2 J Sidlow Baxter Examinai as Escrituras Juizes a Ester

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J . Sidlow Baxter e xami na i as   escrituras  J uízes  a  E ster

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J. Sidlow B a x t e r

examinai as  

escrituras J u í z e s   a   E s t e r

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examinai as  

escrituras*

Através de um estudo sistemático e progressivo, o Dr. Baxter"examina" a Palavra de Deus numa série de l ições básicas eamplamente interpretativas, abrangendo desde o Livro de Juizesaté Ester.

Este livro não é um comentário versículo por versículo, nem étambém u m a série de análises e esboços. Antes, é um completo panoram a dos eventos, lugares e pessoas que compõem a histó riana rrad a de Juizes a Ester.

Pastores, seminaristas, professores e estudantes da Bíblia emg e r a l i r ã o e n c o n t r a r a q u i u m a r i q u e z a d e m a t e r i a l p a r amensagens, lições e estudo s particulares.

 N inguém poderá term inar esta série de lições e continuar a

m esm a pessoa. Todo estudan te receberá um benefício vitalício eserá inf in i tamente abençoado com es tes es tudos prá t icos eenvolventes.

J. Sidlow Baxter é um australiano de Sydney, tendo crescidona Inglaterra. Ele não é som ente um preg ad or de hab ilidadee s p a n t o s a ; a n t e s d e t u d o , é u m p r o f e s s o r d e c a p a c i d a d ecom provada por milhares de pessoas que já tiveram oportun idadede ou v i -lo . Recebeu o g rau de D ou tor em Teo log ia pe loSem inário Batista Central, em Toronto, no Canadá.

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J. S i d l o w B a x t e r

T r a c I u ç ã o   dE

N E y d S i Q U E i R A

SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VJDA NOVACaixa Postal 21.486 • 04698-970 São Paul o-SP

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Título do original em inglês: EXPLORE THE BOOK 

Copyright © J. Sidlow Baxter 

Revisões: Lucy Y amakami e V aléria Fontana 

Coordenação editorial: Robinson Malkomes  

Coordenação de produção: Eber Cocareli

Primeira edição em português: fevereiro de 1993

Publicado no Brasil com a devida autorização e cc’m todos os direitosreservados por SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA N O V A  

Caixa Postal 21486 - 04698-970 São Paulo-SP

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CONTEÚDO

PREFÁCIO DO A U T O R .................................................................... 7

PREFÁCIO À EDIÇÃO EM PO R T U G U Ê S.................................... 9

O LIVRO DOS J U ÍZ E S ....................................................................... 1-1Lições 24 e 25

O LIVRO DE R U T E ............................................................................. 29Lições 26 e 27

O PRIMEIRO LIVRO DE S A M U E L ...............................................   47Lições 28 e 29

O SEGUNDO LIVRO DE S A M U E L ...............................................   67Lições 30 e 31

O PRIMEIRO LIVRO DOS R E I S ..................................................... 89

Lições 32 a 34

O SEGUNDO LIVRO DOS R E IS ............................................ ..   12lLições 35 a 39

OS LIVROS DAS CR Ô N IC A S...........................................................169Lições 40 e 41

O LIVRO DE E S D R A S .......................................................................197Lições 42 a 44

O LIVRO DE N E E M IA S ....................................................................231Lições 45 a 47

O LIVRO DE E S T E R ..........................................................................263Lições 48 a 50

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PREFÁCIO

q u a s e   todas as seções compreendidas neste curso bíblico foramaprensentadas em minhas palestras bíblicas das noites de terça-feira naCapela Charlotte de Edimburgo, justificando assim sua forma em tom deconversa, em certas partes. Não são ensaios escritos, mas foram palestras

 preparadas para serem proferidas em público, e julguei mais acertadodeixá-las em seu molde original, acreditando que há certas vantagens

 práticas nisso. Peço que sejam tolerantes neste aspecto, especialmente se

os olhos exigentes de algum conhecedor ou diletante literário passaremsobre elas em sua forma impressa agora estabelecida. Além do mais, emvista de estes estudos terem sido preparados sem intenção de serem publicados mais tarde, tomei em várias partes a liberdade perm itida a um pregador, mas não a um escritor, apropriando-me dos escritos de outros.Só espero que minha admiração não me tenha levado a aproximar-medemais da ameaçadora fronteira do plágio. Se isso aconteceu, sinto-me

aliviado com a certeza de que só pode ter sido em relação a autores quenão estão mais conosco. Minha gratidão jamais será excessiva para com oscaros John Kitto, de tempos idos (e, para muitos, obsoleto), JohnUrquhart, A. T. Pierson, Sir Robert Anderson, G. Campbell Morgan eoutros da mesma tradição evangélica. Todos eles foram mestres em seusdias e a seu próprio modo. A todos eles, e a essa incomparável obracomposta, o Pulpit Commentary  (“Comentário de Púlpito”), devo minha

gratidão permanente e presto minha homenagem. Entretanto, no todo,este curso bíblico é basicamente resultado de meu estudo pessoal, e aceitode bom grado a responsabilidade por ele, crendo que dá verdadeira honraà Bíblia como a Palavra de Deus inspirada, em cada uma de suas partes.Que Deus possa empregá-lo graciosamente em um ministério útil paramuitos que vivem e trabalham na seara de seu amado Filho, nosso Senhore Salvador.

J. S. B.

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PREFÁCIO À EDIÇÃO EM PORTUGUÊS

A obra aqui intitulada E X A M I N A I A S E S C R I T U R A S é a segunda parte deuma coleção de seis volumes (dos quais já foram publicados o primeiro doAntigo Testamento e os dois do Novo). Esta coleção surgiu em decorrência do desejo do Pastor J. Sidlow Baxter de oferecer, com lições atraentese práticas, um conhecimento bíblico básico aos membros da CapelaCharlotte, em Edimburgo, na Escócia. O autor teve a feliz idéia de

 preparar seus estudos de um modo completo para os membros daquelaigreja, começando com Gênesis e terminando em Apocalipse, semescrever apenas mais um comentário.

O autor lança um alicerce agradável e seguro para aquele que desejaapresentar-se como obreiro (ou membro da igreja) “que não tem de quese envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2.15).

 Neste volume, o Pastor Baxter discorre sobre temas palpitantes contidosde Juizes a Ester. Ele apresenta uma abordagem bastante prática, comvárias aplicações espirituais dos eventos, lugares e pessoas que compõema história narrada por estes livros. Destaque deve ser dado ao estudo dostipos e antítipos que se encontra praticamente em todas as lições destevolume. Às vezes, Baxter alegoriza o texto bíblico, isto é, aparentementeconfere um significado a um trecho ou história bíblica que o autor originalnão tinha em mente nem podia ter. Nós preferiríamos que ele tivessedeixado bem claro que os textos em pauta “ilustram” verdades, mas não“significam” tais verdades. Podem-se criar analogias e comparações entrefatos bíblicos e realidades teológicas sem ultrapassar o verdadeirosignificado do texto original. O Pr. Baxter escreveu estes estudos antes doConcílio Vaticano II. Naquele tempo, a postura da Igreja Católica Romanaera de hostilidade e exclusivismo. Muito mudou de lá para cá; portanto, o

 prezado leitor precisa levar isto em conta.Em lições sempre práticas e bastante assimiláveis, Baxter oferece

incontáveis informações muito iluminadoras àqueles que têm pouco maisdo que uma lembrança das histórias narradas nesta porção histórica daBíblia. Temos convicção de que a popularidade gozada por esta obra eminglês será a mesma que se verificará na sua edição em português. Dentrode pouco tempo, Edições Vida Nova estará colocando à disposição do

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 público leitor os últimos dois volumes desta série, que se relacionam como Antigo Testamento.

Os editores

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O LIVRO DOS JUÍZES (1)

Lição NQ24

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 NO TA: Para este estudo, lei a Juizes por inteiro, preferivelmente de umasó vez.

A Bíblia é o mapa da história. Ela fornece uma visão panorâmica detodo o curso de eventos, desde a criação e queda do homem até o juízo

final, com o início dos novos céus e da nova terra. Ela não nos apresentaapenas os acontecimentos, mas também seu caráter moral, mostrando osmotivos das várias personagens da peça e o resultado de seus atos. Oseventos são mostrados em relação às suas causas e efeitos, sendo reveladoo juízo de Deus sobre seu caráter. Sem a Bíblia, a história seria umespetáculo de rios desconhecidos, correndo de nascentes desconhecidas

 para mares igualmente desconhecidos. Mas, sob sua orientação, podemos

rastrear as correntes complexas até seus mananciais e distinguir o fimdesde o começo.D R . H . G R A T T O N G U I N N E S S

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O LIVRO DOS JUÍZES (1)

C O M O S E R I A B O M se pudéssemos apagar dos registros da história deIsrael os vários feitos sombrios e os tristes acontecimentos que formam amaior parte deste sétimo livro do cânon! Lamentavelmente, porém, o pecado de Israel está incrustado em sua história, e mesmo que a nação searrependa amargamente, ainda assim sua iniqüidade permanece marcadaaqui para sempre, podendo ser vista por todos. O Senhor diz, muito tempodepois, através do profeta Jeremias: “Eu vos introduzi numa terra fértil,

 para que comêsseis o seu fruto e o seu bem; mas depois de terdes entradonela, vós a contaminastes, e da minha herança fizestes abominação” (Jr2.7). Como não podemos suprimir esse trágico registro, aprendamos dele; pois, embora seja um patético anticlímax do Livro de Josué, trata-se deum dos livros mais ricos das Escrituras, por suas lições e seus exemplosedificantes.

O nome

Evidentemente, o Livro dos Juizes deve seu nome ao próprio conteúdo,dedicado ao período dos chamados “juizes” de Israel e a alguns desses

 juizes em particular. Podemos dizer que abrange aproximadamente os primeiros 350 anos da história de Israel em Canaã. Este é o período do

regime teocrático, em que o próprio Senhor é o “Rei invisível” de Israel.Os períodos de 400 anos da história de Israel são dignos de nota;

observemo-los:

Desde o nascimento de Abrão até amorte de José no Egito (o período familiar) cerca de 400 anos

Desde a morte de José até o êxodo do

Egito (o período tribal) cerca de 400 anosDesde o Êxodo até Saul, o primeiro rei

(o período teocrático) cerca de 400 anosDesde Saul até Zedequias e o exílio

(o período monárquico) cerca de 400 anos

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O período dos juizes encontra-se no terceiro desses períodos de 400anos, ou seja, o teocrático. A teocracia foi uma gloriosa experiência com

 possibilidades superlativas; e o fracasso de Israel é mais trágico ainda.Diz o Dr. Joseph Angus com relação aos juizes como uma classe: “Os

 juizes (shophetim) aqui descritos não constituíram uma sucessão regularde governadores, mas sim libertadores ocasionais levantados por Deus afim de salvar Israel da opressão e ministrar justiça. Sem assumir a condiçãode autoridade real, eles agiam como vice-reis do Senhor, o Rei invisível.O poder exercido por eles parece ter sido comparável ao dos sufetes deCartago e Tiro, ou ao dos arcontes de Atenas. O governo do povo podeser descrito como uma confederação republicana, com os anciãos e

 princípes tendo autoridade sobre as suas próprias tribos”.

Natureza e autoria

É evidente que os registros que nos foram preservados neste Livro dosJuizes são verdadeiros  em termos históricos, embora não pretendam

manifestamente constituir uma história  científica do período de quetratam, pois a primeira característica de uma história científica é o cuidadocom a cronologia — sem dúvida algo que falta ao Livro dos Juizes. Suaênfase está no significado espiritual dos eventos escolhidos e não nasimples continuidade cronológica. O que temos é uma coleção denarrativas escolhidas por causa de sua relação com o objetivo principal dolivro. Esta seleção deliberada explica por que se ocupou tanto espaço com

os episódios ligados a Débora, Gideão, Abimeleque e o deslizevergonhoso de Benjamin, enquanto longos períodos deixaram de sermencionados. Isto explica também o estranho silêncio a respeito dossumos sacerdotes no corpo do livro e certas outras peculiaridades. Ou seja,este Livro dos Juizes não se preocupa tanto em formar uma correntehistórica, mas em destacar uma lição vital, a qual será mencionada a seguir.

A autoria do livro é desconhecida, embora a tradição judaica o atribua

a Samuel. “Há pouca dúvida de que a maior parte do livro consiste dosregistros contemporâneos originais das diferentes tribos. Os detalhesminuciosos e descritivos das narrativas, o cântico de Débora, a história deJotão, a mensagem de Jefté ao rei de Amom, a descrição exata do grande parlamento em Mispa e muitas outras porções semelhantes devem ser 

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documentos contemporâneos.” Todavia, ao mesmo tempo é evidente queesses documentos originais foram editados e compilados posteriormente.Fica claro em 18.31 e 20.27 que a compilação teve lugar depois que a arcafoi removida de Silo. Pela repetição da frase “naqueles dias não havia rei

em Israel” (17.6; 18.1; 19.1; 21.25), concluímos que a organização foi feitadepois do início do reino de Saul, o primeiro rei. Todavia, a menção dos

 jebuseus habitando em Jerusalém “até ao dia de hoje” (1.21), tornaigualmente claro que tal compilação se deu antes da ascensão de Davi aotrono (que expulsou os jebuseus de sua fortaleza — 1 Cr 11.5). O que

 poderia então ser mais provável do que a mão de Samuel, que liga os períodos dos juizes e dos reis, ter participado em grande parte da obra que

chegou até nós?A referência em 18.30 a um “cativeiro do povo” levou alguns estudiosos

a argumentarem que o livro não foi compilado antes da deportação dasdez tribos, centenas de anos depois; mas os outros registros de tempo nolivro combinam-se contra essa idéia. As palavras evidentemente indicamuma das primeiras servidões no período dos juizes, ainda viva na memóriado povo.

Assim, os documentos originais do livro são praticamente contemporâneos aos eventos registrados, e sua compilação na forma atualdata de algum ponto no reinado de Saul, tendo sido feita — muito

 provavelmente — pelo grande israelita Samuel. Nas palavras do Dr.Ellicott: “A subordinação de todos os incidentes da história à prática deinculcar lições definidas mostra que o livro, na sua forma atual, foicompilado por uma única pessoa”.

O retrato de Israel

“O caráter moral dos israelitas, como descrito neste livro, parece ter sedeteriorado muito”, escreve o Dr. Angus. “A geração dos contemporâneosde Josué mostrou-se corajosa, fiel e, em grande parte, livre da fraqueza e

da obstinação que haviam desonrado seus pais (Jz 2.7). Agora, o primeiroardor deles havia esfriado um pouco e, mais de uma vez, caíram numestado de indiferença que Josué achou necessário censurar. À medida quecada tribo recebia a sua parte, seus integrantes iam se envolvendo de talforma no cultivo da terra e apreciando cada vez mais o conforto em lugar 

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da guerra que cadavez menos mostravam disposição para ajudar o restantedo povo. Outra geração surgiu. Vivendo entre idólatras, os israelitascopiaram o seu exemplo, casaram-se com eles e contaminaram-se com assuas abominações (2.13; 3.6). Os antigos habitantes que não foram

molestados reuniram forças para atacar a raça escolhida: as nações e tribosvizinhas, tais como os sírios, filisteus, moabitas e midianitas, aproveitaram-se de sua degeneração para avançar sobre eles. Enquanto isso, alicenciosidade, o conforto e a idolatria, que os hebreus estavam aceitando,

 prejudicavam seus poderes de defesa.”

O significado geralOs juizes levantados por Deus eram lições práticas vivas, através dos

quais Deus procurou preservar em Israel a idéia de que a fé no Senhor, oúnico Deus verdadeiro, era o caminho exclusivo para a vitória e o

 bem-estar. Mas o povo só correspondia na medida em que isso servia ao propósito egoísta do momento —livrar-se do cativeiro e obter proveitos

materiais. Eles não passaram a amar  mais ao Senhor por Sua paciênciaconstante; nem ao menos passaram a servi-lO num plano inferior, por umsenso de dever. Em termos gerais, o Deus de seus pais não passava de umrecurso conveniente em tempos de dificuldade. Quando as coisas estavamrazoavelmente confortáveis, a traição descarada ao Senhor era a ordemdo dia. O povo irritava-se sob as exigências disciplinares do chamadosuperior feito por Deus a Israel, através de Abraão e Moisés. Elesnegligenciavam o livro da aliança e desviavam-se rapidamente, praticandoo que era impuro e proibido.

De tempos em tempos, com pena de Seu povo humilhado e sofredor,Deus levantou esses homens, os juizes, cujas façanhas de livramento emresposta à fé demonstrada para com Ele — apesar das vulgaridades eimperfeições de caráter e de comportamento dos próprios juizes —eramtão manifestamente milagrosas que Israel foi forçado a reconhêce-lOnovamente como o Deus verdadeiro, sendo assim encorajado a voltar àsua primeira fé e ao seu primeiro amor. Todavia, essas intervençõesgraciosas não tinham um efeito duradouro, e a obstinação inicial de Israeltransformou-se em um endurecimento incurável. Lamentavelmente, issoé muito para os primeiros 350 anos de Israel em Canaã! Eis um patéticoanticlímax para o Livro de Josué.

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A lição central

Qual a razão desse desvio trágico? A resposta a esta pergunta constituio propósito maior que domina o Livro dos Juizes. Seu objetivo era expor

a causa e o curso da decadência e da ruína de Israel, de modo a estimulara consciência nacional a que se voltasse arrependida para o Senhor; não édifícil imaginar que aquele grande patriota, Samuel, compilou este livrocom tal fim em vista. O plano do livro, mencionado abaixo, não nos deixaem dúvida quanto à sua lição central, ou seja:

O FRACASSO DEVIDO À TRANSIGÊNCIA

Cada página do livro contribui para enfatizar esta verdade central. As proezas dos juizes ensinam, naturalmente, que a volta à fé verdadeira proporciona uma vitória renovada; todavia, justamente ao ensinar isto,acentuam a dura realidade central de que todo fracasso se deve àtransigência.

Como tudo começou? Bem, no primeiro capítulo ficamos sabendo que.

as nove tribos e meia que se estabeleceram em Canaã não destruíram, nemsequer expulsaram, as nações dos cananeus, como Deus ordenara, permitindo que ficassem. As outras duas tribos e meia —Rúben, Gade emetade da tribo de Manassés lamentavelmente já haviam transigido, ao preferirem se estabelecer em Gileade, a leste do Jordão. O primeirocapítulo de Juizes oferece-nos uma lista de oito conquistas incompletas deJudá, Benjamim, Manassés, Efraim, Zebulom, Aser, Naftali e Dá. As

outras duas tribos, Issacar e Simeão, não foram mencionadas, massupõe-se que seu comportamento tenha sido igual ao dos outros. Sedominarmos o mal de maneira incompleta no início, teremos constantes

 problemas com ele mais tarde e, em geral, acabaremos derrotados por eleno fim. Isso aconteceu com Israel. E vem acontecendo com outros.Devemos precaver-nos! Não é bom cutucar onça com vara curta! Éinsensato abafar o pecado com panos quentes! A ordem divina para Israel

foi severa, mas necessária. A nação acolheu o inimigo e viveu paraarrepender-se disso.A seguir, no segundo e terceiro capítulos, contemplamos o desen

volvimento de outra concessão. Depois de ter dominado apenas parcialmente os cananeus, Israel fez então uma aliança com eles (2.2) —algo

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que Deus havia proibido. O próximo passo foi aceitar casamentos com eles(3.6) —o que Deus também havia proibido. Após os casamentos mistos,Israel passa a imitar seus costumes, curva-se a seus ídolos, esquece oSenhor e serve a Baal e Astarote (2.13; 3.6). Marque bem esses estágios

 — domínio incompleto, alianças militares, casamentos mistos, idolatria ecompleta apostasia — seguidos do humilhante cativeiro (2.14; etc.).  Os

 juizes, misericordiosamente levantados para chamar Israel de volta e livrara nação, impediam sua ruína por algum tempo, mas esta voltava pior doque antes, no momento em que a sepultura silenciava a voz de cada juiz.Lemos em 2.18,19: “Quando o Senhor lhes suscitava juizes, era com o juiz,e os livrava das mãos dos seus inimigos, todos os dias daquele juiz;

 porquanto o Senhor se compadecia deles ante os seus gemidos, por causados que os apertavam e oprimiam. Sucedia, porém, que, falecendo o juiz,reincidiam e se tornavam piores do que seus pais, seguindo após outrosdeuses, servindo-os, e adorando-os eles; nada deixavam das suas obras,nem da obstinação dos seus caminhos”.

Esta é então a história trágica do Livro dos Juizes —  fracasso devido à transigência.  Faça com que essas palavras fiquem gravadas em sua mente

e destruam qualquer tolerância negligente de tudo o que for impuro oususpeito. Não poderemos gozar do repouso prometido por Deus durantemuito tempo, se permitirmos que pecados apenas parcialmente destruídosfiquem conosco. Se nos associarmos às coisas suspeitas por parecereminocentes, logo nos veremos de novo ligados aos desejos da carne ecairemos das alturas às quais Deus nos levantou.

Fracasso devido à transigência! Se Israel pelo menos tivesse atendido à

mensagem deste livro! Queira Deus que a igreja transigente de hoje jamaiso desconsiderei A palavra de Deus a Seu povo hoje continua sendo a de 2Coríntios 6.17, 18:

“ P O R I S S O , R E T I R A I - V O S D O M E I O D E L E S , S E P A R A I - V O S , D I Z O  

S E N H O R ; N Ã O T O Q U E IS E M C O U S A S IM P U R A S ; E E U V O S R E C E B E R E I , 

SEREI VOSSO PAI , E VÓS SEREIS PARA MIM FILHOS E FILHAS, DIZ O  

S E N H O R T O D O - P O D E R O S O ” .

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O LIVRO DOS JUÍZES (2)

Lição NQ25

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 NOTA: Releia todo o Livro dos Juizes, marcando em sua parte principal(do capítulo 3 ao 16) as seis servidões iniciadas com as palavras: “Os filhosde Israel fizeram o que era mau perante o Senhor”.

Esta é então a estrutura básica de Juizes:

O LIVRO DOS JUÍZES

O LIVRO DA DECADÊNCIA

O FRACASSO DEVIDO À TRANSIGÊNCIA

P R Ó L O G O E X P L IC A T IV O - 1-2 NARRATIVA PRINCIPAL - 3-16

 Apostasia Servidão  Libertador 

3.5-8 Ao rei da Mesopotâmia,8 anos

Otniel (3.9-11)

3.12-14 Ao rei de Moabe, Eúde (3.15-30)

18 anos (e Sangar, 31)4.1-3 Ao rei de Canaã, Débora (4.4-5.31)20 anos (e Baraque)

6.1-10 Aos midianitas,7 anos

Gideão (6.11-8.35)

10.6-18 Aos filisteus etc., 18  anos

Jefté (11.1-12.7)

13.1 Aos filisteus,40 anos Sansão (13.2-16.31)

EPÍLOG O ILUSTRATIVO - 17-21

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O LIVRO DOS JUÍZES (2)

A disposição

o p l a n o   ordenado deste livro serve por si para defender com bastantefirmeza a idéia de sua compilação por apenas um a pessoa e não várias. Osregistros de Juizes vão do capítulo 3 ao 16, e são esses capítulos queformam o corpo do livro. Os outros consistem de um prólogo (1-2) e umepílogo (17-21). O prólogo é uma explicação, enquanto o epílogo é umailustração. O prólogo explica como surgiram as condições lamentáveis do período. O epílogo ilustra as próprias condições. Desse modo, temos:

Prólogo explicativo (1-2)

Parte principal do livro (3-16)

Epílogo ilustrativo (17-21)

Com relação à parte principal do livro (3-16), não há possibilidade deengano quanto à sua disposição. Doze juizes são citados sucessivamente:Otniel, Eúde, Sangar, Débora (com Baraque), Gideão, Tola, Jair, Jefté,Ibsã, Elom, Abdom e Sansão. Seis deles se destacam mais —pois toda ahistória concentra-se em seis apostasias e períodos de cativeiro de Israele nos seis libertadores ou juizes que conseguiram libertar o povo. São eles:

Otniel, Eúde, Débora, Gideão, Jefté e Sansão. As seis principais apostasiassão assinaladas em cada caso pelas palavras: “Os filhos de Israel fizeram o que era mau perante o Senhor”. Elas ocorrem no corpo do livro apenasessas seis vezes, e em cada caso sobrevêm o juízo com a conseqüenteservidão.

O fato de esses seis períodos de servidão de Israel serem consideradoscomo procedentes do  próprio Senhor   é motivo de surpresa. Primeiro:

“Então a ira do Senhor se acendeu contra Israel,  e  ELE os entregou nas mãos de Cusã-Risataim, rei da Mesopotâmia” (3.8). Segundo: “... oS E N H O R deu poder a Eglom, rei dos moabitas, contra Israel” (3.12).Terceiro: “Entregou-os o S E N H O R nas mãos de Jabim, rei de Canaã” (4.2).Quarto: “... o S E N H O R o s  entregou nas mãos dos midianitas por sete anos”

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(6.1). Quinto: “Acendeu-se a ira do Senhor contra Israel, e (o S E N H O R )  

entregou-os nas mãos dos filisteus” (10.7). Sexto: "... (o S E N H O R ) osentregou nas mãos dos filisteus por quarenta anos” (13.1).

Os cativeiros de Israel não foram simples acidentes, mas castigos. Este

é um ponto a ser seriamente considerado. Deus pode conferir privilégiosespeciais a certas pessoas e nações, mas Ele não faz acepção de pessoasno sentido de mostrar indulgência para com os favoritos. Os que pecamcontra os privilégios especiais têm maiores responsabilidades e incorremem penas mais severas. Deus talvez conceda muitos privilégios, mas jamaisdá o privilégio de pecar. Devemos tomar cuidado para que um sentimentode privilégio não engane nosso coração e nos leve a incorrer no pecado da

 presunção.Lendo este Livro dos Juizes, é possível que nos surpreendamos ao ver

como um padrão de vida inferior podia associar-se a um chamado tãoelevado. Sim —chamado superior e vida inferior. O presidente de umaconvenção disse certa vez: “É possível ter boa moral sem ser espiritual; eé até possível ser espiritual sem ter boa moral!” Um paradoxo?Impossível? Todavia, não entramos em contato com pessoas que, tendo

conhecimento das verdades mais profundas e elevadas da vida cristã, sãocapazes de conversar livremente num tom bastante espiritual, mas que,mesmo assim, apresentam um comportamento que faria o não-cristãocomum se afastar com repugnância? O conhecimento pode facilmentegerar insensibilidade, e esta pode ser hipocritamente ocultada com ummanto exterior de aparente espiritualidade. Devemos vigiar e orar, paranão cairmos também nós nesta tentação.

Uma ênfase notável é mantida

A narrativa principal de Juizes é notável por causa de uma ênfaseinteressante, de quatro aspectos, que é mantida de ponta a ponta. Cadauma das seis apostasias, servidões e libertações está disposta nesta ordem

de quatro itens:P E C A D O

S O F R I M E N T O

S Ú P L I C A

S A L V A Ç Ã O

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Isto pode ser visto de modo fácil e claro, se dispusermos os seis episódiosem colunas paralelas, com as palavras e a ordem da narrativa bíblica.

Para nós será valioso gravar essa seqüência quádrupla em nossasmentes, pois ela tem uma excelente aplicação hoje. E possível que, em

relação a Israel, o longo período de pecado e sofrimento esteja agoraterminando, e a súplica e a salvação do fim dos séculos, que foram profetizadas, estejam próximas.

Os seis episódios

Primeiro

3.7-11

Segundo

3.12-30

Terceiro

4.1-5.31

PECADO “Os filhos de Israel fizeram o que era mau perante o Senhor, e se esqueceram do Senhor seu Deus; e renderam culto aos Baalins e ao poste-ídolo...”

“Tornaram, então, os filhos de Israel a fazer o que era mau perante o Senhor...”

“Os filhos de Israel tornaram a fazer o que era mau perante o  Senhor , depo i s de  falecer Eúde...”

SOFRIMENTO “Então a ira do Senhor se acendeu contra  Israel, e ele os entregou nas mãos de Cusã-Risataim, rei da M e s o p o t a m i a : e o s  filhos de Israel serviram a Cusã-Risataim oito anos...”

“... mas o Senhor deu poder a Eglom, rei dos moabitas, contra Israel; porquanto fizeram o que era mau perante o Senhor . E ajuntou  consigo os filhos de A m o m e o s  amalequitas, e foi, e 

feriu a Israel;  apoderaram-se da cidade das palmeiras. E os f i lhos de Israe l  serviram a Eglom, rei dos moabitas, dezoito  anos...”

“Entregou-os o Senhor nas mãos de Jabim, rei de Canaã, que reinava em Hazor. Sísera era o  comandante do seu  exército, o qual então habitava em  Harosete-Hagoim...”

SÚPLICA “Clamaram ao Senhor os filhos de Israel...”

“Então os fi lhos de  Israel clamaram ao  

Senhor...”

“Clamaram os filhos de Israe l ao Senhor , 

porquanto Jabim tinha novecentos carros de ferro, e por vinte anos oprimia duramente os filhos de Israel...”

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Esta ênfase repetida irá, por si mesma, atuar na mente do leitor.Possamos ler, marcar, aprender e digerir interiormente. Existem coisas noreino moral que se acham indissoluvelmente ligadas. O pecado e osofrimento sempre andam juntos. Não podem ser separados. Seria tão

 bom se os corações humanos se convencessem disso! É também verdadeque a súplica e a salvação igualmente estão ligadas. Deus Se enternecerácom uma súplica sincera em que o mal é abandonado. Ele mostrará entãoSua salvação.

GIDEÃO - E COMO ELE AINDA FALA

Alguns dos personagens descritos neste Livro dos Juizes são dignos deum cuidadoso estudo. Escolhemos Gideão para ser mencionado brevemente aqui, a fim de mostrar como essas pessoas nos falam hoje.

Gideão, o quinto juiz de Israel, é relatado com justiça como um dosheróis de destaque na história primitiva da nação. Entretanto, temos decompreender desde o início que seu heroísmo não era produto de umcaráter natural, mas sim resultado de uma experiência espiritual

transformadora. É isso que o torna importante para nossos dias.O primeiro contato com Gideão mostra uma figura patética de

incredulidade (6.11-23). Ele se apresenta como um jovem furtivo enervoso, malhando trigo no lagar a fim de escondê-lo dos saqueadoresmidianitas. Que trágicas exclamações de incredulidade escapam de seuslábios quando o Senhor aparece repentinamente em toda Sua majestade! — pois a leitura do versículo 12 é sem dúvida esta: “O Senhor é contigo,

o Senhor Todo-poderoso”, e não aquela que chama Gideão de valente,em lugar do Senhor (como acontece na A R A ) . Veja as reações do Gideãoainda não convertido. No versículo 13, ele fala ofegante: “Ai, senhor meu,se o Senhor é conosco, por que nos sobreveio tudo isto? e que é feito detodas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram, dizendo: Não nosfez o Senhor subir do Egito? Porém, agora o Senhor nos desamparou...”Uma recepção desanimada: “Ai... por que? ...onde? ... mas ...” E no

versículo 14 temos: “Então se virou o Senhor para ele, e disse: Vai nessatua força, e livra a Israel da mão dos midianitas; porventura não te envieieu?” Essas foram palavras fortes e cheias de segurança, mas Gideão sóconseguiu gemer: “Ai, Senhor meu, com que livrarei a Israel?” O Senhorresponde de novo: “Já que eu estou contigo, ferirás os midianitas como se

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fossem um só homem”. Até isto, porém, só desperta um trêmulo “se”: “Seagora achei mercê diante dos teus olhos, dá-me um sinal”. Nas respostasde Gideão temos certamente uma boa amostra do vocabulário daincredulidade. Em suas exclamações e lamentos sucessivos vemos a

surpresa  cética da descrença, a seguir sua incerteza  e sua indagação,  suaqueixa e sua falsa humildade, sua falta de recursos, sua dúvida persistente esua busca de sinais.  O Gideão não convertido é uma triste representaçãoda paralisia que sempre acompanha a falta de fé.

Gideão transformado

Veja agora, porém, a experiência transformadora de Gideão. Em primeiro lugar, ele foi convertido.  Usamos a palavra com ponderação.Quando o “Anjo do Senhor” estava para completar sua visita a ele, Gideãoestava plenamente convicto quanto ao verdadeiro Deus de Israel. Note oversículo 24: “Então Gideão edificou ali um altar ao Senhor, e lhe chamou,o Senhor ép az”. O significado do altar é vital, pois ele é sempre o lugar em

que Deus e o homem se encontram. Trata-se do símbolo externo de um pacto interno entre a alma humana e Deus. Quando Gideão construiu oaltar para o Senhor, ele voltou as costas aos falsos deuses e tornou-se umadorador do Deus verdadeiro. Além disso, Gideão deu ao altar um nomesignificativo: “o Senhor é paz” ( Jehovah-Shalom). Pela primeira vez emsua vida este jovem hebreu teve uma sensação de paz, que é sempre um

 primeiro produto da verdadeira conversão.Gideão, contudo, seguiu adiante. Ele se tornou consagrado. Rendeu sua

vontade à do Senhor. Leia do versículo 25 ao 27. Precisamos retrocederum pouco nos acontecimentos para apreciar como essa prova foi umgrande desafio à nova fé e obediência de Gideão. A ordem para “derribaro altar de Baal” faz-nos lembrar imediatamente de que Gideão vivia numaépoca de completa apostasia religiosa. Os líderes religiosos de Israel eram“modernistas” e haviam feito o povo se desviar. “Derribar o altar de Baal”era ir contra a vontade popular, arriscando a própria vida. Mas Gideão

 passou no teste, e como o resultado foi notável! Leia de novo do versículo28 ao 32. O pai de Gideão também se converteu! O velho homem talveztivesse suspirado secretamente, saudoso do “passado”, ansiando peloaparecimento de um valente batalhador que viesse em defesa da fé

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legítima e chamasse seus compatriotas de volta ao Senhor. Agora, quandoseu filho se levantou para lutar pela fé, Joás imediatamente aliou-se a ele.Podemos aplicar isso a nós mesmos. Quase sempre, a razão pela qualtemos tão pouca capacidade para influenciar os que nos rodeiam,

levando-os a Cristo, é que não estamos preparados para assumir uma plenaconsagração à vontade de Deus.Finalmente Gideão tornou-se controlado,  ou seja, controlado pelo

Espírito de Deus. Veja o versículo 34: “Então o Espírito do Senhorrevestiu a Gideão, o qual tocou a rebate, e os abiezritas se ajuntaram apósdele”. Ele se tornou imediatamente líder e salvador de seu povo. Estereconheceu nele o poder transformador de Deus e o seguiu quando fez

soar sua trombeta. A história registrada na Bíblia conta a maravilhosavitória de Gideão sobre os midianítas e de como ele libertou Israel do jugoestrangeiro.

Que transformação! O homem que fora primeiro convertido e depoisse tom ara consagrado estava sendo agora controlado pelo Espírito Santo.O versículo 34 é notável. Uma tradução apropriada seria assim: “OEspírito do Senhor revestiu Gideão dEle mesmo”.  A personalidade de

Gideão, por assim dizer, tornou-se um traje com o qual Deus se moviaentre os homens. Que sermão este homem é para nós! É como Abel, que,“mesmo depois de morto, ainda fala” (Hb 11.4). Esta experiência desalvação da alma e transformação da vida e do caráter, pela qual ele passou,

 pode ser conhecida por nós —não em seus incidentes exteriores, mas emsua essência interior. Podemos nos tornar verdadeiramente convertidos aDeus, realmente consagrados à Sua vontade e controlados pelo SeuEspírito Santo. Deus pode nos tomar e usar como fez com Gideão.Convertido, consagrado, controlado pelo Espírito! Deus perm ita que istose aplique a nós! Precisamos desviar os olhos das circunstâncias que

 provocam dúvidas e fixá-los na palavra de Deus. “Fiel é o que vos chama,o qual também o fará” (1 Ts 5.24).

A dúvida vê os obstáculos,A fé divisa o caminho.

A dúvida vê a noite sombria,A fé vê o dia.

A dúvida teme adiantar-se,A fé se eleva sublime.

A dúvida murmura: “Quem crê?”A fé responde: “Eu”.

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O LIVRO DE RUTE (1)

Lição NQ26

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 NOTA: Para este estudo, leia todo o Livro de Rute de uma só vez.

Esta é uma das maiores recompensas de se conhecer verdadeiramenteas Escrituras. Nenhum outro livro mostra-se uma mina de tesouros

 preciosos tão inesgotáveis para aqueles que se dispõem a aprofundar-se

nele. É um campo para infinitos estudos e incessantes descobertas. Ocrente mais humilde pode encontrar um tesouro jamais desenterrado poroutrem; é algo, então, especialmente seu. Nenhuma prova maisindiscutível da origem divina da Bíblia pode ser encontrada do que estacapacidade de revelar a cada leitor devoto algo absolutamente novo.

A R T H U R T . P IE R S O N , D . D .

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O LIVRO DE RUTE (1)

F R E Q Ü E N T E M E N T E encontram-se gemas de valor incalculável emlugares inusitados. Muitas flores raras já se abriram numa fenda rochosa.Arco-íris artísticos iluminam repentinamente os céus mais cinzentos.Vistas belíssimas podem aparecer numa curva de estrada pouco

 promissora, encantando o viajante. O mesmo acontece com o Livro deRute, um pequeno mas brilhante e soberbo idílio.

Ele começa com as palavras: “Nos dias em que julgavam os juizes...”.

Assim, é evidente que a história pertence ao período abrangido pelo Livrodos Juizes —uma época trágica, como já vimos. Todavia, este episódio,centrado em Noemi, Rute e Boaz, é tão tocante e belo que surge como umcontraste redentor depois de nossa penosa leitura do Livro dos Juizes. Éuma história encantadora e inesperada em tal cenário.

O Livro dos Juizes deixa-nos com a certeza indiscutível de que acondição geral da época era de deterioração moral; mas o Livro de Rute

focaliza outro aspecto do quadro, mostrando que em meio à corrupçãogeneralizada havia exemplos de amor nobre, cortesia piedosa e ideaiselevados. Esta história é realmente uma estrela brilhante num céu escuro,uma rosa se abrindo gloriosamente no deserto árido, uma jóia de grande

 pureza faiscando entre ruínas, um sopro de brisa perfumada em meio àesterilidade circundante.

Mas ele é muito mais do que isso. Se este exemplo de cortesia piedosa

foi escolhido pelo autor anônimo e registrado por escrito (talvez por causade sua ligação especial com Davi e o trono), não podemos supor de formalógica que representa muitos outros casos entre a decadência que reinavana época, os quais jamais foram relatados e sobre os quais nada sabemos?Há um fundo de verdade na seguinte declaração de Alexander Maclaren:“Os períodos mais negros não foram na realidade tão sombrios como

 parecem na história”.

Este curto trecho biográfico é apresentado em forma de história. Trata-se de uma série de idílios pastorais ou bicos-de-pena feitos sobreum cenário rural, mostrando a nobre dedicação de uma jovem viúvamoabitapor sua sogra judia, também viúva, e a recompensa que mais tardecoroou sua devoção e auto-sacrifício.

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O relato é verdadeiro.  A simplicidade transparente confirma suaautenticidade. Este livro fala de acontecimentos e pessoas reais, cujosnomes figuram de fato em registros genealógicos. Diz o Dr. JamesMorison: “O material da história é de tal natureza que, se não fosse

autêntico, sua falsidade seria imediatamente percebida e desmascarada.A essência da história consiste, por assim dizer, de filamentos de grandesensibilidade. Ela estava ligada à genealogia da família real, sendo que os

 principais personagens eram ancestrais do rei Davi. O fato de haver umelo moabita na cadeia de sua genealogia deve ter sido muito conhecido

 pelo próprio rei, por toda sua casa e por grande parte do povo de Israelem geral. Provavelmente, sabia-se também que este elo moabita não se

achava muito longe na linhagem real. A existência de tal ligação constituíauma peculiaridade importante demais para ser tratada com indiferença. Não podemos duvidar de que toda a história desse caso fosse narrada comfreqüência e comentada tanto na corte como fora dela. Portanto, énaturalmente lógico que o escritor tivesse cuidado em não deturpar osfatos. Qualquer inclusão de detalhes fictícios ou romanceados teria sidorejeitada imediatamente tanto pela família real como pelo povo, osdedicados admiradores do rei”.

Jf Características especiais

Este é um dos dois livros das Escrituras que levarti o nome de umamulher; o outro é Ester. Há um grande contraste entre ambos. Rule_éoima

 jovem gentia levada p a ra v iv p j p.ntrp. ns hphreus, que s p  rasa comum judeuHa Knhage.m rpal de Davi. Ester é uma jovem judia levada para viver entregentios, que se casa com um gentio, rei de um grande império. Tanto Rutecomo Ester foram mulheres boas e importantes. O Livro de Rute, porém,destaca-se num ponto: trata-se do único caso na Bíblia em que um livrointeiro é dedicado a uma mulher.

O Livro de Rute é uma história de amor. Um de seus objetivos é semdúvida exaltar o amor virtuoso e mostrar como ele pode transpor todas asdificuldades e preconceitos. O notável, porém, é que não se trata do amorromântico entre um rapaz e uma moça, mas sim, nas palavras do Dr.Samuel Cox, “é a história do amor de uma mulher por outra; e por maisestranho que possa parecer aos ouvidos da geração moderna, é o relato do

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intenso e dedicado amor de uma jovem esposa por sua sogra!”Outro aspecto interessante da obra é a universalidade de sua perspectiva. 

As três figuras principais do livro são Noemi, Rute e Boaz. Todos são personagens adoráveis; todavia, de alguma forma, sem absolutamente

diminuir os outros dois, Rute se sobressai, e a cada reviravolta da históriao autor enfatiza habilmente que ela é a heroína, mesmo não sendo israelitacomo Noemi e Boaz. Quando pensamos na exclusividade zelosa dos

 judeus da antigüidade, é notável encontrar esta descrição sincera de umamulher moabita como alvo de admiração. Ela é vista sobrepujando até asfilhas de Israel, mas disto não resulta o menor ressentimento e, sim, umaadmiração merecida. O fato de a graça e a virtude da bondosa filha deMoabe terem tido um reconhecimento assim tão franco é evidenciado

 pelo próprio autor. A história inteira é escrita num espírito de caridade euniversalidade. “Ela é justa e até generosa ao falar dos que estavam foradas fronteiras israelitas. Não contém qualquer censura a Elimeleque,apesar de ele ter deixado a terra de seus pais para viver entre os pagãos;nem a Orfa, embora tivesse deixado a Noemi. Pelo contrário, registra sua bondade e dedicação em pelo menos pretender ficar com a ‘mãe’, até que Noemi a dissuadiu dessa intenção. Para Rute, entretanto, os louvores seacumulam. O relato baseia-se na verdade de que Cristo tornou-se

 patrimônio comum da raça, ou seja, de que em qualquer nação Deus aceitaum amor puro e desprendido. Em vez de confirmar o privilégio exclusivodo povo escolhido, Ele convida outra raças a se aproximarem edepositarem sua confiança sob as asas do Senhor, mostrando que, nomomento em que confiam nEle, os privilégios e bênçãos de Israel passama pertencer-lhes também.”

Da mesma forma, é surpreendente observar que essa jovem moabita,Rute, não só fez um casamento tão respeitável em Israel como também setornou a bisavó de Davi (como mostram os versículos finai§]_e uma dasmães na linhagem da qual o Messias viria a nascer. Rute é uma das quatromulheres mencionadas na linhagem messiânica. As outras três são: Tamar,Raabe e Bate-Seba. Elas retratam uma conduta indigna, mas a virtuosaRute as redime.

Um exame cuidadoso da genealogia a partir de Adão até o nascimentode Jesus mostra que houve cerca de 60 gerações, e que estas parecemdividir-se em seis grupos de dez, com o décimo homem em cada casorepresentando de forma singular alguma grande verdade relativa à vinda

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do Messias. Vejamos o primeiro grupo de dez:

JeredeEnoque

MetusalémLamequeN O É

AdãoSete

EnosCainãMaalaleel

 Noé é o décimo homem. Da mesma forma como Satanás procurara fazerabortar a esperança messiânica, justamente no início da história dahumanidade, com o assassinato de Abel, agora, nos dias de Noé, ele tenta

frustrá-la, promovendo uma corrupção completa e geral da raça. Em meioà depravação, porém, existe um homem que anda com Deus e é íntegroentre os seus contemporâneos (Gn 6.9); quando toda a humanidade édestruída, esse homem e sua família são poupados, e justamente atravésdele corre a linhagem messiânica. Todo o poder de Satanás e todo o

 pecado dos homens não podem frustrar o plano do Senhor Deus. Vejamosagora os próximos dez:

Sem ReúArfaxade SerugueSalá  Naor Héber  TeráPelegue A B R A Ã O

Abraão é o décimo homem aqui. Ele foi o escolhido para tornar-se o pai do povo da aliança, do qual o Messias seria descendente. Deusrevela-Se especialmente a ele e faz promessas incondicionais, confirmadasmais tarde com um juramento. Examinemos agora o terceiro grupo de dez:

Isaque RãoJacó Aminadabe

Judá  NaassomPerez SalmomHezrom B O A Z

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Boaz é o décimo homem aqui. O que sabemos sobre ele? É justamenteisso que nosso pequeno mas precioso Livro de Rute nos conta (nãoestaríamos agora chegando a um dos significados mais profundos destelivro?). Fo i Boaz quem introduziu a Rute., uma gentia, en tre os ancestrais

de Davi e na linhagem messiânica. No momento em que Rute entrou nessalinhagem, ela levou consigo todos os gentios (de modo representativo), deforma que agora ambos, judeus e gentios, partilham da esperança comumna vinda daquele que seria a “luz para revelação aos gentios, e para glóriado teu povo de Israel”. (O outro “décimo” homem será mencionado maistarde.) Rute realmente pertence a todos nós, e muito mais ainda aquelemaravilhoso Salvador que, na plenitude dos tempos, veio dessa linhagem

em que Rute brilha como uma delicada estrela.

A data em que foi escrito

É muito provável que este pequeno livro tenha sido escrito durante oreinado de Davi — como sugerem as seguintes considerações: (1) o

 primeiro versículo diz: “Nos dias em que julgavam os juizes...” Isto indicaque o livro foi escrito depois do período dos juizes, pois o escritor estáclaramente se referindo a um tempo passado; (2) em 4.7, o escritor fala deum costume que prevalecera em Israel “outrora”. Assim sendo, o livrodeve ter sido escrito bem depois do período a que alude, pois o costumemencionado havia caído em desuso —como é evidente pelo fato de o autorse deter para explicá-lo; (3) a genealogia no final do último capítulo vaiaté Davi, sendo interrompida nele (veja 4.17-22). Mas porque parar nesse

 ponto, se o livro foi escrito depois dos dias de Davi? E como poderia sequermencionar  Davi se tivesse sido escrito antes de seu tempo? (4) o períododo reinado de Davi seria suficientemente longo para perm itir que o costumedos primeiros dias ou da metade do período dos juizes caísse em desuso(digamos 100 a 150 anos), o que fica claro pelo fato de que Davi, o sétimofilho de Jessé, era bisneto de Boaz, tendo reinado, portanto, de 100 a 150anos depois dos acontecimentos descritos no Livro de Rute. Por outrolado, o período do reinado de Davi não seria longo o suficiente  paraimpossibilitar o conhecimento dos detalhes contidos no livro, com relaçãoa pessoas e incidentes que teriam sido esquecidos em dias posteriores aosde Davi; (5) o reino davídico foi uma época literária na história judaica. O

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 próprio rei era um homem de letras e atraía outros letrados à sua volta.Davi também era um homem sensível e profundamente humano, havendocertamente se interessado pela recente ligação moabita em sua linhagem.Além do mais, ele estava muito acima da estreiteza de idéias dos judeus

em geral e não se envergonharia de seu elo moabita (especialmente emvista de 1 Sm 22.3, 4). A alma cavalheiresca de Davi não iria, de fato,orgulhar-se de sua ligação com alguém como Rute? Assim, concluímosque o Livro dos Juizes provavelmente foi escrito nos dias de Davi;

 portanto, este acréscimo seleto, referente ao mesmo período, deve ter sidoescrito na mesma época.

Como preparo para nossa próxima lição, oferecemos abaixo um esboço

simples do Livro de Rute.

O LIVRO DE RUTE

O amor sofredor reina no final

Capítulo 1 — A DECISÃO DO AMOR: (a nobre escolha de Rute)RUTE, A FILHA FIEL — apega-se a Noemi em seu sofrimento.

Capítulo 2 — A RESPOSTA DO AMOR: (o serviço humilde de Rute)RUTE, A RESPIGADEIRA MOABITA—.responde à necessidade urgente de Noemi.

Capítulo 3 — O PEDIDO DO AMOR: (o terno apelo de Rute)

RUTE, A SUPLICANTE VIRTUOSA — apela para o parente bondoso.

Capítulo 4 — A RECOMPENSA DO AMOR: (alegrias conjugais de Rute)RUTE, A ESPOSA E MÃE AMADA — alegra-se na consumação abençoada.

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O LIVRO DE RUTE (2)

Lição NQ27

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 NOTA: Para este novo estudo sobre o Livro de Rute, leia toda a históriamais duas vezes, verificando o quadro que apresentamos no final da liçãoanterior.

Quando o último dia terminar,E as noites se acabarem;

Quando o último sol for enterradoEm seu sepulcro azul;

Quando as estrelas forem apagadas como velas,E os mares se acalmarem de vez;

Quando os ventos esquecerem sua argúcia,E as tempestades se forem;

Quando os últimos lábios silenciarem,E a última oração for feita,

O amor reinará imortalEnquanto o universo permanecerá na morte.

 Anônimo

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O LIVRO DE RUTE (2)

A história

Capítulo 1

e m  a l g u m  p o n t o  no período dos juizes sobreveio uma fome em Canaãque se fez sentir até mesmo nos distritos férteis, como aquele que

circundava Belém. Em vista das dificuldades, Elimeleque, um judeu quehabitava em Belém, procurou refúgio temporário na terra de Moabe,levando consigo sua mulher Noemi e seus dois filhos, Malom e Quiliom.Sabemos que se tratava de uma família piedosa, e sem dúvida custou-lhesmuito decidir ir embora e buscar sustento entre os idólatras moabitas.Mesmo assim eles se foram e, com certeza, erraram em deixar a terra daaliança de Israel e seu lugar entre o povo eleito. Israel sabia que a fome

só era infligida por causa do pecado (Lv 26 etc.).Chegaram a Moabe; contudo, não foram felizes, pois ao buscarem a

sobrevivência, foram privados da própria vida. Buscaram pão, masencontraram túmulos. Elimeleque morreu primeiro. Seus filhos órfãoscasaram-se então com mulheres moabitas (outra coisa proibida —Dt 7.3etc.) e, pouco mais tarde, eles também se achavam enterrados no solo deMoabe, deixando suas duas jovens viúvas com a mãe Noemi, também

viúva.Dez anos se passaram. Noemi ouve falar da fartura da terra natal e

resolve voltar. As duas noras haviam aprendido a amá-la e queremsegui-la. Elas ficaram conhecendo o Deus verdadeiro na casa de Noemi.O amor é mútuo. Elas partem com Noemi mas, convencida com bondade,Orfa decide permanecer em Moabe. Rute, porém, aprendeu a amar tantoa Noemi que está preparada para abandonar tudo por causa dela. Num

dos pronunciamentos mais nobres já ouvidos, Rute confirma à sogra, aquem tanto ama, sua decisão de ficar com ela; nada, senão a morte, poderiasepará-las:

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“Não me instes para que te deixe, e me obrigue a não seguir-te; porque aonde quer que fores, irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus. Onde quer que  morreres, morrerei eu, e aí serei sepultada; faça-me o Senhor o que bem 

lhe aprouver, se outra cousa que não seja a morte me separar de ti” (1.16,17).

A fim de apreciar o significado do amor sacrificial de Rute neste ponto, precisamos ter uma idéia da importância da insistência de Noemi para queas duas jovens voltassem à proteção da casa de seus próprios pais. Veja osversículos 8 e 9: “Ide, voltai cada uma à casa de sua mãe; e o Senhor use

convosco de benevolência, como vós usastes com os que morreram, ecomigo. O Senhor vos dê que sejais felizes, cada uma em casa de seumarido”.

 Note a palavra “felizes” (a versão de Almeida Revista e Corrigida traz“descanso”): o termo hebraico assim traduzido é menuchah. Ele significarepouso, não tanto no sentido comum, mas no de abrigo seguro. Os hebreusreferiam-se à casa do marido usando essa palavra. Ela era o menuchah damulher, ou refúgio seguro. No Oriente antigo, a situação das mulheressolteiras e jovens viúvas era delicada. O único lugar onde podiamencontrar segurança e respeito era na casa do marido. Só isto podiagarantir à mulher proteção contra a servidão, a negligência ou alicenciosidade.

Era este fato que Noemi tinha em mente quando insistiu na volta deOrfa e Rute, pois queria que buscassem segurança, respeito e honra nacasa de seus pais e, depois, “em casa de seu marido”. Noemi não tem maisfilhos para que se casem com Orfa e Rute, como lhes diz com tristeza. Sea acompanharem de volta a Israel não há qualquer expectativa de futuroou de segurança para elas. Se continuarem em Moabe há uma boa

 possibilidade de encontrarem proteção na casa de um marido. Isso, porém,não acontecerá se viajarem para Canaã, pois é proibido por lei aosisraelitas contraírem matrimônio com estrangeiros. Não podemos ter

 portanto qualquer intenção de censura a Orfa em sua decisão final de ficarem Moabe.

Veja porém o amor glor ioso de Rute . Embora conhecesse perfeitamente o preço a ser pago, ela desistiu alegremente de tudo e sedispôs a sofrer qualquer coisa por causa de Noemi!

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 Noemi volta então para casa com a moabita Rute, e “ao chegarem ali,toda a cidade se comoveu por causa delas, e as mulheres diziam: Não éesta Noemi?” (1.19). Assim termina o primeiro capítulo e a primeira cena.

Capítulo 2

O capítulo 2 introduz a cena 2, que é de uma beleza tocante. Noemi, emsua completa pobreza, tem de permitir que Rute vá colher os restos dacolheita entre respigadores rudes, a fim de levar para casa algum alimento.Rute vai para os campos, cheia de desprendimento, desejosa de fazer essehumilhante mas honesto esforço para obter sustento. Ela é provi-

dencialmente guiada a um campo pertencente a Boaz, um rico parente de Noemi. Todas as palavras e atos registrados sobre Boaz revelam sua piedade e bondade. Ele fica impressionado com a graça e modéstia darespigadeira e, depois de fazer perguntas a seu respeito, concede-lhe

 privilégios e proteção especiais durante todo o período da colheita. Assim,ela pode comer e beber com os respigadores e juntar uma boa porção decereal, ficando protegida de qualquer atrevimento da parte dos

empregados mais jovens. Rute volta com o primeiro produto de seutrabalho a Noemi, que imediatamente percebe a mão de Deus nosacontecimentos. Rute continua então a respigar nos campos de Boazdurante toda a colheita de trigo e cevada.

Capítulo 3

 No capítulo 3 chega a crise, um fato estranho para os ocidentais, devendo portanto ser cuidadosamente estudado. A colheita term inou. Osencontros diários com Boaz chegaram ao fim. Estabeleceu-se uma ligaçãoentre Boaz e Rute, mas o rico parente não tomou nenhuma providência

 prática. Noemi percebe a tristeza que envolve o terno espírito de Rute e prepara um plano a fim de descobrir quais as intenções de Boaz e resolvero caso. O expediente estava em perfeita conformidade com o antigo

costume hebraico e os ensinamentos da lei mosaica. Não há nele qualquertoque de impureza. Os estatutos mosaicos diziam: “Se irmãos morarem

 juntos, e um deles morrer, sem filhos, então a mulher do que morreu nãose casará com outro estranho, fora da família; seu cunhado a tomará e a

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receberá por mulher, e exercerá para com ela a obrigação de cunhado. O primogênito que ela lhe der será sucessor do nome do seu irmão falecido, para que o nome deste não se apague em Israel” (Dt 25.5, 6).

Quando Noemi enviou Rute a Boaz, como descrito neste capítulo, ela

estava, na verdade, pedindo-lhe que obedecesse a esta lei israelita etambém, ao mesmo tempo, que desse abrigo marital a Rute, honrando onome de Malom, seu marido judeu falecido. Boaz entendeu istoclaramente, como mostraram suas nobres palavras (3.10-13).

 Note como Rute e Boaz usam a palavra “resgatador”  (parente). Rutediz: tu és resgatador (parente próximo”; v. 9). Boaz responde: “Ora émuito verdade que eu sou resgatador; mas ainda outro resgatador há mais

chegado do que eu” (v. 12). A palavra “resgatador”, em hebraico, é goel; e a lei do goel, parente próximo, é muito interessante. Esta lei éestabelecida em Levítico 25, Números 35 e Deuteronômio 19 e 25. Haviatrês obrigações que o goel precisava cumprir:

(1) Remir o irmão e a herança do irmão, segundo sua possibilidade, casoa pobreza tivesse obrigado o irmão a servir como escravo ou disporde sua terra.

(2) Vingar qualquer violência fatal cometida contra o irmão.(3) Conseguir um sucessor para o irmão, caso ele tivesse morrido sem

deixar filhos.

O propósito claro em tudo isso era preservar as famílias israelitas daextinção. A qualificação do goel  era que deveria ser um parenteconsanguíneo ou parente próximo. Cada parente era um dos goelim, mas o parente mais próximo era distintamente o goel.

Voltando agora ao terceiro capítulo de Rute e tendo em mente esta leido goel, devemos observar como estão distantes de nossas idéias ocidentaismodernas as maneiras simples e rústicas que dão o ambiente a esta cena.É com razão que o Dr. Samuel Cox afirma: “Uma era em que o rico

 proprietário de um latifúndio vasto e fértil colhia cevada e dormia entremontes de grãos no chão da eira (v. 7) é com certeza bem diferente daatual, como também remota. Além disso, o fato de Rute aproximar-se demansinho do lugar em que Boaz dormia e deitar-se sob a sua capa (v. 7)não passava de uma reivindicação legal feita pela maneira aprovadanaqueles tempos”. Quando Rute disse: “... estende a tua capa sobre a tua

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serva”, Boaz compreendeu perfeitamente o apelo da jovem viúva, pedindosua proteção, pois nos casamentos orientais da antigüidade o maridocolocava seu manto sobre a cabeça da noiva, como um símbolo de proteção

 perm anente dali por diante.

