13 - ROMANTISMO SEGUNDA GERAÇÃO

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UMA VIAGEM NO TEMPO Primeiras leituras O contato com a produção artística nos abre uma janela para o passado e permite conhecer um pouco pessoas que viveram em diferentes momentos. Os textos e as imagens desta seção foram selecionados para que você possa conversar com seus colegas a respeito do que eles revelam sobre o contexto em que foram produzidos. Quem eram seus autores? Como era o mundo em que viviam? Tinham interesses e preocupações semelhantes aos nossos? Essas são somente algumas das questões que podem inspirar a conversa de vocês. ...................................................................... O poeta Era uma noite — eu dormia E nos meus sonhos revia As ilusões que sonhei! E no meu lado senti... Meu Deus! por que não morri? Por que do sono acordei? No meu leito — adormecida, Palpitante e abatida, A amante de meu amor! Os cabelos recendendo Nas minhas faces correndo Como o luar numa flor! Senti-lhe o colo cheiroso Arquejando sequioso; E nos lábios, que entr’abria Lânguida respiração, Um sonho do coração Que suspirando morria! Não era um sonho mentido; Meu coração iludido O sentiu e não sonhou: E sentiu que se perdia Numa dor que não sabia... Nem ao menos a beijou! Soluçou o peito ardente, Sentiu que a alma demente Lhe desmaiava a tremer: Embriagou-se de enleio, No sono daquele seio Pensou que ele ia morrer! Que divino pensamento, Que vida num só momento Dentro do peito sentiu... Não sei... dorme no passado Meu pobre sonho doirado... Esperança que mentiu! Sabem as noites do céu E as luas brancas sem véu As lágrimas que eu chorei! Contem do vale as florinhas Esse amor das noites minhas! Elas sim... eu não direi! E se eu tremendo, senhora, Viesse pálido agora Lembrar-vos o sonho meu, Com a fronte descorada E com a voz sufocada Dizer-vos baixo — Sou eu! Sou eu! que não esqueci A noite que não dormi, Que não foi uma ilusão! Sou eu que sinto morrer A esperança de viver... Que o sinto no coração! — Riríeis das esperanças, Das minhas loucas lembranças, Que me desmaiam assim? Ou então, de noite, a medo Choraríeis em segredo Uma lágrima por mim? Recendendo: exalando perfume. Sequioso: desejoso. Lânguida: sensual. Enleio: arrebatamento, êxtase. AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. In: Obra completa. Organização de Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. p. 134-136. BIRMINGHAM MUSEUMS AND ART GALLERY, BIRMINGHAM COLEÇÃO PARTICULAR MILLAIS, J. Minha linda senhora. 1848. Lápis e tinta. CABANEL, A. Ofélia. 1883. Óleo sobre tela, 77 3 117,5 cm. ...................................................................... 52 Primeiras leituras Ver, no Guia de recursos, algumas su- gestões para o trabalho com os poemas apresentados nesta seção. Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. II_cap_03_literatura_PNLEM_D.indd 52 28/05/10 3:10:28 PM

Transcript of 13 - ROMANTISMO SEGUNDA GERAÇÃO

UMA VIAGEM NO TEMPO

Primeiras leituras

O contato com a produção artística

nos abre uma janela para o passado e permite conhecer um pouco pessoas que viveram em diferentes momentos. Os textos e as imagens desta seção foram selecionados para que você possa conversar com seus colegas a respeito do que eles revelam sobre o contexto em que foram produzidos. Quem eram seus autores? Como era o mundo em que viviam? Tinham interesses e preocupações semelhantes aos nossos? Essas são somente algumas das questões que podem inspirar a conversa de vocês.

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O poetaEra uma noite — eu dormiaE nos meus sonhos reviaAs ilusões que sonhei!E no meu lado senti...Meu Deus! por que não morri?Por que do sono acordei?

No meu leito — adormecida,Palpitante e abatida,A amante de meu amor!Os cabelos recendendoNas minhas faces correndoComo o luar numa flor!

Senti-lhe o colo cheirosoArquejando sequioso;E nos lábios, que entr’abriaLânguida respiração,Um sonho do coraçãoQue suspirando morria!

Não era um sonho mentido;Meu coração iludidoO sentiu e não sonhou:E sentiu que se perdiaNuma dor que não sabia...Nem ao menos a beijou!

Soluçou o peito ardente,Sentiu que a alma dementeLhe desmaiava a tremer:Embriagou-se de enleio,No sono daquele seioPensou que ele ia morrer!

Que divino pensamento,Que vida num só momentoDentro do peito sentiu...Não sei... dorme no passadoMeu pobre sonho doirado...Esperança que mentiu!

Sabem as noites do céuE as luas brancas sem véuAs lágrimas que eu chorei!Contem do vale as florinhasEsse amor das noites minhas!Elas sim... eu não direi!

E se eu tremendo, senhora,Viesse pálido agoraLembrar-vos o sonho meu,Com a fronte descoradaE com a voz sufocadaDizer-vos baixo — Sou eu!

Sou eu! que não esqueciA noite que não dormi,Que não foi uma ilusão!Sou eu que sinto morrerA esperança de viver...Que o sinto no coração! —

Riríeis das esperanças,Das minhas loucas lembranças,Que me desmaiam assim?Ou então, de noite, a medoChoraríeis em segredoUma lágrima por mim?

Recendendo: exalando perfume.Sequioso: desejoso.Lânguida: sensual.Enleio: arrebatamento, êxtase.

AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. In: Obra completa. Organização de Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.

p. 134-136.

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MILLAIS, J. Minha linda senhora. 1848. Lápis e tinta.

CABANEL, A. Ofélia. 1883. Óleo sobre tela, 77 3 117,5 cm.

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52 Primeiras leituras

Ver, no Guia de recursos, algumas su-gestões para o trabalho com os poemas apresentados nesta seção.

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Adeus, meus sonhos!Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!Não levo da existência uma saudade!E tanta vida que meu peito enchiaMorreu na minha triste mocidade!

Misérrimo! votei meus pobres diasÀ sina doida de um amor sem fruto,E minh’alma na treva agora dormeComo um olhar que a morte envolve em luto.

Que me resta, meu Deus? morra comigoA estrela de meus cândidos amores,Já que não levo no meu peito mortoUm punhado sequer de murchas flores!

AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. In: Obra completa. Organização de Alexei Bueno.

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. p. 288.

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Canto de amorIII

P’ra ti, formosa, o meu sonhar de loucoE o dom fatal, que desde o berço é meu;Mas se os cantos da lira achares pouco,Pede-me a vida, porque tudo é teu.

Se queres culto — como um crente adoro,Se preito queres — eu te caio aos pés,Se rires — rio, se chorares — choro,E bebo o pranto que banhar-te a tez.

Dá-me em teus lábios um sorrir fagueiro,E desses olhos um volver, um só,E verás que meu estro, hoje rasteiro,Cantando amores s’erguerá do pó!

Vem reclinar-te, como a flor pendida,Sobre este peito cuja voz calei:Pede-me um beijo... e tu terás, querida,Toda a paixão que para ti guardei.

Do morto peito vem turbar a calma,Virgem, terás o que ninguém te dá;Em delírios d’amor dou-te a minha alma,Na terra, a vida, a eternidade — lá!

ABREU, Casimiro de. As primaveras. Organização e prefácio de Vagner Camilo.

São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 104.

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SonetoPálida, à luz da lâmpada sombria,Sobre o leito de flores reclinada,Como a lua por noite embalsamada,Entre as nuvens de amor ela dormia!

Era a virgem do mar! na escuma friaPela maré das águas embalada!Era um anjo entre nuvens d’alvoradaQue em sonhos se banhava e se esquecia!

Era mais bela! o seio palpitando...Negros olhos as pálpebras abrindo...Formas nuas no leito resvalando...

Não te rias de mim, meu anjo lindo!Por ti — as noites eu velei chorando,Por ti — nos sonhos morrerei sorrindo!

AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. In: Obra completa. Organização de Alexei Bueno.

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. p. 153-154.

Escuma: espuma. Velei: fiquei acordado, em vigília.

Misérrimo: insignificante. Votei: dediquei.Cândidos: inocentes, puros.

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Preito: manifestação de adoração. Tez: pele.Estro: inspiração, gênio criador.Turbar: perturbar.

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FRITH, W. Os amantes. s.d. Óleo sobre tela, 23 3 21 cm.

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3Capítulo

Segunda geração:idealização, paixão e morte

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DoRé, G. Andrômeda. 1869. Óleo sobre tela, 256,5 3 172,7 cm. o arrebatamento, a explosão do sentimento e o desespero desta Andrômeda acorrentada são marcas da segunda fase do Romantismo.

ObjETIVOs

O que você deverá saber ao final deste estudo.

1. Quais são as características da segunda geração romântica.• Dequemodoatemática

doamoredamortedefineoprojetoliteráriodessageração.

