1960 Proletariado e Mudança Social Em SP 1960

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    SO IOLOGI

    REVIST DEDI D TEORI E PESQUIS N S CIINCI S SO I IS

    VOLUME

    XXII

    M RO

    DE

    1960

    SUMR O

    NMERO

    PROLETARIADO E MUDANA SOCIAL

    EM

    SAO PAULO .

    Fernando Henrique Cardoso

    A FAMLIA DO

    IMIGRANTE

    JAPONS PARA O BRASIL . .Hiroshi Saito

    A ANALISE

    SOCIOLGICA

    DA

    EDUCAO.. . . . .

    Marialice

    M.

    Foracchi

    ASPECTS DE LA SOCIOLOGIE RELIGIEUSE EN FRANCE Jean

    Labbens

    RURAL DEVELOPMENT AND THE SOCIAL SCIENCES Wilfrid Bailey

    O CHOQUE CULTURAL E OS PROBLEMAS DE AJUSTAMENTO

    A NOVOS MEIOS CULTURAIS Kalervo

    Oberg

    NOTICIARIO

    RESENHAS

    BIBLIOGRAFICAS:

    J

    V

    D Saunders

    DlFFERENTIAL FERTILITY

    IN

    BRAZIL .

    . , . . J. V Freitas Marcondes

    Universidad de Chile

    SEMINARIO DEL GRAN SANTIAGO

    coorde-

    nacin

    de

    Pastor Correa) A

    Delorenzo Neto

    Mis in Economia e Humanismo

    ESTUDIO SOBRE

    LAS

    CONDI

    CIONES DEL

    DESARROLLO

    DE COLOMBIA.

    A

    Delorenzo Neto

    Paul Meadows

    EL

    PROCESO

    SOCIAL

    DE

    LA REVOLUCION .

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. .

    Manoel Digues

    Jr.

    Gino

    Germani

    LA

    SOCIOLOGIA

    CIENTFICA

    Manoel Digues Jr.

    Alberto

    Guerreiro

    Ramos

    A REDUAO SOCIOLGICA .

    Manoel Berlinck

    REVISTAS

    12

    29

    34

    52

    71

    8

    84

    88

    91

    93

    94

    99

    A revista

    Sociologia

    publicada pela Fundao

    Escola

    de Sociologia e

    Pol

    tica, Instituio Complementar

    da Universidade de

    So

    Paulo.

    Sai qua tro vzes

    por ano, em

    maro,

    junho, setembro e dezembro.

    Manuscritos,

    comunicaes

    e pedidos de ass inaturas

    devem

    ser enviados

    aos

    Diretores

    de

    Sociologia

    Rua

    General

    Jardim,

    522

    So Paulo;

    telefone

    332224;

    end.

    telegrfico

    Sociologia

    Pedidos

    de assinatura devem

    ser

    enviados

    direta

    mente

    Editra

    Sociologia

    e

    Poltica .

    - Rua General

    Jardim, 522

    telefone:

    32-7974 - So

    Paulo, Brasil.

    Sociologia

    no se responsabilizar

    pelas idias emitidas

    em suas pginas,

    quando as

    mesmas

    estiverem assinadas.

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    P ROLE TARIADO E MUDANA SOCIAL

    M SAO PAULO

    FERN NDO HENRIQUE RDOSO

    da Universidade de So Paulo

    Concentrarei a anlise neste trabalho sbre

    um

    aspecto do

    processo de mudana social nos pases subdesenvolvidos que fre

    qentemente pouco lembrado como

    tema

    significativo quarido se

    pensa nos fatres extra-econmicos que dificultam a emergncia

    de novas formas de ajustamento social e

    na

    integrao da nova

    ordem social. Refiro-me s atitudes e s expectativas do proleta

    riado nas sociedades em processo de industrializao.

