2 Conceitos Básicos - Bibliotecas PUC-Rio · Enlaces de radio que são descritos incorretamente...
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2 Conceitos Básicos
Este capítulo apresenta os conceitos básicos e os modelos clássicos de
propagação na faixa de microondas. São consideradas a perda em espaço livre,
o modelo de Norton para propagação sobre terra plana perfeitamente lisa, os
efeitos de refração, difração e desvanecimentos por multipercurso atmosférico. A
seguir são apresentados os métodos para o cálculo da distribuição cumulativa de
probabilidades do desvanecimento recomendados pelo ITU-R, bem como a
expressão geral para a indisponibilidade em troncos compostos de múltiplos
enlaces.
2.1. Perda em Espaço Livre
A perda em espaço é livre definida como a perda de propagação de uma
onda eletromagnética emitida por uma fonte pontual isolada, no vácuo, sem a
presença de qualquer corpo ou meio que afete a onda propagante [2].
Corresponde a uma situação idealizada mas representa uma boa aproximação
para a perda observada em enlaces em visibilidade operando em altas
freqüências e sem efeitos de reflexão no solo.
Consideremos a potencia PT radiada desde uma antena transmissora
isotrópica, ou seja, o ponto origem de irradiação de potência uniformemente em
todas a direções. Consideremos uma esfera com radio d, na qual centro é o
ponto de origem de irradiação.
Em espaço livre assume-se que não há absorção ou reflexões da energia
em objetos da vizinhança da antena, de tal forma que a densidade de potência
irradiada será uniforme em todos os pontos da superfície da esfera, dada por:
2T d4/PPotenciadeDensidade π= (2.1)
Se uma antena com área efetiva de recepção AR é localizada na superfície
da esfera, a potência total recebida PR é igual á densidade de potência vezes a
área efetiva e recepção da antena, ou seja:
18
2RTR d4/A*PP π= (2.2)
Uma antena transmissora com uma área efetiva AT, que concentre a
irradiação dentro um certo ângulo, tem um ganho de transmissão em relação ao
radiador isotrópico de:
2TT /A4g λπ= (2.3)
onde �, é o comprimento de onda do sinal. Se considerarmos este tipo de
antena em lugar do radiador isotrópico, a relação de potências na equação 2.2
se transforma em:
)d4/A)(/A4(PP 2R
2TTR πλπ= (2.4)
Para descrever a potência nas antenas transmissora e receptora em
termos do ganhos relativos à antena isotrópica, arranjamos a equação 2.4 e
temos:
22R
2TTR )d4/)(/A4)(/A4(PP πλλπλπ= (2.5)
2RTTR )d4/)(g)(g(PP πλ= (2.6)
onde 2/4 λπ RR Ag = é o ganho da antena receptora em relação a um radiador
isotrópico. Expressando o resultado em decibéis, a relação entre PT e PR é dada
por:
)glog(10)glog(10)/d4log(20)P/Plog(10 RTRT −−= λπ (2.7)
O termo dependente do comprimento de onda e da distância nas equações
(2.5) e (2.6) é chamado de Perda no Espaço Livre entre radiadores isotrópicos.
Expressa em decibéis, a perda no espaço livre (FSL) é dada por:
)/d4log(20)FSL( dB λπ= (2.8)
19
ou
)/dlog(2098.21FSLdB λ+= (2.9)
Com d em metros.
Convertendo � para a mais usual forma de freqüência, expressa em MHz,
e mudando as unidades da distância d em quilômetros temos:
MHzKmdB Flog20Dlog2045.32FSL ++= (2.10)
A perda no espaço livre pode ser usada para calcular a atenuação do sinal
em enlaces ponto a ponto assumindo-se uma situação sem obstáculos e em
condições de céu claro.
2.2. Propagação Sobre Terra Plana
Para se obter o valor de atenuação da propagação que melhor descrevam
as situações reais é necessário incluir o efeito da presença da terra na região de
propagação das ondas eletromagnéticas.
Esta consideração aumenta grandemente a complexidade do problema.
Uma primeira aproximação, válida nos casos em que o terreno entre as antenas
é bastante uniforme, consiste em considerar a superfície da terra plana e
perfeitamente lisa. Em baixas freqüências a solução deste problema se
apresenta na forma de uma série de convergência lenta mas, em freqüências
elevadas, é possível obter uma aproximação relativamente simples, conhecida
como solução de Norton
Na solução de Norton o campo elétrico total é formado por três
componentes: uma parcela devida á propagação em espaço livre, conforme foi
definido na seção anterior, uma outra parcela devido á reflexão na superfície da
terra (onda refletida), que depende diretamente do coeficiente de reflexão no
terreno, e uma terceira parcela com sua máxima intensidade na interface entre o
meio superior e a superfície, que é denominada onda de superfície. Em
freqüências nas faixas de VHF, UHF e SHF, a onda de superfície é fortemente
atenuada. A figura 2.2 mostra os mecanismos associados á solução de Norton.
