1930 Martiniano e Aninha - Opô Afonjá

download 1930 Martiniano e Aninha - Opô Afonjá

of 14

Transcript of 1930 Martiniano e Aninha - Opô Afonjá

  • 7/21/2019 1930 Martiniano e Aninha - Op Afonj

    1/14

  • 7/21/2019 1930 Martiniano e Aninha - Op Afonj

    2/14

    @as suas cartas a Ramos, /arneiro tin%a que ser "iscreto e n6o alu"ir a fatos e situa5Ces queu"essem *ir a comrometer seus amigos "os can"om#l!s2

    "Nessas duas figuras singulares bem se poderiam identificar as clssicas categoriasweberianas da legitimao do poder ..."

    Martiniano e .nin%a s6o atualmente nomes lem#ra"os na tra"i56o oral "e to"os os terreiros "a

    $a%ia, mitifica"os 1, na lem#ran5a "a ;gente:"e:santo;, "os que os con%eceram em *i"a e "osque ou*iram contar %istGrias "e seu o"er, "e seu con%ecimento, "e seu imenso rest+gio2 @essas"uas figuras singulares #em se o"eriam i"entificar as clssicas categorias e#erianas "alegitima56o "o o"er, no caso, "o o"er teocrtico exerci"o elos ais e m6es "os terreiros "a$a%ia eram eles essoas que con%eciam suas origens !tnicas e culturais2 Dota"os "e umsuerior con%ecimento "as tra"i5Ces e recon%eci"os or to"a a gente como "etentores leg+timos"o sa#er religioso, "os ;fun"amentos; como se "i0 na linguagem "os terreirosJ forma"os nosrigorosos c?nones "o ritual, "os sacrif+cios, "o questionamento "o "estino, "as cosmogonias, "asteogonias e "a a56o corretora "as normas : Martiniano e .nin%a eram ain"a "ota"os "e uma auracarismtica emana"a "e suas ersonali"a"es o"erosas, lenas "e sa#e"oria e "e mist!rio2Ki*eram queri"os, reseita"os e temi"os2 E %o1e s6o lem#ra"os e re*erencia"os na memGria "osterreiros como *er"a"eiros %erGis culturais "e sua gente2

    Martiniano e .nin%a foram as figuras mais imortantes e restigiosas "o can"om#l! "a $a%ianaquela !oca2 .l!m "e Ramos e /arneiro, muitos outros esquisa"ores rocura*am con%ecer eentre*istar o s#io #a#ala- e a famosa m6e:"e:santo2 /arneiro ser*iu "e interme"irio a *rios"esses encontros, esecialmente com Martiniano2 @um artigo intro"utGrio como esse "e*o,contu"o, necessariamente, limitar:me a um le*antamento seleti*o "as muitas fontes escritas quese referem a Martiniano e a .nin%a, e a alguns "eoimentos essoais "e antigos "ignitrios "osterreiros : ais e m6es:"e:santo, og6s, o#as, e#-mes : que os con%eceram em *i"a2 DestesHltimos, no caso "e .nin%a, trs s6o "e fil%as:"e:santo suas Maria $i#iana "o Es+rito Santo,Sen%ora, M6e "o .x! "o O- .fon1, que era, ain"a, #isneta "a rGria m6e:"e:santo "e .nin%a: Marcelina "a Sil*a, O# TossiJ On"ina Kal!ria Bimentel, fil%a "o $al! ang- os! Teo"oroBimentel, Iquequer "o O- .fon1 e, com a morte "e Sen%ora, sua sucessora naquele terreiroJ

    e Isolina .ta+"e "e .raH1o, No0G, M6e "o /an"om#l! Il $a# Omin2 So#re .nin%a, ain"a, o "oO# .#io"um, .rquelau Manuel "e .#reu, arente "e .nin%a e o "e DeoscGre"es Maximiliano "osSantos, Di"i, fil%o "a ialorix Sen%oraJ seu li*ro,Ax Op Afonj! uma in"isens*el refernciaara a %istGria "aquela casa2 uanto a Martiniano, muito imortantes foram os "eoimentos "oO#a .t! "e S6o on5alo, Miguel .rcan1o $arra"as "e Santana e "o seu fil%o, o O# /ancanf-,.nt-nio .l#!rico Santana, "entre outros informantes *li"os2

    Martiniano "!odo o mundo pensa que eu tenho muito dinheiro mas desde que o r.Nina #odrigues morreu$ no ti%e mais um emprego regular".

    Martiniano Eliseu "o $onfim foi um mem#ro muito influente "os can"om#l!s "a $a%ia, "es"e osfins "o s!culo I2 @ina Ro"rigues a ele 1 se referia, sem mencionar:l%e o nome, como um

    *alioso informante

    P aqui na $a%ia "i*ersos negros que aren"eram em Lagos a ler e a escre*er a l+ngua ioru#2@6o me ten"o c%ega"o at! agora a gramtica e o "icionrio ioru#ano ingls que "e Lagos man"ei#uscar, a tra"u56o e a ortografia "as ala*ras ioru#anas emrega"as neste tra#al%o, *6o comome foram ensina"as or um mo5o negro, "e ais africanos, que or muitos anos resi"iu emLagos2

    Esse ;mo5o negro, "e ais africanos; era Martiniano2 Teria, elo temo em que @ina o con%eceu,cerca "e trinta anos, ois nascera em &AQ'2 P quem "iga que em &A=) ou mesmo &A=&, semmuita certe0a2 Dessa cola#ora56o "e Martiniano com @ina, falaria o rGrio #a#ala-, muitos anosmais tar"e, em &'(A, 3 antroGloga Rut% Lan"es ;To"o o mun"o ensa que eu ten%o muito

    "in%eiro mas "es"e que o Dr2 @ina Ro"rigues morreu, n6o ti*e mais um emrego regular;2 Teriasi"o, ois, Martiniano, um informante remunera"o "e @ina Ro"rigues, sem que se sai#a se comalgum ;*+nculo emregat+cio; como %o1e se "i0, fosse atra*!s "a acul"a"e "e Me"icina "oTerreiro "o esus ou a ser*i5o "o rGrio @ina2

