2 3 · final tudo acaba em festa. Vitória recebeu a edição de dois anos da festa Bekoo das...

19
1

Transcript of 2 3 · final tudo acaba em festa. Vitória recebeu a edição de dois anos da festa Bekoo das...

Page 1: 2 3 · final tudo acaba em festa. Vitória recebeu a edição de dois anos da festa Bekoo das Pretas, gente bonita, estilo, música e resistência marcaram a noite da cidade e garantiram

1

Page 2: 2 3 · final tudo acaba em festa. Vitória recebeu a edição de dois anos da festa Bekoo das Pretas, gente bonita, estilo, música e resistência marcaram a noite da cidade e garantiram

2 3

Page 3: 2 3 · final tudo acaba em festa. Vitória recebeu a edição de dois anos da festa Bekoo das Pretas, gente bonita, estilo, música e resistência marcaram a noite da cidade e garantiram

4 5

SUM

ÁRI

OALÔ DA EDITORASOBRE A COR DA PELE

MELANINA TEMUM PASSEIO PELA EDIÇÃO

MODALIFESTYLE: DO BRECHÓ À GRIFE

POR QUE NÃO?POR QUE BEYONCÉ É IMPORTATE?

MÚSICAA COISA FICOU PRETA EM VITÓRIA

ENTRETENIMENTOTODOS AMAM NETFLIX

EMPREENDEDORISMOBATE PAPO COM ELIANE DIAS18

678

101416

22303234

TINHA QUE SER PRETO

SAUDE

DE ROLÊ

ÚLTIMA DEIXA

O OLHAR FOTOGRÁFICO DE MÁRVILA

A EMOCIONALIDADE DO NEGRO

BATEKOO E BASQUIAT

NOSSA DESPEDIDA CALOROSA

Page 4: 2 3 · final tudo acaba em festa. Vitória recebeu a edição de dois anos da festa Bekoo das Pretas, gente bonita, estilo, música e resistência marcaram a noite da cidade e garantiram

6 7

SOBRE COLORISMO, NUDE E “COR DA PELE”

A identidade é o conjunto de características que distinguem uma pessoa. Sua construção é determina por uma série de processos

realizados ao longo da vida, dentre elas o auto-reconhecimento. Ser negro, para muitos, ainda é uma descoberta, um caminho de assimilação.

Uma país com uma paleta de cores tão diversa ter como base apenas o branco deixou de fazer sentido para aqueles que se encontram em infinitos tons de marrom. Do mais claro ao mais escuro. Dos cabelos crespo, de molinha aos alisados. Preto e branco. Cores. Uma referência de ausência, enquanto o outro representa a presença. A cor chega primeiro.

Melanina é a soma de expectativas que gostaria de ter crescido lendo e vendo. Gostaria de ter me enxergado, de ter como parâmetro um conceito de beleza que se aproximasse do meu. Eu teria almejado sonhos mais possíveis, aceitado quem é sua em minha completude. Hoje eu entendo, eu teria vivido uma vida diferente, uma vida em que eu teria me amado mais. O presente, a possibilidade ressignificar o futuro é o que está em jogo aqui. Nesse sentido, melaninar é a chave.

Nessa edição de Melanina você vai descobrir isso. Vou falar sobre a passagem dos cantores Rincon Sapiência e Drik Barbosa no Espírito Santo e um papo mais aprofudado sobre como música e combate ao racismo andam juntos. Ainda teremos a rainha empreendedora Eliane Dias, explicando como transformou a música em um grande negócio. Dentre outras iniciativas, Eliane também fala do seu papel em construir novas perspectivas por

meio do resgate da autoestima em outras mulheres. Mais transformações também aconteceram no dia nacional da criatividade. Diversas iniciativas aconteceram em todo Brasil, reunindo pessoas incríveis e ideias inovadoras. Empreender é com essa galera mesmo. Por falar em inovação, tem matéria especial da Dona do mundo aqui também. Ela mesmo, Beyoncé, que quebrou recordes e mais recordes em sua passagem pelo Coachella e fez história com uma apresentação cheia de significados e detalhes incríveis. Claro que no final tudo acaba em festa. Vitória recebeu a edição de dois anos da festa Bekoo das Pretas, gente bonita, estilo, música e resistência marcaram a noite da cidade e garantiram ótimos registros. Por último, não menos importante, vamos conhecer um pouco mais sobre o trabalho da fotógrafa Márvila Araújo, suas inspirações em trabalhar a autoestima das pessoas por meio da fotografia. Na capa e também compondo as paginas internas de Melanina, vemos um ensaio incrível com a orixá Oxum. Fotografias ricas em detalhes e um olhar sensível. A primeira edição de Melanina traz um novo olhar sobre diversos temas, uma paleta de cores incrível e única, somadas a representatividade e muito conteúdo. Aproveite a leitura (:

COLABORADORES

MONIQUE GAIGHERDESIGNER GRÁFICA E AUTODI-

DATA EM ILUSTRAÇÕES

MÁRVILA ARAÚJOFOTÓGRAFA QUE RESGATA

A CULTURA AFRICANA

NANDA CAMELOPUBLICITÁRIA CORRES-

PONDENTE EM SÃO PAULO

Resgatar a autoestima, cultura e a ancestralidade africana é o trabalho da fotógrafa Márvila Araújo. Capa da edição inicial de Melanina, a fotógrafa traz o ensaio Oxalá: A criação do mundo, onde apresenta seu olhar sobre a orixá. Na ativa desde 2014, a profissional se dedica em registrar a beleza negra através de suas lentes. Seu objetivo com tudo isso? Empoderamento!

