1962 Indianos expulsos de Moçambique

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    Um decreto do Ministrio do Ultramar, destinado a impedir "o extravio dos bens pertencente aossbditos da Unio Indiana", proibia a venda, transmisso ou penhora das propriedades daquelacomunidade.

    Aps se terem registado e visto as suas casas e lojas lacradas, os "industnicos" foram enviadospara campos de internamento, em Loureno Marques, Beira, Nampula, Porto Amlia, Ibo, e noutros

    lados, onde iriam servir como moeda para a troca com os prisioneiros portugueses em Goa,mediada pelo Brasil e Repblica rabe Unida e que se arrastou por cinco meses.

    "Residentes h largos anos em Moambique, tendo filhos menores que se podiam considerarportugueses por nascimento", como notou o governador distrital da Beira, seriam entre 3000 e12.000 as pessoas que foram internadas nos campos -- em Loureno Marques, ficaram em prdiosainda em construo da Companhia de Caminhos de Ferro, junto do matadouro.

    "Havia prdios que tinham condies, outros que no, mas o que mais impressionava era esta zonaonde morvamos e tnhamos as nossas lojas. De repente, ficou vazia, as casas e as lojas fechadas,parecia um domingo", diz Tarun Laxmidas.

    O seu pai era um dos scios da Popatlal Haribhai & Co, uma grande empresa de comrcio naavenida Pinheiro Chagas (atual avenida Eduardo Modlane) e a sua condio de cidado britnico

    devia t-lo poupado a problemas. Mas no."Ele foi chamado Comisso (Coordenadora dos Bens dos Sbditos Indianos) e como na empresahavia scios indianos, embora estivessem h muito na ndia e nem pensassem em voltar, a empresafoi-lhes confiscada", diz o filho.

    Os bens apreendidos eram revendidos em leilo, "muita gente, sobretudo funcionrios portugueses,governou-se muito bem mas naquela situao ningum ia licitar contra o proprietrio, pelo que omeu pai pde comprar a sua empresa", recorda Tarun.

    Cerca de 150 firmas tero sido confiscadas e trs meses depois, em maro de 1962, apenas umtero tinha solicitado a sua reabertura por, aparentemente, terem mudado de mos e j nopertencerem aos odiados indianos.

    As conversaes entre Portugal e a ndia arrastavam-se e a vida dos detidos ia piorando. O papaenviou um emissrio para ver as condies dos campos de concentrao mas a viagem, em marode 1962, que monsenhor Salvatori Papalardo faz Beira pareceu uma sucesso de equvocos equase se reduziu entrega de cigarros e bolas de futebol.

    "Alguns disseram que h cobras no local. Foi-lhes dito que as matassem. Foi respondido que issoera impossvel pois a sua religio no permite matar", sintetizou o reprter do Notcias, de LourenoMarques.

    Os filhos de Hirbai Ossemane, uma viva de 60 anos, expuseram ao governador do distrito do Ibo asua condio de detida "injustamente"; familiares de Nurmomade Valimonad, 63 anos, declararamem papel selado a sua revolta perante a invaso de Goa e pediram a libertao do seu ente com umargumento simples mas ineficaz: ele vivia h 51 anos em Moambique.

    No Arquivo Histrico, em Maputo, resmas degradadas de papel vegetal contam a desgraa destagente, escrita mquina em trs cpias, com diversos "tomei conhecimento" mas nenhuma deciso.Um caso: Mammikal Nathalal, 31 anos, casado, alfaiate, proprietrio de duas alfaiatarias, declaraque tem "um depsito no Montepio de 48 mil escudos". Deu entrada no campo de internamento deLoureno Marques em janeiro de 1962.

    Na capital da colnia h muito que tinha sido encerrada a Baharat Samaj, a sede da comunidadeonde Naraina Laxmissancahr ensinava a lngua de gujarati. "Fecharam as aulas, fechou a sede doedifcio e mais tarde reabriu mas para servir de escola portuguesa", diz o antigo professor sobreuma instituio que s em 1979, quatro anos aps a independncia de Moambique, voltou posseda comunidade hindu.

    Em abril de 1962, j os militares portugueses presos em Goa tinham sido libertados e enviados paraPortugal, abriram-se as portas dos campos de concentrao em Moambique. Os que saampretendiam ficar na colnia portuguesa mas tudo o que conseguiram foi uma moratria de trs

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    meses antes de embarcarem para a ndia, a bordo do Karanja ou do Kampala, lendrios barcos daBritish India Line que faziam a costa oriental de frica.

    "Se voltaram meia dzia deles, muito. Ficaram todos l, em condies deplorveis. EmMoambique viviam todos bem, descansados, nas calmas, e morreram desgraados na ndia",considera Tarun Laxmidas.

    Nessa altura j questo de Goa tinha praticamente desaparecido das primeiras pginas dos jornaismoambicanos. O mundo, sobretudo em frica, e nas colnias portuguesas, estava a mudar e asnotcias de fervor nacionalista cediam espao a outras como a que relatou a destruio bomba deesttua de Oliveira Salazar, em Loureno Marques. Por sinal, a nica do ditador em toda a frica.

    LAS

    Lusa/fim

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