1981 GILPIN, Guerra e Mudança na Politica Mundial_Capitulo 1_TRADUÇÃO

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Guerra e Mudana na Poltica Mundial (War and Change in World Politics) Robert Gilpin Captulo 1 A Natureza da Mudana Poltica Internacional (The Nature of International Political Change)Traduo (sem reviso, rascunho) de Luiza Costa Lima Corra O argumento deste livro de que um sistema internacional estabelecido pela mesma razo que qualquer sistema poltico ou social criado; atores entram em relaes sociais e criam estruturas sociais a fim de avanar em conjuntos especficos de interesses polticos, econmicos ou outros tipos. Como os interesses de alguns atores podem conflitar com os de outros atores, os interesses especficos que so mais favorecidos pelos arranjos sociais tendem a refletir os poderes relativos dos atores envolvidos. Isto , mesmo que sistemas sociais imponham restries ao comportamento de todos os atores, os comportamentos recompensados ou punidos pelo sistema coincidiro, ao menos inicialmente, com os interesses dos mais poderosos membros do sistema social. Com o tempo, todavia, os interesses dos atores individuais e a balana de poder entre os atores mudam, como um resultado de desenvolvimentos econmicos, tecnolgicos e outros. Como consequncia, os atores os quais se beneficiam mais de uma mudana no sistema social e os quais ganham poder para efetivar tal mudana vo procurar transformar o sistema de formas que favorecero seus interesses. O sistema alterado resultante refletir a nova distribuiro do poder e dos interesses dos seus membros dominantes. Uma precondio para a mudana poltica, portanto, est na disjuno entre o sistema social existente e a redistribuio de poder entre aqueles atores que se beneficiariam por uma mudana no sistema. Essa concepo de mudana poltica baseada na noo de que o propsito ou funo social de qualquer sistema social, incluindo o sistema internacional, pode ser definido em termos de benefcios que vrios membros derivam da sua operao (Harsanyi, 1969, p.532). Como no caso da sociedade domstica, a natureza do sistema internacional determina quais interesses esto sendo atendidos com o funcionamento do sistema. Mudanas no sistema implicam mudanas na distribuio dos benefcios fornecidos por e custos impostos nos membros individuais pelo sistema. O estudo da mudana poltica internacional, portanto, deve focar-se no sistema internacional e, especialmente, nos esforos de atores polticos para mudar tal sistema a fim de que avancem nos seus prprios interesses. Se esses interesses so de segurana, ganho econmico ou metas ideolgicas o alcance dos objetivos dos Estados depende da natureza do sistema internacional (a governana do sistema, as regras do sistema, o reconhecimento de direitos, etc.). Assim como no caso de qualquer sistema poltico ou social, o processo de mudana poltica internacional, em ltima anlise, reflete os esforos de indivduos ou grupos para transformar instituies e sistemas para que os seus interesses sejam favorecidos. Como esses interesses e o poder os grupos (ou Estados) muda, em algum momento o sistema ser alterado de forma que reflita essas mudanas subjacentes de interesse e poder. A elaborao dessa abordagem para o entendimento da mudana poltica internacional o propsito da discusso subseqente deste livro. UM QUADRO INTERNACIONAL PARA A COMPREENSO DA MUDANA POLTICA

A conceituao da mudana poltica internacional a ser apresentada neste livro repousa em um conjunto de suposies acerca do comportamento dos Estados:

1 Um sistema internacional estvel (se encontra em estado de equilbrio) quando nenhum Estado acredita que seja lucrativo tentar mudar o sistema. 2 Um Estado tentar alterar o sistema caso os esperados benefcios excedam os custos esperados (ou seja, se h um esperado ganho lquido). 3 Um Estado procurar alterar o sistema internacional atravs de expanso territorial, poltica ou econmica at que o custo marginal da mudana adicional seja igual ou maior do que os benefcios marginais. 4 Uma vez o equilbrio entre os custos e benefcios de uma mudana adicional sejam alcanados, a tendncia a dos custos econmicos da manuteno do status quo aumentarem mais rapidamente do que a capacidade econmica para apoiar o status quo. 5 Se o desequilbrio no sistema internacional no for resolvido, ento o sistema ser alterado e um novo equilbrio refletindo a redistribuio de poder ser estabelecido. Obviamente essas suposies so abstraes de uma realidade poltica altamente complexa. Elas no descrevem o verdadeiro processo de deciso dos lderes de Estado, mas assim como na teoria econmica, atores supostamente comportar-se-o como se fossem guiados por um conjunto de clculos custo/benefcio. Alm disso, essas suposies no so mutuamente excludentes, elas se sobrepem. As suposies 2 e 4 so imagens refletidas de uma e outra, suposio 2 referindo-se a um Estado revisionista e suposio 4 referindo-se ao Estado status quo. Para fins analticos, contudo, cada suposio ser discutida separadamente em captulos subseqentes. Na base dessas suposies, a conceituao da mudana poltica internacional a ser apresentada busca compreender o processo histrico contnuo. Como na histria no h comeos e fins, deve-se adentrar no fluxo histrico em um ponto particular. A seguinte anlise da mudana poltica comea com um sistema internacional no estado de equilbrio como mostrado na Figura 1. Um sistema internacional est em equilbrio se os mais poderosos Estados do sistema esto satisfeitos com os arranjos territoriais, polticos e econmicos existentes. Mesmo que alteraes menores e ajustes possam acontecer, uma condio de equilbrio aquela na qual nenhum Estado poderoso (ou grupo) acredita que uma mudana no sistema traria vantagens adicionais compatveis com os custos previstos de promover tal alterao (Curry e Wade, 1968, pg. 49; Davis e North, 1971, pg. 40). Apesar de que todo o Estado e grupo no sistema poderiam se beneficiar de determinados tipos de mudana, os custos envolvidos iro desencorajar tentativas de buscar uma mudana no sistema. Como um escritor colocou, "um equilbrio de poder representa uma configurao poltica estvel uma vez que no haja ganhos em troca da conquista" (Rader, 1971, pg. 50). Sob essas condies, quando ningum tem um incentivo para mudar o sistema, o status quo pode ser dito estvel.Figura 1. Diagrama de mudana poltica internacional.

Na linguagem mais tradicional de Relaes Internacionais, o status quo internacional mantido desde que seja considerado legtimo, pelo menos pelos Estados principais do sistema. O significado de legitimidade foi definido por Henry Kissinger, como segue: [Legitimidade] implica a aceitao do quadro da ordem internacional por todas as grandes potncias, pelo menos na medida em que nenhum Estado est to insatisfeito que, como a Alemanha aps o Tratado de Versalhes, expressa sua insatisfao em uma poltica externa revolucionria. Uma ordem legtima no torna conflitos impossveis, mas limita o seu alcance. A guerra pode ocorrer, mas ser travada em nome da estrutura existente e a paz que se seguir vai ser justificada como uma melhor expresso do "legtimo", do consenso geral. Diplomacia no sentido clssico, o ajuste das diferenas atravs de negociaes, s possvel em ordens internacionais legtimas (1957, pg. 1-2). O que esta citao sugere que um sistema internacional ou ordem existe em uma condio de equilbrio homeosttico ou dinmico. Como qualquer outro sistema, nunca est completamente em repouso; alteraes ao nvel das interaes interestaduais esto acontecendo constantemente. Em geral, no entanto, os conflitos, alianas e interaes diplomticas entre os atores do sistema tendem a preservar as caractersticas definidoras do sistema. Assim, como Kissinger demonstrou, a ordem legtima ou equilbrio criado no Congresso de Viena (1814) sobreviveu a conflitos limitados e manobras diplomticas, at que finalmente entrou em colapso em resposta s profundas transformaes econmicas, tecnolgicas e polticas da ltima parte do sculo XIX . A questo da legitimidade ser discutida mais tarde. Em cada sistema internacional h ocorrncias constantes de mudanas polticas, econmicas e tecnolgicas que prometem ganhos ou ameaam perdas a um ou outro ator. Na maioria dos casos, esses ganhos e perdas potenciais so pequenos e apenas a ajustes incrementais so necessrios para lhes dar conta. Tais mudanas ocorrem dentro do sistema internacional existente, produzindo uma condio de equilbrio homeosttico. A estabilidade relativa do sistema , de fato, em grande parte determinada pela sua capacidade de se adaptar s exigncias de agentes afetados por mudanas nas condies polticas e ambientais. Em cada sistema, por conseguinte, um processo de desequilbrio e ajustamento est constantemente ocorrendo. Na ausncia de grandes benefcios potenciais lquidos da mudana, o sistema continua a permanecer em um estado de equilbrio. Se os interesses e poderes relativos dos Estados principais em um sistema internacional permaneceram constantes ao longo do tempo, ou se as relaes de poder alteraram-se de tal forma a manter a mesma distribuio relativa de poder, o sistema ir manter-se indefinidamente num estado de equilbrio. No entanto, ambos os desenvolvimentos, nacionais e internacionais, minam a estabilidade do status quo. Por exemplo, mudanas nas coalizes nacionais podem suscitar uma redefinio do interesse nacional. No entanto, o fator mais desestabilizador a tendncia, em um sistema internacional, dos poderes,dos Estados membros mudarem a taxas diferentes por causa de acontecimentos polticos, econmicos e tecnolgicos. Com o tempo, o crescimento diferencial de poder dos vrios estados provoca uma redistribuio fundamental de poder no sistema. O conceito de poder um dos mais problemticos no campo das Relaes Internacionais e, mais comumente, no da Cincia Poltica. Muitos livros de peso tm analisado e elaborado o conceito. Neste livro, o poder refere-se simplesmente s capacidades militares, econmicas e tecnolgicas dos Estados. Essa definio, obviamente, deixa de fora elementos importantes e intangveis que afetam os resultados de aes polticas, como a moral pblica, qualidades de liderana e os fatores situacionais. Tambm exclui o que E. H. Carr

