13904662 Garimpo de Amor Divaldo Pereira Franco

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Divaldo Pereira Franco nasceu no dia 5 de maio de 1927, em Feira de Santana, Bahia. E reconhecido como um dos maiores mdiuns e oradores espritas da atualidade. Sua produo psicogrfica superior a 150 obras (com tiragem de mais de 5 milhes de exemplares), das quais 70 j foram traduzidas para 15 idiomas. Ao longo de sua incansvel trajetria como divulgador da Doutrina Esprita, realizou mais de 10 mil conferncias em cidades brasileiras e estrangeiras, visitando cerca de 60 pases em quatro continentes. Por sua destacada ao como mdium, conferencista e orador, tem recebido homenagens e ttulos de vrias instituies nacionais e internacionais. Em 1952, juntamente com seu fiel amigo Nilson de Souza Pereira, fundou, no bairro de Pau da Lima, a Manso do Caminho, atravs da qual tem prestado inestimvel servio de assistncia social a milhares de pessoas carentes da cidade de Salvador. Todos os direitos de reproduo, cpia, comunicao ao pblico e explorao econmica desta obra esto reservados nica e exclusivamente para o Centro Esprita Caminho da Redeno (CECR). Proibida a reproduo parcial ou total da mesma, atravs de qualquer forma, meio ou processo: eletrnico, digital, fotocpia, microfilme, internet, cd-rom, sem a prvia e expressa autorizao da Editora, nos termos da lei 9.610/98 que regulamenta os direitos de autor e conexos. Divaldo Pereira Franco GARIMPO E hWM Joanna de Angelis Esprito se 3. ed. Do 145 ao 189 milheiro Copyright 2003 by Centro Esprita Caminho da Redeno Rua Jayme Vieira Lima, 104 - Pau da Lima 41235-000 Salvador-Bahia-Brasil Reviso: Dr. Paulo Ricardo Alves Pedrosa / Luciano de Castilho Urpia Editorao eletrnica: Nilsa Maria Pinto de Vasconcellos Editor de texto: Geraldo Campetti Sobrinho Capa: Thamara Fraga Impresso no Brasil Presita en Brazilo Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) ngelis, Joanna de (Esprito). Garimpo de amor/ pelo Esprito Joanna de ngelis; [psicografado por] Divaldo

Pereira Franco. - Salvador, BA: Livr. Esprita Alvorada, 2003. 1. Amor 2. Espiritismo 3. Pscografia I. Franco, Divaldo Pereira- II Ttulo. 03-0388 CDO-133.93 ndices para catlogo sistemtico: 1. Amor: Mensagens espritas: Espiritismo 133.93 LIVRARIA ESPRITA ALVORADA EDITORA CNPJ 15.176.233/0001-17-I.E. 01.917.200 Rua Jayme Vieira Lima n.s 104 - Pau da Lima - 41235-000 - Salvador-Bahia-Brasil Telefax: (71) 393-2855 e-mail: [email protected] 2003 Todo o produto desta edio destinado manuteno da Manso do Caminho, Obra Social do Centro Esprita Caminho da Redeno (Salvador-Bahia-Brasil.) Sumrio: Garimpo de amor 9 1 Amorematizes 15 2 Amor a si mesmo 21 3 Amor e casamento 27 4 Amore comportamento 33 5 Amor e compaixo 39 , 6 Amore resistncia 45 7 Amor e companheirismo 51 8 Amor e sade 57 9 Amor e desapego 63 10 Amoreinterao 69 11 Amor e vida 75 12 Amor e famlia 81 13 Amor e progresso 87 14 Amor e compreenso 93 15 Amor e mudanas 99 16 Amoreplenificao 105 17 Amorccura Hl 18 Amor e conflitos 117 19 Amor-prprio [23 20 Amor e ressentimento 129 21 Amoreespairecimento 135 22 Amor e espiritualidade 141 23 Amor e relacionamento 147 24 Amor e conciliao 153 Joanna de ngelis/Divaldo Franc,

o 25 Amorepaixo j^g 26 Amoreeducao ^5 27 Amoreprodutividade I7j 28 Amore serenidade jyy 29 Amorefelicidade j83 30 AmoreJesus jgo ndice de assuntos e de nomes 195 iu1. Narra antiga lenda persa que um homem residia em prspera herdade, na cidade de Golconda, com sua famlia, alguns camelos e outros animais, um pomar generoso e um rio de guas cantantes que lhe passava pelos fundos da propriedade. A existncia sorria-lhe bnos e nenhuma outra preocupao o afligia. Oportunamente passou pela sua vivenda um homem religioso, que viajava convidando as almas reflexo e f. Pediu-lhe hospedagem efoi recebido com carinho. Aps o jantar, na primeira noite da sua estada, o visitante indagou-lhe: - s feliz, homem? Observo que sorris e desfrutas de algumas regalias da vida. Gostaria de saber se possuis diamantes ou pedras outras preciosas, que so as bases da felicidade? O anfitrio, algo surpreendido, respondeu-lhe: -Em realidade, sinto-me muito feliz. Tenho uma famlia saudvel, que amo e pela qual sou amado, desfrutamos todos de sade e confiamos em Deus. Sou negociante prspero, 10 Joanna de Angel is/Divaldo Franco mas no ambicioso, dispondo do necessrio para prover o lar de tudo quanto se faz indispensvel. Mas no tenho jias, nem mesmo quaisquer outras pedras preciosas. Apesar disso, sim, sou feliz, - Lamento decepcionar-te - redarguiu o viajante. Se no possuis diamantes, talvez jamais os hajas visto, no sabes o que a felicidade, tampouco s realmente feliz. Passando a outros temas, logo depois, recolheram-se ao leito. O homem, que se sentia feliz, comeou a pensar na informao que recebera, e psse a ponderar a respeito do valor dos diamantes. Passou uma noite maldormida. No dia seguinte, o hspede foi-se adiante, e, ao despedir-se, insistiu, sugerindo: - Pensa nos diamantes, conforme te falei. A partir dali, o homem tranquilo passou a cobiar diamantes. Procurou conhecer alguns, e perdeu a paz.

Resolveu, por fim, vender a propriedade, deixou uma grande parte do dinheiro com um cunhado, a quem confiou a famlia, enquanto seguiu em longa viagem na busca de diamantes. Vadeou rios, atravessou florestas, visitou montanhas e vales, venceu desertos, buscando sempre diamantes, sem jamais os conseguir. Passaram-se os anos, ele envelheceu procurando diamantes, a enfermidade o vitimou e a morte arrebatou-o, sem que houvesse alcanado a felicidade atravs das pedras famosas. Sua famlia, que houvera perdido o contato com ele, dispersou-se e sofreu amargamente o abandono, a misria, a separao... Aquele que lhe houvera comprado a propriedade, vivia Garimpo de Amor 11 feliz e era generoso para com todos. Mais de um decnio transcorrido, o religioso viajante retornou propriedade e procurou informar-se a respeito do antigo generoso anfitrio. Foi informado de que j no residia ali, de que houvera vendido a casa e as terras, sem que se soubesse do destino que elegera. Convidado a pernoitar, na mesma residncia, aps o jantar, enquanto conversava com o senhor que. o hospedava, observou sobre a lareira algumas pedras que brilhavam ao crepitar das labaredas. Levantou-se, segurou algumas delas, aproximou-as da claridade, e perguntou, emocionado: - Onde encontraste estas gemas? - Entre os seixos e outras pedras no riacho - respondeulhe o anfitrio, desinteressado. - Os animais pisam-nas, enquanto sorvem a gua transparente, e porque me pareceram muito originais, trouxe algumas para decorara lareira. -Homem de Deus! exclamou o religioso, trmulo, quase a desvairar. - Estas pedras so diamantes. Amanh, muito cedo, leva-me ao crrego... ... Epassou uma noite inquieta, aflito. Pela alva, seguiu com o proprietrio na direo do regato, e quando l chegaram, o religioso, com olhar de lince, constatou que as guas transparentes deslizavam sobre um leito de diamantes brutos, negros, brancos, amarelos, desprestigiados entre calhaus sem valor. Desse modo, descobriu-se uma das maiores minas de diamantes do mundo, de onde saram pedras fabulosas, algumas denominadas como Prncipe Orlojf Ko-i-Noot; etc., que dormem em museus famosos do mundo ou brilham nas coroas de muitos reis. O homem, que era feliz sem conhecer diamantes, deixou-os no quintal da residncia para ir procur-los, inundo afora, sem nunca os encontrar... 12

Joanna de ngelis/Divaldo Franti O mesmo fenmeno ocorre com o amor. As vidas possuem o amor no seu imo, mas no o conhece/n. Necessitam de algum que as desperte para o significado profundo e o valor incomparvel desse tesouro. No entanto, muitos se referem ao amor como algo que est em tal ou qual lugar, apresenta-se nesta ou naquela situao, sob uma ou outra condio, indicando lugares onde raramente pode ser encontrado. O amor radica-se no imo de todos os seres pensantes, esperando somente ser identificado, para realizar o mister para o qual se destina. No exige sacrifcio nem qualquer imposio externa, pois que pulsa, mesmo quando ignorado, realizando o seu mister at o momento em que estua de beleza e harmonia, dominando as paisagens que o agasalham. La Fontaine escreveu que " nada tem poder sobre o amor; o amor tem-no sobre todas as coisas." O amor converte os sentimentos humanos e sublima-os, tornando-os santificados e libertadores. Gandhi afirmava que "por mais duro que algum seja, derreter no fogo do amor; se no derreter, porque o fogo no bastante forte." O amor espera pacientemente no leito do rio existencial humano at o momento em que seja descoberto, passando pelo perodo de desbaste da ganga externa, a fim de que a sua luminescncia esplenda em toda a sua glria estelar. No surge completo, acabado. Necessita ser trabalhado, aprimorado, bem orientado. Quanto mais aplicado, mais se aformoseia, e quanto mais repartido, mais se multiplica em poder, valor e significado. Garimpo de Amor 13 o grande desafio para a existncia humana, para a conquista do Esprito imortal. O amor um garimpo de diamantes estelares que deve ser explorado. Possui gemas de diferentes qualidades e valores muito diversos. De acordo com a coragem e a deciso de quem busca encontrar as suas riquezas insuperveis, sempre oferece novos matizes e configuraes especiais. Assim pensando, ocorreu-nos compor uma pequena obra na qual pudssemos apresentar o amor sob diferentes enfoques, relacionando-o com variadas situaes e em relao a alguns desafios existenciais. No se trata de um trabalho original, nem de profundidade, pois que no foram esses os objetivos a que nos propusemos. Buscamos expressar o nosso pensamento conforme as propostas de Jesus exaradas no Seu Evangelho, em aluai colocao psicolgica, com carter teraputico para o corpo,