Eis, então, o que acontece: Boaz acorda e encontra Rute a seus pés. Noinício fica surpreso, mas, ao ouvir as palavras de Rute, compreende asituação e mostra simpatia. Sua resposta amável (w. 10-13) revela suahonradez e a de Rute. Conhecemos agora as razões pelas quais ele não propôs casamento a Rute: (1) por ser consideravelmente mais velho; e (2) por não ser o parente mais próximo. É também possível que uma terceirarazão ocupasse a mente de Boaz, ou seja, o fato de que Noemi, a esposa

do falecido sogro de Rute, tinha mais direitos sobre ele; agora, entretanto, justamente por ter enviado Rute, Noemi havia desistido de seu direito afavor da nora. As “seis medidas de cevada” que Rute levou para casa namanhã seguinte fizeram com que Noemi soubesse que o honrado Boaznão perderia tempo em tomar as providências necessárias.

Capítulo 4

O capítulo 4 é o ponto culminante da história. Boaz faz sem demora umcontrato com o parente mais próximo na presença dos anciãos e detestemunhas à porta da cidade, como era o costume. Esse parente anônimoadmite sua obrigação e está disposto a comprar a terra que fora deElimeleque, mas recua quando fica sabendo que, ao fazer isso, devetambém tomar uma moabita por mulher, e apresenta a seguinte objeção:

“... para que não prejudique a minha [herança]”. Em sua opinião, Malome Quiliom haviam transgredido a lei ao se casarem com estrangeiras, e ascalamidades sobrevindas a eles e a Noemi eram devidas a isso; ele tambémficaria sujeito a elas se viesse a casar-se com uma das viúvas. O homem passou então o seu direito a Boaz, reconhecendo isto publicamente atravésdo antigo costume de tirar o calçado e entregá-lo a Boaz —uma práticaque tinha origem no fato de que os homens tomavam posse legal das

 propriedades plantando o pé ou o calçado no solo. Os anciãos etestemunhas na porta então disseram: “Somos testemunhas”.Rute era muito mais preciosa para Boaz do que a terra. Ela se tornou

sua esposa. Através de Boaz, Rute veio a ser mãe de um filho que, por suavez, foi o pai de Jessé, sendo este o pai de Davi, o maior rei de Israel.

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Quanto a Noemi, sua alegria foi completa. Ela cuidou do menino, e jamaiscriança alguma teve uma ama mais terna ou mão mais amorosa. Asmulheres do lugar disseram a Noemi: “... tua nora, que te ama, o deu à luz,e ela te é melhor do que sete filhos” (v. 15).

Esta história, que começou com fome, morte e luto, termina com plenitude, nova vida e júbilo. O choro durou uma noite, mas a alegria veiocom a manhã. O triste início deu lugar a um fim doce e belo. Com uma vozcheia de gentileza e segurança, este precioso Livro de Rute chama-nos do

 passado, dizendo-nos que o amor que é “longânimo e bondoso ’’jamais deixa de ter sua recompensa no final.

Aspectos tipológicos

Uma leitura cuidadosa deste Livro de Rute parece mostrar que existeum significado tipológico latente e oculto desenvolvendo-se de acordocom o desenrolar da história. Os próprios nomes que ocorrem aqui nosindicam isso, e, uma vez descoberta a pista, podemos segui-la sem hesitar.

A história começa em Belém, cujo nome significa “Casa do Pão” (beyth

 — casa; lechem  = pão). A primeira figura mencionada é Elimeleque, cujonome significa “meu Deus é Rei” ou “meu Deus é meu Rei” ( Eli  = meuDeus; meleque = rei). Este israelita, junto com sua mulher  Noemi, cujonome significa “prazer” ou “favor”, deixa Belém, na terra de Israel, porcausa de fome, e busca socorro na terra estrangeira de Móabe. Os nomesde seus dois filhos, que levam em sua companhia, são Malom  (alegria oucanção) e Quiliom  (ornamento ou perfeição). Sob provação, eles seesquecem do lugar da aliança e recorrem a um expediente que envolvetransigência. Em Moabe, Elimeleque (meu Deus é meu rei) morre; omesmo acontece com Malom (canção) e Quiliom (perfeição). Depois dedez trágicos anos, Noemi, a remanescente comovente, volta; mas em vezde continuar sendo Noemi (prazer, doçura, favor), ela passa a ser Mara (amargura), por sua própria palavra.

Se este não é um tipo surpreendente de Israel, estamos muito enganados. Israel, como originalmente constituído em Canaã, era umateocracia. Deus era o rei de Israel. Israel era Elimeleque —e podia dizer“meu Deus é meu rei”. Israel estava casado, por assim dizer, com Noemi —prazer, favor e bênção; e os filhos de Israel eram Malom e Quiliom — 

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canção e perfeição. Mas, ao ser provado, Israel cedeu e desviou-se,deixando a anterior lealdade ao Senhor. Elimeleque morreu. Israel nãomais podia dizer com um coração perfeito diante do Senhor “meu Deus émeu R ei”. Malom e Quiliom também morreram — a “canção” de louvor

e o “ornam ento” de santidade piedosa também partiram de vez; enquanto Noemi, a antes “favorecida” e “agradável”, volta finalmente como umtriste remanescente, “vazia” e “amarga” como nos dias em que oremanescente de Israel voltou com Esdras e Neemias.

A partir da volta de Noemi, porém, Rute (“graciosa”) assume o lugarde destaque; e ela é um tipo da Igreja. O tipo é composto de três cenas: (1)Rute no campo da colheita; (2) Rute na eira; e (3) Rute na casa de Boaz.

Vemos primeiro a Rute que rebusca no campo da colheita: estrangeira, pobre e destituída, não tendo parte nem porção em Israel ou na promessada aliança. Ela busca todavia refúgio sob a proteção do Senhor, Deus deIsrael, e suplica piedade junto ao bondoso e rico Boaz. O nome Boazsignifica “há força nele”; e certamente Boaz, o forte, o rico, o nobre, ogeneroso, é aqui um tipo de Cristo, enquanto olha para a gentia Rute comfavor benevolente e terno amor por ela.

Segundo, vemos Rute que, não tendo esperança em ninguém mais alémde Boaz, vai para a eira, apostando tudo, crendo na bondade dele,arriscando tudo em função da honra, bondade e poder remidor de Boaz;achegando-se a ele, pobre e sozinha, mas em amor, porque primeiro foiamada; deitando-se aos seus pés, suplicando o abrigo de seu nome,

 pedindo a proteção de seu braço, buscando a provisão que só seu amor podia dar e descobrindo nele mais do que a esperança ousara esperar.

Terceiro, vemos Rute que, tendo sido graciosamente recebida peloBoaz resgatador, une-se a ele como esposa e compartilha da vida dele, deseu lar e de toda sua riqueza e suas alegrias.

A nosso ver, não é preciso uma percepção muito aguçada para deduzirde tudo isto uma belíssima coerência de ensino de tipos relativos a Cristoe à Igreja. Talvez haja maior ênfase sobre Rute; todavia, os paralelostipológicos acham-se perfeitamente definidos no caso de Boaz. Ao agircomo resgatador, ele deve manifestar as três qualificações principais eindispensáveis; ou seja, ele deve ter o direito  de resgatar o  poder  pararesgatar   e a vontade  de resgatar. Cristo, como nosso  “Goel”, ouParente-Resgatador, tem o direito por ser nosso verdadeiro Parente, o

 poder por ser Filho de Deus, e a disposição graciosa. Nosso Boaz celestial

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não remiu para nós apenas o estado perdido por Elimeleque —um bemterreno; Ele fez de nós Sua noiva, a fim de compartilharmos para semprecom Ele de Sua vida, Seu lar, Sua riqueza e Suas alegrias eternas. GozamosnEle mais bênçãos do que as que nosso pai Adão perdeu, privando-nos

delas!Contudo, quem é o parente anônimo que não quis resgatar (4.6)? Pensoque a resposta pode ser encontrada se lermos novamente as palavrasregistradas em Deuteronômio 23.3: “Nenhum amonita nem moabitaentrará na assembléia do Senhor; nem ainda a sua décima geração entrarána assembléia do Senhor eternamente”. Esse parente não identificado e pouco disposto em Rute 4.6 é a LEI. A lei, por si mesma, é justa, mas não

acolhe, não abre espaço, não dá as boas-vindas à estrangeira Rute. O parente anônimo teria pago o preço da propriedade de Elimeleque, se issofosse tudo que tivesse de fazer (4.4); mas no momento em que ouviu falarque a moabita Rute estava envolvida, recusou-se. A lei também não podefazer nada por nós como pecadores e espiritualmente estranhos a Deus.Ela não pode perdoar. Não pode purificar. Não pode renovar-nos nemdar-nos poder. Ela só pode condenar-nos. Graças a Deus a moabita

rejeitada pela lei é admitida pela graça! Os pecadores contra quem oMonte Sinai troveja — “a alma que pecar, essa morrerá” (Ez 18.20) — escutarão as palavras graciosas do Monte Calvário: “Quem ouve a minha

 palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, não entra em juízo,mas passou da morte para a vida” (Jo 5.24).

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O PRIMEIRO LIVRO DE SAMUEL (1)

Lição N2 28

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 NOTA: Para este estudo, leia todo o Primeiro Livro de Samuel e, pelomenos duas vezes, os primeiros sete capítulos.

O que pensar então da Bíblia? Vou lhes dizer claramente o que julgoque devemos pensar. Afirmo que os autores bíblicos, depois de terem sido

 preparados para sua tarefa por meio da organização providencial de toda

a sua vida, receberam além disso uma orientação abençoada, maravilhosae sobrenatural, como também um estímulo do Espírito de Deus, ficandoentão preservados dos erros que aparecem em outros livros; assim, a obraresultante, a Bíblia, é em todas as suas partes a própria Palavra de Deus,inteiramente verdadeira quanto aos fatos e completamente soberanaquanto aos seus mandamentos.

J. G R E S H A M M A C H E N

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O PRIMEIRO LIVRO DE SAMUEL (1)

d i s s e m o s   adeus à gentil Rute e viramos outra página da Bíblia. OPrimeiro Livro de Samuel está à nossa frente, apresentando-nos a uma dasfiguras mais veneráveis da história de Israel e iniciando um novo ecomovente capítulo na fascinante narrativa sobre o povo terreno de Deus.Este Primeiro Livro de Samuel encabeça o que chamamos de três “livrosduplos” do Antigo Testamento —1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis e 1 e 2 Crônicas.Esses três livros duplos formam juntos uma seção completa, registrando a ascensão e queda da monarquia israelita.

Samuel e Reis

 Nos manuscritos hebraicos, 1 e 2 Samuel formam apenas um livro, assimcomo 1 e 2 Reis e 1 e 2 Crônicas. A divisão em dois livros de cada um,

como os temos agora, teve origem com a chamada tradução Septuagintadas escrituras hebraicas para o grego, aceita como tendo sido escrita noséculo terceiro a. C. Na Septuaginta, 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis são chamadosrespectivamente de Primeiro, Segundo, Terceiro e Quarto Livros dosReinos (o plural “Reinos” indica os dois reinos, Judá e Israel). A VulgataLatina —a famosa tradução da Bíblia para o latim feita por Jerônimo noquarto século A. D. —segue a Septuaginta, dividindo Samuel e Reis em

dois livros cada, mas lhes dá o nome de Primeiro, Segundo, Terceiro eQuarto Livros dos Reis (e não Reinos).

A divisão atual em 1 e 2 Samuel foi criticada por alguns eruditos, emboratenha sem dúvida bastante mérito. O Segundo Livro de Samuel é  distintamente o livro dos quarenta anos do reinado de Davi. É muitoapropriado que um reino tão memorável fosse destacado e registrado emum livro especial. Quanto a este Primeiro  Livro de Samuel, ele marca

igualmente um período definido: do nascimento de Samuel, o último dos juizes, até a morte de Saul, o primeiro rei, abrangendo um período de cercade 150 anos.

O Primeiro Livro de Samuel é insuperável no interesse que desperta.Ele não só recapitula os acontecimentos históricos, mas também os

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entretece com as biografias de três personalidades brilhantes — Samuel,Saul e Davi. Os capítulos são agrupados em torno dessas três pessoas:

Como é natural, os três registros se sobrepõem. Samuel vive bastantetempo durante o reino de Saul e vê também Davi ganhar proeminência,enquanto Saul continua a reinar até Davi chegar aos trinta anos de idade.Todavia, 1 Samuel é realmente agrupado como acabamos de indicar. Nos

sete primeiros capítulos, Samuel é a figura principal. Nos oito capítulosseguintes, tudo se concentra em Saul, ficando Samuel em segundo plano. Nos capítulos restantes, apesar de Saul ainda estar reinando, não háqualquer dúvida de que a atenção principal está sobre Davi.

 No caso de 1 Samuel não há realmente necessidade de nos preocuparmos com uma análise detalhada. Fixe bem na mente (e a memóriairá reter facilmente os dados) que 1 Samuel é o livro da transição da teocracia para a monarquia e também o livro de três homens notáveis — Samuel, o último dos juizes, Saul, o primeiro dos reis, e Davi, o maior  dosreis.

Se nos lembrarmos disso, dificilmente iremos esquecer a mensagemespiritual central do livro. Deus chamara Israel para uma relação singularcom Ele, e o próprio Deus era o rei invisível de Israel. O povo foracastigado de tempos em tempos por causa da desobediência. Mais tarde, porém, queriam atribuir grande parte disso ao fato de que não tinham reihumano visível,  como acontecia com as nações vizinhas. Agora,finalmente, quando Samuel envelhece e seus filhos se mostram perversos,o povo aproveita a oportunidade para pedir um rei humano. A decisãofatídica está registrada no capítulo 8, que deve ser lido com cuidado.Tratava-se na verdade de um retrocesso, ditado apenas pela aparenteconveniência. Era a aplicação da sabedoria humana e não da fé em Deus.Eles preferiram o nível inferior, recusando o melhor   que lhes fora

Capítulos 1 a 7 - S A M U E L  

8 a 15 - S A U L  16 a 31 - D a v i

íí

Aspecto central e mensagem

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concedido por Deus e aceitando a segunda  escolha. A diferença é bemgrande.

O povo achava que resolveria seus muitos problemas e que tudo seriamaravilhosamente facilitado, se apenas pudesse ter um rei humano e

visível como as nações ao seu redor. Infelizmente, porém, tiveram deaprender com presteza o quanto estavam enganados, pois novasdificuldades apareceriam exatamente através do rei que haviam exigido.Esta é a mensagem central de 1 Samuel para nós: aumento de problemas

 por escolherem o caminho aparentemente mais fácil, mas inferior, dasabedoria humana, em vez do caminho de Deus —  por escolherem menos do que o melhor de Deus.

Examinemos agora brevemente os três homens notáveis em torno dosquais gira a história. O primeiro deles é Samuel.

Samuel (1-7)

Poucos se igualam a Samuel em termos de caráter, e como agente no

desenvolvimento inicial da nação só Moisés pode ser comparado a ele. Oministério de Samuel marca a instituição da monarquia. A partir de agoraveremos Israel sob o governo de reis.

Além disso, o aparecimento de Samuel assinala a instituição do cargode profeta. Havia alguns homens em Israel, mesmo antes do tempo deSamuel, sobre quem o manto da profecia havia caído (Nm 11.25; Jz 6.8).O próprio Moisés é chamado de profeta (Dt 18.18). Mas não havia um

ofício profético organizado. Samuel fundou as escolas de profetas e deuorigem à ordem  profética. Num sentido muito real, portanto, ele é “o primeiro dos profetas”, e tal distinção está no Novo Testamento, conformemostram os seguintes versículos:

“E todos os profetas, a começar com Samuel, assim como todosquantos depois falaram, também anunciaram estes dias” (At 3.24).“Depois disto lhes deu (Deus) juizes até o profeta Samuel” (At 13.20).“E que mais direi ainda? Certamente me faltará o tempo necessário

 para referir o que há a respeito de Gideão... de Samuel e dos profetas”(Hb 11.32).

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Samuel é, pois, uma figura marcante. Ele termina o período dos juizes,encabeça a ordem dos profetas, dá origem ao primeiro grande movimentoeducacional na nação; coloca o primeiro rei de Israel no trono e, maistarde, unge Davi, o maior de todos os reis de Israel. Resumimos nos

comentários abaixo um ótimo artigo sobre Samuel, incluído no Pulpit  Commentary.

Seu aparecimento oportuno

O preparo de Israel fora excelente. As tribos haviam cresci dcdaquela cultura mental com a qual o Egito sobrepujara o mune

sob a liderança culta de Moisés, fora feita a entrega da ld, \jlfKÍráborasimplesmente preparatória em certos aspectos civis^\j^BÍistrativos,continha um resumo dos princípios fundamentaisn^m orarque jamais foisuperado. Por maior que fosse a in flu ência^w o^s< 3> ore Israel, nãodevemos pensar que o povo se elevara artpveKam que ele mesmo seencontrava. Mal Moisés e sua geração^èSapai^ceram, o povo voltou ao barbarismo. Em lugar de compr^é^terçHwnobre ideal que seu legislador

 planejara para eles, afundavam c ad ^ g z mais (como visto em Juizes), atéque a nação chegou ao/pqrito de quase desaparecer. Os filisteus,fortalecidos por um Jh p ^ ^ w sm te de imigrantes e a importação de armasda Grécia, estavamVEfòq^mente reduzindo Israel a uma raça escrava.Assim, a neg^X rf& ^vJü dá em conquistar a costa marítima nos primeirosdias (Jz l.l^T O V^tava agora pondo em perigo a independência da nação.

1 tó eb ia que Israel iria ser inevitavelmente esmagado, S

ía. Jamais as coisas pareceram tão desesperadoras. Mesmoíuel deteve a decadência da nação, ajudou-a a tornar-se um

ínp ordeiro e próspero e colocou-a no caminho que levava a seu destinoíblime, a fim de ensinar a humanidade sobre o Deus verdadeiro; mas isto

Sua obra educacional

Samuel dedicou-se à tarefa de dar à nação cultura mental e um governoordeiro. Estas eram as necessidades mais urgentes. A base de toda a suareforma foi a restauração da vida moral e religiosa do povo. É preciso

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começar sempre nesse ponto. Além do mais, Samuel era demasiadamentesábio para confiar apenas em sua influência pessoal. Muitos homens degrande influência em sua época nada deixaram de duradouro. Se Israeltivesse de ser salvo, seria através de instituições que exercessem pressão

contínua, empurrando o povo para cima, para um nível superior. O meioque ele empregou para este crescimento interno da nação foi a fundaçãode escolas. Estas, além de elevar Israel a um nível mental mais alto,auxiliariam na adoração do Senhor, ao transmitir idéias verdadeiras sobrea natureza divina. Samuel deve ter visto com freqüência que o principalobstáculo para seu trabalho como juiz de Israel era a condição mentalinferior do povo. Não havia no meio da nação homens cultos para ocupar

um cargo oficial ou administrar a justiça. O patético fracasso do talentosorei Saul mostra isto e prova que Samuel estava certo ao hesitar em levantarum rei. As escolas eram prioritárias. Através delas, toda a condiçãocultural de Israel progrediria e homens seriam preparados para exerceruma liderança de alto nível. Essas escolas foram abertas em toda parte. Nelas, os jovens aprendiam a ler e escrever, adquirindo conhecimentos.Davi foi um produto delas, assim como a maioria de seus líderes. Surgiuum sistema de educação nacional. Outros resultados viriam, dos quais omundo inteiro ainda hoje obtém benefícios. Se não fosse por isso, talconjunto de homens inspirados que nos legaram as Escrituras teria sidoimpossível. Isaías e seus companheiros eram homens cultos, falando a um povo culto. Tanto o Antigo como o Novo Testamento são em grande parteresultado das escolas de Samuel.

Outra grande obra de Samuel foi o preparo da monarquia constitucional, mais um fato que o colocava muito além de sua época. Até certo

 ponto, ele não se mostrava favorável a isso, pois sabia que a hora não eraoportuna. Uma monarquia limitada só é viável em meio a um povo culto.O Livro do Reino escrito por Samuel (1 Sm 10.25) não poderia influenciarmuito um Saul que não sabia ler nem escrever; e Saul aproximou-se muitodaquilo que Samuel temia. O governo que Samuel desejava estabelecerera o de um poder real nas mãos de um leigo, mas agindo em obediênciaà lei escrita de Deus e à Sua vontade, conforme declarada de tempos emtempos pela voz viva da profecia, que apelaria para o senso moral do rei. Não foi senão quando Samuel educou Davi que apareceu uma pessoa preparada para o trono. Apesar de suas faltas particulares, Davi, aocontrário de Saul, jamais tentou colocar-se acima da lei de Deus ou sequer 

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manipulá-la em seu próprio benefício. Ele se manteve estritamente dentrodos limites estabelecidos.

Começamos a perceber como foi grande a figura de Samuel. Ele deuinício ao primeiro movimento no sentido da educação nacional e moldou

a monarquia constitucional da nação. De fato, Samuel é um grandehomem.

O PRIMEIRO LIVRO DE SAMUEL

A TRANSIÇÃO DA TEOCRACIA PARA A MONARQUIA

SAMUEL: O ÚLTIMO DOS JUÍZES (1-7)S E U N A S C IM E N T O E S U A J U V E N T U D E (1, 2)

S E U C H A M A D O E S E U O F ÍC IO ( 3)

SEU S TEMPO S E SEU S ATOS (4 -7 )

 Resumo  —7.15-17

SAUL: O PRIMEIRO REI (7-15)S U A E S C O L H A C O M O R E I ( 8-1 0)

SE U INÍCIO P RO M ISSOR (11-12)

S U A I N S E N S A T E Z E S E U P E C A D O P O S T E R I O R E S (12 -1 5)

 Rejeição  —15.23,28, 35

DAVI: O SUCESSOR UNGIDO (16-31)S U A U N Ç Ã O R E A L I Z A D A P O R S A M U E L (1 6.1 -1 3)

S E U S E R V IÇ O D I A N T E D E S A U L ( 16 .1 4-2 0)

SEUS ANOS COMO FUGITIVO (21 -30 )

 Morte de Saul —   31

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O PRIMEIRO LIVRO DESAMUEL (2)

Lição N2 29

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iVOTA: Para este novo estudo sobre o Primeiro Livro de Samuel, leianovamente do capítulo 8 até o fim.

Quando um homem se desprevine por um momento, com toda probabilidade ficaremos sabendo mais verdades a respeito dele do que emtodas as suas tentativas de revelar a si mesmo ou de ocultar-se. A

consciência sempre presente, mas geralmente oculta, relampeja nesseinstante. Ele mais tarde pode desculpar-se e dizer que não queriarealm ente dizer o que disse. O fato é que foi surpreendido, dizendo aquiloem que pensava constantemente. Com toda probabilidade Saul jamaisdissera isso antes e jamais repetiria; mas ele estivera pensando nisso pormuito tempo: “Fui insensato”. O homem não pode escapar da verdade nuasobre si mesmo enquanto continua no uso da razão. Ele pode praticar aarte do engano tão habilmente que não só deixa de revelar-se a seussemelhantes como também em sua loucura inconcebível imagina que seescondeu de Deus; contudo, jamais ocultou-se de si mesmo, e em algummomento de tensão e pressão, acaba por dizer o que estava pensando todoo tempo. ,

Saul dormira profundamente naquela noite, pois o registro nos diz queda parte do Senhor Jhes havia caído profundo sono” (1 Sm 26.12). Ele 

acordou com a voz de Davi, chamando-o do monte oposto. Ao despertar,ficou alerta, com o espírito aguçado, não se sentindo pesado por tercomido demais nem entorpecido pelo vinho. Tudo se achava claro elímpido ao seu redor, como acontece muitas vezes quando acordamos. Foientão que percebeu tudo e exclamou: “Eis que tenho procedido comolouco”. Esta é toda a história do homem.

G . C A M P B E L L M O R G A N

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O PRIMEIRO LIVRO DE SAMUEL (2)

COMO já dissemos, este primeiro Livro de Samuel é o livro da transição da teocracia para a monarquia, e será bom nos lembrarmos sempre disto,à medida que procuramos ter uma idéia geral dos livros da Bíblia. Vimostambém que este livro concentra-se em três homens — Samuel, Saul eDavi. Samuel, o último dos juizes, já foi estudado, e agora voltamos nossos

 pensamentos para Saul, o primeiro dos reis. Antes, porém, é precisoobservar cuidadosamente como ocorreu a mudança dos juizes para os reis.

A TRANSIÇÃO DOS JUÍZES PARA OS REIS

O pedido

A mudança aconteceu devido à insistência do próprio povo, como vemos

no capítulo 8, que marca o ponto crítico. Veja os versículos 4 e 5: “Entãoos anciãos todos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, elhe disseram: Vê, já estás velho, e teus filhos não andam pelos teuscaminhos; constitui-nos, pois, agora, um rei sobre nós, para que nosgoverne, como o têm todas as nações”. Como afirma o Dr. Kitto, “aexigência não era de uma plebe ignorante e iludida, mas o pedido solenee deliberado dos anciãos de Israel —aqueles cujos anos ou alto posto na 

nação lhes davam maior peso e influência. Não se tratava de um impulsomomentâneo, mas sim do resultado de deliberação e conferência prévias,

 pois os anciãos foram a Ramá com o propósito de apresentar o assunto ao profeta. Sem dúvida alguma, eles se reuniram e consideraram a questãomuito bem, antes de darem um passo com tanta resolução”.

Sua aproximação de Samuel foi marcada pelo respeito. Eles nãoestavam descontentes com o profeta em si; mas em vista de sua idade

avançada e do comportamento insatisfatório dos filhos dele, queriaminsistir para que o governo passasse a ser uma monarquia, enquantoSamuel ainda se achava entre eles e com a aprovação de sua autoridade.Eles realmente deliberaram e consideraram; mas, mesmo assim, nãotinham razão. Seus olhos novamente se afastavam de Deus. Um pedido

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como este jamais seria produto de oração. Os anciãos realizaram umareunião de comissão e não de oração! Agora estavam determinados a darum passo para trás, em vez de avançar com Deus. Quantas vezes aincredulidade é revestida com a sabedoria corporativa das comissões!

 A resposta

A reação de Samuel ao pedido é dada no versículo 6: “Porém esta palavra não agradou a Samuel, quando disseram: Dá-nos um rei, para quenos governe. Então Samuel orou ao Senhor”. A resposta divina foi esta:“Atende à voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te rejeitaram ati, mas a mim, para eu não reinar sobre eles... Agora, pois, atende à suavoz, porém adverte-os solenemente, e explica-lhes qual será o direito dorei que houver de reinar sobre eles”. Samuel tentou então dissuadi-los(10-18), mas sem êxito, pois os versículos 19 e 20 dizem: “Porém o povonão atendeu à voz de Samuel, e disseram: Não, mas teremos um rei sobrenós. Para que sejamos também como todas as nações; o nosso rei poderágovernar-nos, sair adiante de nós, e fazer as nossas guerras”. O pedido

transformou-se então em exigência; e Deus fala novamente a Samuel:“Atende à sua voz, e estabelece-lhe um rei” (v. 22).

Devemos notar portanto três coisas sobre esta exigência de um rei.Primeira, sua razão  externa era a depravação dos filhos de Samuel.Segunda, o motivo  interior era que o povo fosse como as outras nações.Terceira, o significado mais profundo era que Israel rejeitara a teocracia,sendo esta a questão mais séria de todas, enfatizada na resposta divina:

“Pois não te rejeitaram a ti, mas a MIM,  para eu não reinar sobre eles”.Quantos cristãos brilhantes foram prejudicados por desejarem ser comoas pessoas do mundo a seu redor, como fez Israel ao exigir um rei humano!E como é traiçoeira a tentação de apoiar-se no que é visível e humano, emvez de repousar no Deus invisível! Todos nós nos inclinamos para essatentação; mas ceder a ela significa colher tristezas.

O resultado

O povo exigiu e exerceu o que hoje é chamado de “direito delivre-arbítrio”. A mudança da teocracia para a monarquia foi decidida por 

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eles. Deus lhes deu um rei e constituiu um sistema monárquico. Pareciaque Israel havia se cansado de uma forma teocrática de governo, na qualseu bem-estar dependia de uma conduta correta. Eles talvez supusessemvagamente que um governo sob um rei humano os aliviaria um pouco dessa

responsabilidade, já que seu bem-estar dependeria mais do tipo degoverno e das qualidades do próprio rei.Ao dar-lhes um rei, porém, Deus resguardou os interesses morais da

nação, constituindo uma monarquia que preservava ao máximo os princípios do governo teocrático: o rei deveria responder diretamente aDeus, e o povo também se tornaria responsável perante Ele, através deseu rei. Este não deveria ser autocrático, mas teocrático. O profeta e osacerdote colaboravam com o rei na qualidade de oficiais, em lugar de lheserem subordinados; pois também dependiam diretamente de Deus.Como é natural, na qualidade de homens e cidadãos eles estavam sujeitosao rei, da mesma forma como todos os demais. Já mencionamos antes queo governo seria de um poder real nas mãos de um leigo, mas agindo emobediência à lei escrita de Deus e à Sua vontade, declarada de tempos emtempos pela viva voz da profecia. Assim sendo, quando nos referimos àmudança da teocracia para a monarquia, não pretendemos dizer que todos

os princípios do governo teocrático haviam sido abolidos. A responsabilidade teocrática continuava através da monarquia; mas a teocraciaabsoluta cessara.

Observações

Podemos compreenderos sentimentos

 dos líderes de Israel ao insistiremem ter um rei humano. Ao que tudo indica, havia sinais de problemassurgindo no horizonte: por parte dos filisteus, sempre prontos para aguerra, no Ocidente, e por parte dos amonitas, no Oriente (12.12). É

 possível entender igualmente a ansiedade de Israel pelo fato de não haverninguém destacado entre eles, seja pela capacidade ou pela posição, paraliderá-los nos conflitos que provavelmente teriam de enfrentar. O desejode uma visível dignidade de estado, como tinham as nações à sua volta,

 pode ser tam bém compreendido, pois a mente oriental é eminentementerégia. Talvez fosse um estigma sobre Israel o fato de não haver um cabeçareal da nação. Todavia, devido aos privilégios teocráticos e ao chamadosuperior de Israel, esta exigência peremptória de um rei humano constituía

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um erro grave.O pedido do povo por um rei fora previsto na palavra de Deus através

de Moisés. Veja Deuteronômio 17.14-20. Talvez os anciãos de Israeldeduzissem disso que era desejo de Deus estabelecer um governo

monárquico entre eles —e talvez tivessem razão. Todavia, mesmo assim,o mínimo que deveriam ter feito seria buscar o conselho de seu rei divinoa respeito disso. Note ainda que, em vez de ficarem reconhecidamenteansiosos por preservar a liberdade e o direito público que possuíam sob ateocracia, eles insistiram em ser governados ao estilo dos povos que osrodeavam. Em outras palavras, insistiram em desistir de seu governo

 brando em favor de uma soberania humana despótica. Samuel adverte-ossolenemente da loucura que estavam cometendo e dos resultados que

 poderiam sobrevir. Veja 8.11-20. Um rei desse tipo iria tomar seus filhose filhas para servi-lo, trabalhar para ele e guerrear por ele. Tomaria seuscampos e vinhas, assim como o dízimo de suas sementes e colheitas, dosrebanhos e de outros bens. Ele faria ainda mais, de modo que selamentariam por sua causa. Sem dúvida, as palavras de Samuel descreviamcorretamente os governos monárquicos que existiam naquela época nasredondezas de Israel. Não obstante, sem temer coisa alguma, os líderes deIsrael mostraram-se prontos a desistir de suas preciosas imunidades! Ofato de a monarquia instituída em Israel não  ser despótica como as quecercavam a nação, diz o Dr. Kitto, deveu-se “ao cuidado perspicaz e

 previdente de Samuel, agindo sob a orientação divina, assegurando desdeo início que as liberdades que o povo tão voluntariamente atirava ao fogonão fossem abolidas”.

Saul, o primeiro rei de Israel

Saul, o primeiro rei de Israel, é uma das figuras mais notáveis e trágicasdo Antigo Testamento. Se tivermos qualquer sensibilidade em relação aosvalores supremos e questões vitais da vida humana, a história de Saulrepresentará um desafio para nós. Em certos aspectos ele foi grande; emoutros, insignificante. Em alguns pontos ele chamou atenção pela sua beleza; em outros, mostrou-se definitivamente feio. Saul começou a reinarcom grande firmeza, mas em breve decaiu, decepcionando a todos, eterminou de maneira tão lamentável que o processo de decadência que o

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arruinou se torna monumental para todos que prestam atenção. Notemosas três fases principais de sua carreira: (1) o início promissor; (2) adecadência posterior; e (3) o fracasso final.

O início promissor  (9-12)

Jamais um jovem mostrou-se tão promissor ou teve possibilidades tão brilhantes em sua juventude. Para começar, ele se distinguia por uma superioridade física surpreendente. Saul é descrito como “moço, e tão beloque entre os filhos de Israel não havia outro mais belo do que ele; desdeos ombros para cima sobressaía a todo o povo” (9.2). Tinha saúde, altura

e beleza. Embora o aspecto físico não seja a parte mais importante dohomem, um físico tão esplêndido como o de Saul representava um bemmaravilhoso, dando-lhe a vantagem inicial de mostrar-se imediatamentecativante.

Em segundo lugar, o jovem Saul demonstrava certas qualidades de caráter altamente recomendáveis. Lemos sobre sua modéstia  (9.21; 10.22),discrição  (10.27) e espírito generoso  (11.13). Havia também outras

excelentes qualidades — o respeito pelo pai (9.5), sua valentia e bravura(11.6, 11), sua capacidade para amar intensamente (16.21), sua oposiçãoenérgica a males como o espiritismo (28.3) e sua evidente pureza moralnas relações sociais.

Em terceiro lugar, Deus lhe dera instrumentos especiais quando ele setornou rei. Lemos: “Deus lhe mudou o coração”, de modo que passou aser “outro homem” (10.6, 9). Outrossim, “o Espírito de Deus se apossou

de Saul, e ele profetizou” (10.10). Essas expressões indicam que Saulsofreu uma renovação interior e se achava sob a orientação especial doEspírito Santo. Isso não é tudo; ele recebeu “uma tropa de homens cujoscorações Deus tocara” (10.26). Saul tinha também um conselheiro deconfiança junto de si, o inspirado Samuel. Para coroar tudo isso, Deusmarcou o início do reinado de Saul, concedendo uma vitória militarretumbante, que conquistou a confiança do povo para o novo rei (11.12).

Este era o jovem e promissor Saul. Extraordinariamente rico emtalentos naturais e preparado de modo especial por meio de donssobrenaturais, seu futuro parecia de fato brilhante. O chamado para serrei foi uma oportunidade ímpar, dada a um homem em um milhão.Chamaram-no para reinar, sendo sua realeza apoiada pela constituição.

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Ele foi chamado para a soberania teocrática,  e Deus o qualificousobrenaturalmente para isso. Quanta chance para uma gloriosacolaboração com Deus! Que oportunidade para abençoar os homens! Elenão demonstrou qualquer dos sintomas de vanglória que outros, menos

talentosos, teriam deixado entrever ao galgarem de súbito uma posiçãosuperior. Sua ascensão ao trono de Israel sem dúvida foi uma manhã de promessas.

 A decadência posterior 

A promessa inicial de Saul infelizmente provou ser uma alvorada logo

encoberta por nuvens sombrias. Apostasia, decadência, degeneração,desastre —esta é a escala funesta e decrescente que logo se estabelece,até que este herói-gigante morre de modo ignóbil, cometendo suicídiodevido à sua perturbação mental.

A primeira apostasia ocorreu logo no início. Veja o capítulo 13.Tratava-se de um ato de orgulho irreverente. Os filisteus estavam prontos para pelejar contra Israel. Saul recebeu ordens para aguardar Samuel em

Gilgal. Quando parecia que o profeta não viria antes de expirar o prazocombinado, Saul, impaciente, violou a prerrogativa do sacerdote einsensatamente ousou oferecer ao Senhor, com suas próprias mãos, ossacrifícios pré-estabelecidos. Podemos aceitar a impaciência de Saul.Todavia, ele violou aquela obediência à voz de Deus através do profeta,que era uma condição básica da soberania teocrática. Samuel re

 preendeu-o: “Procedeste nesciamente em não guardar o mandamento que

o Senhor teu Deus te ordenou”.A próxima falha vem a seguir. Veja o capítulo 14. Foi um ato de

obstinação temerária.  Deus usa a Jônatas como seu instrumento,espalhando confusão entre os filisteus. Os sentinelas de Israel relatam oque viram. Saul chama o sacerdote para pedir a orientação de Deus, masimpacienta-se insensatamente e, sem esperar resposta, envia seus homens

 para a peleja. Também impõe sem refletir uma sentença de morte sobre

qualquer homem que se alimentasse naquele dia (v. 24). Como resultado,ficaram muito fracos para consolidar a vitória (v. 30) e, por causa da fomeextrema, pecaram comendo carne com sangue (v. 32); Jônatas recebesentença de morte por ignorância, sendo salvo apenas pela intervenção do povo (w. 27, 45).

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 No capítulo 15 surge uma falha ainda mais grave. É uma mistura dedesobediência e engano.  Saul recebe uma ordem para destruir com pletamente os amalequitas, mas poupa o rei e a melhor parte do gado. Aseguir mente a Samuel, culpando o povo pelos despojos. Chega até a

afirmar que estes seriam sacrificados ao Senhor. A reprovação de Samuelcomeça assim: “Porventura, sendo tu pequeno aos teus olhos...” Ahumildade fora infelizmente substituída pela arrogância. Samuel percebeo fingimento: “Por que, pois, não atentaste à voz do Senhor? ... rejeitastea palavra do Senhor”.

A partir deste ponto a decadência se acelera. “Tendo-se retirado de Saulo Espírito do Senhor” (16.14), um “espírito maligno o atorm entava”. Ele

cede a um ciúme mesquinho, que se transforma em maldade cruel contraDavi. Três vezes tenta matá-lo e, depois, persegue-o durante longos meses,como “uma perdiz nas montanhas”. Saul entrega-se à parte mais vil de suanatureza. Duas vezes Davi poupa a vida do rei, e este promete abandonarsua caçada sangrenta. Ele sabe que, ao esforçar-se para matar Davi, eleestá na verdade lutando contra Deus, e chega a admitir: “Agora, pois,tenho certeza de que serás rei” (24.20). Todavia, mesmo depois disso, ele

retoma sua perseguição covarde. Saul diz com razão a respeito de simesmo: “Eis que tenho procedido como louco” (26.21).

O fracasso final

O último ato trágico no lamentável drama deste homem é descrito docapítulo 28 ao 31. Sua carreira em declínio finalmente o leva à feiticeira

de En-Dor, como um amargurado e aflito fugitivo da condenação. Estedestroço de homem, que antes gozara do conselho direto do céu, trataagora com o submundo. Não precisamos nos demorar no assunto daconsulta noturna nem no suicídio de Saul no campo de batalha no diaseguinte. Não há necessidade de pesquisar detalhes neste ponto. Bastaconhecer os fatos reais, o mergulho final —feitiçaria e suicídio! Saul nãoexiste mais. Jaz morto, juntamente com o bondoso Jônatas. Como os

 poderosos caem! Como esse filho da manhã foi levado à ruina! Sim, Saul — você que teve um início promissor, mas depois veio a decair e sedestruiu, você procedeu definitivamente “como louco”!

Quando vemos Saul descer tanto, será que não perguntamos o queestava por trás de sua temível frustração? Foi a obstinação, a vontade

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 própria.  Os dois pecados principais de Saul foram a arrogância e adesobediência a Deus. Por trás de ambas jazia a vontade própria impulsiva,indisciplinada. Podemos traçar os quatro estágios progressivos deste cultoao “eu” por parte de Saul: primeiro, vontade própria; depois,

auto-afirmação; em seguida, egocentrismo, resultando inevitavelmenteem autodestruição.

“Mesmo depois de morto, ainda fa la” (Hb 11.4)

Em tons tristes e intimidantes, a voz de Saul ainda fala, e fazemos bemem atendê-la. Em primeiro lugar, ele nos ensina que a única condição vital 

 para a verdadeira plenitude de vida é a obediência à vontade de Deus. Devemos guardar isto muito bem — Saul foi chamado para exercer umreinado teocrático,  e o mesmo acontece conosco. Cada personalidadehumana foi criada para a soberania teocrática. Saul jamais foi destinado aexercer um governo absolutista. Nunca se pretendeu que a última palavrafosse dele. Saul recebeu a unção de Deus, a fim de executar uma vontadesuperior à sua. Ele deveria ser o vice-regente humano e visível do Rei

divino e invisível de Israel, o Senhor. Ele só podia governar verdadeiramente sobre os súditos enquanto obedecesse ao rei supremo queestava acima dele. Nós também temos de fazer isso. Não somos

 proprietários independentes de nossa vida. Somos propriedade de Deus.Ele nos fez reis e rainhas sobre nossas personalidades com dons, poderese possibilidades; mas nosso governo deve ser teocrático e não umamonarquia independente, autogerida. Somos destinados a governar para

 Deus,  de modo que nossas vidas e personalidades possam cumprir avontade dEle e realizar Seu propósito. Quando governamos obstinadamente à parte de Deus, nossa verdadeira soberania é destruída, e perdemos o significado real e o propósito da vida. Num grau maior oumenor, agimos como loucos.

Saul nos ensina também esta verdade semelhante: permitir que o “eu” se sobreponha em nossa vida é perder o melhor e ficar com o pior. Os filisteus

não eram os piores inimigos de Saul. Ele mesmo foi seu pior inimigo. Todohomem que permite que o “eu” encha seu campo de visão, até que embotesua percepção íntima para aquilo que é realmente verdadeiro e divino,está procedendo “como louco”. Todos os^que vivem para si, em vez de

 preferirem a vontade de Deus são “como lWicos”. O processo de deca

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O SEGUNDO LIVRO DE SAMUEL (1)

Lição Ne 30

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 NOTA: Leia para este estudo 2 Samuel inteiro e duas vezes os seis primeiros capítulos.

As narrativas das Escrituras estão de tal forma impregnadas de umelemento didático e ético que todas as suas seções biográficas e históricas

 parecem dignificadas por um propósito moral, ensinando a verdade pelo

exemplo. Portanto, as partes profética e histórica encontram-se tão próximas que a história parece outra forma de profecia, transmitindoinstrução para o presente e prevendo tipologicamente o futuro. A Bíbliatransforma-se numa galeria de quadros e fotografias, onde são ensinadaslições que impressionam até mesmo os que têm mais dificuldade ementender. Cada linha e cada contorno estão cheios de significado.

A. T. PIERSO N, D. D.

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O SEGUNDO LIVRO DE SAMUEL (1)

O LIVRO DO REINADO DE DAVI

O S E G U N D O L IV R O D E Samuel é distintivamente o livro do reinado de  Davi, pois começa com o governo de Davi em Judá, logo após a morte deSaul, e termina pouco antes da morte de Davi, quando ele era “já velho eentrado em dias” (1 Rs 1.1). O livro cobre, portanto, um período de cercade 40 anos, pois foi essa a duração do reinado de Davi. Em 5.4, 5 temos:

“Da idade de trinta anos era Davi quando começou a reinar; e reinouquarenta anos. Em Hebrom reinou sobre Judá sete anos e seis meses; emJerusalém reinou trinta e três anos sobre todo o Israel e Judá”. Assim, istosempre nos ajudará a nos lembrarmos de 2 Samuel: é o livro dos quarentaanos do reinado de Davi.

Autoria composta

A autoria de 2 Samuel é bastante incerta, embora as indicações mais prováveis ainda favoreçam o ponto de vista mais antigo de que o próprioSamuel é responsável pelos 24 capítulos do primeiro desses dois livros quelevam seu nome; os remanescentes, até o final de 2 Samuel, seriam obrade dois profetas, Natã e Gade. Veja 1 Crônicas 29.29,30.

Como já foi mencionado, 1 e 2 Samuel eram originalmente um únicolivro, tendo sido a atual divisão estabelecida na Septuaginta. Apesar dosque argumentam que a separação de um livro em dois “não tem razão nemnecessidade de ser”, existe uma vantagem definida: o reinado memorávelde Davi é destacado e apresentado como objeto de grande relevância,merecendo um estudo especial. Uma vez que Davi foi o verdadeirofundador da monarquia, o reorganizador da adoração religiosa de Israel,

o herói proeminente, o rei e poeta de seu povo, e como sua dinastiacontinuou no trono de Judá até o cativeiro, assim como o Messias

 prometido deveria ser da linhagem davídica, não é surpreendente que lhefosse conferida tanta relevância.

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A divisão trágica

Este Segundo Livro de Samuel, como bem observa Matthew Henry, estádividido em duas partes principais. Não é possível deixar de notá-las. O

grande pecado de Davi, registrado no capítulo 11, marca a triste divisão, bem na metade do livro e dos 40 anos do reinado de Davi. Até esse ponto,tudo é triunfo para Davi; mas, depois, há problemas e dificuldadessombrias, golpes dolorosos e provações trágicas. Na primeira partecantamos as vitórias de Davi e, na segunda, lamentamos os males que oacometem.

 Note bem que o Segundo Livro de Samuel foi dividido exatamente emduas metades com doze capítulos cada. Os capítulos 11 e 12, que registramo pecado e o arrependimento de Davi, devem ser incluídos na primeira

 parte, pertencendo de direito a ela. Foi por causa da prosperidade obtidaatravés de vastas conquistas que Davi ficou exposto à tentação de não se

 precaver e ceder aos seus desejos. No final desse capítulo 12, lemos o relatoda conquista de Rabá, a cidade real de Amom. Este episódio assinala otérmino dos triunfos desse tipo registrados no livro. Eis, portanto, seuesboço:

O SEGUNDO LIVRO DE SAMUEL

O LIVRO DOS QUARENTA ANOS DO REINADO D E DAVI

TRIUNFOS TRANSFORMADOS EM PROBLEMAS

DEVIDO AO PECADO

I. OS TRIUNFOS DE DAVI (1-12)

1-4 - R E I D E J U D Á A P E N A S , E M H E B R O M  

(Período da Guerra Civil — 7 anos)

5-12 - R E I D E T O D O IS R A E L, E M J E R U S A L É M  

(Período da Conquista  — 13 anos)

II. OS PROBLEMAS D E DAVI (13-24)13-18 - P R O B L E M A S F A M I L IA R E S D E D A V I

(Do Pecado deAmnom à Revolta deAbsalão) 19-24 - P R O B LE M A S D E D A V I N A N A Ç Ã O  

(Revolta de Seba até a Peste)

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A mensagem espiritual central

A mensagem espiritual central deste livro, portanto, destaca-seclaramente: T R I U N F O S T R A N S F O R M A D O S E M P R O B L E M A S D E V I D O A O  

P E C A DO . É  possível dizer também que nas duas partes do livro temos,respectivamente, triunfo mediante a fé e problemas devidos ao pecado. Olivro de 2 Samuel enfatiza que todo pecado, do rei ou do indivíduo comum,dos homens de posição superior ou inferior, dos piedosos ou dosincrédulos, produz certamente fruto amargo. O pecado é o destruidor da

 prosperidade. Por mais que uma árvore esteja cheia de folhas e pareça bela, se a podridão está roendo o tronco, sem dúvida ela irá quebrar e cair

ou, então, tornar-se uma carcaça de árvore desfolhada. Não existe pecadosem sofrimento. Isto se aplica especialmente à concupiscência dos olhose ao pecado sexual, que foi a razão da ruína de Davi. Devemos fugir dessascoisas como o faríamos de uma víbora. Veja também como o pecado deDavi levou a um pecado ainda maior: o assassinato. Quase sempre um

 pecado leva a outro pior. À semelhança de Jó, façamos aliança com nossosolhos (Jó 31.1), para não colocá-los naquilo que pode seduzir-nos, pois,

sendo mais fracos do que supomos, poderíamos ceder ao pecado,acumulando assim espinhos agudos em nosso peito.

Fatos importantes a serem notados

 Não há necessidade de acompanharmos o estudo capítulo a capítulo em

2 Samuel, mas gostaríamos de chamar atenção para certos fatos eeventos-chave que devem ser notados cuidadosamente.

 Davi em Hebrom

Davi reinou em Hebrom durante sete anos e seis meses, mas apenassobre Judá, porque as outras tribos não quiseram aceitá-lo como sucessor

de Saul. Instigados por Abner, capitão do exército de Saul, Is-Bosete, filhodo rei morto, foi proclamado rei em oposição a Davi. As outras tribos,exceto Judá, uniram-se a Is-Bosete, sem dúvida devido à pressão de Abner,líder de grande influência e renome.

Esta rejeição de Davi, porém, era um grande erro, e Israel estava

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cometendo uma falta grave. A sucessão hereditária ao trono não era um princípio da constituição da monarquia judaica. Mesmo que fosse, olegítimo herdeiro de Saul seria Mefibosete, filho de Jônatas, mas esterenunciara a todos os direitos pessoais e familiares em favor de Davi.

A culpa de Abner e Israel é ainda maior porque em seu coração elessabiam muito bem que Davi era o sucessor de Saul nomeado por Deus.Ouça as palavras de Abner, quando discute com Is-Bosete: “Assim façaDeus segundo lhe parecer a Abner, se, como jurou o Senhor a Davi, nãofizer eu, transferindo o reino da casa de Saul e estabelecendo o trono deDavi sobre Israel e sobre Judá, desde Dã até Berseba” (3.9, 10). Poucomais tarde, Abner diz aos anciãos das tribos: “Outrora procuráveis que

Davi reinasse sobre vós. Fazei-o, pois, agora ,porque o Senhor falou a Davi, dizendo: Por intermédio de Davi, meu servo, livrarei o meu povo das mãosdos filisteus e das mãos de todos os seus inimigos” (3.17,18). Algum tempodepois, as tribos admitiram a Davi: “... também o Senhor te disse:  Tuapascentarás o meu povo de Israel, e serás chefe sobre Israel” (5.2). Abnere os líderes de Israel foram assim condenados por suas próprias palavras.

Perguntamos: por que Abner e Israel a princípio rejeitaram Davi? Uma

razão pode ter sido um temor ciumento da parte de Abner, receoso de nãoconseguir manter sua posição de suprema liderança sob um rei como Davi,que já tinha os seus próprios “valentes” de renome ao seu redor.

Mas pode ter havido outra razão para Israel rejeitar o novo rei: aconfiança em Davi tinha se abalado por causa de sua recente estadia entreos principais inimigos da nação, os filisteus, a fim de escapar de Saul.

É louvável o comportamento adotado por Davi perante a delicada

situação criada pela rejeição de Israel. Ele não tentou subir ao tronomediante o poder de seu exército. Davi sabia que Deus o indicara para otrono, e sua experiência com Ele durante a disciplina dos anos precedenteslhe ensinara a esperar pelo tempo de Deus. O Senhor não havia falhado.Davi não agiria sem a orientação divina (2.1). Ele foi guiado até Hebrom.Judá o acolheu e Davi reinou em Hebrom, cidade antiga onde morouAbraão e que era a capital de Judá. Nos meses que se seguiram, “Davi se

ia fortalecendo, porém os da casa de Saul se iam enfraquecendo” (3.1). O povo de Israel não podia deixar de ver, com autocensura, o contraste entreo caráter fraco de Is-Bosete e as brilhantes qualidades de Davi, com seugoverno firme e benevolente, o sucesso que coroava todos os seus projetos,as vitórias em quaisquer conflitos entre Israel e Judá (2.12-32) e o afeto

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do povo por ele.O capítulo 5 tem enorme importância. Davi é finalmente aclamado rei

de todo Israel, e ele transfere a sede de seu governo para Jerusalém. As palavras dos líderes de Israel, ao oferecerem a Davi o reino, são tocantes

e impressionantes. “Somos do mesmo povo de que tu és. Outrora, sendoSaul ainda rei sobre nós, eras tu que fazias entradas e saídas militares comIsrael; também o Senhor te disse: Tu apascentarás o meu povo de Israel,e serás chefe sobre Israel” (5.1, 2). Vemos que o reconhecimento dodireito de Davi ao trono apoiava-se numa base tríplice:

1. Seu parentesco humano — “Somos do mesmo povo de que tu és”

2. Seu mérito comprovado — “Tu fazias entradas e saídas militarescom Israel”

3. Sua autorização divina — “O Senhor te disse:... serás chefe sobre Israel”

 Não é este um sermão em si mesmo, falando do direito de Cristo  dereinar sobre nossas vidas? Ele é nosso parente —“osso de nossos ossos ecarne de nossa carne”. Ele é nosso Salvador, cujo mérito já foi com

 provado, que esposou nossa causa e lutou contra nosso inimigo, trazendo-nos libertação da culpa e tirania do pecado. Ele é também rei por permissão divina, o príncipe e Senhor de Seu povo, aquele a quem foientregue toda autoridade no céu e na terra. “O governo está sobre os seusombros” (Is 9.6). Será que cada um de nós pode dizer: “O governo deminha vida está sobre os ombros dEle”? ,

O novo centro

Ao se tornar rei de um Israel unido, Davi transferiu a sede do governo para Jerusalém. Hebrom, embora uma capital adequada enquanto o reinode Davi se limitava a Judá, achava-se muito ao sul para tornar-se ametrópole de um reino que unia todas as tribos. Mesmo Jerusalém ficava bastante ao sul, no ponto máximo onde ousaria situar-se uma capital

israelita; e talvez a escolha de Davi tenha sido parcialmente ditada poruma relutância de sua parte em distanciar-se demasiado da tribo de suainteira confiança, ou seja, a tribo de Judá, da qual ele era membro.

Jerusalém era chamada Jebus naquela época (1 Cr 11.4), sendo um localnaturalmente protegido. Sem dúvida Davi tinha esse fato em mente

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quando decidiu estabelecer-se ali. O nome Jebus derivava dos jebuseusque continuavam na posse da terra, ou pelo menos da porção superior efortificada que conhecemos como Monte Sião. E provável que na parteinferior de Jebus, isto é, na cidade  (e não na cidadela),  jebuseus e

 benjamitas convivessem normalmente.Os jebuseus desafiaram Davi a conquistar o Monte Sião. Esta fortaleza

era tão temível e estava por tanto tempo nas mãos dos jebuseus que todosa consideravam inexpugnável. A guarnição de soldados jebuseus zomboude Davi, desafiando-o: “Não entrarás aqui, porque os cegos e os coxos terepelirão” (5.6). Eles disseram isso pensando: “Davi não entrará nestelugar”. Mas ele tomou a cidadela. Lemos que ele afirmou: “Todo o que

está disposto a ferir os jebuseus suba pelo canal subterrâneo e fira os cegose os coxos, a quem a alma de Davi aborrece” (5.8). E quem eram  essescoxos e cegos odiados pela alma de Davi? Não eram pessoas coxas e cegas,

 pois Davi não aborreceria os fisicamente defeituosos; era por demaisgeneroso para isso. Além do mais, como seria estranho ter uma fortalezaguarnecida por aleijados! Os coxos e cegos aqui mencionados eram osdeuses dos jebuseus. Estes desafiaram a Davi, dizendo que ele não entraria

em Sião, a não ser que removesse os seus deuses, dando a entender queele jamais teria condições de retirá-los e, portanto, nunca entraria em Sião.Foi Joabe quem subiu primeiro até a fortaleza (1 Cr 11.6). A partir desse

dia, Sião tornou-se “a Cidade de Davi”. Jerusalém passou assim a ser a principal cidade de Israel, entrando para a história como a cidade maissagrada e magnífica do mundo; uma cidade, além disso, com um futuroainda mais esplêndido do que todo o seu glorioso e trágico passado!

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O SEGUNDO LIVRO DE SAMUEL (2)

Lição N2 31

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 NOTA-. Para este estudo em 2 Samuel, leia do capítulo 7 até o fimnovamente, dando especial atenção aos capítulos 7, 11 e 12.

Os reinados de Davi e Salomão constituem o período áureo do Estado judeu. Desde o princípio, Davi mostrou-se preocupado em se certificar deque todos os passos dados no sentido de tomar posse do reino fossem

dirigidos pelo Senhor (1 Sm 23.2, 4; 2 Sm 2.1). Ele sempre se conduziucomo “Seu servo”, e quando estabeleceu o reino, sua principal

 preocupação foi promover a honra divina e o bem-estar religioso do povo(2 Sm 6.1-5, 7.1, 2). Como rei, ele procurou a prosperidade do Estado e,como representante visível do Senhor, conformou-se estritamente aoespírito teocrático. Provavelmente foi mais pelo caráter de suaadministração do que por suas virtudes particulares que ele foi chamado

de “homem segundo o coração de Deus” (1 Sm 13.14; veja também At13.22), que deveria fazer “toda a minha (de Deus) vontade”. É impossível justificar todos os seus atos ou considerá-lo um indivíduo perfeito.Todavia, quando observamos a piedade de sua juventude, a profundidadede sua contrição, a força de sua fé, o fervor de sua devoção, a superioridadee variedade de seus talentos, a grandeza e calor de seu coração, seu valor

 proem inente numa época de guerreiros, sua justiça e sabedoria como rei,

e seu apego à adoração e vontade de Deus, podemos muito bemconsiderá-lo um modelo de autoridade real e obediência espiritual.

A N G U S , “B IB L E H A N D B O O K ”

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O SEGUNDO LIVRO DE SAMUEL (2)

A aliança davídica

V A M O S agora para o capítulo 7, onde passamos a conhecer a aliançadavídica. Não podemos deixar de avaliar devidamente esta aliança e suascondições, pois, além de afetar imensamente tudo o que se segue nasEscrituras, ela influencia toda a história da humanidade, em especialaquelaparte que ainda viria. Trata-se de uma passagem bíblica de suprema

importância, sendo uma das principais chaves para a compreensão do plano divino para a história. A partir da época em que esta aliança foianunciada, os judeus sempre creram que o Messias procederia dalinhagem davídica. Eles criam nisso nos dias do Senhor e continuamcrendo hoje. Os profetas confirmaram tal fato mais tarde, em passagenscomo Isaías 11.1, Jeremias 23.5 e Ezequiel 37.25. Foi de acordo com tais

 profecias que o anjo Gabriel anunciou Jesus a Maria: “Este será grande e

será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono deDavi, seu pai; ele remará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinadonão terá fim” (Lc 1.32, 33).

A aliança davídica foi pronunciada como segue:

“... também o Senhor te fez saber que ele mesmo te fará casa. Quando teus dias se cumprirem, e descansares com teus pais, então farei levantar  

depois de ti o teu descendente, que procederá de ti, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei para  sempre o trono do seu reino. Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho; se vier a transgredir, castigá-lo-ei com varas de homens, e com açoites de filhos de homens. Mas a minha misericórdia se não apartará dele, como a retirei de Saul, a quem tirei de diante de ti. Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será 

estabelecido para sempre” (2 Sm 7.11-16).