  • 7/21/2019 1930 Martiniano e Aninha - Op Afonj

    3/14

    . tra"i56o oral "o o*o:"e:santo e as referncias escritas "e esquisa"ores e escritores como4"ison /arneiro, orge .ma"o, .rtur Ramos, "ano "o /outo erra0, Donal" Bierson, Rut%Lan"es, E2 ranlin ra0ier e outros, transformaram o *el%o Martiniano numa figura len"ria "ocan"om#l! "a $a%ia2 Sua *i"a, seus anteassa"os, suas *iagens 3 frica, seu sa#er, suaautori"a"e e articia56o efeti*a : como #a#ala- e consel%eiro : nas mais antigas e restigiosascasas:"e:santo, tu"o isto o fa0 merece"or "e um estu"o mais arofun"a"o "o que esta #re*eresen%a #iogrfica2 uan"o "a reali0a56o "o 9o/ongresso .fro:$rasileiro, na $a%ia, em &'(F, a

    que Martiniano "eu uma cola#ora56o marcante, orge .ma"o escre*eu a seu reseito, umcomo*i"o ;Elogio "e um /%efe "e Seita;, li"o elo autor na sess6o "e &Q "e 1aneiro "aquelecongresso2 Disse, ent6o, orge .ma"o

    V222W P, or!m, so#re to"os esses nomes um nome a lem#rar, a estu"ar, a lou*ar o "o Brof2Martiniano Eliseu "o $onfim, c%efe "e seita, a mais no#re e imressionante figura "a ra5a negrano $rasil "e %o1e2 Sua sinceri"a"e, seu amor 3 sua ra5a, a sua "e"ica56o, a sua inteligncia, asua cultura fa0em "este c%efe "e seita um "os tios reresentati*os "as mel%ores quali"a"es "os#rasileiros2

    E, mais a"iante, "isse ain"a

    P quase quatro anos um romancista, que queria escre*er um romance %onesto so#re a ra5anegra no $rasil, su#iu as esca"as o#res que con"u0iam 3 o#re mora"a "o maior e maisreseita"o nome "as seitas africanas transorta"as ao $rasil e "es"e ent6o a osi56o "aqueleromancista "iante "este c%efe "e seita tem si"o a "a mais a#soluta e como*i"a a"mira56o2

  • 7/21/2019 1930 Martiniano e Aninha - Op Afonj

    4/14

    elementos "a %istGria "e *i"a "e Martiniano e "e sua inser56o na %istGria social "a $a%ia "os anos"e &'()2 Deois, em &'(A, este*e na $a%ia a antroGloga americana, "a Uni*ersi"a"e "e/olum#ia, "e quem falarei a"iante : Rut% Lan"es2 Ela "escre*e em seu li*roA cidade dasmulheresseus encontros e entre*istas com Martiniano, "eixan"o:nos um retrato *i*o, simtico eesirituoso : n6o isento "e alguma mal+cia : "a ersonali"a"e fascinante e "omina"ora "e *el%o#a#ala-2 So#re o rimeiro "esses encontros, escre*eu

    . rimeira essoa com quem 4"ison acertou uma *isita formal foi um negro "e cerca"e A) anos con%eci"o como Martiniano : o seu *er"a"eiro nome era Martiniano Eliseu "o $onfim2Era uma institui56o na $a%ia e na *er"a"e em to"o $rasilJ consi"era*am:no um s#io no seumun"o2 @asci"o no $rasil, so# a escra*i"6o, "e rogenitores que %a*iam comra"o a sua rGriali#er"a"e, foi en*ia"o elo ai mais ou menos aos quator0e anos, a Lagos, na frica Oci"ental, eestu"ou as tra"i5Ces tri#ais "e seus anteassa"os "a sel*a e aren"eu ingls nas escolasmissionrias V222W

    E mais a"iante

    V222W Martiniano or!m *oltou 3 $a%ia, on"e sua inteligncia ersica0 e sua ersonali"a"e"omina"ora e seus con%ecimentos esot!ricos foram recon%eci"os e o con"u0iram rai"amente 3

    fama entre os a"etos "o can"om#l!2 Os cientistas rocuraram:no 3s *e0es ara o#terinforma5Ces e o seu nome se nota#ili0ou entre eles, gra5as ao maior cientista social "o $rasil, oDr2 @ina Ro"rigues2

    Merecem, contu"o, esses trec%os "o li*ro "e Rut% Lan"es um #re*e comentrio no que se refere3 tra"u56o : o ;*er"a"eiro nome; est em lugar "e ;nome comleto;, enquanto a exress6o;anteassa"os "a sel*a; o"e sugerir uma imagem equi*oca"a "o tio "e socie"a"e agrria que*i*ia em al"eias e equenas ci"a"es, rGrio "a organi0a56o social e ol+tica "os ioru#s "a@ig!ria no s!culo I2

    Um terceiro americano estaria ain"a no camin%o "e Martiniano2 Desta *e0 o sociGlogo "aUni*ersi"a"e "e Par*ar", E2 ranlin ra0ier, que este*e na $a%ia or quase cinco meses, em

    &'7)2 De sua esquisa "eixou um artigo ;T%e @egro amil in $a%ia, $ra0il;, u#lica"o em &'792. entre*ista "e ra0ier com Martiniano re*ela "a"os #iogrficos que s6o #asicamente os mesmosreferi"os or Bierson e Lan"es2 .lgumas equenas "i*ergncias, contu"o, n6o alteram o essencial"a informa56o, coerente nos trs relatos a *iagem "e Martiniano, a"olescente, 3 @ig!ria, sua*olta 3 $a%ia, "eois "e on0e anosJ sua aren"i0agem e forma56o no culto "e If, que o tornariaum #a#ala-2 @essa entre*ista, "isse Martiniano a ra0ier que

    seu ai, que era "a tri#o eg#, foi tra0i"o ara o $rasil cerca "e &A9) e li#erto em &A792 Sua m6eera "a na56o ioru# e foi alforria"a or seu mari"o em &AQQ2 Seu ai e sua m6e nunca secasaram "e acor"o com os ritos catGlicos nem mu5ulmanos2 Seu a*-, que era um guerreiro nafrica, te*e quarenta mul%eres e seu ai, seguin"o as rticas olig?micas africanas, te*e cincomul%eres, "as quais sua m6e era a esosa rincial2

