1º capitulo

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1º Capitulo - À Primeira Vista -- Esta era a hora do dia em que eu desejava conseguir dormir. Liceu. Ou será que a palavra certa era purgatório? Se houvesse uma maneira de compensar os meus pecados, isto devia contar de alguma forma. O tédio não era uma coisa com a qual eu me tenha habituado. Cada dia parecia mais impossivelmente monótono do que o último. Suponho que esta era a minha forma de dormir - se dormir era definido como um estado inerte entre períodos activos. Olhei para as falhas no gesso do tecto do canto mais distante do refeitório, imaginando padrões dentro deles que não existiam. Era a única maneira de desligar as vozes que tagarelavam como a corrente de um rio dentro da minha cabeça. Várias centenas de vozes que eu ignorava por puro aborrecimento. Quando se tratava da mente humana, eu já tinha ouvido tudo e mais um pouco. Hoje, todos os pensamentos estavam a ser consumidos com o drama comum de uma nova adição ao pequeno corpo estudantil daqui. Não levou muito tempo para ouvir todos. Tinha visto o rosto a repetir-se de pensamento em pensamento sob todos os ângulos. Só uma rapariga humana normal. A excitação pela chegada dela era cansativamente previsível - como um objecto brilhante para uma criança. Metade do corpo estudantil masculino já se estava a imaginar apaixonado por ela, só porque ela era algo de novo para se olhar. Tentei desligá-los ainda mais. Só existiam quatro vozes que eu bloqueava mais por cortesia do que por desgosto: a minha família, os meus dois irmãos e duas irmãs, que já estavam tão habituados à falta de privacidade quando estavam ao pé de mim que já nem pensavam nisso. Eu dava- lhes toda a privacidade que conseguia. Se pudesse evitar, não os

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1º Capitulo - À Primeira Vista--

Esta era a hora do dia em que eu desejava conseguir dormir. Liceu.

Ou será que a palavra certa era purgatório? Se houvesse uma maneira de compensar

os meus pecados, isto devia contar de alguma forma. O tédio não era uma coisa com

a qual eu me tenha habituado. Cada dia parecia mais impossivelmente monótono do

que o último.

Suponho que esta era a minha forma de dormir - se dormir era definido como um

estado inerte entre períodos activos.

Olhei para as falhas no gesso do tecto do canto mais distante do refeitório, imaginando

padrões dentro deles que não existiam. Era a única maneira de desligar as vozes que

tagarelavam como a corrente de um rio dentro da minha cabeça.

Várias centenas de vozes que eu ignorava por puro aborrecimento.

Quando se tratava da mente humana, eu já tinha ouvido tudo e mais um pouco. Hoje,

todos os pensamentos estavam a ser consumidos com o drama comum de uma nova

adição ao pequeno corpo estudantil daqui. Não levou muito tempo para ouvir todos.

Tinha visto o rosto a repetir-se de pensamento em pensamento sob todos os ângulos.

Só uma rapariga humana normal. A excitação pela chegada dela era cansativamente

previsível - como um objecto brilhante para uma criança. Metade do corpo estudantil

masculino já se estava a imaginar apaixonado por ela, só porque ela era algo de novo

para se olhar. Tentei desligá-los ainda mais.

Só existiam quatro vozes que eu bloqueava mais por cortesia do que por desgosto: a

minha família, os meus dois irmãos e duas irmãs, que já estavam tão habituados à

falta de privacidade quando estavam ao pé de mim que já nem pensavam nisso. Eu

dava-lhes toda a privacidade que conseguia. Se pudesse evitar, não os ouvia.

Eu tentava, mas ainda assim… eu sabia.

A Rosalie estava a pensar, como sempre, nela mesma. Tinha visto o reflexo do seu

perfil no copo de alguém, e estava a meditar sobre a sua própria perfeição. A mente

de Rosalie era uma piscina superficial com poucas surpresas.

O Emmett estava furioso por causa de uma luta que tinha perdido contra Jasper na

noite passada. Ia usar toda a sua limitada paciência para chegar até o fim do dia de

aulas e planear uma vingança. Nunca me senti muito intrusivo a ouvir os pensamentos

de Emmett, porque ele nunca pensava em alguma coisa que não dissesse em voz alta

ou fizesse. Talvez só me sentisse culpado a ler as mentes dos outros porque sabia

que havia coisas que eles não iriam querer que eu soubesse.

Se a mente de Rosalie era uma piscina superficial, então a de Emmett era uma lagoa

sem sombras, clara como cristal.

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E Jasper estava… a sofrer. Segurei um suspiro.

Edward. Alice chamou-me na sua cabeça, e teve a minha atenção imediatamente. Era

exactamente como se ela me estivesse a chamar em voz alta. Eu estava feliz que o

nome que me foi dado tinha saído um bocado de moda ultimamente. Seria enervante,

sempre que alguém pensasse num Edward qualquer, a minha cabeça virar-se-ia

automaticamente…

A minha cabeça não se virou desta vez. A Alice e eu éramos bons nestas conversas

privadas. Era raro quando alguém nos apanhava. Eu mantive os meus olhos nas

linhas do gesso do tecto.

Como é que ele se está a aguentar? - Perguntou-me.

Eu fiz uma careta só com um pequeno movimento da minha boca. Nada que pudesse

alertar os outros. Eu podia estar facilmente a fazer uma careta de aborrecimento.

O tom mental de Alice estava alarmado agora, eu vi na mente dela que ela estava a

observar o Jasper com a sua visão periférica. Há algum perigo? Ela procurou, no

futuro imediato, vasculhando por visões de monotonia para a fonte da minha careta.

Eu virei a minha cabeça lentamente para a esquerda, como se estivesse a olhar para

os tijolos na parede, suspirei, e depois para a direita, de volta para as falhas no teto.

Só a Alice sabia que eu estava a abanar a minha cabeça.

Ela relaxou. Avisa-me se piorar.

Mexi apenas os meus olhos, para cima em direcção do tecto, e para baixo outra vez.

Obrigada por estares a fazer isto.

Eu estava feliz por não ter de lhe responder em voz alta. O que é que ia dizer? ‘O

prazer é meu’? Dificilmente era isso. Eu não gostava de ouvir as lutas do Jasper. Era

mesmo necessário fazer experiências como estas? Será que o caminho mais seguro

não seria admitir que ele nunca seria capaz de lidar com a sede da mesma maneira

que nós conseguíamos, e não forçar os seus limites? Para quê brincar com o

desastre?

Já passaram duas semanas desde a nossa última caçada. Isso não era imensamente

difícil para o resto de nós. Ocasionalmente era um bocado desconfortável - se um

humano se aproximasse demais, se o vento soprasse na direcção errada. Mas os

humanos raramente se aproximavam demais. Os instintos deles diziam-lhes o que as

suas mentes conscientes nunca iriam entender: nós éramos perigosos.

Jasper era muito perigoso neste momento.

Nesse momento, uma rapariga pequena parou na ponta da mesa mais próxima da

nossa, parando para falar com uma amiga. Alisou o cabelo curto, cor de areia,

passando os dedos por ele. Os aquecedores mandaram o cheiro para a nossa

direcção. Eu já estava habituado à maneira como esse cheiro me fazia sentir - a dor

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seca na minha garganta, o grito vazio no meu estômago, a contracção automática dos

meus músculos, o excesso do fluxo de veneno na minha boca…

Tudo isto era muito normal, geralmente fácil de ignorar. Só que era mais difícil agora,

com esses sentimentos mais fortes, duplicados, enquanto acompanhava a reacção de

Jasper. Era uma sede gémea, e não apenas a minha.

O Jasper estava a deixar que a sua imaginação divagasse. Estava a imaginar. A

imaginar-se a levantar do seu lugar ao lado de Alice e sentar-se ao lado da rapariga.

Estava a pensar em inclinar-se para baixo e para a frente, como se fosse falar ao seu

ouvido, e os seus lábios a tocarem o arco da garganta dela. Estava a imaginar como

seria a sensação de sentir o fluxo quente do pulso dela por baixo de sua pele fina na

boca dele…

Dei um pontapé na cadeira dele.

Ele encontrou o meu olhar por um minuto e depois olhou para baixo. Eu conseguia

ouvir a vergonha e a rebeldia a lutar na cabeça dele.

- Desculpa - Jasper murmurou.

Levantei os ombros.

- Não ias fazer nada - Alice murmurou-lhe, acalmando o seu desapontamento. - Eu vi

isso.

Lutei contra a careta que teria denunciado a mentira dela. Nós tínhamos que

permanecer juntos, a Alice e eu. Não era fácil ouvir vozes ou ter visões do futuro. Duas

aberrações no meio daqueles que já eram aberrações. Protegíamos os segredos um

do outro.

- Ajuda um bocado se pensares neles como seres humanos - a Alice sugeriu, a sua

voz alta, musical, era demasiado rápida para os ouvidos humanos entenderem, se

algum deles estivesse perto o suficiente para ouvir. - O nome dela é Whitney. Tem

uma irmãzinha que adora. A mãe dela convidou a Esme para aquela festa de jardim,

lembras-te?

- Eu sei quem ela é - Jasper disse curtamente. Virou-se para olhar por uma das

pequenas janelas que eram colocadas bem em baixo das vigas à volta da grande sala.

O tom dele acabou com a conversa.

Ele tinha que caçar hoje à noite. Era ridículo arriscar-se desta maneira, a tentar testar

a sua força, a tentar construir a sua resistência. O Jasper devia simplesmente aceitar

as suas limitações e lidar com elas. Os seus hábitos antigos não condiziam com os

hábitos que nós escolhemos; ele não devia exigir tanto de si mesmo desta maneira.

Alice suspirou baixinho e levantou-se, levando o seu tabuleiro de comida - o seu

adereço, isso é que era - com ela e deixando-o sozinho. Ela sabia quando ele já

estava farto dos encorajamentos dela. Apesar de Rosalie e Emmett serem mais

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abertos em relação ao seu relacionamento, eram Alice e Jasper que conheciam cada

traço de humor do outro como o seu próprio. Como se conseguissem ler mentes

também - só que só um do outro.

Edward Cullen.

Reacção de reflexo. Virei-me com o som do meu nome a ser chamado, apesar de não

estar a ser chamado, só pensado.

Os meus olhos prenderam-se por uma pequena fracção de segundo com um grande

par de olhos humanos, cor de chocolate num rosto pálido, com formato de coração. Eu

já conhecia o rosto, apesar de nunca o ter visto até este momento. Ele esteve em

quase todas as cabeças humanas hoje. A nova estudante, Isabella Swan. Filha do

chefe de polícia da cidade, trazida para viver aqui por uma nova situação de custódia.

Bella. Ela corrigia toda a gente que usava o seu nome inteiro…

Desviei o olhar, aborrecido. Levei um segundo para perceber que não tinha sido ela

quem pensou no meu nome.

É claro que ela já se está a apaixonar pelos Cullen, ouvi o primeiro pensamento

continuar.

Agora eu reconhecia a “voz”. Jessica Stanley - já há algum tempo que não me

incomodava com as suas tagarelices internas. Foi um alívio quando ela se curou da

sua paixão deslocada. Era quase impossível escapar dos seus constantes, ridículos

sonhos diurnos. Desejei, naquela altura, poder explicar exactamente o que teria

acontecido se os meus lábios, e os dentes atrás deles, se chegassem de alguma

maneira perto dela. Isso teria silenciado aquelas fantasias incómodas. Pensar na

reacção dela quase me fez sorrir.

Ela nem sequer é bonita. Não sei por que é que o Eric está a olhar tanto para ela… ou

o Mike. Suspirou mentalmente no último nome. A nova paixão dela, o genericamente

popular Mike Newton, era completamente indiferente a ela. Aparentemente, não era

tão indiferente sobre a rapariga nova. Como uma criança com um objecto brilhante

outra vez.

Isso colocou uma pontada maligna nos pensamentos de Jessica, apesar de ser

externamente cordial com a recém-chegada enquanto explicava os conhecimentos

comuns sobre a minha família. A nova estudante devia ter perguntado sobre nós.

Hoje estão todos a olhar para mim também, a Jessica pensou presumidamente num

aparte. É uma sorte que Bella vá ter duas aulas comigo… aposto que Mike vai

perguntar o que ela…

Tentei bloquear os pensamentos antes que a mesquinharia e a insignificância me

deixassem louco.

- A Jessica Stanley está a dar à nova rapariga Swan todos os podres do clã Cullen -

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murmurei para o Emmett como distracção. Ele gargalhou por debaixo do fôlego.

Espero que esteja a fazer isso bem, pensou.

- Na verdade, é muito pouco criativo. Só uma pequena ponta de escândalo. Nenhum

mexerico horroroso. Estou um bocado desapontado.

E a rapariga nova? Também está desapontada com os mexericos?

Tentei ouvir o que essa rapariga nova, Bella, estava a pensar das histórias de Jessica.

O que é que ela via quando olhava para a estranha família de pele pálida que era

universalmente evitada?

Era mais ou menos a minha obrigação saber a reacção dela. Eu era como um espião,

por falta de uma palavra melhor, para a minha família. Para nos proteger. Se alguém

começasse a suspeitar, eu podia dar-nos a oportunidade de ter um aviso prévio para

nos retirarmos facilmente. Isso acontecia ocasionalmente - algum humano com uma

mente activa via-nos como personagens de um livro ou um filme. Geralmente

entendiam tudo mal, mas era melhor mudarmo-nos para algum sítio novo do que

arriscarmos o escrutínio. Muito, muito raramente, alguém adivinhava correctamente.

Nós não lhes dávamos oportunidade de testar as suas hipóteses. Simplesmente

desaparecíamos, para nos tornarmos nada mais do que uma memória assustadora…

Não ouvi nada, apesar de conseguir ouvir onde a tagarelice frívola de Jessica

continuava ali perto. Era como se não houvesse ninguém sentado ao lado dela. Que

estranho, será que a rapariga nova tinha ido embora? Não parecia provável, já que

Jessica continuava a mexericar com ela. Olhei para cima para verificar, sentindo-me

meio estranho. Verificar o que os meus “ouvidos” extras me podiam dizer não era uma

coisa que eu tinha que fazer.

Outra vez, os meus olhos prenderam-se naqueles mesmos grandes olhos castanhos.

Ela estava sentada exactamente como antes, olhando para nós, uma coisa natural a

fazer-se, acho, já que a Jessica ainda estava a espalhar as fofocas locais sobre os

Cullen.

Pensar em nós também seria natural.

Mas eu não ouvia nem sequer um sussurro. Um quente e convidativo vermelho deu

cor às suas bochechas quando ela olhou para baixo, desviando o olhar da

embaraçosa situação de ser apanhada a encarar um estranho. Era bom que Jasper

ainda estivesse a olhar para a janela. Eu não gostava de imaginar o que aquele

simples agrupamento de sangue faria com o seu controle.

As emoções estavam tão claras como se tivessem sido escritas na testa dela:

surpresa, enquanto ela, sem saber, absorvia as diferenças entre a espécie dela e a

minha; curiosidade, enquanto ouvia as explicações de Jessica; e algo mais… fascínio?

Não seria a primeira vez. Nós éramos lindos para eles, a nossa presa.

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E depois, finalmente, vergonha, quando a apanhei a olhar para mim.

E, mesmo assim, apesar de os seus pensamentos serem tão claros através dos seus

olhos estranhos - estranhos por causa da profundidade deles; os olhos castanhos

normalmente pareciam vazios na sua escuridão - não conseguia ouvir nada além do

silêncio vindo do lugar onde ela estava sentada. Absolutamente nada.

Senti um momento desconfortável.

Isto não era uma coisa pela qual eu já tinha passado antes. Havia algo de errado

comigo? Sentia-me exactamente da mesma maneira que me sentia sempre.

Preocupado, tentei ouvir melhor.

Todas as vozes que estive a bloquear, passaram a gritar na minha cabeça de repente.

…pergunto-me de que música é que ela gosta… talvez eu possa mencionar aquele

CD novo…, Mike Newton estava a pensar, a duas mesas de distância - fixado em

Bella Swan.

Vejam-no só a olhar para ela! Será que já não é suficiente que tenha metade das

miúdas da escola caídas por ele? Eric Yorkie estava a ter pensamentos de mágoa,

também girando à volta da rapariga.

…tão nojento. Quase que dava para pensar que ela é famosa ou alguma coisa

assim… Até o Edward CULLEN está a olhar! A Lauren Mallory estava com tantos

ciúmes que a cara dela devia estar com uma cor verde como a de jade. E Jessica, a

ostentar a sua nova melhor amiga. Que piada…, a rapariga continuou a soltar veneno

com os pensamentos.

…Aposto que toda a gente já deve ter-lhe perguntado isso. Mas eu gostava de falar

com ela. Vou pensar numa uma pergunta mais original…, Ashley Dowling meditou.

…Talvez esteja na minha aula de Espanhol…, June Richardson desejou.

…Tenho toneladas de coisas para fazer essa noite! Trigonometria e o teste de inglês.

Espero que a minha mãe… Angela Weber, uma rapariga tímida, cujos pensamentos

eram anormalmente gentis, era a única na mesa que não estava obcecada com

aquela Bella.

Conseguia ouvi-los a todos, ouvir cada coisinha insignificante que eles pensavam

enquanto os pensamentos passavam nas suas mentes. Mas absolutamente nada

vinha da nova estudante com olhos enganosamente comunicativos.

E, é claro, eu conseguia ouvir o que a rapariga dizia quando falava com Jessica. Eu

não precisava ouvir os pensamentos para ouvir sua voz baixa, clara, no outro lado da

sala.

- Qual deles é o rapaz com cabelo castanho arruivado? – Ouvi-a a perguntar,

enquanto dava uma olhadela pelo canto dos olhos, mas desviou rapidamente quando

viu que eu ainda estava a olhar para ela.

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Se eu tivesse que esperar que o som da voz dela me pudesse ajudar a conectar aos

seus pensamentos, que estavam perdidos em algum lugar onde eu não podia chegar,

ficaria instantaneamente desapontado. Geralmente, os pensamentos das pessoas

vinham acompanhados por um grupo de frases que diziam completamente o contrário

nas suas vozes físicas. Mas aquela voz baixa, tímida, não era familiar, não era

nenhuma das centenas de vozes que rodeavam a sala, eu tinha a certeza disso. Ela

era inteiramente nova.

Oh, boa sorte, idiota! A Jessica pensou antes de responder à pergunta dela.

- É o Edward. É lindo, como é evidente, mas não percas tempo. Ele não sai com

raparigas. Pelos vistos, nenhuma das raparigas daqui é suficientemente atraente para

ele – Torceu o nariz como se a fungar.

Virei a minha cabeça para esconder um sorriso. A Jessica e as suas amigas não

tinham a mínima ideia da sorte que tinham por nenhuma delas ser particularmente

apelativa para mim.

Por baixo do humor passageiro, senti um estranho impulso, um que não entendia

claramente. Tinha alguma coisa a ver com os pensamentos maldosos de Jessica, dos

quais a rapariga nova não fazia ideia… Senti uma estranha urgência de me meter

entre elas, para proteger aquela Bella Swan dos trabalhos obscuros da mente de

Jessica. Que coisa estranha para se sentir. A tentar entender as motivações por trás

desse impulso, examinei a rapariga nova mais uma vez. Talvez fosse algum instinto de

protecção que estava há muito tempo enterrado - o mais forte pelo mais fraco. Esta

rapariga parecia mais frágil do que as suas novas colegas de turma. A pele dela era

tão translúcida que era difícil de acreditar que ela oferecia tanta resistência ao mundo

exterior. Conseguia ver o ritmo da pulsação do sangue através das veias dela, debaixo

da sua membrana clara, pálida…Mas não me ia concentrar nisso. Eu era bom nesta

vida que tinha escolhido, mas eu estava com tanta sede quanto o Jasper, e era melhor

não convidar a tentação.

Havia uma fraca linha de preocupação entre as suas sobrancelhas da qual ela não

parecia aperceber-se.

Isto era inacreditavelmente frustrante! Eu conseguia ver claramente que ela estava

tensa por ter que se sentar ali, ter que conversar com estranhos, ser o centro das

atenções.

Conseguia sentir a sua timidez pela maneira como segurava os seus ombros de

aparência frágil, levemente encolhidos, como se estivesse à espera de ser empurrada

a qualquer momento. E, mesmo assim, eu só podia sentir, só podia ver, só podia

imaginar. Não havia nada sem ser silêncio vindo daquela rapariga humana muito

normal.

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Eu não conseguia ouvir nada. Porquê?

- Vamos? - A Rosalie murmurou, interrompendo a minha concentração. Desviei o olhar

da rapariga com uma sensação de alívio. Não queria continuar a falhar naquilo - isso

irritava-me. Eu não queria desenvolver nenhuma espécie de interesse especial pelos

seus pensamentos simplesmente porque estavam escondidos de mim. Sem dúvida,

quando eu conseguisse decifrar os seus pensamentos - e eu ia encontrar uma forma

de fazer isso - eles iam ser exactamente tão insignificantes e banais quanto os

pensamentos de qualquer humano. Não iam valer o esforço que eu faria para os

alcançar.

- Então, a novata já está com medo de nós? - O Emmett perguntou, ainda à espera da

resposta à pergunta anterior.

Encolhi os ombros. Ele não estava interessado o suficiente para me pressionar por

mais informações. E eu também não devia estar interessado.

Levantámo-nos da mesa e saímos do refeitório.

Emmett, Rosalie e Jasper estavam a fingir estar no último ano; foram para as aulas

deles. Eu estava a fingir ser mais novo que eles. Fui para a minha aula de Biologia do

nível médio, preparando a minha mente para o tédio. Era pouco provável que o Sr.

Banner, um homem com uma inteligência não mais que comum, pudesse dizer na sua

aula alguma coisa que pudesse surpreender alguém que já tinha dois níveis de

graduação em medicina.

Na sala de aula, sentei-me na minha cadeira e deixei os livros - adereços de novo;

eles não tinham nada que eu já não soubesse - espalhados pela mesa. Eu era o único

aluno que tinha uma mesa só para si. Os humanos não eram espertos o suficiente

para saber que tinham medo de mim, mas os seus instintos de sobrevivência eram

suficientes para mantê-los afastados de mim.

A sala foi-se enchendo lentamente enquanto eles voltavam do almoço. Inclinei-me na

minha cadeira e esperei que o tempo passasse. Outra vez, desejei ser capaz de

dormir.

Como eu estava a pensar nela, quando Angela Weber acompanhou a rapariga nova

pela porta, o nome dela chamou a minha atenção.

A Bella parece ser tão tímida quanto eu. Aposto que hoje foi muito difícil para ela. Eu

queria poder dizer alguma coisa… Mas provavelmente só ia parecer uma estúpida…

Boa! Mike Newton virou-se na sua cadeira para observar a entrada da rapariga.

Ainda, do lugar onde Bella estava, nada. O espaço vazio onde os pensamentos dela

deviam estar deixou-me irritado e enervado.

Ela aproximou-se, passando pelo corredor ao meu lado para chegar à mesa do

professor.

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Pobre rapariga; o lugar ao meu lado era o único que estava vazio.

Automaticamente, limpei aquele que seria o lado dela da mesa, colocando os meus

livros numa pilha. Duvidava que ela se fosse sentir muito confortável aqui. Ia ter que

aguentar um longo período - nesta aula, pelo menos. Talvez, no entanto, se ela se

sentasse ao meu lado, eu fosse capaz de desvendar os seus segredos… não que

alguma vez tivesse precisado de tanta proximidade… não que eu fosse encontrar

alguma coisa que valesse a pena ouvir…

Bella Swan caminhou para o fluxo do ar aquecido que soprava na minha direcção do

aquecedor.

O cheiro dela atingiu-me como uma bola, como um bastão de basebol. Não existe

nenhuma imagem violenta o suficiente para explicar a força do que aconteceu comigo

naquele momento.

Naquele instante, eu não era nada nem perto do humano que um dia fui, nenhum traço

da humanidade na qual eu me tentei esconder.

Eu era um predador. E ela era a minha presa. Não havia mais nada neste mundo sem

ser essa verdade.

Não havia uma sala cheia de testemunhas - na minha cabeça eles já eram danos

colaterais. Já tinha passado o mistério dos pensamentos dela. Os pensamentos dela

não significavam nada, ela não ia passar muito mais tempo a pensar.

Eu era um vampiro e ela tinha o sangue mais doce que eu já tinha cheirado em oitenta

anos.

Nunca imaginei que um cheiro assim pudesse existir. Se eu soubesse que existia, já

tinha saído à procura há muito tempo. Eu teria vasculhado o planeta por ela.

Conseguia imaginar o sabor…

A sede queimou-me garganta como fogo. A minha boca estava torrada e desidratada.

O fluxo fresco de veneno não fez nada para afastar essa sensação. O meu estômago

revirou-se com fome que era um eco da sede. Os meus músculos contraíram-se para

atacar.

Nem tinha passado um segundo. Ela ainda estava no mesmo passo que a tinha

colocado no vento na minha direcção.

Enquanto os pés dela tocavam o chão, os seus olhos deslizaram na minha direcção.

Um movimento que ela claramente estava à espera que fosse rápido. O olhar dela

encontrou o meu, e eu vi-me reflectido no grande espelho dos seus olhos.

O choque do rosto que eu vi salvou-lhe a vida por alguns momentos. Ela não facilitou

as coisas. Quando viu a minha expressão, o sangue apareceu-lhe nas bochechas de

novo, deixando a pele dela com a cor mais deliciosa que eu já tinha visto. O cheiro era

um grosso nevoeiro no meu cérebro. Eu mal conseguia pensar através dele.

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Os meus pensamentos enfureceram-se, resistindo ao controle, incoerentes.

Agora ela caminhava mais depressa, como se tivesse percebido que precisava de

escapar. A pressa dela deixou-a desastrada - tropeçou e inclinou-se para a frente,

caindo quase em cima da rapariga que se sentava à minha frente. Vulnerável, fraca.

Até mais que o normal para um humano.

Tentei-me concentrar no rosto que tinha visto nos olhos dela, um rosto que eu

reconhecia com nojo. O rosto do monstro em mim - o rosto que eu tinha afastado com

décadas de esforço e disciplina inflexível. Como ele tinha voltado à superfície com

tanta facilidade agora!

O cheiro invadiu-me novamente, ferindo-me os pensamentos e quase me fez saltar do

meu lugar.

Não.

A minha mão agarrou-se à borda da mesa enquanto eu me tentava segurar à cadeira.

A madeira não estava à altura disso. A minha mão partiu-a e afastou-se cheia de

restos de fuligem, deixando a marca dos meus dedos cravadas na madeira que restou.

Destruir as provas. Essa era a regra fundamental.

Rapidamente pulverizei os limites da mesa com as pontas dos dedos, sem deixar nada

além de um buraco e uma pilha de fuligem no chão, que limpei com o meu pé.

Destruir as provas. Estragos colaterais…

Eu sabia o que tinha que acontecer agora. A rapariga ia ter que se vir se sentar ao

meu lado, e eu ia ter que matá-la.

Os inocentes espectadores na sala, outras dezoito crianças e um homem, já não

podiam ter permissão para sair daquela sala, assim que vissem o que iam ver em

breve.

Fiquei rígido com o pensamento do que planeava fazer. Mesmo nos meus piores dias,

nunca tinha cometido este tipo de atrocidade. Nunca matei inocentes em nenhuma

destas oito décadas. E agora planeava matar vinte de uma só vez.

O rosto do monstro no espelho gozou comigo.

Mesmo que uma parte de mim se afastasse desse monstro, a outra parte estava a

fazer planos.

Se eu matasse a rapariga primeiro, só teria uns quinze ou vinte segundos com ela

antes que os outros humanos na sala começassem a reagir. Talvez um pouco mais de

tempo, se eles não percebessem logo no início o que eu estava a fazer. Ela não teria

tempo de gritar ou de sentir dor; eu não ia matá-la cruelmente. Pelo menos podia dar-

lhe isso. Uma morte rápida àquela estranha com sangue horrivelmente desejável.

Mas depois eu iria ter que impedi-los de fugir. Não ia precisar de me preocupar com as

janelas, elas eram altas e demasiado pequenas para servir como escapatória para

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alguém. Só a porta – bloqueio-a e eles ficarão presos.

Ia ser mais lento e difícil se tentasse matá-los a todos quando estivessem em pânico e

a misturarem-se, movimentarem-se no caos. Nada impossível, mas iria haver muito

mais barulho. Ia dar tempo para muitos gritos. Alguém poderia ouvir… e eu seria

obrigado a matar ainda mais inocentes naquela hora negra.

E o sangue dela iria arrefecer enquanto eu estivesse a assassinar os outros.

O cheiro castigou-me, fechando a minha garganta com uma dor seca…

Então seriam as testemunhas primeiro.

Planeei tudo na minha cabeça. Estaria no meio da sala, na fila mais afastada do fundo.

Ia tratar do lado direito primeiro. Podia morder quatro ou cinco pescoços por segundo,

fiz uma estimativa. Não seria barulhento. O lado direito seria o lado de sorte; eles não

me iam ver a chegar. Levar-me-ia, no máximo, cinco segundos a acabar com todas as

vidas nesta sala.

Tempo o suficiente para Bella Swan ver, num instante, o que se estava a preparar

para ela. Tempo o suficiente para ela sentir medo. Tempo suficiente, talvez, se o

choque não a congelasse no lugar, para ela tentar gritar. O gritinho suave não faria

ninguém aparecer a correr.

Respirei fundo, e o cheiro era como um fogo a correr nas minhas veias secas,

queimando por dentro do meu peito para consumir qualquer impulso de bondade do

qual eu ainda fosse capaz.

Ela estava a virar-se agora. Dentro de alguns segundos, ela ia sentar-se a apenas

alguns centímetros de mim.

O monstro na minha cabeça sorriu com a antecipação.

Alguém fechou uma pasta ao meu lado. Eu não me virei para ver qual dos humanos

predestinados tinha feito isso, mas o movimento mandou uma onda de vento sem

cheiro na minha direcção.

Por um curto segundo, fui capaz de pensar com clareza. Naquele precioso segundo,

eu vi dois rostos na minha cabeça, lado a lado.

Um era o meu, ou o que foi um dia: o monstro de olhos vermelhos que já tinha morto

tantas pessoas que já tinha parado de contar o número. Assassinatos racionalizados,

justificados. Um assassino de assassinos, um assassino de outros monstros, menos

poderosos. Era um complexo de ser Deus, eu sabia disso - decidir quem merecia uma

sentença de morte. Era um compromisso comigo mesmo. Eu tinha-me alimentado de

sangue humano, mas apenas humanos na sua definição mais fraca. As minhas

vítimas eram, nos seus violentos dias negros, tão humanos quanto eu era.

O outro rosto era o de Carlisle.

Não havia nenhuma semelhança entre os dois rostos.

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Eles eram como o dia mais claro e a noite mais escura. Não havia motivo para que

houvesse uma semelhança. Carlisle não era meu pai no sentido biológico básico. Nós

não tínhamos feições semelhantes. A similaridade na nossa cor era apenas por causa

do que éramos; todos os vampiros tinham a mesma cor pálida como gelo. A

similaridade da cor dos nossos olhos era outra coisa - uma reflexão da nossa escolha

mútua.

E, mesmo assim, apesar de não haver bases para uma semelhança, eu tinha

imaginado que o meu rosto tinha começado a reflectir o dele, até um certo ponto, nos

últimos estranhos setenta anos em que eu abracei a escolha dele e segui os seus

passos. O meu rosto não tinha mudado, mas para mim parecia que alguma da

sabedoria dela havia marcado a minha expressão, que um pouco da compaixão dele

podia ser traçada nos contornos da minha boca, e que as suas sugestões de paciência

estavam evidentes nas minhas sobrancelhas.

Todas essas pequenas melhorias estavam escondidas no rosto do monstro. Daqui a

alguns instantes, não ia haver mais nada que pudesse reflectir os anos que eu tinha

passado com o meu criador, o meu mentor, o meu pai em todas as formas que se

podia contar.

Os meus olhos iam ficar a brilhar vermelhos como os do diabo; todas as semelhanças

estariam perdidas para sempre.

Na minha cabeça, os olhos bondosos de Carlisle não me julgavam. Eu sabia que ele

me perdoaria por este terrível acto que eu ia cometer. Porque ele me amava. Porque

ele pensava que eu era melhor do que eu era na verdade. E ele ia continuar a amar-

me, mesmo agora, quando eu provasse que ele estava errado.

Bella Swan sentou-se ao meu lado, os seus movimentos eram rígidos e estranhos -

com medo? -, E o cheiro do sangue dela criou uma inexorável nuvem ao meu redor.

Eu ia provar que meu pai estava errado sobre mim. A tristeza desse facto doía quase

tanto como o fogo na minha garganta.

Eu afastei-me dela com repulsa - revoltado com o monstro a implorar para atacá-la.

Por que é que ela tinha que vir para aqui? Por que é que ela tinha que existir?

Por que é que ela tinha que acabar com o pouco de paz que eu tinha nesta minha não

vida? Por que esta humana tinha que ter nascido? Ela ia arruinar-me.

Desviei a minha cara para longe dela, enquanto uma súbita fúria, um aborrecimento

irracional passou por mim.

Quem é que era esta criatura? Porquê eu, porquê agora? Por que é que eu tinha que

perder tudo só porque ela escolheu aparecer nesta cidade improvável?

Por que é que ela tinha que vir para cá?!

Eu não queria ser o monstro! Eu não queria matar esta sala cheia de crianças

Page 13: 1º capitulo

indefesas! Eu não queria perder tudo o que tinha conseguido com uma vida inteira de

sacrifícios e negações!

Eu não ia fazer isso. Ela não me ia obrigar.

O cheiro era o problema, o cheiro odiosamente apelativo do sangue dela. Se houvesse

alguma forma de resistir… se apenas um sopro de ar fresco pudesse limpar a minha

cabeça.

A Bella Swan balançou os seus longos, grossos cabelos castanhos na minha direcção.

Ela era louca?! Era como se estivesse a encorajar o monstro! Incentivando-o.

Não havia nenhuma brisa amigável para afastar o cheiro de mim agora. Ia estar tudo

perdido em breve.

Não, não havia nenhuma brisa amigável. Mas eu não precisava de respirar. Parei o

fluxo de ar para os meus pulmões; o alívio foi instantâneo, mas incompleto.

Eu ainda tinha na memória o cheiro, o gosto no fundo da minha língua. Não ia ser

capaz de resistir por muito mais tempo. Mas talvez conseguisse resistir por uma hora.

Uma hora. Só o tempo suficiente para sair desta sala cheia de vítimas, vítimas que

talvez não precisassem de ser vítimas. Se eu pudesse resistir durante uma curta hora.

Ficar sem respirar era uma sensação desconfortável. O meu corpo não precisava de

oxigénio, mas isso ia contra os meus instintos. Eu aproveitava-me daquele sentido

muito mais do que qualquer outro quando estava stressado. Guiava-me nas caças, era

o primeiro avisar-me em casos de perigo.

Não me cruzava com alguma coisa tão perigosa como eu com frequência, mas a auto-

preservação era tão forte na minha espécie quanto nos humanos.

Desconfortável, mas suportável. Mais suportável do que sentir o cheiro dela e não

cravar os meus dentes naquela pele bonita, fina, transparente… até ao quente,

molhado, sangue?

Uma hora! Só uma hora. Não vou pensar no cheiro, no gosto.

A rapariga silenciosa manteve o cabelo dela entre nós, inclinando-se para a frente até

que ele se espalhou no caderno dela. Não conseguia ver o rosto dela para tentar ler as

emoções dela através de seus olhos claros, profundos. Era por isso que ela estava a

deixar aquele cabelo entre nós? Para esconder os olhos de mim? Por medo? Timidez?

Para esconder os seus segredos de mim?

A minha antiga irritação por ser incapacitado pelos seus pensamentos sem som era

fraca e pálida em comparação à necessidade - e ao ódio - que me possuía agora. Eu

odiava esta mulher, criança ao meu lado, odiava-a com todas as forças. Odiava-a,

odiava o que ela me fazia sentir - e isso ajudou um pouco.

Agarrei-me a qualquer emoção que me distraísse do pensamento de qual seria o

gosto dela…

Page 14: 1º capitulo

Ódio e irritação. Impaciência. Será que aquela hora nunca mais ia passar? E quando

passasse… Então ela ia sair desta sala. E eu ia fazer o quê?

Eu podia apresentar-me. Olá, meu nome é Edward Cullen. Posso acompanhar-te até a

tua próxima aula?

Ela iria dizer que sim. Era a coisa mais educada a fazer-se. Mesmo a sentir medo de

mim, como eu suspeitava que ela já sentia, ela iria acompanhar-me

convencionalmente e caminhar ao meu lado. Seria fácil o suficiente guiá-la na direcção

errada.

Havia um pedaço da floresta que me parecia bastante útil agora. Podia dizer-lhe que

me tinha esquecido de um livro no carro…

Será que alguém ia reparar que eu fui a última pessoa com quem ela tinha sido vista?

Estava a chover, como sempre. Dois casacos escuros para a chuva a moverem-se na

direcção errada não iam chamar muita atenção, nem me denunciariam.

A não ser pelo fato de eu não ser o único estudante que estava consciente dela hoje -

apesar de nenhum estar tão devastadoramente consciente dela quanto eu. Mike

Newton, em particular, estava atento a cada movimento que ela fazia a mexer-se na

cadeira - ela estava desconfortável ao meu lado, assim como qualquer um estaria,

assim como eu já esperava antes que o cheiro dela destruísse todos os traços de

preocupação por caridade. Mike Newton iria reparar se ela deixasse a sala comigo.

Se conseguisse aguentar uma hora, será que conseguia aguentar duas? Encolhi-me

com a dor ardente que sentia na garganta.

Ela ia para uma casa vazia. O chefe de polícia Swan trabalhava o dia inteiro. Eu

conhecia a casa dele, assim como conhecia todas as casinhas da cidade. A casa dele

ficava acima da encosta da floresta, sem vizinhos próximos. Mesmo se ela tivesse

tempo para gritar, e não teria, não ia haver ninguém por perto para ouvir.

Essa era a forma mais responsável de lidar com isto. Eu tinha aguentado sete

décadas sem sangue humano. Se eu sustivesse a respiração, conseguia aguentar

duas horas. E quando a encontrasse sozinha, não ia haver oportunidades de mais

alguém se magoar. E não há motivo para apressar a experiência, o monstro na minha

cabeça concordou.

Estava-me a enganar ao pensar que, se salvasse os dezanove humanos desta sala

com esforço e paciência, seria menos monstro quando matasse aquela rapariga

inocente.

Apesar de odiá-la, eu sabia que o meu ódio era injusto. Sabia que quem realmente

odiava era eu mesmo. Ia odiar-nos aos dois ainda mais quando ela estivesse morta.

Consegui passar a hora desta maneira - a imaginar as melhores formas de matá-la.

Tentei evitar pensar no acto de verdade. Isso ia ser demais para mim; ia acabar por

Page 15: 1º capitulo

perder esta batalha e matar toda a gente que visse. Então planeei a estratégia e nada

mais.

Isso ajudou-me a passar a hora.

Uma vez, quase no fim, ela olhou para mim pela parede dos seus cabelos. Conseguia

sentir o ódio injustificado a queimar-me quando olhei para os olhos dela - vi o meu

reflexo nos seus olhos assustados. O sangue pintou as suas bochechas antes que ela

conseguisse esconder-se outra vez nos seus cabelos, e eu quase que me desfiz.

