Escola Secundária António Damásio · Created Date: 9/13/2019 8:58:28 PM
13-58-1-PB
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Resumo
Um dos temas mais discu! dos entre professores, pedagogos e
demais par! cipantes do processo de ensino-aprendizagem é a
avaliação. E não é para menos, visto que a vida escolar é a base
do futuro cidadão e do futuro profi ssional e é da avaliação que
se ! ram conclusões a respeito do desempenho do aluno nesse
estágio ! do como preparatório para a vida social. A escola se
cons! tui, portanto, como réplica em miniatura da sociedade.
Assim, a avaliação não está restrita aos limites escolares,
pelo contrário, acompanhará o indivíduo durante toda a sua
caminhada profi ssional e servirá de referencial para que ele
possa ser medido por seus futuros empregadores quando do seu
ingresso na vida profi ssional, daí a sua importância. Duas coisas
básicas devem ter “em mente” os professores responsáveis
pela avaliação escolar; a primeira delas é a meta que se espera
que os alunos a! njam. Essa meta não é defi nida pelo professor
e sim pela sociedade, ou seja, o que a sociedade, em especial
a parte econômica, espera de um aluno que acaba de sair da
escola? O desempenho na vida escolar será o cartão de visitas
do aluno depois que sai da escola e se lança na busca de sua
independência profi ssional e fi nanceira e, para os empregadores,
será a “régua de medir”, ou seja, o seu referencial de seleção.
A segunda coisa é a sensibilidade ao se avaliar. Como fazer uma
avaliação justa e responsável levando-se em conta as diferenças
e capacidades de cada aluno em face das novas maneiras de se
pensar e se “fazer” educação? Essa problemá! ca ganha mais
complexidade quando se trata da educação à distância (EAD) e
as exigências quanto às competências dos avaliadores aumenta
grandemente em se tratando dessa nova modalidade de ensino
que, diga-se de passagem, vem ganhado mais e mais espaço no
universo educacional. Esses pontos devem servir de referencial
para as discussões a que passaremos a seguir.
Palavras-Chave:
Avaliação. Desempenho. Educação.
Difi culdades e desafi os da avaliação
Jônatas Félix da Silva*
* Estudante do segundo
marco de Pedagogia na
UFPB - EAD do Polo de
Limoeiro-PE.
RETEME, João Pessoa, v. 1, n. 1, p. 30-43, jan./jun. 2011.
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Abstract
One of the most discussed topics among teachers, educators
and other par! cipants in the process of learning is evalua! on.
And no wonder, given that school life is the basis of future
ci! zens and future jobs and the evalua! on is that of drawing
conclusions about student performance at this stage seen as
prepara! on for social life. The school is therefore as miniature
replica of society. Thus, evalua! on is not restricted to school
boundaries, however, accompany the individual throughout
his professional career and will serve as a reference so that it
can be measured by future employers at the ! me of his entry
into professional life, hence its importance. Two basic things
must have “in mind” the teachers in the school evalua! on, the
fi rst is the goal that is expected to reach students. This goal
is not defi ned by the teacher but by society, ie, what society,
especially the economic part, wai! ng for a student who is
fresh out of school? The performance in school life will be the
calling card of the student a# er they leave school and rushes
in pursuit of his professional and fi nancial independence and,
for employers, will be the ruler to measure “, ie your reference
check .The second thing is to evaluate the sensi! vity. How to
make a fair and responsible assessment taking into account
the diff erences and capabili! es of each student in the face of
new ways of thinking and “doing” educa! on? This problem gets
more complex when it comes to distance learning (ODL) and
the requirements for the competence of evaluators increases
greatly when it comes to this new mode of educa! on which, by
the way, has gained more and more space in the educa! onal
universe . These points should serve as a reference for the
discussions to which we will follow.
Keyword:
Evalua! on. Performance. Educa! on
The language growing up in the midst of conversa! on
RETEME, João Pessoa, v. 1, n. 1, p. 30-43, jan./jun. 2011.
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Introdução
Como se avaliar um aluno?
