educacional, a estrutura do programa e a autonomia do estudante, com o objectivo de se ultrapassar a distância nos processos de
ensino/aprendizagem.
A distância transaccional é a diferença de conhecimento, percepção e comunicação existente entre professor e estudante e que deve ser colmatada
através de procedimentos específicos no design instrucional e na facilitação da
interacção.
Informação Útil Saiba mais sobre a distância transaccional em: http://cde.athabascau.ca
De acordo com Moore, a distância transaccional é pedagógica e
não geográfica, necessitando de procedimentos de ensino e
organização especiais, compostos pelas três variáveis já
identificadas: estrutura, diálogo e autonomia.
A distância transaccional varia em função destas três variáveis.
Por exemplo um programa é mais distante se for muito
estruturado e com pouco diálogo (o que exige um grau elevado
de autonomia do estudante). Pelo contrário um programa será
menos distante se tiver uma estrutura reduzida e um diálogo
elevado.
• Estrutura: A estrutura reflecte o design do curso e é uma função da organização de ensino e do suporte de comunicação utilizado. A questão da estrutura é muito complexa e relacionase ainda com outras variáveis.
• Diálogo: O diálogo está associado à interacção existente no programa. Considera tanto a comunicação real bidireccional como a conversação didáctica guiada simulada de Holmberg. Deste modo, o diálogo está
associado à forma como o estudante, o programa e o professor interagem entre si dependendo dos media e
tecnologias empregues.
• Autonomia: A autonomia está directamente relacionada com o grau de controlo do estudante na determinação das variáveis do programa. Pode ser relativa a objectivos, formas de acesso (prazos, tempo, ritmo, momentos
de avaliação, conteúdo, sequência de aprendizagem, tempo e lugar de contactos com o professor, suportes de
comunicação, etc.). Moore considera que quanto maior for a distância transaccional maior será a
responsabilidade do estudante. Sugere que no outro extremo da autonomia do estudante está o controlo do
professor/programa.
32
6.8. Síntese da unidade
O desenvolvimento teórico em EaD está indelevelmente marcado pelos contributos de Peters, Wedemeyer, Holmberg e
Moore.
Dos quatro autores referidos, Peters é o único que propõe ma teoria organizacional para o EaD, enquanto os restantes
propõem teorias de ensino/aprendizagem.
Peters defende uma perspectiva do EaD baseada na organização do modelo industrial, ao encontrar paralelismos entre
as suas diferentes características e a organização dos procedimentos de EaD.
Por seu lado, Wedemeyer fundamenta a sua Teoria do Estudo Independente numa lógica de estudo e aprendizagem
independente, caracterizada pela autonomia e focalizada na aprendizagem e valorização individual através da aquisição
de competências tidas por necessárias pelo estudante.
Holmberg, por sua vez defende como base da sua teoria que uma conversação amigável, promovida por materiais de
autoaprendizagem bem desenvolvidos (conversação didáctica guiada simulada) ou por uma interacção positiva com o
professor (conversação didáctica guiada real), deve resultar em sentimentos de relação interpessoal, prazer intelectual e
motivação para o estudo,
Finalmente, Moore vê a distância transaccional como a característica descritiva do EaD, com base na qual este
funciona. De acordo com Moore, a distância transaccional é pedagógica e não geográfica, necessitando ser diminuída
através de procedimentos de ensino e de uma organização especiais, compostos por três variáveis: estrutura, diálogo e
autonomia.
Estes contributos teóricos foram decisivos para a concepção do EaD tal como este se define nos dias de hoje.
33
7. APRESENTAÇÃO DA UNIDADE 2 – PERSPECTIVAS TEÓRICAS DA APRENDIZAGEM
7.1. Sumário
Nesta unidade são abordadas algumas perspectivas teóricas dos processos de aprendizagem (cognitivistas e
socioculturais). São abordados: o Construtivismo de Piaget e o Construtivismo de Vygotsky e a Cognição Situada.
7.2. Objectivos específicos
• Conhecer os principais fundamentos das perspectivas cognitivistas da aprendizagem;
• Aplicar em contextos educativos métodos construtivistas e comportamentalistas de acordo com a perspectiva
cognitivista da aprendizagem;
• Conhecer os principais fundamentos das perspectivas socioculturais da aprendizagem;
• Aplicar em contextos educativos métodos construtivistas e de situação da cognição. De acordo com a
perspectiva sociocultural da aprendizagem.