2. Como o Ultrarromantismo se manifesta na literatura brasileira.• Dequeformaaobra

deCasimirodeAbreutraduzosprincípiosultrarromânticosemversossingelos.

• ComoÁlvaresdeAzevedorevela,emsuaobra,duasfacesdatemáticaamorosa.

54 Capítulo 3

Informar aos alunos que, na mitologia grega, Andrômeda era filha de Cassiopeia e Cefeu. Cassiopeia provocou a ira de Poseidon ao comparar a própria beleza à das ninfas marinhas. Como punição, o deus dos mares enviou um monstro para devastar o litoral da Etiópia, reino governado por Cefeu. O oráculo consultado pelo rei aconselhou-o a oferecer sua filha, Andrômeda, em sacrifício, para ser devorada pelo monstro. Ela foi, então, amarrada a um rochedo para esperar a aproximação do monstro. O herói Perseu matou o monstro e salvou Andrômeda, com quem se casou.

O trabalho realizado ao longo deste capítulo favorece o desenvolvimento da competência de área 5 e das habilida-des H15, H16 e H17. Para identificá-las, consultar, no Guia de recursos, a matriz do Enem 2009.

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Amor e morte, medo e solidão, culto a uma natureza sombria, idealização absoluta da realidade: os ultrarromânticos levaram

a extremos a expressão de sentimentos contraditórios, vividos pela maioria deles de modo atormentado. A literatura que produziram exprime esse modo de sentir e, algumas vezes, manifesta um olhar juvenil para os temas da época. É essa literatura que você conhecerá neste capítulo.

4. Leia este poema de Álvares de Azevedo e veja como a literatura ultrarro-mântica representa a mulher.

1. Observe os elementos que compõem a imagem e a situação em que se encontra a personagem. Descreva, brevemente, a cena retratada por Gustave Doré.>Essacenapodeserdescritacomodramática.Expliqueporquê.

2. Nas obras românticas, a associação entre o belo e o feio sugere a apro-ximação de forças opostas e complementares. De que modo o quadro de Gustave Doré representa essa concepção de beleza?>Uma outra temática, característica da segunda geração românti-

ca,éaoposiçãoentrebelezaefeiuraassociadaàoposiçãoentreobemeomal.Aimagemtambémpromoveessesegundoconfronto?Explique.

3. O fato de Andrômeda ser retratada nua contribui para provocar a im-pressão de fragilidade da mulher diante do monstro que está prestes a atacá-la. Por quê? >Emboraasituaçãoretratadasejadramática,aobraapresentatraços

sensuais.ExpliquecomoasensualidadeésugeridaporDoré.

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Sonhando

O francês Gustave Doré(1832-1883)foipintor,escultoreilustrador.Ganhourenome,naFrançaromântica,porsuaextraordinária habilidadeparacapturar,emilustraçõescarregadas de drama, asprincipaiscaracterísticasdeumaobra literária.Atéhoje,as ilustraçõesmais conheci-dasde livroscomoA divina comédiaeDom Quixotesãodesuaautoria.

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Leitura da imagem

Da imagem para o texto

Na praia deserta que a lua branqueia,Que mimo! que rosa! que filha de Deus!Tão pálida — ao vê-la meu ser devaneia,Sufoco nos lábios os hálitos meus! Não corras na areia, Não corras assim! Donzela, onde vais? Tem pena de mim!

A praia é tão longa! e a onda braviaAs roupas de gaza te molha de escuma;De noite — aos serenos — a areia é tão fria,Tão úmido o vento que os ares perfuma! És tão doentia! Não corras assim! Donzela, onde vais? Tem pena de mim!

Gaza: gaze; fazenda fina e transparente.

Retrato de Gustave Doré. c. 1860-1870.

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segunda geração: idealização, paixão e morte 55

Sugerimos que todas as questões sejam respondidas oralmente para que os alunos possam trocar impressões e ideias.

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A brisa teus negros cabelos soltou,O orvalho da face te esfria o suor;Teus seios palpitam — a brisa os roçou,Beijou-os, suspira, desmaia de amor!

Teu pé tropeçou... Não corras assim! Donzela, onde vais? Tem pena de mim!

[...]

Deitou-se na areia que a vaga molhou,Imóvel e branca na praia dormia;Mas nem os seus olhos o sono fechouE nem o seu colo de neve tremia. O seio gelou?... Não durmas assim! Ó pálida fria, Tem pena de mim!

[...]

Aqui no meu peito vem antes sonharNos longos suspiros do meu coração:Eu quero em meus lábios teu seio aquentar,Teu colo, essas faces, e a gélida mão... Não durmas no mar! Não durmas assim. Estátua sem vida, Tem pena de mim!

[...]

E a imagem da virgem nas águas do marBrilhava tão branca no límpido véu!Nem mais transparente luzia o luarNo ambiente sem nuvens da noite do céu! Nas águas do mar Não durmas assim! Não morras, donzela, Espera por mim!

AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. In: Obra completa. Organização de Alexei Bueno. Rio de Janeiro:

Nova Aguilar, 2000. p. 123-124. (Fragmento).

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a)Álvares de Azevedoexplora a apresentaçãosucessiva de imagens,criandoumefeitoquasecinematográficonotexto.Quaisasdiferentesimagensassociadasàdonzela?

b)Qualéocenárioapresentadonotexto?

5. As estrofes podem ser divididas em duas partes: uma narrativa e outra em que o eu lírico estabelece uma interlocução com a donzela. Como essas duas partes contribuem para a construção do poema?

6. Observe os vocativos utilizados pelo eu lírico em seus apelos à donzela.

a)Oqueessesvocativossugerem?b)Nopoema,quaisoutrostermosconfirmamessaconclusão?

7. Apesar de frágil e doentia, a mulher também se mostra sensual. Como a sensualidade se manifesta no texto?

“Ó pálida fria, Tem pena de mim!”

“Estátua sem vida,Tem pena de mim!”

ManuelAntônioÁlvares de Azevedo(1831-1852)foiomaisdestacadoautorultrarromân-ticobrasileiro.Entreos16eos21anos,produziutodaasuaobraliterária,masnãopubli-counenhumdeseuslivrosemvida.Quandomorreu,estavaterminando a preparaçãodaLira dos vinte anos, livropublicado postumamenteem1853.AelesesomamPoe-sias diversas, O poema do frade, O Conde Lopo (poemanarrativo),Poemas malditos, Macário(teatro),Noite na ta-verna(conjuntodenarrativasfantásticas)eoLivro de Fra Gondicário (diário),alémdediscursosecartas.

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Aquentar: aquecer.

Fotografia de Álvares de Azevedo. s.d.

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56 Capítulo 3

Caso os alunos discutam se a donzela está mesmo morta, retome o poema e mostre que, a partir da quarta estrofe, a donzela não tem mais qualquer reação (“Mas nem os seus olhos o sono fechou / E nem o seu colo de neve tremia.”). O eu lírico, porém, reluta em aceitar o fato de que ela já morreu.

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8. O quadro de Gustave Doré ilustra uma visão romântica da beleza que se origina do confronto entre os opostos. O poema de Álvares de Azevedo também introduz uma noção de beleza pouco comum. Qual é ela?>Dequemodoessanoçãodebelezapodeserrelacionadaàquelare-

presentadanoquadrodeGustaveDoré?

byron (1788-1824) foi omaisfamosodospoetasro-mânticosingleses.EntresuasobrasmaisconhecidasestáDon Juan,emqueapresen-ta um retrato satírico dasociedade inglesadaépoca.Defensorardorosoda liber-dade,ByronviveudeacordocomseusprincípiosemorreulutandopelaindependênciadaGrécia.

Aclamado pelos gregoscomoheróinacional,teveseucoraçãoenterradonacidadedeMissolonghi.OseucorpoembalsamadofoienviadoàInglaterra.

O projeto literário dos ultrarromânticos

A idealização absoluta e o interesse por duas ideias essencialmente românticas — amor e morte — definem o projeto literário da segunda geração.

Essa geração de poetas atormentados, que frequentemente morriam ainda jovens, foi marcada pela expressão exacerbada de um subjetivismo pessimista, pelo desejo de evasão da realidade, pela atração pelo mistério e ainda pela consciência da inadap-tação do artista à sociedade em que vive. A solidão, o culto a uma natureza mórbida e soturna e, acima de tudo, a idealização da mulher virginal e etérea são as formas poéticas encontradas para traduzir em imagens os sentimentos arrebatados que vivenciam.

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A segunda geração romântica: uma poesia arrebatada

A segunda geração romântica é marcada por uma postura de exagero sen-timental que a torna inconfundível. Inspirados por escritores ingleses como Byron e Shelley, os representantes dessa geração liam uma poesia que exaltava os sentimentos arrebatados ao mesmo tempo que apresentava o poeta isolado da sociedade, incompreendido por defender valores morais e éticos contrários aos interesses econômicos da burguesia.

