1ª Ficha de Leitura de Análise Social

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Obra:

Abrantes, P. (2011) Para uma teoria da socialização.  Revista da Faculdade de

 Letras da Universidade do Porto, Vol. XXI , pp.121-139

Resumo:

 Na obra em análise, Pedro Abrantes confronta o conceito de socialização aoconceito da individualização e explica a ligação entre os dois conceitos através da

 premissa de que

“todas as experiências do indivíduo contribuem para o processo de

 socialização, isto é, para a construção de disposições internas que

 permitem (e orientam) a participação na vida social.” 

(Abrantes, 2011:122).

Assim existe uma ligação entre os dois conceitos na medida de que “o ser

humano apenas pela socialização pode sobreviver, desenvolver-se e tornar- se pessoa” mas também é devido ao facto de que a “capacidade de desempenhar funções variadas

e complexas (…) resultam da interacção com outros humanos” (Abrantes, 2011:122).Isto significa que que o ser humano adquire a sua condição humana (inata) dedesempenhar funções e raciocinar devido ao facto de interagir com o outro, mas étambém esta interacção, ao que chamamos de socialização, que leva o indivíduo asobreviver em sociedade e afirmar-se como pessoa na mesma (Abrantes, 2011). Assim o

conceito de “Socialização e individualização constituem duas faces da mesma moeda.”(Elias, 1983, em Abrantes, 2011) onde a existência de um é vinculada pela existência deoutro.

Assim a experiência de cada indivíduo é o elo que interliga os dois conceitos. É aexperiência que adquirimos em situações de interacção que ditam a socialização e o

 processo de afirmação do indivíduo.Este elo de ligação é condicionado por três elementos que determinam a

experiência dos indivíduos, sendo a primeiro que esta

“é apenas uma fracção do ‘ todo social ’ ; (2) essa experiência depende dacapacidade (e disposição) de interpretar e interpelar o social; (3) a

informação resultante das experiências não pode ser armazenada e

 posteriormente mobilizada, na sua totalidade, o que supõe processos

(intersubjectivos) de selecção, generalização e analogia.” 

(Abrantes, 2011:122).

Assim a socialização depende destas três condições. Este fenómeno veio ainfluenciar o modo de como é estudado o processo de socialização, na medida em quese concluiu que este tal processo está organizado em cincos campos centrais, dos quais

Abrantes aprofunda cada um ao longo da publicação.

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1.  Tornar-se pessoa: a génese das disposições e os ciclos de vida

O processo de individualização está extremamente marcado pelo papel dasocialização na medida em que o

“desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da racionalidade que nos

torna pessoas, com capacidades de interpretar e de atuar sobre o meioenvolvente (…) depende da integração (… ) em comunidades em que já

existem formas de falar, pensar e sentir.”

(Abrantes, 2011:123).

Assim é notável o papel ativo do indivíduo no próprio processo de socialização namedida em que o ser humano na infância aprende a comunicar através da interpretaçãode comportamentos, objectos e mais tarde palavras. Assim o processo de socializaçãoficou determinado por um conjunto de “etapas de desenvolvimento”, onde mais tarde seconsolidou apenas uma distinção entre socialização primária e socialização secundária

(Abrantes, 2011).A primeira socialização “constitui a introdução do indivíduo no mundo social,

mediada por ‘ outros significativos impostos’   (geralmente a família).”  (Abrantes,2011:124). A infância é marcada pelo desenvolvimento de estruturas cognitivas eemocionais que são “mediadas por quadros de interacção social e por configurações

culturais do meio envolvente” (Abrantes, 2011:124), provenientes dos pais da criança eque têm grande impacto nos modos como a criança interpreta o mundo e age conformeo ambiente onde se insere. Assim a socialização primária não é um mero processo detransmissão de informação dos pais, mas de interacção entre os membros da família

(Zuluaga, 2004 em Abrantes, 2011).A socialização secundária começa quando o “outro significativo”  é substituído pela figura do “outro  generalizado”  que constitui a sociedade, o que permite que oindivíduo se desenvolva de modo mais autónomo, na medida em o processo desocialização é voluntário e racional, inserido em instituições como a escola, os exércitose as organizações profissionais. (Abrantes, 2011).

“(A) socialização é um processo permanente e nunca concluído, implicando

esforços contínuos de actualização. O surgimento de interacções (…)

constitutivas de “outros significativos”  propicia processos de (re)

 socialização. (…) Também a mudança social, (…) implica processo de (re)

 socialização mais ou menos abruptos, ao transformar práticas, linguagens,

ideologias e estruturas sociais”. 

(Abrantes, 2011:125)

À medida de que cada vez mais cedo se colocam as crianças em instituições comoo infantário (surgimento de “outros significativos”)  e estas são influenciadas porfenómenos do século XXI como a televisão e a internet (mudança social), a socializaçãoresulta em processos de (re) socialização que tem vindo a influenciar a transformação

das próprias estruturas sociais e individuais.