para a emoo, para a mente, para o ser eterno que somos todos ns. Esperando haver alcanado a meta que desenhamos, exoramos as bnos de Deus para todos ns, guardando a certeza de que os amveis leitores que viajarem conosco atravs das pginas que lhes trazemos, conclu-las-o certamente renovados e confiantes na vitria do amor em qualquer contingncia existencial. Maia (Portugal), Io de novembro de 2002. Joanna de ngelis i AMOR E MATIZES ' O amor um tesouro que mais se multiplica a medida que se reparte. Alcana-se a plenitude terrena quando se consegue amar. Amar, sem qualquer condicionamento ou imposio, constitui a meta que todos devem perseguir, a fim de atingir o triunfo existencial. O amor um diamante que, para poder brilhar, necessita ser arrancado da ganga que o envolve no seu estgio primrio. Nasce do corao no rumo da vida, expandindose na razo direta em que conquista espao interno, sempre mais expressivo e irradiante. realizao do sentimento que se liberta do egosmo, que se transmuda em compaixo, em solidariedade, em compreenso. Possuidor de emoes superiores, expressa o nvel de evoluo de cada ser, medida que se agiganta. 16 Joanna de ngelis/Divaldo Franco Quando algum empreende a tarefa de ser aquele que ama, ocorre uma revoluo significativa no seu psiquismo, e todo ele se transforma numa chama que ilumina sem consumir-se, numa tranquilidade que no se altera. No poucas vezes, aquele que desperta para o amor experimenta frustrao e conflito, por no ser entendido ou esperar que os resultados do seu empenho sejam imediatos e logo a plantao de ternura seja abenoada pelas flores perfumadas da recompensa. Trata-se, essa reflexo incorreta, de algum remanescente ainda egostico em torno de equivocado conceito sobre o amor. muito gratificante acompanhar o desenvolvimento de qualquer empresa, observando os resultados que apresenta, os frutos que produz, as gratificaes que oferece. No entanto, no essa a resposta do empreendimento afetivo. No estando as criaturas acostumadas ao amor, mas sim convivncia com as

utopias, os interesses mesquinhos e competitivos, quando o defrontam, afligem-se, desconfiam, reagem negativamente, recusam-no. perfeitamente natural essa conduta, porque defluente do desconhecimento dos inexcedveis benefcios do amor. Tudo quanto inusitado inspira suspeio. Porque algum no se sente em condies de amar, no acredita que outrem se encontre nesse patamar do sentimento elevado. O amor, porm, que insiste e persevera, termina por vencer quaisquer resistncias, porque no se impe, no gera perturbao, no toma, somente oferece. Garimpo de Amor 17 O amor torna o ser compreensivo e dedicado, emulando-o a prosseguir na sementeira da bondade, do bem-estar prprio e geral. O amor sempre mais enriquecedor para quem o cultiva e esparze-o do que para os demais. O amor apresenta-se em variados matizes, que so resultados das diversas facetas da mesma gema, refletindo a luz em tonalidades especiais, conforme o ngulo de sua captao. Expressa-se num misto de ternura e de companheirismo, de interesse pelo xito do outro e de compreenso das suas dificuldades, de alegria pelas suas conquistas e de compaixo pelos seus desaires, de generosidade que se doa e de cooperao que ajuda. Mesmo quando no aceito, no se entristece nem descamba em reaes psicolgicas de autopiedade, preservando-se do luxo de manter ressentimento, ou de propor o afastamento de quem o no recebe. Pelo contrrio, continua na sua tarefa missionria de enriquecer, s vezes desaparecendo da presena para permanecer em vibraes de doura e de paz, sustentando o opositor e diluindo-lhe as impresses perturbadoras. Deve ser enunciado ou pode manter-se em silncio, a depender das circunstncias, das ocorrncias, dos fenmenos que se derivam dos relacionamentos. O importante que se transforme em ao paciente e protetora, sem asfixiar nem dominar a quem quer que seja. Nunca desfalece, quando autntico, embora haja 18 Joanna de ngelis/Divaldo Franco momentos em que a sua luz bruxuleia um pouco, necessitando do combustvel da orao que o fortalece, por vincular a criatura ao seu Criador, de Quem promana como inefvel recurso de plenitude.

Quando os relacionamentos humanos experimentarem o estmulo do amor, os famigerados adversrios da sociedade - guerras, calamidades, fome, violncia, vcios - desaparecero naturalmente, porque desnecessrios entre os seres, em razo de os seus conflitos, agora atenuados, no mais buscarem esses mecanismos infelizes de sobrevivncia, de exaltao do ego ou de dominao arbitrria do seu prximo. O amor tudo pode e tudo vence. No se afadigando mediante a pressa, estende-se ao longo do tempo como hlito de vida que a mantm e brisa cariciosa que a beneficia. Onde se apresenta o amor, os espectros do dio, do cime, da ciznia, da maledicncia, da perversidade, da traio, do orgulho se diluem, cedendo-lhe o espao para a fraternidade, a confiana irrestrita, a unio, a estimulao, a bondade, a fidelidade, a simplicidade de corao. O amor um tesouro que mais se multiplica, medida que se reparte, jamais desaparecendo, porque a sua fora reside na sua prpria constituio, que de origem divina. Nada obstante, o amor no conive, no se amolenta, no serve de capacho para facultar a ascenso dos fracos aos estgios superiores, nem se submete ante a explorao dos perversos e dos astutos. alimento do Esprito e irradiao do magnetismo universal. Garimpo de Amor 19 Enquanto se deseja ser amado, embora no amando, ser compreendido, apesar de no ser compreensivo, no se atinge a meta do desenvolvimento espiritual. Nesse ser, que assim age, permanece a infncia psicolgica que deseja auferir sem dar, desfrutar sem oferecer. O amor compraz-se na reciprocidade, porm, no a torna indispensvel, porque existe com a finalidade exclusiva de tornar feliz aquele que o cultiva, enriquecendo aqueloutro a quem se dirige. Em razo disso, rico de valores, multiplicandose incessantemente e oferecendo apoio, plenificao e paz a quem o oferta e a quem o recebe, mesmo quando ignorando-o, por indiferena ou desequilbrio. Afinal, sendo de essncia divina, nunca ser demasiado repetir-se que o amor a emanao da Vida, a alma de Deus. 1 SI MESi

Jesus viveu o amor a si mesmo, a medida que se entregava ao prximo, a Humanidade. O amor que se deve oferecer ao prximo consequncia natural do amor que se reserva a si mesmo, sem cuja presena muito difcil ser a realizao plena do objetivo da afetividade. Somente quando a pessoa se ama. que pode ampliar o sentimento nobre, distribuindo-o com aquelas que a cercam, bem como estendendo-o aos demais seres vivos e me Natureza. O amor a si mesmo deve ser desenvolvido atravs da meditao e da auto-anlise, porque, nsito no ser, necessita de estmulos para desdobrar-se, enriquecendo a vida. Esse auto-amor constitudo pelo respeito que cada qual se deve ofertar, trabalhando em favor dos valores ticos que lhe jazem latentes e merecem ser ampliados, de forma que se transformem em luzes 22 Joanna de ngelis/Divaldo Franco libertadoras da ignorncia e em paz de esprito que impregne as outras vidas. Sem esse amor a si mesmo, a pessoa no dispe de recursos para encorajar o seu prximo no empreendimento da autovalorizao e do autocrescimento, detendo-se nas sensaes mais grosseiras do imediatismo, longe dos estmulos dignificantes e libertadores. O amor a si mesmo d dimenso emocional sobre a responsabilidade que se deve manter pela existncia e sobre o esforo para dignific-la a cada instante, aprofundando conhecimentos e sublimando emoes, direcionadas sempre para as mais elevadas faixas da Espiritualidade. Dessa forma, fcil preservar-se as conquistas interiores e desenvolv-las mediante a aplicao dos cdigos da fraternidade e da compaixo, da caridade e do perdo. A conscincia de si mesmo, inspirada pelo autoamor torna-se lcida quanto aos enganos cometidos, ensejando-se oportunidade de reparao, ao tempo em que faculta ao prximo a compreenso das suas dificuldades na busca da felicidade. Compreendendo a finalidade da existncia terrena, a pessoa desperta para o amor a si mesma, trabalha sem desespero, confia sem inquietao, serve sem humilhao, produz sem servilismo e avana sem tenses perturbadoras no rumo dos objetivos essenciais da vida. O amor a si mesmo contribui para a valorizao das conquistas logradas e torna-se estmulo para novos tentames com vistas realizao de uma existncia plena.

Ningum, que se disponha a amar sem resolver Garimpo de Amor 23 as inquietaes internas, que lhe produzem desamor, que conspiram contra a autoestima, conseguir o desiderato. Invariavelmente a falta do amor a si mesmo decorre de conflitos que remanescem da infncia mal amada, de frustraes acumuladas e de projetos que no se consumaram conforme foram anelados, dando surgimento a complexos de inferioridade, a insegurana e a fugas psicolgicas. Muitas vezes, a pessoa que se no ama, encontra motivos frvolos para justificar o sentimento de vazio existencial, transferindo para o prximo aquilo que gostaria de desfrutar ou de possuir. So detalhes fsicos, que parecem retirar o conforto e a satisfao pessoal, na aparncia ou na constituio, dificuldades de inteligncia, posio social, problemas na sade que, sem dvida, no merecem maior considerao, e devero ser enfrentados de maneira positiva, diferente, proporcionando estmulos para novos enfrentamentos, vitria a vitria. Durante muito tempo, a pessoa coleciona o azinhavre da insatisfao consigo mesma, atribuindo-se fracassos que, em realidade, jamais ocorreram, infelicidades que no tm justificao, quando fazem comparaes com outras pessoas que acredita ditosas e sem problemas. Em uma atitude conflitiva, tenta amar-se, em luta feroz por acumular dinheiro, conseguir destaque na sociedade, tornar-se importante, invejada... Entrega-se ao trabalho exaustivo, inconscientemente para fugir sua realidade, ou supondo-se insubstituvel 24 Joanna de ngelis/Divaldo Franco no desempenho da tarefa ou realizao a que se entrega. Ao comear a amar-se, descobre que so as pequenas coisas, aquelas aparentemente sem grande importncia, que constituem significados alentadores. Momentos de solido para auto-anlise e reflexo, instantes de prece silenciosa, refazimento atravs da msica, de caminhadas tranquilas, de carcias a crianas ou animais, de cuidados com plantas, flores e adornos vivos, sentindo a vida fluir de todo lado. Em outras ocasies, conversaes edificantes, destitudas de objetivos imediatistas, cuidados com a alma, preservando-lhe a lucidez em relao aos deveres e aos compromissos que lhe dizem respeito. A seguir, torna-se necessria uma avaliao daquilo que til em relao ao que secundrio e a que se atribui significado exagerado. O amor a si mesmo desempenha uma ao autoteraputica, porque liberta dos

conflitos de autopunio, de autocensura e de autocompaixo. A compreenso dos prprios limites e possibilidades enseja um sentimento de alegria pelo j conseguido e de encorajamento em relao ao que ainda pode ser alcanado. No cultivo desse propsito, o egosmo no consegue alojamento, porque no h a ambio de posse ou de domnio, de superioridade ou de vitria, seno sobre as prprias paixes perturbadoras. Jesus viveu o amor a si mesmo, medida que se entregava ao prximo, Humanidade. Garimpo de Amor 25 Nunca se permitiu descurar da tarefa para a qual veio ao mundo. Jamais se facultou transferir o culto do dever, mesmo quando perseguido, caluniado, vigiado pelos adversrios gratuitos. No se facultou a tristeza ou a depresso, embora no faltassem motivos e circunstncias para conduzi-10 ao desnimo. Impertrrito, manteve-se afvel com os enfermos e cansativos companheiros de ministrio, dcil ante as misrias morais dos doentes da alma, compadecido da ignorncia que vigia em toda parte, confiante em Deus em todos os instantes, at mesmo no Calvrio... ... E por conhecer a grandeza de que era constitudo no falhou, no temeu, no deixou de amar, embora desamado, injuriado e aparentemente vencido, terminando por vencer todas as injunes perversas e seus sequazes. E necessrio aprender-se a amar, porquanto o amor tambm se aprende. A mais poderosa expresso do sentimento o amor. Fora incoercvel, a tudo transforma e enriquece com a pujana de que se constitui. No foi por outra razo que Jesus o transformou no mandamento maior, aquele de mais alto significado, que abrange todas as aspiraes e ideais da criatura humana. Quando esplende no corao, faz-se dnamo gerador de energias que propiciam vida e fertilizam os seres, enquanto que ausente faz-se responsvel pela debilidade das emoes e transtorno dos comportamentos. O amor de essncia divina, por facultar os estmulos necessrios para a sublimao dos sentimentos. Em face da necessidade da reproduo dos seres, no homem e na mulher expressa-se como a fora de atra28 Joanna de ngelis/Divaldo Franco