O primeiro significado importante dessas palavras é que temos aqui a confirmação divina do trono em Israel. Até então, como vimos, este haviasido estabelecido por homens (veja 1 Sm 8), por causa do clamor do povo.

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Saul, o primeiro rei, foi o homem escolhido pelo povo. Embora tivessesido escolhido, ungido e apresentado ao povo por Deus, a escolha final foido próprio povo. Até então, o trono de Davi também repousara sobre aescolha do povo — primeiro dos homens de Judá e depois das outras

tribos. Mas agora o trono de Davi é confirmado por indicação divina. Eleé declaradamente incorporado ao plano de Deus para Israel e, atravésdeste para toda a raça, a partir dessa época até o final dos tempos.

O segundo fato importante aqui é a previsão da perpetuidade da dinastia davídica.  Três coisas são asseguradas a Davi: (1) uma “casa” ou

 posteridade; (2) um “trono” ou autoridade real; e (3) um “reino” ou esferade governo. Todas lhe são garantidas “para sempre”: “... a tua casa e o teu

reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será estabelecido para sempre” (v. 16). Esta linguagem é enfática. A expressão “parasempre”, que ocorre três vezes, não deve ser tomada no sentido popular,significando que os descendentes de Salomão iriam manter a posse doreino por muitos séculos. Essa interpretação é descartada por outras passagens da Bíblia, onde encontramos referências ou alusões a talexpressão, notavelmente o Salmo 89, que é tanto uma confirmação como

uma exposição da aliança davídica. Veja o versículo 29: “Farei durar parasempre a sua descendência, e o seu trono como os dias do céu”.  E osversículos 36, 37: “A sua posteridade durará para sempre, e o seu tronocomo o sol perante mim. Ele será estabelecido para sempre como a lua”. 

 Não há possibilidade de erro em palavras como essas. Para coroar estaênfase solene, a aliança é selada com um juramento. Veja o Salmo 89.35:“Uma vez jurei  por minha santidade (e serei eu falso a Davi?)”. Veja

também Atos 2.30. Esta aliança refere-se a uma posteridade literal, umtrono literal e um reino literal — isso deve ficar definitivamenteestabelecido. Querer “espiritualizá-la” para significar uma posteridadecelestial e um reino espiritual, sinônimos da igreja cristã, é violar

 justamente o primeiro princípio da interpretação bíblica, isto é, o princípiode que as palavras ditas claramente devem ser pelo menos aceitas comosignificando o que dizem.

O terceiro fato importante a ser compreendido com relação a estaaliança davídica é a sua implicação messiânica. A repetição tripla e enfáticada promessa de estabelecer o reino de Davi para sempre só poderia sercumprida no Messias vindouro; e sempre foi entendida, portanto, comotendo nEle o seu cumprimento final. Nas palavras ditas a Davi, Salomão

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é sem dúvida o primeiro em vista; mas a promessa abrange a longasucessão de reis humanos e a longa dispersão presente, para culminar nEleque, já tendo vindo à terra como Profeta e havendo ministrado agora nosantuário celestial como Sacerdote, voltará um dia na glória como o maior

Filho de Davi, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, e esse reino será “semfim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmarmediante o juízo e a justiça, desde agora e para sem pre” (Is 9.7).

Esta aliança davídica é incondicional, porque no fim encontra Cristo. Écerto que existe na aliança uma provisão para a possibilidade de pecado efalhas nos filhos de Davi que viriam a reinar; nas palavras do versículo 14:“... se vier a transgredir, castigá-lo-ei com varas de homens, e com açoites

de filhos de homens”. Esta, porém, não é uma condição de que dependao cumprimento da aliança, pois o versículo seguinte imediatamente diz:“Mas a minha misericórdia se não apartará dele, como a retirei de Saul, aquem tirei de diante de ti”. Essa cláusula foi colocada na aliança pararesguardar Salomão e seus descendentes humanos desviados, até que overdadeiro e perfeito rei pudesse vir. Da mesma forma como na aliançaabrâmica o “descendente” prometido era Isaque, num sentido imediato,

e Cristo no sentido final (G1 3.16), assim também, na aliança davídica, o“filho” prometido é Salomão, no sentido imediato, e Cristo no sentidofinal. Nota-se muito bem que as duas alianças, a abrâmica e a davídica, sãoincondicionais. Isto se deve ao fato de ambas encontrarem seu cum

 primento final em Cristo, pois sabemos que não pode haver falhas por parte dEle.

Esta aliança davídica marca igualmente um quarto desenvolvimento 

 principal na profecia messiânica. A primeira grande profecia foi feita aAdão, em Gênesis 3.15, onde nos é dito que o descendente da mulher  feririaa cabeça da serpente. A segunda foi feita a Abraão, em Gênesis 22.18: "...nela (a descendência de Abraão) serão benditas todas as nações da terra”.A terceira foi feita através de Jacó, em Gênesis 49.10: “O cetro não searredará de Judá... até que venha Siló”. A quarta é feita agora a Davi, em2 Samuel 7. Veja então o desenvolvimento. Primeiro, no caso de Adão, a

 promessa é para a raça em geral. A seguir, no caso de Abraão, é para umanação da raça —a nação de Israel. Depois, no caso de Jacó, é para umatribo dessa nação — a tribo de Judá. Em seguida, no caso de Davi, é parauma família  dessa tribo — a família de Davi. Ficamos assim preparados para a palavra final que Isaías acrescentaria mais tarde ainda, ou seja, que

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o futuro Descendente da mulher, Filho de Abraão, Leão de Judá eHerdeiro de Davi, nasceria de uma virgem.

 Note o que Deus diz sobre o filho de Davi: edificará uma casa aomeu nome” (2 Sm 7.13). Davi, por ser homem de guerra,  não poderia

tipificar Cristo como Melquisedeque, que é o rei da Paz: esta glória foireservada a Salomão. Davi estabeleceu o reino sobre o qual Salomãoreinou, mas Cristo será tanto Davi quando Salomão. Como Davi, Eleconquistará todos os inimigos e estabelecerá o reino na terra; comoSalomão, Ele reinará em paz eterna. Possa Ele vir logo!

O completo estabelecimento de DaviDo capítulo 8 ao 10 vemos o reinado de Davi em seu apogeu. Para onde

quer que se volte é um guerreiro vitorioso, enquanto em casa é umadministrador reto e engenhoso. Israel jamais tivera tal poder entre asnações. Em 8.12, 14 encontramos uma lista dos povos poderosossubjugados por Davi — os filisteus no ocidente, os sírios e Hadadezer ao

norte, os amonitas e moabitas ao leste, os edomitas e amalequitas ao sul.O segredo por trás das sucessivas conquistas de Davi é encontrado noversículo 14: “... e o Senhor  dava vitórias a Davi por onde quer que ia”;enquanto a razão para a consolidação interna de Israel é dada no versículo15, ou seja, Davi “julgava e fazia justiça a todo o seu povo”. Israel torna-seassim o poder central e supremo entre os povos.

Basta uma leitura superficial desses capítulos para perceber que Daviera um general hábil e um governante virtuoso. O capítulo 8 começadizendo que “feriu Davi os filisteus, e ossujeitou”. Lembre-se de que Davisubiu ao trono imediatamente após a esmagadora derrota de Saul peranteos filisteus, quando quase toda a terra estava sob o jugo deles. Portanto, ofato de ele vencer os filisteus foi ainda mais notável.

A seguir, ficamos sabendo que ele também “derrotou os moabitas; fê-losdeitar em terra e os mediu: duas vezes um cordel, para os matar; um a vezum cordel, para os deixar com vida” (v. 2). Têm havido muitas críticascontra o procedimento bárbaro de Davi nesta ocasião; mas, na verdade, oregistro tem o propósito de evidenciar a generosidade dele. O procedimento normal naqueles dias era matar todos os prisioneiros de guerra,quase sempre sem levar em conta idade ou sexo. Aqui, porém, vemos um

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O grande pecado de Davi

Como já foi dito, o grande pecado de Davi, registrado no capítulo 11,marca uma triste reviravolta. É bom enfatizar algumas considerações que

devem ser mantidas em mente toda vez que pensamos nele. Os críticosapontam-no como evidência da corrupção moral de alguém que a Bíbliaapresenta como herói. “Vejam!”, exclamam eles, “eis o grande herói

 bíblico! Que grande caráter ele tem!” Também se perguntou várias vezescomo podemos harmonizar essa vergonhosa queda de Davi com adeclaração bíblica de que Deus mesmo o considerou um “homem segundoo meu coração” (1 Sm 13.14; At 13.22).

A resposta a tais críticas e indagações é que devemos levar emconsideração todos os fatos com honestidade e imparcialidade. Vejamos:1.  Devemos observar a vida de Davi como um todo.  Não é justo nem

honesto enfatizar esta mancha no registro de Davi a fim de fazê-la parecero maior fato na vida dele. Os críticos devem lembrar que, se não fosse pelahonestidade da própria Bíblia, este negro episódio poderia muito bem tersido ocultado de nós, e nada saberíamos sobre ele. Assim sendo, devemos

 julgar Davi de acordo com o relato bíblico inteiro,  com toda imparcialidade. Devemos ver sua fé e obediência para com Deus por vários anos,sua retidão geral e generosidade, sua conduta baseada em princípioselevados e aspirações espirituais ardentes, qualidades que o caracterizaram quase sempre em toda sua carreira.

2.  Devemos levar em consideração o arrependimerito de Davi.  Jamaishouve alguém mais abatido e envergonhado pela auto condenação earrependimento santo do que Davi depois de seu pecado. “Acima dequalquer dúvida”, diz Ellicott, “o Salmo 51 é a expressão de sua penitênciadepois da visita de Natã” para repreendê-lo. Quem pode ler então essesalmo de soluços sem compreender que o pecado de Davi era uma exceção e não uma expressão de seus objetivos e desejos habituais? O pecado foicometido num acesso de fraqueza. A contrição mostra a verdadeira atitudedo homem para com tal pecado —e foi a atitude de Deus.

3.  Devemos julgar o caráter de Davi de acordo com sua época. O evangelho cristão e a ética do Novo Testamento não haviam ainda sidoentregues aos homens naquele tempo. Julgado pelos padrões morais deseus dias, Davi sobressai entre seus companheiros; especialmente quandoo comparamos com os reis da época, ele se agiganta. A indulgência sensual

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extravagante dos reis orientais da antigüidade é notória. O poder delessobre a vida e as propriedades dos súditos era com freqüência absoluto.Eles se apossavam das mulheres conforme seus desejos, com poucaconsideração pelos crimes que pudessem cometer para consegui-las.

Compare Davi com esses reis e isto revelará o contraste.4.  Devemos observar a vida interior de Davi revelada nos salmos davídicos.  Nos livros de Samuel e Crônicas vemos a vida exterior  de Davi. Nos salmosdavídicos vemos sua vida interior. Seu coração é completamente expostoe, ao vê-lo desse modo, só podemos chegar a uma conclusão honesta.Muitos dos que criticam Davi e a Bíblia se alegrariam se seus corações

 pudessem ser expostos em termos tão santos. Esses salmos, tocantes em

sua sinceridade evidente, fornecem uma prova positiva de que Davi eraum homem bom —de que ele de fato era, como diz a Escritura, um homemsegundo o coração de Deus. Um general pode perder uma batalha emesmo assim vencer a guerra. Embora uma ou mais batalhas possam ser

 perdidas, até vergonhosamente, o resultado da campanha inteira pode sera vitória. Isto se aplica aos homens num sentido moral; no caso de Davi, ahistória de sua vida em seu todo, apoiada pelo nobre testemunho de seussalmos, mostra decididamente que, apesar de algumas derrotas e de umaqueda notória e triste, o resultado final veio a justificar o pronunci amentode que ele era um homem que agradava a Deus.

A nosso ver, qualquer das considerações acima é suficiente para justificar a avaliação bíblica de Davi e, quando tomadas em conjunto, elasse tornam conclusivas. Veja também a nota sobre Davi no início desteestudo. Se os críticos continuarem  objetando, porém, poderemos nosapoiar no fato de que, quando Davi foi declarado um homem segundo ocoração de Deus, ele se achava apenas na casa dos vinte anos. Com certeza,

 porém, nenhuma apreciação de Davi poderia exigir que limitássemos as palavras à sua juventude; quanto a nós, não faremos isso. Com todos osfatos à nossa frente, concordamos plenamente com o veredicto de quetemos em Davi um dos homens mais santos de toda a era pré-cristã. Comodisse Agostinho, a queda de Davi deveria pôr em guarda todos os que não caíram e salvar do desespero todos os que caíram.

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 Lições notáveis

Observe agora algumas lições notáveis ligadas ao pecado de Davi. Em primeiro lugar, observe a honestidade e a fidelidade  das Escrituras aoregistrarem um incidente tão negativo. Se a tarefa de escrever a Bíbliativesse sido deixada simplesmente em mãos humanas, ela não conteria umcapítulo desse tipo. A culpa de Davi é exposta sem o menor esforço paraatenuá-la e muito menos retirá-la. Existe uma autenticidade severa namaneira como a Bíblia lida com os personagens humanos. Diz o Dr.Edersheim: “Não é necessário salientar que estes relatos autênticos dos

 pecados dos heróis bíblicos provam a veracidade e credibilidade dasnarrativas bíblicas, em contraste com as histórias fictícias que procuramdiminuir as falhas dos personagens bíblicos ou até mesmo negar sua culpa.O Talmude  nega o adultério de Davi com base na idéia de que todoguerreiro tinha de se divorciar da mulher antes de partir para o campo de

 batalha. Bate-Seba seria então livre”.Observe igualmente que a queda de Davi ocorreu quando ele se achava 

em conforto e ociosidade. Todos os seus inimigos haviam sido esmagados.A pressão dos perigos que o mantiveram em espírito de oração havia

desaparecido. Ele achava que não valia a pena seguir pessoalmente comos exércitos a fim de conquistar a última fortaleza dos amonitas; entãoenviara Joabe como comandante (veja 11.1). Não imaginamos quantodevemos a essas circunstâncias aparentemente difíceis, das quaisdesejamos livrar-nos, mas que são o meio usado por Deus para nos manterorando. A prosperidade e o conforto são sempre perigosos, e jamaisficamos tão expostos à tentação do que quando estamos inativos.

 Note ainda que o pecado de Davi foi o clímax de um processo. Como regrageral, as quedas violentas como a de Davi não ocorrem sem serem

 precedidas por um processo de enfraquecimento. Davi dera lugar àsensualidade, convivendo com muitas mulheres (2 Sm 5.13); este era umcomportamento expressamente proibido aos reis de Israel, como vemosem Deuteronômio 17.17. Por ser um homem de paixões fortes, segundosua própria natureza, Davi cedera lugar à carne, e então veio a tragédia.

Como precisamos nos guardar contra os primeiros golpes do pecado! VejaTiago 1.14,15.

Vemos novamente como o pecado de Davi levou a outra falha ainda pior. Ele procurou inutilmente ocultar seu crime. Urias, o marido traído de

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Bate-Seba, foi induzido a beber para que, sob a ação da bebida, se tornassesuficientemente irresponsável e, assim, pudesse ser dito mais tarde que ofilho de Bate-Seba era seu (2 Sm 11). Mas este estratagema vergonhosofalhou pelo comportamento nobre de Urias que, além de ser um dos

“valentes” de Davi (2 Sm 23.39), foi um de seus mais retos e leaisdefensores. Depois disso, Davi (que ficara chocado quando Joabe matouAbner) tornou Joabe seu cúmplice no pecado e mandou matar Urias!Como um único pecado pode forjar uma terrível cadeia de iniqüidades!Se cairmos no pecado, a única medida segura é a confissão e a restituição.

Observe de novo que o pecado de Davi resultou em anos de sofrimento. Incesto, fratricídio, rebelião, guerra civil, intriga, revolta — todas essas

coisas estão ligadas ao pecado de Davi. Que triste colheita o pecado produz! O erro de Davi foi perdoado, mas suas conseqüências não forameliminadas. A sentença divina sobre Davi, em 12.11: — “Assim diz oSenhor: Eis que da tua própria casa suscitarei o mal sobre ti, —fornece aexplicação para o restante da história de Davi, tão conturbada e infelizquanto fora feliz e bem-sucedido o começo de seu reinado.

Deixemos que o aluno faça um estudo independente dos capítulos finais

de 2 Samuel. Em geral, são tristes, mas contêm toques de beleza e estímuloaqui e ali, sendo também repletos de lições proveitosas.Quando pensamos no terrível pecado de Davi, seu remorso e aba

timento e sua aflição comovente que lhe proporcionaram absolvição daculpa do pecado mas não puderam eliminar as conseqüências, somoslembrados das palavras escritas há muitos anos por Studdart Kennedy, umrenomado padre inglês da Segunda Guerra Mundial. Em um artigo sobre

o pecado de Judas, ele diz:“Por que fiz isso? Como pude agir desse modo? Essas podem ser as perguntas mais amargas e trágicas que homens e mulheres fazem a simesmos. Algo feito que não pode ser desfeito, algo final e irrevogável, eo homem olha para aquilo e não pode acreditar que o tenha cometido, não pode ver-se ali e, no entanto, sabe que o praticou e que a culpa será sua para sempre.

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Judas deve ter olhado assim para Cristo,Quando este saiu do tribunal de condenação,Algemado e com o sangue ainda úmidoem suas costas. Por que fiz isso?Como pude fazê-lo? Eu O amava,

Todavia O vendi. Como isso pode acontecer?O que sou —traidor —admirador —amigoOu o diabo encarnado? Estou louco?Sim, louco —completamente alucinado — minha razão vacila.Essas moedas estão manchadas de sangue — Ajuda-me, Jesus! Não queria praticar esse ato. Sangrentas,Úmidas e sangrentas —elas queimam —estão quentes.Quentes como o inferno. Não posso suportar.Eu não sou eu. Sou uma coisa condenada,Coisa medonha vomitada pelo inferno.Eu sou —e devo matá-la —agora.

 Não posso viver —ela deve voltar Para o inferno —devo —não vê-lO jamais,

Jamais —Senhor, misericórdia! A morte — Devo buscar a morte.

O arrependimento e o remorso são fatos humanos, fatos peculiarmentehumanos. Esta cena não poderia aplicar-se a qualquer outra criatura quenão o homem. Poderia ser verdadeira em relação a você ou a mim. Pessoascomuns podem sentir-se assim, e realmente se sentem. Já as vi, sentei-mecom elas, tentei confortá-las. Já as ouvi, murmurando repetidamente:Como pude fazer isso? Como pude fazer isso?

Um homem não pode ser verdadeiramente livre, a não ser que se rendacompletamente e sem reservas ao serviço do Altíssimo. Os verdadeirostiranos que restringem e limitam o ser humano são os seus próprios desejosindisciplinados e desorganizados. Ele não pode ser livre, exceto através d aorganização interior de suas paixões; sem isso, a única liberdade que

 possui é a de enforcar-se. Todavia, por mais corda que lhe seja dada, é

exatamente para isso que irá usá-la no final, a não ser que tenha algumgrande objetivo e propósito que dê significado e unidade à sua vida. Seuma pessoa tiver esse alvo ou propósito e seus desejos forem organizadose disciplinados em relação a ele, quando agir então contra esse objetivo,

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quando esquecê-lo e seguir alguma paixão desviada e rebelde, passará a perceber seu pecado. Ela saberá que há alguma coisa terrível, mortal, emsua palavra ou ato. Não se trata apenas de uma tolice, um erro, um pecadocontra si mesmo ou seu próximo, mas de uma negação de todo o significado

do mundo. É um pecado contra seu Deus.”

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O PRIMEIRO LIVRO DOS REIS(D

Lição N2 32

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 NOTA: Para este estudo, leia todo o Primeiro Livro dos Reis e duasvezes os oito primeiros capítulos.

Como foi mencionado, os dois Livros dos Reis eram originalmente umsó (veja nossa introdução a 1 Samuel). Eles foram divididos em dois pela

 primeira vez pelos tradutores da Septuaginta, no século terceiro a. C., eesta divisão foi seguida em todas as versões posteriores. Os livros têm

início com a ascensão de Salomão ao trono e terminam com a destruiçãode Jerusalém. No começo, o templo é construído. No final, ele é queimado.Juntos, os dois livros cobrem um período de cerca de quatrocentos anos.Quando à sua autoria, os estudiosos não têm dúvida de que “a linguagemdos dois livros” e sua “unidade de propósito” indicam um “único autor”.Quem então os escreveu? A tradição judaica diz que foi o profetaJeremias. Esta tradição não pode ser aceita como conclusiva nem pode ser

refutada com facilidade. Na verdade, há muito a seu favor. É claro queJeremias teria usado documentos já existentes (1 Rs 11.41; 14.29 etc.)  e,depois, os redatores teriam feito contribuições menores para o a

 perfeiçoamento final da obra; substancialmente, porém, o trabalho é deum autor único, provavelmente Jeremias, quando idoso. Examinemosagora o primeiro desses dois livros dos Reis.

J. S. B.

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O PRIMEIRO LIVRO DOS REIS (1)

q u a n t a   glória e quanta tragédia se encontram na história que seestende à nossa frente nos livros dos Reis! Que verdades intensamenteespirituais e prognósticos proféticos também podem ser discernidosnesses registros! O esplendor do reino de Salomão e a construção dotemplo prefiguram a glória e a adoração do reino vindouro de Cristo sobrea terra. Os ministérios de Elias e Eliseu contêm grande riqueza designificados espirituais e valores tipológicos latentes. Seria fácil

estender-nos sobre temas tão férteis, mas nosso propósito aqui ésimplesmente apresentar a idéia geral e a essência desses registros, como

 base para outros estudos.

O livro da ruptura

Ao gravar mentalmente os livros da Bíblia, será útil nos lembrarmos decada um deles por seus aspectos distintos. Ajudará, portanto, se nos lem brarmos sempre deste Primeiro Livro dos Reis como sendo o livro da ruptura, indicando com isso que ele registra a divisão em dois do reinounido —sobre o qual Saul, Davi e Salomão governaram —que serão daqui por diante conhecidos como  Israel  e  Judá.  O reino de Israel, com preendendo dez tribos, torna-se o reino do norte,  enquanto o de Judá,

abrangendo Judá e Benjamim, torna-se o reino do sul. No reino do norte(Israel), a capital passa a ser Samaria. No reino do sul (Judá), Jerusalém  perm anece como capital. Portanto, este é o aspecto central de 1 Reis: adivisão do reino unido em dois.

Este Primeiro Livro dos Reis divide-se em duas partes principais tãoevidentes que não precisariam ser indicadas. Há 22 capítulos. Os onze

 primeiros são dedicados a Salomão e seu esplêndido reinado de 40 anos.

Os últimos onze capítulos cobrem aproximadamente os primeiros 80 anosdos reinos de Israel e Judá depois da separação. Os versículos finais docapítulo 11 registram a morte de Salomão, marcando assim as duasdivisões do livro. Nos onze primeiros capítulos temos o reino unido.Depois disso vem a divisão ou separação, e nos onze capítulos seguintes

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vemos o que acontece com as duas linhagens de reis.A mensagem espiritual básica de 1 Reis é indiscutível: I N T E R R U P Ç Ã O  

P O R C A U S A D A D E S O B E D IÊ N C I A . Isto se vê no capítulo 11, que marca otrágico ponto crítico e prediz a ruptura iminente, tornando-se assim a

explicação de toda a história: “Por isso disse o Senhor a Salomão: Vistoque assim procedeste e não guardaste a minha aliança, nem os meus  estatutos que te mandei,  tirarei de ti este reino, e o darei a teu servo.Contudo não o farei nos teus dias, por amor de Davi, teu pai; da mão deteu filho o tirarei. Todavia não tirarei o reino todo; darei uma tribo a teufilho, por amor de Davi, meu servo, e por amor de Jerusalém, que escolhi”(11.11-13).

O PRIMEIRO LIVRO DOS REIS

O LIVRO DA RUPTURA

INTERRUPÇÃ O POR CAUSA DA DESOBEDIÊNCIA

I. O GRANDE REINADO DE QUARENTA ANOS DO REISALOMÃO (1-11)

A S C E N S Ã O D E S A L O M Ã O E P R I M E IR O S A T O S ( 1-4 )

C O N S T R U Ç Ã O D O T E M P L O E D O P A L Á C IO D E S A L O M Ã O (5 -8 ) 

A U G E D A F A M A E D A G L Ó R I A D E S A L O M Ã O (9-10)

D E C L Í N I O E M O R T E D E S A L O M Ã O (1 1.1 -4 3)

II. OS PRIMEIROS OITENTA ANOS DOS DOIS REINOS (12-22)A S C E N S Ã O D E R O B O Ã O : A R U P T U R A (1 2.1-3 3)

R E IS D E J U D Á - R O B O Ã O A JO S A FÁ (13-22)

R E IS D E I S R A E L - J E R O B O Ã O A A C A Z I A S (13-2 2)

M I N IS T É R IO D O P R O F E T A E L IA S E M I S R A E L (1 7-2 2)

O rei SalomãoA figura de Salomão é surpreendente em três aspectos: histórico,

 pessoal e tipológico. Numa visão histórica,  seu interesse especial está no fato de ele re

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 presentar o período de maior prosperidade de Israel como reino. Seureinado marca a época mais esplêndida e rica da história dos hebreus. Nãoresta qualquer dúvida: mesmo uma leitura superficial dos capítulos 9 e 10mostra-nos que as riquezas de Salomão e a abundância em Israel naqueles

dias eram tamanhas que se tornaram verdadeiras maravilhas. “Salomãoem toda a sua glória” veio a ser o símbolo clássico da opulência real. Alémdisso, porém, Salomão é de interesse histórico por ser o último a governarsobre o reino unido. Como já vimos, foi por causa da desobediência do

 próprio Salomão que se deu a ruptura, e não haverá jamais um rei sobreo reino judeu unido até que Cristo volte como Filho e Senhor de Davi.

 No aspecto pessoal, Salomão é sem dúvida uma  figura notável, embora

não seja fácil avaliar realmente seu caráter. Sua sabedoria acima do normalfez dele um prodígio para todos os povos vizinhos. Sua oração quando otemplo foi dedicado revela uma elevada capacidade espiritual. Suaadministração bem-sucedida no governo mostra sua habilidade mentalsuperior. No que se refere à santidade pessoal, porém, há certa hesitação,uma falta de vigor moral. Sentimos que não existe aquele esplendor de paixão altruísta que caracterizava a piedade de Davi. Apesar de Salomão

 jamais ter cedido à desobediência impetuosa e arrogante como fez Saul,ele não demonstrou também uma devoção fervorosa a Deus como Davidemonstrara. Se escapa parcialmente da condenação de Saul, não chega areceber a aprovação concedida a Davi.

Mas o interesse histórico e pessoal de Salomão é ultrapassado pelo seusignificado tipológico. Da mesma forma como Davi, ele é um dos maiorestipos de Cristo no Antigo Testamento e, como Davi, tipifica Cristo em Seu

reino ainda futuro sobre a terra. Alguns vêem uma diferença interessantena maneira como Davi e Salomão tipificam o reino vindouro de Cristo.Davi é o tipo do reino milenar  de Cristo, ou seja, Seu reinado de mil anossobre a terra como o Filho maior de Davi, sobre a casa de Israel restauradae reunida. Salomão é o tipo do reino /ra.v-milenar de Cristo, que Paulochama de “dispensação da plenitude dos tempos”, quando Cristo irá reinarnaquela “nova Jerusalém” que descerá “do céu, da parte de Deus”. Não

iremos tratar desse assunto aqui (mas veja a nota que precede a próximalição).

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O templo (5-8)

Mostramos que este Primeiro Livro dos Reis tem duas partes: os onze primeiros capítulos referem-se inteiramente aos 40 anos do reinado de

Salomão, e os onze capítulos restantes cobrem os primeiros 80 anos dosdois reinos. Queremos destacar agora que cada um desses dois períodostorna-se notável por causa de um fenômeno importante. No primeiro,temos a construção do maravilhoso templo de Jerusalém. No segundo,encontramos o ministério maravilhoso do profeta Elias no reino do norte.Observemos aqui certos aspectos relativos ao templo.

Capítulo 5

O capítulo 5 apresenta os preparativos para o templo. Salomão pede aHirão, rei de Tiro, que lhe envie cedros do Líbano. A madeira nativa emIsrael era o sicômoro (10.27) que, embora útil, era grosseiro e muitoinferior ao cedro do Líbano, de tipo mais duro e compacto. Hirão, rei deTiro, enviara alguns anos antes cedros a Davi (2 Cr 2.3) para a construção

de sua casa real, e Davi sentia-se constrangido por viver em “casa de cedro”enquanto a arca de Deus permanecia numa simples tenda (2 Sm 7.2). Asuperioridade do cedro do Líbano, unida às despesas de mandar buscá-lotão longe, fez dele uma espécie de luxo em Israel, e as casas construídascom esse tipo de madeira eram consideradas mais “finas”.

A comunicação entre Salomão e o rei de Tiro é dada com mais detalhese pontos de grande interesse em 2 Crônicas 2. Salomão “enviou”  sua

mensagem a Hirão, e este “respondeu por escrito”. Havia cortesia deambos os lados. Salomão, que faz o pedido, envia um mensageiro especial

 para transmitir oralmente a mensagem, e Hirão deve responder porescrito a um pedido desse tipo, selando a resposta com o selo real e

 provavelmente devolvendo-a pelo próprio mensageiro de Salomão. Esteé também um exemplo de comunicação escrita da antigüidade.

A mensagem de Salomão a Hirão surpreende pelo testemunho que dá

do Senhor. Precisamos lembrar que Hirão era um idólatra e que Salomão poderia facilmente pensar que seria mais conveniente omitir referênciasao seu próprio Deus, mencionando apenas os detalhes comerciais de seu

 pedido. Veja em Crônicas 2.4-6, porém, suas gloriosas palavras: “Eis queestou para edificar a casa ao nome do Senhor meu Deus... A casa que

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edificarei há de ser grande, porque o nosso Deus é maior do que todos osdeuses. No entanto quem seria capaz de lhe edificar a casa, visto que oscéus e até os céus dos céus o não podem conter?” Este é um nobretestemunho da supremacia e infinitude do Senhor, que náo deixa espaço

 para quaisquer outras supostas divindades; todavia, a mensagem é de realcortesia. Ainda mais notável é a resposta de Hirão que, longe deofender-se, reconheceu o Senhor nestas palavras: “Bendito seja o SenhorDeus de Israel, que fez os céus e a terra\  que deu ao rei Davi um filho sábio,dotado de discrição e entendimento, que edifique casa ao Senhor, e parao seu próprio reino” (2 Cr 2.12).

Estas foram as exigências feitas por Salomão ao rei de Tiro: “Manda-me,

 pois, agora um homem que saiba trabalhar em ouro, em prata, em bronze,em ferro, em obras de púrpura, de carmesim e de azul; que saiba fazerobras de entalhe juntamente com os peritos que estão comigo em Judá eem Jerusalém, os quais Davi meu pai empregou. Manda-me tambémmadeira de cedros, ciprestes e sândalo do Líbano; porque bem sei que osteus servos sabem cortar madeira no Líbano. Eis que os meus servosestarão com os teus” (2 Cr 2.7, 8). Salomão pediu então um especialista

em arquitetura e projetos, hábeis entalhadores e cortadores, e um grandesuprimento de vários tipos de madeira. O pagamento seria feito com produtos agrícolas, como descrito em 2 Crônicas 2.10.

Tudo isto concorda com o que sabemos sobre a Fenícia e Israel naquelestempos. O país dos fenícios, onde reinava o rei Hirão, estendia-se ao longoda costa do Mediterrâneo, e seus habitantes eram mercadores com poucotempo para a agricultura. O território era limitado e inadequado para

suprir as necessidades de suas grandes e populosas cidades. Mas o reinode Salomão, situado no interior, era rico em frutas e cereais diversos, podendo suprir perfeitamente outros povos além do seu.

Os últimos versículos do capítulo 5 dizem-nos que Salomão formou umgrupo de trinta mil homens, empregando-os em turmas de dez mil por mêsno Líbano, de modo que cada homem trabalhava quatro meses em doze,com folga de dois meses em casa entre os turnos — uma proporção bem

razoável. Além desses, Salomão tinha setenta mil transportadores eoitenta mil cortadores nas montanhas. Esses trabalhadores braçais nãoeram israelitas, mas cananeus (veja 2 Cr 2.17, 18), e havia 3.300 chefessobre eles. Esses números perfazem um enorme total de mais de 183.000 

 pessoas!  Podemos começar a perceber assim a magnitude do em

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 preendimento.O capítulo 5 termina com estas palavras: “Mandou o rei que trouxessem

 pedras grandes  e  pedras preciosas,  e  pedras lavradas  para fundarem acasa...” Essas grandes pedras de alicerce existem até hoje, sendo agoraconhecidas como “Haram-esh-Sheref”. Sobre elas foi edificada aMesquita de Omar. Algumas dessas “pedras grandes” têm de 5 a 5,5metros de comprimento; outras têm mais de 7 metros de comprimento e2,5 metros de largura, e de 90 centímetros a 1,2 metros de espessura. Umadelas chega a ter 11,5 metros de comprimento! Certo relatório diz: “Estagrande pedra é uma das mais interessantes do mundo, pois trata-se da

 pedra angular principal da parede maciça do templo. Fixada em sua posição permanente há três mil anos, ela continua ali, firme e segura”. Não pode haver dúvida de que esses blocos imensos datam da época deSalomão. Decifradores verificaram recentemente que os sinais dosartesãos sobre elas são dos fenícios  —dos quais, como a Escritura nos diz,Salomão pediu e recebeu material desse tipo para o templo. Quandoconsideramos o tamanho e o peso dessas “grandes pedras”, e refletimosque elas tiveram de ser transportadas de muito longe até Jerusalém, pormeio de carros puxados por bois, só podemos nos maravilhar.

Capítulos 6-8 

 No capítulo 6 vemos as dimensões, os materiais e a construção dotemplo. As informações com respeito a cada parte descrita, embora exatase detalhadas, não permitem que os estudiosos concordem quanto à

aparência e arquitetura externa do edifício. O plano básico, porém, émuito claro, e suas medidas são exatamente o dobro das do tabernáculo.Este tinha 60 côvados de comprimento por 20 de largura. O comprimentodividia-se em duas partes, sendo uma o Lugar Santo, com 40 côvados, e aoutra o Santo dos Santos, com 20 côvados. Havia na frente do edifício um

 pórtico com a mesma largura do prédio (20 côvados) e 10 côvados de profundidade. Este pórtico fazia, portanto, com que o comprimento do

templo chegasse a 70 côvados (excluindo a espessura das paredes). Nosdois lados do templo e em sua parte posterior, havia pequenoscompartimentos construídos contra as paredes, do lado de fora, para usodos sacerdotes. Eles eram construídos ao longo das paredes, em trêsandares sobrepostos de tal modo que as vigas de madeira desses cômodqá

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não precisassem ser fixadas nas paredes do edifício sagrado; as paredes dotemplo foram feitas com saliências sobre as quais as vigas ou tábuas

 podiam repousar. A largura desses cômodos, acrescida da espessura das paredes, soma dez côvados a cada lado do templo e à parte de trás; de

maneira que o comprimento total é de 80 côvados e a largura 40 côvados.Vemos então que o templo de Salomão não era muito grande. O côvadomede cerca de 45 cm, de maneira que um prédio de 80 côvados decomprimento por 40 de largura teria 36 por 18 metros. Isto indica que otemplo de Salomão era bem pequeno comparado com algumas de nossasigrejas; este fato pode surpreender-nos e até decepcionar-nos. Devemos

 porém lem brar que, em vista do propósito do templo, jamais foi pretendido que seu tamanho fosse imponente. Ao contrário de nossasigrejas  modernas, feitas para acomodar congregações, o templo não  foiconstruído para reunir pessoas. A congregação não se reunia dentro dele,mas adorava voltando-se em direção a ele, como sendo a casa de Deus. Erao lugar da presença divina e dos sacerdotes que ministravam perante elae para mais ninguém. Neste sentido, ele se assemelhava aos templosegípcios e outros templos da antigüidade. Visto sob este aspecto, qualquersurpresa quanto à aparente insignificância de seu tamanho desaparece.

 Nas palavras do Dr. Kitto: “A importância do templo de Salomão, quefomos levados a considerar como uma das maravilhas do mundo antigo,não consistia em seu tamanho, mas na natureza complexa, dispendiosa ealtamente decorativa de todo seu interior e mobiliário; também nonúmero, extensão, grandiosidade e enorme trabalho de alvenaria dos

 pátios, câmaras, paredes e torres que havia nele. Não é de fato demaissupor que essas construções externas, formando o anel em que a gema

 preciosa do templo se achava engastada, tivessem custado tanto quanto oedifício sagrado em si, pela imensa quantidade de ouro aplicada”.

 Não podemos falar aqui da primorosa ornamentação do interior, masqueremos simplesmente chamar atenção para o fato notável de que todoele era “coberto de ouro puro”  (v. 21). Não se tratava de uma simplesdouração, mas de verdadeira cobertura,  de cuja arte ainda nos restamexemplares abundantes preservados desde aqueles tempos. Os entalhes

decorativos foram primeiro feitos em madeira de cedro, formando a base do enfeite que aparecia na superfície de ouro. A quantidade de ouro gastano interior e no mobiliário do templo deve ter sido enorme. E bomlembrar, no entanto, que nos dias de Salomão o ouro não representava

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dinheiro. Não era um meio de troca, um padrão de valor, como acontecehoje. A prata era o padrão de valor, sendo bastante provável que Salomãotivesse comprado ouro com prata. Devemos entender claramente que oouro era usado para trabalhos ornamentais, mas não como dinheiro; assim,

de acordo com observações já feitas, o ouro utilizado no templo deSalomão não representa o custo monetário envolvido, mas a quantidadereal do metal empregado.

 Não podemos nos deter aqui com os dois belíssimos querubins de ouro(cada um com 4,5 metros de altura), nas colunas de bronze (cada uma com8 metros de altura), no pórtico dianteiro (que era mais alto que o restantedo edifício), no mar de fundição, nas pias, candelabros, mesas, utensílios

e outros equipamentos interessantes do templo. Tudo isto deve serestudado cuidadosamente com a ajuda de um bom comentário. Queremos,no entanto, mencionar três pontos.

Primeiro, lemos que Salomão fez janelas estreitas para o templo (6.4),e pode-se ficar indagando como tais janelas seriam possíveis, se havia trêsandares de cômodos construídos contra o exterior das janelas do templo.A resposta é que esses três andares juntos tinham apenas 15 côvados de

altura (6.10), enquanto o templo tinha30

 côvados de altura (6.2). Assimsendo, mesmo acrescentando espaço para o assoalho e teto desses trêsandares de cômodos, havia um amplo lugar para as janelas, na parte decima. Naturalmente, elas não eram envidraçadas, mas cobertas de treliçasadornadas, que era então a maneira comum de vedar tais janelas.

Segundo, o primeiro versículo do capítulo 7 diz: “Edificou Salomão osseus palácios, levando treze anos para os concluir”. Um a vez que o templosó levou sete anos, poderia parecer egoísmo por parte de Salomão o fatode ele levar mais seis anos para construir sua própria casa; iremos, porém,fazer injustiça a ele se pensarmos desse modo. Não existe idéia de contraste entre as últimas palavras do capítulo 6 (que declaram ter Salomão levadosete anos para construir o templo) e as primeiras do capítulo 7. Os prédiosdo palácio  eram muito maiores e o empreendimento, mais vasto; nãohouvera também qualquer preparo de materiais para esses edifícios comoacontecera com o templo, e provavelmente um número menor detrabalhadores foi empregado. Além disso, o fato de Salomão tercompletado a casa do Senhor antes de começar a sua é um ponto a seufavor.

Terceiro, não devemos esquecer aparte de Davi no templo. Embora não

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tivesse tido permissão para construí-lo e apesar de saber que morreriaantes de sua construção, por sua generosidade característica começou afazer os preparativos necessários. Ele parece ter-se encarrregado dessatarefa com tanto zelo quanto teria se lhe coubesse edificar o templo. Em

1 Crônicas 22.2-5 lemos: “Deu ordem Davi para que fossem ajuntados osestrangeiros que estavam na terra de Israel; e encarregou pedreiros que

 preparassem pedras de cantaria para se edificar a casa de Deus. AparelhouDavi ferro em abundância, para os pregos das folhas das portas, e para as

 junturas, como também bronze em abundância, que nem foi pesado.Madeira de cedro sem conta, porque os sidônios e tírios a traziam a Daviem grande quantidade. Pois dizia Davi: Salomão, meu filho, ainda é moço

e tenro, e a casa que se há de edificar para o Senhor deve ser sobremodomagnificente, para nome e glória em todas as terras; providenciarei, pois, para ela o necessário; assim o preparou Davi em abundância antes de suamorte”. Como esta linguagem e comportamento generosos sãocaracterísticos de Davi! No versículo 14 do mesmo capítulo observamosque ele também deixou para o templo “cem mil talentos de ouro e ummilhão de talentos de prata e bronze e ferro em tal abundância que nem

foram pesados”.Além disso, numa passagem notável (1 Cr 28.10-19), descobrimos queDavi igualmente deixou para Salomão plantas e modelos para o templo,afirmando tê-los recebido de Deus (w. 12, 19). Também deixou paraSalomão bons amigos que se dispuseram a ajudá-lo. Um deles foi Hirão,rei de Tiro, que, segundo lemos, “sempre fora amigo de Davi” (1 Rs 5.1)e ajudou Salomão por causa de Davi.

Existe algo de nobre e tocante, assim como de trágico, nos preparativosentusiásticos de Davi para o templo que jamais teria oportunidade de ver.Possamos nós ser assim tão pouco egoístas para com aqueles que virãodepois de nós! Que Deus nos ajude a deixar para nossos filhos o materialmoral  para a construção de suas vidas como templos vivos! Possamosdeixar para nossos filhos os padrões que recebemos de Deus e também

 bons amigos que possam ajudá-los com sabedoria quando já tivermos

 partido!

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O PRIMEIRO LIVRO DOS REIS(2)

Lição N2 33

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 NOTA: Para este novo estudo em 1 Reis, releia do capítulo 1 ao 4 e do9 ao 11.

Homero foi traduzido para cerca de vinte idiomas. Shakespeare foitraduzido para cerca de quarenta. Deixando de lado os demais, pelo quesei existem dois livros que passaram de cem traduções. Essas obras são:

“O Peregrino”, de John Bunyan, e “Imitação de Cristo”, de Thomas àKempis. Os únicos dois que alcançaram um número de três algarismos baseiam-se na Bíblia. Eles têm origem na Bíblia, nasceram dela... A Bíbliainteira, ou parte dela, foi traduzida para pouco mais de mil línguas faladas.

G . C A M P B E L L M O R G A N

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O PRIMEIRO LIVRO DOS REIS (2)

SALOMÃO: SUA ASCENSÃO, SABEDORIA, GLÓRIAE FRACASSO

A ascensão de Salomão (1-2)

S A L O M Ã O era muito jovem quando subiu ao trono. Ele próprio disse:“Não passo de uma criança” (3.7). Eusébio declara que ele tinha 12 anos.Josefo diz que tinha 15. Podemos afirmar com segurança que não passavados 20. Sua ascensão precoce foi precipitada por uma conspiração deAdonias, o filho mais velho de Davi, ainda vivo, e que aspirava ao trono.Adonias aparentemente julgou poder aplicar seugolpe de estado com baseem três coisas: o enfraquecimento de Davi, por causa da idade, adesqualificação de Salomão, em vista de sua imaturidade, e sua própriaqualificação como filho favorito de Davi e dono de uma personalidadeatraente (1.6). Ele foi apoiado por Joabe, comandante do exército, e porAbiatar, chefe dos sacerdotes, ambos provavelmente procurando servir aseus próprios interesses — Joabe para m anter seu comando comoacontecera no reinado de Davi, e Abiatar para expulsar seu rival, Zadoque.

O estratagema, porém, não surtiu efeito devido às providênciasimediatas tomadas pelo profeta Natã, que obteve e depois proclamou ovoto solene do idoso Davi, no sentido de indicar Salomão como seusucessor. A culpa de Adonias é vista em sua confissão, ocorrida logodepois, de que ele sabia que o reino era de Salomão, da parte “do Senhor” (2.15).

Veja o capítulo 2. Ele trata das instruções dadas a Salomão por Davi, pouco antes da morte deste. Enquanto a primeira parte é bastante nobree profunda, a outra contém certos aspectos medonhos que podem parecer

estranhos a um leitor moderno. Davi falou a respeito de Joabe: “... não permitas que suas cãs desçam à sepultura em paz” (2.6). Suas palavrassobre Simei foram: as suas cãs desçam à sepultura com sangue” (2.9).Mas, se essas palavras do moribundo Davi forem interpretadas comoexpressão de um espírito vingativo, há muito engano nessa opinião. A

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atitude pessoal de Davi para com Joabe e Simei já fora demonstrada. Elehavia sido generoso por anos, tolerando a Joabe, e já perdoara a maldiçãode Simei. Suas palavras no leito de morte a respeito deles foram

 pronunciadas do ponto de vista do dever público e não por vingança

 pessoal.Veja as obrigações de Israel: “Não aceitareis resgate pela vida dohomicida, que é culpado de morte: antes será ele morto...  Assim não 

 profanareis a terra em que estais; porque o sangue profana a terra;nenhuma expiação se fará pela terra por causa do sangue que nelaxforderramado, senão com o sangue daquele que o derramou” (Nm 35.3;í f è í '^“não olharás com piedade, antes exterminarás de Israel a culpa/tíf^aiígije

inocente, para que te vá bem” (Dt 19.13). Joabe assassinara^kW gíjk friotanto Abner como Amasa, estando portanto sob cu 1p a v i a agoramais de 30 anos desde que matara Abner, mas j© / ̂ êi^ts nessa ocasiãoDavi estivera com certeza pensando nas pafawáã x^wjâjvina de Israel,quando disse: “Inocente sou eu, e o meu remosN^Vcom o Senhor, parasempre, do sangue de Abner, filho de Ner^Caia)aste sangue sobre a cabeçade Joabe e sobre toda a casa de-^eu(g^ir''(2 Sm 3.28, 29). Como rei

teocrático, Davi era responsável$e4a\nanutenção da lei divina, e é istoque está por trás de sua < Jem a Salí não . Conforme afirmou o Dr. J. L.Porter: “No final de sua vijqâTwavi percebeu que havia negligenciado estedever imperioso. QÍVe^^rContrava-se em perigo. A vingança divina

 pendia s o b r^ le y C \V \ estava muito fraco para executar a lei, à beira damorte. ComBVvvesfe n ;ante do Legislador e Juiz divino, porém, ele

 pronuncjejíi 1 í^Mnça sobre os criminosos e ordenou a seu herdeiro e

sucess5r^\ |^executasse. Não há qualquer idéia de ‘vingança a sangue\ N A ja^/nas sim de rigorosa justiça, embora um tanto tardia”. N O m ais triste em relação à sentença dada por Davi a Joabe é que este. V ^òu pelo sangue de Abner só muito mais tarde, sendo punido por aqueles a quem servira com tanta lealdade e sucesso.  O pior de tudo é que Davihavia usado justamente esse homem, Joabe, como seu cúmplice na mortede Urias! E de lamentar que Davi tivesse descido à sepultura com tal peso

em sua consciência. No caso de Simei, houve traição  acrescida de blasfêmia  — ele havialançado uma maldição sobre o “Ungido do Senhor”. Salomão não deveriaconsiderá-lo completamente purificado desse crime duplo. Simei era

 perigoso e não estava acima de suspeitas. Davi visava a segurança do reino

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de seu filho e, além disso, suas palavras devem ser lidas tendo em vista oque ocorreu depois entre Salomão e Simei. Este, na verdade, deveria tersido morto anos antes, e a clemência de Davi para com ele deveria terdespertado lealdade —o que não aconteceu.

A sabedoria de Salomão (3-4)

A oração de Salomão pedindo sabedoria, em vez de riqueza, poder elongevidade, é uma passagem belíssima (3.5-15). Ela revela que o jovemrei  já possuía  um bom grau de maturidade, pois o fato de ter  pedido  

sabedoria acima de tudo já era um sinal de sabedoria. Em nenhuma outracoisa sua sabedoria precoce é vista mais claramente do que em sua decisãode pedir mais sabedoria. Todavia, sem diminuir nossa apreciação da nobreescolha feita aqui por Salomão, é importante entender claramente o tipo de sabedoria que ele buscou e com a qual veio a ser sobrenaturalmentedotado; pois, a não ser que compreendamos  isto, acharemos difícil conciliar sua sabedoria com a insensatez posterior.

As próprias palavras de Salomão indicam que, ao pedir sabedoria, elenão queria dizer sabedoria espiritual  — aquele discernimento das coisasdivinas que só vem através da regeneração e santificação e de umacomunhão íntima com Deus, ou aquela sabedoria de que Paulo fala no Novo Testamento. Não; nesse tipo de sabedoria, Salomão está bem abaixode seu pai Davi. A sabedoria buscada por Salomão — e que lhe foiconcedida sobrenaturalmente — foi critério administrativo, julgamento

 perspicaz, conhecimento intelectual, aptidão para adquirir tal conhecimento, sabedoria prática no controle dos assuntos do reino.  Neste tipode sabedoria, ele ultrapassou até mesmo os renomados filósofos de suaépoca, como lemos em 4.29-34:

“Deu também Deus a Salomão sabedoria, grandíssimo entendimento e larga inteligência como a areia que está na praia do mar. Era a sabedoria de Salomão maior do que a de todos os do Oriente e do que toda a sabedoria dos egípcios. Era mais sábio do que todos os homens, mais sábio do que Etã, ezraíta, e do que Hemã, Calcol e Darda, filhos de  Maol; e correu a sua fama por todas as nações em redor. Compôs três mil provérbios, e foram os seus cânticos mil e cinco. Discorreu sobre

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todas as plantas, desde o cedro que estã no Líbano até ao hissopo que brota do muro; também falou dos animais e das aves, dos répteis e dos 

 peixes. De todos os povos vinha gente a ouvir a sabedoria de Salomão, e também enviados de todos os reis da terra que tinham ouvido da sua 

sabedoria”.

Para o povo em geral, a primeira evidência da profunda percepção do jovem rei foi sua decisão no caso das duas jovens mães que queriamreclamar seus direitos sobre a mesma criança (3.16-28). A maneira comoSalomão tratou desse caso é de fato surpreendente. As dúvidas comrelação à sua imaturidade foram desse modo dissipadas. O povoreconheceu nele uma sabedoria que superava em muito sua pouca idade.Sem dúvida, a sabedoria de Deus estava nele. A partir de então, Salomãorecebeu a confiança e veneração de todo seu povo.

A glória de Salomão (9-10)

O final da construção do templo e do palácio marcam os primeiros vinteanos do reinado de Salomão (veja 9.10). Os últimos vinte são tratados

 brevemente nos capítulos 9-11. Os capítulos 9 e 10 marcam o período doapogeu. Sua descrição eloqüente quase não exige comentário aqui. Elesnão deixam qualquer dúvida quanto ao esplendor material da época. Orelato das riquezas e opulência de Salomão (10.14-29) é um parágrafoassombroso, e quando lemos que Salomão fez com que a prata se tornassetão comum quanto as pedras de Jerusalém, é bom lembrar que a prata, enão o ouro, era o dinheiro naqueles dias!

A visita da rainha de Sabá (10.1-13) causa um interesse específico, e agenerosidade de Salomão para com ela se torna uma belíssima ilustraçãoda liberalidade do Rei celestial  para conosco. Em 10.13 lemos: “O reiSalomão deu à rainha de Sabá tudo quanto ela desejou e pediu, afora tudoo que lhe deu por sua generosidade real”. Maravilhada, a rainha rendeu-seaos tesouros desejáveis que contemplou. Com típica apreciação feminina,

ela simplesmente não conseguiu resistir ao desejo de pedir isto e aquilo,até que finalmente se encontrou no dilema de ver muito mais coisas quequeria, sem poder cometer a indelicadeza de continuar pedindo! Salomão,

 porém, leu seu coração e deu-lhe não só tudo o que pediu, mas também

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tudo o que pensou, acrescentando ainda a isso sua “generosidade real”.Vejamos então as três medidas da liberalidade de Salomão aqui: (1) tudoo que ela P E D I U ; (2) tudo o que ela P E N S O U (desejou); e (3) aG E N E R O S I D A D E real de Salomão.

Com isto em mente, leia Efésios 3.20: “Ora, àquele que é poderoso parafazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos, ou pensamos,conforme o seu poder que opera em nós”. Temos aqui a mesma medidade doação em três partes: (1) “tudo quanto pedimos”',  (2) “tudo quanto

 pensamos" ; e (3) “para fazer infinitamente mais”. Deus nos conceda fé para pedirmos grandes coisas e termos amplos desejos em relação a Ele! —poiso dar não O empobrece, e o reter não O enriquece.

É interessante notar que no versículo citado acima, onde é dito queSalomão deu à rainha de Sabá “por sua generosidade real”, o textohebraico diz literalmente “segundo a mão do rei Salomão”. Pense no quesignifica esse “segundo”. Salomão era o rei mais rico de toda a terra e eledava de acordo com  sua posição! Que prodigalidade encontra-se nesse“segundo”! Ele nos faz lembrar de Filipenses 4.19: “E o meu Deus,segundo a S U A riqueza em glória, há de suprir em Cristo Jesus cada uma

de vossas necessidades”. Possa o Espírito Santo nos ensinar o significadodesse “segundo” e enriqueça nossas vidas com essa generosidade real que procede daquele que disse: “... e eis aqui está quem é maior do queSalomão” (Mt 12.42).

O fracasso de Salomão (11)

Infelizmente, a glória do período salomônico foi curta. Logo os filhosde Israel passariam a lamentar: “Como o ouro se foi!” A culpa foi só deSalomão. As seguintes frases, encontradas no capítulo 11, contam ahistória de seu fracasso: “... amou Salomão muitas mulheres estrangeiras”(v. 1); “a estas se apegou Salomão pelo amor” (v. 2); “... suas mulheres lhe

 perverteram o coração para seguir outros deuses” (v. 4); “assim fezSalomão o que era mau perante o Senhor” (v. 6); “pelo que o Senhor seindignou contra Salomão” (v. 9); “por isso disse o Senhor a Salomão: ...tirarei de ti este reino” (v. 11). Esta infidelidade de Salomão precipitou adivisão do reino em dois. O sol da glória de Salomão ocultou-se em nuvensescuras. Nem todas as vestes suntuosas de seu dispendioso guarda-roupa

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 podem esconder a feia mancha em seu caráter. Salomão não só abusarados casamentos, mas também enchera seu grande harém com mulheresdaquelas nações contra as quais Israel recebera repetidamente a proibiçãodivina — Moabe, Amom, Edom e outras; ele chegara até a edificar

“lugares altos” para suas divindades abomináveis. Se o rei se comportavadesse modo, não era provável que o povo logo fizesse o mesmo? Salomão

 perdera o direito ao favor divino. O mais sábio dos homens tornara-se omaior dos insensatos, pois pecara contra a luz, o privilégio e a promessa,valores que não foram dados nessa medida a ninguém mais em toda a terra.O reino seria tomado de sua família, exceto Judá, que permaneceria porcausa de Davi. O capítulo 11 termina com a morte de Salomão, fechando,

assim, a primeira parte do livro. Observamos em Salomão que a maiselevada dose de sabedoria humana é inferior à verdadeira piedade. Se,como diz o salmista, “o temor do Senhor é início da sabedoria”, então, comcerteza, a maior sabedoria é obedecer a Deus em todas as coisas e andardiante dEle com um coração perfeito.

A seguinte citação contém uma crítica justa a Salomão: “Ao avaliá-lo,devemos nos lembrar de seus privilégios e oportunidades. Ele não recebeu

um reino destruído e um exército desmoralizado, como acontecera comseu pai, mas, sim, um reino estabelecido na justiça e um exército vitoriosoem todas as frentes. Tinha também para guiá-lo a experiência dos dois reisque o precederam. A paz, como indica seu nome, certamente caracterizouseu reino; mas é duvidoso que tenha merecido seu outro nome: Jededias,‘Amado do Senhor’. Abraão era o ‘amigo de Deus’ e Davi, um homem‘segundo o coração de Deus’; mas Salomão não seguiu os passos deles. Seu

registro tem aspectos brilhantes, como se vê em sua humildade inicial, suaescolha sábia de um dom, sua construção do templo e sua belíssima oraçãoquando este foi dedicado (1 Rs 3.7, 9; 8.22-53). Se essas coisas fossemremovidas de seu registro, o que ficaria para lhe ser creditado? Ele era umhomem de extraordinária habilidade, botânico, zoólogo, arquiteto, poetae filósofo moral; era, todavia, um homem a quem estranhamente faltavaforça de caráter. Moisés havia dito que os futuros reis de Israel não

deveriam acumular riquezas, cavalos ou mulheres (Dt 17.14-20), masSalomão fez tudo isso. Ele, que era amado pelo seu Deus, não tanto porsi mesmo, poderemos pensar, mas por causa de Davi, deixou-se desviar

 por ‘mulheres estrangeiras’ (Ne 13.26), mesmo depois de o Senhor lhe teraparecido duas vezes. Tomou para si setecentas mulheres e justamente

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dentre aquelas nações contra as quais Israel fora advertido (1 Rs 11.1, 2).Isto levou à introdução de falsos deuses e de falsa adoração, dando motivo

 para o Senhor pronunciar-se contra ele. Se alguém poderia sentir-sesatisfeito por ter obtido tudo quanto desejava, esse alguém era Salomão;

todavia, ele deixou escrito que tudo sob o sol é vaidade e aflição de espírito(Eclesiastes). A vida de Salomão é a vida do ‘eu’ em sua plenitude, queacaba se tornando triste e saturada de tudo”.

É isso então que temos a dizer sobre o rei Salomão — sua ascensão,sabedoria, glória e fracasso. Existe alguém de caráter mais enigmático?Existe em toda a história uma ironia que nos faça refletir mais do que esta:o mais sábio dos homens transformando-se no maior insensato, o homemque possuía riqueza, fama e prazer, acima de todos os outros, vindo aescrever no final: “Vaidade das vaidades! —tudo é vaidade!”? Possamosnós ler, gravar, aprender e digerir tudo isso interiormente!