    E a artir "a+, ra0ier se esten"e na anlise "a estrutura familiar e "e arentesco "e Martiniano,"e*i"o, naturalmente, 3 orienta56o esec+fica "e sua esquisa na $a%ia : o estu"o "a fam+lia "onegro #aiano2

    Desses "eoimentos "e Martiniano "o $onfim a rofissionais treina"os em t!cnicas "e esquisasocial e mais, "o corpus "a tra"i56o oral "o o*o:"e:santo, muitas s6o as referncias encontra"asque merecem ou ermitem comentrios etno:%istGricos, sociolGgicos e lingZ+sticos2 @um tra#al%ocomo este, no entanto, n6o ! oss+*el sequer tentar uma anlise "esse tio2 .in"a assim, "e*oa#or"ar uns oucos tGicos "o *alioso material "ison+*el naquelas fontes a reseito "eMartiniano "o $onfim, "eixan"o aqui a sugest6o ara esquisas mais ela#ora"as so#re o assunto2

    @um trec%o, or exemlo, "a entre*ista "e Martiniano a Donal" Bierson, ele "i0

    O nome "e min%a m6e era Man1eg#assa, que quer "i0er ;@6o "eixe eu so0in%a;2 Ela nasceu"eois que a m6e tin%a er"i"o os "ois rimeiros fil%os2 Tin%a uma cicatri0 no rosto ara mostrar

  • 7/21/2019 1930 Martiniano e Aninha - Op Afonj

    5/14

    que era ioru#, orque to"os os ioru#s, %omem e mul%er, tem que ter esta marca2 Ela casoucom meu ai no $rasil e quan"o eu nasci eles me c%amaram "e O1ela"2

    So#re Majebassa : que se ronuncia Majebass!, ! um antro-nimo "e uma longa s!rie "enomes "a"os a crian5as que nascem e ;*ingam;, isto !, so#re*i*em, "eois "e irm6os natimortosou mortos na rimeira inf?ncia2 S6o nomes eseciais que rocuram ;exorcisar; o es+rito abi"uque amea5a a *i"a "as crian5as ioru#s2Abi"usignifica, recisamente, ;nasci"o ara a morte;2

    Dentre as *rias rticas rituais rescritas elos #a#ala-s ara e*itar a reencarna56o "oses+ritos abi"unos rec!mnasci"os, seus ais "6o 3s crian5as nomes que afastam ou afugentamesses es+ritos, asseguran"o a so#re*i*ncia "as mesmas2 4 muito gran"e a lista "esses nomes,or assim "i0er, re*enti*os, entre os ioru#s, to"os significan"o ou exressan"o o "ese1o "aermanncia no mun"o, "e uma crian5a nasci"a abi"u# Majebass!! um "esses nomes e quer"i0er, como exlicou Martiniano, ;n6o me "eixe so0in%a;2 Martiniano "isse, ain"a, que sua m6eera i1ex, e tin%a as marcas de na$!ono rosto2 E uma fotografia constante "o li*ro "e Manueluerino, %ostumes africanos no Brasil, so#reosta 3 legen"a ;Tio I1ex;, ! ti"a como o retrato"e Ma1e#ass6, segun"o "eoimento que teria si"o feito or Martiniano a amigos seus2 .s marcastri#ais "os ioru#s, "e que falou tam#!m Martiniano a Rut% Lan"es, ain"a que mal erce#i"as nafotografia alu"i"a, "istinguem os *rios gruos !tnicos que forma*am a antiga na56o ioru#2

    "+eu pai e sua me nunca se casaram de acordo com os ritos cat&licos nemmuulmanos. +eu a%,$ que era um guerreiro na )frica$ te%e quarenta mulheres e seupai cinco mulheres$ das quais sua me era a esposa principal..."

    @a sua entre*ista a Bierson, "isse Martiniano que ;seus ais l%e "eram, ao nascer, o nome "eOjelad&;2 .lguns autores contemor?neos sugerem que Ojelad&se1a um t+tulo, um oi&queMartiniano rece#era no culto "os eguns "a il%a "e Itaarica, on"e ele era re*erencia"o elos*el%os o1!s e titulares "o culto2 @a *er"a"e, contu"o, O1ela" era o nome rGrio ioru# "eMartiniano2 Bro*!m este nome "o t+tulo sacer"otal "e Oj, "o culto "os eguns2 .#ra%amesclarece ;O1!, t+tulo em fam+lia que a"ora os eguns2 Don"e os seguintes nomes rGriosmasculinos : .1ela#i, O1ela", O1eniram222;2 Ojrefixa"o : ou aosto : a um comlementonominal, forma uma gran"e s!rie "e nomes rGrios e "e oi&susa"os em lou*or "os

    anteassa"os "as lin%agens ioru#s associa"as 3s comlexas categorias "a cren5a naimortali"a"e e na reencarna56o2 Martiniano era con%eci"o e c%ama"o, nos terreiros "a $a%ia :inclusi*e no culto "os eguns "e Itaarica, or seu nome nag- "e O1ela"2 Este nome, or umrocesso comum "e meton+mia, assou a ser consi"era"o, na $a%ia, como um io&, um ;osto;2 E"eois "a morte "e Martiniano, em &'7(, o nome O1ela" integrou:se, naturalmente, na%ierarquia "o culto "os eguns, "e maneira que, atualmente, em "ois terreiros "e Itaarica,existem titulares com o nome "e O1ela"2

    Os autores e a tra"i56o oral falam "as *iagens "e Martiniano 3 frica, esecialmente "a rimeira,quan"o foi le*a"o or seu ai, quan"o tin%a mais ou menos cator0e anos2 Seu "estino foi Lagos,%o1e a caital "a @ig!ria, mas, 3quela !oca, uma col-nia que centrali0a*a a crescente exans6ocolonial inglesa so#re os o*os ioru#s e seus *i0in%os2 Martiniano, segun"o sua entre*ista a