chamou "poder sobre a opinio" (1951, pg. 132). Estes aspectos psicolgicos e muitas vezes incalculveis de poder e relaes internacionais esto mais associados com o conceito de prestgio como usado neste livro. A relao entre poder e prestgio e sua importncia para a mudana poltica internacional ser discutida aqui. Como conseqncia das mudanas de interesses dos Estados individuais e, especialmente, por causa do crescimento diferencial de poder entre os Estados, o sistema internacional move-se a partir de uma condio de equilbrio para um desequilbrio. Desequilbrio uma situao em que os desenvolvimentos econmicos, polticos e tecnolgicos aumentaram consideravelmente os benefcios potenciais ou diminuram os custos potenciais de um ou mais Estados de procurar mudar o sistema internacional. Prevenir perdas ou aumentar os ganhos torna-se um incentivo para um ou mais Estados tentarem mudar o sistema. Assim, desenvolve-se uma disjuno entre o atual sistema internacional e os ganhos potenciais para os Estados particulares de uma mudana no sistema internacional. Os elementos deste desequilbrio sistmico so dois. Primeiro, mudanas militares, tecnolgicas ou outras aumentaram os benefcios de conquista territorial ou os benefcios de mudar o sistema internacional de outras maneiras. Em segundo lugar, o crescimento diferencial de poder entre os Estados do sistema alterou o custo de modificao do sistema. Esta transformao dos benefcios e/ou os custos de alterar o sistema produz uma incongruncia ou disjuno entre os componentes do sistema (Tabela 1). Por um lado, a hierarquia de prestgio, a diviso do territrio, a diviso internacional do trabalho e as regras do sistema permanecem basicamente inalteradas, continuam a refletir principalmente os interesses das potncias dominantes existentes e a distribuio de poder relativa que prevalecia no momento da ltima mudana sistmica. Por outro lado, a distribuio do poder internacional sofreu uma transformao radical que enfraqueceu as bases do sistema existente. esta separao entre os vrios componentes do sistema e suas implicaes para os ganhos e perdas relativos entre os vrios Estados no sistema que causam a mudana poltica internacional. Esta disjuno dentro do sistema internacional existente envolvendo os benefcios e perdas potenciais para determinados atores poderosos de uma mudana no sistema leva a uma crise no sistema internacional. Embora a resoluo de uma crise atravs de soluo pacfica do desequilbrio sistmico seja possvel, o principal mecanismo de mudana ao longo da histria tem sido a guerra, ou o que chamaremos de guerra hegemnica (isto , uma guerra que determina o Estado ou Estados que sero dominantes e vo governar o sistema). O acordo de paz aps uma luta hegemnica reordena as bases polticas, territoriais e outras do sistema. Assim, o ciclo de mudana concludo quando guerra hegemnica e o acordo de paz criam um novo status quo e equilbrio refletindo a redistribuio do poder no sistema e nos outros componentes do sistema. DEFINIO DOS TERMOS BSICOS No restante deste captulo, os termos bsicos e questes incorporadas conceituao de mudana poltica sero definidos e elaborados. Em primeiro lugar, toda a teoria das relaes internacionais exige uma teoria do Estado. Alm disso, a concepo de interesse do Estado e os objetivos da poltica externa devem ser estabelecidos. Em terceiro lugar, a natureza do sistema internacional deve ser definida. A conceituao ou definio desses trs fatores determina quem (o Estado), que visa mudar os arranjos sociais (sistema internacional), a fim de assegurar que os interesses (os objetivos da poltica externa). Embora as definies utilizadas neste livro sejam arbitrrias, elas so derivadas de nossa concepo global de mudana poltica internacional, desenvolvida anteriormente.

Definio de Estado A teoria do Estado que vamos usar neste estudo que o Estado "uma organizao que oferece proteo e [bem-estar]... em troca de receitas" (North e Thomas, 1973, pg. 6). O Estado o principal mecanismo pelo qual a sociedade pode fornecer esses "bens pblicos" e superar o problema do parasitismo (free-rider problem) 1. Principalmente atravs da sua definio e cumprimento de direitos de propriedade o Estado protege o bem-estar de seus cidados contra as aes de outros indivduos e Estados e tambm fornece uma base para a resoluo de litgios2. Essas tarefas so essenciais devido natureza ubqua do conflito em um mundo de recursos escassos. Estado e sociedade so concebidos neste livro como compostos de indivduos e grupos que se distinguem e se influenciar mutuamente. O Estado, ou seja, aqueles indivduos particulares que detm autoridade, tem interesses prprios. O monarca absoluto ou poltico contemporneo tem objetivos pessoais que ele pretende atingir, o principal sendo a manter-se no posto. No entanto, mesmo o mais cruel ditador deve satisfazer os interesses dos indivduos e grupos que exercem o poder tambm na sociedade. Grupos poderosos definem restries e podem mesmo determinar as aes de autoridade do Estado. Eles constituem a sociedade que est protegida pelo Estado; seu conceito particular de justia impera. A definio e funcionamento dos direitos de propriedade tendem a avanar seus interesses e bem-estar. Assim, mesmo que os Estados da Unio Sovitica, os Estados Unidos e frica do Sul executem o mesmo conjunto de funes em geral, os indivduos e grupos da sociedade beneficiados por esses Estados diferem bastante. Ao longo deste livro, mesmo que o termo "Estado" seja utilizado como se fosse uma entidade autnoma, o leitor deve compreender que o sentido dado aqui se aplica. O papel fundamental dos direitos de propriedade no funcionamento da sociedade foi expresso por um escritor nos seguintes termos: Direitos de propriedade so um instrumento da sociedade e deriva seu significado do fato de que eles ajudam um homem formar expectativas com as quais pode razoavelmente prever suas relaes com os outros. Essas expectativas encontram expresso nas leis, costumes e moral de uma sociedade. Um proprietrio de direitos de propriedade possui o consentimento do prximo para lhe permitir atuar de uma forma particular. Um proprietrio espera que a comunidade evite que outros interfiram nas suas aes, uma vez que essas aes no so proibidas nas especificaes de seus direitos (Demsetz, 1967, pg. 347). Assim, a natureza e a distribuio dos direitos de propriedade determinam quais os indivduos sero mais beneficiados e quem ir pagar a maior parte dos custos no que diz respeito ao funcionamento de diferentes tipos de instituies sociais. Por esta razo, a funo bsica interna do Estado definir e proteger os direitos de propriedade de indivduos e grupos. A principal funo externa do Estado proteger os direitos de propriedade e a segurana pessoal de seus membros vis--vis os cidados e as aes de outros Estados. Nas1

Um bem pblico um "que todos aproveitem em comum no sentido de que o consumo de cada indivduo de tal bem indica a no subtrao do consumo de qualquer outro indivduo daquele bem" (Samuelson, 1954, pg. 387). Um free-rider um indivduo que consome o bem, sem qualquer despesa pessoal ou pouca despesa. Para uma excelente discusso da aplicao da teoria dos bens pblicos nas relaes internacionais, verem o trabalho de Hart e Cowhey (1977). 2 Essa responsabilidade do Estado gira especialmente em torno do chamado problema de externalidades (isto , a prestao de servios ou desservios a um indivduo para o qual nenhum pagamento nem a compensao so feita) (Baumol, 1965, pg.24-36).

palavras de Ralf Dahrendorf, o Estado , assim, um "grupo de conflito". Considerando, obviamente, que h outros grupos conflito (tribos, sindicatos, feudos, bandas de guerrilha, etc.), a essncia do Estado a sua territorialidade (Dahrendorf, 1959, pg. 290). Dentro do territrio que o abrange, o Estado exerce um monoplio do uso legtimo da fora e incorpora a idia de que todos nesse territrio esto sujeitos mesma lei ou conjunto de regras. Assim, a autoridade do Estado acreditada superior ao de todos os outros grupos no territrio controlado pelo Estado. Essas funes internas e externas do Estado e da natureza ltima de sua autoridade significam que o ator principal no sistema internacional. O Estado soberano na medida em que deve responder a nenhuma autoridade superior na esfera internacional. S ele define e protege os direitos dos indivduos e grupos. Os indivduos no possuem direitos, exceto aqueles garantidos pelo prprio Estado, eles no tm segurana exceto a proporcionada pelo Estado. Se o Estado consiste em proteger seus cidados e seus direitos, e na ausncia de qualquer autoridade superior e em um sistema estatal competitivo, o Estado deve ser "autovoltado" e deve olhar para todos os outros Estados como ameaas potenciais.3 O argumento de que o Estado (como aqui concebido) o ator principal nas relaes internacionais no nega a existncia de outros atores individuais e coletivos. Como Ernst Haas convincentemente colocou, os atores nas relaes internacionais so as entidades capazes de pr adiante demandas de forma eficaz; a quem ou qual dessas entidades podem no ser respondidas a priori (Haas, 1964, pg 84.). No entanto, o Estado o ator principal visto que a natureza do Estado e o padro de relaes entre os Estados so os determinantes mais importantes do carter das relaes internacionais, a qualquer momento. Este argumento no presume que os Estados precisam sempre ser os atores principais, nem presume que a natureza do Estado precisa ser sempre a mesma e que o Estado-nao contemporneo a melhor forma de organizao poltica. Ao longo da histria, na verdade, os Estados e organizaes polticas tm variado muito: tribos, imprios, feudos, cidades-estados, etc. O Estado-nao em termos histricos uma chegada bastante recente, o seu sucesso foi devido a um conjunto peculiar de circunstncias histricas e no h garantia de que essas condies continuaro no futuro. No entanto, seria prematuro sugerir (e muito menos declarar, como muitos escritores contemporneos fazem) que o Estado-nao est morto ou morrendo. Interesses e objetivos dos Estados Estritamente falando, os Estados, como tal, no tm interesses, ou o que os economistas chamam de "funes de utilidade," nem o tem as burocracias, grupos de interesse, ou os chamados atores transnacionais, at onde nos interessa. Somente dos indivduos e indivduos que se uniram em vrios tipos de coalizes pode-se dizer que tm interesses.4 A partir desta perspectiva o Estado pode ser concebido como uma coalizo de coalizes cujos objetivos e interesses resultam dos poderes e da negociao entre as coalizes diversas que compem a maior parte da sociedade e da elite poltica. Na linguagem de Brian Barry (1976, pg. 159), escolha coletiva e determinao de objetivo polticos so os processos de coalizo (Cyert e March de 1963, pg. 28). Os objetivos e as polticas externas dos Estados so determinados principalmente pelos interesses dos seus membros dominantes ou coligaes dominantes. Quando algum pergunta o que esses interesses ou objetivos so, se confronta com um debate de longa data entre o que Stanley Hoffmann (1973) chamou os classiques e os modernes. Os primeiros,3"Auto-respeito" a expresso adequada de Kenneth Waltz (1979, pg. 91). A idia de que o Estado o ator principal nas relaes internacionais fortemente apoiada por Waltz discusso (1979, pg. 93-7). 4 Uma coalizo definida como "um grupo de pessoas trabalhando em conjunto que tm algumas, mas no todas as metas em comum" (Downs, 1967, pg. 76).

