1º Fasciculo Coleção Literária Besouro

16

Transcript of 1º Fasciculo Coleção Literária Besouro

  • Coleo Literria Besouro

    2

    Coleo Literria BesouroQuem Foi Besouro?

    Em todas as edies desta coleo traremos histrias e lendas do Capoeirista Besouro, as duas primeiras que ouvimos e registramos aqui para vocs foram do Contra Mestre Manoel e do Lazaro...

    Besouro Maganga, por Contra Mestre Man

    Besouro Maganga, nascido em 1897, filho de Joo Grosso e Maria Haiffa, discpulo de Mestre Alpio, chefiava um bando de capoeiristas perigosos na regio de Santo Amaro da Purificao e tambm era um perigoso capoeirista.

    Seu apelido Besouro Maganga foi dado devido quando menino entreouvira uma conversa de Douto que com os recursos que tinha o bichinho, no deveria voar. No entanto voava, voava muito. E ficou afeioado pelo bichinho e que costumava ficar sussurrando para ensina-lhe a voar.

    Era valente, inimigo das leis, da policia e tambm conhecedor das feitiarias e mandingas.Diversas vezes armavam emboscadas para mata-lo e no tinham sucesso pois desviava das balas e sumia meio a poeira e tiros, como se voasse.

    Ouvi dizer que numa dessas emboscadas fugiu pelo rio e mergulhou fundo onde brincavam algumas crianas pescando com varas e nas pontas das varas facas de Ticun e devido essas investidas de pesca, caa e brincadeiras das crianas quando passou foi atingido no corao. Filho de Ogun, nenhum ferro poderia ultrapassar seu corpo, devido ter corpo fechado, mas crianas sim, pela pureza e Ticum por ser uma rvore de mistrio. Essa foi a histria resumida que ouvi falar.

    Oxi, era Besouro Preto, por Lazaro

    A capoeira foi preservada por muito tempo atravs da oralidade apenas, no de se espantar que cada histria dos nossos grandes heris possua mil verses.

    Ento, para no cometer equvocos com o que realmente viveu o legendrio Manuel Henrique Pereira, posso partilhar o incio da primeira histria que escutei sobre Besouro, um conto popu-lar no serto.

    Em Santo Amaro, pra mais de 50 lguas daqui, tinha um capoeira... no morria nem de bala nem de peixeira tinha o corpo fechado e no levava desaforo pra casa.

    Da, quando se perguntava o bvio quem era?.

    Tinha sempre como resposta: Oxi, era Besouro Preto. E ento o mais velho contava alguma faanha daquele ser fantstico.

    J um pouco mais factvel, Memrias do Recncavo: Besouro e outros capoeiras um curta metragem de Pedro Abib sobre a vida de vrias figuras do recncavo baiano. Recomendo.

    Era valente, inimigo das leis, da policia e tambm conhecedor das feitiarias e mandingas.Diversas vezes armavam emboscadas para mata-lo e no tinham sucesso pois desviava das balas e sumia meio a poeira e tiros, como se voasse.

    Ouvi dizer que numa dessas emboscadas fugiu pelo rio e mergulhou fundo onde brincavam algumas crianas pescando com varas e nas pontas das varas facas de Ticun e devido essas investidas de pesca, caa e brincadeiras das crianas quando passou foi atingido no corao. Filho de Ogun, nenhum ferro poderia ultrapassar seu corpo, devido ter corpo fechado, mas crianas sim, pela pureza e Ticum por ser uma rvore de mistrio. Essa foi a histria resumida que ouvi falar.

    Oxi, era Besouro Preto, por Lazaro

    A capoeira foi preservada por muito tempo atravs da oralidade apenas, no de se espantar que cada histria dos nossos grandes heris possua mil verses.

    Pereira, posso partilhar o incio da primeira histria que escutei sobre Besouro, um conto popu-lar no serto.

    Em Santo Amaro, pra mais de 50 lguas daqui, tinha um capoeira... no morria nem de bala nem de peixeira tinha o corpo fechado e no levava desaforo pra casa.

    Da, quando se perguntava o bvio quem era?.

    Tinha sempre como resposta: Oxi, era Besouro Preto. E ento o mais velho contava alguma faanha daquele ser fantstico.

    J um pouco mais factvel, Memrias do Recncavo: Besouro e outros capoeiras um curta metragem de Pedro Abib sobre a vida de vrias figuras do recncavo baiano. Recomendo.