Mas a campainha tocou. Salva pela campainha - que cliché. Nós os dois estávamos

salvos. Ela, salva da sua morte. Eu, salvo por um curto período de tempo de ser a

criatura de pesadelos que eu temia e não suportava.

Não consegui caminhar tão devagar quanto devia quando saí da sala. Se alguém

estivesse a olhar para mim, podia ter suspeitado que estava alguma coisa mal na

maneira como eu me movia. Ninguém estava a prestar-me atenção. Todos os

pensamentos humanos ainda rondavam a rapariga que estava condenada a morrer

em pouco mais de uma hora.

Escondi-me no meu carro.

Não gostava de pensar em mim mesmo a ter que me esconder. Isso soava muito

cobarde. Mas esse era inquestionavelmente o caso agora.

Eu não estava suficientemente disciplinado para ficar perto de humanos agora.

Concentrar-me tanto em não matar um deles tinha acabado com todos os meus

recursos para resistir a matar os outros. Que desperdício isso seria. Se eu tinha que

dar o braço a torcer para o monstro, podia pelo menos fazer o desafio valer a pena.

Pus o CD de música que normalmente me acalmava, mas fez pouco por mim agora.

Não, o que mais ajudou agora foi o ar frio, molhado, limpo que entrava com a chuva

pelas minhas janelas abertas. Apesar de me conseguir lembrar do cheiro do sangue

de Bella Swan com perfeita clareza, inalar o ar limpo era como lavar o interior do meu

corpo contra as infecções.

Estava são de novo. Conseguia pensar de novo. E conseguia lutar de novo. E eu

podia lutar contra o que eu não queria ser.

Eu não tinha que ir até casa dela. Eu não queria matá-la.

Obviamente, eu era uma criatura racional, uma criatura que pensava, e eu tinha uma

escolha. Havia sempre uma escolha.

Não era isso que parecia na sala de aula… mas agora eu estava longe dela. Talvez,

se eu a evitasse muito, muito cuidadosamente, não houvesse motivos para a minha

vida mudar. Eu tinha as coisas sob controlo da maneira como elas eram agora. Porque

é que eu devia deixar alguém agravante e delicioso arruinar isso? Eu não tinha que

desapontar o meu pai. Eu não tinha que causar stress à minha mãe, preocupação…

Page 16: 1º capitulo

dor. Sim, isso ia magoar a minha mãe adoptiva também. E Esme era tão gentil, tão

delicada e suave. Causar dor a alguém como Esme era verdadeiramente imperdoável.

Era irónico que eu tivesse tido vontade de proteger aquela rapariga da ameaça

desprezível, sem dentes, dos pensamentos de Jessica Stanley. Eu era a última

pessoa que iria querer servir de protector de Isabella Swan. Ela jamais precisaria de

protecção de mais alguma coisa que não fosse eu.

Onde estava a Alice? Perguntei-me de repente. Ela não me tinha visto a matar a

rapariga Swan de alguma maneira? Porque é que ela não apareceu para ajudar - para

me parar ou para me ajudar a limpar as provas, o que quer que fosse? Será que ela

estava tão preocupada em livrar Jasper de problemas que ela tinha deixado passar

aquela possibilidade muito mais horrorosa? Será que eu era mais forte do que eu

pensava? Será que eu realmente não teria feito nada com a rapariga?

Não. Eu sabia que isso não era verdade. A Alice deve estar a concentrar-se bastante

no Jasper.

Procurei na direcção em que eu sabia que ela estava, no pequeno edifício que era

usado para as aulas de inglês. Não me levou muito tempo localizar a sua “voz”

familiar. E eu estava certo. Todos os seus pensamentos estavam voltados para o

Jasper, a ver todas as suas pequenas escolhas a cada minuto.

Desejei poder pedir-lhe os seus conselhos, mas, ao mesmo tempo, estava feliz que

ela não soubesse do que eu era capaz. Que ela não soubesse do massacre que eu

tinha planeado na hora anterior.

Senti um novo ardor pelo meu corpo - o da vergonha. Eu não queria que nenhum

deles soubesse.

Se eu pudesse evitar a Bella Swan, se eu conseguisse não a matar - mesmo enquanto

eu pensava nisso, o monstro trincava e rangia os dentes, cheio de frustração - então

ninguém teria que saber. Se eu pudesse manter distância do cheiro dela…

Não havia razão para que eu não tentasse, pelo menos. Fazer uma boa escolha.

Tentar ser o que Carlisle pensava que eu era.

A última hora de escola já estava quase acabada. Decidi começar a colocar o meu

novo plano em acção imediatamente. Era melhor do que ficar sentado no

estacionamento, onde ela poderia passar a qualquer minuto e arruinar a minha

tentativa. De novo, eu senti o ódio injusto por aquela rapariga. Eu odiava que ela

tivesse aquele poder inconsciente sobre mim. Que ela conseguisse fazer-me ser algo

que eu repugnava.

Caminhei rapidamente - um pouco rapidamente demais, mas não havia testemunhas -

através do pequeno átrio até a secretaria. Não havia razão para Bella Swan cruzar o

meu caminho. Ela seria evitada como a praga que ela era.

Page 17: 1º capitulo

A secretaria estava vazia, com excepção da secretária, a única que eu queria ver.

Ela não reparou na minha entrada silenciosa.

- Sra. Cope?

A mulher com o cabelo vermelho pouco natural olhou para cima e os olhos dela

arregalaram-se. Apanhava-os sempre de surpresa, pequenos sinais que eles não

conseguiam entender, independentemente de quantos de nós eles já tivessem visto.

- Oh. - Ela ofegou, um pouco corada. Alisou a blusa. Tonta, pensou consigo mesma.

Ele é quase novo o suficiente para ser meu filho. Demasiado novo para eu pensar nele

dessa maneira… - Olá, Edward. O que é que posso fazer por ti? - As suas pestanas

flutuaram por trás das lentes dos seus óculos grossos.

Desconfortável. Mas eu sabia ser charmoso quando queria ser. Era fácil, já que era

capaz de saber instantaneamente como qualquer tom ou gesto meu era recebido.

Inclinei-me para a frente, encontrei o seu olhar como se estivesse a olhar

profundamente dentro dos seus olhos castanhos rasos, pequenos. Os pensamentos

dela já estavam descontrolados. Isto ia ser fácil.

- Estava-me a perguntar se não me podia ajudar com os meus horários - disse com a

minha voz suave que era reservada a não assustar humanos.

Ouvi o ritmo do coração dela a acelerar.

- É claro, Edward. Como é que posso ajudar? - Demasiado jovem, demasiado jovem,

repetiu para si mesma. Errada, é claro. Eu era mais velho que o avô dela. Mas,

segundo a minha carta de condução, ela estava certa.

- Perguntava-me se podia trocar a minha aula de Biologia para o nível mais alto de

Ciências. Física, talvez?

- Algum problema com o Sr. Banner, Edward?

- Claro que não, é só que eu já estudei aquela matéria…

- Naquela escola acelerada em que estudaste no Alasca, certo. - Os seus lábios finos

torceram-se enquanto ela considerava isso. Eles todos já deviam estar na faculdade.

Já ouvi todos os professores a reclamarem. Notas perfeitas, nunca hesitam antes de

responder, nunca respondem errado num teste - como se encontrassem uma forma de

fazer batota em todas as matérias. O Sr. Varner preferiria acreditar que existe alguém

a copiar do que admitir que existe alguém mais inteligente que ele… Aposto que a

mãe deles dá-lhes aulas… - Na verdade, Edward, a aula de física já está muito cheia

agora. O Sr. Banner odeia ter mais de vinte e cinco alunos na sala de aula…

- Eu não daria nenhum problema.

É claro que não. Não um Cullen perfeito.

- Eu sei disso, Edward. Mas simplesmente não há lugares suficientes…

- Então posso desistir da aula? Eu posso usar o período para estudos independentes.

Page 18: 1º capitulo

- Desistir de Biologia? - A boca dela abriu-se. Isso é uma loucura. É assim tão difícil

assistir a uma matéria que já conhece? DEVE haver algum problema com o Sr.

Banner. Pergunto-me se devo falar sobre isso com o Bob. – Não ias ter créditos

suficientes para acabar o liceu.

- Posso recuperar no próximo ano.

- Talvez devesses falar com os teus pais sobre isto.

A porta abriu-se atrás de mim, mas quem quer que fosse não estava a pensar em

mim, então ignorei a chegada e concentrei-me na Sra. Cope. Inclinei-me um pouco

mais para perto dela e abri os olhos mais um bocado. Isto funcionaria melhor se eles

estivessem dourados em vez de pretos. A escuridão assustava as pessoas, tal como

devia.

- Por favor, Sra. Cope? - Fiz com que a minha voz ficasse mais suave e convincente, e

isto podia ser consideravelmente convincente. - Não há uma outra hora à qual eu

possa mudar-me? Será que não existe nenhuma vaga aberta nalgum lugar? Biologia

no sexto tempo pode ser a única opção…

Sorri-lhe, tomando o cuidado de não mostrar demasiado os dentes para não a

assustar, e deixei que a expressão se suavizasse no meu rosto.

O coração dela bateu mais rápido. Demasiado jovem, dizia freneticamente para si

mesma. - Bom, talvez eu pudesse falar com Bob, quero dizer, o Sr. Banner. Eu posso

ver se…

Um segundo foi o que levou para tudo mudar: a atmosfera na sala, a minha missão

aqui, a razão pela qual eu me inclinava para a mulher de cabelos vermelhos… O que

tinha sido por um propósito, agora era por outro.

Um segundo foi só o que demorou para a Samantha Wells abrir a porta e mandar um

papel assinado para o cesto ao lado da porta e correr para fora outra vez, com pressa

de sair da escola. Um segundo foi tudo o que levou para que uma rajada repentina de

vento passasse pela porta e me viesse atingir. Um segundo foi o tempo que eu levei

para me aperceber por que é que aquela primeira pessoa não me tinha atrapalhado

com os seus pensamentos.

Virei-me, apesar de não precisar de confirmar. Virei-me lentamente, enquanto lutava

para controlar os meus músculos que se revoltavam contra mim.

A Bella Swan ficou com as costas pressionadas na parede ao lado da porta, com um

papel agarrado nas mãos.

Os olhos dela estavam ainda maiores do que o normal quando reparou no meu olhar

feroz, desumano.

O cheiro dela preencheu cada pequena partícula de ar na sala pequena, quente. A

minha garganta ficou em chamas.

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O monstro olhou para mim pelo espelho dos olhos dela de novo, uma máscara do mal.

A minha mão hesitou no ar em cima do balcão. Não teria que olhar para bater com a

cabeça da Sra. Cope na mesa dela com força suficiente para a matar. Duas vidas, ao

invés de vinte. Uma troca.

O monstro esperou ansiosamente, faminto, que eu fizesse isso.

Mas havia sempre uma escolha - tinha que haver.

Parei o movimento dos meus pulmões e fixei o rosto de Carlisle à frente dos meus

olhos. Virei-me para olhar para a Sra. Cope e ouvi a surpresa interna dela com a

mudança da minha expressão. Ela afastou-se de mim, mas o medo dela não se notou

nas palavras coerentes.

Usando todo o auto-controle que tinha aprendido nas minhas décadas de auto-

negação, tornei a minha voz uniforme e suave. Tinha ar o suficiente nos pulmões para

falar uma última vez, apressando as palavras.

- Então esqueça. Vejo que é impossível. Muito obrigado pela sua ajuda.

Virei-me e lancei-me pela porta, tentando não sentir o calor do sangue quente do

corpo da rapariga enquanto passei a apenas alguns centímetros dela.

Não parei até estar no meu carro, movendo-me rápido demais todo o caminho até lá.

A maioria dos humanos já tinha ido embora, então não havia muitas testemunhas.

Ouvi um rapaz do segundo ano, D.J. Garrett, reparar e depois não dar importância…

De onde é que o Cullen saiu? Foi como se tivesse aparecido com o vento… Lá estou

eu com a minha imaginação outra vez. A minha mãe diz sempre…

Quando deslizei para dentro do meu Volvo, os outros já estavam lá. Tentei controlar a

minha respiração, mas eu estava a asfixiar por ar fresco como se estivesse a sufocar.

- Edward? - A Alice perguntou com uma voz alarmada.

Só lhe abanei a minha cabeça.

- O que diabos é que te aconteceu? - O Emmett quis saber, distraído, por um

momento, do facto de Jasper não estar numa de aceitar a sua vingança.

Em vez de responder, fiz marcha-atrás com o carro. Eu tinha que sair deste

estacionamento antes que a Bella me seguisse para aqui também. O meu demónio

pessoal perseguir-me… Virei o carro e acelerei. Já estava nos quarenta antes de

chegar à estrada. Na estrada, fiz setenta antes de chegar à esquina.

Sem olhar, eu sabia que Emmett, Rosalie e Jasper se tinham virado todos para olhar

para a Alice.

Levantou os ombros. Ela não podia ver o que se tinha passado, só o que estava para

acontecer.

Olhou para mim agora. Nós os dois estávamos a processar o que ela tinha visto na

sua cabeça, e ambos estávamos surpreendidos.

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- Tu vais-te embora? - Ela sussurrou.

Os outros olharam para mim agora.

- Vou? - Expirei através dos meus dentes.

Ela viu então, enquanto a minha decisão ia para outro caminho e outra escolha virava

o meu futuro para uma direcção mais escura.

- Oh.

A Bella Swan morta. Os meus olhos a brilharem, vermelhos com o sangue fresco. A

procura que se seguiria. O tempo cuidadoso que nos levaria a esperar até que fosse

seguro sair e começar tudo de novo…

- Oh - ela disse outra vez. A imagem ficou mais específica. Eu vi o interior da casa do

Chefe Swan pela primeira vez, vi a Bella na pequena cozinha com os armários

amarelos, com as costas viradas para mim enquanto eu a perseguia na escuridão…

deixava que o seu cheiro me guiasse até ela…

- Pára! - Rugi, incapaz de aguentar mais.

- Desculpa - Sussurrou com os olhos arregalados.

O monstro gostou.

E a visão na cabeça dela mudou outra vez. Uma avenida vazia à noite, as árvores ao

lado cobertas de neve, a brilhar com os quase duzentos quilómetros por hora.

- Vou ter saudades tuas - disse. - Independentemente de quão curto seja o tempo que

vás ficar fora.

Emmett e Rosalie trocaram um olhar apreensivo.

Nós já estávamos quase na curva da longa estrada que levava à nossa casa.

- Deixa-nos aqui - A Alice sugeriu. – Devias dizer isso ao Carlisle pessoalmente.

Abanei a cabeça e o carro chiou quando parou de repente.

Emmett, Rosalie e Jasper saíram silenciosamente; eles iam fazer com que a Alice

explicasse tudo quando eu fosse embora. A Alice tocou-me no ombro.

- Tu vais fazer a coisa acertada - murmurou. Não era uma visão desta vez, era uma

ordem. - Ela é a única família de Charlie Swan. Isso matá-lo-ia também.

- Sim - eu disse, a concordar apenas com a última parte.

Ela saiu para se juntar aos outros, as sobrancelhas dela estavam juntas por causa da

ansiedade.

Eles enfiaram-se nas matas, desaparecendo de vista antes que eu pudesse virar o

carro.

Acelerei de volta à cidade, e eu sabia que as visões na cabeça de Alice estariam a

passar de negras a claras num piscar de olhos.

Enquanto acelerava para Forks a mais de noventa quilómetros por hora, eu não tinha

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certeza de para onde é que estava a ir. Dizer adeus ao meu pai? Ou aceitar o monstro

que havia dentro de mim? A estrada a voar por baixo dos meus pneus.

2º Capitulo - Livro Aberto

 

Encostei as costas contra o banco fofo de neve, deixando o pó seco refazer-se à volta do meu 

peso. A minha pele tinha arrefecido para igualar-se ao ar à minha volta, e os pequenos 

pedaços de gelo pareciam veludo de baixo da minha pele.

O céu acima de mim estava limpo, brilhante com estrelas, ficando azul em algumas partes, e 

amarelo noutras. As estrelas apareceram majestosamente, em formas redondas contra o 

universo negro - uma vista maravilhosa. Perfeitamente bonita. Ou melhor, teria sido 

perfeitamente. Teria sido, se eu a estivesse realmente a ver.

Eu não estava a melhorar nada, já se tinham passado seis dias, há seis dias que eu estava 

escondido neste deserto vazio Denali, mas não estava nem perto da liberdade desde o 

primeiro momento em que senti o seu perfume.

Quando olhei para o céu estrelado, era como se tivesse uma obstrução entre meus olhos e a 

beleza dele. A obstrução era um rosto, um rosto humano pouco notável, mas parecia que não 

o conseguia banir da minha mente.

Ouvi os pensamentos a aproximarem-se antes de ouvir os passos que os acompanhavam. O 

som do movimento era apenas um desfalecido suspiro contra o pó.

Não estava surpreendido que a Tanya me tivesse seguido até aqui. Eu sabia que ela esteve a 

reflectir sobre esta próxima conversa nos últimos dias, adiando até que estivesse exactamente 

certa do que queria dizer.

Apareceu a uns 54 metros, a pular até a ponta de uma rocha escura à vista, balançando-se nas 

pontas dos pés A pele de Tanya estava prateada à luz das estrelas, os seus cabelos louros 

brilhavam palidamente, quase rosa com madeixas avermelhadas. Os seus olhos dourados 

brilharam rapidamente quando olhou para mim, meio enterrada na neve, e os seus lábios 

esticaram-se lentamente formando um sorriso.

Seria perfeita. Se eu conseguisse realmente vê-la. Suspirei.

Ela agachou-se até a ponta da rocha, as pontas dos dedos tocaram na rocha, e o corpo dela 

preparou-se.

Bola de neve, pensou.

Lançou-se no ar, a sua forma tornou-se escura, uma sombra giratória à medida que ela girava 

entre mim e as estrelas. Ela curvou-se e ficou uma bola, enquanto se lançava para o banco de 

Page 22: 1º capitulo

neve ao meu lado.

Uma grande quantidade de neve caiu em cima de mim. As estrelas ficaram pretas, e eu estava 

enterrado, coberto de cristais de gelo.

Suspirei de novo, mas não me mexi para me desenterrar. A escuridão abaixo da neve não 

podia piorar nem melhorar a visão. Eu ainda via o mesmo rosto.

“Edward?”

E depois a neve estava a voar outra vez, assim que a Tanya me desenterrou rapidamente. 

Limpou o pó do meu rosto imóvel, e não olhava totalmente para os meus olhos.

“Desculpa.” Murmurou. “Foi uma piada.”

“Eu sei. Foi engraçado.”

A boca dela virou-se para baixo.

“ A Irina e a Kate disseram que te devia deixar em paz. Elas acham que te estou a incomodar.”

“Claro que não,” Assegurei-lhe “Pelo contrário, sou eu quem está a ser rude -

abominavelmente rude. Lamento imenso.”

Vais para casa, não é? Pensou.

“Eu ainda… não me decidi… totalmente.”

Mas não vais ficar aqui. O seu pensamento agora era melancólico, triste.

“Não. Isto não parece estar… a ajudar.”

Ela fez uma careta. “É por minha causa, não é?”

“Claro que não,” Menti gentilmente.

Não sejas cavalheiro.

Sorri.

Faço-te sentir desconfortável, ela acusou.

“Não.”

Ela levantou uma sobrancelha, a sua expressão estava tão descrente que tive que me rir. Um 

curto riso, seguido por outro suspiro.

“Está bem,” eu admiti. “Um bocado.”

Ela também suspirou e colocou o queixo sob as suas mãos. Os seus pensamentos estavam 

mortificados.

“Tu és mil vezes mais amável do que as estrelas, Tanya. É claro, tu estás consciente disso. Não 

deixes que a minha teimosia estrague a tua confiança.” Ri-me com a impossibilidade disso.

“Não estou habituada à rejeição,” queixou-se, com o seu lábio inferior para fora num atraente 

beicinho.

“Claro que não,” Concordei, tentando sem muito sucesso bloquear os seus pensamentos 

enquanto se aprofundavam entre as suas milhares conquistas. Na sua maioria, Tanya preferia 

Page 23: 1º capitulo

os homens humanos - eles eram muito mais populares para uma única coisa, com a vantagem 

de serem suaves e quentes.

Ao contrário de Carlisle, a Tanya e as suas irmãs descobriram as suas consciências lentamente. 

No final, foi o afecto pelos homens humanos que colocaram as irmãs contra o massacre. Agora 

os homens que elas amavam… viviam.

“Quando apareceste aqui,” Tanya disse lentamente. “Eu pensei que…”

Eu sabia o que ela tinha pensado. E eu devia saber que ela se ia sentir assim. Mas eu não 

estava no meu melhor para racionalizar naquele momento...

“ Pensaste que eu tinha mudado de ideias.”

“Sim,” Queixou-se.

“Sinto-me horrível por estar a brincar com as tuas expectativas, Tanya. Eu não queria - Eu não 

estava a pensar. É só que eu saí… um bocado à pressa.”

“Suponho que não me vais me contar o porquê…?”

Sentei-me e enrolei os braços à volta das minhas pernas, encolhendo-me defensivamente. 

“Não quero falar sobre isso.”

A Tanya, Irina e Kate adaptaram-se muito bem à vida a que se comprometeram. Até melhor, 

em algumas formas, que Carlisle. Apesar da proximidade louca a que se colocavam àqueles 

que deviam ser - e uma vez foram - as suas presas, eles não cometiam erros. Eu estava 

demasiado envergonhado para admitir a minha fraqueza à Tanya.

“Problemas com mulheres?” - Ela perguntou ignorando a minha relutância.

Fiz um sorriso obscuro “Não da forma que estás a pensar”

Então ela ficou quieta. Ouvi os seus pensamentos enquanto ela os mudava, tentando decifrar 

o significado das minhas palavras.

“Não estás sequer perto” – Disse-lhe.

“Uma pista?” – Perguntou-me.

“Por favor, deixa isso, Tanya.”

Ela estava quieta de novo, a especular. Ignorei-a e tentei, em vão, admirar as estrelas.

Desistiu depois de um momento de silêncio e os seus pensamentos tomaram outra direcção.

Se nos deixares, para onde é que vais, Edward? De volta para o Carlisle?

“Não me parece” Suspirei.

Para onde é que eu iria? Não conseguia imaginar algum lugar do planeta que me pudesse 

interessar. Porque não importava para onde fosse, eu nunca ia para algum lugar – ia estar 

apenas a fugir.

Eu odiava isso. Quando é que me tinha tornado tão cobarde?

A Tanya pôs o seu braço à volta dos meus ombros. Eu enrijeci mas não me desviei do seu 

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toque. Era apenas um conforto amigável. Maioritariamente.

“Eu acho que vais voltar.” - Disse na sua voz com um ligeiro sotaque russo - “Não importa o 

quê ou quem te está a assombrar. Tu vais enfrentar isso. És desse tipo.”

Os seus pensamentos estavam de acordo com as suas palavras. Tentei abraçar a visão de mim 

que ela carregava na sua cabeça. Aquele que enfrenta as coisas de cabeça levantada. Eu nunca 

duvidei da minha coragem, da minha habilidade de enfrentar situações adversas. Até àquela 

aula terrível de biologia há pouco tempo atrás.

Dei-lhe um beijo na bochecha, voltando-me rapidamente quando ela virou a cara para a 

minha. Ela sorriu da minha rapidez.

“Obrigado, Tanya. Eu precisava de ouvir isso.”

Os seus pensamentos tornaram-se petulantes “De nada, acho eu. Gostava que fosses mais 

razoável sobre as coisas, Edward.”

“Desculpa, Tanya. Sabes que és demasiado boa para mim. Eu simplesmente… ainda não 

encontrei o que estou à procura.”

“Bom, se fores embora antes que te veja outra vez. Adeus, Edward.”

“Adeus, Tanya” - Enquanto dizia as palavras, eu consegui ver isso. Conseguia ver-me a sair de 

lá, de volta para o sítio onde queria estar. - “Obrigada - de novo.”

Ela levantou-se num movimento. E depois já tinha saído, desaparecendo entre a neve. Não 

olhou para trás. A minha rejeição incomodou-a mais do que já tinha incomodado antes, até 

nos seus pensamentos. Ela não me queria ver antes de partir.

Os meus lábios contorceram-se com desapontamento. Eu não gostava de magoar a Tanya, 

apesar de os seus sentimentos não serem profundos e dificilmente puros. De qualquer das 

maneiras não era algo que eu poderia corresponder. Ainda me fazia sentir menos cavalheiro.

Pus o meu queixo em cima dos joelhos e olhei para as estrelas outra vez, apesar de estar 

repentinamente ansioso para voltar ao meu caminho. Eu sabia que Alice me ia ver a voltar 

para casa e ia contar aos outros. Isso iria fazê-los felizes - principalmente Carlisle e Esme. Mas 

olhei para as estrelas mais uma vez, e passar o rosto na minha cabeça. Entre mim e as luzes 

brilhantes do céu, um par de olhos castanhos confusos estavam voltados para mim, fazendo-

me questionar o que esta decisão ia significar para ela.

É claro, eu não poderia ter certeza que era isso o que os seus olhos curiosos procuravam. Nem 

na minha imaginação eu conseguia ouvir os seus pensamentos. Os olhos de Bella Swan 

continuavam a questionar-se e uma não obstruída visão das estrelas continuou a invadir-me. 

Com um leve suspiro, eu desisti. Se eu corresse, estaria de volta ao carro do Carlisle em menos 

de uma hora.

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Numa pressa para ver a minha família - e para voltar a ser aquele Edward que enfrenta as 

coisas – corri através do campo de neve sem deixar pegadas.

 

 

“Vai correr tudo bem” - A Alice encorajou. Os seus olhos estavam desfocados e o Jasper tinha 

uma mão debaixo do seu cotovelo, guiando-a enquanto entrávamos no refeitório num grupo 

fechado. Rosalie e Emmett indicavam o caminho, o Emmett ridiculamente parecido com um 

guarda-costas no meio de território inimigo. A Rose também parecia preocupada, porém, bem 

mais irritada do que protectora.

“Claro que vai.” – Expirei pesadamente. O comportamento deles era ridículo. Se eu não tivesse 

a certeza de que ia aguentar este momento, tinha ficado em casa.

A repentina mudança da nossa normal, mesmo divertida manhã - tinha nevado ontem à noite, 

e Emmett e Jasper estavam a tirar vantagem da minha distracção para me bombardearem com 

bolas de neve; quando se cansasse da minha falta de resposta virar-se-iam um para o outro - 

para este excesso de vigilância teria sido cómica se não fosse tão irritante.

“Ela ainda não está aqui, mas da maneira que vai entrar… não vai ficar contra o vento se nos 

sentarmos no lugar de sempre.”

“Claro que nos vamos sentar no lugar de sempre! Pára com isso Alice. Estás-me a dar cabo dos 

nervos. Vou ficar absolutamente bem.”

Ela piscou os olhos uma vez enquanto o Jasper a ajudava a sentar-se e os seus olhos 

finalmente focaram-se em mim.

“Hum…” - Disse, soando surpreendida. “Acho que tens razão”

“Claro que tenho” - Murmurei.

Eu odiava estar no centro da preocupação deles. Senti uma certa solidariedade por Jasper ao 

lembrar-me das inúmeras vezes que nós o superprotegemos. Ele percebeu de relance os meus 

sentimentos e sorriu.

Irritante, não é?

Eu assenti.

Foi apenas a semana passada que esta grande e monótona sala tinha parecido tão 

mortalmente depressiva para mim?

Pareceria quase como um sonho, um coma, estar aqui?

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Hoje os meus nervos estavam firmes - cordas de piano, tensas que tocam à mais leve pressão. 

Os meus sentidos estavam super alertas, vigiei cada som, cada suspiro, cada movimento de ar 

que tocava a minha pele, cada pensamento. Especialmente os pensamentos. Só havia um 

sentindo que eu me recusei a usar. Olfacto, é claro.

Não respirei.

Eu estava à espera de ouvir mais sobre os Cullen nos pensamentos que investiguei. Estive todo 

o dia à espera, a procurar por cada novo pensamento sobre Bella Swan ter contado a alguém, 

a tentar ver a direcção que o novo mexerico seguiria. Mas não havia nada. Ninguém reparou 

que havia 5 vampiros no refeitório, exactamente como antes da nova rapariga chegar. Muitos 

humanos aqui ainda estavam a pensar sobre aquela rapariga, os mesmos pensamentos da 

semana passada. Em vez de achar aquilo inalteravelmente aborrecido, eu estava fascinado.

Ela não tinha dito nada a ninguém sobre mim?

Era impossível que ela não tivesse reparado no meu obscuro, olhar assassino. Eu vi-a reagir a 

isso. De certeza que a tinha assustado. Eu estava convencido de que ela tinha mencionado isso 

a alguém, talvez até tivesse exagerado na história um bocado para fazê-la melhor. Atribuindo-

me alguns traços ameaçadores.

E depois, também me viu a tentar cancelar as nossas aulas partilhadas de biologia. Ela deve-se 

ter perguntado, depois de ver a minha expressão, se tinha sido ela a causa. Uma rapariga 

normal teria perguntado por aí, comparado a sua experiência com os outros, procurado por 

algum terreno em comum que pudesse explicar o meu comportamento e então não se sentiria 

sozinha. Os humanos estão constantemente desesperados por se sentirem normais, por se 

encaixarem. Por se misturar com os outros ao seu redor, como mais uma desinteressante no 

rebanho. Essa necessidade era particularmente forte durante os inseguros anos da 

adolescência. Aquela rapariga não devia ser uma excepção àquela regra.

Mas ninguém nos tinha dado atenção aqui sentados, na nossa mesa normal. A Bella devia ser 

excepcionalmente tímida, se não tinha confidenciado a alguém. Talvez tivesse falado com o 

seu pai, talvez esse fosse o seu melhor relacionamento… Apesar de isso soar improvável, dado 

o facto de que ela tinha passado tão pouco tempo com ele durante a sua vida. Ela devia ser 

mais próxima da sua mãe. Mesmo assim, eu devia passar pelo Chefe Swan numa altura 

qualquer e ouvir o que ele estava a pensar.

“Algo novo?” - O Jasper perguntou.

“Nada. Ela… não deve ter dito nada.”

Todos ergueram uma sobrancelha com as novidades.

“Talvez não sejas tão assustador como achas que és.” - O Emmett disse, a rir-se. “Aposto que 

eu a teria apavorado mais do que ISSO.”

Page 27: 1º capitulo

Eu rolei meus olhos até ele.

“ A imaginar o porquê…?” – Ele surpreendeu-se com a minha revelação sobre o silêncio único 

da rapariga.

“Já falámos disso. Eu não sei.”

“Ela vem aí,” - A Alice murmurou. Eu senti o meu corpo a ficar rígido. “Tenta parecer humano.”

“Humano… dizes?” - O Emmett perguntou.

Ele levantou o punho direito, girando os dedos para revelar a bola de neve que tinha guardado 

na sua palma. É claro que ela não tinha derretido ali. Ele apertou-a num volumoso bloco de 

gelo. Tinha os olhos em Jasper, mas eu vi a direcção dos seus pensamentos. E Alice também, 

claro. Quando ele lançou abruptamente o pedaço de gelo até ela, ela mandou-o para longe 

com um leve balançar dos dedos. O gelo ricocheteou através do corredor do refeitório; muito 

rápido para os olhos humanos, e fragmentou-se com um agudo barulho na parede de tijolo. O 

tijolo partiu-se também.

As cabeças na esquina do refeitório viraram-se todas para olhar para a pilha de gelo no chão, e 

viraram-se para procurar sua origem. Não olharam muito mais longe do que algumas mesas. 

Ninguém olhou para nós.

“Muito humano, Emmett,” - A Rosalie disse de maneira fulminante. “Porque é que não vais lá e 

dás um murro através da parede?”

“Seria mais impressionante se fosses tu a fazer isso, querida.”

Tentei-lhes prestar atenção, mantendo um sorriso fixo na minha cara como se estivesse a fazer 

parte da brincadeira. Não me permiti olhar na direcção onde ela estava de pé. Mas isso foi 

tudo que eu ouvi também.

Conseguia ouvir a impaciência de Jessica com a rapariga nova, que parecia estar distraída, 

também, permanecendo imóvel na fila em movimento. Eu vi, nos pensamentos de Jessica, que 

as bochechas de Bella Swan ficaram mais uma vez rosadas com o sangue.

Respirei curta e rapidamente, pronto para parar de respirar se qualquer traço do seu odor 

tocasse no ar ao meu redor.

O Mike Newton estava com as duas raparigas. Eu conseguia ouvir as duas vozes: mental e 

verbal, quando ele perguntou o que é que se passava com a rapariga Swan. Eu não gostava da 

maneira como os seus pensamentos estavam envolvidos nela, um brilho das suas fantasias já 

construídas divagaram na sua mente enquanto ele via-a a ficar surpreendida e olhar para cima 

como se tivesse-se esquecido que ele estava ali.

“Nada” - Ouvi Bella a dizer numa voz baixa e clara. Parecia soar como um sino sobre todos os 

murmúrios do refeitório, mas eu sabia que isso era só porque eu estava a ouvir de forma tão 

intensa.

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“Vou só beber um sumo hoje,” ela continuou enquanto se movia para seguir com a fila.

Eu não consegui evitar olhar de relance na sua direcção. Ela estava a olhar para o chão, o 

sangue lentamente a esvair-se do seu rosto. Olhei rapidamente para longe, para Emmett, que 

agora se ria do sorriso aflito no meu rosto.

Pareces doente, mano.

Arranjei as minhas feições para parecer mais casual e natural.

A Jessica estava a perguntar-se sobre a falta de apetite da rapariga. “Não tens fome?”

“Na verdade, sinto-me um pouco enjoada.” A sua voz soou mais baixa, mas ainda assim, 

perfeitamente clara.

Por que é que me incomodava, a preocupação protectora que repentinamente surgiu dos 

pensamentos do Newton? O que é que importava que houvesse um timbre possessivo neles? 

Não me dizia exactamente respeito se Mike Newton se sentia desnecessariamente ansioso por 

ela. Talvez essa fosse a maneira que todos lhe correspondiam. Eu não tinha querido, 

instintivamente, protegê-la, também?

Quer dizer… Antes de ter querido matá-la.

Mas a rapariga estava doente?

Era difícil de avaliar - ela parecia tão delicada com aquela pele translúcida… e então apercebi-

me que me estava a preocupar também, assim como aquele rapaz estúpido, e forcei-me a não 

pensar sobre a saúde dela.

Apesar disso, eu não gostava de vigiá-la através dos pensamentos de Mike. Troquei para a 

Jessica, olhando cuidadosamente enquanto eles os três escolhiam uma mesa para se sentar. 

Felizmente, sentaram-se com as companhias habituais de Jessica, uma das primeiras mesas da 

sala. Não na direcção do vento, assim como Alice tinha prometido.

A Alice deu-me uma cotovelada. Ela vai olhar para aqui, age como humano.

Trinquei os dentes por detrás do meu sorriso.

“Acalma-te Edward,” – Disse o Emmett. “Honestamente. Então matas um humano. 

Dificilmente isso é o fim do mundo”.

“Tu saberias isso.” - Murmurei.

O Emmett riu-se. “Tens de aprender a ultrapassar as coisas. Como eu faço. A eternidade é 

muito tempo para ficares afundado na culpa.”

E então, a Alice lançou uma pequena mão cheia de gelo que tinha escondido, na cara confiante 

de Emmett.

Ele piscou os olhos, surpreendido, e então sorriu na antecipação.

“Tu é que pediste,” – Disse-lhe Emmett, enquanto se inclinava sobre a mesa e sacudia o cabelo 

coberto de gelo na sua direcção. A neve, que se derretia no ar morno, lançou-se do seu cabelo 

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num denso banho metade líquido, metade gelo.

“Ew!” - A Rose reclamou, enquanto ela e a Alice recuavam da inundação.

A Alice riu-se e todos nós acompanhámo-la. Conseguia ver na mente de Alice como ela tinha 

orquestrado este momento perfeito e eu sabia que aquela rapariga - eu tinha que parar de 

pensar nela daquela maneira, como se ela fosse a única rapariga do mundo - que Bella devia 

estar a olhar para nós enquanto nos ríamos e brincávamos, parecendo felizes e humanos e de 

forma tão irreal como uma pintura de Norman Rockwell.

A Alice continuou a rir-se, e segurou no seu tabuleiro como um escudo. Aquela rapariga - A 

Bella ainda devia estar a olhar para nós

… A olhar para os Cullens outra vez, - Alguém pensou, e chamou-me à atenção.

Olhei automaticamente para o chamamento não intencional, e percebia que tinha reconhecido 

a voz assim que encontrava o seu destino – tinha-a ouvido tanto hoje.

Os meus olhos deslizaram pela Jessica e passaram por ela. Focaram-se no olhar penetrante da 

rapariga.

O que é que ela estava a pensar? A frustração parecia aumentar enquanto o tempo passava, 

em vez de diminuir. Eu tentei – sem saber ao certo o que estava a fazer, já que nunca tinha 

tentado isto antes - sondar com a minha mente o silêncio à volta dela. A minha audição extra 

vinha naturalmente para mim, sem pedir; nunca tive que a forçar. Mas agora concentrei-me, e 

tentei passar por qualquer escudo que houvesse à volta dela.

Nada a não ser silêncio.

O que é que ela tem? Pensou Jessica, ecoando a minha própria frustração.

“ O Edward Cullen está a olhar-te fixamente,” - Sussurrou ao ouvido da rapariga Swan, com um 

sorriso falso. Não houve nenhuma insinuação da irritação invejosa no seu tom. A Jessica 

parecia ser experiente no fingimento de amizade.

Fiquei à escuta, muito claramente, da resposta da rapariga.

“Não parece zangado, pois não?”- Sussurrou também.

Então ela tinha notado a minha reacção selvagem a semana passada. É claro que tinha.

A pergunta pareceu confundir Jessica. Vi a minha própria cara nos seus pensamentos 

enquanto ela analisava a minha expressão, mas eu não encontrei o olhar dela. Ainda estava 

concentrado na rapariga, a tentar ouvir alguma coisa. A minha concentração intencional não 

parecia estar a ajudar em nada.

“Não,” - A Jess disse-lhe, e eu sabia que ela estava desejosa de poder dizer que sim - como isso 

a envenenou por dentro, o meu olhar - apesar de não demonstrar de forma alguma na sua voz: 

“Devia estar?”

“Acho que ele não gosta de mim,” - A rapariga respondeu-lhe num sussurro, deitando a cabeça 

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no seu braço como se estivesse subitamente cansada. Tentei entender o seu movimento, mas 

só pude fazer suposições. Talvez ela estivesse cansada.

“Os Cullens não gostam de ninguém,” - A Jess asseguro-a - “Bem, não se mostram delicados o 

suficiente para que as pessoas gostem deles.” Não costumavam mostrar. O seu pensamento 

foi um rosnar de reclamação. “Mas ele continua a olhar-te fixamente.”

“Pára de olhar para ele,” a rapariga disse ansiosamente, e ergueu a cabeça para ter a certeza 

que Jessica a obedeceu.

A Jessica sorriu, mas fez o que ela pediu.

