2 · Morava sozinho em um pequeno flat no ... Jonas não gostava de sair muito e sempre ... Já...
Transcript of 2 · Morava sozinho em um pequeno flat no ... Jonas não gostava de sair muito e sempre ... Já...
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Renato Del Buono
Editora URBANI
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Titulo original: Jonas Dante-Vigo
Copyright © 2014 por Renato Del Buono
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro
pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios
existentes sem autorização por escrito do autor e editores.
Site do autor: www.renatodelbuono.blogspot.com
Preparo de originais: Aurélio Tombi e Alcides Cacini
Revisão: Roque Aloisio Weschenfedler
Diagramação: Renato Leite
Criação da Capa: Fabio Lyra
Formatação da Capa: GDArt / Gustavo Dittrichi
Impressão e acabamento: Clube de Autores
Publicações SA
CIP-Brasil. Catalogação na Fonte
Kelly M. Bernini – CRB-10/1541
238 p. ISBN: 978-85-918174-0-5
D331j Del Buono,Renato Jonas Dante-Vigo / Renato Del Buono. 2ª ed. – Ribeirão Preto: Edição do Autor, 2014.
249 p. ISBN: 978-85-918174-0-5
1. Psicologia 2. Autoajuda I. Título.
CDU: 159.9
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Para minha família
Fabiana, Alicia e João
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“A valorização do Eu é o segredo de uma
vida tranquila e proveitosa...é assim
que desejo e assim realizar-se-á.”
Aurélio T. Cacini
“I know I was born and I know that I'll
die. The in between is mine. I Am Mine.”
Eddie Vedder
“O futuro pertence àqueles que acreditam
na beleza de seus sonhos.”
Eleanor Roosevelt
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CAPITULO 1
Jonas Dante-Vigo pode ser considerado uma
pessoa interessante, para poucos que realmente o
conheceram em sua verdadeira essência. Para a
maioria das pessoas, pelas vidas de quem passou, ele
nada mais significou do que uma criatura estranha e
misteriosa, longe do ser humano alegre, prestativo e
de bom coração que ele um dia descobriu ser. Esta é
sua história, desde seus anos de amargura e solidão
até seu renascimento e o encontro de sua liberdade.
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Trinta e dois anos após chegar ao mundo, Jonas
se tornara uma pessoa simples e, ao mesmo tempo,
complicada. Morava sozinho em um pequeno flat no
bairro Gótico de Barcelona, não tinha irmãos e não era
próximo de seus tios e primos. Seus pais moravam em
São Paulo, Brasil, de onde era a família de sua mãe.
Suas amizades nunca foram cultivadas e seu
passatempo principal era assitir a filmes.
Jonas não gostava de sair muito e sempre
procurava economizar, gastando seu dinheiro apenas
com boa alimentação, assistindo sua tv a cabo em alta
definição, filmes on-demand, comprando DVDs para
sua coleção ou, até mesmo, indo ao cinema. Jonas era
fascinado por filmes de todos os tipos, que, de certa
forma, alimentavam sua imaginação e provocavam
nele sentimentos diversos. Independente do gênero e
do título que assistia, era inevitável a comparação
entre sua vida e cada personagem. Cada enredo, fosse
ficção ou baseado em fatos reais, levava Jonas a um
novo lugar, uma nova vida, tirando-o de sua solidão.
Quando saía, procurava caminhar próximo à
costa da capital catalã, sempre em busca de um bom
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café para tomar seu espresso e passar horas
devorando livros de assuntos diversos. Fora isso,
raramente era visto passeando pelos arredores da
Gran Via, principalmente, na altura do Paseo de
Gracia, onde observava a alegria dos turistas que
entravam e saíam da Casa Milà, conhecida também
como La Pedrera, admirados com sua arquitetura
exótica.
Era claro, mas não consciente, de que havia algo
faltando. Existia uma inquietação que, de certa forma,
lhe passava despercebida. Jonas sempre pensava em
como seria sua vida se tivesse tomado outras decisões
em diferentes situações ao longo dos anos, mas nunca
refletiu, de forma mais profunda, sobre as causas
desse sentimento, que surgia com frequência e que
parecia estar adormecido em algum lugar.
Um dia, quando começava a assistir um filme,
Jonas impressionou-se com uma cena que o lembrou
da primeira vez em que foi confrontado por outro
menino, quando tinha apenas seis anos. Naquele
tempo, Jonas era pequeno, franzino e cultivava um
pavor silencioso. Ele evitava todas as formas de
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confrontos com outras pessoas ou até brincadeiras
onde poderia se ferir.
Na metade do filme, ainda congelado por aquela
lembrança, Jonas adormeceu. Logo percebeu que
sonhava com a primeira escola que frequentou, na
cidade onde nasceu e morou por toda sua vida. Era
um antigo convento do século 17, localizado em uma
área residencial de Barcelona, onde ele estudou por
nove anos. De repente, Jonas estava lá, novamente, na
mesma sala onde tudo começou. Ele não se lembrava
de nada. Era tudo como se ele nunca tivesse passado
por aquilo.
Já eram quase cinco horas da tarde e o dia se
aproximava do fim. Jonas brincava em um canto da
sala quando, Javier, um menino mais alto e mais
forte, desferiu um tapa no estômago de Isabela, a
menina mais bonita da turma. Ela tinha os cabelos
loiros, com corte chanel, e sua pele era branca e
rosada, lisa como a mais bela pétala de uma flor. Seus
lábios eram perfeitos, delineados como os de uma
boneca, e seu rosto era puro e inocente, transmitindo
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apenas felicidade para todos os que testemunhavam
seu sorriso de criança.
