14 Bis o avião do primeiro voo homologado da história da aviação

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O 14-Bis- aeronave utilizada no primeiro voo de avião homologado da história da aviação Esta matéria esta disponível na Aviação e Mercado, edição 5 https://www.yumpu.com/user/a350. Texto Cláudia Terra #cmdterra Há 111 anos, precisamente em 12 de novembro de 1906, na França. O voo de 220 metros do 14-Bis, com o seu inventor e cmte Alberto Santos Dumont, foi homologado pela Federação Aeronáutica Internacional (FAI) como o primeiro recorde mundial da aviação. Foi um recorde de distância de voo, sem escala, de um aparelho mais pesado que o ar. A FAI também considera o penúltimo voo do 14-Bis do dia 12 como o primeiro recorde de velocidade, com 41,292 km/h. O 14-Bis, também conhecido como Oiseau de Proie (francês para “ave de rapina”), foi construído por Santos Dumont. A

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O 14-Bis- aeronave utilizada no primeiro voo de avião homologado da

história da aviação

Esta matéria esta disponível na Aviação e Mercado, edição 5

https://www.yumpu.com/user/a350.

Texto Cláudia Terra #cmdterra

Há 111 anos, precisamente em 12 de novembro de 1906, na França. O voo de 220

metros do 14-Bis, com o seu inventor e cmte Alberto Santos Dumont, foi homologado

pela Federação Aeronáutica Internacional (FAI) como o primeiro recorde mundial da

aviação. Foi um recorde de distância de voo, sem escala, de um aparelho mais pesado

que o ar. A FAI também considera o penúltimo voo do 14-Bis do dia 12 como o

primeiro recorde de velocidade, com 41,292 km/h. O 14-Bis, também conhecido como

Oiseau de Proie (francês para “ave de rapina”), foi construído por Santos Dumont. A

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Fédération Aéronautique Internationale (FAI) é um órgão internacional criado em

1905, que governa e regulariza os esportes aéreos no mundo. Sua criação surgiu da

necessidade de estabelecer critérios aceitos internacionalmente para decidir se um

aparelho mais pesado que o ar podia, de fato, voar. É ela quem homologa todos os

campeonatos mundiais e recordes de desportos aéreos e astronáuticos ( espacial). No

Brasil ela é representada pela CAB (Comissão do Aerodesporto Brasileira), fundada em

25 de abril de 1997, no Rio de Janeiro - RJ. A FAI tem como objetivo principal encorajar

o desenvolvimento do aerodesporto em todo o planeta. As suas áreas de competência

abrangem múltiplas atividades aéreas como acrobacias aéreas, os hidroaviões, aviões,

os helicópteros, os balões, os dirigíveis, os parapentes, as asas delta, os planadores, os

saltos de paraquedas, os veículos espaciais, etc.

A revista norte-americana “National Aeronautics” (nº 12, volume 17, de 1939), órgão

oficial da “National Aeronautics Association” sediada em Washington (EUA), também

registrou o voo de 220 metros de Santos Dumont, realizado em 12 de novembro de

1906, como o primeiro recorde de aviação do planeta Terra. A revista descreveu os

posteriores recordes de distância de voo. Santos Dumont ainda realizou outros

pequenos voos com o 14-Bis. Cinco meses depois, encerrou os ensaios com o famoso

aparelho. Em abril de 1907, no campo da Escola Militar, em Saint Cyr, Paris, depois de

um voo de 30 metros, pousou bruscamente, tocando com a asa esquerda no solo,

danificando definitivamente a aeronave.

A principal conquista de Santos Dumont foi ser o primeiro homem no mundo a voar

em uma máquina mais pesada que o ar utilizando unicamente os recursos do próprio

aparelho. Ele construiu e pilotou um avião, cumpriu todos os requisitos básicos de voo

usando apenas os meios de bordo: táxi, decolagem, voo nivelado e pouso. Além disso,

foi o primeiro que demonstrou isso publicamente. Seu voo pioneiro contou com o

testemunho de multidão, a filmagem foi realizada por uma companhia cinematográfica

e o reconhecimento e a homologação do órgão oficial de aviação da época, o L’Aéro-