A rapariga não desviou o olhar da sua mesa o resto do tempo. Eu pensei - pensei, é claro, não 

podia ter a certeza - que isso foi intencional. Parecia que ela queria olhar para mim. O seu 

corpo deslocava-se ligeiramente na minha direcção, o seu queixo começava a virar-se, e então 

ela repreendia-se, respirava fundo e olhava fixamente para qualquer pessoa que estivesse a 

falar.

Ignorei a maior parte dos outros pensamentos à volta da rapariga, já que não eram, 

momentaneamente, sobre ela. O Mike Newton estava a planear uma guerra de neve no 

parque de estacionamento depois da escola, sem parecer perceber que a neve já tinha 

mudado para chuva. A agitação dos leves flocos contra o tecto já tinha tornado o padrão 

comum de gotas de água. Ele não conseguia mesmo ouvir a mudança? Eu conseguia ouvir 

bastante alto.

Quando a hora de almoço acabou, eu continuei no meu lugar. Os humanos saíam, e eu 

apanhei-me a tentar distinguir o som dos passos dela do som do resto, como se houvesse algo 

de importante ou incomum neles. Que estupidez.

A minha família também não se mexeu para ir embora. Esperaram para ver o que eu ia fazer.

Ia para a aula, sentar-me ao lado da rapariga onde podia sentir a fragrância absurdamente 

potente do seu sangue e sentir o calor da sua pulsação do ar na minha pele? Era forte o 

suficiente para isso? Ou já tinha tido o suficiente para um dia?

- Eu… acho que está tudo bem. - A Alice disse, hesitante. - A tua mente está preparada. Eu 

acho que vais conseguir aguentar por uma hora.

Mas a Alice sabia muito bem a rapidez com que uma mente podia mudar.

- Porquê arriscar, Edward? - O Jasper perguntou. Embora ele não se quisesse sentir presunçoso 

por ser agora eu o fraco, eu conseguia ouvir que ele se sentia, só um bocado. - Vai para casa. 

Vai com calma.

- Qual é o problema? - O Emmett discordou. - Ou ele vai ou não a vai matar. É melhor acabar 

com isto de uma vez, de uma maneira ou da outra.

- Eu ainda não me quero mudar. - A Rosalie reclamou. – Não quero começar tudo de novo. 

Page 31: 1º capitulo

Estamos quase a acabar o liceu, Emmett. Finalmente.

Eu estava realmente dividido na decisão. Eu queria, queria muito, encarar isto de cabeça, e 

não fugir para longe outra vez. Mas também não me queria arriscar muito. Tinha sido um erro 

a semana passada para Jasper ficar tanto tempo sem caçar; será que isto também era um erro 

sem sentido?

Eu não queria afastar a minha família. Nenhum deles me ia agradecer por isso.

Mas eu queria ir para a minha aula de biologia. Apercebi-me que queria ver o rosto dela outra 

vez.

Foi isso que tomou a decisão. Aquela curiosidade. Estava irritado comigo mesmo por sentir 

isso. Não tinha prometido que não ia deixar que o silêncio da mente da rapariga me deixasse 

desnecessariamente interessado nela? E mesmo assim, aqui estava eu, ainda mais 

desnecessariamente interessado.

Eu queria saber o que é que ela estava a pensar. A mente dela era fechada mas os seus olhos 

eram muito abertos. Talvez eu pudesse ver por eles.

- Não, Rose, eu acho que vai ficar tudo bem. - A Alice disse. - Está… a firmar-se. Eu tenho 

noventa e três por cento de certeza de que nada de mau vai acontecer se ele for para a aula. - 

Ela olhou-me curiosamente, perguntando-se o que tinha mudado nos meus pensamentos que 

fez a sua visão do futuro muito mais segura.

Curiosidade seria o suficiente para manter a Bella Swan viva?

O Emmett tinha razão - por que não acabar com isto, de uma maneira ou de outra? Eu ia 

enfrentar a tentação de cabeça.

- Vão para as vossas aulas. - Ordenei, afastando-me da mesa. Virei-me e andei para longe deles 

sem olhar para trás. Conseguia ouvir a preocupação de Alice, a censura de Jasper, a aprovação 

de Emmett e a irritação de Rosalie a arrastarem-se às minhas costas.

Respirei fundo outra vez à porta da sala de aula, e segurei o ar nos meus pulmões enquanto 

entrava no espaço pequeno e quente.

Não estava atrasado. O Sr. Banner ainda estava arranjar tudo para a experiência de laboratório 

de hoje. A rapariga sentou-se na minha - na nossa mesa, a sua cara estava virada para baixo 

outra vez, a olhar para o caderno em que desenhava. Examinei os rabiscos quando me 

aproximei, até estava interessado naquela criação banal da sua mente, mas eram coisas sem 

sentido. Só ondas e mais ondas. Talvez ela não se estivesse a concentrar no padrão, mas a 

pensar noutra coisa qualquer?

Puxei a minha cadeira com um barulho desnecessário, deixando-a raspar no chão de linóleo; 

os humanos sentiam-se sempre mais confortáveis quando algum barulho anunciava a 

aproximação de qualquer outra pessoa.

Page 32: 1º capitulo

Eu sabia que ela tinha ouvido o som; não olhou para cima, mas a mão dela falhou numa onda 

do formato que ela estava a fazer, deixando-o torto.

Por que é que ela não olhou para cima? Provavelmente estava assustada. Tinha que garantir 

que a ia deixar com uma impressão diferente desta vez. Fazê-la pensar que antes, tinha 

imaginado coisas.

- Olá. - Disse na voz calma que usava quando queria deixar os humanos mais confortáveis, 

formando um sorriso educado com os meus lábios que não mostraria nenhum dente.

Ela olhou para cima então, os seus olhos atentos, castanhos e assustados - quase 

desorientados - e cheios de perguntas silenciosas. Era a mesma expressão que tinha obstruído 

a minha visão durante a última semana.

Enquanto encarava aqueles olhos castanhos estranhamente intensos, percebi que o ódio - o 

ódio que eu tinha imaginado que esta rapariga merecia por simplesmente existir - tinha 

evaporado. Agora sem respirar, sem sentir o seu cheiro, era difícil acreditar que alguém tão 

vulnerável pudesse justificar ódio.

As bochechas dela começaram a corar e ela não disse nada.

Mantive meus olhos nos dela, e concentrei-me só nas suas profundezas questionadoras, e 

tentei ignorar a cor apetitosa. Eu tinha fôlego o suficiente para falar mais um bocado sem 

inalar.

- Chamo-me Edward Cullen. - Disse, embora soubesse que ela sabia isso. Era a maneira mais 

educada de começar. - Não tive a oportunidade de me apresentar na semana passada. Deves 

ser a Bella Swan.

Ela pareceu confusa - tinha uma pequena ruga entre os olhos novamente. Levou meio segundo 

a mais do que devia para responder.

- Como é que sabes o meu nome? - Perguntou, e sua voz tremeu um bocado.

Eu devia tê-la realmente assustado. Isso fez-me sentir culpado; ela era tão indefesa. Ri-me 

gentilmente - era um som que eu sabia que deixava os humanos mais à vontade. Novamente, 

fui cuidadoso com meus dentes.

- Oh, acho que todos sabem o teu nome. – De certeza que ela tinha percebido que se tinha 

tornado o centro das atenções neste lugar monótono. – Toda a cidade tem estado a aguardar 

a tua chegada.

Ela fez uma careta como se aquela informação fosse desagradável. Supus que, sendo tímida 

como ela parecia ser, atenção ia parecer uma coisa má para ela. A maioria dos humanos sentia 

o oposto. Embora não se quisessem destacar numa multidão, ao mesmo tempo desejavam um 

holofote para as suas uniformidades individuais.

- Não. - Disse. – O que eu queria perguntar-te era por que motivo me chamaste Bella?

Page 33: 1º capitulo

- Preferes Isabella? - Perguntei, perplexo pelo facto de não conseguir ver onde é que ela queria 

chegar com aquela pergunta. Não entendi. Obviamente, ela deixou a sua preferência clara 

muitas vezes naquele primeiro dia. Será que todos os humanos eram incompreensíveis sem 

um contexto mental como guia?

- Não, gosto de Bella. - Respondeu, inclinando a cabeça levemente para um lado. A sua 

expressão - se eu estivesse a ler correctamente - estava dividida entre vergonha e confusão. - 

Mas julgo que o Charlie… quer dizer, o meu pai, deve chamar-me Isabella nas minhas costas. 

Parece que é por esse nome que todas as pessoas daqui me conhecem. - A sua pele ficou num 

tom de rosa mais escuro.

- Ah. - Disse indevidamente, e desviei rapidamente os meus olhos do seu rosto.

Tinha acabado de perceber o que as perguntas dela queriam dizer: eu tinha cometido um erro, 

um lapso. Se eu não tivesse ouvido todas as conversas dos outros naquele primeiro dia, então 

eu tinha-a chamado inicialmente pelo nome inteiro, como todos os outros. Ela tinha notado a 

diferença.

Senti-me desconfortável, ela foi muito rápida a perceber o meu erro. Bastante astuta, 

especialmente para alguém que deveria estar aterrorizada pela minha proximidade.

Mas eu tinha problemas maiores do que qualquer que fosse a suspeita que ela tivesse sobre 

mim na sua cabeça.

Eu estava a ficar sem ar. Se quisesse falar com ela de novo, eu ia ter que respirar.

Ia ser difícil evitar falar. Infelizmente para ela, compartilhar esta mesa tornava-a a minha 

parceira de laboratório, e hoje nós teríamos que trabalhar juntos. Seria estranho - e 

incompreensivelmente rude - ignorá-la enquanto fazíamos a experiência. Ia deixá-la mais 

suspeita, mais assustada…

Inclinei-me o mais longe possível dela sem mexer a minha cadeira, virando a minha cabeça 

para o corredor. Prendi-me, trancando os meus músculos no lugar, e então aspirei um rápido 

peito cheio de ar, respirando apenas pela minha boca.

Ah!

Era genuinamente doloroso. Mesmo sem sentir o cheiro dela, eu conseguia sentir o sabor dela 

na minha língua. A minha garganta de repente estava em chamas outra vez, a necessidade era 

tão forte como a daquele primeiro momento em que eu senti o cheiro dela.

Juntei os meus dentes e tentei recompor-me.

- Comecem. - O Sr. Banner ordenou.

Pareceu que foi preciso cada pequena partícula de auto-controle que tinha acumulado em 

setenta anos de trabalho árduo para virar minha cabeça para a rapariga, que estava a olhar 

para a mesa, e sorrir.

Page 34: 1º capitulo

- Primeiro, as senhoras, parceira? - Ofereci.

Ela olhou para minha expressão e seu rosto ficou vazio, os olhos arregalados. Havia algo de 

errado com a minha expressão? Ela estava assustada novamente? Ela não falou.

- Ou, se desejares, posso ser eu a começar. - Disse calmamente.

- Não. - Ela disse, e rosto dela passou de branco para vermelho outra vez. - Eu começo.

Olhei para o equipamento na mesa, o microscópio arranhado, a caixa de slides, em vez de ver 

o sangue a correr por baixo da pele clara dela. Inspirei outra vez rapidamente, pelos meus 

dentes, e recuei quando o gosto fez a minha garganta arder.

- Prófase. - Disse depois de um rápido exame. E começou a remover o slide, embora mal o 

tivesse visto.

- Importas-te que dê uma espreitadela? - Instintivamente - estupidamente, como se eu fosse 

da espécie dela – estendi-me para parar a mão que removia o slide. Por um segundo, o calor 

da sua pele queimou a minha. Foi como uma corrente eléctrica - certamente muito mais 

quente do que meros 37 graus. O tiro de calor passou pela minha mão e correu pelo meu 

braço. Ela puxou rapidamente a sua mão debaixo da minha.

- Desculpa. - Murmurei por entre dentes. Como precisava de algum lugar para olhar, segurei 

no microscópio e olhei brevemente pelo buraco. Ela estava certa.

- Prófase. - Concordei.

Eu ainda estava demasiado perturbado para olhar para ela. Enquanto respirava tão 

calmamente quanto conseguia por entre dentes cerrados, e ignorava a sede furiosa, eu 

tentava-me concentrar naquela simples tarefa, escrevendo a palavra no espaço adequado na 

ficha do laboratório, e trocava o primeiro slide pelo próximo.

O que é que ela estava a pensar agora? Como será que ela se sentiu, quando toquei na sua 

mão? A minha pele deve ter parecido gelo - repulsivo. Não me admirava que estivesse tão 

quieta.

Dei uma olhada no slide.

- Anáfase. - Disse para mim mesmo enquanto escrevia na segunda linha.

-Posso? - Ela perguntou.

Olhei para cima, para ela, surpreendido ao ver que ela estava à espera, na expectativa, uma 

mão meio estendida na direcção do microscópio. Ela não parecia estar com medo. Ela pensava 

realmente que eu tinha errado na resposta?

Não consegui evitar e sorri do seu olhar esperançoso no rosto dela enquanto lhe passava o 

microscópio.

Olhou para o microscópio com uma vontade que desapareceu logo. Os cantos da sua boca 

desceram rapidamente.

Page 35: 1º capitulo

- Passamos ao terceiro diapositivo? - Perguntou ela, sem olhar por cima do microscópio, mas 

com a mão estendida. Coloquei o slide seguinte na mão dela, sem deixar que a minha pele 

chegasse perto da dela desta vez. Sentar-me ao lado dela era como sentar-me ao lado de uma 

lâmpada. Conseguia sentir-me a aquecer ligeiramente graças à temperatura mais alta.

Ela não olhou para o slide por muito tempo. “Intérfase” disse de forma casual - talvez tentando 

demasiado soar assim - e empurrou o microscópio na minha direcção. Ela não tocou no papel, 

mas esperou que eu escrevesse a resposta. Eu verifiquei - ela estava correcta de novo.

Terminámos desta forma, a dizer uma palavra de cada vez sem nunca nos olharmos nos olhos. 

Nós éramos os únicos que tinham acabado - os outros da aula estavam a ter mais dificuldade 

com o laboratório. O Mike Newton parecia estar a ter problemas a concentrar-se - estava a 

tentar observar-me a mim e à Bella.

Quem me dera que ele tivesse ficado onde quer que tenha ido. Mike pensou, olhando-me com 

raiva. Hum, interessante. Não tinha reparado que o rapaz tinha mantido algum sentimento 

negativo em relação a mim. Isto era um novo acontecimento, tão recente quanto a chegada da 

nova rapariga. Ainda mais interessante, pensei - para minha própria surpresa - que o 

sentimento era mútuo.

Olhei para baixo para a rapariga outra vez, perplexo pelo tamanho da devastação e violência 

que, apesar de comum; sem ameaça aparente, ela estava a causar na minha vida.

Não era que eu não percebesse o que é que se passava com o Mike. Na realidade ela era 

bonita…de uma forma diferente. Melhor do que estar bonita, a sua cara estava interessante. 

Não bem simétrico. O seu queixo mais pontiagudo fora de sintonia com as maçãs do rosto 

largas, fortemente ruborizadas, o claro e escuro contraste da sua pele e o seu cabelo, e depois 

havia os olhos. A brilhar sobre segredos silenciosos.

Olhos que de repente estavam perdidos nos meus.

Olhei também para ela, tentando descobrir pelo menos um dos seus segredos.

- Puseste lentes de contacto? - Perguntou de repente.

Que pergunta estranha. “Não” Quase sorri com a ideia de tentar melhorar a minha visão.

- Oh - Murmurou. – Pensei que havia algo diferente nos teus olhos.

Senti-me gelado outra vez conforme notei que aparentemente eu não era o único a tentar 

descobrir segredos hoje.

É claro que havia algo diferente nos meus olhos desde a última vez que ela tinha olhado para 

eles. Para me preparar para hoje, para a tentação de hoje, passei o fim-de-semana inteiro a 

caçar, a matar a minha sede o máximo possível, mais do que o necessário. Afoguei-me no 

sangue de animais, não que fizesse muita diferença a enfrentar este absurdo sabor a flutuar ao 

redor do ar perto dela. Da última vez que tinha olhado para ela, os meus olhos tinham estado 

Page 36: 1º capitulo

pretos pela sede. Agora, como o meu corpo nadava em sangue, os meus olhos estavam com 

uma cor dourada. Castanho-claro, âmbar pelo meu excesso de alimento.

Outro lapso. Se eu me tivesse apercebido do que ela quis dizer com a pergunta, podia 

simplesmente ter dito que eram lentes.

Sentava-me ao lado de humanos há quase dois anos nesta escola, ela foi a primeira a tentar 

examinar-me perto o suficiente para notar a diferença da cor nos meus olhos. Os outros, 

enquanto admiravam a beleza da minha família, tinham a tendência de olhar para baixo 

rapidamente quando nós olhávamos de volta. Eles protegiam-se, bloqueavam detalhes das 

nossas aparências como uma tentativa forte e instintiva de nos entender. Ignorância era uma 

bênção para a mente humana.

Por que é que tinha de ser esta rapariga a ver tanto?

O Sr. Banner aproximou-se da nossa mesa. Eu agradeci o ar puro que ele trouxe consigo antes 

que se pudesse misturar com o cheiro dela.

- Então, Edward, - Disse enquanto olhava para as nossas respostas, - Não achaste que deveria 

ser dada à Isabella a oportunidade de utilizar o microscópio?

- À Bella – Corrigi-o por puro reflexo. - Na verdade, ela identificou três das cinco fases 

representadas nos diapositivos.

Os pensamentos de Mr. Banner eram cépticos enquanto se virava para ela. – Já realizaste este 

trabalho laboratorial?

Eu assisti, envolvido, quando ela sorriu, parecendo um pouco envergonhada.

- Com raiz de cebola, não

- Com blástula de coregono? - Perguntou.

- Sim.

Isso surpreendeu-o. A aula de hoje foi algo que ele foi buscar a um curso mais avançado. Ele 

assentiu pensativo. - Em Phoenix, estavas integrada num programa de colocação elevada?

- Estava.

Ela estava avançada, então, inteligente para uma humana. Isso não me surpreendeu.

- Bem – Disse o Sr. Banner, franzindo o lábio. – Suponho que o facto de vocês os dois serem 

parceiros de laboratório seja proveitoso.

Ele virou-se e foi embora a murmurar “Para que os outros possam ter uma oportunidade de 

aprender algo por eles mesmos.”. Eu duvidei que a rapariga conseguisse ouvir aquilo. Voltou a 

desenhar círculos à volta redor do caderno de apontamentos.

Dois lapsos em meia hora. Uma demonstração insatisfatória da minha parte. Apesar de que eu 

não tinha nenhuma ideia do que a rapariga pensava de mim - Quanto medo é que ela tinha, 

quanto é que ela suspeitava? Eu sabia que precisaria me esforçar mais daqui para a frente para 

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fazê-la mudar a opinião sobre mim. Alguma coisa que a fizesse esquecer do nosso último 

ameaçador encontro.

- Foi pena aquilo da neve, não foi? – Disse, repetindo o assunto que vários outros alunos já 

tinham discutido. Um tópico habitual e aborrecido. O tempo - sempre seguro.

Ela olhou para mim, a dúvida óbvia no seu olhar - uma reacção anormal para as minhas 

palavras muito normais. “Nem por isso” – Disse, surpreendendo-me outra vez.

Tentei direccionar a conversa de volta a um caminho mais comum. Ela era de um sítio muito 

mais claro, mais quente. A sua pele parecia reflectir isso de alguma maneira, apesar da sua 

palidez, e o frio devia fazê-la sentir-se desconfortável. O meu toque gelado com certeza tinha…

- O frio não te agrada. - Adivinhei.

- Nem o tempo chuvoso. - Assentiu.

- Deve ser difícil para ti viver em Forks. - Talvez não devesses ter vindo para cá, eu quis 

acrescentar. Talvez devesses voltar ao lugar de onde vieste.

Porém, eu não tinha a certeza se era isso que eu queria. Eu ir-me-ia lembrar sempre do cheiro 

do seu sangue – havia alguma garantia de que eu não a seguiria? Além disso, se ela se fosse 

embora, a sua mente ia ser sempre um mistério. Um constante e insistente quebra-cabeças.

- Nem fazes ideia. - Disse em voz baixa e senti-me carrancudo por um momento.

As suas respostas nunca eram o que eu esperava que fossem. Isso fez-me querer fazer mais 

perguntas.

- Então, porque vieste para cá? - Eu reclamei, percebendo que meu tom de voz era muito 

acusatório, não era casual o bastante para a conversa. A pergunta pareceu rude, intrometida.

- É… complicado.

Ela piscou os seus grandes olhos, não dando maiores informações, e eu quase explodi de 

curiosidade - a curiosidade queimou-me com uma força tão forte quanto a sede na minha 

garganta. Na realidade, estava a ficar um bocado mais fácil respirar; a agonia estava a ficar 

mais tolerável enquanto me familiarizava.

- Acho que consigo acompanhar-te. - Insisti. Talvez a cortesia comum a fizesse continuar a 

responder às minhas perguntas desde que fosse rude o suficiente para as perguntar.

Ela olhou silenciosamente para as mãos. Isso deixou-me impaciente; eu queria pôr a minha 

mão debaixo do seu queixo e levantar-lhe a cabeça para que pudesse ler os seus olhos. Mas 

fazer isso seria uma tolice da minha parte, perigoso, tocar na sua pele novamente.

Levantou os olhos subitamente. Era um alívio poder ver as emoções nos seus olhos outra vez. 

Ela falou apressadamente, a apressar-se nas palavras.

- A minha mãe casou pela segunda vez.

Ah, aquilo era humano o suficiente, fácil de entender. A tristeza passou pelos seus olhos 

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translúcidos e enrugou a testa outra vez.

- Não parece ser algo assim tão complexo. - Disse. A minha voz soou gentil sem que eu me 

esforçasse para isso. A sua tristeza fez-me sentir estranhamente impotente, a desejar que 

houvesse algo ao meu alcance para fazê-la sentir-se melhor. Um estranho impulso. - Quando é 

que isso aconteceu?

- No passado mês de Dezembro. - Expirou pesadamente - nada mais do que um suspiro. 

Sustive a minha respiração quando a sua respiração quente passou no meu rosto.

- E tu não gostas dele. - Supus, a pescar por mais informações.

- Não, o Phil é uma boa pessoa. - Disse, corrigindo a suposição. Havia a ponta de um sorriso 

agora nos cantos de seus lábios. – Talvez um pouco jovem de mais, mas bastante simpático.

Ok, isto não se encaixava com o cenário que tinha imaginado na minha cabeça.

- Porque não ficaste com eles? - Perguntei, a minha voz um pouco curiosa demais. Parecia que 

eu estava a ser bisbilhoteiro. E estava a ser, admito.

- O Phil viaja muito. Ganha a vida a jogar à bola. - O pequeno sorriso cresceu; aquela escolha 

de carreira divertia-a.

Eu sorri, também, sem escolher fazê-lo. Não estava a tentar fazê-la sentir-se à vontade. O seu 

sorriso apenas me fez querer sorrir de volta - fazer parte do segredo.

- Já ouvi falar dele? - Passei as fotos de posters de jogadores de basebol na minha cabeça, a 

perguntar-me qual deles era Phil…

- Provavelmente não. Ele não joga bem. - Outro sorriso. – Joga na segunda liga e desloca-se 

muito.

As caras na minha mente desapareceram instantaneamente e fiz uma lista de possibilidades 

em menos de um segundo. Ao mesmo tempo, estava a imaginar um novo cenário.

- E a tua mãe mandou-te para cá de modo a poder viajar com ele. - Disse. Fazer suposições 

parecia funcionar melhor com ela do que fazer perguntas. Funcionou de novo. O seu queixo 

elevou-se e sua expressão de repente ficou dura.

- Não, ela não me mandou para aqui. - Disse, e sua voz tinha novo tom, duro e irritado. A 

minha suposição tinha-a deixado triste, embora eu não conseguisse entender o porquê. – Vim 

por vontade própria.

Não consegui entender o motivo, ou a razão por detrás da sua tristeza. Eu estava 

completamente perdido.

Então desisti. Esta rapariga simplesmente não fazia sentido nenhum. Ela não era como os 

outros humanos. Talvez o silêncio dos seus pensamentos e o perfume do seu cheiro não 

fossem as únicas coisas incomuns nela.

- Não compreendo. - Admiti, odiando ceder.

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Ela suspirou, e olhou para os meus olhos por mais tempo do que a maioria dos humanos 

normais seriam capazes de suportar.

- A princípio, ficava comigo, mas sentia saudades dele. - Explicou devagar, com o seu toma ficar 

mais desesperado a cada palavra. – A separação fazia-a infeliz, logo, decidi que estava na 

altura de passar algum tempo útil com o Charlie.

A mínima ruga entre os seus olhos intensificou-se.

- Agora, porém, és tu quem está infeliz. - Murmurei. Eu não conseguia parar de dizer as minhas 

hipóteses em voz alta, desejando aprender com as suas reacções. Esta, porém, não parecia tão 

diferente do normal.

- E daí? - Disse, como se esse não fosse um aspecto que merecesse ser considerado.

Continuei a olhar-lhe para os olhos, e senti que finalmente tinha conseguido ter um vislumbre 

da sua alma. Vi naquela única palavra, onde ela se tinha posicionado na sua própria lista de 

prioridades. Ao contrário dos outros humanos, as suas próprias necessidades estavam bem 

abaixo da lista.

Ela era altruísta.

Enquanto reparava nisso, o mistério daquela pessoa escondida numa mente silenciosa 

começou a atenuar um bocado.

- Não parece ser justo. – Disse-lhe. Encolhi os ombros, tentando parecer casual, tentando 

omitir a intensidade da minha curiosidade.

Ela riu-se, mas não havia diversão no som. – Nunca ninguém te disse «A vida não é justa»?

Queria-me rir das suas palavras, embora também me não estivesse a divertir. Eu sabia um 

bocado sobre a injustiça da vida. – Creio já ter ouvido isso algures.

Ela olhou outra vez para mim, parecendo confusa. Desviou os olhos e depois olhou-me de 

novo.

- Então, é tudo. – Disse-me.

Mas eu não estava preparado para acabar esta conversa. O pequeno “V” entre os seus olhos, 

um resto da sua dor, incomodava-me. Eu queria arrancá-la com a ponta do meu dedo, mas 

obviamente não podia tocá-la. Isso não era seguro de várias formas.

- Disfarças bem. - Disse devagar, ainda a considerar a próxima hipótese. - Mas estaria disposto 

a apostar que estás a sofrer mais do que demonstras a todos.

Ela fez um esgar, os seus olhos apertados e sua boca torcendo-se num beicinho, e olhou outra 

vez para a frente da sala. Não gostou que eu tivesse adivinhado correctamente. Ela não era o 

típico mártir. Ela não queria uma plateia para a sua dor.

- Estou enganado?

Ela recuou um bocado, mas por outro lado fingiu não me ouvir.

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Isso fez-me sorrir. – Bem me pareceu que não.

- Por que é que isso te interessa? - Ela quis saber, ainda a olhar para longe.

- Essa é uma excelente pergunta. - Admiti, mais para mim mesmo do que para lhe responder.

O seu discernimento era melhor do que o meu. Ela estava bem no centro das coisas enquanto 

eu me debatia cegamente através das pistas. Os detalhes da sua vida muito humana não me 

deviam interessar. Era errado para mim interessar-me pelo que ela pensava. A não ser que 

fosse para proteger a minha família, pensamentos humanos não eram significantes.

Eu não estava habituado a ser o menos intuitivo num par. Confiei demasiado no meu “ouvido 

extra”. Obviamente que não era tão perceptivo como eu achei que fosse.

A rapariga suspirou e ficou carrancuda a encarar a frente da sala. Algo na sua expressão 

frustrada era engraçado. A situação em si, toda a conversa era engraçada. Nunca ninguém 

tinha estado tão em perigo por minha causa como esta pequena rapariga. A qualquer 

momento eu podia, distraído pela minha ridícula absorção na nossa conversa descontrolar-me 

e atacá-la antes que me conseguisse segurar, e ela estava irritada porque eu não lhe tinha 

respondido à pergunta.

- Estou a aborrecer-te? - Perguntei, a rir-me do absurdo daquilo tudo.

Ela deu-me uma olhadela rapidamente, e depois os seus olhos ficaram presos no meu olhar.

- Não propriamente. - Disse. - Estou mais aborrecida comigo mesma. Sou tão transparente, a 

minha mãe chama-me sempre o seu livro aberto.

Ela franziu as sobrancelhas de mau humor.

Olhei para ela, divertindo-me. A razão de ela estar de mau humor era porque pensava que eu 

vi através dela muito facilmente. Que bizarro. Nunca me tinha esforçado tanto para 

compreender alguém em toda a minha vida, ou existência, já que vida não era a palavra 

adequada. Eu não tinha realmente uma vida.

- Pelo contrário. - Discordei, sentindo-me estranhamente… cauteloso, como se houvesse algum 

perigo escondido que eu não conseguia ver. Subitamente, estava no limite da corda bamba, a 

premonição a deixar-me ansioso. – Considero-te muito opaca.

- Então, deves ser um bom avaliador de carácter. - Supôs, fazendo a sua própria suposição, que 

estava novamente correcta.

- Normalmente. - Concordei.

Dei-lhe um largo sorriso, deixando que os meus lábios se retorcessem para expor os dentes 

cintilantes e afiados atrás deles.

Foi algo estúpido de fazer, mas fiz repentinamente, inesperadamente desesperado para 

expressar algum tipo de aviso para a rapariga. O seu corpo estava mais perto de mim do que 

antes, inconscientemente deslocado no decorrer da nossa conversa. Todos os pequenos 

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marcadores e sinais que eram suficientemente assustadores para o resto da humanidade, não 

resultavam com nela. Por que é que ela não se encolheu para longe de mim aterrorizada? De 

certeza que já deve ter visto bastante do meu lado sombrio para perceber o perigo, ela parecia 

ser intuitiva.

Não reparei se o meu aviso teve o efeito desejado, o Mr. Banner disse para a turma prestar 

atenção apenas por aquele momento, e ela virou-se de mim. Ela parecia um bocado aliviada 

pela interrupção, portanto talvez tenha compreendido inconscientemente.

Eu esperava que sim.

Eu reconheci o fascínio a crescer dentro de mim, mesmo enquanto tentava fazê-lo sair. Eu não 

me podia dar ao luxo de achar a Bella Swan interessante. Ou melhor, ela não se podia dar ao 

luxo. Eu já estava ansioso por alguma outra oportunidade de falar com ela… Eu queria saber 

mais sobre a sua mãe, a sua vida antes de chegar aqui, o seu relacionamento com seu pai. 

Todos as coisas sem sentido que poderia acrescentar detalhes ao seu carácter. Mas cada 

segundo que eu gastava com ela era um erro, um risco que ela não sabia que estava a correr.

Distraidamente, lançou o cabelo para trás das costas mesmo no momento em que tinha 

permitido a mim mesmo dar outra respiração. Uma onda particularmente concentrada do seu 

cheiro atingiu a minha garganta.

Foi como no primeiro dia, como a bola destrutiva. A dor que queimava e a sede fez-me ficar 

tonto. Tive de agarrar a mesa outra vez para manter o meu corpo na cadeira. Agora eu tinha 

ligeiramente um bocado mais de controlo. Não parti nada, ao menos isso… O monstro rosnou 

dentro de mim, mas não gostou da minha dor. Ele também estava preso. Por agora.

Parei de respirar completamente, e inclinei-me o mais longe possível da rapariga.

Não, eu não me podia dar ao luxo de achá-la fascinante…Quanto mais fascinante a achava, 

mais provável era que a matasse. Eu já tinha cometido dois pequenos deslizes hoje. Teria de 

cometer um terceiro, que não seria nada pequeno?

Mal a campainha tocou, abandonei a sala, provavelmente destruindo qualquer boa impressão 

que tinha construído no decorrer da aula. De novo, eu ofeguei pelo ar limpo, húmido lá de 

fora, como se fosse uma cura para alguma coisa. Apressei-me a criar o máximo de distância 

possível entre a rapariga e eu.

O Emmett estava à minha espera na porta da sala de Espanhol. Leu a minha expressão louca 

por um momento.

Como é que correu? Perguntou cautelosamente.

-Ninguém morreu. - Resmunguei.

Suponho que isso é alguma coisa. Quando vi a Alice a andar por aqui no fim, eu pensei…

Enquanto andávamos para a sala, vi a sua memória de apenas alguns momentos atrás, vista 

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pela porta aberta da sua última aula: A Alice de olhos desfocados a andar em direcção ao 

prédio de biologia. Senti a sua vontade relembrada de ir lá e juntar-se a ela, e depois senti a 

sua decisão em ficar. Se Alice precisasse da sua ajuda, ela iria pedir…

Fechei os meus olhos com horror e desgosto enquanto me sentava na minha cadeira.

- Não me apercebi que estive assim tão perto. Não pensei que fosse… Não vi que estava assim 

tão mau. - Sussurrei.

Não estava, ele assegurou-me. Ninguém morreu, certo?

- Certo. - Disse entre os dentes. – Desta vez não.

Talvez fique mais fácil.

- Claro.

Ou, talvez a mates. Encolheu os ombros. Não serias o primeiro a fazer asneira. Ninguém te 

julgaria de uma forma dura. Às vezes uma pessoa apenas cheira muito bem. Estou 

impressionado que tenhas resistido tanto tempo.

- Não estás a ajudar, Emmett.

Eu estava revoltado com a sua aceitação da ideia de que eu mataria a rapariga, de que isso era 

de algum modo, inevitável. Ela tinha culpa de cheirar tão bem?

Eu sei quando me aconteceu… Ele lembrou-se, trazendo à tona metade de um século, para 

uma rua suja, onde uma mulher de meia-idade estava a tirar os seus lençóis secos de um 

estendal amarrado entre duas macieiras. O cheiro a maçãs era forte no ar, a colheita tinha 

acabado e as frutas rejeitadas estavam espalhadas pelo chão, os buracos nas cascas deixavam 

escapar as suas fragrâncias como grossas nuvens. Um campo recém cortado de feno era um 

fundo de paisagem para o cheiro, a harmonia. Ele andou pela rua, indiferente à mulher, para 

fazer um recado de Rosalie. O céu lá em cima estava púrpura, laranja acima das árvores. Ele 

teria continuado a andar pelo caminho das carroças e não haveria nenhuma razão para 

lembrar-se daquela tarde, não fosse por uma repentina brisa que soprou os lençóis brancos 

como velas e levou o cheiro da mulher até o rosto de Emmett.

-Ah. - Gemi calmamente. Como se a minha própria sede não fosse o suficiente.

Eu sei. Eu não durei nem metade de um segundo. Eu nem pensei sequer em resistir.

A sua memória tornou-se demasiado explícita para eu aguentar.

Saltei da cadeira, os meus dentes trincaram-se fortemente o suficiente para cortar aço.

- Esta bien, Edward? - Señora Goff perguntou, assustada pelo meu brusco movimento. 

Conseguia ver o meu rosto na sua mente, e eu sabia que eu parecia longe de estar bem.

- Me perdona. - Murmurei, enquanto me lançava pela porta.

- Emmett, por favor, puedas tu ayuda a tu hermano? - Perguntou, gesticulando sem solução 

para mim enquanto eu me apressava para sair da sala.

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- Claro. – Ouviu-o dizer. E já estava bem atrás de mim.

Seguiu-me até o lado mais longe do edifício, onde me alcançou e pôs a mão no meu ombro.

Empurrei a mão dele para longe com uma força desnecessária. Teria quebrado os ossos de 

uma mão humana, e os ossos do braço ligados a ela.

- Desculpa, Edward.

- Eu sei. - Dei profundos suspiros, à procura de ar, tentando clarear a minha cabeça e os meus 

pulmões.

- É tão mau como aquilo? - Perguntou, tentando não pensar no cheiro e no sabor na sua 

memória enquanto perguntava, não tendo muito sucesso.

- Pior, Emmett, pior.

Ele ficou quieto por um instante.

Talvez…

- Não, não ia ser melhor se eu acabasse logo com isto. Volta para a sala, Emmett. Eu quero 

ficar sozinho.

Virou-se sem dizer nenhuma palavra ou pensamento e caminhou rapidamente. Ele ia dizer à 

professora de Espanhol que eu estava doente, ou a baldar-me, ou dizer que eu era um vampiro 

perigosamente fora de controlo. A desculpa dele realmente importava? Talvez eu não voltasse. 

Talvez eu tivesse que partir.

Voltei para o meu carro novamente, para ficar à espera do fim da escola. Para me esconder, 

novamente.

Eu podia ter usado o tempo para fazer decisões ou tentar reforçar a minha explicação, mas, 

como um vício, eu vi-me à procura através dos murmúrios de pensamentos que emanavam do 

prédio da escola. As vozes familiares destacaram-se, mas agora eu não estava interessado em 

dar ouvidos às visões de Alice ou às reclamações de Rosalie. Encontrei a Jessica facilmente, 

mas a rapariga não estava com ela, então continuei à procura. Os pensamentos de Mike 

Newton chamaram a minha atenção, e eu acabei por a encontrar, num ginásio com ele. Ele 

estava triste, porque eu conversei com ela na aula de Biologia. Ele estava a pensar sobre a sua 

reacção à conversa quando algo surgiu do nada…

Eu nunca o vi a conversar com ninguém a não ser uma palavra aqui ou ali. Claro que ele 

acabou por achar a Bella interessante. Não gosto da maneira que ele olha para ela. Mas ela 

não parece estar muito interessada nele. O que é que ela disse? “Pergunto-me o que tinha ele 

na passada segunda-feira.” Algo assim. Não parece que ela se tenha importado. Não deve ter 

sido uma grande conversa…

Falou consigo mesmo, a convencer-se a não ser pessimista daquela maneira, feliz pela ideia de 

que Bella não estava interessada na sua troca de palavras comigo. Isso incomodou-me um 

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pouco mais do que o aceitável, então parei de ouvi-lo.

Pus um CD com música violenta no leitor, e aumentei o som até que não conseguisse ouvir 

mais vozes. Tinha de me concentrar bastante na música para me manter longe dos 

pensamentos de Mike Newton, para espiar a rapariga inocente…

Fiz batota algumas vezes, enquanto chegava o fim da aula. Não estava a espiar, tentava 

convencer-me. Eu estava apenas a preparar-me. Queria saber exactamente quando é que ela 

ia sair do ginásio, quando estivesse no estacionamento… Eu não queria ser surpreendido.

Enquanto os estudantes começavam a sair das portas do ginásio, eu saía do meu carro, sem 

saber por que é que fiz aquilo. A chuva estava fraca - ignorei isso enquanto estava lentamente 

a saturar o meu cabelo.

Eu queria que ela me visse aqui? Estava à esperava que ela viesse e falasse comigo? O que é 

que eu estava a fazer?

Não me mexi, apesar de ter tentado convencer-me a mim mesmo a voltar para o carro, sabia 

que o meu comportamento era repreensível. Mantive os meus braços sobre o meu peito e 

respirei bem devagar enquanto a observava passar devagar por mim, os seus lábios caídos nas 

extremidades. Ela não olhou para mim. Algumas vezes lançou os olhos em direcção às nuvens 

com uma careta, como se a ofendessem.

Estava desapontado quando chegou ao seu carro antes de passar por mim. Será que teria 

falado comigo? Será que teria falado com ela?

Entrou numa carrinha vermelha suja da Chevy, um monstro robusto que era mais velha que o 

seu pai. Observei-a a arrancar a carrinha. O motor velho roncou mais alto que qualquer veículo 

no estacionamento. E então, pôs as mãos em direcção ao vento quente. O frio era 

desconfortável para ela, não gostava nem um pouco disso. Passou os seus dedos pelos cabelos 

emaranhados, esticando os nós através da corrente de ar quente, como se o estivesse a secar. 