Filhos do século XIX, esses jovens se mostram mais voltados para o próprio coração do que para os grandes temas que definiram a poesia da primeira geração (a divulgação dos símbolos da identidade nacional e a criação de um conceito de pátria).

Por esse motivo, incorporam a imagem de um herói romântico que defende valores incorruptíveis como a honestidade, o amor e o direito à liberdade. Em nome desses valores estão dispostos a sacrificar a própria vida.

Aposturaexagerada,associadaaoarrebatamentosentimental,característicadosautoresdasegundageraçãoromântica,fezcomqueficassemconhecidoscomoultrarromânticos.

Tome nota

1818

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Byron escreve Don Juan.

1839 Chopin publica

os Prelúdios, que exemplificam a tendência ultrarromântica na música.

1840

1845 Conflito entre Inglaterra

e Brasil sobre o tráfico de escravos.

1845 Edgar Allan Poe publica o

poema “O corvo”.

1850 Inauguração da linha de

vapores do Rio de Janeiro para a Europa.

1855

Publicação de Noite na taverna, de Álvares de Azevedo.

DoRé, G. Paolo e Francesca de Rimini. s.d. Óleo sobre tela, 280 3 195 cm.

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D. Pedro II assume o trono, aos 14 anos.

RUGENDAS, J. Retrato de D. Pedro II. 1846. Óleo sobre tela, 100 3 79 cm.

segunda geração: idealização, paixão e morte 57

O contexto histórico foi apresentado no Capítulo 1 e o contexto brasileiro, no Capítulo 2. Sugerimos retomar com os alunos as informações ali contidas e, se necessário, remetê-los à releitura daqueles capítulos.

O poema “O corvo”, considerado uma obra-prima de Edgar Allan Poe, opõe o busto de Palas Atena, símbolo da sabedoria, à ave símbolo do mau agouro. Por meio dessa oposição, ele recria o embate entre o lado racional e o irracional dos seres humanos. Em torno desse poema criou-se uma espécie de reverência literária sempre associada ao macabro, ao sombrio, ao mórbido.

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Declamadores e repentistasApráticadedeclamarversosnasreuniõesdaelitefezcomquesurgissemdois

tiposdepoetas:osdeclamadoreseosrepentistas.Osdeclamadoresapresentavamversosdesuaautoria,previamentecompostos,

oudeclamavamquadrinhaspopulares.Osrepentistasanimavamafesta,porqueaceitavamodesafiodeummotepropostopelopúblico,apartirdoqualcompu-nhamosseusversos.PoetascomoMunizBarretoeLaurindoRebeloseconsagrarampelacapacidadedeimprovisaçãodemonstradanossalõesdaburguesia.

Uma outra faceta do projeto literário ultrarromântico será exemplificada por Casimiro de Abreu. Em oposição à expressão pessimista do sentimento amoro-so, típica, por exemplo, de Álvares de Azevedo, que fala da solidão e da morte, Casimiro de Abreu fala de sonhos de amor e suspiros de saudade, associados a belas imagens de chácaras e jardins por onde passeiam moças virgens e puras.

o tratamento dado ao amor, porém, é o mesmo nos dois autores. Ambos apresentam o sentimento amoroso idealizado de tal forma que não encontra espaço no mundo real, por isso é sempre projetado em sonhos e marcado por suspiros e lamentos.

Os agentes do discursoNo Brasil do Segundo Império, os poetas eram em sua maioria jovens estu-

dantes que, longe da casa paterna, viviam em repúblicas. Muitos deles rumavam para São Paulo, onde iam cursar a faculdade de Direito no Largo de São Francisco. Havia muito pouco o que fazer na cidade, como conta Álvares de Azevedo em carta para sua mãe.

Descida do Brás, São Paulo, 1863, fotografada por Militão Augusto de Azevedo. Na segunda metade do século XIX, São Paulo não oferecia a efervescência da capital carioca, tão apreciada pela juventude.

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Nunca vi lugar tão insípido, como hoje está S. Paulo. Nunca vi coisa mais tediosa e mais inspiradora de spleen. [...]

Não há passeios que entretenham, nem bailes, nem sociedades, parece isto uma cidade de mortos e o silêncio das ruas só é quebrado pelo ruído das bestas sapateando no ladrilho das ruas.

Esse silêncio convida mais ao sono que ao estudo, enlanguesce, e entor-pece a imaginação e pode-se dizer que a vida aqui é um sono perpétuo.

AZEVEDO, Álvares de. Correspondência. In: Obra completa. Organização de Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. p. 811. (Fragmento).

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Longe da vida no Rio de Janeiro, então capital federal, onde os acalorados debates políticos estimulavam a participação de escri-tores e traziam a questão da nacionalidade para primeiro plano, o dia a dia dos estudantes em São Paulo era pouco inspirador.

o isolamento cultural em que se viam definia uma condição de produção marcada por uma característica mais cosmopolita. Em lugar de se ocuparem com os problemas nacionais, poetas como Álvares de Azevedo dedicavam suas horas à leitura dos mestres românticos europeus. Isso fazia com que produzissem uma poesia mais introspectiva, de caráter menos nacional.

A circulação dos textos também era influenciada pelo contexto em que viviam. Como havia poucas oportunidades de interação social, os salões tornavam-se o espaço mais frequente para a divul-gação da produção poética do período. Nessas reuniões da elite, ao chegar, um poeta era imediatamente convidado a declamar alguns versos. Essa prática associava poesia a uma forma de divertimento popular, o que contribuía para a sua divulgação.

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Spleen: tédio.Enlanguesce: entristece.

Projeto literário do Romantismo: segunda geração

Expressão de sentimentos arrebatados por meio de

imagens como a solidão e a natureza sombria

Amor totalmente idealizado

58 Capítulo 3

É importante lembrar, quando se estiver tratando da questão da circulação dos textos produzidos por autores da segunda geração, que alguns deles morreram tão cedo que não chegaram a ver sua obra pu-blicada. É o caso, por exemplo, de Álvares de Azevedo. A divulgação dos poemas que escreveu aconteceu após a sua morte, em 1852. A sua primeira obra, Lira dos vinte anos, foi publicada em 1853.

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A poesia da segunda geração e o público• o convívio estreito no espaço acadêmico estimulava a troca de textos e fazia

com que os autores fossem leitores uns dos outros, realimentando o interesse por temas associados à expressão de sentimentos individuais, à solidão e às visões idealizadas da infância e do amor.

Nas pequenas sociedades estudantis que se formavam, a vida boêmia fa-cilitava a aceitação, sem juízo moral, dos textos de seus membros. A leitura e a discussão dessa produção literária fornecia aos poetas um público de perfil intelectualmente respeitável, diferente daquele para o qual recitavam nos salões burgueses. Eram todos leitores dos versos arrebatados de Byron, Shelley e Alfred de Musset. Reconheciam, portanto, o interesse que os temas associados ao amor e à morte tinham para seus companheiros.

Locus horrendus: a natureza tempestuosa

o cenário preferido pelos poetas ultrarromânticos é tem-pestuoso, soturno. As forças incontroláveis da natureza — raios, chuva, ventos — simbolizam, de certo modo, os sentimentos violentos que precisam ganhar expressão literária. Essa natureza compõe uma espécie de lugar horrendo (locus horrendus), que acolhe o poeta por refletir simbolicamente seu sofrimento individual.

Somente no contexto do sonho a natureza será apresenta-da em tons mais positivos, assumindo uma feição paradisíaca. Espaço das fantasias, ela funcionará como contraponto aos cenários mais frequentes em que a escuridão, os lugares ermos, os cemitérios e as praias abandonadas servem de refúgio para os sofredores desesperados.

A sedução da morteA ideia de morrer, para o ultrarromântico, tem sentido positivo, porque garante

o término da agonia de viver. é no contexto das desilusões e da maneira pessimista de encarar a própria existência que a morte surge como solução.

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AIvAzovSky, I. O naufrágio. 1871. Óleo sobre tela, 110 3 129,5 cm. Tempestades são um dos temas preferidos dos pintores românticos.

FREIRE, Junqueira. In: BANDEIRA, Manuel (Org.). Antologia dos poetas brasileiros: fase romântica. Rio de Janeiro:

Nova Fronteira, 1996. p. 218-219. (Fragmento).

......................................................................

Pensamento gentil de paz eterna,Amiga morte, vem. Tu és o termoDe dous fantasmas que a existência formam,— Dessa alma vã e desse corpo enfermo.

Pensamento gentil de paz eterna,Amiga morte, vem. Tu és o nada,Tu és a ausência das moções da vida,Do prazer que nos custa a dor passada.

......................................................................

Morte(Hora de delírio)

Moções: movimentos.

Pensamento gentil de paz eterna,Amiga morte, vem. Tu és apenasA visão mais real das que nos cercam,Que nos extingues as visões terrenas. [...]

Amei-te sempre: — e pertencer-te queroPara sempre também, amiga morte.Quero o chão, quero a terra, — esse elementoQue não sente dos vaivéns da sorte. [...]

