2001-2007 Consumo, e Prevalências Portugal. em Alcoólicas ... · de Trabalho sobre Políticas...

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O Consumo de Bebidas Alcoólicas em Portugal. Prevalências e Padrões de Consumo, 2001-2007 Com base na informação do Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoactivas na População Geral recolhida em 2001 e em 2007, analisamos neste livro a relação dos portugueses com as bebidas alcoólicas. São consideradas as prevalências, experiências, frequências, circunstâncias e contextos de consumo. É feita uma breve contextualização do consumo de álcool e do problema social do alcoolismo e das respostas normativas e institucionais que ele tem merecido nos últimos tempos a nível nacional e europeu. Num plano mais metodológico damos conta dos principais indicadores utilizados e dos problemas de medida que se colocam. Tratando-se de comportamentos ancorados em culturas, algumas ancestrais, apresentamos as orientações das representações e atitudes associadas aos diferentes tipos de consumo. Casimiro Balsa Clara Vital e Liliana Pascueiro É professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e investigador no Cesnova - Centro de Estudos em Sociologia, na Universidade Nova de Lisboa, onde coordena o Grupo de Trabalho sobre Políticas Públicas e Responsabilidade Social – desenvolvendo investigação na área dos comportamentos e contextos de risco, designadamente sobre consumos e consumidores de substâncias psicoactivas e nas áreas da avaliação e estudos de processos educativos e da exclusão social e comunidades excluídas. Mestres em Sociologia pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, são investigadoras do CesNova – Centro de Estudos em Sociologia da Universidade Nova de Lisboa, onde têm desenvolvido trabalho sobre consumos e consumidores de substâncias psicoactivas. Praça de Alvalade, nº 7, 5º-12º • 1700-036 LISBOA Telefone: 211 110 100 http://www.idt.pt

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001-

2007

Com base na informação do Inquérito Nacional ao Consumo de

Substâncias Psicoactivas na População Geral recolhida em 2001 e

em 2007, analisamos neste livro a relação dos portugueses com as

bebidas alcoólicas. São consideradas as prevalências, experiências,

frequências, circunstâncias e contextos de consumo. É feita uma

breve contextualização do consumo de álcool e do problema social

do alcoolismo e das respostas normativas e institucionais que ele tem

merecido nos últimos tempos a nível nacional e europeu. Num plano

mais metodológico damos conta dos principais indicadores utilizados

e dos problemas de medida que se colocam. Tratando-se de

comportamentos ancorados em culturas, algumas ancestrais,

apresentamos as orientações das representações e atitudes

associadas aos diferentes tipos de consumo.

Casimiro Balsa

Clara Vital e Liliana Pascueiro

É professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da

Universidade Nova de Lisboa e investigador no Cesnova - Centro de

Estudos em Sociologia, na Universidade Nova de Lisboa, onde

coordena o Grupo de Trabalho sobre Políticas Públicas e

Responsabilidade Social – desenvolvendo investigação na área dos

comportamentos e contextos de risco, designadamente sobre

consumos e consumidores de substâncias psicoactivas e nas áreas

da avaliação e estudos de processos educativos e da exclusão social

e comunidades excluídas.

Mestres em Sociologia pela Faculdade de Ciências Sociais e

Humanas da Universidade Nova de Lisboa, são investigadoras do

CesNova – Centro de Estudos em Sociologia da Universidade Nova

de Lisboa, onde têm desenvolvido trabalho sobre consumos e

consumidores de substâncias psicoactivas.

Praça de Alvalade, nº 7, 5º-12º • 1700-036 LISBOATelefone: 211 110 100http://www.idt.pt

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O CONSUMO DE BEBIDAS ALCOÓLICASEM PORTUGAL.PREVALÊNCIAS E PADRÕES DE CONSUMO,2001-2007

CesNova – Centro de Estudos em SociologiaFaculdade de Ciências Sociais e Humanas

Universidade Nova de Lisboa

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CBA Portugal 2001-2007

Catalogação na publicação – Biblioteca Nacional

Balsa, Casimiro, 1946-

O Consumo de Bebidas Alcoólicas em Portugal. Prevalências e Padrões de Consumo, 2001-2007 (Estudos – Universidades)

978-972-9345-74-6CDU 613 316

Ficha Técnica

Título: O Consumo de Bebidas Alcoólicas em Portugal. Prevalências e Padrões de Consumo, 2001-2007

Autores: Casimiro Balsa

Colecção: Estudos – Universidades

ISBN: 978-972-9345-74-6

Edição: Instituto da Droga e da Toxicodependência, I. P.