Eu imaginei como seria o cheiro daquele compartimento da carrinha, e rapidamente me desfiz 

desse pensamento.

Ela olhou ao redor enquanto se preparava para fazer marcha a trás, e finalmente olhou na 

minha direcção. Olhou para mim por apenas meio segundo, e tudo o que consegui ler nos seus 

olhos foi surpresa, antes de virar os olhos para outro lado e passar a marcha-atrás. E então 

travou repentinamente, e a traseira da carrinha ficou a alguns centímetros de bater no carro 

de Erin Teague.

Espreitou pelo espelho retrovisor, a sua boca estava aberta com o constrangimento. Quando o 

outro carro passou por ela, olhou todos os pontos cegos duas vezes e então saiu da área do 

estacionamento tão cuidadosamente que me fez sorrir. Era como se pensasse que a sua 

carrinha decrépita fosse perigosa.

Page 45: 1º capitulo

O pensamento de Bella Swan poder fazer mal a alguém, independentemente do que estivesse 

a conduzir, fez-me rir quando a rapariga passou mesmo por mim, a olhar fixamente para a 

frente.

3º Capitulo - Fenómeno

Sinceramente, eu não estava sedento, mas decidi caçar novamente naquela noite. Uma 

pequena quantidade para prevenir.

O Carlisle veio comigo, não estávamos juntos sozinhos desde que voltei de Denali. Enquanto 

corríamos pela floresta negra, eu ouvi-o a pensar sobre aquele rápido adeus da semana 

passada.

Na sua memória, vi a maneira com que as minhas feições se tinham contraído num feroz 

desespero. Senti-o a surpreender-se e repentinamente a preocupar-se.

“Edward?”

“Eu tenho que ir Carlisle. Tenho que ir agora.”

“O que é que aconteceu?”

“Nada. Ainda. Mas irá acontecer se eu ficar.”

Ele alcançou o meu braço. Senti como o magoei quando recusei a mão.

“Eu não entendo.”

“Já alguma vez… já houve algum momento…”

Vi-me a dar um profundo suspiro, vi a selvagem luz dos meus olhos através do filtro da 

preocupação dele.

“Já alguma pessoa cheirou melhor para ti do que o resto das pessoas? Muito melhor?”

“Oh.”

Quando percebi que ele tinha entendido, o meu rosto descaiu com vergonha. Ele alcançou-me 

para me tocar, ignorando quando eu recuei de novo, e deixou a sua mão no meu ombro.

“Faz o que puderes para resistir, filho. Vou sentir a tua falta. Aqui, leva o meu carro. É mais 

rápido.”

Ele estava a perguntar-se agora se antes tinha feito a coisa certa, mandando-me para longe. 

Estava a perguntar-se se me tinha magoado com a sua falta de confiança.

“Não,” Sussurrei enquanto corria. “Aquilo era o que eu precisava. Poderia ter traído a tua 

confiança tão rapidamente se me tivesses dito para ficar.”

“Eu lamento que estejas a sofrer, Edward. Mas tens de fazer o que puderes para manter a 

criança Swan viva. Mesmo se isso signifique que terás que nos deixar novamente.”

“Eu sei, eu sei.”

Page 46: 1º capitulo

“Por que é que voltaste? Sabes o quão feliz fico por te ter aqui, mas se isso é muito difícil…”

“Eu não gostei de me sentir um cobarde,” Admiti.

Nós abrandámos. Estávamos praticamente a caminhar através da escuridão agora.

“Melhor isso do que colocá-la em perigo. Ela vai partir dentro de um ano ou dois.”

“Tens razão, eu sei disso.” – Mas, pelo contrário, as palavras dele apenas me deixaram mais 

ansioso para ficar. A rapariga ia-se embora num ano ou dois…

O Carlisle parou de correr e eu parei com ele; ele virou-se para examinar a minha expressão.

Mas não te vais embora, não é?

Eu deixei cair a cabeça.

É por orgulho, Edward? Não há que ter vergonha por…

“Não, não é o orgulho que me prende aqui. Não agora.”

Sem lugar para ires?

Ri-me levemente. “Não. Isso não me iria impedir se quisesse realmente ir embora.”

“Nós vamos contigo, claro, se for isso que precisas. É só dizeres. É só pedires. Eles não terão 

má vontade com isso.”

Ergui uma das sobrancelhas.

Ele riu-se. “Sim, A Rosalie provavelmente teria, mas ela deve-te isso. Seja como for, é muito 

melhor para nós, irmos agora, sem ter causado nenhum dano, do que irmos mais tarde, depois 

de uma vida ter acabado” Todo o humor tinha acabado.

Fiquei com medo das suas palavras.

“Sim,” Concordei. A minha voz soou rouca.

Mas não vais partir?

Suspirei. “Eu devia.”

“O que é que te prende aqui, Edward? Não consigo entender…”

“Não sei se consigo explicar…” Mesmo para mim, não fazia sentido.

Ele mediu a minha expressão por um longo tempo.

Não, eu não consigo entender. Mas vou respeitar a tua privacidade, se preferes.

“Obrigado. É generoso da tua parte, visto que não dou privacidade a ninguém.” Com uma 

excepção. E eu ia fazer o que podia para impedir isso, não ia?

Todos nós temos as nossas peculiaridades. Ele riu-se novamente. Vamos?

Ele tinha acabado de sentir o rasto de um pequeno rebanho de veados. Era difícil reunir muito 

entusiasmo pelo que era, mesmo nas melhores circunstâncias, era um aroma que fazia tudo 

menos dar água na boca. Agora, com a memória do sangue fresco da rapariga na minha 

cabeça, este cheiro revirava-me o estômago.

Suspirei. “Vamos” - Concordei, apesar de saber que forçar mais sangue pela minha garganta 

Page 47: 1º capitulo

não ia ajudar muito.

Ambos assumimos uma posição de caça e deixámos que o rasto guiasse e nos puxasse em 

silêncio para a frente.

 

Estava mais frio quando voltámos para casa. A neve derretida tinha congelado novamente; era 

como se um fino lençol de vidro cobrisse tudo - cada ponta de pinheiro, cada folha das plantas, 

cada lâmina de relva estava congelada.

Enquanto Carlisle se foi vestir para o seu primeiro turno no hospital, eu fiquei perto do rio, à 

espera que o sol nascesse. Sentia-me quase inchado com tanto sangue que tinha consumido, 

mas eu sabia que a falta de sede ia significar pouco quando me sentasse ao lado da rapariga 

outra vez.

Frio e estático como a pedra em que me sentei, encarei a água fria que corria ao lado da 

margem congelada, vi além daquela cena.

O Carlisle estava certo. Eu devia deixar Forks. Eles podiam espalhar alguma história para 

explicar a minha ausência. Intercâmbio na Europa. A visitar parentes distantes. Fuga 

adolescente. A história não importava. Ninguém ia questionar muito.

Ia demorar apenas um ano ou dois para que a rapariga desaparecesse. Ela ia seguir em frente 

com a vida dela. Ela tinha que seguir em frente com sua vida. Iria para a faculdade nalgum 

lugar, ia ficar mais velha, começar uma carreira, possivelmente até se ia casar com alguém. Eu 

conseguia imaginar isso. Conseguia ver a rapariga toda vestida de branco a andar num passo 

medido, de braço dado com o seu pai.

Foi estranho, a dor que aquela imagem me causou. Não conseguia entender aquilo. Eu estava 

com ciúmes, por que ela tinha um futuro que eu nunca iria ter? Aquilo não fazia sentido. Todos 

os humanos à minha volta tinham o mesmo potencial. Uma vida, e eu raramente tinha parado 

para os invejar.

Eu devia deixá-la com o seu futuro. Parar de arriscar a vida dela. Essa era a coisa mais acertada 

a fazer. O Carlisle escolhia sempre a maneira certa. Eu devia ouvi-lo agora.

O sol apareceu atrás das nuvens, e a luz fraca brilhou no vidro congelado

Mais um dia, decidi. Eu ia vê-la mais uma vez. Podia lidar com aquilo. Talvez mencionasse o 

meu desaparecimento pendente, preparar a história.

Isto ia ser difícil. Conseguia sentir isso na pesada relutância que já me estava a fazer pensar em 

desculpas para dar, para estender o prazo limite por dois dias, três, quatro… Mas eu ia fazer a 

coisa certa. Eu sabia que tinha de confiar no aviso de Carlisle. E eu também sabia que podia ser 

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muito difícil tomar a decisão certa sozinho.

Demasiado difícil. Quanta desta relutância vinha da minha obsessiva curiosidade, e quanta 

vinha do meu insatisfeito apetite?

Fui para dentro para trocar de roupa, para ir à escola.

A Alice estava à minha espera, sentada no topo das escadas do terceiro andar.

Vais-te embora outra vez. – Acusou-me.

Suspirei e acenei com a cabeça

Não consigo ver para onde é que estás a ir desta vez.

“Ainda não sei para onde é que vou” - Sussurrei.

Eu quero que fiques.

Balancei minha cabeça.

Talvez eu e Jazz pudéssemos ir contigo?

“Eles vão precisar mais de ti agora, se não estiver aqui para olhar por eles. E pensa na Esme. Ias 

levar metade da família embora de uma vez?”

Vais fazê-la ficar tão triste.

“Eu sei. Por isso é que tens que ficar.”

Não é o mesmo sem ti aqui, sabes disso.

“Sim. Mas eu tenho que fazer o que é certo.”

Mas há várias maneiras certas, e muitas erradas, não há?

Por um curto momento ela foi até uma das suas estranhas visões; assisti juntamente com ela 

enquanto as imagens indistintas apareciam e giraram. Vi-me a mim mesmo dentro dessas 

visões com estranhas sombras que eu não conseguia compreender, enubladas, formas 

imprecisas.

E então, de repente, a minha pele estava a brilhar à luz do sol numa pequena e aberta clareira. 

Eu conhecia aquele lugar. Mas havia uma figura na clareira comigo, mas novamente, era 

indistinta, não havia ali o suficiente para reconhecer. As imagens tremeram e desapareceram 

quando um milhão de pequenas escolhas rearranjaram o futuro outra vez.

“Não percebi muito disso” – Disse-lhe quando a visão ficou escura.

Nem eu. O teu futuro está a mudar e mudar tanto que eu não consigo acompanhar. Mas eu 

acho que…

Ela parou, e vagueou por uma vasta colecção de outras visões recentes para mim. Eram todas 

iguais - borradas e vagas.

“Mas eu acho que algo está a mudar” - Disse em voz alta. “A tua vida parece estar numa 

encruzilhada.”

Ri-me, austero. “Tens noção de que agora soas a uma cigana mentirosa num parque de 

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diversões, certo?”

Ela mostrou-me a sua pequena língua.

“Mas hoje está tudo bem, não é?” - Perguntei, com a minha voz abruptamente apreensiva.

“Não te vejo a matar ninguém hoje,” – Garantiu-me.

“Obrigado, Alice.”

“Vai mudar de roupa. Não vou dizer nada. Vou deixar que contes aos outros quando estiveres 

pronto.”

Ela levantou-se e seguiu escada abaixo, os seus ombros um pouco curvados. Vou sentir a tua 

falta. Muito.

Sim, eu também ia sentir a falta dela.

Foi uma viagem calma até à escola. O Jasper conseguia perceber que a Alice estava chateada 

com alguma coisa, mas ele sabia que se ela quisesse falar sobre isso já o teria feito. O Emmett 

e Rosalie estavam distraídos, a ter outro dos seus momentos, a olhar nos olhos um do outro 

com admiração. Era um tanto ou quanto nojento de se assistir pelo lado de fora. Nós todos já 

sabíamos o quão desesperadamente apaixonados eles estavam. Ou talvez eu apenas estivesse 

amargo por ser o único sozinho. Alguns dias eram piores do que outros de se conviver com três 

casais perfeitos e apaixonados. Este era um desses dias.

Talvez eles fossem mais felizes sem mim por perto, com o meu mau temperamento, mau e 

hostil como o idoso que eu devia ser por agora.

Claro, a primeira coisa que fiz quando chegámos à escola foi procurar a rapariga. Apenas para 

me preparar novamente.

Certo.

Era embaraçoso como o meu mundo de repente parecia estar vazio de tudo, menos dela. Toda 

a minha existência centrada à volta daquela rapariga, em vez de mim mesmo.

Mas realmente, era fácil de entender. Depois de oitenta anos da mesma coisa, todos os dias, 

todas as noites, qualquer mudança era motivo de interesse.

Ela ainda não tinha chegado, mas eu conseguia ouvir o barulho dos travões do motor da sua 

carrinha ao longe. Encostei-me ao lado do carro para esperar. A Alice esperou comigo, 

enquanto os outros foram directamente para as suas aulas. Estavam aborrecidos com a minha 

fixação. Era incompreensível para eles como qualquer humano podia despertar tanto interesse 

em mim por tanto tempo, independentemente de quão delicioso o cheiro dela fosse.

A rapariga entrou aos poucos no meu campo de visão, os seus olhos estavam na estrada e as 

suas mãos a segurar o volante com força. Parecia estar ansiosa com alguma coisa. Levei um 

segundo a entender o que é que esse algo era, para perceber que todos os humanos tinham a 

mesma expressão hoje. Ah, a estrada estava escorregadia por causa do gelo, e eles estavam 

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todos a conduzir com cuidado. Eu conseguia perceber que ela levava o risco a sério.

Aquilo parecia encaixar-se no pouco que eu já aprendera sobre a sua personalidade. Adicionei 

aquilo à pequena lista: ela era uma pessoa séria, responsável.

Estacionou não muito longe de mim, mas ainda não tinha notado a minha presença, a olhar 

para ela. Perguntei-me sobre o que ela iria fazer quando percebesse. Iria corar e ir embora?

Aquele era o meu primeiro palpite. Mas talvez ela olhasse para mim também. Talvez ela viesse 

falar comigo.

Inspirei fundo, a encher os meus pulmões, esperançoso, apenas por precaução.

Ela saiu da cabina da carrinha com cuidado, testando o chão escorregadio antes que pusesse o 

seu peso todo nele. Não olhou para cima, e isso frustrou-me. Talvez eu devesse falar com ela…

Não, isso seria errado.

Em vez de se virar em direcção à escola, ela caminhou até a traseira da carrinha, segurando-se 

na parte lateral dela de uma forma atrapalhada, não confiando nos seus passos. Isso fez-me 

sorrir, e eu senti os olhos de Alice na minha cara. Não ouvi o que quer que fosse que aquilo a 

fez pensar. Eu estava a divertir-me muito a observar a rapariga a olhar para as correntes nos 

pneus. Ela parecia realmente que estava prestes a escorregar, da maneira que seus pés 

deslizavam no chão. Mais ninguém parecia ter o mesmo problema. Será que ela tinha 

estacionado na pior parte do gelo?

Parou por um momento, e olhou para os pneus com uma expressão estranha no rosto. Era… 

emocional? Como se algo em relação aos pneus a deixasse… emocionada?

Novamente, a curiosidade magoou-me como a sede. Era como se eu precisasse de saber o que 

é que ela estava a pensar, como se mais nada importasse.

Eu ia falar com ela. Parecia que precisava de uma ajuda de qualquer das maneiras, pelo menos 

até que estivesse fora da zona escorregadia de gelo. Claro, eu não lhe podia oferecer isso não 

é? Hesitei, dividido. Tão adversa que ela parecia em relação à neve, dificilmente ia achar 

agradável o toque das minhas mãos brancas e frias. Eu devia ter trazido luvas…

“NÃO!” Alice ofegou alto.

Instantaneamente, li os seus pensamentos, a imaginar que eu devia ter feito uma escolha 

errada, e que ela me tinha visto a fazer algo imperdoável. Mas não tinha rigorosamente nada a 

ver comigo.

O Tyler Crowley decidiu fazer a curva do estacionamento rápido demais. Essa escolha ia fazê-lo 

deslizar no gelo…

A visão aconteceu menos de meio segundo da realidade. A carrinha de Tyler virou a esquina 

enquanto eu assistia ao final que deixou a Alice sem fôlego.

Não, esta visão não tinha nada a ver comigo, mas ainda assim tinha tudo a ver comigo, porque 

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a carrinha de Tyler - com os pneus agora a tocar no gelo no pior ângulo possível - ia rodopiar 

pelo estacionamento e bater na rapariga que se tornara o centro não intencional do meu 

mundo.

Mesmo sem que a Alice previsse, teria sido fácil adivinhar a trajectória do veículo, a sair do 

controlo de Tyler.

A rapariga, parada exactamente no lugar errado da traseira da carrinha, olhou para cima, 

confusa com o barulho dos pneus a raspar no asfalto. Ela olhou directamente para os meus 

olhos horrorizados, e virou-se para observar a sua morte iminente.

Ela, não! As palavras gritaram na minha mente, como se pertencessem a outra pessoa.

Ainda preso aos pensamentos de Alice, percebi que a visão de repente se tinha mudado, mas 

não tive tempo para ver o que ia acontecer.

Lancei-me pelo estacionamento, mandando-me entre a carrinha desgovernada e a rapariga 

petrificada. Movimentei-me tão depressa que tudo parecia desfocado, menos o objecto em 

que eu estava focado. Ela não me viu, nenhum olho humano conseguiria acompanhar a minha 

movimentação, ela ainda estava a encarar a sombra que estava prestes espalmar-lhe o corpo 

na estrutura metálica de sua carrinha.

Agarrei-a pela cintura, movendo-me com demasiada urgência para ser tão gentil quanto devia. 

No centésimo de segundo entre o tempo que levei para tirá-la do caminho da morte e o tempo 

que levei para cair no chão com ela nos meus braços, eu estava vividamente consciente da 

fragilidade do seu corpo.

Quando ouvi a sua cabeça a bater contra o gelo, senti-me como se me tivesse tornado gelo 

também.

Mas eu não tinha nem sequer um segundo inteiro para me certificar da sua condição. Ouvi a 

carrinha atrás de nós, a girar barulhenta enquanto batia no corpo metálico da pick-up da 

rapariga. Estava a mudar de direcção, virando-se, a vir até ela outra vez, como se ela fosse um 

íman, a puxá-la para nós.

Uma palavra que nunca tinha dito na presença de uma senhora escapou-se entre os meus 

dentes cerrados.

Eu já tinha feito demasiado. Enquanto quase voava pelo ar para a tirar do caminho, eu estava 

consciente do erro que estava a cometer. Saber que era um erro não me impediu, mas eu não 

estava alheio ao risco que estava a correr. Não apenas para mim, mas para toda a minha 

família.

Exposição.

E isto certamente que não ia ajudar, mas não havia a menor hipótese de eu deixar a carrinha 

obter sucesso na sua segunda tentativa de tirar a vida da rapariga.

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Larguei-a e levantei as minhas mãos, agarrando a carrinha antes que ela conseguisse tocar na 

rapariga. A força do movimento lançou-me contra o carro parado ao lado da pick-up, e eu 

conseguia sentir sua forma a afundar-se pelos meus ombros. A carrinha tremeu contra o 

obstáculo que eram os meus braços, e depois abanou, balançando instável nos dois pneus 

mais afastados.

Se eu mexesse as mãos, o pneu traseiro da carrinha ia cair nas pernas dela.

Oh, pelo amor de tudo o que é sagrado, será que as catástrofes nunca iam acabar? Havia mais 

alguma coisa para correr mal? Eu não podia ficar ali, a segurar a carrinha no ar, e ficar à espera 

de resgate. Nem podia mandar a carrinha para longe. Tinha de considerar o motorista, com os 

seus pensamentos incoerentes pelo pânico.

Com um rugido interno, empurrei a carrinha para que ela se afastasse de nós por um instante. 

Assim que se balançou outra vez na minha direcção, segurei-a por debaixo do pára-choques 

com a minha mão direita enquanto enrolava outra vez o meu braço esquerdo à volta da 

cintura da rapariga e a arrastava de debaixo da carrinha, puxando-a apertada ao meu lado. O 

seu corpo mole moveu-se enquanto eu a virava para que as suas pernas estivessem livres. Será 

que ela estava consciente? Quantos danos ter-lhe-ia infligido na minha desastrosa tentativa de 

resgate?

Deixei a carrinha cair, agora que já não a podia mais magoar. Ela bateu no pavimento, as 

janelas partiram-se em uníssono.

Eu sabia que estava no meio de uma crise. Quanto é que ela teria visto? Mais alguém me tinha 

visto aparecer ao lado dela e depois a agarrar a carrinha enquanto tentava tirar a rapariga lá 

de baixo? Essas questões deviam ser minha maior preocupação.

Mas eu estava demasiado ansioso para me importar realmente com a ameaça de exposição 

como devia. Demasiado em pânico por saber que a podia ter magoado com o meu esforço em 

protegê-la. Demasiado assustado por tê-la tão próxima a mim, sabendo que assim eu ia sentir 

o seu cheiro se me permitisse respirar. Estava demasiado consciente do calor do seu corpo 

macio, pressionado contra o meu, mesmo através do obstáculo duplo dos nossos casacos, eu 

conseguia sentir o calor…

O primeiro medo foi o maior. Quando os gritos das testemunhas elevaram-se à nossa volta, 

inclinei-me para examinar a sua cara, para ver se ela estava consciente, esperando 

ansiosamente para que ela não estivesse a sangrar.

Os olhos dela estavam abertos, a olhar em choque.

“Bella?” Perguntei urgentemente. “Estás bem?”

“Estou óptima.” Disse, as suas palavras soaram automáticas num atordoado.

O alívio, tão bom que era quase doloroso, passou por mim com o som da sua voz. Inspirei um 

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bocado entre os meus dentes, e não me importei com a queimadura na minha garganta. 

Quase que lhe dei as boas-vindas.

Ela debateu-se para se sentar, mas eu não estava pronto para a soltar. Parecia mais… seguro? 

Melhor, pelo menos, tê-la encostada a mim.

- Tem cuidado. - Avisei-a. - Acho que bateste com a cabeça com bastante violência.

Não havia cheiro de sangue fresco no ar, misericórdia, mas isso não queria dizer nada sobre 

danos internos. Eu estava abruptamente ansioso para a levar ao Carlisle e ao seu completo 

equipamento de radiologia.

- Au. - Disse, o seu tom estava comicamente chocado quando percebeu que eu tinha razão 

sobre a sua cabeça.

- Bem me parecia. - O alívio foi engraçado para mim, fez-me quase ficar tonto.

- Que diabos… - A sua voz falhou, e os seus olhos tremeram. - Como é que chegaste aqui tão 

depressa?

O alívio tornou-se azedo, o humor desapareceu. Ela tinha percebido de mais.

Agora que parecia que a rapariga estava em forma decente, a ansiedade pela minha família 

tornou-se severa.

- Estava mesmo a teu lado, Bella. - Eu sabia por experiência que se eu tivesse muita auto-

confiança a mentir, fazia com que o questionador se sentisse menos seguro da verdade.

Ela esforçou-se para se mexer outra vez, e desta vez eu permiti. Eu precisava de respirar para 

fazer o meu papel correctamente, precisava de espaço do seu corpo caloroso, delicioso e 

quente para que não se combinasse com o seu cheiro para darem cabo de mim. Eu deslizei 

para longe dela, o mais longe o possível no pequeno espaço entre os destroços dos veículos.

Ela olhou para mim e eu olhei-a também. Ser o primeiro a desviar o olhar seria um erro que 

apenas um mentiroso incompetente poderia fazer, e eu não era um mentiroso incompetente. 

A minha expressão estava suave, benigna… Pareceu confundi-la. Isso era bom.

A cena do acidente estava cercada agora. Maioritariamente estudantes, crianças, colegas a 

empurrarem-se para ver se algum corpo estava visível. Havia ali uma data de gritos misturados 

com pensamentos chocados. Investiguei os pensamentos uma vez para me certificar que ainda 

ninguém desconfiava, depois desliguei-os e concentrei-me apenas na rapariga.

Ela estava distraída por causa da confusão. Olhou à volta, a sua expressão continuou chocada, 

e tentou-se levantar.

Pus a minha mão levemente no seu ombro para pará-la.

- Fica quieta por agora. - Ela parecia bem, mas devia estar mesmo a mover o pescoço? De 

novo, ansiei pelo Carlisle. Os meus anos como estudante teórico de medicina não se igualavam 

com os seus séculos de medicina prática.

Page 54: 1º capitulo

- Mas está frio. - Ela reclamou.

Ela tinha quase sido esmagada até a morte duas vezes de formas diferentes e tinha-se 

magoado uma vez mais, e era o frio que a estava a incomodar. Um riso escapou-se de entre os 

meus dentes, antes que me apercebesse que a situação não era engraçada.

A Bella piscou os olhos, e os seus olhos focaram-se no meu rosto. “Tu estavas além.”

Aquilo pôs-me sóbrio outra vez.

Ela olhou para trás, apesar de não haver mais nada para olhar a não ser a carrinha amassada.

- Estavas junto do teu carro.

- Não, não estava.

- Eu vi-te. – Insistiu, a voz dela era infantil quando era teimosa. O seu queixo sobressaiu-se.

- Bella, eu estava contigo e puxei-te para te afastar da trajectória da carrinha.

Fitei-a até bem fundo nos seus olhos intensos, tentando convencê-la a aceitar a minha versão, 

a única racional disponível.

O queixo dela endureceu-se. - Não.

Tentei ficar calmo, não entrar em pânico. Se eu a pudesse manter calada por alguns 

momentos, para me dar uma oportunidade de destruir a prova… e negar a história dela 

alegando uma lesão na cabeça.

Não devia ser fácil manter esta rapariga silenciosa e reservada, calada? Se ela ao menos 

confiasse em mim, só por alguns instantes…

-Por favor, Bella. - Disse, e a minha voz estava muito intensa, porque de repente eu queria que 

ela confiasse em mim. Queria muito, e não só por causa do acidente. Que vontade estúpida. 

Que sentido faria ela confiar em mim?

- Porquê? – Perguntou-me, ainda na defensiva.

- Confia em mim. - Pedi.

- Prometes explicar-me tudo mais tarde?

Fez-me zangado ter que lhe mentir outra vez, quando eu queria tanto ser merecedor da sua 

confiança. Então, quando lhe respondi, foi apenas para responder.

- Tudo bem.

- Tudo bem. - Respondeu no mesmo tom.

Enquanto a tentativa de resgate começava à nossa volta - adultos a chegarem, as autoridades 

foram chamadas, sirenes à distância - tentei ignorar a rapariga e colocar as minhas prioridades 

em ordem. Procurei em cada mente do estacionamento, das testemunhas e das que chegaram 

depois, mas não consegui encontrar nada de perigoso. Muitos estavam surpreendidos ao 

verem-me ao lado de Bella, mas todos concluíram - porque não havia mais nenhuma conclusão 

a tirar-se - que não tinham reparado em mim parado ao lado da rapariga antes do acidente.

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Ela era a única que não aceitava a explicação mais fácil, mas também seria considerada a 

testemunha menos viável. Ela estava aterrorizada, traumatizada, para não falar da pancada na 

cabeça. Estava possivelmente em choque. Seria aceitável para a história dela estar confusa, 

certo? Ninguém lhe ia dar atenção com tantos outros espectadores.

Encolhi-me quando ouvi os pensamentos de Rosalie, Jasper e Emmett, que chegavam agora à 

cena. Seria o inferno pagar por isto à noite…

Eu queria resolver o problema da mossa que os meus ombros tinham deixado no carro 

acastanhado, mas a rapariga estava perto de mais. Teria que esperar até que ela estivesse 

distraída.

Era frustrante esperar - tantos olhos humanos em mim - enquanto os humanos lutavam com a 

carrinha, tentando afastá-la de nós. Eu podia ter ajudado, apressado o processo, mas já estava 

com problemas suficientes e a rapariga tinha olhos atentos. Finalmente, eles conseguiram 

afastá-la para longe o suficiente para que os paramédicos entrassem com as macas.

Um rosto grisalho e familiar apareceu.

- Olá Edward. - Disse Brett Warner. Ele também era um enfermeiro registado, e eu conhecia-o 

bastante bem do hospital. Foi um golpe de sorte - a única sorte de hoje - foi ele quem chegou 

primeiro até nós. Nos seus pensamentos, ele estava a reparar que eu parecia alerta e calmo. - 

Estás bem, miúdo?

- Perfeito, Brett. Nada me tocou. Mas receio que aqui a Bella talvez tenha uma concussão. Ela 

bateu mesmo bem com a cabeça quando a desviei…

Brett virou a sua atenção para a rapariga, que me lançou um olhar traído. Ah, pois era. Ela era 

o tipo de mártir calado - preferia sofrer em silêncio.

Mas ela não contradisse a minha história imediatamente, e isso deixou-me melhor.

O paramédico seguinte tentou insistir que eu me deixasse ser tratado, mas não foi muito difícil 

desencorajá-lo. Prometi que ia deixar o meu pai examinar-me, e ele desistiu. Com a maioria 

dos humanos, falar com confiança era necessário. Com a maioria dos humanos, menos a 

rapariga, é claro. Será que ela se encaixava em algum padrão?

Quando lhe puseram o colar cervical no pescoço – e o seu rosto ficou vermelho com vergonha 

- usei a distracção para arranjar silenciosamente a forma do amassado no carro acastanhado 

com o meu pé. Só os meus irmãos é que repararam no que eu estava a fazer, e ouvi a 

promessa mental de Emmett que arranjava o que me tivesse escapado.

Agradecido pela ajuda dele – e ainda mais agradecido por Emmett, pelo menos, já ter 

perdoado a minha escolha perigosa - fiquei mais relaxado quando subi para banco da frente da 

ambulância ao lado de Brett.

Page 56: 1º capitulo

O chefe de polícia chegou antes que tivesse colocado Bella no fundo da ambulância.

Embora os pensamentos do pai de Bella estivessem além das palavras, o pânico e a 

preocupação que emanavam da mente do homem destacavam-se das mentes nos arredores. 

Ansiedade e culpa sem palavras, muito dos dois sentimentos passaram por ele quando viu a 

sua única filha na maca.

Passaram por ele e passaram para mim, ecoando e ficando mais fortes. Quando a Alice me 

tinha avisado que matar a filha de Charlie Swan iria matá-lo também, ela não estava a 

exagerar.

A minha cabeça curvou-se com culpa enquanto ouvia a sua voz em pânico.

- Bella! - Gritou.

- Está absolutamente tudo bem comigo, Char… pai. - Suspirou. - Não há nada de errado 

comigo.

A garantia dela não acalmou o terror dele. Ele virou-se para o paramédico mais perto e pediu 

mais informação.

Não foi até eu o ter ouvido falar, formando frases perfeitamente coerentes tirando o seu 

pânico que eu percebi que a ansiedade e preocupação dele não eram além das palavras. Eu 

apenas… não conseguia ouvir as palavras exactas.

Hum. Charlie Swan não era tão silencioso como a filha, mas eu conseguia ver de onde ela tinha 

herdado. Interessante.

Nunca tinha passado muito tempo á volta do chefe de polícia da cidade. Considerei-o sempre 

um homem de raciocínio lento - e agora percebi que eu é que era lento. Os pensamentos dele 

eram parcialmente ocultos, não ausentes. Eu só conseguia ouvir o carácter deles, o tom…

Queria ouvir com mais atenção, ver se conseguia encontrar naquela nova pequena peça a 

chave para os segredos da rapariga. Mas a Bella foi posta na parte traseira da ambulância, e a 

ambulância estava a seguir o seu caminho.

Era difícil desviar-me daquela possível solução para o mistério que me tinha deixado obcecado. 

Mas eu tinha que pensar agora - ver o que tinha sido feito hoje de cada ângulo. Eu tinha que 

ouvir, ter a certeza de que não nos tinha colocado a todos em tanto perigo que teríamos de 

partir imediatamente. Tinha que me concentrar.

Não havia nada nos pensamentos dos paramédicos para me preocupar. Até onde eles sabiam, 

não havia nada de errado com a rapariga. E a Bella estava a manter a história que eu tinha 

contado, até agora.

A prioridade, quando chegámos ao hospital, era ver Carlisle. Corri pelas portas automáticas, 

mas fui incapaz de abrir mão de assistir a Bella. Continuei a prestar atenção através dos 

pensamentos dos paramédicos.

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Foi fácil encontrar a mente familiar do meu pai. Ele estava no seu escritório pequeno, sozinho - 

o segundo golpe de sorte deste dia azarado.

- Carlisle.

Ele ouviu-me aproximar, e ficou alarmado assim que viu a minha cara. Ficou em pé, pálido 

como um fantasma. Inclinou-se para a frente da mesa de nogueira organizada.

Edward, tu não…

- Não, não, não é isso.

Ele respirou fundo. Claro que não. Desculpa por ter pensado nisso. Os teus olhos, claro, eu 

devia percebido… Ele reparou que os meus olhos ainda eram dourados com alívio.

- Mas ela está magoada, Carlisle, provavelmente não é grave, mas…

- O que é que aconteceu?

- Um acidente de carro estúpido. Ela estava no lugar errado à hora errada. Mas eu não podia 

ficar lá parado, deixar que fosse atropelada…

Começa de novo, não estou a perceber. Como é que estás envolvido nisso?

- Uma carrinha derrapou no gelo. - Sussurrei. Olhei para a parede atrás dele enquanto falava. 

Em vez de estar coberta com diplomas, ele só tinha uma pintura a óleo, uma das suas 

favoritas, um Hassam não descoberto. - Ela estava no caminho da carrinha. A Alice viu aquilo 

acontecer, mas não havia tempo para fazer nada senão correr pelo estacionamento e tirá-la da 

frente. Ninguém reparou… excepto ela. Eu tive que parar a carrinha também, mas de novo, 

ninguém viu… a não ser ela. Eu… lamento imenso, Carlisle. Não nos queria colocar em perigo.

Ele deu a volta à mesa e pôs a mão no meu ombro.

Fizeste a coisa certa. Não deve ter sido fácil para ti. Estou orgulhoso, Edward.

Olhei-o nos olhos. - Ela sabe que se passa alguma coisa… de errado comigo.

- Isso não importa. Se tivermos que ir embora, iremos. O que é que ela disse?

Abanei a cabeça, um pouco frustrado. - Nada, ainda.

Ainda?

- Ela concordou com a minha versão dos eventos… mas está à espera de uma explicação.

Ele franziu a testa, a pensar.

- Ela bateu com a cabeça. Bom, eu fiz isso. - Continuei rapidamente. – Atirei-a contra o chão 

com bastante força. Ela parece bem, mas… Acho que não será difícil desacreditá-la.

Senti-me horrível só de dizer as palavras.

Carlisle ouviu o desgosto na minha voz. Talvez isso não seja necessário. Vamos ver o que 

acontece, está bem? Parece que tenho uma paciente para ir ver.

- Por favor. – Disse-lhe. – Estou tão preocupado que a tenha magoado.

A expressão de Carlisle aliviou-se. Ele passou o dedo pelo cabelo, só alguns tons mais claro que 

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os seus olhos dourados, e riu-se.

Tem sido um dia interessante para ti, não tem? Na sua mente, eu conseguia ver a ironia, e era 

engraçada, para ele, pelo menos. Uma inversão de papéis. Durante aquele momento curto e 

inconsciente em que corri pelo parque de estacionamento congelado, eu tinha passado de 

assassino a protector.

Ri-me com ele, lembrando-me da certeza que tive de que Bella nunca precisaria de protecção 

de nada além de mim mesmo. O meu riso tinha um tom irritado porque, apesar da carrinha, 

isso ainda era verdade.

Esperei no escritório de Carlisle, uma das horas mais compridas que já vivi, enquanto ouvia o 

hospital cheio de pensamentos.

Tyler Crowley, o motorista da carrinha, parecia estar mais magoado que Bella, e a atenção 

voltou-se para ele enquanto ela esperava a sua vez de fazer um raio-X. Carlisle ficou no fundo, 

confiando no diagnóstico dos residentes de que a rapariga só estava levemente magoada. Isso 

deixou-me ansioso, mas sabia que ele tinha razão. Uma espreitadela ao rosto dele e ela ia 

imediatamente lembrar-se de mim, do facto que havia algo de errado com a minha família, e 

talvez isso a fizesse dizer algo.

Ela tinha de certeza um parceiro disposto o suficiente para conversar. Tyler estava consumido 

por culpa com o facto de a ter quase matado, e não conseguia parar de falar sobre isso. Eu 

conseguia ver a expressão dela através dos olhos dele, e era óbvio que ela queria que ele 

parasse. Como é que ele não via aquilo?

Houve um momento tenso para mim quando Tyler perguntou como é que ela tinha saído da 

frente da carrinha.

Eu esperei, sem respirar, enquanto ela hesitou.

- Hum… - ele ouviu-a dizer. Então ela fez uma pausa tão longa que Tyler se perguntou se a sua 

pergunta a tinha confundido. Finalmente, ela continuou. - O Edward puxou-me e afastou-me 

da trajectória da carrinha.

Expirei. E depois a minha respiração acelerou. Eu nunca a tinha ouvido dizer o meu nome 

antes. Gostei do som, mesmo só estando a ouvir pelos pensamentos de Tyler. Queria ouvir 

com meus próprios ouvidos…

- Edward Cullen. - Disse, quando Tyler não entendeu de quem é que ela tinha falado. Dei por 

mim à porta, de mão na maçaneta. O desejo de a ver estava a ficar mais forte. Tive que me 

lembrar para ter cuidado.

- Estava junto a mim.

- Cullen? - Hum. Que estranho. - Não o vi… - Podia ter jurado… - Ena, suponho que tudo 

aconteceu muito rapidamente. Ele está bem?

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- Julgo que sim. Está algures por aqui, mas não o obrigaram a usar uma maca.

Vi o olhar pensativo na cara dela, a suspeita a ficar mais forte nos seus olhos, mas essas 

pequenas mudanças de expressão foram perdidas pelo Tyler.

Ela é bonita. Estava ele a pensar, quase surpreendido. Mesmo nesta trapalhada. Não faz o meu 

tipo, mas… devia convidá-la para sair. Compensar por hoje…

Já estava no corredor, a meio caminho da sala de emergência, sem pensar por um segundo no 

que estava a fazer.

Por sorte, a enfermeira entrou na sala antes de mim, era a vez de Bella ir fazer o raio-X. 

Encostei-me à parede num canto escuro e tentei controlar-me enquanto ela era levada para 

longe.

Não importava que Tyler pensasse que ela era bonita. Qualquer um ia notar isso. Não havia 

razão para me sentir… Como é que eu me sentia? Aborrecido? Ou furioso estava mais perto da 

verdade? Isso não fazia sentido nenhum.

Fiquei onde estava o máximo de tempo que pude, mas a impaciência venceu-me e dei meia 

volta para sala de radiologia. Ela já tinha sido levada de volta para o serviço de urgências, mas 

eu podia dar uma olhadela nos seus raio-X enquanto a enfermeira não voltava.

Senti-me mais calmo quando vi. A sua cabeça estava bem. Eu não a tinha magoado, não 

exactamente.

Carlisle apanhou-me lá.

Pareces melhor. - Comentou.

Eu apenas olhei para a frente. Nós não estávamos sozinhos, os corredores cheios de médicos e 

visitantes.

Ah, sim. Ele prendeu o raio-X no quadro iluminado, mas eu não precisava de olhar uma 

segunda vez. Estou a ver. Ela está absolutamente bem. Muito bem, Edward.