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O “mal do século”Ofascíniopelamorte,pela

escuridão, pela doença fezcom que muitos dos jovensescritores buscassem meiosartificiaisdefugirdarealida-deeconquistaromundodossonhos.Drogas,comooópioeohaxixe,ebebidasfortes,comooabsinto,eramalgunsdos“paraísosartificiais”aquerecorriam.Comoresultadodavidaboêmia,muitosromân-ticosmorreramcedo,quasesemprevítimasdatuberculose(também conhecida como“tísica”).Essecomportamentoautodestrutivo,associadoaotédioeàdepressão,passouaserconhecidocomo“maldoséculo”.

os versos de Junqueira Freire (1832-1855) revelam as razões românticas para o culto da morte. Ela é amiga, acaba com o corpo doente e com a alma inútil, dá paz a quem vive em agonia.

Promessa de descanso eterno, refúgio para as dores da vida, a morte aparece nos poemas ultrarromânticos diretamente ligada ao amor não correspondido, fonte de sofrimento insuportável. o binômio amor-morte é traduzido, muitas vezes, pela oposição entre o desejo de amar e o desejo de morrer.

é também a morte que faz cessar outra fonte de grande aflição para o ultrarro-mântico: os impulsos sexuais. Adeptos da total idealização amorosa, esses poetas não podem negar a força dos desejos, mas os associam a um sentimento de culpa e destruição. Por esse motivo, seus poemas apresentam a possibilidade da realiza-ção amorosa vinculada somente a contextos irreais, sejam eles a manifestação do sonho ou a promessa da vida eterna.

Trilha sonora

A releitura do amor ultrarromântico no rock gótico do Evanescence....................................................

Traga-me para a vida (Bring me to life)[...]Sem uma almaMeu espírito dorme em algum lugar frioaté que você o encontree o leve de volta pra casa

(acorde-me)Acorde-me por dentro(Eu não consigo acordar)Acorde-me por dentro(salve-me)Me chame e me salve da escuridão(acorde-me)Obrigue meu sangue a fluir(eu não consigo acordar)antes que eu me desfaça(salve-me)salve-me do nada em que eu me tornei[...]

LEE, Amy; MOODY, Ben; HODGES, David. “Bring me to life”. Intérprete: Evanescence. In: Fallen. Rio de Janeiro: Sony, 2003.

Letra disponível em: <http://letras.terra.com.br/evanescence>. Acesso em: 13 mar. 2005. (Fragmento).

....................................................

Asmúsicasdepressivasetrágicasdogru-poderockEvanescencerecriamaestéticaultrarromântica.Amaiorpartedas letrasdogrupoexploraodesespero,falandodeamor,doresofrimento,comoéocasodamúsica“Bringmetolife”.

Discutacomseuscolegas:qualéoestadodeespíritoemqueseencontraoeulíricodacanção?Acaracterizaçãodoeulíricopodeser interpretadacomoumareleituracon-temporâneadavisãoultrarromânticadeamor?Porquê?

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Capa do CD Evanescence: Fallen. Sony, 2003, Rio de Janeiro.

60 Capítulo 3

O objetivo da atividade é levar os alu-nos a perceber que grupos de música contemporânea com os quais se iden-tificam exploram, na verdade, temas e abordagens que já apareciam durante o Romantismo. A mesma visão extremada de amor é recriada pelo eu lírico feminino, que se define como alguém entorpecido, sem alma. A sua salvação estaria na vinda do amado para resgatá-la da escuridão em que se encontra e evitar que ela se desfaça no nada em que se transformou. O fato de o eu lírico ser feminino, porém, representa uma releitura contemporânea da visão do amor, porque, para os poetas ultrarromânticos, a mulher era um ser completamente passivo, que devia ser adorado e idolatrado. Eles não davam voz aos sentimentos femininos, como acontece na música do Evanescence.

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Amor e morte: as virgens pálidas• Consequência do deslumbramento com a ideia da

morte, a imagem de beleza feminina será modificada. Mulheres lânguidas, pálidas, etéreas substituem as virgens robustas de estéticas anteriores.

Assaltados pelo desejo físico, os ultrarromânticos compõem poemas em que a associação entre a perfeição feminina e os traços da morte parece condenar qualquer possibilidade de manifestação física do amor.

MILLAIS, J. Ofélia. 1851-1852. Óleo sobre tela, 76,2 3 101,6 cm.......................................................................

Pálida imagemNo delírio da ardente mocidadePor tua imagem pálida vivi!A flor de coração do amor dos anjos Orvalhei-a por ti!

O expirar de teu canto lamentosoSobre teus lábios que o palor cobria,Minhas noites de lágrimas ardentes E de sonhos enchia!

Foi por ti que eu pensei que a vida inteiraNão valia uma lágrima — sequer,Senão num beijo trêmulo de noite... Num olhar de mulher!

o eu lírico do poema suspira e chora por uma mulher de lábios pálidos. A solução encontrada para a desilusão amorosa vem expressa em uma estranha condição: se a vida é um lírio que é destruído (desflorado) pela paixão, então ele foge do amor (mantém-se virgem).

o ultrarromântico desenvolve o tema do amor sexualizado de modo ne-gativo, sempre associado à condenação de sua realização e como um fator de corrupção humana.

Por causa dessa postura, idealiza totalmente o relacionamento amoroso. Somente em sonhos os amantes podem se tocar. A frustração gerada pelo desejo não satisfeito dá ao poema uma tensão erótica bastante grande. Essa tensão será uma das características da poesia de Álvares de Azevedo.

A linguagem da poesia da segunda geração: imagens e ritmos

Embora a liberdade formal continue sendo um traço característico da produção poética da segunda geração, os autores do período fazem uso recor-rente de algumas palavras que os auxiliam a construir as imagens de saudade, solidão, morte e pessimismo.

os termos escolhidos aludem a uma existência mais depressiva, marcada em alguns casos pela irracionalidade: pálpebra demente, matéria impura, longo pesadelo, desespero pálido são apenas alguns exemplos das expressões que os autores selecionam para registrar um olhar mais pessimista para a vida.

Em outros momentos, a obsessão pela morte leva esses mesmos poetas a evocar imagens de anjos macilentos, leitos pavorosos, virgens frias, etc. Toda a série de substantivos e adjetivos que indicam palidez também será utilizada com frequência para caracterizar a beleza feminina etérea idolatrada pelos autores do período.

[...]

Se a vida é lírio que a paixão desflora,Meu lírio virginal eu conservei;Somente no passado tive sonhos E outrora nunca amei!

Foi por ti que na ardente mocidadePor uma imagem pálida vivi!E a flor do coração no amor dos anjos Orvalhei... só por ti.

AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. In: Obra completa. Organização de Alexei Bueno. Rio de Janeiro:

Nova Aguilar, 2000. p. 265-266. (Fragmento).

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Palor: palidez, brancura.

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Lembrança de morrerNeste poema, Álvares de Azevedo trata das questões que moveram a segunda geração: a morte, o amor e o sonho.

Quando em meu peito rebentar-se a fibra,Que o espírito enlaça à dor vivente,Não derramem por mim nem uma lágrima Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impuraA flor do vale que adormece ao vento:Não quero que uma nota de alegriaSe cale por meu triste passamento.

Eu deixo a vida como deixa o tédioDo deserto, o poento caminheiro— Como as horas de um longo pesadeloQue se desfaz ao dobre de um sineiro;

Como o desterro de minh’alma errante,Onde fogo insensato a consumia:Só levo uma saudade — é desses temposQue amorosa ilusão embelecia. [...]

Se uma lágrima as pálpebras me inunda,Se um suspiro nos seios treme ainda,É pela virgem que sonhei... que nuncaAos lábios me encostou a face linda!

AZEVEDO, Álvares de. In: BANDEIRA, Manuel (Org.). Antologia dos poetas brasileiros: fase romântica. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. p. 175-177.

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1. No poema transcrito, o eu lírico fala de sua morte. Que imagem ele utiliza para se referir à vida e a seu fim na primeira estrofe? >Que expressão dessa estrofe sugere que o eu

líricoconsideraavidaumlugardesofrimento?Expliqueporquê.

2. Nas duas primeiras estrofes, o eu lírico se dirige àque-les que o conhecem e faz um pedido. O que ele pede? a)Ajustificativaparaessepedidoaparecenater-

ceiraestrofe,emqueoeulíricocomparaamorteaduassituações.Quaissãoelas?

b)Considerando essas comparações, explique dequemaneiraoeulíricovêamorte.

c) Essavisãodamorteindicaafiliaçãodessepoemaàsegundageraçãoromântica.Expliqueporquê.

3. Releia. “Só levo uma saudade — é desses temposQue amorosa ilusão embelecia.”

a)Aqueserefereoeulíriconessesversos?b)Essesversosindicamapresençadeoutrogrande

tema da poesia da segunda geração: o amor.Explique,apartirdeelementosdotexto,qualéavisãodeamorpresentenopoema.