APÊNDICE AO REINO DE SALOMÃO

Dissemos que o reinado de Salomão tipifica o futuro reinado de Cristo na terra. Quais eram então as características distintas do reinado de Salomão? Primeira, 

em todo o curso de seu reinado houve paz e descanso. Nenhuma guerra ou conflito interno quebrou a serenidade daqueles quarenta anos. Segunda, havia insuperáveis sabedoria  e conhecimento, como vemos em 1 Reis 4 e 10. Terceira, havia liqueza e glória •— superando tudo o que existira antes. Quarta, havia fama e honra: o nome de Salomão era o maior entre todas as nações ao redor de Israel, e os israelitas eram honrados por todos os povos. Quinta, havia alegria e segurança; em 1 Reis 4.25 lemos: “Judá e Israel habitavam confiados, cada um debaixo da 

sua videira, e debaixo da sua figueira, desde Dã até Berseba, todos os dias de Salomão”. Veja também o versículo 20.Com certeza, estes são os sinais preditos daquele reino que Cristo ainda 

estabelecerá entre as nações. Haverá paz e descanso: “Uma nação não levantará a espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerra” (Is 2.4); “o lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará” (Is 11.6). Haverá também sabedoria  e conhecimento  sem precedentes, pois “a terra se 

encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar” (Is 11.9).Haverá ainda riqueza e glória como nunca antes, pois “o monte (i. e. reino) da casa do Senhor será estabelecido no cume dos montes (i. e. reinos), e se elevará sobre os outeiros, e para ele afluirão todos os povos” (Is 2.2). Haverá igualmente 

 fama  e honra,  e um império tal como rei algum jamais conheceu antes, pois

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“domine ele (Cristo) de mar a mar, e desde o rio até aos confins da terra... E todos os reis se prostrem perante elè; todas as nações o sirvam” (SI 72.8, 11). Haverá  do mesmo modo alegria esegurança para todos os súditos privilegiados nesse reino final; pois em Miquéias 4.4 lemos: “Mas assentar-se-á cada um debaixo da sua videira, e debaixo da sua figueira, e não haverá quem os espante, porque a boca  

do Senhor dos Exércitos o disse”. Não existe estudo mais envolvente na Escritura do que o de tais trechos gloriosos dos profetas, que descrevem o esplendor deste reino davídico e salomônico de Cristo que ainda está para vir sobre a terra. Nossa oração diária deve ser esta: “Venha o teu reino!”

J . S . B .

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O PRIMEIRO LIVRO DOS REIS(3)

Lição N° 34

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 NOTA: Para este estudo final no Primeiro Livro dos Reis, leianovamente do capítulo 12 ao 22.

Salomão continuou a política de seu pai e compartilhou de sua bênção.Seus domínios estenderam-se do Mediterrâneo até o Eufrates, e do MarVermelho e da Arábia até o termo do Líbano (1 Rs 4.21 etc.). Os povosque pagavam tributos eram mantidos em completa sujeição e, comocontinuavam governados por seus próprios príncipes, Salomão eraliteralmente “rei dos reis”. Os cananeus que permaneceram na Palestinatornaram-se súditos pacíficos ou servos úteis. Ele tinha tesouros imensos,compostos em grande parte dos despojos das diversas nações, obtidos eacumulados por seu pai com o propósito de construir um templo aoSenhor. Salomão acrescentou a isso os rendimentos de pesados impostos.O tamanho de seu harém ultrapassava até mesmo os limites dos costumes

orientais, embora isso possivelmente fosse ditado por uma políticamundana.

A sabedoria de Salomão é exaltada tanto nas Escrituras como na históriaoriental. Três mil provérbios deram prova de suas virtudes e sagacidade.Mil e cinco canções colocaram-no entre os primeiros dos poetas hebreus,enquanto seu conhecimento de história natural foi demonstrado porescritos que vieram a ser muito admirados.

Sua própria grandeza o traiu. Os tesouros, mulheres e carros eram todoscontrários ao espírito e preceitos da lei (Dt 17.16, 17). As arrecadaçõesexageradas desagradaram o povo e, acima de tudo, ele foi desviado porsuas mulheres, construindo templos a Camos, ou Baal-Peor, o ídoloobsceno de Moabe; a Moloque, o deus de Amom; e a Astarote, deusa dossidônios. Seus últimos dias foram, portanto, perturbados por “adversários”que instigaram uma revolta dos povos vassalos. A tribo de Efraim

tornou-se um foco de inimizade; Hadade “fez mal” em Edom; Damascodeclarou sua independência sob Rezom; e Aias recebeu instruções paraanunciar a Salomão que, por ter quebrado a aliança mediante a qualmantinha sua coroa, o reino lhe seria tirado, e uma parte seria dada a seuservo (1 Rs 11.31).

A N G U S , “ B I B L E H A N D B O O K ”

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O PRIMEIRO LIVRO DOS REIS (3)

OS DOIS REINOS

c h e g a m o s   agora à segunda metade do livro. A ruptura acontece logoapós a morte de Salomão, e a partir deste ponto seguimos a história dosdois  reinos e das duas linhagens de reis. Não é necessário tratarseparadamente desses reis para nosso esquema de estudo. Todavia,tentaremos focalizar os pontos importantes da ruptura e o curso dos

acontecimentos subseqüentes.

A ruptura

 A tragédia de Israel

Em primeiro lugar, a ruptura foi uma tragédia. No final do reinado deSalomão, Israel veio a ser exaltado à mais alta dignidade de sua história.Sob as provisões feitas por Davi e Salomão, a adoração, a religião e oensino público alcançaram um ponto jamais conhecido antes. Nas palavrasdo Reitor Baylee: “A teologia dos salmos, a sabedoria prática deProvérbios, a sugestão mística de Cantares, os ensinos patriarcais de Jó, a

arqueologia de Gênesis e a manifestação de Deus na história, desde Josuéaté 2 Samuel, forneceram instrução e orientação abundantes, destinadasa fazer de Israel o centro de luz e bênção para toda a terra”. Os elevados propósitos de Deus para Israel estavam se desenvolvendo com evidênciacada vez maior, e só podemos exclamar: “Oh, como teria sido se a rupturanão desferisse um golpe tão mortal contra a nação?!”

 A culpa de Salomão

Em segundo lugar, é bom compreender que as Escrituras atribuem aculpa  da ruptura a Salomão. Como vimos no Livro dos Juizes, emboraDeus possa conferir muitos privilégios, Ele jamais concede o privilégio de

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 pecar —  não, nem mesmo para alguém tão especial como Salomão. Assimsendo, por mais que isso pudesse ter entristecido o Deus da aliançadavídica, a ruptura foi permitida. A culpa de Salomão era grande. É umaacusação terrível mas verdadeira dizer que “toda a história posterior da

ruptura, o declínio gradual do poder e influência, a corrupção moral e atéo esquecimento completo de Deus, em certos períodos, foram apenasdesdobramentos necessários dos princípios e práticas perniciososintroduzidos por Salomão”.

 A insensatez de Roboão

Em terceiro lugar, no capítulo 12 é explicada a ruptura conforme sua ocorrência.  Nos últimos anos do reinado de Salomão, as despesasextravagantes da corte do rei tornaram-se tão grandes que exigiram oaumento de tributos a um ponto tal que o povo mal podia pagar. Dessemodo, com a morte de Salomão e a ascensão de Roboão ao trono, o povo,sob a liderança de Jeroboão, procurou diminuir o mal que lhes foracausado, através de uma redução nos impostos. O pedido parece ter sido

razoável: “Teu pai fez pesado o nosso jugo; agora, pois, alivia tua duraservidão de teu pai e o seu pesado jugo que nos impôs, e nós te serviremos”(12.4). O comportamento imprudente e a resposta presunçosa de Roboão,

 porém, revelam sua completa incapacidade para avaliar uma situaçãodesse tipo (12.5-15) e demonstram uma inferioridade mental quecontrasta penosamente com a mente superior de seu notável pai. Aameaça insensata de agravar ainda mais o jugo do pai foi “a gota d’água”.

As dez tribos renunciaram a toda e qualquer lealdade à casa de Davi, eJeroboão tornou-se seu rei.

 As inovações de Jeroboão

Em quarto lugar, a ruptura causou graves inovações  no reino das deztribos. Jeroboão era tão sagaz e inescrupuloso quanto enérgico e violento.Ele logo percebeu que, embora Siquém tivesse sido fortificada como suacapital, Jerusalém continuaria a ser considerada o centro unificador detodas as tribos, a não ser que medidas drásticas fossem tomadas para evitarisso. O templo e a arca da aliança, assim como tudo o que era sagrado na

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religião de Israel, achavam-se em Jerusalém, a sede principal do saber. Seo povo continuasse a comparecer às festas religiosas naquela cidade, maiscedo ou mais tarde o resultado se mostraria fatal ao trono do reino das deztribos.

Jeroboão estabeleceu assim dois novos centros de adoração para o reinodas dez tribos — um em Dã, ao norte, e outro em Betei, ao sul,declaradamente baseado na idéia de que era demais exigir que o povocontinuasse percorrendo toda a distância até Jerusalém (12.28). Em cadaum dos novos centros ele colocou um bezerro de ouro e proclamou: “Vêsaqui teus deuses, ó Israel, que te fizeram subir da terra do Egito!” Israelfoi assim levado a pecar gravemente.

 Não seria justo dizer que Jeroboão, ao fazer os bezerros de ouro,estivesse pensando em introduzir a adoração de outros deuses além doSenhor, pois os bezerros eram claramente considerados pelo povo comofiguras simbólicas consagradas ao Senhor. Todavia, a culpa de Jeroboão

 permanece, pois ele sem dúvida recordou o episódio do bezerro de Arão,ao usar as mesmas palavras deste: “Vês aqui teus deuses, ó Israel, que tefizeram subir da terra do Egito”. Além disso, Jeroboão conhecia muito

 bem a ira de Deus e de Moisés por ocasião desse pecado, além de saberque a representação do Deus de Israel na forma de ídolo era proibida.Jeroboão também construiu “lugares altos” para o novo culto, instituiu

sacrifícios e estabeleceu uma festa correspondente à Festa dos Tabernáculos, apesar de fazer com que fosse observada um mês mais tarde doque a festa na Judéia. Além disso, ele elegeu uma nova ordem desacerdotes dentre as camadas mais inferiores do povo. Esta medida foitomada porque os verdadeiros sacerdotes e levitas aparentemente

 preferiram (sendo este um fato a seu favor) perder seu sustento e voltar aJerusalém, em vez de participar das inovações ilícitas de Jeroboão (veja 2Crônicas 11.13). Parece também que os sacerdotes e levitas que seretiraram foram acompanhados por outros fiéis de Israel (2 Cr 11.16).Contudo, as dez tribos como um todo rapidamente aceitaram os novosajustes (1 Rs 12.30). Dessa forma, além da ruptura política que separavaIsrael de Judá, surgiu uma separação religiosa.

Jeroboão, como já dissemos, era um homem astuto e enérgico; masfaltava-lhe o discernimento espiritual para perceber que, se Deus ocolocara no trono, Ele também superaria as contingências que viessem aameaçar seu trono. Ele se afundou cada vez mais no pecado e arrastou

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trágico. Dos quatro reis que reinaram sobre Judá, os dois que permaneceram mais tempo (abrangendo 66 dos 86 anos) foram reis bons.

O profeta Elias (17-22)Os seis últimos capítulos de 1 Reis ocupam-se do ministério do profeta

Elias no reino do norte, o reino das dez tribos. Este espetacular homem deDeus chama nossa atenção para um bom propósito. Ele é uma das figurasmais notáveis em toda a história de Israel. Sua proeminência é vista nareforma religiosa que executou e no fato de que o Novo Testamento fala

mais dele do que de qualquer outro profeta do Antigo Testamento. Alémdisso, ele foi o escolhido para aparecer com Moisés na transfiguração doSenhor. Ademais, é a partir deste ponto que o ministério dos profetas nosdois reinos judaicos se torna mais enfático. Um dos personagens maissurpreendentes e fantásticos de Israel, Elias aparece repentinamente emcena como um profeta da crise, com trovões na voz e tempestades no olhar.Ele desaparece também de modo súbito, levado para o céu num carro defogo. Entre a primeira e a última aparição, estende-se uma seqüência demilagres espantosos. Chamaremos atenção aqui para três coisas: seucaráter, seu ministério e seu significado.

Seu caráter 

A grandeza do caráter de Elias é reconhecida por todos. Mesmo os

críticos que puseram em dúvida seus milagres concordam com ela. Ele parece ter sido notável até mesmo fisicamente. Não era homem da cidade,mas do campo. De fato, parece ter sido um verdadeiro beduíno,apreciando os esconderijos dos montes e vales, percorrendo as vastas

 pastagens desabitadas de Basã. Sua aparência austera e sóbria sem dúvidateria atraído imediatamente a atenção do homem da cidade, vestido deforma mais agradável. Ao lermos sobre o confronto entre Elias e Acabe,

quando o profeta anunciou a aproximação de um período de seca,devemos imaginar um xeque barbudo, de cabelos longos e pele queimada pelo sol, ou um daroês magro, de olhos penetrantes, vestido com peles deovelha, entrando ousadamente na presença do rei e levantando um braçorijo para o céu ao acusá-lo de pusilânime em tons que soavam como os

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a nada. Contudo, protestou contra a apostasia religiosa e a degradaçãoresultante de seu povo, chamando os homens de volta aos bons e antigoscaminhos que o Deus de Israel havia lhes designado através de Moisés.Hoje, há necessidade de denúncias assim diretas.

Seu significado

Em primeiro lugar, Elias demonstra a verdade de que Deus tem sempre um homem que se apresenta na hora exata.  As coisas já estavamsuficientemente negras quando Acabe começou a reinar, mas ele logo astornou cem vezes piores. Está escrito: “Ninguém houve, pois, como Acabe,

que se vendeu para fazer o que era mau perante o Senhor, porque Jezabel,sua mulher, o instigava” (1 Rs 21.25). Sob a liderança real foi feito umesforço determinado para eliminar a religião do Senhor. Este foi o períodomais medonho de toda a história de Israel. Todavia, justamente na horacrítica surge o herói de Deus. A mesma coisa repete-se continuamente nahistória. Quando a luz da verdade evangélica parece estar a ponto deextinguir-se da cristandade, e o papado sufoca milhares de europeus sob

seu manto perverso, Deus tem seus Luteros e Calvinos para chamar ocontinente de volta àquela fé entregue de uma vez por todas aos santos.Quando a política, a religião e a moral se tornam tão degenerativas naInglaterra que a própria essência da nação é prejudicada, Deus tem os seusJohn Wycliffes, William Tyndales, Whitefields e Wesleys.

Outro aspecto que Elias ilustra é que, quando a perversidade atinge  proporções extraordinárias, Deus a confronta com medidas extraordinárias. 

Os deuses fenícios que Jezabel e Acabe ensinaram Israel a adorarrepresentavam essencialmente os elementos materiais que produzem oorvalho e a chuva — Baal, Astarote e Aserá. Assim sendo, o Deusverdadeiro mostra sua superioridade sobre todos os poderes da natureza,suspendendo a chuva e o orvalho por três anos e seis meses. Em oposiçãoaos milagres fictícios da falsa religião, o Senhor intervém com milagresreais. Eis a razão pela qual o ministério de Elias é de milagres. Deus está

enfrentando uma situação extraordinária com medidas extraordinárias.Acredito que também hoje, quando uma situação extraordinária começaa desenvolver-se, podemos esperar que Deus enfrente mais uma vez odesafio com medidas extraordinárias.

Elias é importante para nossos dias em outras formas, também; mas

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vamos mencionar apenas mais uma: Elias voltará de novo a esta terra! Demodo bastante surpreendente, somos informados disso nas últimas

 palavras do Antigo Testamento (Ml 4.5-6). Alguns zombam dessa idéia,da mesma forma como negam uma volta visível do Senhor Jesus. Outros

afirmam que as profecias de Isaías e Malaquias com relação à vinda deElias foram cumpridas em João Batista, sobre quem o Senhor disse: “Elias já veio” (Mt 17.12). Mas embora João fosse um cumprimento provisório,ele não era o próprio Elias; e o Senhor disse (depois da morte de João)que o verdadeiro Elias “virá” (Mt 17.11). Se nos voltarmos para aqueleestranho capítulo 11 de Apocalipse, descobriremos que Elias é uma dasduas testemunhas que deverão vir a este mundo, pouco antes do fim do

 presente sistema mundial e da volta de Cristo (como o perfil deixa claro).Elias é com certeza uma figura importante. Quando ele entrou em cena,há muito tempo atrás, as coisas começaram a se transformar rapidamentee, quando voltar, num futuro próximo, coisas ainda maiores acontecerão!A volta do Senhor também estará próxima!

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O SEGUNDO LIVRO DOS REIS(D

Lição Ne 35

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 NOTA: Para este estudo, leia todo 2 Reis uma ou duas vezes.

Os grandes impérios do Oriente —Assíria, Babilônia e Pérsia —irãoagora ocupar quase toda nossa atenção (i. e., a partir de 2 Reis). Todos elesexerceram grande influência sobre o destino do antigo Israel. Uma dasmelhores surpresas destes últimos tempos é que, entre os documentosrecuperados desses grandes reinos mundiais, foi encontrado um contínuo

e esplêndido comentário acerca desse longo período da história de Israel.As confirmações são tão numerosas e conclusivas que os críticos tiveramde confessar que, pelo menos aqui, a Bíblia deve ser reconhecida comohistória. Isto foi acompanhado pela aniquilação de algumas de suasconclusões mais antigas e certas. Onde quer que o explorador e odescobridor nos tragam de volta o passado a que a Bíblia se refere, o críticotem de retirar-se confuso e envergonhado.

JOHN URQUHART

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O SEGUNDO LIVRO DOS REIS (1)

ESTE SEGUNDO Livro dos Reis, que se inicia com o traslado de Elias para o céu e termina com a ida dos judeus cativos para a Babilônia, é maistrágico do que todos os que o precederam. Além disso, é o mais trágicodocumento nacional jamais escrito. O povo eleito, através do qual os

 propósitos graciosos de Deus deveriam ter se desenvolvido para oesclarecimento e regeneração de toda a raça, afunda-se cada vez mais nainfidelidade e degradação moral, até que a medida de sua iniqüidade

finalmente atinge o limite, e o juízo vem. Inimigos impiedosos descarregam sua vingança sobre esses homens, arrastando-os de sua terra

 para um humilhante cativeiro.

O livro da dispersão

 No capítulo 17, vemos o reino das dez tribos do norte (Israel) seguir parao cativeiro na Assíria, do qual nunca mais retornou. No capítulo 25, vemosJerusalém saqueada, o templo queimado e o reino do sul (Judá) seguindo para o cativeiro na Babilônia, do qual apenas um remanescente voltou.

Embora Judá não tivesse ido para o cativeiro senão um século depoisde ter se separado de Israel, os dois cativeiros são juntamente chamadosde dispersão.  Já vimos como em cada um dos livros históricos, até este

 ponto, destaca-se uma linha mestra. Será útil gravar bem isso na memória.1 Samuel é o livro da transição  — da teocracia para a monarquia. 2

Samuel é o livro do reinado de Davi. 1 Reis é o livro da ruptura —   divisãode um reino em dois. Agora 2 Reis, que deve ser sempre lembrado comoo livro da dispersão.

 Não podemos ler 2 Reis sem pensar naquele provérbio de Salomão: “Ocaminho dos perversos é como a escuridão” (Pv 4.19). As palavras de Paulo

 — “... o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23) —são demonstradas aquiem escala nacional e claramente proclamadas em termos de justiça poética, para todos verem e atentarem. Cometer pecados, apesar dasadvertências, traz ruína sem salvação. Um erro indesculpável chama umaira inescapável. O abuso do privilégio resulta em aumento de castigo.

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Quanto maior a culpa, tanto mais pesado o golpe. A correção talvezencontre resistência, mas a retribuição não pode ser impedida. “... comoescaparemos nós, se negligenciarmos...” (Hb 2.3). “... de Deus não sezomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (G1 6.7).

Todos esses pensamentos enchem nossa mente, ao lermos 2 Reis. Aocontemplar as tribos de Israel derrotadas e humilhadas, sendo arrastadasatrás dos carros de seus conquistadores pagãos, certamente não podemosdeixar de notar a mensagem central deste livro: o pecado voluntário traz um fim lamentável.

A estruturaOs que escrevem sobre os livros dos Reis parecem achar difícil fazer

uma análise adequada de seu conteúdo, porque as histórias de Judá e Israelse sobrepõem repetidamente e se fundem numa só narrativa. Para nós,

 porém, as linhas gerais destacam-se claramente. Vimos como em 1 Samuelas três partes se unem em torno de Saul, Samuel e Davi, e como em 2Samuel temos os triunfos e depois os problemas de Davi. Observamostambém que em 1 Reis o livro indiscutivelmente divide-se em duas partes

 principais: a primeira dedicada totalmente ao reinado de 40 anos deSalomão, e a segunda cobrindo os primeiros 80 anos dos dois reinos.Veremos agora que neste Segundo Livro dos Reis as divisões principaissão facilmente discerníveis, podendo ser memorizadas sem dificuldade.

Verificaremos que os dez primeiros capítulos ocupam-se quasetotalmente do reino do norte, Israel (sendo as únicas referências a Judá

 puramente acidentais: para mencionar como dois reis de Judá se unirama Israel em duas ações militares e devido à sua ligação com a casa de Acabeatravés do casamento). Nesses dez primeiros capítulos, o ministério deEliseu no reino do norte é o assunto predominante.

A seguir, no grupo subseqüente —capítulos 11 a 17 —temos os registrosalternados de ambos  os reinos, terminando com a ida de Israel para ò\cativeiro na Assíria.

Por último, do capítulo 18 ao 25 temos apenas a história de Judá (umavez que o reino do norte, das dez tribos, encontra-se agora disperso nocativeiro); e este terceiro grupo de capítulos finaliza com a ida de Judá

 para o exílio na Babilônia. A fim de tornar isto bem claro, apresentamoso seguinte esboço:

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O SEGUNDO LIVRO DOS REIS

O LIVRO DA DISPERSÃO 

O PECADO VOLUNTÁRIO TRAZ UM FIM LAMENTÁVEL

I. REGISTROS DE ISRAEL, O REINO DO NORTE (1-10)

ESTA PARTE CONTÉM O MINISTÉRIO DE ELISEU E CONCLUI COM A MORTE DE JEÚ, DÉCIMO REI DE ISRAEL.

II. REGISTROS ALTERNADOS DOS DOIS REINOS (11-17)

ESTA PARTE VAI ATÉ O CATIVEIRO DE ISRAEL NA ASSÍRIA (NESSE PERÍODO, JONAS, AMÓS E OSÉIAS PROFETIZARAM EM ISRAEL).

III. REGISTROS DE JUDÁ, O REINO DO SUL (18-25)

ESTA PARTE TERMINA COM O CATIVEIRO DE JUDÁ NA BABILÔNIA, PERÍODO NO QUAL OBADIAS, JOEL, ISAÍAS, MIQUÉIAS, NAUM, HABACUQUE, SOFONIAS E JEREMIAS HAVIAM 

PROFETIZADO EM JUDÁ.

(Para o presente propósito, não há necessidade de uma análise maisdetalhada. Os três movimentos principais acima devem ser fixados muito

 bem em nossa mente, a fím de tornar mais fácil a memorização do livrointeiro.)

O Segundo Livro dos Reis, então, marca historicamente o fim dos dois

reinos hebreus, embora eles continuem sendo objetos de grandes profecias, as quais serão consideradas mais tarde no decorrer de nossoestudo. Com o cumprimento dessas profecias será completado o triunfofinal de Deus na raça hebraica e através dela. Sob o ponto de vistahistórico, porém, a narrativa sobre o povo de Deus, como mostra esteSegundo Livro dos Reis, é de fracasso e tragédia, dilacerando nossocoração.

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As duas linhagens reais completas

Como 2 Reis registra a dispersão e a ruína dos dois  reinos hebreus (oreino do norte, de Israel, para o cativeiro na Assíria, em 721 a. C., e o reino

do sul, de Judá, para o exílio na Babilônia, em 587 a. C.), será proveitosoexaminar as duas linhagens de reis em sua totalidade; ou seja, pelo menosa partir da época em que as dez tribos se separaram na “ruptura” a fim deformarem seu próprio reino, em 975 a. C.

É digno de nota o fato de 19 reis ao todo terem reinado sobre as deztribos, sendo que este reino durou apenas cerca de 250 anos; enquantoJudá, que teve vinte reis desde a ruptura, continuou existindo durante

aproximadamente 390 anos a partir dessa época. Lembre-se: os 19 reis deIsrael procederam de nada menos do que sete dinastias diferentes,enquanto os 20 reis de Judá eram de uma única dinastia —a davídica.

Isto nos leva a fazer duas observações.Primeira, embora os sucessivos reis não sejam tratados em detalhes,

mas, sim, considerados como reis e não homens, é interessante observarque, no caso dos reis de Judá, Davi é o padrão pelo qual o caráter deles é  

avaliado. Lemos repetidamente palavras como: “... seu coração não era detodo fiel para com o Senhor seu Deus, como fora o de Davi, seu pai” (veja1 Rs 11.4,6,33,38); “... tu não foste como Davi, meu servo” (14.8); “... seucoração não foi perfeito para com o Senhor seu Deus como o coração deDavi, seu pai” (15.3); “Asa fez o que era reto perante o Senhor, como Davi,seu pai” (15.11); e assim por diante. Este é um grande tributo a Davi.Apesar dos pecados pessoais que mancharam sua vida, sua confiança emDeus, sua integridade geral, seu zelo pela honra divina e seu reconhecimento reverente da responsabilidade que lhe cabia como reiteocrático foram tais que justificaram o nome de “homem segundo ocoração de Deus”, suficientes para fazer dele um modelo para todos seussucessores no trono.

Segunda, fica claro que um dos principais propósitos da história daBíblia neste ponto é mostrar a fidelidade de Deus à aliança davídica (2 Sm7) na preservação da linhagem de Davi  (veja, por exemplo, 2 Rs 8.19).Muitas vezes, a casa real de Davi parecia correr o risco de ser aniquilada.Foi ameaçada por ocasião da revolta das dez tribos. Mais tarde, depois damorte de Acazias, quando um usurpador apossou-se da cidade real, e asobrevivência da linhagem davídica através de Salomão dependia da

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 preservação do menino Joás, este foi salvo da espada do usurpador poruma mulher, Jeoseba, e a linhagem pôde então continuar. Ainda maistarde, quando o rei Zedequias, que não tinha herdeiros, adoeceu e estavaaparentemente prestes a morrer, vemos Jerusalém sitiada pelos assírios,

e tudo indicava que a linhagem davídica corria perigo tanto pela espadacomo pela doença. Mas Deus interveio, e a linhagem continuou. Temposdepois, quando o reino de Judá caiu por causa de seus pecados, a fidelidadede Deus permaneceu e assim também a linhagem. Apesar de Deus ter ditoa respeito do perverso rei Jeconias: “Registrai este como se não tiverafilhos” (Jr 22.30), e a linhagem de Davi através de Salomão ter cessado,uma linha suplementar de Davi foi preservada através de Natã, e assim

continuou a sucessão. Mesmo após o cativeiro na Babilônia, a linhagemcontinua em Zorobabel, e sob sua liderança o templo foi reconstruído. A partir dele, o registro genealógico é preservado até o nascimento de nossoSenhor Jesus Cristo, Filho e Senhor de Davi. NEle, a linhagem davídica é

 perpetuada para sempre, e por Ele, em Seu segundo advento, o trono deDavi será estabelecido novamente na terra, na cidade de Jerusalém, emcumprimento àquela aliança feita com Davi muito tempo atrás.

Ouvimos dizer que, em vista de Israel ter se constituído e reconhecidocomo um estado independente na Palestina, começaram a surgirindagações e certas suposições foram feitas com a idéia de estabelecer umelo atual com o trono davídico. Não sabemos se existe verdade nisso; masuma coisa é  certa: Israel jamais será um reino independente outra vez, atéque o próprio Rei volte, o Senhor Jesus Cristo. Ele, e só Ele, irárestabelecer o trono davídico, pois desde seu nascimento em Belém, só

Ele é o verdadeiro herdeiro, segundo as Escrituras do Antigo e NovoTestamentos.

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REIS DE JUD Á E ISRAELA PARTIR DA RUPTU RA

Quadro com o número de anos de reinado de cada um e um paralelo 

aproximado das cronologias dos dois reinos e suas linhagens.

JUDAR o b o ã o ..................................... 17A b i a s .......................................... 3

Asa ........................................... 41

J o s a fá ........................................ 25

Jeorão ....................................   8A c a z ia s ........................................1A t a l i a .......................................... 6

J o á s ...........................................40

Amazias .................................. 29

Azarias (Uzias) ...................... 52

Jotão ........................................16Acaz ........................................16Ezequias ................................. 29Manassés ................................. 55Amom ...................................... 2J o s i a s ....................................... 31

J e o a c a z ........................3 mesesJeoaq u im ..................................11Joaquim .....................3 mesesZedequias ...............................11

ISRAELJ e r o b o ã o .................................. 22 Nadabe ....................................   2B a a s a ........................................ 24

Elá ............................................. 2

Zinri .......................... 1 semanaO n r i ........................................... 12A c a b e ........................................ 22A c a z i a s ....................................... 2Jorão ........................................ 12Jeú ........................................... 28

Je o a c a z ......................................17

Jeoás . ...................................... 16

Jeroboão I I ............................... 41 Interregno-.................................. 12Zacarias ................................ 1/2S a l u m ..........................   1 mêsMenaém .................................. 10

P e c a í a s ....................................... 2P e c a ...........................................20

Oséias ....................................... 9

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O SEGUNDO LIVRO DOS REIS(2)

Lição V 36

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 NOTA: Para este novo estudo em 2 Reis, releia os dez primeiroscapítulos e o capítulo 13.

 Não se pode dizer que os conhecimentos mais recentes estejam nosafastando da Bíblia; pelo contrário, estão nos levando de volta a ela.

 Nossos cientistas mais renomados estão tateando e abrindo caminho

através de um vasto emaranhado de fatores materialistas, indo em direçãoa uma cosmovisão muito mais harmonizada com as Sagradas Escrituras.Além disso, tornou-se claro que os líderes da ciência da geração passadasuperestimaram e enfatizaram demasiadamente o limitado conhecimentode sua época, não se aprofundando nele. Uma vez que a educação refleteas crenças das mentes que predominaram na geração anterior, e não as do

 presente, estamos sofrendo hoje por causa desses erros de cálculo. Mas, à

luz dos fatos que não foram então observados, ou que tiveram suaimportância negligenciada, os cientistas da atualidade deixaram desupervalorizar o conhecimento humano. Pelo contrário, eles estãoenfatizando a ignorância humana. Os chamados “milagres” não mais estãosendo ridicularizados, mas, sim, reconhecidos.

SIR CHARLES MARSTON

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O SEGUNDO LIVRO DOS REIS (2)

O PROFETA ELISEU (1-10)

O TEMA PREDOMINANTE nos dez primeiros capítulos de 2 Reis é oministério do profeta Eliseu, para o qual queremos pedir cuidadosaatenção. O ministério de Eliseu é tão notável quanto o de Elias e, emalguns detalhes tipológicos, ainda mais singular. Em nosso penúltimoestudo, falamos de Elias sob três aspectos — caráter, ministério e

significado. O melhor que podemos fazer talvez seja usar esses três títulostambém para Eliseu, dando ênfase ao último deles: seu significado amploe peculiar.

Seu caráter pessoal

É sempre bom considerar o caráter pessoal dos servos importantes deDeus, pois assim podemos conhecer o tipo de pessoa que Deus escolhe eusa de modo marcante. Destacamos os seguintes traços da formação moralde Eliseu, por serem percebidos de imediato.

Vemos primeiro um desejo espiritual. Quando Elias disse: “Pede-me oque queres que eu te faça”, o pedido de Eliseu foi: “Peço-te que me toque

 por herança porção dobrada do teu espírito” (2.9). Não houve interesse

 por vantagens terrenas, embora isso certam ente pudesse ser escolhido. Notamos igualmente afeição filial: “Deixa-me beijar a meu pai e a minhamãe, e então te seguirei” (1 Rs 19.20). Não existe paralelo aqui com aquelecandidato a discípulo em Lucas 9, que se ofereceu antes de ser chamado,mas cuja vocação o Senhor sabia ser apenas superficial. Eliseu cortou oslaços familiares imediatamente, mas a maneira como o fez demonstraafeição pela família. Geralmente, os que combinam afeto pelos seus com

supremo amor a Cristo são os que se tornam mais sinceros e adequadosservos do Senhor.Observamos a seguir a humildade  de Eliseu. Ao que parece, seus

serviços eram de caráter bem humilde. Ele é chamado de “filho de Safate,que deitava água sobre as mãos de Elias” (2 Rs 3.11) —uma alusão ao

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antigo costume oriental de o servo derramar água de um jarro sobre asmãos de seu senhor, a fim de lavá-las.

Também nos impressiona a coragem de Eliseu. Veja, por exemplo, seu primeiro encontro com o rei Jorão (3.13,14). Ao contrário das bajulações

mentirosas dos adivinhos que rodeavam Jorão, as palavras de acusação proferidas por Eliseu foram cortantes. Só um mensageiro de Deus cora joso e sincero poderia tê-las dito.

 Nesta viagem de dez capítulos com Eliseu, devemos ainda observar sua fé  poderosa. Desde o momento em que tocou as águas do Jordão com omanto de Elias, crendo que elas iriam obedecer-lhe como havia ocorridocom ele, vemos sua fé se intensificando de experiência em experiência. Foi

essa fé que fez arder o fogo de sua coragem. A verdadeira fé em Deussempre torna o homem destemido. Notamos igualmente o desprendimento de Eliseu. Como ele poderia ter

ficado rico com os presentes sugeridos por Naamã, o sírio (5.5 etc.), e comos que foram enviados pelo rei Ben-Hadade (8.9)! Mas os olhos do profetanão se fixaram em tais recompensas. Ele só vivia para uma coisa — avontade e a honra do Senhor. Possa o Espírito de Deus reproduzir essas

qualidades em nossos corações e em nossas vidas!

Seu ministério profético

O  ministério de Eliseu é extraordinário. O sobrenatural surge nele atodo momento das formas mais surpreendentes. Seu ministério foi aindamais entremeado de milagres do que o de Elias. Já foi observado que não

existem milagres no Antigo Testamento, exceto os de Moisés, que possamser comparados em número e variedade com os prodígios realizados porEliseu. Nesses dez primeiros capítulos de 2 Reis, encontramos registradosnada menos do que dezessete desses fenômenos. A lista completa,incluindo o estranho milagre junto à sepultura de Eliseu, é composta devinte.

Quantos outros milagres foram operados através de Eliseu, sem terem

sido registrados? Não sabemos. Talvez muitos. O princípio de seleção eexclusão deliberadas, regularmente observado pelos escritores bíblicosguiados pelo Espírito e sobre o qual comentamos antes, leva-nos a concluirque os milagres registrados de Eliseu são especialmente dignos de nota,seja pela sua importância na ocasião, seja pelos seus significados es

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 pirituais latentes.Ao que sabemos, Eliseu, à semelhança de Elias, nada escreveu, mas seus

milagres devem ter causado grande agitação. Reis e líderes, tanto dentrocomo fora de Israel, foram obrigados a dar-lhe atenção. Por exemplo, em

2 Reis 8.4 lemos: “Ora o rei falava a Geazi, moço do homem de Deus,dizendo: Conta-me, peço, todas as grandes obras que Eliseu tem feito”.Todos os atos poderosos de Eliseu, devemos lembrar, eram evidênciasindiscutíveis e irrefutáveis da realidade e do poder soberano do Senhor, oDeus verdadeiro de Israel, de quem a nação havia se afastado afron-tosamente. O ministério de Eliseu ocorreu num período que se comparade modo sinistro com o atual. O próprio fato de os ministérios de Elias e

Eliseu serem tão cheios de prodígios sobrenaturais tem por si mesmo umsignificado intenso. Deus está resolvendo uma situação crítica através demedidas extraordinárias. Apesar de a nação ter se tornado apóstata edegenerada, um último apelo será feito por meio de mensageiros especiaise sinais milagrosos surpreendentes, a fim de que o povo volte ao Senhore à verdadeira fé em Israel. Até o último momento, Deus procurará fazercom que Seu povo, seduzido pela idolatria, deixe suas corrupções,

evitando assim a catástrofe culminante da dispersão, que de outra formalhes sobrevirá.Infelizmente, quanto mais alto o aviso e mais claro o sinal, tanto mais

surdo e cego o obstinado povo se torna! “Porque o coração deste povo estáendurecido” (Mt 13.15). Nem mesmo o ministério de profetas como Elias,Eliseu e Jonas conseguiram fazer a nação desviar-se de seu curso descendente. Sem dúvida havia um remanescente santo, mas, em sua maioria,

os líderes e o povo estavam envolvidos em suas idolatrias e costumesimorais, não atendendo aos apelos e advertências dos profetas do Senhor.O mesmo estado de coisas desenvolve-se hoje, à medida que a presente

era avança para o Armagedom. Grandes sinais e juízos se fazem sentir naatualidade. Todos os que têm olhos  podem   ver, se quiserem.  Todavia,quanto maiores os sinais de Deus, tanto mais ousados os pecados dohomem. Quanto mais pesados os juízos, tanto mais cegas e obstinadascontra Deus e Seu Cristo se mostram as nações. O mal já não pode sercontido por qualquer medida suave. A apostasia acentuada e ossentimentos contra Deus, juntamente com o cada vez mais perigosoconhecimento científico, exigem uma intervenção divina decisiva. O juízoe a destruição são de novo necessários, e eles já estão avançando em

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direção ao atual sistema. Enquanto isso, porém, Deus está reunindo Seu“pequeno rebanho” a quem se “compraz” em “entregar o reino”.

Seu significado peculiar 

 Não é possível analisar o ministério e os milagres de Eliseu sem perceberque existe um significado místico e tipológico latente em torno dele e deseus atos. Parecemos descobrir repetidamente que o Espírito Santo oinvestiu com antecipações sutis do ministério do próprio Senhor.

Vemos uma sugestão disto no contraste entre Elias e Eliseu. Descobrimosque o tipo de diferença entre Elias e Eliseu é o mesmo existente entre

João Batista e o Senhor Jesus. Isto é muito claro para passar despercebido,tendo uma importância maior do que se pensa a princípio. Sabemos quea correspondência entre Elias e João Batista é mais do que simplescoincidência. Existe um elo tipológico especificamente declarado entre osdois. O anjo Gabriel anunciou que João, como mensageiro do Senhor,deveria ir “adiante dele no espírito epoder de Elias” (Lc 1.17); o próprioSenhor disse mais tarde a respeito do profeta: "... ele mesmo é Elias, que

estava para vir” (Mt 11.14; veja também 17.10-12). Não admira, portanto,que surgisse a pergunta quanto à existência de uma ligação tipológicasemelhante entre Eliseu e o Senhor Jesus. E o que descobrimos? Bem,não existe uma declaração definida em ponto algum nesse sentido, mas osindícios são por demais evidentes para serem acidentais. Elias, como JoãoBatista, “não comia, nem bebia”, e esteve nos desertos, solitário e distantedos homens. Eliseu, por outro lado, “comia e bebia” como o Senhor Jesus

e misturava-se livremente com o povo. Não se viram no caso de Eliseucabelos compridos e manto de peles, nem alimentação por meio de corvosna caverna solitária de Querite; era um homem calçado e vestidonormalmente, de presença amável e sociável, tendo sua própria casa emSamaria. Em lugar de fogo, tempestade, severidade e juízo, houve atos decura e palavras mais brandas. '

Certos aspectos especiais do ministério de Eliseu também lhe dãoaparência semelhante ao do Senhor. Nos repetidos ministérios de Eliseualém das fronteiras de Israel, parece que vemos uma sugestão daquele queviria a ser “a glória do seu povo, Israel” e também “luzpara os gentios”. O milagre de Eliseu com os vinte pães de cevada e o fato de ele multiplicaro azeite da viúva lembram-nos facilmente daquele que tomou de cinco

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 pãezinhos para alimentar a multidão faminta nos tempos do NovoTestamento. O milagre da cura de Naamã, que ficou livre da lepra atravésdas palavras ditas por Eliseu, é um dos maiores exemplos do evangelho dasalvação no Antigo Testamento. Não podemos deixar de acrescentar que

o choro de Eliseu, ao prever os males que cairiam sobre a nação, mas osquais ele não tinha poder para evitar (8.11, 12), é praticamente a únicacena no Antigo Testamento que se compara ao choro de Jesus sobreJerusalém, conforme relatado por Lucas.

O mesmo paralelo é sugerido pela ênfase principal  do ministério deEliseu. A ênfase que distingue o ministério de  Elias,  assim como a pregação de João Batista, é com certeza o chamado severo para o

arrependimento, acompanhado pela advertência acerca do juízo iminente.Mas a ênfase principal de todo o ministério de Eliseu está na ressurreiçãoe na esperança de uma nova vida, que dependem apenas da resposta do

 povo. A nação chegou agora a um estado tal que dificilmente poderárecuperar-se, exceto por alguma coisa que se iguale à ressurreição. Assimsendo, através do ministério de Eliseu, o povo pode ver, numa sucessãode milagres simbólicos, o poder da ressurreição em atividade e a esperançada nova vida que lhes pertence no Senhor, se apenas voltarem para ele.

Medite um pouco em alguns milagres de Eliseu. Veja como é característica esta sugestão da vida procedendo da morte. Seu primeiromilagre é o da cura das águas mortais de Jericó, de maneira que aquiloque antes provocara morte agora dava vida (capítulo 2). A seguir, osexércitos são salvos da morte por meio da água suprida de forma milagrosa(capítulo 3). No capítulo seguinte, lemos a respeito da ressurreição do filhoda sunamita, que voltou da morte para uma nova vida (capítulo 4). Logodepois vem a história do cozido venenoso: “a morte na panela”transforma-se em vida e saúde. Lemos aqui também sobre a multiplicaçãodos pães de cevada. Em seguida, temos a cura de Naamã, pelo batismosimbólico no Jordão que eliminou a morte e o fez levantar-se das águas

 para uma nova vida (capítulo 5). O milagre do machado recuperadorepresenta o mesmo de maneira diversa. “Fez flutuar o ferro” —um novo

 poder vital, superando o peso da morte. Finalmente, sem mencionar

outros milagres, temos o estranho milagre em que um homem é trazidode volta à vida junto à sepultura de Eliseu, mediante contato acidental comos ossos do profeta morto! A ênfase na ressurreição e na nova esperançaque percorre esses milagres é certamente muito clara.

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Mas este significado tipológico latente que se liga a Eliseu alcança suamais surpreendente expressão quando observamos Elias, Eliseu e Jonasem conjunto. Esses três profetas vieram em rápida sucessão durante oúltimo período antes da dispersão do reino do norte — Jonas pro

vavelmente viveu até quase o final do reinado de Jeroboão II, depois doqual o reino das dez tribos só sobreviveu cerca de 60 anos. Os sinais dadosatravés desses três profetas jamais haviam sido vistos antes e tiveram o

 propósito de prender a atenção do povo. A nação infelizmente nãoatendeu, mas os “sinais” permanecem, fazendo desses três profetas umaespécie de trio tipológico.

Deve ser notado que a idéia de ressurreição é expressa e ilustrada com

força singular mediante o ministério desses três. No caso de Elias, temosa ressurreição do filho da viúva de Sarepta para uma nova vida. Jamais ummilagre assim havia ocorrido em Israel. Milagres aconteciam re

 petidamente desde os dias de Moisés, mas nunca um morto voltara à vida.O inconcebível acontecera. Não é de admirar que esse homem que podialevantar os mortos tivesse poder para persuadir seus conterrâneos a iremao Monte Carmelo! Todavia, esse milagre dos milagres foi repetido noministério de Eliseu, com a ressurreição do filho da sunamita. Na verdade,aconteceu mais de uma vez. E uma coisa ainda mais estranha ocorreu: ummorto recuperou a vida ao entrar em contato com o cadáver de Eliseu! Omais espantoso de tudo é a experiência de Jonas que vem a seguir, algomais inusitado ainda do que recobrar a vida — uma ressurreição nãoapenas da morte física, mas do “ventre do abismo (inferno)”!

Examinemos esses três profetas em conjunto.  Eliseu  morreu e foisepultado — como Cristo morreu e foi sepultado.  Jonas,  num sinalmiraculoso, fez mais do que morrer e ser sepultado; ele desceu até a

 própria morte, assim como Cristo. Elias triunfantemente feriu e dividiu aságuas do Jordão (eis um tipo da morte), passou por elas e então foi elevadoao céu —da mesma forma como Cristo também derrotou a morte e depoissubiu ao céu.

Agora observe-os de novo. Eliseu morre e é sepultado; todavia, em suamorte, ele dá vida a outro —do mesmo modo como Cristo, através de Suamorte, dá vida aos que entram em comunhão com Ele. Jonas vai ao próprio“inferno”, mas é tirado de lá, a fim de não ver a corrupção —como Cristonão foi deixado na morte, nem sofreu para ver a corrupção (At 2.21). Elias, ao subir, lançou seu manto e “uma porção dobrada de seu espírito”, para

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que seu seguidor na terra pudesse fazer “maiores obras” do que ele mesmofizera —assim como Cristo, ao subir ao céu, derramou o Espírito para queSeus seguidores pudessem fazer as “obras maiores” de que Ele falara.

Essas correspondências são fortuitas? Ou teriam sido planejadas —com

muita clareza, mas ao mesmo tempo com muita sutileza —para que asalmas piedosas, dispostas a serem ensinadas pelo Espírito de Deus, pudessem discernir as verdades divinas que jamais seriam buscadas pelossábios e prudentes deste mundo?

Quando estudarmos o pequeno livro que leva o nome de Jonas,falaremos mais detalhadamente sobre os ensinos peculiares ocultos, masainda assim visíveis, na história desse profeta. Enquanto isso, apreciemos

devidamente o significado de Elias, Eliseu e Jonas como um trio. ComoDeus preparou maravilhosamente seu povo terreno, através das obras eexperiências sobrenaturais desses três profetas, para aquele supermilagreque estava ainda por acontecer: a ressurreição do Senhor Jesus, o Cristode Israel e o Salvador do mundo!

Em 1 Coríntios 15.4, Paulo diz que Cristo “ressuscitou ao terceiro dia,segundo as Escrituras”. Mas a quais Escrituras do Antigo Testamento ele

estava se referindo? Talvez tivesse em mente o Salmo 2.7 (citado por elena mesma situação em Antioquia da Pisídia —veja Atos 13.33); ou talvezestivesse pensando no Salmo 16.10, 11 (versículos que Pedro citou como profecias da ressurreição no dia de Pentecoste — veja Atos 2.25-36).Temos plena certeza, porém, de que também tinha em mente esses trêshomens, Elias, Eliseu e Jonas; pois durante aqueles três anos “de silêncio”que Paulo passou na Arábia (G1 1.17, 18), quando o Espírito o ensinou arespeito de “todas as Escrituras” nas coisas referentes a Cristo, ele deveter passado a ver nesses três maravilhosos profetas vislumbres que jamais

 pudera sequer imaginar! Todos os aspectos mais proeminentes daressurreição de Cristo são manifestados previamente por esses três

 profetas, até mesmo os três dias e noites no Hades e a saída no terceirodia; de modo que Paulo pôde dizer que a ressurreição do Senhor no“terceiro dia” deu-se verdadeiramente “SEGUNDO AS ESCRITURAS”!

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O SEGUNDO LIVRO DOS REIS(3)

Lição Ne 37

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 NOTA: Para este terceiro estudo de 2 Reis, releia do capítulo 9 ao 12duas vezes.

Mediante recentes pesquisas, o Segundo Livro dos Reis tem sidoconfirmado e ilustrado de modo muito mais amplo do que qualquer outrolivro do Antigo Testamento. Isto se deve ao fato de os registros da Assíriae da Babilônia, abrangendo o mesmo período de 2 Reis, terem sido em

grande parte recuperados. Os monumentos desses dois grandes impérioslançaram uma luz, e por meio dela notamos com gratidão e surpresa aabsoluta fidelidade e a exatidão minuciosa da história sagrada, devido asucessivas e inesperadas confirmações. A lição ensinada através disso deveser considerada e lembrada. Temos menos provas de outras partes dahistória do Antigo Testamento, por termos menos informações relativasaos países e épocas de que trata a narrativa bíblica. Mas onde quer que a

cortina se levante, observamos exatamente o que foi relatado na Bíblia.Pode haver prova mais completa de sua confiabilidade?

JOHN URQUHART

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O SEGUNDO LIVRO DOS REIS (3)

Os reis perversos do reino do norte

COMO JÁ notamos (veja a lição 34), no Primeiro Livro dos Reis os oitohomens que governaram no reino do norte foram perversos. O que dizerdos outros onze que figuram neste Segundo Livro dos Reis? A resposta étanto reveladora quanto lamentável. O registro diz que cada um deles “fezo que era mau” — com exceção de Salum, e ele reinou apenas um mês!Eis as referências: 3.2,3; 10.31,32; 13.2, 3, 11; 14.24; 15.9,18,24, 28; 17.2.Que registro! E quão ruinoso o resultado!

Pense nessa triste linhagem de reis em paralelo com a linhagem davídicaque reinou sobre Judá. Já observamos nos registros dos reis de Judá queo padrão segundo o qual cada rei é avaliado é o exemplo de Davi. Este éum fato interessante e vale a pena examiná-lo. É o que ocorre no caso deSalomão (1 Rs 11.6), Abias (15.3), Josafá (2 Cr 17.3), Amazias (2 Rs 14.3),

Acaz (16.2), Ezequias (18.3) e Josias (22.2). Davi lançou assim umasombra positiva sobre seus sucessores reais, durante um período de cercade 370 anos.

Voltando agora para esta sucessão contínua de homens “perversos” quereinaram sobre o reino das dez tribos do norte, encontramos um padrãocomparativo ainda mais enfático. Lamentavelmente, não se trata de umexemplo nobre como o de Davi — é justamente o inverso. Não existe

ninguém nesta  linhagem para estabelecer uma norma de verdadeirasantidade ou lançar sobre o trono qualquer brilho duradouro. O padrão

 pelo qual esses reis de  Israel  são julgados é o reinado vergonhoso de Jeroboão,  o primeiro que ocupou o trono do reino do norte depois daseparação das dez tribos de Judá; e o epitáfio que distingue Jeroboão, esteatrevido ofensor, é: “JEROBOÃO, FILHO DE NEBATE, QUE FEZ PECAR A ISRAEL”. Inúmeras vezes ele é mencionado nos registros dos reis com essa

horrível designação, tanto que as palavras quase se transformam numrefrão. Eis aqui um fato surpreendente e trágico: acerca de quinze dosdezoito reis que sucederam a Jeroboão no trono do reino das dez tribosafirma-se que eles fizeram “o que era mau”, seguindo o exemplo de“Jeroboão, filho de Nebate, que fez pecar a Israel”. Estas são as

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referências: Nadabe (1 Rs 15.26), Baasa (15.34), Zinri (16.19), Onri (16.25,26), Acabe (16.31), Acazias (22.52), Jorão (2 Rs 3.2, 3), Jeú (10.31),Jeoacaz (13.2), Jeoás (13.11), Jeroboão II (14.24), Zacarias (15.9),Menaém (15.18), Pecaías (15.24) e Peca (15.28).

O perverso Jeroboão projetou assim sua sombra mortal sobre o trono ea agonia do reino das dez tribos durante um período de 250 anos, até que,finalmente, degradado, devastado e deportado, ele foi arrasado pelo dragão assírio.

Será bom refletirmos sobre as sombras lançadas por esses dois homens,Davi e Jeroboão. Todos nós lançamos sombras enquanto atravessamosesta vida. Assim como nossos corpos projetam suas sombras invo

luntariamente, nós também, de modo contínuo e involuntário, lançamosa sombra de nossa influência moral e espiritual sobre outras vidas. Não podemos separar-nos desta influência involuntária e quase sempreinconsciente projetada sobre os outros, da mesma forma como nossoscoipos não podem se livrar de suas próprias sombras. O que podemos  determinar é o tipo  de sombra que lançamos. Nossa influência, mesmosem qualquer pronunciamento dos lábios, pode contribuir tanto para a

salvação como para a condenação eterna de outras almas. Deus nos guardede projetarmos uma sombra como a de Jeroboão! Entre os jovens e osvelhos que nos rodeiam, há sempre aqueles que, por uma ou outra razão,encontram-se numa disposição mental sensível, suscetíveis à sombra dainfluência exercida por outra personalidade.

É muito sério refletir sobre o fato de que a sombra de nossa influênciasilenciosa pode ter resultados que cheguem até a eternidade. E bom

lembrar também que nossa sombra muitas vezes continua aqui, mesmodepois de termos ido embora, como aconteceu com Davi e Jeroboão.Estariam mortos Voltaire, Paine, Ingersol e Huxley, assim como outroscéticos religiosos que os seguiram? As sombras deles não continuamcaminhando sobre a terra, murmurando suas velhas blasfêmias em novafraseologia entre as paredes de nossas escolas e faculdades? Por outrolado, estariam mortos Lutero, Calvino, Wesley, Whitefield, Moody eSpurgeon? As sombras desses evangelistas seráficos, com a plenitude deCristo, não continuam caindo como bênção duradoura sobre nossa vida?

Pode-se objetar que esses homens escolhidos por nós são todos famosos,sendo que o mesmo não se aplica aos menos notáveis. Se pensamos assim,estamos errados. A sombra vil de Adolph Hitler inclui em si todos os

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outros homens cujos nomes jamais serão publicados, mas que influenciaram os primeiros anos de Hitler e fizeram dele o que se tornou maistarde. Falamos de Wesley, Whitefield e outros gênios santificados doreavivamento metodista; mas lembre-se de que, na verdade, a sombra

celestial dessa época gloriosa não passa da influência combinada daquelesmilhares de obscuros mas consagrados homens e mulheres que, para ohistoriador, constituem simplesmente uma multidão anônima.

Talvez alguns leitores estejam agora agradecendo a Deus a vida de um pai ou de uma mãe fiel que partiu ou ainda de outro ente querido cristãoque faleceu, mas cuja sombra ainda perdura. Ou quem sabe alguém queleia estas linhas sofra e chore por causa de uma sombra escura lançada

sobre sua vida por antepassados de outro tipo. Que espécie de sombra nós vamos lançar hoje e deixar amanhã? Sem dúvida, nossa influência permanecerá depois de nós. Deus nos mantenha perto de Cristo e nosajude a projetar a sombra de uma influência santificada que permaneça para curar e abençoar, como ocorreu com a sombra de Pedro, muito tempoatrás em Jerusalém, que curava os doentes sobre os quais caía!

A dispersão do reino do norte

Encontramos registrado em 2 Reis 17 um dos mais trágicos anticlímaxda história. Com quanta esperança de um destino superior os hebreushaviam entrado em Canaã sob a liderança de Josué! Em que miséria astribos do reino do norte são agora levadas para longe e dispersas! Nestecapítulo 17, encontramos a condenação final do reino das dez tribos e adeportação de seu povo abatido e derrotado para o cativeiro, encerrando

 para sempre sua existência como reino autônomo.Os pecados que originaram essa monstruosa calamidade que os

esmagou estão escritos aqui indelevelmente, incrustados para sempre, afim de que todos os que vierem depois possam conhecer a verdadeira causadaqueles acontecimentos e justificar os tratos de Deus com os homens.Leia de novo do versículo 7 ao 23. Que lista de violações da aliança entreDeus e Israel! Que idolatria insaciável! Que impiedade arrogante! Que

 profundidade de degradação! Note especialmente do versículo 20 ao 23.Aqui, bem no final da acusação divina e no momento crítico da mina, cainovamente a sombra medonha desse homem perverso, o primeiro rei que

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ocupou o trono do reino das dez tribos —“Jeroboão, filho de Nebate, quefez pecar a Israel”.

“Pelo que o Senhor rejeitou a toda descendência de Israel, e os afligiu e 

os entregou nas mãos dos despojadores, até que os expulsou da sua  presença... Assim andaram os filhos de Israel em todos os pecados que  Jeroboão tinha cometido; nunca se apartaram deles, até que o Senhor  afastou a Israel da sua presença... ” (2 Rs 17.20, 22, 23)

Há certos fatos de grande importância que devemos notar agora quantoà eliminação do reino das dez tribos.

Primeiro, vemos aqui, escrita em linhas nítidas e terríveis, a operação da “justiçapoética”, ou seja, vemos o juízo divino caindo sobre uma naçãoem correspondência direta ao seu pecado, do mesmo modo como umalinha de poesia responde a outra. Com toda segurança, este capítuloatribui a dispersão à mão vingadora do próprio Deus. Assim, se estecapítulo é uma explicação inspirada, nenhuma filosofia da história seráverdadeira, caso não reconheça a mão soberana de Deus controlando

todos os eventos e desenvolvimentos. Alguns homens, hoje, estãoinclinados a desprezar a idéia de que Deus castiga os pecados das naçõesde modo assim direto, fazendo-as pagar por eles. Se a Bíblia realmente éa Palavra de Deus, essas pessoas estão erradas. O Deus que derrubou oreino de Israel, castigando-o com a dispersão, continua sendo o Deus quereina e julga as nações. Só existe um Deus verdadeiro. Ele não abdicou.Seu poder não diminuiu, e Sua natureza continua a mesma. Ele é o Senhorque diz: “Eu não mudo”. Aqueles que crêem na Bíblia como a Palavra deDeus têm condições de entender pelo menos um pouco do significadoimplícito do que ocorreu com os países da Europa nos últimos anos deguerras e conflitos. A nosso ver, os que dizem não identificar qualquerevidência de controle sobrenatural sobre as estranhas anomalias da últimaguerra e em suas conseqüências estão com uma cegueira anormal. Damesma forma como Deus manteve o controle das revoluções da histórianos dias do Egito, Assíria, Babilônia e Israel, Ele continua fazehdo issoagora, na história das atuais Rússia e Alemanha, Estados Unidos eInglaterra; e tão certo como Deus puniu os pecados das nações, aplicandoentão o juízo, Ele repete hoje a mesma fórmula.

Segundo, devemos notar que a dispersão das dez tribos ocorreu em dois

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neser IV. Veja de novo 17.3-6. É notável que Samaria tenha conseguidoresistir aos soldados experientes da Assíria durante três anos (v. 5).Provisões e munição devem ter sido acumuladas antecipadamente. Elestambém esperavam diariamente ajuda do Egito (v. 4), que, no entanto,

 jamais chegou. E a cidade finalmente caiu. Podemos imaginar a condiçãode seus habitantes e o tratamento que receberam dos assírios, um povonotoriamente cruel e que parece ter sido, entre todos os opressores, o quemais se destacou na aplicação de torturas. Todo o povo foi levado embora,não voltando nunca mais a ver Samaria.

Terceiro, esta dispersão das dez tribos concorda plenamente com o que sabemos dos costumes assírios daquela época.  John Urquhart diz: “Umaspecto que se destaca nas campanhas de Tiglate-Pileser III é a remoçãoda população de um país conquistado em cativeiro para a Assíria,colocando-se em seu lugar povos de terras também distantes, sob asupervisão de oficiais assírios, anexando desse modo tais terras à Assíria.

