2 Elvan Silva, A Vanguarda Incômoda: A resistência ao moderno na arquitetura brasileira.

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    A VANGUARDA INCMODA:A RESISTNCIA AO MODERNONA ARQUITETURA BRASILEIRA

    Elvan Silva

    O TEORPROMETICODAARQUITETURADEVANGUARDASo examinados neste texto aspectos da resistncia arquitetura

    moderna nos primrdios de seu advento, resistncia que no ocorreu

    apenas no Brasil. Embora a historiografia engajada se omita a respeito,

    a arquitetura de vanguarda nunca foi exatamente uma unanimidade,

    mesmo depois de sua difuso e de sua consolidao como estilo

    institucional da arquitetura por cerca de sessenta anos. Com efeito, a

    contestao do dogma modernista era uma reao previsvel, pois erauma iniciativa que propunha uma ruptura numa tradio construtiva

    que evolua desde o sculo XIX, formando um componente definido na

    cultura ocidental. Bruno Zevi refere-se essa arquitetura como polmica

    anttese do Neoclassicismo (Zevi, 1978:11). A condio de anttese

    polmica significa um animus belliem relao ao convencional, e

    natural que os defensores deste se colocassem na posio de contra-

    ataque.

    Na esfera do ensino da arquitetura, esse contra-ataque foi

    ignorado e omitido assim que o dogma modernista conquistou os

    coraes e as mentes de professores e alunos; a partir de um certo

    momento, como sintetiza Anatole Kopp, [...] o moderno no foi para

    eles um estilo, mas uma causa... (Kopp, 1990:24). Assim, considerava-

    se lcito ignorar as vozes discordantes, ou mesmo fingir que elas no

    existiam. Mas elas existiam. Neste ponto, cabe uma discreta referncia

    a Jos Marianno Filho, que foi, no mbito nacional, um dos primeiros

    a reagir contra o dogma modernista, mesmo que sua crtica no fosse

    exatamente revisionista (Marianno F, 1943). Nos Estados Unidos, onde

    Walter Gropius e os ex-bauhausianos foram calorosamente acolhidos,

    houve, nas dcadas de 1930 e 1940, uma resistncia arquitetura de

    vanguarda. Poucos aderiram de imediato nova escola; de fato, apenas

    os de mente mais aberta entre os arquitetos mais velhos estavam detodo convencidos. Os demais, ainda amargurados pela depresso

    econmica, estavam cticos, ou francamente hostis (Mock, 1944:13).

    Na Amrica do Norte, a oposio mais renhida ao modernismo veio

    no dos tradicionalistas, adeptos do estilo Beaux-Arts, mas dos

    vitoriosos arquitetos que produziam a verso nativa do Modernismo,

    que tinha seus antecedentes no Racionalismo Acadmico, na Exposio

    de Arte Decorativa de Paris de 1925 e, em menor escala, nas escolas

    de Viena e Amsterdam.

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    No incio de meus estudos de arquitetura, no final dos anos 50,

    meus colegas e eu cramos que iramos participar de uma eminente

    campanha civilizatria, a consolidao do modo moderno de produzir

    arquitetura. Braslia ainda no tinha sido inaugurada, e havia qualquer

    coisa de herico na tarefa de transformar o cenrio urbanstico do Brasil;

    enfim, era uma causa. Sem ser reconhecido como tal, o teor prometico

    da arquitetura empolgava nossos espritos jovens, no que ramosestimulados pelos professores, contemporneos de uma segunda gerao

    de arquitetos comprometidos com o ideal modernista. Este contedo

    prometico, cuja alegada falncia tem sido apresentada como uma das

    causas do chamado ps-modernismo, j tinha sido enfaticamente

    exaltado pelos prceres da arquitetura de vanguarda europia. Le Corbusier

    j tinha profetizado: Arquitetura ou revoluo. Podemos evitar a revoluo!

