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TESOURO DIRETO 1 T TESOURO DIRETO Se você não pode contra a Selic, junte-se a ela O leitor mais assíduo já percebeu o quanto temos nos dedicado para garimpar as melhores oportunidades de invesmento a parr dos desdobramentos da economia e da políca. A vida de um invesdor minimamente sensato não se resume à renda variável. Temos no Brasil uma Selic de dois dígitos, considerada a maior taxa de juros do mundo. E você, invesdor, tem total acesso à essa alta rentabilidade. O Tesouro Direto está à disposição dos brasileiros desde janeiro de 2002, quando foi implementado pelo Tesouro Nacional em parceria com a CBLC (Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia). De lá pra cá, tem sido cada vez mais comum a voz de especialistas recomendando algum tulo público como forma de proteger a parte do porólio mais exposta às oscilações do mercado. Por conta disso, normal seria que a popularidade da aplicação deslanchasse na mesma velocidade em que se mulplicam as sugestões. Na práca, porém, isto não acontece. Uma breve olhada nas estascas do governo revela a existência de um longo caminho para que o Tesouro Direto parcipe com mais intensidade da rona dos poupadores brasileiros. No encerramento de 2015, por exemplo, o estoque de tulos do Tesouro direto era de R$ 27 bilhões (dividida conforme a tabela abaixo) contra o saldo atual de R$ 650 bi da poupança. Entendemos que um dos movos por trás dessa enorme discrepância seja justamente a falta de informações prácas sobre os procedimentos necessários para desbravar o mercado.

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TESOURO DIRETO

Se você não pode contra a Selic, junte-se a ela

O leitor mais assíduo já percebeu o quanto temos nos dedicado para garimpar as melhores oportunidades de investimento a partir dos desdobramentos da economia e da política.

A vida de um investidor minimamente sensato não se resume à renda variável.

Temos no Brasil uma Selic de dois dígitos, considerada a maior taxa de juros do mundo. E você, investidor, tem total acesso à essa alta rentabilidade.

O Tesouro Direto está à disposição dos brasileiros desde janeiro de 2002, quando foi implementado pelo Tesouro Nacional em parceria com a CBLC (Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia).

De lá pra cá, tem sido cada vez mais comum a voz de especialistas recomendando algum título público como forma de proteger a parte do portfólio mais exposta às oscilações do mercado.

Por conta disso, normal seria que a popularidade da aplicação deslanchasse na mesma velocidade em que se multiplicam as sugestões. Na prática, porém, isto não acontece.

Uma breve olhada nas estatísticas do governo revela a existência de um longo caminho para que o Tesouro Direto participe com mais intensidade da rotina dos poupadores brasileiros.

No encerramento de 2015, por exemplo, o estoque de títulos do Tesouro direto era de R$ 27 bilhões (dividida conforme a tabela abaixo) contra o saldo atual de R$ 650 bi da poupança.

Entendemos que um dos motivos por trás dessa enorme discrepância seja justamente a falta de informações práticas sobre os procedimentos necessários para desbravar o mercado.

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Além disso, os pequenos investidores geralmente acessam o mercado de juros por intermédio de um gerente de banco, que possui incentivos para indicar produtos internos, ao invés de acesso direto aos títulos públicos (menos rentáveis para eles).

Estoque Poupança

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Para a grande maioria de potenciais investidores, não basta uma “mera” indicação de quais títulos comprar. Tão ou mais importante é conhecer os fundamentos que os regem e o que precisa ser feito (falamos do tra-balho braçal mesmo) para conseguir adquirí-los.

Pensando nisso, decidimos criar esta minissérie de cinco capítulos para ensinar os fundamentos do Tesouro Direto a quem os desconhecem. Podemos descrevê-la como um guia básico do tema, embora nas próximas edições iremos também dar alguns pitacos sobre os melhores títulos disponíveis para compra no cenário atual.

Pense em alternativas que ganham com os juros maiores. Nós pensamos, e ponderando pela relação risco x retorno, não fomos capaz de encontrar uma melhor que os títulos públicos via Tesouro Direto.

Pelo instrumento Tesouro IPCA+ (antiga NTN-B), por exemplo, poderíamos ser beneficiados em tempos de inflação elevada, como o atual. Mais abaixo fornecemos nossa impressão detalhada sobre o título, bem como as respectivas recomendações.