o dos sexos, que supera os impulsos primrios e oferece estabilidade emocional para toda uma existncia de unio e de lutas renovadoras. Quando viceja o interesse entre duas pessoas que aspiram unio, o amor faz-se responsvel pelo equilbrio e pela felicidade dos parceiros, produzindo energias que so permutadas a servio da construo da beleza, da arte, dos valores dignificadores do pensamento e do conhecimento. A medida, porm, que os impulsos diminuem de intensidade e os conflitos do relacionamento se estabelecem, desvitaliza-se e, no raro, consome-se. Cabe, ento, a cada parceiro, observar os desvios pelos quais se vem conduzindo e o comportamento que se tem aplicado, exigindo sempre mais do outro ao invs de avanar no rumo do seu entendimento. Em favor da perfeita identificao, cabe-lhe no impor o que no pode oferecer, e mesmo que lhe seja factvel essa doao, estimular o outro a que a logre, sem a necessidade de exigncias ou caprichos que geram ressentimentos dispensveis ou distncias desnecessrias. Nem todos os seres, no entanto, encontram-se aptos para amar, porquanto nem sempre aprendem como se ama e como se expressa o amor. Quem no recebeu amor no sabe o que ele significa, nem como brind-lo. Especialmente quem lhe sofreu carncia na infncia, ressente-se por toda a existncia, tendo dificuldade de identific-lo, quando surge, ou express-lo, quando j o possui. Nessa ausncia de sentimento de amor. confundem-se exigncia e posse, capricho e morbidez com o Garimpo de Amor 29 nobre sentido da vida, ficando-se margem da sua manifestao libertadora. Eis por que necessrio aprender-se a amar, porquanto o amor tambm se aprende, aprimorando-se incessantemente. Esse aprendizado feito atravs de treinamento, de exerccios repetitivos, no incio sem muita convico, para, de imediato, passar-se a senti-lo em forma de bem-estar e de harmonia ntima. A medida que se fixa no sentimento, ocorre uma mudana de comportamento, de sade, de experincias humanas e o ser todo se transforma emulado pela sua dlcida melodia envolvente. Ao mesmo tempo, irrompe calmamente em forma de auto-estima e confiana em si mesmo, fazendo que desabrochem os valores espirituais que do sentido e significado vida.

Lentamente, as emoes tornam-se compensadoras, por propiciarem alegria de viver e de participar do relacionamento afetivo com outra pessoa. O amor que se d o amor que se recebe, e mesmo quando no correspondido, abre espaos felizes para o perdo e para a compaixo pelo outro. Certamente, o relacionamento amoroso no casamento no transcorrer sempre sem incidentes ou dificuldades, que so perfeitamente compreensveis. No entanto, para que sejam ultrapassados esses impedimentos, a lealdade e o companheirismo tornam-se essenciais. Sem a submisso que humilha, atravs dos mecanismos das imposies e chantagens emocionais, 30 Joanna de Angelis/Divaldo Franco o amor dialoga sem agressividade, discute sem acrimnia, discorda sem ressentimento, esclarece os conflitos e preenche os espaos vazios, os afastamentos... Quando um dos cnjuges silencia ante a injustia, inevitavelmente passa a acumular mgoa e a confiana cede lugar suspeio, que derrapa em desrespeito e desconsiderao. O amor, por isso mesmo, generoso, compreensivo, mas verdadeiro, compartilhando de todas as ocorrncias. No anui com o erro para agradar, nem se escusa de cooperar em razo da presena de qualquer distrbio. Sempre estimula desculpa e generosidade, trabalhando, no entanto, pela compreenso e pela harmonia que devem viger no relacionamento afetivo. o grande lutador contra o egosmo, por fomentar a solidariedade e o bem geral. Um relacionamento de amor uma admirvel experincia de aprendizagem constante, em cujo perodo de vigncia apresenta angulaes sempre novas e desafiadoras. Desarma quem preserva dvidas e suspeitas, permitindo que a pessoa sinta-se tranquila, nunca ameaada, em sintonia com o anelo da legtima compreenso. Quando o amor real suplantar os interesses imediatos do sexo, e a necessidade do companheirismo e da ternura sobrepujar as inquietaes do desejo, o matrimnio se transformar em unio ideal de corpos e de almas a servio da Vida. Para esse desiderato, cabe a cada parceiro o deGarimpo de Amor 31 ver de nao se deixar anular, a pretexto de afeio pelo outro, nem se permitir uma situao de subalternidade ou de servilismo, tampouco de presuno e prepotncia. O amor dulcifica e transforma para melhor, jamais se impondo ou constrangendo. O amor conjugal ala os indivduos a patamares de harmonia e de alegria de viver incomuns, pois que tal o seu objetivo, tornando-se clmax abenoado do desenvolvimento espiritual dos seres.

Eis por que a Divindade faculta a reproduo em clima de emoes elevadas, tornando o matrimnio o instrumento educativo e orientador para a construo da famlia ditosa na face da Terra. Superado o primarismo da poligamia atravs do sentimento de amor, que exige fidelidade e respeito recprocos, estabelecem-se os parmetros de uma sociedade digna, como consequncia natural de uma unio de parceiros em elevado clima de compreenso e honradez. 4 ff O Amor contribui para o comportamento ditoso daquele que o cultiva. O treinamento do amor na conduta torna-se indispensvel para que se desenvolva e alcance nveis elevados de emoo. O amor no surge concludo, em condies de esparzir suas vibraes em clima de plenitude. resultado de esforo e conquista de que paulatinamente se enriquece, conseguindo estabelecer fronteiras nas paisagens ntimas do ser humano. uma fora irresistvel que necessita ser bem canalizada a fim de produzir os resultados opimos a que se prope. Por isso, ningum pode esperar que surja poderoso, de inopino, arrebatando, ao mesmo tempo felicitando. Quando assim ocorre, trata-se de impulso inicial da sua manifestao, ainda arraigada aos desejos e aspiraes pessoais, que anelam pela permuta de 34 Joanna de ngelis/Divaldo Franco interesses imediatistas, longe do significado real que o deve caracterizar. E um empreendimento emocional-espiritual muito especfico, que exige o combustvel da ternura e da afabilidade, para poder compreender e desculpar toda vez quando convidado a envolver as pessoas com as quais se convive. medida que se instala no homem e na mulher, altera-lhes o comportamento para melhor, dulcificando-lhes a existncia mesmo quando esta se encontra sob os camartelos dos sofrimentos e das dificuldades. Suaviza a aspereza da jornada e contribui em favor da alegria que deve ser preservada, mesmo que a peso de sacrifcios. O amor no se deixa impressionar pela aparncia fsica ou pelos atributos pessoais de outrem, embora, de alguma forma, esses possam contribuir em favor dos primeiros passos, como o fascnio, a aproximao, o intercmbio afetivo, definindo-se depois

pela prpria qualidade de que se reveste. Desdobra-se na convivncia ou no com as pessoas que lhe recebem o alento, jamais diminuindo de intensidade por multiplicar-se largamente em todas as direes. Pode-se amar a um nmero incontvel de pessoas, com qualidade especial em relao a cada uma, sem que haja predominncia de algum em detrimento das demais. A sua chama nunca se apaga, porque no se consome, antes auto-sustenta-se com o combustvel da alegria em que se expressa. Nos relacionamentos agressivos e imprevistos da sociedade hodierna, como de outros passados tempos, no se influencia negativamente, corrompendoGarimpo de Amor 35 se ou diluindo os vnculos, porque nada exige, possuindo a capacidade de compreender as dificuldades que sempre surgem, revigorando-se medida que se doa. O amor otimista e sempre atuante, contribuindo eficazmente para o comportamento ditoso daquele que o cultiva. Jamais agredindo, estimula os neurnios cerebrais produo de molculas propiciatrias sade e ao bem-estar, para evitar que os mesmos sejam bombardeados por toxinas procedentes do sentimento da amargura, do ressentimento, da revolta, do dio... Envolvente, suave como um amanhecer e poderoso como a fora ciclpica da prpria vida. No se desnatura, quando no recebido conforme do seu merecimento, nem se rebela, porque desdenhado. Mantm-se paciente e tolerante, por entender que o outro, aquele a quem se dirige, encontra-se doente, destitudo de sensibilidade para receblo. A vigncia do amor o recurso mais hbil para uma real mudana de conduta da sociedade, que passaria a viver de maneira mais consentnea com as conquistas da Cincia e da Tecnologia, utilizandose desse extraordinrio contributo da evoluo para tornar a existncia terrestre muito mais feliz e menos preocupada. Na raiz da crueldade e do crime encontramos o amor ausente naquele que se deixa arrastar pela loucura, que o no recebeu e no foi impregnado pela 36 Joanna de Angelis/Divalclo Franco sua vitalidade prazenteira. Pelo contrrio, acumulou resduos de ira, de maus tratos, de indiferena e de perseguio, que se encarregaram de asfixiar quaisquer possibilidades de vivncia da compaixo e da misericrdia, que so filhas diletas do

amor. Complexos de culpa e de inferioridade, rebeldia sistemtica, amargura continuada, distimia contumaz so os frutos esprios de uma existncia sem amor, que se desenvolveu longe da esperana e da compreenso. Esse corao sempre esteve fechado irradiao do sol do amor, que no conseguiu penetrar-lhe a intimidade, alterando-lhe a pulsao emocional. necessrio que se abram os sentimentos sua presena, de forma que qualquer lampejo produza claridade interior, estimulando ao aumento de luminosidade. Exercitando-se a vivncia das suas vibraes, aumenta-se a capacidade de senti-lo e express-lo nas mais diversas situaes. Ao mesmo tempo, especial bem-estar domina o comportamento, proporcionando emoes enobrecidas e aspiraes elevadas que objetivam a harmonia geral. Quando algum ama, o mundo comea a transformar-se. Basta que esse sentimento seja direcionado, indiscriminada ou especificamente, em favor de algum e logo ocorre uma real mudana na psicosfera do indivduo, que se irradia em toda as direes, modificando a estrutura perturbadora e desconfiada que por acaso exista sua volta. Conforme o Sol sempre novo em cada amanhecer e sua luminosidade enriquece de luz e calor a TerGarimpo de Amor 37 ra, o amor esplende de beleza e de vitalidade a cada momento em que se expande. Se houver noite moral, ele se torna claridade fraternal; se permanece a suspeita, ele oferta segurana; se campeia o desencanto, ele faculta a confiana, porquanto a todos aquece com o vigor da bondade e da paz. Dizem os escritos evanglicos que Deus amou tanto ao mundo e Humanidade, que ofereceu o Seu Filho, a fim de que, crendo nEle, todos encontrassem paz e felicidade. Tambm se pode dizer que, amando-O, todos desfrutaro de equilbrio e ventura. O amor essencial para o comportamento equilibrado e propiciador do progresso moral, tecnolgico, social e espiritual da sociedade. Comeando em um indivduo, termina por envolver todas as criaturas. O amor vida e a compaixo manifesta-lhe a grandeza e o significado. O amor possui dimenso infinita. Quanto mais se distende, mais espao adquire para crescer. Quando o ser est preenchido pelo amor, nada de mau o atinge, perturbao alguma o desequilibra, porque no h espao vazio para a desdita nem para o aborrecimento. A semelhana do espao em geral, nada se lhe adere, mesmo quando atirado propositalmente, porque est repleto, no havendo lugar para novos acmulos. Se lhe