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Club de France.Todos os voos de Dumont eram acompanhados pela imprensa de

vários países e pelo público, em Paris. Se na época existisse internet ele transmitiria

muitos vídeos ao vivo com suas aventuras aeronáuticas de todo os seus inventos. Além

disso, suas patentes sempre foram liberadas e qualquer pessoa poderia aventurar-se a

reproduzir qual quer dos seus inventos de sucesso, como aconteceu com o Demoiselle,

o “pai dos ultraleves”, que foi bastante reproduzido em vários países. No Brasil, o IAB

(Instituto Arruda Botelho), em 2005, construiu uma réplica do Demoiselle. Foi o marco

inicial das ações do IAB em prol do resgate histórico de Santos Dumont, mostrando ao

Brasil e ao mundo os feitos do pioneiro e sua contribuição para a aviação mundial. O

Projeto Demoiselle foi importante também para mostrar a qualidade da formação de

mão de obra especializada na restauração e manutenção de aeronaves antigas e

clássicas pelo instituto, que neste projeto, trabalhou em parceria com a Escola de

Engenharia de São Carlos (USP), SESI e SENAI. O Demoiselle, com apenas 50 kg, foi

uma aeronave excepcional que influenciou toda a indústria da aviação, em

especialmente a europeia, no começo do século XX.

A denominação do famoso 14-Bis, veio do fato de Santos Dumont, inicialmente, testar

o novo aparelho acoplando-o ao seu balão dirigível nº 14. O Prêmio Archdeacon,

estabelecido em julho de 1906, estimulou os inventores do mundo para a realização

do primeiro voo autônomo com mais de 25 metros de um aparelho mais pesado que o

ar. Santos Dumont, que até então se destacara com os “mais leves que o ar” (balões de

ar quente e balões-dirigíveis), resolveu competir. Em 18 de julho, de 1906, concluiu o

14-Bis l, cuja concepção estava sendo por ele pensada, em silêncio, há algum tempo.

Em 23 de julho, já fez um teste em público, em Bois de Boulogne, Paris. Inicialmente, o

novo avião estava preso ao balão-dirigível nº 14. A função do balão era reduzir o peso

efetivo do aeroplano e facilitar a decolagem. Mas o dirigível gerava muito arrasto e

não permitia ao avião desenvolver velocidade. Dentre os dias 21 a 23 de agosto,

Dumont passou a experimentar o voo com a aeronave desconectada do dirigível. Após

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uma primeira corrida sem decolar, na segunda tentativa o aeroplano elevou-se do

chão e voou. Entretanto a sua estabilidade não agradou a Santos-Dumont, que mesmo

assim, declarou-se satisfeito.

No dia 3 de setembro de 1906 foi instalado o motor náutico Levasseur “Antoinette” de

50 cavalos a vapor, em substituição ao motor de 24, que estava sendo utilizado. Assim,

ele melhorou a potência do 14-Bis e conseguiu fazer um voo de 11 metros, em 13 de

setembro de 1906, mas, infelizmente o pouso brusco danificou a estrutura e o motor

do avião, quebrou o trem de pouso (eram rodas grandes), interrompendo os testes. A

fuselagem do 14-Bis era de seda japonesa, com armações de bambu e pinho; as

junções da estrutura e as hélices eram de alumínio e os cabos de comando eram de

aço. O 14-Bis, modelo batizado na aviação, como canard (pato, em francês), por

apresentar os lemes na parte dianteira do avião, lembrando um pato em voo. A

configuração “canard”, não é a melhor para a estabilidade e o controle de uma

aeronave. Diante das configurações e sucesso da aviação, o canard parece voar ao

contrário. Santos Dumont, nos seus inventos seguintes, como no Demoiselle, seu

ultimo invento, não mais usou o canard.

Mas, Santos-Dumont construiu o 14-Bis II, fez novas modificações no avião: envernizou

a seda das asas para aumentar a sustentação, retirou a roda traseira, por atrapalhar a

decolagem e cortou a estrutura de suporte da hélice. Em 23 de outubro, de 1906, no

campo de Bagatelle, após várias tentativas, percorreu 60 metros em sete segundos, a

uma altura de aproximadamente 2 metros, perante mais de mil espectadores. Esteve

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presente a Comissão Oficial do Aeroclube da França, entidade reconhecida

internacionalmente e autorizada a homologar qualquer evento significante, tanto no

campo dos dirigíveis, como no dos mais pesados que o ar, os aviões. Novamente,

porém, o pouso brusco danificou as rodas do avião. O 14-Bis II ainda não era

totalmente controlável.

