16655 6 - Resumo e Palavras-chave

4
784 Resumo A evolução histórico-dogmática mostra que as normas de protecção surgem no Código Civil Alemão no quadro da separação pandectística da ilicitude e da culpa e da individualização de situações básicas de responsabilidade civil delitual. Este modelo germânico, jheringiano - autonomizando ilicitude e culpa - e windscheidiano - assentando em duas variantes da ilicitude, violação de direitos subjectivos e normas de protecção - foi adoptado pelo Código Civil Português. As normas de protecção têm como escopo mais significativo o alargamento da tutela delitual aos interesses puramente patrimoniais. As normas de protecção ganham maior relevo nos sistemas continentais quando se superam os quadros do individualismo liberal. O estudo de direito positivo salienta que a relevância das normas de protecção deriva de representarem uma via de consagração e de ampliação da protecção delitual de interesses puramente patrimoniais, protecção que tem de constituir o objectivo da norma. A revalorização do papel das normas de protecção no sistema delitual implica o seu afastamento do modelo da norma penal e a recusa da sua equiparação à responsabilidade por contrariedade ao mínimo ético-jurídico. A aplicação prática das normas de protecção convoca um modelo de pressupostos da responsabilidade delitual mais próximo da faute de tipo napoleónico, em que se aproximam ilicitude, culpa e causalidade, verificando-se um alargamento da ilicitude e um encurtamento da culpa. No entanto, não é de prescindir da culpa e da causalidade na responsabilidade por violação destas normas, nem defender um modelo domatiano na sua aplicação. Palavras-chave: Norma de protecção/delito/responsabilidade/danos puramente patrimoniais/ilicitude/culpa/causalidade

description

16655 6 - Resumo e Palavras-chave

Transcript of 16655 6 - Resumo e Palavras-chave

  • 784

    Resumo

    A evoluo histrico-dogmtica mostra que as normas de proteco surgem no

    Cdigo Civil Alemo no quadro da separao pandectstica da ilicitude e da culpa e da

    individualizao de situaes bsicas de responsabilidade civil delitual. Este modelo

    germnico, jheringiano - autonomizando ilicitude e culpa - e windscheidiano -

    assentando em duas variantes da ilicitude, violao de direitos subjectivos e normas de

    proteco - foi adoptado pelo Cdigo Civil Portugus. As normas de proteco tm

    como escopo mais significativo o alargamento da tutela delitual aos interesses

    puramente patrimoniais. As normas de proteco ganham maior relevo nos sistemas

    continentais quando se superam os quadros do individualismo liberal.

    O estudo de direito positivo salienta que a relevncia das normas de proteco

    deriva de representarem uma via de consagrao e de ampliao da proteco delitual

    de interesses puramente patrimoniais, proteco que tem de constituir o objectivo da

    norma. A revalorizao do papel das normas de proteco no sistema delitual implica o

    seu afastamento do modelo da norma penal e a recusa da sua equiparao

    responsabilidade por contrariedade ao mnimo tico-jurdico. A aplicao prtica das

    normas de proteco convoca um modelo de pressupostos da responsabilidade delitual

    mais prximo da faute de tipo napolenico, em que se aproximam ilicitude, culpa e

    causalidade, verificando-se um alargamento da ilicitude e um encurtamento da culpa.

    No entanto, no de prescindir da culpa e da causalidade na responsabilidade por

    violao destas normas, nem defender um modelo domatiano na sua aplicao.

    Palavras-chave: Norma de proteco/delito/responsabilidade/danos puramente

    patrimoniais/ilicitude/culpa/causalidade

  • 785

    Zusammenfassung

    Der erste Teil der Dissertation zeigt, dass die Schutzgesetze im Brgerlichen

    Gesetzbuch im Rahmen der pandektistischen Trennung der Rechtswidrigkeit und der

    Schuld und der Verselbststndigung der verschiedenen Tatbestnde der Delikthaftung

    auftreten. Dieses deutsche Modell, das den Gedanken von Jhering zusammenfasst -

    indem es Rechtswidrigkeit und Schuld verselbststndigt, und den von Windscheid

    indem es auf zwei Varianten der Rechtswidrigkeit, der Verletzung der subjektiven

    Rechte und der Schutzgesetze grndet -, wurde vom portugiesischen Cdigo Civil

    bernommen. Bedeutsamstes Ziel der Schutzgesetze ist die Ausdehnung des

    deliktischen Schutzes auf die reinen Vermgensinteressen (reiner Vermgensschaden).

    Die Schutzgesetze gewinnen grere Bedeutung in den kontinental-europischen

    Rechtssystemen, wenn man den Rahmen des liberalen Individualismus berwindet.