Depósito Legal: 327118/11

Tiragem: 500 exemplares

Capa: Filipa Cunha

Execução Gráfi ca:

GRÁFICA EXPANSÃO Rua de S. Tomé, 23 A 2685-373 Prior Velho Tel.: 219 427 880 Fax: 219 424 314 Internet: www.grafi caexpansao.ptE-mail: geral@grafi caexpansao.pt

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O CONSUMO DE BEBIDAS ALCOÓLICASEM PORTUGAL.PREVALÊNCIAS E PADRÕES DE CONSUMO,2001-2007

CesNova – Centro de Estudos em SociologiaFaculdade de Ciências Sociais e HumanasUniversidade Nova de Lisboa

Lisboa, 2011

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CBA Portugal 2001-2007

EQUIPA DE INVESTIGAÇÃO

Direcção de Projecto:Casimiro Balsa

Investigadores:Casimiro BalsaClara VitalLiliana Pascueiro

Secretariado:Paula Bouça

Estudo realizado para o Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT) ao abrigo do protocolo estabelecido pela portaria n.º 1374/2000 (2.ª série) celebrado entre este organismo e a CesNova – Centro de Estudos em Sociologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

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CBA Portugal 2001-2007

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ÍNDICE GERAL

ÍNDICE GERAL ............................................................................................................ 7ÍNDICE DE GRÁFICOS ............................................................................................... 10ÍNDICE DE TABELAS .................................................................................................. 11RESUMO ...................................................................................................................... 17ABSTRACT .................................................................................................................. 18RÉSUMÉ ...................................................................................................................... 19RESUMEM ................................................................................................................... 20

INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 23

PARTE IÁLCOOL: ENQUADRAMENTO NORMATIVO, INSTITUCIONAL E EPIDEMIOLÓGICO 25

CAPÍTULO I – Enquadramento normativo e institucional de um problema público .. 271. Breve contextualização do problema social do alcoolismo ...................................... 272. Políticas públicas sobre o álcool .............................................................................. 30

2.1. Orientações das políticas públicas sobre o álcool na Europa ........................... 302.2. Orientações das políticas públicas sobre o álcool em Portugal ........................ 33

CAPÍTULO II – O Consumo de álcool na literatura científi ca ...................................... 351. Introdução ................................................................................................................ 352. Indicadores de consumo de álcool a nível mundial .................................................. 353. Indicadores de consumo de álcool a nível nacional ................................................. 39

CAPÍTULO III – Epidemiologia dos consumos de álcool ............................................. 491. Introdução ................................................................................................................ 492. Problemas de defi nição e mensuração .................................................................... 49

2.1. Aspectos técnicos e metodológicos .................................................................. 492.1.1. Contextos, objectivos e dimensões dos estudos .................................... 492.1.2. A defi nição do universo de estudo .......................................................... 502.1.3. Características da amostragem .............................................................. 512.1.4. A selecção das técnicas de observação ................................................. 54

2.2. Níveis, modos, circunstâncias e representações do consumo de álcool .......... 55

2.2.1. Indicadores do consumo de álcool e dos seus contextos ....................... 55

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CBA Portugal 2001-2007

2.2.2. Prevalência e padrões de consumo ........................................................ 56

2.2.3. Circunstâncias e modos de consumo ..................................................... 59

2.2.4. Consumos problemáticos ........................................................................ 61

2.2.5. Opiniões e percepções de risco .............................................................. 62

PARTE II CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAIS AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVASNA POPULAÇÃO GERAL, 2001 - 2007 ....................................................................... 65

CAPÍTULO I. Caracterização geral do consumo de álcool: análise diacrónica2001-2007 .................................................................................................................... 671. Prevalências de consumo ........................................................................................ 672. Experiência e frequências de consumo ................................................................... 77

2.1. Experiência de consumo ao longo da vida ........................................................ 772.2. Frequências de consumo .................................................................................. 782.3. Binge drinking .................................................................................................... 86

3. Circunstâncias e contextos de consumo .................................................................. 883.1. Idades de início e fi m de consumo .................................................................... 883.2. Motivos de início do consumo ........................................................................... 893.3. Motivos de abandono do consumo ................................................................... 923.4. Situações de embriaguez .................................................................................. 94

4. Tipologias do consumo ............................................................................................. 94

CAPÍTULO II. Tipologia de consumo de álcool e características sociodemográfi casda população .............................................................................................................. 971. Caracterização individual ......................................................................................... 97

1.1. Género .............................................................................................................. 971.2. Idade ................................................................................................................. 981.3. Estado civil ........................................................................................................ 981.4. Nacionalidade .................................................................................................... 99