 Não havia resistência a temer da parte de homens vencidos, sem laços emcomum e sem uma pátria a defender. Esta medida foi eficaz em acabarcom as conspirações e alianças que costumavam surgir nos distritosconquistados, assim que os exércitos assírios se retiravam. Pode-se dizerque este plano foi inventado pelo próprio Tiglate-Pileser”. Inscriçõesassírias há muito sepultadas, agora desenterradas e interpretadas pora rqueó logos , mos t ram-nos que es t a p rá t i ca fo i execu tadaimplacavelmente. As referências a ela se repetem. Não temos espaço aqui

 para citá-las, exceto uma como exemplo: “Tirei deles 155.000 pessoas ecrianças. Levei embora seus cavalos e gado, não podendo sequer contarseu número. Aqueles países acrescentei às fronteiras da Assíria... como

 barro os esmaguei, e o ajuntamento de seu povo mandei para a Assíria”.A medida de Tiglate-Pileser foi seguida pelos seus sucessores, poisresolveu o problema que até então desnorteava todo conquistador: comomanter os povos no cultivo da terra, para assim enriquecer o império, semque eles desenvolvessem espírito ou meios para uma revolta. Ao que

 parece, Salmaneser, que sitiou Samaria, morreu no ano da queda dacidade, e a conquista foi reivindicada por Sargão, seu sucessor. Foram

encontradas inscrições feitas por Sargão que falam da deportação dosisraelitas de Samaria a seu mandado (27.290 é o número dado por ele) edo estabelecimento de estrangeiros na terra.

Quarto, não houve retomo desta dispersão.  Os descendentes desses

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exilados podem ter voltado à Judéia duzentos anos depois, na ocasião emque o “remanescente” judeu retornou com Esdras e Neemias; além disso,

 porém, não houve retorno algum, sendo que o reino das dez tribosdesapareceu por completo. Recentemente, foram feitas tentativas para

identificar essas tribos de Israel. Os índios americanos e os armênios, entreoutros, foram sugeridos. A teoria do israelismo britânico, que as identificacom os povos britânicos e americanos em todo o mundo, é atraente;

 porém, quanto mais nos aprofundamos nesse argumento, tanto mais difícilachamos aceitá-lo. Mas não podemos discutir isso aqui. Devemos noslimitar ao  fa to   histórico da dispersão dessas tribos.  Isso  aconteceurealmente, sendo uma tragédia terrível que ainda hoje provoca lágrimas.Entre os muitos documentos assírios agora recuperados, há um contratode venda (feito cerca de 14 anos após a dispersão de Israel) em que doishomens e uma mulher israelitas são vendidos por um fenício a um egípcio

 por três minas de prata (cerca de 27 libras esterlinas). Esta condição deescravatura perpétua deve ter sido o destino de milhares de pessoas. O“caminho dos pérfidos” é verdadeiramente “intransitável” (Pv 13.15).Israel recusara-se a aceitar os serviços nobres de Deus. Ele deve agorasofrer e chorar na servidão degradante aos homens. Realmente, aquelas

 palavras de Jesus enquanto chorava sobre Jerusalém, séculos mais tarde,têm uma aplicação duradoura e ampla. Ele diz: “... quis eu ... e vós não oquisestes!” (Mt 23.37); assim, “... já não me vereis...” (Mt 23.39).

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O SEGUNDO LIVRO DOS REIS(4)

Lição NQ38

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 NOTA: Para este estudo de 2 Reis, leia outra vez do capítulo 18 até ofinal do livro. Esses 18 capítulos são importantíssimos, pois levam ao pontoculminante do juízo divino que caiu sobre Judá na forma do exílio naBabilônia. Eles devem ser lidos com cuidado e reflexão.

Os que estão familiarizados com os comentários críticos sobre o Antigo

Testamento verão até que ponto seu conteúdo é rejeitado por esta novaevidência (i. e.,  da arqueologia) — tal como, por exemplo, o fato de omonoteísmo ter sido a religião original e o politeísmo um subproduto dele,ou de os habiru serem, afinal os hebreus e os israelitas no tempo de Josué.De fato, se hoje alguma pessoa cética, ou simplesmente franca, resolvessedevolver na mesma moeda, passando a compilar uma enciclopédia doserros cometidos pelos críticos e comentaristas do Antigo, Testamento,

colocando ao lado de cada falha os fatos reais que recentemente vieram àtona, essa obra certamente ocuparia muitos volumes.SIR CHARLES MARSTON

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O SEGUNDO LIVRO DOS REIS (4)

A trajetória e queda de Judá

O r e i n o   d a s   d e z   t r i b o s   não existe mais. Suas cidades foramsaqueadas, sua capital aniquilada, sua casa real varrida e de sua terraagradável foram literalmente jogados fora os habitantes israelitas, sendorepovoada por uma mistura híbrida de raças, trazida de longe pelo

dominador assírio. Agora, com a história do reino das dez tribos encerrada para sempre, a última série de capítulos neste Segundo Livro dos Reis(18-25) trata unicamente da trajetória final e da queda de Judá. Esses oitoúltimos capítulos do livro vão, portanto, desde a queda de Samaria (721 a.C.) até o saque de Jerusalém (587 a. C.), um período de cerca de 130 anos.

Poderia algo dar ao reino irmão motivo mais grave para reflexão penitente e vontade de regenerar-se do que aquilo que acontecera às deztribos? O juízo, há muito prenunciado, mas misericordiosamente adiado,enfim caíra. As advertências pronunciadas pelos fiéis profetas do Senhorse haviam materializado com trágica exatidão. Israel abusara de suaaliança com o Senhor, e Ele agora o rejeitara completamente. As notíciassobre esse acontecimento devem ter despertado muitos corações econsciências em Jerusalém, enchendo-os de singular apreensão. Todavia,o fato é que esta terrível demonstração da vingança divina teve poucoefeito profundo ou duradouro sobre Judá. Exceto pelo remado deEzequias, e num grau menor pelo de Josias, repete-se a mesma históriade apostasia e degradação, até que Jerusalém paga o castigo agonizantedeplorado por Jeremias em suas “lamentações”.

Examinemos esses oito capítulos restantes de 2 Reis. Desde a época daseparação das dez tribos de Judá (1 Rs 12) até o ponto onde começa estecapítulo 18 de 2 Reis, doze sucessores de Davi ocuparam o trono de Judá.Oito ainda surgirão antes da queda de Jerusalém: Ezequias, Manassés,Amom, Josias, Jeoacaz, Jeoaquim, Joaquim e Zedequias, dos quais trêsexigem um comentário especial. Em primeiro lugar destaca-se o reiEzequias.

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Ezequias

O bom rei Ezequias foi de fato um homem notável. Soldado, estadista,arquiteto, poeta, santo —ele foi tudo isso. Seu reinado foi o maior desde

os dias de Davi e Salomão. Enquanto examinamos os três capítulos quefalam a seu respeito (18-20), devemos ler também o relato paralelo em 2Crônicas 29-32. É um registro nobre. Logo depois de subir ao trono, elereabriu e reparou a casa do Senhor, reorganizando o sacerdócio e osserviços dos levitas. Chamou seus súditos de volta à adoração do Deusverdadeiro, guiando-os através de seu próprio exemplo ilustre. Ezequiasdestruiu ídolos, santuários e altares falsos em todo o reino. Reuniu o povo

numa grande observância nacional da Páscoa, sobre a qual está escrito: “... porque desde os dias de Salomão, filho de Davi, rei de Israel, não houvecousa semelhante em Jerusalém” (2 Cr 30.26). Ele também esmagou osinimigos de Israel e ampliou as fronteiras, tendo sido “enaltecido à vistade todas as nações” (2 Cr 32.23). Afirma-se que ele “confiou no SenhorDeus de Israel, de maneira que depois dele não houve seu semelhanteentre todos os reis de Judá, nem entre os que foram antes dele” (2 Rs 18.5)

Quantos benefícios sólidos resultam sempre que homens, reis e naçõesandam nos caminhos do Deus verdadeiro! Começam a materializar-se asesperanças douradas que a política, a economia, a legislação e a educação por si mesmas jamais conseguem cumprir.

 Ezequias e as Escrituras

Contudo, a importância de Ezequias não está limitada ao seu reinado eao seu tempo. Embora poucos possam compreender, seu impactocontinua sendo sentido em nosso mundo moderno. Ele é realmente umdos homens muito  importantes da história, e as repercussões de seusesforços durarão até o fim dos séculos.

Parece claro que devemos bastante a Ezequias no que se refere àorganização e transmissão das Escrituras do Antigo Testamento. Pense no

que isso significa para as nações e para a história. Note algumas dasevidências de que Ezequias agiu de acordo com as Escrituras. Destacamosseu zelo pela casa do Senhor (2 Cr 29.3-19) e pela adoração do Senhor (w.20-36), além de sua estrita obediência ao padrão davídico (w. 25,27, 30).Seu prazer estava claramente na  palavra  do Senhor. Além disso, 2

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Crônicas 31.21 fala da “obra"  que começou “na lei e nos mandamentos”. Eisso não é tudo; ele formou ainda uma sociedade  de homens para essetrabalho literário piedoso. Uma referência a Provérbios 25.1 mostrará queesses “homens de Ezequias” tiveram uma boa participação no preparo do

Livro dos Provérbios em sua forma atual. O trabalho dificilmente selimitaria a esse único livro! Já foi dito, com razão, que, na época deEzequias, “Israel alcançou seu apogeu literário”, sendo o próprio rei, o

 patrono real da piedade e das letras. Isaías, Sebna e Joá foram líderes entreesses “homens de Ezequias” (2 Rs 18.18; 19.2).

Parece haver uma curiosa confirmação do trabalho de Ezequias nasEscrituras, na forma de uma peculiaridade que talvez poucas pessoas

conheçam. No final de muitos livros do Antigo Testamento, nos originaishebraicos, ocorrem três letras maiúsculas que nenhum escriba ousouomitir, ainda que seu significado tenha se perdido. São as três letrashebraicas correspondentes a H, Z, K, as três primeiras do nome Ezequias.É muito provável, disse J. W. Thirtle, que, após os “homens de Ezequias”terem completado seu trabalho de transcrição dos vários livros, Ezequiastenha colocado neles sua própria assinatura como confirmação real.

Quando chegarmos ao estudo do Livro dos Salmos veremos que Ezequiasnão só teve muito a ver com a organização dessa compilação, comotambém foi o autor de alguns salmos e canções.

O reino de Ezequias ganhou destaque pelo fato de quinze anos teremsido acrescentados à sua vida (2 Rs 20; Is 38). Foi durante esses anos amais que as atividades literárias de Ezequias chegaram ao auge. Há maissignificado nisso do que parece a princípio. Os dias de Judá estavam

contados. Só mais cinco reis deveriam reinar, antes de começarem asdeportações para a Babilônia, e, dentre eles, quatro iriam mostrar-seímpios fracassos. Com certeza, chegara o momento de reunir e editar asEscrituras inspiradas, a fim de preservá-las e transmiti-las; e quem seria ohomem de Deus para isso? Quem mais adequado e disposto queEzequias? Temos bons motivos para agradecer a Deus a vida de Ezequias,aqueles quinze anos a mais e seus esforços com relação às Escrituras, queiriam significar tanto para a posteridade. Ezequias é realmente umagrande figura.

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Manassés

Vamos falar de “estudo de contrastes”! Haveria um contraste tãoextremo entre pai e filho como houve entre Ezequias e Manassés? Como

é possível que algumas vezes o melhor dos pais tenha o pior dos filhos, eo pior dos pais o melhor dos filhos? Eis um ótimo tema de estudo para os psicólogos! Não tentaremos resolver esse problema, mas procuraremosnos precaver em vista dele. Se homens como Samuel e Ezequias tiveramfilhos como Joel, Abias e Manassés, tenhamos cuidado antes de permitirque hoje nossos lábios censurem pais piedosos que têm filhos e filhasmundanos.

Há pouco tempo atrás, ouvimos duas mulheres cristãs criticandoseveramente um cristão idoso e santo, conhecido por sua habilidade emganhar almas para o Salvador. “Seria muito melhor, se ele começasse emcasa com seu filho não-convertido e sua filha mundana”, disse uma para aoutra. “O comportamento òe seus filhos condena seu cristianismo emcasa”. Ficamos tristes ao ouvir essas palavras sarcásticas, pois sabíamoscomo o bom homem orara por seus filhos, como tivera uma vida íntegra

diante deles, como lhes suplicara e chorara por causa deles em nossa presença apenas uns dias antes. Como a língua de alguns cristãos às vezesé uma espada cortante! Como eles ferem o coração de Jesus cada vez quedegradam o bom nome de algum outro cristão! Faremos bem em pedir aoEspírito Santo que “coloque um sentinela” à “porta de nossos lábios”! Éfácil magoar cruelmente corações santos que já estão cheios de tristeza

 por causa de filhos e filhas desviados.Vejamos agora Manassés: que personagem! É também um enigma

sombrio o fato de o mais perverso de todos os reis de Judá ter tido oreinado mais longo! Cinqüenta e cinco anos é um período extenso.Durante mais de meio século, Manassés praticou atos quase im~ publicáveis. Não precisamos nos demorar aqui em seus extremos deidolatria e espiritismo, em sua oferta de sacrifícios humanos, no fato deter feito correr sangue inocente pelas ruas de Jerusalém (incluindo o do

 profeta Isaías, martirizado) e assim por diante. Diz-se até que ele praticoumales maiores do que os dos próprios amorreus, a quem Deus removeudiante do povo escolhido. Não é preciso muita imaginação para perceberos efeitos que tudo isto teria sobre a nação.

Mas existem três aspectos notáveis peculiares a Manassés que devemos

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examinar de modo especial. Para isso, leiamos o relato paralelo em 2Crônicas 33.

Em primeiro lugar, somos informados de que, Manassés foi levado cativo  para a Babilônia. O versículo 11 diz: “Pelo que o Senhor trouxe sobre eles

os príncipes do exército do rei da Assíria, os quais prenderam a Manasséscom ganchos, amarraram-no com cadeias, e o levaram a Babilônia”. Esteversículo tem sido o “pomo de discórdia” entre os críticos bíblicos. Setivesse sido um rei babilónico a levar Manassés cativo para a Babilônia,tudo seria normal; mas um rei da Assíria, cuja capital era Nínive, do outrolado do Rio Tigre, levando Manassés cativo para a Babilônia, que ficava500 km ao sul, junto ao Eufrates — bem, isto com certeza é um erro!

 Novamente, porém, a Bíblia mostra estar certa e os críticos, errados.Sabemos que o rei da Assíria que reinou na mesma época do pai deManassés, Ezequias, foi Senaqueribe, e que o filho deste, que reinoudurante parte do reinado de Manassés, foi Esardom (2 Rs 18,19; 2 Cr 32).Recentes descobertas feitas por estudiosos da Assíria mostram que, detodos os reis da Assíria, este Esardom fo i o único que construiu um palácio na Babilônia e viveu ali!

Segundo, no cativeiro, Manassés arrependeu-se e foi perdoado por Deus. Ele se torna assim um dos casos mais surpreendentes do amor divino perdoando os maiores pecadores. Veja os versículos 12 e 13. Manassésconverteu-se realmente!

Terceiro,  Manassés foi devolvido a Jerusalém e corrigiu, na medida do possível, todo o mal que praticara. Leia do versículo 14 ao 20. Ele é umadas advertências mais graves a todos os perversos, pois assim como o juízo

caiu sobre ele em retribuição direta pelos males praticados, o mesmoacontecerá a outros como ele. Todavia, Manassés é também um dos maismaravilhosos incentivos a todos os que se arrependem verdadeiramente, pois ele nos mostra que, apesar de termos ofendido a Deus, o amor dEleé tal que Se agrada em mostrar misericórdia ao pior pecador.

JosiasDeixamos de lado o reinado perverso de Amom, filho de Manassés.

Depois de dois anos ele foi morto por seus próprios servos (2 Rs 21.19-26).Chegamos assim ao nobre reinado de  Josias.  Este foi um intervalo

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luminoso durante os últimos cem anos do reino de Judá, isto é, entre amorte do rei Ezequias, em 698 a. C., e o saque de Jerusalém pelos

 babilônios, em 587 a. C., quando a maior parte do povo de Judá foi levada para o exílio. A luminosidade do reino de Josias infelizmente compara-se

à do ocaso —um brilho final da glória evanescente, pouco antes de o tronode Davi ser transformado em pó.Josias subiu ao trono por volta de 641 a. C., quando tinha apenas oito

anos de idade. Nos primeiros anos de seu reinado, portanto, a rainha-mãe,assessorada por conselheiros de confiança, era quem praticamente dirigiao governo. Com dezesseis anos, “sendo ainda moço, começou a buscar oDeus de Davi, seu pai” (2 Cr 34.3); e aquilo que prometia desde os

 primeiros anos foi esplendidamente cumprido. Não nos demoraremosaqui no nobre progresso de seu reino. O fato de ter reparado o templo, aestranha descoberta do Pentateuco perdido, a leitura da lei para o povoreunido em seu reino, a renovação da aliança com o Senhor por causa do

 povo, suas medidas firmes contra os males morais e a organização de umaobservância nacional da Páscoa como jamais “houvera desde o dia dos

 juizes” — todas essas coisas estão incluídas nos registros e falam por simesmas. Existem, no entanto, dois eventos importantes que desejamoscomentar em especial. Vejamos. \

Primeiro, ogovemo de Josias não impediu realmente o declínio moral da nação. O aparente “reavivamento” consistiu mais em medidas externastomadas pelo próprio rei do que em um desejo sincero por parte do povoem geral. Houve muita reforma exterior, mas nenhum retorno interior. Aliderança do rei foi respeitada, mas não houve um verdadeiro arre

 pendimento em relação ao Deus tão descaradamente desobedecido. Judáfora longe demais. O senso moral do povo tornara-se tão insensível quenão tinham mais capacidade de responder genuinamente à direção do rei.Profeta após profeta e providência após providência, Deus suplicara a Seu

 povo, mas este havia mostrado que não queria,  até que, por aquele processo mortal que sempre opera na natureza humana, chegara ao pontoonde não podia. A apostasia e a idolatria passaram a fazer parte integrantedo caráter nacional. O povo perdera a comunhão com o Senhor. A

 percepção do trono terreno em Judá desaparecera, por terem perdido avisão do trono no céu. A persistente estupidez da idolatria, cada vez maisdepravando a nação, era um esforço desnorteado para preencher o vácuocriado pela perda da comunhão com o Senhor. A sensibilidade moral do

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 povo degenerara em sério endurecimento. À medida que as coisas pioravam, grandes profetas eram levantados; todavia, os mais vigorosos eos mais brandos dentre eles acabaram dizendo: “Quem creu em nossa

 pregação?” (Is 53.1). É evidente que as mudanças nos dias de Josias foram

superficiais, pois o povo estava pronto para voltar à idolatria e àinfidelidade logo depois de seu reinado. Pessoas que tinham coragem derejeitar mensagens como as de Isaías e Jeremias certamente mereciamcastigo, e o juízo já se achava à porta. Tudo isto é tristemente confirmadonas profecias de Jeremias. Este profeta corajoso começou seu ministériono décimo-terceiro ano de Josias e continuou até depois da queda deJerusalém (Jr 1.1-3). Os primeiros capítulos de Jeremias referem-se ao

reinado de Josias. Veja em Jeremias 3.10 a superficialidade do“reavivamento” na época de Josias. É bom, porém, perceber a nobreinfluência de Jeremias sobre o próprio rei durante todo seu reinado.Talvez Josias não tivesse sido o que foi sem a ajuda de Jeremias.

Segundo, o reinado de Josias ocorreu num dos pontos críticos mais lamentáveis da história.  Eventos da maior importância achavam-se emandamento: (1) a queda do império assírio, que existia há centenas de anos

e havia mantido completo domínio sobre as outras nações por um períodode aproximadamente duzentos anos; (2) o surgimento do novo império babilónico com Nabopolassar e seu filho Nabucodonosor, através de quema mais antiga senhora das nações colocou novamente sua mão no cetro dosreinos; (3) a formação do império medo, que, pouco mais tarde, comoimpério medo-persa, deveria vencer a Babilônia e, através do famoso“decreto de Ciro”, promover a reconstrução de Jerusalém e a restauraçãodo “remanescente” judeu, como conta o Livro de Esdras; e (4) a dissoluçãodo reino de Judá como reino independente (a destruição de Jerusalém ea deportação final dos judeus para a Babilônia aconteceu em 587 a. C.,somente vinte anos depois da morte de Josias, e desde então Judá nuncamais veio a existir como reino independente).

Mais tarde, em 536 a. C., quando o império babilónico foi vencido porCiro e o império persa tomou seu lugar, as várias regiões dominadas pelaBabilônia passaram para o governo persa. As centenas de milhares de

 judeus dispersos — tanto os do reino das dez tribos (Israel), levado pelaAssíria em 721 a. C., como os do reino do sul (Judá), levado cativo maistarde pela Babilônia — também passaram a ser dominados pelos persas.Houve o mesmo tipo de transição quando o império persa foi dominado

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 por Alexandre, depois por impérios menores e finalmente pelo romano.Só cerca de 50.000 voltaram à Judéia quando Ciro lhes deu permissão,

em 536 a. C. Dispersos entre as nações, os judeus mesmo assim permaneceram um povo distinto; eles foram preservados de conturbações por

sucessivas épocas e cresceram muito em número. Nós os encontramos aosmilhares, dispersos por todo o mundo romano nos dias de Cristo e dosapóstolos. Tiago dirigiu sua epístola às “doze tribos que se encontram naDispersão”; e Pedro começa escrevendo da mesma maneira: “Pedro... aoseleitos que são forasteiros da Dispersão, no Ponto, Galácia, Capadócia,Ásia, e Bitínia”. Como mencionado acima, porém, desde o período doexílio babilónico até hoje, Judá nunca mais existiu como reino

independente. Em maio de 1947, Israel mais uma vez se tornou constituído(e mais tarde reconhecido) como um estado independente; mas segundoobservamos num estudo anterior, a nação jamais se tornará de novo umreino independente até que volte o próprio Rei, nosso Senhor Jesus Cristo.Segundo o Antigo e o Novo Testamentos, somente Ele é o verdadeiroherdeiro.

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 NOTA: Para este estudo final em 2 Reis, releia cuidadosamente docapítulo 18 até o fim do livro, concentrando-se na última parte, isto é, de23.31 a 25.30.

As reformas foram superficiais. Imediatamente após a morte deEzequias, o povo voltou aos seus costumes perversos. Quando Ezequias

deu início à sua reforma, ele começou com o templo. Antes que qualqueroutra coisa pudesse ser feita, foram necessários 16 dias para que ossacerdotes e levitas tirassem todo o entulho do templo; isto significa queo templo simplesmente se tornara um depósito de lixo. Nos dias em queJosias efetuou sua reforma, o livro da lei foi encontrado. Note bem o queisto significa: ele teve de ser descoberto! Além do mais, os ensinamentossurpreenderam Josias de tal forma que ele interrompeu seu trabalho para

consultar a profetisa Hulda. O povo havia se esquecido tanto da lei de seuDeus que, ao encontrá-la, ele não tinha conhecimento algum dela.

G. CAMPBELL MORGAN

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O SEGUNDO LIVRO DOS REIS (5)

A Q UEDA DE JERUSALÉM E JUDÁ

NO ANO da morte do rei Josias, o império assírio também m orreu (608a. C.), e com isso desapareceu também a esperança terrena de Judá de

 proteção contra o Egito, de um lado, e contra a Babilônia, de outro. Os babilônios, vingadores de Jeová cujo advento fora anunciado por Isaíasmais de cem anos antes, tinham agora surgido. Finalmente seria desferido

o golpe fatal sobre Judá. O exílio babilónico aproximava-se. No relato bíblico desta temível desforra que caiu sobre Jerusalém e Judá, muitos pontos incidentais atraem nossa atenção. Limitemo-nos, porém, ao nossoobjetivo presente, escolhendo apenas certos fatos importantes.

Primeiro, chamamos atenção para o fato de a destruição de Jerusalém e o cativeiro de Judá serem enfaticamente atribuídos à mão soberana do Senhor.  Não considerar isto é perder nove décimos de seu significado.

“Com efeito, isto sucedeu a Judá, por mandado do Senhor...” (2 Rs 24.3;veja também 2 Cr 36.16, 17, 21). Por terem uma relação única com Deus, por serem o povo escolhido para personificar uma revelação especial deDeus para as nações e porque os tratos de Deus com eles são permanentemente transmitidos às nações através das Escrituras inspiradas,os juízos que lhes sobrevieram tornaram-se a suprema lição objetiva dahistória quanto à maneira como Deus governa as nações. Os estadistas de

hoje não poderiam fazer nada mais proveitoso do que estudar os princípiosdas disposições de Deus entre os povos da terra, conforme revelados nasEscrituras e exemplificados na nação de Israel. Quanto sofrimento poderiaser assim poupado! Mas os nossos políticos modernos são sábios demais

 para se tornarem realmente sábios.O juízo que caiu sobre o reino das dez tribos repete-se agora em Judá

 — vemos nele a operação da “justiça poética”. Os que quiserem podem

sorrir. São bem-vindos à sua tolice culta que faz da história uma questãode acaso cego. Nós ficamos com as Escrituras. Acreditamos que Deusordena as coisas na história segundo o comportamento das nações. Eleconcede ampla liberdade à vontade humana, a fim de que os homens e asnações sejam plenamente responsáveis por seus atos; mas Ele tem o

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controle supremo de todos os demais poderes e cumpre Sua vontadesoberana entre os povos da terra, tanto para recompensar os bons como

 para castigar os maus. Isto é tão verdadeiro hoje quanto o era quandoJerusalém caiu sob os golpes de Nabucodonosor.

Segundo, é bom notar que a deportação do povo de Judá deu-se em três etapas. A primeira delas aconteceu no terceiro ano do rei Jeoaquim. Entreos cativos então levados de Jerusalém para a Babilônia estava o jovemDaniel (Dn 1.1-4 com 2 Rs 24.1, 2; 2 Cr 36.5-7). A segunda deportaçãoocorreu cerca de oito anos mais tarde, pouco depois da morte de Jeoaquime da ascensão de Joaquim. Nabucodonosor depôs Joaquim após um curtoreinado de três meses, colocando em seu lugar Zedequias. Uma vez que

isto coincidiu com o início do reinado de Zedequias, deve ter ocorridoonze anos antes da destruição de Jerusalém. Nesta segunda deportação, Nabucodonosor levou dez mil cativos, escolhendo dentre todos oshabitantes de Jerusalém os mais úteis e os das classes mais altas (2 Rs24.8-6). Entre eles se achava o sacerdote (e mais tarde profeta) Ezequiel — pois ele próprio nos conta que, quando se deu a destruição deJerusalém, ele já se encontrava na Babilônia há dez anos (Ez 40.1),

A última deportação aconteceu em 587 a. C., precipitada por uma inútilrebelião de Zedequias. Nabucodonosor decidiu então destruir aquelacidade judaica e o reino de uma vez por todas. Depois de um cerco dedezoito meses “a cidade foi arrombada” (2 Rs 25.4). O rei Zedequias eseus guerreiros fugiram durante a noite, mas foram alcançados. Os filhosde Zedequias foram assassinados diante de seus olhos. A seguir, cegaramo rei Zedequias, ataram-no com cadeias de bronze e o levaram para a

Babilônia (todo este procedimento encontra seu paralelo nos registros dosconquistadores orientais desse período). Jerusalém foi completamentesaqueada de todos os seus tesouros e valores; o templo totalmentedesmantelado e todos seus utensílios levados embora; os muros da cidadeforam derrubados, e depois a cidade inteira, com seu templo profanado,seus palácios vazios e suas casas agora desertas, foi incendiada. Tudo istose acha registrado em 2 Reis 25 e 2 Crônicas 36.

Quem pode descrever o que o povo sofreu durante e depois do cerco?Um pouco do que eles suportaram pode ser visto em Lamentações,Ezequiel e Josefo. O rosto dos homens ficou escuro por causa da fome, esua pele enrugou e secou. As mulheres nobres buscavam restos de comidanos monturos; as crianças morreram ou foram comidas pelos pais (Lm

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2.20; 4.3-10); um terço dos habitantes morreu de fome ou da praga que ela provocou (Ez 5.12). Quase toda a população restante foi levada então parao exílio, só ficando os mais pobres, deixados como vinheiros e lavradores(2 Rs 25.11,12).

Terceiro, depois de os babilônios se retirarem de Jerusalém, houve uma  conspiração entre os judeus deixados na terra, resultando em nova fuga de  judeus da Judéiapara o Egito. Isto está registrado em 2 Reis 25.22-26, mas para entender perfeitamente esses versículos precisamos ler Jeremias40-43. (Jeremias preferiu ficar com os que haviam sido deixados na terra.)A seguinte citação dá uma idéia do que aconteceu.

“Ao levar Zedequias para a Babilônia, Nabucodonosor nomeou como

governador da Judéia um certo Gedalias, judeu de boa posição, mas quenão pertencia à família real. Gedalias fez de Mispa, perto de Jerusalém,sua residência, e logo se juntaram a ele vários judeus importantes quehaviam fugido de Jerusalém e se escondido até a partida dos babilônios.Os mais eminentes deles eram Joanã, filho de Careá, e Ismael, membroda casa real de Davi. Gedalias recomendou aos refugiados que sesubmetessem ao rei da Babilônia e cultivassem a terra. Seu conselho foi

aceito e, a princípio, seguido; mas, algum tempo depois, Joanã avisou aGedalias que Ismael pretendia destruí-lo. E logo, por Gedalias não tertomado as devidas precauções, o assassinato foi consumado. Outrasatrocidades se seguiram, mas, após algum tempo, Joanã e os outros líderesdos refugiados se armaram, forçaram Ismael a fugir para junto dosamonitas e, temendo então que Nabucodonosor os responsabilizasse pelocrime de Ismael, fugiram (contrariando os conselhos de Jeremias) com agrande multidão de judeus que fora deixada na terra, indo da Judéia parao Egito. Nosso escritor os abandona nesse ponto (v. 26) sem mencionar ascalamidades que lhes aconteceram ali, de acordo com os pronunciamentos

 proféticos de Jeremias (veja Jr 44.2-28).”Assim sendo, até os judeus deixados por Nabucodonosor foram

dispersos a partir da Judéia, e a terra tornou-se absolutamente desolada.Quarto, a data em que começou o cerco de Jerusalém é de grande 

significado e deve ser cuidadosamente observada. Em 2 Reis 25.1 temos essadata com notável precisão: “Sucedeu que, em.o nono ano do reinado deZedequias, aos dez dias do décimo mês, Nabucodonosor, rei de Babilônia,veio contra Jerusalém, ele e todo o seu exército, e se acamparam contraela, e levantaram contra ela tranqueiras em redor”. Esta é a primeira vez

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nesses livros históricos que um evento é datado com tamanha exatidão.Assim, mesmo sem considerar o restante, a data cuidadosamenteapresentada iria chamar nossa atenção; mas o fato é que este mesmoevento é referido com uma precisão igualmente impressionante em outras

 partes da Escritura. Na época em que Nabucodonosor investiu contraJerusalém, o profeta Ezequiel achava-se muito distante na Babilônia, ondeestivera exilado por mais de nove anos. No dia em que começou o cercode Jerusalém, Deus concedeu uma mensagem especial a Ezequiel sobreaquilo. Em Ezequiel 25.1, 2, lemos:

“VEIO A MIM A PALAVRA DO SENHOR, EM O NONO ANO, NO DÉCIMO MÊS, AOS DEZ DIAS DO MÊS, DIZENDO: FILHO DO HOMEM, ESCREVE O NOME DESTE DIA, DESTE MESMO DIA; PORQUE O REI DE BABILÔNIA SE ATIRA (i. e.,  CERCOU) CONTRA JERUSALÉM NESTE DIA”.

Isso não é surpreendente? No mesmo instante em que os exércitos babilónicos estavam chegando para cercar a capital judaica, o fato foirevelado por Deus a Ezequiel, a centenas de quilômetros de distância.Ezequiel recebeu ordens para escrever enfaticamente essa datada fim deque fosse observada e preservada —no décimo dia do mês de Tebete, em589 a. C. Desde então esse dia passou a ser observado pelos judeus comum jejum anual.

Além disso, o profeta Jeremias marca a data com o mesmo tipo de peculiaridade. Veja Jeremias 52.4. E porque tanta atenção é fixada nessedia? A resposta a essa pergunta também é encontrada em Jeremias, oumelhor, em uma comparação de Jeremias com Ageu e Daniel. O capítulo25 de Jeremias prediz um período de setenta anos de “desolação” emJerusalém. Mais tarde, encontramos isto ocupando a mente de Daniel (Dn9.1, 2) e mencionado de novo por Zacarias (Zc 1.12). Esse período de 70anos começa a partir daquele dia, cuidadosamente enfatizado, em que oexército babilônio sitiou Jerusalém —e este fato nos ajudará posteriormente a interpretar muitas coisas em nossos estudos.

 Não pode haver dúvidas de que o ano profético na Escritura é de 360dias (veja nosso artigo sobre a profecia das “setenta semanas” de Daniel).Se contarmos então setenta anos de 360 dias cada a partir do décimo diado mês de Tebete em 589 a. C., quando começou o cerco de Jerusalém,

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 povo escolhido estavam estritamente de acordo com o que fora anunciado para essas circunstâncias de negligência, quando a aliança foi proclamada pela primeira vez (veja Levítico 26.14-39).

Impressões finais

“Conquistada, cativa, lançada fora” —assim termina a história de Judácomo reino independente. Agora, lancemos um olhar retrospectivo sobre2 Reis para obter nossas impressões principais. O aspecto duplo deve sersempre mantido em mente —o humano e o divino. Em primeiro plano e

no sentido imediato, acha-se a falha humana vista nos reis e na multidão;mas, como pano de fundo e no sentido definitivo, acha-se o triunfo divino,conforme vimos nos profetas e em suas mensagens — pois devemoslembrar que todos os grandes profetas, cujos escritos chegaram até nós,

 profetizaram no período abrangido por 2 Reis, e são os escritos desseshomens que finalmente interpretam para nós tanto o tempo presentecomo o futuro da história de Israel.

Do lado humano, vemos, acima de tudo, que “onde não há visão, o povo perece”. Ao deixarem o culto sincero e simples do Senhor, eles tiveram asensação de que perderam Sua presença, e houve crescente idolatria,alianças ruinosas, incapacidade de discernir a mão de Deus, mesmoquando ela castiga, e perda do verdadeiro ideal de vida nacional; os valoresmorais foram menosprezados e a consciência chegou a um tal ponto deinsensibilidade que até as mensagens dos profetas inspirados deixaram de

fazer efeito. Sim, esta é a mensagem do lado humano. Quando se perde avisão de Deus, surgem inevitavelmente, como diz o Dr. Campbell Morgan,“ideais degradados, consciências adormecidas, propósitos derrotados”.Esta lição aplica-se também às nações de hoje, como aconteceu com Judáe Israel muito tempo atrás.

Do lado divino, porém, vemos o quadro do triunfo final. O maior profetadaquela época escreve a respeito do Senhor: ELE “não desanimará nemse quebrará” (Is 42.4). Quando o trono na terra desmorona, o trono no céucontrola as tempestades. O povo escolhido pode falhar na terra, mas o

 propósito escolhido atravessa os séculos, e a consumação prescrita écontemplada através dos olhos dos profetas. O exílio na Babilônia, queveio como juízo sobre os judeus, curou-os para sempre de sua idolatria e

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recuperou-os notavelmente da sensação de perda de Deus. A lei do Senhortornou-se extremamente preciosa para eles, e o verdadeiro ideal de suanação voltou a ser discernido, sendo preservado até hoje. Eles continuamsendo o povo escolhido. Que exemplo para nós! Espalhados sobre a

superfície da terra; sempre perseguidos, porém sempre preservados;mesclados com todas as raças, todavia o povo mais exclusivo do mundo.Sua história é um mistério, mesmo à parte das explicações dadas nasEscrituras. Outros povos de dimensões muito maiores do que eles passaram e desapareceram (como, por exemplo, os assírios e babilônios);no entanto, eles, os filhos de Abraão, continuam preservados, segundo a

 promessa da aliança, e serão preservados até que toda falha humana seja

completamente eclipsada no triunfo divino, quando o Filho maior de Davi,o Senhor Jesus, sentar-se no trono em Jerusalém e reinar sobre o impériomundial.

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OS LIVROS DAS CRÔNICAS (1)

Lição N2 40

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 NOTA: Leia duas vezes 1 Crônicas por inteiro.

AS GENEALOGIAS

 Nove capítulos de listas genealógicas! Que perda de espaço! Pelocontrário, que cegueira pensar assim! Nenhuma parte das Crônicas é maisimportante. Tais linhas de descendência eram de importância sagrada paratodos os judeus piedosos, e com razão, pois eles sabiam que sua nação,além de ser o repositório de uma revelação divina especial, possuía

 promessas esplêndidas que alcançavam as gerações ainda por nascer. O próprio cronista sabia muito bem que essas genealogias revelam o processo seletivo da eleição divina desde Adão e que a linhagem da aliançade propósito redentor deveria culminar no Messias. A preservação dotronco e dos principais ramos da árvore genealógica de Israel torna-seespecialmente vital depois do exílio babilónico (quando as Crônicas foramescritas). Milhares de famílias haviam sido desarraigadas. Os elos se

 partiram. Muitos registros se perderam (veja por exemplo Esdras 2.59), egrande parte dos arquivos de Judá deve ter se desintegrado, se não foicompletamente destruída. A lista de nosso cronista liga o período

 pré-exí lio ao páv-exílio, pois (note bem), em 9.2-34, vemos o retorno àJudéia após  o exílio. A interrupção é marcada pelo primeiro versículo

desse capítulo, que na verdade deveria ser o último do capítulo precedente. O  Bible Handbook,  de Angus, comenta: “Essas listas dão alinhagem sagrada através da qual a promessa foi transmitida durante quase3.500 anos, fato este incomparável na história da raça humana”.

J. S. B.

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OS LIVROS DAS CRÔNICAS (1)

o s e g u n d o   Livro dos Reis deixou uma estranha e sombria tristezaoprimindo nossa mente. Temos vontade de nos sentar com Jeremias, sobresacos de pano e cinzas, e lamentar em meio às ruínas: “Como jaz solitáriaa cidade! ... Tornou-se como viúva! ... Como se escureceu o ouro! ... Osnobres filhos de Sião, comparáveis a puro ouro, como são agora reputados

 por objetos de barro!” (Lm 1.1; 4.1, 2) A cidade foi saqueada. O temploqueimado. O campo assolado. A nação deportada.

Queremos seguir os milhares de homens de Judá para a terra do exílio,sentar-nos e chorar com eles junto aos bancos de Quebar, como fezEzequiel, ou misturar-nos a seus príncipes cativos na capital da Babilônia,como fez Daniel; a seguir, transpondo as décadas, voltaremos a Jerusaléme à Judéia com o “remanescente”, sob a liderança de Esdras e Zorobabel.

Todavia, antes de podermos fazer isso, os dois livros de Crônicas estãoà nossa frente e devemos ser gratos por eles. A Bíblia com certeza ficaria

mais pobre sem eles. Indo rapidamente de Adão a Neemias, eles nosfornecem as principais genealogias da nação israelita e os acontecimentosmais importantes do reino davídico até a época do exílio na Babilônia.

Como analisamos cuidadosamente os livros de Samuel e dos Reis, não precisaremos fazer mais do que um breve estudo de 1 e 2 Crônicas.Contudo, a brevidade de nosso tratamento não deve sugerir falta deimportância. Pelo contrário, essas crônicas não só estão vivas em cada

 página —até mesmo nas listas iniciais de genealogias! —mas têm grandesignificado para uma compreensão correta do sentido divino que percorrea história da nação israelita. A única razão pela qual tratamos 1 e 2Crônicas com brevidade é o fato de cobrirem praticamente o mesmoterreno de 2 Samuel e dos dois livros dos Reis.

Pode parecer que não passam de repetição. De fato é assim, mas não setrata de “vã” repetição. A história já contada nos livros de Samuel e Reis

é esboçada novamente, porém de um ponto de vista diverso, com novasênfases e novos aspectos, com acréscimos e omissões significativos,fornecendo interpretações que completam seu sentido. Nesta repetição,com seus acréscimos e omissões características, é que o ponto de vista e significado  particulares de Crônicas são realmente percebidos; pois se

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lermos essas “crônicas” lado a lado com os relatos anteriores em Samuele Reis, logo iremos notar que os acréscimos e omissões parecem ser todosdo mesmo tipo, isto é, todos dão a impressão de se conformar a um

 propósito central. Qual é então a idéia unificadora impregnada nesses

acréscimos e omissões? E qual o propósito central de Crônicas?

A idéia unificadora

Primeiro, quanto à idéia unificadora ou ênfase, todos os que estudaramou escreveram sobre esses dois livros de Crônicas são unânimes em

observar a proeminência dada ao templo e aos assuntos relacionados a ele.Entre muitas outras, vejamos a citação do Dr. A. T. Pierson: “Emboragrande parte do conteúdo dos Livros dos Reis seja repetido ou reafirmadoem Crônicas, muito é omitido, por ser estranho ao propósito do autor. Mastudo o que está ligado ao templo, sua preservação e restauração, à purezade seu culto, à regularidade e ordem de seus serviços; tudo o que tornaodiosos os ritos ou relíquias idólatras ou eleva Deus ao Seu verdadeirotrono no coração do povo, é aqui enfatizado”.

Se tivermos lido cuidadosamente o  primeiro  desses dois livros deCrônicas, como sugerimos no início do presente estudo, exemplos destaênfase sobre o templo e os tópicos a ele associados virãoiacilmente à tona.Por exemplo, começando pelo capítulo 11, todo o restante dos dezenovecapítulos de 1 Crônicas ocupa-se do reinado de Davi. Esses capítulos nãorepetem a conhecida história das aventuras românticas de Davi, seureinado em Hebrom, sua tristeza com a morte de Saul e Jônatas, seu

 pecado contra Bate-Seba e Urias ou a revolta de Absalão (essas, para nãomencionar outras, são algumas das principais omissões), mas, por outrolado, os seguintes assuntos que não são mencionados em Samuel e Reisaparecem agora detalhadamente —a reserva antecipada de material parao templo feita por Davi (22), a contagem e distribuição prévia dos levitase sacerdotes (23-24), a indicação e organização dos cantores, músicos e

 porteiros (25-26) — tudo na expectativa do templo  (essas, para nãomencionar outras, são alguns dos principais acréscimos).

Esta característica persiste até o Segundo Livro das Crônicas. O relatodo reinado de Salomão é muito mais curto aqui do que em 1 Reis; todavia,não menos de seis dentre os nove capítulos reservados a ele em 2 Crônicas

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referem-se ao templo. Também é importante o fato de que, a partir docapítulo 10, que marca a divisão da nação em dois reinos, o reino das deztribos do norte é completamente deixado de lado, por ter sido fundadosobre a apostasia da verdadeira adoração da nação e à parte da casa de

Davi. As Crônicas reportam-se apenas a Judá e Jerusalém, por serem esteso reino e a cidade que abrigam o templo. Todos esses capítulos restantes(10-36) não se restringem apenas a Judá, mas limitam-se igualmente ao

 ponto de vista que subordina todos os fatos políticos, militares e pessoaisaos interesses dessa religião santa da qual o templo era o grande símbolo.Assim, os reinos de Asa, Josafá, Joás, Ezequias e Josias, por exemplo,recebem destaque por causa das reformas religiosas e restaurações do

templo associadas a eles. Em Reis, apenas três versículos mencionam asreformas de Ezequias, contra três capítulos em Crônicas.Em qualquer parte de Crônicas, o templo é enfatizado como o centro

fundamental da verdadeira vida nacional, e mesmo onde ele não émencionado especificamente, fica claro que a ênfase está sempre nareligião por ele representada. Daremos apenas um exemplo disto. Diz oDr. J. H. Moulton: “Nenhum incidente particular salienta melhor o

contraste entre as duas versões do que o reinado de Abias. O relato profético (/. e. o de Reis) é uma breve nota sobre a perversidade do rei,tão grande que a sucessão continuou na família só por causa de Davi.Também é feita uma menção das guerras entre Israel e Judá. O cronista relata essas guerras com detalhes, oferecendo especialmente um ótimodiscurso de Abias dirigido ao inimigo, em que se concentra todo o espíritode Crônicas”:

“Não vos convém saber que o Senhor Deus de Israel deu para sempre a  Davi a soberania de Israel, a ele e a seus filhos, por uma aliança de sal? Contudo se levantou Jeroboão, filho de Nebate, servo de Salomão, filho de Davi, e se rebelou contra seu senhor. Ajuntou-se a ele gente vadia, homens malignos; fortificaram-se contra Roboão, filho de Salomão; sendo Roboão ainda jovem e indeciso, não lhes pôde resistir. Agora 

 pensais que podeis resistirão reino do Senhor, que está na mão dos filhos de Davi; bem sois vós uma grande multidão, e tendes convosco os bezerros de ouro que Jeroboão vos fez para deuses. Não lançastes fora os sacerdotes do Senhor, os filhos de Arão, e os levitas, e não fizestes 

 para vós outros sacerdotes, como as gentes das outras terras? Qualquer 

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que vem a consagrar-se com um novilho e sete carneiros logo se faz  sacerdote daqueles que não são deuses. Porém, quanto a nós, o Senhor  é nosso Deus, e nunca o deixamos; temos sacerdotes, que ministram ao Senhor, a saber, os filhos deArão, e os levitas na sua obra. Cada dia, de 

manhã e à tarde oferecem holocaustos e queimam incenso aromático, dispondo os pães da proposição sobre a mesa puríssima, e o candeeiro de ouro e as suas lâmpadas para se acenderem cada tarde, porque nós guardamos o preceito do Senhor nosso Deus; porém vós o deixastes. Eis que Deus está conosco, à nossa frente, como também os seus sacerdotes, tocando com as trombetas, para rebate contra vós outros, ó filhos de 

 Israel, não pelejeis contra o Senhor Deus de vossos pais; porque não 

sereis bem sucedidos” (2 Cr 13.5-12).

Até mesmo as genealogias nos nove primeiros capítulos levam aoestabelecimento em Jerusalém e na Judéia do “remanescente” que voltou(depois do exílio), necessário como base para o serviço do templo  esubsídio através do qual esse serviço seria sustentado (pois deve ficar

 perfeitamente claro que, em 9.2-34, a referência é ao novo estabelecimento depois do exílio. O versículo 1 marca a interrupção).

Assim sendo, sem necessidade de mais ilustrações, vemos a ênfaseunificadora que percorre Crônicas. Não se trata de simples repetição.Também não são apenas suplementos fornecendo inúmeros itensomitidos em Samuel e Reis. Elas relatam a história do povo eleito de umaforma nova e sob outra perspectiva.

O propósito central

Continuamos, porém, nos perguntando: “Por que  esta nova ênfaseunificadora? Qual o  propósito  por trás dela? Aqui, até certo ponto,devemos afastar-nos dos comentaristas. A razão comum dada para aênfase religiosa peculiar em Crônicas é que o escritor, ou melhor, ocompilador, era um sacerdote, uma pessoa com uma perspectiva bastanteeclesiástica para quem, muito compreensivelmente, todos os assuntosrelativos à adoração organizada e, em especial, ao templo eram deinigualável importância. Por exemplo, no  Bible Handbook   (“ManualBíblico”), de Angus, lemos: “Deve ser sempre lembrado que os livros de

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Crônicas são essencialmente levíticos.  Portanto, é dada proeminênciaespecial a tudo que se refere à casa e ao serviço do Senhor”. Lemos na

 Modem Reader’s Bible (“A Bíblia para os Leitores de Hoje”), de Moulton:“Toda a série de crônicas é movida pelo espírito eclesiástico consciente”.

Ellicott afirma: “Com base em todo o caráter e espírito do trabalho, amaioria dos críticos infere com razão que se trata da obra de um levitaligado ao templo”. Muitos outros parecem ser da mesma opinião.

Bem, as crônicas podem ter sido ou não compiladas por um sacerdoteou levita; mas dizer, como fazem muitos, que sua ênfase peculiar deve-se simplesmente ao fato de o compilador ter sido um sacerdote ou levita preocupado em exaltar sua própria linha de pensamento é perder de vista

o desígnio divino  predominante nesta parte das Escrituras e reduzir aimportância de Crônicas à perspectiva limitada de um eclesiástico que nãoera maior do que posto por ele ocupado. Se realmente quisermos apreciaro propósito central de Crônicas, devemos ter em mente a época e ascircunstâncias em que os livros foram publicados.

As crônicas passaram a ser compiladas após o exílio na Babilônia, quando o “remanescente” tinha voltado da Babilônia para a Judéia, sob a

liderança de Esdras e Zorobabel. Isto é confirmado com toda clarezamediante declarações e referências das próprias crônicas, como mostraremos no próximo estudo. Elas foram especialmente escritas para esses

 judeus repatriados e seus descendentes, que deveriam reconstituir a vida judaica nacional na terra, e foi por causa de certas novas circunstânciasque confrontavam agora o povo judeu que elas foram compiladas com umaênfase unificadora, como já notamos, e em vista de um propósito especial

que passaremos a mencionar.Se nos imaginarmos na Judéia com aquele “remanescente”, logo perceberemos que há uma grande ausência a ser compreendida pela nossamente: não há rei. Esse é o fato crucial a ser compreendido e o primeiroindicador do propósito de Crônicas:

O TRONO DE DAVI DESAPARECEU!

 Não é preciso muita imaginação para perceber o que isto significava para todos os judeus que viviam com seriedade. O trono de Davi era únicona terra, pois havia sido fundado sob uma aliança divina. Já tratamos dissonum estudo anterior, assim não precisamos mais demorar-nos no assunto

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aqui. Deve ter sido um problema grave para os judeus zelosos o fato denão haver mais um trono de Davi. O que salientamos, porém, é que o povonão estava voltando para reconstruir um trono e, sim, um  templo.  Naverdade, a reconstrução do templo foi o principal motivo de o imperador

 persa, Ciro, ter expedido um edito precipitando a volta do “remanescente” judeu a Jerusalém e Judéia (Ed 1.1-4). Talvez haja aqui uma lição oportunae vital para nossos dias. Note bem: mesmo antes de Neemias ser enviado

 para reconstruir a  cidade,  Esdras e Zorobabel são enviados com o“remanescente” para reconstruir o TEMPLO. Em qualquer reconstruçãonacional, temos de começar  assim  — com o templo, isto é, com DEUS!  Nossos políticos e reconstrutores do atual período pós-guerra não querem

aprender. Eles persistem na idéia mundana de que a  cidade  precisa serconstruída antes do templo, mas estão errados.

Agora, no entanto, compreendendo perfeitamente que o tronodesapareceu, vejamos o que resta. Haviam permanecido três coisas quesignificavam mais do que todas as outras:

1. Primeira, havia o ensino do passado, um passado como nenhum outro povo jamais tivera, e com uma importância nunca associada à história

de qualquer outra nação. Os ensinamentos desse passado haviam secompletado no exílio do qual o “remanescente” acabara de voltar; istoé, certos processos no passado da nação haviam se cumpridoexatamente, até ao último detalhe, chegando ao seu amargo fim.Fazendo um retrospecto, o povo da aliança podia ver agora, em linhasseveramente definidas, o ponto exato para onde esses processos deapostasia os haviam levado, percebendo que era vital aprender para

sempre a lição do passado de sua nação.

2. Segunda, havia a promessa profética para o futuro. Embora o trono deDavi não mais se achasse entre eles, a linhagem davídica continuavasegundo a promessa e aliança divinas, deveria vir o Messias queelevaria o trono davídico a um esplendor sem precedentes econsumaria o propósito do Senhor em Israel e através dele,introduzindo um reino mundial esplêndido, com seu centro emJerusalém. Tornava-se vital que mantivessem esta grande esperançasempre em mente, enquanto se reinstalavam em Jerusalém e na terrada aliança.

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3. Terceira, havia a presença do Senhor com eles naquele momento. Essa presença fora surpreendentemente garantida a eles por meio dodecreto de Ciro, o imperador persa, ordenando aos judeus quevoltassem à sua terra natal e reconstruíssem o templo do Senhor, em

Jerusalém (Ed 1.1-4). Quais teriam sido os sentimentos dos judeusdurante os últimos anos de seu exílio na Babilônia, quando a fama deCiro, o Persa, começou a espalhar-se —quando a Babilônia caiu e onovo imperador, Ciro, que na verdade havia sido mencionado porIsaías duzentos anos atrás, publicou esse decreto para a reconstruçãodo templo em Jerusalém, exatamente como previsto por Isaías? (VejaIs 45 e também nosso artigo sobre a data de Isaías). Isto, somado à

 proclamação de Nabucodonosor sobre sua conversão ao Senhor (Dn4.1-3, 34-37) e às profecias de Jeremias quanto à duração exata daservidão à Babilônia (veja Jr 29.10 e o comentário feito em nossoestudo de Ageu), deve ter mostrado aos judeus, sem sombra dedúvida, que o Senhor estava com eles em seu retorno à Judéia.

Esses eram então os três fatores transcendentes que permaneceram: oensino do passado nacional, a promessa profética do futuro e a presença

de Jeová naquele momento. O que faltava ainda? Era necessário, acimade tudo, que a nação interpretasse seu passado, presente e futuro do modocerto, isto é, a partir do ponto de vista divino; efoi exatamente com isto em mente  — satisfazer esta necessidade e alcançar este fim   — que as crônicas foram compiladas.

Três coisas eram naturalmente muito importantes neste sentido: (1) emvista do chamado peculiar da nação e da aliança davídica, tornava-se

essencial manter intactas as principais genealogias da nação, sendo assimapresentadas cuidadosamente nos nove primeiros capítulos; (2) em vistadas catástrofes ocorridas, era importante reformular a história da naçãode um ponto de vista exclusivamente religioso, pelo menos desde o iníciodo reino de Davi. Encontramos isto a partir do capítulo 10 de 1 Crônicas;(3) devido ao fato de o templo representar a religião santa que fora dadaa Israel mediante revelação especial, cuja desconsideração acarretara

tantos males à nação, e como o templo era o supremo elo sobreviventeentre o grande passado da nação e seu futuro previsto ainda maisesplêndido, tornava-se da maior importância enfatizar o templo e suasobservâncias aos olhos do povo. Conforme já notamos, esta importânciado templo pode ser vista em Crônicas.

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O templo era agora, acima de todas as coisas: (a) o símbolo da unidadeda nação, muito mais nessa época em que o trono terreno desaparecera;(b) a lembrança do elevado chamado da nação e sua função; (c) o sinal deque o Senhor continuava com Seu povo escolhido; (d)  o centro da

verdadeira ênfase na vida nacional. À luz desse templo, todo o passadodeveria ser interpretado, o presente reconstruído e o futuro previsto. Daí, portanto, a compilação de Crônicas, com sua ênfase contínua no templo enos aspectos religiosos das coisas. Eis também o  propósito  central deCrônicas, ou seja, apresentar novamente ao povo da aliança a verdadeira ênfase da vida nacional de Israel, convencê-los de seu primeiro dever e sua única e verdadeira segurança, desafiando assim a raça eleitja a uma 

consagração renovada como sacerdote nomeado por Deus paradas nações.Talvez não haj a melhor forma de concluir o presente estudo do que citaralgumas palavras de John Urquhart: “Esses livros de Crônicas... não sãomeras repetições de informações fornecidas por livros já existentes; nemsão compostos de restos deixados por antigos escritores. A história deIsrael é contada outra vez com uma intenção clara e definida. Essaintenção é tão evidente no silêncio dos livros como em suas palavras. Ahistória das dez tribos é omitida, e eles só tratam de Judá. À luz do

 propósito distinto de Crônicas, a razão fica clara. Apenas Judá preservouas ordenanças divinas. Para os israelitas que voltaram, não era isto —quero chamem de ‘caráter eclesiástico’ ou de qualquer outro nome — a únicacoisa que o povo restabelecido tinha de manter constantemente diante desi? Israel, ao contrário das outras nações, não possui um destino à parte do ofício de Deus. Isto ficou provado por mais de dezoito séculos do que podeser denominado existência nacional, mas não vida nacional. No futuro, istoserá manifestado de modo mais glorioso no dia da consagração renovadade Israel. Mas há o suficiente, mesmo agora, para ensinar à alta crítica, etambém a um racionalismo modificado, que os livros de Crônicas viramclaramente o que está se tornando hoje aparente como fenômenohistórico: Israel não existiu e não pode existir por si mesmo. Ele é osacerdote nomeado por Deus para as nações. Quando reconheceu suamissão, impressionou e liderou as nações. Quando a negligenciou,afundou na insignificância. Quando renunciou a ela, Israel ficou privadode sua terra natal e de sua percepção e poder espirituais. Hoje, em suacegueira, ele peregrina entre as nações, deserdado e despido, mas, aindaassim, levando as marcas indeléveis de seu destino sacerdotal. O livro que

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 proclamou esse destino ao Israel restaurado, há 24 séculos atrás não sólhes deu a lição número um de seu passado, mas também trouxe para osisraelitas a história de seu futuro. Este único fato é suficiente para mostrarque o livro é profético e divino”.

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OS LIVROS DAS CRÔNICAS (2)

Lição \" 41

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 NOTA: Para este novo estudo, leia 2 Crônicas duas vezes.

Como aconteceu com 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis, esses dois livros deCrônicas formavam uma obra contínua no  original hebraico, sob o título

 Dibrê Hayyâmím (“Acontecimentos dos Dias”). A divisão em duas partesremonta à Versão Septuaginta (século terceiro a. C.), que chamou as duas

 partes de primeiro e segundo livros das “Coisas Omitidas”.\A divisãoocorre de fato no ponto mais adequado, mas o título “Coisas Omitidas”não é muito apropriado: ele torna Crônicas um simples suplemento,deixando de lado seu intento especial. O título que conhecemos data daépoca de Jerônimo, que traduziu as Escrituras hebraicas para o latim, emcerca de 385-405 A. D. Esta conhecida tradução é chamada “VulgataLatina” por ter sido aceita como o texto geralmente autêntico e exato(vulgatis  = geral, comum), desde os dias de Gregório I (540-604 A. D.) e

com a confirmação do Concílio de Trento (1562 A. D.) Em algumas dasedições da Vulgata Latina encontramos o título Chronicorum Liber,  ouseja, “Livro das Crônicas”, como o temos agora em nossa versão. Mesmoeste título não é muito louvável, pois, na verdade, Crônicas é mais umresumo retrospectivo e interpretativo do que simples registros.