    Bierson, ficou em Lagos ;on0e anos e no*e meses, "e &AFQ at! &AA=;2 Mais tar"e, retornaria 3frica : ara ele, ;frica; era Lagos, eram os nag-sYioru#s, sua na56o : on"e este*e or maisum ano2 Trs anos "eois, tornaria a *oltar ;ara *en"er coral, l6 grossa e fina e comrou ano:"a:/osta ara *en"er aqui;2 SG um exame mais ormenori0a"o "essa entre*ista : e "as outrasnas quais fala "e suas *iagens, recisaria a exata cronologia "a *i"a "e Martiniano, naqueletemo, entre a frica e a $a%ia2 .in"a so#re sua rimeira *iagem, um antigo O# "o terreiro "oO- .fon1, que fora muito amigo "e Martiniano, contou:me que ;o ai "ele man"ou ele ara africa, orque numa #riga ele que#rou a ca#e5a "e um raa0 #ranco, fil%o "e um %omemimortante e te*e que se escon"er "a ol+cia;2 Outros informantes me confirmaram esta *ers6ocom equenas *ariantes, inclusi*e "an"o a i"a"e "e Martiniano como sen"o, ent6o, "e "e0esseteanos2 Esta i"a"e, no entanto, se c%oca com a recisa informa56o "e Martiniano a Bierson, "e quefora ara Lagos com ;tre0e anos e on0e meses;

  • 7/21/2019 1930 Martiniano e Aninha - Op Afonj

    6/14

    -... Martiniano$ que %oltou de (agos "cheio de saber e ra'o"$ paraintegrarse pelo resto da %ida na comunidade baiana que permea%a comnaturalidade e orgulho.

    /omo quer que ten%a si"o, contu"o, a i"a 3 frica "e africanos li#ertos e "e seus fil%os, elos fins"o s!culo I, era, naquele temo, um imortante elemento legitima"or "e rest+gio e gera"or

    "e con%ecimentos e o"er econ-mico2 Enquanto negocia*am *rias merca"orias tra0i"as "a/osta e le*a"as "o $rasil, tam#!m, como %o1e se "i0, recicla*am o sa#er "a tra"i56o religiosaaren"i"a com ;os antigos;, nos terreiros "a $a%ia2 .ssim foi com Martiniano, que *oltou "eLagos ;c%eio "e sa#er e ra06o;, ara integrar:se elo resto "a *i"a na comuni"a"e #aiana queermea*a com naturali"a"e e orgul%o2 @as cartas "e /arneiro no testemun%o "os escritores eesquisa"ores, na memGria "o o*o:"e:santo, sua figura e sua lem#ran5a ermaneceram *i*as2

    Martiniano Eliseu "o $onfim e Eugnia .na "os Santos eram gran"es amigos e ! sa#i"o que o#a#ala- cola#orou largamente com a ialorix "e S6o on5alo na estrutura56o "o gruo "os O#sou Ministros "e ang-, como s6o con%eci"os esses olois2 .nin%a conce"eu a Martiniano, no .x!"o O- .fon1, o %onroso t+tulo "e .1imu", o que marcou o reseito e a consi"era56o que tin%aa *ener*el m6e:"e:santo elo s#io #a#ala-2 O sentimento, alis, era mHtuo2 Deois "a morte

    "e .nin%a, em 1aneiro "e &'(A, Martiniano confessa*a a Rut% Lan"es

    V222W @em mesmo *isito os terreiros "es"e que "ona .nin%a : "escanse em a0[ : se foi2/onsi"ero:a aHltima "as m6es V222W Sinto sau"a"es "ela agora2 .c%o que to"a a $a%ia sente2 @6ofa5o quest6o "e isar em nen%um "os outros temlos, mesmo que me con*i"em2 @en%um "elesfa0 as coisas "ireito como ela fa0ia2 @6o acre"ito que sai#am falar com os santos e tra0:los ara"an5ar nos terreiros "os temlos2

    O "iscurso emociona"o "e Martiniano : excluin"o:se, *oluntariamente, "as outras comuni"a"esque costuma*a freqZentar e on"e era rece#i"o semre com as maiores %onrarias : ri*ilegian"ouma m6e:"e:santo morta como a Hnica a merecer sua aten56o e reseito, eu ou*iria, muito maistar"e, num contexto semel%ante, "e outra *ener*el figura "os can"om#l!s #aianos, E"uar"oI1ex2 O *el%o ai:"e:santo, nos seus oitenta anos 1 comleta"os, queixou:se longamente, a

  • 7/21/2019 1930 Martiniano e Aninha - Op Afonj

    7/14

    mim, "a ligeire0a "os costumes, "a imro*isa56o "os rituais e "as cantigas, "o "escon%ecimento"a l+ngua sagra"a "o o*o:"e:santo "aqueles "ias2 E como seu *el%o amigo Martiniano, o *el%oai:"e:santo "i0ia ;que nunca mais fora a casa "e ningu!m, uma ou outra *e0 ia ain"a, aoEngen%o Kel%o, ao .laqueto, ao antois222;2 Este tom "e laudator temporis acti"omina amemGria "os ais e m6es:"e:santo "a $a%ia, que est6o semre e*ocan"o ;os mitos ret!ritos;"a tra"i56o "e suas casas, "e uma forma *alorati*a e "iscriminatGria2

    Martiniano /liseu do Bonfim e /ug0nia Ana dos +antos eram grandesamigos...

    Tam#!m .nin%a, falan"o "a origem nag- "e seu terreiro, "i0ia, orgul%osamente, a Donal"Bierson

    Min%a seita ! uramente nag-, como o Engen%o Kel%o2 Mas eu ten%o ressuscita"o gran"e arte"a tra"i56o africana que mesmo o Engen%o Kel%o tin%a esqueci"o2 Eles tm uma cerim-nia araos "o0e ministros "e ang-\ @6o[ Mas eu ten%o[

    . ialorix Eugnia "os Santos, .nin%a, !, ois, a outra figura mo"elar "o can"om#l! #aiano "essetemo2 Bro*in%a "e uma gera56o que tiifica*a o fen-meno "a ;nacionali0a56o ritual;, em queafricanos "e *rias origens !tnicas a"ota*am : ou eram a"ota"os : as comuni"a"es religiosas "eterreiros re"ominantemente ;1e1e:nag-s; ou ;angolas;, ou ;congos;2 /omentan"o este fato,escre*i, em outro local