O som da aprovação do meu pai criou uma reacção mista em mim. Eu teria ficado contente, 

excepto que eu sabia que ele não aprovaria o que eu ia fazer agora. Pelo menos, não aprovaria 

se soubesse das minhas reais motivações…

- Eu acho que vou conversar com ela, depois de te ver. - Suspirei. - Agir naturalmente, como se 

nada tivesse acontecido. Acalmar os ânimos. - Todas razões aceitáveis.

Carlisle acenou ausente, ainda a olhar para o seu raio-X. - Boa ideia. Hum...

Olhei para ver o que é que o tinha interessado.

Olha para todas as contusões cicatrizadas! Quantas vezes será que a mãe dela a deixou cair?

O Carlisle sorriu para si mesmo pela sua brincadeira.

- Eu estou a começar a achar que esta rapariga tem apenas má sorte. Sempre no lugar errado 

na hora errada.

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Forks é certamente o lugar errado para ela, contigo aqui.

Estremeci.

Vai em frente. Acalma as coisas. Juntar-me-ei a ti dentro de momentos.

Saí rapidamente, sentindo-me culpado. Talvez eu fosse um mentiroso muito bom, se conseguia 

enganar Carlisle.

Quando cheguei ao serviço de urgências, o Tyler estava a resmungar sob a sua respiração, 

ainda a desculpar-se. A rapariga estava a tentar escapar do remorso dele tentando dormir. Os 

olhos dela estavam fechados, mas a sua respiração não estava contínua, e por uma vez e por 

outra os dedos dela torciam-se impacientemente.

Olhei para a cara dela por um longo tempo. Esta era a última vez que eu a ia ver. Isso disparou 

uma dor aguda no meu peito. Seria porque eu odiava deixar qualquer quebra-cabeças sem 

solução? Isso não parecia ser uma explicação suficiente.

Finalmente, respirei fundo e fiquei à vista.

Quando o Tyler me viu, começou a falar, mas eu pus um dedo nos meus lábios.

- Ela está a dormir? - Murmurei.

Os olhos de Bella abriram-se rapidamente e focaram-se na minha cara. Arregalaram-se por um 

momento, e depois ficaram estreitos com raiva ou suspeita. Lembrei-me que tinha um papel 

para desempenhar, então sorri-lhe como se nada incomum tivesse acontecido esta manhã - 

apenas uma pancada na cabeça e um pouco de imaginação livre.

“Eh, Edward,” Tyler disse. “Eu lamento profundamente…”

Levantei uma mão para parar com as suas desculpas. “Não havendo sangue, não há problema” 

Disse-lhe com humor. Sem pensar, sorri demasiado largamente por causa da minha 

brincadeira particular.

Era incrivelmente fácil ignorar Tyler, deitado não mais que 1.20m de mim, coberto de sangue 

fresco. Nunca tinha entendido como é que Carlisle era capaz de fazer aquilo, ignorar o sangue 

de seus pacientes para cuidar deles. Não seria a constante tentação demasiado perigosa…? 

Mas, agora… Eu conseguia ver como, se estivesses a concentrar-me nalguma coisa com força o 

suficiente, a tentação não era nada de especial.

Apesar de fresco e exposto, o sangue de Tyler não tinha nada a ver com o de Bella.

Eu mantive a minha distância dela, sentando-me aos pés do colchão de Tyler.

“Então, qual é o veredicto?” Perguntei-lhe.

Ela lamentou-se. “Não há absolutamente nada de errado comigo, mas não me deixam ir 

embora. Como é que não estás amarrado a uma maca como nós?”

A sua impaciência fez-me sorrir novamente.

Conseguia ouvir o Carlisle no corredor agora.

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“Tudo depende dos nossos conhecimentos” Disse suavemente. “Mas não te preocupes, vim 

libertar-te.”

Assisti à sua reacção cuidadosamente enquanto o meu pai entrava na sala. Os olhos dela 

arregalaram-se e sua boca abriu-se mesmo com a surpresa. Gemi internamente. Sim, ela tinha 

certamente notado a semelhança.

“Então, menina Swan, como se sente?” Carlisle perguntou. Ele tinha uma maneira 

maravilhosamente calma que deixava a maioria dos pacientes bem em poucos momentos. Não 

conseguia saber como é que afectou a Bella.

“Estou óptima” - Disse calmamente.

O Carlisle fixou os seus raio-X no painel de luz acima da cama. “As suas radiografias parecem 

estar bem. Dói-lhe a cabeça? O Edward comentou que bateu com a cabeça com bastante 

violência.”

Ela suspirou, e disse “A minha cabeça está óptima” novamente, mas desta vez a impaciência 

notou-se na sua voz. Depois olhou de relance na minha direcção.

Carlisle aproximou-se dela e passou os seus dedos levemente pelo seu crânio até que 

encontrou o galo de baixo do cabelo.

Eu fui apanhado de surpresa pela onda de emoção que passou por mim.

Eu tinha visto o Carlisle a trabalhar com humanos milhares de vezes. Anos atrás, eu até o tinha 

ajudado informalmente - embora apenas em situações em que o sangue não estava envolvido. 

Portanto não era uma coisa nova para mim, assisti-lo a interagir com a rapariga como se fosse 

tão humano quanto ela. Eu tinha invejado o controlo dele tantas vezes, mas não era o mesmo 

que esta emoção. Eu invejei mais do que o seu controlo. Sofri pela diferença entre mim e o 

Carlisle, que ele pudesse tocá-la tão gentilmente, sem medo, sabendo que nunca a iria 

magoar…

Ela estremeceu, e eu mexi-me no meu assento. Tive que me concentrar por um momento para 

manter minha a postura relaxada.

“Está dorido?” Carlisle perguntou.

O seu queixo levantou-se um bocado. “Nem por isso” Disse.

Outro pequeno pedaço de sua personalidade encaixou-se: ela era corajosa. Não gostava de 

mostrar fraqueza.

Possivelmente a criatura mais vulnerável que eu já tinha visto, e não quer parecer fraca. Um 

riso abafado escorregou através de meus lábios.

Ela olhou-me novamente.

“Bem,” O Carlisle disse. “O seu pai está na sala de espera, já pode ir com ele para casa. Mas 

volte cá se sentir tonturas ou se tiver qualquer problema de visão.”

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O pai dela estava aqui? Varri os pensamentos da sala de espera cheia, mas não conseguia 

distinguir a sua voz mental do grupo antes de ela ter falado outra vez, a sua cara ansiosa

- Não posso voltar para a escola?

- Talvez devesse repousar por hoje. - O Carlisle sugeriu.

Os olhos dela voltaram-se para mim. - E ele, pode ir para a escola?

Agir normalmente… acalmar as coisas… esquecer a sensação que tenho quando ela me olha 

nos olhos…

- Alguém tem de espalhar a boa notícia de que nós sobrevivemos. - Disse.

- Na verdade - O Carlisle corrigiu - a maior parte da escola parece estar na sala de espera.

Eu antecipei a reacção dela desta vez, a sua aversão à atenção. Ela não me desapontou.

- Oh, não – Lamentou-se e colocou as mãos no rosto.

Gostei que finalmente tivesse acertado numa coisa. Estava a começar a entendê-la…

- Quer ficar? – Perguntou o Carlisle.

- Não, não! - Disse rapidamente, girando as pernas sob o colchão e escorregando para ficar de 

pé. Tropeçou, sem equilíbrio, nos braços de Carlisle. Ele agarrou-a e equilibrou-a.

Novamente, a inveja inundou-me.

- Estou óptima. - Disse ela antes que ele pudesse comentar, um rosa claro estava nas suas 

bochechas.

Claro, aquilo não incomodaria Carlisle. Ele certificou-se que ela estava equilibrada e soltou as 

suas mãos.

- Tome Tylenol para as dores. – Deu instruções.

- Não dói assim tanto.

O Carlisle sorriu e assinou a ficha dela. - Parece que teve imensa sorte.

Ela virou ligeiramente o rosto, para me encarar com um olhar duro. – Tive a sorte de o Edward 

se encontrar junto a mim.

- Oh, bem, sim. - Carlisle concordou depressa, ouvindo a mesma coisa na voz dela que eu ouvi. 

Ela não tinha pensado que as suas suspeitas eram imaginação. Ainda não.

Toda tua. Pensou o Carlisle. Trata do assunto como achares melhor.

- Muito obrigado. - Sussurrei, rápido e baixo. Nenhum humano me ouviu. Os lábios de Carlisle 

viraram-se um pouco para cima por causa do meu sarcasmo enquanto se virava para Tyler. – 

Receio que o Tyler tenha de nos fazer companhia apenas durante mais algum tempo. - Disse 

quando começou a examinar os cortes deixados pelo vidro partido.

Bom, eu tinha feito os estragos, então era justo que eu tivesse que lidar com eles.

Bella andou deliberadamente na minha direcção, sem parar até que estivesse 

desconfortavelmente perto. Lembrei-me de como tinha desejado, antes de todos os estragos, 

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que ela se aproximasse de mim… Isto era como gozar com aquele desejo.

- Posso falar contigo por um instante? – Murmurou baixinho, desagradada.

A sua respiração quente tocou-me na cara e eu tive que dar um passo para trás. A sua atracção 

não tinha diminuído nem um bocado. Sempre que ela estava perto de mim, despertava o pior 

de mim, os instintos urgentes. O veneno inundou a minha boca e o meu corpo ansiou para 

atacar, para puxá-la para os meus braços e despedaçar a sua garganta nos meus dentes.

A minha mente era mais forte que o meu corpo, mas só um pouco.

- O teu pai está à tua espera. – Lembrei-a, com os dentes cerrados.

Ela olhou para o Carlisle e Tyler. O Tyler não estava a prestar nem um pouco de atenção, mas o 

Carlisle estava a monitorizar cada respiração que eu dava.

Cuidado, Edward.

- Gostava de falar contigo a sós, se não te importares. - Insistiu com uma voz baixa.

Eu gostava de dizer que me importava muito, mas sabia que ia ter que fazer isto 

eventualmente. O melhor era acabar com isto de uma vez.

Estava cheio de tantas emoções em conflito enquanto saía do quarto, a ouvi-la tropeçar nos 

seus próprios pés atrás de mim, a tentar acompanhar-me.

Tinha um espectáculo para apresentar. Sabia o papel que ia desempenhar, já tinha escolhido a 

personagem. Ia ser o vilão. Ia mentir, ridicularizar e ser cruel.

Ia contra todos os meus melhores impulsos, os impulsos humanos aos quais me tinha agarrado 

todos estes anos. Nunca tinha querido ser merecedor de confiança tanto quanto queria neste 

momento, quando tinha que destruir qualquer possibilidade que isso acontecesse.

Piorou saber que esta ia ser a última memória que ela ia ter de mim. Esta era a cena de 

despedida.

Virei-me para ela.

- O que queres? - Perguntei friamente.

Ela contraiu-se um bocado com a minha hostilidade. Os seus olhos ficaram confusos, a 

expressão que me tinha assombrado…

- Deves-me uma explicação. - Disse numa uma voz fraca; o seu rosto de marfim empalideceu.

Foi muito difícil manter minha voz dura. – Salvei-te a vida, não te devo nada.

Ela recuou. Queimou como ácido ver que as minhas palavras a tinham magoado.

- Tu prometeste. - Sussurrou.

- Bella, bateste com a cabeça, não sabes o que estás a dizer.

O queixo dela levantou-se. - Não há nada de errado com a minha cabeça.

Agora ela estava irritada, e isso tornou as coisas mais fáceis para mim. Encontrei o seu olhar, e 

deixei o meu rosto menos amigável.

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- O que queres de mim, Bella?

- Quero saber a verdade. Quero saber por que motivo estou a mentir por tua causa.

O que ela queria era justo, frustrou-me ter que lhe negar isso.

- O que julgas que aconteceu? – Quase lhe rosnei.

As suas próximas palavras vieram numa corrente. – Sei apenas que não estavas próximo de 

mim, o Tyler também não te viu, portanto, não me venhas dizer que bati com a cabeça com 

demasiada violência. Aquela carrinha ia esmagar-nos a ambos, tal não se verificou e as tuas 

mãos deixaram uma mossa no outro carro e não tens qualquer ferimento. A carrinha ter-me-ia 

esmagado as pernas, mas tu estavas a erguê-la no ar… - De repente, ela trincou os dentes e os 

seus olhos estavam a brilhar com lágrimas não derramadas.

Eu encarei-a, a minha expressão era de escárnio, embora o que sentisse mesmo era medo; ela 

tinha realmente visto tudo.

- Pensas que eu levantei uma carrinha de cima de ti? - Perguntei sarcasticamente.

Ela respondeu com um aceno rápido.

A minha voz ficou ainda mais irónica. – Ninguém vai acreditar nisso, sabes?

Ela lutou para controlar a raiva. Quando me respondeu, disse cada palavra devagar. - Eu não 

vou contar a ninguém.

Ela estava a dizer a verdade. Eu conseguia ver isso nos olhos dela. Mesmo furiosos e traídos, 

ela ia guardar o meu segredo.

Porquê?

O choque daquilo arruinou a minha expressão cuidadosamente projectada durante meio 

segundo, e recompus-me num instante.

- Então, que importância é que isso tem? - Perguntei, trabalhando para manter a minha voz 

severa.

- Para mim tem. – Disse, intensa. - Não gosto de mentir, logo, é melhor que haja um excelente 

motivo para estar a fazê-lo.

Ela pediu-me para confiar nela. Exactamente como eu queria que ela confiasse em mim. Mas 

isto era uma linha que eu não podia atravessar.

A minha voz ficou ligeiramente desesperada. - Não podes apenas agradecer-me e superar isso?

- Obrigada. – Disse-me, e depois ficou à espera.

- Não vais esquecê-lo, pois não?

- Não.

- Nesse caso… - Eu não lhe podia dizer a verdade mesmo que quisesse… E eu não queria.

Eu preferia que ela inventasse a sua própria história a que soubesse o que eu era, porque nada 

podia ser pior que a verdade. Eu estava a viver um pesadelo, directamente das páginas de uma 

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história de terror.

- Espero que gostes de sofrer desilusões.

Olhámos colericamente um para o outro.

Era estranho quão amável a sua raiva era. Como um gatinho furioso, macio e inofensivo, e tão 

ignorante quanto à sua própria invulnerabilidade.

Ela ficou rosada e cerrou os dentes outra vez. – Porque te deste sequer àquele trabalho?

A sua pergunta não era a que eu estava à espera ou preparado para responder.

Perdi as regras do jogo, do papel que estava a desempenhar. Senti a máscara a escorregar da 

cara, e eu disse-lhe, naquele único momento, a verdade.

- Não sei.

Memorizei o rosto dela uma última vez. Ainda tinha alguns traços de raiva, o sangue ainda não 

tinha saído das suas bochechas rosadas. E então virei-me e fui para longe dela.

 

4º Capitulo - Visões

Eu voltei para a escola. Era a coisa certa a fazer, a maneira mais discreta de me comportar.

No final do dia, quase todos os outros alunos também tinham voltado para as aulas. Só o Tyler 

e Bella e alguns outros, que provavelmente estavam a usar o acidente como uma 

oportunidade para se baldarem às aulas, continuavam ausentes.

Não devia ser tão difícil para mim fazer a coisa certa. Mas, durante toda a tarde, estive a 

ranger os dentes contra o desejo que me deixava a querer baldar-me à aula também, ir 

procurar a rapariga outra vez.

Como um perseguidor. Um perseguidor obsessivo. Um vampiro perseguidor obsessivo.

A escola hoje estava, de alguma forma, impossivelmente ainda mais aborrecida do que tinha 

sido há uma semana. Aborrecimento de coma. Era como se as cores tivessem sido drenadas 

das paredes de tijolos, das árvores, do céu, das caras à minha volta.

Havia outra coisa certa que eu devia estar a fazer… e não estava. Claro, também era uma coisa 

errada. Tudo dependia da perspectiva de quem olhava.

Da perspectiva de um Cullen, não simplesmente um vampiro, mas um Cullen, alguém que 

pertencia a uma família, uma coisa tão rara no nosso mundo, a coisa certa a fazer-se seria algo 

assim:

- Estou surpreendido por te ver na aula, Edward. Eu ouvi dizer que estiveste envolvido naquele 

acidente horrível hoje de manhã.

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- Sim, estive, Sr. Banner, mas eu fui o sortudo. - Um sorriso amigável. - Eu não me magoei de 

todo… gostaria de poder dizer o mesmo do Tyler e Bella.

- Como é que eles estão?

- Eu acho que o Tyler está bem… só alguns arranhões superficiais do vidro do pára-brisas. 

Embora não tenha a certeza quanto a Bella. - Uma cara preocupada. - Ela pode ter uma 

concussão. Ouvi dizer que ela esteve bastante incoerente por algum tempo, até viu coisas. Sei 

que os médicos estavam preocupados…

Era assim que deveria ter sido. Era aquilo que eu devia à minha família.

- Estou surpreendido por te ver na aula, Edward. Eu ouvi dizer que estiveste envolvido naquele 

acidente horrível hoje de manhã.

- Não me magoei. - Sem sorriso.

O Sr. Banner mudou o seu peso de um pé para o outro, desconfortável.

- Tens alguma ideia de como é que o Tyler Crowley e a Bella Swan estão? Ouvi dizer que 

tiveram alguns ferimentos…

Encolhi os ombros. – Não tenho como saber isso.

O Sr. Banner limpou a garganta. - Ah, certo… - Disse, enquanto o meu olhar frio deixava a voz 

dele um pouco tensa.

Ele andou rapidamente para a frente da sala e começou a matéria.

Era a coisa errada a fazer-se. A não ser que se olhasse de uma perspectiva mais obscura.

Só que parecia tão… tão deselegante caluniar a rapariga pelas costas, especialmente quando 

ela estava a provar que podia confiar nela mais do que eu podia ter sonhado. Ela não tinha dito 

nada para me trair, embora tivesse uma boa razão para o fazer. Eu ia traí-la quando ela não 

tinha feito nada a não ser guardar o meu segredo?

Tive uma conversa quase idêntica com a Sra. Goff, só que em espanhol em vez de inglês. E 

Emmett olhou para mim durante um longo tempo.

Espero que tenhas uma boa explicação para o que aconteceu hoje. A Rose está em pé de 

guerra.

Revirei os olhos sem olhar para ele.

Na verdade eu tinha criado uma explicação que parecia perfeita. Vamos supor que eu não 

tinha feito nada para parar a carrinha antes que ela esmagasse a rapariga… tremi com esse 

pensamento. Mas se ela tivesse sido atingida, se ela tivesse sido ferida e tivesse sangrado, o 

fluído vermelho derramado, desperdiçado no asfalto, o cheiro de sangue fresco a pulsar no 

ar…

Tremi de novo, mas não apenas em horror. Uma parte de mim tremeu de desejo. Não, eu não 

teria sido capaz de a ver sangrar sem nos expor a todos numa maneira muito mais escandalosa 

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e chocante.

Parecia a desculpa perfeita… mas eu não a ia usar. Era vergonhosa de mais.

E eu nem sequer tinha pensado nela até um pouco depois de o facto ter ocorrido.

Cuidado com o Jasper. Continuou Emmett , alheio aos meus pensamentos. Ele não está tão 

nervoso… mas está mais decidido.

Eu vi o que ele quis dizer, e por um momento a sala girou à minha volta. O meu ódio era tão 

devorador que uma névoa vermelha encobriu a minha visão. Eu pensei que me fosse engasgar 

nela.

CREDO, EDWARD! CONTROLA-TE! O Emmett gritou-me na sua cabeça. A mão dele desceu para 

o meu ombro, segurando-me no meu lugar antes que eu pudesse saltar e ficar de pé. Ele 

raramente usava a sua força completa - raramente havia necessidade, porque ele era muito 

mais forte que qualquer outro vampiro que qualquer um de nós já tivesse encontrado - mas 

usou-a agora. Agarrou o meu braço, em vez de me empurrar para baixo. Se ele me estivesse a 

empurrar, a cadeira debaixo de mim ter-se-ia desmoronado.

CALMA! Ordenou-me.

Eu tentei acalmar-me, mas era difícil. A fúria queimava na minha cabeça.

O Jasper não vai fazer nada até que nós conversemos todos. Só achei que devias saber a 

direcção que ele está a tomar.

Concentrei-me em relaxar, e senti a mão do Emmett a libertar-me.

Tenta não chamares mais à atenção. Já estás com problemas suficientes da maneira que as 

coisas estão.

Eu respirei fundo e o Emmett soltou-me.

Procurei à volta da sala várias vezes, mas o nosso confronto tinha sido tão curto e silencioso 

que só algumas pessoas sentadas atrás de Emmett tinham notado. Nenhuma delas sabia o que 

pensar daquilo, portanto esqueceram. Os Cullens eram aberrações – já todos sabiam disso.

Raios, miúdo, estás horrível. - O Emmett acrescentou, com o seu tom simpático.

- Vai-te lixar. - Resmunguei entre dentes, e ouvi o riso baixo dele.

O Emmett não guardava rancor, e eu provavelmente devia-lhe estar agradecido pela sua 

natureza de fácil convívio. Mas eu conseguia ver que as intenções de Jasper faziam sentido 

para Emmett, que ele estava a considerar qual seria o melhor caminho a tomar.

O ódio ferveu, quase fora de controlo. Sim, o Emmett era mais forte do que eu, mas ele ainda 

não me tinha ganho numa luta. Ele dizia que era porque eu fazia batota, mas ouvir 

pensamentos era tão parte de mim como a força era dele. Nós lutávamos de igual para igual.

Uma luta? Era essa a direcção que tudo isto estava a tomar? Ia lutar contra a minha família por 

uma humana que mal conhecia?

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Pensei sobre isso por um minuto, pensei na sensação do frágil corpo da rapariga nos meus 

braços contra Jasper, Rose e Emmett, sobrenaturalmente fortes e rápidos, máquinas de matar 

por natureza…

Sim, eu ia lutar por ela. Contra a minha família. E tremi.

Mas não era justo deixá-la desprotegida quando fui eu quem a colocou em perigo.

Mas eu não ia conseguir ganhar sozinho, não contra eles os três, e perguntei-me quais seriam 

os meus aliados.

Carlisle, certamente. Ele não iria lutar contra ninguém, mas ia ser contra os planos de Rose e 

Jasper. Talvez isso fosse tudo o que eu precisasse. Ia ver…

Esme, duvido. Ela também não iria ficar contra mim, e ela iria detestar discordar de Carlisle, 

mas ia ser a favor de qualquer plano que mantivesse a sua família unida. A sua prioridade não 

eram as regras, mas sim eu. Se Carlisle era a alma da família, Esme era o coração. Ele deu-nos 

um líder que merecia ser acompanhado, ela transformou isso num acto de amor. Todos nós 

nos amávamos, mesmo por baixo da fúria que eu sentia por Jasper e Rose neste momento, 

mesmo a planear lutar contra eles para salvar a rapariga, eu sabia que os amava.

Alice… não fazia ideia. Provavelmente ia depender do que ela visse que estava a chegar. Ela 

ficaria do lado do vencedor, imaginei.

Então eu tinha que fazer isto sem ajuda. Sozinho, eu não era um grande desafio para eles, mas 

eu não ia deixar que a rapariga fosse magoada por minha culpa. Isto talvez exigisse uma acção 

evasiva…

A minha raiva diminuiu um pouco com o súbito humor negro. Conseguia imaginar como é que 

ela iria reagir se eu a raptasse. É claro, eu raramente adivinhava as suas reacções, mas que 

outra reacção é que ela poderia ter além de terror?

Mas não tinha bem a certeza de como lidar com aquilo - raptá-la. Não seria capaz de ficar 

perto dela por muito tempo. Talvez eu só a devolvesse à mãe. Mesmo isso seria repleto de 

perigo. Para ela.

E também para mim, percebi de repente. Se eu a matasse por acidente… eu não tinha a 

certeza de quanta dor é que isso me iria causar, mas sabia que seria intensa e em várias 

formas.

O tempo passou rapidamente enquanto meditava sobre todas as complicações à minha frente: 

a discussão que me esperava em casa, o conflito com a minha família, a distância que eu seria 

forçado a percorrer depois de tudo…

Bem, eu já não me podia queixar que a vida fora da escola era monótona. A rapariga tinha 

mudado isso.

O Emmett e eu andámos silenciosamente para o carro quando a campainha tocou. Ele estava 

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preocupado comigo, e preocupado com Rosalie. Ele sabia que lado teria que escolher numa 

disputa, e isso incomodava-o.

Os outros estavam à nossa espera no carro, também silenciosos. Éramos um grupo bastante 

quieto. Só eu conseguia ouvir a gritaria.

Idiota! Lunático! Imbecil! Estúpido! Egoísta, tolo irresponsável! A Rosalie mantinha uma linha 

constante de insultos a plenos pulmões. Tornou-se difícil ouvir os outros, mas eu ignorei-a o 

melhor que eu pude.

O Emmett tinha razão quanto a Jasper. Ele estava seguro do seu plano.

A Alice estava transtornada, preocupada com Jasper, passando por imagens do futuro. Não 

importava por qual direcção o Jasper chegava à rapariga, a Alice via-me sempre lá, a impedi-lo. 

Interessante… nem Rosalie ou Emmett estavam com ele nessas visões. Então Jasper planeava 

trabalhar sozinho. Isso ia deixar as coisas equilibradas.

Jasper era o melhor lutador, certamente o mais experiente entre nós: a minha única vantagem 

consistia no facto de que eu podia ouvir os seus movimentos antes que ele os fizesse.

Eu nunca tinha lutado mais do que por brincadeira com o Emmett ou Jasper - só como 

passatempo. Senti-me enjoado com o pensamento de tentar realmente magoar o Jasper…

Não, isso não. Só impedi-lo. Isso era tudo.

Eu concentrei-me na Alice, memorizando as diferentes formas de ataque de Jasper.

Quando fiz isso, as visões dela mudaram, afastando-se mais e mais da casa dos Swan. Eu 

estava a impedi-lo antes…

Pára com isso Edward! Não pode acontecer dessa maneira. Eu não vou deixar.

Eu não respondi, só continuei a ver.

Ela começou a olhar mais para a frente, para o campo nebulado e incerto de possibilidades 

distantes. Era tudo sombrio e vago.

No caminho inteiro para casa, a atmosfera silenciosa não cedeu. Estacionei na grande garagem 

perto de casa; o Mercedes de Carlisle estava ali, perto do Jipe enorme de Emmett, o M3 de 

Rosalie e meu Vanquish. Fiquei contente por Carlisle já estar em casa - o silêncio ia terminar de 

forma explosiva, e eu queria que ele estivesse por perto quando isso acontecesse.

Fomos directos para a sala de jantar.

A sala nunca era, é claro, usada para o propósito para o qual fora construída. Mas era 

mobilada com uma longa mesa oval de mogno cercada por cadeiras - éramos cuidadosos em 

ter os acessórios para fingir. O Carlisle gostava de usá-la como uma sala de conferência. Num 

grupo com tantas personalidades fortes e distintas, às vezes era necessário discutir as coisas 

sentados, de uma forma calma.

Eu tinha um pressentimento de que sentar não iria ajudar em muita coisa hoje.

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O Carlisle sentou-se no lugar habitual na ponta leste da mesa. A Esme estava ao lado dele - 

deram as mãos em cima da mesa.

Os olhos de Esme estavam em mim, as profundezas douradas deles, cheias de preocupação.

Fica. Foi o seu único pensamento.

Eu queria conseguir sorrir para a mulher que era verdadeiramente uma mãe para mim, mas eu 

não tinha como assegurá-la disso agora.

Sentei-me do outro lado de Carlisle. A Esme virou-se à volta dele para colocar a sua mão livre 

no meu ombro. Ela não fazia ideia do que estava prestes a começar, só estava preocupada 

comigo.

O Carlisle tinha uma noção melhor do que estava a chegar. Os seus lábios estavam apertados 

com força e a testa estava enrugada. A expressão era muito velha para o rosto jovem dele.

Quando todos os outros estavam sentados, eu consegui ver as linhas a serem desenhadas.

A Rosalie sentou-se directamente à frente de Carlisle, na outra ponta da grande mesa. Ela 

olhou-me fixamente, nunca desviando o olhar.

O Emmett sentou-se ao lado dela, com o seu rosto e mente amargos.

O Jasper hesitou, então ficou de pé contra a parede atrás de Rosalie. Ele estava decidido, não 

importava o resultado desta discussão. Os meus dentes rangeram-se.

A Alice foi a última chegar, e os seus olhos estavam concentrados nalguma coisa muito longe - 

o futuro, ainda muito incerto para que ela fizesse uso dele. Sem parecer pensar ela sentou-se 

perto de Esme. Ela esfregou a testa como se tivesse uma dor de cabeça. O Jasper contorceu-se 

com preocupado e considerou juntar-se a ela, mas manteve a sua posição.

Respirei fundo. Eu tinha começado isto, devia falar primeiro.

- Desculpem. - Disse, a olhar primeiro para Rosalie, depois para Jasper e então Emmett. - Eu 

não tive nenhuma intenção de colocar nenhum de vocês em perigo. Não pensei, e eu assumo a 

responsabilidade total pelo meu acto precipitado.

Rosalie olhou para mim malignamente. - O que é que queres dizer, ‘assumes a 

responsabilidade’? Vais consertar isto?

- Não da maneira que tu queres dizer. - Disse, a tentar manter a minha voz calma e 

equilibrada. - Estou disposto a ir embora agora, se isso deixar as coisas melhores. - Se eu 

acreditar que a rapariga ficará segura, se eu acreditar que nenhum de vocês irá tocá-la, 

emendei na minha cabeça.

- Não. - Esme murmurou. - Não, Edward.

Toquei-lhe na mão. - São só alguns anos.

- A Esme tem razão. - O Emmett disse. - Tu não podes ir para lugar nenhum agora. Isso seria o 

oposto de útil. Nós temos que saber o que as pessoas estão a pensar agora mais do que nunca.

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- A Alice vai apanhar o que houver de grave. - Discordei.

O Carlisle abanou a cabeça. - Eu acho que o Emmett tem razão, Edward. Vai ser mais fácil a 

rapariga falar se tu desapareceres. Ou vamos todos, ou ninguém vai.

- Ela não vai dizer nada. - Insisti rapidamente. A Rose estava a construir uma explosão, e eu 

queria deixar aquele facto claro.

- Tu não conheces a mente dela. - O Carlisle lembrou-me.

- Disso eu tenho a certeza. Alice, dá-me uma ajudinha.

Alice olhou para mim com um ar zangado. - Eu não consigo ver o que vai acontecer se nós 

ignorarmos isto. - Olhou de relance para Rose e Jasper.

Não, ela não conseguia ver esse futuro, não quando a Rosalie e o Jasper estavam tão decididos 

em não ignorar o acidente.

A palma da Rosalie bateu na mesa com um barulho alto. - Não podemos permitir que a 

humana tenha oportunidade de dizer alguma coisa. Carlisle, tens de ver isso. Mesmo se 

decidirmos todos desaparecer, não é seguro deixar histórias para trás. Nós vivemos de uma 

maneira tão diferente do resto da nossa espécie - tu sabes que existe quem iria adorar uma 

desculpa para fazer acusações. Temos que ter mais cuidado do que qualquer um!

- Já deixámos rumores para trás antes. – Lembrei-a.

- Só rumores e suspeitas, Edward. Não testemunhas oculares e provas!

- Provas! - Gozei.

Mas o Jasper estava a concordar, os seus olhos estavam duros.

- Rose… - O Carlisle começou.

- Deixa-me terminar, Carlisle. Não precisa ser uma grande produção. A rapariga bateu com a 

cabeça hoje. Então talvez o ferimento acabe por ficar mais sério do que parecia. - A Rosalie 

encolheu os ombros. – Todos os mortais vão dormir com a hipótese de nunca mais acordar. Os 

outros iam ficar à espera que cuidássemos nós mesmos disso. Tecnicamente, esse seria o 

trabalho do Edward, mas isto está obviamente além dele. Tu sabes que eu me consigo 

controlar. Eu não iria deixar nenhuma prova para trás.

- Sim, Rosalie, nós todos sabemos a assassina eficiente que és. - Rosnei.

Ela soltou um silvo, furiosa.

- Edward, por favor. - O Carlisle disse. E depois virou-se para a Rosalie. - Rosalie, eu apoiei-te 

em Rochester porque senti que tinhas direito a ter justiça. Os homens que mataste tinham-te 

magoado monstruosamente. Esta não é a mesma situação. A rapariga Swan é uma inocente.

- Não é nada pessoal, Carlisle. - Rosalie disse entre dentes. - É para nos proteger a todos.

Houve um breve silêncio enquanto Carlisle pensava na sua resposta. Quando ele acenou a 

cabeça, os olhos de Rosalie brilharam. Ela devia saber melhor que aquilo. Mesmo se eu não 

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fosse capaz de ler os pensamentos dele, eu podia ter previsto as suas próximas palavras. 

Carlisle nunca cedia.

- Eu sei que a tua intenção é boa, Rosalie, mas… Eu gostaria muito que a nossa família fosse 

digna de ser protegida. Os ocasionais… acidentes ou lapsos de controlo são uma parte 

lamentável de quem nós somos. - Era bastante comum ele incluir-se no plural, embora ele 

próprio nunca tivesse tido aquele tipo de lapso. - Assassinar uma criança sem culpa a sangue 

frio é outra coisa completamente diferente. Eu acredito que o risco que ela apresenta, quer ela 

diga alguma coisa das suas suspeitas ou não, não é nada muito grave. Se abrirmos excepções 

para nos protegermos, estaremos a arriscar algo muito mais importante. Nós arriscamos 

perder a essência de quem somos.

Controlei a minha expressão com cuidado. Não ia fazer bem nenhum sorrir agora. Ou aplaudir, 

como eu gostava.

A Rosalie fez uma cara zangada. - É só ser responsável.

- É ser insensível. - O Carlisle corrigiu gentilmente. – Todas as vidas são preciosas.

Rosalie suspirou pesadamente e seu lábio inferior fez um bico. Emmett bateu-lhe no ombro. - 

Vai ficar tudo bem, Rosalie. – Encorajou-a com uma voz baixa.

- A questão - O Carlisle continuou. - É se nos devemos mudar ou não?

- Não. - A Rosalie lamentou-se. - Acabámos de assentar. Não quero começar o segundo ano do 

liceu outra vez!

- Podias manter a tua idade actual, claro. - Disse Carlisle.

- E ter que me mudar ainda mais cedo?

O Carlisle encolheu ombros.

- Eu gosto disto daqui! Tem pouco sol, podemos quase ser normais.

- Bem, não precisamos de decidir agora. Podemos esperar e ver se isso se torna necessário. O 

Edward confia no silêncio da rapariga Swan.

A Rosalie bufou.

Mas eu já não estava preocupado com Rosalie. Conseguia ver que ela ia concordar com a 

decisão de Carlisle, independentemente do quanto estivesse furiosa comigo. A conversa deles 

tinha-se voltado para detalhes sem importância.

O Jasper continuou determinado.

Eu entendi o motivo. Antes dele e a Alice se conhecerem, ele vivia numa zona de combate, um 

cenário de guerra impiedoso. Ele sabia as consequências de desprezar as regras, já tinha visto 

os medonhos resultados com os meus próprios olhos.

Dizia muita coisa o facto de ele não ter tentando acalmar a Rosalie com seus talentos extras, 

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ou porque não a incentivava. Ele mantinha-se neutro na discussão - acima dela.

- Jasper. – Disse-lhe.

Ele encontrou o meu olhar, o rosto dele não tinha expressão.

- Ela não vai pagar pelo meu erro. Eu não vou permitir isso.

- Vai beneficiar-se dele então? Ela devia ter morrido hoje, Edward. Eu só iria consertar as 

coisas.

Repeti, enfatizando cada palavra. - Eu não vou permitir.

Ele ergueu as sobrancelhas. Ele não estava à espera disto, não imaginava que eu fosse impedi-

lo.

Ele abanou a cabeça uma vez. - Não vou deixar a Alice viver em perigo, mesmo que seja ligeiro. 

Tu não sentes por ninguém o que eu sinto por ela, Edward, e tu não viveste o que eu vivi, quer 

tenhas visto as minhas memórias ou não. Tu não entendes.

- Não estou a discutir isso, Jasper. Mas estou a avisar-te, não vou deixar-te magoar a Isabella 

Swan.

Olhámos um para o outro, não a fixar, mas sim a avaliar o oponente. Senti-o a verificar o 

ambiente à minha volta, testando a minha determinação.

- Jazz… - A Alice disse, interrompendo-nos.

Ele aguentou o seu olhar mais um bocado, e depois olhou para ela. - Não te incomodes a dizer-

me que te consegues proteger sozinha, Alice. Eu já sei disso. Ainda assim eu tenho que…

- Não é isso que eu vou dizer. - Alice interrompeu. - Eu ia-te pedir um favor.

Vi o que estava na mente dela e a minha boca abriu-se com um choque audível. Olhei para ela, 

chocado, só vagamente consciente de que todos tirando a Alice e Jasper me observavam 

cuidadosamente.

- Eu sei que me amas. Obrigada. Mas eu gostava muito que não tentasses matar a Bella. 

Primeiro de tudo, o Edward está a falar a sério e eu não quero que vocês os dois lutem. 

Segundo, ela é minha amiga. Pelo menos, vai ser.

Estava nítido como vidro na mente dela: A Alice, a sorrir, com os seus braços gelados à volta 

dos ombros quentes e frágeis da rapariga. E Bella estava a sorrir também, o braço dela na 

cintura de Alice.

A visão era sólida como uma pedra; só o tempo é que era incerto.

- Mas, Alice… - O Jasper ofegou. Eu não conseguia virar a minha cabeça para olhar para a 

expressão dele. Não conseguia desviar-me da imagem na cabeça de Alice para olhar para ele.

- Eu vou adorá-la qualquer dia, Jazz. E vou ficar muito chateada contigo se não a deixares estar.

Eu ainda estava preso nos pensamentos de Alice. Vi o futuro a chegar enquanto a resolução de 

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Jasper diminuía com o pedido inesperado dela.

- Ah… - Ela suspirou, a decisão dele tinha criado um novo futuro. - Vêem? A Bella não vai dizer 

nada. Não há nada para nos preocuparmos.

A maneira como ela disse o nome da rapariga… como se já fossem confidentes…

- Alice – Engasguei-me. - O que é que isto…?

- Eu disse-te que estava a aproximar-se uma mudança. Eu não sei, Edward. - Mas ela apertou o 

queixo e eu conseguia ver que existia mais. Ela estava a tentar não pensar nisso; de repente 

estava a concentrar-se muito em Jasper, embora ele estivesse demasiado espantado para fazer 

algum progresso com a sua decisão.

Ela fazia aquilo às vezes, quando me queria esconder alguma coisa.

- O quê, Alice? O que é que estás a esconder?

Ouvi o Emmett a resmungar. Ele ficava sempre frustrado quando a Alice e eu tínhamos aqueles 

tipos de conversa.

Ela abanou a cabeça, tentando manter-me fora.

- É sobre a rapariga? - Exigi. - É sobre a Bella?

Ela tinha os dentes cerrados a concentrar-se, mas quando eu disse o nome da Bella, ela teve 

um deslize. Só durou meio segundo, mas foi o suficiente.

- NÃO! - Gritei. Ouvi a cadeira a bater no chão e percebi que estava de pé.