J. S. B.

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OS LIVROS DAS CRÔNICAS (2)

A T É a q u i , nosso estudo de Crônicas preocupou-se com sua ênfaseunificadora e seu propósito. Desejamos agora considerar seu conteúdo,mas antes existem alguns assuntos preliminares que chamam nossaatenção.

Os originais da compilaçãoCrônicas com certeza é uma compilação de documentos anteriores,

alguns dos quais parecem ser citados literalmente (veja “até ao dia dehoje”, em 2 Crônicas 5.10; 8.8). Cerca de quatorze deles são citados, comosegue:

1. Livro dos reis de Israel e de Judá (2 Cr 27.7)2. Um midrash (comentário) sobre o item acima (2 Cr 24.27)3. Crônicas do vidente Samuel (1 Cr 29.29)4. Crônicas do vidente Gade (1 Cr 29.29)5. Livro da história do profeta Natã Cr 9.29) (<2 í f%-5 ̂6. A profecia de Aias, o silonita (2 Cr 9.29)7. As visões do vidente Ido (2 Cr 9.29)8. Livros de história do profeta Semaías (2 Cr 12.15)9. Registros de genealogias, do profeta Ido (2 Cr 12.15)

10. Um midrash (comentário) do profeta Ido (2 Cr 12.15)11. Crônicas de Jeú, filho de Hanani (2 Cr 20.34)12. Atos de Uzias, registrados pelo profeta Isaías (2 Cr 26.22)13. A visão do profeta Isaías (2 Cr 32.32)14. História de Hozai (ou os videntes; 2 Cr 33.19)

Essas fontes de compilação são mais reveladoras do que parecem à primeira vista. Elas indicam: (a) que o autor estava bem informado parasua tarefa; (b) que ele fazia uso de documentos bem conhecidos, provandoa natureza idônea de sua obra; (c) que muitos escritos de eruditoscompetentes haviam se acumulado durante a história da nação, o que nos

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confirma ainda mais a confiabilidade dos registros que temos na Bíblia; e(d) que os arquivos de Israel não eram de modo algum o produtofalsificado, grosseiro e quase embolorado, conforme supunham alguns denossos “eruditos”, mas sim um conjunto literário cuidadosamente com

 posto, coligido, comparado e compilado. Note o primeiro livro em nossa lista: o “livro dos reis de Israel e de Judá”.Encontramos três vezes este título (2 Cr 27.7; 35.27; 36.8). Quatro vezesvemos o título parcialmente invertido: o “livro dos reis de Judá e de Israel”(2 Cr 16.11; 25.26; 28.26; 32.32). Os dois títulos referem-se à mesma obra.Isto é evidente, pois de qualquer maneira que ele ocorra, a referência é aum rei de  Judá.  O livro parece conter um repertório notável de dados

históricos e biográficos (2 Cr 27.7). E bom compreender que, quando ocronista se refere a este “livro dos reis”, ele não está indicando o outrolivro em nossa Bíblia que chamamos hoje por esse nome. Pelo contrário,

 podemos crer que tanto Reis como Crônicas em nossa Bíblia citam amesma obra. Isto é indicado pelo fato de os livros que hoje chamamos deReis não conterem aqueles temas para os quais o cronista chama atençãono livro que ele conhecia assim.

Data e autoria

A não ser que aceitemos a suposição de certos modernistas de que oslivros de Crônicas estão cheios de interpolações, não demoraremos emencontrar versículos estabelecendo a data aproximada de sua compilação.Em 16.15 e 9.1, fica claro que foram coligidos depois da ida para aBabilônia. A genealogia em 3.16-24 mostra o mesmo. As últimas palavrasde 2 Crônicas referem-se até ao decreto de Ciro, que encerrou oficialmente o exílio, como coisa do passado. A não ser que rotulemosgratuitamente todo o texto de 1 Crônicas 9 como acréscimo posterior, aconclusão é de que a obra pode ser atribuída diretamente ao período

 posterior à volta do “rem anescente” e seu estabelecimento parcial “nascidades” e “em Jerusalém ” (como esclarece a comparação deste capítulocom Ne 11.3-32; 7.45; 12.25, 26; Ed 2.42). Ademais, a genealogia deZorobabel, em 3.17-24, leva-nos pelo menos a um ponto bem remoto navida de Esdras ou Neemias. Os estudiosos de hebraico, podemos acrescentar, concordam no fato de que a linguagem e a ortografia de Crônicas

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também se ajustam ao período pós-exílio. Os.aramaísmos marcam acorrupção do hebraico puro pela linguagem caldéia aprendida pelos

 judeus cativos na Babilônia.A identidade do compilador continua desconhecida. O Talmude diz ser

Esdras. Não podemos entrar aqui na discussão em torno desse assunto,mas mencionaremos três pontos que a nosso ver favorecem a tradição deEsdras: (1) não encontramos ainda qualquer razão plausível contra ela; (2)os eruditos parecem unânimes em identificar uma única mão nos trêslivros agora chamados Crônicas, Esdras e Neemias, e todos concordam sera de Esdras, pelo menos em grande parte do livro que leva seu nome; e(3) ninguém era mais adequado do que Esdras. Nossa convicção de ter

sido ele o compilador da maior parte da obra, porém, não excluiacréscimos por parte de algum editor subseqüente para completá-la.

A relação com os livros precedentes

Como já notamos, embora em sua maior parte os livros de Crônicas

tratem do mesmo assunto abordado por Samuel e Reis, elas foram escritasnuma data posterior, sob uma perspectiva diferente, com uma ênfaseespecial e tendo um propósito particular. Podemos condensar agora osaspectos contrastantes entre Crônicas e os livros históricos precedentes:Samuel e Reis são mais biográficos',  Crônicas é mais estatístico.  Os

 primeiros são mais pessoais- , Crônicas é mais oficial. Samuel e Reis. têmuma perspectiva mais profética;  Crônicas tem um ponto de vista mais

sacerdotal. Os primeiros dão a história tanto do reino do norte (Israel)como do reino do sul (Judá) depois da divisão da nação em dois reinos; por sua vez, a partir da ruptura, os livros de Crônicas passam a apresentarapenas a história de Judá. Em Samuel e Reis, a ênfase está no trono.  EmCrônicas, a ênfase está no templo. Em seu efeito total, os livros de Samuele Reis são uma condenação  da nação, expondo sua culpa; enquantoCrônicas tem como intuito servir de estímulo à nação, incentivando a uma

nova lealdade. Os livros de Samuel e Reis são registros simples e fiéis decoisas que aconteceram, enquanto Crônicas uma sucessão de trechos propositalmente escolhidos para enfatizar uma idéia central. Todos oslivros da Bíblia vistos até aqui, desde Gênesis até 2 Reis, seguiram umaseqüência cronológica de eventos, a partir da criação de Adão até o

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cativeiro de Judá. Mas agora, com Crônicas, chegamos a uma obra que nãonos faz avançar (exceto em pequenos toques esporádicos que revelam suacompilação pós-exílio); ela retrocede e recapitula toda a história, a fim dededuzir e aplicar uma lição vital: a resposta da nação a Deus é o fator  

decisivo em sua história e destino. Podemos acrescentar que esta lição é tãoverdadeira em relação às nações de hoje como foi para Israel e Judáantigamente.

A relação com os livros seguintes

Ellicott declara: “Um exame do texto hebraico de Crônicas, Esdras e Neemias logo revela que os três assemelham-se muito, não só no estilo ena linguagem, que são da última era da escrita hebraica, mas também no

 ponto de vista geral, na maneira como as autoridades originais sãotratadas, a lei sagrada citada explicitamente e, acima de tudo, na clara

 preferência por certos tópicos, tais como registros genealógicos eestatísticos, descrições de ritos e festas religiosas, relatos detalhados dasclasses sacerdotais e suas várias funções, notas sobre a música do temploe assuntos ligados à organização da adoração pública... Existem outrosfatos que podem ser acrescentados a estes para provar que Crônicas,Esdras e Neemias constituíam originalmente um a grande história única”.Isto talvez seja confirmado pelo estranho encerramento de Crônicas numtrecho aparentemente interrompido que os primeiros versículos de Esdrascompletam; existe também uma parte de uma versão grega desses trêslivros que não mostra divisão alguma entre eles.

Esta grande afinidade entre Crônicas, Esdras e Neemias tem certosvalores para nós. Há muito tempo, quando os judeus formaram seu cânonde escritos sagrados, eles colocaram Crônicas bem no final; e encontramoscertos professores bíblicos hoje que gostariam de fazer-nos pensar que oslivros de Crônicas ainda deveriam estar no final do Antigo Testamento,de modo a mostrar mais facilmente a ligação de suas genealogias com ascontidas em Mateus. Mas não, Crônicas não deve ser separado de Esdras e 

 Neemias. O lugar certo é justamente onde aparece em nossa Bíblia. Isto éobviamente verdade; eles pertencem aos livros históricos, e estes são o elo real entre os períodos pré-exílio e pós-exílio. Eles fazem um retrospecto,resumindo o período do trono e associando-o ao novo período sem trono.

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 Não devemos de forma alguma separar os quatro livros pós-exílio — Crônicas, Esdras, Neemias e Ester; nem devemos deixar de ver como seustemas distintos se reúnem para formar um grupo progressivo, a saber:

Crônicas —RetrospecçãoEsdras —Restauração Neemias —ReconstruçãoEster —Preservação

Conteúdo e estrutura

Agora, o mais interessante de tudo é o exame rápido do conteúdo deCrônicas. Talvez “interessante” não seja a melhor palavra; essas crônicassão fascinantes, se com um pouco de imaginação pudermos apreender o

 pensamento do autor-compilador e perceber o propósito por trás de sua pena ganhando a forma cuidadosamente escolhida, à medida que asdivisões se sucedem.

Vejamos a primeira divisão de 1 Crônicas (1-9). É correto dizer queesses capítulos são genealogias, mas isto seria colocá-los em uma posiçãoquase inexpressiva. Eles fazem parte do esquema total de nosso cronistae, quando vistos desse modo, assumem um novo significado. O que devemos observar principalmente é a árvore genealógica de certo povo  — o

 povo do Senhor. Os descendentes de Adão projetam três grandes ramos:os filhos de Jafé, de Cão e de Sem. No propósito seletivo de Deus, o maisvelho é posto de lado, e Sem, o mais novo, é o escolhido. O mesmoacontece com Abrão, o filho mais novo de Terá, com Isaque, preferido emlugar de Ismael, e com Jacó, em preferência a Esaú. Tudo isto se acha nocapítulo 1. A seguir, no capítulo 2, a linha redentora e o progresso seletivovão de Jacó a Judá e depois a Jessé, chegando assim a Davi. O cronista fazuma interrupção aqui, a fim de preservar a genealogia de Calebe, esseherói da fé que também descendia de Judá (2.18-25); mas no capítulo 3ele retoma a linhagem davídica — até o último rei de Judá, Zedequias.Finalmente, depois de mostrar o processo seletivo de Adão até Abraão,Isaque, Jacó, Judá e Davi, ele recapitula as genealogias das tribos de Israelem geral e suas partes em Canaã (4-8), pois todas participam das

 promessas da aliança. Assim sendo, nesses primeiros capítulos temos

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distintamente o p o v o   do Senhor.Vejamos agora do capítulo 10 ao 12. Aqui começa o reinado de Davi, o

ungido  do Senhor. O capítulo 10 (que evidentemente é apenas umatransição) relata a morte de Saul (tudo o mais sobre ele é deliberadamente

omitido) e como Deus passou ou “transferiu o reino a Davi”. Os capítulos11 e 12 contam como  Davi tornou-se rei, como fez de Jerusalém a capital,quem eram seus valentes e como todas as tribos concordaram em torná-lorei. Saul foi rei mais por escolha humana. Davi foi rei por escolha divina. Saul possuía qualidades naturais  excelentes, todavia não tinha uma féverdadeira e não podia agradar a Deus (10.13). Sua casa foi assim postade lado, e 0 trono foi dado ao homem escolhido por Deus (10.14). Temos

então aqui o U N G I D O do Senhor.Observemos então do capítulo 13 ao 16. Este é o registro do primeiroato público notável do rei Davi —a arca do Senhor é levada a Jerusalém.Davi sentiu profundamente que o segredo da bênção da nação era a

 presença do Senhor entre eles. Saul jamais tivera essa compreensão. Ele perm itira que a arca do Senhor, símbolo de Emanuel (“Deus conosco”) permanecesse abandonada (13.3), e isto, em sua essência, representava

um desprezo pelo direito de primogenitura de Israel, mostrando que Saulnão merecia ser rei. Tudo muda com Davi, o homem de fé. Ele de imediato planeja colocar a arca do Senhor como centro da vida de Seu povo. Depoisde uma dificuldade (13.9-13), ela foi finalmente levada com a devidareverência a Jerusalém. Embora a filha de Saul não visse glória nesse atode fé e talvez desprezasse o homem de Deus por isso (15.29), Deusabençoou esse homem de todas as formas (14); e Davi, num salmo

inspirado (16.7-36), pôde ensinar o povo a ver a misericórdia da aliançanesse símbolo sagrado da promessa. Nesta terceira divisão, vemos assima A R C A do Senhor.

A seguir, do capítulo 17 ao 21, vemos a aliança  de Jeová. Deus agradou-Se em escolher uma nação dentre a raça humana —Israel —e dentreessa nação, uma tribo —Judá —e da tribo, uma família —a casa de Davi,e fez com ela uma maravilhosa aliança. Veja isto no capítulo 17. Docapítulo 18 ao 20, temos o cumprimento imediato dessa aliança no plenoestabelecimento de Davi e em sua sublime prosperidade. Embora Davitenha mais tarde sido presa de um estratagema de Satanás (21), mesmoeste lapso foi administrado em favor do plano de Deus, pois ocasionou adeterminação do lugar onde o futuro templo seria edificado (21.28

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com 2 Cr 3.1). Assim, temos nesses capítulos a A L I A N Ç A do Senhor.Isto nos leva ao último grupo de capítulos (22-29), que tratam do templo 

do Senhor. Não foi permitido que Davi o construísse, mas ele fez grandes preparativos — materiais (22), levitas (23), sacerdotes (24), músicos, porteiros e outros trabalhadores (25-27), e uma incumbência final emantecipação para Salomão e a nação (28-29). O assunto aqui é claramenteo T E M P L O do Senhor. Assim sendo, em 1 Crônicas temos:

o P O V O do Senhor (1-9)o U N G I D O do Senhor (10-12)a A R C A do Senhor (13-16)a a l i a n ç a  do Senhor (17-21)

o T E M P L O do Senhor (22-29)

' O tema de 1 Crônicas é a casa do Senhor. Num sentido mais amplo, essacasa é toda a nação de Israel; num sentido mais restrito, é a casa de Davi;no sentido central, é o templo. A lição principal pode ser expressa pelas

 palavras de 1 Samuel 2.30: “... aos que me honram, honrarei”. Ao homemque queria construir uma casa para Deus, o Senhor diz: “ ... o S E N H O R te 

edificaria uma casa” (1 Cr 17.10). Não há necessidade de uma análisedetalhada. O quadro a seguir irá fixar a estrutura para nós.Chegamos ao Segundo Livro das Crônicas. Para o nosso propósito aqui,

ele pode ser resumido com toda brevidade. Trata-se de um livro trágico,com uma abertura gloriosa e um fim terrível. Os nove primeiros capítulosmostram-nos os quarenta anos do reinado de Salomão. Os capítulosrestantes (10-36) dão a história de Judá até o exílio.

Quanto ao reinado de Salomão, a maior parte do relato é associada aotemplo. Não precisamos falar aqui sobre o templo como um edifício, umavez que já fizemos isso em nosso estudo de 1 Reis. Não é igualmentenecessário discorrer de novo sobre a pessoa de Salomão nem sobre osaspectos tipológicos de seu reino. Tentaremos apreender os significadosnacionais e morais do esboço do cronista.

A aliança davídica afirmara que a descendência de Davi iria: (1) herdar

um reino sólido; (2) construir o templo; e (3) sujeitar-se à disciplina. Essastrês provisões começam a ser cumpridas no reinado de Salomão. O reinoalcança um esplendor sem precedentes, o templo glorioso é construído e,infelizmente, a disciplina precisa ser aplicada. As promessas de Deusrelativas às questões/znaõ' jamais contêm uma oração condicional (“se”),

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 porque encontram seu objetivo final em Cristo (veja nossa nota sobre 2 Sm7), mas as promessas relativas aos processos intermediários em direção aessas questões finais com freqüência incluem um “se”. Assim sendo, como

 já foi observado, “prometeram-se a Salomão sabedoria, riqueza e poder,

e ele os recebeu; foi-lhe prometido ‘prolongamento de dias’ se  perseverasse em seu andar com Deus (1 Rs 3.14) —ele perdeu este últimodom e morreu aos 59 anos”.

O PRIMEIRO LIVRO DAS CRÔNICAS

A CASA DO SENHOR

A RESPOSTA A DEUS: O FATOR DETERMINANTE

I. AS PRINCIPAIS GENEALOGIAS DE ISRAEL (1-9)

D E A D Ã O A JA C Ó (T A M B É M A L IN H A G E M D E E S A Ú ) (1)

D E J AC Ó A D A V I ( T A M B É M A L IN H A G E M D E C A L E B E ) (2)

D E D A V I A Z E D E Q U I A S ( E O PÓ S -E X ÍL IO ) (3)A S G E N E A L O G I A S D A S T R IB O S E S U A S T E R R A S ( 4-8 )

 Nova localização pós-exílio (9)

II. O REINADO DE D AVI EM JERUSALÉM (10-29)

O U N G I D O D O S E N H O R (10 -1 2)

A A R C A D O S E N H O R (1 3-1 6)

A A L I A N Ç A D O S E N H O R ( 17-21 )

O T E M P L O D O S E N H O R (2 2-2 9)

 A morte do rei Davi (29.26-30)

Que história depois da morte de Salomão — a começar com Roboão ea “ruptura” até Zedequias e a “dispersão”! Não há necessidade demencionar separadamente aqui cada um dos vinte reis. Já lemos o relatodo cronista. Conhecemos a história. Todavia, observemos de novo o ponto

central de interesse. Nas crônicas precedentes levantaram-se diante de nósum T R O N O estabelecido numa aliança divina e um t e m p l o  que se tornouglorioso pela presença divina nele. O trono e o templo têm como propósitoapoiar e glorificar um ao outro; mas desenvolve-se uma apostasia que seagrava cada vez mais, apesar de interrupções ocasionais, sendo que o trono

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se torna o pior inimigo do templo, até chegar o ponto em que um delesdeve desaparecer. Como não pode ser o templo, é preciso que seja o trono.Daí o exílio e a suspensão do trono davídico. É também permitido que otemplo seja queimado, pois já fora mais profanado pelo pecado dos judeus

do que poderia ter sido pelo incêndio babilónico. No novo período semtrono, depois do exílio, um novo templo deve ser construído.Este é o significado central para a nação; mas devemos captar a verdade

moral e espiritual  do livro. Por toda a história desses reis, com suasreformas ocasionais e recaídas cada vez piores, há uma verdade solene,vital e urgente: a resposta de uma nação a Deus é o fator realmente determinante áe sua história e âestino.  Isto se aplicou especialmente a

Israel, mas é universalmente verdadeiro com respeito aos povos da terrahoje: “... nos dias em que (Uzias) buscou ao Senhor, Deus o fez prosperar”(26.5); “... Jotão se foi tornando mais poderoso, porque dirigia os seuscaminhos segundo a vontade do Senhor seu Deus” (27.6) —esta é a ênfaseem todo o livro de 2 Crônicas. Tomados em conjunto, nos dois livros deCrônicas temos uma visão histórica completa da monarquia davídica evemos nela um chamado superior, uma grande bênção, erros e um tristefinal. O propósito é que percebamos, pelos altos e baixos da história danação, que sempre que o rei e o povo honravam a Deus havia pros peridade; quando agiam com infidelidade para com Deus surgiam asadversidades. Página após página esta verdade é confirmada: a respostada nação a Deus é o fator realmente decisivo em sua história e destino.

Esta verdade talvez não seja percebida de modo tão imediato em nossomundo moderno com sua complexidade internacional. Quando observamos os acontecimentos durante certo período, porém, descobrimos queela ainda existe. Os princípios morais e as convicções espirituais são ascoisas mais importantes com relação ao progresso ou declínio nacional, enão a política e a economia —como parece ser a idéia de governo quehoje prevalece. O lugar que reservamos a D E U S é aquilo que determinanossa prosperidade ou adversidade, nossa história e nosso destino. O Israelde outrora — reis, líderes, povo — enganou a si mesmo, julgando que

 podia pecar com impunidade, pois achava que, desde que o Senhor não podia ser visto, Ele também não podia ver; mas eles não enganaram aDeus, e nós também não podemos fazê-lo: “... de Deus não se zomba” (G16.7). Ele reina, Ele escolhe, Ele suporta; mas não irá ignorar um

 persistente abuso de privilégios. O abuso do chamado superior mediante

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rupção. Também as reformas sob Ezequias constituem um excelenteestudo, mostrando os primeiros passos a serem dados, tanto negativa como

 positivamente, em qualquer  reconstrução nacional. Nas palavras do Dr. J. H. Moulton: “Poucos exercícios serão melhores

no estudo da literatura histórica do que comparar essas duas divisões dahistória bíblica (Crônicas com  Samuel e Reis) em seu tratamento domesmo incidente”. Damos a seguir uma lista das passagens paralelas.

Uma comparação com os livros de Samuel, de Reis e certos capítulos

de Isaías é necessária no estudo de Crônicas. A fim de ajudar nisto, damosabaixo uma lista completa das passagens paralelas com as quais as passagens de Crônicas devem ser analisadas.

PASSAGENS PARALELAS

1 Sm 27 1 Cr 12.1-7

29.1-3

31

12.19-22

10

11.1-3 

11.4-914.1-7 

14.8-17  

13

15,16

17

18 

19 

20.120.1-3  

11.10-47

21.1-6 

27.23,24  

21.7-17  

21.18-22.1 

23.1 

28.20, 21 

29.23-30

2 Sm 5.1-5

5.6-105.11-16  

5.17-25 

6.1-116.12-23

7

8

10

11.1-27  

12.29-31  

23.8-39

24.1-9

24.1-9  

24.10-17  

24.18-24

1 Rs 2.1

2.1-4

2.

10-122.46

3.4-15

5

6

2 Cr 1.1

1.2-13

2

3.1-14; 4.9

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7.15-21 .

7.23-26 .

7.38-46 .

7.47-50 .

7.51 .

8  .

9.1-9 .

9.10-28 .

10.1-13 .

10.14-25 .

10.26-29 .

11.41-43 .

12.1-19 .

12.21-24 .

12.25 .12.26-31 .

14.22-24 .

14.25-28 .

14.21,29-31 . 15.1 .

15.6 .

15 .7 ,8 .

15 .11,12 .15.13-15 .

15.16-22 .

15.23.24 .

22.1-40,44 .

22.41-43 .

22.45 .

22.47-49 .

22.50 .

2 R s 1.1; 3.4, 5 .8.16-19 .

8 .20-22  .

8 .23 .24 .

8.25-27 .

8.28, 29; 9.1-2810.11-14 .

11.1-3 .

11.4-20 .11.21; 12.1-3 . 

12.6-16 .

12.17,18 .12.19-21 .

. 3.15-17

. 4.2-5

. 4.6,10,17

. 4.18-22

. 5.1

. 5.2; 7.10. 7.11-22

. 8

. 9.1-12

. 9.13-24

. 9.25-28; 1.14-17

. 9.29-31

. 10 

. 11.1-4

. 11.5-12. 11.13-17

. 12.1 

. 12.2-12 

. 12.13-16

. 13.1,2

. 13.2-31

. 13.22; 14.1

. 14.1-5. 15.16-18

. 16.1-6 

. 16.11-14

. 18

. 17.1; 20.31-33

. 20.34

. 20.35-37

. 21.1 

2 Cr 20.1-3 . 21.2-7. 21.8-15. 21.18-20 . 22.1-4. 22.5-7,9. 22.8 . 22.10-12 

. 23. 24.1-3

. 24.4-14

. 24.23,24

. 24.25-27

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14.1-6 .14.7 .14.8-14 .14.17-20 .14.21,22; 15.1-4

15.6,7,27,28. 15.32-35 .15.38 .16.1,2 .16.3,4,6 .16.7 .15.29 .16.8-18 .16.19.20 .18.1-3 .18.13 .18.14-16 .20.1-11  .

20.12-19 .18.17-37 .

19.1-5 .

19.6.7 .19.8-19 .

19.20-37 .

20.20.21 .

21.1-16 .21.17.18 .21.19-26 .22.1,2 .22.3-20 .23.1-3 .23.21-23 .23.24-26 .23.28-30 .

23.30-33 .23.34-37 .24.8,9 .24.15-17 .24.18.19 .

. 25.1-4

. 25.11-16

. 25.17-24

. 25.25-28

. 26.1-15

. 26.22,23

. 27.1-8

. 27.9

. 28.1,2  

. 28.3-8

. 28.16-19

. 28.20  

. 28.21-25

. 28.26,27

. 29.1,2

Is 36 .1  

2 C r 32.2-8 

2 Cr 32.24  

Is 38 

Is 39.1-8  

2 Cr 32.9-19  

Is 36.2-22  

2 Cr 32.20  Is 37.1-4  

Is 37.6, 7 

2 Cr 32.17  

Is 37.8-20  

2 Cr 32.21 

Is 37.21-382 Cr 32.32, 33 

. 31.1-9. 33.18-20

. 33.21-25

. 34.1-7

. 34.8-28

. 34.29-32

. 35.1-19

. 34.33

. 35.20-27

. 36.1-3

. 36.4,5

. 36.9

. 36.10

. 36.11,12

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24.20 . . . 36.13-1625.8-21 . . . 36.18-21

Esta lista de passagens paralelas foi extraída de The Ann otated B ible   ( “A Bíblia com  

Notas”), de A. G. Gaebelein.

É bom saber que recentes descobertas arqueológicas confirmaram Crônicas com exatidão.

Acima de tudo, possa a mensagem central de Crônicas gravar-se emnossa mente: a resposta a Deus é o fator realmente decisivo. Isto é verdadetanto para uma nação como para um indivíduo. É aplicável na antigüidadee hoje. O primeiro dever  e a única e verdadeira segurança do trono está em

sua relação com o templo. Nossos líderes nacionais deveriam refletir sobreesse fato. Quando Deus é honrado, o governo é bom e a nação prospera.Mas quando Deus é desonrado, por mais sagaz que seja a política, ela não

 pode evitar o desastre final. O chamado para nossa nação hoje, tão claroquanto no decreto de Ciro (mencionado no final de 2 Crônicas), é paraque “suba” e R E C O N S T R U A O T E M P L O .

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O LIVRO DE ESDRAS (1)

Lição NQ42

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 NOTA: Leia duas vezes o Livro de Esdras para este estudo. Tome notados pontos ou referências problemáticos. Pelo menos alguns deles serãotratados nas duas lições seguintes. Quanto aos “meses” judaicos, veja notano apêndice ao nosso próximo estudo sobre Esdras.

Muitos afirmam que o Livro de Esdras é obra de vários escritores e que

sua unidade lhe foi dada por um compilador. Alguns acreditam que essecompilador tenha sido Esdras, enquanto outros crêem tratar-se de um judeu desconhecido contemporâneo a ele. Esta última teoria baseia-se nofato de haver curiosas transições da terceira para a primeira pessoa evice-versa, o que ocorre em trechos finais (7.28; 10.1)... Supõe-se queestilos diferentes podem ser identificados no começo do livro... Admite-seque Esdras tenha escrito pelo menos uma parte, mas a crença mais simples

de que ele realmente compôs o todo, usando palavras suas na maior partee inserindo documentos em certos pontos, é tão plausível quanto qualqueroutra hipótese. A harmonia geral do livro inteiro e a real uniformidade deseu estilo favorecem esta opinião. A objeção quanto à mudança de pessoanão tem grande importância, pois modificações deste tipo ocorrem comfreqüência em obras admitidas como tendo sido produzidas por um únicoautor, como em Tucídides e em Daniel. Além disso, a tradição atribui o

livro inteiro a Esdras; e se este escreveu Crônicas, segundo opinião demuitos críticos, então este será mais um argumento a favor da autoria deEsdras.

- R E V . G E O R G E R A W L IN S O N , M . A ., E M “P U L P IT C O M M E N T A R Y ”

 Nota: A citação acima refere-se a “curiosas transições” (plural) daterceira para a primeira pessoa e vice-versa, como se ocorressem várias

vezes. A verdade é que existe uma divisão inteira em que a mudança paraa primeira pessoa é mantida, sem alternância (7.27-9.15). Mencionamosisto por parecer que fortalece ainda mais a probabilidade de Esdras tersido o autor-compilador e não um “judeu desconhecido contemporâneoa ele”.

J. S. B.

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O LIVRO DE ESDRAS (1)

OS TRÊS  pequenos livros que estão agora à nossa frente — Esdras, Neemias e Ester —completam o grupo de dezessete livros históricos queformam a primeira parte do Antigo Testamento. Esses três formam umconjunto que registra as relações de Deus com os judeus depois  docativeiro. Esdras e Neemias tratam do “remanescente” que voltou aJerusalém e à Judéia, enquanto o Livro de Ester está ligado àqueles queficaram na terra do cativeiro. À medida que lemos essas três obras do final

dos dezessete livros históricos, devemos ler também os três profetas no fimdos dezessete livros proféticos, a saber, Ageu, Zacarias e Malaquias, poisforam esses os três profetas que Deus levantou dentre Seu povo no período

 pós-exílio.

A volta do remanescente

O assunto abordado por este Livro de Esdras é um dos mais importantesna história judaica: a volta do remanescente. Este fato aconteceu por voltado ano 536 a. C., isto é, no final dos setenta anos de escravidão à Babilônia.Tanto o exílio como a volta foram previstos muito antes do início do exílio(veja Jr 25.11,12 e 29.10,11), e o Livro de Esdras reconhece isto em suas

 primeiras palavras: “No primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia, para que se 

cumprisse a palavra do Senhor, por boca de Jeremias, despertou o Senhor o espírito de Ciro, rei da Pérsia, o qual fez passar pregão por todo o seureino, como também por escrito, dizendo:

A S SIM D I Z C IR O , R E I D A P É R SIA : O S E N H O R D E U S D O S C É U S M E D E U  

T O D O S O S R E IN O S D A T E R R A , E M E E N C A R R E G O U D E L H E E D I FI C A R  

U M A C A S A EM J E R U SA L É M D E J U D Á . Q U E M D E N T R E V Ó S É D E T O D O  

O S E U P O V O , SE JA S E U D E U S C OM E L E , E S U B A A J E R U S A L É M D E  J U D Á , E E D I F I Q U E A C A S A D O S E N H O R , D E U S D E IS RA E L; E L E É O  

D E U S Q U E H A B IT A E M JE R U S A L ÉM ” .

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Uma volta posterior

Houve então essa volta de cinqüenta mil pessoas em resposta ao decretode Ciro, em 536 a. C., sob a liderança de Zorobabel (veja 2.2), descendente

direto dos reis de Judá. Mas cerca de oitenta anos mais tarde, em 456 a. C.,houve uma nova volta, embora de um número bem menor, sob o comandode Esdras, o sacerdote e escriba. Ela foi ocasionada por um decreto deArtaxerxes, o rei persa que ocupava nessa época o trono; e os doze gruposdos que compunham todo o conjunto, juntamente com os netinins (osservidores do templo —8.20), somaram cerca de 2.000 pessoas, apesar deser dito que este era somente o número de homens (8.3 etc). Com este

outro grupo de Esdras em vista, podemos dizer que a volta do remanescente à pátria deu-se em dois estágios: começou com Zorobabel, no primeiro ano de Ciro (536 a. C.) e completou-se oitenta anos mais tarde,com Esdras, no sétimo ano de Artaxerxes (456 a. C.).

O novo retorno sob Esdras é descrito nos capítulos 7 e 8, dividindo estelivro de Esdras em suas duas partes principais: parte I — a volta sobZorobabel (1-6); parte II —a volta sob Esdras (7-10).

O “Livro” de Esdras

Como indicamos em nosso estudo de Crônicas, há razões para crer que1 e 2 Crônicas, Esdras e Neemias eram originalmente uma só obra. O

 ponto de vista judaico e dos primeiros cristãos é de que Esdras foi o

autor-compilador desse original. Talvez possamos mencionar novamenteaqui, para nosso proveito, três pontos a favor da tradição de Esdras: (1)não encontramos ainda qualquer razão forte contra ela; (2) os estudiososconcordam que uma única mão pode ser rastreada através de Crônicas,Esdras e Neemias, e que ela é certamente a de Esdras em parte do livroque leva seu nome; e (3) é difícil encontrar outra alternativa. Quem eramais adequado ou mais provável? Quando à perícia crítica “su-

 per-especializada”, que afirma discernir vários  estilos diferentes nooriginal, basta responder que o fato de Esdras ser o autor-compilador damaior parte da obra não exclui necessariamente os toques com

 plementares guiados por Deus aqui e ali, feitos por uma mão competente pouco tempo depois, nem exclui que as partes autobiográficas no Livro de

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 Neemias tenham sido escritas pelo próprio Neemias.Quando à data do livro, evidentemente ele foi escrito depois do último

evento registrado, isto é, a reforma sob Esdras, ocorrida no ano após suachegada a Jerusalém (456 a. C.). Provavelmente, foi escrito alguns anos

depois desse evento.Talvez o significado espiritual básico do livro possa ser mais bemexpresso nas palavras de Lamentações 3.32: “... pois, ainda que entristeça a alguém, usará de compaixão...”Deus certamente entristecera Seu povoeleito, pois o juízo se tornara necessário e a dor era bastante merecida;agora, porém, o período de exílio havia passado. Deus não Se esquecerade ser gracioso, e uma restauração compassiva tornou-se possível. Essa

verdade é mais que maravilhosa —o Deus de Israel e do universo é umDeus compassivol  Não devemos nos esquecer disso, especialmentequando os pecados dos homens trazem enormes calamidades sobre omundo.

A estrutura do livro é simples e interessante. Como já mencionado, háuma clara divisão em duas partes. Do capítulo 1 ao 6 temos a volta comZorobabel e o que se seguiu a ela; depois disso, do capítulo 7 ao 10, temos

a nova volta com Esdras e os acontecimentos subseqüentes. Deve-secompreender bem que entre essas duas partes (i. e.,  entre o final docapítulo 6 e o começo do 7) existe um intervalo de sessenta anos. A voltasob Zorobabel ocorreu no primeiro ano de Ciro (1.1), ou seja, em536 a. C. O retorno sob Esdras deu-se no sétimo ano de Artaxerxes (7.1,8), em 456 a. C., isto é, oitenta anos depois. Os seis primeiros capítulos dolivro cobrem os primeiros vinte anos (aproximadamente) depois da volta

com Zorobabel, o que deixa cerca desessenta

 anos entre o final do capítulo6 e o começo do 7. Durante a primeira parte desse intervalo, aconteceramos eventos críticos narrados no Livro de  Ester.

Existe um paralelismo notável entre as duas partes principais desteLivro de Esdras. Em lugar de uma análise comum, parágrafo por parágrafo, devemos ter em mente um quadro do livro nesta forma paralela.A parte 1 começa com o decreto de Ciro; a parte 2 começa como o decretode Artaxerxes. Na parte 1 a figura central é Zorobabel; na 2, é Esdras. Emambas as partes é apresentada uma lista cuidadosa das pessoas quevoltaram e dos utensílios sagrados. Na parte 1 temos o ministério dos profetas Ageu e Zacarias; na parte 2 temos o ministério do sacer-dote-escriba Esdras. No final da parte 1, o principal resultado é a recons-

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O L IV R O D E E S D R A S ( 1)

trução do templo; no final da parte 2, o principal resultado é a novaseparação entre o povo e os estrangeiros.

O LIVRO DE ESDRAS

O LIVRO DA RESTAURAÇÃO

“... pois, ainda que entristeça a alguém, usará de compaixão... ”

A V O L T A C O M A V O L T A C O M

Z O R O B A B E L ( 1 - 6 ) ESDRAS (7 -10 )

O decreto de Ciro O decreto de Artaxerxes

(1.1-4) (7.1,11-26)

O líder Zorobabel O líder Esdras, o escriba

(1.8; 2.2) (7.1-10)

N om es e número do remanescente No m es e número de acompanhantes

(2.3-65) (8.1-20)

U tensílios sagrados e presen tes U tensílios sagrados e presen tes

(1.6-11; 2.68-70) (7.15-22; 8.24-35)A chegada a Jerusalém A chegada a Jerusalém

(3.1) (8.32)

Ministério profético: Ageu, Zacarias M inistério intercessório de Esdras

(5.1-6.14) (9.1-15)

R esu ltado principaí — reconstrução R esultad o principal — nova separa ção

do templo entre o povo e os estrangeiros

(6.15-22) (10.1-44)

Os dois líderes

Se este livro recebesse o título de acordo com seu tema e não pelo autor,ele seria o “Livro do Remanescente”, “Livro da Restauração” ou “Livroda Repatriação”, em lugar de “Esdras”. Se fosse intitulado conforme suas

 partes ou personagens principais, seria “O Livro de Zorobabel e Esdras”,e não apenas Esdras. Vale a pena mencionar isto, para que, em vista darepetida referência como “Livro de Esdras”, não venhamos a pensar no

 próprio Esdras como o personagem principal da história. Esdras foi, naverdade, o chefe do grupo dos que regressavam e quem conduziu a nova

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separação (7-10), mas o verdadeiro chefe do remanescente, oitenta anosantes da expedição de Esdras, e o administrador-chefe dos assuntos doremanescente, depois de seu restabelecimento na Judéia, foi Zorobabel.O profeta contemporâneo Ageu dirige-se sempre a ele como “Zorobabel,

governador de Judá”. Como ele devia ser adulto quando guiou oremanescente de volta à Judéia, supomos que já havia morrido há bastantetempo quando Esdras chegou a Jerusalém, oitenta anos depois doremanescente. A última referência histórica a Zorobabel encontra-se em5.2. Esses dois líderes são figuras de grande importância na história deIsrael.

 Zorobabel

 Neste Livro de Esdras, Zorobabel é também chamado por dois outrosnomes —“Sesbazar” (1.8,11; 5.14-16) e “Tirsata” (2.63, A R C ) . O primeiroé seu nome babilônio ou caldeu; o último é um título persa, significandogovernador (como em ARA). Seu nome pessoal, “Zorobabel”, significa“descendente da Babilônia ”,  indicando que era um filho do exílio, nascido

na terra da Babilônia ou provavelmente na própria cidade da Babilônia.Isto também sugere que no caso pessoal de Zorobabel, a viagem com oremanescente de 50.000 a Jerusalém não era uma “volta”, mas sua primeira ida. Nada sugere que ele já tivesse visto Jerusalém ou a Judéia antes.

Ele é chamado “Zorobabel, filho de Pedaías”. Sua linhagem completa édada em 1 Crônicas 3. De fato, ele pertencia à geração nascida no cativeiro,e isto é mostrado definitivamente em 1 Crônicas 3.17-19. Sua linhagem

torna mais notável o fato de ele ter liderado o remanescente. Zorobabeldescendia diretamente da linhagem real de Davi, sendo o neto do reiJeconias (que começou a reinar com a idade de dezoito anos, mas foilevado cativo para a Babilônia três meses mais tarde; veja 2 Rs 24.8-16).O cronista considera tão importante a linhagem de Zorobabel que, depoisde ligá-la em retrospecto à de Davi, ele a segue até várias gerações depois de Zorobabel — ou seja, a algum ponto mais avançado no tempo em

Crônicas, Esdras ou Neemias. Quando chegamos ao Novo Testamento,descobrimos imediatamente que Mateus completa os elos, até que, dalinhagem de Davi e Zorobabel, segundo a carne, nasce CRISTO.

 Nada sabemos sobre o caráter pessoal de Zorobabel, exceto porinferência de dados muito escassos. Seu zelo religioso está implícito,

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liderança superior. Em seu caráter   pessoal, Esdras dá igualmente umótimo exemplo. Veja seu propósito piedoso  (7.10); sua gratidão piedosa 

 pelo sucesso (7.27, 28); sua dependência de Deus em espírito de oração(8.21-23); sua grande tristeza pelo pecado do povo (9.3, 4); sua profunda 

humildade diante de Deus (w . 5-15); suaatitude pronta e destemida contra tudo o que era errado (10). Esses aspectos do caráter de Esdras merecemreflexão e podem muito bem levar-nos a orar de joelhos para que asmesmas qualidades sejam reproduzidas em nós, mediante o ministériosantificador do Espírito Santo.

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O LIVRO DE ESDRAS (2)

Lição NQ43

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 NOTA: Para esta lição, releia o Livro de Esdras de uma só vez.

Um dos mais brilhantes cientistas franceses da atualidade — o Dr.Alexis Carrel, do Instituto Rockefeller de Nova Iorque — afirmou que aatitude negativa em relação aos milagres não pode mais ser sustentada emface dos fatos observados pela ciência durante os últimos cinqüenta anos.

Esta autoridade na pesquisa médica chega a aceitar os milagres de curaatravés da oração, incluindo até mesmo moléstias orgânicas como ocâncer. Evidências de acontecimentos inusitados na vida humana sempreexistiram, mas só agora eles estão sendo reconhecidos, registrados edocumentados pela ciência. Uma vez que isto está sendo feito, segue-seque as pessoas bem informadas e não preconceituosas não podem daqui

 por diante rejeitar a narrativa bíblica, por registrar eventos singularesocorridos há milhares de anos. Aqueles dentre o nosso clero que sedenominam “modernistas” devem familiarizar-se com este avanço doconhecimento, caso desejem manter seu título; de outra forma, evidentemente, tornar-se-ão “modernistas antigos”.

S IR C H A R L E S M A R S T O N

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O LIVRO DE ESDRAS (2)

E S T E L I V R O de Esdras contém liçoes espirituais notáveis, algumas dasquais desejamos mencionar. Antes disso, porém, devemos tratar de vários

 pojiloj (jg narrativa cjuc íalvcz não cstcjarn muito claros para algunsleitores. A história do livro torna-se bem mais interessante quando i

 partes obscuras que aparecem aqui e ali são esclarecidas e c , suplementar incide sobre elas. -Á Q

Notas explicativas e informações^e

 A duração do exílio

O exílio dos judeus na BabilcpiS é irímtas vezes referido como o exílio

dos setenta anos,  com base em Je re m i^ ^ .1 0 e 2 Crônicas 36.21. Mas umleitor cuidadoso irá per irim í iatpmente que, se o exílio durou setentaanos, praticamente nenhim Qp\ adultos que tomaram parte dele poderiaestar vivo ou ser fisiraffnOTte-capaz de se juntar ao “remanescente” quevoltou. Tod^ay^é5^3H ^ lemos: “Porém muitos dos sacerdotes e levitas ecabeças deàímmks'já idosos, que viram a primeira casa (o templo deSalonc p^$^V;Xü>am em voz alta quando à sua vista foram lançados os

rxasa” (a nova). Devemos então pensar que esses “muitos”'homens de noventa anos ou mais? Não, pois o exílio duroui*51 anos e não setenta. Ele começou em 587 a. C. e terminou com

ícreto de Ciro em 536 a. C. Em Jeremias 29.10, as palavras são “paraBabilônia”. Deus não diss ie Sei vo ficaria na  Babilônia 70 anc iasque haveria um domínio de setenta anos para a Babilônia (que se cumpriuexatamente; veja nossa nota sobre isto no estudo de Ageu). Esses homens

mais velhos que voltaram a Jerusalém com o “remanescente” não tinhamnecessariamente mais de 70 anos. Mesmo assim, foram valentes e zelososem viajar mil e cem quilômetros da Babilônia até Jerusalém, uma jornadaque significava cinco meses de caminhada diária.

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 Assíria, Babilônia, Média-Pérsia

A história de Israel registrada nas últimas partes de Reis e Crônicas,assim como em Esdras, Neemias e Ester, tem como pano de fundo três

impérios mundiais —Assíria, Babilônia e Média-Pérsia. Com o Livro deEsdras diante de nós, chegamos a um ponto em nosso estudo bíblico emque deveríamos ter pelo menos um esboço deste contexto em nossa mente.Isto é ainda mais necessário porque neste pequeno livro são mencionadosnada menos do sete reis diferentes, representando os três impérios mundiais; assim, a história é muito mais significativa quando essas referênciassão distinguidas com clareza. Por exemplo, não devemos pensar que oimperador Dario aqui é o mesmo rei Dario do livro de Daniel; nemdevemos pensar que o Artaxerxes do capítulo 4 é o mesmo do capítulo 7.Portanto, algumas palavras sobre a Assíria, Babilônia e Média-Pérsiaserão úteis.

Em primeiro lugar temos o IMPÉRIO ASSÍRIO. A história do reino daAssíria tem seu início num passado muito remoto e abrange três períodos.O primeiro, de cerca de 1430 a 1000 a. C., e o segundo, de cerca de 880 a745 a. C., tendo havido em ambos um período de ascensão ao poderseguido de longo declínio. O terceiro período é o que está mais ligado a

 Israel', nessa época, a Assíria tornou-se senhora do mundo. Este períodocomeçou em 745 a. C., com o hábil e cruel general-usurpador Pul, queassumiu o nome real de Tiglate-Pileser III, continuando até que Nínive foifinalmente destruída, por volta de 612-608 a. C., quando a Babilônia

 passou a dominar. Estes são os imperadores assírios e sua ligação com ahistória bíblica:

Tiglate-Pileser III (745-727) - 2 Rs 15.19,29; 16.7,10; 2 Cr 28.20Salmaneser IV (727-722) - 2 Rs 17.3; 18.9Sargom (722-705) - 2 Rs 18.11; Is 20; 10.12, 28-34Senaqueribe (705-681) - 2 Rs 18-19; 2 Cr 32; Is 36, 37Esar-Hadom (681-668) - 2 Rs 19.37; 2 Cr 33.11; Ed 4.2Assurbanípal (668-626) —Ed 4.10 (“Asnapar”?)

Com a morte de Assurbanípal, este período maior da Assíria entrou emdeclínio. Em 625 a. C., a Babilônia recuperou a independência com

 Nabopolassar (pai de Nabucodonosor), que reinou até 606 a. C. O reino

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dos medas também reconquistou a independência. Mais tarde, os medase os babilônios se aliaram e conquistaram Nínive, por volta de 608 a. C.,destruindo para sempre o império assírio (veja mais sobre isto em nossoestudo de Naum).

A seguir vem o IMPÉRIO BABILÓN ICO. Com a queda de Nínive, a cidadeda Babilônia, ainda mais antiga, apossou-se novamente do cetro dasnações. Sua nova soberania começou em 606 a. C. com o jovem e brilhante Nabucodonosor; todavia, isto durou só até 536 a. C., cumprindo assimexatamente o que está em Jeremias 29.10. Durante os últimos cinqüentaanos desse período, os judeus encontravam-se cativos na Babilônia. Se osreis que se seguiram a Nabucodonosor fossem tão majestosos quanto seus

nomes, talvez o império tivesse tido um destino melhor! Damos abaixo arelação deles:

 Nabucodonosor (606-562)Evil-Meiodaque ou Amil-Mai duque (562-559) —2 Reis 25.27 Nergal-Sarezer, ou Neriglissar (559-555) —Jeremias 39.3,13Labashi-Marduque, ou Laborisoarchod (555, 9 meses)

 Nabonido ou Nabunahid (cujo vice-rei foi o “Belsazar” deDaniel 5; 553-536)

O IM P É R I O M E D O -P E R S A substituiu então a Babilônia. Já mencionamoscomo o reino dos medas recuperou a independência e fez aliança com aBabilônia para derrubar a Assíria. Essa aliança terminou com o fim doreinado de Nabucodonosor. Dois ou três anos mais tarde, os medas e os

 persas tornaram-se um só império, sob Ciro, o Persa. Eles se assemelhavam muito e seguiam os mesmos costumes e religião. Uma revoltadestronou o último rei meda em 559 a. C., e a tomada do trono por Cirotransferiu a supremacia aos persas. Ciro teve uma carreira de esplêndidasconquistas. “Em apenas doze anos, com seu punhado de persas, eledestruiu para sempre três grandes impérios — a Média, a Lídia e aBabilônia; conquistou toda a Ásia e garantiu para sua raça durante doisséculos o domínio do mundo.” Este é o Ciro cujo decreto para o retornodos judeus para a Judéia abre o Livro de Esdras.

Depois de conquistar a Babilônia, Ciro colocou ali um certo Gobrias para ser vice-rei. Este Gobrias aparentemente é o “Dario” do Livro deDaniel. Ciro também inverteu a prática de deportações que os assírios e

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 babilônios haviam empregado desde a época de Tiglate-Pileser e permitiuque os povos vassalos voltassem aos seus países de origem e restaurassemsuas  religiões e instituições. Sua idéia era  ligá-los a seu governo pelagratidão, em vez de medo. Foi assim que o Estado judeu teve condições

de ser ressuscitado na Judéia, embora ainda permanecesse sujeito à Pérsia.O império persa durou de 536 a. C. (primeiro ano de Ciro) até 330 a. C.,quando foi derrubado por Alexandre, o Grande, e deu lugar ao impériogrego. A seguir damos o nome de seus reis, com exceção de dois ou trêsusurpadores menores em seus últimos anos. Os nomes entre parêntesessão os nomes  pessoais  ou sinetes desses reis, à parte de seus títulosmonárquicos.

Ciro, o Grande (536-529) —Ed 1 etc.; Is 45Cambises (529-521) —Assuero, de Ed 4.6Gaum ata (pseudo-Esmerdis) (7 meses) —Artaxerxes, de Ed 4.7Dario I (Histaspis) (521-486) —restauração do templo: Ed 5, 6Xerxes I (485-464) —Assuero, de Ester Artaxerxes I (Longânimo; 465-24) —Ed 7.1; Ne 2.1; 5.14

Xerxes II (424)Dario II (Nothus; 424-404) —Ne 12.22(?)Artaxerxes II (Mnemon; 404-359)Artaxerxes III (Ochus; 359-338)Dario III (Codomano; 336-30) - Ne 12.22(?)

O decreto de Ciro

 Não é possível ler livros como Esdras, Neemias e Ester sem sesurpreender com a maneira maravilhosa através da qual Deus reina nos

 períodos de perturbação e crise. Não podemos perder de vista que, emEsdras 1.1, a “proclamação” de Ciro que ocasionou a volta do remanescente é diretamente atribuída a uma imposição divina: “... des

 pertou o S E N H O R o espírito de Ciro, rei da Pérsia, o qual fez passar

 pregão...” Os homens e as nações são agentes livres, e Deus lhes permite,dentro de amplos limites, que tracem sua própria história, mas jamais a 

 ponto de fugir ao Seu controle supremo. Existem intervenções divinas,algumas vezes visíveis, mas quase sempre invisíveis, que, sem violar olivre-arbítrio do homem, asseguram o cumprimento dos propósitos

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divinos finais. Nesses últimos tempos da era presente é bom manter estaverdade sempre diante de nós, ou seja, que a liberdade humana não excluio domínio divino. Isso tem um efeito estabilizador quando ocorrênciasmás e perturbadoras parecem surgir sem qualquer controle. Bem acima

da vontade permissiva de Deus está Sua vontade diretiva, que jamais seráderrotada.As palavras  do decreto de Ciro são certamente notáveis: “O Senhor

Deus dos céus me deu todos os reinos da terra, e me encarregou de lheedificar uma casa em Jerusalém de Judá” (Ed 1.2). Como seria possível aesse imperador persa ser tão reverente e ter tal conhecimento e orientaçãodo Deus de Israel? Note especialmente suas últimas palavras na

 proclamação: “Senhor, Deus de Israel; ele é o  Deus”. Os críticosmodernistas acham que a única possibilidade de escapar do problemadesse palavreado surpreendente é depreciá-lo como sendo “uma paráfrase

 judaizante do original”. Mais uma vez, insinuam que os escritores bíblicosrecorrem a distorções e interpretações erradas. Contudo, o problemadesses críticos passa a ser: se este edito de Ciro não era redigido como seencontra na transcrição das Escrituras, por que Ciro teria publicado esta

 proclamação de seu favor para com os judeus? Certamente, não haviarazão política para isso, pois os judeus, ao contrário dos babilônios e deoutros povos conquistados por Ciro, não tinham absolutamente poder

 para ajudar ou prejudicar o novo governo.O fato é que, de alguma forma, Ciro tinha sido influenciado pelos 

ensinamentos da religião judaica.  O historiador judeu Josefo conta-noscomo isso aconteceu. Ele afirma que, depois de Ciro ter conquistado a

Babilônia, foi mostrada ao imperador a notável profecia de Isaías44.24-45.6, escrita duzentos anos antes, na qual Ciro é nomeado antecipadamente como o restaurador predestinado dos judeus e reconstrutordo templo. Josefo nos diz que Ciro, tendo visto a predição de Isaías, foiimediatamente tomado de “um desejo e uma ambição sinceros de cumpriro que fora assim escrito”. Josefo conta-nos muito mais sobre Ciro e seuedito, mas talvez não necessitemos aceitar tudo. Não pode haver, porém,qualquer dúvida sobre o fato  de o edito, ou melhor, sua transcrição bíblica,ser literalmente exata; e isto implica naturalmente que Ciro (como Josefodeclara) passara a reconhecer o Senhor como o Deus supremo. É nomínimo compreensível que a profecia de Isaías tivesse criado na mente deCiro um desejo ardente de conhecer mais a respeito das Escrituras

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inspiradas de Israel.Como é de fato esplêndido o controle de Deus! Até mesmo aquela negra

calamidade, o exílio dos judeus na Babilônia, é transformada na conversãode Nabucodonosor, o imperador babilônio, e de Ciro, o imperador persa.

Ele igualmente curou de uma vez por todas a idolatria do povo da aliançae, ao difundir o conhecimento do Deus único e verdadeiro pelas nação domundo antigo, preparou a vinda do evangelho do Senhor e Salvador JesusCristo.

 E as “dez tribos”?

Se lermos cuidadosamente o Livro de Esdras, veremos novamente queele vai contra aquela teoria fantasiosa de que as chamadas “dez tribos

 perdidas” são a Inglaterra e os Estados Unidos. Este não é o lugar certo para discutirmos o caso do israelismo britânico separadamente; masexistem certos aspectos do Livro de Esdras que tratam diretamente doassunto e que devem ser notados. A posição do israelismo britânico é deque os judeus são apenas uma tribo (Judá), sendo as outras os povosingleses e norte-americanos. Afirma-se que só a tribo de Judá voltou àPalestina sob o decreto de Ciro, e as outras (dez além da tribo dos levitas)se “perderam”. A teoria inteira mostra-se cheia de dificuldades, mas,tomando apenas um aspecto, vejamos o que o Livro de Esdras diz sobre acomposição do remanescente.

Primeiro, vemos em 1.3 que o edito de Ciro é para todo Israel. Devemoslembrar que a Assíria (que levou o reino das dez tribos para o cativeiro)

foi mais tarde absorvida pelo império babilónico, que por sua vez veio atornar-se parte do domínio de Ciro; desse modo, todas  as tribosencontravam-se agora em seu império. Os chefes de Judá e Benjamimcompreensivelmente responderam, já que o remanescente voltaria aJerusalém e Judá; mas com eles estavam “todos aqueles cujo espírito Deusdespertou” (v. 5).

Veja agora Esdras 2.2. Aqui ficamos conhecendo os chefes do

remanescente. Compare com Neemias 7.7. Havia doze líderes. Não é perfeitamente lógico supor que esses doze fossem os chefes das dozetribos? Caso negativo, por que então doze?

A seguir, vejamos Esdras 2.70. Não só Jerusalém mas também todas asoutras cidades da Judéia (veja 2.1) foram novamente ocupadas. Lemos

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conselheiros” contra os judeus, “para frustrarem o seu plano, todos os diasde Ciro, rei da Pérsia, até ao reinado de Dario”. Este Dario foi o terceirodepois de Ciro. Releia a lista de reis persas. A frustração durou do segundoano de Ciro (3.8) até o segundo ano de Dario (4.24), cerca de quatorze

anos.O problema começa no versículo 6: “No princípio do reinado deAssuero escreveram uma acusação contra os habitantes de Judá e deJerusalém”. A seguir, o versículo 7 diz: “E nos dias de Artaxerxes, rei daPérsia, Bislão... lhe escreveram” etc.  Esses dois nomes, Assuero eArtaxerxes, constituem o problema. Veja novamente nossa lista de reis persas. Os dois reis assim conhecidos só governaram depois de Dario, em

cujo segundo ano terminou a interrupção das obras de reconstrução.Assim sendo, se esses são os dois realmente indicados em Esdras 4.6, 7,então os versículos 6-23 constituem um longo parênteses contando o queocorreu trinta anos mais tarde e também os acontecimentos ocorridosvinte anos (ou mais) depois disso. .

 Não são poucos os que adotaram esta idéia do parênteses; mas a nossover ela é errada e desnecessária. Não existe realmente nada que a favoreça

além da seqüência de nomes reais, que neste caso deixam muito lugar paradúvida, pois muitas vezes os reis persas tinham mais que um nome. Alémdisso, uma digressão desse tipo parece bastante estranha e sem nexo aqui.Mas o que é claramente determinante para a idéia é o sentido dosversículos 23 e 24. No último versículo do capítulo lemos: “Cessou, pois,a obra da casa de Deus, a qual estava em Jerusalém; e isso até ao anosegundo do reinado de Dario, rei da Pérsia”. Esse “pois” com certeza faz

a ligação com o texto imediatamente anterior. Não precisamos nos preocupar, portanto, com a embaraçosa questão dos dois nomes reais nosversículos 6 e 7. Eles podem ter sido Cambises e Gautama, que reinaramentre Ciro e Dario, ou os dois nomes podem se referir apenas a Cambises.

Quem eram os “netinins”?

Lemos dezessete vezes em Esdras e Neemias a respeito dos netinins (servidores do templo). Eles são mencionados apenas uma vez em outras

 passagens (1 Crônicas 9.2, que se refere também ao novo estabelecimento pós-exílio). O “s” no final da palavra não é estritamente necessário, poiso final “im” designa o plural em hebraico. Quem eram, pois, esses “ne-

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tinins”? O termo hebraico significa “aqueles que foram dados”. Esdras8.20 chama-os de “netinins, que Davi e os príncipes tinham dado para oserviço dos levitas” (IBB; a r c , “netineus”). Essa parece ser uma indicaçãosuficiente. Tanto em Esdras como em Neemias eles estão intimamente

ligados a outra ordem — “os servos de Salomão”, que parecem ter sidodescendentes dos cananeus que Salomão empregou em seu templo (2 Cr2.17), cujos deveres eram talvez ainda mais humildes do que os dosnetinins. É possível que os netinins tenham sido originalmente estrangeiros cativos que, de tempos em tempos, eram dados pelos reis para otrabalho servil do templo. Os nomes de alguns deles parecem indicar umadiversidade de origem não-israelita. O nome “netinim” parece ter sido

aplicado definitivamente a essa classe de serviçais apenas na época doretorno — provavelmente porque o serviço deles tornou-se então muitomais necessário. Neemias 11.21 indica que eles foram organizados em umaespécie de grupo, tendo seu próprio chefe. Além desses lugares, não sãomais mencionados nas Escrituras. É possível que, juntamente com outrosgrupos, tenham sido gradualmente incorporados ao grupo maior doslevitas.