20
Figura 2.1 Propagação Sobre Terra Plana
A expressão da solução de Norton é a seguinte:
( ) ( ) ϕϕ
πλ ∆∆ −++�
�
���
�= jjRT
T
R ewFReRGGdP
P.1.1
4
2
(2.11)
O primeiro termo da expressão é referente ao raio direto, correspondendo
à formula de Friis. Este resultado é esperado, uma vez que na propagação em
espaço livre a onda que chega ao receptor é de um raio direto (em linha de
visada). O segundo termo é referente ao raio refletido em terra plana. O
coeficiente de reflexão R depende do ângulo iθ , da relação k1 e k0, e da fase
θ∆ que é proporcional á diferença de percurso entre o raio direto e o raio
refletido. O terceiro termo corresponde á onda de superfície onde, F(W), é um
fator de atenuação que determina o comportamento desta onda. É importante
ressaltar que a solução de Norton só é válida quando a distância horizontal entre
transmissor e receptor é muito maior que o comprimento de onda λ , e quando o
índice de refração da terra (proporcional a k1), é muito maior que o índice de
refração no espaço livre (proporcional a k0)
2.3. Efeitos da atmosfera na propagação
Para altas freqüências a propagação se dá em regiões limitadas do espaço
e os percursos de propagação podem ser representados por tubos de raios entre
o transmissor e o receptor. Se o raio é propagado em espaço livre, na ausência
de atmosfera ou em uma atmosfera homogênea, o caminho percorrido pelo raio
é em linha reta. Porém, o raio propagado através da atmosfera real da terra
encontra variações no índice de refração atmosférico causando um
encurvamento no percurso do raio. Além disto, os gases atmosféricos absorvem
21
e espalham a energia do radio no percurso, sendo as quantidades de absorção e
espalhamento funções da freqüência e a altitude ao nível do mar. Absorção e
espalhamento passam a ter importante contribuição na perda na transmissão em
freqüências acima de 20GHz [2, 3].
2.3.1. Refratividade da atmosfera
O índice de refração é definido como a relação entre a velocidade
propagação da onda de rádio em espaço livre e a velocidade num meio
especifico. Para uma atmosfera padrão e próximo à superfície da terra o índice
refração tem um valor aproximado de 1.0003 [4].
O Índice de refração, n, pode ser escrito na forma:
610*1 −+= Nn (2.13)
Onde N, é a refratividade dada por [22]:
��
���
� +=+=Te
8104PT
6,77NNN doiúmseco (2.14)
Sendo o termo NSeco dado por:
��
���
�=TP
6.77N osec (2.15)
e o termo Númido dado por:
���
����
�=2
5úmido
T
e10*732.3N (2.16)
Onde P = pressão atmosférica (hPa)
e = pressão do vapor de água (hPa)
T = Temperatura absoluta (K)
Esta expressão pode ser usada para todas as radio freqüências. Para
freqüências acima de 100 GHz, o erro é menor que 0.5% [22]
Para maior facilidade de aplicação utiliza-se a relação entre pressão do
vapor da água e a umidade relativa, H, que pode-se expressar como [4]:
22
hPa100He
e S= (2.17)
Sendo eS dado por:
hPact
btaeS �
�
���
�
+= exp (2.18)
Onde:
H = Umidade relativa
t = Temperatura em graus centígrados (OC)
eS = Pressão do vapor de saturação (hPa) á temperatura t (OC)
Os coeficientes a, b, c são [22]:
Para água Para gelo
a = 6,1121
b = 17,502
c = 240,97
a = 6,1115
b = 22,452
c = 272,55
Valores válidos entre –20O e +50O com
uma precisão de ± 20%
Valores válidos entre –50O e 0O com
uma precisão de ± 20%
A pressão do vapor de água, e, é obtida da densidade ρ por meio da
equação [22]:
hPaT
e7.216
ρ= (2.19)
com ρ em (g/m3). A recomendação ITU-R P.386 fornece valores
representativos de ρ .