7.3. Palavraschave
• Construtivismo de Piaget;
• Construtivismos de Vygotsky;
• Comportamentalismo;
• Cognição Situada.
7.4. O Construtivismo de Piaget
Para o suíço Jean Piaget, um dos princípios fundamentais que guia o
crescimento intelectual é a adaptação.
“A adaptação intelectual constituise como um equilíbrio progressivo entre um
mecanismo assimilador e uma acomodação complementar”. Piaget (1982)
Este autor considerava que para os indivíduos sobreviverem num determinado
ambiente, devem conseguir adaptarse a estímulos tanto físicos como mentais.
A assimilação e a acomodação fazem parte deste processo de adaptação.
Assimilação
A assimilação é o processo cognitivo pelo qual uma pessoa integra (classifica) um novo dado perceptual, motor ou
conceptual às estruturas cognitivas prévias.
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“A assimilação é uma integração às estruturas prévias, que podem permanecer invariáveis ou são mais ou menos
modificadas por esta própria integração, mas sem descontinuidade com o estado precedente, isto é, sem serem
destruídas, mas simplesmente acomodandose à nova situação. “ Piaget (1996)
Ou seja, quando um indivíduo tem novas experiências (vendo ou ouvindo coisas novas) tenta adaptar esses novos
estímulos às estruturas cognitivas que já possui. Isto significa que o indivíduo tenta continuamente adaptar novos
estímulos aos esquemas que possui até ao momento.
Acomodação
Por sua vez, a acomodação referese ao processo de alteração das estruturas mentais internas de modo a tornaremse
consistentes com a realidade externa.
“A acomodação é toda a modificação dos esquemas de assimilação sob a influência de situações exteriores aos quais
se aplicam”. Piaget (1996)
A acomodação ocorre quando esquemas existentes são modificados ou quando se criam novos esquemas para
acomodar uma nova experiência. Obviamente a acomodação influencia a assimilação e viceversa. A realidade é
assimilada e as estruturas acomodadas. Ou seja, quando um indivíduo não consegue assimilar um novo estímulo,
restam apenas duas saídas: criar um novo esquema ou modificar um esquema existente. Ambas as acções resultam
numa mudança na estrutura cognitiva.
Esquemas
Piaget definiu um esquema como uma representação mental de um conjunto associado de percepções, ideias e/ou
acções. Considerava os esquemas “como os blocos essenciais da construção do pensamento” (Woolfolk, 1987). No ser
humano, os esquemas iniciais, ponto de partida da interacção sujeito e objecto, são os reflexos. Todo o novo esquema
construído a partir dos esquemas iniciais é ponto de partida para novas interacções do indivíduo com o meio.
Uma criança quando nasce apresenta poucos esquemas (sendo de natureza reflexiva), e à medida que se desenvolve,
os seus esquemas tornamse generalizados, mais diferenciados e mais numerosos. Por outro lado, um adulto possui
um vasto arranjo de esquemas comparativamente complexos que permitem um grande número de diferenciações.
Equilibração
Outro fenómeno fundamental nos conceitos de Piaget é a equilibração, a qual envolve tanto a assimilação como a
acomodação. Durante cada fase de desenvolvimento, os indivíduos mantêm certas estruturas mentais internas que lhes
permitem dar sentido ao mundo que os rodeia.
Quando a realidade externa não se adequa com a estrutura mental lógica interna (desequilíbrio), a equilibração ocorre
como um esforço para manter o equilíbrio entre a assimilação e a acomodação enquanto o indivíduo adopta estruturas
mentais internas mais sofisticadas.
O ser humano procura continuamente dar sentido ao mundo que o rodeia assimilando nova informação nos esquemas
mentais préexistentes e acomodando os processos de pensamento conforme a necessidade. Este esforço em manter o
equilíbrio permite o desenvolvimento cognitivo e processos de pensamento efectivos.
35
Informação Útil Para mais informação sobre o construtivismo de Piaget consulte o endereço: http://piaget.no.sapo.pt
Ambiente de Aprendizagem Construtivista
Para que o ambiente de ensino/aprendizagem seja construtivista é fundamental que o professor conceba o
conhecimento sob a óptica levantada por Piaget, ou seja, que todo e qualquer desenvolvimento cognitivo só será
efectivo se for baseado numa interacção muito forte entre o indivíduo e o objecto.