    Resultado

    da

    alterao nas formas tradicionais de produo

    condio e conseqncia

    da mudana

    social

    nas

    reas onde o ca

    pitalismo penetra

    na

    produo o proletariado visto vulgarmen

    te como a objetivao da nov ordem imune por isto mesmo s

    sobrevivncias culturais

    e

    com maior razo sequer lembrado

    como fo o de resistncia s mudanas.

    conveniente esclarecer entretanto desde logo . que no con

    sidero

    os

    obstculos e

    os

    fatres de

    natureza

    extr-econmica que

    retardam o desenvolvimento como os responsveis pelo subdesen

    volvimento - dado que so caractersticos do atraso econmico

    e

    muito

    menos como atributos exclusivos dos povos e

    da

    cultura

    dos pases subdesenvolvidos da atualidade pois que a histria do

    processo de introduo e crescimento do capitalismo nas reas

    atualmente muito industrializadas mostra que problemas de na

    tureza semelhante tiveram que ser enfrentados naquelas regies

    tambm e portanto tais obstculos no so de natureza a con

    denar extensas reas do globo ao eterno subdesenvolvimento. Por

    outro lado convm frisar tambm de incio que ao considerar os

    focos de resistncia

    mudana no

    proletariado no estou pensan

    do

    na tendncia historicamente verificada da reao dos operrios

    contra a introduo da tecnologia moderna ou no efeito negativo

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    SO IOLOGI

    sbre a economia da emprsa que pode derivar

    da

    atitude reivin

    dicativa dos trabalhadores. Bem ao contrrio, discutirei neste

    artigo

    os

    efeitos sbre o processo de

    mudana

    social

    da

    ausncia de

    expectativas e atitudes definidas racionalmente em funo dos

    intersses de classe, entre os operrios das reas em expanso in

    dustrial rpida e recente. No me preocuparei, portanto, com as

    conseqncias da

    falt

    de

    tal

    definio sbre a propriedade das

    emprsas capitalistas.

    H

    poucas pesquisas sociolgicas realizadas no Brasil sbre a

    formao do proletariado e menos ainda sbre a formao

    da

    conscincia proletria , especificamente, e das atitudes e expecta

    tivas dos

    o p ~ r r o s

    em face

    da

    ordem industrial emergente. Sbre

    o proletariado paulista, por exemplo,

    h

    apenas alguns e3tudos

    pioneiros, como os de Aziz Simo sbre O voto operrio em So

    Paulo (1) ou os de Juarez Brando Lopes sbre A fixao do

    operrio de origem

    rural na indstria

    (2), aos quais se

    ~ o

    pesquisas ainda no terminadas como a de Maria Sylvia Moreira

    sbre

    uma

    greve em 1957 e a de Michael

    Lowy

    e

    Sarah

    Chucid

    sbre as opinies e ati tudes de grupos das direes sindiCais, bem

    como o estudo recente de Oliveiros

    S.

    Ferreira sbre

    os

    resultados

    das eleies paulistas, e

    um

    levantamento feito pelo

    autor

    dste

    trabalho

    numa

    indstria paulistana, cujos primeiros resultados

    parciais foram apresentados

    numa

    comunicao ao congresso da

    Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia realizado em So

    Paulo em 1958 que recebeu o ttulo de Polarizao dos intcrsses

    de patres e operrios

    numa

    indstria .

    Entretanto, apesar da escassez da bibliografia especiallzada,

    os

    resultados

    da

    investigao cientfica permitem que se confir

    mem nas linhas gerais as afirmaes que tm sido feitas pelos

    muitos que se tm preocupado, baseando-se

    na

    experincia direta

    e no conhecimento de situaes sociais particulares, com o com-

    O) Aziz Simo, O voto operrio

    em

    So Paulo ,

    in

    nais

    do

    1

    Con-

    gressorasileiro Sociologia

    So Paulo, 1955, pgs. 201-204.

    :t lste autor

    continua

    realizando pesquisas

    tanto

    sbre a formao do proletariado

    em cooperao com

    ~ u l

    Beiguelman

    como sbre o comportamento

    poltico dos operrios.