principalmente realistas polticos, argumentam que a segurana nacional e o poder foram no passado e continuam a ser no presente os objetivos primordiais dos Estados. Os ltimos ponderam que, no entanto, por mais verdade que isso tenha sido, no passado, alcanar estabilidade econmica domstica e assegurar o bem-estar da populao tornaram-se os objetivos principais dos Estados no mundo contemporneo. Acreditamos que ambos os classiques e modernes confundiram a questo. Ambas as posies assumem que se pode falar de uma hierarquia dos objetivos dos Estados e que os Estados buscam maximizar um ou outro conjunto de interesses. Estes pressupostos deturpam o comportamento e os processos decisrios dos Estados (ou, para essa matria, de qualquer ator). Toda ao ou deciso envolve um trade-off, e o esforo para alcanar um objetivo, inevitavelmente, envolve custos com relao a algum outro objetivo desejado. Assim, enquanto os realistas polticos esto corretos ao afirmar que a segurana um objetivo primordial no sentido de que se no for satisfeito, todos os outros objetivos so colocados em perigo e que a busca da segurana envolve o sacrifcio de outros objetivos desejados sociais e de um custo real da sociedade. Da mesma forma, a maximizao dos esforos para alcanar metas econmicas e bem-estar implica o desvio de recursos de segurana nacional. Em um mundo de recursos escassos, onde todos os benefcios implicam um custo, as sociedades raramente, ou nunca, escolhem as armas ou a manteiga, pelo menos em longo prazo. Anlises econmicas modernas substituem o conceito de curva de indiferena pela noo de que os indivduos (ou Estados) possuem uma hierarquia de objetivos, exigncias ou utilidades. A anlise da indiferena procura explicar como a renda, preo e gosto (bem como as alteraes nessas variveis) afetam a demanda por bens e fornecimento de bens (Waldman, 1972, pg. 241). Em particular, de acordo com a lei da demanda5, a indiferena representa a maneira pela qual as mudanas nas condies de mercado (por exemplo, rendimento e preo) afetam a quantidade de produtos desejados. difcil, seno impossvel, desenhar uma curva de indiferena para um indivduo e ainda mais difcil para uma sociedade inteira, e substituio da anlise de indiferena para a noo de uma hierarquia de objetivos ajuda a esclarecer a questo colocada pela controvrsia classique-moderne (Figura 2).Figura 2. As curvas de indiferena, cada um representando alocaes igualmente valorizadas de dois objetos avaliados. [Adaptado de Steinbruner (1974, pg. 30).]

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A chamada lei da demanda uma das mais importantes hipteses subjacentes a anlise econmica. Ela sustenta, com efeito, que "se o preo de um bem ou servio cai, ceteris paribus, as pessoas vo comprar mais do mesmo" (McKenzie e Tullock, 1975, pg. 15). Alm disso, se a renda relativa sobe, ceteris paribus, supe-se que as pessoas vo exigir mais de um bem. Este aumento da demanda limitado, claro, pela lei da utilidade decrescente. Infelizmente para as previses econmicas do comportamento humano, outras coisas no permanecem sempre as mesmas, e os economistas no tm uma teoria adequada para prever mudanas na demanda em si (Northrop, 1947, pg. 245).

A anlise da indiferena supe que os indivduos tm objetivos diversos e esto dispostos a aceitar pacotes variados de estes objetivos. Em contraste com a idia de uma hierarquia de objetivos, com sua nfase na maximizao do associado, a anlise de indiferena assume que os indivduos fazem trade-offs entre estes objetivos e buscam estratgias satisficientes (algo como suficientemente satisfatrias) em vez de estratgias de maximizao (Simon, 1957, pg. 250). Isto quer dizer, um indivduo ser satisfeito por qualquer um de um grande nmero de diferentes combinaes de os objetivos desejados. O indivduo (ou Estado) no ir procurar alcanar um objetivo com o sacrifcio de todos os outros, mas vai tentar encontrar uma posio ideal sobre o conjunto de curvas de indiferena. Assim, o Estado no vai buscar maximizar o poder (classique) ou bem-estar (moderne), mas se esforar para encontrar uma combinao tima de ambos os objetivos (bem como outros, para que o assunto), e o montante pedido depender de renda e custo. Vrias implicaes importantes para o estudo das relaes internacionais, e especialmente para nossa compreenso da mudana poltica, decorrem dessa nfase no conceito da curva de indiferena. Em primeiro lugar, a inclinao da curva de indiferena (ou seja, a mistura satisficiente de objetivos) difere de uma sociedade para outra, dependendo dos interesses especficos das elites dominantes nacionais e do ambiente internacional. Por exemplo, um Estado da Europa continental com os vizinhos poderosos, sem dvida, dar maior nfase na segurana do que um Estado insular com interesses econmicos globais, como a Gr-Bretanha no sculo XIX ou nos Estados Unidos no sculo XX.6 Assim, impossvel em termos gerais determinar quais pacotes de segurana, economia, ou outros objetivos iro satisfazer Estados. Ao longo da histria, os Estados e as elites dominantes tm procurado uma ampla gama de objetivos polticos, econmicos e ideolgicos. Durante eras diferentes a mistura de objetivos tem variado em termos das propores de vrios conjuntos de objetivos. A proporo de objetivos de segurana para os objetivos econmicos, por exemplo, pode variar dependendo de fatores internos e externos. Objetivos importantes em uma era podem ser relativamente sem importncia em outro. Assim, no incio da era moderna, os objetivos religiosos pesaram na poltica externa dos Estados da Europa Ocidental 7. Aps a Revoluo Francesa, as ideologias polticas do liberalismo e conservadorismo tornaram-se determinantes importantes de poltica externa. No mundo do final do sculo XX, as ideologias e interesses econmicos (como os modernes afirmam) so objetivos cada vez mais importantes dos Estados; ainda a combinao e trade-offs de objetivos em vez de sua ordenao que fundamental para a compreenso da poltica externa. Em segundo lugar, a inclinao da curva de indiferena de um Estado pode deslocar-se em resposta a alteraes internas e externas. A distribuio de poder entre coalizes domsticas pode mudar ao longo do tempo, e com ela a mistura de interesses ou objetivos da poltica externa do Estado ser alterada. Por exemplo, a elite governante pode desejar uma combinao ponderada em favor de objetivos de segurana. igualmente possvel que a inclinao da curva de indiferena possa mudar por alteraes ambientais de natureza econmica, tecnolgica, ou outra que influenciem os custos de um ou mais objetivos6

Talvez valha a pena notar que quase todos os tericos que defendem que o bem-estar econmico deslocou segurana na hierarquia de objetivos estatais so americanos. A posio moderne no realmente to nova, mas sim um ressurgimento do que Arnold Wolfers e Laurence Martin (1956) chamam a tradio anglo-saxnica nas relaes internacionais. 7 Na verdade, os interesses religiosos tm sido um dos objetivos principais dos Estados e outras coletividades em todas as eras. Isso resultou do fato de que os atores foram civilizaes inteiras com diferentes e conflitantes concepes religiosas. A era moderna tem, de fato, sido nica, a este respeito. O homem moderno tende a substituir paixes ideolgico polticas e econmicas pela paixo religiosa. Os recentes acontecimentos no Ir podem apontar na direo de um regresso ao conflito religioso.

pretendidos pelos Estados. Por exemplo, uma inovao tecnolgica ou militar pode reduzir drasticamente o custo e aumentar os benefcios da conquista territorial e, assim, incentivar a expanso militar. Terceiro, a curva de indiferena selecionada por um Estado , at certo ponto uma funo da riqueza e do poder da sociedade. Conforme a riqueza e o poder de uma sociedade aumentam, a escolha da curva de indiferena muda para fora. Isto , um aumento de recursos e poder de um Estado de vai causar uma mudana de I para I. Um Estado mais rico e mais poderoso (at um ponto de utilidade decrescente) ir selecionar um maior conjunto de metas de segurana e bem-estar do que um Estado menos rico e menos poderoso (a fronteira de possibilidades de produo dita ter-se deslocado para fora). Como conseqncia, a redistribuio de riqueza e poder em direo a um Estado particular de um sistema internacional tende a estimular o Estado a exigir um maior pacote de objetivos de bem-estar e de segurana. Assim, uma mudana no custo relativo dos objetivos pretendidos por um Estado ou uma mudana na capacidade do Estado para alcanar estes objetivos tendem a induzir uma alterao no comportamento de Estado. Uma mudana nos custos relativos dos objetivos de segurana e bem-estar ou mudana de poder e riqueza de um Estado geralmente provocam uma mudana correspondente na poltica externa do Estado. A explicao da mudana poltica internacional em grande medida uma questo de contabilidade para mudanas nos declives e posies das curvas de indiferena dos Estados e nos objetivos especficos da poltica externa. Em geral, esses objetivos dos Estados so de trs tipos. Ao longo da histria o principal objetivo dos Estados tem sido a conquista do territrio, a fim de promover a economia, segurana e outros interesses. Seja por meio de subjugao imperialista de um povo por outro ou pela anexao do territrio contguo, Estados em todas as pocas tm procurado ampliar seu controle sobre o territrio e, por implicao, seu controle sobre o sistema internacional. Por esta razo, uma teoria da mudana poltica internacional deve necessariamente ser tambm uma teoria do imperialismo e de integrao poltica. Antes da idade moderna, e especialmente antes da Revoluo Industrial, a conquista do territrio foi o principal meio pelo qual um grupo ou Estado poderia aumentar sua segurana ou riqueza. Em uma era de tecnologia relativamente estvel e baixos ganhos de produtividade tanto na agricultura e na indstria, um grupo ou Estado poderia melhor aumentar a sua riqueza e poder, aumentando seu controle sobre o territrio e conquistando outros povos. Na verdade, at a revoluo tecnolgica do final do sculo XVIII, a distribuio internacional do territrio e da distribuio de poder e riqueza eram em grande parte sinnimos. Embora esta estreita relao tenha mudado por causa da tecnologia moderna industrial e militar, bvio que o controle sobre o territrio ainda um objetivo importante de grupos e Estados. O segundo objetivo dos Estados aumentar a sua influncia sobre o comportamento de outros Estados. Atravs do uso de ameaas e coero, a formao de alianas, e a criao de esferas de influncia exclusivas, Estados tentam criar um ambiente poltico internacional e as regras do sistema que contribuam para uma satisfao dos seus interesses polticos, econmicos e ideolgicos. Assim, outro aspecto do processo de mudana poltica internacional envolve os esforos dos Estados (ou, ainda, grupos) para ganhar controle sobre o comportamento de outros atores do sistema internacional. O terceiro objetivo dos Estados e no mundo moderno um objetivo cada vez mais importante, controlar ou, pelo menos, exercer influncia sobre a economia mundial, ou o que pode ser mais apropriadamente chamado de diviso internacional do trabalho. Este objetivo, claro, no pode ser facilmente isolado dos primeiros dois. Tanto o controle do territrio e a dominao poltica de um Estado sobre outro tem profundas conseqncias para