A primeira exigência é que o ambiente permita, e até obrigue, uma interacção muito grande do estudante com o objecto
de aprendizagem, integrandoo à realidade do sujeito, dentro das suas condições, de forma a estimulálo e a desafiálo,
mas ao mesmo tempo, permitindo que as novas situações criadas possam ser adaptadas às estruturas cognitivas
existentes, propiciando o seu desenvolvimento.
Um aspecto primordial nas teorias construtivistas é a quebras dos paradigmas que os conceitos de Piaget trazem.
Verificase assim uma troca entre a transmissão da informação para a pesquisa da informação pelo estudante; é uma
nova ordem que retira o anterior poder e autoridade do professor, que passa de principal fonte de saber para facilitador da aprendizagem.
Mais que transmitir conhecimento, a função do professor que se propõe ser um facilitador seria libertar a curiosidade
permitindo que os indivíduos escolham as suas direcções, ditadas pelos seus próprios interesses, abrindo as portas ao
questionamento e reconhecer que tudo se encontra em processo de mudança.
Por outro lado, é necessário manter consciente que, numa abordagem construtivista, o erro é uma importante fonte de aprendizagem. O estudante deve sempre questionarse sobre as consequências das suas atitudes e, a partir dos
seus erros ou acertos, ir construindo seus conceitos. este questionamento não deve servir apenas para verificar o
quanto foi transmitido para o estudante foi assimilado, como é comum nas práticas empiristas.
Neste contexto, a forma e a importância da avaliação mudam completamente, em relação às práticas convencionais.
Num ambiente de aprendizagem construtivista a forma e a importância da avaliação mudam completamente em relação
às práticas convencionais:
Podemos então definir algumas características do ambiente de aprendizagem construtivista:
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• O currículo é apresentado do todo para as partes com ênfase nos conceitos gerais;
• O currículo é apresentado do todo para as partes com ênfase nos conceitos gerais;
• O desenvolvimento das questões levantadas pelos estudantes é altamente valorizado;
• As actividades baseiamse em fontes primárias de dados e materiais manipuláveis;
• Os estudantes são vistos como pensadores com teorias emergentes sobre o mundo;
• Os professores geralmente comportamse de maneira interactiva;
• O professor procura os pontos de vista dos estudantes para entender os conceitos apresentados para uso nas
lições subsequentes;
• A avaliação da aprendizagem está interligada ao ensino e ocorre através da observação do professor sobre o
trabalho dos estudantes;
• Estudantes trabalham fundamentalmente em grupo.
Resumindo, podese concluir que o requisito mais importante para a construção de um ambiente construtivista é que o
professor esteja realmente consciente da importância da facilitação da aprendizagem, e que todos estes processos
passam necessariamente por uma interacção muito forte entre o sujeito de aprendizagem e o objecto.
Somente a partir desta interacção completa é que poderemos dizer que estamos a construir novos estágios de
conhecimento, tanto no estudante como no próprio professor.
7.5. O Construtivismo de Vygotsky
Lev Vygotsky sustenta que a sua visão construtivista numa abordagem
sociocultural, em que a actividade é social e culturalmente situada.
A teoria de Vygotsky situa a linguagem e a comunicação (e portanto o ensino)
no centro do desenvolvimento pessoal e intelectual. A capacidade de aprender
através do ensino é uma característica da inteligência humana. Então, o
potencial de aprendizagem de um sujeito evidenciase e realizase nas
interacções com pares mais competentes (peritos, pais, professores, colegas,
etc.).
De modo a perceber melhor as teorias de Vygotsky sobre o desenvolvimento
cognitivo, devem ser compreendidos dois dos princípios fundamentais do seu
trabalho: o “More Knowledgeable Other” (MKO) ou Sujeito Mais Competente e a
“Zone of Proximal Development” (ZPD) ou Zona de Desenvolvimento Proximal.
Informação Útil Para mais informação sobre o construtivismo de Vygotsky consulte o endereço: www.centrorefeducacional.com.br
More Knowledgeable Other (MKO)
O MKO é de alguma forma explicado pela sua própria definição. Tratase de alguém ou de algo que terá uma melhor
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compreensão ou um nível de competências superior aquele de quem aprende, relativamente a um conceito, processo
ou tarefa particular.