A festa Batekoo também da as caras nessa edição. Muito mais do que uma festa acessível para o público negro e LGBTT, a Batekoo desenvolve um ambiente democrático e chamativo que tomou a cena de Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro nos últimos meses. O objetivo é promover a representação de jovens negros periféricos a partir de um movimento livre de preconceitos.

MÚSICA COMO AÇÃO POLÍTICAVitória protagonizou pela primeira vez uma grande manifestação cutural negra. Nos dias 12 e 13 a cidade recebeu dois grandes eventos, foram eles o aniversário de 2 anos da festa Bekoo das Pretas e os 25 anos do Museu Capixaba do Negro (Mucane). Passaram pela cidade artistas como Drik Barbosa, Rincon Sapiência, Dj KL Jay (Racionais Mc’s), dentre outros artistas nacionais e capixabas.

ALÔ DA EDITORA MELANINA TEM

Page 5: 2 3 · final tudo acaba em festa. Vitória recebeu a edição de dois anos da festa Bekoo das Pretas, gente bonita, estilo, música e resistência marcaram a noite da cidade e garantiram

8 9

O GLAMOUR DO BRECHÓ

SAIBA COMO BRECHÓS MUDAM A CARA DO GARIMPO DE MODA

É FEIO ATÉ QUE RIHANNA DECIDA FRASE QUE VIROU HASHTAG, PRÊMIO, NOME DE TUMBLR, MEME E REPRESENTA O PODER DA MAIS PODEROSA DAS INFLUENCIADORAS

Difícil bater o charme e o estilo de Rihanna. Embora fale-se o tempo todo sobre a importância de “ter estilo”, a substância dessa palavra é algo raro porque depende de um ponto de vista consciente. E ela decidiu que não era feio ser quem ela é, com suas dores, suas vitórias, suas imperfeições. Se você se inspira nela, certamente não sente a necessidade encaixá-la num ideal de perfeição.

Enquanto no mês passado gente amarga lotava as redes com o papo de que ela estava gorda, Rihanna era recebida pelo presidente da França para falar de educação. O assunto é sério e menos comentado porque não rende tantos cliques, mas a cantora tem uma extensa obra de ajuda humanitária e é uma militante ativa de questões educacionais.

Com decotes, com as roupas de Carnaval em Barbados, seu país natal, com vestidos de princesa, com os looks que as fashionistas modernas mais desejam. Não há roupa que possa detê-la, não há tecido que sua personalidade, que sua presença não transforme em algo bacana, intrigante ou simplesmente charmoso. De quebra, Rihanna tem sua própria grife, que, em pouquíssimo tempo, virou hit e está sendo copiada até por nomes do high fashion. Essa gata virou tantos jogos que tem gente tonta até agora.

MODA

Nessa onda de lojas de Instagram, o Brechó Replay se destaca da multidão. O feed do brechó parece

um caderno de recortes de uma adolescente do começo dos anos 2000 que é viciada em garotos, boy bands e R&B. A estética não é por acaso. Os idealizadores do Brechó Replay, o cabeleireiro Eduardo Costa e o cozinheiro Gustavo Fogaroli, resgataram as doces lembranças da juventude vivida em cidades interioranas de São Paulo direto para o acervo.

“Desde adolescente já gostava de ir na casa da minha avó, fuçar o armário dela e de querer usar as coisas antigas dela. Eu sabia que não podia usar de jeito nenhum [risos], mas sempre tive essa cultura do brechó como algo vital. Não tinha grana pra comprar roupa em loja e também queria me vestir de um jeito único”, relembra Gustavo.

Há alguns anos, comprar em brechó começou a ser bastante popularizado entre estudantes de moda. Sair em busca de uma peça exclusiva acabou de tornando uma atividade comum.Para o casal, a cultura de reuso precisa ir muito mais além das redes sociais e de brechós de luxo que já são populares na capital de São Paulo e, para isso, a solução é popularizar ainda mais a cultura do garimpo. “Resgatar uma coisa que é considerada lixo e usar de uma forma mais bacana é muito legal. Sem contar que entra uma discussão de a gente não fomentar a produção de mais coisas que não têm mais lugar para ficar”, diz Eduardo.

Page 6: 2 3 · final tudo acaba em festa. Vitória recebeu a edição de dois anos da festa Bekoo das Pretas, gente bonita, estilo, música e resistência marcaram a noite da cidade e garantiram

10 11

Beyoncé se apresentou no festival Coachella, na Califórnia, com um espetáculo que antes de terminar já colecionava títulos históricos. E desde

então, fica difícil deixar de pensar em como uma performance de música pop tem um papel social tão importante ainda hoje.

Desde muito cedo, sempre ouvi da minha mãe que não era porque morava na favela que precisava ser favelado. Logo cedo, eu já tive meu primeiro toque de realidade: antecipadamente, os outros vão te julgar. E julgaram mesmo. Por ser da favela, primeiro. Por ser negro, depois. Por ser gay, consequentemente. Por ser gordo, invariavelmente. Muitos jovens da minha geração e de mesma origem que a minha ouviram dos pais o mesmo conselho sobre seu comportamento e, a partir disso, uma geração de jovens adultos conscientes de suas origens e precavidos da resposta da sociedade chegou na virada do milênio com um mecanismo de auto-camuflagem como kit de sobrevivência.