    2)

    Juarez Brando Lopes, Fixao do operrio de origem rural na

    indstria ,

    in Educao

    e

    incias Sociais ano 11

    voI.

    2

    n.O 6 novembro

    de

    1957.

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    PROLETARIADO E MUDANA SOCIAL

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    portamento dos operrios paulistas: suas reaes em face o que

    se poderia presumir serem os intersses legtimos da classe so

    contraditrias.

    Assim, enquanto alguns estudos mostram a tendncia o voto

    operrio concentrar-se em trno do Partido Comunista e o Par

    tido Trabalhista em certas eleies, noutras, movimentos como o

    janismo empolgam a votao operria; lideres sindicais que

    ganham projeo em reivindicaes operrias so, ao mesmo tem

    po, fragorosamente derrotados nas eleies; da mesma maneira

    como se pode

    notar

    capacidade de organizao, combatividade e

    liderana relativamente segura nos momentos de greve, as pes

    quisas feitas revelam atitudes conformistas e a persistncia e

    liames de cunho paternalista entre operrios e patres; se, por

    um lado, intensifica-se o processo e diferenciao e especializao

    profissional, com o aumento conseqente das possibilidades de

    realizao de carreiras proletrias , por outro lado persistem na

    orientao do comportamento de segmentos da populao oper

    ria valores no proletrios quanto aos ideais de realizao profis

    sional, como o de trabalhar por conta prpria , que contLflua a

    simbolizar

    para

    aqules segmentos o apangio de

    uma

    vida de

    prosperidade e segurana econmica; e assim por diante.

    A hiptese de explicao sociolgica destas reaes no coe

    rentes quase bvia. Se

    ~ p o s s v

    considerar o segmento da

    populao paulista a que estou-me referindo como a camada dos

    trabalhadores

    da

    indstria, porque seus membros exercem funes

    definidas nas emprsas que permitem sua identificao em trmos

    homogneos e porque se relacionam com o grupo patronal. que

    detm

    os

    instrumentos da produo, em trmos de vendedores

    da

    fra de trabalho prpria, por outro lado, no houve aind , nem

    o transcorrer o tempo - que faz da experincia comum vivida

    memria tambm comum de xitos, dificuldades e fracassos soli

    drios nem a produo, pelas condies gerais que regulam a

    dinmica e a mobilidade

    numa

    sociedade de classes, de uma situa

    o social na qual o ser proletrio se torna quase uma condio

    perene atravs das geraes, donde no se terem desenvolvido

    ainda entre

    os

    trabalhadores paulistas todos

    os

    atributos neces

    srios

    para

    que seja possvel consider-los plenamente com,

    uma

    l sse

    proletri Isto

    das condies comuns de vida no deri

    vou inteiramente, por enquanto, nem a conscincia de

    um

    dstino

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    SO IOLO I

    comum a ser alcanado

    nem

    a conscincia

    da

    igualdade funda

    mental da situao de classe ou de seus intersses solidrios nem

    a conscincia racional dstes mesmos intersses. E por outro

    lado no se rotinizaram completamente pelas mesmas condies

    gerais acima referidas atitudes e expectativas novas que implicas

    sem independentemente do grau de conscincia social alcanado

    numa redefinio prtica dos valores que orientam a ao dos

    trabalhadores.

    Quais os fatres que

    tm

    dificultado a conscincia comum e

    racional

    da

    situao de classe e a emergncia de atitudes e ex

    pectativas compatveis com as novas maneiras de trabalhar e

    viver? A resposta

    ainda

    em trmos de hiptese geral imediata:

    a industrializao rpida e a prosperidade capitalista crescente.

    De fato por estas razes a camada proletria brasileira de

    uma parte jovem .