4. No poema, o eu lírico faz referência à mulher amada. Ela tem existência real ou não? Justifique. >Qualéaimagemdemulherpresentenopoema?

5. Nas últimas estrofes, o eu lírico pede para ser enter-rado com um epitáfio que pode ser entendido como um lema ultrarromântico. Explique por quê.>Nessasestrofes,oeulíricoestabeleceumarelação

deproximidadeeintegraçãoentresimesmoeanatureza.Qualéela?

6. Compare as informações apresentadas na linha do tempo deste capítulo com as da linha do tempo do Capítulo 2 e discuta as questões a seguir com seus colegas.a)Qualéadiferençaentreosacontecimentosapre-

sentadosnasduaslinhasdotempo?b)Dequemaneiraessadiferençadetermina,nase-

gundageraçãoromântica,aproduçãodeobrasli-teráriasmaisvoltadasparaquestõesindividuais?

Só tu à mocidade sonhadoraDo pálido poeta deste flores...Se viveu, foi por ti! e de esperançaDe na vida gozar de teus amores.

Beijarei a verdade santa e nua,Verei cristalizar-se o sonho amigo...Ó minha virgem dos errantes sonhos,Filha do céu, eu vou amar contigo!

Descansem o meu leito solitárioNa floresta dos homens esquecida,À sombra de uma cruz, e escrevam nela:— Foi poeta — sonhou — e amou na vida. —

Sombras do vale, noites da montanha,Que minha alma cantou e amava tanto,Protegei o meu corpo abandonado,E no silêncio derramai-lhe canto!

Mas quando preludia ave d’auroraE quando à meia-noite o céu repousa,Arvoredos do bosque, abri os ramos...Deixai a lua prantear-me a lousa!

Leia o texto a seguir.

Preludia: anunciava, prenunciava.Lousa: lápide de uma sepultura.

Texto para análise

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Casimiro de Abreu: versos doces e meigos

Casimiro de Abreu (1839-1860) foi o poeta mais lido e declamado da segunda geração romântica brasileira. Começou sua atividade literária em Lisboa, onde entrou em contato com poetas europeus. Embora trilhe um caminho individual diferente, acaba se interessando pelos mesmos temas que fascinavam os estu-dantes de Direito do Largo de São Francisco.

A musicalidade de seus versos, que acentuava a suavidade e facilitava a memorização dos poemas, o modo sensível com que tratou de temas como a saudade, a natureza e o desejo, sem a carga de pessimismo e culpa que aparece em outros autores da época, explicam sua popularidade, principalmente entre o público feminino.

Como aconteceu com vários escritores de sua geração, Casimiro de Abreu morreu cedo, aos 21 anos, vítima da tuberculose.

Leveza e suavidadeo olhar ingênuo para as questões de amor destaca-se em sua poesia e lhe dá identi-

dade. Suas figuras femininas, por exemplo, não vêm associadas a imagens de morte.Seus poemas falam de aspectos comuns da vida: a moça que vende as flores

colhidas no jardim é comparada aos pássaros que brincam entre as rosas. Alguns críticos identificam, nessa evocação sentimental de pequenos objetos e cenas, uma valorização dos elementos prosaicos e um uso da linguagem coloquial que só reaparecerá, muito tempo depois, nos versos modernistas de Manuel Bandeira.

Os belos dias da infância perdidao sentimento amoroso também aparece simbolizado pelo saudosismo de uma

infância inocente, ingênua e perfeita. Entre os nossos ultrarromânticos, Casimiro de Abreu é quem vai explorar o tema do saudosismo. Seus versos simples caíram no gosto popular e ele se tornou um dos mais conhecidos poetas de sua geração.

A infância como momento de felicidade suprema foi imortalizada nos co-nhecidos versos de Casimiro de Abreu.

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Casimiro de Abreu. c. 1859. Autor desconhecido.

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Meus oito anosOh! que saudades que tenhoDa aurora da minha vida,Da minha infância queridaQue os anos não trazem mais!Que amor, que sonhos, que flores,Naquelas tardes fagueirasÀ sombra das bananeiras,Debaixo dos laranjais!

Como são belos os diasDo despontar da existência!— Respira a alma inocênciaComo perfumes a flor;O mar é — lago sereno,O céu — um manto azulado,O mundo — um sonho dourado,A vida — um hino d’amor!

ABREU, Casimiro de. As primaveras. Organização e prefácio de Vagner Camilo. São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 38-39.

(Fragmento).

......................................................................

Fagueiras: amenas, suaves, agradáveis.Folgar: brincar.

Que auroras, que sol, que vida,Que noites de melodiaNaquela doce alegria,Naquele ingênuo folgar!O céu bordado d’estrelas,A terra de aromas cheia,As ondas beijando a areiaE a lua beijando o mar![...]

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Todas as imagens associadas à infância são positivas. A natureza é caracteri-zada por árvores de sombra acolhedora, o mar é como um lago sereno, e o céu é estrelado. Nesse cenário paradisíaco do passado, emerge o traço principal que torna a infância um momento tão saudoso para o ultrarromântico: era o tempo da inocência. Casimiro de Abreu fala explicitamente disso quando afirma que “respira a alma inocência” e menciona “o ingênuo folgar”.

A inocência da criança é perdida na idade adulta. o poema representa uma possibilidade de reviver, de forma idealizada, esse tempo perdido.

A idealização da pátriaAo lado do olhar mais positivo para a vida, Casimiro também idealizou a

pátria, cantando o tema das saudades dos exilados inaugurado por Gonçalves Dias. Um dos seus poemas mais conhecidos é um canto de louvor ao Brasil.

ABREU, Casimiro de. As primaveras. Organização e prefácio de Vagner Camilo. São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 19-23.

(Fragmento).

Todos cantam sua terra,Também vou cantar a minha,Nas débeis cordas da liraHei de fazê-la rainha;— Hei de dar-lhe a realezaNesse trono de belezaEm que a mão da naturezaEsmerou-se enquanto tinha.

[...]Tem tantas belezas, tantas,A minha terra natal,Que nem as sonha um poetaE nem as canta um mortal!

— É uma terra de amoresAlcatifada de floresOnde a brisa em seus rumoresMurmura: — não tem rival!

Lisboa – 1856.

......................................................................

Minha terraMinha terra tem palmeiras Onde canta o sabiá.

G. Dias

A pátria é a “rainha” a ser louvada. As joias da sua coroa são os elementos da natureza sem igual com que foi agraciada por Deus.

Álvares de Azevedo: ironia, amor e morte

Em todos os textos que escreveu, Álvares de Azevedo sempre explorou o tema dos desesperos passionais, tratados a partir de duas perspectivas: a séria e a irônica. é o próprio autor quem define, no prefácio à segunda parte da Lira dos vinte anos, as duas linhas da sua produção literária: “Nos mesmos lábios onde suspirava a monodia amorosa, vem a sátira que morde”. Monodia é a denomi-nação que se dá a um canto em uníssono. o sentido do termo é importante no contexto, porque revela que o poeta percebia sua lírica amorosa como textos que expressavam uma mesma visão idealizada do amor.

Apresentando-se como Ariel e Calibã, anjo e demônio, Álvares de Azevedo prepara o leitor para poemas que exploram as angústias amorosas ou as ridicu-larizam. Desse conflito, nasce sua identidade literária, que o torna único entre os ultrarromânticos, e que será definida pelo modo contrastante de tratar os

Ariel e CalibãArieleCalibãsãopersona-

gens da última peça escritaporShakespeare,A Tempesta-de.Espíritosqueservemaummesmosenhor,apresentamcomportamentos opostos.Arielécordatoe,aindaqueàsvezescontesteasordensre-cebidas, éobediente. Calibãéviolento,tempestuosomas,emboraeventualmenteobe-deça,nãoofazsemprotestar.ÁlvaresdeAzevedoserefereaocontrasteentreessasduasnaturezas no prefácio da Lira dos vinte anos:“Arazãoé simples. É que a unidadedeste livro funda-se numabinomia:—duasalmasquemoramnascavernasdeumcérebro pouco mais ou me-nosdepoetaescreveramestelivro,verdadeiramedalhadeduas faces”. Ele reconhece,assim, sua capacidade deapaixonar-seperdidamente,mas também de rir do pró-prioarrebatamento.

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RACkHAM, A. Representação de Ariel e Calibá. c. 1900.

Débeis: fracas, sem força.Esmerou-se: caprichou, realizou algo com cuidado e perfeição.Alcatifada: atapetada.

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64 Capítulo 3

Ver, no Guia de recursos, uma atividade suplementar a respeito de Casimiro de Abreu.

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temas da época, rompendo com o tom monocórdio e desafiando uma concepção homogênea e estática de literatura.

Álvares de Azevedo também se distingue por ser o primeiro a trazer a ironia para o centro da cena romântica.

Lira dos vinte anosobra dividida em três partes, a Lira dos vinte anos revela as diferentes faces

literárias de Álvares de Azevedo. A primeira e a terceira partes são marcadas pelo sentimentalismo e egocentrismo típicos dos ultrarromânticos.