APÊNDICES

A “GRANDE SINAGOGA”

Segundo a tradição rabínica, um grande concílio foi realizado algum tempo depois da volta do remanescente judeu da Babilônia, a fim de reorganizar a vida religiosa do povo. Smith dá o seguinte resumo: “Ele consistiu de 120 membros, 

conhecidos como os homens da Grande Sinagoga, os sucessores dos profetas, por sua vez sucedidos pelos escribas que tinham proeminência individual como  professores. Esdras foi admitido como presidente. O objetivo deles era restaurar novamente a coroa  ou glóiia  de Israel. Com este fim, eles reuniram todos os escritos sagrados das eras antigas e da deles, completando dessa forma o cânon do Antigo Testamento. Instituíram a festa do Purim. Organizaram o ritual da sinagoga e deram sua aprovação para o Shemôneh Esrêh,  as dezoito bênçãos solenes. Grande parte disso evidentemente é incerta. A ausência de qualquer 

menção histórica de um grupo assim, não só no Antigo Testamento e nos apócrifos, como também em Josefo, Filo e em Seder Olam,  de modo que o primeiro registro é encontrado em Pirke Aboth, por volta do segundo século A  D., levou alguns críticos a rejeitarem toda a declaração como sendo uma invenção rabínica”.

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É verdade que muitos eruditos contemporâneos rejeitaram esta tradição; todavia, como diz o Dr. James Orr: “É difícil crer que declarações tão detalhadas e definidas não tenham qualquer fundamento na história verídica”. O excessivo ceticismo de certas escolas modernas em tais questões é antes um modismo intelectual do que produto de precaução erudita.

OS MESES JUDAICOS EM ESDRAS, NEEMIAS E ESTER 

Em Esdras, Neemias e Ester, os “meses” judaicos são mencionados 35 vezes. Devemos familiarizar-nos com o calendário judaico. Havia na verdade dois “anos” 

 judaicos — o sagrado e o civil. O ano novo começava originalmente no outono  (Ex 23.16), mas, a partir do êxodo, o sétimo mês (Nisã) tornou-se o primeiro (Ex 

12.2). Josefo diz: “Moisés designou Nisã como primeiro mês de suas festas, porque ele os tirou do Egito nesse mês, de modo que aí começava o ano para todas as  solenidades por eles observadas para honrar a Deus. Contudo, ele preservou a ordem original dos meses quanto a comprar, vender e outras questões comuns”. Nas Escrituras, os meses são praticamente aqueles do ano sagrado. Em sua maioria, os nomes pré-exílio não chegaram até nós, mas parecem ter sido baseados nas estações, Abibe significando o cereal na espiga e Zive a beleza das flores da primavera. Os doze meses eram lunares; portanto, a cada três anos, mais ou 

menos, era acrescentado um décimo-terceiro mês intercalado, a fim de reajustar o ano de acordo com o sol.

 Mês Sagrado Civil Português

Abibe ou Nisã 1° 72 março-abrilZive 2° 82 abril-maioSivã 35 92 maio-junhoTamuz 42 102  junho-julhoAbe 52 112  julho-agElul 62 122 ag-setEtenim ou Tisri 72 12 set-outBul 8-°- 22 out-novChisleu 92 32 nov-dez

Tebete 102  40

dez-janSebate 112   52  jan-fevAdar 122 62 fev-março

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O LIVRO DE ESDRAS (3)

Lição Ns 44

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 NOTA: Para este estudo, leia novamente o Livro de Esdras, notando orumo que as coisas tomaram do capítulo 2 ao 6.

Quando as pessoas dizem que a doutrina da inspiração plenária oucompleta da Bíblia deixa de fazer justiça à individualidade dos escritores

 bíblicos, elas simplesmente mostram que não sabem do que estão falando. Na verdade, a Bíblia contém uma enorm e diversificação. Temos asimplicidade rudimentar de Marcos, a eloqüência inconsciente masesplêndida de Paulo, a arte literária consciente do autor da Epístola aosHebreus, a beleza incomparável das narrativas do Antigo Testamento, aelevada poesia dos profetas e dos salmos. Com certeza, perderíamos muitose a Bíblia fosse escrita por inteiro em um só estilo! Nós, que cremos nainspiração plenária da Bíblia, não apenas admitimos isso, mas insistimos 

nesse ponto. A doutrina da inspiração plenária não afirma que todas as partes da Bíblia são iguais nem afirma que todas são igualmente belas oumesmo igualmente valiosas, mas declara que todas são igualmenteverdadeiras e que cada parte tem seu lugar.

J . G R E S H A M M A C H E N

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O LIVRO DE ESDRAS (3)

N Ã O e r a   N O S S A intenção fazer com que os estudos de Esdraschegassem a uma terceira parte. Sendo, porém, um tratado importante dasEscrituras, pois marca um ponto crítico significativo, o livro merece perfeitamente esta nova consideração. Neste estudo final, iremos rever olivro de um ponto de vista exclusivamente espiritual. Ele está repleto delições espirituais de relevância sempre nova, mas nos limitamos aqui àmaior  lição espiritual, que se desenvolve à medida que a própria história

do livro acontece.

APLICAÇÕES ESPIRITUAIS IMPORTANTES

O assunto do livro, como já vimos, é a repatriação dos judeus, sob odecreto de Ciro. Este é o livro da restauração. O que não devemos perderde vista é que esta restauração histórica dos judeus exemplifica

surpreendentemente as leis e os fatores que operam em toda verdadeirarestauração espiritual

Em primeiro lugar, o próprio  fato   da restauração judaica é espiritualmente significativo. Ele fala do profundo consolo relativo àrestauração dos cristãos que foram “seduzidos” por este “mundo

 perverso” ou enredados pelas “astúcias” de Satanás e se “desviaram”.Deus permitira que grande tristeza envolvesse o povo da aliança,

chegando ao expediente extremo de dispersar as doze tribos nas terras dosconquistadores pagãos. O fato de serem o povo da aliança não os tornouimunes ao castigo do pecado. Absolutamente não. Seu privilégioaumentou a responsabilidade. Sua apostasia e presunção tiveram comoresposta um castigo inclemente. Mesmo sob os açoites, porém, elescontinuavam sendo o povo do Senhor. A aliança se mantinha. Deus não aabandonou. Ele os lançou fora, mas não os esqueceu, e propiciava agora

um caminho de volta e restauração para todos os que quisessemaproveitar.Assim como isto se aplicou à nação de Israel, também se aplica

individualmente ao povo de Deus em Cristo. Podemos nos afastar do lugarda bênção. Podemos perder nosso primeiro amor e nos tornar frios

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espiritualmente. Podemos escorregar de volta ao mundanismo e deixar-nos seduzir por sua atração enganosa. Deus talvez venha a permitirum castigo severo para nos advertir. Até certo ponto, ele pode permitirque poderes malignos nos guiem. O Espírito de Deus entristecido pode

nos privar de toda consciência de Sua presença. Todavia, se pertencermosrealmente ao Senhor mediante uma conversão genuína, se tivermosverdadeiramente nascido do Espírito e sido aspergidos com o sangue daaliança do Calvário, então Deus jamais nos lançará fora de todo nem

 permitirá que finalmente venhamos a “cair da graça”. Por mais quetenhamos nos afastado, há sempre um caminho de volta e restauração.Deus tornou clara essa verdade em Sua Palavra, e a restauração dos judeus

a ilustra. De fato, no caso dos judeus, Deus não só abriu o caminho devolta, ma foi Ele também quem “despertou” os corações daqueles queresponderam dentre Seu povo (1.5). Desse mesmo modo, o Espírito Santoainda ministra no coração e na consciência dos cristãos apóstatas. O

 próprio desejo de voltar é obra Sua em nosso íntimo e evidência de nossaeleição. Como Deus tem paciência e terna graça para conosco, por amorde Jesus! Jamais ousemos abusar dela em ingratidão!

Vamos, porém, prosseguir. Na primeira metade do Livro de Esdras,(1-6) encontramos seis pontos específicos com respeito à restauração dos judeus, correspondendo aos principais fatores na restauração espiritual

1. A volta à terra

O primeiro ponto na restauração de Israel foi a volta à terra (1.3). Para

a nação de Israel, Canaã era o lugar da bênção, num sentido especial. Elaera sua herança prometida, e o pleno gozo das bênçãos da aliança abrâmicaestava associado com sua ocupação. O Senhor poderia mantê-los distintosmesmo na dispersão, mas não haveria cumprimento das promessas e

 propósitos da aliança, enquanto estivessem fora da terra. Portanto, o primeiro passo na restauração consistia na volta ao lugar  da bênção.

Isso também acontece com a restauração da alma. Há, por acaso, algum

leitor destas linhas que tenha perdido a primeira alegria, a primeira visão,a chama outrora brilhante, por ter retornado ao mundo, mas sente o desejode ser restaurado? Que isto fique então bem entendido: o caminho darestauração está aberto, e o Senhor aguarda para ofertar Sua graça, mas

 primeiro precisamos voltar ao lugar  onde Ele pode abençoar-nos, ou seja,

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devemos voltar as costas à Babilônia deste mundo que nos mantevecativos; devemos esquecer o que ocasionou nossa contaminação e voltarà velha terra da aceitação e bênção, que é a promessa de Deus no evangelho. O que Canaã foi para o israelita, com todas suas provisões materiais, o

evangelho é para o cristão, com todas suas provisões espirituais. A primeira coisa para qualquer apóstata aflito é voltar à palavra de Deusmanifestada no evangelho, mantendo-se firme nela. Esse é o único lugarem que Deus lida conosco com graça restauradora. Devemos voltar paralá e retomar a antiga posição de arrependimento para com Deus, fé paracom o Senhor Jesus e obediência para com a Palavra escrita. Precisamosnos reafirmar naquela antiga base, a de que a salvação só se dá pela graça

de Deus e pela nossa fé. Assim sendo, quando estivermos ali, poderemosobter a promessa e começar a nos alegrar na restauração.Mas que promessa é esta? Vejamos a conhecida promessa de 1 João 1.9.

 Não podemos expô-la aqui, mas alguns minutos de reflexão irão mostrara qualquer apóstata arrependido como é magnífica sua provisão. Comfreqüência vemos apóstatas restaurados chorarem de alívio jubilosoquando a fé os faz aceitar essa promessa. Não haverá alívio até que fixemosa mente em alguma promessa desse tipo contida na Palavra de Deus;quando, porém, firmarmos nossos pensamentos em algumas dessas

 preciosas promessas da Palavra, o Espírito Santo terá oportunidade detestemunhar dentro de nós quanto à realidade de nossa restauração.

2. A reconstrução do altar 

A segunda coisa em relação ao remanescente judeu foi a reconstrução do altar   (3.1-6). Ele foi erguido justamente no lugar em que o anteriorestivera. Aqui, como em muitos outros lugares, o altar sem dúvida tipificao grande altar do Calvário, como nós mesmos podemos ver agora comnossa luz mais intensa. Mas o que isto significava para aqueles judeus quevoltaram? O altar, com suas várias ofertas e, especialmente, com suasofertas voluntárias, representava a consagração a Deus\   pois simbo

licamente o ofertante oferecia a si mesmo com sua oferta.É justamente isso que precisamos fazer se quisermos ser restaurados de

nossa apostasia. Devemos reconstruir em nosso coração o altar dededicação a Cristo. Deve haver uma completa rendição de nossa vida aEle. Você notará que, juntamente com a reedificação do altar em Jeru

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salém, foi restabelecida a antiga adoração, isto é, a antiga comunhão foirestaurada. O mesmo acontece conosco quando o altar é reedificado e nosrendemos novamente ao nosso verdadeiro Senhor.

3. O começo do novo templo

Os judeus que voltaram tinham uma incumbência vinda não só de Ciro,mas do próprio Deus: construir, no antigo local, um novo templo para Ele(1.2, 3). Depois de o altar ter sido reedificado e a verdadeira adoraçãorestaurada, iniciou-se o trabalho no novo templo. Isto demonstra serviço e testemunho. Sem dúvida, seus propósitos e serviços especiais eram le

vantar a nova casa para dar testemunho do Senhor entre as nações vizinhas —“casa de oração para todos os povos” (Is 56.7).

Assim, também nós devemos erigir uma casa espiritual de louvor e detestemunho do Senhor — em nossas vidas, em cada igreja cristã local, emcada comunidade e em todos os países do mundo. Nossas vidas devemmanifestar um serviço restaurado e um testemunho de Cristo; e issorealmente acontecerá, se estivermos de volta à terra da promessa do

evangelho, tendo reconstruído o altar da consagração e restaurado a antigacomunhão.

4. O encontro dos “adversários”

Às vezes, alguns dos que foram restaurados ficam de tal forma enlevados

com o sentimento de aceitação e comunhão com Deus que tendem aimaginar, como fazem muitos convertidos, que chegaram a um estágio noqual todas suas dificuldades terminaram. Mas logo descobrem seu erro — como aconteceu com o remanescente judeu há muito tempo atrás, quandocomeçaram a reconstruir o templo. Em toda história humana, jamaishouve uma obra autêntica de Deus sem que surgisse a oposição do diabo.A oposição geralmente começa de maneira sutil; depois, caso a sutilezafalhe, ela se transforma em franca obstrução, com toda espécie de medidadesonesta.

Foi justamente isso que aconteceu naquele tempo na Palestina. Apareceram os “adversários” (4.1), e estes procuraram impedir a reconstruçãodo templo de três maneiras: (1) tentanto enganar os judeus para levá-los

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a uma união irreal: “Deixai-nos edificar convosco” (4.2); (2) pela franca obstrução: "... desanimaram o povo de Judá, inquietando-o no edificar” (4.4); e (3) pelo embuste: "... alugaram contra eles conselheiros” (4.5). A  primeira foi a mais perigosa, mas não teve êxito. Vemos aqui, porém, um 

daqueles aparentes enigmas que ocorrem na obra de Deus: embora o remanescente permanecesse firme, os adversários obtiveram vitória por algum tempo. Conseguiram que o trabalho fosse suspenso e o remanescente ficasse desanimado. Devemos preparar-nos para os “adversários” e para contrariedades estranhas e decepcionantes, mesmo quando estamos trabalhando fielmente para Deus. Nosso lema sempre deve ser: “nenhuma concessão”. Precisamos também preparar de antemão nossas 

mentes contra as decepções, pois de alguma forma, sob a atual situação na terra, as provações são um elemento necessário ao progresso espiritual.

 5. O levantamento de profetas

Novas vozes são agora ouvidas em meio ao remanescente, exortando e encorajando a todos com uma palavra especial de Deus. Os profetas Ageu 

e Zacarias aparecem. Suas palavras são como uma brisa forte vinda das colinas. Zorobabel e seus ajudantes sentem que Deus realmente está de novo entre eles e retomam a construção com resolução renovada.

Isso acentua um pouco mais o notável paralelo entre a história do remanescente e a experiência espiritual dos cristãos de hoje. É preciso compreender muito bem que os profetas hebreus eram homens sob uma inspiração sobrenatural perfeitamente definida (veja nosso primeiro 

estudo sobre os profetas). Eles eram a voz viva de Deus dirigida ao povo da aliança, e é interessante notar como o Senhor levantou tais homens em épocas de grande necessidade. Os profetas do Antigo Testamento, da mesma forma como os apóstolos do Novo, já se foram, não só como indivíduos mas como uma ordem que se tomou agora desnecessária. O cânon completo das Escrituras divinamente inspiradas está em nossas mãos, “equipando-nos perfeitamente” para todas as exigências da vida e 

do serviço cristão. Essas Escrituras são a palavra viva e vigorosa de Deus para nós, exercendo um ministério profético em nossos corações semelhante ao de Ageu e Zacarias em tempos passados. Em todo nosso serviço para Deus, especialmente quando há oposição, desânimo e aparente fracasso, precisamos viver bem perto da Palavra escrita. Este é

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um dos segredos citais da perseverança e do sucesso final. Que Deus nosajude a aprendê-lo!

6. A obra é completada

Quando uma obra é verdadeiramente de Deus, ela não pode serdestruída. Esta é uma das inspirações para o serviço cristão; um exemplodisso é a obra completada pelos reconstrutores do templo. No terceiro diado mês de adar, no sexto ano de Dario, “acabou-se esta casa” (Ed 6.15).A dedicação foi um acontecimento de grande alegria (w . 16,22). A seguir,celebrou-se a Festa da Páscoa e dos Pães Asmos, um acontecimento quefala figuradamente de salvação e comunhão, como foi visto em nossosestudos de Levítico. Assim sendo, apesar dos obstáculos, a tarefa écompletada, resultando em vitória, alegria e comunhão. A fé e o trabalhotriunfam em nome do Senhor.

Este, com certeza, é o resultado da obra que pertence verdadeiramentea Deus e que é feita para Ele na obediência da fé. Não precisamos duvidar.Este sexto ponto no paralelo entre aqueles reconstrutores do antigo

templo e a experiência do povo do Senhor de hoje corresponde aos fatos.Vemos então, desenvolvendo-se em seis aspectos na primeira metade doLivro de Esdras, uma surpreendente lição histórica, mostrando as leis e osfatores que atuam em toda restauração espiritual verdadeira e em todoserviço cristão autêntico, como já foi observado anteriormente. Note denovo os pontos do paralelo:

1. A volta à terra (1 e 2) —de volta à base certa2. A reconstrução do altar (3.1-6) —renovação da dedicação3 .0 começo do novo templo (3.8-13) —serviço e testemunho4 .0 encontro dos “adversários” (4) —a fé sendo provada5. A exortação pelos profetas (5.1-6.14) — necessidade da Palavra de

Deus6 .0 templo é completado (6.15-22) —a fé vitoriosa

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PARTE 2 - ESDRAS (7-10)

Já falamos sobre o caráter de Esdras; assim, não precisamos estudarnovamente a segunda metade do livro que fala dele e de sua expedição.

Encontramos aqui, porém, uma grande riqueza de valores espirituais quequeremos esboçar rapidamemte, ainda que não possamos abrir espaço para um estudo mais completo. Os quatro capítulos que falam de Esdrase sua missão marcam um progresso em quatro sentidos. Aqui, Esdras é ummodelo de serviço e liderança.

1. O PREPARO DE ESDRAS PARA A TAREFA (7)

O verdadeiro preparo — “Esdras tinha disposto o coração”: (1) para“buscar”; (2) para “fazer”; e (3) para “ensinar”.

2. ESDRAS EX ECUTA A TAREFA (8)

A verdadeira dependência de Deus. Veja do versículo 21 ao 23. “Para buscar o caminho certo”. Note também o cuidado de

Esdras com os detalhes.

3. A CONSTERNAÇÃO DE ESDRAS COM A TRANSIGÊNCIA (9)

Veja os versículos 2,4 etc. “Assim se misturou a linhagem santa”.Recurso autêntico: “Estendi as mãos para o Senhor”.

4. ESDRAS RESTAURA A SEPARAÇÁO (10)

O verdadeiro curso de ação —acertar o que está errado. Veja os

versículos 6,7 ,10: “Fazei confissão”, “separai-vos”.

O ASPECTO DIVINO

Até aqui nos ocupamos com o aspecto humano dos ensinos espirituaisneste Livro de Esdras. Agora, porém, reuniremos em alguns parágrafos osignificado divino. Este é profundo e rico em consolo.

Voltemos ao primeiro versículo do livro: “No primeiro ano de Ciro, reida Pérsia,  para que se cumprisse a palavra do Senhor, por boca de  Jeremias... ” A restauração dos judeus foi, portanto, o cumprimento de uma profecia feita setenta anos antes. Isto nos leva a Jeremias 25 e 29, de ondeextraímos os seguintes trechos:

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“Toda esta terra virá a ser um deserto e um espanto; estas nações servirão ao rei de Babilônia setenta anos. Acontecerá, porém, que, quando se cumprirem os setenta anos, castigarei a iniqüidade do rei de Babilônia e a desta nação, diz o Senhor, como também a da terra dos caldeus; farei 

deles ruínas perpétuas” (25.11,12).“Logo que se cumprirem para Babilônia setenta anos atentarei para vós outros e cumprirei para convosco a minha boa palavra, tomando a  trazer-vos para este lugar. Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar  o fim que desejais... e tomarei a trazer-vos ao lugar donde vos mandei 

 para o exílio” (29.10-14).

Essas profecias foram pronunciadas antes da queda de Jerusalém, eJeremias foi maltratado por ter dito que o rei da Babilônia seria vencedor.Mas assim como a restauração dos judes por Ciro deve ser lida de acordocom essas profecias, estas mesmas palavras devem ser observadas segundooutro grande pronunciamento, em Jeremias 18.1-6, que diz respeito àsoberania de Jeová.

“Palavra do Senhor, que veio a Jeremias, dizendo: Dispõe-te, e desce à casa do oleiro, e lá ouvirás as minhas palavras. Desci à casa do oleiro, e eis que ele estava entregue à sua obra sobre as rodas. Como o vaso, que o oleiro fazia de barro, se lhe estragou na mão, tomou afazer dele outro vaso, segundo bem lhe pareceu. Então veio a mim a palavra do Senhor: Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de 

 Israel? diz o Senhor; eis que, como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel. ”

Veja estes fatos impressionantes. Deus é o oleiro. Israel é o barro. Ahistória é a roda. “O vaso se estragou” —esta é a história de Israel desdeo êxodo até o exílio. “Tornou a fazer dele outro vaso” — esta é a históriaem Esdras e Neemias. Chegara a hora em que Deus passaria a moldar um

novo vaso com o mesmo barro.“Tomou afazer” —apegue-se a isso! É algo maravilhoso —porque nosfala do ponto máximo da soberania divina. O fato final não é que o vasose “estragou”, mas que foi “feito de novo”.  Essa é   a palavra final nasoberania divina. Como ela contrasta com a idéia e prática humana  da

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soberania! De acordo com esta, se você teve uma oportunidade e falhou,a soberania o esmaga e o rejeita. A última palavra na soberania de Deus, 

 porém, é “tornou a fazer”.Quanto conforto encontramos nisso —“tornou a fazer”! Reflita, pois o

mesmo se aplica a nós como indivíduos. Eu sou esse vaso estragado. Nãoalcancei sequer meu próprio ideal, quanto menos o de Deus para mim.Permiti que esta minha vida, que poderia ter sido um vaso de beleza, setornasse corrupta, feia, fracassada, “estragada”. A palavra da soberaniadivina é: “tornarei a fazer”. Será que alguém diz: É muito tarde agora!Tenho 60 anos. Não posso voltar atrás no tempo e viver de novo?” Bem,se fôssemos feitos simplesmente para viver 70 anos, isso poderia estar

certo; mas “a sepultura não é nosso alvo”. Existe diante de nós um destinoeterno. O elemento vital é colocar-nos deliberadamente nas mãos deDeus. O barro desonrado pode ser limpo na fonte do Calvário. Oendurecimento obstinado pode dar lugar à flexibilidade mediante ainfluência renovadora do Espírito do Pentecoste. Se nos colocarmos semreservas na mão do oleiro-mestre, Ele pode fazer de cada um de nós um“utensílio para honra” (2 Tm 2.21).

“Tornou a fazer dele” —este é também o último ato da história de Israel. Começando com Abraão, Deus fez um novo vaso àafamília escolhida; masesse vaso teve de ser quebrado no Egito. Começando novamente no Sinai,Deus fez outro vaso com o mesmo barro, a nação escolhida; mas este tevede ser quebrado no exílio na Assíria e Babilônia. Começando outra vez narestauração sob Zorobabel e Esdras, com o mesmo barro Deus fez aindaoutro vaso, o remanescente que voltou; mas este teve de ser destruído pela

dispersão sob os romanos, em 70 A. D. O vaso continua quebrado; mas ofato final é que Deus irá “fazê-lo de novo”, moldando-o com tanta belezae perfeição que surpreenderá os homens e resultará em glória a Deus. O

 judeu, que hoje é motivo de aborrecim ento para todos os povos,tornar-se-á o caráter mais belo em toda terra. A nação que hoje estáesmagada e partida, mais do que todas as outras, irá demonstrar o idealdivino de nacionalidade em integridade moral irrepreensível e prosperidade material.

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O LIVRO DE NEEMIAS (1)

Lição N2 45

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NOTA: Para este estudo, leia duas vezes o Livro de Neemias.

O exílio na Babilônia parecia ter sido o toque fúnebre da língua hebraica. As classes mais elevadas foram deportadas para a Babilônia ou fugiram para o Egito, e os que ficaram logo adotaram a língua usada pelos 

seus conquistadores. O hebraico antigo tomou'se um idioma literário e sagrado; provavelmente, o aramaico passou a ser a língua de uso corrente. Qualquer que seja o sentido exato de Neemias 8.8, fica provado que o povo daquela época tinha extrema dificuldade em compreender o hebraico clássico quando ouvia sua Jeitura, Todavia, no campo da religião, o antigo idioma continuou a ser empregado durante vários séculos.

T . H . W E I R , E M “IN T E R N A T I O N A L S T A N D A R D B IB L E E N C Y C L O P A E D I A ”

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O LIVRO DE NEEMIAS (1)

N E E M I A S é um livro precioso quanto às lições espirituais por ele ensinadas. Ele narra como os muros de Jerusalém foram reconstruídos pelo remanescente que voltou sob o comando de Neemias e como o povo foi instruído de novo na lei que Deus havia dado à Sua nação muito antes, através de Moisés. Esta reconstrução do muro da cidade é como uma lição muito clara, ilustrando as verdades centrais de todo verdadeiro serviço para Deus. Aquele que considerar os ensinamentos tão vividamente descritos aqui será um construtor sábio e bem-sucedido nas coisas espirituais.

Embora no decorrer deste estudo tenhamos de nos manter mais ou  menos restritos às  idéias e  aos significados principais de cada Jivro das Escrituras, não desejando sobrecarregar-nos com questões técnicas ou eruditas, temos praticamente a obrigação de considerá-las em alguns pontos. Este aspecto irá acentuar-se quando nos referirmos a livros como 

Jó, Isaías, Daniel e Jonas. Por enquanto, porém, precisamos ter pelo menos uma idéia da autoria, data e contexto de cada livro.

Quem escreveu?

Quanto à data e à autoria, nossos comentários sobre este Livro de 

Neemias são breves, pois certos fatos se evidenciam logo numa primeira leitura. Primeiro, não há dúvida de que o próprio Neemias é o autor das partes que se encontram na primeira pessoa. São os capítulos de 1 a 7 e de 12.27 a 13.31, onde termina o livro . Segundo, o trecho intermediário (8.1-12.26) foi provavelmente incorporado por Neemias a seu próprio registro, ainda que o estilo possa sugerir um autor diferente, como alguns eruditos parecem afirmar. Alguns sugerem Esdras para esta parte. 

Terceiro, a lista genealógica do remanescente que voltou, encerrando o capítulo 7, evidentemente baseou-se numa lista oficial preparada antes, enquanto a lista no capítulo 12 provavelmente foi iniciada pelo próprio Neemias e acrescentada numa data posterior (pois o nome Jadua, nos versículos 11 e 22, leva-nos ao tempo de Alexandre, o Grande). Podemos

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dizer então que Neemias é certamente o verdadeiro autor  de grande partedo livro, e provavelmente o compilador  do todo (dando margem a toquessuplementares, como em 12.11,12,23).

Quando foi escrito?

A data em que Neemias completou a obra deve ter sido por volta de 430a. C., ou seja, logo após sua volta a Jerusalém, depois de ter sido chamado

 pelo rei para ir temporariamente à Babilônia (13.6, 7). O decreto realautorizando a primeira viagem de Neemias a Jerusalém foi no “mês de

nisã, no ano vigésimo do rei Artaxerxes” (2.1). Sir Robert Andersondemonstrou que esta data corresponde a 14 de março de 445 a. C. Asegunda  viagem de Neemias a Jerusalém, depois de sua breve visita àBabilônia, ocorreu “no ano trinta e dois de Artaxerxes” (13.6), portantodoze ou treze anos mais tarde, o que nos leva a 432 a. C. Assim sendo,dando espaço às atividades registradas nos últimos parágrafos do livro,devemos concluir definitivamente que o livro não poderia ter sido

completado antes de 432 a. C., e foi provavelmente escrito pouco depois dessa data, pois os eventos se acham ainda bastante vivos na mente doescritor (13.22, 29).

Qual o contexto?

Como vimos, Neemias chegou a Jerusalém em 445 a. C. O remanescente judeu restaurado encontrava-se de volta à Judéia há mais de noventa anos.Zorobabel e seus contemporâneos haviam morrido e outra geração ossubstituíra. O que aconteceu durante esses noventa anos? O novo templofora construído, muito inferior ao original, naturalmente; mas, embora o

 prédio em si levasse apenas quatro anos, cinco meses e dez dias para serconstruído (Ag 1.15 com Ed 6.15), o remanescente já tinha voltado há 21

anos quando ele foi completado! Cerca de 60 anos depois disso, Esdrasviajara da Babilônia para Jerusalém com seu grupo de duas ou três mil pessoas (Ed 7 diz 2.000, mas refere-se somente aos homens). As condiçõesmorais e espirituais na Judéia estavam longe de ser satisfatórias. Príncipes,governadores, sacerdotes, levitas e todo o povo haviam assumido muitos

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casamentos mistos com as nações idólatras que os cercavam e, em bora nãoestivessem adorando ídolos, mesmo assim se mostravam coniventes coma idolatria, permitindo sua infiltração e colocando em risco a geraçãoseguinte. Se essa fusão do remanescente com os gentios que habitavam a

Palestina não fosse detida, isso teria significado completa absorção eobliteração dos judeus como um povo separado. Assim, podemoscompreender perfeitamente a consternação de Esdras ao descobrir esseestado de coisas (Ed 9.3-15). Talvez a permissividade tivesse surgidodurante o período de debilidade do governo, entre a morte de Zorobabele o advento de Esdras. A falha, porém, foi drasticamente corrigida porEsdras, cujas providências oportunas foram acompanhadas de arre

 pendimento geral (Ed 10).Agora, quando Neemias chegou a Jerusalém, doze anos depois de

Esdras, as circunstâncias estavam longe de ser confortáveis. Os muros e as portas de Jerusalém continuavam em ruínas, desanimando os olhos e ocoração, e o povo estava em grande “miséria e desprezo” (1.3; 5.3). Algunsdos mais pobres tinham hipotecado seus bens aos judeus em melhorsituação (5.5). O sábado e outras obrigações não estavam sendo obser

vados, como mostra a aliança no capítulo 10. Este é o contexto do livro.

Assunto e estrutura

O objetivo especial de Neemias era a reconstrução dos muros da cidade. Vimos como o livro de  Esdras  divide-se em duas partes principais. Na

 primeira, sob a liderança de Zorobabel, ocupamo-nos da reconstrução dotemplo. Na segunda, guiados por Esdras, ocupamo-nos da restauração daadoração.  Este Livro de Neemias, que é uma seqüência natural do Livrode Esdras, divide-se também em duas partes. Na primeira, estudamos areconstrução dos muros (1-6). Na segunda, a repetição das instruções ao

 povo (7-13). Assim sendo, em Esdras e Neemias temos a restauração dotemplo, da adoração, dos muros e do povo. Observamos que Esdras é

distintamente o livro da restauração,  e Neemias, o da R E C O N S T R U Ç Ã O . Quando chegarmos à epopéia de Ester, descobriremos que aquele édecididamente o livro da preservação. Assim, neste trio de livros ao finaldos dezessete livros históricos do Antigo Testamento temos:

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Todavia, não é só o homem que faz a história. É quase igualmenteverdadeiro que a história faz o homem. Os perigos e problemas doempreendimento trazem à tona tudo o que é de melhor no indivíduo.Quantas vezes isso acontece! Quanto devemos às dificuldades e con

trariedades, às obstruções e oposições, que tiveram permissão para nos provar! As coisas que julgamos estar nos esmagando estavam na verdadenos edificando  —como vemos agora em retrospecto.

Assim, sigamos este homem desde o começo de sua história até omomento em que os muros de Jerusalém foram reconstruídos. No pequeno livro que leva seu nome, vemos Neemias em três funções: (1) ocopeiro; (2) o construtor do muro; e (3) o governador.

Neemias, o copeiro (1.1-2.10)

 Neemias era “filho de Hacalias” (1.1) e aparentemente da tribo de Judá(2.3). Sem dúvida, ele foi criado no exílio e, quando ainda bem jovem,

 passou a servir na corte persa, onde alcançou a lucrativa posição de copeiro

real diante de Artaxerxes Longânimo e da rainha Damaspia, na residênciareal em Susã. “Nesse tempo eu era copeiro do rei”, diz ele a respeito de simesmo (1.11). Para nós, leitores ocidentais e modernos, esse cargo pode

 parecer sem importância, semelhante ao de um mordomo da atual classealta. Mas estamos errados em pensar assim. Nas palavras do Dr. Angus,tratava-se de “um dos cargos mais honrados e de confiança na corte”; e

 para citar o Dr. W. M. Taylor, era um cargo “mencionado pelos escritores

da antigüidade como sendo de grande influência”. Sabemos da grandeinfluência que o mordomo do Faraó exerceu a favor de José e vemos aelevada posição que o infame Rabsaqué (ou chefe dos copeiros) ocupavano império da Assíria (2 Rs 18).

Certo dia, quando Neemias servia na corte do rei, seu irmão Hanani eum grupo de judeus deram-lhe um relatório tão lamentável sobre ascondições de Jerusalém e da comunidade restaurada na Judéia que ele se

entristeceu muitíssimo. Contaram-lhe que seus conterrâneos na distanteterra natal estavam em grande dificuldade, porque, entre outras coisas, osmuros da cidade continuavam em ruínas e as portas permaneciam domesmo jeito como quando haviam sido queimadas e destroçadas pelos

 babilônios, 140 anos antes. Muros e portas nada significam para as cidades

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hoje em dia, mas, no passado, no Oriente, significavam quase tudo. Essesmuros e portas derrubados faziam com que os habitantes ficassem à mercêde ataques e roubos por parte dos vizinhos perversos. É bem provável queo relatório de Hanani tenha sido ainda mais doloroso pelo fato de naquele

momento os cidadãos de Jerusalém estarem sofrendo justamente às mãosdos povos mentirosos e traiçoeiros que os rodeavam. Neemias, abatido pela dor, entregou-se em seguida ao jejum, à la

mentação e à oração (1.2-11). Durante este processo, cresceu nele acerteza de que deveria dedicar-se à imensa tarefa de reconstrução. Ele não

 podia, porém, decidir por si mesmo. Por mais difícil que fosse entrar  no palácio persa, quando alguém conseguia um cargo ali, era ainda mais difícilsair. No entanto, a tristeza e o jejum de Neemias alteraram de tal formasua aparência em quatro meses que Artaxerxes perguntou-lhe o que haviade errado. As palavras do imperador parecem indicar que ele realmentese afeiçoara ao servo. Não obstante, como comenta o Dr. Kitto, Neemiastinha razão suficiente para “temer sobremaneira”  (2.2), pois eraconsiderado ofensa capital apresentar-se triste ao rei (veja também Ester4.2). Neemias respondeu com amabilidade humilde, não ousando fazerqualquer pedido, mas orando sinceramente para que Deus predominasse.

O resultado foi a permissão generosa para empreender o projeto que tinhaem seu coração. Termina assim a primeira cena — Neemias, o copeiro.

Observe isto: a verdadeira santidade não é incompatível com o êxito terreno. De fato, acontece muitas vezes que a santidade vem a ser fatorimportante para promover e possibilitar o sucesso. Estamos cansados deouvir falar que é impossível ser um verdadeiro cristão no mundo dosnegócios de hoje e que aplicar princípios santos nas transações comerciais

modernas é um convite à falência. Poderíamos dar muitos exemplos emcontrário. É certo que temos de pagar um preço e talvez haja algumas

 perdas; mas a observação nos convence de que o caráter e os princípioscristãos verdadeiros, aliados a uma habilidade normal para os negócios,contribuem definitivamente para o sucesso. Se Neemias pôde manter asensibilidade de sua consciência em meio às intrigas da corte persa,

 podemos também juntar a retidão com o sucesso nas transações de hoje.

Os “Neemias” da atualidade são o sal no mundo dos negócios. É melhor perder o emprego do que vender nossa consciência! Mas, em nove dentredez casos, manter uma boa consciência nos levará em direção ao êxitotanto material quanto espiritual e nos conservará firmes quando realmentechegar a hora do sucesso.

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 NOTA: Para este estudo, rele ia do capítulo 2 ao 6, marcando osversículos que revelam as virtudes ou traços especiais do caráter de Neemias.

 Não é a aritmética de nossas orações, por mais numerosas que sejam,nem sua retórica, por mais eloqüentes que sejam, nem sua geometria, pormais longas que sejam, nem sua música, por mais doce que seja nossa voz,nem sua lógica, por mais convincentes qüè sejam, nem seu método, pormais ordenadas que sejam — o que importa para Deus. O que mais valeé o fervor do espírito.

W I L L IA M L A W

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O LIVRO DE NEEMIAS (2)

O HOMEM E A HISTÓRIA - (continuação)

Neemias, o construtor do muro (2.11-6.19)

De posse da autorização real, emocionado por sentir a graça soberanado Senhor, mas consciente dos perigos envolvidos em seu empreendimento, Neemias parte para Jerusalém, acompanhado de uma escolta desoldados persas, e completa sua viagem em cerca de três meses. Duranteo caminho, tem de passar pelas províncias de certos sátrapas egovernadores persas. Para aqueles “dalém do Eufrates” ele leva cartas(2.7, 8), fazendo as devidas entregas (v. 9). Entre tais governadoresachava-se um certo Sambalá que, segundo Josefo, era “sátrapa deSamaria”. Havia igualmente um certo “Tobias, o servo”, que talvez fosse

um governador subalterno ou, com maior probabilidade, uma espécie desecretário de Sambalá. Vemos que esses dois se aborreceram muitíssimocom o fato de alguém vir a “procurar o bem dos filhos de Israel” (v. 10). Neemias está prestes a enfrentar grandes problemas com esses homens.

 Neemias chega a salvo em Jerusalém e, depois de um intervalo de trêsdias, faz uma visita secreta às ruínas durante a noite, a fim de escapar àobservação dos espiões inimigos de Samaria. Ele não divulga sua missão

aos líderes de Jerusalém até ter feito pianos para assegurar que toda a obraseria iniciada e terminada em poucas semanas (2.12-18).

Seu plano (claramente implícito no relato) era dividir  a reconstruçãoentre diversos grupos de trabalho, todos agindo simultaneamente e cadaum responsável por sua própria parte do muro (capítulo 3). O plano tevetanto sucesso que, apesar da oposição, o muro foi completamentereconstruído em pouco mais de sete semanas (6.15). Depois disso, foram

colocadas nas entradas sólidas portas de dois batentes (7.1), guardas foramdesignados e regras estabelecidas para que se fechassem as portas ao cairda noite, sendo reabertas pela manhã (7.3). Assim, o objetivo principal de

 Neemias realizou-se — num prazo de seis meses, a partir da ordemrecebida de Artaxerxes!

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Veja aqui também a fusão de um senso prático com uma intensa espiritualidade.  A tarefa foi dividida e sistematicamente realizada. Neemias colocou cada um dos 42 grupos de trabalho para construirnaquela parte do muro que ficava mais perto de onde seus integrantes

moravam (3.10, 23, 29, 30). Isto lhes deu um interesse especial pelotrabalho. Nossa primeira obrigação com Cristo sempre é nossa própriavizinhança.

Encontramos esta mistura de senso prático e espiritualidade em toda ahistória de Neemias. Em 4.9, por exemplo, lemos: “... nós oramos ao nossoDeus e, como proteção, pusemos guarda contra eles (os adversários), dedia e de noite”. Neemias jamais permitiu que a presunção substituísse a

 precaução. O cristianismo organizado de hoje está organizado demais, ecomplicamos nosso avanço por causa da máquina excessivamentecomplexa. Todavia, o problema real não está tanto no mecanismo em si,mas sim no fato de a força-motriz vital por trás dele ter falhado em grande

 parte. A organização está abarrotada, em agonia. Há muito trabalho perante os homens e pouco serviço diante de Deus. Há cada vez maismovimento, mas cada vez menos unção. São os Neemias que Deus usa — 

os homens e mulheres que misturam a prática e a espiritualidade.À medida que observamos Neemias, lembramo-nos cada vez mais dasfamosas palavras de Cromwell: “Confie em Deus e mantenha seca sua

 pólvora”. Falando em termos gerais sobre os dias de hoje, vemos um brilhante mas frustrante excesso de ênfase sobre o lado humano, sobre ovigor no serviço religioso. Mais do que nunca lutamos contra problemassociais em comissões e conferências e cada vez menos lutamos de joelhoscontra os poderes espirituais do mal que estão por trás dos problemassociais da atualidade. Quase todos nas comissões possuem um bom

 program a, mas na verdade poucos parecem ter uma verdadeira preocupação espiritual. O lado prático sobrepujou o espiritual e, quandoisso acontece, o que é prático torna-se absolutamente impraticável.

Talvez as lições mais instrutivas desta história de Neemias ocorram emrelação às obstruções e reveses que ele teve de superar naqueles meses dereconstrução. Houve três formas de oposição externa —  desprezo (4.1-6),força (4.7-23) e astúcia (6.1-19). Houve igualmente três formas deobstáculo interno  — escombros (4.10), medo (4.11-14) e cobiça (5.1-13).Cada uma delas é uma lição, um estudo em si que correspondesurpreendentemente ao que enfrentamos hoje num sentido espiritual.

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A OPOSIÇÃO EXTERNA

 Desprezo  (4.1-6)

Vejamos a oposição encontrada externamente por Neemias. Primeiro,veio em forma de desprezo. Veja 4.1-3.

Jamais houve sarcasmo mais escarnecedor do que o contido na perguntade Sambalá: “Que fazem estes fracos judeus?” Esta é exatamente a

 primeira reação da sociedade mundana para com a minoria espiritualespalhada nas igrejas. “O que fazem essas pessoas fracas?” perguntam

desdenhosamente. O que umas poucas reuniões de oração representamquando comparadas com um pacto europeu, uma mudança revolucionária

 para um governo socialista ou uma conferência da ONU? O que significaessa idéia tola de converter pessoas uma a uma, se comparada com

 programas científicos, legislativos, educacionais, econômicos e sociológicos que podem afetar milhões de pessoas ao mesmo tempo?

Bem, como Neemias enfrentou o desprezo de Sambalá e Tobias? Temos

a resposta em 4.4-6. Ele apenas continuou a orar e a construir. “Ouve, ónosso Deus, pois estamos sendo desprezados”, diz ele. Depois da oração,acrescenta: “Assim edificamos o muro... porque o povo tinha ânimo paratrabalhar”. Essa é a maneira de enfrentar o desprezo, sem revidar! Osarcasmo de Sambalá e Tobias logo começou a parecer tolo, à medida queos muros de Jerusalém subiam cada vez mais. Nossa melhor resposta aodesprezo do mundo é continuar sempre orando a Deus, pedindo a bênção

do Espírito Santo e mantendo nossos esforços para ganhar almas paraCristo. Deus sempre honra a oração e o esforço sinceros. O diabo obtémgrande vitória toda vez que consegue tirar-nos de alguma causa nobre paraCristo através do sarcasmo, e temo que atinja seu alvo com demasiadafreqüência. É bom aprendermos essa lição de Neemias!

Força (6.7-23)Examine de novo a oposição externa enfrentada por Neemias. Quando

as provocações e zombarias falharam, ela tomou uma forma maisameaçadora. O desprezo deu lugar à  força.  As provocações trans

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formaram-se em ameaças, e as zombarias, em conspirações. Inimigoscomo Sambalá e Tobias não eram do tipo que se contenta em descarregarsua raiva em vão escárnio. Suas flechas de sarcasmo mais agudas nãoatingiram a alma devota de Neemias. Então, o escárnio deu lugar à força.

Leia de novo o capítulo quatro, a partir do versículo 7.As coisas pareciam realmente muito sérias. A oposição havia se tornadouma aliança poderosa —Sambalá, Tobias, árabes, amonitas, asdoditas! Énotável (será mesmo?) como inimigos mútuos freqüentemente se tornamamigos para lutarem juntos contra o povo de Deus. Pilatos e Herodesacabaram com as brigas e se tornaram “amigos” em sua condenação einjúria conjunta a Jesus (Lc 23.12). O romanismo e o paganismo deram-seas mãos contra a verdadeira fé protestante. A Rússia comunista e aAlemanha nazista uniram-se num propósito comum contra o cristianismo!

 Não nos devemos surpreender hoje, quando ©^inimigos do Senhorrecorrem à força. Se isto acontecer, como devemos agir? O que Neemiase seus companheiros fizeram? Continuaram como antes — orando etrabalhando; todavia, tiveram de acrescentar vigilância à oração e luta aotrabalho. Veja os seguintes versículos do capítulo 4:

“Porém nós oramos ao nosso Deus e, como proteção, pusemos guarda contra eles, de dia e de noite” (v. 9).

“... cada um com uma das mãos fazia a obra, e com a outra segurava a arma” (v. 17).

Isto quer dizer que a oração não era suficiente? Por que a proteção e asaimas se confiavam no Senhor? Porque Neemias não era um fanático paracair no erro de pensar que fé é arrogância.

Orar, vigiar, trabalhar, lutar! Como tudo isso se relaciona a nós hoje! Não estamos sugerindo de modo algum que os cristãos devam recorrer aarmas reais quando a força física é usada contra eles, como Neemias foiobrigado a fazer; mas existe uma aplicação espiritual. Existem ocasiõesapropriadas para resistir, atacar e expor o erro, o engano, a falsidade e o

 pecado daqueles que se opõem à verdade encontrada em Cristo Jesus.Dessa luta não devemos fugir, qualquer que seja o risco ou custo.

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Havia também outro tipo de oposição dos inimigos externos que Neemias precisou enfrentar. Quando o desprezo e a força falharam,Sambalá, Tobias e seus aliados recorreram à astúcia.  Isto foi feito emquatro estágios. Primeiro, eles tentaram o  fingimento  (6.1-4). “Vem,encontremo-nos nas aldeias, no vale de Ono”. Este era um engodo parauma conferência supostamente amigável em terreno neutro, provavelmente com a sugestão de que deveria ser feita uma aliança entre Neemias e eles. Mas Neemias percebeu a hipocrisia deles (v. 2) e cada vezque repetiam o convite, dava a mesma resposta: “Estou fazendo grandeobra, de modo que não poderei descer” (v. 3). Esta sempre é a única

resposta segura a tal fingimento —a separação sem concessões.A seguir eles tentaram o blefe  (w. 5-9). Disseram que seria feita junto

ao rei uma acusação contra Neemias e os judeus, no sentido de que elesestavam se preparando para uma rebelião, sendo que a única saída para

 Neemias seria aconselhar-se com eles. A resposta de Neemias foi umafranca negativa, uma oração renovada e a completa separação.

Depois disso, e pior que tudo, eles conseguiram convencer alguns dos

 próprios companheiros de Neemias, usando assim de traição  contra ele(w. 10-14). Até mesmo alguns dos profetas foram subornados. Neemias,

 porém, recusou-se a agir de modo covarde e pecaminoso, mesmo quandoaconselhado por um profeta. A perfídia daqueles “Judas” em meio a seus

 próprios seguidores foi uma grande tristeza para Neemias, mas elesuperou tudo, através de sua corajosa sinceridade e da oração (w . 11,14).

Parece terrível dizer, mas a verdade é que existem traidores como

Semaías e Noadia (w. 10-14) na maioria das atuais congregações cristãs — homens e mulheres que professaram conversão a Cristo, que participam da comunhão e dos trabalhos dos santos, mas não obstante parecem sentir um prazer cruel na queda de um líder cristão. Na presençadele, são amigáveis, dedicados e santos, mas por trás não passam decriadores de intrigas. Eles professam lealdade e interesse, mas, se notamum deslize ou queda, ficam felizes em passar adiante a notícia entre os

irmãos ou contar para todos quantos puderem. Como esses irmãos desleaisfazem sofrer os ministros, pastores, superintendentes e líderes cristãos!Eles são os “Tobias”, os traidores, os quintas-colunas de Satanás. Tudoque o líder cristão pode fazer ao lidar com tais pessoas é continuar 

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construindo para Deus “por infâmia e por boa fama” (2 Co 6.8), recusandocorajosamente todos os expedientes suspeitos e entregando-se continuamente a Deus através da oração.

Os inimigos de Neemias, porém, não cessaram suas atividades malignasnem mesmo quando falhou este ato de traição especial. Eles procuraramaborrecer e desanimar Neemias mediante grupos de irmãos que com eles 

 pactuavam (w. 17-19). O astuto Tobias havia se tornado genro de um líderde Israel que tinha muitos seguidores. Seu filho também desposara uma

 judia, e Tobias passou a ser tanto genro como tio para os israelitas. Nasceuassim um grupo em Jerusalém que permitia que seus laços familiares comTobias superassem seu dever moral e espiritual. Como a transigência tornaas coisas complicadas!

 Neemias com certeza teve grandes problemas ao descobrir que muitosdos principais líderes de Judá mantinham laços estreitos com Tobias e quevários deles “lhe eram ajuramentados”, pelo fato de tanto ele como seufilho terem se casado com israelitas.

O mesmo tipo de situação não aflige nossas congregações hoje? Quantasvezes ela amarra as mãos, paralisa os lábios e parte o coração de ministrossinceros do evangelho! Muitos homens no ministério cedem, pouco a

 pouco, a fim de acomodar as coisas; mas deixam então de ser umverdadeiro Neemias. Não é fácil manter a posição de Neemias. Todavia,no fim, ele é o único que usa a coroa da aprovação divina e do verdadeirosucesso.

OS OBSTÁCULOS INTERNOS

Observamos a oposição enfrentada por Neemias vinda de fora deJerusalém. Vejamos agora os obstáculos que ele encontrou no lado dedentro. Eram três: escombros (4.10), medo (4.11-14) e cobiça (5.1-13).

 Escombros (4.10)

Em primeiro lugar, houve o problema dos escombros. “Então disse Judá:Já desfaleceram as forças dos carregadores, e os escombros são muitos; demaneira que não podemos edificar o muro”. É fácil compreender taldesânimo. Bem no início da reconstrução, Sambalá havia se referidosarcasticamente aos “montões de pó”. Deve ter sido um trabalho triste e

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cansativo remover tudo aquilo antes que cada parte do muro fossereconstruída; e agora havia necessidade de reduzir os obreiros paraescolher uma guarda contra o ataque externo (v. 9). Desse modo, ostrabalhadores que restaram para remover os escombros estavam próximos

da exaustão.Isto tem um paralelo patético com o serviço cristão de hoje. Háinúmeros cristãos piedosos que não podem levar adiante o serviço do muroque Deus lhes deu para construir, por causa do obstáculo dos “montõesde pó”. Como há “montões de pó” em muitas de nossas igrejas! Uma vezrecebi uma carta de um ministro do sul da Inglaterra, pedindo conselhosobre se deveria ficar ou sair de certa igreja. É impossível, disse ele, obterqualquer avanço espiritual por causa dos “montões de pó”. Os ministrosque o precederam eram modernistas. Eles colocaram toda espécie dedúvida e descrença sobre a Bíblia na mente das pessoas, de modo que asreferências dele às Escrituras eram em grande parte desacreditadas, e suasmensagens acabavam sendo deturpadas.

Mas este não é o único tipo de “escombro”. Numa carta de outroministro da Inglaterra li: “O povo daqui não quer dar ouvidos a qualquerdesafio espiritual. Eles se ressentem disso. Durante anos eles vêm seconcentrando em programas que incluem jogos de cartas, reuniões sociaise dançantes etc.”. É verdade, os “montões de pó” se acumulam!

 Medo (4.11-14)

Do lado de dentro surgiu um novo elemento de desânimo: o medo. 

Judeus de regiões adjacentes traziam, periodicamente, notícias de que umataque de surpresa estava sendo planejado pelos inimigos de Neemias (w .11,12). Isto espalhou medo entre os obreiros. Nada paralisa mais do queo medo; e como ele costuma retardar o trabalho evangélico hoje! O tem orsurge principalmente quando se olha para as circunstâncias e conseqüências e não para Deus. Os homens de Neemias ficaram amedrontados

 pela superioridade numérica das forças de Sambalá. Existem paralelos no

mundo contemporâneo. Muitas vezes os inimigos do cristianismoevangélico pareceram enormes e mortais. Na União Soviética e naAlemanha de Hitler, vimos o próprio Estado solidamente contra Ele — sendo a fidelidade a Cristo castigada pelo exílio na Sibéria ou pela prisãonos campos de concentração nazistas. É de surpreender que o medo tenha

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feito empalidecer muitas fisionomias e sufocado muitos testemunhos?É edificante ver como Neemias aniquilou o medo que havia tomado

conta de seus homens. Em primeiro lugar, eles deveriam olhar para Deus, e não para as circunstâncias. “... lembrai-vos do Senhor, grande e temível”,

clama Neemias (v. 14).Em segundo lugar, eles deveriam refletir   sobre a situação: “... pelejai pelos vossos irmãos, vossos filhos, vossas filhas, vossas mulheres e vossascasas” (v. 14). Tudo corria perigo! Nenhuma misericórdia poderia seresperada de seu impiedoso inimigo.

Em terceiro lugar, eles deveriam estar de prontidão (w . 16-23). Dali pordiante segurariam uma ferramenta com uma das mãos e uma arma com a

outra. Quanta sabedoria nessa união de espada e colher de pedreiro! Nemmesmo a maçante manobra de preparar-se para a invasão deveriainterrom per a construção, pois, a longo prazo, o muro reconstruído seria por si mesmo a defesa suprema. Nem a batalha deve impedir a construção!

Essas três coisas têm grande aplicação para os tempos de hoje! Devemosnos “lembrar do Senhor”. Não existe melhor remédio para o medo do queuma viva consciência de Deus.

Segundo, é necessário manter os fatos em mente.  Se as doutrinas quedistinguem a fé evangélica no que se refere à Bíblia, à pessoa de Cristo,ao sangue derramado no Calvário e à mensagem do evangelho sãorealmente autênticas, então as doutrinas próprias dos modernistas eromanistas estão erradas. E as conseqüências são incornensuravelmentemais graves do que aquelas do episódio de Neemias. Almas estão em jogo!Os destinos eternos pendem na balança!

Terceiro, não devemos esquecer nossa necessidade de portar armas para a luta. Nossas armas são: (1) a Bíblia, que é a “espada do Espírito”; (2) aoração, que pode ser usada para opor-se ao erro, assim como para salvaralmas; e (3) a ação do Espírito Santo, enchendo-nos continuamente erenovando-nos.

Cobiça (5.1-13)

Havia infelizmente o terceiro obstáculo interno, o flagelo da cobiça. Istoquase fez ruir o projeto de Neemias, mais do que todos os estratagemasde Sambalá e Tobias, pois ameaçava um conflito mortal entre os homensdo próprio Neemias. As circunstâncias eram muito perturbadoras. Muitos

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israelitas, a fim de obter dinheiro para comprar trigo (v. 3) ou pagartributos (v. 4), foram obrigados a hipotecar seus bens e, em alguns casos,até a entregar seus filhos e filhas como escravos. Os judeus mais ricos, emvez de contribuir para aliviar a grande necessidade pública, haviam

explorado egoisticamente a situação até o ponto em que houve um clamor.Hoje, quando Satanás não pode prejudicar uma obra para Cristo pormeio de “escombros” ou pelo “medo” de um tipo ou de outro, ele tentafazê-lo mediante interesses egoístas e outros motivos errados entre cristãoe cristão. Ele se aproveita de qualquer circunstância possível para

 provocar isso; e seu lamentável sucesso é conhecido na terra e no céu!Como Neemias deve ter se sentido desanimado! E quantos ministros

 piedosos se desanimam hoje, quando descobrem que, mesmo entre seusmais fervorosos e hábeis obreiros, existem motivos e sentimentos erradosa impedir a bênção e frustrar o reavivamento, apesar de todas as oraçõese do trabalho.

Veja como Neemias enfrentou essa dificuldade. Em primeiro lugar, eledesafiou os ofensores através de ação imediata e até mesmo drástica (v.7). Em segundo lugar, apelou a eles com seu próprio exemplo (w. 8-11).

Em terceiro lugar, os ofensores admitiram sua culpa e fizeram restituição(w. 12, 13). Como é bom ter prontidão, franqueza e ousadia nessasquestões! Neemias é um exemplo vigoroso para todos os líderes notrabalho cristão.

A dificuldade na época de Neemias foi superada porque os ofensores,sendo abertamente acusados, admitiram sua culpa e se arrependeram,corrigindo o erro. Não é de admirar que toda a congregação tenharespondido “Amém! E louvaram ao Senhor” (v. 13). Como seria bom sea má vontade, os ressentimentos e as animosidades entre os cristãos dehoje fossem tratados com tanto destemor e fidelidade. O reavivamentoespiritual ficaria muito mais próximo.

O atraso devido à cobiça, assim como as demais dificuldades, foivencido, e a construção do muro continuou. Recapitule mais uma vez os problemas que o corajoso Neemias encontrou e superou: externamente, odesprezo (4.1-6), a força (4.7-23) e a astúcia (6.1-19); internamente,  osescombros (4.10), o medo (4.11-14) e a cobiça (5.1-13). Em cada caso adificuldade se torna mais aguda e mortal, mas também a vitória mostra-sesempre mais visível, até que, pedra sobre pedra, dia após dia, apesar detoda a oposição externa e todos os obstáculos internos, o muro fo i reedi

 ficado!

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Portanto, estas são algumas lições que chegam até nós através dareconstrução do muro da cidade sob a liderança de Neemias. Devemosler, observar, aprender e agir de acordo com elas! Os dias em que vivemossão tão intensos e complexos que ofuscam todos os anteriorès. A

necessidade é enorme. As questões são terríveis. O tempo é curto. O muro precisa ser construído, mesmo em “tempos conturbados”. Deus nos ajudea continuar lutando e trabalhando, vigiando e aguardando, batalhando econstruindo! Atentemos para este homem, Neemias, aquele quereconstruiu Jerusalém, mantendo-o em nossa mente enquanto tra

 balhamos para Deus, hoje, sob condições adversas. Ele será umainspiração para nós. Deus está construindo conosco e, no final, com certeza

nós também veremos os muros da “nova Jerusalém” de Deus, com pletamente edificados na terra, e as nações andarão mediante a sua luz”(Ap 21.24).