Embora se considere que o MKO seja geralmente um professor, poderá não ser assim. Muitas vezes poderá ser até um
colega, um adulto (no caso de ser uma criança a aprender), ou mesmo uma criança, que terá maior experiência ou
conhecimento sobre um dado assunto (por exemplo, quando uma criança explica aos pais uma dança nova que
aprendeu na escola, ou como se joga um qualquer jogo).
De facto, o MKO não necessita ser uma pessoa. Em alguns sistemas de eLearning já se utilizam tutores virtuais que
acompanham os estudantes através do seu processo de aprendizagem. O ponto fundamental é que o MKO deverá ter
(ou ser programado) com mais conhecimento e/ou experiência que os estudantes sobre o tópico, processo ou conceito
a ser aprendido.
7.6. O Comportamentalismo
O comportamentalismo preocupase sobretudo com os aspectos observáveis e
mensuráveis do comportamento humano. Na definição de comportamento, as
teorias de aprendizagem enfatizam as alterações que resultam de associações
estímuloresposta feitas pelo estudante. O comportamento é dirigido pelo
estímulo. Um indivíduo escolhe uma resposta em detrimento de outra devido a
condicionantes anteriores e orientações psicológicas existentes no momento da
acção.
Os comportamentalistas afirmam que os únicos comportamentos a estudar são aqueles que podem ser directamente observados, ou seja, as acções e não o pensamento nem as emoções.
As teorias comportamentalistas postulam que todo o comportamento é um hábito aprendido, procurando assim
identificar como foram construídos esses hábitos. Ao assumir que o comportamento humano é aprendido, os
comportamentalistas assumem também que todos os comportamentos podem ser desaprendidos e substituídos por
outros, ou seja, quando um comportamento se torna inaceitável, pode ser substituído por outro aceitável.
Um elemento chave desta teoria de aprendizagem é a demonstração de
efeito/consequência mediante um determinado acontecimento ou
comportamento. Exemplos de efeitos/consequências podem ser contratos de
comportamento, reforços positivos ou negativos ou punições.
Os contratos podem ser efectivos ajudando os indivíduos a focaremse na alteração de comportamento. Num contexto
educativo, o comportamento pretendido deve ser identificado e o estudante e o professor devem decidir os termos do
contrato.
Saber Mais Exemplo de contrato: Em programas de EaD com públicos adultos profissionais, é comum existirem situações em que um estudante não esteja disponível para acompanhar determinado período de actividades. Nestas situações professor
e estudante podem fazer um contrato em que o estudante ficará obrigado à realização de um trabalho extra de modo a
que a sua avaliação não seja prejudicada.
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Os reforços ocorrem logo após um comportamento. Podem ser positivos ou negativos, esperados ou inesperados,
imediatos ou de longo termo, materiais ou simbólicos, emocionais/interpessoais ou mesmo inconscientes.
Assim, um reforço positivo é a apresentação de um estímulo que aumente a probabilidade de resposta. Este tipo de
reforço ocorre frequentemente em contextos educativos.
O reforço positivo pode tomar as seguintes formas:
• Elogio do estudante pelo seu trabalho;
• Escolha do estudante para um projecto especial.
O reforço negativo aumenta a probabilidade de uma resposta que exclua ou previna uma condição adversa. Muitos
professores pensam erradamente que o reforço negativo é uma punição administrada para suprimir um comportamento;
no entanto, um reforço negativo aumenta a probabilidade de um comportamento tal como o reforço positivo.
Negativo aqui significa que se remove uma consequência que o estudante considere desagradável.
O reforço negativo pode tomar as seguintes formas:
• Obter uma média igual ou superior a 80% torna o exame final opcional;
• A entrega de todos os trabalhos a tempo significa não considerar a nota mais baixa para a avaliação final.
A mudança de comportamento pode ainda ocorrer através da punição. Esta envolve geralmente a apresentação de um
estímulo forte que diminua a frequência de uma resposta particular. A punição é eficaz na rápida eliminação de
comportamentos indesejáveis. A punição pode tomar as seguintes formas:
• Trabalhos entregues fora de prazo terão classificação de “0”;
• Falta de disponibilidade recorrente em trabalhos de grupo será penalizada face à classificação dos colegas.
Neste âmbito é de primordial importância que o grupo efectue uma autoavaliação do seu desempenho,
evidenciando a medida de colaboração de cada interveniente.