São poemas que registram o fascínio pela ideia de morrer e a atração pelas virgens pálidas e frias. Neles, a possibilidade de concretização do amor fica con-finada ao mundo dos sonhos e da imaginação.

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Quando à noite no leito perfumadoQuando à noite no leito perfumadoLânguida fronte no sonhar reclinas,No vapor da ilusão por que te orvalhaPranto de amor as pálpebras divinas?

E, quando eu te contemplo adormecidaSolto o cabelo no suave leito,Por que um suspiro tépido ressonaE desmaia suavíssimo em teu peito?

Virgem do meu amor, o beijo a furtoQue pouso em tua face adormecidaNão te lembra no peito os meus amoresE a febre do sonhar de minha vida?

Dorme, ó anjo de amor! no teu silêncioO meu peito se afoga de ternuraE sinto que o porvir não vale um beijoE o céu um teu suspiro de ventura!

Um beijo divinal que acende as veias,Que de encantos os olhos ilumina,Colhido a medo como flor da noiteDo teu lábio na rosa purpurina,

E um volver de teus olhos transparentes,Um olhar dessa pálpebra sombria,Talvez pudessem reviver-me n’almaAs santas ilusões de que eu vivia!

AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. In: Obra completa. Organização de Alexei Bueno.

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. p. 133-134.

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Na segunda parte da Lira dos vinte anos, o humor, a ironia e o sarcasmo emergem com força.

Nesse contexto mais descontraído, o poeta cria cenas engraçadas que lembram ao leitor que a realidade nem sempre colabora com os jovens apaixonados.

Observe a “cena amorosa” criada no poema: o eu lírico descreve uma mulher que dorme. Ela é apresentada de acordo com os clichês ultrarromânticos (virginal, rosto lânguido, expressão sonha-dora, cabelos soltos).

A aproximação e o beijo rouba-do (terceira estrofe) acontecem com a donzela adormecida. Essa condição é o que permite a aproxi-mação sem risco de concretização do encontro amoroso. Enquanto ela dorme e sonha, ele nos fala sobre as suas fantasias, deixando claro que é governado pela “febre do sonhar”.

No apelo para que a virgem permaneça adormecida, o eu líri-co deixa entrever sua opção pela fantasia. Ela não evita, porém, a manifestação do desejo: ele afirma que o futuro vale menos que um beijo; o céu, menos que um suspiro de alegria da mulher amada.

Nas duas últimas estrofes, o eu lírico, ao mesmo tempo em que associa a manifestação física do amor ao medo (o beijo divinal é “colhido a medo”), afirma o desejo de ter revividas as ilusões que animavam sua vida.

a estante de

Álvares de AzevedoAlémdosclássicosromân-

ticosquefizeramadelíciadospoetas da segunda geração—Byron,MusseteHeine—,o jovemÁlvaresdeAzevedodevorava outros autores nasolidãodeSãoPaulo.Nospoe-masdaLira dos vinte anos,elerevela,pormeiodeepígrafes,as fontes de sua inspiraçãoliterária:GeorgeSand,VictorHugo, Shakespeare, Dante,ThéophileGautier,Lamartine,Alexandre Dumas, Goethe, AlfreddeVigny,Shelley,Cer-vantes,ChateaubriandeAn-drédeChénier,entreoutros.ApresençadepoetasinglesesefrancesesentreospreferidosdeÁlvaresdeAzevedotornamaisclaraainfluênciaeuro-peiaemsuapoesia.

segunda geração: idealização, paixão e morte 65

Explicar aos alunos, caso surja dúvida, que epígrafe é a frase colocada no início de um capítulo ou poema para resumir o sentido ou indicar a motiva-ção da obra.

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Podemos ver, na veia sarcástica e irônica de poemas como esse, um aviso de que o poeta das virgens lânguidas é capaz de tratar de assuntos mais mundanos e explícitos.

Noite na taverna: histórias de amor e morte

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Namoro a cavalo

AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos In: Obra completa. Organização de Alexei Bueno. Rio de Janeiro:

Nova Aguilar, 2000. p. 242-243. (Fragmento).

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[…]

Ontem tinha chovido... Que desgraça!Eu ia a trote inglês ardendo em chama,Mas lá vai senão quando uma carroçaMinhas roupas tafuis encheu de lama...

Eu não desanimei. Se Dom QuixoteNo Rocinante erguendo a larga espadaNunca voltou de medo, eu, mais valente,Fui mesmo sujo ver a namorada...

Mas eis que no passar pelo sobrado,Onde habita nas lojas minha bela,Por ver-me tão lodoso ela irritadaBateu-me sobre as ventas a janela...

O cavalo ignorante de namorosEntre dentes tomou a bofetada,Arrepia-se, pula, e dá-me um tomboCom pernas para o ar, sobre a calçada...

[...]

Ilustração de Di Cavalcanti para Noite na taverna, de Álvares de Azevedo, edição de 1941.

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Tafuis: festivas, elegantes, exageradas.

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DoRé, G. Dom Quixote e Sancho Pança. 1863. Gravura. Dom Quixote, o intrépido cavaleiro que brandia sua espada contra terríveis monstros que não passavam de moinhos de vento, é mencionado neste poema por Álvares de Azevedo para compor a triste figura do apaixonado que não mede esforços para encontrar sua amada.

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— Silêncio, moços! acabai com essas cantilenas horríveis! Não vedes que as mulheres dormem ébrias, macilentas como defuntos? Não sentis que o sono da embriaguez pesa negro naquelas pálpebras onde a beleza sigilou os olhares da volúpia?

AZEVEDO, Álvares de. Noite na taverna. In: Obra completa.Organização de Alexei Bueno. Rio de Janeiro:

Nova Aguilar, 2000. p. 565. (Fragmento).

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A cena de abertura das narrativas de Noite na taverna não poderia ser mais explícita: em um cenário em que mulheres bêbadas dormem sobre as mesas, um grupo de rapazes dá início ao relato de suas aventuras amorosas. São eles Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann e Johann. Cada uma dessas personagens irá assumir a voz narrativa para contar aventuras que envolvem o lado destrutivo, para os ultrarromânticos, do sentimento amo-roso: o desejo carnal.

As histórias contadas não deixam dúvida sobre a lição final: o amor verdadeiro só é possível após a morte.

Macário, a única peça de teatro escrita por Álvares de Azevedo, apresenta um cenário muito semelhante ao de Noite na taverna. é em uma taverna, à noite, que tem início o diálogo entre o estudante Macário e um estranho, que mais tarde se apresenta como Satã. Essa obra, que mostra o interesse do autor por temas satânicos, será estudada quando for apresentado o teatro romântico.

o conjunto da obra de Álvares de Azevedo é povoado por imagens de culpa associadas à erotização do relacionamento amoroso, que simbolizam a obsessão desse autor com o lado macabro da vida e do amor.

Sigilou: selou.

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Fagundes Varela: uma poesia de transição

Luís Nicolau Fagundes varela (1841-1875) costuma ser associado aos autores da segunda geração. Embora tenha aparecido tardiamente no mundo literário de São Paulo, escreveu textos ultrarromânticos. o conjunto da sua obra, porém, traz alguns poemas em que aparecem os primeiros sinais da preocupação com temas sociais. Essa característica antecipa o traço fundamental que definirá os autores da terceira geração romântica brasileira. Por esse motivo, é visto como um autor de transição.

Juiz de Direito, Fagundes varela teve sua vida marcada por uma tragédia pessoal: seu primeiro filho morreu com apenas três meses de vida. A dor provocada por essa perda levou-o à vida boêmia e ao alcoolismo. Em homenagem ao filho, compôs um de seus poemas mais conhecidos: “Cântico do calvário”. Leia a primeira estrofe.

......................................................................

Cântico do calvário À memória de meu filho morto a l l de dezembro de 1863.

Eras na vida a pomba predileta Que sobre um mar de angústias conduzia O ramo da esperança. — Eras a estrela Que entre as névoas do inverno cintilava Apontando o caminho ao pegureiro. Eras a messe de um dourado estio. Eras o idílio de um amor sublime. Eras a glória, — a inspiração, — a pátria, O porvir de teu pai! — Ah! no entanto, Pomba, — varou-te a flecha do destino! Astro, — engoliu-te o temporal do norte! Teto, — caíste! — Crença, já não vives! [...]

Apesar de abordar os temas mais caros aos ultrarromânticos — solidão, morte, inadaptação social —, Fagundes varela compôs alguns poemas em que a escra-vidão é apresentada como uma injustiça social e uma ofensa à humanidade.

VARELA, Fagundes. Poemas. Erechim: Edelbra. p. 212-213. (Fragmento).

......................................................................

Noite na tavernaBertram, uma das personagens sentadas na taverna sombria em que

se ambienta a novela ultrarromântica de Álvares de Azevedo, conta a “perdição” a que foi levado pelo amor de uma mulher.