atiram perfume ou matria em decomposio, blasfmia ou enaltecimento, tudo passa, sem o atingir, tombando no solo ou perdendo-se no ar. Assim um corao rico de amor e referto de compaixo. Plenificado, no oferece campo para outras expresses de desconforto e de ressentimento, de ansiedade e de medo. 40 Joanna de ngelis/Divaldo Franco Quando se aceita a presena do medo e se lhe permite dominao, congela-se a atividade do progresso e retm-se o impulso de realizao na paralisia imposta pelo algoz impenitente. O medo, a culpa, a mgoa constituem vapores morbficos que intoxicam o ser, transformando-se em ferrugem corrosiva nas engrenagens da alma, que emperram, dificultando a finalidade da evoluo, para a qual todos se encontram incursos nos Estatutos da Vida. O amor prolonga a vida, porquanto a sua vigncia contagem infinita, mesmo quando h limites propostos pelo espao-tempo da relatividade humana. Dessa forma, a vida tem a durao do amor. H aqueles que morrem antes do momento programado, porque deixaram de amar, ficando asfixiados na falta de motivao para viver. Um indivduo, que cultiva a compaixo e preserva o sentimento de amor, transformase em foco de luz que dilui as sombras, em patamar de paz que acalma os conflitos, em segurana fraternal que sustenta o companheirismo, em harmonia irradiante que se prolonga sem cessar... A vida curta somente para quem no frui a felicidade do amor, porquanto a sua vigncia supera tempo e lugar, circunstncia e ocorrncia, tornando-se um continuum abenoado. Esse processo de amor e de compaixo robustece as foras do navegador no oceano da matria, porque o mantm vinculado Estrela Polar Divina, que o norteia, apontando sempre o rumo correto por onde seguir. Mesmo quando surgem impedimentos e ruge a tormenta, a nau da confiana no abandona o roteiGarimpo de Amor 41 ro, vencendo as procelas e recuperando a tranquilidade da navegao. Essa deciso no significa ausncia de esforo, de luta, de trabalho, de desafios. Fosse diferente, e seria morbidez, parasitismo, no amor, menos compaixo, porque

somente eles robustecem o nimo e fortalecem a capacidade de empreender novas conquistas, mediante o trabalho, o esforo que deve ser envidado para conquist-los. O amor vida,e a compaixo manifesta-lhe a grandeza e o significado. Unidos, renovam o mundo. Mas necessrio que, para a Humanidade tornar-se melhor, algum comece amando-se, amando e tocado pela compaixo. '-& Para amar necessrio comear. Ningum ser surpreendido pela pujana do amor total, antes de hav-lo iniciado em pequenas experincias e vivncias do cotidiano. s vezes, por meio de uma insignificante manifestao de ternura, um gesto de desculpa, uma ao de misericrdia ou uma formulao de beneficncia. O amor autovitaliza-se, nutrindo-se da prpria energia que esparze. No exerccio da compaixo por si mesmo, o amor ensina que as criaturas so o que lograram no longo percurso das reencarnaes, que ainda se encontram em fase de imperfeio, tendo o direito de errar e de experimentar dislates, no se permitindo, porm, a tolerncia de permanecer nos equvocos, nos compromissos infelizes, aps t-los identificado. Tambm descobrir que essa renovao no ser operada por 42 Joanna de ngelis/Divaldo Franco milagre, por fenmeno apenas do querer, mas sobretudo do empenhar-se pelo conseguir. Mediante exerccio dirio de reflexo, aprofundando a sonda da perquirio em torno do Si, surgem os fantasmas do passado, os cobradores da conscincia, os clichs dos remorsos, os impositivos da culpa em acusaes incessantes, que devem ser liberados e diludos. Libertar-se da culpa fundamental, a fim de no se atormentar com o receio do castigo. Arrepender-se, sinceramente, do mal que haja feito a algum, constitui terapia valiosa, gerando oportunidade para a reparao de todo e qualquer prejuzo que lhe haja propiciado, sem mgoa pelo passado nem angustiante expectativa pelo futuro. Vencer os apegos a pessoas e coisas, a lembranas escravizadoras e a ansiedades de conquistas sem valor, representa tambm um recurso valioso para o amor e para a autocompaixo, que se exteriorizar em forma de compreenso dos delitos alheios e das suas dificuldades e limitaes. Revisar conceitos de comportamento e reavaliar atitudes so mtodos significativos para a paz de esprito, no tumultuado relacionamento social. medida que se for vencendo a timidez e a culpa, peregrina alegria de viver tomar conta das paisagens emocionais, facilitando o trnsito pelos difceis caminhos da fraternidade, porque estmulos inabituais surgiro para mais amar-se e mais amar. Compadece-te dos teus prprios erros e reabilita-te, envolvendo-te na claridade diamantina do amor Garimpo de Amor

43 e viajando na direo da felicidade. Quanto mais ames, mais sentirs necessidade de faz-lo, porque estars pleno de alegria e desejo de viver. Reservando-te espaos mentais e emocionais para releitura e recomposio dos teus comportamentos, vivenciars a compaixo pelo teu prximo e pelos teus inimigos que o deixaro de ser, embora prossigam inamistosos contra ti, mergulhados nas sombras que geram a prpria volta. No os reproches, no tentes conquist-los mediante argumentaes e justificativas. Ama-os de longe e concede-lhes o direito de estarem assim por enquanto, at o momento em que despertem para a prpria felicidade. Descongelando a indiferena nos teus sentimentos, o calor do amor te impulsionar natural compaixo que vive em ti na direo de tudo e de todos. . . e mm e lESiSTticij O amor possuidor de coragem imbativel, ' M onde quer que se apresente. Assevera-se equivocadamente que o amor torna a pessoa fragilizada, dependente, sujeita a ser enganada, em razo da confiana que deposita em outras criaturas que no so dignas sequer de respeito, menos de considerao. O argumento, destitudo de qualquer legitimidade, serve de bengala psicolgica para aqueles que sofrem de conflitos e de insegurana, encontrando motivo para evadir-se da prtica do sentimento elevado. O amor fortalece sempre aquele que o cultiva, porque o vitaliza, e quando se direciona a algum, de maneira nenhuma torna-o submisso a esse afeto. Dlhe, ao inverso, uma viso correta dos valores que exornam o carter do outro, sem que isso lhe diminua o sentimento que vigora em forma de estmulo e socorro, nunca para usufruir e beneficiar-se. 46 Joanna de ngelis/Divaldo Franco Certamente h muitas pessoas que no sabem entender o sublime fenmeno do amor, e se utilizam dessa ddiva com que os demais as honram, no correspondendo confiana, procurando tirar proveito, enganar, explorar... O amor, porm, no se equivoca quando verdadeiro e tem as suas razes fincadas nos objetivos elevados da ldima fraternidade.

E claro que percebe as manhas e deficincias morais daquele a quem se dirige, exatamente por ser nobre e produtivo, nunca se submetendo a quaisquer caprichos. Se, por acaso, cede, em alguns momentos, talvez seja para demonstrar a qualidade de que se constitui, porm perfeitamente lcido, conseguindo discernir os aparentes dos verdadeiros valores morais. O amor possuidor de coragem imbatvel, onde quer que se apresente. Quando Jesus jornadeava sob o peso da cruz pela via dolorosa, em abandono por quase todos aos quais se doara, esticas mulheres que O amavam, romperam com o preconceito e desacataram o status perverso que as considerava inferiores, para segui-lO ao Calvrio e ali ficarem at o momento extremo. Impulsionadas por essa energia incoercvel, enfrentaram os doestos e as chocarrices dos maus e dos insanos sem qualquer receio, conscientes do dever de acompanhar Aquele que as convidara para o banquete da felicidade, ajudando-as a vencer todas as barreiras que as isolavam do mundo social, submetendo-as aos caprichos e s paixes primitivas dos dominadores das suas existncias. ...E tornaram-se smbolo de vitria sobre as injunes penosas que as restringiam. Garimpo de Amor 47 O amor deu foras a Jesus na Cruz, de forma que suportou todas as crueldades que Lhe foram impostas com sobranceria e misericrdia. F-10 silenciar diante dos falsamente fortes, que pareciam ter poder sobre a Sua vida, permanecendo calado diante da massa ignara que tanto amava, para comunicar-se com o criminoso ao Seu lado, no momento extremo, concedendo-lhe esperana de renovao e de imortalidade em triunfo. Resistindo debilidade orgnica sob o exaurir das energias, foi o amor que Lhe facultou prosseguir durante as horas agnicas em irrestrita confiana em Deus. No bastassem todos os testemunhos, demonstrando a excelncia desse incomparvel sentimento, ainda pde rogar ao Pai que perdoasse a ignorncia e a ignomnia daquelas criaturas perdidas em si mesmas, que O matavam. O amor portador de expedientes inesperados, abrindo portas que pareciam fechadas e ampliando o seu campo de ao quando tudo so limites e pequenezes. Foi o amor que levou o Mestre a reconvocar Simo Pedro ao ministrio espiritual, arrancando-o do remorso resultante da negao e da culpa, de tal forma que, renovado, mais tarde se deu tambm em holocausto, tocado pela magia irradiante desse sublime sentimento. Tambm foi o amor que inspirou o Rabi a buscar Judas nas regies penosas do

Mundo Espiritual inferior, para facultar-lhe oportunidades de redeno e 48 Joanna de Angelis/Divaldo Franco de progresso atravs dos tempos, edificando-o para sempre. No h conjuntura difcil que o amor no solucione, nem situao penosa que no suavize e acalme. A pessoa que ama no ingnua, que possa ser facilmente enganada, nem sagaz, astuta, para dominar. lcida, consciente do significado da vida e dos objetivos que deve perseguir, investindo-se de sentimentos relevantes, para que alcance, patamar a patamar, as Esferas da Imortalidade vitoriosa. Quando no autntico, o amor irracional, deixando-se amesquinhar e vencer pelos agiotas e chantagistas da emoo perturbada. Facilmente se rebela e se desconcerta, tombando no desnimo e na mgoa, porque as suas no so as estruturas de segurana que facultam a elevao e conduzem ao bem verdadeiro. O investimento no amor o de maior segurana e rentabilidade, porque de sabor eterno, sem perigo de perder-se ou ser defraudado sob qualquer aspecto. H uma claridade interna que vige no amor, na qual tudo se esclarece e se torna fcil de entendimento. Como luz, o amor fonte inexaurvel de energia benfica, facultando sade e promovendo a paz. Enquanto existe, no se lhe extingue a luminescncia nem lhe escasseia a harmonia. Quando amas, tornas-te generoso e afvel, mas no prdigo em excesso ou dedicado em extremo, caso as circunstncias no te favoream com os meios para expores os sentimentos de afetividade e companheirismo. Garimpo de Amor 49 Por isso, ningum pode prejudicar-te ou desmerecer-te a confiana, em razo da claridade interior que te leva ao discernimento dos parmetros que devem orientar a expanso da tua afabilidade. Diante do leito do filhinho enfermo, noites a fio, pais abnegados tm foras para resistir a todos os lances dos dramas cruis, sustentados pelo amor, sem dar-se conta de si mesmos, dos seus limites e das suas possibilidades. Ama, portanto, a cada criatura, especialmente aquelas que no so dignas de amor, como filhos doentes que esto no seio da Humanidade esperando a tua doao, a fim de crescerem e de se libertarem das imperfeies morais em que se firmam. Amando sempre, alcanars o objetivo existencial e ters resistncia para todos os embates que a vida sempre reserva. I? ? ANOR E CDNM1IHEIR1SN0