2.3.2. Gradiente da refratividade
Provavelmente o valor de maior interesse no planejamento de radio
enlaces é o gradiente de refratividade. Assume-se que, o índice de refração n do
23
ar varia linearmente com a altura h para as primeiras poucas dezenas de
quilômetros sobre a superfície da terra e não varia em direção horizontal.
Comumente utilizam-se dois parâmetros de refratividade, usados na
estimação dos efeitos de radio propagação. Estes parâmetros são a refratividade
na superfície NS (cuja maneira de calcular-o será vista adiante) e a refratividade
NO em relação ao nível do mar. As figuras 2.3 e 2.4 dão o valor médio de NO
para o mundo. A partir do valor de NO pode-se calcular o valor de NS pela
equação 2.20, onde os valores de NO e ho podem ser determinados
estatisticamente para diferentes climas. A título de referência os seguintes
valores médios globais para estas duas características [22], aplicáveis
unicamente para percursos terrestres: No=315, ho=7.5 km.
��
���
� −=hohs
NN OS exp (2.20)
Com:
hs = altura da superfície respeito ao nível do mar (km)
ho = altura de escala (km) ≈ 7.5 km
0453-01
0
Figura 2.2 Valores mensais de No para o mês de fevereiro
Latitude
Longi tude
24
0
Figura 2.3 Valores mensais de No para o mês de agosto
2.3.3. Efeitos refrativos na curvatura do raio - o fator K
O fator K é um fator de escala (normalmente assumido como uma
constante para um percurso particular) que ajuda a quantificar a curvatura do
percurso do raio emitido. Enlaces de radio que são descritos incorretamente
como em linha de visada (Line of Sight LOS), sugerem que as comunicações
são limitadas pelo horizonte ótico (i.e. K=1). Na maioria dos casos os enlaces
de radio não são limitados à propagação com linha de visada. De fato, muitas
vezes pode-se alcançar comunicações além do horizonte ótico por cerca de 15%
(i.e. K=1.33). A figura 2.5 mostra este conceito simplificado e a figura 2.6 mostra
o efeito do fator K na curvatura do percurso do raio. Esta curvatura é devida á
refração angular.
Figura 2.4 Horizonte geométrico e de uma onda de rádio
Latitude
Longi tude
25
Figura 2.5 Curvatura do raio para diferentes valores de K
A refração angular através da atmosfera ocorre porque as ondas de radio
viajam a diferentes velocidades em diferentes partes do meio com variados
valores do constante dielétrica. Em espaço livre a velocidade de grupo é
máxima, mas, em atmosfera não ionizada, onde a constante dielétrica é
levemente maior devido à presença de gás e moléculas de água, as ondas de
radio viajam mais lentamente. Os radio-meteorologos tem definido como
atmosfera padrão, o tipo de atmosfera onde a pressão, a temperatura e o vapor
de água se reduzem com o aumento da altitude [4]. Sendo a constante dielétrica,
um parâmetro que combina os efeitos destas três propriedades meteorológicas,
porem dita constante, também diminui com o aumento da altitude. Assim, como
as ondas eletromagnéticas viajam mais rápido num meio de menor constante
dielétrica, a parte superior da frente de onda viaja a maior velocidade que a parte
inferior, causando a inclinação do raio. Numa atmosfera horizontalmente
homogênea, onde a mudança vertical da constante dielétrica é gradual, a
curvatura ou refração é continua, fazendo com que o raio tenda a seguir a
curvatura da terra. Esta curvatura pode ser diretamente relacionada ao raio de
duas esferas. A primeira esfera é a terra com radio de 6370 Km, e a segunda
esfera é a formada por a curvatura do raio, sendo o seu centro o centro da terra.
O fator K pode então ser definido como a relação entre o raio r da curvatura do
raio e o verdadeiro raio da terra ro [2], ou
orr
K ≈ (2.21)
26
Onde K é chamado fator do radio efetivo da terra e r é o raio efetivo da
terra.
O valor do fator K pode ser expresso em termos do gradiente hn ∆∆ / ,
pela seguinte equação:
1o
o hnr
1Krr −
��
���
� +≈=∆∆
(2.22)
onde ro � 6370 km e h, é a altura acima da superfície da terra. Como na
equação (2.13) 610)1n(N −= , temos:
km/unidadesN)10(hN
hn 6 −= −
∆∆
∆∆
(2.23)
e
1
157/hN
1K−
��
�
���
���
�+≈∆∆
(2.24)
Retornando á figura 2.6, onde vários valores de K e hn ∆∆ / são
mostrados, vemos as condições sub-refrativas, 0.1<<∞ K , onde o gradiente do
índice de refração é positivo. O pior caso na figura é quando a curvatura do raio
é interrompida pela superfície, para K=0.33, colocando o terminal receptor fora
de alcance.