Em 23 de outubro de 1906, às 16h45min, após corrida no solo de 220m, voou à altura

de 6metros com duração de 21 s e 1/5 e velocidade média de 37,4 km/h. Santos

Dumont conquistou, com esse voo, o Prêmio Archdeacon, oferecido pelo empresário

francês Ernest Archdeacon ao primeiro aviador que conseguisse voar a distância de 25

metros, com ângulo máximo de desnivelamento de 25 %. Além do Aeroclube da

França, a Federação Aeronáutica Internacional (FAI) reconheceu a conquista do

prêmio, pois o 14-Bis voara muito mais do que o limite mínimo de 25 metros

estabelecido. Todavia, aquele voo de 60 metros, em 23/10/1906, não teve todas as

precisas medições pela FAI necessárias para a formal homologação do recorde, as

quais a federação veio a tê-las em outra experiência, duas semanas após, em 12 de

novembro de 1906. Nessa data, agora com o 14-Bis III, última versão dessa aeronave

icônica. Desta vez, provida dos ailerons, mais um invento do aviador pioneiro, para

ajudar na direção, Dumont voo à distância de 220 metros, em 21,5 segundos,

estabelecendo o recorde de distância da época. Esse enorme feito foi registrado pelo

pela FAI e pelo Aeroclube da França.

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Especificações técnicas do 14-Bis III: avião experimental, monoplace, envergadura de

12m, comprimento 10m, altura 4,8m, superfície das asas 80m², largura das asas 2,5m,

separação entre os dois planos das asas 1,5m, conjunto estabilizador, profundor, leme

de direção (simplificadamente, “lemes”) 3m de largura, 2m de comprimento e 1,5m de

altura, hélice de 2 pás 2,5 m de diâmetro, peso vazio 160kg, motor 50hp,velocidade

máxima 30,8 km/h.

Em 14 de abril de 1907 o 14-Bis III realizou seu último voo. Após tentativas frustradas

de estabilizar a aeronave, Santos-Dumont perdeu o controle e bateu contra o chão. Ao

invés de reparar o avião, Santos-Dumont preferiu canibalizar as peças do protótipo

para outros projetos. O motor equipou os projetos 15, 16 e 18, as hélices e as rodas

também foram aproveitadas em outros aparelhos, como o Demoiselle, segunda

aeronave mais famosa projetada e construída pelo conquistador dos céus, Santos

Dumont.

Atualmente existem muitas réplicas do 14-Bis e elas voam, quando construídas com base

nas plantas originais do inventor. Uma delas, construída pelo empresário Alan Calassa

em 2004, esteve presente em Brasília-DF para as comemorações do centenário do

primeiro voo celebrado em 2006, que está no Museu do Ar da Força Aérea Portuguesa.

Mas, além das réplicas para voar, há muitas outras feitas especificamente para

exibição em museus de vários países e para monumentos em aéreas públicas.

Em 18 de setembro de 1909, com o Demoiselle nº 22, aos 36 anos de idade, Santos

Dumont realizou o seu último voo como piloto, segundo vários de seus biógrafos. Em

Saint Cyr, Paris, ele sobrevoou o público com os dois braços abertos, fora dos

comandos e um com um lenço em cada mão, acenou e soltou-os em voo e com isso foi

muito aplaudido. Alberto Santos Dumont era descendente de imigrantes, como a

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maior parte do povo do Brasil, na época. Era neto de franceses, por parte de pai, e

bisneto de portugueses, por parte de mãe, nasceu em Santos Dumont-MG, sua casa

de nascimento foi transformada em um museu, o Museu Gabangu

(http://www.museudecabangu.com.br/), que abriga centenas de documentos,

imagens e objetos pessoais de Dumont e uma aérea verde arborizada com lagos e

chafariz construído por ele próprio, quando retornou da França. Dumont sempre

destacou o seu orgulho de ser brasileiro e sempre dizia serem dos brasileiros o seu

sucesso e suas conquistas ímpares para a humanidade. O “Pai da Aviação”, Alberto

Santos Dumont, é um dos maiores orgulhos nacionais de todos os tempos. Esse

pequeno (tinha menos de 1,60 cm de altura) grande homem de mente e atitudes

brilhantes, ajudou a estarmos aqui, voando e falando de aviões, unidos por uma

paixão, a aviação, a final “as coisas são mais belas quando vistas de cima”, Santos

Dumont.