Não me entendam mal. A minha mãe (nem a de vocês!) não fez nada de errado com o que ela ensinou. A ideia aqui é só contextualizar e abrir espaço para explicar porque é importante que haja um expoente popular como Beyoncé nos tempos que vivemos.

Como mulher negra, Beyoncé representa aspirações que não eram consideradas possíveis para alguém do seu gênero e de sua raça. Mas mais que isso, sua relevância cultural oferece um espaço de discussão sobre o papel social que o negro, de forma geral, tem na cultura popular ocidental. Por vezes, o negro de sucesso é tão singularizado que sua identificação fica impossível com toda comunidade.

O nível de excelência na entrega que ela oferece e o cuidado cauteloso na construção de sua imagem são paralelos com preocupações comuns

do dia a dia do jovem negro, que mais de uma vez, em mais de um ambiente social, se vê forçado a demonstrar mais empenho e imprimir mais dedicação em empreitadas que jovens brancos sucedem.

Quando a cantora lança mão de construir sua apresentação no festival musical Coachella, onde ela foi a primeira mulher negra a se apresentar como headliner, com elementos das bandas de marcha e acena para o microcosmo acadêmico negro americano, ela eleva o olhar do público para ambientes até então experienciados por quem é negro e vive naquele espaço.

A apresentação de Beyoncé no Coachella bateu recordes de visualizações no YouTube e entrou automaticamente para a história da cultura popular moderna. Para Beyoncé, apesar de especial, foi só mais um feito. Quase como todas as boas entregas que vários negros insistente e constantemente promovem mundo afora, apesar das adversidades e expectativas contrárias.

Para quem é fã, por identificação musical, assistir Beyoncé em ação como na última semana é um privilégio. Para o jovem adulto negro, da favela, é muito mais que isso: é um alívio.

POR QUE NÃO?Gabriel Martins

POR QUE BEYONCÉ É TÃOIMPORTANTE?

Page 7: 2 3 · final tudo acaba em festa. Vitória recebeu a edição de dois anos da festa Bekoo das Pretas, gente bonita, estilo, música e resistência marcaram a noite da cidade e garantiram

12 13

Page 8: 2 3 · final tudo acaba em festa. Vitória recebeu a edição de dois anos da festa Bekoo das Pretas, gente bonita, estilo, música e resistência marcaram a noite da cidade e garantiram

14 15

Faço questão de botar no meu texto que pretas e pretos estão se amando”. Os versos de Ponta de Lança, canção do rapper Rincon Sapiência,

nunca fizeram tanto sentido para Vitória. A capital recebeu no final de semana dos dias 12 e 13, diversas atrações culturais que movimentaram a população negra do estado. Melanina, música, mostras e exposições se reuniram na capital capixaba.

A comemoração de aniversário de 2 anos da festa Bekoo das Pretas e de 25 anos do Museu Capixaba do Negro (Mucane), promoveram a vinda de diversos artistas nacionais ao Estado. Passaram por aqui a cantora Drik Barbosa, o

Dj KL Jay (Racionais MC’s), a Dj Miria Alves, a dupla Aisha e Yaminah, o rapper Rincon Sapiência, além de diversas atrações locais. Os eventos reuniram aproximadamente 5 mil pessoas durante o final de semana.

Falas de protesto em combate ao racismo, machismo e sentimentos de resistência marcaram as noites de Vitória. Para a cantora Drik Barbosa, não faz sentido fazer música sem escrever a importância de cada um desses tópicos. Isso fica claro nos trechos de Camélia, faixa de seu último disco, Espelho.

“Estamos no limite em ver mulheres pretas morrendo todos os dias por diversas questões que não são pautadas. Não ganhamos a

SE A COISA TA PRETA,A COISA TA BOA!EM VITÓRIA, ESPÍRITO SANTO, SHOWS DE RINCON SAPIENCIA E DRIK BARBOSA REUNIRAM 5 MIL PESSOAS EM EVENTOS CULTURAIS

devida visibilidade e nossas lutas não são reconhecidas. Eu acredito que por meio da minha arte, eu posso informar e alertar as pessoas a pensar e agir diferente. O hip hop esta na posição de fazer esse trabalho informativo”, afirma a cantora.

Momento de análise e reinvindicação

O momento foi de devida importância para debater questões cruciais para a negritude de Vitória. Para a coordenadora do Mucane, Thaís Souto Amorim, todos os assuntos refentes a a população negra são pautas importantes a serem tratadas no museu. Promover eventos como este é a garantia e manutenção do lugar de fala e protagonismo negro.

“O Museu é o espaço de encontro e debate, mas não só na teoria, aqui trocamos afetos e experiências também. O último dia 13 reafirmou como esses momentos são importantes para nós, o encontro com os mais velhos, as referências, trocas, o transmitir aos mais novos, cada um com sua especificidade, mas alinhados na demarcação de nosso lugar e nossas pautas, explica a coordenadora.

13 de maio

Conhecida nacionalmente pela assinatura da abolição da escravatura, realizada pela Princesa Isabel, o 13 de maio é reivindicado desde 1978 pelo movimento negro brasileiro. São contestados fatores como a falta de recursos mínimos para subsistência da população negra após a escravidão, bem como a ausência de mecanismos para a inserção desse povo na sociedade.

Os reflexos do passado ainda são presentes nos dias atuais. Ocupando os espaços de menor prestígios na sociedade, o negro precisaria de pelo menos 72 anos para se equiparar ao branco. Desta forma, os dados levantados pela Oxfam afirmam que esses dois grupos viveriam em um mundo menos

desigual apenas em 2089.