A situação mais comumente encontrada corresponde a 0.1≥≥∞ K ou
0h/n157 ≤≤− ∆∆ . Neste caso o raio é curvado em direção da terra. Quando
157h/N −=∆∆ o raio tem a mesma curvatura da terra e a propagação do
percurso do raio atua como se fosse em linha reta sobre terra plana. Quando
157h/N −<∆∆ a curvatura do raio é mais acentuada que a curvatura da terra e
tem-se a situação de duto de superfície.
Então podemos observar que a curvatura do raio passando através da
atmosfera é controlado pelo gradiente do índice de refração. Para a maioria de
propósitos o valor do gradiente horizontal é pequeno comparado com o
horizontal, que este pode ser desprezado. A mudança vertical do índice de
refração em condições de atmosfera padrão é aproximadamente de -40 N-
unidades/Km.
27
Ditas variações ocorrem em função do clima, da estação do ano, da hora
do dia e das condições transitórias do tempo, também pode ser afetado pelo
terreno, vegetação e estratificação atmosférica. O valor do gradiente em media
varia entre 0 e –350 N-unidades/km, em distâncias entre 500 e 1000 metros
sobre a superfície da terra. Porém, durante um grande período do ano, o valor
padrão de variação do índice é de –40 N-unidades/km é mais comum.
2.4. Efeitos da Difração
A difração ocorre quando a frente de onda encontra um obstáculo que é
maior comparado com o comprimento de onda do raio. Para freqüências abaixo
ao redor de 1000 MHz há difração devido ao obstáculo, onde a atenuação
aumenta em função da obstrução da frente pelo obstáculo, para freqüências
acima de 1000 MHz, a atenuação aumenta mais rapidamente em relação ao
aumento da obstrução pelo obstáculo, até um ponto tal que o percurso torna-se
indisponível para efeitos de transmissão. A quantidade de perda por obstrução
depende da área da frente de onda que é obstruído em relação à área total
frontal de energia propagada e das propriedades de difração do obstáculo.
Para calcular a folga de percurso necessária para o projeto de rádio
enlaces deve-se levar em consideração o principio de Huygen’s e a teoria
desenvolvida por Fresnel. Esta teoria permite mostrar que a folga mínima
necessária é dada por
1R58,0H ≥ (2.25)
onde R1 é o raio da 1ª. zona de Fresnel. Os raios das zonas de Fresnel são
dados por
���
����
�
+=
21
21n dd
ddnR λ (2.26)
ou para efeitos de simplicidade:
���
����
�
+≈
21
21
GHzn dd
ddF
n3.17R (2.27)
28
Onde d1,e d2 são as distâncias do obstáculo á antena mais próxima e mais
afastada, respectivamente. Na equação 2.27, os valores das distâncias estão
em quilômetros, a freqüência em gigahertz e o valor do raio em metros.
2.5. Reflexões no Solo
Quando a onda de radio incide sobre a superfície da terra este não é
refletido por um ponto, mas sim por uma pequena área. A área de reflexão pode
ser o bastante grande, abrangendo várias zonas de Fresnel, ou pode ter uma
pequena seção transversal, tal como arestas ou picos, abrangendo só uma parte
de uma zona de Fresnel.
A amplitude e a fase da onda refletida na terra depende do coeficiente de
reflexão da terra no ponto de reflexão, do ângulo de incidência e difere para a
polarização vertical e horizontal. Ondas polarizadas horizontalmente são
refletidas na superfície com uma mudança de fase muito próxima de 180O, para
todos os ângulos de incidência. Para polarização vertical, a mudança de fase
varia entre 0O e 180O dependendo do ângulo de incidência e do coeficiente de
reflexão que, por sua vez, depende das características do terreno.
No caso de polarização horizontal, se a superfície refletora é o bastante
ampla para abranger totalmente uma zona ímpar de Fresnel, a reflexão
resultante chegara ao receptor fora de fase com respeito à onda direta causando
desvanecimento. Em alguns casos um fenômeno similar tem sido observado
para sinais com polarização vertical.