    (Le Corbusier, 1973: XXXIII). E como duvidar de Le Corbusier? Lcio Costa

    j definira o significado das palavras de Le Corbusier, instaurador daquilo

    que chamava de o estilo da nossa poca: E para levar a bom termo essa

    tarefa urgente, dever-se- eleger - sem desmerecimento para a contribuiode cada um dos mestres aos quais se deve decisivamente (da pureza do

    Bauhaus e da elegncia de Tugendhat, aos caprichos de Taliesin) a

    conquista do estilo da nossa poca -, a obra genial de Le Corbusier como

    fundamento doutrinrio definitivo para a formao profissional do arquiteto

    contemporneo (Costa, 1962).

    A crena na infalibilidade de Le Corbusier (ainda vivo, na poca)

    era absoluta, quase um dogma. O texto da Carta de Atenas chamava

    ateno para o papel de arquitetos e urbanistas na conformao deste

    novo cenrio de felicidade individual e coletiva. Havia tambm, ainda

    que com menor retumbncia, os escritos de Walter Gropius, igualmentecelebrando o contedo progressista da arquitetura modernista ortodoxa:

    Somente vivendo em uma unidade de vizinhana bem integrada pode

    o cidado de nossos dias experimentar e aprender o procedimento

    democrtico de dar e receber. As unidades de vizinhana sadias consti-

    tuem, por conseguinte, os canteiros naturais para obter melhores rela-

    es humanas e nveis de vida mais elevados. Ajudam a desenvolver

    um sentido de lealdade para com a comunidade, que encontra expres-

    so na ao concertada para o progresso social e cvico (Gropius,

    1963).

    E o que vinha a ser isto? O que uma unidade de vizinhana

    bem integrada? Certamente, a resultante de um projeto arquitetnico

    que leve em considerao os preceitos do modernismo ortodoxo,

    estabelecidos pelo prprio Gropius ou pela Carta de Atenas. Essa

    integrao no necessariamente aquela concebida pelos usurios,

    mas a que concebem os arquitetos, no contexto de seu conhecimento

    profissional. No panorama intelectual da Europa posterior Primeira

    Guerra Mundial, provvel que tais concepes fossem consideradas

    plausveis. Na Carta de Atenas lia-se que cabia aos arquitetos

    (modernistas) uma tarefa que iria redimir a humanidade:Ministrio da Educao e Sade

    Arquivo do autor

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    A arquitetura, depois dos extravios dos ltimos cem anos, deve ser

    posta novamente ao servio do homem. Deve abandonar as pompas estreis,

    inclinar-se sobre o indivduo e criar para a felicidade deste as disposies que

    protegero, facilitando-lhe todos os gestos de vida. Quem poder tomar as

    medidas necessrias para levar a cabo esta tarefa, a no ser o arquiteto que

    possui o perfeito conhecimento do homem, que abandonou os grafismos

    ilusrios e que, pela justa adaptao dos meios aos fins propostos, criaruma ordem que leve em si mesma sua prpria poesia? (Le Corbusier, 1954).

    Este papel demirgico dos arquitetos era visto sob a mesma tica no

    cenrio brasileiro: em 1936 aparece seu texto de maior repercusso,

    intitulado Razes da nova arquitetura, no qual feita a apologia da

    arquitetura modernista - incluindo seu contedo prometico -, e severa

    crtica tendncia estilstica dominante: Deixemos, no entanto, de lado

    essa pseudo-arquitetura, cujo nico interesse o de documentar,

    objetivamente, o incrvel grau de imbecilidade a que chegamos - porque,

    ao lado dela existe, j perfeitamente constituda em seus elementos

    fundamentais, em forma, disciplinada, toda uma nova tcnica construtiva,paradoxalmente ainda espera da sociedade qual, logicamente, dever

    pertencer (Costa, 1962). Costa no deixa por menos: a pseudo-arquitetura

    neoclssica, neo-colonial, ecltica, art-deco, sem-pedigree, era uma coisa

    de imbecis. E Costa tinha autoridade para emitir semelhante juzo: na

    Enciclopdia GGde la arquitecura del siglo XX , no verbete Brasil, se

    l:

    , [Lcio] Costa se destacava como o principal terico do

    movimento brasileiro []. Seu ensaio Razes da nova arquitetura(1934-

    5) considerado o manifesto inicial do Movimento Moderno no Rio de

    Janeiro, inspirado no iderio de Le Corbusier. Porm, antes de ser somenteum divulgador das idias do mestre, Costa foi, sobretudo, o autor intelectual

    de uma peculiar sntese entre o racionalismo tpico dos anos vinte e trinta

    de ndole corbuseriana e as lies arquitetnicas insinuadas pela arquitetura

    colonial brasileira. A formulao de uma arquitetura concebida com a

    dialtica entre o passado (arquitetura tradicional) e o presente (movimento

    moderno europeu), inspirou e modelou algumas geraes de arquitetos

    brasileiros (Lampugnani, 1989).

    Qual era a mensagem que Costa nos trazia? Que devamos, sem

    hesitao, nos engajar na tarefa que nos cabia, pois, tendo em vista nosso

    conhecimento enciclopdico e invulgar inteligncia? ramos tcnicos,

    socilogos e artistas, estvamos aptos para desempenh-la com

    competncia:

    Assim, pois, a simples considerao de um caso particular e atual

    como este das unidades de habitao evidencia claramente a funo

    primordial do arquiteto na sociedade contempornea. Tcnico, socilogo

    e artista, o arquiteto, pela natureza mesma do ofcio e pelo sentido da

    formao profissional, o indivduo capaz de prever e antecipar

    graficamente, baseado em dados tcnicos precisos, as solues desejveis

    e plasticamente vlidas vista de fatores fsicos e econmico-sociais que se

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    impem. Pelo que tem de tcnico, deve mostrar como praticamente possvel

    resolver de modo verdadeiramente ideal para a totalidade da populao,

    graas aos processos industriais da produo em massa, os problemas da

    habitao e da urbanizao citadina e rural. Pelo que tem de socilogo,

    cumpre-lhe mostrar, igualmente isento de paixo poltica ou inibio, as

    causas dos desajustes, os motivos da generalizada incompreenso e porque

    o remdio, j tecnicamente manipulado em todos os seus pormenores,ainda tarda. Pelo que tem de artista, cabe-lhe fazer antever como os novos

    dados funcionais em que o problema se assenta e a plstica decorrente

    dessa renovada integrao arquitetnica possibilitam a recuperao da

    beleza do pormenor, da harmonia do conjunto e do sentido urbanstico

    monumental (Costa, 1962).

    Nestes termos, natural acreditar-se que a doutrina modernista na

    arquitetura viesse a ser saudada como uma grande conquista, e recebida

    sem restries pela intelligentsianativa, naturalmente inclinada a seguir as

    tendncias culturais ento vigentes no hemisfrio norte. Alis, nisso que

    ento acreditvamos.

    A ESTTICADAOPULNCIAEstudando a evoluo cultural no Brasil, Nlson Werneck Sodr

    observa que quem se der ao trabalho de cuidadosa pesquisa, [...] no

    tardar a verificar que os monumentos arquitetnicos importantes e

    modernos, no Brasil, so pouco numerosos e quase todos realizados por

    encomenda do Estado (Sodr, 1979). Estes monumentos, de um modo

    geral, exibem uma construo perdulria, onde no h preocupaes com

    a economia na construo. Os monumentos arquitetnicos de que nos

    fala Sodr caracterizam-se pela opulncia de sua arquitetura.A opulncia arqui tetnica no tem precedentes na arqui tetura