Essa é a pergunta que não quer calar
no meio educacional. Atualmente, até
mesmo os alunos ganharam o direito de
ques! onar os métodos avalia! vos a que
são subme! dos. Muitos professores
dizem ouvir de seus alunos: “essa nota
não defi ne o que eu sei, eu só não sei
esse assunto. Mas eu sei outras coisas!” Com isso, entra em jogo uma questão que não pode deixar de ser observada: o que você sabe é o que a sociedade exige que você saiba? O que você sabe é o que o professor e a escola esperam que você saiba? Será que esse seu argumento vai ser válido quando você apresentá-lo em seu futuro emprego a fi m de jus! fi car um prejuízo que uma ação sua trouxe ao empregador? Não achas mais provável que ele lhe “avalie” pelo método “tradicional” no qual você perde o emprego? Ou seja, será que ele buscará uma “forma de avaliar melhor” o prejuízo que você causou a fi m de descobrir em você outras competências que supram aquela falha? Com isso aparece outra dúvida que incomoda muito os professores: “estou educando o meu aluno para ser um humano melhor ou pra ser uma simples peça, e somente isso, do quebra-cabeça social, uma máquina?” “Devo desprezar completamente a subje! vidade do aluno, seus desejos, suas metas, por conta de estarem indo na direção contrária a dos desejos sociais, como se o mesmo fosse um objeto a ser manipulado?” São ques! onamentos que devem ser levados em conta no ato da avaliação dada a sua importância e complexidade.
RETEME, João Pessoa, v. 1, n. 1, p. 30-43, jan./jun. 2011.
Quando se coloca em pauta a Educação à Distância (EAD), que, como nos mostra Oliveira (2008, p. 34)
se reveste de imensa potencialidade, não como solução para todos os problemas, mas cumprindo papel relevante como modalidade de
educação do futuro [...],
esses ques! onamentos ganham um tempero a mais: “como avaliar de forma sensível e justa uma pessoa que eu se quer conheço pessoalmente?” “Como saber se ela realmente aprendeu – ou, falando modernamente, adquiriu competências – se o que me chega para que eu baseie a avaliação são textos e trabalhos que eu nem mesmo sei se realmente são de sua autoria?” Como saber se ela alcançou as metas se o diálogo cara a cara, onde se percebe nas palavras do aluno o quanto de conhecimento ele adquiriu, não é possível? Será que as novas ferramentas virtuais são sufi cientes? Será que a prova escrita não serve mais como método avalia! vo seguro? Ou ela ainda é indispensável à avaliação? Essas questões devem fazer parte das conversas, refl exões e debates entre aqueles que fazem parte do processo educacional, governantes, professores, pedagogos, gestores, mediadores, alunos e toda comunidade
de modo geral.
A importância da avaliação no processo
de ensino-aprendizagem
O ato de avaliar é algo intrínseco ao ser humano. Avaliamos tudo que está em nossa volta, desde objetos a pessoas
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e a� tudes humanas, inclusive as nossas,
tudo passa pelo nosso crivo avalia� vo.
No ambiente escolar isso se torna bem
evidente, como bem notou Catania e
Gallego (2009, p. 21):
No co� diano escolar todos avaliam
e são avaliados. Há um circuito de
avaliação que ocorre entre todos
os que integram a escola. São as
avaliações minuciosas que se operam
no co� diano escolar e que implicam
em denominações entre os colegas,
apelidos que acabam por destacar
traços mais marcantes etc. Nota-se
uma série de caracterís� cas � das
como mo� vos de discriminações:
maneiras de falar, de se ves� r etc. [...]
A direção e a coordenação também
avaliam de forma constante a atuação
dos professores e de seus alunos,
geralmente, atentam à pontualidade
dos professores, sua frequência, sua
par� cipação nos projetos da escola,
o modo como se relaciona com os
colegas e com os alunos etc.
Em se tratando da relação
professor-aluno, a avaliação – do aluno
pelo professor – em si, ou seja, o simples
fato de avaliar simplesmente por avaliar,
não tem muita relevância na vida do aluno.
A grande questão é o que se pretende
com a avaliação, o que se quer mostrar,
o que se quer medir, e, mais importante,
aonde se pretende chegar. A primeira
coisa a ser levada em consideração é que
a educação não está desvinculada dos
interesses sociais, antes, pelo contrário,
ela é o meio pelo qual a sociedade sa� sfaz
seus obje� vos, ou seja, ela, a educação, é
uma espécie de ins� nto de sobrevivência
da sociedade e é provado que quando ela
não vai bem a sociedade toda padece as
RETEME, João Pessoa, v. 1, n. 1, p. 30-43, jan./jun. 2011.
consequências. Com isso, a sociedade
aponta para determinado alvo que ela
pretende a� ngir e conta com a educação
para “acertá-lo”. Isso é bem notado por
Weber quando diz que:
Quanto mais complicada e
especializada se torna a cultura
moderna tanto mais seu aparato
de apoio externo exige o perito
despersonalizado e rigorosamente
“obje� vo” ,em lugar do mestre
dasvelhas estruturas sociais, que era
movido pela simpa� a e preferência
pessoais, pela graça e pela gra� dão
(WEBER, 1971, p. 251).