2.6. Desvanecimento em enlaces rádio
O desvanecimento é definido como a variação com o tempo da
intensidade, da fase relativa ou ambas de qualquer dos componentes da
freqüência da sinal de radio no receptor devido a mudanças nas características
do percurso de propagação com o tempo. Os desvanecimentos podem ser
classificados em termos dos mecanismos e efeitos de propagação envolvidos:
refração, reflexão, difração, multipercurso atmosférico, dutos troposféricos e
atenuação por chuvas. Estes mecanismos são básicos porque determinam o
comportamento com o tempo da sinal recebida, incluindo sua amplitude (nível),
29
fase, polarização, bem como a seletividade com a freqüência e espacial do
desvanecimento.
O desvanecimento causado pela geometria do terreno e pelas condições
metereológicas que não são, necessariamente, mutuamente exclusivos. Todos
os sistemas de radio transmissão na faixa de freqüências de 0.3 – 300 GHz
podem sofrer desvanecimento, incluindo terminais satélite-terra operando com
um baixo ângulo de elevação ou em condições de chuva forte.
A figura 2.8 mostra um exemplo de evento de desvanecimento em um enlace em
visibilidade de 48 Km de comprimento operando na faixa de 4,8 GHz.
Figura 2.6 Registro do sinal recebido, serie temporal.
2.6.1. Desvanecimento por multipercurso atmosférico
Desvanecimento por multipercurso é o tipo, mas comum de
desvanecimento encontrado, particularmente em enlaces de radio com linha de
visada (LOS – line-of-sight). Este tipo de desvanecimento é seletivo em
freqüência sendo particularmente problemático em enlaces digitais com altas
taxas de bits.
30
Como explicação do desvanecimento por multipercurso atmosférico,
devemos levar em conta as variações do gradiente do índice de refração.
Condições de multipercurso são geralmente devido a reflexões e refrações:
• Na terra, água ou outros tipos de superfície;
• Associadas a grandes valores do gradiente de refratividade na
parte baixa da atmosfera;
• Devidas a combinações das reflexões na terra e em camadas
troposféricas.
Características importantes do desvanecimento por multipercurso são a
taxa de desvanecimentos, correspondente ao numero de desvanecimentos por
unidade de tempo e a profundidade dos desvanecimentos que indica quanto a
intensidade do sinal no receptor varia em relação ao seu valor em espaço livre.
Profundidades de desvanecimento podem exceder 20 dB ou 30 dB,
particularmente em percursos longos em visibilidade. As durações de
desvanecimentos vão de poucos segundos a vários minutos ou mesmo horas
[2]. Na maioria dos casos os desvanecimentos por multipercurso são seletivos
em freqüência e espacialmente, sendo as melhores técnicas para sua mitigação
a diversidade em freqüência e a diversidade em espaço (duas antenas de
recepção adequadamente separadas).
2.6.2. Desvanecimentos planos
O desvanecimento plano (não seletivo em freqüência) resulta de uma
redução de sinal na antena do receptor devido a um ou vários dos seguintes
efeitos:
• obstrução pelo relevo do terreno no percurso do raio;
• desfocalização da antena devido à variação do gradiente da
refratividade (fator-K);
• reflexão parcial por camadas elevadas que se interpõem no
percurso do enlace;
• formação de duto troposférico entre as antenas;
• chuva no percurso de propagação.
Quanto existe um gradiente positivo (sub-refrativo) do índice de refração,
desvanecimentos em potência (planos) podem ser esperados, devido á difração
31
na superfície da terra. Profundidades de desvanecimento de 20–30 dB podem
ser esperadas com durações continuas de varias horas ou mais [2].
Desvanecimentos nos arredores de 20 dB ou mais podem ocorre devido a
dutos troposféricos e camadas elevadas da atmosfera [2]. Este tipo de
desvanecimento pode durar horas ou mesmo dias. Para enlaces em visibilidade
direta as formações de dutos troposférico no percurso causam situações
bastante desfavoráveis. Os dutos são camadas que aparecem na atmosfera sob
determinadas condições meteorológicas, nas quais o índice de refração
decresce rapidamente com a altura. Os dutos podem canalizar energia de modo
a se obter sinais intensos a grandes distâncias, devido á reduzida atenuação no
percurso, mas pode também desfocalizar o enlace evitando que o sinal atinja a
antena receptora. Um duto elevado é muitas vezes caracterizado como a
combinação de uma camada super-refrativa, acima de uma sub-refrativa, tal
condição tem o efeito de guia ou focalização do sinal ao longo do duto.
