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2-FUTEBOL: PAIXÃO DE DOIDOS? – 08/08/2008 Ninguém tem dúvida de que o futebol é o mais popular e, por isso mesmo, o mais empolgante dentre todos os esportes coletivos praticados no planeta. Raro achar neste país – principalmente - uma pessoa que não tenha um time do coração, mesmo que seja do tipo que só torce pela Seleção Brasileira. Sendo a maioria composta por homens, isto me leva a crer que as mulheres sejam realmente mais evoluídas do que nós, porque, convenhamos, ficar nervoso por causa de um bando de marmanjos tentando a posse de uma bola com a intenção de enfiá-la dentro de uma espécie de porta retangular cujo fundo é feito com um pano cheio de pequenos buracos é, no mínimo, estranho. E como se não bastasse, ainda temos que ter uma paciência de Jó para ouvir os mesmos comentários de sempre, sejam dos cronistas esportivos ou dos jogadores, sempre com os chavões habituais que ferem os ouvidos de qualquer um pela mesmice cansativa e entediante de seus discursos. Acho que além de birutas, devemos ser masoquistas porque vira e mexe lá estamos todos torcendo ridiculamente, tal e qual numa comédia pastelão. Se alguém nos filmar em pleno “regozijo futebolístico”, veremos o quão patéticos nos tornamos quando os palavrões começam a sair sem controle qualquer. O coração fica acelerado, outros começam a suar as mãos e tem gente que até rói unha sem parar. Atitudes típicas de descontrolados. E na hora do gol? Outro quadro não menos vergonhoso para nossa reputação já abalada. Gritamos, esgoelamos e, por fim, abraçamos todo mundo ao nosso redor. Visão digna de um hospício em polvorosa na hora do choque diário. Mesmo assim, com tanta maluquice, devemos reconhecer que o futebol é um fenômeno de massa sem precedentes. Sua prática acontece em qualquer recanto deste imenso globo terrestre, não importa de que religião, classe social ou a cultura do lugar. Será que seu inventor poderia adivinhar no que daria o “football”? Sem contar que o dinheiro corre solto dentro e fora dos gramados. Tudo é sinônimo de grana quando da prática do futebol profissional. Tudo é mercadoria, desde os próprios jogadores, seus artistas principais, até o uniforme que vestem, chuteira, bola e muito mais do que isso. Nunca o vi o vil metal ficar tão vil (trocadilho terrível). O mais chato, além do quadro acima exposto, é imaginar que tem gente que briga e até mata por causa deste esporte. Paixão a flor da pele, sem limites que beira o fanatismo. Imaginem quanta energia é despendida pela pessoa quando ela torce desenfreadamente pela sua equipe favorita! Vale a pena o desgaste? E quem se importa com energia gasta nesta altura do campeonato? A verdade é que, além do emocional, lá se vai o físico, porque haja bebida e comida durante uma partida de futebol. Sem falar na mencionada reputação do torcedor que fica sobremaneira abalada. Mas ninguém quer saber desses detalhes comportamentais. O que interessa para o torcedor é o momento de euforia vivido. Afinal, devemos reconhecer também que o sofrimento no futebol geralmente é passageiro. Não dura mais do que três horas no máximo, tirando, evidentemente, a ressaca do dia seguinte. Porém, existe uma turba de fanáticos que fazem do futebol a sua vida, o ar que respiram. Haja inspiração para conversar com gente desse tipo, pois, como diria meu

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2-FUTEBOL: PAIXÃO DE DOIDOS? – 08/08/2008Ninguém tem dúvida de que o futebol é o mais popular e, por isso mesmo, o mais empolgante