    Esses terreiros mantm, contu"o , aesar "os mHtuos emr!stimos ostensi*os e "as influnciasercet+*eis no ritual como na linguagem, os a"rCes mais caracter+sticos e "istinti*os "e suasculturas forma"oras V222W Esses a"rCes "ominantes s6o como a lin%a mestra num rocessomultilinear "e e*olu56o, aceitan"o ou re1eitan"o ino*a5Ces, a"atan"o:se 3 circunst?ncia glo#alJassimila"o os emr!stimos e a"otan"o as in*en5Ces : mas reten"o semre a marca re*ela"ora "e

    sua origem, em meio 3 integra56o e 3 mu"an5a2

    Da+ a faleci"a ialorix .nin%a o"er afirmar, com orgul%o min%a seita ! nag- uro2 E "i0ia isto nosenti"o "e que a na56o "e sua seita, "e seu terreiro, e que eram os a"rCes religiosos em queela, "es"e menina, se formara, era nag-, .+ se "e*e enten"er na$!o'de'santo( na$!o'de'candombl2 Borque, no caso "e .nin%a, ela mesma era e se sa#ia etnicamente "escen"ente "eafricanos grunces, um o*o que ain"a %o1e %a#ita as sa*anas "o norte "e ana e "o sul "o .ltoKolta e que nen%uma rela56o mantin%a com os ioru#s at! o trfico negreiro2

    Desses grunces 1 se ocuara @ina Ro"rigues que con%eceu ain"a muitos "eles, no fim s!culoI2 Em Os africanos no Brasil, fala ele "os ;guruxins, guruncis ou gruncis, col-nia reta, "asmais numerosas %o1e, e con%eci"os ela "enomina56o "e negros galin%as;2 Menciona, ain"a, as

    etimologias oulares correntes na $a%ia, ara o nome ;galin%a;, que exressam racionali0a5CesanalGgicas e m+ticas, muito comuns, "e resto, na exlica56o "e etn-nimos2 .certa"amente, @inarefere a %iGtese %istGrico:geogrfica ara o termo os negros galin%as teriam si"o em#arca"osna feitoria existente na fo0 "o rio "as alin%as

  • 7/21/2019 1930 Martiniano e Aninha - Op Afonj

    8/14

    -... Aninha$ depois dos estgios rituais pela sua 1 reconhecidacapacidade de liderana$ e ainda com o apoio de %elhos tios e tias aquem se ligara$ comeou sua %ida de sacerdotisa$ de ialori2.

    Eram, ortanto, grunces, os ais "e .nin%a : S!rgio "os Santos, c%ama"o em grunceAnii), eLucin%a Maria "a /oncei56o,A*ambri)2 Eles "e*em ter articia"o "a intimi"a"e "os gruos maisou menos %egem-nicos que eram os ioru#sYnag-s "a $a%ia "aquela !oca2 E .nin%a seria ce"oinicia"a or sacer"otes nag-s "a na56o que *iria a ser a sua, na exress6o 1 referi"a : ;Min%aseita ! nag- uro;2 @6o se sa#e, contu"o, a i"a"e em que ela fe0 o santo em casa "e Maria Hliaigueire"o, na rua "os /ait6es, or Marcelina O#atossi2 Sa#e:se, no entanto, que Marcelina, suam6e:"e:santo, ;rima e fil%a:"e:santo "e I @ass-;, uma "as fun"a"oras "o terreiro con%eci"ocomo Enenho +elho( %asa Brancae ain"a, "e ,l& , -ass, faleceu em 9F "e 1un%o "e &AAQ,quan"o .nin%a, nasci"a em &( "e 1un%o "e &A=', tin%a quase "e0esseis anos2 Utili0o aqui asinforma5Ces que me foram confia"as ela ialorix Sen%ora, Maria $i#iana "o Es+rito Santo, fil%a:"e:santo "e .nin%a e #isneta:"e:sangue "e Marcelina O#atossi : ;Deois "a morte "e min%a *GMarcelina ! que min%a m6e fe0 santo no Engen%o Kel%o2 e0 .fon1, com min%a tia TeGfila,

    $am#ox e oaquim;2 In"aga"a so#re essa segun"a feitura no santo, Sen%ora me reson"eu que;isso tin%a que ser feito, orque ang- "eu "ois nomes na terra "e Taa, Ogo"- e .fon1;2Sen%ora me "isse ain"a que o a1i#on6 "e sua m6e:"e:santo ;foi %omem, n6o foi mul%er : Be"ro"o /a#e5a, mari"o "a fina"a Tia Tiana, Oloxun, m6e:"e:santo "e BoG, que mora*a na rua "as/amelas;2 @6o "e*o arofun"ar, aqui, os equenos "esencontros entre essa *ers6o, "e umainformante a#solutamente confi*el : a rGria fil%a:"e:santo e sucessora "e .nin%a, que "e*eter ou*i"o muitas *e0es, na tra"i56o oral "e rigor, os ormenores relati*os 3 genealogia e 3cronologia "a *i"a "a sua m6e:"e:santo : e outros relatos 1 "ocumenta"os em fontes escritas2@6o se erce#e, a+, a ossi#ili"a"e "o ;salto "e gera5Ces; ou "a ;simlifica56o seleti*a;, comunsna e*oca56o "as genealogias %istGricas n6o "ocumenta"as2 /ertos que algumas erguntas ficam,aqui, sem resosta2 Mas os claros "a ca"eia "e informa5Ces se exlicam como ;as coisas "e quen6o se "e*e falar; e s6o trata"as nos can"om#l!s semre com reser*a e "iscri56o2