O amor projeta o que se naquele a quem se vincula afetuosamente. O companheirismo fortalece-se atravs da vitalidade do amor. Nem sempre transcorrer em clima de total identidade de propsitos e de sentimentos, como natural, pois se trata de duas ou mais pessoas outras envolvidas na afetividade, no relacionamento fraternal. Por extenso, na convivncia a dois, quando os interesses se apresentam ricos de esperanas, mas o comportamento descuidado, sem arquivos de maturidade psicolgica, desfaz-se, por falta de estrutura e de profundidade. Pensa-se que a finalidade do companheirismo fugir-se ao tdio, solido, e nunca se procura nele identificar o significado do amor, os benefcios dele defluentes, as satisfaes da convivncia e da amizade. Pessoas que se sentem solitrias buscam rela52 Joanna de ngelis/Divaldo Franco es com o propsito de fugir do desconforto que as assalta, porque isoladas, sem campo emocional para expressar os seus estados interiores. No obstante, parea justa a busca, no alcana o objetivo, por tratar-se de uma fuga e no de uma realidade. Quem assim procede, pensa apenas em receber, em vencer os conflitos, apagar os ressentimentos ntimos que guarda contra si mesmo, terminando por transferi-los para aqueles com os quais pretende identificar-se. Somente um trabalho de autodescoberta facilita a comunicao com os demais indivduos, porquanto, ao serem identificados os traumas e as inquietaes, as ansiedades e os desejos, no os transfere para os outros, procurando venc-los em si mesmo antes que lutar contra, projetando-os como imagens detestveis que so vistas nas pessoas a quem procura amar. Quando se est carente de afeto e se desejam relacionamentos amorosos, o romantismo toma conta da imaginao e estabelecem-se normas de afetividade, nas quais o outro deve preencher as lacunas internas e os vazios existenciais. Formulam-se programas de convivncia exterior, como os passeios, divertimentos, refeies em restaurantes e lugares paradisacos, teatros e cinemas, dando campo s emoes que logo passam, trazendo de volta a mesma insegurana, insatisfao e tdio... Somente quando se capaz de vencer os distrbios ntimos e os auto-ressentimentos, que se pode amar e buscar relacionamentos que estejam liberados de projees perturbadoras e de fceis atritos desgast antes.

Garimpo de Amor 53 comum descobrir-se pequenas coisas que so detestveis, quando praticadas pelo ser com quem se relaciona ou a quem se afeioa. No obstante, essa repulsa decorre de intolerncia interior a atitudes semelhantes que a pessoa mantm e no se d conta de como procede. Ao combater aquilo que lhe desagradvel no outro, est-se descobrindo, inconscientemente, a respeito de comportamentos iguais que vivncia e que, certamente, incomodam tambm ao companheiro que os silencia. ' O amor no relacionamento semelhante a um espelho, que projeta o que se , naquele a quem se vincula afetuosamente. Em face dessa realidade, torna-se necessrio o dilogo honesto e coerente, evitandose as brigas, que ressaltam os caprichos do ego, as imposies da personalidade dominadora. Ningum ama submetendo, nem se permite amar sob sujeio. O amor livre e expressa-se em total liberdade, sem o que manifesta interesse e convenincia, normalmente de efmera durao. Da mesma maneira que dialoga, sabe silenciar nos momentos prprios em que o outro necessita de introspeo, de harmonia interna, de solido saudvel. Evitando ser ruidoso, em nome da falsa alegria, tambm no deve permanecer em quietao, traduzindo indiferena. H uma medida sbia para aquilatar-se quando se est discutindo com equilbrio ou se est impondo 54 Joanna de ngelis/Divaldo Franco o tormento da desconfiana, da irritabilidade, da acrimnia. Isso se d quando se dialoga para esclarecer e ajudar, ou quando se utiliza da palavra para ferir, para demonstrar superioridade, para magoar... A repetio de cenas desagradveis deixa resduos interiores que se convertem com o tempo em ressentimento e amargura, abrindo espaos e distncias entre as pessoas. Inevitavelmente, momentos surgem nos quais os sentimentos do afeto e do companheirismo confundem-se, apresentando exigncias e solicitando preferncias pessoais. claro que se trata de manifestaes humanas, ainda muito distantes das expresses anglicas. Isso, porm, no deve desanimar, antes estimular a novos investimentos e insistentes experincias de tolerncia, de compaixo e de bondade. O amor est sempre aberto e receptivo para as comunicaes emocionais, desde um olhar gentil a um gesto afvel, a uma comunho saudvel e plenificadora. Quando se ama e se busca companheirismo nos relacionamentos sociais, espirituais, h um enriquecimento interior que se expande na direo da Natureza, do mundo terrestre, do Universo...

Esse amor ao prximo, que deflui daquele que se tem por si mesmo, atinge o prtico daquele que se deve dedicar a Deus. Trata-se de uma emoo esplendorosa interior, que contagia o sensvel e o imperceptvel, o visvel e o espiritual, atraindo o psiquismo dos seres elevados da Espiritualidade, que passam a compartilhar dessas vibraes e inspiram a direcion-las em favor da humanidade em sofrimento, em carncia e em desolao. Garimpo de Amor 55 O amor imbatvel no seu objetivo e indestrutvel na sua constituio, porque emana do Criador e a Ele volta. Sempre que olhes a pessoa amada, o companheiro de que necessitas para os relacionamentos humanos, sociais e emocionais felizes, faze dela um espelho e observa como te vs nele refletido. No lhe exijas em demasia aquilo que no lhe ofertes em generosidade. Talvez ela no saiba retribuir, mas se permaneceres oferecendo-lhe gentileza e paz, chegar o momento em que tambm se abastecer de alegria e de gratido, que so respostas do sentimento que ama. O amor grato e generoso, porque felicitando, santifica e eleva a criatura do nvel da necessidade ao patamar da abundncia. Ama, e mais compreenders a bno do companheirismo, do relacionamento gentil, pelo que experimentes e pelo que transmitas a todos aqueles que se te acerquem e compartilhem das tuas elevadas emoes. ANOR E SJPE Um corao aberto ao amor torna-se afvel epossuidor de tesouros de alegria e de bem-estar. A necessidade de manter o corao aberto imprescindvel para a instalao do amor. Isso significa permanecer em inocncia, sem os resduos da perversidade, da insensatez, da maldade dos relacionamentos infelizes. Os dias tumultuados, que exigem movimentao e astcia para a sobrevivncia, geram conflitos que fecham o corao a novas experincias e afeies, em razo do medo que dele se apossa, gerando desconfiana e inquietao. Um corao aberto significa estar acessvel linguagem do amor que se encontra nsito em toda parte: no ar que se respira, na paisagem rutilante ao Sol, na sinfonia de sons da Natureza, nos sorrisos despreocupados da infncia, na velhice confiante, no prprio pulsar da vida como manifestao de Deus. Com o corao aberto podem-se ver melhor os acon-

58 Joanna de Angelis/Divalclo Franco tecimentos e identificar as pessoas, compreender as ocorrncias desagradveis e trabalhar em favor do progresso, avanar no compromisso dos deveres e nunca recuar ante os insucessos, que so apenas transferncia no tempo em relao ao xito que vir. Com essa atitude torna-se mais fcil perdoar, por causa da presena da compaixo, o que no equivale a dizer que se permitir ferir pela crueldade dos outros, mesmo no os desvinculando dos seus sentimentos, no lhes revidando o ato com o mesmo mal. Evitando acumular o bafio pestoso na mente ou no corao, respira-se melhor e readquire-se o ritmo do equilbrio que vem sendo afetado pelas perturbaes que grassam e pelo materialismo que desarticula os princpios de tica e de amor, exigindo o aproveitamento de cada momento, a vitria a qualquer preo, mesmo que atravs da destruio de outrem... Assim, torna-se inevitvel que a sade se instale, que as resistncias imunolgicas se fortaleam, e um vigor diferente, inusual, tome conta das clulas, estimulando-as equilibrada mitose que lhes proporciona vida. provvel que experimente enfermidades, transtornos momentneos, desajustes orgnicos, ficando doente, nunca, porm, sendo doente. A capacidade para enfrentar as ocorrncias difceis robustece o nimo, que no se quebranta por questes de somenos importncia, e mesmo quando so graves, facultam bom senso ao situar-se na reflexo e renovar-se, mantendo-se ativo na luta e perseverando nos propsitos saudveis. Um corao aberto ao amor torna-se afvel e possuidor de tesouros inigualveis de alegria e de Garimpo de Amor 59 bem-estar, que proporcionam interesse e despertam ateno nos outros, que o buscam sedentos de ternura, ansiosos por paz. O corao fecha-se quando agasalha a amargura, d campo ao pessimismo, acumula recriminaes e azedume, coleciona ressentimentos... De imediato, a sade cambaleia e, aprisionado nesse labirinto de aflies, o ser desgasta-se e perde a direo de si mesmo. > O corao que se abre nunca se queixa, nem reclama, porque o amor que possui torna-o dcil e gentil, no exteriorizando venenos que no se lhe encontram em

depsito. Pe a luz da compaixo por ti mesmo nos olhos da tua afetividade, a fim de que dilua as sombras que remanescem dos dias da infncia incompreendida, dos relacionamentos desagradveis, das lembranas tormentosas. medida que essa claridade do amor se esparza, atrair foras generosas que te conduziro sempre em paz pelas mais difceis estradas humanas, contagiando todos quantos se te acerquem, mesmo que se no dem conta de imediato. Quando determinados padecimentos te assinalem as horas, recolhe-te em meditao, orienta a respirao para a rea dolorida e procura relaxar a tenso que se te tornou habitual e j no controlas. H muitas dores e constries orgnicas, nervosas, que so resultado de somatizaes do corao fechado, amargurado ou triste, inquieto ou desconfiado. Quem o possui aberto, adquire a faculdade de 60 Joanna de ngelis/Divaldo Franco sorrir e de confiar, estendendo mos e emoes amigas aos transeuntes do caminho evolutivo. Livre da autopiedade e da perversidade da autocensura que castiga, torna-se capaz de examinar os insucessos transatos com naturalidade, permitindo-se reabilitao e refazimento de caminhos e metas. No se detm na anlise prejudicial da culpa, antes adota a postura positiva do arrependimento edificante, que abre espao para a recuperao de si mesmo e perante a sua vtima, ou contribui para o desaparecimento dos prejuzos causados pela irresponsabilidade. No adere postura de infeliz porque errou, considerando que todos experimentam equvocos e que a estrada do progresso pavimentada pelos enganos e corrigendas at ao asfaltamento seguro do piso que lhe serve de estrutura. Ningum atinge as cumeadas de qualquer empreendimento sem os passos iniciais do comeante, cuja experincia e sabedoria chegam depois da vivncia das realizaes. A sade, como decorrncia natural do processo de abrir-se o corao luz, ao entendimento, afeio, instala-se, suportando todas as investidas do tempo, do lugar e das circunstncias, embora nem sempre positivas. Permanece de corao aberto ao amor e nunca te permitas encarcer-lo na suspeita, ench-lo de vazios emocionais... Somente um grande sacrifcio digno de uma elevada recompensa. Portanto, somente atravs da abertura do corao, em totalidade de inocncia e de confiana, podes experienciar alegria plena e felicidade sem jaca. Garimpo de Amor 61 Nunca te esqueas do papel fundamental que desempenha a orao na abertura do