Isso corrobora com a ideia de
que não podemos falar em educação
sem falar no contexto social em que a
mesma está inserida. Não deve deixar de
ser observado, também, o fato de que
a sociedade é uma teia formada pela
ação de diversos indivíduos, dis� ntos
uns dos outros, e que esses também
tem seus alvos e metas que pretendem
a� ngir; muitas vezes esses obje� vos
pessoais são diferentes das metas da
sociedade no geral. Mas o que chama
a atenção em tudo isso é que, apesar
do antagonismo existente, em muitos
casos, entre a vontade social e vontade
do indivíduo, sobretudo quando se trata
dos jovens, é através da educação que
ambos, indivíduo e sociedade, tentam
alcançar suas metas. Por mais que
se tente livrar disso, a educação está
envolta em interesses polí� cos e sociais
e, como todo o interesse, sempre haverá
aqueles que se sen� rão benefi ciados e
os que se sen� rão prejudicados pelas
a� tudes tomadas pela “maioria”. Como
sabemos, e isso é evidente, o currículo
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escolar, por não poder abranger todos
os conhecimentos possíveis, e nem deve
ser essa a intenção, é construído com
base em ideais � dos como superiores
em detrimento de ideais � dos como
inferiores. Só que por trás desses ideais
existem pessoas as mais diversas.
Toda essa luta de subje� vidades e
de interesses refl ete fortemente na escola que é uma espécie de réplica em miniatura da sociedade e como tal, está repleta de vários desejos, alvos, visões de mundo, etc., que afl oram na mente de professores e alunos. No meio dessa guerra entre interesses pessoais e sociais, entre visões e ideais, está o professor, representante primeiro da educação, que tem como função auxiliar no desenvolvimento do aluno, tanto como pessoa humana quanto como pessoa social e profi ssional, ou seja, torná-lo um cidadão humanizado, um cidadão mais responsável, mas ciente da existência do “TU” e não somente do “EU” nas relações interpessoais, como nos diz Dellova:
Porque é o TU é a pessoa do diálogo, a pessoa com quem falamos, de quem descobrimos os olhos, oferecendo nossa imagem, de quem abrimos os ouvidos, dedicando nossa voz, de quem aguçamos o olfato e o paladar, par� ndo o pão e servindo o vinho (e, também, o café), com quem treinamos o tato, exercitando o aperto de mão e o abraço.”
(DELLOVA, 2009, p. 57).
E não é de hoje que se atribui à educação essa ação socializadora. Durkheim deixa bem
claro sua compreensão a respeito dessa importante tarefa da educação quando nos diz que:
A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social;tem por objeto suscitar e desenvolver, na criança, certo número deestados � sicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade polí� ca no seu conjunto e pelo meio especial a que a criança, par� cularmente, se
des� ne (DURKHEIM, 1955, p. 7 - 8).
A tarefa não é das mais fáceis, pois, muitas vezes, para não dizer sempre, o professor tem que mostrar ao seu aluno que para além de sua vontade pessoal há uma vontade e padrões superiores aos quais precisam se adaptar, para o seu próprio bem, sob pena de represália por parte da sociedade aos que não se enquadrem em seus paradigmas. Consequentemente, isso a� nge a avaliação e seus métodos, a fi nal de contas, é com a educação que se pretende suprir as carências sócias, tanto econômicas quanto morais e não há como dissociar a educação da avaliação; não podemos deixar de levar em consideração esses fatores na hora de avaliar. Percebe-se, portanto, a grande importância da avaliação também como instrumento sele� vo da máquina burocrá� ca, ou seja, servindo para selecionar o cidadão produ� vo e moralmente saudável daqueles que não são. Lançar um indivíduo na sociedade quando o mesmo não se
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acha enquadrado nos padrões sociais
é um erro grave, como também o é o
fato de se valorizar os interesses sociais
em detrimento total dos interesses
do aluno, de suas expecta� vas e de
suas perspec� vas de mundo, ambos
são fatores que devem ser pensados e
trabalhados de forma sensível por parte
do professor no ato avalia� vo. Essa
avaliação do aluno por parte da escola
e a forma como ele sairá dela serão
decisivas para o seu futuro e irão lhe
“perseguir” pelo resto de sua vida, serão
sua bagagem e afetarão diretamente
a forma como a sociedade, no geral, o
verá.
