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Um dos temas mais discutidos na relao escola-cidado,
atualmente, a questo do letramento. Desde os estudos precursores, no
Brasil, de Magda Soares, o letramento vem sendo cada vez mais debatido
e ampliado, como comprova o mais recente livro de Roxane Rojo
(Letramentos mltiplos, escola e incluso Social. So Paulo: Parbola,
2009).
Doutora em lingustica aplicada ao ensino lnguas pela PUC- SP e
professora do curso de letras e do programa de ps-graduao em
lingustica aplicada da UNICAMP, Roxane Rojo tem se dedicado a
pesquisas, consultorias e assessorias junto a entidades pblicas e privadas
relacionadas educao, tendo se empenhado, ultimamente, nos estudos
acerca do letramento e suas derivaes.
Seu livro inicia-se pelo relato do insucesso da escola nas prticas de
ensino, explora as diferenas que h entre a aprendizagem do cidado
dentro e fora da escola e analisa a importncia do contato do indivduo
com os diversos meios de leitura e prticas sociais. Por meio de grficos e
dados diversos, a autora compara o crescimento nos nveis de leitura,
comparando-o ainda educao das ltimas dcadas e ressaltando a
melhoria na educao brasileira, em razo de alguns programas de
ROJO, Roxane. Letramentos mltiplos, escola e incluso social.
So Paulo: Parbola, 2009.
Mrcia Moreira Pereira*
*Possui graduao em Letras pela Universidade Nove de Julho e Ps-Graduao
lato sensu em Traduo: Ingls-Portugus, pela mesma universidade. Atualmente
faz Mestrado em Educao na Universidade Nove de Julho e atua como professora
de lngua portuguesa na rede pblica de ensino.
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incentivo governamentais (PNLD, PNLEM, PNBE, PROUNI etc.). Tais
recortes, contudo, no dispensam uma visada crtica, em que a autora
destaca o insucesso escolar apontado por alguns indicadores, como o
Programa Internacional de Avaliao de Estudantes (PISA, 2000),
segundo o qual os brasileiros obtiveram um dos piores resultados no
mbito educacional global: [...] isso vem demonstrar, explica a autora,
que a escola tanto pblica como privada, neste caso parece estar
ensinando mais regras, normas e obedincia a padres lingsticos que o
uso flexvel e relacional de conceitos, a interpretao crtica e posicionada
sobre os fatos e opinies, a capacidade de defender posies eprotagonizar solues, apesar de a nova LDB j ter doze anos. (p. 33)
Tratando especificamente do tema do livro e apoiando-se nos
conceitos elaborados por Magda Soares, Roxane Rojo lembra que o
alfabetismo , na verdade, [...] um conceito que disputa espao com o
conceito de letramento(s). Se tomarmos a alfabetizao como a ao de
alfabetizar, de ensinar a ler e escrever, que leva o aprendiz a conhecer o
alfabeto, a mecnica da escrita/leitura, a se tornar alfabetizado,
alfabetismo pode ser definido como o estado ou condio de quem sabe
ler e escrever. (p. 44). Nesse sentido, afirma, especificando melhor o
conceito de letramento: [...] para ler (...) no basta conhecer o alfabeto
e decodificar letras e sons da fala. preciso tambm compreender o que
se l, isto , acionar o conhecimento de mundo para relacion-lo com os
temas do texto, inclusive o conhecimento de outros textos/discursos
(intertextualizar), prever, hipotetizar, inferir, comparar informaes,
generalizar. preciso tambm interpretar, criticar, dialogar com o texto:
contrapor a ele seu ponto de vista, detectando o ponto de vista e a
ideologia do autor, situando o texto com seu contexto. (p. 44)
Assim, os primeiros captulos de seu livro abordam a questo dos
ndices de alfabetismo e a leitura, aprofundando-se nestes assuntos e
levando a autora a retomar o tema da responsabilidade da escola em no
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considera as verses fraca e forte do conceito de letramento. A verso
fraca [...] estaria ligada ao enfoque autnomo, (neo) liberal e estaria
ligada a mecanismos de adaptao da populao s necessidades e
exigncias sociais do uso da leitura e escrita, para funcionar em
sociedade (p. 100). J a verso forte [...] seria revolucionria, crtica, na
medida em que colaboraria no para adaptao do cidado s exigncias
sociais, mas para o resgate da autoestima, para construo de identidades
fortes para a potencializao de poderes [...]. (p.100)
A partir dessas distines, e baseando-se nas ideias de M. Hamilton,
Roxane Rojo passa a analisar o conceito central do livro, a idia demultiletramentos ou letramentos mltiplos, considerando, na mais tpica
ideologia freiriana, que no devemos ignorar o mundo do aluno, devendo
ensin-los por meio dele: [...] muitos dos letramentos que so influentes
e valorizados na vida cotidiana das pessoas e que tm dupla circulao
so tambm ignorados e desvalorizados pelas instituies educacionais
(p. 106). Desse modo, enfatiza, finalmente, a importncia das redes
sociais no ensino: para a autora, a escola, em vez de considerar esses
meios como ferramenta para aproximao do aluno, ignora que os
adolescentes de hoje se comunicam pelo que chama de internets,
modalidade discursiva que deveria ser includa e no ignorada no
ensino: [...] um dos objetivos principais da escola justamente
possibilitar que seus alunos possam participar das vrias prticas sociais
que se utilizam da leitura e da escrita (letramentos) na vida da cidade, de
maneira tica, crtica e democrtica (p. 107). Segundo a autora, para
faz-lo, preciso que a educao lingstica leve em conta hoje, de
maneira tica e democrtica: os multiletramentos ou letramentos
mltiplos, letramentos multissemiticos e os letramentos crticos e
protagonistas.
Roxane Rojo finaliza o livro colocando em foco a necessidade de
escola e aluno andarem juntos, no de modo distante, metodolgico, mas
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