  • Coleo Literria Besouro

    3

    Monadenge, o fruto de uma histria de Amor

    Era fim de tarde em Aqualtune, um dos quilombos em Palmares, Algumas crianas esperam Monadenge, lder do Quilombo, que se rene com elas todo fim de tarde para contar histrias das lutas e vitrias do Quilombo, enquanto Monadenge no chegava as crianas ouviam atentamente de um Mutangi a histria de Uana e Mukongo, pais de Monadenge!

    3

  • Coleo Literria Besouro

    4

    Juntos com ajuda de amigos Kololo, Akondekele e Apur, or-ganizaram uma grande fuga e peregrinao rumo a Palmares, terra prometida e descrita por Kololo. Passaram por alguns vilare-jos e em Porto Calvo, bem prximo daqui, formaram um grupo de 40 Negros resgatados de l.

    Crianas Uana e Mukongo, foram os fundadores dos Quilom-bos dos Palmares, heris de guerra. Eles nasceram numa Tribo Imbangala, na regio do reino Ndongo. Foram feitos escravos e trazidos para o Brasil, separados durante anos, Uana fugiu da fazenda onde trabalhava e encontrou Mukongo, que trabalhava foradamente num engenho.

  • Coleo Literria Besouro

    5

    Em meio a essas lutas e fugas, as profecias dos ancestrais de Uana e Mukongo se cumpriram, eles se apaixonaram e se casar-am diante de uma cachoeira. Conta a Lenda que chegaram em Palmares guiados por Kaviungo, um dos Ancestrais mais velhos das terras onde habitavam em frica, os mais velhos contam que Uana Lutou gravida de Monadenge e o teve em Palmares, foi um dos primeiros nascidos livre nas terras palmarinas. Porem na primeira batalha enfrentada pela defesa de palmares, mesmo vitoriosos Uana e Mukongo foram atingidos e mortos, entrega-ram Monadenge a dois grandes amigos que deveriam cuida-lo e cria-lo para se tornar um lder.

  • Coleo Literria Besouro

    6

    Uana e Mukongo deixaram um legado de Luta para todos os quilombolas e o desejo de liberdade que ultrapassaram e ul-trapassaro dcadas e dcadas.

    - Ol Crianas.- Saur Tata Monadenge!- Gostaram da Histria da Minha Famlia?- Sim Tata...

  • Coleo Literria Besouro

    7

    Dandalunda e a Galinha DAngola

    Enquanto Monadenge sada as crianas um jovem indiozin-ho corre atrs de uma Galinha DAngola e no a conseguin-do pegar fica muito bravo e cruzando os braos.- Ndenges, j contei para vocs porque as Galinhas DAngola so Pintadinhas?- No Tata.- Ento vou contar pra vocs.

  • Coleo Literria Besouro

    8

    Em nossas terras h muito, muito tempo atrs, essa galinha que conhecem tinha o nome de Kerere, entre as outras galinhas ela era a mais diferente, pois todas tinham cores diferentes no corpo, e s ela era toda preta. Por isso seus irmos e irms pregavam varias peas nela, de tanto brincarem e gozarem dela ela ficou to triste que resolver no comer mais. Numa manh acordou e foi andar pelo campo, toda triste e de cabea baixa, Kerere lamentava-se T Fraca, T Fraca!, logo a frente ela encontrou um riacho e resolveu tomar agua, l deparou-se com Dandalu-nda, a guardi e rainha dos rios e riachos, ela se admirou com a beleza de Dandalunda e todos seus adornos.

    Dandalunda quando viu a tristeza daquela pequena ave pergun-tou-lhe: - Porque est to triste Kerere?Kerere respondeu: - Entre os meus irmos e irms eu sou a mais feia!

  • Coleo Literria Besouro

    9

    Dandaluna pediu ento para Kerere se aproximar, ela pegou seus instrumentos de pintura e foi pintando todo o corpo da pequena galinha, pintou seu bico, depois lhe deu brincos, fez pinturas brancas em seu corpo e continuou a pintar todo o corpo de kerere, antes de terminar de pintar Kerere olhou pelo espelho de Dandalunda e saiu correndo cantando de tanta felicidade: ku-beta o kuaba, kubeta o kuaba (sou a mais linda, sou a mais linda).

  • Coleo Literria Besouro

    10

    Ainda no tendo terminado de pintar Dandalunda pediu para os gmeos Kakulu que corres-sem atrs dela e trouxessem de volta para pintar o seu peito.

    Kerere voltou e pediu para Dan-dalunda que ao invs de pintar o peito lhe fizesse uma colar para que todos seus futuros filhos e filhas fossem tratados como reis e rainhas entre as galinhas...