Obviamente discorreremos também sobre os demais produtos disponíveis no Tesouro, mas antes disso ire-mos prepará-lo para atuar neste mercado com informações simples, porém de extrema importância para que o processo corra de forma tranquila e com maiores chances de ser bem-sucedido.

Nos próximos capítulos, trataremos de todos os procedimentos necessários para se investir no Tesouro Di-reto. Começaremos pelo cadastro, passando pelas instituições disponíveis e as respectivas taxas cobradas, a estrutura tributária, até chegarmos efetivamente na compra de um título.

Daí em diante, detalharemos o funcionamento de cada uma das modalidades de investimento deste merca-do, selecionando aquelas que consideramos mais atrativas para o contexto atual.

Nesta segunda edição trataremos de todos os procedimentos necessários para se investir no Tesouro Direto, além de outros aspectos relevantes como a tributação.

Espero que após a leitura do primeiro relatório você tenha se convencido da importância da modalidade para a formação de um patrimônio a longo prazo - era este o objetivo do texto inaugural.

E se você tomou a decisão de aplicar um dinheiro, mas ainda precisa de informações sobre como proceder para comprar um Tesouro SELIC, Tesouro Inflação, ou qualquer outro título negociado pelo programa, este capítulo certamente irá ajudá-lo.

Partindo do pressuposto de que você possua CPF e conta corrente, o passo-a-passo começa com o cadastro em alguma instituição financeira (também chamada de Agente de Custódia) que esteja habilitada no Tesouro Direto.

Acessando este link: http://www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto-instituicoes-financeiras-habilitadas, é possível encontrar a lista de todas as instituições habilitadas a oferecer o produto a seus clientes, com as respectivas informações de contato.

O cadastro junto à uma instituição é necessário por ser ela a responsável pelos dados do investidor junto à BM&F Bovespa, repasse de recursos financeiros referentes aos eventos de custódia e de venda antecipada (pagamento de juros e resgates), além do recolhimento dos impostos vinculados (IR e IOF).

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Após o fornecimento das informações e envio da documentação exigida, você irá receber via e-mail uma senha de acesso à área restrita do Tesouro Direto (conforme a imagem abaixo), onde são realizadas as ope-rações de compra e venda de títulos, assim como consultas a saldos e extratos.

Caso o custodiante escolhido seja um agente integrado (isto é, possui seu sistema integrado ao do Tesouro Direto), as compras poderão ser feitas no site da própria instituição - embora o acesso à área restrita da pá-gina do Tesouro permaneça para consultas complementares.

E se você precisar alterar suas informações depois de efetuado o cadastro, basta solicitar as mudanças à instituição escolhida e apresentar a documentação necessária - alterações de e-mail e senha podem ser rea-lizadas pelo próprio investidor, diretamente na área restrita.

Vai de tradicional ou programado?

Uma vez cadastrado, você pode optar por adquirir os títulos a qualquer momento (investimento tradicional) ou agendar com antecedência e regularidade suas aplicações (investimento programado). Abaixo, listamos as principais características das duas modalidades:

Investimento tradicional

+ Operações de compra e venda que podem ser realizadas a qualquer momento do dia, dentro do período de funcionamento do programa (das 9h às 5h em dias úteis e 24 horas por dia em fins de semana e feriados);

+ valor da compra poderá ser ajustado pela quantidade de títulos desejada ou pelo montante total a ser investido;

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+ operação de venda realizada da mesma maneira.

Em relação à recompra dos títulos feita pelo Tesouro Nacional, o investidor pode vender os seus títulos todos os dias úteis, das 18 horas de D0 às 5 horas de D+1. Nos fins de semana e feriados, você poderá vender seus títulos em qualquer horário. Em todos os casos, as transações serão executadas utilizando os últimos preços de fechamento de mercado disponíveis. Sua transação será processada no dia útil posterior à ordem de ven-da, (D+1), quando os recursos oriundos dessa operação serão repassados para a sua instituição financeira. Essa, por sua vez, repassará esses recursos para você dentro do prazo previsto no seu regulamento.