    brasileira antes do advento da Repblica. Os raros exemplos da arquitetu-

    ra dos sculos XVIII e XIX exibem um despojamento prprio de uma nao

    subdesenvolvida e pobre, desacostumada com o luxo e a sofisticao,

    uma colnia espoliada por uma metrpole voraz. No Brasil, at a

    Independncia ocorrida quase meio sculo depois da norte-americana

    , o nico gnero arquitetnico mais elaborado era o eclesial, e, mesmo

    assim, nas regies economicamente mais desenvolvidas, onde abundasse

    o ouro e/ou as pedras preciosas. A arquitetura civil, tanto domstica como

    governamental, era despojada e destituda de pretenses estilsticas. Carlos

    Alberto Lemos nos relata que nos tempos de Colnia, as construes

    oficiais eram trabalhos at que modestos, inclusive nos primeiros tempos

    do imprio (Lemos, 1985). As casas de cmara e cadeia, sedes do poder

    na era colonial, eram construes rudes e modestas, como o eram as

    residncias urbanas, sem exceo. Nada nelas lembrava um palcio euro-

    peu. O Neoclssico seria introduzido depois de 1816, com a vinda da Misso

    Francesa, mas somente obteve uma difuso mais ampla depois da proclama-

    o da Repblica. Segundo um viajante europeu, na poca da Guerra do

    Paraguai (1865-70), o Palcio Imperial do Rio de Janeiro era ... um edifcio

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    comprido, baixo e de acanhada construo, sem nenhum ornamento

    arquitetnico (Versten, 1976). Se isto poderia ser dito do Palcio Imperial, o

    que seria nossa arquitetura civil como um todo? O chamado palcio do

    Conde dos Arcos, sede do governo da Capitania de Gois, depois Provncia

    e mais tarde Estado (at a transferncia para a nova capital, Goinia, no

    final da dcada de 1930), impressiona pelo aspecto espartano de sua

    construo. O Barroco exuberante das monarquias europias no foi imitadono Brasil da Colnia e do Imprio. E o Neoclssico impressionou mais os

    republicanos que os monarquistas; o Neoclssico tinha a marca da cultura

    francesa, lembrando Napoleo e a Revoluo Francesa. A Repblica, introdu-

    zida no Brasil pelos positivistas, trouxe uma nova relao do Estado com a

    sociedade e, entre outras coisas, uma transformao na arquitetura civil;

    Srgio Buarque de Holanda nota que ... os movimentos aparentemente

    reformadores, no Brasil, partiram quase sempre de cima para baixo: foram de

    inspirao intelectual ... (Holanda, 1979).

    Sodr, no estudo sobre a cultura brasileira, nota a importncia do

    papel do Estado para a produo de uma arquitetura de qualidade: Aolado do Ministrio da Educao, no Rio, [...] a massa de edifcios desqualifi-

    cados enquanto arte plstica, denunciando a singularidade do primeiro e

    at o seu isolamento. Os monumentos arquitetnicos dos primeiros lustros

    do sculo XIX, assim, so raros, como so raros os monumentos

    arquitetnicos dos meados do sculo XX; aqueles, como estes e tambm os

    poucos dos sculos anteriores, foram encomendas do Estado, em maioria

    esmagadora, na quase totalidade (Sodr, 1979).

    A prodigalidade nos gastos foi importante para a execuo da sede

    do Ministrio da Educao. Como resume Elizabeth Harris, dois meses

    aps o incio da construo, o custo do edifcio ultrapassou o oramentoprevisto, que fora subestimado. [...] Mas a astcia poltica de Capanema

    salvou o edifcio dos inquritos de oramento e das acusaes de abrigar

    faces artsticas de esquerda no Brasil (Harris, 1987:142, 168). De um

    lado, a obra exigiu gasto de divisas cambiais, pois cerca de 80% do ma-

    terial de acabamento foram importados. Foi necessria a autoridade de

    Capanema para neutralizar as crticas que se faziam obra, dado o alto

    custo representado pela inovao. Getlio Vargas, como ditador, excluiu a

    obra do Ministrio do sistema de auditoria de custos estabelecido pelo

    Estado Novo, o que, obviamente, facilitou a tarefa de Capanema.

    No edital do concurso pblico para a escolha do anteprojeto para

    a obra, havia uma clusula estabelecendo um limite para os gastos, e que,

    por mais inverossmil que possa parecer, este critrio foi preponderante

    para a escolha do trabalho vencedor. O limite era de 7.000:000$000

    (sete mil contos de ris), e o projeto do professor Archimedes Memria

    estava orado em 6.675:000$000 (seis mil, seiscentos e setenta e cinco

    contos de ris). A despeito da falta de brilho do projeto, a idia de Memria

    foi declarada vencedora principalmente por esta razo (Harris, 1987:62).