as relaes econmicas internacionais. No entanto, desde o surgimento de uma economia de mercado internacional, no sculo XVII e o seu alargamento por todo o mundo no sculo XIX, o poder de mercado ou poder econmico tornou-se ele prprio um principal meio pelo qual os Estados buscam organizar e manipular a diviso internacional do trabalho para sua prpria vantagem. No mundo moderno a diviso internacional do trabalho tornou-se um determinante significativo da segurana, riqueza, e prestgio relativos dos Estados; a organizao e gesto da economia mundial tornaram-se objetivos importantes dos Estados. Os termos de troca, o fluxo de recursos (capital, tecnologia, matrias-primas), e a natureza do sistema monetrio internacional so hoje as principais preocupaes da poltica estatal. Portanto, a distribuio do poder econmico e as regras internacionais regimes econmicos tornaram-se aspectos crticos do processo de mudana poltica internacional (Keohane e Nye, 1977). Em particular, a criao e funcionamento da economia mundial interdependente tm exigido o reconhecimento e a execuo de direitos individuais de propriedade em uma escala global. A extenso progressiva destes direitos de indivduos (ou empresas) geograficamente e da rea relativamente simples das relaes comerciais para a arena complexa do investimento estrangeiro tornou-se uma caracterstica central das relaes internacionais no mundo moderno. A idia de que um cidado de um pas pode exercer os direitos de propriedade atravs das fronteiras nacionais uma caracterstica revolucionria do mundo moderno, especialmente na escala agora praticada na dcada de 1980. A determinao das normas que regem esses direitos tem sido um aspecto importante da mudana poltica internacional. Entre estes objetivos dos Estados, os mais importantes so aqueles que um Estado considera os seus interesses vitais e para os quais est preparado para ir para a guerra. Embora o conceito de interesse vital seja impreciso, e a definio de um interesse vital possa mudar por causa das mudanas econmicas, tecnolgicas, ou polticas, todos os Estados lutaro pela manuteno de certos interesses que sejam tidos como de extrema importncia para sua segurana. Assim, a Gr-Bretanha lutou vrias guerras ao longo de um perodo de trs sculos para garantir a independncia dos Pases Baixos a partir de potncias hostis. Desde a Segunda Guerra Mundial, a Europa Oriental e a Europa Ocidental tm sido aceitas por todos os envolvidos como interesses vitais da Unio Sovitica e dos Estados Unidos, respectivamente. Portanto, apesar de sua impreciso, a idia de interesse vital (Wight, 1979, pg 95-9) continua a ser uma idia importante para a compreenso das polticas externas dos Estados: Enquanto as relaes internacionais sejam baseadas na fora, o poder ser um objeto principal de ambio nacional. A resulta um crculo vicioso. Quando um lder poltico diz que a guerra necessria aos interesses vitais de seu pas, o que normalmente ele quer dizer que a guerra necessria para adquirir ou evitar a perda de algum fator de fora nacional. O interesse apenas vital no sentido de que vital para o sucesso na guerra. O fim s vital suficiente para justificar que a guerra algo decorrente da perspectiva de uma guerra em si (Hawtrey, 1952, pg. 19). A natureza do sistema internacional Estados criam acordos internacionais sociais, polticos e econmicos a fim de promover um conjunto particular de interesses. No entanto, obviamente, eles no tm controle completo sobre este processo. Uma vez instalado, o sistema internacional ele mesmo tem uma influncia recproca sobre o comportamento do Estado, que afeta as maneiras pelas quais indivduos, grupos e Estados buscam atingir seus objetivos. O sistema internacional, portanto,

fornece um conjunto de restries e oportunidades em que grupos individuais e Estados procuram para promover os seus interesses. O termo "sistema internacional" em si ambguo. Ele pode cobrir uma gama de fenmenos de contactos espordicos entre os Estados para as relaes fortemente interligadas da Europa no final do sculo XIX. At a era moderna no havia um sistema nico a nvel internacional, mas sim vrios sistemas internacionais, com pouco ou nenhum contato um com o outro. Assim, exceto para o mundo moderno, no se pode realmente falar do sistema internacional. Neste estudo, o termo "sistema internacional" ser usado para se referir aos sistemas compartimentados do passado, bem como o sistema mundial da era presente. A definio de sistema internacional, que ser utilizada aqui uma adaptao da definio usada por Robert Mundell e Alexander Swoboda: "Um sistema uma agregao de diversas entidades unidas por uma interao regular de acordo com uma forma de controle" (Mundell e Swoboda, 1969, pg. 343.) 8. De acordo com esta formulao, um sistema internacional tem trs aspectos primrios. Em primeiro lugar, existem as "diversas entidades", que podem ser processos, estruturas, atores, ou at mesmo atributos de atores. Segundo, o sistema caracterizado pela "interao regular", que pode variar em um continuum de contactos pouco frequentes interdependncia intensa dos Estados. Terceiro, existe alguma "forma de controle" que regula o comportamento e pode variar de regras informais do sistema para instituies formais. Alm disso, por implicao, o sistema deve ter alguns limites que o distinguem de outros sistemas e seu ambiente maior. Vamos considerar cada um dos aspectos com mais detalhes. Diversas entidades. Como observado anteriormente, as principais entidades ou atores so os Estados, embora outros atores de natureza transnacional ou internacional tambm possam desempenhar papis importantes em determinados conjuntos de circunstncias. A natureza do prprio Estado tambm muda ao longo do tempo, e o carter do sistema internacional em grande parte determinado pelo tipo de Estado-ator: cidades-estados, imprios, Estados-nao, etc. Tarefa fundamental de uma teoria da mudana poltica internacional investigar os fatores que influenciam o tipo de Estado caracterstico de uma determinada poca e sistema internacional. Interaes regulares. Cada sistema internacional caracterizado por vrios tipos de interaes entre seus elementos. A natureza, regularidade e intensidade dessas interaes variam muito para diferentes sistemas internacionais. As interaes entre os atores do sistema podem variar de conflito armado intermitente para os nveis elevados de interdependncia econmica e cultural do mundo moderno. Juntos, as relaes diplomticas, militares, econmicas e outras entre os Estados constituem o funcionamento do sistema internacional. No mundo moderno, essas interaes entre os Estados tornaram-se cada vez mais intensas e organizadas, principalmente por causa dos avanos revolucionrios em transportes e comunicaes. Relaes culturais, diplomticas e alianas entre os Estados foram institucionalizadas e regidas por regras formalmente acordadas. Em particular, a interdependncia econmica, ou o que pode ser chamado de diviso internacional do trabalho, evoluiu a ponto de comrcio, as relaes de dinheiro, e os investimentos estrangeiros estarem entre as caractersticas mais importantes do sistema internacional no mundo contemporneo. A evoluo e funcionamento da diviso internacional do trabalho tornaram-se aspectos crticos do processo de mudana poltica internacional. Forma de controle. Sem dvida, o aspecto mais controverso da definio de "sistema internacional", usado aqui a noo de controle sobre o sistema. A viso predominante entre muitos estudiosos da cincia poltica que a essncia das relaes internacionais precisamente a ausncia de controle. Poltica internacional, em contraste com a poltica8

O escritor tem dvida para com Edward Morse por trazer essa definio a sua ateno.

interna, dito ser realizada em uma condio de anarquia, no h autoridade ou controle sobre o comportamento dos atores, e muitos escritores acreditam que uma contradio em termos falar de controle sobre o sistema internacional. Devido centralidade desta questo para o argumento deste estudo, ela requer um tratamento mais prolongado do que os outros aspectos do sistema internacional. O argumento deste estudo que as relaes entre os Estados tm um alto grau de ordem e que, embora o sistema internacional seja uma anarquia (ou seja, h ausncia de autoridade formal do governo), o sistema exerce um princpio de controle sobre o comportamento dos Estados (Bull, 1977; Young, 1978). No entanto, a natureza e a extenso desse controle diferem da natureza e extenso do controle que sociedade domstica exerce sobre o comportamento dos indivduos. No entanto, possvel identificar semelhanas nos mecanismos de controle dos sistemas domsticos e o Sistema Internacional (Tabela 1).Tabela 1. Mecanismos de controle (componentes de sistema)

Controle Domstico Governo Autoridade Direitos de Propriedade Lei Economia Domstica

Controle Internacional Dominncia das grandes potncias Hierarquia de prestgio Diviso do territrio Regras do sistema Economia Internacional

Quando falamos de controle sobre o sistema internacional, este termo deve ser entendido como "controle relativo" e "procura controlar." Nenhum Estado j controlou completamente um sistema internacional; alis, nenhum governo nacional, nem mesmo o mais totalitrio, controlou completamente uma sociedade domstica. O grau de controle, obviamente, tambm difere em vrios aspectos das relaes internacionais e ao longo do tempo (Keohane e Nye, 1977, pg. 31). Se um grupo ou Estado estivessem totalmente no controle de uma sociedade, a mudana no poderia ocorrer. Na verdade, precisamente porque as foras econmicas, polticas, tecnolgicas e escapar ao controle dos grupos dominantes e Estados que a mudana ocorre. Controle ou gesto do sistema internacional uma funo de trs fatores. Em primeiro lugar, a governana do sistema baseia-se na distribuio de poder entre coalizes polticas. Na sociedade domstica dessas coalizes so principalmente as classes, estratos ou grupos de interesse, e a distribuio de poder entre essas entidades um aspecto principal da governana da sociedade domstica. Na sociedade internacional, a distribuio de poder entre coalizes de coalizes (ou Estados) determina quem governa o sistema internacional e cujos interesses so principalmente promovidos pelo funcionamento do sistema. Nas palavras de E. H. Carr, "governo internacional , na realidade, o governo por esse Estado [ou Estados], que supre [suprem] o poder necessrio para o propsito de governar" (1951, pg. 107). Em cada sistema internacional as potncias dominantes na hierarquia internacional de poder e prestgio organizam e controlam os processos de interaes entre os elementos do sistema. Ou, como Raymond Aron colocou, "a estrutura dos sistemas internacionais sempre oligopolstica. Em cada perodo, os principais atores j determinaram que o sistema mais do que eles foram determinados por ele" (1966, pg. 95). Esses Estados dominantes tm procurado exercer o controle sobre o sistema a fim de promover seus prprios interesses. Ao longo da histria, trs formas de controle ou tipos de estrutura tm caracterizado os sistemas internacionais. A primeira estrutura imperial ou hegemnica: Um Estado nico e poderoso controla ou domina os Estados menores no sistema. Este tipo de sistema tem, de fato, sido mais prevalente, pelo menos at os tempos modernos e estudiosos das relaes internacionais detectaram uma propenso para cada sistema internacional para evoluir na