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2.  Práticas e disposições

O processo de socialização é marcado pelo papel das práticas sociais nodesenvolvimento dos indivíduos ao nível das competências, relações, identidades edisposições na medida de como incorporam representações de si próprios e do mundoque os rodeia (Giddens, 1984; Bourdieu, 1987 em Abrantes, 2011).

“As práticas, são, (…) sistemas de acção (colectivos) regulados,

codificados e significativos, desenvolvidos através do seu accionamento

repetido por comunidades específicas e associados às suas condições de

existência. (…) Desta forma, as práticas organizam (e regulam) a vida

 social, permitindo uma inscrição social dos sujeitos em quadros colectivos

de interdependência e de diferenciação de papéis.” 

(Abrantes, 2011:126)

Sem o papel destas práticas sociais, como por exemplo, ser pai ou mãe, a

sociedade não era capaz de incorporar nos seus indivíduos tais competências, relações edisposições que asseguram a continuidade da sociedade. O papel social de ser um bom

 pai é de assegurar a sobrevivência da criança no mundo e permitir que este fenómenocontinue a acontecer. Resumindo, grande parte do que aprendemos,

“desenvolve-se no decorrer das atividades no mundo social e interioriza-se

num estado prático, já ajustado às estruturas (do organismo e do meio

 sociocultural) e, portante, mobilizável nas interacções quotidianas”.

(Abrantes, 2011:127-128).

3. 

Relações de poder

As sucessivas interacções que estabelecemos com outros indivíduos no mundosocial, ocorrem em geral no contexto das relações de poder. Existe sempre uma situaçãode um “dominado” e um “dominador” nas interacções sociais. No entanto é importantesalientar que o “dominado” não é um agente passivo, na medida em que podemreconhecer ou não o processo e oferecer-lhe resistência a partir de quadros desocialização alternativos (Pellisery, 2008; Atkintson, 2010 em Abrantes, 2010). Surge o

 princípio funcionalista que dita que

“a socialização corresponde à transmissão de pautas de comportamentos evalores das gerações mais velhas às mais novas corresponde a uma

 situação típica de sociedades tradicionais” 

(Abrantes, 2011:130). Numa fase inicial, as estruturas biológicas têm uma tendência dominante nas

crianças (figuras de autoridade), mas em fases posteriores da vida humana as fontes de poder passam a ser as mais diversificadas e alteram a sua dinâmica, o que se traduz numnovo compromisso de socialização (aceitação do papel dos mais novos na sua própriasocialização) (Abrantes, 2011).

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4.  Identidades e biografias

O sujeito tem um papel ativo na interpretação e orientação dos próprios processosde socialização. Surge assim o conceito de disposição, no sentido em que a disposiçãode cada indivíduo gera ações e esta é o resultado da repetição de experiênciassemelhantes na sociedade.

Abrantes menciona o contributo do sociólogo Bourdieu que desenvolveu oconceito habitus  como um “ sistema de disposições”  associado a uma trajectória noespaço social. (Abrantes, 2011).

Por outro lado, outra contribuição bastante importante foi de Dubar que disse quea socialização está associada à construção das identidades sociais e profissionais. Aidentidade é o produto de sucessivas socializações, seja resultante de interacções com ooutro –  objectiva - ou através narrativas biográficas –  subjectiva (Abrantes, 2011).

Portanto, Abrantes retoma a questão constante em toda a sua obra: a pertinênciada relação entre a socialização e identidade. Em situações subjectivas (narrativas

 biográficas), estas surgem apenas através da interpretação e unificação das experiencias

colectivas de socialização. Assim “a construção identitária é uma dimensão importante

do processo de social ização, sobretudo nas sociedades modernas (… ).”  (Abrantes,2011:132).

5.  As emoções

As emoções são elementos fundamentais na orientação da atenção selectiva dossujeitos, na medida em que determinam o que captamos ao nível das interacções,seleccionam a informação que é posteriormente armazenada, torna-nos maissusceptíveis em certos casos e menos em outros, a informação emocional é passível de

ser utilizada em determinadas situações e influencia o processo de tomada de decisões(Abrantes, 2011).

“Os estados emocionais estão muito vinculados a relações sociais.”  (Abrantes,2011:133). Os “outros significativos”  e as emoções que estes demonstram faces àsinteracções das crianças são relevantes no processo de socialização e deindividualização, na medida em que emoções positivas induzem uma socialização poridentificação ao modelo dos pais. Não só neste aspeto de confirmação da identidade,mas também no facto de que as ligações através de emocionais positivas (compaixão,confiança, segurança, satisfação) levam à procura de uma mobilidade social ascendente.Pais que se preocupam com o bem-estar da criança, que a motivam e lhe dão asferramentas necessárias, levam esta a querer subir ao nível das classes sociais. Assim asemoções são “socialmente produzidas, mas têm algum poder de produção da

 sociedade” ( Abrantes, 2011:135).

| Rita Andreia Pacheco Soares | 9493 | Cadeira de Análise Social | 2º Semestre || Docente: José Rodrigues | Relações Públicas e Comunicação Social - RPA || Escola Superior de Comunicação Social | Instituto Politécnico de Lisboa |