Para a presidente do Instituto das Pretas, Priscila Gama, a comemoração do Bekoo das Pretas vem para fortalecer as falas de protesto realizadas durante a festa. “Esse momento serve para a gente desmistificar a ‘falsa’ libertação da escravatura, feita por uma princesa que não nos representa”, afirma Priscila.

A data também foi o dia escolhido para o lançamento do videoclipe Crime Bárbaro, novo trabalho do rapper Rincon Sapiência. No vídeo, o cantor revive uma escravidão moderna.

“Quando tentamos impor nossa estética, religião ou natureza, existe um ponto de opressão que se manifesta contra isso. Então a gente resiste, e muitas vezes, tentam nos aniquilar nesse fator em que a gente pode ser quem a gente realmente é. Esse é o senhor de engenho dos dias de hoje, tentando nos privar. Quando perdermos a chance de ser nós mesmos não desfrutamos da nossa liberdade”, reitera o cantor ao falar de seu videoclipe.

Para o artista, estar em Vitória, em um local de registro histórico negro, é enriquecedor. Rincon explica que a capital capixaba não faz parte do eixo central de grandes shows e informações, devido a isso, pouco se sabe sobre os acontecimentos no Estado.

“Temos poucas notícias sobre o que acontece em Vitória. Vir para cá e encontrar pessoas que dialoguem com o meu trabalho é muito importante. Enquanto artista, eu preciso ser global, mas não há dúvidas de que quando eu me encontro com os meus em um lugar que carrega os trabalhos que eu falo nas minhas músicas, acaba tendo um tempero especial”, explica o rapper.

MÚSICA

Page 9: 2 3 · final tudo acaba em festa. Vitória recebeu a edição de dois anos da festa Bekoo das Pretas, gente bonita, estilo, música e resistência marcaram a noite da cidade e garantiram

16 17

O primeiro ato de Lion: uma jornada para casa é difícil. Difícil pela sua

dureza, por escancarar uma realidade complicada, suja, de uma situação cuja a esperança é quase zero. O público se sente perdido e angustiado junto com o personagem.

Existem boas cenas mostrando a adaptação de Saroo com sua nova família. Os problemas de adaptação, principalmente com o idioma e com a presença de um novo irmão, funcionam. E fica claro desde o começo que, mesmo estando “seguro”,

SOBRE PERTENCIMENTO

o protagonista se sente desconfortável por não pertencer àquele ambiente.

Já com Saroo adulto, o mostra com uma ótima vida: ele namora, estuda e tem total atenção e afeto dos pais. Entretanto, reforçando: ele está desconfortável. E em pequenos momentos acaba lembrando de vários momentos de sua infância ao lado do irmão. E a busca começa.

Lion é um filme delicado. Formulaico, de certa forma, mas muito bem trabalhado. As atuações elevam a produção, e a edição, muito dinâmica, também se destaca. Ficou aquele sensação de quero mais, em um longa que mexe com as emoções.

+ SOBRE LIONQuando tinha apenas cinco anos, o indiano Saroo (Dev Patel) se perdeu do irmão numa estação de trem de Calcutá e enfretou grandes desafios para sobreviver sozinho até de ser adotado por uma família australiana. Incapaz de superar o que aconteceu, aos 25 anos ele decide buscar uma forma de reencontrar sua família biológica.

“AS ATUAÇÕES ELE-VAM A PRODUÇÃO, E A EDIÇÃO, MUITO DINÂMICA, TAMBÉM SE DESTACA”

A SENSIBILIDADE DE BUSCAR A SI MESMO

CARA GENTE BRANCASérie original Netflix, Cara Gente Branca retrata de for-ma cômica e irônica, a vivên-cia de um grupo de estudantes negros tendo que lidar com o racismo na universidade, onde o campus se transfor-mou em um verdadeiro caos. Estudantes negros passam a mobilizar toda comunidade a ser unir e defender sua es-sência, raízes e origens, cau-sando uma tensão racial no ambiente acadêmico. Ainda mais após Sam White liderar seu programa de rádio, que dá nome ao seriado em defe-sa ao negros do campus.

Um seriado que a sociedade precisa conferir e refletir so-bre distinções raciais e soci-ais, que é imposta e a gente engole sem perceber que estamos sendo abduzidos por uma hipocrisia coleti-va, e mostrar que não há cor, classe ou religião que define o caráter de uma pessoa. To-davia alguns sofrem e são mais ridicularizados por uma comunidade hipócrita, que acha que hoje não há precon-ceitos, distinção e segregação entre as pessoas, que existe, mesmo que velado, pois ap-enas aqueles que sofrem por mordaças sociais, sabem o valor de ser verdadeiramente livre para ser quem real-mente é.

INSECURE

MINIMALISMOBaseada na frase de Tyler Durden: compramos coisas que não precisamos, com dinheiro que não temos, para impressionar as pessoas que não gostamos, concluindo que “as coisas que possuímos acabam sendo donas da gente“.

Sendo assim, Minimalismo: Um documentário sobre coi-sas importantes, nos apre-senta várias estilos de vida

focados no minimalismo.

A publicidade é um fator muito importante no nosso dia a dia. Somos constante-mente bombardeados com ofertas para comprar o que há de melhor e mais barato. Toda a publicidade é feita para acreditarmos que pre-cisamos comprar. O olhar do documentário oferece uma perspectiva única e um novo caminho para aqueles que estão inclinados a fazer mu-danças nos seus hábitos de vida e consumo.