    Inicia"a, muito ce"o, .nin%a, "eois "os estgios rituais e ela sua 1 recon%eci"a caaci"a"e "eli"eran5a, e ain"a com o aoio "e *el%os tios e tiasa quem se ligara, come5ou sua *i"a "esacer"otisa, "e ialorix2 /om ouco mais "e trinta anos 1 inicia*a, com a a1u"a "e $am#ox, seu#a#ala-, sua rimeira fil%a:"e:santo, no Engen%o Kel%o2 Desse er+o"o "a *i"a "e .nin%a, amel%or fonte escrita !, certamente, o li*roAx Op Afonj, 1 referi"o, "e DeoscGre"esMaximiliano "os Santos, Hnico fil%o "a faleci"a ialorix Sen%ora, Maria $i#iana "o Es+rito Santo,ortanto, ;neto; "e .nin%a, a quem, "e resto c%ama*a, "e*i"amente, "e ;min%a a*G;2 Di"i, como! trata"o or to"a a gente, con%eceu .nin%a "es"e menino e cresceu na intimi"a"e "o terreiro "eS6o on5alo, on"e sua m6e, Sen%ora, ao temo "e .nin%a, tin%a o osto "e Ossi Dag62 O li*rofoi #asea"o nas lem#ran5as essoais "o autor e nas informa5Ces acumula"as e recorrentes, "esua m6e Sen%ora e "e outras tantas e#omes "a casa, irm6s e fil%a:"e:santo "e .nin%a, que l%etransmitiram "atas, fatos e %istGrias "os rimeiros temos "e sua ;a*G;2 Tu"o isto, ! claro, comas naturais reser*as "e eisG"ios e imressCes que to"a li"eran5a forte e "ura"oura ro*oca nolano "os conflitos intragruais, "as restri5Ces essoais e "as ;equenas %istGrias; que ocan"om#l!, como to"o gruo organi0a"o, aresenta na sua "in?mica coti"iana2 Um exemlocaracter+stico "essa atitu"e : "a "iscri56o, a que me referi acima, e "a re"u56o eufem+stica "efatos que mel%or seriam esqueci"os, ! a maneira como D2M2 Santos se refere, no seu li*ro, 3sa+"a "e .nin%a, "o Engen%o Kel%o

    Da+ aconteceram certos "esenten"imentos l elo Engen%o Kel%o2 .nin%a reuniu ent6o to"o o seuessoal e foi ara uma ro5a "o Rio Kermel%o c%ama"a ;/amar6o;, on"e funciona*a o terreiro "etio oaquim Kieira , fil%o "e ang-, con%eci"o tam#!m como Essa O#ur-, um "osmaiores con%ece"ores "as seitas africanas na !oca, e que era amigo insear*el "e tio$am#ox2

    D2 M2 Santos refere:se, ain"a, no ca+tulo ;Os rimeiros temos "o .x!;, 3 mo*imenta"a *i"areligiosa "e .nin%a, nesse er+o"o "e forma56o e afirma56o sacer"otal aos rimeiros fil%os:"e:santo que fe0, com a a1u"a "e *el%os tios e tiasliga"as ao Engen%o Kel%o, que eram, "e certaforma, seus arentes:"e:santo, esecialmente $am#ox O#itic-, um "os oficiantes "e sua

  • 7/21/2019 1930 Martiniano e Aninha - Op Afonj

    9/14

    inicia56oJ #em como 3s transferncias "e seu terreiro, "o /amar6o, no Rio Kermel%o, ara o alto"a Santa /ru0, 3quela !oca, nesse mesmo #airro, %o1e, em .maralina, e 3 mu"an5a "efiniti*a,em &'&), ara a ro5a "o .no "e S6o on5alo "o Retiro2

    .li fun"ou .nin%a o seu terreiro, a casa "e ang- .fon1, com Tio oaquim, seu amigo e, "e certamaneira, irm6o:"e:santo, que morreria ouco "eois em A "e setem#ro "e &'&), "eixan"o na/asa sua mul%er Isi"ora2 Em S6o on5alo, .nin%a, uma m6e:"e:santo 1o*em ara os a"rCes "a

    !oca : aos quarenta e um anos "e i"a"e, 1 era con%eci"a e reseita"a or to"os2 Em &'&&,conta D2 M2 Santos

    V222W I O# $ii 1 esta*a com 9( essoas inicia"as or suas m6os tra"icionais "a cultura ioru# nag-2 Essa forma associati*a ermanece,recon%ec+*el ain"a %o1e, nos terreiros "a $a%ia, aesar "as mu"an5as orque *em assan"o a

    socie"a"e "e classes em que o can"om#l!, como um sistema sim#Glico interati*o, se insere2 Essea"r6o tra"icional "os ebsen*ol*e, naturalmente, uma li"eran5a, um c%efe e uma numerosa%ierarquia, al!m "e a"erentes e associa"os informais, com *agos comromissos rituais2 Ostitulares, "onos "e ostos ou cargos, se encarrega*am "as "iferentes ati*i"a"es rituais "o e#!2To"os, inicia"os, sa#e"ores "as coisas, e ca"a um com seu sa#er esec+fico, a1u"an"o a li"eran5aara al!m "o con%ecimento inicitico geral, que era "e to"a a coleti*i"a"e2 .ssim, .nin%a foiinicia"a or Marcelina e $am#ox, mas tam#!m com Tia TeGfila e Tio oaquim2 .ssim, tam#!mela, or sua *e0, fe0 suas rimeiras fil%as:"e:santo, a1u"a"a : o que n6o significa, simlesmente,acolita"a, mas artil%an"o o ritual inicitico com $am#ox, com Tio oaquim, com o $al! ang-,os! Teo"oro Bimentel, que su#stituiu, nesse cargo, $am#ox O#itic- or morte "este Hltimo2Mais tar"e, com sua irm6:"e:santo ortunata, iniciaria outras fil%as:"e:santo, na il%a "eItaarica, em casa "o $al! ang-, cu1a fil%a, On"ina Kal!ria Bimentel, uma "as inicia"as "esse

    gruo, *iria a ser, ain"a muito 1o*em, a i:quequer "e S6o on5alo e, como 1 foi "ito, ormorte "a ialorix Sen%ora, "e quem era irm6:"e:santo, assumiria a c%efia "aquele terreiro2 /omo temo : e 1 nos anos "e &'(), esse tio "e co:articia56o "iminuiria nos terreiros "a $a%ia2Belo menos, "e tal maneira ostensi*a, regula"a elo sa#er inicitico "os *el%os tios: to"os iguaisno lano "o con%ecimento, mas ca"a um eseciali0a"o, or assim "i0er, em "etermina"os orsouten"o comromissos rituais com certos orixs : o que os torna*a in"ica"os ara a co:aterni"a"eritual2 Mas ain"a assim, a inicia56o tin%a um l+"er, um c%efeJ ;o que #ota*a rimeiro a m6o naca#e5a "a ia-;2 E essa metfora temoral "efinia a autori"a"e rincial nas comlexas cerim-niasiniciticas2 E a1u"an"o am!e, esta*am os tiose as tias, na articia56o con1unta que era,tam#!m, troca "e con%ecimentos "e inicia56o e enfor5amento "a soli"arie"a"e comunitria2