Não podemos deixar de notar
que a avaliação dos alunos, mas
precisamente os resultados ob� dos
por meio dela, têm infl uência direta nas escolas e nos governos. É comum ouvir alguém dizer que irá matricular seu fi lho em determinada escola por conta dos altos índices avalia� vos do seu alunado. Sem contar que esses índices servem também para ditar os rumos pedagógicos daquela escola; e o mesmo se aplica ao Estado, no que se refere à adoção de polí� cas públicas educacionais. É por isso que é comum, em época de eleição, que se fale tanto em educação. O par� do da situação apresenta os números do crescimento ao passo que a oposição, quando não diz que os resultados não passam de uma farsa, dizem que podem fazer melhor se eleitos. Só que essa superes� ma dada à avaliação por parte do governo e da escola tem seu lado perigoso. Talvez não tenha sido muito coerente dá ao resultado fi nal mais valor do que ao que é dado ao processo todo. Ou seja, a supervalorização dada aos índices
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educacionais, bem como a ânsia de querê-los alcançar de qualquer maneira, tem feito decrescer enormemente a qualidade do alunado – como se não bastasse a má qualidade da educação oferecida. Isso se dá porque o professor, pressionado pela escola que, por sua vez, é pressionada pelo Estado, ao invés de almejar o aprendizado consistente e de fato do aluno, procura formas de produzir conceitos e notas e, com isso, acabam criando resultados fi c� cios e
que estão em total desacordo com a
realidade.
A educação como plataforma polí� ca
– a mudança do foco educacional e
avalia� vo
As “metas” educacionais
estabelecidas pela sociedade sofrem
forte infl uência da polí� ca, visto que são os polí� cos, numa democracia representa� va, como é o caso do Brasil, os representantes da sociedade de forma geral e são eles mesmo os responsáveis por estabelecer os fi ns que a sociedade determina para a educação. Com isso, os polí� cos, descobriram na educação, mais especifi camente em seus índices avalia� vos, uma das mais poderosas armas de “alienação demagógica”. Em outras palavras, fala-se da educação como se ela fosse a salvação do país, promete-se muito, fala-se com tom messiânico, etc., para não passar por men� ra de campanha apresentam números um tanto duvidosos e o povo é iludido, como se a educação brasileira es� vesse indo de vento em popa. A população, acreditando que está tudo bem e melhorando, não cobra muito, como se a educação es� vesse em boas
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mãos. Essa alienação tem afetado
decisivamente, como se pode ver, o
modo como as pessoas veem o processo
educa� vo e, consequentemente, a
maneira como se avalia o desempenho
do aluno, a fi nal, é da avaliação que
� ram os tais números duvidosos – pelo
menos os que eles mostram na mídia.
O grande problema é que o fi m
úl� mo da educação passou a ser os altos
índices avalia� vos e não a excelência do
alunado. Como o que se valoriza é o
que se vê e não o que se é realmente,
ou seja, como só se olham os índices
sem se ques� onar a sua fi dedignidade,
seu refl exo no desempenho do
alunado na realidade co� diana, tem
se visto uma corrida inescrupulosa em
busca de índices cada vez mais altos,
principalmente quando da proximidade
do pleito eleitoral.
Uma das maiores ví� mas desse
fato são os professores que agora, além
de serem sensíveis no trato com os
alunos e capazes de “convencê-los” a se
adaptar a certos � pos de “dominações”
impostas pela sociedade, para o próprio
bem dos mesmos, a saber, dos alunos,
têm agora que conviver com a pressão
imposta pelo governo no que diz
respeito ao crescimento dos índices das
avaliações, como se toda aquela história
de “autonomia” por parte dos alunos,
no que se refere ao aprendizado, de que,
agora, são eles também responsáveis
pela construção do seu conhecimento,
fosse por água abaixo na hora da
apresentação dos resultados – os ruins,
nesse caso – sendo, o professor, o único
responsabilizado pelo fracasso dos
mesmos.