O texto a seguir refere-se às questões de 1 a 3.

Um outro conviva se levantou. [...]Esvaziou o copo cheio de vinho, e com a barba nas

mãos alvas, com os olhos de verde-mar fixos, falou: — Sabeis, uma mulher levou-me à perdição. Foi ela

quem me queimou a fronte nas orgias, e desbotou-me

os lábios no ardor dos vinhos e na moleza de seus beijos, quem me fez devassar pálido as longas noites de insônia nas mesas de jogo, e na doidice dos abraços convulsos com que ela me apertava o seio! [...]

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Pegureiro: pastor.Messe: colheita.

Texto 1

Fagundes varela. c. 1871. Autor desconhecido.

Texto para análise

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AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. In: Obra completa. Organização de Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. p. 237-238.

É ela! é ela! — murmurei tremendo,E o eco ao longe murmurou — é ela!Eu a vi... minha fada aérea e pura — A minha lavadeira na janela!

Dessas águas-furtadas onde eu moroEu a vejo estendendo no telhadoOs vestidos de chita, as saias brancas;Eu a vejo e suspiro enamorado!

Esta noite eu ousei mais atrevidoNas telhas que estalavam nos meus passosIr espiar seu venturoso sono,Vê-la mais bela de Morfeu nos braços!

Como dormia! que profundo sono!...Tinha na mão o ferro do engomado...Como roncava maviosa e pura!...Quase caí na rua desmaiado!

Afastei a janela, entrei medroso...Palpitava-lhe o seio adormecido...Fui beijá-la... roubei do seio delaUm bilhete que estava ali metido...

É ela! É ela! É ela! É ela!

Neste poema, Álvares de Azevedo trata de modo irônico o amor ultrarromântico.

O texto a seguir refere-se às questões de 4 a 6.

Oh! de certo... (pensei) é doce páginaOnde a alma derramou gentis amores;São versos dela... que amanhã de certoEla me enviará cheios de flores...

Tremi de febre! Venturosa folha!Quem pousasse contigo neste seio!Como Otelo beijando a sua esposa,Eu beijei-a a tremer de devaneio...

É ela! é ela! — repeti tremendo;Mas cantou nesse instante uma coruja...Abri cioso a página secreta...Oh! meu Deus! era um rol de roupa suja!

Mas se Werther morreu por ver CarlotaDando pão com manteiga às criancinhasSe achou-a assim mais bela, — eu mais te adoroSonhando-te a lavar as camisinhas!

É ela! é ela! meu amor, minh’alma,A Laura, a Beatriz que o céu revela... É ela! é ela! — murmurei tremendo,E o eco ao longe suspirou — é ela!

1. O que o narrador descreve como a “perdição” a que foi levado por uma mulher?

2. Bertram atribui sua degradação moral a essa mulher. Quais expressões se referem a ela e aos sentimentos do narrador? >Queimagemdemulherésugeridaporessasexpressões?

3. A construção dessa imagem de mulher contribui para ilustrar a visão que os poetas da segunda geração têm do amor sexualizado. Qual é essa visão?>DequemaneiraorelatodeBertramdeixaimplícitaavisãodeamor

queserádefendidapelospoetasultrarromânticos?

......................................................................

.................................................

Foi uma vida insana a minha com aquela mulher! Era um viajar sem fim. [...]

Nossos dias eram lançados ao sono como pérolas ao amor; nossas noites sim eram belas!

.................................................

Um dia ela partiu; partiu, mas deixou-me os lábios ainda queimados dos seus e o coração cheio do germe dos vícios que ela aí lançara. Partiu; mas sua lembrança ficou como um fantasma de um mau anjo perto de meu leito.

[...]

AZEVEDO, Álvares de. Noite na taverna. In: Obra completa. Organização de Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,

2000. p. 571-573. (Fragmento).

......................................................................

Ilustração de Di Cavalcanti para a obra Noite na taverna, edição de 1941.

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Águas-furtadas: espécies de sótão.“De Morfeu nos braços”: dormindo. Mavioso: agradável aos ouvidos, melodioso. Cioso: com cuidado, zelo.

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4. Álvares de Azevedo tematiza, no poema, os sentimentos que tomam o eu lírico ao ver a mulher amada.

Transcreva no caderno algumas passagens que remetem ao sentimen-talismo característico da segunda geração romântica.

5. A situação descrita no poema remete a um tema recorrente na lírica amorosa: a visão da mulher amada adormecida.

Escreva no caderno as passagens que indicam a idealização da cena e da mulher amada. a)Que elementos não correspondem à idealização característica da

segundageração?b)Explique de que maneira esses elementos revelam uma postura

irônicaemrelaçãoaolirismoexacerbadodosultrarromânticos.

6. Qual é a referência literária usada pelo eu lírico para justificar, ironica-mente, o seu amor por uma mulher que não corresponde à imagem de musa ultrarromântica? Explique.

Neste capítulo, você viu que o Ultrarromantismo se caracterizou pela exacerbação dos sentimentos e pôde perceber que idealização, paixão e morte se mesclam em textos arrebatados e, não raro, som-brios. viu, ainda, na “Trilha sonora” apresentada no capítulo, que o rock gótico de alguns grupos da atualidade, como o Evanescence, faz uma releitura desses sentimentos ultrarromânticos.

Essa tendência se verifica, também, nas letras melancólicas e, por vezes, trágicas de algumas bandas brasileiras (NXzero, Fresno, Forfun, etc.) e outras estrangeiras (Simple Plan, My Chemical Romance, Good Charlotte, etc.), que unem, muitas vezes, a batida pesada de suas can-ções a letras que falam de amor e perda.

Para compreender melhor como os sentimentos ultrarromânticos e como o exagero que caracteriza a segunda geração influenciam, ainda hoje, alguns grupos musicais e seus fãs adolescentes, você deverá selecio-nar uma canção de uma banda que represente essa tendência musical, mostrando de que maneira a música selecionada se relaciona à segunda geração romântica.

Para cumprir essa tarefa, você deverá seguir os passos abaixo:

>selecionarumacançãodeumgrupomusicaldaatualidadequeapresenteelementos,nasua letra,quepossamserrelacionadosaogostoultrarromântico;

>apresentaracançãoparaosseuscolegas,explicando,oralmente,queelementosdaletra(e/oudamelodia)damúsicapermitemes-tabelecersuarelaçãocomostextoseostemasquecaracterizaramasegundageraçãoromântica.

jogo de ideiasjogo de ideias

segunda geração: idealização, paixão e morte 69

Ver, no Guia de recursos, orientações a respeito desta atividade.

Caso os alunos não saibam, explicar que Otelo é personagem de Shakespeare, da peça de mesmo nome, que mata a sua amada, Desdêmona, por ciúme.Werther é protagonista do romance Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe, que simboliza o exagero ultrarromântico ao se matar por não ter seu amor por Car-lota correspondido. Um trecho do romance é estudado no Capítulo 5, do volume 1. Laura é musa do poeta italiano Petrarca, cantada em seus versos. Beatriz é a musa imortalizada pelo poeta italiano Dante Alighieri, em A divina comédia.

Seria interessante explicar aos alunos que, em geral, o tipo de música aprecia-do pelos emos é denominado emocore por mesclar a batida hardcore com letras românticas que retratam as angústias e os sentimentos dos adolescentes.

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A tradição da segunda geração romântica: o fascínio da morte

Byron: a morte como libertação

No Ultrarromantismo, a morte exercerá um grande fascínio entre os poetas. Byron será o primeiro a cantar a morte como o caminho que livra o indivíduo da existência sem sentido, marcada pelo sofrimento. Em seus poemas, a morte é apresentada como um anseio do sujeito. No trecho abaixo, o eu lírico afirma que nascemos “para a dor”. A morte, portanto, é o momento do alívio.

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Eutanásia Quando o Tempo trouxer, ou cedo ou tarde,Esse sono sem sonhos para me embalar,Sobre o meu leito de agonia possa, Olvido!Tua asa langue levemente tremular.[...]

Sem ter por perto carpidores oficiosos,Deixai que a terra me recubra silencioso: Que eu não tire à amizade uma só lágrima,Que eu não estrague um só momento jubiloso.[...]

“Ah! morrer todavia e ir-se para sempre!”Aonde todos foram já ou devem ir! Ser o nada que eu era, anteriormenteA nascer para a vida e para a dor curtir!

As alegrias conta que tuas horas viram, Conta teus dias sem nenhum sofrer: E sabe, não importa o que hajas sido, É bem melhor não ser.

BYRON, George Gordon N. Poemas. Organização e tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos.

São Paulo: Hedra, 2008. p. 93-95.

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Escultura em gesso com 174 centímetros de Byron feita por Bertel Thorvaldsen e finalizada em 1834, no Trinity College, em Cambridge.

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Olvido: esquecimento; personificado no poema, porque é evocado pelo eu lírico.Langue: lânguida, sensual.Carpidores: pessoas que choram.Jubiloso: de intensa alegria.