2.7. Modelos de previsão da distribuição de probabilidades dos desvanecimentos por multipercurso
No planejamento de enlaces mais longos que uns poucos de quilômetros
de comprimento deve-se se levar em consideração os vários mecanismos de
desvanecimento em condições de céu claro, cuja origem são as camadas
extremamente refrativas da atmosfera: espalhamento, desacoplamento da
antena receptora e propagação por multipercurso no solo e na atmosfera [5]. A
maioria destes mecanismos, pode ocorrer isoladamente ou em combinação com
outros.
O ITU-R provê modelos para previsão da distribuição cumulativa de
probabilidades do desvanecimento por multipercurso atmosférico em sua
Recomendação P.530. A versão atual desta recomendação é a P.530-10, que
requer a utilização de mapas digitais de topografia e parâmetros rádio
meteorológicos. Por este motivo, uma versão anterior de mais fácil utilização, a
P.530-7, é ainda muito empregada. Ambos os métodos são descritos
sucintamente nesta seção.
32
2.7.1. Modelo de previsão do ITU-R (Recomendação P.530-7)
Este modelo fornece a previsão da distribuição do desvanecimento para o
pior mês (valor médio multi-anual) em qualquer parte do mundo. O modelo não
leva em consideração o perfil do trajeto.
Inicialmente determina-se o fator geoclimático K para o pior mês a partir
das medidas de desvanecimento feitas na zona geográfica de interesse. Caso
estas medidas estejam disponíveis, pode-se estimar o fator geoclimático K a
partir da seguinte relação empírica da variável climática PL (i.e. a percentagem
de tempo que o gradiente da refratividade nos 100 metros inferiores da
atmosfera é mais negativa que –100 N unidades/km durante o pior mês médio)
[6].
5.1)ClonClatCo(1.07 PL10*10*0.5K −−−= (2.29)
O valor do coeficiente Co, é dado pela tabela (2.23) para três faixas de
altura da antena mais baixa e três tipos de terreno (plano, colinas e
montanhoso). No caso de que incerteza do que tipo de terreno pode estar
localizado um enlace, este deve ser classificado como sendo o plano ou
medianamente montanhoso (hilly) e o valor médio do coeficiente Co para estes
dois tipos de áreas deve ser empregado. Enlaces atravessando áreas planas
num terminal e áreas montanhosas no outro, devem ser classificado como áreas
medianamente montanhosas. Se o percurso passa parcialmente sobre água,
este percurso deve ser considerar como plano, não importando que o percurso
passe parcialmente sobre montanhas.
No caso de que o perfil do terreno não seja conhecido, os seguintes
valores do coeficiente Co devem ser utilizados:
• Co = 1.7 para a antena mais baixa na faixa de 0-400 m sobre o
nível médio do mar;
• Co = 4.2 para a antena mais baixa na faixa de 400-700 m sobre o
nível médio do mar;
• Co = 8 para a antena mais baixa acima de 700 m sobre o nível
médio do mar.
33
Tabela 2.1 Valores do coeficiente C0 para as três faixas de alturas da antena mais baixa
e os três tipos de terreno
O coeficiente Clat é função da latitude ξ sendo dado por:
• Clat = 0 (dB) Para ξ � 53o N ou oS
• Clat = -53 + ξ (dB) Para 53o N ou oS < ξ < 60o N ou oS
• Clat = 7 (dB) Para ξ � 60o N ou oS
O coeficiente de longitude Clon é dado por:
• Clon = 3 (dB) Para longitudes de Europa e África
• Clon = -3 (dB) Para longitudes em Norte e Sul América
• Clon = 0 (dB) Para as outras longitudes
Alturas da antena mais baixa e tipo de terreno que atravessa o enlace C0 (dB)
Antena de pouca altura (0-400 m) – Terreno plano:
Enlaces sob terra ou parcialmente sob terra, com altura da antena mais baixa inferior a 400 m acima do nível médio do mar, localizado em áreas predominantemente planas.
0
Antena de pouca altura (0-400 m) – Terreno ondulado:
Enlaces sob terra o parcialmente sob terra com altura da antena mais baixa inferior a 400 m acima do nível médio do mar, localizado em áreas predominantemente com montanhas baixas.
3,5
Antena de altura media (400-700 m) – Terreno plano:
Enlaces sob terra o parcialmente sob terra com altura da antena mais baixa na faixa de 400-700 m acima do nível médio do mar, localizado em áreas predominantemente planas.
2,5
Antena de altitude media (400-700 m) – Terreno ondulado:
Enlaces sob terra o parcialmente sob terra com altura da antena mais baixa na faixa de 400-700 m acima do nível médio do mar, localizado em áreas predominantemente montanhas baixas.