    Pelas informaes disponveis, esta preocupao com os custos desapareceu

    depois que o resultado do concurso foi desprezado e a tarefa de projetar o

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    edifcio foi entregue ao jovem grupo de arquitetos reffuses, que foram

    extremamente felizes na formulao de uma monumentalidade contempornea.

    A monumentalidade da arquitetura de vanguarda brasileira estabe-

    leceu um padro, o da opulncia, como sinnimo de excelncia. Este

    padro foi definitivamente consagrado com Braslia e com a arquitetura da

    burocracia estatal produzida durante o regime militar. Mas houve

    contestao: j em 1954 esta tendncia era criticada por Mrio Barata:O alto custo da arquitetura moderna, as freqentes queixas de parte dos

    que a utilizam; os defeitos quanto conservao dos prdios, esto entre

    as causas da necessidade premente de autocrtica sria e criteriosa (Barata,

    in Xavier, 1987).Mas este aspecto conseqncia da inclinao dos

    mais notveis arquitetos modernistas brasileiros da primeira gerao em

    direo monumentalidade. Este atributo no indispensvel excelncia

    arquitetnica. Uma arquitetura que, em vez da visualidade, privilegie a

    instrumentalidade e se preocupe com o baixo custo de execuo, poder

    ser uma arquitetura de qualidade.

    O que, no entanto, monumentalidade? Voltemos definioproposta em meados do sculo XIX pelo escultor e terico norte-americano

    Horatio Greenhough, que, num texto sobre a arquitetura de seu tempo,

    dizia que os edifcios em cuja construo os princpios da arquitetura so

    desenvolvidos podem ser classificados como orgnicos, [se] formados para

    satisfazer as necessidades de seus ocupantes, ou monumentais, [se]

    endereados s simpatias, f, ou ao gosto do pblico (Greenhoug, in

    Mumford, 1972).Para Greenhough, o adjetivo orgnico, aplicado a edi-

    fcios, significa formados (ou concebidos e construdos) para satisfazer as

    necessidades de seus ocupantes. Esta uma proposta formal de conveno,

    que cria novos significados para termos conhecidos, pois o adjetivo orgnico conhecido e empregado na linguagem cientfica, em acepes diferentes.

    Da mesma maneira, Greenhough chama de monumentaisaqueles edifcios

    endereados s simpatias, f, ou ao gosto do pblico, arbitrando, para a

    palavra monumento, um significado que poderia ser no-coincidente com

    aquele. Mas, de qualquer forma, podemos entender o significado da

    monumentalidade de que nos fala Greenhough; h uma certa correspon-

    dncia entre esse conceito e aquele que acima denomino de visualidade.

    A JUSTIFICAO IDEOLGICADAOPULNCIAARQUITETNICANo obstante, a mencionada identidade entre monumentalidade e

    opulncia, viabilizada pelo mecenato estatal, inseriu-se fortemente na cultura

    arquitetnica brasileira, e seu questionamento fica restrito ao exerccio da

    teorizao acadmica. No plano do ensino, esta cultura acarreta aquele

    desdobramento importante referido no incio, na noo de que (1) o cliente

    ideal do arquiteto a burocracia estatal e de que (2) a qualidade

    arquitetnica o mesmo que requinte construtivo. Assim, sem nenhum

    argumento racional que o justifique, o carter perdulrio parece ser inerente

    s realizaes arquitetnicas construdas com recursos do errio pblico. Assim,

    toda uma teorizao sobre os critrios que norteariam a produo de uma

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    arquitetura de interesse social perde seu sentido, pois a fora dos exemplos, e

    do prestgio que eles ostentam, fala muito mais alto.

    Oscar Niemeyer o arquiteto mais importante entre os que no do

    prioridade economia construtiva, pois esta nem sempre favorece sua

    reconhecida preocupao com a busca do efeito surpreendente e original.