    Isto

    o operrio raramente filho de

    operrios e muito comumente tem orgem rural O crescimento

    acelerado da industrializao brasileira - sobretudo na ltima

    dcada - resultou na incorporao macia pela economia urbano

    industrial de largos setores da populao rural De

    outra

    parte

    h

    segmentos

    da

    populao

    operria

    que

    desfrutam

    de

    uma

    esp

    cie de euforia momentnea e relativa que advm em primeiro

    lugar da prpria incorporao pela economia urbano-industrial de

    pessoas recrutadas nas reas rurais mais pobres do Brasil - como

    o caso dos nordestinos - para

    as

    quais o engajamento na in

    dstria equivale a

    um

    processo de aquisio de

    status; e

    em

    segundo lugar das condies atuais

    da

    economia capitalista bra-

    sileira que

    est

    em franco progresso de expanso e permite por

    isto mesmo a obteno de melhores oportunidades e condies de

    trabalho nas prprias atividades industriais.

    No difcil perceber porque

    uma camada

    proletria formada

    nestas condies apresenta reaes divergentes diante de situaes

    sociais nas quais o proletariado dos pases tradicionalmente indus

    triais age de forma relativamente homognea como o caso da

    escolha .eleitoral e das reivindicaes econmicas. A ao coerente

    de um proletariado que se

    constituiu rpidamente

    em condies

    de prosperidade econmica geral relatva ir depender em larga

    medida por isto mesmo da existncia de um grupo de lderes

    conscientes e ativos e

    da

    emergncia de condies fortuitaR favo

    rveis como por exemplo a coincidn.cia do trmino dos contra-

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    PROLETARIADO

    E MU N

    SOCIAL

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    tos de trabalho com perodos pr-eleitorais. Quando fatres desta

    ordem esto presentes a ao do proletariado

    ganha

    consistncia,

    em trmos de seus intersses de classe, e pode revestir-se de tal

    audcia e organizao

    aparente

    que confundir b observador menos

    prevenido, que poder atribuir ao proletariado

    um grau

    de

    conscincia racional de seus intersses do qual, como

    um

    todo, le

    ainda est

    muito

    distanciado.

    At que ponto no Brasil se vive

    um

    momento de transio

    para as situaes clssicas nas quais o proletariado passa a efinir

    autnomamente, do seu ponto de vista de classe, seus objetivos e

    intersses algo difcil de afirmar. Parece,

    entretanto

    que mes

    mo num sistema econmico em expanso contnua, opera

    um

    pro

    cesso, tambm contnuo, de sedimentao do proletariado, que

    tende, por isto mesmo, a

    alterar

    significativamente as formas tra-

    dicionais de ajustamento desta

    camada

    social, bem como a rede

    finir suas expectativas e atitudes.

    Para

    a anlise dste processo,_

    que na falta de conceito mais preciso chamei de sedimentao,

    preciso compreender que se a industrializao entre ns dependeu

    inicialmente

    da

    urbanizao 3), por seu turno intensificou-a. O

    processo de urbanizao

    contnua

    afeta

    as pessoas nle envolvidas

    - como obviamente o caso do proletariado - concomitantemente

    com outros processos que lhe so correlatos, como os de secula

    rizao e racionalizao.

    No

    conjunto, como sabido, stes pro

    cessos tendem a alterar as formas tradicionais de pensamento,

    sentimento e ao das pessoas.