direo de um imprio universal. A segunda estrutura uma estrutura bipolar em que dois Estados poderosos controlam e regulam as interaes dentro e entre suas respectivas esferas de influncia; apesar importantes excees, a tendncia sempre foi para esses sistemas a ser instvel e de durao relativamente curta. O terceiro tipo de estrutura um equilbrio de poder no qual trs ou mais Estados controlam aes uns dos outros atravs de manobra diplomtica, alianas instveis e conflito aberto. O exemplo clssico desse sistema , naturalmente, o equilbrio de poder europeu que se pode dizer que existiu desde o Tratado de Westflia (1648) s vsperas da I Guerra Mundial (1914). A distribuio do poder entre os Estados constitui a principal forma de controle em todo o sistema internacional. Os Estados dominantes e imprios em cada sistema internacional organizam e mantm a rede de relaes polticas, econmicas, e outras dentro do sistema e, especialmente, em suas respectivas esferas de influncia. Tanto individualmente e em interao com o outro, tais Estados que historicamente tm sido chamados de grandes potncias e so conhecidos hoje como as superpotncias estabelecem e reforam as regras e direitos bsicos que influenciam seu prprio comportamento e o dos Estados menores no sistema. O segundo componente na gesto de um sistema internacional a hierarquia de prestgio entre os Estados. Nas relaes internacionais, o prestgio o equivalente funcional do papel da autoridade na poltica interna. Tal como o conceito de autoridade, o prestgio est intimamente ligado , mas distinto do conceito de poder. Conforme definido por Max Weber, poder a "probabilidade de que um ator dentro de uma relao social estar em posio de realizar sua prpria vontade, apesar da resistncia, independentemente da base sobre a qual repousa essa probabilidade." Autoridade (ou prestgio) a "probabilidade de que um comando com um determinado contedo especfico ser obedecido por um determinado grupo de pessoas" (Dahrendorf, 1959, pg. 166). Assim, tanto funo do poder e do prestgio a de garantir que os Estados menores do sistema iro obedecer aos comandos do Estado ou Estados dominantes. Prestgio, como autoridade, tem uma base moral e funcional (Carr, 1951, pg. 236). Em certa medida, os Estados menores em um sistema internacional seguir a liderana dos Estados mais poderosos, em parte porque eles aceitam a legitimidade e utilidade da ordem existente. Em geral, eles preferem a certeza do status quo para as incertezas da mudana. Alm disso, as elites dominantes e coalizes dos Estados subordinados freqentemente formam alianas com as potncias dominantes e identificam seus valores e interesses com os das potncias dominantes. Imprios e Estados dominantes fornecem bens pblicos (segurana, ordem econmica, etc.), que do aos outros Estados um interesse em seguir a sua liderana. Finalmente, cada Estado dominante e, em particular um imprio, promove uma religio ou ideologia que justifica a sua dominao sobre os outros Estados no sistema (Moore, 1958, pg. 10, 16). Em suma, os inmeros fatores, incluindo o respeito e interesse comum, so base do prestgio de um Estado e a legitimidade do seu comando. Em ltima anlise, no entanto, a hierarquia de prestgio em um sistema internacional baseia-se no poder econmico e militar. Prestgio a reputao de poder, e o poder militar em particular. Considerando que poder refere-se s capacidades econmicas, militares e conexas de um Estado, o prestgio refere-se principalmente s percepes de outros Estados com relao capacidade de um Estado e a sua aptido e vontade de exercer seu poder. Na linguagem da teoria estratgica contempornea, o prestgio envolve a credibilidade do poder de um Estado e sua vontade de impedir ou obrigar outros Estados, a fim de atingir os seus objetivos. Assim, poder e prestgio so diferentes, e, como ser discutido mais tarde, o fato de que a distribuio do poder existente e da hierarquia de prestgio podem por vezes estar em conflito uma com a outra um fator importante na mudana poltica internacional.

Prestgio, ao invs de poder, a moeda cotidiana das relaes internacionais, assim como a autoridade a caracterstica central ordenamento da sociedade nacional. Como E. H. Carr colocou, o prestgio "extremamente importante", porque "se a sua fora reconhecida geralmente voc pode atingir seus objetivos sem ter que us-la" (citado em Wight, 1979, pg. 98). por esta razo que, no exerccio da diplomacia e da resoluo de conflitos entre os Estados h realmente relativamente pouco uso da fora ostensiva ou ameaas explcitas. Pelo contrrio, a negociao entre os Estados e os resultados das negociaes so determinados principalmente pelo prestgio relativo das partes envolvidas. Mas por trs de tais negociaes, h o reconhecimento implcito mtuo de que o impasse na mesa de negociaes poderia levar a deciso no campo de batalha (Kissinger, 1961, pg. 170). Por esta razo, as pocas de relativa paz e estabilidade foram as pocas histricas em que a hierarquia de prestgio fora claramente entendida e permaneceu incontestada. Por outro lado, o enfraquecimento da hierarquia de prestgio e uma maior ambigidade na sua interpretao so, freqentemente, o preldio de pocas de conflito e luta. O papel central do prestgio no ordenamento e gesto do sistema internacional foi bem estabelecido na seguinte declarao de Ralph Hawtrey: Se a guerra uma interrupo entre dois perodos de paz, igualmente verdade que a paz um intervalo entre duas guerras. Isso no uma mera epigrama verbal. importante, num sentido muito real. Guerra significa a imposio da vontade do mais forte sobre o mais fraco pela fora. Mas se a sua fora relativa j conhecida, uma prova de fora desnecessria, o mais fraco ir ceder ao mais forte, sem passar por tormentos do conflito para chegar a uma concluso conhecida de antemo desde o princpio. A reputao de fora o que chamamos de prestgio. Um pas ganha prestgio a partir da posse do poder econmico e militar. Estas so questes em parte factuais e em parte de opinio. Fossem elas exatamente determinveis e mensurveis, os conflitos de prestgio poderia sempre tomar o lugar dos conflitos de fora. Mas no possvel medir exatamente tanto a riqueza de um pas ou o seu grau de mobilidade, e mesmo que a fora militar que poderia ser mantida fosse precisamente conhecida, h imponderveis a ter em conta: as qualidades militares dos homens, a proficincia dos lderes, a eficincia da administrao e, por ltimo, mas no menos importante a sorte pura. O resultado que existe uma grande margem de erro. Prestgio no inteiramente uma questo de clculo, mas em parte da inferncia indireta. Em um conflito diplomtico do pas que cede provavelmente sofrer uma diminuio em prestgio porque o fato de ceder tomado pelo resto do mundo como evidncia de fraqueza consciente. Os componentes visveis de poder no contam toda a histria, e ningum pode julgar melhor os componentes invisveis do que as autoridades que regem o prprio pas. Se eles mostram falta de confiana, isso significa que h alguma fonte oculta de fraqueza. Se o prestgio do pas , assim, diminudo, ele est enfraquecido em qualquer futuro conflito diplomtico. E se um conflito diplomtico sobre qualquer coisa substancial, o fracasso provavelmente significar numa diminuio da fora material. Um declnio de prestgio , portanto, uma leso a ser temida. Mas, em ltimo recurso prestgio significa reputao de fora na guerra, e as dvidas sobre o assunto s podem ser definidas definitivamente pela guerra em si. Um pas lutar quando acreditar que o seu prestgio na

diplomacia no equivalente sua fora real. Julgamento por batalha um incidente excepcional, mas o conflito da fora nacional contnuo. Isso inerente anarquia internacional (1952, pg 64-5). H vrios aspectos desta excelente exposio que merecem destaque. Em primeiro lugar, apesar de que prestgio seja principalmente uma funo das capacidades econmicas e militares, ele alcanado principalmente atravs do uso bem sucedido do poder e, especialmente, pela vitria na guerra. Os membros mais prestigiados do sistema internacional so os pases que, mais recentemente, usaram a fora militar e o poder econmico com sucesso e, assim, impuseram sua vontade aos os outros. Em segundo lugar, tanto poder quanto prestgio so, em ltima anlise, imponderveis e incalculveis, no podem ser conhecidos absolutamente por qualquer processo de clculo a priori. Eles so conhecidos apenas quando so testados, especialmente no campo de batalha. Terceiro, uma das principais funes da guerra e, particularmente, o que chamaremos de guerra hegemnica, determinar a hierarquia internacional de prestgio e, assim, determinar quais Estados iro de fato governar o sistema internacional. O papel crtico do prestgio na ordenao e funcionamento do sistema internacional importante para a nossa principal preocupao com o processo de mudana poltica internacional. O que a anlise de Hawtrey sugere que uma inconsistncia pode, e em tempo o faz surgir entre a hierarquia estabelecida de prestgio e a distribuio de poder existente entre os Estados.9 Ou seja, a percepo da defasagem prestgio por trs das mudanas nas capacidades reais dos Estados. Como conseqncia, a gesto do sistema comea a ruir conforme as percepes se deparam com novas realidades do poder. O Estado outrora dominante cada vez menos capaz de impor sua vontade sobre os outros e/ou para proteger os seus interesses. O Estado ou Estados ascendentes do sistema cada vez mais exigem mudanas no sistema que reflitam seu poder recm-adquirido e seus interesses no atendidos. Finalmente, o impasse e concesso de quem vai manter o sistema so resolvidos atravs do conflito armado. Afirma-se frequentemente que, no mundo contemporneo sucesso econmico largamente deslocou sucesso poltico e militar como base de prestgio internacional. Japo e Alemanha Ocidental so citados como exemplos significativos de potncias derrotadas que recuperaram suas posies internacionais atravs da criao de economias fortes, nas reas de comrcio internacional, investimento estrangeiro, e relaes mundiais monetrias, estas duas naes agora exercem influncias poderosas em todo o mundo. Isso correto, ainda, h vrios outros apontamentos que ainda devem ser feitos. Primeiro, essa nfase no poder econmico compatvel com a definio do livro de prestgio como repousando sobre as capacidades do Estado (Hawtrey, 1952, pg. 71). Em segundo lugar, o Japo e a Alemanha Ocidental aumentaram seu prestgio em parte porque souberam traduzir suas capacidades econmicas em poder militar. Em terceiro lugar, como j afirmei em outro lugar, o poder econmico pode desempenhar o papel que ele faz no mundo de hoje por causa da natureza da ordem econmica e poltica criada e defendida militarmente principalmente pelos Estados Unidos (Gilpin, 1975). Em resumo, a legitimidade do "direito de governar" por parte de uma grande potncia, pode ser dito, repousa em trs elementos. Primeiro, ela baseada em sua vitria na ltima guerra hegemnica e sua capacidade demonstrada para impor sua vontade sobre outros Estados; os tratados que definem o status quo internacional e proporcionam a constituio da ordem estabelecida tem autoridade na medida em que refletem essa realidade. Em segundo lugar, o comando da potncia dominante frequentemente aceito porque fornece determinados bens pblicos, como uma ordem econmica benfica ou segurana9

A idia de inconsistncia de status a que remonta a Max Weber e foi salientada por vrios escritores recentes, como Galtung (1964), Michael Haas (1974) e Wallace (1973).