De forma despudorada exige-se,
sem se pensar nas consequências, para
RETEME, João Pessoa, v. 1, n. 1, p. 30-43, jan./jun. 2011.
o bem de um determinado par� do ou
de um determinado polí� co, que sejam
apresentados índices de aprovação
astronômicos, nem que para isso seja
necessário fugir dos próprios obje� vos
estabelecidos por eles mesmos. Em
outras palavras: dar-se metas aos
professores, metas essas que visam a
qualidade fi nal do alunado, e pouco
importa se elas serão a� ngidas ou
não, contanto que os resultados sejam
“bons” para a manutenção do status
quo, “os fi ns jus� fi cam os meios”. Com
isso a avaliação atual tem perdido toda
a sua credibilidade visto que a mesma
não condiz com a qualidade real daquilo
que está sendo avaliado: aluno, escola
ou governo. Em outras palavras, o que
nos mostra os números não é o mesmo
que é visto na realidade educacional de
nosso país; não é a toa que encontramos
analfabetos – funcionais ou até mesmo
absolutos – entre os concluintes do
ensino médio. Em escala menor, mas
não menos danosa, os gestores, em
sua grande maioria, quer pressionados
ou simplesmente por busca de mérito
próprio ante a sociedade, têm adotado
a mesma postura desprezível dos
governos: “valorização dos índices
(Pisa, Ideb, etc.) em detrimento da
qualidade do aprendizado real”. Na
esteira disso vem uma série de men� ras
e manipulações de resultados a fi m de
que seus alvos pessoais possam ser
a� ngidos por meio da educação.
O aluno como indivíduo – “cada cabeça
um mundo”
A situação fi cou ainda mais
complexa no momento em que esses
problemas para avaliar passaram a ser
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RETEME, João Pessoa, v. 1, n. 1, p. 30-43, jan./jun. 2011.
do conhecimento dos alunos. Não é
incomum ouvir um aluno dizer: “Não
vou estudar, no fi nal todos passam
mesmo!” A escola passou a ser tratada
como um local em que as crianças e os
jovens precisam ir para se encontrar e
simplesmente esperar que o ano acabe
para que possam ser aprovadas. Como
avaliar corretamente um aluno que
não vê na educação uma ferramenta
de crescimento humano e até mesmo
fi nanceiro, antes, pelo contrário, vê
apenas como uma fase penosa da vida
pela qual ele obrigatoriamente deve
passar? Ora, se é uma coisa penosa e
obrigatória, “quero passar logo e de
qualquer maneira pelo bem de minha
liberdade”, dizem. Zagury demonstra
bem esse sen� mento por parte dos
alunos quando nos diz que:
Parte dos alunos está realmente
interessada em aprender, mas
outra boa parte (em especial
se forem adolescentes movidos
pelo hedonismo, pragma� smo e
u� litarismo que hoje dominam a
sociedade) quer mesmo é namorar
mais, conversar com os amigos
e saber o mínimo possível (com
algumas exceções, naturalmente).
Todos, porém, julgando ser um
direito inalienável ser aprovado,
passar de ano, forma-se (afi nal “só
professor ruim reprova aluno, não
é isso que andam dizendo por aí?”)
(ZAGURY, 2007, p. 43).
Nem é preciso falar o quanto
se torna di� cil convencer o aluno da
necessidade de se adaptar a certos
padrões sociais e re� rar disso seu
próprio crescimento.
Kant já dizia, em seu livro “Sobre
a Pedagogia” que “entre as descobertas
humanas há duas difi cílimas, e são: a
arte de governar os homens e a arte
de educá-los.”** e também que “Um
dos maiores problemas da educação
é o poder de conciliar a submissão
ao constrangimento das leis com o
exercício da liberdade.”*** Essa é uma
preocupação que também deve ser
observada no momento da avaliação,
a questão do aluno como pessoa
individual e até que ponto pode ir a
sua liberdade. Fazer o aluno considerar
o fato de que acima dele e de suas
vontades existe toda uma cadeia de
padrões e exigências às quais ele deve
submeter-se, realmente é uma arte das
mais di� ceis.
Muitas vezes, determinado
aluno, por não considerar determinada
disciplina importante, acaba recebendo
uma avaliação nega� va que em nada
tem haver com a sua real capacidade.
Mais vem à tona a grande questão,
“como posso aprová-lo se o mesmo não
alcançou as metas estabelecidas?” Da
mesma forma, “como poderia reprová-lo
se eu sei que ele tem mais capacidade? -
se for o caso, é claro”. Será que ele tem
que aprender o que quer ou tem que
aprender o que a sociedade, a escola
ou até mesmo o mundo exige que ele
aprenda?