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O LIVRO DE NEEMIAS (3)

Lição N° 47

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 NOTA: Para este estudo final em Neemias, leia do capítulo 7 s/o  13novamente, destacando os versículos que revelam as qualidades especiaisdo caráter de Neemias.

A teoria da evolução tem dominado a mente crítica em completa

desconsideração dos fatos históricos. Seja o que for que se diga a favor daevolução do universo material, pouco se pode dizer sobre a evolução dohomem, como um dogma. Assim, a história nos ensina que, embora acivilização seja progressiva, ela é também regressiva. Quando seus fatoresmorais e espirituais declinam, a civilização destrói a si mesma. Mas oconceito de evolução, baseado na idéia de um progresso firme econsistente, desde o barbarismo até os dias de hoje, subestimou o

conhecimento e a cultura dos tempos do Antigo Testamento, postulandoalgo excessivamente primitivo. De acordo com essa idéia, por exemplo, osisraelitas devem ter sido analfabetos; mas vê-se agora (i. e., pela evidênciade recentes descobertas arqueológicas) que, desde os dias de Moisés, eles possuíam recursos para a expressão literária superiores aos de seuscontemporâneos.

S IR C H A R L E S M A R S T O N

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O LIVRO DE NEEMIAS (3)

Neemias» o governador (7-13)

Finalmente, em nosso rápido exame deste homem e sua história,observamos Neemias comogovernador, isto é, como governador da cidadede Jerusalém reconstruída e da província da Judéia, sob os persas. Nós ovemos nesta posição na segunda metade do livro, do capítulo 7 ao 13.

Muitos homens que se mostram geniais numa crise fracassam no processo que se segue. Isso não aconteceu com Neemias, como se podeobservar nesses capítulos. Há muita coisa aqui que nos chama a atenção eimpressiona nossa mente, mas nossos comentários devem limitar-seapenas ao destaque das principais linhas e lições.

A retidão e a franqueza de Neemias surpreendem-nos em toda ahistória, salientando-se ainda mais nesses últimos capítulos que falam delecomo governador. Quer aprovemos ou não seu método de tratar desta oudaquela irregularidade, seu motivo é sempre claro como o dia e perfei'tamente cristalino. Não existe nenhuma dissimulação em seu caráter ouconduta. Note suas quatro principais qualidades:

1. Visão clara2. Palavras sinceras3. Tratamento firme

4. Honra a Deus

Agora, repassemos rapidamente os capítulos.

 Medidas de segurança (7.1-3)

Em 7.1-3, vemos Neemias preparando os regulamentos necessários para

a segurança do que se tornara então uma fortaleza de primeira categoria.O fato de ter designado levitas para guardar as portas (v. 1) pode parecerestranho, mas precisamos nos lembrar de que, naquela época, os sa'cerdotes constituíam quase metade da escassa população (compare o ca pítulo 11 com 1 Cr 9.10-19). A seguir, ele nomeia dois oficiais da cidade

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 para cuidar de todos os outros assuntos — seu irmão Hanani e um certoHananias, que já era “maioral do castelo” ou torre do templo (v. 2).

O problema da população (7.4-73; 11)

A seguir, Neemias trata do problema da população diminuta (v. 4),decidindo de início fazer um censo (v. 5). Para isto, ele verifica a“genealogia dos que subiram primeiro” (/. e.,  90 anos antes comZorobabel), e o restante deste sétimo capítulo reproduz esse registro (que

 já vimos antes, em Esdras 2).A falta de população é corrigida pelo lançamento de sortes, a fim de

trazer um entre cada dez indivíduos da população da Judéia que estava fora de Jerusalém para viver dentro da capital agora reconstruída (veja ocapítulo 11, que se reporta ao 7).

 Note no versículo 5 que a preservação cuidadosa desses registros denascimento em Israel foi feita de acordo com a mente de Deus (“Deus me

 pôs no coração”). Era im portante determinar quais os verdadeirosdescendentes de Israel, especialmente porque a nação esperava Aquele

que daria glória imperecível às suas genealogias, o Filho mais importantede Davi que surgiria dessa linhagem de Zorobabel e finalmente “desfariao cativeiro” de Judá; o Zorobabel supremo, que restauraria perfeitamenteo templo; o Esdras supremo, que escreveria a lei no coração do povoescolhido; o Neemias supremo, que reconstruiria para sempre os murosde Sião (Is 54.11,12; Zc 6.12,13; Jr 31.33; SI 48.12,13; Is 60).

O movimento “de volta à Bíblia”  (8-10)

O capítulo 8 começa assim: “Em chegando o sétimo mês (i. e., o mêsespecialmente sagrado), e estando os filhos de Israel nas suas cidades, todoo povo se ajuntou como um só homem, na praça, diante da Porta dasÁguas; e disseram a Esdras, o escriba, que trouxesse o livro da lei deMoisés, que o Senhor tinha prescrito a Israel”.

A seguir encontramos um relato notável, nos capítulo 8, 9 e 10, do quechamaríamos hoje de um grande “movimento de volta à Bíblia”. Houveuma extraordinária convenção religiosa e o próprio povo pediu que lhefossem explicadas as Escrituras (8.1). Esdras e seus auxiliares explicam de

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novo a lei. A observância da Festa dos Tabernáculos é renovada. Foitambém observado um dia de grande humilhação, quando o povoconfessou suas tristes falhas e reconhecer a maravilhosa misericórdia deseu Deus longânimo (9). Depois disso, estabeleceram uma aliança

auto-imposta, com o profundo objetivo moral de, daí para a frente,ordenar seus caminhos conforme a vontade de Deus revelada nasEscrituras (10).

O novo censo  (11)

O capítulo 11 dá os principais resultados do novo censo feito por

 Neemias. Do versículo 3 ao 19 lemos sobre os habitantes de Jerusalém.Do 20 ao 36, vemos o “restante” nas outras cidades da Judéia. Note noversículo 2 que o “povo bendisse a todos os homens que voluntariamentese ofereciam ainda para habitar em Jerusalém”. Esses eram os homens,um em cada dez, sobre os quais foram lançadas sortes para que fossemmorar na capital. As palavras indicam que aceitaram de bom grado a“sorte” e se submeteram patrioticamente, embora, aparentemente,

nenhuma compensação fosse oferecida a eles. Não é de surpreender queo povo os tivesse aclamado, pois a transferência significaria em muitoscasos o abandono de bens, a troca da riqueza pela pobreza, deixar umacasa confortável por outra quase em ruínas ou desistir da vida como um

 pequeno proprie tá rio de terras, trocando-a pela de um artesão outrabalhador contratado. (Casualmente, podemos mencionar queexpansões forçadas de uma capital mediante transferências deste tipo não

eram incomuns no mundo antigo, quando a força dos Estados dependiamuito do tamanho e predominância da capital.) O censo da cidade nestecapítulo 11 é o da população assim aumentada.

 A dedicação dos muros (12.27-47)

Até agora os capítulos puderam ser lidos de forma direta, praticamentenão havendo necessidade de algum comentário detalhado; mas, comcerteza, é útil uma explicação quando chegamos à passagem que narra adedicação dos muros. Um leitor descuidado poderia pensar que esta

 passagem segue imediatamente e sem qualquer interrupção o que vem

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antes, enquanto a verdade é que há um intervalo de cerca de doze anos entreo final do capítulo 11 e esta dedicação dos muros.

Três circunstâncias indicam isto. Primeira, se a dedicação  dos7murostivesse ocorrido imediatamente após a reconstrução, é pouco provável que

o narrador teria separado os dois eventos por cinco capítulos e meio.Segunda, entre o final do capítulo 11 e 12.27 foi inserida (provavelmente por outra mão que não a de Neemias) uma lista de sumos sacerdotes a partirde Jesua (noventa anos antes de Neemias) até Jadua (cerca de noventaanos depois  de Neemias), havendo aqui, portanto, um intervalo nanarrativa.

Terceira, o próprio Neemias apresenta-nos certas datas que fecham a

questão. Em 13.6, ele diz que, quando o sacerdote Eliasibe deu àsescondidas um aposento a Tobias nos pátios do templo, ele (Neemias)“não  estava em Jerusalém”, pois fora ter com o imperador persa. Ocomportamento traiçoeiro de Eliasibe durante a ausência de Neemias é

 precedido pelas palavras: “Ora antes disto...”  (13.4), significando queaquilo se deu antes do incidente registrado do versículo 1 ao 3, em que o

 povo redescobriu o que a lei de Moisés dizia sobre os amonitas e moabitas

(lembre-se de que Tobias era um amonita: veja 2.10). Mas o incidente em si  começa com as palavras: “Naquele dia...”  (13.1), significando quecoincidiu com a restauração dos serviços do templo, descritos pouco antesdele (12.44-47). Vemos em 12.44 que isto coincidiu com a dedicação dos muros,  indicando também que a ausência de Neemias e a traição deEliasibe precederam os três incidentes relatados anteriormente, incluindo a dedicação do muro. Como a breve ausência de Neemias ocorreu doze

anos depois de sua primeira viagem a Jerusalém para construir o muro(compare 2.1 com 13.6), isto significa que a dedicação do muro realizou-se cerca de doze anos depois de terminada a reconstrução.

Quantas dificuldades Neemias enfrentou antes de ver aqueles murosreconstruídos! E como teve de continuar lutando, até que pudesse ver um

 povo espiritualmente reanimado dedicando aqueles muros a Deus, comgratidão no coração! Verdadeiramente não existe triunfo sem trabalho. Oúnico serviço que realmente conta é aquele que realmente custa. Parecehaver uma cruz no caminho de cada coroa digna de se usar!

A dedicação dos muros foi realizada com toda pompa e formalidade,com uma grande cerimônia e solenidade religiosa; o povo parece ter

 participado com prazer e reverência. A festa ocorreu em três partes:

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 primeiro, houve duas procissões de cantores que louvavam a Deus;segundo, foi feita a leitura da lei; e terceiro, a separação entre a multidãomista e o verdadeiro Israel. Aquele deve ter sido um dia realmente de

 júbilo para Neemias e Esdras. Cronologicamente, como a dedicação

(12.27-47) veio após os acontecimentos registrados no capítulo 13, ela éna verdade o ponto alto do livro. De fato, é um belo clímax: “No mesmodia ofereceram grandes sacrifícios, e se alegraram... de modo que o júbilo de Jerusalém se ouviu até de longe"  (12.43).

Os últimos vislumbres de Neemias (13)

Olhe outra vez o capítulo 13. Veja como concessões malignas ra pidamente surgiram durante o curto período em que Neemias esteve forade Jerusalém e observe como ele as atacou firmemente ao voltar. (A

 propósito, existe outra evidência de que este capítulo 13 na verdade precede o 12 em termos cronológicos, uma vez que o traiçoeiro sumosacerdote Eliasibe, que se une aqui a Tobias, não é mencionado uma vezsequer no capítulo 12, no relato da dedicação dos muros. Compreen-

sivelmente, ele se achava desacreditado.) Neste décimo-terceiro capítulo, vemos o zelo de Neemias por Deus

 permanecendo forte até o fim. Ele volta a Jerusalém e imediatamente lutacontra os novos males que surgiram. Não tolerará nem mais um minuto ainvasão dos “móveis” de Tobias no aposento destinado aos utensílios dacasa de Deus (w. 4-9). Não aceitará a auto-indulgência às custas do serviçode Deus (w. 10-14). Não permitirá a inobservância do sábado nem que

negócios sejam colocados acima da religião (w . 15-22). Não admitirá quese façam casamentos mistos, o que prejudicaria a distinção do povo deIsrael (w. 23-28).

Existem toques de humor sombrio em algumas das medidas drásticastomadas por esse homem de olhos chamejantes e indignação santa. Elenão deixa o tempo escapar enquanto pondera se uma atitude é “comum”ou respeitável. Ele possui a mão firme e o passo confiante de alguém cujos

 propósito e consciência são absolutamente sinceros diante de Deus. Taishomens jamais hesitam ao lidar com o pecado. A prontidão e a firmezarepresentam mais que a diplomacia! Não podemos deixar de sorrir, ao ver

 Neemias realmente atirando para fora os móveis de Tobias (v. 8) ou“espancando” e “arrancando os cabelos” dos judeus que haviam se casado

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com mulheres que não eram de Israel (v. 25), ou “afugentando” o jovem judeu que se tornara genro de Sambalá (v. 28). Tudo isto, porém, deve tercustado muito a Neemias. Na verdade, suas orações fervorosas, das quaistrês ocorrem nesses parágrafos, mostram com clareza que ele sentiu

 profundamente todas essas coisas em seu próprio espírito.

 Resumo do govemo de Neemias

Veja como este homem era realmente admirável. Volte os olhos paraesses capítulos e note as várias reformas efetuadas por ele. É um conjuntoimpressionante.

1. Aumento da população de Jerusalém (11.1)2. Resgate dos judeus vendidos como escravos entre os pagãos (5.8)3. Abolição de empréstimos por hipotecas e de levantamentos de

fundos por meio da venda de filhos (5)4. Restauração da observância rigorosa do sábado e do ano sabático

(10.31; 13.15-22)

5. Instituição do tributo anual da terça parte de um siclo para osserviços e manutenção do templo (10.32)6. Criação de sistema de suprimento de madeira para os sacrifícios do

templo (10.34)7. Correção e proibição das profanações do templo (13.4-9)8. Reiteração da lei acerca do dízimo (10.37; 13.10-13)9. Divórcio de todas as mulheres estrangeiras e renovação da

separação do povo (13.1-3; 23-28)10. Outras reformas, como regulamentos referentes às portas da cidadeetc.  (13.19-22)

 Neemias é realmente um grande exemplo para todos nós, em especial para todos os obreiros e líderes cristãos que têm contato com o público.Sua visão clara, sua franqueza no falar, sua coragem ao lidar com as pessoase seus motivos que honram a Deus em todo momento —tudo isso é tanto

um desafio como uma inspiração. Não podemos também nos esquecer deque todos seus esforços para efetuar as várias reformas mencionadasacima sofreram resistência por parte de um grupo influente entre ossacerdotes e a nobreza, homens inclinados ao secularismo, adeptos decasamentos mistos com os povos gentios da circunvizinhança e, na

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verdade, extremamente favoráveis a uma união com eles. Qualquerhomem comum teria temido opor-se à vontade de um grupo tão forte,apoiado pelo próprio sumo sacerdote e pelos príncipes vizinhos. Neemias,

 porém, dispôs-se a “contender com os magistrados” (13.11) e os “nobres”

(v. 17) sobre esses assuntos urgentes e delicados; e ele adorna com brilho perm anente a grande verdade de que um homem consagrado e Deus sãocapazes de vencer todos os poderes e subterfúgios do mal.

Existem muitas outras lições neste Livro de Neemias que não podemosanalisar aqui. Queremos, porém, chamar atenção especial para as orações 

 fervorosas de Neemias, que aparecem em número de oito (2.4; 4.4, 5; 4.9;5.19; 6.14; 13.14; 13.22; 13.29). Sem dúvida, neste hábito de oração

fervorosa está a principal resposta para o admirável temperamento, osanto impulso e as proezas que glorificam a Deus da parte de um dosmaiores personagens de Israel. As orações fervorosas de Neemias

 pressupõem três coisas: primeira, que Deus é soberano em cada minuto;segunda, que Ele está presente em todo lugar; terceira, que Ele realmente ouve e responde a cada chamado repentino.

E importante cultivarmos o hábito da oração fervorosa ao nosso

maravilhoso “Deus dos céus” (2.4), cuja vontade é soberana sobreimperadores e reinos e cuja presença está sempre conosco em todo lugar.Ele ouve instantaneamente cada clamor de socorro da alma, cada sussurrode adoração, cada suspiro desejoso de santidade, cada pedido de ajuda,cada súplica pedindo forças, cada oração invocando orientação, cada

 pronunciamento secreto do coração! Devemos manter contato com Eletodos os dias, mediante esta esplêndida “linha de comunicação” da oração

fervorosa. Ela nos conservará calmos e firmes, pacientes e animados.Manterá nossas mentes num nível superior. Irá enriquecer-nos e santificar-nos. Trará às nossas vidas rios de bênçãos correndo das montanhasde Deus.

Uma palavra de despedida. Mostramos que este Livro de Neemiasdivide-se em duas partes:

1 —a reconstrução do muro (1-6)2 —a reforma do povo (7-13)

Cada parte tem seu clímax. O da primeira parte é o término do muro:“Acabou-se, pois, o muro” (6.15). O da segunda é a dedicação do muro,

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quando “o júbilo de Jerusalém se ouviu até de longe” (12.43). Os sinais denossos tempos mostram que o retorno do antítipo celestial de Neemiasestá se aproximando rapidamente. Então, haverá o clímax de todos osclímax. Os muros de Sião serão reconstruídos para sempre, e “o júbilo de

Jerusalém” se ouvirá novamente “até de longe”!

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O LIVRO DE ESTER (1)

Lição Ns 48

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 NOTA: Para esta lição, leia todo o Livro de Ester duas ou três vezes.

 Não existe situação na vida ou experiência humana para a qual não se possa encontrar uma mensagem de Deus em Seu Livro. Não importa se éuma situação pessoal, social, nacional ou internacional. E sobre o futuro,

este Livro não vacila. Há muitas coisas que ele não revela, mas suarealidade é enfatizada do início ao fim. Os grandes fatos fundamentais que precisamos conhecer nesta vida de preparação estão todos contidos nesteLivro.

G . C A M P B E L L M O R G A N

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tem capacidade para agir com base na previsão. Em seu sentido absoluto,então, a providência é a previsão de Deus e a atividade divina que resultadisso. Isto implica que Deus exeTce poder absoluto sobre todas as obrasfeitas por Suas mãos.

A demonstração da providência

É isto que vemos demonstrado no Livro de Ester. A crise à qual o livrose refere é providencialmente prevista e depois providencialmentevencida no momento crucial. Não é empregada qualquer intervenção

milagrosa. Todos os acontecimentos registrados são resultados dascircunstâncias em sua seqüência natural. Todavia, embora não sejaregistrado qualquer milagre, todo o episódio, em sua essência, é um

 poderoso milagre — um prodígio através do qual um Deus soberanomanipula todos os eventos não-miraculosos de maneira a produzirem umefeito predeterminado. Isso é ainda mais miraculoso, pois provoca talefeito sem necessidade  de fazer uso de fatos extraordinários! Esta

realidade misteriosa que chamamos providência, esta manipulaçãosoberana de todos feitos comuns e não-miraculosos que formam ocotidiano da humanidade e produzem, mediante processos naturais,aqueles resultados previamente determinados pela divindade — esse é omaior de todos os milagres. Isto é surpreendentemente confirmado nesteLivro de Ester.

Deus não é mencionado

Isto explica a razão pela qual o nome de Deus não ocorre no Livro deEster. Esta ausência tem sido um problema para muitos. Martinho Lutero,em uma de suas ocasionais impetuosidades, chegou ao ponto de dizer que

 preferia que este livro não existisse! Outros contestaram seu direito a um

lugar no cânon. Todavia, descobrir um problema no fato de Deus não sermencionado é perder de vista aquilo que devemos ver acima de tudo!Dizemos com reverência, embora sem hesitação, que se Deus fossemencionado especificamente na história ou, mais ainda, se fosse explicado que era Ele quem estava provocando todos os eventos registrados, a força

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dramática e o impacto moral do relato ficariam reduzidos, pois, acima detudo, a intenção é que vejamos na seqüência natural dos acontecimentos,sem violar o livre-arbítrio humano e sem interrom per o desenvolvimentonormal dos assuntos humanos, como um poder oculto controla todas as

coisas de maneira insuspeita mas infalível. Podem existir outras razões para o autor anônimo ter omitido qualquer referência direta a Deus, como, por exemplo, que o livro tenha sido dirigido tanto aos persas como aos judeus; e pode existir também, como já foi sugerido, a razão mais profundade que, em vista de os judeus estarem longe de sua terra, depois da rupturade seu relacionamento especial com Deus, o nome do Senhor é evitado

 para ser coerente com esta ruptura na comunhão. Acreditamos, no entan

to, que uma das razões principais seja aquela que citamos, isto é, enfatizara atividade invisível de Deus na providência. Na verdade, o nome de Deus ocorre neste Livro de Ester de maneira

 bastante notável. O nome “Jeová” acha-se oculto em forma de acrósticoquatro vezes no original hebraico, e o nome Ehyeh (“Eu sou o que sou”),uma vez. Em vários manuscritos antigos, as consoantes do acróstico querepresentam o nome são escritas em letras maiores a fim de destacá-las,

como nós poderíamos fazê-lo em nossa língua — JeoVá. Não existemoutros acrósticos no livro, de modo que as intenções desses cinco sãoclaras. Os cinco pontos onde ocorrem são 1.20; 5.4; 5.13; 7.7 e 7.5.

 Nos quatro acrósticos que formam o nome de Jeová, as quatro palavrasque formam JHVH são consecutivas em cada caso. Cada uma delas é

 pronunciada por uma pessoa diferente. Nos dois primeiros casos, oacróstico é formado pelas letras iniciais  das palavras. Nos outros dois, é

formado pelas letras finais

  das palavras. No primeiro e no terceiroacrósticos, as letras grafam o nome de frente para trás, e os que falam sãogentios. No segundo e no quarto, as letras grafam o nome de trás para a 

 frente, e os que falam são hebreus. Existem ainda outros pontos de interesseque não precisamos mostrar aqui. O ponto que desejamos salientar é queo nome de Jeová realmente consta do Livro de Ester desta forma secreta — como se o autor anônimo quisesse antecipar-se àquele que poderiatropeçar por causa da falta de menção de Deus em sua história. Com efeito,o autor nos diz: “A fim de que não pensem que Deus ficou fora deconsideração, vejam o reconhecimento dEle nestes cinco acrósticos, que,

 por estarem secretamente ocultos nos escritos, simbolizam a operaçãosecreta de Deus através de toda a história”. É verdade, Deus realmente Se

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encontra  neste Livro de Ester, não tanto nas sílabas, mas nos acontecimentos; não em intervenções milagrosas, mas dirigindo as rodas da

 providência; não em comunicação direta, mas como o poder oculto que prevalece sobre tudo.

Quem era Assuero?

Quem era esse rei Assuero? Devemos perguntar isto antes de continuar.Podemos considerá-lo uma figura histórica real? No versículo inicial dolivro, é dito que ele reinou sobre um império de 127 províncias que se

estendiam da índia à Etiópia. Até recentemente, sua identidade permaneceu obscura como um enigma. Mas agora, graças a escavadores edecifradores, o mistério foi esclarecido e Assuero, definitivamenteidentificado. Ele é conhecido na história não-bíblica como Xerxes, formagrega de seu nome persa. Este Xerxes reinou sobre o império persa de 485a 465 a. C.

O mérito pertence a Georg Friedrich Grotefend, por ter sido o primeiro

a identificar Assuero como Xerxes. Quando estudava na Universidade deGõttingen em sua juventude, dedicou-se pacientemente à decifração doscuriosos caracteres persas em forma de cunha encontrados nas inscriçõesem meio às ruínas da antiga cidade persa de Persépolis. O nome do filhode Dario foi decifrado como Khshayarsha, que, traduzido para o grego, é

 Xerxes e, para o hebraico, praticamente letra por letra, éAkhashverosh, ouseja, Assuero.  Tão logo o nome foi lido em persa, ficou estabelecida a

identidade de Assuero, e descobertas posteriores corroboraram a teoriade Grotefend.E sobre Xerxes? Este foi o rei que comandou a construção de uma ponte

sobre o Helesponto e que, ao ficar sabendo que esta fora destruída poruma tempestade logo após sua construção, ficou de tal maneira irritadoque ordenou que infligissem ao mar trezentas chicotadas e atirassem neleum par de algemas. Também mandou que os infelizes construtores da ponte fossem decapitados. Este foi o rei que, ao receber de Pítio, o lídio,a oferta de uma soma equivalente a cinco milhões e meio de librasesterlinas, para cobrir as despesas de uma expedição militar, ficou tãoembevecido com tanta lealdade que devolveu o dinheiro junto com um

 belíssimo presente. Depois disso, quando o mesmo Pítio lhe pediu, um

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 pouco mais tarde, que poupasse da expedição pelo menos um de seus filhos — o mais velho —o único apoio de sua velhice, ele ordenou furioso queo filho fosse cortado em dois pedaços e que o exército marchasse entreeles. Foi este o rei que desonrou os restos de Leônidas, o herói espartano,

e que afogou a humilhação de sua derrota inglória em tamanha orgia desensualidade que ofereceu publicamente um prêmio pela invenção dealguma nova prática. Foi o rei que cortou um canal através do istmo deAtos para sua frota — um empreendimento prodigioso. Foi o rei cujosvastos recursos, idéias arrojadas e temperamento ditatorial fizeram comque a Pérsia fosse um nome temido no mundo antigo. Heródoto conta-nosque entre os milhares reunidos para a expedição contra a Grécia, Assueroera o que mais se destacava pela beleza pessoal e porte majestoso.Moralmente, porém, ele era um misto de paixões desenfreadas. Foi

 justamente ele o déspota que depôs a rainha Vasti por recusar-se acomparecer diante de seus hóspedes embriagados. Era um homem que

 perm itiria que um povo como os judeus fosse massacrado, mas que,mudando depois para o extremo oposto, aprovaria a vingança dos judeussobre milhares de seus outros súditos.

Dois movimentos principais

Vejamos agora a história propriamente dita. Em nossa versão, ela énarrada em dez curtos capítulos. Quando os lemos, não podemos deixarde perceber que nos cinco primeiros tudo leva em direção ao ponto críticodo drama. Os acontecimentos movimentam-se rapidamente em direçãoao temido desastre, até que, no final do capítulo 5, a própria forca é

 preparada para Mordecai, e parece que nada poderá evitar a tragédiaiminente. A seguir, no capítulo 6, a história sofre uma súbita reviravolta.A crise foi providencialmente prevista e agora é superada. A situação semodifica. O povo de Deus é salvo e vingado. A ameaça de tragédia dá lugarao triunfo e à bênção. As nuvens negras se afastam; o sol aparece atravésdelas; a terra volta a ser verdejante e ouve-se uma canção de prosperidade.

Portanto, notamos que este drama da preservação providencial desenrola-se em dois movimentos principais. Do capítulo 1 ao 5 temos a crise 

 prevista,  enquanto do capítulo 6 ao 10 temos a crise superada.  Nesteepisódio histórico, vemos assim a união entre a  previsão  e a  provisão

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divinas que constituem a providência. Observamos também que este Livrode Ester preenche um lugar único e essencial no cânon das Escriturasinspiradas, por ser distintamente o livro da preservação providencial. Vemos, além disso, a mensagem espiritual do livro, ou seja, que Deus Se

encontra nas sombras, vigiando os que Lhe pertencem. Ele vê, sabe e cuidados Seus. Ele pode estar fora da vista deles, mas eles jamais ficam fora deSua vista. “É certo que não dormita nem dorme o guarda de Israel” (SI121.4). Ele pode ser invisível, mas é infalível. Pode parecer estranhamentesilencioso, mas continua ativamente soberano. Pode não ser percebido,mas é onisciente, onipresente e onipotente. Ele guia e guarda. O mal podeser temporariam ente permitido, mas no fim é frustrado. Por trás de uma

 providência carrancuda, Deus esconde um rosto sorridente. Agora,coloquemos tudo isto no quadro seguinte:

O LIVRO DE ESTER

O LIVRO DA PRESERVAÇÃO PROVIDENCIAL

DEUS VIGIA NA SOMBRA OS QUE LHE PERTENCEM

A C R I SE P R E V I S T A  

(1-5)

A R A I N H A V A S T I É D E P O S T A (1) 

E S T E R T O R N A - S E R A I N H A (2) 

H A M Ã P L A N E J A O M A S S A C R E (3) 

M O R D E C A I P E D E A J U D A (4) 

E S T ER C O N S E G U E A J U D A (5)

A C R IS E S U P E R A D A  

(6-10)

M O R D E C A I É H O N R A D O (6) 

H A M Ã É E X E C U T A D O (7)

O S J U D E U S S Ã O V I N G A D O S (8) 

O P U R I M É I N S T IT U Í D O (9 ) 

M O R D E C A I É N O M E A D O  PRIMEIRO-M INISTRO (10)

Tudo o mais que pudermos ver do capítulo 1 ao 5 perderá seu significadosupremo, se deixarmos de observar que todos os fatores decisivos foram

 preparados de forma notavelmente providencial, em antecipação a umacrise prevista. A festa de Assuero para todos os príncipes e sátrapas, sua

alegria de embriaguez e seu pedido imoral, a valorosa recusa de Vasti esua deposição do trono — essas coisas parecem ter pouca ligação com o perigo ainda nem sequer imaginado pelos judeus, mas que deveria surgir, por causa do ódio de Hamã contra eles, já que este não havia obtidoeminência até então. No entanto, tudo estava sendo completamente

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controlado, de modo a servir de preparo divino insuspeito para aquilo queviria mais tarde. De fato, a crise fora prevista anos antes da festa deAssuero, ao ser concedida uma beleza feminina extraordinária à prima deMordecai. Agora, como resultado da deposição de Vasti, a incomparável

Ester é escolhida como rainha, de modo a encontrar-se em lugar deinfluência quando surgisse o momento crítico, podendo assim evitar odesastre aparentemente inevitável, e vencer os perversos inimigos deIsrael.

Como é maravilhosa essa providência que planeja tudo com antecedência! Observamos isso com perfeição aqui, para que, ao ver tal providência claramente demonstrada neste episódio notável, possamos crer

na realidade de sua operação em todas as vicissitudes de nossa vida e emtoda a história da raça humana, especialmente nestes tempos difíceis,quando o mal, furioso, parece ter arrancado das mãos de um controlesuperior as rédeas do governo.

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O LIVRO DE ESTER (2)

Lição Ns 49

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 NOTA: Para este novo estudo no Livro de Ester, releia do capítulo 6 ao10.

A alta crítica não é um mal em si mesma. Trata-se da discussão de datase de autoria. Quando, porém, o método adotado é o racionalismo e onaturalismo, ela se torna destrutiva e perniciosa. Quando Jesus atribuiu o

Salmo 110 a Davi, Ele estava no campo da alta crítica. É perfeitamenteapropriado discutir datas e autores, mas pode-se passar a vida inteiratentando descobrir quantos homens escreveram Isaías, quem foi o autordo Pentateuco ou quem escreveu a Carta aos Hebreus, sem jamais estudara Bíblia.

G . C A M P B E L L M O R G A N

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O LIVRO DE ESTER (2)

 NOTAS SOBRE A HISTÓRIA

B A N Q U E T E S reais prolongados, em uma proporção enorme como adescrita no primeiro capítulo de Ester, não era incomuns entre os persas.Referências contidas em autores gregos da antigüidade não deixamdúvidas quanto a isso. A realeza parece ter alcançado seu maior esplendorno grande império persa, e banquetes suntuosos constituíam um aspecto

 proeminente da vida na corte. Uma festa e um aparato tão extravagantescomo os descritos aqui estariam muito de acordo com a vanglória e aostentação de Assuero.

Sabe-se agora, quase indubitavelmente, que o motivo dessa imensareunião festiva era a convocação de todos os principais homens do reino,especialmente dos sátrapas, ou “príncipes das províncias”, a fim dedecidirem sobre a possível incursão contra a Grécia.

A ordem do rei para que Vasti (cujo nome significa “mulher bela”) seapresentasse e se exibisse sem modéstia diante de um grande grupo delibertinos embriagados não era só uma grave violação da etiqueta persa,mas também um ultraje cruel que teria desgraçado para sempre aquelaque, acima de todas as outras, devia ser protegida pelo rei. A recusa deVasti foi corajosa e plenamente justificada, pois compreendemos muito

 bem que tal rejeição pública a um monarca absoluto e extremamente presunçoso deve ter sido tão humilhante e exasperadora quanto bemmerecida.

Sem dúvida, isso deve ter causado sobriedade imediata sobre o rei e osnobres do reino. Não é também de admirar que os sábios do alto conselhodo rei, ao serem consultados sobre o assunto, concluíssem que Vastideveria perder sua coroa real.

Cerca de quatro anos se passam (compare 1.3, 4 com 2.12, 16) entre ofinal do capítulo 1 e a escolha de Ester como rainha — que é o principalacontecimento registrado no segundo capítulo. Durante esse período,Assuero fez sua incursão contra a Grécia e voltou vergonhosamentederrotado. Talvez isso o tivesse levado a desviar seus pensamentos daguerra inglória para os prazeres do harém.

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Ester, a moça judia, órfã de seu pai Abiail e prima de Mor decai, é agoraescolhida para ser a rainha. Os versículos 7,9 e 15 do capítulo 2 não deixamdúvidas de que Ester deve ter sido uma jovem belíssima. A leitura dosversículos 9 e 15 também sugere um temperamento cativante. O processo pelo qual foi feita a escolha estava de pleno acordo com o costume persae oriental. O nome hebraico de Ester era Hadassa, que significa murta, enquanto o nome persa “Ester”, que lhe foi dado, significa estrela.  Atradição judaica diz que Mordecai tentou esconder Ester para que nãofosse levada pelos agentes reais. Mordecai também lhe deu instruções paranão tornar conhecida sua descendência judaica (2.10), provavelmente paranão prejudicá-la ou gerar intrigas contra ela. Em 3.4 vemos que tal

 preconceito poderia ter surgido por causa de seus parentes judeus.Com certeza, o próprio Mordecai achava-se empregado no serviço da

corte real, pois em 2.5, onde ele é mencionado pela primeira vez, ficamossabendo que residia na cidadela de Susã  (não apenas na cidade, que ficava

 bem distante do palácio, como os arqueólogos já mostraram claramente). Ninguém que não tivesse alguma ligação com o serviço real teria tido permissão para residir nesses recintos zelosamente guardados. Em 2.19,21, nós o vemos cumprindo uma tarefa regular “à porta do rei”, e em 3.2

ele é contado entre “os servos do rei” que estavam à sua porta. Em 6.10,observamos que o próprio rei o conhecia como “o judeu Mordecai, queestá assentado à porta do rei”. Se Mordecai não participasse do serviçoreal, os guardas do palácio o teriam matado sumariamente quando serecusou a obedecer o decreto relativo a Hamã.

Hamã

Outros cinco anos se passaram quando chegamos à metade do terceirocapítulo (veja o versículo 7). Um novo personagem, Hamã, entra em cena.Este homem alcançou tanto prestígio aos olhos do rei que veio a tornar-seo grão-vizir do reino. O rei chegou a ordenar que todos se inclinassem

 perante ele. Mas, enquanto os outros obedeciam a essa exigência, houve

alguém que se recusou — “o judeu Mordecai”. Ao contrário dos persasque, segundo Plutarco, viam no rei a própria imagem de Deus, Mordecainão prestaria a homem algum a reverência que pertence apenas ao Deusúnico e verdadeiro em quem ele cria, assim como Daniel não rendeu

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homenagem divina ao rei Dario. A furia de Hamã por causa disso resultouno decreto para a matança de todos os judeus do império persa, no décimoterceiro dia do décimo segundo mês.

Do fato de Ham ã ser chamado de “inimigo dos judeus” (8.1; 9.10, 24),

de suas palavras ao rei com relação aos judeus como uma raça e do fatode ter decidido fazer de sua vingança a oportunidade para um massacregeral contra os judeus, quando soube da nacionalidade de Mordecai, é queinferimos que Hamã já odiava os judeus muito antes de ter o orgulho ferido

 pela recusa de Mordecai em homenageá-lo.A maneira leviana e descuidada com que Assuero entregou a Hamã a

vida de dez mil de seus trabalhadores e súditos úteis é merecidamente

considerada como “talvez o mais chocante exemplo de despotismooriental já registrado”. Ela se compara à notícia desumana dada pelonazista Hitler de que estava preparado para sacrificar a vida de um milhãode alemães a fim de invadir a Grã-Bretanha. A consciência e o bom senso

 protestam juntos contra o erro de colocar tão grande poder nas mãos deum só homem. Um indivíduo realmente íntegro e bom se recusaria aassumir tal responsabilidade sozinho. Um homem perverso só pode abusar

dela. A democracia talvez enfrente dificuldades variadas e complexas, masé infinitamente preferível ao despotismo ou à ditadura. A presunção deAssuero era tamanha que, além de entregar sem piedade um númeroincontável de homens, mulheres e crianças para serem friamenteassassinados, ele presenteou Hamã com os dez mil talentos de prata queeste oferecera como pagamento ao tesouro real a fim de compensarfinanceiramente o imperador pela destruição dos judeus (3.11)! Mesmoquando os verdadeiros motivos de Hamã foram mais tarde expostos porEster e a ira do rei acendeu-se contra seu favorito culpado, esta raiva nãose deveu ao fato de Hamã tê-lo enganado a fim de cometer um crimeselvagem, mas porque o crime seria cometido contra o povo a que pertencia a rainha (7.5).

O terrível decreto para a aniquilação dos judeus foi devidamente promulgado (3.12-15). O capítulo 4 registra a tristeza e o sofrimento deMordecai e dos judeus, o apelo de Mordecai a Ester através de Hatá, umdos camareiros do rei, e a corajosa decisão de Ester de arriscar sua vidanuma petição ao rei. O risco estava na terrível lei persa de que quementrasse no pátio interior do rei sem ser chamado era condenado à morte(4.11). Na ocasião, fazia um mês que E ster não era chamada (4.11), o que

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 podia indicar um esfriamento do soberano para com ela; de modo que orisco que corria era muito grande. Mas afinal resolveu aceitar o perigo,dizendo: "... se perecer, pereci” (4.16).

 Neste ponto da história, o reconhecim ento implícito de Deus é

indiscutível. As palavras urgentes de Mordecai: "... quem sabe se para talconjuntura como esta é que foste elevada a rainha?” são realmente a chave para todo o episódio e revelam sua percepção repentina da previsão providencial por trás da estranha ascensão de Ester ao trono. Além disso,as palavras: “Porque, se de todo te calares agora, de outra parte selevantará para os judeus socorro e livramento” revelam sua fé inabalávelno Senhor e na indestrutibilidade de Seu povo. O pedido de Ester aMordecai para que os judeus jejuassem durante três dias a favor dela é naverdade um pedido de oração, e ela se entrega à misericórdia de Deusnesta questão. No Antigo Testamento, o jejum é uma forma simbólica deoração.

 No terceiro dia, Ester entra no pátio interno e fica de pé defronte à portada sala do trono, de modo a atrair a atenção do rei. Este se acha sentadono trono real, olhando para baixo, através da porta aberta, onde avista,com certa surpresa, a figura graciosa de sua jovem e bela esposa. Seu cetroimediatamente estendido assegura a Ester que qualquer quebra deetiqueta era perdoável. Compreendendo então que somente um assuntograve teria levado Ester até ali, ele generosamente a anima com as palavras: “Que é o que tens, rainha Ester, ou qual é a tua petição? Atémetade do reino se te dará”. Ester pede que o rei e Hamã compareçam aum banquete preparado para eles, mais tarde, naquele mesmo dia.

Com tal banquete, que ela sabia ser do agrado do rei, Ester queria

assegurar-se do seu favor e, ao mesmo tempo, garantir a presença de Hamãquando expusesse o plano perverso dele. Hamã teria então de calar-se. Não poderia negar a verdade da acusação, nem ousaria contradizer arainha na presença do rei. Também não poderia aproveitar a oportunidade

 para deturpar as coisas na ausência da rainha. Quando se realizou a festa,Ester aparentemente não achou que a hora fosse adequada, mas prom eteurevelar seu pedido durante outro banquete, no dia seguinte.

Havia, porém, uma Mente superior à de Ester atuando neste adiamento.Durante aquele dia, o sádico Hamã fez com que fosse preparada uma forca

 para Mordecai; naquela noite, o rei, sem poder dormir, decidiu que omesmo Mordecai fosse exaltado diante de todo o povo! Estava preparadoo momento crucial para as palavras de Ester.

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O ponto crítico

Com o início do capítulo seis surge uma súbita reviravolta nos eventos.A crise providencialmente prevista havia sido superada de maneira

surpreendente. Com extrema habilidade, Aquele que se assenta nos céusesmaga os perversos e livra Seu povo. Com alguns golpes de mestre todaa situação se inverte. A dramática ironia dos novos fatos que agora sesucedem rapidamente nos faz exclamar: “A verdade é mais estranha quea ficção!”

O rei não consegue dormir. A noite se arrasta. Ele pede que o livro dosfeitos memoráveis seja lido e ouve como uma conspiração contra sua vida

havia sido evitada mediante um gesto oportuno de Mordecai, sur preendendo-se ao descobrir que este não recebera qualquer recompensa.Resolve então que ele deverá ser premiado sem demora. Já está quaseamanhecendo. O rei pergunta quem está no pátio e lhe respondem que éHamã (pois este se apresentara bem cedo a fim de obter uma audiênciacom o rei, na qual esperava conseguir autorização para enforcarMordecai). O rei pergunta a Hamã: “Que se fará ao homem a quem o rei

deseja honrar?” Hamã, supondo presunçosamente ser ele mesmo ohomem em quem o rei estava pensando, julgando-se também um provávelcandidato a novas preferências, fica envaidecido e faz a seguinte propostaatraente: “ ... tragam-se as vestes reais, de que o rei costuma usar, e o cavaloem que o rei costuma andar montado, e tenha na cabeça a coroa real;entreguem-se as vestes e o cavalo às mãos dos mais nobres príncipes dorei, e vistam delas aquele a quem o rei deseja honrar; levem-no a cavalo

 pela praça da cidade, e diante dele apregoem: Assim se faz ao homem aquem o rei deseja honrar”. A proposta de Hamã evidencia sua ilimitada presunção, sua sede doentia de louvor dos homens e sua idéia mesquinhade grandeza. Seu coração bate mais forte quando se imagina sendo levadodessa forma em meio à adulação de seus semelhantes. Então, ele ouve orei dizer: “Apressa-te, toma as vestes e o cavalo, como disseste, e faze assim

 para com o judeu Mordecai...” Quê? Fazer isso ao judeu Mordecai? Será

que os ouvidos de Hamã estão zombando dele? Não! é verdade. O rei faloue deve ser obedecido! O brilho foge dos olhos de Hamã. Seu orgulho sederrete. E como se uma mortalha sombria lhe envolvesse o coração. Poralguns segundos que parecem séculos ele fica ali de pé, estupefato diantede seu senhor real. A seguir, retira-se devagar, com passos pesados, a fim

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de exaltar Mordecai justamente do modo que ele mesmo estupidamente propusera. “Ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles” (SI2.4). Quanta ironia! Por causa de sua própria e tola vaidade, Hamã viu-seobrigado a exaltar e fazer desfilar publicamente o homem cuja sentença

de morte fora pedir e para quem se atrevera a preparar a forca!

A condenação de Hamã

O capítulo 7 fala do segundo banquete de Ester para o rei e Hamã. Eum homem bem diferente aquele que se senta agora pouco à vontade à

mesa real. Sua mente está ainda mais perturbada, porque “seus sábios” eZeres, sua mulher, lhe disseram: “Se Mordecai, perante o qual jácomeçaste a cair, é da descendência dos judeus, não prevalecerás contraele, antes certamente cairás diante dele” (6.13). Hamã, todavia, não podesequer imaginar que será repentinamente precipitado em um miserávelfim. Na noite de insônia do rei, na exaltação de Mordecai, na humilhaçãode Hamã e, agora, na evidente boa vontade do rei, Ester reconhece o

controle de um poder superior e percebe que chegou o momento de falar.O rei pergunta de novo sobre seu pedido especial e espanta-se ao saberque se trata de um pedido para que a vida dela seja poupada'. “Se peranteti, ó rei, achei favor, e se bem parecer ao rei, dê-se-me por minha petiçãoa minha vida, pelo meu desejo, o meu povo. Porque fomos vendidos, eu eo meu povo, para nos destruírem, matarem e aniquilarem de vez”. Atônito,Assuero contempla a linda face e a formosura da esposa, agora pro

fundamente emocionada, e exclama: “Quem é esse e onde está, esse, cujocoração o instigou a fazer assim?” —ao que Ester responde: “O adversárioe inimigo é este mau Hamã”. Num instante o rei percebe a hipocrisia deHamã e, levantando-se da mesa do banquete, sai agitado para o jardim do

 palácio. Hamã, trem endo de terror covarde, ultrapassa os limites daetiqueta e cai sobre o divã de Ester, suplicando que lhe poupe a vida. Orei volta e o encontra nessa atitude e, seja em verdade ou por sarcasmo,interpreta mal o comportamento de Hamã, imaginando um motivo imoral,e pronuncia palavras que levam os servos a ret i rarem Hamãimediatamente, com o rosto coberto (segundo o costume persa, quando orosto de alguém era coberto, isso indicava que a pessoa não merecia maisver a luz). Hamã é enviado sem demora à sua condenação. Antes que o

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sol nascesse outra vez sobre Susã, seu cadáver balançava a cinqüentacôvados de altura, na forca que ele mesmo havia mandado levantar paraMordecai.

A fim de que não seja considerada incrível a altura da força (“cinqüenta

côvados” = cerca de vinte e três metros), queremos mencionar que otermo hebraico traduzido como “forca” significa uma árvore. A árvoreescolhida por Hamã achava-se no terreno de sua própria casa (7.9); e foiali, numa terrível ironia, que o penduraram diante do olhar horrorizadode sua própria família!

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O LIVRO DE ESTER (3)

Lição N- 50

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 NOTA: Para este estudo final de Ester, leia novamente o livro inteiro, perguntando: “Os personagens e incidentes desta história sugerem ou parecem m anter paralelos com verdades espirituais ou proféticasapresentadas em outros pontos das Escrituras?”

Jamais deixei minha Bíblia. — J O H N b u n y a n

Sou um homem de um único Livro. — J O H N W E S LE Y

Para você, essa Bíblia sobre a mesa é um livro. Para mim, ela é muitomais que um livro. Ela fala comigo, é como se fosse uma pessoa.

N A P O L E Ã O B O N A P A R T E

Se permanecermos nos princípios ensinados na Bíblia, nosso paíscontinuará prosperando. Mas se nós e nossa posteridade negligenciarmossuas instruções e sua autoridade, homem algum poderá dizer quãosubitamente uma catástrofe poderá cair sobre nós e enterrar toda nossaglória em profunda obscuridade.

D A N I E L W E B S T ER

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O LIVRO DE ESTER (3)

O ENSINO LATENTE DOS TIPOS

Este Livro de Ester, além de ser de grande interesse histórico, parececonter um ensino latente de tipos que não deve escapar à nossa atenção.

Os judeus persas

Em primeiro lugar, e sem dúvida alguma, os judeus persas como um todo são usados aqui como um tipo daquilo que é secular em meio ao povo do Senhor.

Já nos referimos ao fato de Deus não ser mencionado na história.Quanto mais refletimos sobre isso, tanto mais notável se torna estaresoluta não-referência a Deus ou a qualquer coisa religiosa; temos,

também, mais certeza de que foi algo intencional por parte do escritor, poralguma razão específica.Podemos realmente crer que, numa crise que ameaçava de morte cada

 judeu no império persa, não houve um clamor agoniado ao Deus de seus pais? Podemos acreditar também que, depois do livramento surpreendente que tiveram, não houve nenhuma voz que se elevasse em agradecimento a Deus?

 Nada disso. Não poderia ter havido oração mais fervorosa, vindo dofundo do coração. Não poderia ter havido louvor mais ardente. Por queentão não se diz nada a esse respeito? Seria devido à cegueira espiritualdo autor ou a um esquecimento imperdoável? Se foi assim, como iremos

 justificar o fato de um livro tão néscio e censurável ter recebido um lugartão reverenciado no cânon hebraico? Se, por outro lado, a falta de mençãode Deus não  se deveu a uma cegueira espiritual, só há uma conclusão

 possível: o silêncio fo i deliberado.

Porque, então, este silêncio intencional? Acho que não somos deixadosna dúvida. Mais de cinqüenta anos antes deste episódio de Ester, oimperador persa Ciro fizera uma proclamação que permitia e exortavatodos os judeus a voltarem para a Judéia, conforme registrado no Livro deEsdras (1.2-4).

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Esdras teve o cuidado de dizer que este decreto de Ciro se deu emcumprimento à profecia de Jeremias, feita antes mesmo do início docativeiro dos judeus. Os setenta anos de cativeiro haviam sido

 pré-estabelecidos (Jr 29.10 etc.; veja também 25.11, 12). Além disso, o

 profeta Isaías realmente havia falado de Ciro pelo seu nome, vendo-ocomo o futuro restaurador de Jerusalém, antes mesmo que ele tivessenascido (Is 44.28 etc.).

Aqui estava, então, a voz do Senhor para Seu povo através de todo oimpério persa. Este era o chamado divino para que os judeus voltassem aJerusalém e à Judéia. Não poderia haver engano, pois existia uma marcasobrenatural. Em primeiro lugar, a libertação fora predita; agora estava

sendo efetivada. Nenhum judeu deveria permanecer na Pérsia. O povointeiro deveria ter seguido para Sião, dando graças. Todavia, a tristeverdade é que só um remanescente voltou. O restante contentou-se emficar na Pérsia. É claro que estavam dispostos a aplaudir os que estavamvoltando e a dizer como era esplêndido o gesto deles em empreender areconstrução das cidades abandonadas de Judá e do templo do Senhor;mas eles mesmos não achavam conveniente se desligarem dos persas

naquela ocasião. Na verdade, em seu egoísmo, não queriam trocar aabundância da Pérsia pela pobreza da Judéia desolada, embora aquelefosse o lugar da bênção da aliança. Eles criam no Senhor e o reconheciamcomo o Deus único e verdadeiro, mas seus corações estavam voltados paraas coisas deste mundo.

Sem dúvida, tais judeus são tipos dos homens mundanos em meio ao povo do Senhor hoje. Eles representam aqueles que professam fé em

Cristo, mas que amam demais o mundo e a carne para renunciar a estascoisas por causa de Cristo. Eles querem ser contados junto com os remidosdo Senhor, mas ao mesmo tempo desejam gozar dos prazeres terrenos poralgum tempo.

O que acontecerá com esses crentes mundanos, que correspondem aos judeus da antigüidade que permaneceram na Pérsia? Apenas isto: Deusnão permitirá que Seu nome se ligue ao deles, assim como não permitiu

que Seu nome fosse associado ao dos judeus que ficaram na Pérsia. OSenhor vigiou aqueles judeus que amavam a Pérsia e permaneceu fiel aeles, ainda que O tivessem desprezado. Quando se viram em dificuldades,chamaram-nO, e Ele os livrou; mas não permitiu que Seu nome fosseassociado ao deles. A libertação que lhes concedeu no episódio de Ester 

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foi registrada para que as extraordinárias circunstâncias demonstrassemindiscutivelmente Seu cuidado providencial em favor deles; todavia, Seu nome não deveria ser mencionado uma vez sequer no relato.

Possa a ausência do nome de Deus no Livro de Ester gravar esta verdade

em nossa mente: Deus não associará Seu nome aos mundanos que estãoentre Seu povo hoje, assim como não faria com relação aos judeus daantigüidade na Pérsia. Através dos séculos, Deus está desenvolvendo Seu propósito para a salvação da terra. No final, os que tiverem “saído” daBabilônia deste mundo, a fim de “serem separados” para Ele, brilharãocomo estrelas no reino eterno. Mas os que disseram “Senhor, Senhor”,mas não renunciaram ao mundo, não serão conhecidos naquele dia. Seu

registro não brilhará nos céus. Eles poderão ser salvos, como pelo fogo,mas jamais ouvirão o rei dos reis dizer-lhes: “Vinde, benditos de meu Pai!entrai na posse do reino” (Mt 25.34). A promessa do Senhor para quemvencer é esta: "... lhe darei uma pedrinha branca e sobre essa pedrinhaescrito um nome novo, o qual ninguém conhece, exceto aquele que orecebe” (Ap 2.17); mas não haverá tal “segredo do Senhor” para odiscípulo mundano. A descrição final dos santos glorificados diz que o

 próprio nome de Deus será “escrito em suas testas”; o nome de Deus, porém, jamais será gravado naqueles que amaram mais a si mesmos e aomundo do que à santificação. É possível salvar-se do inferno, a condenaçãofinai dos perdidos (como os judeus dos dias de Ester foram salvos domassacre), e mesmo assim perder o “eterno peso de glória” que Deus

 preparou para aqueles que O amam de todo o coração.Podemos avançar ainda mais. Esses judeus persas dos dias de Ester

também foram tipos num sentido dispensacional e profético. Elesrepresentavam a história da raça judaica como um todo,  até o final da presente dispensação. Vemos aqui uma razão ainda mais significativa parao fato de o nome de Deus ter sido omitido no livro de Ester. Isto não podeser mais bem explicado do que pela seguinte citação: “Esses judeus persassão um tipo de seus conterrâneos que iriam mais tarde rejeitar a salvaçãode Deus em Cristo e que, espalhados entre as nações, seriam re

 petidamente ameaçados de destruição. O nome de Deus e o deles nãoforam associados durante dezenove séculos. Deus esteve atuandomaravilhosamente nesses séculos; mas aqueles judeus rebeldes e Ele nãose juntaram mais. O templo de Deus foi edificado e continua sendoconstruído agora; mas a obra está sendo feita por outras mãos que não as

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qual, segundo Paulo, “se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus”(2 Ts 2.4).

Quarta, devido a seu ódio. Quatro vezes ele é chamado de “inimigo dos judeus” (3.10; 8.1; 9.10,24). Cinco vezes é chamado também de “agagita”

(3.1,10; 8.3,5; 9.24). Recentes descobertas revelaram que Agague era umterritório adjacente à Média; simbolicamente interpretada, porém, a palavra “agagita” associa Hamã aos agagitas mencionados anteriorm entenas Escrituras. Agague foi rei dos amalequitas (1 Sm 15.8), quedescendiam de Esaú (Gn 36.12). Amaleque sempre foi inimigo de Israel(Êx 17.16; Dt 25.17-19). Viria, porém, uma estrela de Jacó, e um cetrosubiria de Israel trazendo destruição a Amaleque (Nm 24.17-20). Damesma forma, o Novo Testamento diz que Cristo irá matar o anticristo (2Ts 2.8). O “iníquo” vindouro será o Hamã dos últimos dias. Ele será oinimigo supremo dos judeus.

Quinta, através de sua conspiração.  Ele faz com que a honesta resistência de Mordecai se tome uma oportunidade para a execução de nm  

 plano de aniquilação de toda a raça judaica. Com astúcia capciosa, ele procura obter isso através do poder político, de modo que os judeus passam por grande tristeza e sofrimento (capítulos 3 e 4). Assim tambémserá o anticristo que há de vir, o “príncipe” do mal, de Daniel 9, o quallançará os judeus na “grande tribulação” por meio de traição política (Dn9.26, 27).

Sexta, mediante sua condenação. Ele é terrível no poder, mas isso duraapenas alguns anos (compare 2.16 com 3.7), e seu fim é repentino e irônico.Um dia ele está cheio de vanglória, no outro pende de sua própria forca.Além disso, toda sua descendência perece com ele, pois em 9.7-14observamos que Hamã tinha dez filhos, e todos foram enforcados com ele.

Assim também o anticristo que há de vir perecerá de modo repentino eirônico. Em 2 Tessalonicenses 2.8 temos: “será... revelado o iníquo... pelamanifestação de sua vinda”. É assim que repentinamente o “homem dainiqüidade” será destruído. Aquele que venceu os homens por meio de

 prodígios sobrenaturais será vencido por um milagre ainda maior! Alémdo mais, assim como Hamã tinha dez filhos que pereceram com ele, o

governo gentio, no fim da era presente, será o dos “dez reis” que reinam por “uma hora”; o anticristo atua através deles, e juntos perecerão (Dn 7;Ap 17). Portanto, Hamã é uma figura horrivelmente importante!

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Ester

Sobrou pouco espaço para falarmos do significado tipológico de Estere Mordecai. Ester pode ser considerada um tipo da Igreja.

Em primeiro lugar, ela é assim em seus ancestrais judeus. Era filha de judeus, mas seus pais haviam morrido. Mesmo assim, a igreja, seconsiderada historicamente, surgiu de ancestrais judeus. O próprio" ' r e r a ’ ' ;u ~ crituras que prepararam o cam: 3 para a igrejacristã eram judaicas. A primeira comunidade cristã era judaica. Tod;ao surgir do judaísmo, a igreja carregava consigo o sinal de qiantecedente judaico já estava morto. Alei foi abolida em C ristoçS ^r

mosaica já passara. Do mesmo modo como os pais de EsWíMviammorrido, também não mais existia o antecedente jud . y Q J } u a igreja procedia.

Em segundo lugar, Ester é um tipo da i:Deus lhe dera uma beleza que superavatambém Deus deu à Igreja de Cristo oa. bfeldo próprio Cristo. Nós nos tornai

“aceitos no amado”. Seremos ai“igreja gloriosa, sem máculan em

eza feminina. :s outras. Assim

insuperável —a belezae Deus em Cristo”. Somos

tados como a noiva de Cristo,f nem cousa semelhante” (Ef 5.27).Em terceiro lugar, Estef^tt^ifica a igreja em sua exaltação. Ela se casa

com um homem ci^b/ffitikLÊía “rei dos reis”. Embora Assuero, em seucaráter pessoal, e s T v \ \ 'onge de tipificar a Cristo, mesmo assim, por serum “rei dos V è i s ^ x p m u i t o bem representar para nós o noivo real daigreja, o q$all a^jàxo, é “o Rei dos reis e Senhor dos senhores”.

Em^&yWtó/lugar, Ester tipifica a igrejaem sua intercessão.

  Ela\ diante do rei “no terceiro dia”, simbolizando a ressurreição^ m tè rc e s s ã o no poder da ressurreição. Era contra a “lei” o fato de Ester\ \ apresentar assim ao rei; daquele modo, a lei a excluía. No entanto, foiaceita com base na graça apenas, pois o rei a viu nos trajes reais que lhedera (5.1). Nós também somos excluídos pela lei, mas somos plenamenteaceitos com base em generosa graça, quando aparecemos nos trajes reaisque Cristo nos deu. Os judeus foram livrados mediante a intercessão deEster. Não será através da intercessão dos sacerdotes piedosos da igrejaque o livramento chegará par a os judeus em sua tribulação/ma/? As “taçasde ouro cheias de incenso” não são chamadas de “orações dossantos” (Ap 5.8)?

8/13/2019 2 J Sidlow Baxter Examinai as Escrituras Juizes a Ester

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Mordecai

Quanto a  Mordecai,  ele pode representar perfeitamente o fiel ret j d á d t é d d t ib l ã fi