internacional. Em terceiro lugar, a posio do poder dominante pode ser apoiada por valores ideolgicos, religiosos ou outros comuns a um conjunto de Estados. Em contraste com a situao da sociedade domstica, no entanto, os ltimos dois fatores so geralmente fracos ou inexistentes.10 Alm da distribuio do poder e da hierarquia de prestgio, o terceiro componente da governana de um sistema internacional um conjunto de direitos e regras que governam, ou pelo menos influenciam as interaes entre os Estados (Hoffmann, 1965). At onde temos conhecimento, os Estados tm reconhecido certas regras do sistema, embora em alguns casos, estas regras sejam muito primitivas. Tais regras vo desde simples entendimentos sobre esferas de influncia, a troca de embaixadores, e a conduta do comrcio para a codificao do direito internacional elaborado em nossa prpria era. Todo sistema de interao humana exige um conjunto mnimo de regras e ao reconhecimento mtuo de direitos. A necessidade de regras e direitos surge da condio humana bsica de escassez de recursos materiais e da necessidade de ordem e previsibilidade nas relaes humanas. A fim de minimizar o conflito sobre a distribuio de bens escassos e facilitar a cooperao frutfera entre os indivduos, cada sistema social cria regras e leis para governar o comportamento. Isto to verdadeiro para os sistemas internacionais como domsticos para os sistemas polticos (Bull, 1977, pg. 46-51). Em geral, as regras que afetam as interaes entre Estados abrangem trs grandes reas. Em primeiro lugar, elas se relacionam com a conduta da diplomacia e as relaes polticas entre os Estados. Em alguns sistemas primitivos tais regras podem ser muito rudimentares, de fato. No mundo moderno, essas questes tornaram-se altamente institucionalizadas e governadas por cdigos legais elaborados. Em segundo lugar, pode haver certas regras de guerra. Isto particularmente verdadeiro no caso de Estados que partilham uma religio ou civilizao. No mundo moderno, sob a influncia da civilizao ocidental, a lei da guerra, abordando temas tais como o tratamento de prisioneiros e os direitos dos neutros, tornou-se altamente desenvolvida e frequentemente violada. Em terceiro lugar, as regras de um sistema cobrem reas econmicas e outras de relaes entre os Estados. Em todos os sistemas o interesse mtuo no comrcio tem garantido alguma proteo para o negociante e para o comerciante. No mundo moderno as regras ou regimes que regem o comrcio internacional, a cooperao tcnica, e tais assuntos esto entre as regras mais importantes que influenciam o comportamento interestadual. As fontes de direitos e as regras que incorporam eles variam de costume a tratados internacionais formalmente negociados. Em parte, os direitos e as regras repousam em valores e interesses comuns e so geradas por uma ao cooperativa entre os Estados. O sistema estatal europeu foi notvel no grau relativamente elevado de consenso que existia sobre a natureza desses direitos e regras, este sistema constitui, na opinio de Hedley Bull, no meramente um sistema de Estados, mas uma sociedade de Estados que partilham um conjunto comum de valores e normas (Bull, 1977, pg. 15-16). Pode-se dizer a mesma coisa sobre o clssico sistema de cidade-estado grega. Seja ou no o sistema global contemporneo tambm caracterizado como uma sociedade de Estados que partilham valores e interesses comuns uma questo de intensa discusso acadmica atualmente. Embora os direitos e as regras que regem o comportamento interestatal estejam em diferentes graus baseados no consenso e interesse mtuo, o fundamento principal de direitos e regras est no poder e interesses dos grupos ou Estados dominantes em um sistema social. Como Harold Lasswell e Abraham Kaplan colocaram, as regras polticas e outras so "o10

Este conceito de legitimidade tem muito pouco a ver com a justia do sistema. Embora os Estados individuais busquem justia por si mesmos, muito raramente sobrepujam o interesse pessoal para promover um sistema justo. Para tratamentos contrastantes sobre o papel da justia na poltica mundial, trs livros contemporneos so dignos de nota: Beitz (1979), Bull (1977, especialmente Captulo 4), e Falk (1971).

padro de prticas governantes" (1950, pg. 208). Em todo sistema social, os atores dominantes afirmam seus direitos e impem regras sobre os membros inferiores, a fim de promover os seus interesses particulares. O imprio persa, que foi talvez o primeiro legislador, imps a outros Estados as regras relativas s relaes econmicas internacionais e mediou litgios entre os seus vizinhos menores (Bozeman, 1960, pg. 53). Roma deu ao mundo mediterrneo seu prprio cdigo de direito e deixou como legado para a civilizao ocidental a primeira lei das naes. Na era moderna, o que chamamos de direito internacional foi imposto ao mundo pela civilizao ocidental, e reflete os valores e interesses da civilizao ocidental. O avano mais significativo na regulamentao tem sido a inovao do tratado multilateral e formalizao do direito internacional. Esta tem sido uma das principais conquistas da sociedade europia de Estados. Antes do Tratado de Westflia (1648), os tratados internacionais eram negociados bilateralmente e cobriam uma gama limitada de assuntos. O Congresso de Westflia reuniu pela primeira vez na histria todas as grandes potncias de um sistema internacional. As regras acordadas cobriram um vasto leque de assuntos religiosos, polticos e territoriais em questo na Guerra dos Trinta Anos. Os estadistas que se reuniram em Westflia reordenaram o mapa da Europa e estabeleceram um conjunto de regras que trouxe relativa paz para a Europa para o resto do sculo. Os tratados negociados nas concluses das grandes guerras da civilizao europia serviram como constituio do sistema estatal. Os acordos de paz de Westflia (1648), Utrecht (1713), Viena (1815) e Versailles (1919) tentaram formar um status quo estvel e estabelecer um mutuamente reconhecido conjunto de regras e direitos. Estes tratados fornecidos base para a resoluo de disputas, a imposio de sanes aos perdedores, o reconhecimento mtuo das garantias de segurana, etc. Mais importante de tudo, estes tratados de paz redistriburam territrio (e, portanto, recursos) entre os Estados no sistema e, assim, alteraram a natureza do sistema internacional. Nas palavras de um estudioso desses tratados, "o assentamento territorial... restringiu o sistema Estatal sobre uma nova base" (Randle, 1973, pg. 332). Na sociedade domstica, como j vimos, o principal mecanismo para a regulao da distribuio de bens escassos, o conceito de propriedade. Direitos de propriedade e as regras que o incorporam so os meios bsicos para ordenar assuntos domsticos sociais, econmicos e polticos. A definio e distribuio de tais direitos de propriedade refletem os poderes e interesses dos membros dominantes da sociedade. Por esta razo, o processo de mudana poltica domstica fundamentalmente uma redefinio e redistribuio de direitos de propriedade. Em relaes internacionais, a territorialidade o equivalente funcional dos direitos de propriedade. Como a definio de propriedade, o controle do territrio lhe confere um conjunto de direitos. O controle e a diviso do territrio constituem o mecanismo bsico que rege a distribuio de recursos escassos entre os Estados em um sistema internacional. Considerando que a mudana poltica domstica envolve redefinio e redistribuio de direitos de propriedade, mudana poltica internacional tem sido principalmente uma questo de redistribuio de territrio entre os grupos ou Estados aps as grandes guerras da histria. Embora a importncia do controle territorial tenha diminudo um tanto no mundo moderno, ele continua a ser o mecanismo central de ordenao da vida internacional. Estados-nao contemporneos, especialmente os Estados recm-formados no Terceiro Mundo, so to ferozmente zelosos de sua soberania territorial como os seus antecessores do sculo XVIII europeus. A definio anterior de um sistema internacional, baseada principalmente em caractersticas estruturais, obviamente nos diz muito pouco sobre o contedo poltico, econmico e moral de determinados sistemas internacionais. Potncias dominantes tiveram

conjuntos muito diferentes de ideologias e interesses que tm procurado alcanar e incorporar nas regras e regimes do sistema. Roma e Gr-Bretanha cada uma criaram uma ordem mundial, mas o comando, muitas vezes opressivo da Pax Romana era em muitos aspectos diferente da regra geral liberal da Pax Britnica. A Frana napolenica e a Alemanha hitlerista deram governanas muito diferentes para a cada Europa unida. A Pax Americana difere do que uma Sovitica Pax vigoraria. Uma teoria geral e verdadeiramente abrangente das relaes internacionais teria de avaliar os tipos de sistemas internacionais (tirnico-liberal, cristoislmico, capitalista, comunista, etc.) por suas caractersticas e dinmicas. Quando adequado, este estudo ir abordar estas questes; no entanto, essas levantam questes fundamentais que vo muito alm dos determinados fins do presente estudo. Limites do sistema. Um sistema internacional, como qualquer outro sistema, tem um conjunto de limites que o distinguem de seu ambiente maior. No caso de um sistema internacional, a determinao destes limites um problema difcil. Com a exceo dos sistemas totalmente isolados, tais como os imprios pr-colombianos americanos, por exemplo, no h ntidas quebras geogrficas entre um sistema e outro. O que para um observador um sistema internacional auto-suficiente pode ser para outro apenas um subsistema de um sistema internacional maior e mais abrangente. Por exemplo, Tucdides tratou as beligerantes cidades-estados gregas como um sistema relativamente autnomo. No entanto, em uma tela alargada, estas cidades-estados, eram parte de um sistema muito maior dominado pela Prsia imperial, que foi temporariamente desviada de assuntos gregos por problemas em outras partes de seu imprio. Em suma, o que constitui um sistema internacional (ou subsistema) encontra-se em certa medida no olho do observador. Portanto, a definio dos limites de um sistema internacional deve necessariamente ser um pouco arbitrria e subjetiva. O que constitui um sistema internacional determinado em parte pela percepo dos prprios atores. O sistema abrange os atores cujas aes e reaes so tidas em conta pelos Estados na formulao da poltica externa. O sistema de fato uma arena de clculo e tomada de decises interdependentes. Os limites do sistema so definidos pela rea sobre a qual grandes potncias procuram exercer controle e influncia. Assim, embora Roma imperial e China fossem funcionalmente interdependentes e tenham sido profundamente afetadas pelos distrbios causados pela migrao macia de nmades de estepes da sia Central, seria absurdo considerar a China antiga e em Roma como partes do mesmo sistema internacional (Teggart, 1939). No entanto, as fronteiras geogrficas importam, na medida em que afetam os outros atores e consideraes um Estado deve ter em conta na formulao da sua poltica externa. As topografias do terreno, a existncia de comunicaes, gua e clima, obviamente, facilitam ou inibem grandemente as interaes entre os Estados. No por acaso, por exemplo, que os sistemas internacionais tendem a se formar em torno de comunicaes de gua: as bacias hidrogrficas antigas da sia e do Oriente Mdio, o Mar Mediterrneo at os tempos modernos, e os oceanos Atlntico e Pacfico no perodo moderno. Mas igualmente verdade que as fronteiras geogrficas so elsticas e so alteradas por mudanas na tecnologia e outros fatores. TIPOS DE MUDANAS INTERNACIONAIS bvio que as mudanas internacionais podem ser e so de diferentes graus de magnitude e que os indivduos podem colocar pesos muito diferentes sobre a sua importncia. O que para uma pessoa pode ser uma mudana dentro de um determinado sistema internacional pode ser para outra uma transformao do prprio sistema. Por exemplo, ao longo da histria da diplomacia europia, houve uma sucesso contnua de diferentes distribuies de poder, uma variedade de atores, e diferentes arranjos de alianas polticas. Como essas variaes foram de magnitudes diferentes, o terico da mudana poltica