Ambientes de Aprendizagem Comportamentalista
A utilização de práticas associadas ao comportamentalismo pode ser benéfica tanto para estudantes como para
professores. As modificações de comportamento ocorrem por uma razão: os estudantes trabalham por objectivos que
tragam sentimentos positivos e pela aprovação de pessoas que admiram. Alteram os seus comportamentos para
satisfazer os desejos que aprenderam a valorizar. Geralmente evitam comportamentos associados a situações
negativas e desenvolvem comportamentos que vêem repetidos muitas vezes. O princípio da modificação de
comportamento é que a maior parte dos comportamentos são aprendidos. Se podem ser aprendidos também podem ser
desaprendidos, ou esquecidos.
Assim, um comportamento que passe sem recompensa corre o risco de se extinguir. Por outro lado, ignorar
sistematicamente um comportamento indesejável tornará mais difícil a sua eliminação.
A teoria comportamentalista não é só importante para a adopção de comportamentos desejáveis em contextos
educativos. É também importante a sua utilização pelos educadores de modo a assegurar o comportamento coerente
dentro e fora do contexto dos processos de ensino/aprendizagem.
39
7.7. A Cognição Situada
A Cognição Situada tem sido tratada por diversos autores, com abordagens
mais ou menos distintas. Enquanto Clancey (1997) fala mesmo em Cognição
Situada, Maturana e Varela (2001) referem a Biologia do Conhecer, Bateson
(1972) fala da Ecologia da Mente e Varela, Thompson e Rosh (1991) analisam
o conceito de Enactive View.
Não obstante as diferentes denominações atribuídas pelos autores, todas estas abordagens têm como princípio
epistemológico fundamental a existência do indivíduo no seu ambiente, considerando que um dado organismo e o
ambiente que o rodeia constituem uma unidade inseparável, e a dinâmica de interacção ocorre contínua e
simultaneamente.
Desta forma, podemos considerar que a cognição situada é uma forma de
aprendizagem em que o conhecimento e as competências são construídas
num contexto que reflicta a forma como serão aplicadas no “mundo real”.
Assim, a teoria da cognição situada encoraja os instrutores a envolver os
estudantes num ambiente que se aproxime o mais possível do contexto em
que os novos conceitos e comportamentos a adquirir serão aplicados.
Tal como no construtivismo de Vygotsky, os processos de aprendizagem são
abordados numa perspectiva sociocultural. A aprendizagem deve envolver uma
abordagem prática do conhecimento a ser aprendido através de uma
contextualização dos conceitos.
7.8. Síntese da Unidade
As perspectivas teóricas da aprendizagem funcionam como a base conceptual dos processos de ensino/aprendizagem.
Nesta Unidade tivemos a oportunidade de conhecer o Construtivismo de Piaget e o Construtivismo de Vygotsky, o
Comportamentalismo e a Cognição Situada.
Para Piaget o requisito mais importante na construção da aprendizagem será a necessidade de uma interacção muito
forte entre o indivíduo e o objecto de aprendizagem de modo a que se consigam construir novos estágios do
conhecimento.
Por sua vez, para Vygotsky a interacção social tem um papel fundamental no desenvolvimento da cognição, uma vez
que considera que a comunidade tem uma função central no processo de “fazer sentido”.
As teorias comportamentalistas defendem, por seu turno, que os únicos comportamentos a estudar são aqueles que
podem directamente ser observados.
Na Cognição situada os processos de aprendizagem são observados numa perspectiva sociocultural.
40
8. APRESENTAÇÃO DA UNIDADE 3 – MODELOS INSTRUCIONAIS EM ENSINO A DISTÂNCIA
8.1. Sumário
A presente unidade aborda a temática do problem based learning, suas características, utilizações e, ainda, o papel dos
professores e dos estudantes. É focada, também, a questão da aprendizagem colaborativa, em que consiste e seus
benefícios.
8.2. Objectivos específicos
• Aplicar modelos de aprendizagem colaborativa em EaD;
• Aplicar modelos instrucionais baseados na resolução de problemas.
8.3. Palavraschave
• Problem Based Learning (PBL);
• Aprendizagem Colaborativa.
8.4. Problem Based Learning
O Problem Based Learning (PBL) é uma estratégia instrucional na qual os
estudantes resolvem activamente problemas complexos em situações realistas.
