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    COLE O INICI O VOLUME 19

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    HISTRIA DO BRASILESCRAVIDO / EDUCAO

    Canalizao: Prof. Hlio Couto / Osho / Dra. Mabel Cristina Dias

    Dra. Mabel:

    Boa Tarde a todos. Obrigado pela presena.

    Hoje abordaremos dois temas muito importantes que do sequncia aoque comeamos a tratar na ltima palestra: Rasgando o Vu -Descontruindo a Engenharia do Consentimento. A Engenharia doConsentimento todo um plano traado para haver consentimento dapopulao para tudo que se faz, a fim de dominar as massas, e nissoesto includas, tambm, a Educao e a Escravido.

    Ns achamos que a escravido terminou, um passado vergonhoso queterminou h cento e trinta anos aqui no Brasil, mas isto no verdade.

    O Brasil tem certo desconforto em falar sobre este tema. As pessoasnegam, veementemente, que haja qualquer tipo de preconceito,qualquer tipo de discriminao racial neste pas. Inclusive, a imagemque temos l fora - isso desde a Abolio da Escravido, desde aProclamao da Repblica - a imagem que passamos de um pasondetudo pode. Aqui h toda uma diversidade de religies e aceita-

    se tudo, todas as raas convivem bem, igualmente, e h oportunidadeigual para todos.

    Vamos dissecar a escravido e o que ela faz, seus ecos at os dias dehoje, que so origem e manuteno de toda a desigualdadesocioeconmica entre as duas principais populaes do pas: osbrancos ou caucasianos e os afrodescendentes. Faremos uma viagemcom vocs a esse passado tenebroso, e que permanece at os dias dehoje. Na segunda parte conversarmos sobre Educao.

    A educao, a nosso ver, o nico blsamo capaz de curar, aliviar aschagas abertas da escravido at hoje neste pas, e tambm umavacina para que episdios monstruosos como esse no voltem a serepetir.

    Como j foi dito aqui, a escravido sempre existiu, e ela no acontecesomente neste setor, mas ns somos escravos tambm. Qual o tipode escravido que carregamos? E a Educao como uma maneira, oremdio, para curar tudo isso.

    O que estamos fazendo aqui, nestas palestras, o Hlio h alguns anose eu, recentemente, trazer um pouco da Educao, no umaEducao formal de instruo, mas uma Educao diferente, para a

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    bem claro. Quando um canal recebe um trabalho para fazer, vindodiretamente de cima, ele recebe conhecimentos, comandos que s elepossui para que possa desenvolver o trabalho e se evite a deturpaodo mesmo. Porque sempre h seres, de todas as dimenses, quequerem destruir o trabalho do Bem. Ento, para que se possa proteger

    isto, o canal exclusivo e tm comandos, conhecimentos, habilidades,que foram transmitidos para ele, a fim de executar corretamente, semque haja a interferncia, de outras pessoas, que no avaliamcorretamente a importncia e a responsabilidade do trabalho. Estaspessoas podem ter viso estritamente comercial, achando que podeser uma franquia ou, falando em termos populares, uma pirataria.Como isso no Brasil muito comum, inevitavelmente, poderiaacontecer comAs Chaves de Nefertitee a Ressonncia Harmnica.

    Antes que isto adquira propores e o dano seja irreversvel, que

    muitas pessoas comecem a falar l fora e divulgar, seja l onde for,que tambm recebem, canalizam e podem fazer tanto o trabalhoAsChaves de Nefertitequanto o da Ressonncia Harmnica, para que seevite isto que hoje est sendo dado este aviso. Se, com o nmeromnimo de pessoas sabendo do trabalhoAs Chaves de Nefertite,nomomento, j existe este perigo em andamento, ento imaginem daquia um ano, dois, cinco, com transmisso direta etc. Em breve, quantaspessoas haver falando que so canais destes trabalhos?

    Na espiritualidade, existem diversos trabalhos prontos para serem

    desenvolvidos, aplicados aqui na nossa dimenso, na dimenso devocs. Diversos trabalhos. Quem quiser, estiver disposto a trabalhar,a ajudar os irmos na evoluo, e s pensar com as pessoasresponsveis, que eles direcionaro para uma rea em que essa pessoaesteja apta a executar.

    Portanto, realmente no h necessidade, para quem tem boa intenode ajudar a espiritualidade, de copiar nenhum trabalho que esteja emandamento, porque o dano enorme, no s para quem faz isso, maspara as pessoas que credulamente acreditaro que tambm fulano de

    tal faz.No d para passar em branco, j que chegou ao conhecimento doHlio esse assunto, porque ficar documentada neste DVD aadvertncia: No se deve piratear o trabalho da RessonnciaHarmnica eAs Chaves de Nefertite.

    Escravido

    Em 1441, durante muito tempo, o infante Dom Henrique perseguiu aideia de conseguir riquezas de uma maneira mais fcil. Ele enviava osnavios, seguidamente, frica, para que vasculhassem tudo que

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    pudessem e trouxessem riquezas para Portugal. Todo esse esforo deuos seus frutos.

    Em 1441 Gonalves, o ento navegador, aprisionou e conseguiu trazerseis dzias de azenegues, da Costa do Saara. Imaginem a festa que

    foi quando essa nau chegou a Portugal, com a seis dzias de negros.Foi como se Portugal tivesse ganho a Copa do Mundo, hoje. Imaginemuma festa gigantesca; todo mundo ficou exultante porque as portas dariqueza tinham se aberto para Portugal. Um manancial infinito de mode obra escrava, disposio deles.

    O que Dom Henrique fez? Redobrou os esforos, os investimentos, paraque novas expedies, mais navios, fossem procurar mais pessoas,porque finalmente tinha encontrado um filo, um lugar ondepoderiam capturar essas pessoas. Em 1443 aprisionaram mais 29;

    mais festa ainda.

    Imagine qual nvel de civilizao a frica estava em 1400. Invadem oseu lugar, a sua tribo, suas casas, e levam os melhores, a elite. Seriacomo, se hoje, tirssemos do Brasil os mdicos, os engenheiros, osprofessores, toda a elite educada do pas. Ficaria o qu? Ficariam quemno tem educao e os criminosos. As famlias desestruturadas. Ocaos, a barbrie. O resultado disso foi: A frica voltou 1000 anos atrse ficou pior, porque h 1500 anos havia uma estrutura social emandamento. Mas, quando se tira toda a capacidade intelectual e

    produtiva de um continente, ele no s volta 1000 anos atrs emtermos econmicos, como volta milhares e milhares de anos para onvel de barbrie. Por que sobra quem? Os piores elementos; os maisfracos, os mais espertos etc.

    Depois de 500 anos, vocs podem assistir ao filme Hotel Ruandaeverem os resultados. um filme de Hollywood, bem dourado, bemromntico. So 800.000 mortos a faco. Quem mata quem? Como que se define uma etnia em Ruanda para saber que este de uma raae este de outra? Sabem como? Como foi feito para se definir e separar

    dois grupos? Pegando-se uma rgua e medindo o nariz. Quem temnariz at um tanto de centmetros de uma raa, quem tem o narizmaior da outra raa. Isso que cincia! Em funo disso, s poderiater dado no que deu.

    Quando o cinegrafista, o diretor, resolveu fazer o filme, disse: Voufilmar no mesmo local; mais fcil, mais autntico. Levou todo omaterial - isso depois de anos do evento - e comeou a filmar.Adivinhem o que aconteceu? A chacina comeou novamente. Eleprecisou parar a filmagem, sair do pas e filmar na frica do Sul. Isto um pequeno exemplo. Se pesquisarem as notcias, vero queocorrem chacinas tnicas o tempo inteiro.

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    Os brancos no tm nenhuma responsabilidade sobre o que aconteceem Ruanda, por exemplo? Parece que no, aquilo um problema deles,ns no temos nada a ver com isso. . Pois . Mas, foram os brancosque fizeram e que criaram o problema social que gerou esse morticniotodo e continua. Porque, se no tivesse sido desestruturada a

    sociedade e tivesse sido respeitada cada tribo, cada etnia, em vez dese traar uma fronteira num pas e colocar trs tribos inimigas dentrodo mesmo espao, no teria acontecido isso.

    Vocs veem que uma ao propaga o mal, sculo aps sculo, tudopor causa da ganncia, que comeou em 1441. Tudo por causa da zonade conforto.

    Quantas pessoas tm aqui, neste auditrio? Setenta pessoas,aproximadamente, devem estar meio a meio. Uma palestra divulgada

    no mailing- vai um e-mail para vocs; no ms da Conscincia Negra,h um feriado agora, e quantos negros temos neste auditrio? Umnegro. H setenta pessoas aqui e um negro que veio, lgico, porque meu cliente. Ele cliente da Ressonncia. Entre os no clientes,nenhum negro. Mulatos h trs.

    O problema acabou? Como a educao chegar at eles? Como poderse resolver um problema desses, se uma palestra, especfica, sobre aHistria da Escravido no Brasil no atraiu nenhum afrodescendenteque no faa Ressonncia? para vocs verem que, ainda, estamos

    muito longe de termos soluo para isso.

    Dra. Mabel:

    O problema da escravido no Brasil foi especialmente grande por umasrie de motivos. O Brasil foi o maior pas escravista do Novo Mundo.Recebeu cerca de trs milhes e seiscentos mil escravos, sendo que40% dos escravos que chegavam, com vida, Amrica vinham para oBrasil. O contingente de escravos era muito grande.

    Havia outra problemtica, da qual temos uma ideia errada. Quem eramos donos de escravos? Vocs lembram-se da escola? Quem tinhaescravo? Os senhores de engenho, os grandes fazendeiros? Naverdade, todos tinham escravos: os grandes proprietrios, os senhoresde engenho, o bispo, a viva pobre, os artesos, os mineradores.Todos tinham o seu escravo. Nunca foi contestado, eticamente, otrabalho servil neste pas.

    At 1870 nunca se cogitou, seriamente, em pensar e levantar aquesto - se era justo, se era tico - porque todos tinham, no haviaesta vergonha. A escravido era consentida, lembrem-se da palestra

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    passada. A escravido era consentida, era um sinal de prestgio, destatus e riqueza, portanto no era contestada.

    Depois de tudo isso foi criada uma ideia, neste pas, de que tudo erapermitido. Os senhores de engenho, por exemplo, justificavam o uso

    da mo de obra escrava alegando que o escravo tinha umainferioridade racial, de que vamos falar dos motivos. A ideia dessainferioridade racial era que fossem seres primitivos, que precisavamser domesticados por meio do trabalho. Assim, fica muito bemjustificado o uso da mo de obra escrava.

    Tudo isso, e mais o que ser colocado aqui, vai gerar um conjunto finalque ocasiona o pacto de silncio que existe neste pas, at os dias dehoje, a respeito da herana da escravido, a qual atinge 45% da nossapopulao, que a populao afrodescendente.

    Prof. Hlio:

    Vocs viram que ela comentou da questo racial: os negros soinferiores. Esta postura de superioridade racial vem de muito longe,muito longe. Quando chega ao sculo XX, e ocorre todo aqueleproblema ariano, da raa superior, e s mera continuao dessaideologia que j estava plantada, solidamente, h quanto tempo?