Investimento programado

+ Contempla o agendamento de compras e vendas e a reaplicação automática dos juros semestrais dos títulos (cupons) e do valor a ser resgatado na data do vencimento;

+ tanto na compra quanto na venda, você pode agendar a operação envolvendo um ou mais títulos durante o período que determinar;

+ até um dia antes da data marcada para a operação, todos os agendamentos feitos poderão ser con-sultados, cancelados ou alterados;

+ caso um determinado título deixe de ser ofertado, você será avisado por e-mail e poderá refazer sua programação - caso não altere seu agendamento, este será cancelado automaticamente. Reforçando o foco na formação de um patrimônio a longo prazo, gostamos bastante desta segunda opção.Afinal, funciona como uma espécie de débito automático que, ao invés de levar seu dinheiro embora, trans-forma-o automaticamente em um novo investimento.

Limites, canais e prazos para a aplicação

Nas compras tradicionais, a parcela mínima de compra é de 10% do valor de um título, desde que respeitado o limite financeiro mínimo de R$ 30,00. Já no investimento programado, as compras devem obe-decer à parcela mínima de 1% do preço unitário do título, desde que respeitado o mesmo limite financeiro.

Por falar em limite, o valor máximo para compras em um único mês é de R$ 1 MM, tanto para as compras tradicionais quanto para as programadas. Para vendas, por sua vez, não existe uma restrição de valor. Quanto aos canais para aplicação no Tesouro Direto, são três, valendo tanto para os investimentos tradicio-nais quanto aos programados:

+ Diretamente no site do Tesouro: com a sua senha, você acessa a área restrita do site e realiza a compra e venda dos títulos ou sua programação de investimento;

+ Diretamente no site da instituição financeira: quando a instituição escolhida for um agente integra-do, o que significa que você pode comprar e vender títulos no site da própria instituição, a qualquer momen-to, com os mesmos preços e taxas do site do Tesouro Direto;

+ Por meio de sua instituição financeira: neste canal, você autoriza sua instituição a negociar os títulos em seu nome.

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Após a confirmação da compra, o sistema do Tesouro Direto informará a data limite para que os recursos necessários referentes à aquisição estejam disponíveis na conta da instituição financeira - você deverá entrar em contato com ela para saber os dados da conta onde irá depositar o dinheiro. Quando ocorrer o vencimento de um título ou o pagamento de cupom de juros, os recursos estarão dispo-níveis na sua instituição a partir das 13h do mesmo dia do pagamento. Já o montante resultante da venda estará disponível a partir das 13h do dia seguinte à operação.

É importante lembrar, no entanto, que em ambos os casos a data e horário do depósito na conta dependerão dos procedimentos operacionais de sua instituição - no link: http://www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto-instituicoes-financeiras-habilitadas, você pode obter mais informações sobre o prazo de repasse dos recursos pelas instituições.

Quais os custos do programa? Para encerrar, explicaremos os custos do Tesouro Direto, os quais se resumem aos impostos sobre os rendi-mentos e às taxas cobradas referentes aos serviços prestados (tanto pela sua instituição como pela BM&F Bovespa).

Os impostos cobrados são os mesmos que incidem sobre as demais operações de renda fixa, como fundos de investimento e CDBs. São eles: o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), para resgates da aplicação em menos de 30 dias, e o IR (Imposto de Renda), com alíquota regressiva a depender da duração do investi-mento, conforme o gráfico abaixo:

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Vale lembrar que há incidência de impostos sobre os rendimentos financeiros auferidos na venda antecipa-da, no pagamento de cupom de juros (o IOF não incide sobre os cupons de juros; somente o IR) e no venci-mento dos títulos. Os dias para efeito de tributação são contados a partir da data de início da aplicação. Quanto às taxas cobradas no Tesouro Direto, são duas, sendo uma pela sua instituição financeira e outra pela BM&F Bovespa. Em geral, elas são significativamente menores que as cobradas em outros produtos de renda fixa oferecidos no mercado, a saber:

+ Taxa cobrada pela BM&F Bovespa

Taxa de custódia de 0,30% ao ano sobre o valor dos títulos, referente aos serviços de guarda dos títulos e às informações e movimentações dos saldos. É provisionada diariamente a partir da liquidação da operação de compra (D+2).