corao e na preservao do amor. A orao um fio invisvel que liga a criatura ao seu Criador, produzindo perfeita identificao entre a necessidade e a abundncia, mantendo o ritmo superior da vida. O corao que ora, estua de vitalidade, e, quando ama, possui Deus, que oferta indiscriminadamente. A orao ungida de ternura e de emotividade expressa, ao mesmo tempo, a qualidade de amor que a criatura se devota, distende ao prximo e alcana a Divindade, tornando-se-lhe alimento e fora para a vilegiatura carnal. s -:>tr O amor propicia o desapego a tendncias negativas, pessoas, coisas e utilidades. Indispensvel tornar o amor um estado de esprito, uma condio natural no processo de crescimento interior, uma fatalidade que deve ser conseguida quanto antes. A medida que se posterga a vivncia desse sentimento, que fora vital e dinamizadora, o sentido existencial padece hipertrofia de finalidade, porque destitudo de riqueza, de aspiraes do belo, do bom, do libertador. Mesmo que vicejem tais aspiraes, apresentam-se debilitadas, porque procedem dos sentidos fsicos, de ambies egostas, de necessidades para o prazer, sem o contributo valioso e de profundidade, que tem por base o Esprito em si mesmo e suas legtimas ambies de imortalidade e triunfo sobre as vicissitudes e amarras com a retaguarda. 64 Joanna de ngelis/Divaldo Franco Amar deve significar a aspirao mxima do ser que transborda de emoes relevantes e deseja reparti-las a mancheias, como quem distribui luz objetivando a vitria sobre toda treva, qualquer sombra. Essa fora, que domina o corao e se expande mediante as aes, altera por completo o rumo da existncia fsica, concedendo-lhe um colorido especial e uma finalidade superior, que deve ser buscada sem cansao, adornada de otimismo e de paz. Trazer esse amor para todos os momentos da vida, torn-la digna de ser experienciada, capaz de ser transformada em triunfo. A Humanidade sempre teve expoentes desse amor, que lhe constituram razo de desenvolvimento e de conquistas em todos os setores do processo de crescimento moral, intelectual, artstico, cultural, tecnolgico, religioso, espiritual, sem cujo contributo,

por certo, as criaturas ainda se encontrariam nas faixas primitivas do processo da evoluo. Foram esses homens e mulheres forjados no amor e distribuidores de amor, que se olvidaram de si mesmos, que promoveram a espcie aos patamares de que hoje desfruta. No pensaram primeiro em si, mas desenvolveram interiormente a capacidade de doao, de tal forma que o bem geral constituiu-lhes o motivo para que lutassem estoicamente, vencendo os prprios limites e dificuldades, de maneira que a enfermidade, a intolerncia, o atraso moral e mental dos seus coevos no se lhes transformaram em impedimento para a construo do mundo melhor. E mesmo quando se lhes exigiam a existncia, deram-na, fiis confiana e certeza de que o seu era o trabalho de liberGarimpo de Amor 65 taco das massas e de promoo da sociedade. Tornaram-se modelos porque demonstraram que a felicidade mais risonha quando objetiva o prximo sem detena, oferecendo-lhe motivaes para existir e seguir adiante,conquistando espaos de harmonia. Isso ocorre porque, toda vez que algum se ilumina pela chama do amor, oferece mais claridade ao mundo, torna-o melhor e enseja que outras vidas tambm se clarifiquem, libertando-se dos atavismos cruis da ignorncia, do preconceito, da crueldade. O amor sempre feito de compaixo e torna-se finalidade essencial da vida por expressar valores que no se amontoam, que no enferrujam e ningum consegue roubar, porque se encontram disposio de todo aquele que os deseje possuir, recebendo-os jovialmente e de maneira especial. O nosso amor modifica a estrutura da sociedade, que se encontra vitimada pelas guerras e por diversas calamidades que geram sofrimento e alucinao. Com a contribuio do amor, modificam-se essas condies, e, graas Cincia e Tecnologia que aproximam criaturas e povos, ningum mais desconhece as necessidades que afligem o mundo, permanecendo indiferente ao seu destino amargo. Assim, qualquer contribuio de afeto, por pensamento, mediante palavras e atravs de atos, encarrega-se de tornar menos densa a psicosfera em que se movimentam os seres, menos venenoso o dio que campeia desenfreado, mais animador o esprito 66 Joanna de Angelis/Divaldo Franco de competitividade sem os extremos de dominao e de arbitrariedade.

Isso porque o amor destitudo de vilania e de interesses doentios. O amor propicia o desapego a tendncias negativas, pessoas, coisas e utilidades. imparcial e generoso para com tudo e com todos, no se permitindo prender, escravizar-se ou reter, impedindo o avano de outrem, a realizao pessoal do ser amado, nem acumulando recursos amoedados ou no, que se transformam em crcere de sofrimento. Nesse cometimento em favor do desapego, vale ressaltar que o mais difcil a libertao das impresses perturbadoras que remanescem no imo como herana do passado infeliz, transformando-se em ressentimentos, dios, angstias, cimes, que necessitam ser superados. comum negar-se essas vivas expresses perniciosas do carter, recalcando-as, sem as eliminar, o que lhes permite reaparecer com frequncia, dominando as paisagens interiores e asfixiando as aspiraes da felicidade. Um esforo honesto para reconhecer-lhes a presena dominadora auxilia no empreendimento pela sua superao. Aceitar a sua existncia no significa concordar com as manifestaes que irrompem com periodicidade, mas substituir, lentamente que seja, porm com denodo, cada uma dessas paixes nefastas, abrindo espaos para o surgimento dos valores positivos, do amor que dever predominar. Nesse campo emocional, que est sendo arado com bondade e coragem de produzir melhor, despontam ento a alegria, a paz, a vida exuberante, que Garimpo de Amor 67 passam a substituir aqueles cruis inimigos da plenitude. O amor preenche os vazios interiores, fazendo que desapaream as falsas necessidades externas. Por isso, amplia-se sempre no rumo do infinito, envolvendo aqueles que se encontram prximos como a todos quantos se situam a distncia. Quando atinge o seu clmax, tem caractersticas idnticas em relao queles aos quais se direciona, sem privilgios nem imposies. Por isso renuncia, ensinando que a posse excessiva crime contra a escassez dominante. Da mesma forma, demonstra que os atavismos perversos, a que muitos indivduos se vinculam, necessitam ser deixados margem, superados e substitudos, sem saudades ou tormentos, abrindo veredas a experincias novas e a realizaes pacificadoras. certo que tal providncia exige coragem e combatividade, esprito que anseia pelo progresso e se ama, tomando a deciso de no mais permanecer na retaguarda do processo evolutivo, em razo da lucidez mental de que se sente possuidor.

O desapego material importante na desincumbncia do esforo por amar, no entanto, mais grave e significativo o de natureza emocional, em referncia aos vcios, s tendncias primitivas, aos sentimentos inferiores. No ds guarida atrao do mal, seja como for que se te apresente. Ama-te, a ponto de te transformares em exemplo de vitria sobre a inferioridade moral, tornando68 Joanna de ngelis/Divaldo Franco te cooperador do esforo que outros envidem no mesmo sentido. Assim, compreenders quanto difcil para o prximo libertar-se daquilo que nele te desagrada, em face do que em ti igualmente a outros perturba. Esse amor, que se inicia no teu esforo, em breve tomar conta de ti com tal fora que no mais haver espao interior seno para amar e servir. AMOR E IWICRAjjlO :!: Passo a passo, o amor vai produzindo interao :> entre aquele que ama e todos quantos so amados. Quando o amor pleno, interage com tudo e com todos. Modifica o ambiente em que se apresenta e transforma o mundo, porque a sua ptica correta, sem as distores que caracterizam os tormentos humanos. At que alcance esse nvel de elevao, transita por diversas fases de desenvolvimento e de fixao emocional. A princpio, temeroso, embora a ambio de crescimento; expressa-se com excessivo cuidado, evitando qualquer constrangimento; limita-se a grandes silncios, por insegurana de expandir-se verbalmente; disfara-se em outras expresses, a fim de no ser incompreendido. Somente com os instrumentos da perseverana e da certeza da sua vitria, expan70 Joanna de Angelis/Divaldo Franco de-se e avana galhardamente, ganhando espao. No mais se preocupa com aquilo que as pessoas pensam, mas se tranquiliza pelo que proporciona de agradvel e compensador a benefcio geral. Reconhece que, se no conseguir modificar as pessoas amadas, o que tambm depender delas mesmas, auxili-las- a sentir-se compreendidas e envolvidas pela ternura, o que lhes corresponder a estmulos especiais para que se transformem para melhor. Passo a passo, vai produzindo interao entre aquele que ama e todos quantos so amados. Vnculos especiais de confiana e considerao se estabelecem, evitando-se os atritos

de opinio, as agresses no comportamento, as tricas e maledicncias habituais, porque todos sabem que os melhores recursos para uma convivncia feliz so o dilogo e o respeito que se devem dedicar ao prximo, a fim de que os receba como natural efeito da conduta vivenciada. No h por que concluir-se equivocadamente, diante de situaes complexas e comprometedoras, quando se pode perguntar, procurando respostas esclarecedoras e oportunidades de retificao do que no se encontre conforme deveria. Conclui-se que, em favor de uma interao verdadeira, torna-se imperioso aprender a ouvir o outro, a auscultar-lhe os sentimentos, de forma que seja factvel a convivncia agradvel, ou pelo menos respeitosa. Compreende-se que os desafios que se experimentam no so diferentes daqueles que afetam a outra pessoa, talvez em situao mais melindrosa ou grave. Garimpo de Amor 71 Somente atravs de uma introspeco para a auto-anlise, poder-se- descobrir quais os maiores desafios para a convivncia correta com o prximo, assim entendendo que ele tambm enfrenta situao interior equivalente, que lhe impede o avano fraternal e afetuoso, sobrecarregado de suspeitas, de resduos emocionais perturbadores e de intuies espirituais negativas. A viso do ser humano correta aquela que o abrange tambm como Esprito que , em luta contnua contra as marcas que procedem do seu passado, os hbitos doentios que permanecem na sua economia comportamental. Por consequncia, as influncias psquicas de que se v objeto, sejam aquelas que se estabelecem mente-a-mente encarnada ou que provm de inimigos e antipatizantes que deixou na retaguarda da evoluo, hoje interessados na sua desdita, em razo do atraso em que se demoram. A interao, no caso, dar-se- de maneira especial, atravs da compaixo, da bondade, da pacincia. Ningum ascende ao topo da montanha sem antes superar-lhe o sop. Na baixada ou no vale em que o indivduo se situa, a viso do seu todo impossvel, porm, medida que vo sendo vencidos os primeiros lances, mais coragem e estmulo para o avano se tornam presentes ante a perspectiva de vislumbrar toda a paisagem. Ao alcanar-se o acume, o oxignio mais puro e o deslumbramento toma conta do vencedor, por conseguir um infinito sua frente, convidando-o reflexo, anlise do prprio limite e pequenez.