Neste caso, o professor tem que
ter sensibilidade no que diz respeito a
levar em conta o lado pessoal do aluno
no ato da avaliação, mas também, por
_____** KANT, Immanuel. Sobre a
Pedagogia. Piracicaba, SP, 1996: Editora
Unimep. p.20.
*** IDEM, p. 32 – 33.
38
outro lado, tem que ter consciência de
que fará um mau irreparável ao aluno se
lançá-lo na sociedade sem que o mesmo
esteja munido das competências
exigidas pela mesma.
Para que avaliar?
Diante de tudo isso qual é,
na verdade, o obje� vo da avaliação?
Será que ela é simplesmente uma
ferramenta usada pelo professor para
aprovar os alunos e não ter problemas
com as cobranças da escola? Ou será
somente um meio de “produzir” bons
índices? Não seria ela, antes, uma forma
de se averiguar resultados a fi m de se
conhecer fraquezas e debilidades que
precisam ser sanadas bem como de
constatar possíveis e reais avanços, para
que assim possa se manter o que está
indo bem e corrigir o que anda mal?
Mas infelizmente ainda estamos longe
de devolver à avaliação esse seu caráter
verídico e constatador da realidade que
já de muito tempo parece que lhe foi
tomado.
A difi culdade em avaliar os
conhecimentos do aluno no geral
Com todos esses temperos, avaliar um
aluno se tornou tarefa quase que de
super-herói, sobretudo por conta da
forma moderna, correta e “controversa”
que se tem dito que é para ser posta
em prá� ca pelos docentes. No que diz
respeito aos métodos que devem ser
usados, há os defensores dos métodos
tradicionais; há os revolucionários,
que pregam a ex� nção dos mesmos
e a adoção de novos; há aqueles que
fi cam indecisos e, como nos diz Zagury
(2007, p. 224), preferem fazer o menos
RETEME, João Pessoa, v. 1, n. 1, p. 30-43, jan./jun. 2011.
penoso: “da um conceito médio para
ao menos não ser tão injusto” no ato
de “dar a nota”; tem os que defendem
as provas escritas, tem os que as
abominam, etc. Mas todos têm as
mesmas preocupações: como saber se
aquele aluno não aprende matemá� ca,
por exemplo, porque não quis ou
porque não é capaz? E se não é capaz
é por conta de distúrbios psicológicos,
por falta de vontade de aprender ou por
falta de incen� vo por parte da família e
da sociedade? E se for por conta de tudo
isso que culpa tem o professor? E se por
acaso também o professor, o governo
ou a própria escola � verem culpa?
Será feita jus� ça se ele for aprovado
juntamente com outro aluno que no
fi nal alcançou os obje� vos pessoais e
sociais da educação? E se um alcançou
porque a culpa de os outros não terem
alcançado é do método usado pelo
professor, tanto para avaliar quanto para
ensinar? E se for assim, como saberei se
sua capacidade realmente é condizente
com a sua nota? Como es� mular uma
pessoa para o crescimento intelectual
se a cada dia que passa, na família e
na sociedade em geral, ela tem uma
experiência contrária, ou seja, falta de
incen� vo para os estudos? Como ser
um exemplo para meu aluno – dizem
os professores – se a própria sociedade
já deu, a mim e a minha profi ssão,
o mais inconsequente desprezo? O
que o meio polí� co realmente espera
do aluno? Que ele tenha boas notas
ou bom desempenho? Quan� dade
ou qualidade? São essas perguntas,
dentre outras, que o professor tem de
fazer diariamente no ato de avaliar o
seu aluno de forma con� nua e mais
omnilateral possível.
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RETEME, João Pessoa, v. 1, n. 1, p. 30-43, jan./jun. 2011.
Fala-se em uma avaliação abrangente e,
digamos, quase que fi losófi ca por parte
do professorado nacional. Pretendesse
avaliar cada aluno de forma individual,
levando em conta, por meio de
observações profundas do mesmo,
aspectos psicológicos, sociais, familiares,
econômicos, etc. E isso é maravilhoso,
não há como não defender esse método
avalia� vo tão profundo. Agora, há
um “pequeno-grande” problema, em
especial aqui no Brasil: Como fazer isso,
em salas com 40 ou 50 alunos? Vejamos
o que Zagury tem a nos dizer sobre isso:
Se já se considerava incompleta
e insufi ciente levando em conta
apenas o que o aluno demonstra
que aprendeu em uma prova, o que
dizer da avaliação que se propõe
considerar aspectos muito mais
complexos, e que só podem ser
efe� vamente avaliados através da
observação direta ou de a� vidades
que as revelem? Será que a
situação do professor mudou e
nós não fomos avisados ? Será
que as turmas agora estão com 25
alunos, a par� r da 5ª série? Será
que os docentes passaram a ganhar
tão bem que só trabalham em um
colégio? Ou ele con� nua sem tempo
para preparar dida� camente até uma
simples prova de resposta curta?