    No

    que se refere aos efeitos do

    processo de urbanizao sbre a

    atitude

    e as opinies dos oper

    rios, o

    j

    indicado estudo de

    Lwy

    e Chucid mostra, atravs

    das

    relaes

    entre um

    ndice de urbanizao e

    um

    ndice de radica

    lismo, por

    um

    lado, e

    alguns

    outros ndices com o de racionalismo,

    por outro lado, que dentre as variveis consideradas que poderiam

    intensificar o grau de radicalismo na cpula e

    na vanguarda

    operria nenhum atingiu coeficiente mais positivo de correlao

    do que a

    urb niz o

    E, de

    outra

    parte, parece que a conscin

    cia racional

    da

    situao de classe, com tdas as implicaes que

    3) Analisei as relaes

    entre

    industrializao e urbanizll:o em So

    Paulo

    numa

    conferncia que fiz no ForulTI de Debates Robrto Simon-

    sen , da Federao

    das

    Indstrias de

    So

    Paulo, sob o titulo Condies

    e

    Fatres

    Favorveis Industrializao de So Paulo , prestes a

    ser

    pu-

    blicada pela

    Revista rasileira de Estudos Polticos

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    SO IOLOG I

    dela derivam segundo as indicaes de pesquisa que estou con

    siderando e alguns dados da

    que

    realizei

    numa indstria

    paulis

    tana tende a desenvolver-se

    exatamente

    nos grupos de l3lrio

    mdios e altos do proletariado de .forma que os efeitos perturba

    dores que a prosperidade econmica geral acarreta

    no

    processo de

    formao de

    um

    ponto de vista autnomo de classe no proleta

    riado podem ser contrabalanados pelo aumento

    numrico das

    pessoas de salrios relativamente altos dentre as quais seriam

    recrutados os membros de minorias conscientes e ativas.

    Esta anlise prospectiva sumria e baseada em resultados

    precrios - convm repetir

    parece contradizer afirmaes hoje

    correntes sbre o

    aburguesamento

    do proletariado

    na

    sua ma

    neira de viver como se poderia

    notar

    nos pases prsperos alta

    mente industrializados.

    Entretanto

    convm

    notar

    que a definio

    autnoma

    e racional dos intersses de classe pode emergir ainda

    quando o u t r ~ caractersticas da situao de classe se tenham

    alterado como o caso do padro de vida e do nvel de aspira.es

    do proletariado de

    p ~ s

    altamente industrializados.

    Quais finalmente os efeitos

    da

    situao

    atual

    do proletariado

    das reas em processo de. desenvolvimento rpido sbre o processo

    de mudana social?

    Para

    que no me alongue alm do razovel indicarei sucinta

    mente alguns efeitos apenas da persistncia de atitudes e ex

    pectativas polarizadas em trno de situaes passadas

    e

    por

    tanto

    no compatveis com valores derivados da conscincia ra

    cional

    da

    situao de intersses opostos

    entre

    patres e operrios

    numa

    ordem industrial capitalista sbre o ajustamento do ope

    rrio

    vida na emprsa e sbre o comportamento poltico do pro

    letariado.

    s pesquisas realizadas mostram

    quanto

    ao ajustamento do

    operrio

    vida de emprsa que o

    trabalhador

    paulista tende a

    definir sua lealdade para com os patres

    e

    correspondentemente

    a esperar dles um

    tratamento

    que ainda se molda em grande

    parte

    por padres

    do

    velho paternalismo brasileiro. A

    tal

    ponto

    que muitas vzes o inimigo de classe definido na pessoa dos

    chefes imediatos e dos administradores contra a injustia dos

    quais

    ao

    patronal

    esperada como

    um

    corretivo. Sabendo-se

    por outro lado que tambm os empresri.os muito generalizada

    mente encaram a fbrica como

    um

    patrimnio familial que pode

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    PROLETARIADO E MUDANA SOCIAL 9

    ser gerido

    nos

    velhos moldes patrimonialistas percebe-se

    que

    as

    expectativas e

    atitudes

    dos operrios, neste particular contribuem

    para

    a manuteno

    da antiga

    ordem,

    formando

    a contra-partida

    necessria

    da

    atitude

    dos patres,

    em

    vez de constituirem-se como

    focos de tenses capazes de provocar mudanas.