Lançada em 2016 , a comédia Insecure revelou-se uma gra-ta surpresa e conta a história de duas amigas e suas inse-guranças. Issa Rae e Yvonne Orji interpretam, respecti-vamente, Issa Dee e Molly, mulheres que contrariam es-tereótipos. Ambas formadas e na faixa dos 30 anos e bus-cam soluções para dilemas comuns da mulher contem-porânea.

A personagem Issa Dee tra-balha com crianças carentes. Já Molly é uma advogada de um grande escritório. Ambas são minoria em seus empre-gos e valem-se de sabedoria e ironia para enfrentarem situações desconfortáveis, muitas delas por conta de racismo.

ENTRETENIMENTO

Page 10: 2 3 · final tudo acaba em festa. Vitória recebeu a edição de dois anos da festa Bekoo das Pretas, gente bonita, estilo, música e resistência marcaram a noite da cidade e garantiram

18 19

um olhar

EMPREENDERDORPRIMEIRA EMPRESÁRIA DO RAP NO BRASIL, ELA É TAMBÉM CONSIDERADA UMA DAS MAIS IMPORTANTES VOZES FEMININAS NEGRAS NO PAÍS

“QUANDO ALGUMA MENINA CHEGA E ME DIZ QUE SOU REFERÊNCIA, LEVO UM SUSTO. NÃO ME VEJO COMO REFERÊNCIA. CADA MULHER É UMA RESISTÊNCIA”

Na aurora dos anos 90, o rap tomou São Paulo de assalto. De repente, a cidade começou

a falar, a se vestir e a se comportar como “os mano”. À frente do movimento, postura marrenta, inacessível à mídia, estava o líder dos Racionais MC, Mano Brown. Duas décadas depois, ele parece outro homem. A responsável pela transformação é Eliane Dias, sua mulher, com quem está casado há 23 anos.

Formada em Direito, Eliane se tornou a primeira empresária do rap, um clube do Bolinha que até bem pouco tempo atrás não tinha espaço para mulheres, em cima do palco ou nas posições fora dele. Ela assumiu a Boogie Naipe, produtora criada pelos Racionais MC (Mano Brown, Edy Rock, Ice Blue e KL Jay), que hoje cuida da carreira de várias bandas.

Hoje com 46 anos, além de empresária, Eliane é considerada uma das mais importantes vozes de causas femininas e negras do país, atuando como coordenadora do programa antirracismo da Assembleia Legislativa do

Estado de São Paulo, o S.O.S.

Ela por ela

“Sempre fui uma mulher de frente. Já trabalhava na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo havia três anos quando me chamaram para produzir os Racionais, em 2012. O machismo da banda havia me impulsionado a seguir outro caminho.

Ser mulher, negra, morar na periferia e não ter um homem em casa é foda. O homem só respeita outro homem. Na minha casa não tinha homem, então eu tinha que bancar. Nasci liderança. Conheci o Pedro Paulo (Mano Brown) dentro da minha casa. Meu primo, o Ice Blue, o levou lá. Eu não era o tipo de moça que ia a festas. Não tinha esse tempo. Na época, trabalhava de dia em escritório e fazia trabalhos de modelo à noite.

Depois que nos casamos, fui levando a minha vida paralela à dele. Nunca aceitei submissão. A única coisa que fiz foi continuar levando a minha vida. Quando os filhos nasceram, parei de trabalhar por seis anos. Após esse período, me matriculei

em um cursinho pré-vestibular. Fiz Direito na Universidade Municipal de São Caetano. Assim que me formei tirei a carteira da OAB, trabalhei em escritório. Ganhava muito bem.

Depois fui para a articulação política. Naquele tempo, o mundo do rap, o mundo da periferia era dos homens. E, de repente, me chamaram para cuidar dos Racionais. Não queria cuidar da banda, demorei três semanas para responder. Hoje cuido de tudo da produtora Boogie Naipe.

Hoje trabalho na Fundação Julita, tenho um projeto com meninas, de empoderamento feminino. Fundei a ONG Capão Cidadão e ate hoje quando alguma menina chega e me diz que sou referência, levo um susto. Não me vejo como referência. Cada mulher com a sua especificidade é uma resistência.

Sofro racismo todos os dias. Uma mulher negra não tem credibilidade. Às vezes fico cansada de conviver com tanta estupidez, calhordice. E penso, ah, vou me recolher. Mas, no fim das contas, estou sempre aqui.”

EMPREENDEDORISMO

Page 11: 2 3 · final tudo acaba em festa. Vitória recebeu a edição de dois anos da festa Bekoo das Pretas, gente bonita, estilo, música e resistência marcaram a noite da cidade e garantiram

20 21

Com o país em crise, todos os setores da economia precisaram se readaptar para

permanecer no mercado. Um que está em pleno crescimento é o da economia criativa. Diante desse cenário, as lojas tradicionais de São Paulo ganharam novos concorrentes: os espaços colaborativos. Uma solução mais barata e que visa o crescimento de todos os profissionais envolvidos.

As publicitárias Rafaela Pato e Juliana Calegari perceberam as vantagens da colaboração entre criadores e criaram a loja colaborativa Nós. As sócias acreditam terem feito a escolha certa. Elas frisam que existem várias experiências em grupo em diversas áreas e não veem motivos de o comércio também não se unir em prol do benefício de todos. “A ideia é ótima. Imagina se os 60 expositores que temos na nossa loja abrissem os espaços próprios? Será que isso se sustentaria?”, questiona-se.