(ZAGURY, 2007, p. 222).
Será que é possível, realmente,
em nosso país, realizar um � po de
avaliação profunda e que leve em
conta as singularidades cogni� vas,
psicológicas, � sicas, etc., de cada aluno
individualmente? E digamos que um
professor de matemá� ca constata que
seu aluno não sabe matemá� ca por
meio da prova tradicional. Será que por
meio de um método avalia� vo mais
complexo ele descobriria que o aluno
sabe matemá� ca ou simplesmente
constataria que ele é super educado,
fala bem e é bom em fazer amigos,
mas, no entanto, con� nua sem saber
do conteúdo da matéria? Ou será
que ele poderia através desse novo e
moderno método avalia� vo comprovar
que o aluno, na realidade sabe, ele é
quem não avaliou direito? Será que é a
avaliação que faz o aluno? Seria ó� mo
se pudéssemos, de fato, por em prá� ca
essa método de avaliação que leve em
conta todos os aspectos do aluno, mas
devemos lembrar do seguinte: se ele não
conseguir aprender com a aula e com
seus esforços próprios, auxiliados pelo
professor, é claro, não é a mudança de
método que vai fazer, como num passe
de mágica, com que ele saiba o assunto
de uma hora para outra. O novo método
servirá, também, se bem aplicado, é
claro, para provar que ele de fato não
construiu conhecimento algum, se esse
for o caso, do contrário, não servirá para
nada.
O desafi o de se avaliar na educação à
distância
Depois dessas considerações
sobre a avaliação e seus métodos,
não fi ca di� cil de imaginar o tamanho
do desafi o que é avaliar na EAD,
principalmente no que diz respeito à
sensibilidade do avaliador, visto que o
mesmo não tem contato � sico com o
avaliado. Essa difi culdade aumenta ao
passo que também aumenta o número
40
de competências que se exige que os
alunos e os professores desenvolvam
por conta dos avanços tecnológicos.
Também mudou o fi m
esperado pela educação. Cada dia mais,
na educação à distância, se requer
do aluno “autonomia”. Um aluno que
também tem a possibilidade de ser um
pesquisador, que tem acesso às fontes
usadas pelo professor e até a outras
diferentes e variadas; o aluno tornou-
se um construtor do seu conhecimento.
Essa tendência à pesquisa, por parte
do aluno, também tem se espalhado
pelos cursos presencias, dada a grande
facilidade de acesso a conteúdos.
Também se fala muito em formação
con� nuada, que consiste em estar
sempre se atualizando, e em formação
omnilateral, que seria uma educação
que prepara o indivíduo em várias
áreas não o deixando preso a uma
única especialidade, é o que chamam
de interdisciplinaridade.
Todos esses novos horizontes
que têm surgido no mundo educacional
por conta dos avanços tecnológicos
têm fomentado varias discussões em
torno do assunto avaliação.
O principal problema de se
avaliar na educação à distância, é
que o aluno dispõe de tudo, espaço,
informação, possibilidade de pesquisa,
troca de conhecimentos com diversas
pessoas, regulação de tempo, etc., o
que é ó� mo, ele só não dispõe de uma
coisa: contato � sico com o professor.
Por maior que sejam os avanços
tecnológicos, eles nunca serão capazes
de proporcionar ao professor uma
visão mais ampla do aluno, sobre tudo
no que diz respeito à parte psicológica
do mesmo, que neste caso, supondo
que a educação tem por principal
obje� vo o crescimento humano de cada
indivíduo – ou pelo menos deveria ter –
conta muito; portanto, medir o nível de
crescimento de determinado indivíduo
através de conteúdos postados que se
quer dão a certeza que são realmente
fruto do seu próprio trabalho, é uma
forma de avaliar muito pequena se
comparada ao tamanho do “projeto
educacional” que se pretende implantar.
Descarta-se totalmente, olhando por
esse prisma, a possibilidade de ex� nção
da prova presencial.