6
Antena de grande altura ( >700 m) – Terreno plano:
Enlaces sob terra o parcialmente sob terra com altura da antena mais baixa superior a 700 m acima do nível médio do mar, localizado em áreas predominantemente planas.
5,5
Antena de grande altura ( >700 m) – Terreno ondulado:
Enlaces sob terra o parcialmente sob terra com altura da antena mais baixa superior a 700 m acima do nível médio do mar, localizado em áreas predominantemente montanhas baixas.
8
Antena de grande altura ( >700 m) – Terreno montanhoso:
Enlaces sob terra o parcialmente sob terra com altura da antena mais baixa superior a 700 m acima do nível médio do mar, situados em zonas predominantemente montanhosas.
10,5
34
O valor da variável climática PL é obtido tomando o valor mais elevado de
excedência do gradiente de –100 N unidades/km nos mapas correspondentes
aos quatro meses representativos das estações; fevereiro, maio, agosto,
novembro nas figuras 7-10 da recomendação UIT-R P.453. Para latitudes
maiores que 60o N e 60o S só os mapas correspondentes a maio e agosto
devem ser utilizados.
Enlaces costeiros sobre/perto de massas grandes de água: se medidas
para valores de K em enlaces costeiros, sobre ou perto de massas de água não
são disponíveis, os valores de K podem ser estimados por:
�
��
�
��
<≥==
+−
kikclparaki
kikclpara10)rc(klKKcllogrckilog)rc1(
(2.30)
Onde rc é a fração do perfil do percurso cuja altitude em relação ao nível
médio da massa de água em questão é inferior a 100 m e está dentro de uma
distância de 50 Km respeito à linha costeira e não existe nenhum obstáculo entre
o percurso e a linha costeira com elevação de mais de 100 m, Ki é dado pela
expressão (2.29) para K. O fator Kcl é dado por:
||011.0Co1.04 10*10*3.2Kcl ξ−−−= (2.31)
Enlaces Costeiros Sobre/Perto Massas Médias de Água: se medidas de K
não estão disponíveis para enlaces costeiros sobre/perto de massas médias de
água, o valor de K, pode ser obtido de:
�
��
�
��
<≥==
+−
kikclparaki
kikcmpara10)rc(kmKKcmlogrckilog)rc1(
(2.32)
e )KcllogKi(log5.010Kcm += (2.33)
Com Kcl dado na pela equação (2.31).
A partir das alturas das antenas he e hr, (em sobre o nível do mar ou
alguma outra referência comum), calcula-se a magnitude de inclinação do trajeto
|εεεεp| (mrad) dada por:
35
d/hehrp −=ε (2.34)
onde d, é o comprimento do percurso em km.
Finalmente, calcula-se a percentagem de tempo Pw em que a
profundidade de desvanecimento A (dB) é excedida durante o pior mês a partir
de:
( ) 10/A4.189.06.3 10*p1*f*d*KPw −−+= ε (2.35)
Onde f é a freqüência em GHz.
A equação (2.40) foi obtida a partir de dados de desvanecimento em
percursos na faixa de 7 – 95 Km, freqüências na faixa de 2 – 37 GHz, inclinação
do percurso entre 0 – 24 mrad. Testes feitos usando outros vários grupos de
percursos acima de 237 km de comprimento e freqüências de até 500 MHz
sugerem, porém, que o método é válido para amplas faixas de comprimento de
enlace e freqüência de operação. Os resultados de uma análise semiempírica
indicam que o limite mínimo de validade para freqüências é inversamente
proporcional ao comprimento do percurso. Uma estimação aproximada deste
limite mínimo de freqüência, fmin, pode ser obtida de:
d/15minf = (2.37)
2.7.2. Modelo de ITU-R (Recomendação P.530-10)
Este é o modelo mais atualizado pela ITU o qual fornece a previsão da
distribuição do desvanecimento para o pior mês a partir das medidas de
desvanecimento feitas na zona geográfica de interesse. Caso estas medidas
estejam disponíveis, pode-se estimar o fator geoclimático K para o pior mês
médio a partir de:
42.01dN003.09.3 Sa10K −−−= (2.38)
36
Onde dN1, é o gradiente de refratividade pontual nos 65 m inferiores da
atmosfera não ultrapassado durante 1% num ano médio e Sa é a rugosidade do
terreno na área [5].
A recomendação ITU-R P.453 fornece o valor de dN1 em uma grade de
1,5o em latitude e longitude. O valor correto para a latitude e longitude para o
centro do percurso deve ser obtido por meio de interpolação linear a partir dos
valore dos quatro pontos mais próximos da grade.