- Edward! - O Carlisle levantou-se também, com o braço dele no meu ombro. Mal me 

apercebia dele.

- Está a solidificar. - A Alice sussurrou. - A cada minuto que passa tu estás mais decidido. Só 

existem duas saídas para ela agora. É uma coisa ou outra, Edward.

Eu conseguia ver o que ela via… mas não queria aceitar.

- Não. - Disse outra vez; não havia volume na minha negação. As minhas pernas ficaram 

bambas e precisei de me apoiar na mesa.

- Alguém por favor deixa que o resto de nós saiba o mistério? - O Emmett reclamou.

- Eu tenho que ir embora. – Sussurrei para a Alice, ignorando-o.

- Edward, nós já falamos sobre isso. - O Emmett disse alto. - Essa é a melhor maneira de fazer a 

rapariga falar. Além do mais, se tu fores embora, nós não vamos ter certeza se ela vai dizer 

alguma coisa ou não. Tu tens que ficar e lidar com isso.

- Não te vejo a ir para lugar nenhum, Edward. – Alice disse-me. – Já não sei se te consegues ir 

embora. - Pensa, acrescentou silenciosamente. Pensa em partir.

Eu percebi o que ela queria dizer. Sim, a ideia de nunca mais ver a rapariga era… dolorosa. Mas 

era também uma necessidade. Eu não conseguia aprovar nenhum dos futuros a que 

aparentemente eu a tinha condenado.

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Não tenho certeza absoluta quanto ao Jasper, Edward. Alice continuou. Se partires, ele vai 

pensar que ela é um perigo para nós.

- Eu não ouço isso. – Contradisse-a, ainda apenas meio consciente da nossa plateia. O Jasper 

estava hesitante. Ele não faria alguma coisa que magoasse a Alice.

Não neste momento. Arriscarias a vida dela, deixá-la-ias desprotegida?

-Por que é que me estás a fazer isto? - Gemi. A minha cabeça caiu nas minhas mãos.

Eu não era o protector de Bella. Não podia ser isso. O futuro dividido da Alice não era prova 

suficiente disso?

Eu também a amo. Ou vou amar. Não é a mesma coisa, mas eu quero-a por perto para isso.

- Também a amas? - Sussurrei, incrédulo.

Ela suspirou. Tu és tão cego, Edward. Não consegues ver a direcção que estás a tomar? Não 

consegues ver onde é que já estás? É mais inevitável do que o sol nascer a leste. Vê o que eu 

vejo…

Eu abanei a minha cabeça, horrorizado. - Não. - Tentei bloquear as visões que ela me revelava. 

- Não tenho que seguir esse caminho. Eu vou-me embora. Eu vou mudar o futuro.

- Podes tentar… - Disse, a sua voz céptica.

- Ah, por favor! - Emmett aumentou o tom de voz.

- Presta atenção. - Rosalie disse-lhe. - A Alice vê-o a apaixonar-se por uma humana! Que 

clássico do Edward! – Fez um som de vómito.

Eu mal a ouvi.

- O quê? - O Emmett disse, surpreendido. Depois o riso dele como um rugido ecoou pela sala. - 

É isso o que tem acontecido? - Ele riu-se de novo. – Que má sorte, Edward.

Senti a mão dele no meu ombro, e afastei-a distraidamente. Não lhe conseguia prestar 

atenção.

- A apaixonar-se por uma humana? - Esme repetiu numa voz impressionada. - Pela rapariga 

que ele salvou hoje? A apaixonar-se por ela?

- O que é que vês, Alice? Exactamente. - O Jasper pediu.

Ela virou-se para ele. Eu continuei a olhar para a cara, tonto.

- Tudo depende se ele é forte o suficiente ou não. Ou ele a vai com as próprias mãos – Virou-se 

para encontrar o meu olhar outra vez – o que me ia realmente irritar, Edward, e nem digo 

sequer o que é que isso te faria sentir – Olhou para o Jasper novamente - Ou ela vai ser uma de 

nós algum dia.

Alguém engasgou-se com a surpresa, não vi quem foi.

- Isso não vai acontecer! - Estava a gritar de novo. - Nenhum dos dois!

A Alice pareceu não me ter ouvido. - Tudo depende. - Repetiu. - Talvez ele seja só forte o 

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suficiente para não a matar, mas vai ser por pouco. Vai precisar de uma quantidade incrível de 

controlo. - Meditou. - Mais até do que o Carlisle tem. Talvez ele só seja forte o suficiente… A 

única coisa para o qual ele não é forte o suficiente é para ficar longe dela. Essa é uma causa 

perdida.

Não conseguia encontrar a minha voz. Ninguém parecia ser capaz de encontrar a sua. A sala 

ficou imóvel.

Eu olhei fixamente para a Alice, e todos olharam fixamente para mim. Conseguia ver minha a 

própria expressão de terror de cinco pontos de vista diferentes.

Depois de um longo momento, o Carlisle suspirou.

- Bom, isto… complica as coisas.

- Eu que o diga. - O Emmett concordou. A voz dele ainda estava perto da gargalhada. Podia 

contar sempre com o Emmett para encontrar a piada na destruição da minha vida.

- Mas suponho que o plano continua o mesmo. - O Carlisle disse, a ponderar. - Vamos ficar e 

observar. Obviamente, ninguém irá… magoar a rapariga.

Enrijeci.

- Não. - O Jasper disse calmamente. – Posso concordar com isso. Se a Alice só vê duas saídas…

- Não! - A minha voz não era um grito ou um rosnado ou um choro de desespero, mas uma 

combinação dos três. - Não!

Eu tinha que ir embora, ficar longe do som dos pensamentos deles - da aversão egoísta de 

Rosalie, do humor de Emmett, da paciência infinita de Carlisle…

Pior: a confiança de Alice. A confiança de Jasper na confiança dela.

Pior de tudo: a… alegria de Esme.

Saí da sala. A Esme tocou no meu braço quando eu passei, mas eu não respondi o gesto.

Estava a correr antes de estar fora da casa. Passei pelo rio num salto, e corri para a floresta. A 

chuva tinha voltado, caindo tão pesada que me ensopei em poucos segundos. Gostei da água 

espessa - criou uma parede entre mim e o resto do mundo. Rodeou-me, deixou-me isolado.

Corri para este, sobre e pelas montanhas, sem me desviar da linha do meu curso, até que 

consegui ver as luzes de Seattle do outro lado da baía. Parei antes que chegasse à fronteira da 

civilização.

Cercado pela chuva, sozinho, finalmente obriguei-me a ver o que tinha feito - como tinha 

mutilado o futuro.

Primeiro, a visão de Alice e da rapariga com seus braços à volta uma da outra - a confiança e 

amizade eram tão óbvias que gritavam da imagem. Os olhos castanhos expressivos da Bella 

não estavam confusos naquela visão, e sim cheios de segredos - nesse momento, pareciam 

segredos felizes. Ela não se afastou do braço frio de Alice.

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O que é que aquilo significava? Quanto é que ela sabia? Naquela visão congelada do futuro, o 

que é que ela pensava de mim?

Então a outra imagem, tão parecida, só que colorida com horror. A Alice e Bella, os seus braços 

ainda à volta uma da outra na sua amizade confiável. Mas agora não havia diferença entre 

esses braços - os dois eram braços macios e de mármore, duros como aço. Os olhos atentos de 

Bella já não eram castanhos chocolate. As suas íris eram de um vermelho vívido, chocante. Os 

segredos neles eram inatingíveis - aceitação ou angústia? Era impossível de dizer. O rosto dela 

era frio e imortal.

Tremi. Eu não conseguia evitar as perguntas parecidas, mas diferentes: O que é que aquilo 

significava? Como é que aconteceu? E o que é que ela pensava de mim agora?

Eu podia responder àquela última. Se eu a forçasse a fazer parte desta meia vida vazia por 

causa da minha fraqueza e egoísmo, com certeza ela iria odiar-me.

Mas havia mais uma imagem horrorosa - pior do que qualquer outra que já tivesse retido na 

minha cabeça.

Os meus próprios olhos, de vermelho, intensos com o sangue humano, os olhos de um 

monstro. O corpo da Bella nos meus braços, branco pálido, vazio, sem vida. Era tão concreta, 

tão clara.

Não suportava ver aquilo. Não conseguia suportar. Tentei tirá-la da minha mente, tentei ver 

outra coisa, qualquer coisa. Tentei ver a expressão no rosto dela com vida que tinha obstruído 

a minha visão no último capítulo da minha existência. Tudo em vão.

A visão negra da Alice encheu a minha cabeça, e eu contorci-me internamente com a agonia 

que me causou. Enquanto isso, o monstro dentro de mim estava cheio de felicidade, eufórico 

com as hipóteses do seu sucesso. Deixou-me enjoado.

Aquilo não podia ser permitido. Tinha que haver uma maneira de mudar o futuro. Eu não ia 

deixar que as visões de Alice me dissessem o que fazer. Eu ia escolher um caminho diferente. 

Existia sempre uma escolha.

Tinha que existir.

5º Capitulo - Convites

Liceu. Já não era um purgatório, agora era o puro inferno. Tormento e fogo… sim, eu tinha os 

dois.

Eu estava a fazer a coisa certa agora. Todos os pontos nos i’s e os traços nos t’s. Agora 

ninguém podia reclamar que eu estava a evitar as minhas responsabilidades .

Page 78: 1º capitulo

Para deixar a Esme feliz e proteger os outros, eu fiquei em Forks. Voltei para o meu horário 

antigo. Cacei mais que o resto deles. Todos os dias, eu ia para a escola e fingia ser humano. 

Todos os dias, eu ouvia cuidadosamente qualquer coisa nova sobre os Cullens - não havia nada 

de novo. A rapariga não tinha dito uma palavra das suas suspeitas. Ela só repetiu a história de 

novo e de novo - que eu estava ao lado dela e a tinha tirado do caminho - até que os ouvintes 

ficaram aborrecidos e pararam de pedir mais detalhes. Não havia perigo. A minha acção 

precipitada não tinha magoado ninguém.

Ninguém a não ser eu próprio.

Estava determinado a mudar o futuro. Não era a coisa mais fácil de se fazer, mas não havia 

outra escolha com a qual eu pudesse viver.

A Alice tinha dito que eu não seria forte o suficiente para me afastar da rapariga. Eu ia provar 

que ela estava errada.

Eu tinha pensado que aquele primeiro dia tinha sido o mais difícil. No final , eu tinha a certeza 

que era esse o caso. Mas estava errado.

Eu estava amargurado, ao saber que tinha magoado a rapariga. Senti-me melhor pelo facto de 

que a dor dela não era nada mais do que uma picada, só uma pequena ferroada de rejeição, 

comparada com a minha. Bella era humana, e ela sabia que eu era mais alguma coisa, alguma 

coisa errada, algo assustador. Ela provavelmente sentir-se-ia mais aliviada do que magoada 

quando eu desviasse a minha cara para longe dela e fingisse que ela não existia.

- Olá, Edward! - Cumprimentou-me ela no meu primeiro dia de volta à aula de biologia. A voz 

dela estava agradável, amigável, uma volta de 180 º desde a última vez que eu falei com ela.

Porquê? O que é que esta mudança significava? Tinha-se esquecido? Decidiu que tinha 

imaginado todo o episódio? Seria possível que ela me tivesse perdoado por não ter cumprido a 

minha própria promessa?

As perguntas queimavam como a sede que me atacava sempre que eu respirava.

Só um momento para olhar nos olhos dela... Só para ver se eu conseguia encontrar lá 

respostas…

Não. Eu não me podia permitir a isso sequer. Não se eu fosse mudar o futuro.

Mexi o meu queixo devagar na direcção dela sem desviar o olhar da frente da sala. Acenei com 

a cabeça uma vez, e depois virei a minha cara para a frente…

Ela não voltou a falar comigo.

Naquela tarde, assim que a escola terminou, o meu papel também terminou, corri até Seattle 

como tinha feito no outro dia. Parecia que podia lidar com dor ligeiramente melhor quando 

passava a voar por cima do chão, a trasformar tudo à minha volta num borrão verde.

Esta corrida tornou-se o meu hábito diário.

Page 79: 1º capitulo

Eu amava-a? Eu achava que não. Ainda não. Mas a visão de Alice sobre o futuro tinha ficado 

presa comigo, e eu conseguia ver o quão fácil teria sido apaixonar-me por Bella. Seria 

exactamente como uma pessoa apaixonar-se: Sem esforço. Não me permitir a amá-la era o 

oposto de me apaixonar - era como ser puxado de um penhasco, uma tarefa cansativa, como 

se eu tivesse nada mais do que uma força mortal .

Passou-se mais de um mês, e cada dia era mais difícil. Aquilo não fazia sentido para mim. Eu 

fiquei à espera de ultrapassar, fiquei à espera que as coisas ficassem mais fáceis. Isto devia ser 

o que a Alice queria dizer quando previu que eu não seria capaz de me afastar da rapariga. Ela 

tinha visto a escala da dor. Mas eu podia lidar com a dor.

Eu não ia destruir o futuro da Bella. Se eu estivesse destinado para a amar, então evitá-la não 

seria a última coisa que eu conseguisse fazer?

Mas evitá-la era quase o limite do que eu conseguia suportar. Eu podia fingir ignorá-la, e nunca 

olhar na direcção dela. Eu podia fingir que ela não me interessava. Mas era apenas fingimento, 

não era a realidade.

Eu ainda me prendia a cada respiração dela, a cada palavra que ela dizia.

Eu aglomerava os meus tormentos em quatro categorias.

Os dois primeiros eram familiares. O seu aroma e o seu silêncio. Ou, por outro lado - ia pôr a 

responsabilidade em mim, onde pertencia - a minha sede e a minha curiosidade.

A sede era o meu primeiro tormento. Agora era um hábito, simplesmente não respirar na aula 

de Biologia. Mas é claro, havia sempre excepções. Quando eu tinha de responder a uma 

pergunta ou algo do género, eu precisava do meu fôlego para falar. Cada vez que saboreava o 

ar à volta da rapariga era o mesmo que aquele primeiro dia - fogo e violência brutal e a 

necessidade desesperada de me libertar. Era difícil agarrar-me nem que fosse um bocado à 

razão ou retenção nesses momentos. E, como no primeiro dia, o monstro rugia, tão perto da 

superfície…

A curiosidade era dos tormentos mais constantes. A pergunta nunca saía da minha cabeça: O 

que é que ela está a pensar agora? Quando a ouvia a suspirar calmamente. Quando ela 

passava um dos dedos sobre o cabelo. Quando ela mandava os livros com mais força do que o 

habitual. Quando ela chegava tarde à aula. Quando ela batia o pé, impaciente, no chão. Cada 

movimento que eu apanhava na minha visão periférica era um mistério que me enlouquecia. 

Quando ela conversava com os outros alunos humanos, eu analisava todas as palavras e o seu 

tom. Será que ela dizia o que estava a pensar, ou pensava no que dizia? Várias vezes parecia-

me como se ela estivesse a tentar dizer o que a sua audiência esperava, e isso fez-me lembrar 

da minha família e da nossa vida diária da ilusão. Nós éramos melhores naquilo do que ela 

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estava a ser. A não ser que eu estivesse errado sobre aquilo, apenas a imaginar coisas. Por que 

é que ela havia de estar a desempenhar um papel? Ela era um deles, uma jovem adolescente.

Mike Newton era o mais surpreendente dos meus tormentos. Quem é que teria sonhado que 

um tão comum e aborrecido mortal podia ser tão irritante? Para ser justo, eu devia sentir 

alguma gratidão pelo rapaz aborrecido. Mais do que os outros, ele fazia a rapariga falar. Eu 

aprendi muito sobre ela através daquelas conversas. Eu ainda estava a montar a minha lista, 

mas contrariamente, a assistência de Mike neste projecto só me deixava mais irritado.

Eu não queria que fosse Mike o único a descobrir segredos. Eu queria fazer aquilo.

Ajudava o facto de que ele nunca percebia as pequenas revelações que ela fazia, os seus 

pequenos descuidos.

Ele não sabia nada sobre ela. Ele criou uma Bella na sua cabeça que não existia. Uma rapariga 

tão comum como ele era. Ele não tinha observado a generosidade e bravura que a distinguia 

dos outros humanos, ele não ouvia a anormal maturidade dos seus pensamentos falados. Ele 

não percebia que, quando ela falava da sua mãe, soava como um pai a falar de uma criança, 

em vez de ser o contrário: amorosa, indulgente, um pouco divertida, e ferozmente protectora.

Ele não ouvia a paciência na sua voz quando ela fingia ter interesse nas suas histórias 

mirabolantes, e não adivinhava o que havia atrás da sua paciente bondade.

Através das conversas dela com Mike, eu fui capaz de adicionar a qualidade mais importante 

para a minha lista, e mais reveladora de todas elas, tão simples como rara. Bella era boa. Todas 

as outras coisas somaram-se àquele todo - agradável, discreta, altruísta, amorosa e corajosa. 

Ela era boa através de tudo.

No entanto, aquelas agradáveis descobertas não me tornavam mais gentil com o rapaz. A 

maneira possessiva como via a Bella - como se ela fosse feita para ele – provocou-me quase 

tanto como o seu rude fantasiar sobre ela. Ele estava a tornar-se mais confiante em relação a 

ela, também, enquanto o tempo passava, já que ela parecia preferi-lo aos seus rivais - Tyler 

Crowley, Erick Yorkie, e até, esporadicamente, eu mesmo. Ele sentava-se rotineiramente ao 

lado dela na mesa, a conversar com ela, encorajado pelos seus sorrisos. Apenas sorrisos 

educados, disse a mim mesmo. Frequentemente, apanhava-me a imaginar, entretido, a atirá-lo 

contra a parede da sala… Provavelmente não o iria ferir fatalmente…

Mike não pensava muitas vezes em mim como um rival. Após o acidente, ele ficou preocupado 

que a Bella e eu fossemos criar laços por causa da experiência partilhada, mas obviamente 

tinha acontecido o oposto. Naquele tempo, ele tinha ficado incomodado que eu tivesse 

afastado a Bella da atenção dos seus colegas . Mas agora eu ignorava-a perfeitamente como os 

outros, e ele ficou complacente.

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O que é que ela estava a pensar agora? Será que ela gostava de ser o centro das atenções?

E, finalmente o último dos meus tormentos, o mais doloroso: A indiferença de Bella. Como eu 

a ignorava, ela ignorava-me também. Ela não voltou a tentar falar comigo novamente. 

Provavelmente, ela nem sequer voltou a pensar em mim.

Isto podia ter-me levado à loucura, ou até mesmo mudado minha decisão para alterar o 

futuro, excepto que ainda olhava para mim como antes. Não tinha visto isso por mim, já que 

não me permitia a olhar para ela, mas a Alice avisava-nos sempre quando ela estava prestes a 

olhar. Os outros ainda estavam a ser cuidadosos com o conhecimento problemático da 

rapariga.

Acalmava um pouco a dor quando ela olhava para mim de longe de vez em quando. É claro 

que ela podia estar apenas a imaginar que tipo de louco é que eu era.

- A Bella vai olhar para o Edward num minuto. Pareçam normais. - A Alice disse numa terça-

feira de Março, e os outros tomaram o cuidado de gesticular e mexerem-se como um humano. 

Ficar totalmente parado era um hábito da nossa espécie.

Prestei atenção à frequência com que ela olhava na minha direcção. Agradava-me, apesar de 

não dever agradar, que a frequência não diminuía conforme o tempo passava. Eu não sabia o 

que é que aquilo significava, mas fazia-me sentir melhor.

A Alice suspirou. Eu gostava…

- Fica fora disto, Alice. - Disse por baixo da minha respiração. - Não vai acontecer.

Ela fez um beicinho. A Alice estava ansiosa para formar a sua amizade iminente com Bella. De 

uma forma estranha, ela sentia falta da rapariga que nem conhecia.

Admito que és melhor do que eu pensei. Tens o teu futuro todo confuso e sem sentido outra 

vez. Espero que estejas feliz. - Pensou.

- Faz perfeito sentido para mim.

Ela fez um som impaciente de forma delicada.

Eu tentei ignorá-la, estava muito impaciente para conversas. Eu não estava de bom humor. 

Estava mais tenso do que deixava qualquer um deles ver. Só o Jasper sabia como é que eu 

estava, sentindo o stress ao meu redor com a sua habilidade única de sentir e influenciar o 

humor das pessoas à volta. Ele não entendia as razões por trás dos humores e, como tenho 

estado constantemente de mau humor, ele ignorava.

Hoje ia ser um dia difícil. Mais difícil que o dia anterior, era esse o padrão.

Mike Newton, o rapaz odiável com quem eu não me podia permitir a tornar rival, ia convidar 

Bella para um encontro.

O baile que as raparigas adoravam estava a chegar, e ele estava esperançoso que Bella o 

convidasse. Agora Mike estava desconfortavelmente preso, eu gostava do desconforto dele 

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mais do que devia, porque Jessica Stanley tinha acabado de o convidar. Ele não queria dizer 

“sim”, porque estava à espera que Bella o convidasse (e provar que ele era o vitorioso entre os 

seus rivais), mas não queria dizer “não” e acabar por perder o baile. A Jessica, magoada pela 

sua hesitação e imaginando a razão por trás disso, estava a ter pensamentos raivosos contra 

Bella. Agora entendi melhor o instinto, mas só me fez ficar mais frustrado quando não podia 

agir.

E pensar que tinha chegado a este ponto! Eu estava totalmente fixado nos dramas de liceu que 

um dia tinha simplesmente ignorado.

O Mike estava a trabalhar na sua coragem enquanto caminhava com Bella até à aula de 

biologia. Eu ouvi a sua luta interna enquanto esperava que chegassem. O rapaz era fraco. Ele 

tinha esperado por este baile de propósito, com medo de mostrar o seu interesse antes que 

ela mostrasse uma preferência por ele. Ele não queria ficar vulnerável para uma possível 

rejeição, preferindo que ela desse aquele passo antes.

Cobarde.

Ele sentou-se na nossa mesa outra vez, confortável com a familiaridade, e eu imaginei o som 

que seu corpo faria se batesse contra a parede oposta da sala com força suficiente para partir 

a maioria dos seus ossos.

- Pois - Disse para a rapariga, os seus olhos no chão. - A Jessica convidou-me para o baile de 

primavera.

- Isso é óptimo. - Responder Bella imediatamente e com entusiasmo. Era difícil não sorrir 

conforme Mike se dava conta do seu tom. Ele estava à espera que ela contestasse. – Vais-te 

divertir imenso com a Jessica.

Ele reflectiu sobre a resposta certa. - Bem… - Hesitou, e quase desistiu. Depois voltou ao plano. 

- Eu disse-lhe que tinha de reflectir sobre o assunto.

- Porque farias isso? - Perguntou. O tom dela era mais de desaprovação, mas ainda tinha uma 

pontada de alívio também.

O que é que aquilo significava? Uma fúria inesperada fez com que as minhas mãos se 

fechassem até punhos.

Mike não ouviu o alívio. O rosto dele estava vermelho com o sangue - com a raiva que eu 

estava, aquilo parecia um convite - e olhou para o chão outra vez enquanto falava.

- Estava a perguntar-me…. Bem, se estarias a pensar convidar-me.

Bella hesitou.

Naquele momento de hesitação, eu vi o futuro mais claramente do que Alice.

Talvez ela dissesse “sim” à pergunta implícita de Mike, talvez não, mas ainda assim, algum dia 

ela diria sim a alguém. Ela era adorável, intrigante e os outros homens não eram indiferentes a 

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isso. Quer ela assentasse com alguém deste grupo insalubre, ou esperasse para estar livre de 

Forks, o dia em que ela diria sim iria chegar.

Vi a vida dela como tinha visto antes. Faculdade, carreira…amor, casamento. Vi-a de braço 

dado com seu pai, vestida de branco, o a cara dela corada de felicidade conforme se movia ao 

som da marcha nupcial de Mendelssohn.

A dor era mais forte do que já alguma vez tinha sentido. Um humano teria que estar à beira da 

morte para sentir esta dor. Um humano não sobreviveria a isto.

E não só dor, mas o ódio.

A fúria também doía de uma forma física. Mesmo que este rapaz insignificante não seja aquele 

a quem Bella vá dizer sim, eu queria esmagar-lhe o crânio na minha mão, para deixá-lo ficar 

com uma amostra de como iria ficar o rapaz a que ela dissesse sim.

Eu não entendia aquela emoção. Era uma mistura de dor e raiva e desejo e desespero. Eu 

nunca me tinha sentido assim antes. Não conseguia pôr um nome àquilo.

- Mike, eu acho que devias aceitar o convite dela. - Disse de forma gentil.

As esperanças de Mike desapareceram. Noutras circunstâncias eu teria gostado, mas eu estava 

perdido no choque após a dor, e no remorso pelo que a dor e a raiva me tinham feito.

A Alice tinha razão. Eu não era forte o suficiente.

Agora, Alice devia estar a ver o futuro a contorcer-se e a revirar-se, a ficar confuso de novo. 

Será que isto a iria agradar?

- Já convidaste alguém? - Mike perguntou de repente. Olhou de relance para mim, suspeito 

pela primeira vez em semanas. Apercebi-me que nunca tinha disfarçado bem o meu interesse, 

a minha cabeça estava inclinada na direcção de Bella.

A raiva descontrolada nos pensamentos dele - raiva por qualquer um que ela preferisse - de 

repente deu um nome ao meu sentimento.

Eu estava com ciúmes.

- Não. - Disse, a achar um bocado de graça. – Nem sequer vou ao baile.

Por detrás de todo o remorso e raiva, eu senti alívio nas palavras dela. De repente eu estava a 

considerar os meus rivais.

- Porque não? – Perguntou Mike de uma forma quase mal-educada. Ofendia-me que ele 

usasse aquele tom com ela. Contive um rugido.

- Vou a Seattle nesse sábado. - Respondeu.

A curiosidade já não era tão viciante como antes, agora que estava mais concentrado em 

descobrir as respostas para tudo. Eu ia saber os ondes e porquês desta revelação brevemente.

O tom de Mike continuou desagradável. - Não podes ir noutro fim-de-semana?

- Lamento, mas não. - Bella foi mais brusca agora. – Não deves, portanto, fazer a Jess esperar 

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mais. É uma falta de educação.

A preocupação dela com os sentimentos de Jessica diminuiu as chamas do meu ciúme. Aquela 

viagem para Seattle era claramente uma desculpa para dizer não. Será que ela recusou 

puramente por lealdade à amiga? Será que ela queria realmente poder dizer sim? Ou estavam 

os dois palpites errados? Ela estava interessada noutra pessoa?

- Sim, tens razão. - Murmurou Mike, com a moral tão baixa que eu quase senti pena dele. 

Quase.

Parou de olhar para ela, cortando a minha visão do rosto dela na sua mente.

Eu não ia tolerar aquilo.

Eu virei-me para ler a expressão dela por mim mesmo, pela primeira vez em mais de um mês. 

Foi um alívio autorizar-me a fazer isso, era como respirar depois de muito tempo debaixo de 

água para os humanos.

Os olhos dela estavam fechados e as mãos pressionadas de cada lado da sua cara. Os seus 

ombros estavam curvados para frente de forma defensiva. Balançava a cabeça suavemente, 

como se estivesse a tentar tirar algum pensamento da cabeça.

Frustrante. Fascinante.

A voz do Sr. Banner puxou-a daquele estado e os olhos dela abriram-se devagar. Ela olhou para 

mim imediatamente, talvez sentindo o meu olhar. Olhou-me directamente nos olhos com a 

mesma expressão perplexa que me tinha assombrado por tanto tempo.

Não senti remorso ou culpa ou raiva naquele segundo. Eu sabia que eles iriam aparecer outra 

vez, e apareceriam brevemente, mas por este momento eu estava a viver uma estranha 

excitação. Como se eu tivesse triunfado em vez de perdido.

Ela não desviou o olhar, mesmo que eu a estivesse a olhar com uma intensidade imprópria, 

tentando sem sucesso ler os pensamentos dela pelos seus olhos castanhos. Eles estavam 

cheios de perguntas em vez de respostas.

Eu conseguia ver o reflexo dos meus próprios olhos, e vi-os pretos com sede. Já tinham 

passado quase duas semanas desde a última vez que eu tinha caçado. Este não era o dia mais 

seguro para eu sucumbir a minha vontade. Mas a escuridão não pareceu assustá-la. Ela ainda 

não desviava o olhar, e uma leve, apelativa cor vermelha começou a aparecer na sua face.

O que é que ela estava a pensar agora?

Eu quase fiz aquela questão em voz alta, mas naquele momento, o Sr. Banner disse o meu 

nome. Eu ouvi a resposta certa na sua mente e olhei rapidamente na sua direcção.

Respirei rapidamente. – O ciclo de Krebs.

A sede passou na minha garganta, pondo os meus músculos mais tensos e enchendo a minha 

boca com veneno. Fechei os olhos, tentei-me concentrar no desejo pelo sangue dela que se 

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enfurecia dentro de mim.

O monstro estava mais forte do que antes. O monstro estava a regozijar-se. Ele juntou-se 

àquele futuro que lhe dava uma hipótese de 50% no que ele desejava de uma maneira cruel.

O terceiro e incerto futuro que eu tinha tentado construir apenas por força de vontade tinha 

sido destruído, pelos ciúmes, acima de tudo, portanto o monstro estava cada vez mais perto 

de ter o seu desejo.

O remorso e a culpa queimaram-me tal como a sede, e se eu tivesse a habilidade de produzir 

lágrimas elas estariam a formar-se agora.

O que é que eu tinha feito?

Sabendo que a batalha já estava perdida, parecia não haver mais nenhuma razão para resistir 

ao que eu queria. Virei-me para olhar para Bella novamente.

Ela tinha-se escondido no próprio cabelo, mas eu conseguia ver que seu rosto estava 

totalmente vermelho.

O monstro gostou daquilo.

Ela não olhou para mim novamente, mas mexeu de forma nervosa numa mecha de cabelo. Os 

seus dedos delicados, o seu pulso delicado. Eles eram tão frágeis, parecia que até a minha 

respiração podia parti-los.

Não, não, não. Eu não podia fazer isto. Ela era demasiado frágil, demasiado boa pessoa, 

demasiado preciosa para merecer este destino. Eu não podia permitir que minha vida colidisse 

com a dela, que destruísse a vida dela.

Mas eu também não conseguia ficar longe dela. A Alice estava certa sobre isso.

O monstro dentro de mim manifestou-se, frustrado, conforme eu pensava.

A minha breve hora com ela passou demasiado depressa. A campainha tocou e ela começou a 

arrumar as coisas sem olhar para mim. Isso decepcionou-me mas eu não podia esperar o 

contrário. A maneira como eu a tinha tratado desde o acidente era inaceitável.

- Bella? - Disse, sem me conseguir conter. A minha força de vontade já estava despedaçada.

Ela hesitou antes de olhar para mim. Quando se virou a sua expressão estava defensiva e 

desconfiada.

Relembrei-me que ela tinha todo o direito de desconfiar de mim. Que devia.

Ela esperou que eu continuasse, mas eu só olhei para ela, a ler a sua expressão. Eu dava 

respirações superficiais em intervalos regulares, lutando contra a minha sede.

- O que foi? – Perguntou finalmente. – Já voltaste a falar comigo? - Havia um pingo de 

ressentimento na sua voz, como a raiva a aparecer. Isso fez-me querer sorrir.

Eu não tinha a certeza como responder à pergunta dela. Estava a falar com ela outra vez, no 

sentido que ela estava a perguntar?

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Não. Não se conseguisse evitar. Eu ia tentar evitar.

- Não, nem por isso. – Disse-lhe.

Ela fechou os olhos, o que me frustrou. Cortou o meu melhor caminho para tentar aceder aos 

seus sentimentos. Respirou fundo sem abrir os olhos. O seu maxilar estava rígido.

Com olhos ainda fechados, ela falou. Certamente aquela não era a maneira normal de um 

humano conversar. Porque é que ela fazia aquilo?

- Então, o que queres, Edward?

O som do meu nome nos lábios dela fez coisas estranhas ao meu corpo. Se o meu coração 

batesse, estaria a acelerar.

Mas como responder-lhe?

Com a verdade, decidi. Seria o mais sincero que pudesse com ela a partir de agora. Eu não 

queria merecer a sua desconfiança, mesmo que ganhar a sua confiança fosse impossível.

- Desculpa. - Disse-lhe. Aquilo era mais verdade do que ela iria alguma vez saber. Infelizmente, 

a única maneira segura de me desculpar era do trivial. – Eu sei que estou a ser muito 

indelicado, mas é melhor assim, a sério.

Seria melhor para ela se eu continuasse a ser indelicado. Será que eu iria conseguir?

Os olhos dela abriram-se, a sua expressão ainda estava cautelosa.

- Não sei a que te referes.

Eu tentei avisá-la o mais que me fosse possível. – É melhor que não sejamos amigos. – 

Certamente que ela conseguia sentir aquilo. Ela era uma rapariga inteligente. - Confia em mim.

Os olhos dela ficaram mais estreitos e eu lembrei-me que já lhe tinha dito aquelas palavras 

antes, mesmo antes de quebrar a promessa. Estremeci quando ela cerrou os dentes. 

Claramente ela também se tinha lembrado.

- É pena que não tenhas percebido isso antes. - Ela disse zangada. – Terias evitado todo esse 

arrependimento.

Olhei para ela em choque. O que é que ela sabia dos meus arrependimentos?

- Arrependimento? Arrependimento em relação a quê? - Exigi.

- Em relação ao facto de não teres simplesmente deixado que o raio daquela carrinha me 

tivesse esmagado. - Respondeu bruscamente.

Eu congelei, surpreendido.

Como é que ela podia pensar aquilo? Salvar a sua vida tinha sido a única coisa certa que eu 

tinha feito desde que a conheci. A única coisa de que não me envergonhava. A única coisa que 

me deixava feliz em existir. Lutei para a manter viva desde o primeiro momento em que senti o 

seu cheiro. Como é que ela podia pensar aquilo de mim? Como é que se atrevia a questionar a 

minha única boa acção nesta confusão toda?

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- Julgas que eu me arrependo de te ter salvo a vida?

- Eu sei que te arrependes de tê-lo feito.

A avaliação dela das minhas intenções deixaram-me a ferver de raiva. – Tu não sabes nada.

Que confusos e incompreensíveis eram os trabalhos da mente dela! Ela não devia pensar da 

mesma maneira que os outros humanos. Devia ser essa a explicação por detrás do seu silêncio 

mental. Ela era completamente diferente.

Ela virou a cara, a ranger os dentes. As suas bochechas estavam vermelhas, com raiva outra 

vez. Ela juntou os livros numa pilha, colocou-os nos braços e marchou em direcção à porta sem 

olhar para mim.

Mesmo irritado como eu estava, era impossível não achar o seu ódio divertido.

Ela andou desajeitada, sem olhar por onde ia, e o pé dela bateu na ombreira da porta. Ela 

tropeçou, e as coisas todas caíram no chão. Em vez de se inclinar para as apanhar, ficou 

parada, rígida, sem sequer olhar para baixo, como se não tivesse a certeza se os livros 

mereciam ser recuperados.

Consegui não me rir.

Ninguém estava aqui para olhar para mim. Fui rapidamente para o lado dela e pus os livros em 

ordem antes que ela olhasse para baixo.

Ela inclinou-se, viu-me, e congelou. Entreguei-lhe os livros, tomando o cuidado que a minha 

pele gelada não tocasse na dela.

- Obrigada. - Disse numa voz fria, severa.

O seu tom trouxe de volta a minha irritação.

- Não tens de quê. - Respondi no mesmo tom frio.

Ela endireitou-se e foi para a sua próxima aula.

Fiquei a olhar até que já não conseguia ver a sua figura furiosa.

A aula de espanhol passou num borrão. A Sra. Goff não questionou a minha distracção, ela 

sabia que o meu espanhol era superior ao dela, e deu-me liberdade, deixando-me livre para 

pensar.

Então, eu não conseguia ignorar a rapariga. Isso era óbvio. Mas isso significava que eu não 

tinha outra saída a não ser destruí-la? Aquele não podia ser o único futuro disponível. Tinha 

que haver alguma outra escolha, algum equilíbrio. Tentei pensar numa maneira…

Não prestei muita atenção ao Emmett até que a aula terminou. Ele estava curioso. O Emmett 

não era muito intuitivo sobre os sentimentos dos outros, mas ele conseguia ver uma mudança 

óbvia em mim. Perguntou-se o que teria acontecido para tirar o insistente olhar de ódio do 

meu rosto. Lutou consigo mesmo para definir a mudança, e finalmente decidiu que eu parecia 

esperançoso.

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Esperançoso? Era assim que eu parecia por fora?

Ponderei a ideia de esperança enquanto voltávamos para o Volvo, perguntando-me sobre o 

que é que devia estar esperançoso.

Mas não tive muito tempo para reflectir. Sensível como estava sempre aos pensamentos dos 

outros sobre a rapariga, o som do nome da Bella nas cabeças dos meus… dos meus rivais, tive 

que admitir, chamou a minha atenção. Eric e Tyler, tinham ouvido falar, com muita satisfação 

do fracasso de Mike, e estavam a preparar-se para agir.

Eric já estava pronto, encostado à pick-up dela, de modo a que ela não o conseguisse evitar. A 

aula de Tyler estava atrasada por causa de um trabalho, e ele estava desesperado por apanhá-

la antes que ela escapasse.

Eu tinha que ver isto.

- Espera pelos outros aqui, está bem? - Murmurei ao Emmett.

Ele olhou para mim, suspeito, mas depois encolheu os ombros e acenou.

O miúdo endoideceu. - Pensou, divertido pelo meu pedido esquisito.

Vi a Bella a sair do ginásio, e fiquei à espera onde ela não me conseguisse ver.

Quando ela se aproximou da emboscada de Eric, eu aproximei-me, andando num ritmo que 

me ia fazer passar por ela no momento certo.

Vi o seu corpo a ficar tenso quando viu o rapaz à espera dela. Ela parou por um momento, 

depois relaxou e continuou a andar.

- Olá, Eric. – Ouvi-a dizer num tom amigável.

Fiquei inesperadamente ansioso. E se aquele adolescente magro e com problemas de pele 

fosse de algum modo atraente para ela?

Eric engoliu alto, a sua maçã-de-adão tremeu. - Viva, Bella.

Ela parecia inconsciente do nervosismo dele.

- O que se passa? - Perguntou, enquanto destrancava a pick-up sem olhar para a expressão 

assustada que ele tinha.

- Ah… estava apenas a pensar… se irias ao baile de primavera comigo. - A voz dele tremeu.

- Pensei que eram as raparigas que escolhiam o seu par. - Disse, parecendo frustrada.

- Bem, e são. - Ele concordou infeliz.

Este pobre rapaz não me irritou tanto quanto Mike Newton, mas eu não conseguia encontrar 

dentro de mim qualquer simpatia pela sua angústia até que Bella lhe respondeu com uma voz 

gentil.

- Obrigada por me convidares, mas eu estarei em Seattle nesse dia.

Ele já tinha ouvido isso; mesmo assim, ficou desapontado.

-Ah – Murmurou, mal se atrevendo a levantar os olhos ao nível do nariz dela - Bem, talvez para 

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a próxima?

- Claro. - Ela concordou. Depois mordeu o lábio, como se estivesse arrependida de lhe ter dado 

uma hipótese. Gostei daquilo.