    Em um texto de 1962, Niemeyer dizia estranhar que o pblico no

    compreendesse que ele pudesse ... declarar que o funcionalismo e o falsopurismo conduzem repetio e mediocridade; e ainda que aceitava

    todos os compromissos, todas as fantasias que pudessem levar beleza

    plstica (Niemeyer, in Xavier, 1987).

    A beleza plstica a que alude Niemeyer - a visualidade que defi-

    nimos como um dos eixos da projetualidade arquitetnica - pode resultar

    do uso de formas geomtricas relativamente simples, mas isto no sinnimo

    de economia, pois, geralmente, implica grande dispndio de material e de

    trabalho. Sobre isto, Harris explica que Graas ao baixo custo da mo-

    de-obra, puderam os brasileiros executar projetos mais finos e mais plsticos

    do que em qualquer outra parte do mundo. Assim, a predileo de Niemeyerpelas formas barrocas modernas (sic) evoluiu a partir das condies locais

    do pas, onde as formas curvas, que requeriam vigamentos complicados,

    eram facilitados pelo baixo custo da mo-de-obra (Harris, 1987).

    Esta caracterstica da concepo arquitetnica de Niemeyer seria

    uma contradio nos termos das teorias racionalistas das primeiras dca-

    das do primeiro ps-guerra, quando os arquitetos das vanguardas ortodo-

    xas pensavam numa arquitetura de contedo social, destinada a atender

    s necessidades de amplas camadas da populao. Le Corbusier, enunci-

    ando mais uma convico do que um fato, afirmava que em 1924, em

    todos os pases, a arquitetura se ocupa da casa, da casa comum e habitu-al, para os homens normais e comuns. Ela despreza os palcios. Eis um

    sinal dos tempos (Le Corbusier, 1973). Mas essa arquitetura realmente

    nodesprezava os palcios; apenas ainda no tinha tido a oportunidade

    de colocar-se a servio do poder. Chegada esta circunstncia, as priorida-

    des projetuais do arquiteto acabam se assemelhando s da arquitetura

    hiertica de todas as pocas.

    Citar o critrio da economia na construo como categoria da exce-

    lncia arquitetnica faz sentido, pois a arquitetura de todos os tempos tem

    sido produzida em contextos nos quais a racionalidade mencionada como

    fundamento. Mesmo no mbito esttico, h um princpio de ordem econmica:

    ... pode dizer-se que todas as atividades humanas consideradas geralmente

    como elementos da histria econmica se ajustam de vrias maneiras a uma

    norma que pede mxima satisfao de certas necessidades humanas com um

    mnimo de gasto (Schrecker, 1975).Mxima satisfao com mnimo de gasto

    um princpio que decorre do desenvolvimento do pensamento racional, e

    vlido em qualquer campo. As cincias bsicas tm essa caracterstica. A

    geometria, por exemplo, estabelece um vasto campo de raciocnio a partir de

    trs elementos (ponto, linha, plano) e de um nmero mnimo de axiomas, que

    permitem o desenvolvimento de um vasto campo de conhecimento. Pode-se

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    afirmar que a razo no admite o desperdcio, e isto vale tanto na ad-

    ministrao quanto na produo artstica, inclusive na arquitetura. No plano

    da histria da arquitetura, estas questes foram levantadas pela renovao

    do pensamento doutrinrio verificada no sculo XVIII, sob a influncia da

    filosofia da Ilustrao. Pensadores como Carlo Lodoli e Marc-Antoine Laugier,

    que contestavam os chamados exageros do Barroco, inauguraram uma

    tendncia racionalista na arquitetura, que preconizava a austeridade e asimplicidade construtiva, que se tornavam sinnimos de excelncia

    arquitetnica. Esta noo foi formulada, de modo teoricamente ntegro, por

    Durand, no fim do sculo XVIII.