    Vocs viram que, na outra palestra, um ms atrs, comentamos sobreuma pessoa, aqui da regio, que disse o seguinte: Deus no fez ospretos. Isso foi dito aqui, agora, em 2011, na nossa regio - aopinio de uma pessoa.

    Pesquisando o assunto para esta palestra, descobrimos que a coisa vaimais longe. Cento e cinquenta anos atrs.: A pessoa que repete isso,em 2011, s est repetindo o que est sendo passado, de pai para filhoe me para filho h cento e cinquenta, duzentos anos, ou mais, porquese dizia o seguinte: Deus criou os brancos e o Diabo criou os pretos.

    Era isso que se dizia durante a escravido para se justificar,teologicamente, trat-los como animais. J sabem que havia umaenorme discusso, se por acaso eles teriam alma. Hoje os animaiscontinuam sendo tratados como seno tivessem alma, e, portanto sepode fazer o que se quiser com eles.

    Agora, est na pauta da internet,de hoje, est havendo uma discussosobre os mtodos de produo do pat com os gansos. Vale qualquercoisa para se obter maior quantidade de pat. No importa osofrimento que ir se impor ao irmo ganso.

    Mudou o qu? impressionante essa questo teolgica, porque bispotinha escravos, os padres tinham escravos, a igreja tinha escravos, a

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    parquia tinha escravos. Quando desciam os escravos em qualquercapital do Nordeste, vinha ao conhecimento da carga, medida emtoneladas. Primeiro eram pessoas, depois passaram a ser chamadosde peas da ndia e, depois, como o volume aumentou, j erammedidos em tonelagem. Cerca de dez a vinte escravos valiam um

    cavalo. Dependendo do cavalo, poderia ser comprado com dez a vinteescravos.

    Como uma sociedade crist, Catlica Apostlica Romana, tem a ideiade ter escravos? E na mente popular, como se justifica teologicamenteuma situao dessas? No Gnesis est escrito que podia ter escravos.Os senhores de escravos buscavam nos livros, qualquer coisa quevalide a escravido, sem nenhum questionamento sobe o assunto. Mascomo fica a conscincia? Isso ideologia passada. E a conscincia daspessoas? Como os senhores de engenho, os capatazes e as sinhs

    moas, como era possvel tratarem o escravo pior do que um animal?

    Havia uma ideia de que os mulatos machos fossem mortos ao nascer,porque davam trabalho, e era um problema, por no eram nem negrosnem brancos. Ento, no estavam inseridos em nenhuma sociedade,nem de um lado nem do outro. A ideia era que se exterminassem osmachos ao nascer. As fmeas deveriam ser mantidas, lgico, paraserem colocadas nas casas de diverso, nos prostbulos com asmulatas.

    como se existisse um criadouro - falavam dessa forma - umcriadouro. Incentivavam para que as escravas ficassem grvidas,seguidamente, para gerar mais-valia, mais escravos. Porque entraramtrs milhes e quinhentos mil; e os que nasceram aqui? Escravo geraescravo. Ento, esse nmero, se for multiplicado pelos nascimentostodos, muito maior.

    Agora, vejam bem a questo teolgica. Quando coloca-se a divisoentre a pessoa e o Criador, a pessoa e Deus, quando se separa, cria-se a dualidade. este tipo de resultado que se tem inevitavelmente,

    quando no se unifica com o Todo. Porque, se o Todo est em Tudo,voc no pode fazer isto com mais ningum, porque Deus est dentrodeles, tambm. Mas, quando se cria uma dicotomia dessas, de queDeus tem um poder, e o Diabo outro poder, ento fica de igual paraigual? Ento, existem dois poderes? Isso o que est na raiz doproblema, de como as pessoas podem agir da maneira como agiamcom relao aos escravos.

    Os indgenas sero tema de outra palestra. um captulo parte,tambm, o que foi feito com os ndios, outro genocdio, e ser outrapalestra. Tem muito assunto sobre a Histria do Brasil.

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    Dra. Mabel:

    Outra justificativa teolgica para a diferena racial est na Bblia: Deusenegreceu a face de Caim quando este matou o seu irmo Abel.Portanto, uma face negra significa perverso, maldade, pecado.

    Basta vocs perceberem a imagem que temos, no mundo inteiro, deJesus Cristo. Qual a imagem que foi passada para ns? Loiro, deolhos azuis. Isto muito improvvel. Vocs viram um desenhoprovvel da face de Jesus? Est disponvel, para todo mundo ver. Umindivduo natural daquela regio, naquela poca, deveria ter aquelaface. Mas isso foi mudado; vocs veem algum retrato de Jesus pintadodaquela forma? No. Mas o diabinho, como que pintam? Ummolequinho, pretinho, de chifres. Esta a imagem corriqueira que setem, qualquer criana conhece isso.

    Ento, como que uma raa - e falar em raa muito estranho, porqueraa vem da Zoologia; classificar os indivduos em raa A, B ou C umpouco perverso, vem da Zoologia como uma raa pode terautoestima? Como se cria a autoestima de uma criana, num pas comoeste, onde ser negro significa mazela, onde a prpria Igreja nuncaquestionou, nunca se levantou contra escravido na poca e, inclusivetinha escravos?

    E a cincia - outro pilar da humanidade - a cincia dizia o qu? Os

    iluministas, os filsofos e cientistas iluministas? Que, devido aotamanho do crnio um pouco menor do negro, provavelmente, eletinha um crebro menor e menor inteligncia, comparado com obranco. E que talvez, por ser a frica ser muito quente, as condiesclimticas adversas tambm, tenham perpetuado essa diferena, essainferioridade.Talvez os alimentos que eles comiam no fossem muitonutritivos.

    H tantas justificativas pseudocientficas para essas diferenas.Imagine o pilar da cincia, o pilar da religio justificando essas

    diferenas. No h como escapar disso, tudo ficou em aberto nestepas, para que se tomassem as atitudes e as perversidades que foramrealizadas aqui.

    Ento, vamos ver hoje, comeando agora, uma ideia de qual o limiteda crueldade do ser humano. Como o ser humano consegue explorare anular o seu semelhante.

    Prof. Hlio:

    Em 1444, j organizaram uma empresa para fazer o trfico. Umaorganizao institucional, em que o Estado, s vezes o prprio Rei, era

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    scio do empreendimento. Scio no negcio, j que era extremamentelucrativo.

    Foram novamente frica, matando e prendendo quanto podiam: 165nativos na Ilha de Naar; na Ilha de Tider, mais 60; em Cabo Branco,

    14 homens e uma mulher.

    Quando invadiam uma regio, aprisionavam-se os melhores ematavam-se os demais. Vocs podem imaginar a cena: as mesagarradas aos filhos, desesperadas, e os invasores matandoindiscriminadamente, separando as famlias. Quando levavam para osnavios, era como gado; colocavam quatrocentas pessoas no poro donavio. Quatrocentas.

    Hoje, quando vocs andam de Jumbo - h Jumbo para quatrocentas

    pessoas - desconfortvel, a cadeira da classe econmica apertada,h poucos banheiros, s se pode andar um pouco, precisa ficarsentado, assistindo ao filme com ar condicionado. desconfortvelfazer uma viagem de dez, doze horas; leva mais de um dia para chegarao Japo, trinta horas para chegar a Okinawa. Agora, imaginem comodeveria ser passar meses no mar, tratados como animais. Davamcomida s para aqueles que achavam que iriam sobreviver. Quando onavio chegava aqui, contavam os cadveres, havia cinquenta ou maiscadveres no poro. Imaginem as condies sanitrias disso.

    Em 1444 comeou o trfico efetivamente institucional. Por um cavalo,recebia-se de dez a vinte negros, conforme a qualidade. Entravamcomo reses, manadas, no se falava mais em pessoas, e sim emmedida linear e volume em toneladas. Em 1509, Dom Manuel crialocais, no Brasil, para receber os criminosos de Castela - Espanha.

    Ento, vocs vejam que ideologia esta. Zona de Conforto.Precisamos de gente.Traz os criminosos da Espanha para c, isto ,Portugal, ainda Portugal. Porque no caso do Brasil, quando comearama fazer o degredo a distribuir pelo mundo os criminosos, para o Brasil

    vinham os piores. Havia trs nveis de criminosos: um, dois e trs. Oterceiro nvel era o pior, o dos reincidentes etc., estes eram os enviadosao Brasil. assim que foi formada a cultura que ns temos hoje. Ento, azar que hoje seja desta maneira que aqui?

    Quando voc inunda o pas com aventureiros que vem s paraenriquecer, isto , os senhores de engenho; atrs deles, multides deescravos tratados como animais, e para ajudar no controle dosescravos, ndios e escravos negros, precisa de um pessoal bemcapacitado, pessoal especializado com caractersticas timas depersonalidade,para fazer com que o animal trabalhe, porque ele serecusa. Como eles se recusam? Que absurdo! Ento, temos que

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    Esses escravos os que chegavam aqui para trabalhar. Olhem comoeram tratados. Nas senzalas no podiam se comunicar uns com osoutros, havia a Lei do Silncio. Por qu? Os proprietrios tinham medode que se perpetuassem as tradies, a cultura desses povos dentrodas senzalas, e tambm tinham medo da fuga. Muitas fugas ocorreram

    e depois, um pouco mais frente, houve a formao dos quilombos.

    Essa era a condio do escravo. E foi assim desde o comeo, quandoos portugueses chegaram aqui, at o final, at a abolio em 1888,tratados dessa maneira. Inclusive quando entrou em vigor uma Lei,forada pela Inglaterra, que proibia o trfego de negros pelo Atlntico.

    Como faziam? O comrcio passou a ser ilegal, a Marinha inglesa,quando capturava um navio negreiro, levava-o para a costa, e a cargaviva tinha que ser deportada, voltar ao seu pas de origem, sua terra

    de origem. Mas essa carga tinha que pagar pela viagem, e isso davamcerca de quatorze anos de trabalho para poder pagar a viagem devolta. Vocs tm uma ideia de que nem as leis, que foram promulgadasaqui, foram suficientes para defender esse povo? Todas elas tinhamerros enormes e tambm no funcionavam para nada - veremos depois- eram atrozes, cruis, at nisso.Vamos faz-los pagar a viagem devolta.

    Prof. Hlio:

    Invadem a sua Terra, pegam voc como um animal, matam a suafamlia. Colocam voc num navio nas piores condies e, se tiver sorte,um navio ingls aprisiona o navio traficante. Mas o que fazem comvoc? Fica escravo, ou volta para casa. Mas, para voltar para casa,paga uma passagem mdica de quatorze anos de trabalho. Barato,no ? A humanidade evoluiu bastante. Hoje, com setecentos dlares,mil e duzentos dlares, se vai e volta, atravessando o Atlntico. Se apartida for, l, no Norte, muito mais barato que isso; com cerca detrs a cinco salrios mnimos, voc paga uma viagem para a Europa de

    avio, de ida e volta. Salrio mnimo!Os escravos tinham que trabalhar quatorze anos para pagar apassagem. E isso era em relao aos que ajudavam, contra aescravido, naquela hora, naquele momento. Porque, quando todaessa histria comeou, em 1400, na verdade todo mundo era a favor. que depois a situao econmica de determinados pases foimudando, e ento quela mais-valia do escravo no era mais tovaliosa.