72 Joanna de ngelis/Divaldo Franco Assim tambm o amor. Nas primeiras experincias, surgem os sentimentos controvertidos, os interesses mesquinhos e habituais, as paixes em predomnio, que se imiscuem dificultando a sua instalao plenificadora. Frgil, espera a fora da retribuio para prosseguir; incipiente, necessita de estmulos para avanar; sem profundidade, pensa em benefcios que ainda no oferece; receoso, aguarda confirmaes que no chegam... Insistindo, porm, modifica a estrutura e passa a expandir-se com naturalidade, porque se vai empolgando com o prprio ato de ser quem ama. Na primeira fase, porque se encontra com frustraes e irritaes, procurando o amor como soluo ou fuga para o no enfrentamento da realidade difcil em que se debate, claro est que no ser dessa forma que o encontrar. Se, no entanto, reflexiona que esse estado de ansiedade dever ser resolvido antes, a fim de dar guarida ao sentimento afetivo, modifica-se a situao e surgem as manifestaes reais do sentimento a que aspira por interao com o mundo e as suas criaturas. Uma suave calma se lhe apossa e dlcida alegria de viver desenha-se-lhe no ntimo, no mais se afligindo com as mesquinharias do cotidiano, nem se permitindo golpear portas e paredes, mesas e mveis outros quando as ocorrncias no se lhe apresentam ou resultam agradveis. A compreenso dos acontecimentos faz-se diferente e a descoberta de que os problemas devem ser enfrentados conforme surgem e da maneira mais pacificadora, proporciona bem-estar. Garimpo de Amor 73 No mais a irritao e o descontrole tomam conta das suas atitudes, por desnecessrios, havendo outras manifestaes de conduta mais compatveis com a necessidade de soluo dos problemas e dos desafios. Esse o primeiro milagre produzido pelo amor: a mudana em torno dos fenmenos humanos e do mundo com real perspectiva em torno do futuro que a todos aguarda. Logo aps, dilata-se a compreenso em torno do estgio que se vive na Terra, facultando maior entendimento em torno das lutas da evoluo e dos conflitos gerais. Descobre-se qual a mais valiosa contribuio que se pode dar em favor da modificao para melhor do que est ocorrendo na atualidade de qualquer tempo. Conscientizando-se do valor oportuno e grandioso que pode oferecer, mesmo que se

apresente de pequena monta, exatamente esse que ir contribuir em favor da modificao das estruturas gerais da sociedade combalida e aflita. Naturalmente surge uma interao entre o indivduo e a comunidade. Ele se torna elemento de vital importncia em favor do bem geral. O Evangelho de Jesus prope a todos os indivduos que necessrio buscar para alcanar, o que equivale dizer que se torna indispensvel o esforo que todos devem empreender em favor da procura do bem, da sua instalao no ntimo e da sua interao com a Humanidade. 74 Joanna de ngelis/Divaldo Franco Nada melhor nem mais poderoso do que o amor para esse desiderato. Essa busca dever ser consciente e constante, a fim de poder-se alcanar a meta que se tem em mente e se torna essencial para a existncia feliz. E >! Quanto mais amor se d, mais amor se possui para doar. O amor o sentimento fundamental para o estabelecimento da felicidade humana, sem o qual a vida perde o total sentido e significado de que se reveste. Um indivduo rico de amor transforma-se em precioso celeiro, onde todos se podem repletar de alimento vivo. Iniciando o seu priplo no imo de algum que se engrandece com a sua presena, expande-se amplamente, alcanando a tudo e a todos que se lhe encontrem no raio de abrangncia e conquista. Desejando-se um mundo sem angstias nem problemas sociais, livre das misrias econmicas e guerreiras, apele-se para o amor, que possui os recursos hbeis para a conciliao, o perdo, a transformao moral dos indivduos, fomentando o progresso e dirigindo-o no rumo da harmonia geral. 76 Joanna de ngelis/Divaldo Franco Por isso, o amor vida que gera e impulsiona outras vidas, a fim de que alcancem as metas que lhes esto destinadas e podem ser conseguidas se houver empenho e dedicao sob a sua invulgar inspirao. Quanto mais amor se d, mais amor se possui para doar, porque de natureza inesgotvel. Pensa-se que o amor restringe-se ao reduzido grupo da famlia, dos amigos selecionados, dos participantes das atividades afins. Certamente, esse movimento tem a presena do amor que se est instalando no mago do ser, mas que dever percorrer um largo caminho de experincias e amadurecimento.

Outras vezes, acredita-se que o amor se manifesta atravs dos gestos grandiloqentes, das aes exponenciais, das renncias gloriosas, dos sacrifcios e martrios que comovem o mundo e o deslumbram, demonstrando a grandeza da alma humana... Realmente, esses so momentos culminantes do amor, que se inicia e se engrandece a partir de insignificantes oferendas, desde um sorriso gentil a uma palavra calorosa e esclarecedora, de uma ddiva espontnea a um ato de compreenso diante de uma circunstncia perturbadora... Da mesma forma, o no julgamento apressado a respeito de uma ocorrncia infeliz, o auxlio de contemporizao ante litigantes, o silncio oportuno que evita a dissenso, constituem manifestaes do amor na vida, contribuindo em favor da plenitude de todas as vidas existentes e por existirem. A renncia a pequenas satisfaes pessoais, que se transformam em benefcio para outras pessoas, um pensamento ungido de compaixo, so portadores da presena do amor em movimento. Garimpo de Amor 77 Desejando-se amor, imprescindvel amar, no com o carter retributivo, mas com objetivo enriquecedor e feliz. medida que se instala no corao, modifica para melhor o comportamento da pessoa, enseja claridade emocional na sombra dos conflitos, d cor e encanto paisagem dos sentimentos, mesmo quando ainda dominados pelas torpezas e pela treva da ignorncia, auxiliando na inevitvel transformao para ter condies de receber as sementes da verdade e do conhecimento. O amor inexcedvel! No se preocupa na forma como ser recebido, mas na maneira como se expressa, irradiando-se sobranceiro. Santo Agostinho, fascinado com os milagres que o amor opera, declarou enftico: Eu sou apaixonado pelo amor. Essa paixo que tinha pelo amor fez que o dilatasse em favor da Humanidade, tornando-o iluminado, em razo do autoconhecimento a que se entregou, ampliandoo pela esteira dos sculos em benefcio de todas as criaturas. So Francisco de Assis, de tal maneira se embriagou com o elixir do amor e o viveu to intensamente que a sua mensagem afetuosa e simples mudou os rumos da Histria, tornando-se, em consequncia, o pai da Ecologia, o pioneiro do Renascimento, o perfeito imitador de. Jesus, a Quem seguiu com entrega total e paixo imorredoura.

Homens e mulheres que se propuseram a amar, 78 Joanna de Angelis/Divaldo Franco tornaram-se modelos de vida e de plenitude, totalmente integrados no esprito de doao, que a caracterstica fundamental e inapelvel do amor. O mundo atual estertora, porque h carncia de amor em toda parte. Fala-se muito no amor, comenta-se sobre a sua finalidade, estabelecem-se regras e critrios, no entanto, no se o introjeta no corao, a fim de que se externe em palavras e aes, alterando a marcha dos acontecimentos. Por isso, o ser humano enferma, porque se nega vacinao preventiva do amor, ou quando se encontra afetado por alguma doena, recusa-se amorterapia, que o libertaria da injuno afligente. Encontram-se equivocados a seu respeito todos aqueles que aspiram a receb-lo sem a conscincia de o oferecer, aspirando a receber sem dar, a fruir sem sensibilidade para deixar-se impregnar pelos seus fluidos transcendentes. O amor nunca se sacrifica, conforme se pensa equivocadamente, porque tudo quanto realiza, mesmo a peso de muito testemunho e doao, espontneo, no lhe constituindo martrio, antes representando um imenso prazer a bno que persegue e se transforma em alegria de oferecer sem qualquer restrio. Pais, irmos, afetos diversos asseveram que, se necessrio, so capazes de oferecer a vida pela de outrem, desde que seja algum desses a quem se afeioam com ternura e devotamento no lar. , sem dvida, um gesto herico e grandioso, entretanto, na desnecessidade de assim proceder, Nesto convidados a compreender e tol :rar, a perseverar ao seu lado nas horas difceis, a assistir com delicadeza e discriGarimpo de Amor 79 o, passando despercebidos e sem a presena dos holofotes da exibio ou os louros da retribuio. O amor, portanto, um gigante que se faz pigmeu quando necessrio, e quase um nada que se avoluma conforme o momento e as circunstncias que lhe imponham essa modificao de estrutura. Quando algum oferece amor a outrem, ele se vai agigantando e abraando outros que encontra pela frente, porque faz que se desenvolva o seu germe que permanece aguardando os estmulos para desenvolver-se, terminando por abarcar todo o mundo. A religio mais eficiente aquela, portanto, que se fundamenta no amor real, essncia da vida legtima.

Presente em toda a Natureza, porque procedente de Deus, da criatura humana se irradia abrangendo tudo e voltando na direo a Deus. Cultiva o amor no pensamento, externa-o nas palavras e vive-o nas aes, sem preocupao de haveres ou no alcanado o seu sublime clmax. Comea-o agora e segue-lhe a trilha infinita, cada vez amando mais. : Habituar-te-s ao amor de tal forma, que nunca mais poders viver sem ele no corao. 11 O amor nu famlia 1 constri a sociedade do mundo. O amor a mais sublime manifestao do pensamento de Deus, portanto.de origem divina, que deve ser preservado com alegria e distribudo com exuberncia, graas sua potencialidade ilimitada. Procedente do Genitor por Excelncia, torna-se uma forma de ao emocional que se transforma em energia a ser concedida a todos quantos se encontram prximos da sua fonte de exteriorizao. No apenas um sentimento que sofre as injunes da emotividade, alterando-se conforme as ocorrncias do dar e receber, do doar e no ser aceito, do oferecer sem retribuio. Deve transformar-se em uma atividade viva e pulsante, capaz de expressar-se conforme a situao em que se apresente: paternal, fraternal, conjugal, social, geral, abrangente e infinito. 82 Joanna de Angelis/Divaldo Franco Para que atinja esses diferentes nveis, torna-se essencial que se dirija a Deus, de tal forma que inunde a alma de alegria, a fim de poder manifestar-se nas diversas modalidades a que se destina. Com o amor a Deus vicejando nas emoes e traduzindo-se em aes do bem, a famlia passa a constituir o ncleo de maior necessidade da sua vigncia, tomando as formas de conjugal, filial, paternal, maternal...Os pais, em consequncia, so convidados a vivenci-lo em todos os instantes, no somente em relao aos filhos, a fim de que se conscientizem da profundidade de que se reveste, mas tambm para que possam fruir os benefcios que proporciona, como segurana, equilbrio, confiana e entrega. No mesmo sentido, esse amor no deve privilegiar os filhos gentis e generosos, em detrimento daqueles que so difceis e atormentados, ou que apresentam quaisquer distrbios de comportamento, assim podendo desmerecer a afetividade. Se o genitor, contrariado com a atitude rebelde do filho, desconsidera-o, poder criar insegurana nos outros, que passaro a pensar que somente sero amados enquanto