Isabela, naquele dia, não sorriu muito. Ao sentir
a mão de Javier batendo com força contra seu corpo,
ela desabou em prantos, soltando gritos de dor, sem
nenhum sinal do seu contagiante sorriso. Javier
também caiu aos prantos ao ser advertido pela
professora, que o levou a uma sala separada, onde
ficou sozinho esperando para conversar com a madre
superior. Isabel foi socorrida pela tia Luiza, auxiliar da
professora, que a pegou no colo como se fosse sua
filha, examinou sua barriga avermelhada com o
impacto do tapa e acariciou seus cabelos, tentando
acalmar a menina que soluçava.
Ainda, no canto da sala, Jonas observava tudo.
Triste pela situação, ele não pôde esconder seu
descontentamento com Javier quando a professora
passou diante dele, arrastando o agressor pelo braço.
Irritado e, não satisfeito com a sensação de que fora
vencido, Javier conseguiu se desvencilhar das mãos da
professora e seguiu em direção a Jonas que, para ele,
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nada mais era que o menino franzino que o observava
fixamente.
Javier tinha de sair por cima e disseminar ainda
mais sua fama de malvado e durão. Foi tudo muito
rápido, e Jonas nem entendeu quando recebeu um
chute em sua perna fina e um soco certeiro em seu
olho esquerdo. A professora, logo, segurou novamente
o menino malvado pelo braço, dessa vez levando-o de
uma vez por todas para fora da sala de aula.
Mesmo no chão, com a perna adormecida e um
olho já fechado devido ao inchaço causado pela
pancada, Jonas não deixou de perceber o sorriso no
rosto de Lorena, outra colega de sala. Ela parecia
contente, satisfeita com toda a confusão, saboreando
aquele momento e, principalmente, a dor sofrida por
ele e Isabela, como se estivesse degustando de um
apetitoso sorvete de framboesa. Era realmente
estranho observar tal reação de uma menina de cinco
anos. Mais estranho ainda era Jonas perceber que
tinha consciência de tudo isso. Foi então que ele
acordou.
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A tela azul na televisão mostrava que o filme já
terminara. Por um breve momento, ele não entendia
onde estava e o que aconteceu. Desligou o ar
condicionado, que gelava a sala, levantou-se do sofá,
desligou a tv e o dvd e foi para o quarto. O dia seguinte
seria longo e ele precisava descansar mais do que
nunca. Às seis e meia, quando o relógio despertou,
Jonas deu um pulo de sua cama como se ainda não
entendesse onde estava. Ao perceber o dia clareando,
lembrou-se de que ainda era sexta-feira.
Toda semana era igual. Jonas se planejava para
trabalhar o máximo possível durante os quatro
primeiros dias para que tivesse mais tempo livre na
sexta, o que nunca aconteceu. Por mais que
planejasse, ele sempre se enrolava com sua lista de
afazeres. Jonas Caracol era como o chamavam na
empresa onde trabalhava. O que parecia simples e
rápido, tornava-se uma incumbência complicada nas
mãos de Jonas. Perfeccionista como poucos Jonas
fazia e refazia suas tarefas minuciosamente, até que
tudo estivesse de acordo com seu alto nível de
satisfação.
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Apesar de levar dias para entregar um projeto,
que poderia ser concluído em algumas horas, Jonas
sempre recebia elogios pela qualidade de seu trabalho.
Ele já estava no mesmo emprego há sete anos. Não só
na mesma empresa, mas também no mesmo cargo.
Tudo o que fazia se tornara uma rotina. Resolvia
problemas como poucos, com uma clareza adquirida
graças ao histórico acumulado ao longo dos anos,
suficiente para resolver qualquer situação.
Sua rotina não se limitava a seu trabalho, mas
também ao horário que saía de casa, ao caminho que
fazia até a estação de metrô mais próxima, à catraca
por onde entrava, o vagão que escolhia. Tudo
realizado da mesma maneira, de segunda a sexta-
feira, aproximadamente, durante duzentos e quarenta
e sete dias do ano, excluindo fins de semana, férias e
feriados.
Ao chegar à estação Universitat, Jonas seguia
direto para o Café Mercatto, uma simpática cafeteria
italiana, onde degustava sua baguete com mortadela,
um chocolate quente pequeno e um espresso duplo
para alegrar seu dia. Nas vezes em que deixava de
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comprar o café da manhã, normalmente, por
encontrar alguém do trabalho e seguir direto para o
escritório, Jonas passava a manhã toda perturbado, e
tudo só piorava ao longo do dia. Ele sempre procurou
evitar qualquer proximidade com colegas para não
afetar o trabalho e a rotina. Mesmo em eventos e
celebrações da empresa, Jonas preferia ficar distante e
recluso em seu próprio mundo.
Naquela sexta-feira, após tomar o café da manhã,
Jonas seguiu para o escritório, como de rotina. Ao
dobrar a esquina, observou um carro modelo Ibiza,
não muito antigo, parado em um cruzamento. Seu
motorista estava com uma fisionomia desesperada,
tentando, de todas as formas, dar a partida no veículo,
enquanto uma fila de carros se formava atrás.
Motoristas enfurecidos, buzinando sem parar,
proferiam ofensas múltiplas ao motorista do Ibiza.
Jonas surpreendeu-se ao perceber que estava
diminuindo os passos para analisar melhor a situação.
Espantou-se mais ainda quando seu inconsciente
começou a trabalhar, despertando nele uma
indignação repugnante em relação às pessoas que