Sa é definida como o desvio padrão da altura do terreno (m) dentro de uma
área de 110km x 110km com 30s de resolução. A área tem que estar alinhada
com o comprimento, de tal forma que partes iguais da área fiquem a cada lado
do comprimento que atravessa o centro do percurso. Podem-se obter dados do
terreno da World Wide Web.
Para um cálculo rápido de K para aplicações de planejamento sem o uso
de relevo digitalizado uma estimação bastante aproximada pode ser obtida:
1dN0029.02.410K −−= (2.39)
A partir das alturas das antenas he e hr, (em sobre o nível do mar ou
alguma outra referência comum), calcula-se a magnitude de inclinação do trajeto
|εεεεp| (mrad) dada por:
d/hehrp −=ε (2. 40)
Onde d, é o comprimento do percurso em km.
Para aplicações de projeto detalhado do enlace utilizando o valor de K
dado por (2.38), calcula-se a percentagem do tempo Pw em que o
desvanecimento A (dB) é excedido no pior mês médio a partir de:
10/Ahl*000885.0f*032.097.02.3 10*)p1(*d*KPw −−−+= ε (2.41)
Onde f, é a freqüência em GHz, hl, é a altura da antena mais baixa.
37
Para aplicações de planejamento inicial do enlace utilizando o valor de K
dado por (2.39), calcula-se a percentagem do tempo Pw em que o
desvanecimento A (dB) é excedido no pior mês médio a partir de:
10/Ahl*001.0f*033.02.10.3 10*)ep1(*d*KPw −−−+= (2.42)
É esperado que as equações (2.41) e (2.42), sejam validas para
freqüências de até 45 GHz. Os resultados de uma análise semiempírica indicam
que o limite mínimo de validade para freqüências é inversamente proporcional ao
comprimento do percurso. Uma estimação aproximada deste limite mínimo de
freqüência, fmin, pode ser obtida de:
d/15minf = (2.43)
2.8. Modelo do ITU-R para enlaces em tronco
A Recomendação P. 530 fornece ainda uma estimativa para o
desempenho total de um sistema de enlaces em tronco (consecutivos). Segundo
a Recomendação, este desempenho é fortemente influenciado pelas
características de propagação dos enlaces individuais [7]. Evidencias
experimental indicam que em condições de céu claro, eventos de
desvanecimento excedendo 20 dB sobre enlaces adjacentes num arranjo de
múltiplos enlaces são quase completamente decorrelatadas [5]. Isso sugere que
para sistemas com amplas margens de desvanecimento, a probabilidade de se
exceder uma profundidade de desvanecimento A para uma série enlaces
consecutivos é aproximadamente dada pela a soma das probabilidades
individuais de exceder esta profundidade de desvanecimento de cada enlace em
questão.
Um limite superior para a probabilidade de se exceder uma profundidade
de desvanecimento A num enlace de n “hops” pode ser estimado por:
( )Cn
1i
1n
1i1iiiT PPPP � �
=
−
=+−= (2.48)
onde:
38
���
���
≤≤
=AdB20 para1
dB10A para8.0C (2.49)
Para profundidades de desvanecimento entre 10 e 20 dB, interpolação
linear entre as potencias de 0,8 e 1 é sugerida.
As expressões acima partem da suposição de que a distribuição da
atenuação conjunta em enlaces consecutivos i e i+1 é dada por
[ ] [ ]C1iiC
1ii1ii1i,i )AA prob)AA(prob)A(P)A(P)AA e AA(prob)A(P >⋅>=⋅=>>= ++++ (2.50)
Onde Ai e Ai+1 são as atenuações excedidas em cada um dos enlaces.
2.9. Duração de Desvanecimentos
Além de conhecer a percentagem de tempo na qual o canal esta disponível
e não, é importante caracterizar como os períodos de indisponibilidade se
distribuem ao longo do tempo. Este caracterização pode ser feita a partir do
estudo do comportamento dinâmico do fenômeno de desvanecimento, que trata
o número de eventos de desvanecimento e da duração destes eventos [8].
O número de eventos de desvanecimento é a quantidade de eventos de
cruzamento de um limiar de atenuação. A duração do desvanecimento é a
quantidade de tempo que o sinal fica continuamente abaixo deste limiar de
atenuação [9].
Para o projeto de sistemas de microondas terrestres é importante
conhecer a estatística associada com a duração dos eventos de
desvanecimentos que permite uma distinção entre os critérios de qualidade e
disponibilidade do sistema.