AS LOJAS COLABORATIVAS SÃO UMA ALTERNATIVA PARA QUE OS PROFISSIONAIS DIVULGUEM E COMERCIALIZEM SEUS TRABALHOS, CONTRIBUINDO PARA A FORMAÇÃO DE UM PÚBLICO CONSUMIDOR E A CONSOLIDAÇÃO DO MERCADO. ALÉM DISSO POSSUI DIVERSOS BENEFÍCIOS ABRANGENTES AO MODELO DE NEGÓCIO .

A Bendita Co-lab, em Sampa, é ponto de reunião de artesãos, em-p r e e n d e d o r e s , estudantes de artesanato e pas-santes de última hora querendo comprar aquele presentinho

Há três anos, na região do Baixo Augusta, na regiao de Sao Paulo, as publicitárias Rafaela Pato e Juliana Calegari abriram as portas da Nós. A ideia era oferecer um espaço interessante a quem não tinha ainda capital para investir num ponto de venda próprio.

DATA OFICIAL ESTABELECIDA PELA ONU

UM ROLÊ PELO DIA MUNDIAL DA CRIATIVIDADE

EVENTOS ACONTECEU POR TODO O BRASIL NO DIA 21 DE ABRIL, DIA DO FERIADO DE TIRADENTES

ENQUANTO ISSO EM VITÓRIA...

ARTISTAS GANHAM VISIBILIDADEEM LOJAS COLABORATIVAS

Em 2018, a Organização das Nações Unidas (ONU) es-tabeleceu uma data oficial para celebrar o Dia Mundi-al da Criatividade e sua im-portância para a inovação. No Brasil, várias cidades realizaram atividades inéd-itas, transformando o dia 21 de abril em um marco histórico para quem acre- dita no poder da criatividade para resolver os mais com-plexos problemas econômi-cos, sociais e ambientais.

Esse ano as cidades de São Paulo, Campinas, Cuiabá, Fortaleza, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Caxias do Sul e Recife foram aderidas ao projeto.

A data segue a tendência de cidades ao redor do mundo que levantam a bandeira da importância do empreende-dorismo criativo, como uma oportunidade para a criação de micro, pequenas e médias empresas no mundo.

Vitória segue a tendência de cidades ao redor do mundo que levantam a bandeira da importância do empreendedorismo criativo, como uma oportunidade para a criação de micro, pequenas e médias empresas no mundo.

No estado, a realização do evento foi realizada pelo Esprírito Criativo, além de outros parceiros como o apoio da Secretaria Municipal de Inovação e Tecnologia da cidade de São Paulo, Secretaria de Estado da Cultura (Secult), Secretaria de Estado de Gestão e Recursos Humanos (Seger), Sebrae e Companhia de Desenvolvimento de Vitória (CDV).

Page 12: 2 3 · final tudo acaba em festa. Vitória recebeu a edição de dois anos da festa Bekoo das Pretas, gente bonita, estilo, música e resistência marcaram a noite da cidade e garantiram

22 23

OXALÁ: A CRIAÇÃO DO MUNDO

TRABALHO DA FOTÓGRAFA MÁRVILA ARAÚJO BUSCA RESGATAR A ANCESTRALIDADE AFRICANA

Capa da Melanina dessa edição, o ensaio fotográfico “Oxalá: A criação do Mundo” é o trabalho da fotógrafa capixaba Márvila

Araújo. Com o objetivo de resgatar a autoestima, a cultura e a ancestralidade africana, a profissional se dedica em registrar a beleza negra através das suas lentes.

Com um olhar sensível sobre a africanidade brasileira, Márvila atua na área desde 2014 e tem se dedicado a desenvolver e participar de projetos voltados ao povo negro. Dentre seus maiores trabalhos se destacam as mulheres, maiores vítimas de violência urbana no Espírito Santo.

“Representar a si mesmo é tão importante quanto se sentir representado. Conheci muitas pessoas e pude contar muitas histórias com o meu olhar. Percebo que a fotografia perpassa em muitos âmbitos na vida de uma pessoa negra, permitindo em cada foto a autoafirmação de ‘quem eu sou’ e conseguindo em cada pixel capturar essência do ser como ele é.”, explica a fotógrafa.

Elementos da natureza, moda e cotidiano se multiplicam em seus registros, todos com um único objetivo: empoderamento. Para Márvila, a fotografia é uma arma para lutar contra as mazelas e ao mesmo tempo, uma ferramenta de ressurgimento cultural. Pensando nisso, ela leva seus ensaios para exposições fotográficas itinerantes em comunidades carentes, escolas, Ongs e até mesmo na varanda da própria casa.

Ensaio sobre Orixás

Com o objetivo de ampliar as imagens das religiões afro-brasileiras, ano passado Márvila começou a registrar seu olhar sobre as belezas dos orixás. O ensaio

sobre “Oxalá: A criação do mundo” pode ser visto nas próximas páginas da revista. A atenção para os pequenos detalhes foi o grande diferencial para o trabalho.

Tecidos, acessórios, postura corporal. Cada composição do ensaio foi pensada com minúcia e destreza. A ideia inicial garantiu os cliques de Oxum, o orixá da beleza e das águas do Rio. Em seguida, a fotógrafa registrou Iemanjá, rainha das águas e mares. Márvila explica que a cada ensaio procura melhorar técnica, figurino e locação, pois cada Orixá tem sua simbologia, cores e detalhes preciosos que fazem total diferença.