+ Taxa cobrada pela instituição financeira

A taxa é livremente pactuada com o investidor. O Tesouro Direto disponibiliza em seu site (no link) um ranking com as taxas cobradas por cada instituição. Cabe ao investidor confirmá-las no momento da contratação. Pode ser cobrada anualmente, modalidade mais comum, ou por operação - para esclarecimentos quanto ao pagamento, contate a instituição correspondente.

Com todas estas informações em mãos, você está pronto para operar no Tesouro Direto, restando apenas escolher em qual título investir.

Portanto, nas próximas edições tentaremos facilitar sua tomada de decisão com uma análise mais detalhada sobre cada uma das categorias (e seus respectivos papéis) do programa, traçando algumas recomendações para os diferentes perfis.

Enquanto isso, lanço a você o desafio de encontrar fora do Tesouro uma oportunidade de ser remunerado a uma taxa tão alta e ao mesmo tempo sem risco significativo de crédito.

Após a leitura da segunda edição da minissérie, você já está pronto para começar a operar no Tesouro Direto.

Imagino que o leitor esteja curioso para saber nossa opinião sobre quais os melhores títulos para se comprar no contexto atual. Para isso, sugerimos nossos relatórios internos, que escolherão os melhores títulos do momento e explicarão em detalhes o motivo pelo qual cada título seria recomendado.

Cada título do tesouro é recomendado para um cenário específico, e abaixo vamos comentar melhor a res-peito destes cenários.

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O melhor investimento para ganhar com a inflação

Para cenários de inflação alta, como vemos recentemente, milhares de consumidores observam seu dinheiro minguar, assim como a rentabilidade de seus investimentos.

Todo modo, como estamos falando de Tesouro Direto, o importante mesmo neste contexto é ter em mente que o que é ruim para o bolso de boa parte da população, acaba sendo muito bom para quem aplica nos Tesouro IPCA+.

Entendendo os riscos

Para saber a rentabilidade do papel, podemos acessar diariamente a tabela de preços do Tesouro Direto (http://www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto-calculadora). No início de 2016, o retorno real de um Tesouro IPCA+, seja ela Principal ou pura) variava de 7,25% a 7,51%, a depender do vencimento do título escolhido.

Para saber qual vencimento comprar, primeiro é necessário entender seus riscos.

Eles praticamente inexistem caso o investidor carregue o título até o vencimento, já que ele ganhará exata-mente o que foi pactuado na compra (exceto se o governo der um calote). Mas se este mesmo investidor op-tar por se desfazer do papel antes, ficará sujeito a aceitar o que o mercado estiver disposto a pagar, podendo amargar prejuízo.

Isso acontece por conta da marcação a mercado, processo de atualização do preço do título para o valor do dia. Por conta dessa marcação, os Tesouro IPCA+ que vencem em prazos mais curtos acabam sofrendo uma menor oscilação de preços do que aquelas com prazos mais longos - em outras palavras, os títulos com ven-cimento mais longo têm uma volatilidade muito maior.

São diversos os fatores econômicos que influenciam a precificação, como as expectativas de mercado para a Selic e obviamente para a inflação, questão de oferta/ demanda, além de um prêmio por risco embutido nas previsões. Por exemplo, se há expectativa de queda da taxa de juros, os títulos prefixados ou com parte da remuneração prefixada, como o Tesouro IPCA+, tornam-se mais atrativos.

A recíproca também é verdadeira: quando o mercado aposta em um ciclo de elevação da Selic e passa a de-mandar um juro real mais alto, o preço do Tesouro IPCA+ tende a cair. E o mesmo vale para a correlação com as expectativas de inflação.

Quanto ao fato de a volatilidade ser maior para os títulos com prazos mais longos, basta ter em mente que a taxa prefixada paga por Tesouro IPCA+ é, grosso modo, o resultado da média das taxas de juros esperadas até o vencimento acrescido de um prêmio por risco de modo que, quanto maior o prazo, maior a dificuldade de fazer essa estimativa.

Portanto, para que você não corra risco de perder dinheiro, recomendamos o carrego dos títulos até o ven-cimento, adequando o prazo do título ao objetivo do investimento.