    4"ison /arneiro escre*eu, "ias aGs a morte "a ialorix .nin%a, em ( "e 1aneiro "e &'(A, um

    emociona"o artigo so# o t+tulo ;Dona .nin%a;, u#lica"o no Estado da Bahia"e 9Q "e 1aneiro2 Oartigo foi reu#lica"o em Ladinos e crioulos, em &'=7, na se56o "o li*ro ;. face "os amigos;,como;.nin%a;2 E o fato "e ser o rimeiro "a s!rie e*i"encia, com o "estaque e"itorial, aimort?ncia que l%e "a*a /arneiro e a a"mira56o que tin%a ela ialorix a quem,reseitosamente, c%ama*a "e ;Dona .nin%a;2

    /arneiro, ent6o, a "escre*e

    Essa negra alta, "isosta, falan"o claro e corretamente, o #ei5o inferior a*an5an"o em onta, era#em o exoente "a ra5a negra "o $rasil, s+ntese feli0 "a soma "e con%ecimentos "a *el%a Maria$a"a e "a agili"a"e intelectual "e Martiniano "o $onfim2

    E so#re a sua con"i56o "e suerior guar"i6 e reno*a"ora coerente "as tra"i5Ces ancestrais,afirma, no mesmo artigo

    Muito fe0 ela reser*a56o "as tra"i5Ces africanas no can"om#l! "a $a%ia2 Darei aenas "oisexemlos2 Em quarto guar"a"o 3 *ista "os curiosos e "e estran%os, resta*a culto a ^, a "eusa"as guas "os negros galin%as , uma tra"i56o 1, ent6o, "esaareci"a2 E foi .nin%a

  • 7/21/2019 1930 Martiniano e Aninha - Op Afonj

    10/14

    quem, no ano assa"o

  • 7/21/2019 1930 Martiniano e Aninha - Op Afonj

    11/14

    nen%uma que#ra "e norma : mas o leno exerc+cio "a autori"a"e e "a caaci"a"e "e "eci"ir,"entro "a coerncia "os rinc+ios, "o ;ritmo "a casa;, como costuma "i0er a ialorix Sen%ora2.nin%a cumriu o rometi"o a /arneiro e rearou um equeno tra#al%o so#re a culinriaafricana, entregue aos organi0a"ores "o /ongresso, "eois "o seu final, e or eles inclu+"os como

    Ap&ndiceao *olume O nero no Brasil,

  • 7/21/2019 1930 Martiniano e Aninha - Op Afonj

    12/14

    $asta, tal*e0, estas cita5Ces ara "ar uma *is6o "o ;mun"o mental; "esta ersonagem "ero1e56o nos c+rculos afro:#rasileiros2 Uma "e suas assistentes, uma reta *el%a que toma*aconta "o terreiro e que "i0iam ter mais "e no*enta anos, tin%a um nome africano e fala*a nag-t6o #em ou mel%or que o ortugus2

    .nin%a afirma*a:se, a ca"a "ia, como uma m6e:"e:santo cometente, emreen"e"ora erestigiosa2 Sua reuta56o a fa0ia rocura"a or essoas que se situa*am, socialmente, fora "os

    estratos "e classe "ominantes nos terreiros "e can"om#l!2 @o come5o "a "!ca"a "e &'(),.nin%a *ia1ou ara o Rio "e aneiro2 So#re esta e outras *iagens ao Rio : "e na*io, carrega"a "e#agagens, le*an"o o ax"e seu santo, acoman%a"a, semre, "e uma equena corte "e fil%a:"e:santo, correm muitas %istGrias2 /%eguei a *er, % muitos anos, mostra"a or Sen%ora, umalista feita or .nin%a "os ;rearos; ara uma ;o#riga56o; que ela fi0era no Rio, em fa*or "oresta#elecimento "o ent6o Bresi"ente Kargas, aci"enta"o, como a fam+lia, na estra"a "eBetrGolis

  • 7/21/2019 1930 Martiniano e Aninha - Op Afonj

    13/14

    recisas "escri5Ces "o seultamento "e .nin%a2 E o Estado da Bahia"e Q "e 1aneiro u#licouso#re o mesmo uma amla mat!ria, em cinco colunas e com trs fotografias2 Segun"o a mesma,mais "e "uas mil essoas comareceram e acoman%aram, a !, o corte1o, at! as uintasJ ocom!rcio "as ime"ia5Ces "a Igre1a "o Rosrio, no Ta#o6o e na $aixa "os Saateiros, cerrou suasortas em %omenagem a .nin%a, muito queri"a e reseita"a na rea e "ela mora"ora, or longosanos, em casa *i0in%a 3 Igre1a on"e foi *ela"o o seu coro2 Di0, ain"a a reortagem, que ;o/-nego .ssis /ur*elo, na caela "o cemit!rio, fe0 a encomen"a56o "o coro, seguin"o:se o

    seultamento em co*a rec!m:a#erta;2 alaram, na ocasi6o, *rios ora"ores, entre estes o Sr2l*aro MacDoell "e Oli*eira, em nome "a Uni6o "as Seitas .fro:$rasileiras "a $a%ia, o escritor4"ison /arneiro, al!m "e reresentantes "o /entro /ru0 Santa e "a Irman"a"e "o Rosrio2 Borfim, termina"a a cerim-nia, "uas marinettisle*aram gran"e nHmero "e amigos "e .nin%a araS6o on5alo, a fim "e tomar arte nas cerim-nias fHne#res rearatGrias "o axex "a queri"am6e:"e:santo;2 De*en"o:se assinalar, aqui, o fato "e entre os ora"ores, or ocasi6o "o seuseultamento, %a*er tam#!m esta"o o *el%o amigo e irm6o Martiniano "o $onfim2

    As figuras de Martiniano e Aninha sobressaem$ assim documentadasfartamente -... at certo ponto mitificadas pela lembrana coleti%a dascomunidades dos candombls.