    Outros mtodos de produo foram introduzidos lembram-se daRevoluo Industrial? - outra metodologia foi introduzida, e no seprecisava mais do trabalho escravo em determinados locais e pases.

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    Criou-se um problema. Ese o concorrente comercial tem escravos?Ele tem uma mais-valia de 100%. Ele tem todo o trabalho de graa,no tem custo, e eu tenho uma indstria que tem algum custo deempregado.

    Se vocs estudarem o incio da Revoluo Industrial, vero que,quando comearam a se instalar as fbricas, ningum queria trabalharnelas; os camponeses queriam ficar nos seus stios e fazendas etc.Ningum queria trabalhar, ser operrio de fbrica, por volta de 1600.Como fazer? Foram falar com os governantes, parlamentaram econcluram tem um jeito. Eles no querem vir para as cidadestrabalhar nas fbricas; querem ficar na terra deles? Confisquem todasas terras.

    Ento, o rei ou rainha confiscava todas as terras; os trabalhadores

    eram expulsos do campo, e teriam que ir para onde? Expulsos docampo - tomaram a terrinha deles - iriam para onde? Vinham para asperiferias das grandes cidades - as favelas - e trabalhavam nas fbricasdezesseis horas por dia; as crianas de 3, 4 anos junto com os adultos,no importa, todo mundo trabalhando.

    Assim, tinha-se outra mais-valia, tambm, interessante, no ? Outracaracterstica, porque era uma mais-valia dos brancos, certo? Porqueos prprios habitantes do pas que foram retirados das fazendas,vieram para serem operrios etc. e agora havia a mais-valia dos

    brancos, que tinham que ganhar alguma coisa, porque, seno, de quemaneira eles iriam comer? Se o escravo no come, prejuzo. Elestinham que comer alguma coisa, ganhavam um nfimo salrio,suficiente para comer e trabalhar. Ento, havia uma despesa de mo-de-obra para manter aquela indstria funcionando. Porm, oconcorrente, do Novo Mundo, continuava com os negros, que tinham100% de mais-valia para o senhor do engenho. Como poderiamcompetir? As minas de ouro etc. Como fica o custo de produo, dosujeito que tem os brancos trabalhando, l, na Europa, com mo deobra custando alguma coisa, e os negros custando nada aqui?

    lgico que, com o passar do tempo, uma grande parte, todo mundo,na Europa, foi ficando contra a escravido. Quando foi chegando 1700,1800, todo mundo na Europa passou a ser contra a escravido. Nossa!Temos que parar o trfico, combater o trfico!A Marinha vai atacar,vai aprisionar os navios, e os negros pagam quatorze anos para voltar,mas isso outra histria. Vamos parar o trfico por qu? Porque ruimpara os negcios, est afetando a nossa produo, o nosso custo deproduo.

    Por isso que, depois de 200, 300 anos, houve uma mudana naopinio pblica, que passou a ver o trfego de escravos como um fator

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    negativo. Pura razo econmica, nada mais que isso. Nada mais queisso, essa a nua e crua realidade.

    No caso dos escravos, no havia qualquer limite para a durao dotrabalho: estendia-se da aurora noite, quinze ou mais horas,

    domingos e feriados. Nada de descanso semanal remunerado (DSR).Descanso apenas cinco dias por anos, cinco dias, nos dias santos, nosdias santos: Natal, sexta-feira santa... Cinco dias, em 365.

    Como eles sobreviviam? Muitos escravos se alimentavam de razes,sorviam o azeite que iluminava as lamparinas. Antigamente no havialuz, e usava-se uma lamparina com azeite. O que o escravo fazia?Lambia a lamparina. Por isso os proprietrios adicionaram um leonauseabundo e amargo, para que os negros no lambessem oscandeeiros.Azeite muito caro!

    Observem que o sistema procura a perfeio. O ser humano inteligente. Assim que foi detectado que os escravos se alimentavamdo azeite da lamparina, recorreram qumica, cincia. Misturaramalgo para o azeite tornar-se intragvel.

    A mortalidade infantil nos partos era de 70 a 80%. Com 30 anos oescravo j estava intil. Ento, j que no produzia mais, ele era mortoou alforriado - davam a liberdade para ele. Davam uma cartinha,dizendo: Voc est demitido, pode ir embora. Ento, no vai comernem raiz aqui, rua! Ele virava mendigo. Mendigo. Deslocava-se para

    a periferia. A histria das favelas na periferia, isso de longa data. Osalforriados iam para onde? Mendigavam. Havia inmeros suicdios;cometiam crimes, roubavam.

    Ento, este probleminha de segurana que ns temos vem de longadata. assim que se cria essa problemtica de segurana no pas. Cria-se o criminoso. Porque, em uma populao quantos por cento,patologicamente, seriam criminosos? Nasceram criminosos? Quantos? um nmero nfimo. nfimo, o normal; mas pode-se criar um meio,um entorno que faa isso crescer, indiscriminadamente.

    Agora, isso por acaso? Dada alforria, eles vo embora; vo assaltar,virar mendigos etc. Isso mera consequncia? Efeitos colaterais, comose fala? No, ledo engano. Como voc vai fazer voc, governante -fazer com que a camada branca mdia se comporte? J pensaramnisso?

    necessrio controlar os escravos e os indgenas; isso est fcil. Mascomea a haver um crescimento dos brancos de classe mdia, pobrese classe mdia, que podem querer ousar, progredir, crescer, ganhardinheiro, estudar, melhorar de vida. Existe o risco, existe. Como se fazpara que essa populao branca fique sob controle? Fcil, fcil. Amesma metodologia usada em cima dos escravos, do medo, da tortura,

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    usa-se com os brancos, com o medo do crime. Cria-se uma sociedadeinsegura. Cria-se a insegurana, no se faz nada para resolver.

    Criam-se as piores situaes sociais, para que a populao, branca,tenha que encher a casa de grades, tenha que se armar, tenha que

    morar nos guetos de alto luxo, morar nos prdios com segurana,porteiros; tenha que gastar bilhes de dlares, como ocorre hoje, comsegurana particular. No pode sair, tem que blindar os carros etc., eassim voc fica com essa camada branca mdia, totalmente,preocupada com a prpria segurana. Ento, as pessoas dessa camadano podem pensar em mais nada, porque esto, literalmente,apavorados.

    No de hoje, isso; de muito antes. Essa histria foi bolada, essasociologia foi muito bem pensada h muito, muito tempo atrs. Assim,

    mantm-se todo mundo em seu devido lugar. E claro, os brancossempre tm os seus privilgios, mas devem ser controlados.

    Como vocs viram na palestra passada, as populaes no sabemdecidir o que melhor para si prpria.Ns precisamos decidir, porqueeles no so capazes de se autogovernarem. uma manada.Passam-se alguns anos, a cincia avana e surge a Psicanlise, que d oembasamento cientfico para se fazer isso.

    Dra. Mabel:

    A abolio, neste pas, no foi um ato de generosidade nem deconscincia. Foi puro interesse, econmico e poltico. Este umdiscurso da poca: E de que valeria dar aos negros direitos os quaisno saberiam usar? No a liberdade que pode transformar o escravoem cidado til. Se os anos de cativeiro junto aos senhores,preocupados em transmitir aos seus escravos noes morais, noforam capazes de transform-los, se nem os castigos corporais

    puderam faz-lo, porque poderia a liberdade? Este um relato de umlivro da poca. Por que dar liberdade a eles?

    Mas dada a liberdade, e essa abolio foi totalmente desestruturada;no se deu aos negros a mnima chance de sobreviver. Uma vezlibertos, tiveram que procurar um lugar para trabalhar, e o que existiaeram as lavouras. Na poca, pagava-se muito pouco, e elescomearam a migrar para as cidades, criando as primeiras favelas noRio de Janeiro. Na regio sudeste, o contingente de escravos libertosera o maior.

    Mas uma Repblica nova, como a nossa, que foi totalmente pensadapor senhores de engenhos que estavam danados da vida com a perda

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    de seus escravos, qual foi a poltica da poca? Bom, ento vamosmanchar um pouco mais a imagem do negro, que no fim das contas a causa nossa mazela social, e vamos enaltecer o indgena. E oindgena, at hoje, conhecido como o smbolo da brasilidade. Isso foidaquela poca:Vamos enaltecer o indgena e manchar um pouco mais

    a imagem do negro.

    Existiam, como eu j disse, teorias pseudocientficas que explicavam eembasavam toda a inferioridade atribuda ao negro, e da se criou aideia de eugenia, para qual torcemos o nariz hoje em dia, e achamosque uma ideia perversa do nazismo. Mas isso, o bero, est aqui, araa pura.A Mabel, que de origem alem, na infncia, l no Sul dopas, ouviu do av aquela ideia de que no podemos deixar acontecera miscigenao.O que ser deste pas se houver toda essa misturade raas?A mistura de raas era condenada pela cincia tambm.

    Dizia que deturpava toda a populao. E essa seria a causa daderrocada da nossa nao?

    Vejam todas as condies para que os negros no sobrevivessem. Almdisso, todos os que estavam na lavoura foram deslocados, por umapoltica que atrairia imigrantes europeus para o pas. A elite brasileiradesenvolveu e financiou, com recursos pblicos, vrios projetos deatrao de imigrantes europeus. Achavam que era uma mo de obramais especializada, para compor o fantstico ideal deembranquecimento nacional. Est a a ideia de eugenia, de raa

    perfeita, de raa pura. Mais uma vez os negros foram deslocados e,sem trabalho algum, se marginalizaram nas favelas do Rio de Janeiro.

    A ideia que se tinha na poca e que se passava, era que o negroaguentou tudo isso calado. No foi capaz de reagir. Ficou aquela ideiade passividade, de subservincia do negro, de no fazem nada por si.E houve muita resistncia - no falaremos sobre isto hoje - mas houvemuita resistncia, guerras, muitos mortos, muitas tentativas desociedades alternativas para eles, que funcionavam muito bem. E queno eram bem vistas tambm, poltica e economicamente. Alm da

    ideologia que embarcava com tudo isso. Ento, essa era a ideia que sepassava do negro: que era servil e pacfico, que no brigava pelaprpria causa.

    Prof. Hlio:

    A maior parte dos negros que vieram para c foi trazida de Angola, daCosta da frica, onde os comerciantes tinham condio de chegar. Mas,nas regies centrais, passaram a outras tribos a tarefa de capturaremoutros africanos, seus inimigos. Isso gerou um comrcio, um trfico,dentro da frica. Os prprios africanos capturavam seus inimigos paraserem vendidos para o traficante branco, que ficava num entreposto

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    comercial, na costa, s recebendo a carga aprisionada. Isso aconteceumuito, tambm dado s diferenas tribais que existiam entre eles.