    No pretendo incorrer no

    rro

    de generalizar demasiadamente

    esta

    situao e sei perfeitamente que, pelo menos

    nas grandes

    indstrias modernas dos

    centros mais

    urbanizados,

    j impera

    a

    nova mentalidade na camada empresarial e que segmentos con

    siderveis do

    proletariado no

    procedem conforme os padres

    apontados acima.

    o

    conjunto

    entretanto

    como indiquei,

    esta

    uma

    situao que

    ainda

    persiste. Dela,

    por outro

    lado, deriva

    uma

    atitude pouco reivindicativa quanto s condies de

    trabalho

    nas

    indstrias e mesmo quanto

    ao

    nvel de salrios. Tal estado

    de coisas, se pode

    ser

    til s emprsas ou a

    capitalistas

    determi

    nados, significa - do ponto de

    vista

    da mudana social de uma

    ordem que

    j

    foi designada como o antigo regime ,

    para uma

    ordem

    industrial

    democrtica - a persistncia dos velhos padres

    que dificultam o progresso de

    engajamento

    real do proletariado

    civilizao

    industrial

    com

    tda

    a srie de benefcios

    no plano

    material

    e moral que dle deve advir.

    s

    expectativas do operrio quanto ao prprio sindicato con

    firmam a anlise precedente. Atravs do

    trabalho

    de J. B. Lopes

    verifica-se

    at

    que

    ponto

    o trabalhador espera do

    sindicato

    muito

    mais uma obra

    assistencial mdicos, dentistas advogados etc.)

    do que o

    desencadeamento

    de movimentos capazes de

    obter

    con

    quistas operrias

    e de

    aumentar

    a solidariedade proletria.

    Por outro lado, s nos

    ltimos

    anos, se considerarmos o pro

    blema

    a

    partir

    do perodo em que o Estado Novo conseguiu entor

    pecer o

    mecanismo

    sindical, nota-se

    tendncias

    mais consistentes

    no sentido

    da

    ao sindical desenvolver-se de forma independente

    em face de demagogos ligados camada

    patronal.

    A manipula

    o

    da

    polt ica sindical, e inclusive das greves, pelos governos, por

    polticas sagazes, .quando no pelos

    patres

    desejosos de

    obter

    determinadas concesses

    governamentais

    era a regra

    at

    h

    pouco, e ainda hoje, com menos

    intensidade

    e parcialmente esta

    situao

    persiste.

    s

    condies de formao

    do

    sindicato

    operrio

    brasileiro moderno - pois que antes de 1930, apesar

    da

    signifi

    cao restrita

    da ao

    sindical

    em

    trmos

    da

    poltica geral do

    pas, a situao era diferente - sob o patrocnio e a

    tutela

    do

  • 7/13/2019 1960 Proletariado e Mudana Social Em SP 1960

    9/10

    10

    S O I O L O G

    I

    Estado contriburam em escala aprecivel para isto. Por tdas

    estas raz.es no de

    estranhar

    que

    at

    mesmo no que se poderia

    chamar

    de vanguarda operria isto os elementos das diversas

    categorias profisSionais

    mais

    ativos

    nas

    reivindicaes fabris e

    que, sem fazer parte da

    cpula

    sindical prpriamente, participam

    das assemblias sindicais e

    ajudam

    a

    imprimir

    os rumos do movi

    mento

    operrio atravs de

    suas

    manifestaes e do seu voto 4)

    h os que consideram que as situaes de conflito

    entre

    operrios

    e patres, expressas pelas greves, derivam antes de um mal-enten

    dido do que da existncia de intersses antagnicos. Isto mostra

    at que ponto a poltica de pelegos

    juntamente

    com os fatres

    estruturais

    descritos

    nas pginas

    iniciais dste

    trabalho

    consegui

    ram entorpecer a conscincia social dos grupos proletrios, at

    mesmo na atividade sindical.

    Cabe esclarecer,

    entretanto

    que apesar da interferncia de

    intersses no operrios no desencadeamento de greves e mani-

    festaes sindicais, stes movimentos permitiram a acumulao

    de experincias, o treinamento de lderes e a formao de atitudes

    e expectativas mais condizentes com a definio de intersses e a

    ao autnoma dos trabalhadores.

    ntre

    a

    massa

    dos

    trabalhadores

    as

    atitudes em

    face de

    reivindicaes salariais e do comportamento poltico

    e

    principal

    mente, eleitoral, so

    ainda

    mais adstritos s concepes da vida

    pr-industrial brasileira. Os poucos dados disponveis que a in

    vestigao cientfica fornece a ste respeito mostram que

    os

    meios

    suasrios, que implicam em contactos primrios e simpticos com

    os patres,

    ainda

    encontram larga aceitao por parte dos traba-

    lhadores desejosos de obter melhorias de salrio ou das condies

    de trabalho.