“A ideia dos ensaios fotográficos com o tema central Meu Orixá partiu do desejo em externar muitos dos meus devaneios que nasceram a partir de leituras, pesquisas e debates sobre minha ancestralidade africana. Meu objetivo era retratar a força do Orixá com a beleza negra e toda sua essência. Tudo com muito respeito e amor”, explica a profissional.

Oxalá: A criação do Mundo

Para Márvila, Oxalá está associada à criação do mundo e da espécie humana. Está presente nos momentos em que a calma é estabelecida. Rege a tranqüilidade, o silêncio, a paz do ambiente. É o equilíbrio das coisas, mantendo-as suavemente estabilizado e em posição de espera ou definição, de acordo com o caso ou situação.

Considerado e cultuado como o maior e mais respeitado de todos os orixás do panteão africano. Oxalá simboliza a paz, é o pai maior nas nações das religiões de tradição africana. É calmo, sereno, pacificador; é o criador e, portanto, é respeitado por todos os orixás e todas as nações.

FOTOGRAFIA

Page 13: 2 3 · final tudo acaba em festa. Vitória recebeu a edição de dois anos da festa Bekoo das Pretas, gente bonita, estilo, música e resistência marcaram a noite da cidade e garantiram

24 25

Page 14: 2 3 · final tudo acaba em festa. Vitória recebeu a edição de dois anos da festa Bekoo das Pretas, gente bonita, estilo, música e resistência marcaram a noite da cidade e garantiram

26 27

Page 15: 2 3 · final tudo acaba em festa. Vitória recebeu a edição de dois anos da festa Bekoo das Pretas, gente bonita, estilo, música e resistência marcaram a noite da cidade e garantiram

28 29

Page 16: 2 3 · final tudo acaba em festa. Vitória recebeu a edição de dois anos da festa Bekoo das Pretas, gente bonita, estilo, música e resistência marcaram a noite da cidade e garantiram

30 31

NÃO ESTAMOS BEMUM OLHAR SOBRE A SAÚDE MENTAL DO NEGRO NO BRASIL

Desconhecida da maioria das pessoas, inclusive dos profissionais de

saúde mental, a psicóloga Neusa Santos escreveu a primeira referência sobre a questão racial na psicologia. O livro Tornar-se Negro (Graal, 1983) traz o estudo da autora sobre a vida emocional dos negros. Santos refletiu sobre como a negação da própria cultura e do próprio corpo atinge a subjetividade de pessoas negras.

Psicanalista bem sucedida, negra nascida na Bahia, sua obra traz uma importante contribuição ao revelar a experiência coletiva com nuances individuais que marcam a existência negra.“Saber-se negra é viver a experiência de ter sido massacrada em sua identidade, confundida em suas expectativas, submetida a exigências, compelida a expectativas alienadas”, explicou logo nas primeiras páginas de seu livro.

A psicóloga Maria Lucia da Silva, fundadora do Instituto Amma Psique e Negritude, dá pistas sobre o que consiste esse “tornar-se negro. “Não nascemos negros, nos tornamos a medida que conseguimos fazer uma leitura da nossa trajetória por meio das experiências de discriminação vividas”, afirma.

“O racismo é algo que nos atravessa”, pontua a complementar que a existência do racismo contribui para constituição dos sujeitos negros. “Não há um sujeito negro que não seja atravessado pelo racismo e que de alguma maneira, consciente ou não, vá viver

efeitos produzidos pelo racismo”, explica Maria Lucia.

Desde 1995 lidando com o tema de saúde mental e racismo, a psicóloga acredita que não há o reconhecimento da grande parte dos psicólogos de que o racismo produz sofrimento psíquico.

Nos últimos cinco anos, no entanto, a pauta racial tem sido constante nas instituições de psicologia graças ao trabalho de psicólogos negros. “Quem vem buscar atendimento tem um pedido de querer trabalhar com alguém que possa o compreender”, conta.

Uma das ações promovidas é justamente auxiliar na formação de psicólogos brancos e negros para que a escuta com relação à questão racial seja afinada e não relativizada como é comum ainda hoje.

Enquanto o berço europeu

das teorias de psicologia não concebe a opressão racial como causadora do sofrimento psíquico, o racismo segue provando sua letalidade que pode ser lenta e silenciosa como os inúmeros casos de depressão até devastadora e brutal como os casos de suicídio.

O livro de Neusa Santos citado no inicio deste texto voltado a discutir essa psicologia possível está disponível ao público desde de 1983 e, mesmo assim, continua sendo literatura desconhecida para muitos profissionais da área. Coincidência ou não, a trágica história de sua autora, que com cerca de 60 anos suicidou-se em 2008 sem jamais ter dado sinais de depressão segundo relatos de amigos, é uma alusão triste à perversidade perpetuada pelo silêncio em torno dos efeitos do racismo para a psique humana.

SAÚDE

Page 17: 2 3 · final tudo acaba em festa. Vitória recebeu a edição de dois anos da festa Bekoo das Pretas, gente bonita, estilo, música e resistência marcaram a noite da cidade e garantiram

32 33

O grupo capixaba Solveris está de malas prontas para abrir o show do músico Rubel, no Circo Voador. O quarteto apresentará o repertório do novo disco na cidade maravilhosa pela primeira vez. O evento acontece no dia 11 de maio, a partir das 22h. Morena, Magro, Dok e Leozi misturam rap, R&B e soul, criando uma atmosfera própria.