    Projeo de textos:

    Os escravos recm-chegados, rebeldes, eram agrilhoados pelos ps notrabalho das caldeiras, acesas sete ou oito meses no ano, 24 horas pordia. Isso domava a maioria dos que chegavam. Aquele que desceu donavio, parvo, com ar de idiota, todo chagado etc., para ser domado eracolocado nas caldeiras acesas. A temperatura eraamena, agradvel,certo?

    Caso o escravo no se comportasse direitinho, cometesse uma faltaleve, um delito leve, como responder e no ter a devida educao aofalar com o capataz, algo assim, levavam-no ao tronco, ps e pescoo

    imobilizados durante dias, semanas e at meses, entre dois pedaosde madeira retangular, at ele se acalmar. Ou prendiam-lhe os ps eas mos com um pequeno instrumento de ferro que ia sendo apertado,que o constrangia a uma posio incmoda, de consequncias no rarodeformantes. Ou fazia-se a aplicao na face deles de uma mscara defolha de flandres dotada de pequenos orifcios para respirar, e fechadana nuca com um cadeado. Conseguiam confisses, comprimindo-lhesos polegares com os anjinhos, dois anis de ferros, cujo dimetro iasendo apertado com um parafuso.

    Depois disso, se continuassem resistentes, vinha o pelourinho,cinquenta ou mais aoites. Aos primeiros aoites a pele se desprendiado corpo, e o escravo no podia queixar-se, seno o castigo eradobrado. Em seguida derramava-se vinagre, gua salgada ou pimentasobre o corpo em carne viva, e o negro era encerrado em uma enxovia,quer dizer, l em uma pocilga, para se recuperar, caso ele serecuperasse.

    preciso que a verdade nua e crua venha tona, para no se pensarque as fazendas eram como uma colnia de frias. Isso mostra como

    se domina uma populao de milhes e milhes de pessoas, e se fazcom que eles fiquem quietos.

    Texto da poca:

    Depois de bem aoitado, o mandar picar com navalha ou faca quecorte bem e dar-lhe- com sal, suco de limo e urina e o meter emalguns dias em uma corrente e, sendo fmea, ser aoitada a guisa debaiona dentro de casa, com o mesmo aoite, com a proibio de lhesbater com pau, pedra ou tijolo.

    Quer dizer, as fmeas tm que ser bem tratadas e no se pode baternelas com pau, pedra ou tijolo. Hoje preciso haver uma delegacia

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    especial dos crimes contra a mulher. Por que hoje se espancam asmulheres? Isso vem de longa data.

    Se, depois de tudo isso, o escravo ainda parecia apto para o trabalho,era colocado completamente nu, junto s caldeiras, onde recebiam no

    corpo as fagulhas e s vezes os chamuscos das labaredas, cujashorrveis queimaduras provocavam quase sempre a morte. Se, depoisdos aoites, ficassem em muito mal estado, deixavam-nos morrerlentamente. Eram caridosos, certo? Deixavam morrer, lentamente.Nada de antecipar a morte,a vida sagrada. A vida sagrada, nose pode fazer nada contra a vida.

    Alm disso,a coisa melhora ainda, o ser humanobusca a perfeio.Castrao, destruio dos dentes a marteladas, queimaduras com lacrequente, amputao de seios, vazamento dos olhos, marca na cara

    com ferros em brasa, emparedados (na parede) vivos, afogados,estrangulados, arremessados vivos a caldeiras ou passados namoenda.Acho que essa doena da vaca louca vem de mais longe do que hoje,certo? Porque passavam o sujeito na moenda, e o que faziam com acarne? Acho que davam para o gado, no? Que nada se perde, tudo setransforma, tem que se aproveitar. Vocs sabem que a doena da vacalouca surgiu depois que comearam a dar carne para as vacascomerem - j sabiam disso? - que acelera.

    Amputavam os seios as negras que no pariam com a esperadafrequncia, nos criatrios mantidos pelos senhores. Se as negrasnegavam-se a procriar a cada, digamos, dez meses, para queprecisavam de seios?Tirem. Os feitores davam coices nas barrigasdas escravas grvidas.

    Para impedir que fugissem, picavam os nervos dos ps para deix-loscochos e impossibilitados de fugir. Ento, corta-se o tendo e esttranquilo, que o escravo fica quietinho, s fazendo o seu servio.Tambm havia o castigo de besuntar os corpos nus com mel, e

    suspend-los por cordas em rvores para exp-los s picadas dosmosquitos. Diversidade.

    As senhoras do engenho torturavam, pessoalmente, as escravas,pingando lacre no rosto, marcando-lhes o seio com ferro em brasa, oumutilando-lhes as partes genitais. Qual era o pecado das negras?Serem mulheres. Vocs sabem, as mulheres atraem os homens.Gozado, nessa situao, os senhores de engenho e os capatazes,seus filhos e todos os parentes no tinham nenhum preconceito ounojo de copular com as negras. Interessante.Me ocorre uma coisa: isso no poderia ser classificado como um coitode dois humanos; deveria ser classificado como sodomia, no verdade? Porque sexo com animal, no tem problema, ningum vai

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    condenar. Se o senhor branco chegar s negras, ele no est tratandocom uma mulher, um ser humano, mas com umabesta de cargadesexo feminino. E com uma vantagem, vai produzir novos escravos emulatas para as casas de diverso, ainda d lucro. E caso elas nocooperassem com o procedimento, eram cortadas, mutiladas etc.

    Mas vocs j sabem como a questo dos relacionamentos afetivos,nos casamentos. um assunto complicado. Ento, medida que ossenhores brancos foram tendo muita predileo pelas negras, gerouconflito conjugal, certo? Por que as senhoras de engenho, as esposas,torturavam, pessoalmente, as negras, mutilando a parte genital,cortando os seios e pingando na face? Para que ficassem feias eimpossibilitadas de fazer sexo com o seu marido, o senhor do engenho.

    Esta prtica, de senhores de engenho e todos os brancos da fazenda

    se relacionando sexualmente com as negras, deu muito resultado. Aestatstica mostra que 46, 47% da populao brasileira no branca,isto , formada de negros, mulatos etc., as variaes genticas todas.

    Quantos senhores de engenho havia? Eram sessenta a setentaengenhos em Pernambuco. V descendo, e encontra as CapitaniasHereditrias. Coloque um sculo, dois ou trs sculos, e pense emquantos brancos havia aqui, nas fazendas, para que 100 ou 200 anosdepois, tivssemos 47% da populao - metade da populao de 190milhes formada de negros e/ou mulatos.

    Vocs esto vendo, aqui neste auditrio, que h um negro e vriosmulatos. Isso significa que o relacionamento dos senhores de engenhocom as negras era muito comum, porque, de onde surgiram todosesses mulatos e todas essas mulatas? Desta miscigenao, ouchamaramos estupro? Cem, duzentos, quatrocentos anos depois,qualquer terapeuta que atenda como o Hlio atende, conversando, sedepara dia aps dia com todo tipo de trauma desse tipo, jazendo noinconsciente daquela pessoa, h sculos, sculos e sculos.

    Aquele trauma, causado por esse tipo de violncia, fica marcado a ferroe fogo no inconsciente daquela pessoa. A pessoa volta, volta, volta eo problema persiste, persiste, persiste, persiste, e ento precisa de nosei quantas anlises, psicanlises, regresses, catarses etc. infindvel. Numa populao de milhes, bilhes, sabe-se l quandopoder limpar tudo isso, ocorrer catarse de todas elas, para quevoltem ao normal e possam comear a sua evoluo. Porque nomomento esto paralisadas, at hoje, 200, 300, 400 anos depois,ainda esto paralisadas, por causa desse tipo de atitude dos homens.Quando se faz uma coisa dessas, acha-se que s naquela hora, masa repercusso vai milnios frente. Imaginem o carma que a pessoaque fez essa barbaridade passa a ter, e com quantas pessoas ele foifazendo isso?

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    por essa razo que, hoje, em 2011, em qualquer lugar do planetaterra, quando se toca no aspecto sexual, paralisa; possvel fatiar aenergia do ambiente, de to denso que fica. O tabu, o preconceito, emcima desse assunto total e absurdo. Quando Reich tocou de leve na

    questo, foi encarcerado na penitenciria e morreu dois anos depois,porque ousou tocar no assunto sexualidade, pois no se pode tocarnesse assunto. No se pode falar disso, porque esse assunto traz tona tudo isso que foi feito.

    Ento, como as pessoas esto vivas de novo - os que perpetraramessas atrocidades - no quer que se mexa nisso de jeito nenhum. Este um assunto de que no se pode falar. Este assunto o tabu, dotabu, do tabu.

    Este um lado da questo; o outro lado so as pessoas que sofreramessas barbaridades. Elas, tambm, no querem que se toque nesseassunto. Ento, a, temos a receita perfeita para que, praticamente,nenhum relacionamento d certo. Porque tanto o homem quanto amulher entram em um relacionamento, um casamento, com estepassado gravado a ferro e fogo no seu ser. Como ir funcionar asexualidade em um casal depois de passar por isto? Como falar doassunto? No vo querer nem sequer falar. por isso, e vocs podemconstatar, que quando se fala a palavra libido, gela. por isso. No algo de cinquenta anos atrs; de centenas, de milhares de anos atrs,

    de barbaridades deste tipo seguidamente feitas. Mas, se podemelhorar.

    Os holandeses resolveram invadir o norte do Brasil e pegar umpedacinho para eles. Tornou-se uma potncia naval, a primeira domundo, um imprio.Vamos expandir os negcios.Temos que fazereste povo continuar trabalhando, os negros. Os senhores de engenho, lgico que, rapidamente, se entenderam com o novo governo. Era strocar de um lado para o outro. Troca de sigla, de partido. Quemmanda agora? Holandeses. Desde criancinha sou holands, ou a

    favor.Os senhores de engenho falaram para os holandeses: Temos umprobleminha aqui de produo; precisamos fazer este povo secomportar direitinho.Eles falaram:Deixem com a gente.

    Crucifixo e morte lenta, suspenso em ganchos com feridas expostasao sol calcinante, mutilaes dos narizes, amputaes de mos,fraturas de ossos a marteladas. Sempre se d para melhorar ascoisas, no ?

    Dra. Mabel:

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    Podemos traar um paralelo interessante, com o que est acontecendona atualidade. Foi feito um estudo que verificou de 1990 at 2001, umadcada recente, qual o grau de evoluo socioeconmica dosafrodescendentes.

    Quando eles foram libertos, buscaram rapidamente a instruo. Ainstruo seria uma maneira para essas pessoas terem condiesmelhores na sociedade. A educao pode ser este fator de inclusosocial e de tornar as pessoas iguais, perante a lei. S que no foi istoque aconteceu, neste pas. Desde a Repblica, com toda essa teoria daeugenia, o terror miscigenao, os governos foram, um aps o outro,perpetuando a situao de marginalidade do negro no pas.