Tem mais uma questão a
ser considerada no que diz respeito
à autonomia: como guiar um aluno
autônomo, numa determinada linha de
aprendizagem, de forma que o professor
saiba o que deverá ser exigido do mesmo
no ato da avaliação? Ou seja, como
pode-se avaliá-lo de forma completa
se não se tem certeza do caminho que
o mesmo tomou para se chegar ao
conhecimento,se é que chegou, visto
que neste caso não é o professor que
determina esse caminho e sim o aluno?
Como ter certeza se o obje� vo mirado
por ele no ato de suas pesquisas é o
mesmo pensado pelo professor? Neste
caso temos que levar em conta que nem
mesmo o professor é o responsável pela
escolha dos obje� vos, isso é feito pela
própria história através de gerações que
vem buscando a cada dia a excelência
das disciplinas bem como a melhor
qualidade da vida social. Sendo assim,
não podemos desprezar anos e anos
de pesquisas e experiências com as
diversas pedagogias, erros e acertos,
por conta de um aluno que considera
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seu “caminho autônomo” mais efi caz
para se alcançar o conhecimento; não
desprezando isso também, é claro.
Conclusão
Podemos perceber, depois dessa
breve abordagem sobre a avaliação, que
não é sem mo! vo que se discute tanto
sobre o tema. Muitos são os fatores
que devem ser observados no ato de
avaliar. Muitos fatores polí! cos, sociais,
estruturais, psicológicos e até biológicos
devem ser considerados por quem se
presta avaliar. O que estou querendo
dizer com isso é que todo método
avalia! vo, bem como a pessoa que faz
uso dele, tem que ser fundamentado
em padrões e metas que foram sendo
formados e estabelecidos ao longo da
história, com muito esforço, e que não
podemos jogar tudo isso no lixo por
conta dos baixos níveis de aprendizado
que os métodos de avaliação, novos ou
velhos, têm constatado.
Será que o problema está
realmente nos métodos usados ou nas
pessoas que estão sendo avaliadas?
Será que todos os que são avaliados tem
a mesma capacidade de aprendizado
e a culpa de possíveis fracassos está
unicamente nos professores e nos
métodos por eles u! lizados para
ensinar e avaliar? Se a resposta a essa
úl! ma pergunta for não, deve-se pensar
bem antes de se falar em mudar os
métodos avalia! vos; e se a resposta for
sim, joguemos fora todas as conquistas
que foram feitas na área educacional e
criemos um modo de ensinar onde se
avalia a pessoa no que ela decidir, por
conta própria, ser avaliada e usando o
método que ela quiser.
Devemos nos livra da falsa ideia de que,
como muitos imaginam hoje em dia,
de forma errada, diga-se de passagem,
a avaliação deve ser um meio de se
encontrar uma forma de aprovar o aluno
a todo custo. Pelo contrário, a avaliação
deve servir de obstáculo para o aluno.
Não falo de obstáculo no sen! do de
empecilho para o desenvolvimento do
mesmo, mas sim, no sen! do de desafi o,
que es! mule o seu crescimento quando
da transposição da “barreira” que lhe foi
colocada pelo professor, não sem antes
lhe dar as ferramentas necessárias à
transposição.
Fica notório que a complexidade do
mundo atual tem refl e! do fortemente
dentro da escola. Longe de ser aquela
an! ga salinha, com quadro, giz e alunos
caladinhos, a escola se transformou, não
há mais limites para o conhecimento,
abriram-se as portas do mundo para
o aluno. A EAD está crescendo e
se expandindo de maneira jamais
concebida pelo homem e, com isso,
novas formas de avaliar tem surgido,
a fi m de que a avaliação seja a mais
abrangente possível e possa abranger os
mais variados ! pos de conhecimento.
Essas discussões, se forem produ! vas,
não devem parar nunca, para o bem
da educação. Grandes são os desafi os
que são postos à frente desse grandioso
projeto que é levar educação de
qualidade e igualitária para todos os
lugares.
Devemos ter em mente, porém, o
seguinte: uma avaliação errada pode
destruir pessoas capacitadas, as
quais nunca mais se erguerão, tanto
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profi ssionalmente quanto pessoalmente
como também, pode fazer ascender
ante a sociedade pessoas incapazes
criando, dessa forma, uma degradante
inversão de valores, um “câncer social”
que ao fi rmar suas raízes põe em risco
toda uma estrutura construída ao longo
da história.
Referências
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