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Pagamento de Juros x NTN-B Principal

Um Tesouro IPCA+ (ou NTN-B) pode ser classificada como Principal ou não, com uma diferença no que diz respeito ao fluxo de pagamento das notas.

No caso do primeiro, este fluxo é simples, ou seja, o investidor faz a aplicação e resgata o valor de face (valor investido somado à rentabilidade) integralmente na data de vencimento do título.

Na segunda, por sua vez, o rendimento é recebido ao longo do investimento, por meio de cupons semestrais de juros, e na data de vencimento do título, quando do resgate do valor de face e pagamento do último cupom.

Por conta desta diferença, o Tesouro IPCA+ (NTN-B Principal) costuma ser bastante indicada para o investidor que deseja fazer poupança visando um horizonte de médio a longo prazo, inclusive para aposentadoria. Ao passo que a nota com pagamento de cupons semestrais permite ao investidor obter uma rentabilidade peri-ódica, fornecendo mais liquidez ao longo da aplicação.

No mais, as características dos títulos são absolutamente as mesmas, com rentabilidade vinculada à variação do IPCA (balizador oficial da inflação no Brasil) acrescida dos juros definidos no momento da compra.

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Tributação joga contra Tesouro IPCA+ com juros

Aqui repousa a única desvantagem do Tesouro IPCA+ com juros em relação ao Principal, em nossa opinião. Isso porque, no caso da primeira, existe uma antecipação do Imposto de Renda. Não que o recebimento de juros não seja uma boa estratégia para quem precisa de renda periódica. O pro-blema é que quem investir nesse título pagará o IR sobre todos os cupons, enquanto quem investir na Prin-cipal só irá pagar o imposto sobre o rendimento total, no vencimento - as alíquotas, conforme demonstrado na última edição, variam de acordo com o tempo em que o dinheiro ficará investido.

Portanto, o que pesa para o investidor do Tesouro IPCA+ com juros é o fato de que, por adiantar o pagamento de IR, ele acaba perdendo uma quantia importante que poderia continuar a ser rentabilizada, tanto na forma do cupom que vai para o seu bolso como na fatia do imposto que vai para o governo.

Este, aliás, é o motivo pelo qual quem investe no título com cupom não recebe exatamente o rendimento acordado no ato da compra, dado que aquela rentabilidade prevista só poderia ser atingida caso todos os cupons fossem reinvestidos em títulos que pagassem exatamente a mesma taxa do título original, o que difi-cilmente é possível na prática.

Deste modo, se você confia que terá sangue frio para carregar o investimento até o fim do prazo, recomenda-mos que adquira os títulos do Principal citados acima, já sabendo exatamente o quanto será recolhido no fim.

Os títulos prefixados

Depois de escrevermos sobre as vantagens e o momento particularmente favorável para se investir em Te-souro IPCA+, dedicaremos a penúltima edição da minissérie à categoria dos títulos prefixados - aqueles cuja rentabilidade é definida no momento da compra.

A modalidade conta com dois títulos disponíveis à venda no Tesouro Direto: Tesouro Prefixado (antiga LTN - Letra do Tesouro Nacional) e Tesouro Prefixado com Juros Semestrais (antes conhecida por NTN-F - Nota do Tesouro Nacional).

Tanto em um quanto em outro, o investidor já sabe no momento da aplicação o rendimento que terá sobre o capital investido, já que não há atualização do valor nominal.

Ao mesmo tempo, existem algumas diferenças importantes que você deve levar em consideração antes de decidir qual destes papéis mais se adequa ao seu perfil.

No caso do Tesouro Prefixado, por exemplo, a rentabilidade é vinculada à taxa DI, uma média dos rendimen-tos pagos em depósitos interbancários no país. Sua precificação é fortemente influenciada pela Selic, que também é apurada com base nas operações realizadas no mercado interfinanceiro. Deste modo, as taxas costumam ser bastante parecidas, apresentando variação muito próxima uma da outra.

O Tesouro Prefixado com Juros Semestrais, por sua vez, possui rendimento calculado com base na Taxa Interna de Retorno, mais conhecida como TIR. Trata-se de uma taxa de desconto hipotética (também próxima à Selic), definida pelo próprio Tesouro Nacional, que leva em conta os rendimentos de outros títulos públicos.