Poderá ser utilizado para estudar assuntos particulares, unidades inteiras, ou
até mesmo a totalidade de determinado programa. O PBL é geralmente
utilizado em ambientes de trabalho colaborativo, dando ênfase à construção de
competências resultantes de tomadas de decisão consensuais, diálogo e
discussão.
O PBL é um modelo que tem por base a ideia de que se os estudantes tiverem que resolver um problema pessoal ou
significativo para eles, estarão mais motivados para o resolverem pelos seus próprios meios.
O PBL caracterizase basicamente por:
• O problema é colocado de forma geral/ambígua e com base numa situação real (contextualizada);
• O processo de aprendizagem está centrado no estudante;
• O papel do professor é o de facilitador;
• Os estudantes trabalham de forma colaborativa em pequenos grupos na procura de uma solução;
• Mais do que procurar uma solução/resposta, os estudantes interpretam o problema, pesquisam a informação
que necessitam, identificam possíveis soluções, avaliam as opções e apresentam as suas conclusões,
resultando deste processo a construção do conhecimento e o desenvolvimento de competências;
• A aprendizagem resulta da procura dos conhecimentos necessários à resolução do problema.
Na sequência PBL, o problema é colocado de forma ambígua e pouco estruturada, de tal forma que leve os estudantes
à procura do conhecimento necessário para a sua resolução. Estes interpretam o problema em conjunto,
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pesquisam e juntam informação, identificam possíveis soluções, avaliam as opções e apresentam as suas conclusões.
Os estudantes “constroem” activamente os seus conhecimentos e competências de acordo com os postulados da teoria
construtivista. Para além disso sabese que os estudantes aprendem melhor com base em situações reais, isto é, em
problemas contextualizados – cognição situada, e ainda que aprendem melhor uns com os outros – aprendizagem
colaborativa.
Papéis de professores e estudantes
O PBL implica diferentes papéis para professores e estudantes, quando
comparados aos que estão associados ao ensino convencional, uma vez que,
tal como tem sido referido, a aprendizagem ocorre num ambiente de apoio e
colaboração, característico dos modelos construtivistas.
Assim, e de acordo com Barrows (2001), o papel do docente aproximase do
facilitador que tem como principal função motivar e orientar os estudantes na
construção das aprendizagens. Nesta metodologia, os professores concebem
problemas do “mundo real”, com fraca estruturação, delegando
responsabilidades nos estudantes e seleccionando conceitos que promovam a
construção da aprendizagem. Devem ajudar os estudantes a colocarem
questões, a formularem problemas, a explorar todas as soluções alternativas
que possam surgir e tomar decisões eficazes.
Por seu lado, os estudantes devem responsabilizarse pela aprendizagem. As tarefas devem ser realizadas em grupos,
os quais têm de identificar, analisar e resolver problemas utilizando conhecimentos e experiências anteriores. Os
estudantes devem manter a interacção com os professores de modo a gerar um feedback imediato sobre as questões
que se vão levantando, promovendose assim a construção das aprendizagens e a melhoria contínua do
curso/programa.
Utilizações de PBL
O PBL pode ser utilizado em diversos contextos educacionais. Num contexto
académico o PBL é utilizado como ferramenta para ajudar os estudantes a
compreender a utilidade de determinado conceito ou estudo. Por exemplo, os
estudantes podem aprender sobre a reciclagem de materiais ao estudar
métodos para reduzir a deposição de resíduos em aterros.
Na educação vocacional, as experiências baseadas em PBL geralmente
enfatizam a participação em situações particulares da actividade. Por exemplo,
estudantes de arquitectura abordam a questão da concepção de habitações
para zonas pobres. Nestas áreas os habitantes necessitam de casas seguras
mas não têm possibilidade de suportar financeiramente as soluções
convencionais. Neste contexto, os estudantes são estimulados em adequar os
seus projectos a materiais pouco dispendiosos ou reciclados.
Na área da gestão ou na área militar, as simulações são utilizadas como meio de instrução baseado no PBL. O stress
psicológico associado a determinadas situações pode influenciar o planeamento estratégico. Assim, o PBL no treino
militar promove a utilização de jogos de guerra como simuladores de situações de crise autênticas. Na área da gestão,
simulações de análise de cenários são utilizadas para formar gestores nas mais variadas estratégias para a resolução
42
de problemas.