    No estatuto da arquitetura modernista, a economia da construo

    tratada como elemento importante, a partir de conceitos tanto estticos

    quanto ticos, pois se pensava numa arquitetura de contedo social, numa

    perspectiva generosa, que via na habitao comum o grande tema da

    atividade edificatria. Em 1925, Gregori Warchavchik escrevia que

    construir uma casa a mais cmoda e barata possvel, eis o que deve

    preocupar o arquiteto construtor da nossa poca de pequeno capitalismo,onde a questo da economia predomina sobre todas as demais

    (Warchavchik, in Xavier, 1987).Em 1934, Gropius ainda aludia economia

    como um atributo da arquitetura contempornea: A libertao da arqui-

    tetura do caos decorativo, a nfase nas funes de suas partes estruturais, a

    busca de uma soluo concisa e econmica, apenas o lado material do

    processo criativo do qual depende o valor prtico da nova obra arquitetnica

    (Gropius, 1963).Curiosamente, essa busca da economia foi um dos pontos

    da arquitetura moderna mais criticados por seus detratores. No caso brasi-

    leiro, Jos Marianno Filho, ferrenho adversrio da arquitetura de vanguarda

    que chamava, entre outras expresses depreciativas, de arquiteturacomunista , colocava a preocupao com a economia, atribuda teoria

    modernista, como um defeito:

    Que razes especiais intervieram em favor daquilo que se chama

    inexpressivamente arquitetura moderna, contra os estilos clssicos

    trabalhados pelos sculos? Razes de ordem exclusivamente econmica.

    [...] Sob o pretexto irrisrio de que ela mais barata do que todas as outras

    que lhe fazem concorrncia, os jovens arquitetos, que por comodismo

    abraaram o estilo caixa dgua, procuram, por todos os meios, empurr-lo

    ao governo, argumentando que ele o mais conveniente, o mais til, o mais

    racional de todos os estilos arquitetnicos, vivos, mortos, antigos, e modernos.

    [...] Aos monumentos pblicos de arte arquitetnica no se exige mais que

    sejam belos, nobres, harmoniosos, ou grandiosos. Deles, se exige unica-

    mente que sejam econmicos. [...] O estilo caixa dgua, ou da misria

    estilizada, s tem uma utilidade prtica, e essa mesma, contra a nao e a

    favor dos sabidrios oportunistas. baratssima (Marianno F, 1943).

    Na verdade, a experincia brasileira demonstrou que a preocupao

    com a economia, atribuda arquitetura de vanguarda, era mais simblica

    do que efetiva, pois, quando se tratou de edificar o primeiro monumento

    desta arquitetura, no se exigiu que fosse econmico. Na realidade, a

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    arquitetura de vanguarda no era necessariamente baratssima. Esta

    qualidade dependia das conhecidas variveis da problemtica construtiva na

    arquitetura: preo e disponibilidade dos materiais, domnio das tcnicas

    edificatrias, competncia da mo-de-obra, administrao do canteiro, etc.;

    e, naturalmente, do gnero edilcio. O concreto aparente, dependendo do

    que se exija de sua superfcie, e das formas, pode custar tanto quanto o

    granito polido. O Ministrio de Educao e Sade, a despeito de sua vi-sualidade no-convencional, era um palcio, e os palcios costumam exibir

    uma construo opulenta; seriam palcios, se no custassem caro? Mesmo

    admitindo a relevncia da habitao de interesse social, Edgar Graeff, terico

    da arquitetura engajado e progressista, destaca a significao social do

    palcio: Contudo, o palcio, e mesmo o palcio do prncipe, l onde existem,

    mais importante do ponto de vista social. Porque a habitao comum, []

    continua sempre e apenas o abrigo de um indivduo, de uma famlia comum,

    [] enquanto o palcio, sob certos aspectos, pertence a todos, comunidade

    inteira (Graeff,1972).A hierarquia dos edifcios, a que Graeff alude, justificava

    o tratamento. Mas, na cultura arquitetnica brasileira, essa noo foi levadamuito longe, e quase todos os programas arquitetnicos so tratados como

    monumentos. Ento, fica difcil criar uma mentalidade pr-economia na constru-

    o. Para nossa arquitetura, opulncia e excelncia so sinnimos.