Eric afastou-se da pick-up e foi-se embora, ia na direcção contrária do seu carro, só queria 

escapar dali.

Passei por ela naquele momento, e ouvi o seu suspiro de alívio. Eu ri-me.

Ela virou-se ao som, mas eu olhei para a frente, tentando evitar que os meus lábios se 

contorcessem com o divertimento.

O Tyler estava atrás de mim, quase a correr com pressa de falar com ela antes que ela pudesse 

ir para casa. Ele estava mais destemido e confiante que os outros dois. Só tinha esperado tanto 

tempo para abordar Bella porque respeitava que Mike a tinha visto primeiro.

Eu queria que ele conseguisse falar com ela por dois motivos. Se, como estava a começar a 

suspeitar, toda aquela atenção fosse irritante para Bella, eu queria aproveitar e assistir à sua 

reacção. Mas, se não, se o convite de Tyler fosse o que ela estava à espera, então eu queria 

saber disso também.

Medi Tyler Crowley como um rival, sabendo que isso era errado de se fazer. Ele parecia 

aborrecidamente comum e não se comparava comigo, mas o que sabia eu das preferências de 

Bella? Talvez ela gostasse de rapazes comuns…

Estremeci com aquele pensamento. Eu jamais conseguiria ser um rapaz comum. Que parvoíce 

era colocar-me como rival para os seus afectos. Como é que ela se poderia importar com 

alguém que era, sob qualquer ângulo, um monstro?

Ela era boa de mais para um monstro.

Eu devia deixá-la escapar, mas a minha indesculpável curiosidade evitou que fizesse a coisa 

certa. Outra vez. E se o Tyler perdesse a sua oportunidade agora, apenas para contactá-la mais 

tarde quando eu não tivesse maneira de conhecer o resultado? Puxei o meu Volvo para o 

caminho estreito, bloqueando a saída dela.

O Emmett e os outros estavam a caminho, mas ele tinha-lhes descrito o meu comportamento 

estranho, então eles estavam a andar lentamente, observando-me, a tentar decifrar o que é 

que eu estava a fazer.

Olhei para a rapariga pelo retrovisor. Ela olhou para o meu carro com raiva, sem encontrar o 

meu olhar, como se quisesse estar a conduzir um tanque em vez de uma pick-up Chevy 

enferrujada.

O Tyler despachou-se para o seu carro e pôs-se na fila atrás dela, agradecendo o meu 

comportamento inexplicável. Ele acenou-lhe, tentando chamar a sua atenção, mas ela não 

reparou. Ele esperou um momento, e depois saiu do carro e correu para a janela do lado do 

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condutor dela. Bateu no vidro.

Ela saltou, e depois olhou para ele, confusa. Depois de um segundo, abriu a janela 

manualmente, parecendo ter algum problema com aquilo.

- Desculpa, Tyler. - Disse numa voz irritada. - Estou encurralada atrás do Cullen.

Ela disse o meu apelido com uma voz dura. Ainda estava zangada comigo.

- Oh, eu sei - Tyler disse, não se importando com o humor dela. – Queria apenas pedir-te algo 

enquanto estamos aqui presos.

O sorriso dele era convencido.

Fiquei aliviado com a maneira que ela empalideceu com a tentativa óbvia dele.

- Convidas-me para o baile de primavera? - Perguntou, não havia nenhum pensamento de 

derrota na sua mente.

- Estarei fora da cidade, Tyler. - Ela disse-lhe, a irritação ainda bem presente na sua voz.

- Pois, o Mike falou nisso.

- Então por que é que… - Começou a perguntar.

Ele encolheu os ombros. – Estava com esperança de que estivesses apenas a recusar o convite 

dele de uma forma simpática.

Os olhos dela queimaram, depois ficaram frios. - Desculpa, Tyler. – Disse-lhe, sem parecer 

sentir nada. - Eu vou mesmo sair da cidade.

Ele aceitou aquela desculpa, a sua autoconfiança não tinha sido tocada. - Tudo bem, ainda 

temos o baile de finalistas.

Ele empertigou-se e foi para o seu carro.

Eu tinha razão por ter querido esperar por isto.

A expressão horrorizada no rosto dela era impagável. Disse-me o que eu não devia estar tão 

desesperado por saber: que ela não sentia nada por nenhum daqueles rapazes humanos que 

queriam convidá-la.

E também, a expressão dela era possivelmente a coisa mais engraçada que eu já tinha visto.

Então a minha família chegou, confusa pelo facto de que eu estava, para variar, a tremer de 

riso em vez de estar a fazer uma cara assassina a qualquer coisa que estivesse à vista.

O que é que é tão engraçado? Emmett quis saber.

Eu só abanei a cabeça enquanto me abanava também com uma nova onda de riso quando 

Bella acelerou seu motor, nervosa. Ela parecia querer o tanque outra vez.

- Vamos embora! - A Rosalie sibilou impaciente. - Pára de ser idiota. Se conseguires.

As palavras dela não me irritaram. Estava demasiado divertido. Mas fiz o que ela pediu.

Ninguém falou comigo no caminho para casa. Continuei a rir-me de vez em quando, a pensar 

no rosto de Bella.

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Quando virei para a estrada, agora acelerava já que não havia testemunhas, a Alice arruinou o 

meu humor.

- Então agora já posso falar com a Bella? - Perguntou inesperadamente, sem pensar nas 

palavras primeiro, não me dando um aviso.

- Não. – Disse bruscamente.

- Isso não é justo. Do que é que estou à espera?

- Eu ainda não decidi nada, Alice.

- Como queiras, Edward.

Na cabeça dela, os dois destinos de Bella estavam claros novamente.

- Para quê conhecê-la? - Murmurei, de repente rabugento. - Se vou simplesmente matá-la?

A Alice hesitou por um segundo. – Lá nisso tens razão. - Ela admitiu.

Dei a última curva a 150 km/h e parei a três centímetros da parede da garagem.

- Aproveita a tua corrida. - Disse Rosalie presunçosa quando me atirei para fora do carro.

Mas eu não fui correr hoje. Em vez disso, fui caçar.

Os outros iam caçar amanhã, mas eu não podia estar com sede agora. Exagerei, bebendo mais 

do que o necessário, fartando-me de novo. Um pequeno grupo de cervos e um urso negro que 

tive a sorte de encontrar tão cedo este ano. Estava tão cheio que era desconfortável. Por que é 

que aquilo não podia ser o suficiente? Por que é que o cheiro dela tinha que ser muito mais 

forte que todas as outras coisas?

Eu tinha caçado para me preparar para o próximo dia, mas, quando não conseguia caçar mais 

e o sol ainda estava a horas de nascer, soube que o próximo dia não chegaria rápido o 

suficiente.

A enorme tensão passou por mim outra vez quando percebi que ia à procura da rapariga.

Eu discuti comigo mesmo todo o caminho de volta a Forks, mas o meu lado menos nobre 

ganhou a discussão, e eu segui adiante com o meu plano indestrutível. O monstro estava 

inquieto, mas bem alimentado. Eu sabia que ia manter uma distância segura dela. Só queria 

saber como é que ela estava. Só queria ver a sua cara.

Passava da meia-noite e a casa de Bella estava escura e silenciosa. A pick-up dela estava 

estacionada contra a cerca da casa e o carro patrulha do seu pai estava na entrada da casa. 

Não havia pensamentos conscientes em lugar nenhum na vizinhança. Olhei para a casa por um 

momento, da escuridão da floresta que a cercava do lado este. A porta da frente 

provavelmente estava trancada, não que isso fosse um problema, excepto que eu não queria 

deixar a porta partida como prova para trás. Decidi tentar a janela de cima, primeiro. Não 

existiam muitas pessoas que se incomodavam a instalar uma fechadura ali.

Passei pelo jardim aberto e escalei a parede da casa em meio segundo. Pendurado por uma 

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mão no parapeito da janela, olhei pelo vidro, e a minha respiração parou.

Era o quarto dela. Eu conseguia vê-la, os cobertores no chão e os lençóis enrolados nas suas 

pernas. Enquanto eu olhava, ela virou-se inquieta e colocou um braço por cima da cabeça. Ela 

não dormia profundamente, pelo menos não esta noite. Será que sentia o perigo próximo?

Fiquei com nojo de mim próprio quando a vi mexer-se outra vez. Como é que eu era melhor do 

que qualquer outro bisbilhoteiro? Eu não era melhor. Era muito, muito pior.

Relaxei as pontas dos meus dedos, preparado para me deixar cair. Mas primeiro permiti a mim 

mesmo lançar um longo olhar na direcção da cara dela.

Não estava tranquila. A pequena ruga entre as suas sobrancelhas, os cantos dos seus lábios 

para baixo. Os lábios dela tremeram, e então abriram-se.

- Está bem, mãe. - Resmungou.

A Bella falava durante o sono.

A curiosidade invadiu-me, mais forte que o nojo que tinha por mim mesmo. O encanto 

daqueles pensamentos falados, desprotegidos e inconscientes, era incrivelmente tentador.

Tentei abrir a janela, e não estava fechada, embora tenha encravado por ter ficado tanto 

tempo sem ser aberta. Eu empurrei-a lentamente para o lado, rangendo a cada pequeno 

gemido que a moldura de metal fazia. Tinha que arranjar algum óleo para a próxima vez…

Próxima vez? Eu abanei a cabeça, com nojo de novo.

Passei silenciosamente pela janela meio aberta.

O quarto dela era pequeno. Desorganizado, mas não sujo. Havia livros empilhados no chão 

perto da sua cama, as lombadas viradas para o outro lado, e CDS espalhados perto do seu 

discman barato. O que estava por cima era só uma caixa vazia. Papéis cercavam um 

computador que mais parecia pertencer a um museu dedicado a tecnologias obsoletas. 

Sapatos estavam no chão de madeira.

Eu queria muito ir ler os títulos dos seus livros e CDS, mas tinha prometido que ia manter a 

distância. Em vez disso, fui-me sentar na velha cadeira de balanço no outro canto do quarto.

Eu tinha mesmo alguma vez pensado que ela tinha um aspecto comum? Pensei naquele 

primeiro dia, e no meu nojo pelos rapazes que ficaram tão rapidamente intrigados por ela. 

Mas quando me lembrei do rosto dela nos pensamentos deles, não conseguia entender por 

que é que não a tinha achado linda imediatamente. Parecia uma coisa óbvia.

Neste momento, com o seu cabelo escuro embaraçado e selvagem à volta da sua cara pálida, a 

usar uma t-shirt cheia de buracos e umas calças esfarrapadas, ela tirou-me a respiração. Ou 

teria tirado, pensei ironicamente, se eu estivesse a respirar.

Ela não falou. Talvez o sonho tivesse terminado.

Olhei para a cara dela e tentei pensar nalguma maneira de deixar o futuro suportável.

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Magoá-la não era suportável. Isso significava que minha única escolha era tentar ir embora 

novamente?

Os outros não podiam discutir comigo agora. A minha ausência não iria colocar ninguém em 

perigo. Não iria haver nenhuma suspeita, nada para levar os pensamentos de ninguém de 

volta ao acidente.

Vacilei como tinha feito esta tarde, e nada pareceu possível.

Não podia estar à espera de ser rival dos rapazes humanos, quer esses rapazes específicos a 

atraíssem ou não. Eu era um monstro. Como é que ela me podia ver de outra forma? Se ela 

soubesse a verdade sobre mim, ia assustá-la e repulsá-la. Como a vítima num filme de terror, 

ela ia correr, a gritar de horror.

Lembrei-me do primeiro dia dela na aula de biologia… e sabia que aquela seria exactamente a 

reacção certa para se ter.

Era uma parvoíce imaginar que se fosse eu quem a tivesse a convidado para aquele baile 

idiota, ela teria cancelado os seus planos feitos em cima da hora e teria concordado em ir 

comigo.

Não era a mim que ela estava destinada a dizer sim. Era a outra pessoa, humana e quente. E 

eu nem me podia permitir - algum dia, quando ela dissesse sim – a persegui-lo e matá-lo, 

porque ela merecia-o, quem quer que fosse que tivesse escolhido.

Ela merecia que eu fizesse a coisa certa agora. Já não podia fingir que estava só em perigo de 

amar esta rapariga.

Afinal de contas, não fazia diferença se eu fosse embora, porque Bella jamais me iria ver da 

maneira que eu queria que ela visse. Ela nunca me ia ver como alguém que merecesse ser 

amado.

Nunca.

Podia um coração morto, gelado, despedaçar-se? Parecia que o meu podia.

- Edward. - Disse Bella.

Eu congelei, a olhar para os seus olhos fechados.

Ela tinha acordado, tinha-me visto aqui? Ela parecia adormecida, mas a sua voz tinha sido tão 

clara…

Ela suspirou calmamente, e depois mexeu-se inquieta outra vez, dando uma volta – ainda a 

dormir e sonhar.

- Edward. - Murmurou suavemente.

Ela estava a sonhar comigo.

Podia um coração morto, gelado, bater de novo? Parecia que o meu podia.

- Fica. - Suspirou. - Não vás. Por favor… não vás.

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Ela estava a sonhar comigo, e não era um pesadelo. Ela queria que eu ficasse com ela, ali no 

seu sonho.

Eu lutei para encontrar palavras para dar nome aos sentimentos que me invadiram, mas não 

existiam palavras fortes o suficiente para descrevê-los. Por um longo momento, afoguei-me 

neles.

Quando voltei à superfície, não era o mesmo homem que tinha sido.

A minha vida era uma a meia-noite, sem mudanças, sem fim. Devia, por necessidade, ser 

sempre meia-noite para mim. Então como é que era possível que o sol estivesse a nascer 

agora, bem a meio da meia-noite?

No momento em que me tornei um vampiro, trocando a minha alma e mortalidade por 

imortalidade na dor abrasadora da transformação, eu tinha realmente congelado. O meu 

corpo tinha-se transformado em algo mais parecido com pedra do que carne, permanente e 

sem mudanças. Até eu, também, tinha congelado como era. A minha personalidade, os meus 

gostos e desgostos, os meus humores e os meus desejos, estavam todos fixos num lugar.

Era a mesma coisa para o resto deles. Todos nós estávamos congelados. Pedras vivas.

Quando uma mudança chegava para um de nós, era uma coisa rara e permanente. Tinha visto 

isso acontecer com Carlisle, e uma década depois, com Rosalie. O amor tinha-os mudado de 

uma maneira irremediável, uma maneira que nunca mais mudava. Mais de oitenta anos 

tinham-se passado desde que Carlisle tinha encontrado Esme, e ele ainda a olhava com os 

olhos incrédulos do primeiro amor. Seria sempre assim para eles.

Seria sempre assim para mim também. Eu ia sempre amar esta frágil rapariga humana, pelo 

resto da minha existência sem limites.

Olhei para o seu rosto inconsciente, sentindo esse amor por ela a acomodar-se em cada célula 

do meu corpo de pedra.

Ela dormia com mais calma agora, um sorriso fraco nos lábios.

Sem deixar de a observar, comecei a planear.

Eu amava-a, então ia tentar ser forte o suficiente para a deixar. Eu sabia que neste momento 

não era forte o suficiente. Ia ter que trabalhar nisso. Mas talvez eu fosse forte o suficiente para 

moldar o futuro de outra maneira.

A Alice tinha visto só dois futuros para a Bella, e agora eu entendia os dois.

Amá-la não ia evitar que eu a matasse, se cometesse erros.

Mas eu não conseguia sentir o monstro agora, não conseguia encontrá-lo em nenhum lugar 

dentro de mim. Talvez o amor o tivesse silenciado para sempre. Se eu a matasse agora, não 

seria intencional, só um horrível acidente.

Eu teria de ser extraordinariamente cuidadoso. Jamais, jamais seria capaz de baixar a guarda. 

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Ia ter que controlar cada respiração. Ia ter de manter sempre uma distância segura.

Não ia cometer erros.

Finalmente entendi o segundo futuro. Tinha estado aterrorizado com aquela visão. O que é 

podia possivelmente acontecer que resultaria em Bella a tornar-se uma prisioneira desta meia-

vida imortal? Agora, devastado por desejar a rapariga, eu conseguia entender como eu podia, 

num egoísmo indesculpável, pedir ao meu pai esse favor. Pedir-lhe que tirasse a vida e a alma 

dela para que eu pudesse ficar com ela para sempre.

Ela merecia melhor.

Mas eu vi mais um futuro, uma linha estreita pela qual eu talvez pudesse caminhar, se pudesse 

manter o meu equilíbrio.

Conseguiria fazê-lo? Ficar com ela e deixá-la humana?

Deliberadamente, inspirei fundo e depois outra vez, deixando que o seu cheiro passasse por 

mim como fogo. O quarto estava cheio do seu perfume, a fragrância dela saía de cada 

superfície. A minha cabeça girou, mas eu lutei contra a tontura. Teria que me habituar àquilo, 

se eu fosse tentar ter qualquer tipo de relacionamento com ela. Respirei novamente, deixando 

o ar queimar-me.

Observei-a a dormir até que o sol nasceu atrás das nuvens a este, a planear e a respirar.

 

Voltei para casa quando os outros já tinham ido embora para a escola. Mudei de roupa 

rapidamente, evitando os olhos cheios de perguntas de Esme. Ela viu a luz febril no meu rosto, 

e sentiu preocupação e alívio. A minha melancolia sem fim magoava-a, e ela estava feliz 

porque parecia ter acabado.

Corri para a escola, chegando poucos segundos depois dos meus irmãos. Eles não se viraram, 

embora Alice deva ter desconfiado que eu estava parado aqui nas grossas árvores que 

cercavam o asfalto. Esperei até que ninguém estivesse a olhar, e depois andei casualmente por 

entre as árvores até o estacionamento cheio de carros.

Ouvi a pick-up de Bella a rugir na esquina, e parei atrás de um Suburban onde podia observá-la 

sem ser visto.

Ela dirigiu-se até o estacionamento, e olhou para o meu Volvo durante um longo momento 

antes de parar numa das vagas mais distantes, tinha uma careta no seu rosto.

Era estranho lembrar-me que ela provavelmente ainda estava zangada comigo, e por um bom 

motivo.

Eu queria rir-me de mim mesmo, ou bater-me. Todo o meu esquema e planeamento eram 

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totalmente inúteis se ela não se importasse comigo, não eram? O sonho dela pode ter sido 

sobre alguma coisa aleatória. Eu era mesmo um idiota arrogante.

Bem, era muito melhor para ela se não se importasse comigo. Isso não me impediria de a 

perseguir, mas eu avisá-la-ia da minha perseguição. Devia-lhe isso.

Andei silenciosamente, a pensar em qual seria a melhor forma de me aproximar dela.

Ela tornou aquilo mais fácil. A chave da pick-up escorregou pelos seus dedos quando saiu, e 

caiu numa poça funda.

Ela inclinou-se, mas eu cheguei primeiro, recuperando-a antes que ela tivesse que pôr os 

dedos na água fria.

Encostei-me contra a pick-up enquanto ela olhava para mim, e depois endireitou-se.

- Como é que fizeste isso? - Exigiu.

Sim, ainda estava chateada.

Ofereci-lhe a chave. – Como é que fiz o quê?

Ela esticou a mão, e eu deixei-a cair na sua palma. Respirei fundo, absorvendo o cheiro.

- Aparecer vindo do nada. - Esclareceu.

- Bella, eu não tenho culpa de que tenhas uma excepcional falta de poder de observação. - As 

palavras eram sarcásticas, quase uma piada. Havia alguma coisa que ela não visse?

Será que ela ouviu como a minha voz disse o nome dela com carinho?

Ela olhou para mim, não estava a apreciar o meu humor. O seu batimento cardíaco acelerou. 

De raiva? De medo? Depois de um momento, olhou para baixo.

- Qual foi o motivo do engarrafamento da noite passada? – Perguntou-me sem me olhar nos 

olhos. - Pensei que andasses a fingir que eu não existo e não a matar-me de irritação.

Ainda estava bastante zangada. Ia levar algum esforço para deixar as coisas bem com ela. E 

lembrei-me da minha resolução de ser honesto com ela…

- Foi pelo bem do Tyler, não pelo meu. Tinha de lhe proporcionar a sua oportunidade. - E então 

ri-me. Não conseguia evitar, ao pensar na expressão dela ontem.

- Seu…! - Ofegou, e depois parou, parecendo estar demasiado furiosa para terminar. Ali estava: 

a mesma expressão. Abafei outro riso. Ela já estava zangada o suficiente.

- E não ando a fingir que tu não existes. - Terminei. Era certo manter as coisas casuais, em tom 

de gozo. Ela não iria entender se eu a deixasse ver como me sentia na realidade. Iria assustá-la. 

Tinha que manter os meus sentimentos sob controlo, manter as coisas ligeiras…

- Então andas mesmo a tentar matar-me de irritação? Já que a carrinha do Tyler não se 

encarregou de o fazer?

Um rápido lampejo de raiva passou por mim. Como é que ela podia honestamente acreditar 

naquilo?

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Era irracional da minha parte ficar tão ofendido. Ela não sabia da transformação que tinha 

acontecido a noite passada. Mas a raiva era a mesma.

- Bella, és completamente absurda. – Disse bruscamente.

O rosto dela corou, e ela virou-se de costas para mim. Começou a ir-se embora.

Remorso. Eu não tinha direito à minha raiva.

- Espera. – Pedi.

Ela não parou, então segui-a.

- Desculpa, foi indelicado da minha parte. Não estou a dizer que não é verdade. - Era absurdo 

imaginar que eu a queria magoada de alguma maneira. – Mas, de qualquer forma, foi 

indelicado da minha parte afirmá-lo.

- Porque é que não me deixas em paz?

Acredita, eu quis dizer. Eu tentei.

Ah, e outra coisa, estou miseravelmente apaixonado por ti.

Manter as coisas ligeiras.

- Queria perguntar-te algo, mas tu desviaste-me dos meus fins. - Outro curso de acção tinha 

acabado de me ocorrer, e eu ri-me.

- Sofres de um distúrbio de múltipla personalidade? - Perguntou.

Devia parecer que sim. O meu humor instável, tantas emoções novas a passar por mim.

- Lá estás tu outra vez. – Informei-a.

Ela suspirou. – Então, muito bem. O que queres perguntar-me?

- Estava a pensar se, de sábado a uma semana… - observei o choque a passar-lhe pelos olhos e 

sufoquei outra gargalhada. - Tu sabes, o dia do baile da Primavera …

Ela interrompeu-me, finalmente a dirigir-me o olhar. – Estás a tentar ser engraçado?

Sim. - Fazes o favor de me deixar terminar?

Ela esperou em silêncio, os dentes a morder o lábio macio inferior.

Aquela visão distraiu-me por um momento. Reacções estranhas, desconhecidas agitaram-se 

no fundo do meu esquecido núcleo humano. Tentei livrar-me delas para que pudesse fazer o 

meu papel.

- Ouvi-te dizer que ias a Seattle nesse dia e estava a pensar se quererias boleia. - Ofereci. 

Tinha-me apercebido que, melhor do que perguntar-lhe sobre os seus planos, podia partilhá-

los.

Ela olhou-me inexpressivamente. – O quê?

- Queres boleia para Seattle? - Sozinho no carro com ela, a minha garganta queimou com o 

pensamento. Respirei fundo. Habitua-te.

- De quem? - Perguntou, os seus olhos arregalados e confusos outra vez.

Page 98: 1º capitulo

- De mim, obviamente. – Disse-lhe lentamente.

- Porquê?

Era um choque assim tão grande que eu quisesse a companhia dela? Ela devia ter chegado à 

pior conclusão possível do meu comportamento passado.

-Bem, eu tencionava ir a Seattle durante as próximas semanas e, para ser sincero, não sei se a 

tua pick-up resistirá à viagem. - Era mais seguro provocá-la do que me permitir ser sério.

-A minha pick-up funciona perfeitamente, muito obrigada pela tua preocupação. - Disse na 

mesma voz surpreendida. E começou a andar outra vez. Continuei a segui-la.

Ela não tinha dito não, então pressionei essa vantagem.

Será que ela ia dizer não? O que é que eu fazia se ela dissesse?

- Mas será que a tua pick-up consegue realizar a viagem consumindo um só depósito de 

combustível?

- Não vejo em que medida é que isso possa dizer-te respeito. - Ela reclamou.

Ainda não era um não. E o coração dela estava a bater mais rápido outra vez, a respiração mais 

rápida.

- O desperdício de recursos limitados diz respeito a todos.

- Francamente, Edward, não consigo acompanhar-te. Pensei que não querias ser meu amigo.

Uma forte emoção atravessou-me quando ela disse o meu nome.

Como manter isto ligeiro e ser honesto ao mesmo tempo? Bem, era mais importante ser 

honesto. Especialmente nesta questão.

- Eu disse que seria melhor se não fôssemos amigos e não que não queria que fôssemos.

- Oh, obrigada, agora está tudo esclarecido. - Disse sarcasticamente.

Ela parou, sob o teto da cantina, e encontrou o meu olhar novamente. As batidas do seu 

coração estavam aceleradas. Estava com medo?

Escolhi as minhas palavras cuidadosamente. Não, eu não conseguia deixá-la, mas talvez ela 

fosse esperta o suficiente para me deixar, antes que fosse demasiado tarde.

- Seria mais… prudente que não fosses minha amiga. – Enquanto olhava para a profundeza do 

chocolate derretido nos seus olhos, perdi a minha segurança na luz. - Mas estou farto de 

tentar manter-me afastado de ti, Bella. - As palavras queimaram com demasiado fervor.

A sua respiração parou e, quando voltou a respirar, aquilo preocupou-me. Quanto é que a 

tinha assustado? Bem, eu ia descobrir.

- Vais comigo a Seattle?

Ela acenou, com o coração a bater mais alto.

Sim. Ela tinha-me dito sim, a mim.

E depois a minha consciência sufocou-me. O que é que isso lhe iria custar?

Page 99: 1º capitulo

- Devias mesmo manter-te afastada de mim. Alertei-a. Será que ela me ouvia? Será que ela iria 

escapar do futuro com o qual eu a estava a ameaçar? Eu não podia fazer nada para que a 

salvasse de mim?

Mantém-te ligeiro, avisei-me. – Vemo-nos na aula

Tive que me concentrar para me impedir de correr enquanto fugia.

6º Capitulo - Grupo Sanguineo

Segui-a o dia todo através dos olhos das outras pessoas, apenas ligeiramente consciente da 

minha audiência.

Não pelos olhos de Mike Newton, porque não conseguia aguentar mais as suas fantasias 

ofensivas, e não pelos olhos de Jessica Stanley, porque o seu ressentimento com a Bella 

deixava-me perigosamente nervoso. Angela Weber era uma boa escolha quando os seus olhos 

estavam disponíveis. Ela era gentil, a sua cabeça era um lugar fácil para se estar. E algumas 

vezes os professores providenciavam a melhor vista.

Eu estava surpreendido, ao vê-la tropeçar o dia inteiro (a tropeçar nas falhas da calçada, a 

deixar os livros cair, e, a maioria das vezes, a tropeçar nos próprios pés) , que as pessoas de 

quem eu estava a ler os pensamentos viam-na como desastrada.

Considerei aquilo. Era verdade que muitas vezes ela tinha problemas em manter-se de pé. 

Lembrei-me do primeiro dia de aulas quando ela tropeçou para cima da secretária, lembrei-me 

quando escorregou em cima do gelo antes do acidente, quando bateu com o pé na ombreira 

da porta ontem… Que estranho, eles tinham razão. Ela era desastrada.

Eu não sabia por que é que aquilo era tão engraçado para mim, mas eu estava a rir-me em voz 

alta enquanto andava da aula de História Americana para a de Inglês, e muitas pessoas 

lançaram-me olhares cuidadosos. Como é que eu não tinha percebido aquilo antes? Talvez por 

que havia alguma coisa bastante graciosa na sua calma, na maneira como ela mantinha a 

cabeça, no arco do seu pescoço…

Agora não havia nada de gracioso nela. O Sr. Varner tinha acabado de a ver a prender a ponta 

da bota no tapete e a cair literalmente na sua cadeira.

Ri-me de novo.

O tempo passava incrivelmente lento enquanto eu estava à espera de a ver com os meus 

próprios olhos. Finalmente a campainha tocou. Andei rapidamente até à cantina para 

assegurar o meu lugar. Fui o primeiro a chegar lá. Escolhi uma mesa que normalmente estava 

vazia, e que ia de certeza permanecer assim comigo lá sentado.

Page 100: 1º capitulo

Quando a minha família entrou e me viu sentado sozinho no meu novo lugar, não ficaram 

surpreendidos. A Alice devia tê-los avisado.

A Rosalie passou por mim sem olhar.

Idiota.

A Rosalie e eu nunca tivemos um relacionamento fácil, eu ofendi-a na primeira vez que ela me 

tinha ouvido falar, e foi tudo por água abaixo desde então. Mas parecia que ela estava mais 

temperamental nestes últimos dias. Suspirei. Para Rosalie era tudo sobre ela mesma.

O Jasper deu-me um meio sorriso e continuou a andar.

Boa sorte - Pensou duvidosamente.

O Emmett revirou os olhos e abanou a cabeça.

Perdeu a cabeça, pobre miúdo.

A Alice estava radiante, com os seus dentes a brilharem mais do que deviam.

Posso falar com a Bella agora?

- Fica fora disto. - Disse através da minha respiração.

A cara dela ficou triste, e depois brilhou outra vez.

Tudo bem. Sê teimoso. É só uma questão de tempo.

Ela suspirou de novo.

Não te esqueças da aula de laboratório em biologia hoje. – Lembrou-me.

Acenei com a cabeça. Não, eu não me tinha esquecido disso.

Enquanto eu estava à espera que a Bella chegasse, segui-a através dos olhos de um caloiro que 

estava atrás de Jessica, a caminho da cantina. A Jessica estava a tagarelar sobre o próximo 

baile, mas Bella não lhe disse nada em resposta. Não que Jessica lhe tivesse dado muita 

oportunidade de responder.

No momento em que Bella passou pela porta, os seus olhos viraram-se momentaneamente 

para a mesa onde meus irmãos se sentavam. Ela olhou por um momento, e depois a sua testa 

enrugou-se e o olhar baixou-se até o chão. Ela não tinha reparado que eu estava aqui.

Ela parecia tão… triste. Senti uma vontade urgente de me levantar e ir até ao pé ela, para 

confortá-la de alguma forma, só que eu não sabia o que ela iria achar reconfortante. Eu não 

fazia ideia o que é que a tinha posto daquela forma. A Jessica continuava a tagarelar sobre o 

baile. Estaria Bella triste por ir perdê-lo? Não me parecia muito provável…

Mas isso podia ser remediado, se ela quisesse.

Ela comprou uma bebida para o almoço, e mais nada. Aquilo era certo? Ela não precisava de 

mais nutrientes do que aquilo? Eu nunca prestei muita atenção à dieta dos humanos antes. Os 

humanos eram tão exasperadamente frágeis! Havia milhões de coisas com que se deviam 

Page 101: 1º capitulo

preocupar…

- O Edward Cullen está, de novo, a olhar-te fixamente. – Ouvi a Jessica a dizer. – Pergunto-me 

porque estará ele hoje sentado a uma mesa sozinho.

Eu estava agradecido a Jessica, apesar de ela ainda estar mais ressentida agora, porque a Bella 

levantou a cabeça e os seus olhos procuraram até que encontraram os meus.

Não havia um traço de tristeza na sua cara, agora. Deixei-me acreditar que ela estava triste por 

imaginar que eu me tinha ido embora mais cedo, e a esperança desse pensamento fez-me 

sorrir.

Eu chamei-a com o meu dedo para que ela se juntasse a mim. Ela pareceu tão surpreendida 

com aquilo que eu quis provocá-la novamente.

Então pisquei-lhe o olho e ela ficou boquiaberta.

- Está a dirigir-se a ti? - Perguntou Jessica com desprezo.

- Talvez precise de ajuda nos trabalhos de casa de Biologia. - Disse numa voz baixa e cheia de 

incerteza. - Hum, é melhor ir ver o que ele deseja.

Isto foi outro sim.

Ela tropeçou duas vezes enquanto vinha para a minha mesa, apesar de não haver nada no 

caminho além de um piso perfeitamente plano. A sério, como é que eu tinha perdido isto 

antes? Tinha estado a prestar mais atenção aos seus pensamentos silenciosos, supus… O que é 

que eu tinha perdido mais?

Mantém as coisas honestas, ligeiras. Repeti para mim mesmo.

Ela parou atrás da cadeira que estava à minha frente, hesitante. Eu respirei fundo, desta vez 

pelo nariz e não pela boca.

Sente a queimadura. Pensei secamente.

- Por que não te sentas à minha mesa hoje? – Perguntei-lhe.

Ela puxou a cadeira e sentou-se, a olhar para mim o tempo inteiro. Ela parecia nervosa, mas a 

sua aceitação física era um outro sim.

Esperei que ela falasse.

Levou um momento, mas finalmente disse – Esta situação é fora do vulgar.

- Bem…- Hesitei – Decidi que, já que ia para o inferno, mais valia fazê-lo de forma consumada. -

O que é que me tinha feito dizer aquilo? Suponho que pelo menos tenha sido honesto. E talvez 

ela tivesse ouvido o aviso subtil que as minhas palavras continham. Talvez ela percebesse que 

se devia levantar e sair dali o mais rápido que pudesse…

Ela não se levantou. Olhava para mim, à espera, como se eu não tivesse terminado a minha 

frase.

- Tu sabes que eu não faço a menor ideia do daquilo a que te referes. - Disse quando percebeu 

Page 102: 1º capitulo

que eu não ia continuar.

Aquilo foi um alívio, sorri.

- Pois sei.

Era difícil ignorar os pensamentos que estavam a gritar atrás das suas costas. E eu queria 

mudar de assunto, de qualquer das maneiras.

- Acho que os teus amigos estão zangados comigo por te ter roubado.

Isso não a pareceu preocupar. – Hão-de sobreviver.

- Mas eu posso não te devolver. - Eu não fazia ideia se estava a tentar ser honesto agora ou 

apenas a tentar provocá-la outra vez. Estar ao pé dela fazia com que fosse complicado dar 

sentido aos meus pensamentos.

Bella engoliu em seco.

Eu ri-me da expressão dela. - Pareces preocupada. - Aquilo realmente não devia ser engraçado, 

ela devia estar preocupada.

- Não - Ela era uma péssima mentirosa. Não a ajudou em nada que a sua voz falhasse – Na 

verdade estou surpreendida… A que se deve tudo isto?

- Já te disse, fartei-me de tentar manter-me afastado de ti. Portanto, desisto. – Mantive o meu 

sorriso com um bocado de esforço. Isto não estava a funcionar de todo: tentar ser honesto e 

casual ao mesmo tempo.

- Desistes? - Repetiu perplexa.

- Sim, desisto de tentar ser bom. - E pelos vistos a desistir de tentar ser casual. – A partir de 

agora, faço apenas o que me apetece e o resto que se dane.

Aquilo foi honesto o suficiente. Deixar que ela visse o meu egoísmo. Deixar que aquilo a 

avisasse, também.

- Baralhaste-me de novo.

Eu era egoísta o suficiente para estar feliz por ser esse o caso. – Falo sempre de mais quando 

converso contigo, esse é um dos problemas.

Um problema bastante insignificante, comparado com todos os outros.

- Não te preocupes. – Assegurou-me. – Não compreendo nada do que dizes.

Óptimo, então ela iria ficar. – Estou a contar com isso.

- Então, em bom inglês, já somos amigos?

Ponderei por um segundo. - Amigos… - Repeti. Não gostei do som daquilo. Não era suficiente.

- Ou não? - Sussurrou, parecendo envergonhada.

Será que ela pensava que eu não gostava dela àquele ponto?

Sorri. - Bem, suponho que podemos tentar. Mas aviso-te de que não sou um bom amigo para 

ti.

Page 103: 1º capitulo

Esperei pela resposta dela, dividido em dois, à espera que ela finalmente ouvisse e entendesse, 

e a imaginar que poderia morrer se ela o fizesse. Que melodramático. Eu estava a transformar-

me demasiado num humano.

O coração dela batia mais rápido. – Repetes isso muitas vezes.

- Pois, porque não estás a dar-me ouvidos. – Disse-lhe, demasiado intenso outra vez. – Ainda 

estou à espera que acredites no que te digo. Se fores esperta, evitas-me.

Ah, mas será que eu iria permitir que ela fizesse isso, se tentasse?

Semicerrou os olhos. – Julgo que também já tornaste bastante clara a tua opinião a respeito do 

meu intelecto.

Não tinha bem a certeza do que é que ela estava a falar, mas sorri a desculpar-me, chegando à 

conclusão que a devia ter ofendido acidentalmente.

- Então. - Disse ela devagar. - Enquanto eu não estiver a ser esperta… tentaremos ser amigos?

- Parece-me que é mais ou menos isso.

Ela olhou para baixo, a examinar a garrafa de limonada que tinha nas mãos.

A velha curiosidade atormentava-me.

- Em que é que estás a pensar? – Era um alívio dizer aquelas palavras em voz alta finalmente.

O olhar dela encontrou o meu, e sua respiração acelerou enquanto as bochechas coravam. Eu 

inspirei, saboreando aquilo no ar.

- Estou a tentar compreender quem tu és.

Mantive o sorriso no meu rosto, e tranquei a minha expressão naquela forma, enquanto o 

pânico percorria o meu corpo todo.

É claro que ela se estava a questionar. Ela não era estúpida. Eu não podia ficar à espera que ela 

ficasse indiferente a uma coisa tão óbvia.

- Estás a fazer progressos nessa empreitada? - Perguntei da forma mais subtil que consegui.

- Não muitos. - Admitiu.

Ri-me suavemente com a resposta, sentindo um súbito alívio. – Quais são as tuas teorias?

Não podiam ser piores que a verdade, o que quer que fossem.

As bochechas dela ficaram ainda mais vermelhas, e ela não disse nada. Eu conseguia sentir no 

ar o calor do seu rubor.

Tentei usar meu tom persuasivo com ela. Funcionava bem com humanos normais.

- Não me dizes? - Sorri, encorajando-a.

Ela abanou a cabeça negativamente. - É demasiado embaraçoso.

Ugh. Não saber era pior do que outra coisa qualquer. Por que é que as especulações dela a 

tinham deixado envergonhada? Não conseguia suportar não saber.

- Isso é mesmo frustrante, sabes.

Page 104: 1º capitulo

A minha reclamação disparou algo nela. Os olhos brilharam e as palavras fluíram mais 

rapidamente que o normal.

- Não. Não consigo imaginar por que motivo tal seria minimamente frustrante, apenas porque 

alguém recusa revelar-te os seus pensamentos, mesmo que, durante todo esse tempo, essa 

pessoa teça comentariozinhos obscuros que se destinam especificamente a manter-te 

acordado à noite, perguntando a ti mesmo qual será o respectivo significado… agora, por que 

motivo é que tal seria frustrante?

Eu franzi as sobrancelhas, chateado por me aperceber que ela estava certa. Eu não estava a ser 

justo.

Ela continuou. - Ou melhor, digamos que essa pessoa também cometeu uma grande variedade 

de actos bizarros, desde salvar a tua vida em circunstâncias incríveis num dia e a tratar-te 

como um pária no seguinte, nunca te tendo igualmente dado uma explicação para nenhum 

desses factos, mesmo depois de ter prometido fazê-lo. Isso também não seria nada frustrante.