    Der zweite Teil der Dissertation stellt klar, dass sich die Relevanz der

    Schutzgesetze aus der Vergrerung des deliktischen Schutzes fr die reinen

    Vermgensinteressen ergibt, der das Ziel der Norm bilden muss. Die Neubewertung der

    Rolle der Schutzgesetze im Deliktsystem setzt deren Entfernung vom Strafgesetzmodell

    und die Ablehnung ihrer Gleichsetzung mit der Haftung fr Verletzung der guten Sitten

    voraus. Die praktische Anwendung der Schutzgesetze bei der Lsung konkreter Flle

    erfordert ein dem napoleonischen Typus der faute nher stehendes Modell an

    Voraussetzungen fr die Delikthaftung, in dem sich Rechtswidrigkeit, Schuld und

    Kausalitt annhern, wobei eine Erweiterung der Rechtswidrigkeit und eine Verkrzung

    der Schuld stattfindet. Allerdings ist bei der Haftung fr die Verletzung dieser Normen

    nicht auf die Schuld und die Kausalitt zu verzichten.

    Schlagwort: Schutzgesetz/Unerlaubte Handlung/Haftung/reiner

    Vermgensschaden/Rechtwidrigkeit/Verschulden/Kausalitt

  • 786

    Rsum

    Lvolution historico-dogmatique montre que les normes de protection

    apparaissent dans le Code civil allemand dans le cadre de la sparation pandectiste entre

    lillicit et la faute et dans celui de lindividualisation de situations de base de

    responsabilit civile dlictuelle. Ce modle germanique, jheringuien rendant

    autonomes illicit et faute et windscheidien - se basant sur deux variantes de

    lillicit, violation des droits subjectifs et des normes de protection a t adopt par le

    Code civil portugais. Les normes de protection ont comme objectif le plus significatif

    llargissement de la tutelle dlictuelle aux intrts purement conomiques. Les normes

    de protection sont plus importantes dans les systmes continentaux quand les cadres de

    lindividualisme libral sont dpasss.

    Ltude du droit positif souligne que limportance des normes de protection

    vient de ce quelles reprsentent une voie de conscration et daugmentation de la

    protection dlictuelle dintrts purement conomiques, protection qui doit constituer

    lobjectif de la norme. La revalorisation du rle des normes de protection dans le

    systme dlictueux implique leur loignement du modle de la norme pnale et le refus

    de les rendre quivalentes la responsabilit par contrarit au minimum thico-

    juridique. Lapplication pratique des normes de protection appelle un modle de

    conditions pralables de la responsabilit dlictuelle plus proche de la faute de type

    napolonien, o lon rapproche illicit, faute et causalit, donnant lieu un

    largissement de lillicit et une rduction de la faute. Cependant, il ne faut pas

    renoncer la faute et la causalit dans la responsabilit pour violation de ces normes,

    ni dfendre un modle domatien dans leur application.

    Mots-cl : norme de protection/dlit/responsabilit/dommage purement

    conomique/illicit/faute/causalit

  • 787

    Abstract

    Historical and dogmatic evolution shows that protection norms have appeared

    in the German Civil Code in the context of the pandectistic separation between

    unlawfulness and fault and of the individualization of fundamental situations of civil

    liability. This German model, both Jheringian, since it gives autonomy to illicitness and

    fault, and Windscheidian, as it is based on two variants of unlawfulness, the violation of

    rights and protection norms, was adopted by the Portuguese Civil Code. Protection

    norms have as their most significant aim the expansion of the protection against tort in

    order to encompass pure economic interests. The importance of protection norms is

    increased in the Continental systems when the frames of liberal individualism are

    overcome.

    The study of Positive Law emphasises that the relevance of protection norms

    derives from the fact that they represent a means of consecrating and amplifying the tort

    protection of pure economic loss, and that this protection must constitute the aim of the

    norm. The revalorization of the role that the protection norms play on the continental

    civil liability system implies its withdrawal from the criminal norm model and the non

    acceptance of its levelling with the liability that comes from the opposition to the ethical

    minimum. The practical application of protection norms summons a model of civil

    liability presuppositions that is more similar to the Napoleonic concept of faute, where

    unlawfulness, fault and causation are brought together, and where there is a widening of

    unlawfulness and a shortening of fault. Nevertheless, one should neither renounce fault

    and causation in the liability that derives from the damages caused with the violation of

    these norms, nor defend a Domatian model in its application.

    Key-words: Protection norms/torts/ liability/pure economic

    loss/unlawfulness/fault/causation