    Uma pesquisa feita por Jos Carlos Garcia Durand leva-o a concluir

    que o arquiteto brasileiro despreza seu papel no servio pblico, e que isto,

    em grande parte, se prende viso renascentista do arquiteto criador, no

    conformado com a exigncia social de uma srie de atividades pouco

    nobilitantes face ao ethos da camada, quais sejam trabalhos de fiscalizao

    de obras, organizao de concorrncias, reforma ou manuteno de prdios

    do patrimnio oficial (Durand, 1974).

    Ora, como se explica que, na segundametade do sculo XX, num pas do chamado terceiro mundo, uma viso

    renascentista possa ser um elemento importante na conformao da

    mentalidade dos militantes de uma profisso? Essa viso renascentista no

    corresponde condio real de existncia da maioria dos arquitetos. Mas h

    duas explicaes muito plausveis para sua emergncia. Essa viso

    renascentista a notao taquigrfica para representar um modelo de

    relacionamento entre o artista e seu cliente, caracterizado como mecenas.

    No se trata exclusivamente do gnero de obra arquitetnica envolvido; seria

    a relao entre Michelangelo e o Papa, entre um arquiteto de prestgio e o

    prncipe que lhe contrata os servios. Nesta relao, na sua condio ideal-

    tpica, o artista recebe do cliente plenos poderes no que tange sua liberdade

    de criao, e fundos suficientes para fazer frente s despesas envolvidas.

    Ora, essa a situao parecida com aquela que permitiu o aparecimento da

    arquitetura de vanguarda no Brasil, como resume Maurcio Vinhas de Queirs:

    A arquitetura de elite - de que Oscar Niemeyer hoje o personagem

    mais conhecido - no se desenvolveu diretamente em funo da febre

    especulativa imobiliria, mas teve sempre diante desta e de seus resultados

    uma atitude crtica, quando no lhe era ideologicamente hostil. Cresceu, sim,

    sombra do paternalismo sunturio governamental e, secundariamente,

  • 7/25/2019 2 Elvan Silva, A Vanguarda Incmoda: A resistncia ao moderno na arquitetura brasileira.

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    Arquiteto (UFRGS, 1963), professor titular, mestre em arquitetura edoutor em sociologia, ex-diretor da Faculdade de Arquitetura da UFRGS,professor visitante da FAU Ritter dos Reis, pesquisador e membro do ComitAssessor do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico(CNPq).

    Elvan Silva

    das conspcuas exigncias privadas de novas camadas emergentes. Mas

    seria descabido asseverar que se colocou a servio do suntuarismo

    esbanjador, quer pblico, quer particular. O suntuarismo foi condio

    para que tal tipo de arquitetura tivesse podido, em dado momento histrico,

    florescer entre ns e certo que tal circunstncia foi sempre reconhecida

    de maneira mais ou menos consciente pelos arquitetos de vanguarda,

    que nela viam apenas a oportunidade de exercer e desenvolver - complenos recursos - a sua tcnica e a sua arte (Queirs, in Xavier, 1987).

    Depois da guerra, a difuso favorvel do modernismo brasileiro

    no hemisfrio norte atenuou a resistncia arquitetura contempornea

    brasileira (Cf. Goodwin, 1943). Mas oportuno observar que,

    paradoxalmente - face ambigidade ideolgica do regime de Vargas

    -, um dos argumentos usados pelos detratores da arquitetura de

    vanguarda era o de que se tratava de esquerdismo arquitetnico e de

    bolchevismo arquitetnico (Badar, 2000).O prprio Marianno Filho,

    revelando um carter morbidamente reacionrio e preconceituoso, falava

    na arquitetura moderna (estilo caixa dgua) como arquiteturacomunista do judeu Le Corbusier (Marianno, 1943). Mas isto, longe

    de comprometer a imagem do movimento, deve ter contribudo para

    sua popularizao, pois muitos espritos inquietos se identificavam com

    a cosmoviso esquerdista, vista como promessa revolucionria, e

    abominavam o preconceito.