    No se tem ideia nem registro de quando eles puderam sentar-se juntocom os brancos numa mesma sala de aula. J era uma prtica em

    alguns engenhos, em que alguns senhores permitiam que as crianasnegras sentassem junto com as brancas para aprender, mas isso erauma raridade. Sempre h uma exceo a tudo, mas isso era umararidade.

    Hoje em dia, qual o panorama? Vamos fazer este paralelo aqui.

    A taxa de analfabetismo (projeo de slides) por raa e faixa etria,em 1992. Mostra taxa sempre maior entre os negros; pelo menos trsvezes maior, principalmente nas faixas etrias superiores aos 60 anos

    ou mais.

    Dez anos aps, melhorou alguma coisa? Melhorou para o pas; depoisda Ditadura a situao foi melhorando um pouco, mas s para osbrancos. O padro de distribuio do analfabetismo o mesmo, trsvezes maior entre os negros nas faixas mais jovens, de 15 a 24 anos.Como possvel um grupo de pessoas, que representa cerca de 46%da populao de um pas, conseguir se reerguer de toda essa tragdiacom este panorama educacional? Este um dos ndices quemostraremos. Os governos so completamente omissos. At

    recentemente, foram completamente pactuantes com esse problemado negro; silncio total.

    Na ditadura de Vargas foi a mesma coisa, com o agravante do reforoda ideia da eugenia, que vinha da Alemanha: a raa perfeita, osbrancos, ideia que foi se acentuando. Na ditadura militar, no se falavasobre isso, no existia. O Brasil era o pas do futebol, como continuasendo, e se divulgava o esteretipo, o negro como bom jogador defutebol, como o danarino, o sambista, aquele que tem a capacidadeatltica melhor, porque tem uma musculatura diferente do branco.Ento era mais uma explicao, pseudocientfica, para as diferenasentre as pessoas.

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    Este o panorama nacional: o negro isso: um esteretipo, e ningumpercebe todo o preconceito e discriminao que vm embutidos atrsdessas ideias.

    Prof. Hlio:

    Como j falei, medida que economicamente a Revoluo Industrialavanou, o negro como escravo passou a ser um problema decompetio industrial entre os pases. At hoje a histria assim. Temque sobretaxar etc.

    A Inglaterra no toa que a Revoluo Industrial comeou l - fezuma presso brutal em cima do fim do trabalho escravo. Em 23 denovembro de 1826, Brasil e Inglaterra fizeram um acordo proibindo otrfico de escravos. Sabem como : papel, assinatura, tudo pr-forma.

    Os escravos continuaram entrando no Brasil, sem parar. Em 1842,entraram 17.000 novos escravos; em 1843, 19.000; em 1846, 50.000.Em 1847, 56.000; em 1848, 60.000; e, 1849, 54.000. Dados oficiaisdo Porto.

    Durante todo este tempo, o governo ingls foi fazendo as suas gestesdiplomticas, instando para que o governo brasileiro, o Imprio,cumprisse o que tinha acordado, mas viu que era s conversa e que otrfico continuava praticamente, abertamente, pois esses dados so doPorto do Rio de Janeiro.

    Em 1850, o Almirantado Britnico deu a ordem de reprimir o trfico dequalquer maneira. De agosto de 1849 a maio de 1851, menos de umano, foram tomadas, destrudas e condenadas noventa embarcaesdestinadas ao trfico. Enquanto os ingleses no comearam a atirarnos navios, o trfico no parou. Nesse perodo de alguns meses,destruram noventa embarcaes. A Marinha de Guerra inglesa, aquinas costas, encontrava um navio negreiro e afundava.

    Ento, s por um ato de fora que o processo comeou diminuir um

    pouco. Nos livros de Histria, vocs veem que o trfico de escravos noBrasil parou em 1850. No a verdade; continuou sem parar, mas,sabem,por baixo do pano, mais sutil, mais disfarado, e as pressescontinuaram, porque a mais-valia era a questo principal.

    O Brasil foi o ltimo pas do mundo a abolir a escravido. O ltimo. Es fez isso devido a uma extrema presso internacional. claro que asrazes internacionais eram econmicas, mas o fato quepressionavam, e em funo dessa presso foi assinada a Lei urea.Antes disso, houve a Lei do Ventre Livre. Quem nascia l na fazenda,j era livre. Nessa poca, inmeras certides de nascimento foramfalsificadas, mudando as datas, para que a criana continuasseescrava. Poder determinar quando nasceu, depois da Lei ou antes da

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    Lei, era um problema serissimo. Mas a lei erabenevolente. A criananascia e estava livre, para continuar na fazenda, at os 21 anos deidade, quando ento seria entregue ao Estado. Deixava de ser escravodo senhor do engenho para ser escravo do Estado. Isso era a Lei doVentre Livre, quem nascia no saa da fazenda; ficava l, era livre, e

    quando fizesse 21 anos era entregue, para o Estado fazer o quequisesse.

    Quando foi finalmente proclamada a Abolio, houve diversosassassinatos por todo o Brasil. Matavam-se os abolicionistas comovingana. Houve uma desestruturao econmica naquela poca, umacrise enorme, em funo disso tudo. O que se fez, como represlia?Voc est livre,tchau, rua, v embora.Ento, o sujeito que tinhaaquela parca situao da senzala e do alimento, era jogado na rua,com um: V procurar a sua turma. A engrossava o nmero dos

    mendigos e favelas nas cidades. O problema piorou, a situao donegro piorou depois da abolio.

    Quando comeou a imigrao europeia e japonesa para o Brasil?Pouqussimos anos depois da Lei urea. Por qu? Qual foi a jogada?Jogam-se os negros na rua, mas precisamos resolver o problema damais-valia; ento vamos importar uns europeus, uns asiticos parafazer o mesmo trabalho.

    Esse outro tema interessante para darmos continuidade; analisar o

    incio da imigrao europeia e japonesa no Brasil, e ver quais eram ascondies reais nas fazendas onde esses imigrantes foram trabalhar.Como a Revoluo Industrial j estava em andamento h 200 anos, aideia era essa: Voc deve se livrar da mais-valia que precisa comer.Porque os negros j tinham se multiplicado, tinham tido muitos filhos,muitas crianas; e tambm ficavam velhos, muitos j eramimprodutivos. Despede-se esse povo todo, e vamos trazer unstrabalhadores especializados, da Itlia, da Alemanha, da Espanha, doJapo, prioritariamente.Mas, vamos deixar entrar s uma quantidadexdeles, apenas para suprir a mais-valia dos negros. S para isso. Nada

    mais.Por que se parou a imigrao? Por que no se permitiu continuar a viressa mo de obra especializada que j trabalhava nas indstrias etc.?No havia razo econmica para parar a imigrao, pois era altamentevantajosa. Mais uma vez, traiu-se o Brasil. Alm de criar o problemanas favelas, se trouxe s o suficiente para suprir a falta nas fazendas,e impediu-se o progresso do Brasil. Mais uma vez isso foi feito depropsito, s para manter o status quo, em 1900.

    Entenderam? Por que no era para miscigenar, no estava aberto?Deixassem vir todo aquele povo que tinha capacidade intelectual,industrial etc. Vamos transformar o Brasil em uma potncia?No,

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    nem pensar, est muito bem do jeito que est. No se mexe em nada.S se trazem pessoas para substituir os escravos, e fim. E colocamessas pessoas nas mesmas condies que os escravos estavam.

    Dra. Mabel:

    Estvamos falando em grau de escolaridade, de instruo, dosafrodescendentes aqui e agora, na dcada de 90. Lembram-se dadiferena de escolaridade entre os brancos e os afrodescendentes? Issose acentua ainda mais, no nvel universitrio. No nvel superior, adiferena brutal: apenas 2 a 2,5% dos afrodescendentes conseguematingir 15 ou 16 anos de escolaridade, que a mdia de anos para secursar uma faculdade completa. Em comparao, entre os brancos,10% atingem essa mdia. Ento, a diferena cinco vezes.

    O afrodescendente, no tendo acesso s universidades, tambm noter acesso s profisses mais prestigiadas, a empregos com melhorremunerao, a cargos de comando, tanto pblicos quanto privados, es decises do pas. E nem mesmo, por exemplo, acesso cincia e shumanidades, que exigem a educao formal. A diferena fica muitogritante nesta faixa. Como podem ganhar terreno em cima disso?Para vocs terem uma ideia, esse ndice de 2,5% de negros atingindoa universidade, completando a universidade, esse mesmo ndice foiatingido nos Estados Unidos em 1947, em plena era da segregao

    racial, em que a violncia era aberta, e a discriminao era brutal. Jnaquela poca o ndice era o mesmo. O mesmo ndice que atingiu africa do Sul em 1995, um ano aps o fim do regime do apartheid. Quesituao essa no Brasil, por que no Brasil foi to pior? Outros pasesque tiveram situaes semelhantes conseguiram que suas populaesnegras se reequilibrassem mais rapidamente do que o Brasil. Pas ondetudo pode, onde h uma aberta democracia racial.Vejam como fica difcil de recuperar. Por isso era preciso importar mo-de-obra especializada. Mas quem vinha para c? Era elite, por acaso?Eram os que tinham o maior nvel de escolaridade? Por que no

    favorecer a instruo do grupo que j estava aqui? Isso no favorvel.

    Quanto ao ndice: renda. A renda do afrodescendente sempre menorque a do branco. A renda no chega metade da renda dos brancos.E isso fica ainda pior, quando se trata da mulher negra em relao aohomem negro.

    A taxa de desemprego outro fator (projeo de slides). O estudo de 1992 a 2001 e a taxa de desemprego : homens brancos, 6;homens negros, 8; mulheres brancas, 10; mulheres negras, 13. Hdupla discriminao, por ser negra e mulher. Melhorou algo depois daabolio? Por que a renda deles diferente, menor? Vocs vo dizer

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    que porque eles tm menos nvel de escolaridade? Agora, seestudarmos aquelas profisses, ocupaes, onde no exigido grandenvel de escolaridade, a situao continua acontecendo. Olhem oabsurdo! (projeo de slides). Servio domstico, empregadosdomsticos, brancos e negros, existe diferena. O negro, sempre,

    ganha menos. No servio domstico, na agricultura, mesmotrabalhando por conta prpria. Como se explica isso? E todos osempregos informais (sem carteira assinada).

    O que explica essa diferena? Nas Universidades, praticamente no seveem os afrodescendentes. Quando eu fiz faculdade, na dcada de 80,no havia um negro entre 600 alunos de medicina; nem alunos, nemprofessores. No censo atual na USP Faculdade de Letras e Filosofia,entre 550 funcionrios, h dois professores negros: um brasileiro eoutro do Zaire. Como que se explica isso? Numa faculdade de

    humanidades. Mesmo no servio pblico, onde no pode haver essadiferena, ela existe.

    Ento, mesmo todos tendo o mesmo nvel de escolaridade, no serviopblico - no privado - vocs vero que o negro tem uma rendamenor. A discriminao racial totalmente velada. Os ndices estoa, para serem estudados.