internacional tem a tarefa de classific-las antes de formular uma teoria para explic-las. Assim, enquanto Arthur Burns, em seu Of Powers and Their Politics (ou Sobre Potncias e sua Poltica), considera muito dessas mudanas, como o surgimento da Frana revolucionria e a unificao da Alemanha de Bismarck, em 1871, como meras alteraes no sistema de Estados europeu (Burns, 1968, Captulo 5), Richard Rosecrance, em seu Action and Reaction in World Politics, 1963, (Ao e Reao na Poltica Mundial), classificou-as como as mudanas do sistema internacional em si. Subjacente a essa diferena de interpretao, claro, esto contrastantes teorias de mudana poltica. Apesar de uma tipologia de mudanas seja em grande parte uma questo arbitrria, a classificao utilizada deve ser uma funo da prpria teoria de mudana e de uma definio sobre a entidade que muda. Assim, neste estudo, nos inspiraremos em nossa definio anterior de um sistema internacional para distinguir trs grandes tipos de alteraes caractersticas dos sistemas internacionais (Tabela 2). O primeiro tipo e mais fundamental de mudana a mudana na natureza dos agentes ou entidades diferentes que compem um sistema internacional; este tipo de alterao ser chamado mudana de sistema. O segundo tipo de mudana uma mudana na forma do controle ou governana de um sistema internacional, este tipo de mudana vai ser rotulado mudana sistmica. Em terceiro lugar, uma mudana pode ocorrer sob a forma de interaes regulares ou processos entre as entidades em um sistema internacional em curso; este tipo de alterao ser rotulado simplesmente mudana interao. Infelizmente, nem sempre fcil distinguir entre estes trs tipos de mudana. Devido sua natureza abrangente, por exemplo, a mudana de sistema tambm envolve ambas as mudanas sistmicas e de interao. Alm disso, mudanas no nvel das interaes interestatais (ou seja, a formao de alianas diplomticas ou grandes mudanas nos locais de atividades econmicas) pode ser o preldio de uma mudana sistmica e, eventualmente, mudana de sistema. O material histrico confuso, e difcil, seno impossvel, reordenar as coisas em categorias analticas puras. A classificao de uma mudana tambm uma funo do nvel de anlise. O que a um dado nvel de anlise pode ser classificada como uma mudana sistmica ou de interao pode, em outro nvel, ser considerada como uma mudana de sistema. Por exemplo, a unificao da Alemanha em 1871 foi uma mudana de interao ao nvel global da poltica europia, uma mudana sistmica ao nvel da poltica europia central, e uma mudana de sistema em nvel da poltica intra-alem. Tudo depende do sistema de interaes interestatais que se tem em mente. Estas trs categorias de mudana so o que Max Weber chamou de tipos ideais. Embora elas nunca possam acontecer em sua forma pura, um tipo ou outro pode melhor caracterizar a natureza da mudana em um determinado momento no tempo. Por esta razo elas so teis dispositivos analticos, e ajudam a esclarecer o processo de mudana. Com esta observao em mente, cada tipo ser discutido brevemente. Mudana de sistema Tal como referido pela em seu rtulo, mudana de sistema envolve uma grande mudana no carter do sistema internacional em si. Ao falar do carter do sistema, nos referimos principalmente natureza dos principais atores ou entidades diversas que compem o sistema. O carter do sistema internacional identificado por suas entidades mais importantes: os imprios, os Estados-nao, ou corporaes multinacionais. A ascenso e declnio de diversos tipos de entidades e sistemas estaduais devem necessariamente ser uma preocupao fundamental de uma teoria completa da mudana internacional. Embora os estudiosos de relaes internacionais tenham dado pouca ateno a esta categoria de mudana e deixaram-no (talvez sabiamente) para os filsofos da histria, ela deveria ser mais central de suas preocupaes. A ascenso e declnio do sistema cidade-estado

grego, o declnio do sistema estatal medieval europeu, e a emergncia dos Estado-nao europeus modernos so exemplos da mudana de sistema. Para estudar essas mudanas adequadamente e de forma sistemtica, seria necessrio um estudo verdadeiramente comparativo das relaes internacionais e sistemas. Na ausncia de tais estudos, uma anlise terica de mudana de sistema , obviamente, deficiente. Esta questo particularmente relevante na poca atual, em que novos tipos de atores transnacionais e internacionais so considerados como assumindo papis que substituem tradicional papel dominante do Estado-nao, e o prprio Estado-nao tida como uma cada vez mais anacrnica instituio. Temos, claro, numerosos estudos valiosos analisando este assunto, mas a questo mais geral do porqu de um ou outro tipo de entidade mais adequado para um determinado ambiente histrico foi tratado inadequadamente pelos estudiosos de relaes internacionais. Com efeito, o que essa questo pergunta por que, em vrios momentos e em diferentes contextos, indivduos e grupos acreditam que uma forma poltica mais do que outra adequada para promover os seus interesses. Embora cada organizao poltica sirva a um conjunto geral de interesses (de proteo, bem-estar, status), o tipo particular de organizao que melhor serve a um interesse especfico depende da natureza do interesse e das circunstncias histricas. Como os interesses e as circunstncias mudam, o tipo de organizao que exigida para garantir e defender os interesses dos indivduos tambm muda. Qualquer desenvolvimento que afeta os custos e benefcios de afiliao institucional ou agrupamento para determinados indivduos vai trazer mudanas organizacionais. Por esta razo, uma mudana de sistema relaciona-se com os aspectos de custo / benefcio da composio organizacional e com as formas nas quais o desenvolvimento econmico, tecnolgico, e outros afetam a escala, eficincia e viabilidade de diferentes tipos de organizaes polticas. Embora neste estudo no possamos esperar dar uma resposta definitiva para essa questo, podemos ter esperana de lanar alguma luz sobre as questes envolvidas. Mudana Sistmica Mudana sistmica envolve uma mudana na governana de um sistema internacional. Isto quer dizer, uma mudana dentro do sistema em vez de uma mudana do sistema propriamente dito. Isto implica mudanas na distribuio internacional de poder, na hierarquia de prestgio, e nas regras e direitos consagrados no sistema, embora essas alteraes raramente, ou nunca, ocorram simultaneamente. Assim, enquanto o foco da mudana de sistemas a ascenso e declnio dos sistemas estatais, o foco da mudana sistmica a ascenso e declnio dos Estados dominantes ou imprios que regem um determinado sistema internacional. A teoria da mudana poltica internacional a ser desenvolvida aqui repousa no pressuposto de que a histria de um sistema internacional o da ascenso e declnio de imprios e Estados dominantes que durante os seus perodos de reinado sobre os assuntos internacionais tm dado ordem e estabilidade ao sistema. Iremos argumentar que a evoluo de qualquer sistema tem sido caracterizada por ascenses sucessivas de Estados poderosos que governaram o sistema e determinaram os padres de interaes internacionais e estabeleceram as regras do sistema. Assim, a essncia de mudana sistmica envolve a substituio de uma potncia dominante em declnio por uma potncia dominante em ascenso. Embora os acadmicos das relaes internacionais e historiadores da diplomacia tenham dedicado considervel ateno a este tipo de mudana, a maioria desses estudos tem se preocupado principalmente com o moderno sistema de Estados-nao europeu. Houve relativamente poucos estudos de sistemas anteriores ou de sistemas no-ocidentais por estudiosos da rea. Alm disso, esses estudos raramente abordaram o problema da mudana sistmica em uma veia terica, sistemtica ou comparativa, mas tendendo, a maioria, a ser

histrico ou descritivo. H uma necessidade de um estudo comparativo dos sistemas internacionais que se concentre na mudana sistmica em diferentes tipos de sistemas internacionais. Tal anlise comparativa est, obviamente, fora do escopo deste estudo, no qual no pretendo ter apresentado um estudo de alteraes sistmicas especficas, mesmo na era moderna. Na melhor das hipteses, esse estudo pode ter sucesso na apresentao de uma melhor compreenso da natureza e processo de mudana sistmica como um processo histrico e no apontar o caminho para estudos empricos da mudana. Se assim for, o propsito deste estudo ter sido satisfeito. Mudana de Interao Por mudana de interao, queremos dizer modificaes nas interaes polticas, econmicas, e outros ou processos entre os atores em um sistema internacional. Enquanto que este tipo de mudana no envolve uma mudana na hierarquia global de poder e prestgio no sistema, ele normalmente implica alteraes nos direitos e regras incorporadas em um sistema internacional. No entanto, convm notar que as mudanas interao frequentemente resultam dos esforos de Estados ou de outros agentes para acelerar ou impedir mudanas mais fundamentais em um sistema internacional e pode pressagiar tais mudanas. Em geral, quando os estudiosos das relaes internacionais discorrem sobre a dinmica das relaes internacionais, eles esto se referindo s modificaes das interaes entre Estados dentro de um determinado sistema estatal (pelo menos, conforme definido em nosso estudo). Este o caso, por exemplo, do Action and Reaction in World Politics (1963) de Richard Rosecrance, em que ele analisa as causas de mudanas no estilo diplomtico europeu de 1740 em diante. A vasta literatura sobre formao de alianas, a mudana de regime e as relaes transnacionais tambm est no nvel das interaes intra-sistmicas. Considerando que tem havido pouca pesquisa sobre sistemas de mudana e a mudana sistmica, h uma vasta literatura sobre mudanas nas interaes entre os Estados, apesar de ser essencialmente limitado ao sistema estatal ocidental e mais especialmente para as relaes internacionais desde 1945. Portanto, embora as alteraes de interao sejam as mudanas mais freqentes e constituam a maior parte do material das relaes internacionais, vamos dedicar pouca ateno a elas. Elas tm sido bem analisadas por outros (por exemplo, Keohane e Nye, 1977). Em vez disso, o foco do estudo principalmente na mudana sistmica e, em menor extenso, a mudana de sistemas. Vamos discutir as mudanas de interao apenas na medida em que so relevantes para uma compreenso mais ampla de mudana sistmica e mudana de sistemas. MUDANA INCREMENTAL VERSUS MUDANA REVOLUCIONRIA A explicao da mudana poltica levanta uma questo fundamental na teoria social, a saber, se a transformao de um sistema social pode ocorrer atravs de mudanas evolucionrias incrementais ou se tem necessidade de ser a consequncia de levantes polticos e da violncia - a revoluo no mbito interno e grande guerra a nvel internacional. Em um dos lados desta controvrsia est a tradio liberal e democrtica exemplificada pela experincia dos Estados Unidos e Gr-Bretanha, ambas as sociedades tm testemunhado mudanas pacficas em importantes instituies sociais e polticas em resposta evoluo econmica, tecnolgica, e outros. Os defensores desta posio afirmam que um processo semelhante de mudana contnua pacfica possvel, a nvel internacional. Por outro lado, a perspectiva hegeliana-marxista, que explica a grande mudana em termos de uma contradio entre o sistema social existente e as foras subjacentes da mudana. Mudanas so consideradas descontnuas e conseqncias de uma crise sistmica que pode ser resolvida somente pelo uso da fora, porque nenhum grupo dominante desiste de seus privilgios sem luta. De acordo com este ponto de vista, uma mudana pacfica apenas a outorga de concesses sem sentido projetadas para subornar as foras revolucionrias.