dentre todos os esportes coletivos praticados no planeta. Raro achar neste país – principalmente - uma pessoa que não tenha um time do coração, mesmo que seja do tipo que só torce pela Seleção Brasileira. Sendo a maioria composta por homens, isto me leva a crer que as mulheres sejam realmente mais evoluídas do que nós, porque, convenhamos, ficar nervoso por causa de um bando de marmanjos tentando a posse de uma bola com a intenção de enfiá-la dentro de uma espécie de porta retangular cujo fundo é feito com um pano cheio de pequenos buracos é, no mínimo, estranho. E como se não bastasse, ainda temos que ter uma paciência de Jó para ouvir os mesmos comentários de sempre, sejam dos cronistas esportivos ou dos jogadores, sempre com os chavões habituais que ferem os ouvidos de qualquer um pela mesmice cansativa e entediante de seus discursos. Acho que além de birutas, devemos ser masoquistas porque vira e mexe lá estamos todos torcendo ridiculamente, tal e qual numa comédia pastelão. Se alguém nos filmar em pleno “regozijo futebolístico”, veremos o quão patéticos nos tornamos quando os palavrões começam a sair sem controle qualquer. O coração fica acelerado, outros começam a suar as mãos e tem gente que até rói unha sem parar. Atitudes típicas de descontrolados. E na hora do gol? Outro quadro não menos vergonhoso para nossa reputação já abalada. Gritamos, esgoelamos e, por fim, abraçamos todo mundo ao nosso redor. Visão digna de um hospício em polvorosa na hora do choque diário. Mesmo assim, com tanta maluquice, devemos reconhecer que o futebol é um fenômeno de massa sem precedentes. Sua prática acontece em qualquer recanto deste imenso globo terrestre, não importa de que religião, classe social ou a cultura do lugar. Será que seu inventor poderia adivinhar no que daria o “football”? Sem contar que o dinheiro corre solto dentro e fora dos gramados. Tudo é sinônimo de grana quando da prática do futebol profissional. Tudo é mercadoria, desde os próprios jogadores, seus artistas principais, até o uniforme que vestem, chuteira, bola e muito mais do que isso. Nunca o vi o vil metal ficar tão vil (trocadilho terrível). O mais chato, além do quadro acima exposto, é imaginar que tem gente que briga e até mata por causa deste esporte. Paixão a flor da pele, sem limites que beira o fanatismo.

Imaginem quanta energia é despendida pela pessoa quando ela torce desenfreadamente pela sua equipe favorita! Vale a pena o desgaste? E quem se importa com energia gasta nesta altura do campeonato? A verdade é que, além do emocional, lá se vai o físico, porque haja bebida e comida durante uma partida de futebol. Sem falar na mencionada reputação do torcedor que fica sobremaneira abalada. Mas ninguém quer saber desses detalhes comportamentais. O que interessa para o torcedor é o momento de euforia vivido. Afinal, devemos reconhecer também que o sofrimento no futebol geralmente é passageiro. Não dura mais do que três horas no máximo, tirando, evidentemente, a ressaca do dia seguinte. Porém, existe uma turba de fanáticos que fazem do futebol a sua vida, o ar que respiram. Haja inspiração para conversar com gente desse tipo, pois, como diria meu pai, é preciso ter bucho de avestruz para agüentar o seu radicalismo. É mais impressionante ainda, quando perdem. Parece que morreu gente na família, tamanho a sua decepção. E a recíproca é verdadeira, porque o entusiasmo do vencedor extremado se equipara a de um ditador quando derruba seu antecessor. É o doce sabor da vitória, diriam aqueles que adoram as frases-feitas. No mais, alguém se arvora em me explicar esse fenômeno?

Posso tentar: para mim, o futebol tornou-se uma espécie de “guerra sem vítimas”. Parece que naquela disputa está em jogo é a honra do indivíduo. O medo de levar “gozeira” dos outros tornaria o triunfo indispensável. E como cada especialista explicaria o fenômeno do futebol? O psiquiatra diria que o torcedor está com uma disfunção psíquica? O psicólogo optaria por tratar sua falha de comportamento? E o místico? O campo magnético provocado pela contenda dentro do gramado estaria influenciando negativamente o torcedor? Diria o religioso que o capeta estaria agindo para acirrar ânimos e provocar a discordância? O supersticioso então teria um prato cheio para lançar suas mandingas e usar seus amuletos para ver no que daria? Por outro lado, o médico diria que o futebol causaria sérias disfunções hormonais, porquanto orgânicas. Para mim, mero curioso (e torcedor, claro), optaria pelo lado positivo, porque o futebol é de fato o esporte que mexe com as multidões. Provoca mais união do que desunião. Tanto é que a FIFA tem mais associados do que a ONU.

Para finalizar e para não fugir do lado fantasioso – que é minha especialidade -, qual seria a reação de um pretenso extraterrestre se, de repente, baixasse num estádio de futebol e visse um bando de terráqueos semi-nus, suados e fedorentos, correndo desarvoradamente atrás de uma esfera colorida, tentando roubá-la do outro de roupa diferente e quando consegue, trata de se livrar dela o mais rápido possível? Quer situação mais hilária para os olhos de quem nunca viu uma partida de futebol? Das duas, uma: ou voltariam rapidamente para seu planeta, talvez de medo por estar num mundo de gente doida ou detonariam o estádio em prol da manutenção da inteligência universal. E pensar que eles nem viram o futebol americano ainda... É pândego imaginar tal cena. No mais, o futebol foi feito para isto mesmo: para nos alegrar e para nos irritar. Afinal, não é assim a vida? Não é ela repleta de gols a favor

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e de gols contra? Só resta então tocar a bola para frente, senão o juiz acaba a acaba a partida antes do tempo. (pub.13/8/2008)