    Prof. Hlio:

    A mais-valia gerada pela escravido foi enorme! Chegaram de 3,5 a3,6 milhes de escravos, e muitos outros nasceram aqui, em 300 anos.O que se fez com essa mais-valia? Com o mesmo tipo de trabalho -mais-valia gerada por escravos - olhem o que a Amrica hoje!

    Na Amrica, a ltima pesquisa mostra que de 18 a 20% ou 22% sonegros. Aqui so 46 a 47%. Com 22% de mais-valia, olhem o que elesfizeram em termos de crescimento, desenvolvimento econmico; solhar esse lado da questo. O que ns, brasileiros, fizemos com a renda

    que os escravos geravam? E o que os americanos fizeram?Vocs j sabem: capital atrai capital, dinheiro atrai dinheiro. A mais-valia deles gerou essa potncia econmica. Porque 100 anos depois dasua independncia, j eram uma potncia mundial; no eram a nicaainda, mas j era uma potncia. E tiveram ainda um milho de mortosna guerra civil, para poder libertar os negros. Mas mesmo com todasessas perdas, o capital j estava criado.

    Quando se fez a abolio na Amrica, no afetou a indstria, ocomrcio, o poderio, porque o capital j havia sido criado; ento eras multiplicar. J existia uma massa financeira gigantesca que poderiagarantir o futuro deles. L havia algodo, ns tnhamos a cana; o

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    acar era extremamente valioso no mercado internacional. O quefazamos? Pegvamos toda a riqueza que era gerada e mandvamospara Portugal, para a Coroa. E o que a Coroa fazia? Dilapidava todaessa riqueza em presentes, na nobreza, dilapidava tudo. Todo odinheiro que entrava era mal gasto e virava nada. Virava p. Nem

    sequer tinham o bom senso de poupar o dinheiro que estava vindo. Edepois ainda, houve o ouro, as pedras e todos os tipos de riquezaembarcando, embarcando. Com custo de produo baixssimo, pois era100% mo-de-obra escrava. Se tivessem guardado uma minsculaparte disso, imaginem o que seria hoje Portugal!

    Entendem o tamanho da tragdia que isso representa? E a Lei de Causae Efeito em andamento? Pensem nisso. Toda a riqueza ganha com osofrimento descomunal daquelas pessoas. Serviu para qu? Ento, apessoa no quer trabalhar e coloca os outros como escravos etorra

    tudo que ganha. Como vive uma pessoa dessas, para ter este tipo dementalidade? Vive sem fazer nada, considera trabalhar algo estranho,doentio. Nobre no trabalha, e no se fala em dinheiro tambm. Athoje, at hoje, nenhum nobre que se preze trabalha. E entre eles no permitido falar de renda, de nada disso; so coisas deprimentes, daplebe, do povo, da massa. Falar de renda, dinheiro, quanto vocganha, quanto voc paga, que coisa horrvel! Entre eles no se falanesse assunto.

    Sua vida era s diletantismo. E para manter o diletantismo, as frias

    eternas, gastava-se, gastava-se e gastava-se, e distribuam presentespara garantir as benesses de todos os tipos. Porque os reis de Portugalmandavam diversos presentes para Roma, para o Papa. E o Papaemitia as bulas papais sacramentando o trfico. O que o povo poderiapensar? Se o prprio Papa emitia uma bula dizendo que ter escravosestava dentro da ordem e justia divina, ningum questionava.Ningum questionava. Igual a hoje, ningum questionava. A riquezaque entrava em Portugal era dilapidada e na Espanha era a mesmacoisa, certo? E a Espanha tinha todo o mundo hispnico: AmricaCentral, Bahamas, Peru, Venezuela, toda a costa do Pacfico. Imaginem

    o que no foi levado de riquezas do Peru para l, de ouro!Vejam vocs. Tudo isso levou a qu? Vejam a situao em que essespases esto hoje, a serem socorridos pelo FMI, pelo Banco CentralEuropeu, pelos outros pases, todo mundo tem que dar uma ajuda! E,por incrvel que parea, surge a brilhante ideia de que os pasesemergentes devem pr dinheiro para bancar a crise que eles criaram,isto , o Brasil deve pr dinheiro para sustentar tudo aquilo que osbancos fizeram durante essa bolha, todos esses anos, os gerentes,tudo aquilo que levaram, os bnus. E agora os brasileiros, os indianos,os emergentes devem dar uma ajuda.

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    Aqui, quando se sobe num avio e olha para baixo, se v um mar defavelas. O Centro de So Paulo, Morumbi, Lapa, que so bem pequenose, a perder de vista, favelas. Seria altamente instrutivo publicar umasfotos de satlite de uma determinada altura, para ver o mar de favelasque existe em volta de todas as capitais do Brasil, mas isto no existe.

    So Paulo a Avenida Paulista, os Jardins, o resto no importa.

    Alguns anos atrs, dez, quinze anos, o Hlio pensou assim: Eu voupegar o conhecimento desse processo de desenvolvimento,prosperidade e tudo mais, e vou passar para a comunidade negra, semcusto, para poder ajudar, contribuir. Como que se pode entrar nacomunidade para poder conversar? Porque, depois de todo esse dramano Brasil desde 1880, surgiu outro problema, to complicado quanto,que o preconceito dos negros contra os brancos. lgico, defesa declasse, de raa. Tanto fizeram, que sefecha - ns contra eles. Esse

    o subproduto da explorao, de toda essa histria. Como que oHlio pode conversar com eles? Como o Hlio dizia, naquela poca, eletinha um problema de pele: era muito branco. Como fazer parainteragir com eles? Como chegar l dentro? O que o Hlio fez? Arrumouduas amigas promotoras do seu trabalho, que vendiam, divulgavametc., uma totalmente branca e outra totalmente negra, os opostos, eque eram amigas. As duas passaram a vender e divulgar o trabalho doHlio.

    O Hlio falou: Eu quero falar na comunidade negra.Vamos l, que

    eu vou com voc. Ento, eu fui bem acompanhado, e entrei em umacomunidade. Quero passar o conhecimento, vou dar palestras,palestras e palestras, somente isso. O presidente naquele momentofalou: Tudo bem. Liberou o anfiteatro, que comportava setentapessoas, e durante as tarde o Hlio fazia as palestras. Havia setentamulheres negras. Um sucesso total. O ano passou e houve troca depresidncia. Sabem como poltica. A cada quatro anos, troca-se tudo,s vezes; e foi trocado o presidente. Era preciso novamente negociar;foram conversar com o novo presidente, porque caso contrrio, no seentrava para dar as palestras.

    Ao entrar na sala do novo presidente, vimos direita um psterenorme, de 60 cm, de Martin Luther King cumprimentando Malcolm X,na nica vez que eles se encontraram. Se vocs procurarem no Google, fcil encontrar esse pster e est at venda. A nica vez queMalcolm X e Martin Luther King se encontraram. O pster estava, l,na parede do presidente. Supe-se seja uma pessoa firme, algum quecoloca o pster do Malcolm X. Do Martin Luther King, tudo bem; depoisque ele foi embora, pode ter mausolu, pode ter o seu dia. Depois queest bem enterrado, bem mortinho, pode haver inmerashomenagens. Mas com o Malcolm X um problema, j bemcomplicado. Mas o presidente tinha o pster dos dois. Quando o Hlioolhou aquilo, pensou: Bem, no haver problema nenhum, porque

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    quem capaz de colocar um pster desses na parede porque vailutar pela comunidade, vai querer o progresso, defender os interessesetc..

    O Hlio explicou a proposta de trabalho e a resposta foi:No. A porta

    se fechou imediatamente, nunca mais foi possvel dar uma palestrapara eles, nunca mais. Moral da Histria: uma fachada. Esse papofurado de colocar pster do Martin Luther King com o Malcolm X poltica, da boca para fora, s mise-en-scne, como se fala.Quando se fala em fazer, a respostas no. Como a maioria daspessoas no toma uma atitude diante disso?

    A populao no tem ideia do quanto o sistema fechado, de quantoo sistema se autoperpetua, de quanto impede que o conhecimento sejapassado. S quando voc vai at eles e prope fazer um trabalho,

    que v a negao na hora. Isso com certeza uma raridade absoluta,e o sujeito tomou um susto. Mas o qu? Passar conhecimento?Isto um palavroque no tem tamanho.

    O Hlio meio teimoso. Ele foi a uma favela, pois lhe falaram que haviauma senhora muito batalhadora, firme na atitude de ajudar, fazer eacontecer. Ele conversou com ela, e ela concordou. Marcou s 15 horasna favela. Pode ir l que eu vou deixar o senhor falar.s 14h30 oHlio estava na favela, no barraco. Havia umas setenta mulheresmiserveis, uma cena horripilante. A senhora chefe da instituio virou

    e disse assim:No vai dar para o senhor falar.E o Hlio:Mas como?Elas no vo entender o que o senhor fala.- at hoje eu ouo estahistria - o Hlio respondeu: No tem problema, vou trocar devocabulrio, vou falar de um jeito que elas entendam.No, nopode.S restou pegar a mala e sair andando, e eu fui embora. Nome deixou falar.

    Mas existem instituies que, vocs sabem, controlam a favela. O queo Hlio fez? Foi falar com a instituio. J que no d para falar ldentro, vamos ver algo perifericamente, onde haja possibilidade de

    falar. Voc no vai estar no meio, vai dar aula fora; existem prdios,tudo, toda a infraestrutura para se dar curso. O Hlio conhecia umapessoa de dentro dessa comunidade, que o levou at l, e fizeram umareunio. Perguntaram: Qual a sua proposta? O Hlio colocou:Quero passar conhecimentos de Neurolingustica e Informtica.Duascoisas diferentes, porque o Hlio trabalhava com Informtica.Adivinhem. No pode.

    sempre assim. Voc pode bater nas mais diversas organizaes,instituies, o que for, que no poder passar conhecimento para eles.Vocs entendem que isso ideolgico, sociolgico? E o pior, aspessoas do nvel classe mdia e que fazem isso. So pessoas que

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    introjetaram a dominao, e pensam igualzinho ao poderoso senhor eacham que pensam por si mesmos; esta a questo.

    O melhor escravo aquele que nem pensa que escravo, nem percebeque . O melhor tigre no aquele que pula no fogo, atravessa o aro,

    quando o domador entra na jaula e bate o chicote. O melhor tigre aquele que no precisa de chicote, pula, no precisa de chicote,no precisa de mais nada. Est to introjetado, est toincorporado dominao, que o servo perfeito.

    So esses tipos de servos que tm os cargos dominantes, porque,quando voc prova que um bom escravo, passa a ter umas benesses.Tudo isso muito bem pensado.

    Dra. Mabel:

    Vamos encerrar com mais dois ndices.

    Taxa de Informalidade no Emprego (sem carteira assinada).Homens brancos e mulheres brancas, aqui a taxa se inverte, menorentre os brancos. Homens negros e mulheres negras h a dupladiscriminao. E falando sobre negros e obesos, vemos que acontecea mesma coisa, a dupla discriminao. Ser obeso tambm umproblema.