No mundo das finanças, a TIR é bastante utilizada para igualar o valor de um investimento (valor presente)

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com os seus respectivos retornos futuros ou saldo de caixa, em conceito proposto por John Maynard Keynes.

Isto ajuda a explicar a outra diferença entre os títulos, relacionada aos fluxos de pagamentos. A exemplo do Tesouro IPCA+, o Tesouro Prefixado possui fluxo simples - ou seja, o investidor faz a aplicação e recebe o valor de face (valor investido somado à rentabilidade), integralmente na data de vencimento do título.

O Tesouro Prefixado com Juros Semestrais, por sua vez, se assemelha ao Tesouro IPCA+ puro, dado que seu rendimento é recebido pelo investidor ao longo da aplicação, por meio de cupons semestrais de juros, e na data de vencimento do título, quando do resgate do valor de face e pagamento do último cupom.

Por conta desta diferença, o Tesouro Prefixado costuma ser indicado para o investidor que deseja fazer pou-pança visando um horizonte de médio a longo prazo, inclusive para aposentadoria. Ao passo que o Tesouro Prefixado com Juros Semestrais permite ao investidor obter uma rentabilidade periódica, fornecendo mais liquidez ao longo da aplicação.

Um pouco mais de aperto

Por falar em indicação, ambos os papéis costumam ser recomendados para aqueles que apostam na estabi-lidade ou queda da inflação e das taxas de juros do país.

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É importante ressaltar que quando você compra um papel prefixado, você negocia uma taxa que já inclui uma expectativa do mercado a respeito do comportamento da Selic. Por isso, nem sempre um ciclo de queda beneficiará os detentores de prefixados. Para que haja ganhos, é preciso que o ciclo de queda seja MAIOR do que o ciclo precificado no mercado. A mesma coisa vale para um ciclo de alta. Se o Banco Central acabar por subir os juros em um montante ME-NOR do que o mercado precificava, os títulos prefixados também gerarão lucros maiores (mesmo estando em modo de alta da Selic).

Prêmio de risco de inflação

Também na mesma linha do Tesouro IPCA+, os riscos de se aplicar nos prefixados praticamente inexistem caso o investidor carregue o título até o vencimento, dado que irá receber exatamente aquilo que foi pactu-ado na compra. Mas se este mesmo investidor optar por se desfazer do papel antes, ficará sujeito a aceitar o que o mercado estiver disposto a pagar, podendo amargar prejuízo.

Isso nos remete novamente à questão da marcação a mercado, já que os preços do Tesouro Prefixado e do Tesouro Prefixado com Juros Semestrais no mercado secundário oscilam de acordo com as expectativas em relação à Selic. Ou seja, quando a expectativa é de que os juros recuem, a tendência é que o preço dos títulos prefixados aumente - e vice-versa.

Há ainda o chamado prêmio de risco de inflação. Aos poucos familiarizados com o tema, rápida explicação: compare dois títulos. O primeiro é um papel prefixado, pagando uma taxa de juro nominal pura. O segundo é um título indexado à inflação - paga, por exemplo, a variação do IPCA mais uma taxa de juro. A princípio, para não haver arbitragem, a precificação do título prefixado deve ser tal que seu rendimento equivalha ao juro pago pelo título indexado mais uma expectativa de inflação.

Note que o comprador do título indexado não se preocupa com o nível inflacionário - se a inflação for supe-rior ao esperado, seu poder de compra será preservado, posto que seu rendimento é, justamente, uma taxa de juro mais a inflação (se a inflação aumenta, seu rendimento também aumenta). Já o comprador do título prefixado estaria preocupado com a inflação acima do projetado. Portanto, para comprar o título prefixado em vez do indexado, o investidor exigiria um prêmio de risco de inflação - para abrir mão dessa proteção a seu poder de compra, cobraria um retorno adicional. Na prática, portanto, o diferencial de juros entre os dois títulos embute a expectativa de inflação mais um prêmio.

Isso é particularmente importante no momento atual, porque você olha a curva pré pagando um juro bas-tante alto - por exemplo, Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 2025 pagando 16,13% ao ano e o Tesouro Prefixado 2018 oferecendo 16,403% - e pensa:“esse juro está muito alto para o padrão brasileiro.”