    certo que, como no comportamento proletrio em

    geral, a margem de flutuao

    da

    conduta dos operrios muito

    grande. stavariao de padres de comportamento e de atitu-

    des explica-se pelas razes

    j

    apontadas mas depende tambm de

    outros fatres que provvelmente interferem mesmo no compor

    tamento

    das camadas proletrias de pases tradicionalmente in

    dustriais: o sexo, a idade e o tempo de permanncia

    na

    emprsa.

    4)

    Tanto esta

    distino

    entre

    a cpula e a

    vanguarda

    como a re-

    ferncia opinio dos t r ~ h d o r e s que fao. a seguir baseiam-se nos

    resultados,

    ainda

    incompletos e inditos, o levantamento feito

    por

    Michael

    Lwy

    e

    Sarah

    Chacid.

  • 7/13/2019 1960 Proletariado e Mudana Social Em SP 1960

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    PROLETARIADO E MUDANA SOCIAL

    11

    Com relao ao comportamento poltico

    da

    massa operria

    da mesma maneira persistem as prticas tradicionais e rotineiras

    de orientao da lealdade

    antes

    em trmos pessoais ou aleatrios

    do que ideolgicos.

    Por

    um

    lado a escolha poltica -

    tanto

    no

    que diz respeito ao voto quanto no que tange adeso emocional

    lderes e movimentos polticos em geral -

    ainda

    feita sob a

    influncia das tcnicas de direo do comportamento das massas

    manipuladas pelas camadas dominantes atravs do rdio do cine

    ma do jornal. e. da televiso.

    Por

    outro lado o desintersse pol

    tico

    que.

    revela a pouca

    integrao

    sociedade

    urbana

    de mas

    sas ainda a regra. A tal ponto que mesmo os candidatos da

    esquerda se vem

    na

    contingncia de organizar suas eleies - e

    isto na cidade de So Paulo - na base de mquinas eleitorais pr

    pl ias com tda a crte de cabos eleitorais

    transporte

    do eleitor e

    demais tcnicas de corrupo ligadas ao voto de cabresto .

    Resumindo para conc;luir creio ter mostrado servindo-me da

    escassa bibliografia existente

    da

    experincia pessoal direta ou de

    informaes seguras que as expectativas e atitudes do proletariado

    numa rea

    em

    rpida

    e recente expanso

    industrial

    capitalista

    prendem-se por isto mesmo a polarizaes emocionais e a valores

    que emergiram e s tm razo de ser no perodo pr-industrial da

    sociedade. Por outro lado apesar dos efeitos que a prosperidade

    provvelmente acarreta sbre o comportamento do proletariado

    parece que em reas dste tipo com o decorrer do tempo e o de

    sencadeamento de processos que surgem paralelamente ao de

    industrializao formam-se compulses sociais capazes de levar o

    probletariado a uma redefinio de atitudes e conscincia racio

    nal

    de seuS intersses de classe. O cientista social imbudo dos

    valores ticos da cincia no pode limitar-se por isto mesmo a

    conceber como obstculos ou como condies favorveis ao desen

    volvimento apenas os fatres que interferem sbre a prosperidade

    das emprsas. Por isto neste

    artigo

    considerei que tdas as con

    dies e fatres que perturbam a redefinio das atitudes e ex

    pectativas dos operrios a partir de concepes orientadas pela

    conscincia social racional da situao de classe nas sociedades

    capitalistas - ainda

    quando

    favoream o crescimento

    industrial

    -

    atuam

    de forma negativa sbre o processo geral de

    mudana

    social provocado pela industrializao a saber a emergncia da

    ordem industrial

    urbana

    democrtica em substi tuio do antigo

    regime agrrio e senhorial.