    Os negros correspondiam a 45% da populao brasileira em 2001.Dentre a populao considerada pobre, 60% so de afrodescendentese, dentre a populao indigente, o ndice sobe para 66%. Entre 1992e 2001, o nmero absoluto de pobres se reduziu em 5 milhes depessoas, apenas entre brancos e outras raas. Entre os negros, essenmero cresceu em quase 500.000. Ento, as melhorias nacionais quetemos visto nos ltimos anos foram para os brancos e outras raas.Houve uma experincia na cidade de Bauru, recentemente. Pediu-se,numa classe de crianas entre 7 e 8 anos, a maioria negros, que

    desenhassem a si mesmos. Faam um autorretrato; como vocs seenxergam? Alguns exemplos das respostas: crianas negrasretrataram a si mesmas de cabelos compridos, ou seja, elas seenxergavam assim, loiras, de olhos azuis, cabelo comprido e liso.Tinham embaixo um menino branquinho de cabelo liso.Isso a autoimagem criada desde a poca da escravido. Melhoroualguma coisa? Est melhorando algo, nos ltimos anos? No.

    Prof. Hlio: (projeo de slides)

    Jos Bonifcio de Andrada e Silva disse: Riquezas e mais riquezasgritam os nossos pseudoestadistas, os nossos vendedores e

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    compradores de carne humana, os nossos sabujos eclesisticos, osnossos magistrados, se que se pode dar um to honroso ttulo a estasalmas que a maior parte so venais e impem a vara da justia paraoprimir os desgraados que no podem satisfazer a sua cobia oumelhorar a sua sorte.

    E ento, senhores, como pode grelar a justia e a virtude, eflorescerem os bons costumes entre ns? Quando me emprego nestastristes consideraes, quase que perco de todo as esperanas de ver onosso Brasil um dia regenerado e feliz, pois que se me antolha que aordem das vicissitudes est de todo invertida no Brasil. O luxo e acorrupo nasceram entre ns antes da civilizao e da indstria.

    Ele disse tudo: o luxo e a corrupo nasceram antes de tudo aqui, aspessoas que vieram para c eram luxo e corrupo, e se perpetuaram,

    porque, lgico, o poder se perpetua. Se tirarmos qualquer informaosobre a data, esta descrio confere com a realidade brasileira de hoje?Pois .

    Mas nem tudo mau e est perdido. Vejam este trecho escrito porHegel - A Dialtica do Amo e do Escravo.

    O escravo aquele que no foi at o fim na luta, aquele queno quis arriscar a vida, aquele que no adotou o princpio deAmos, Vencer ou Morrer, aceitou a vida escolhida por outro,

    por isso depende deste outro. Preferiu a escravido morte; por essa razo que, permanecendo com vida, vive comoescravo.

    O escravo no quis ser escravo; tornou-se escravo porque no quisarriscar a vida. Da a advertncia perene: o Amo no Amo, senopelo fato de que possui um escravo que o reconhece como tal. Essa a questo.

    Porque qualquer que quiser salvar a sua vida, perd-la-; mas

    qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvar. Lucas9:24.

    Quem achar a sua vida, perd-la-; e quem perder a sua vida poramor de mim, ach-la-. Mateus 10:39.

    Porque qualquer que quiser salvar a sua vida, perd-la-; masqualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, essea salvar.Marcos 8:35.

    Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perd-la-; e quem perdera sua vida por amor de mim, ach-la-. Mateus 16:25.

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    O povo Africano, que estava l, feliz da vida, parado no tempo,danando, comendo, feliz, evoluindo sua maneira, claro que erauma presa fcil. Outros pases desenvolvem armas; quem nodesenvolve se torna uma presa fcil.

    Hoje a situao se perpetua: s trs, quatro, cinco pases podem terenriquecimento de urnio; o resto no pode. Ns chegamos antes eagora perpetuamos a nossa dominao, porque ningum mais pode.E a maioria, o que faz?Sim, senhor, sim, senhor.No verdade? Oconhecimento s pode ficar com esse ncleo, que o mesmo que estno poder, no mnimo, de 600 a 700 anos.

    Se um pas no quer comercializar, bombardeado. O Japo noqueria abrir para o comrcio externo, em 1850. O que fizeram? Como,geralmente as cidades importantes esto na costa, a ordem foi:

    Bombardeiem todo mundo! Vo fazer negcio conosco ou no?No! Ento bombardeamos!Parem o bombardeio, vamos fazernegcio. No mundo inteiro deste jeito: voc no faz o que quer; temque fazer o que eles querem.

    O problema, como eu j havia dito, maior do que este. O fato doescravo no lutar, mostra uma problemtica subjacente, quepermanece. S que todos ns estamos inseridos neste mesmoproblema. Hoje o ser humano faz como sempre fez. Zona de Conforto.O que ele acha que acontece consigo mesmo, aqui, agora e depois,

    ficando na zona de conforto e no fazendo nada para o progresso nemde si prprio nem dos irmos?

    Por isso que o assunto morte um tabu total, no se pode falar demorte. Nunca. Por isso que, nos velrios, o que menos se fala disso.O mnimo possvel, e quando se toca no assunto, a expresso foipara o descanso eterno. No evolui, no cresce, no acontece nada.Descanso eterno. E como est o jogo de futebol? E a festa, e as frias?Voc passou ou no passou? E o prximo final de semana, para ondeiremos? extremamente instrutivo ir a velrios. Extremamente;

    deveramos ir periodicamente a velrios de estranhos. Porque vocpoderia fazer uma pesquisa cientfica, sem envolvimento emocionalcom ningum, no precisaria ficar triste, nem chorar. V l e faa umapesquisa. Claro, piorou muito, as coisas se deterioram. Antigamente,os velrios eram espetaculares. Havia coxinha, empadinha, comida,caf, leite. Hoje, no h nada; preciso pagar e ir ao boteco do ladopara comer.

    preciso pensar sobre o que este negcio de morte. O que acontecedepois dessa vida daqui? A conscincia permanece, os indcios e asprovas so contundentes, toda a Mecnica Quntica prova. Portanto,qual vai ser o meu destino depois que eu fizer o desligamento do corpofsico? O que voc est fazendo momento? O que a maioria faz?

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    Guardando a prpria vida.No, eu estou salvando a minha vida. Minhacarreira, minhas frias, meus negcios etc., o resto que se lasque. Scuido da vida material, aqui e agora. Mas quem pensa assim noenxerga que h outro lado, outra dimenso, que tudo continua e o quevoc cria, voc colhe. Todos os senhores de engenho esto colhendo.

    Portanto, o que o Mestre falou h 2000 anos se aplicacomo uma luva.Voc quer s salvar a sua vida? E s o seu interesse material, trabalho,frias, viagem, balada etc., e voc acha que est levando uma boavida, teve sucesso?

    Muita gente se rebelou, mas foram dizimados imediatamente, o maisdepressa possvel. Quem foi contratado para dizimar o quilombo noNorte? Um paulista, o melhor especialista que havia, perceberam?Quem pode fazer a melhor chacina, a melhor carnificina? H um

    sujeito, l, em So Paulo que bom nisso; j provou que os mtodosso perfeitos com os indgenas. Ele foi contratado, a peso de ouro.Pediu uma fortuna e deram tudo que ele fosse precisar, todos osrecursos, dinheiro, tudo. O que ele fez?Cumpriu. Foi uma chacina de5.000, 8.000, 10.000, nem se sabe, porque no sobrou ningumparacontar histria, porque no se tem nenhum documento doschacinados, e no possvel saber quantos havia, mas era por voltade 10.000, 12.000, 15.000, na regio. No lugar especfico onde foi feitaa chacina, deveria haver 8.000 pessoas. Quando os contratadosentraram, mataram todos. por isso que a histria escrita pelos

    vencedores. Ento, onde esto os documentos, como podem serencontrados? No se acham esses documentos aqui. preciso ir aPortugal fazer uma pesquisa, porque aqui no h nada.

    O problema da zona de conforto gravssimo, por causa disso, porquese deixa para depois. Depois vai se postergando. No se pensa, no seestuda, nada, nada, vamos levando. Se as pessoas entendessem,2000 anos depois, o que Ele disse, e que est ali com todas as letras:Se voc dedicar a sua vida ao Reino, na viso de muitas pessoas,ter perdido a vida, mas a sim voc ganhar a vida. Ento, a pessoa

    no percebe que est cometendo o maior erro possvel.Quanto mais se d, mais recebe. Esta uma Lei maravilhosa doCriador. O Criador, Deus, no se deixa vencer em generosidade. Nose deixa vencer; quanto mais voc der, mais Ele vai dar. Centuplicado.Isto tambm o Mestre falou. Vai receber cem vezes mais, metafrico, porque mais do que isso. Quanto mais der, mais recebe;voc faz mais e recebe mais. Voc faz mais e recebe mais, assim.

    Agora, como as pessoas vo descobrir isso na prtica, se no fazem?Se no movem um dedo em direo a isso? Se no saem da Zona deConforto, como vo descobrir o que o Criador pensa? Como Ele pensa,como sente? Como o Criador age? S se voc tiver um contato pessoal

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    com Ele, que voc pode descobrir isso. No ouvindo falar, no lendo livro de qualquer religio que seja; isso terico, mental, issono nada. Com base nesses livros todos, que chacinas e guerrasreligiosas foram feitas.

    Quando as pessoas fazem isto, imaginem a quantidade de energianegativa que agregam em si; quando fazem estas coisas, em nome deDeus. Mataram 40.000 pessoas no dia em que os Cruzados entraramem Jerusalm e foram direto Sinagoga. Tinha 40.000 pessoasrezando, orando; mataram todos em nome dEle, com a cruz. Paraonde foram essas pessoas, as que fizeram essa chacina? Deus gostoudo que eles fizeram?

    Que tipo de lgica necessria para essas pessoas entenderemque a nica coisa que vale no Universo, a nica moeda de troca

    que voc pode ter AMOR? o AMOR pelo que voc deu pelosdemais, a nica moeda. Tanto que o Mestre falou: O ladroarmazena dinheiro, pedras; voc tem que armazenar a suariqueza nos cus; l no existe traa, no existe ladro quepode roubar. Isto : dentro do seu corao, falandomecanicamente, quanticamente, armazena riqueza elevando asua vibrao de Luz. Est resolvido o problema.

    Enquanto se permanecer na zona de conforto, de arrumar escravospara fazer o nosso trabalho, para enriquecermos por meio deles, e

    empurrarmos com a barrigaa realidade ltima, porque nem sequerse pesquisa, no armazenaremos nossa riqueza no cu.

    Se a pessoa fizesse uma pesquisa cientfica, por meio de testes delaboratrio, testes, para descobrir qual a realidade, ela descobriria.Todos os mestres que passaram por aqui e vivenciaram, descobriram,escreveram e documentaram; assim. Agora, se voc ficar na teoria,sabe quando descobrir, por que ouviu falar sobre o que o outroescreveu? Fica aquela histria, que o Hlio ouve:Mas no pode comerfeijoada, no pode ter sexo, no h alegria nenhuma, vamos virar

    ascetas, tristes; para que eu vou querer uma vida dessas?Quem disseisso? Quem disse que assim? Um humano falou que para manipulartodo mundo? Onde vocs acham uma coisa dessas nos evangelhos?Onde? Ento, quem disse que desse jeito?