Nestes dois últimos exemplos, a ferramenta de simulação fonece uma oportunidade não só para os estudantes
contactarem com situações de contexto real, mas também para poderem aprender com os erros numa situação que
poderia trazer consequências penalizadoras caso se verificasse na realidade.
8.5. Aprendizagem Colaborativa
A aprendizagem colaborativa é definida pelo trabalho em grupo em que os
estudantes procuram atingir objectivos comuns ou a resolução de tarefas que
seriam mais dificilmente conseguidos de forma individual. O principal objectivo
da aprendizagem colaborativa é envolver activamente os estudantes no
processo de aprendizagem, tendo como base os princípios construtivistas de
Piaget e Vygotsky.
O processo de aprendizagem é um processo que pretende que o conhecimento
seja construído pelos estudantes e transformado em conceitos que estes
possam relacionar. O conhecimento é assim reconstruído e expandido através
de novas experiências de aprendizagem, as quais têm lugar através do diálogo
entre os estudantes.
A aprendizagem colaborativa é uma metodologia que emprega uma grande variedade de actividades de aprendizagem
de modo a melhorar a compreensão dos estudantes sobre um determinado assunto, utilizando uma abordagem
estruturada em que estes criam, analisam e aplicam os conceitos trabalhados.
Saber Mais A aprendizagem colaborativa incorpora os conceitos construtivistas em que tanto os parâmetros individuais como
sociais são activos no processo de aprendizagem na medida em que os estudantes procuram imitar a aprendizagem
realizada na vida real.
Combinando o trabalho de equipa e o esforço individual os estudantes trabalham para construir tanto os seus conceitos
de conhecimento como as suas competências sociais. É uma estratégia de ensino/aprendizagem que permite aos
estudantes trabalharem em conjunto, em grupos com indivíduos com as mais variadas competências e/ou background
social, na prossecução de um objectivo comum. Cada membro do grupo é responsável por construir a sua
aprendizagem através dos conteúdos e ajudar os outros elementos do grupo na construção do seu conhecimento.
O trabalho desenvolvese até que todos os membros do grupo compreendam completamente o objecto de estudo,
cumprindo assim a tarefa comum e criando uma atmosfera positiva de sensação do dever cumprido. Como resultado,
novos conceitos são enquadrados baseando as suas conclusões no conhecimento anterior. Este processo resulta numa
compreensão mais profunda dos objectos de estudo e num maior potencial para reter as aprendizagens construídas.
Benefícios da Aprendizagem Colaborativa
Podemos encontrar diversos benefícios neste tipo de modelos de instrução. Em primeiro lugar, ao trabalhar em grupo e
com a necessidade de partilhar as suas descobertas e conclusões , os estudantes desenvolvem as suas competências
de expressão para além de se promover a interacção social. Assim, desenvolvem competências necessárias ao seu
papel social e no seu local de trabalho, como sejam a liderança, tomada de decisão, construção de confiança,
comunicação e gestão de conflito.
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Um ambiente de aprendizagem colaborativo promove ainda um sistema de suporte social em que todos os elementos
do grupo se apoiam naturalmente na construção das suas aprendizagens. Assim, tanto o apoio dos colegas como do
próprio tutor promove um aumento da autoestima e confiança , características fundamentais para um indivíduo inserido
numa sociedade moderna.
8.6. Síntese da Unidade
Dois dos principais modelos instrucionais utilizados no EaD são o Problem Based Learning (PBL) e a Aprendizagem
Colaborativa, os quais se baseiam nas perspectivas construtivistas da aprendizagem.
O PBL é um modelo instrucional que tem como principal fundamento o facto de os estudantes se sentirem mais
motivados a resolver determinado problema se este for contextualizado à sua realidade específica. Neste modelo, os
problemas são colocados de forma genérica e os estudantes têm de os resolver pelos seus próprios meios numa
perspectiva de colaboração entre pares.
Tal como o PBL, também a aprendizagem colaborativa é baseada nas perspectivas construtivistas. Neste modelo
promovese o trabalho de grupo com conjuntos de indivíduos com diferentes competências e características pessoais,
os quais devem perseguir objectivos de aprendizagem comuns.
44
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Portugal Telecom Inovação, S.A. Rua Eng. José Ferreira Pinto Basto
3810106 Aveiro, Portugal
Tel: 234 403 200
Fax: 234 424 723
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