    Bor sua *e0, D2 M2 Santos, no ca+tulo ;Morte e sucess6o "e .nin%a;, "o seu li*roAx Op Afonj,"eois "e contar, com ormenores, to"as as ca"ncias "o enterro "a ialorix, incluin"o mesmocertas o#riga5Ces rituais "o can"om#l!, conclui

    .ssim foi seulta"a I O# $ii, Eugnia .na "os Santos, con%eci"a or M6e .nin%a, com asformali"a"es "e raxe "entro "a religi6o catGlica e "o culto afro:#rasileiro2 Reousa, atualmente,num #elo mausol!u ofereci"o ela Socie"a"e $eneficente /ru0 Santa O- .fon12

    Define este Hltimo trec%o as rela5Ces "e .nin%a com a Igre1a /atGlica, "e cu1os ritos e

    sacramentos ela articia*a com "e*o56o uma coexistncia "outrinria e ritual+stica, semmaiores conflitos em s+nteses "e carter teolGgico, que era esta, afinal, a atitu"e "ominante nasantigas m6es:"e:santo "a $a%ia, que sa#iam conciliar as "uas tra"i5Ces religiosas ara al!m "ascontra"i5Ces "os "ois sistemas2 .nin%a, a o"erosa M6e "e Terreiro "o O- .fon1 era, tam#!m,Briora "as Irman"a"es "o Sen%or $om esus "os Mart+rios e "e @ossa Sen%ora "o Rosrio eBro*e"ora Ber!tua "e @ossa Sen%ora "a $oa Morte, "a $arroquin%a2 Era, ain"a, Irm6 Remi"a "aIrman"a"e "e S6o $ene"ito, nas uintas2

    Essas as figuras que, n6o ao acaso, escol%i, ara exemlificar o fen-meno "a li"eran5a nascomuni"a"es "os terreiros "a $a%ia nos anos "e &'()2 O #a#ala- Martiniano e a ialorix .nin%a,sen"o singulares, n6o foram, entretanto, Hnicos, naquele uni*erso o*oa"o "e ersonali"a"escriati*as e "omina"oras2 L esta*am, nesse temo, Tia Massi, "o Engen%o Kel%oJ Meninin%a, "o

    antoisJ Dion+sia, "o .laquetoJ $ernar"ino, "o $ate:ol%asJ BrocGio, "o Ogun1J /irico, 1 naKila .m!ricaJ /otin%a, "o Oxumar222 e tantos mais2 To"os *i*en"o no mun"o "as eseran5as e"as crises2 @em foram, com certe0a, Martiniano e .nin%a, imunes 3 cr+tica, 3 censura *ela"a ouostensi*a nem aos sutis mecanismos "o ;fuxico;, institui56o uni*ersal que, se ro*oca tensCes,igualmente as resol*e, elas estrat!gias co"ifica"as "a linguagem2 Omiti, "eli#era"amente, essesasectos que n6o osso c%amar "e ;negati*os;, "a %istGria lem#ra"a : ou recria"a\ : "essasfiguras 1 len"rias2 ui seleti*o no uso "as fontes escritas e orais, sem a reocua56o "e ter, noaoio tal*e0 excessi*o "as remissCes e notas, a ;legitima56o; "e um ensaio interretati*o "e umcurto er+o"o "a %istGria social "a ci"a"e "a $a%ia2 Lem#ran"o, no entanto, que as fontes escritasara uma %istGria "o /an"om#l! s6o, afinal, as fontes orais "a narrati*a2 Bois o que "isseram osesquisa"ores : "e /arneiro a Kerger :, foi recol%i"o na tra"i56o oral "as casas:"e:santo seusmitos, suas, or *e0es, contra"itGrias genealogias, suas racionali0a5Ces so#re o temo e oesa5o2 /omo or exemlo, o li*ro que citei, muitas *e0es, "e DeoscGre"es M2 Santos, Di"i,fun"amental so# tantos asectos, ara o con%ecimento "a organi0a56o e "a %istGria "e ;umacasa "e ueto;, "a ;na56o "e ueto; : que ! o terreiro fun"a"o or sua ;a*G;.nin%a, or tantosanos "irigi"o or sua m6e Sen%ora, !, tam#!m, e so#retu"o a tra"i56o oral "a casa,cui"a"osamente escrita, e*itan"o referncias a fatos olmicos relaciona"os com genealogiasimrecisas ou sucessCes "iscut+*eis2

  • 7/21/2019 1930 Martiniano e Aninha - Op Afonj

    14/14

    .s figuras "e Martiniano e .nin%a so#ressaem, assim "ocumenta"as fartamente em ontossecun"rios mas muito imortantes, n+ti"as to"a*ia, at! certo onto mitifica"as ela lem#ran5acoleti*a "as comuni"a"es "os can"om#l!s2 De um onto "e *ista %istoriogrfico , "entro "a a#or"agem *alorati*a "o coti"iano e "asmentali"a"es, os "ocumentos que formam a correson"ncia ati*a "e 4"ison /arneiro a .rturRamos ficam, a artir "e agora, 3 "isosi56o "os estu"iosos e "os esecialistas2 @este ensaio ounesta tentati*a "e interreta56o, fui, como "isse antes, seleti*o e cr+tico2 Otei, 3s *e0es, ela

    *ers6o "e um certo fato com #ase na confia#ili"a"e "e um "etermina"o informante ou em raros"ocumentos oficiais : como o testamento "e Marcela "a Sil*a, a antiga m6e:"e:santo "o Engen%oKel%o, que, "e*i"e*i"amente analisa"o, o"er a1u"ar a esclarecer a "e#ati"a cronologia "ascasas ;"e ueto; "a $a%ia, origina"as "o Engen%o Kel%o, "a casa "e I @ass-2

    Tentei, "essa maneira, contri#uir, no camo "a etno%istGria, ara a amlia56o "o con%ecimentoacerca "a articia56o "o negro na socie"a"e nacional, exon"o um qua"ro narrati*o "ocan"om#l! na $a%ia "os anos trinta, ressaltan"o as ersonali"a"es "e seus l+"eres e a lembran$aencapsuladalatente nos terreiros e neles atuan"o em meio s formas no*as "e con%ecimento e"e o"er2