O comportamento negligencia o fato de que o juro formado pelo mercado embute o risco de inflação - não quer dizer que isso se trata estritamente da expectativa do mercado para o juro do período; há um prêmio de risco ali dentro, que flutua com o tempo. E o cenário sugere justamente aumento dos prêmios de risco, tanto daqueles relacionados à liquidez quanto daqueles ligados à inflação.

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Fechando a alocação com o Tesouro Selic

Chegamos à última edição da minissérie.

Na trajetória que culminou neste quinto relatório, comentamos sobre a conjuntura e o momento especial-mente convidativo aos títulos públicos, além de tratarmos de todos os procedimentos necessários para se investir no Tesouro Direto.

Falamos também sobre os benefícios do Tesouro IPCA+ em tempos de elevada inflação, além de explicarmos quando vale a pena entrar nos prefixados - leia-se Tesouro Prefixado e Tesouro Prefixado com Juros Semes-trais, aqueles cuja rentabilidade é definida no momento da compra.

Na edição de hoje, portanto, iremos focar na terceira e última categoria de títulos negociados no Tesouro Direto, a dos pós-fixados.

Se você buscar em http://www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto-entenda-cada-titulo-no-detalhe, irá notar que existe apenas um papel inserido na categoria: o Tesouro Selic, antiga Letra Financeira do Tesouro (LFT). Conforme o próprio nome diz, sua rentabilidade segue a variação da Selic, podendo ser acrescida, se houver, de ágio ou deságio.

Quando o preço está com ágio (leia-se acréscimo), o retorno do título fica menor do que o estipulado na emissão, o que significa que o investidor terá uma remuneração menor do que a Selic. De forma análoga, quando o preço está com deságio (leia-se desconto), o investidor irá receber uma taxa maior do que a Selic.

Por conta disso, os preços são expressos em termos de taxa, ou seja, quando o preço de um Tesouro Selic estiver, por exemplo, expresso em -0,02%, significa que o título está com ágio e remunerará o investidor com a variação da Selic menos 0,02% - isto varia de acordo com a demanda pelos títulos.

O Tesouro Selic conta com fluxo de pagamento simples, conforme a imagem abaixo:

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Disclosure

Elaborado por analistas independentes da Empiricus, este relatório é de uso exclusivo de seu destinatário, não pode ser repro-duzido ou distribuído, no todo ou em parte, a qualquer terceiro sem autorização expressa. O estudo é baseado em informações disponíveis ao público, consideradas confiáveis na data de publicação. Posto que as opiniões nascem de julgamentos e esti-mativas, estão sujeitas a mudanças.

Este relatório não representa oferta de negociação de valores mobiliários ou outros instrumentos financeiros. As análises, in-formações e estratégias de investimento têm como único propósito fomentar o debate entre os analistas da Empiricus e os destinatários. Os destinatários devem, portanto, desenvolver suas próprias análises e estratégias.

Informações adicionais sobre quaisquer sociedades, valores mobiliários ou outros instrumentos financeiros aqui abordados podem ser obtidas mediante solicitação.

Os analistas responsáveis pela elaboração deste relatório declaram, nos termos do artigo 17o da Instrução CVM no 483/10, que as recomendações do relatório de análise refletem única e exclusivamente as suas opiniões pessoais e foram elaboradas de forma independente.

* O analista Rodolfo Amstalden é o responsável principal pelo conteúdo do relatório e pelo cumprimento do disposto no Art. 16, parágrafo único da Instrução ICVM 483/10.

Tenha Tesouro Selic na carteira

O Tesouro Selic é considerado como uma Poupança Plus, pois diferente dos prefixados e do IPCA+, ele não tem variação relevante na taxa. Assim, quando falamos de reserva de caixa, ou quando se tem um projeto e não se pode tolerar perdas, é recomendado o investimento neste título.

Investidores acabam alocando na poupança quando possuem este tipo de problema, por achar que os títulos do Tesouro podem oferecer risco. Mas esta modalidade tem praticamente as mesmas características da pou-pança, com o benefício de render o dobro.

Assim, ela é a forma inteligente de rentabilizar o seu caixa.