Foi o discurso mais longo que eu a tinha ouvido fazer, e isso acrescentou mais uma qualidade à 

minha lista.

- Tens um ligeiro mau feitio, não tens?

- Não me agrada a dualidade de critérios.

A sua irritação era completamente justificável, é claro.

Olhei para a Bella, a imaginar como é que poderia fazer qualquer coisa certa por ela, até que a 

gritaria silenciosa na cabeça de Mike Newton me distraiu.

Ele estava tão zangado que me fez rir.

- O que foi? - Ela exigiu.

- O teu namorado parece pensar que eu estou a ser desagradável contigo. Está a deliberar se 

há-de vir ou não interromper a nossa discussão. - Eu ia adorar vê-lo tentar. Ri-me novamente.

- Não sei a quem te referes. - Disse de forma fria - Mas seja como for, tenho a certeza de que 

estás enganado.

Eu gostei bastante da maneira como ela o rejeitou com a sua frase desdenhosa.

- Não estou. Já te disse, a maioria das pessoas é transparente.

- Excepto eu, é claro.

- Sim. Excepto tu. - Ela tinha que ser a excepção em tudo? Não seria mais justo, considerando 

tudo o resto que eu tinha de lidar agora, que eu pudesse ouvir ALGUMA COISA da sua cabeça? 

Era pedir muito? – Pergunto-me porque será.

Olhei-a directamente nos olhos, a tentar novamente.

Ela desviou o olhar. Abriu a sua limonada e deu um curto e rápido gole, os seus olhos estavam 

na mesa.

Page 105: 1º capitulo

- Não tens fome? - Perguntei.

- Não. - Ela olhava para a mesa vazia entre nós. – E tu?

- Não, não tenho fome. – Disse-lhe. Definitivamente não tinha.

Ela estava a olhar para a mesa com os lábios cerrados. Eu esperei.

- Podes fazer-me um favor? - Perguntou, a encontrar subitamente o meu olhar.

O que é que ela poderia querer de mim? Ir-me-ia perguntar sobre a verdade à qual não me era 

permitido responder-lhe? A verdade que eu queria que ela nunca, nunca soubesse?

- Depende daquilo que pretendes.

- Não é nada de mais. - Prometeu.

Esperei, curioso de novo.

- Pensei apenas… - Disse lentamente, a olhar para a garrafa de limonada, a percorrer a entrada 

da garrafa com o seu dedo mindinho. - Se poderias avisar-me antecipadamente da próxima vez 

que resolveres ignorar-me para o meu próprio bem? Apenas para que eu esteja preparada. - 

Ela queria um aviso? Então ser ignorada por mim deve ser uma coisa má … Sorri.

- Parece-me justo. - Concordei.

- Obrigada. – Disse-me, a olhar para cima. A sua cara estava tão aliviada que eu quis-me rir do 

meu próprio alívio.

- Sendo assim, podes dar-me uma resposta em troca? - Perguntei, com esperança.

- Só uma. - Concedeu

- Revela-me uma teoria.

Ela corou. - Essa não.

- Não ficaste apurada, prometeste-me apenas uma resposta. – Argumentei.

- Tu também fizeste promessas que não cumpriste. - Argumentou também.

Ali ela tinha razão.

- Apenas uma teoria, eu não me rio.

- Sim, ris. - Ela parecia estar segura disso, apesar de eu não conseguir imaginar nada que 

pudesse ter piada em relação àquilo.

Tentei usar a persuasão outra vez. Olhei para bem fundo dos seus olhos. Uma coisa fácil de se 

fazer, com olhos tão intensos, e sussurrei. – Por favor?

Ela piscou os olhos, e o rosto ficou pálido.

Bem, não era bem aquela reacção que eu queria.

- Hã, o quê? – Perguntou-me. Parecia tonta. O que é que havia de errado com ela?

- Por favor, revela-me apenas uma teorinhazinha. - Pedi com a minha voz suave e não 

assustadora, enquanto aguentava os olhos dela nos meus.

Para minha surpresa e satisfação, finalmente funcionou.

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- Hum, bem, foste mordido por uma aranha radioactiva?

Banda - desenhada? Não admirava que ela achasse que eu me ia rir.

- Essa teoria não é muito criativa. - Tentei esconder o meu alívio.

- Lamento, é a única que tenho. - Disse, ofendida.

Isso deixou-me ainda mais aliviado. Consegui provocá-la outra vez.

- Não estás nem perto da verdade.

- Não há aranhas?

- Não.

- Nem radioactividade?

- Nenhuma.

- Raios. - Suspirou.

- O kriptonyte também não me afecta. - Respondi depressa, antes que ela pudesse perguntar 

sobre mordidas, e aí eu tinha que me rir, porque ela achava que eu era um super-herói.

- Não podes rir-te, lembras-te?

Pressionei os lábios.

- Acabarei por descobrir. - Prometeu.

E quando descobrisse, ia fugir.

- Quem me dera que não tentasses. – Disse-lhe, e todos os sinais da minha provocação 

estavam ausentes.

- Porque…?

Eu devia-lhe honestidade. Tentei sorrir, deixar as minhas palavras menos ameaçadoras. - E se 

eu não for um super-herói? E se for o vilão?

Os seus olhos arregalaram-se ligeiramente e os lábios separaram-se um bocado. - Ah. - Disse 

ela. E então, depois de um segundo. – Estou a ver.

Finalmente ela ouviu-me

- Estás mesmo? – Perguntei-lhe, a tentar esconder a minha agonia.

- És perigoso? - Adivinhou. A sua respiração aumentou e o coração acelerou.

Não lhe conseguia responder. Era este o meu último momento com ela? Ela ia fugir agora? 

Seria capaz de lhe dizer que a amava antes que ela partisse? Ou isso iria assustá-la ainda mais?

- Mas não és mau. - Sussurrou, abanando a cabeça, sem medo nos olhos intensos. - Não, não 

acredito que sejas mau.

- Estás enganada. - Disse baixo.

É claro que eu era mau. Não estava feliz agora, que ela pensava melhor de mim do que eu 

merecia? Se eu fosse uma boa pessoa, eu tinha ficado longe dela.

Estiquei a mão pela mesa, agarrando a tampa da garrafa da limonada dela como uma 

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desculpa. Ela não recuou da minha mão próxima. Ela realmente não tinha medo de mim. Ainda 

não.

Girei a tampa rapidamente, a olhar para a tampa em vez de para Bella. Os meus pensamentos 

estavam confusos.

Foge, Bella, foge. Não conseguia dizer as palavras em voz alta.

Levantou-se. - Vamos chegar atrasados. - Disse ela, mesmo quando eu tinha começado a 

preocupar-me que ela tivesse ouvido o meu aviso silencioso.

- Não vou à aula hoje.

- Porque não?

Porque eu não te quero matar. - É saudável baldarmo-nos às aulas de vez em quando. - Para 

ser exacto, era mais saudável para os humanos quando os vampiros se baldavam à aula nos 

dias em que sangue humano ia ser derramado. O Sr. Banner ia fazer recolha de tipos 

sanguíneos hoje. A Alice já se tinha baldado à aula de manhã.

- Bem, eu vou. - Disse ela. Aquilo não me surpreendeu. Ela era responsável, fazia sempre a 

coisa certa.

Ela era o oposto de mim.

- Então, vemo-nos mais tarde. – Disse-lhe, a tentar parecer casual novamente, a olhar para 

baixo, para a tampa que girava. E, por falar nisso, eu adoro-te … de uma maneira perigosa, 

assustadora.

Ela hesitou, e por um momento desejei que ela ficasse comigo. Mas a campainha tocou e ela 

apressou-se.

Esperei até que ela tivesse desaparecido, e depois guardei a tampa no meu bolso, uma 

lembrança desta conversa importante, e andei pela chuva até ao meu carro.

Pus o CD que me acalmava mais, o mesmo que tinha posto naquele primeiro dia, mas eu não 

ouvi as notas de Debussy por muito tempo. Outras notas estavam a passar rapidamente pela 

minha cabeça, o fragmento de uma melodia que me agradava e que me intrigava. Baixei o 

rádio e ouvi a música na minha cabeça, tocando o fragmento até que se desenvolveu para uma 

harmonia completa. Instintivamente, os meus dedos moveram-se no ar sobre teclas 

imaginárias.

A nova composição estava realmente a surgir quando a minha atenção foi desviada por uma 

onda de angústia mental.

Procurei na direcção da aflição.

Ela vai desmaiar? O que é que eu faço? O Mike estava em pânico.

A noventa metros, Mike Newton estava agachado sobre o corpo mole de Bella na calçada. Ela 

escorregou sem reacção no cimento molhado, os olhos fechados, a pele pálida como a de um 

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cadáver.

Eu quase arranquei a porta do carro.

- Bella? - Gritei.

Não houve mudança no seu rosto sem vida quando gritei o nome dela.

O meu corpo inteiro ficou mais frio que gelo.

Estava ciente da surpresa irritada de Mike enquanto varria furiosamente os seus pensamentos. 

Ele só estava a pensar no ódio que tinha por mim, portanto eu não sabia o que é que se 

passava com Bella. Se ele tivesse feito alguma coia para a magoar eu ia aniquilá-lo.

- O que é que se passa? Ela magoou-se? - Ordenei, a tentar concentrar os seus pensamentos. 

Era de enlouquecer ter que andar à velocidade humana. Eu não devia ter chamado à atenção a 

minha aproximação.

Então consegui ouvir o coração dela a bater, e cada respiração que dava. Enquanto eu 

observava, fechou ainda mais os olhos. Aquilo acalmou um bocado o meu pânico.

Vi um pedaço das memórias na cabeça de Mike, imagens rápidas da aula de biologia. A cabeça 

de Bella na mesa, a sua pele a ficar verde. Gotas de vermelho contra cartões brancos…

Recolha de grupo sanguíneo.

Parei onde estava, parando de respirar. O cheiro dela era uma coisa, o seu sangue a escorrer 

era outra totalmente diferente.

- Acho que ela desmaiou. – Disse Mike, ansioso e ressentido ao mesmo tempo. – Não sei o que 

aconteceu, ela nem sequer picou o dedo.

O alívio passou por mim, e respirei novamente, sentindo o ar. Ah, consegui cheirar o mínimo 

aroma da pequena ferida de Mike Newton. Anteriormente, aquilo teria sido extremamente 

apelativo para mim.

Ajoelhei-me perto dela enquanto Mike se remexia ao meu lado, furioso com a minha 

intervenção.

- Bella. Consegues ouvir-me?

- Não. - Gemeu. – Vai-te embora.

Ri-me. Ela estava bem.

- Eu ia levá-la à enfermaria. - Disse Mike. – Mas ela recusou-se a avançar mais.

- Eu levo-a. Podes voltar para a aula. – Disse-lhe, indiferente.

Os dentes de Mike rangeram. - Não. Sou eu que devo fazê-lo.

Eu não ia ficar ali parado a discutir com aquele infeliz.

Excitado e apavorado, meio agradecido e meio aflito pela situação desagradável que fez com 

que o toque dela fosse uma necessidade, levantei suavemente Bella da calçada e segurei-a nos 

meus braços, tocando só na sua roupa, e mantive o máximo de distância entre os nossos 

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corpos que fosse possível. Eu andava a passos largos para a frente, numa pressa de a pôr a 

salvo. O mais longe de mim, por outras palavras.

Os olhos dela abriram-se, atónitos.

- Põe-me no chão! - Ordenou com uma voz fraca, envergonhada outra vez, supus pela sua 

expressão. Ela não gostava de mostrar fraqueza.

Eu mal ouvia Mike a gritar os seus protestos atrás de nós.

- Estás com péssimo aspecto. – Disse-lhe, a sorrir, aliviado por não haver nada de mal com ela 

além de uma cabeça leve e um estômago fraco.

- Coloca-me novamente no passeio. - Disse. Os seus lábios estavam brancos.

- Com que então desmaias ao ver sangue? - Aquilo podia ser mais irónico?

Ela fechou os olhos e pressionou os lábios.

- E nem sequer se tratava do teu próprio sangue. - Acrescentei, o meu sorriso a aumentar.

Estávamos à frente da secretaria. A porta estava levemente aberta, e eu dei-lhe um pontapé 

para sair do nosso caminho.

A senhora Cope saltou, assustada. – Credo! – Engasgou-se enquanto examinava a rapariga 

pálida nos meus braços.

- Ela desmaiou na aula de Biologia. - Expliquei, antes que a sua imaginação começasse a ir para 

muito longe.

A senhora Cope apressou-se a abrir a porta da enfermaria. Os olhos de Bella estavam abertos 

novamente, a observá-la.

Ouvi o assombro interno da enfermeira idosa enquanto eu deitava a rapariga cuidadosamente 

numa cama gasta. Assim que Bella estava fora dos meus braços, eu pus a distância da sala 

entre nós. O meu corpo estava demasiado excitado, demasiado ansioso, os meus músculos 

tensos e o veneno a fluir. Ela era tão quente e perfumada.

- Ela está apenas um pouco fraca. - Assegurei à Senhora Hammond. - Eles estão a tipificar 

sangue na aula de Biologia.

Ela abanou a cabeça, a compreender. – Acontece sempre a alguém.

Abafei um riso. Podia-se confiar em Bella para ser aquele alguém.

- Deita-se só um pouco, amor. - Disse Sra. Hammond. – Isso passa.

- Eu sei. – Disse Bella.

- Isso acontece-te muito frequentemente? – Perguntou a enfermeira.

- Às vezes. – Admitiu Bella.

Tentei disfarçar a minha gargalhada a tossir.

Aquilo virou a atenção da enfermeira para mim. – Já podes voltar para a aula. - Disse.

Eu olhei-a directamente nos olhos e menti confiantemente. - Devo ficar com ela.

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Hum. Pergunto-me… oh, bem. Sra. Hammond abanou a cabeça.

Aquilo funcionou perfeitamente com ela. Por que é que Bella tinha que ser tão difícil?

- Vou buscar gelo para colocares na testa, querida. - Disse a enfermeira, ligeiramente 

desconfortável por me ter estado a olhar nos olhos: da maneira que um humano devia ficar, e 

deixou a sala.

- Tinhas razão. – Lamentou-se Bella, fechando os olhos.

O que é que ela queria dizer? Fui directamente para a pior conclusão: ela tinha aceitado os 

meus avisos.

- Costumo ter. – Disse-lhe, tentando parecer divertido. – Mas, desta vez, a respeito de quê em 

particular?

- Fazer gazeta é mesmo saudável. - Suspirou.

Ah, alívio de novo.

Depois ficou em silêncio. Só respirava lentamente para dentro e para fora. Os seus lábios 

estavam a começar a ficar rosados. A boca dela estava ligeiramente fora de equilíbrio, o lábio 

inferior era um bocado mais cheio do que o superior. Olhar para a boca dela fazia-me sentir 

estranho. Fazia-me querer aproximar dela, o que não era uma boa ideia.

- Por um instante assustaste-me. – Disse-lhe, para reiniciar a conversa e ouvir a sua voz 

novamente. – Pensei que o Newton estava a arrastar o teu corpo sem vida para entrar no 

bosque.

- Ah, ah. - Disse.

- Sinceramente, já vi cadáveres com melhor cor. - Aquilo era realmente verdade. -Estava 

preocupado com a possibilidade de ter de vingar o teu homicídio. – E eu tê-lo-ia feito.

- Pobre Mike. – Suspirou. – Aposto que está furioso.

A fúria passou-me nas veias, mas controlei-a rapidamente. A preocupação dela era apenas 

pena. Ela era simpática. Era apenas isso.

- Ele abomina-me de verdade. – Disse-lhe, animado com a ideia.

- Não podes ter a certeza disso.

- Vi a cara dele, era perceptível. - Provavelmente era verdade que ler a cara dele ter-me-ia 

dado tais informações para fazer aquela dedução em particular. Toda esta prática com Bella 

estava a afinar a minha habilidade em ler expressões humanas.

- Como é que me viste? Pensei que estavas a fazer gazeta. - O rosto dela parecia melhor. O 

verde tinha desaparecido da sua pele translúcida.

- Estava no meu carro, a ouvir um CD.

A sua expressão mudou-se, como se a minha resposta comum a tivesse surpreendido de 

alguma forma.

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Ela abriu os olhos novamente quando a Sra. Hammond voltou com uma compressa fria.

- Aqui tens, querida – Disse a enfermeira enquanto punha a compressa na testa de Bella. – 

Estás com melhor aspecto.

- Acho que estou bem. - Disse Bella, e sentou-se afastando a compressa. É claro. Ela não 

gostava que cuidassem dela.

As mãos enrugadas da Sra. Hammond estavam a ir na direcção da rapariga, como se quisessem 

fazer com que ela se deitasse novamente, mas depois a Sra. Cope abriu a porta e inclinou-se 

para dentro da enfermaria. Com entrada dela, veio um o cheiro de sangue fresco, como uma 

pequena explosão.

Invisível no gabinete por detrás dela, o Mike Newton ainda estava bastante zangado, 

desejando que o rapaz pesado que ele estava a carregar agora fosse a rapariga que estava ali 

dentro comigo.

- Chegou outro. – Disse a Sra. Cope.

A Bella saltou rapidamente da cama, ansiosa por deixar de ser o centro das atenções.

- Aqui tem. – Disse-lhe, devolvendo a compressa à Sra. Hammond – Não preciso disto.

Mike grunhiu enquanto empurrava um bocado Lee Stevens pela porta. O sangue ainda 

gotejava da mão que Lee segurava ao pé da cara, a pingar pelo seu pulso.

- Oh não. - Este era o meu convite para sair, e de Bella, também, pelos vistos. – Vai para o 

gabinete Bella.

Ela olhou para mim com olhos confusos.

- Confia em mim, vai.

Ela virou-se e alcançou a porta antes que se fechasse, apressando-se em direcção à secretaria. 

Eu segui-a a alguns centímetros de distância. O cabelo dela em movimento tocou na minha 

mão…

Ela virou-se para olhar para mim, ainda com os olhos arregalados.

- Tu deste-me mesmo ouvidos. - Essa era novidade.

O seu pequeno nariz enrugou-se. – Senti o cheiro do sangue.

Eu olhei para ela surpreendido - As pessoas não conseguem sentir o cheiro do sangue.

- Pois, eu consigo, e é isso que me faz ficar indisposta. Cheira a ferrugem e…sal.

O meu rosto estava imóvel, ainda a olhar fixamente para ela.

Ela era mesmo humana? Ela parecia humana. Ela era suave como um humano. Ela cheirava 

como um humano, bem, na realidade cheirava melhor. Agia como um humano… mais ou 

menos. Mas não pensava como um, ou respondia como um.

Quais eram as outras opções, então?

- O que foi? – Perguntou-me.

Page 112: 1º capitulo

- Não foi nada.

Então o Mike Newton interrompeu-nos, entrando na secretaria com pensamentos ressentidos, 

violentos.

- Estás com melhor aspecto. - Disse-lhe ele, rudemente.

A minha mão tremeu, a querer ensinar-lhe algumas maneiras. Eu ia ter que me controlar, ou ia 

acabar por matar aquele rapaz insolente.

- Mantém apenas a mão no bolso. - Disse. Por um segundo selvagem, pensei que ela estivesse 

a falar comigo.

- Já não está a sangrar. Vais voltar para a aula?

- Estás a gozar? Teria apenas de dar meia volta e regressar para aqui.

Aquilo era muito bom. Eu tinha pensado que ia perder esta hora inteira com ela, e agora em 

vez disso, eu tinha tempo extra. Senti-me ganancioso.

- Suponho que sim… - Murmurou o Mike. – Então, vais participar na viagem deste fim-de-

semana? À praia?

Ah, eles tinham planos. A raiva imobilizou-me naquele lugar. Mas era uma viagem de grupo. Eu 

tinha visto algumas coisas daquilo nas cabeças de outros alunos. Não eram só eles os dois. Eu 

ainda estava furioso. Inclinei-me praticamente sem movimentos contra o balcão, a tentar 

controlar-me.

- Claro, eu disse que alinhava. – Prometeu-lhe.

Então ela também lhe disse sim a ele. A inveja queimava, mais dolorosa do que a sede.

Não, era uma saída de grupo, tentei-me convencer. Ela ia apenas passar o dia com os amigos. 

Nada de mais.

- Vamos encontrar-nos na loja do meu pai às dez horas. E o Cullen NÃO ESTÁ convidado.

- Lá estarei. - Disse ela.

- Então vemo-nos na aula de educação física.

- Até logo.

Ele foi em direcção à sua aula, com os pensamentos cheios de raiva. O que ela vê naquela 

aberração? Claro, ele é rico, acho eu. As raparigas acham que ele é lindo, mas eu não acho. 

Demasiado… demasiado perfeito. Eu aposto que o pai dele experimenta todas as cirurgias 

plásticas neles. É por isso que eles são tão brancos e bonitos. Não é natural. É um tipo de… 

aparência assustadora. Às vezes, quando ele olha para mim, eu podia jurar que ele está a 

pensar em matar-me… Aberração…

Afinal Mike não era totalmente desatento.

- Educação física. - Repetiu Bella silenciosamente. Um gemido.

Olhei para ela, e vi que ela estava triste com alguma coisa novamente. Eu não tinha a certeza 

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porquê, mas era óbvio que ela não queria ir para a próxima aula com o Mike, e eu estava de 

acordo com aquele plano.

Fui para o lado dela e aproximei-me da sua cara, sentindo o calor da sua pele a irradiar 

directamente para os meus lábios. Não me atrevi a respirar.

- Eu posso tratar disso. - Murmurei. – Vai-te sentar e faz um ar pálido.

Ela fez o que pedi, sentou-se numa das cadeiras vazias e inclinou a cabeça para trás, contra a 

parede, enquanto, atrás de mim, a Sra. Cope saiu da enfermaria e voltou à sua mesa. Com os 

olhos fechados, a Bella parecia que estava a desmaiar outra vez. A cor dela ainda não tinha 

voltado completamente.

Virei-me para a secretária. Tinha esperanças que a Bella estivesse a prestar atenção a isto, eu 

pensei. Era assim que um humano devia reagir

- Menina Cope? - Perguntei, a usar a minha voz persuasiva de novo.

As suas pestanas agitaram-se, e o seu coração começou a bater mais rápido. Demasiado 

jovem, controla-te! - Sim?

Aquilo foi interessante. Quando a pulsação de Shelly Cope acelerou, foi porque ela me achou 

fisicamente atraente, não porque estava assustada. Eu estava habituado a isso quando estava 

à volta de fêmeas humanas… contudo eu não tinha considerado isso como explicação para a 

aceleração do coração da Bella.

Eu até que gostei daquilo. Sorri e a respiração da menina Cope acelerou.

- A Bella tem Educação Física no próximo tempo, e eu acho que ela não se sente 

suficientemente bem. Na verdade, estava a pensar se não deveria levá-la já para casa. Acha 

que podia dispensá-la da aula? – Olhei para a profundidade dos olhos dela, a divertir-me com a 

destruição que causava nos seus processos mentais. Seria possível que Bella…?

A menina Cope teve de engolir em alto som antes de poder responder. – Também precisa de 

ser dispensado, Edward?

- Não, eu tenho a professora Goff, ela não se importa.

Agora eu já não lhe estava a prestar muita atenção. Estava a explorar aquela nova 

possibilidade.

Hum. Eu gostava de acreditar que a Bella me achava atraente como os outros humanos me 

achavam, mas desde quando é que Bella tem as mesmas reacções que os outros humanos? Eu 

não podia manter as minhas esperanças elevadas.

- Muito bem, está tudo tratado. Desejo-lhe as melhoras, Bella.

Bella acenou com a cabeça, bastante fraca, a exagerar um bocado.

- Consegues andar ou queres que eu te carregue novamente? – Perguntei-lhe, divertido pelo 

seu mau teatro. Eu sabia que ela iria querer andar, ela não queria parecer fraca.

Page 114: 1º capitulo

- Eu vou a pé. - Disse.

Certo outra vez. Eu estava a melhorar nisto.

Ela pôs-se de pé, hesitante por um momento como se estivesse a confirmar o seu equilíbrio. 

Eu segurei-lhe a porta, e saímos para a chuva.

Olhei para ela enquanto erguia a sua cara para a chuva fraca, os olhos fechados, um leve 

sorriso nos lábios. O que é que ela estava a pensar? Alguma coisa naquela cena parecia errada, 

e rapidamente percebi por que é que aquela acção me parecia tão pouco familiar. As raparigas 

humanas normais não levantariam a cara para a chuva daquela maneira, as raparigas humanas 

normais normalmente usam maquilhagem, mesmo aqui neste lugar húmido.

A Bella nunca usava maquilhagem, nem devia. As indústrias de cosméticos lucram bilhões de 

dólares por ano com mulheres que tentam conseguir uma pele como a dela.

-Obrigada. - Disse ela, agora a sorrir-me. - Quase vale a pena ficar doente para faltar a 

Educação física.

Comecei a atravessar o pátio, a imaginar como é que poderia prolongar o meu tempo com ela. 

– Sempre às ordens. – Disse-lhe.

- Então, vais? À viagem do próximo sábado, quero eu dizer. - Ela parecia esperançosa.

Ah, a sua esperança era tranquilizante. Ela queria-me com ela, não o Mike Newton. E eu queria 

dizer que sim. Mas havia muitas coisas a considerar. Em primeiro lugar, o sol ia brilhar este 

sábado…

- Exactamente aonde é que todos vão? - Tentei manter a minha voz indiferente, como se não 

me importasse muito. Mas o Mike tinha dito praia. Não tinha muitas oportunidades de escapar 

à luz do sol lá.

- Até La Push, ao porto.

Raios. Bem, então era impossível.

De qualquer forma, o Emmett ficaria irritado se eu cancelasse os nossos planos.

Baixei os olhos e olhei para ela, a sorrir forçosamente. – Eu realmente penso que não fui 

convidado.

Ela suspirou, resignada. - Eu acabei de te convidar.

- Não vamos, tu e eu, provocar ainda mais o coitado do Mike esta semana. Não queremos que 

ele rebente. – Imaginei-me a fazer com o que o pobre Mike rebentasse, e desfrutei 

intensamente daquela cena mental.

- Mike-chmike. - Disse, com desprezo outra vez. O meu sorriso aumentou.

E depois ela começou a afastar-se de mim.

Sem pensar no que estava a fazer, estiquei-me e agarrei-a pela parte de trás do seu casaco. Ela 

deu um solavanco ao parar.

Page 115: 1º capitulo

- Aonde é que pensas que vais? - Eu estava quase zangado por ela me estar a deixar. Eu não 

tinha passado tempo suficiente com ela. Ela não se podia ir embora, ainda não.

- Vou para casa. - Disse, confusa por não ter percebido por que é que aquilo me tinha irritado.

- Não me ouviste prometer levar-te a casa em segurança? Julgas que vou deixar-te conduzir no 

estado em que te encontras? - Eu sabia que ela não ia gostar daquilo, a minha implicação de 

fraqueza da sua parte.

Mas eu precisava de praticar para a viagem a Seattle, de qualquer forma. Ver se conseguia 

lidar com a sua proximidade num espaço fechado. Esta era uma viagem muito mais curta.

- Qual estado? – Perguntou. - E a minha pick-up?

- Peço à Alice que a leve até tua casa depois das aulas. – Puxei-a de volta para o meu carro 

cuidadosamente, embora agora eu soubesse que andar para a frente era desafiador o 

suficiente para ela.

- Larga-me! - Disse, a contorcer-se de lado, quase a tropeçar. Eu levantei uma mão para a 

segurar, mas ela ajeitou-se antes que isso fosse necessário. Eu não devia estar à procura de 

desculpas para lhe tocar. Aquilo fez com que eu começasse a pensar sobre a reacção da 

menina Cope quanto a mim, mas guardei isso para pensar depois. Havia muito a ser 

considerado daqui para a frente.

Eu deixei-a ao lado do carro, e ela cambaleou até a porta. Eu teria de ser ainda mais cuidadoso, 

tendo em conta o seu fraco equilíbrio…

- És tão atrevido!

- Está aberta.

Entrei pelo meu lado do carro e liguei-o. Ela manteve o seu corpo rígido, ainda do lado de fora, 

apesar da chuva estar a ficar mais forte e eu sabia que ela não gostava de frio e humidade. A 

água estava a encharcar o cabelo grosso dela, escurecendo-o até ficar quase preto.

- Estou perfeitamente apta a conduzir até casa!

É claro que estava. Só que eu não era capaz de a deixar ir.

Baixei o vidro do lado do passageiro e inclinei-me na sua direcção. - Entra Bella.

Os olhos dela semicerram-se e eu supus que ela estivesse a decidir se devia ou não correr até à 

carrinha.

- Limitar-me-ei a arrastar-te novamente até aqui. - Prometi, desfrutando o desapontamento no 

seu rosto quando ela percebeu que eu estava a falar a sério.

O seu queixo enrijeceu-se no ar, abriu a sua porta e entrou. O cabelo dela pingou no couro do 

banco e as suas botas rangeram uma contra a outra.

- Isto é completamente desnecessário. - Disse friamente. Achei que ela parecia envergonhada 

por debaixo da humilhação.

Page 116: 1º capitulo

Aumentei o aquecedor para que ela não se sentisse desconfortável, e pus a música num bom 

volume de fundo. Conduzi em direcção à saída, observando-a pelo canto dos olhos. O seu lábio 

inferior sobressaía-se teimosamente. Olhei para ela, a examinar como é que me fazia sentir… a 

pensar na reacção da secretária outra vez…

De repente, ela olhou para o rádio e sorriu, os olhos arregalados. - Claire de Lune? - perguntou.

Uma fã dos clássicos? – Conheces Debussy?

- Não muito bem. – Disse. – A minha mãe põe muita música clássica a tocar em casa. Só 

conheço os meus compositores preferidos.

- Debussy também é um dos meus compositores preferido. - Olhei para a chuva, a considerar 

aquilo. Eu realmente tinha algo em comum com a rapariga. Já tinha começado a pensar que 

nós éramos opostos em todos os sentidos.

Ela parecia mais relaxada agora, a olhar para a chuva como eu, com olhos vagos. Eu aproveitei 

a sua distracção momentânea para testar a minha respiração.

Inalei cuidadosamente pelo meu nariz.

Potente.

Apertei o volante com força. A chuva fazia-a cheirar melhor. Eu nem tinha pensado que isso 

fosse possível. Estupidamente, estava subitamente a imaginar como é que ela devia saber…

Tentei engolir contra a queimadura na minha garganta, para pensar nalguma coisa diferente.

- Como é a tua mãe? - Perguntei como distracção.

A Bella sorriu. – Parece-se bastante comigo, mas é mais bonita.

Eu duvidava daquilo.

- Tenho demasiada influência genética do Charlie. - Continuou. – Ela é mais sociável do que eu 

e também mais corajosa.

Duvidava daquilo, também.

- É irresponsável, ligeiramente excêntrica e uma cozinheira muito imprevisível. É a minha 

melhor amiga. - A voz dela tornou-se melancólica, a sua testa enrugou-se.

Novamente, ela mais parecia um pai do que um filho.

Parei à frente da sua casa, a imagianr tarde de mais se eu devia saber onde ela morava. Não, 

isso não era suspeito numa cidade pequena, com o pai dela a ser uma figura pública…

- Que idade tens, Bella? - Ela devia ser mais velha que as outras pessoas. Talvez ela tenha 

começado mais tarde a escola, ou tenha reprovado… mas isso não era provável.

- Tenho dezassete anos. - Respondeu.

- Não pareces ter dezassete anos.

Ela riu-se.

- O que foi?

Page 117: 1º capitulo

- A minha mãe diz sempre que eu nasci com trinta e cinco anos de idade e que a minha 

mentalidade se torna mais característica de uma pessoa de meia-idade a cada ano que passa. - 

Ela riu-se outra vez e suspirou. – Bem, alguém tem de desempenhar o papel de adulto.

Aquilo esclarecia-me as coisas. Agora conseguia perceber… como a irresponsabilidade da mãe 

ajudava a explicar a maturidade de Bella. Ela teve que crescer mais cedo, para se tornar a 

responsável. Era por isso que ela não gostava que cuidassem dela, ela sentia que esse era o 

seu trabalho.

- Tu também não pareces um jovenzinho do liceu. - Disse, puxando-me dos meus devaneios.

Fiz uma careta. Por tudo o que eu percebia sobre ela, ela percebia muito mais como resposta. 

Mudei de assunto.

- Então, porque é que a tua mãe casou com o Phil?

Ela hesitou por um minuto antes de responder. – A minha mãe… tem um espírito muito jovem 

para a idade. Penso que o Phil a faz sentir ainda mais jovem. De qualquer modo, ela é louca 

por ele. - Acenou a sua cabeça indulgentemente.

- Tu aprovas? – Perguntei-me.

- A minha opinião tem alguma importância? – Perguntou-me. - Eu quero que ela seja feliz…e é 

ele quem ela quer.

A falta de egoísmo nos seus comentários devia-me ter chocado, excepto que isso encaixava 

perfeitamente com tudo que eu tinha aprendido sobre a sua personalidade.

- É muito generoso da tua parte… Pergunto-me…

- O quê?

- Julgas que ela demonstraria a mesma cortesia em relação a ti? Independentemente da 

pessoa sobre a qual a tua escolha recaísse?

Foi uma pergunta idiota, e eu não consegui manter o tom casual na minha voz enquanto lhe 

perguntava aquilo. Como era estúpido considerar sequer alguém a aprovar-me para a sua 

filha. Como era estúpido imaginar sequer a Bella a escolher-me.

- Julgo que sim. - Gaguejou, reagindo de alguma forma ao meu olhar fixo. Medo… ou atracção? 

- Mas, afinal, é ela a mãe. É um pouco diferente. - Finalizou.

Sorri ironicamente. – Então, desde que não se tratasse de alguém demasiado assustador…

Ela sorriu-me. – O que queres dizer com assustador? Múltiplos piercings no corpo e tatuagens 

generalizadas?

- Suponho que é uma definição possível. – Uma definição nada ameaçadora, na minha cabeça.

- Qual é a tua definição?

Ela fazia sempre as perguntas erradas. Ou talvez exactamente as perguntas certas. Pelo menos 

as que eu não queria responder, de nenhuma maneira.

Page 118: 1º capitulo

- Achas que eu poderia ser assustador? – Perguntei-lhe, a tentar sorrir um bocado.

Ela pensou sobre aquilo antes de me responder num tom sério. - Hum… acho que poderias sê-

lo, se assim desejasses.

Eu também estava sério. – Agora, estás com medo de mim?

Ela respondeu de uma só vez, agora sem pensar. - Não.

Sorri mais facilmente. Eu não achava que ela estivesse a dizer completamente a verdade, mas 

também não estava a mentir por completo. Pelo menos ela não estava com medo o suficiente 

para querer ir embora. Eu imaginava como é que ela iria reagir se eu lhe dissesse que estava a 

ter esta discussão com um vampiro. Contraí os meus músculos involuntariamente ao imaginar 

a sua reacção.

- Então vais agora falar-me sobre a tua família? Deve tratar-se de uma história muito mais 

interessante do que a minha.

Mais assustadora, sem dúvida.

- O que queres saber? - Perguntei cautelosamente.

- Os Cullens adoptaram-te?

-Sim.

Ela hesitou, e depois falou em voz baixa. - O que aconteceu aos teus pais?

Isto não era assim tão difícil, eu não estava a ter que lhe mentir. - Morreram há muitos anos.

- Sinto muito. - Murmurou, claramente preocupada em ter-me magoado.

Ela estava preocupada comigo.

- De facto não me lembro deles assim tão nitidamente. – Garanti-lhe. – O Carlisle e a Esme já 

são meus pais há muito tempo.

- E tu ama-los. - Deduziu.

Eu sorri. - Sim. Não consigo imaginar duas pessoas melhores.

- Tens muita sorte.

- Eu sei que tenho. - Naquela circunstância, quanto aos meus pais, a minha sorte não podia ser 

negada.

- E os teus irmãos?

Se eu deixasse que ela me pressionasse em muitos mais detalhes, eu ia ter que mentir. Lancei 

um olhar ao relógio, desanimado pelo meu tempo com ela estar a acabar.

- Os meus irmãos, assim como, a propósito, o Jasper e a Rosalie, vão ficar bastante aborrecidos 

se tiverem de ficar à chuva à minha espera.

- Oh, desculpa, suponho que tens de te ir embora.

Ela não se mexeu. Ela também não queria que o nosso tempo terminasse. Eu gostava muito, 

muito disso.

Page 119: 1º capitulo

- E tu deves querer a tua pick-up de volta antes que o chefe Swan chegue a casa, de modo a 

que não tenhas de lhe contar o incidente que se deu na aula de Biologia. - Eu sorri com a 

memória dela envergonhada nos meus braços.

- Tenho a certeza de que ele já soube. Não existem segredos em Forks. - Disse o nome da 

cidade com um desgosto distinto.

Eu ri-me com as suas palavras. Não existem segredos, de facto. – Diverte-te na praia - Lancei 

um olhar para a chuva torrencial, sabendo que ela não ia durar muito, e desejando com mais 

força que o habitual que durasse. – Está bom tempo para tomar banhos de sol. - Bem, pelo 

menos no sábado ia estar. Ela ia gostar disso.

- Não nos vemos amanhã?

A preocupação no seu tom de voz deixou-me feliz.

- Não. Eu e o Emmett vamos começar o fim-de-semana mais cedo. - Agora eu estava doido 

comigo mesmo por ter feito planos. Eu podia desmarcá-los… mas não havia nada mais 

importante do que caçar neste ponto, e a minha família já estava a ficar preocupada o 

suficiente com o meu comportamento sem eu estar a mostrar o quão obsessivo estava a ficar.

- O que vão fazer? - Perguntou, não parecendo feliz com a minha revelação.

Óptimo.

- Vamos fazer caminhadas em Goat Rocks Wilderness, a Sul de Rainier. - O Emmett estava 

ansioso pela temporada de ursos.

- Oh, bem, diverte-te. - Disse de forma apática. A sua falta de entusiasmo fez-me feliz 

novamente.

Ao olhar para ela, comecei a sentir-me quase agoniado pelo pensamento de dizer um adeus 

temporário. Ela era tão delicada e vulnerável. Parecia imprudente deixá-la fora da minha vista, 

onde qualquer coisa lhe podia acontecer. E ainda, as piores coisas que poderiam acontecer 

com ela resultariam de estar a meu lado.

- Fazes algo por mim este fim-de-semana? - Perguntei seriamente.

Ela acenou com a cabeça, os seus olhos arregalados e desnorteados com a minha intensidade.

Manter isto leve.

- Não fiques ofendida, mas pareces ser uma daquelas pessoas que atraem acidentes como um 

íman, por isso… tenta não cair ao mar, ser atropelada ou algo do género, está bem?

Sorri-lhe pesarosamente, esperando que ela conseguisse ver a tristeza nos meus olhos. Como 

eu desejava que ela não estivesse melhor longe de mim, independentemente do que lhe 

pudesse acontecer lá.

Corre, Bella, corre. Eu amo-te demasiado, para o teu próprio bem ou para o meu.

Ela ficou ofendida por ter gozado com ela. Olhou para mim. - Verei o que posso fazer – irritou-

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se, saindo para fora do carro e batendo a porta com tanta força quanto ela podia atrás dela.

Como um gatinho zangado que pensa ser um tigre.

Apertei a mão à volta da chave que tinha apanhado do bolso do casaco dela, e sorri enquanto 

conduzia para longe.

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Aro

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