Em contraste com a concepo liberal da mudana social como sendo contnuos ajustes incrementais dos sistemas sociais para as foras da mudana, a perspectiva hegelianamarxista incorpora trs generalizaes bastante diferentes sobre a natureza da mudana social. Em primeiro lugar, o padro da histria considerado como uma srie descontnua de "contradies em desenvolvimento que levam a alteraes abruptas intermitentes" (Moore, 1965, pg. 138). Em segundo lugar, essas contradies ou crises surgem devido incompatibilidade entre os arranjos sociais e as foras subjacentes da mudana (econmicas, tecnolgicas, etc.) Em terceiro lugar, a resoluo da contradio e da transformao do sistema social so as conseqncias de uma luta de poder entre os potenciais ganhadores e perdedores. A posio que tomamos neste estudo a de que em um sistema internacional ambos os tipos de mudanas ocorrem. Os tipos mais freqentemente observados de mudanas so contnuos ajustes incrementais no mbito do sistema existente. Territrio muda de mos, mudanas em alianas e influncias ocorrem, e padres de relaes econmicas so alterados. Tais mudanas incrementais no nvel de interao interestadual causam a evoluo do sistema internacional dado que os Estados buscam atingir seus interesses, em resposta a desenvolvimentos econmicos, tecnolgicos, ambientais e outros. Como conseqncia, o processo de mudana poltica internacional geralmente um processo evolutivo em que ajustes contnuos so feitos para acomodar as mudanas de interesses e relaes de poder de grupos e Estados. Esta evoluo gradual do sistema internacional caracterizada pela negociao, a diplomacia coercitiva, e da guerra sobre interesses especficos e relativamente estreitamente definidos (Young, 1978, pg. 250). O sistema pode ser descrito como estando em um Estado de equilbrio homeosttico. Ajustes territoriais, polticos e econmicos entre os Estados em resposta ao conflito de interesses e mudanas nas relaes de poder funcionam para aliviar a presso no sistema, assim, preservando-o intacto. Em resumo, a mudana poltica internacional se d atravs do processo de acomodao pacfica e conflitos limitados em nvel de interaes interestaduais. Embora as mudanas no nvel das interaes interestaduais constituam a maior parte das relaes internacionais, obviamente elas no so os nicos tipos de mudanas observadas na esfera internacional. Enquanto a maioria das mudanas so respostas contnuas e lentas alteraes na situao, os ajustes no ocorrem sempre imediatamente. Importantes desenvolvimentos econmicos, tecnolgicos, ou militares podem ocorrer em conjunturas crticas: desenvolvimentos que prometam ganhos significativos ou perdas para um ou outro ator. Se esses ganhos no podem ser realizados no mbito do sistema existente, os Estados (ou melhor, as coligaes nacionais que os Estados representam) podem acreditar que seus interesses podem ser alcanados apenas com mudanas mais amplas e mais profundas no sistema internacional. Por outro lado, outros Estados iro acreditar que o encontro de tais demandas ir comprometer o que consideram serem seus prprios interesses vitais. Nesses momentos crticos, a questo a natureza e de governana do prprio sistema e / ou, mais raramente, o carter dos atores internacionais prprios. O primeiro tipo de mudana rotulado de mudana sistmica, este ltimo a mudana de sistemas. Tanto a mudana sistmica e mudana de sistema levantam a questo bsica de cujos interesses securitrios, econmicos e ideolgicos sero os mais beneficiados com o funcionamento do sistema internacional. A crise pode ser considerada constitucional, porque o padro de autoridade poltica (hierarquia de prestgio) est em jogo na crise, tanto quanto esto os direitos dos indivduos (ou Estados) e as regras do sistema. Alm disso, a resoluo da crise provavelmente envolve conflito armado (Tabela 3). Na poltica interna, as crises constitucionais so mais freqentemente resolvidas pela guerra civil e revoluo; na poltica internacional elas normalmente so resolvidas pela guerra hegemnica.

A concepo hegeliana-marxista de mudana poltica sustenta que as conjunturas crticas que levam mudana revolucionria so produzidas pelas contradies do sistema. De acordo com este ponto de vista, as contradies so consequncias inevitveis de componentes irreconciliveis no sistema social. Alm disso, acredita-se que possvel a priori determinar quando uma crise ou de conflito em um sistema , de fato, irreconcilivel e deve inevitavelmente causar uma mudana no sistema; acredita-se tambm que o resultado da contradio pode ser previsto de antemo. Em resumo, esta influente escola de pensamento tem uma viso determinista da natureza, causas e conseqncias da mudana poltica.Tabela 3. Comparao de mudana interna e Mudana Internacional

Domstico Internacional Mtodo principal de mudana Negociao entre grupos, Negociao entre os Estados incremental classes, etc. Mtodo principal de mudana Revoluo e guerra civil Guerra hegemnica revolucionria Objetivo principal da mudana Pequenos ajustes de sistema Pequenos ajustes do sistema incremental nacional internacional Objetivo principal da mudana Constituio Governana de sistema revolucionria

Rejeitamos esse tipo de interpretao excessivamente determinista da mudana poltica. Embora seja certamente possvel identificar crises, desequilbrio, e elementos incompatveis em um sistema poltico, especialmente uma disjuno entre a gesto do sistema e a distribuio subjacente de poder, certamente no possvel prever o resultado. Nas cincias sociais, no possumos uma teoria preditiva da mudana social em qualquer esfera, e provavelmente nunca teremos. Embora observemos crises internacionais e as respostas correspondentes no comportamento de Estados, no se pode saber antecipadamente se haver um eventual retorno ao equilbrio ou uma alterao da natureza do sistema. A resposta dependente, pelo menos em parte, do que os indivduos escolhem fazer. Apesar desta limitao, a abordagem hegeliana-marxista para o problema da mudana poltica tem valor heurstico. O que isto sugere que o lcus de mudana deve ser encontrado nos diferentes graus de alterao dos componentes principais que compem o sistema social. Se todos os aspectos do sistema social mudassem em unssono, no seria desenvolvida nenhuma contradio que exigisse soluo atravs de uma mudana abrupta no sistema. Ao invs, haveria evoluo incremental do sistema. Na teoria marxista, os meios de produo econmicos evoluem mais rapidamente do que os elementos da superestrutura de relaes sociais e polticas, tais como a lei e a estrutura de classe, produzindo assim uma contradio entre as foras de produo e as relaes de produo. Assim, a alterao resultante revolucionrio no sistema causada pelo fato de que a tecnologia produtiva desenvolve-se mais rapidamente do que os outros aspectos do sistema; esta mudana sistmica, uma vez que ocorre, por sua vez acelera ainda mais o desenvolvimento de foras produtivas. Em outras palavras, o desenvolvimento dos meios de produo tanto a causa e consequncia da mudana sistmica. A mudana poltica internacional igualmente provocada pelas taxas diferenciais de mudana para os principais componentes que compem o sistema poltico internacional. O equilbrio internacional de poder entre os atores (como as foras de produo econmicas) subjacentes ao sistema internacional evolui mais rapidamente do que os outros componentes do sistema, nomeadamente a hierarquia de prestgio e as regras do sistema. Novamente, se todos os componentes mudassem em unssono, a evoluo pacfica do sistema aconteceria. a taxa diferencial de mudana entre a distribuio internacional de poder e os outros componentes do sistema que produz uma disjuno ou desequilbrio no sistema que, se no

resolvido, provoca uma alterao no sistema. Esta mudana no sistema, uma vez que ocorre, por sua vez acelera ainda mais (at um ponto) a mudana no equilbrio de foras na direo do Estado ou Estados ascendentes do sistema. Assim, na linguagem da cincia social, o crescimento diferencial de poder no sistema tanto causa como conseqncia da mudana poltica internacional. Contrariamente posio hegeliana-marxista, no entanto, impossvel prever os resultados polticos ou que a mudana revolucionria de fato ocorrer e, se ocorrer, quais sero as consequncias. Embora se possa elaborar uma teoria geral da mudana poltica, em ltima anlise, o estudo da mudana no pode ser dissociado de contextos histricos especficos e esses elementos estticos que influenciam o desencadeamento e o sentido da mudana poltica. Uma explicao de mudana envolve a juno de uma teoria explicativa e um conjunto de condies iniciais (Harsanyi, 1960, pg. 141). A natureza desses elementos estticos determina o carter do resultado. No h dois conflitos hegemnicos iguais; uma guerra hegemnica pode servir para reforar a posio de um poder dominante, ou pode produzir profundas mudanas inesperadas no sistema. Assim, embora uma teoria de mudana poltica possa ajudar a explicar a evoluo histrica, essa teoria s pode alcanar metade da elucidao, no sendo substituta de um exame de ambos os elementos estticos e dinmicos responsveis por uma mudana internacional poltica em particular. Esta abordagem no determinstica para o problema da mudana poltica deve ajudar a esclarecer uma questo importante a ser debatida pelos estudiosos das relaes internacionais. A viso predominante de que o sistema internacional contemporneo caracterizado pela eroso da hegemonia americana nos diz pouco sobre o resultado dos desenvolvimentos atuais e do futuro do sistema internacional presente ou o que iria seguir o seu final abrupto, por exemplo. Em seu lugar uma nova potncia hegemnica pode surgir, um equilbrio global de poder bem como o equilbrio de poder europeu pode tomar forma, ou, como no caso do declnio do imprio romano, o mundo poderia ser mais uma vez mergulhado no caos e uma nova Idade das Trevas. As idias discutidas nos captulos subseqentes deste livro incorporam essa concepo no-determinstica de mudana poltica.