agradarem, submeterem-se s determinaes domsticas e cooperarem em favor da harmonia no lar. Os comentrios cidos a respeito desses descendentes geradores de atritos no podem ser abordados com aspereza, no s porque mais aumenta a distncia deles em relao aos pais, como tambm abre brechas de ressentimentos desnecessrios. Por outro lado, essa atitude demonstra que esse tipo de amor retributivo, homenageando quem o Garimpo de Amor 83 devolve, censurando quem o no aceita e condenando quem o rechaa... Afinal, esse filho ingrato e incapaz de entender o alto significado da famlia, da doao dos pais, que nunca devem alegar o que fazem ou trazer considerao os esforos e empenhos que lhe tm sido direcionados, evitando a impresso de que est havendo uma cobrana, tornando-se uma dvida a ser resgatada na primeira oportunidade... O prprio amor gera um sentimento de compreenso naquele que se v enriquecido pela sua presena, explcita ou no, invisvel mas percebida, sem qualquer imposio verbal ou exigncia comportamental. Naturalmente, quem doa amor, inconscientemente que seja, aspira sua vigncia no mundo, especialmente na famlia. Desabituado a esse sublime investimento, o ser humano, que procede dos instintos primrios e automatistas, somente a pouco e pouco se impregna do seu valor especial, passando a compreender a profundidade do ato de amar. No comeo, algo egosta, permanecendo na consanguinidade, ampliando-se em outros relacionamentos afetivos at alcanar o patamar da comunidade, que nem sequer tem conhecimento do seu benefcio. Como treinamento para melhor fixao no imo da alma, a convivncia, o dilogo positivo, a participao nas atividades dos filhos, o interesse pelos seus estudos, sem exigncias de bons resultados, pelos seus ideais humanitrios, desportivos ou de outra natureza, transformando-se em vnculo de seguran84 Joanna de Angelis/Divaldo Franco a e de estreitamento das relaes saudveis e enriquecedoras do cl. Vivenciada essa experincia, alastra-se para o meio social, irrigando de coragem e bem-estar todos quantos participam da convivncia desse indivduo afvel, os quais passam tambm a assumir comportamento equivalente e produtivo. Tal atitude no significa anuir com os desmandos e desequilbrios que, no poucas

vezes, irrompem nas famlias, gerando tumulto e crises existenciais. Uma atitude enrgica, educativa, no implica uma postura agressiva, mesclada de violncia. O amor estabelece parmetros de respeito e de considerao que devem ser vivenciados, facultando, ao mesmo tempo, ordem e disciplina no aconchego da famlia. Quando esse amor vitalizado pelos exemplos de pacincia e de amizade, impede a virulncia da rebeldia e da tenso domstica. Por sua vez, os filhos so convidados ao amor fraternal, convivendo uns com os outros em clima de concrdia e de afeto, ajudando-se reciprocamente e amparando-se quando necessrio, sem acusaes nem desculpas quando as ocorrncias no sejam corretas. O amor na famlia constri a sociedade do mundo. Provavelmente alguns membros do grupo familiar no consigam alcanar a estrutura afetiva necessria, permanecendo em infncia psicolgica, geradora de insegurana e de mal-estar, descambando para os vcios e as dissenses. Tal ocorrncia, porm, resulta da situao do Esprito ali reencarnado, em si mesmo necessitado de mais amparo, em face dos seus Garimpo de Amor 85 compromissos perturbadores com a retaguarda evolutiva de onde procede sob injunes penosas. Muitas famlias so redutos de batalha, onde se reencontram adversrios de renhidas lutas fratricidas do ontem, em tentativa de recomposio e restabelecimento de vnculos afetivos. Em razo disso, maior dever ser o investimento do amor que no ceda s provocaes nem aos desatinos dos seus membros. Por outro lado, a verdadeira unio dos cnjuges, que sabero renunciar aos caprichos egostas, a fim de no perturbarem a prole, representar o maior investimento para o sucesso familiar. Costuma-se dizer, na atualidade, em unies que foram duradouras, que o amor no existe mais e por isso a separao apresenta-se como inevitvel. Ser o caso, ento, de recomear-se o amor, desconsiderando os sentimentos feridos e magoados, descobrindo novas fontes de inspirao, particularmente havendo uma prole para cuidar. ... E quando ocorrer que a situao se apresente quase insustentvel, h um recurso de que o amor nunca pode prescindir, que a orao, igualmente possuidora de energia divina, porque reaproxima a criatura do Criador e permite que o Criador se comunique com o or ante. Quem ama, ora, e quem perdeu o contato com o amor, mais necessidade tem da orao, a fim de reatar os laos consigo mesmo, com o seu prximo e com Deus.

IS Mediante o amor, todos despertaro para as responsabilidades que lhes dizem respeito. O amor o mais prodigioso fomentador do progresso moral, do qual decorrem todas as demais formas de desenvolvimento. Quando no viceja no ser humano, as conquistas realizadas, por mais brilhantes, tendem destruio ou so filhas especiais do egosmo, que as realiza para atender fins nem sempre respeitveis. A atualidade tem-se feito caracterizar por muitas formas de progresso, que tm impulsionado a cultura e a civilizao a nveis elevados, no obstante a vigncia dos crimes hediondos, da fome estarrecedora, das enfermidades infecto-contagiosas, das guerras contnuas, dos abusos do poder, dos preconceitos ainda no erradicados, da intolerncia de vrio matiz, dos descalabros morais por meio dos vcios destruidores como o alcoolismo, o tabagismo, as drogas qumicas... Joanna de ngelis/Divaldo Franco A Cincia e a Tecnologia tm impulsionado o indivduo a relevantes realizaes, porm esquecidas do amor, e dessa forma as mquinas que ele criou substituem-no, desumanizam-no enquanto o superpovoamento das grandes cidades alucina-o, tornando-o mais agressivo e estressado. No obstante as propostas sociolgicas que se multiplicam, esse cidado perde a identidade e confunde-se na massa que detesta, tornando-se violento e sentindo a sua existncia quase sem objetivo. Os veculos de comunicao, com o seu imenso poder de conduzir notcias, invadem os lares em toda parte, especialmente a televiso, e os abarrotam com informaes ligeiras, raramente esclarecedoras e profundas quando da abordagem dos temas de alta significao, libertadores de conscincia e tranquilizadores da emoo, apresentando, ao invs, muitos fatos escabrosos que ele desconhece e, no poucas vezes, estimulam-no a lutas ferozes, nas quais os demais so-lhe inimigos em potencial. Infelizmente, esses veculos do preferncia s licenas morais devastadoras, criando uma cultura pessimista e reacionria, na qual o dio, a frustrao, o desespero assumem papel de importncia na conduta interior e na maneira de viver na sociedade. A famlia, embora o patrimnio multimilenrio de que se constitui, sofre os camartelos da agitao e do desconcerto de que se tornou vtima, transtornando-se e esfacelando-se, tornando-se campo de rudes batalhas malsucedidas. ... E o ser humano superconfortado transita sob injunes tormentosas, derrapando em transtornos neurticos, psicticos, mergulhando no fosso da desolao.

Garimpo de Amor 89 Sucede que o progresso, sem amor, est sem Deus, portanto, sem o alicerce seguro do equilbrio e da libertao das vidas dos seus atavismos primitivos, que as escravizam no primarismo de onde procedem. Torna-se urgente uma reviso de conceitos em torno do progresso e das suas propostas, a fim de que seja realizada uma ao renovadora e saudvel, propiciando relacionamentos felizes entre as criaturas. Esse ministrio somente pode ser desempenhado pelo amor. inevitvel que a mquina robotize muitas atividades, solucionando com razovel perfeio os misteres que lhe esto programados. Entretanto, cumpre ao ser humano encontrar solues outras e mecanismos sbios para atender aos desempregados, queles que foram substitudos nas empresas e fbricas, nos laboratrios e no campo... Tal compromisso diz respeito ao amor e compaixo. O amor fomenta o progresso, nunca eliminando a criatura humana, sua meta e seu destino. De que adianta um mundo tecnologicamente bem equipado, com criaturas fantasmas de si mesmas, sem objetivos de alta significao, transitando entre aspiraes imediatas e prazeres fugidios? O ser humano o grande investimento da Divindade, que aplicou centenas de milhes de anos na sua construo, conduzindo-o, passo a passo, na longa travessia das experincias de crescimento. Mediante o amor, de que se constitui, e na maioria ainda se encontra em latncia, conseguir romper 90 Joanna de ngelis/Divaldo Franco os envoltrios resistentes, para sair a flux e desenvolver as aptides, aumentando o campo de realizaes que lhe dizem respeito. Por meio da lucidez do amor, a Tecnologia trabalhar em favor da paz, jamais promovendo guerras de extermnio, a soldo das ambies desmedidas de indivduos e de governos alucinados, egotistas e mercenrios. Os poderosos auxiliaro os fracos, emulando-os conquista de recursos dignos, mediante os quais adquiriro valores para a existncia saudvel. O comrcio ter caractersticas humanitrias e no apenas de explorao do homem pelo homem, gerando a escravido monetria, qual vem ocorrendo lastimosamente.

As indstrias respeitaro os direitos do cidado, mediante horrios de trabalho justo e espaos para repouso, espairecimento e estudo, mas tambm preservaro a Natureza. O ser humano no foi criado para ter as suas foras exauridas, como se fora uma alimria infeliz, no justo momento em que os amigos dos animais levantam-se para profligar contra o abuso e a impiedade com que muitos os tratam. A agricultura receber maior respeito, tornandose milagroso instrumento de proviso para as multides, que no mais experimentaro fome ou escassez de alimentos. O trfico, em todas as formas como se apresente, ser diludo na solidariedade que h de viger entre os seres pensantes da Terra. Porque, mediante o amor, todos despertaro para as responsabilidades que lhes dizem respeito, e no Garimpo de Amor 91 apenas para os interesses mesquinhos que os submetem s tormentosas lutas de predomnio e de loucura. Como possvel uma sociedade, na qual alguns poucos detm o poder financeiro, que todo o restante da populao do mundo, somada, no consegue sequer aproximar-se, menos ultrapassar?! Como estabelecer-se uma cultura, em nome do progresso, na qual a misria total espia com ira a abundncia e o desperdcio acintoso dos poderosos?! Como aguardarse a paz social, estabelecida por tratados internacionais de convenincia, firmados pelas Naes mais desenvolvidas e ricas da Terra, olvidandose dos estertores agnicos daquelas outras que lhes sofrem as injunes penosas, na condio de escravas, sem direito palavra, liberdade, esperana, encontrando-se na linha abaixo da misria estabelecida?!... Tudo isso ocorre somente porque o amor no foi consultado, quando se cuidou de desenvolver o progresso do mundo, longe dos sentimentos da compaixo e da solidariedade para com o prximo, que no apenas aquele que est mais perto, seno todos os seres existentes. O amor verdadeiro, portanto, aquele que se estabelece em todos os segmentos sociais, culturais, cientficos, religiosos, artsticos, priorizando sempre a criatura humana, seu objetivo, sua razo de existir... Com o seu hlito vivificador, comanda as conscincias e