    Ele disse o contrrio: Eu vim para que tenha vida e vida emabundncia, abundncia.No ter um carro. ter dez, quinze,cinquenta, duzentos e cinquenta carros, pode brincar vontade.

    Qual a diferena? onde voc pe o seu corao, e se voctem ou no tem amor. O resto tabu, preconceito, ignorncia,porque tiram concluses apressadas ou acreditam no quefalaram.

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    preciso ter relacionamento pessoal com o Todo. No se podeconfiar que o fulano de tal seja o intermedirio, que ele saiba oque o Todo pensa. Vocs no podem seguir pessoas, precisamter contato pessoal com o Todo; a nica fonte de verdade que

    vocs podem achar, testar a sua relao com o Todo. Eu voufazer uma coisa e ver como ele reage; vou fazer outra coisa, voufazer uns testes. Falaram que, se fizer o bem, vem centuplicado;ento eu vou fazer. Faa e veja; teste para ver se nomultiplicou. E se multiplicar? Este o medo, este o medo. Sevoc deu um copo dgua e recebeu cem, como faz? Voc vaiparar? Estar provado que Ele d centuplicado, e ento voc fazo qu?

    o que acontece na Ressonncia trs meses depois, 60 a 70% das

    pessoas param. Assim que veem que comeam a crescer, crescer,crescer... No. No. Eu no quero crescer, quero ficar na zona deconforto. a mesma coisa. Sofre-se desnecessariamente. E quantagente ainda acha que, para chegar ao Todo, atravs do sofrimento?Sofrimento s vai gerar dor e revolta.

    Dra. Mabel:

    O tema - Educao - tem muito a ser colocado. E quando falo de

    educao, no estou falando sobre instruo. Todos aqui soinstrudos, todas as pessoas l fora tm um grau de instruo e nonecessariamente tm a Educao.

    A educao voc descobrir e despertar no outro o que ele temde melhor, as suas potencialidades, porque ns viemos aquicomo embries, ns somos sementes, um vir a ser.

    Tudo isso que ele estava falando agora educao. Isso no se ouvenas escolas. As escolas instruem os egos, porque a nossa sociedade

    montada em cima do ego, um fazer horizontal, e no se fomenta ocrescimento vertical da conscincia.

    Isso muito interessante que se mantenha assim, porque o podergarante a manuteno do statusassim.Vamos instruir, dar bastantefatos cientficos, ensinar como fomentar a cincia, os negcios. umainstruo de convenincia, para se conseguir melhor emprego, melhorrenda, prestgio.

    E a educao muito diferente. Consiste em voc trabalhar a sua alma.Isso no h por aqui, nem no sistema educacional oficial, nem nasreligies. O sistema oficial promete uma recompensa futura:Olhe, nofinal do ano, quando voc passar, bom.No vestibular, quando voc

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    entrar na faculdade, quando voc se formar, l na frente e pudertrabalhar... Ento, sempre o futuro, a recompensa no futuro. E, nasreligies, a recompensa pstuma. Sejam bonzinhos, sejamaltrustas, o que no deixa de ser um egosmo disfarado, para quevocs tenham, l, do outro lados recompensas.

    Um homem iluminado, educado, vive essa vida rica aqui eagora, como ele estava falando, no no futuro. Ele um homemque entende que, quanto mais faz, mais recebe. Essa amoedas de troca.

    A educao estimula a compartilhar, enquanto a instruoestimula a competio, desde cedo, inclusive racial.Veja osorientais como esto roubando as nossas vagas- assim comea desdecedo.

    Educar, ningum educa ningum. Voc pode educar-se a simesmo. Agora, um Mestre, aquele que atingiu o grau deIluminao, de autoconhecimento, de autorrealizao, elepode, sim, apontar o caminho ao discpulo. Quando eu faloMestre pode ser o Educador, ele aponta.Existe l uma porta e eletraz o discpulo at essa porta. Convido voc a entrar. J entrei e fiqueimaravilhada, mas no adianta eu lhe contar. Voc ter que entrar eexperimentar, mas o Guardio que h neste portal da sabedoria,do conhecimento da sua alma, guardado pelo livre arbtrio.

    Como diz o filsofo Huberto Rohden: "O que o Mestre fez, e oque todo mestre pode e deve fazer mostrar o caminho no qualo discpulo se pode autoeducar. Mas nenhum mestre temcerteza de que seu discpulo siga esse caminho. O livre-arbtriodo homem uma fortaleza inexpugnvel, cujas portas noabrem para fora, mas somente para dentro."Isso : o indivduovai entrar se ele quiser. Todo esse processo existe. H pessoas quevo at a porta, viram as costas para o Mestre e vo embora. Noquerem entrar, no veem vantagem nisso e pior, alguns ficam na porta

    eternamente, e ficam filosofando:Por que eu vou entrar? O que voudeixar aqui fora? Por que no entrei ainda? Quais so as justificativas?Por que eu sou assim?E a pessoa fica ali na porta eternamente. Isso o pior de tudo, e raros entram.

    Agora, mesmo dentre aqueles que entram, alguns voltam para buscarum discpulo pela mo e levar at o portal, porque alguns entram eno voltam mais. Esta a zona de conforto de alguns iluminados, dealguns msticos, que no querem enfrentar o fazer aqui fora.Bom, euj me iluminei, estou no nirvana e est timo, cada um tem o seutempo. Ser que ns temos este tempo para perder, depois de tudoque vimos aqui hoje? D para se iluminar, entrar e no voltar mais?No d.

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    Vamos voltar a falar disso, mas essa a verdadeira educao. Podemoscomear isso nos nossos lares e no se iludam, porque os nossosfamiliares oferecem a maior resistncia. Ento, no esperem o esposoe a esposa comearem o seu caminho ao seu lado, porque isso no vai

    acontecer. No esperem os filhos, os irmos, adotarem o mesmocaminho que voc; isso no vai acontecer. Este um caminho solitrio.

    Voc pode continuar este processo nas escolas, no as pblicas,infelizmente, porque o poder no tem interesse, mas as escolasprivadas. Os mais corajosos podem comear a ensinar MecnicaQuntica, voltar ao estudo da Filosofia e ensinar para a Alma. Ecada um de ns pode ensinar quem est do lado. Voc noprecisa ser um professor, voc pode ser um educador do seuirmo aqui do lado. Assim cada um vai fazendo medida do que

    pode, para que episdios como esses da Histria no voltem a serepetir.

    Prof. Hlio:

    Como possvel comparar tudo o que o homem faz de mal a um limo,do qual se pode fazer uma limonada, e a benevolncia de Deus infinita, qual foi o resultado espiritual de todo esse evento daescravido? Serviu como uma semente, porque seria muito difcil

    mudar o paradigma dos brancos, para que tivesse uma visodireta do mundo espiritual, um contato direto. O que j eradominante h milnios no iria abrir as portas para um contato direto.Porque um contato direto no pode ser cerceado, no pode serperseguido, no pode ser subornado, controlado, nada. Quando vocfala diretamente com o esprito, no h nenhuma maneira de controlarisso. A verdade, a realidade espiritual, vir tona de qualquer maneirae os fatos so contundentes, porque a pessoa duvida, at que elaconverse um dia.

    Ento, um dia em que a pessoa sem crena alguma ficar face a facecom um mdium, um canal, um sensitivo, um psquico - o nome noimporta - que estiver incorporado consciente ou inconsciente existemas duas formas - os segredos mais bens guardados na mente daquelapessoa, que s ela sabe, que no esto documentados em lugar algume que ela nunca contou para ningum, esses segredos viro tona namesma hora, se for produtivo, se for bom para os dois que estoconversando. Mas para se provar, por exemplo, ento o esprito fala:Fulano, lembra-se daquele fato assim, assim, assim? Lembra-se deque, na sua casa, voc guardou um negcio assim? Lembra-se daqueledia etc.?Nesse momento a pessoa para e pensa, porque irrefutvel,s ela tinha acesso quela informao. Como que qualquer ser, queest sendo usado como aparelho para ser incorporado e ter um contato

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    interdimensional, como ele sabe? Ento, qualquer mistificao pode serdesfeita facilmente. O esprito que est ali, se for da Luz, o resultado um; se no for, o resultado outro. muito fcil de separar o joio dotrigo, saber quem quem, quem se est incorporando.

    Como essa possibilidade, essa metodologia poderia ser implantada nonovo mundo, no Brasil? S atravs dos negros, que j tinham esseconhecimento na frica, h milnios.Como disse um catedrticoda Sorbonne, em visita frica, ele ficou perplexo, recentemente,quando foi a uma tribo, e perguntou para um menino de sete a oitoanos:Qual a sua religio? Ele respondeu: Eu sou animista.O professor quasecaiu duro, porque, na Frana, para ser animista,voc precisa fazer os altos estudos da Sorbonne, e olhe l! E ummenino de sete anos disse: Eu sou animista.

    O menino j entendeu tudo. Mas sero necessrios milnios deMecnica Quntica para mudar este planeta, para que os ocidentaisentendam isso. Estas palestras todas so, literalmente, para se passarANIMINSMO; s no se usa este termo, fala-se de n (diversas)maneiras, mas o conceito filosfico, teolgico, que est se passando, este. E o menino de sete anos de idade j tem isso e j vive isso, o que melhor.

    Com o passar do tempo, melhorou o convvio entre brancos e negros.Ainda durante a escravido, muitos negros alforriados se juntavam a

    brancos que tinha conscincia e comearam a comprar fazendas, ecomprar cartas de alforria para outros negros. Por isso, surgiu ummovimento abolicionista, porque muitas pessoas se uniram emresolver a questo. E naqueles locais e nas fazendas onde j havialiberdade em que o novo senhor que comprou tudo, falou: Aqui noh mais escravido, todos somos iguais - ali pde comear o que 20,30 anos depois ficou institucionalizado e convencionou-se chamarUmbanda, que foi criada oficialmente em 1908, no Brasil.

    A Umbanda foi gerada nas senzalas. Por isso que o local de reunio se

    chama barraco; o ritual feito no barraco, porque essa era toda ainfraestrutura que eles tinham, antigamente, para fazer o culto. Todaa terminologia daquela situao de uma fazenda, do que havia disposio: um toco para sentar etc. e os mdiuns que, j naquelapoca, comeavam a incorporar. Havia muitos, muitos mdiuns jincorporando naquela poca e num barraco de uma fazendaescravagista, recm liberta.

    Quem iria falar para os negros ali, vivendo naquela fazenda? Quem iriase apresentar e como iria se apresentar a eles, de modo que pudessehaver interlocuo, que fosse possvel conversar, que eles pudessemaceitar, numa reciprocidade, e entenderem que eram seres espirituais,que estavam passando, que estavam incorporando e tudo mais? E

  • 8/12/2019 19. HISTRIA DO BRASIL.pdf

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