    Dandalunda fez a vontade da pequena galinha e ofereceu-lhe um colar em forma de coroa, que todos os filhos e filhas de Kerere carregam at hoje pelo mundo afora...

    - Gostaram crianas? Pergunta Monadenge- Sim Tata!- Depois disso todas as filhas e filhos de Kerere so felizes pelo que so e como so, pois foram pintadas pelas mos dos deuses.

  • Coleo Literria Besouro

    11

    Coleo Literria Besouro

    Quem perde o corpo a lngua

    Na Mesma tarde Monadenge estava ensinando as crianas o valor da palavra e de como no deve ficar contando vantagem das coisas que fazem, numa dessas ele lembrou de uma velha histria contada por Kandunga, seu tutor, sobre um jovem caa-dor...

    Dizem que h muito tempo um caador voltando para sua al-deia, encontrou uma caveira.

    Nesse momento, a caveira o chamou o e pediu:- Chegue mais perto, caador que eu no mordo no!- Quem o colocou ai? Disse o caador com o restinho de cor-agem que ainda tinha.- Foi h morte caador. Apressou-se ela em responder.

  • Coleo Literria Besouro

    12

    Enigmtica, com os olhos brilhando na crnio vazio, a Caveira voltou a responder.- Quem perde o corpo a lngua Caador!...

    O caador voltou pra casa e falou pra todo mundo da Aldeia sobre o ocorrido. Dias depois o caador passou novamente pelo mesmo lugar daquela floresta sombria e voltou a ver a Caveira ajeitada caprichosamente no mesmo lugar e ao p da mesma arvore. Mais que depressa o caador correu pra sua aldeia, todo orgulhoso de si mesmo.

  • Coleo Literria Besouro

    13

    A verdade que todo mundo ficou com raiva dele... de tantas vezes que ele contou a mesma histria se vangloriando, afinal de contas que Caveira era aquela que s falava com ele? E por que? Seria mentira?

    Por fim acabaram dizendo:- Vamos ver essa tal Caveira!

    Certo de que a Caveira no o decepcionaria o caador partiu com todos para a floresta pra ver a tal Caveira. Vendo-a apres-sou logo em fazer perguntas, mas Caveira no murmurou sequer uma nica palavra.

  • Coleo Literria Besouro

    14

    Diante dos olhares ameaadores de seus colegas tentou nova-mente. Mas ningum quis saber de conversa e muito menos de explicao, deram uma baita surra, a maior que levara. Foram embora gritando:- Mentiroso

    Pobre caador! Todo machucado e dolorido ficou esticado no cho.

    S com muito esforo conseguiu encostar-se na arvore, quando finalmente se levantou com raiva e resmungou:- Olha bem coisa do Mau. o que fez comigo!O olho da Caveira brilhou quase zombeteiramente- Eu Disse Quem perde o corpo a lngua Caador...E Ca entre ns com toda a razo!

    O caador todo machucado foi embora, e dessa vez calou-se, guardando para si aquilo que somente ele ouvira.Mu kuenda ngMukfua ngMukuzuela ng;Mukuzuela ng, Mukuia ng.(Por andar toa, morre se toa; por falar toa vai-se toa)

  • Coleo Literria Besouro

    15

    Coleo Literria Besouro

    Vol. 1

    Contos de Monadenge

    Textos: Israel Neto e Jader Oliveira

    Ilustraes: Soberana Ziza (Estdio Soberana)

    Diagramao: Joo Augusto (Coisa Simples Produes)

    Apoio: Prmio Aprendiz Comgs

    Direo e concepo: Literatura Suburbanawww.literaturasuburbana.blogspot.com | www.playnapoesia.com.br

    Referncias

    O Conto Quem perde o corpo a lngua, foi inspirado no livro Lendas Negras de Julio Emilio Braz e Salmo Dansa.

    O Conto Dandalunda e a Galinha DAngola, foi adaptado do conto Kerere, lenda da galinha de Angola

  • Coleo Literria Besouro

    A coleo Besouro uma serie de livros e livretos de contos infanto-juvenil com a temtica da cultura africana, afro-brasileira e indgena. Tem como ob-jetivo contar e recontar histrias, lendas e evidenciar a in uncia indgena e africana na cultura brasileira.

    Volume I

    Contos de Monadenge

    Monadenge personagem do livro Amor Banto em Terras Brasileiras, aqui ele um Mutangi, um Contador de histrias, ao p de uma arvore no quilom-bo de Alquatune leva suas atentas crianas a outras pocas viajando por meio de dois contos fantsticos e emocionantes. Seja mais um ouvinte e venha visitar a frica junto com as crianas dos Quilombos de Palmares.