Os versos do poeta inglês encontraram eco na voz de vários poetas brasileiros da segunda geração romântica, sobretudo de Álvares de Azevedo.

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segunda geração romântica: o fascínio da morte

O descanso de uma alma atormentadaA morte vista como o fim de uma vida sem alento também ganhou lugar na

poesia pré-modernista de Augusto dos Anjos. Nos versos do poeta, ela será a voz que dirá ao eu lírico que o momento do desejado descanso para uma existência atormentada enfim chegou.

......................................................................

A esperança[...]

Muita gente infeliz assim não pensa;No entanto o mundo é uma ilusão completa,E não é a Esperança por sentençaEste laço que ao mundo nos manieta?

[...]

E eu, que vivo atrelado ao desalento,Também espero o fim do meu tormento,Na voz da Morte a me bradar: descansa!

ANJOS, Augusto dos. Eu & outras poesias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982. p. 111.

(Fragmento).

......................................................................

Uma prece No poema do modernista Manuel Bandeira, o pedido para a chegada do fim

derradeiro vem em forma de prece. Para uma vida sem alegrias, o eu lírico roga que lhe seja dado o que sempre buscou: uma boa morte.

......................................................................

Oração a Nossa Senhora da Boa Morte[...]

Desenganei-me das outras santas(Pedi a muitas, rezei a tantas)Até que um dia me apresentaram A Santa Rita dos Impossíveis.

Fui despachado de mãos vazias! Dei a volta ao mundo, tentei a sorte.Nem alegrias mais peço agora,Que eu sei o avesso das alegrias.Tudo que viesse, viria tarde!

O que na vida procurei sempre,— Meus impossíveis de Santa Rita —Dar-me-eis um dia, não é verdade?Nossa Senhora da Boa Morte!

BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. p. 154-155.

(Fragmento).

......................................................................

Representação da Nossa Senhora da Boa Morte. Século XvIII. Madeira policromada.

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Manieta: amarra, ata.

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Conexões

http://www.ibiblio.org/wmO Webmuseum está no ar desde 1994 e oferece acesso a obras de arte por períodos históricos e estilos,

separando-os por país de origem. Há boas imagens de William Blake (1757-1827), artista notável do Romantismo inglês, que registrava em seus quadros e poemas o místico e a emoção. O site também apresenta obras de Caspar David Friedrich (1774-1840), romântico alemão. Em inglês.

http://www.musopen.com/music.php Site em inglês com grande acervo de músicas organizadas por compositor, intérprete, instrumento, período

e formas musicais. Há composições de Beethoven que exemplificam o gosto ultrarromântico por sentimentos melancólicos, como a Sonata patética (Sonata no 8 in C Minor “Pathétique”, Op. 13) e a Sonata ao luar (Sonata no 14 in C Sharp Minor “Moonlight”, Op. 27). Também a Polonaise (Polonaise in A Flat Major, Op. 53), de Chopin, ilustra bem o arrebatamento da segunda geração romântica. Além disso, Scenes from a Childhood (Scenes from a Childhood, Op. 15), de Robert Schumann, compostas como resgastes de momentos da infância, permitem uma interessante relação com o saudosismo de Casimiro de Abreu.

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp O site Domínio Público disponibiliza, para aqueles que o consultam, uma biblioteca virtual que permite o

acesso à obra de Álvares de Azevedo, o principal autor da segunda geração romântica brasileira. Lá estão Lira dos vinte anos, Macário, Noite na Taverna, Poemas malditos e Poemas irônicos, venenosos e sarcásticos.

Contos fantásticos do século XIX: o fantástico visionário e o fantástico cotidiano, de Italo Calvino (Org.). SãoPaulo:CompanhiadasLetras,2004.

Essa seleção de contos do século XIX, realizada pelo escritor Italo Calvino, reúne os mais importantes nomes da narrativa curta em tempos românticos. Nessa obra, estão os narradores e personagens que povoaram o imaginário literário de mistério, som-bras, paixões avassaladoras, reações intempestivas, ciúmes, vinganças e toda a sorte de pesadelos e desencantos amorosos. Hoffmann, Edgar Allan Poe, Christian Andersen, Stevenson, Henry James, Walter Scott estão entre os nomes indicados por Calvino e que tanto influenciaram a segunda geração romântica brasileira.

Retrato do amor quando jovem, de Décio Pignatari. SãoPaulo:CompanhiadasLetras,1990.

Organizado por Décio Pignatari, o livro apresenta um panorama do amor jovem ao longo de cinco séculos, através das obras de grandes nomes da literatura universal, como Dante, Shakespeare e Goethe.

O cavaleiro das trevas, de Frank Miller. SãoPaulo:Abril/DCComics,1986.

História em quadrinhos responsável pela reformulação da triste e vingativa figura de Batman, o homem- -morcego, habitante da sugestiva Gotham City, criado em 1939 por Bob Kane, Bill Finger e Jerry Robinson. Órfão desde muito cedo, na versão de Frank Miller, seguida por muitas outras de igual inclinação romântica, esse herói sombrio carrega em sua alma a certeza de que uma dor gerada pela perda de pessoas amadas jamais poderá ser superada. O ambiente soturno que caracteriza as produções da segunda geração romântica poderá ser reconhecido nas falas e desenhos dessa HQ.

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Para navegar

Para ler e pesquisar

72 Capítulo 3

Devido à natureza dinâmica da internet, com milhares de sites sendo criados ou desativados dia-riamente, é possível que alguns não estejam mais disponíveis. Alertar seus alunos sobre isso.

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Crepúsculo, de Catherine Hardwicke. EUA,2008.

Nessa versão moderna de uma história de amor impossível, vemos a idealização amorosa personificada no sentimento que une um casal adolescente. Edward Cullen, um rapaz bas-tante reservado, foi transformado em vampiro quando tinha 17 anos de idade. Misterioso e distante, esconde o seu segredo de todos os que frequentam o colégio em que estuda. Mas, quando a jovem Bella chega à escola, ele imediatamente se apaixona por ela e eles acabam se aproximando. A garota corresponde e, indo contra todos os receios dele, não se afasta quando descobre que seu amado é um vampiro. Ele, por outro lado, sabe que esse relacionamento pode colocar a vida de Bella e de todos que ama em grave risco.

Um amor para recordar, de Adam shankman. EUA,2002.

Nesse filme, uma comovente história de amor revela a relação tão cara aos ul-trarromânticos entre esse sentimento e a morte. Landon é um rapaz popular e rebelde que, depois de uma brincadeira de mau gosto que termina com um sério acidente com um jovem do colégio, é punido pela direção da escola. Seu castigo será participar de uma peça teatral. Nos ensaios, ele conhece Jamie, uma garota estudio-sa e tímida que jamais imaginou ter qualquer contato com Landon. A convivência entre eles faz despertar um sentimento poderoso que transforma o rapaz. Mas Ja-mie faz de tudo para não se render a esse amor. Landon não consegue compreendê- -la até que descobre que sua amada está com uma doença fatal. Então, ele fará de tudo para que esse amor “seja eterno enquanto durar”.

Doce novembro, de Pat O’Connor. EUA,2001.

Nesse filme, vemos a força transformadora do amor e a impossibilidade desse sentimento durar para sempre em razão de uma fatalidade. O atarefado executivo Nelson Moss vê sua vida se transformar radicalmente quando, ao renovar sua licença de motorista, conhece Sara Deever. A moça, disposta a viver cada momento de sua vida intensamente, não se conforma com o fato de Nelson só pensar em trabalho. Convence-o, então, a passar o mês de novembro com ela, sem qualquer compromisso sério, para que ele perceba como a vida tem muito mais a oferecer. O executivo, então, passa a ter seus dias preenchidos por romantismo e se apaixona perdidamente por Sara. Mas esse amor não pode durar para sempre, porque a sua amada tem uma doença terminal e, por isso, resolveu viver cada momento como se fosse o último.

Ao vivo: o tempo não para, de Cazuza. RiodeJaneiro:Universal,1999.

A música “Exagerado”, de Cazuza, evoca o romantismo exacerbado dos poetas da segunda geração. O ideal de amor eterno e o exagero sentimental estão presentes nessa canção, estabelecendo um interessante diálogo com a poesia que caracterizou o chamado “mal do século”.

Prelúdios (Opus 28), de Frédéric Chopin. Chopin é considerado, na música, aquele que melhor representa a geração ultrarromântica. Os 24 prelúdios do com-

positor são considerados o ponto mais alto do Romantismo e sua obra mais perfeita, em que se destaca a genialidade do músico ao conseguir expressar toda a sua individualidade através das notas dessa partitura.

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Para assistir

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Para ouvir

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segunda geração: idealização, paixão e morte 73

Seria aconselhável assistir aos filmes, antes de apresentá-los aos alunos, para avaliar se são compatíveis com o grau de maturidade da turma.

O filme apresenta cenas de sexo.

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