BATEKOOA FESTA SE TORNOU UM ÍCONE DE LIBERTAÇÃO E

REPRESENTAÇÃO DE JOVENS PERIFÉRICOS DE TODO O PAÍS

Muito mais do que uma festa acessível para o público negro e LGBTT, a Batekoo desenvolve um ambiente democrático e chamativo que

tomou a cena de Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro nos últimos meses.

O objetivo é promover a representação de jovens negros periféricos a partir de um movimento livre de preconceitos, que é embalado por ritmos como o hip-hop, rap, funk carioca, R&B, trap, twerk, kuduro, e suas vertentes.

Origem e dificuldades

A Batekoo nasceu em Salvador e foi criada pelos produtores e dj’s, Maurício Sacramento e Wesley Miranda, em dezembro de 2014.

“Eu sabia que a gente deveria estar nesse espaço, eu queria que os pretos ocupassem e que a festa fosse feita por um preto”, comentou o produtor da Bahia.

Desenvolvimento

Foi no decorrer das edições, que Sacramento começou a perceber a importância de se organizar uma festa voltada apenas à cultura negra, tanto para o público alvo quanto para ele mesmo.

Wesley Miranda, que atua como jornalista, comenta que com a grande visibilidade que eles vêm ganhando por parte de veículos de informação nos últimos tempos, a intenção é de profissionalizar cada vez mais a produção

da Batekoo.

Inspirações e ícones

O produtor Maurício Sacramento, revela que foi com o acesso aos ensaios que destacam a cultura negra, que ele conseguiu incorporar um novo corpo para a Batekoo, apresentando uma identidade mais significativa.

“A partir da segunda edição que eu dei uma nova roupagem à festa, lembro que na época o site Afropunk era bem popular e muito compartilhado entre amigos e foi aí que eu comecei a enxergar beleza no corpo negro.

Empoderamento

A libertação, união de minorias e empoderamento são sempre debatidos nos materiais de divulgação como uma forte expressão.

“Há muito tempo as pessoas negras já se articulam. Foi com o crescimento da internet e a criação dessas discussões, que a cultura negra e seus desdobramentos tomaram uma proporção muito maior e muitas pessoas negras agora estão em evidência”, enfatizou Miranda.

Para Sacramento, o movimento Batekoo revigorou a sua auto-estima. “Eu era uma vítima, não enxergava beleza em gente preta, nem em mim mesmo. A Batekoo foi momento de destaque para o fortalecimento da voz dos negros, do crescimento de uma nova estética negra e de um novo Maurício também”, disse.

A festa Vibe começou o ano para lá de especial. Tudo isso porque a edição recebe o lançamento do videoclipe Teu Pretim, do cantor capixaba Fabric-cio. A love song que resga-ta ritmo como R&B e Soul vai ao ar oficialmente no YouTube no próximo dia 14, mesma data da festa, na casa AudioFusion: Bu-reau, no Centro de São Paulo, a partir das 18h.

Esse ano o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) re-cebeu uma retrospectiva de Jean-Michel Basquiat (1960-1988), pintor norte-amer-icano de ascendência afro-caribenha e expoente do neoexpressionismo.

A mostra reuniu 80 obras, incluindo pinturas, gravuras, cerâmicas e desenhos, ex-postas nas sedes do CCBB nas capitais de São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.

Quem assina a curadoria é o holandês Pieter Tjabbes, da produtora Art Unlimited – que foi parceira do CCBB durante os dois anos de nego-ciações da exposição que cus-tou para os patrocinadores a bagatela de R$ 15 milhões.

Ano passado, uma obra de Basquiat foi leiloada por US$ 110,5 milhões, o valor mais alto obtido pelo artista até então. O jovem pintor figura num seleto panteão de artis-tas cujas obras foram adquiri-das por preços superiores a US$ 100 milhões.

“A obra do Jean-Michel Basquiat foi rapidamente reconhecida pelos colecion-

adores como algo de grande valor cultural. Ainda vivo, ele conseguiu vender obras por preços bem bons para a época. E depois da morte dele, os preços não pararam de subir”, explica.

O curador ainda contextu-aliza o período e o ambiente em que Basquiat ascendeu, “uma Nova York à beira do colapso”, explicou as princi-pais características da obra e milItância do artista, que “us-ava todos os cantos da tela”. O uso abusivo de drogas e a amizade profunda e produ-tiva que Basquiat teve com Warhol também foram des- tacadas.

Budah invade a cena do rap capixaba com o clipe de “Cola comigo”. O freeverse do site Rap Na-cional Download (RND) foi teve grande inspiração na cantarora Lauryn Hill. Budah traz um mais um som melódico, com rimas fortes e muita atitude.

A música estará disponív-el nas plataformas digitais a partir desta sexta-feira (16), às 11h.

DE ROLÊ

Page 18: 2 3 · final tudo acaba em festa. Vitória recebeu a edição de dois anos da festa Bekoo das Pretas, gente bonita, estilo, música e resistência marcaram a noite da cidade e garantiram

34 35

UM NOVO OLHAR SOBRE O MUNDO QUE NOS CERCA

ÚLTIMA DEIXA

Page 19: 2 3 · final tudo acaba em festa. Vitória recebeu a edição de dois anos da festa Bekoo das Pretas, gente bonita, estilo, música e resistência marcaram a noite da cidade e garantiram

36