2. Caracterização socioprofi ssional e económica ........................................................ 1012.1. Educação formal ............................................................................................... 1012.2. Trabalho ............................................................................................................ 102

2.2.1. Posição perante o emprego .................................................................... 1022.2.2. Grupos profi ssionais ............................................................................... 104

2.2.3. Situação na profi ssão .............................................................................. 106

9

2.2.4. Tipo de vínculo profi ssional ..................................................................... 107

2.2.5. Tempo dedicado à actividade profi ssional .............................................. 108

2.2.6. Indicador socioprofi ssional individual ...................................................... 109

2.3. Rendimento ....................................................................................................... 111

2.3.1. Mensal líquido individual ......................................................................... 111

2.3.2. Mensal líquido do agregado familiar ....................................................... 111

3. Caracterização espacial ........................................................................................... 112

3.1. Região ............................................................................................................... 112

3.2. Distrito ............................................................................................................... 114

3.3. Tipologia do grau de urbanização ..................................................................... 115

4. Caracterização do agregado familiar ....................................................................... 116

4.1. Composição do agregado familiar ..................................................................... 116

4.2. Posição no agregado familiar ............................................................................ 118

4.3. Dimensão do agregado familiar ........................................................................ 119

CAPÍTULO III. Tipologia de consumo de álcool e representações e atitudesface a comportamentos de risco .............................................................................. 120

1. Percepção de riscos ligados à saúde ....................................................................... 120

2. Percepções de riscos associados ao consumo ....................................................... 123

3. Atitudes face a comportamentos de risco ................................................................ 125

CAPÍTULO IV. Tipologia de consumo de álcool e modos de vida, vivênciase lazeres ...................................................................................................................... 131

1. Espaços e lugares .................................................................................................... 131

1.1. Actividades de convívio ..................................................................................... 131

1.2. Actividades nocturnas durante a semana ......................................................... 134

1.3. Actividades nocturnas durante o fi m-de-semana .............................................. 137

1.4. Espaços de valorização do indivíduo ................................................................ 140

2. Dimensão cívica, política e religiosa ........................................................................ 143

2.1. Participação cívica e política ............................................................................. 143

2.2. Voluntariado ...................................................................................................... 146

2.3. Religião ............................................................................................................. 151

3. Artes e desporto ....................................................................................................... 153

3.1. Actividades artísticas ......................................................................................... 153

3.2. Actividades desportivas ..................................................................................... 154

3.3. Jogos de azar .................................................................................................... 158

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CBA Portugal 2001-2007

CAPÍTULO V. Tipologia de consumo de álcool e dependências ................................ 162

1. Perfi s de consumo de cada tipo de bebida alcoólica ............................................... 162

2. Intróito ao tema das dependências .......................................................................... 180

3. Consequências associadas ao consumo de álcool .................................................. 184

4. Dependência de álcool ............................................................................................. 185

4.1. Caracterização individual .................................................................................. 186

4.2. Caracterização socioeconómica e profi ssional ................................................. 189

4.3. Caracterização socioedemográfi ca ................................................................... 194

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 197

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 201

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfi co 1. Dez principais consumidores mundiais de álcool puro (2003) ...................... 38

Gráfi co 2. Dez principais consumidores mundiais de vinho (2003) ............................... 38

Gráfi co 3. Dez principais consumidores mundiais de cerveja [+Portugal] (2003) ......... 39

Gráfi co 4. Dez principais consumidores mundiais de bebidas destiladas [+Portugal] (2003) ......................................................................................... 39

Gráfi co 5. Evolução do consumo per capita de álcool puro em Portugal (1980-2003) .. 48

Gráfi co 6. Prevalência do consumo de bebidas alcoólicas ........................................... 68

Gráfi co 7. Motivos de abandono do consumo de bebidas alcoólicas ............................ 92

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1. Consumo total de álcool puro por regiões do mundo ................................... 37

Tabela 2. Estudos realizados em Portugal ................................................................... 42

Tabela 3. Comparação de alguns resultados de estudos internacionais ..................... 64

Tabela 4. Prevalência do consumo de bebidas alcoólicas, ao longo da vida, por género e grupos de idade ....................................................................... 71

Tabela 5. Prevalência do consumo de bebidas alcoólicas, no último ano, por género e grupos de idade ....................................................................... 71

Tabela 6. Prevalência do consumo de bebidas alcoólicas, no último mês, por género e grupos de idade ....................................................................... 72

Tabela 7. Taxa de continuidade do consumo de bebidas alcoólicas por género e grupos de idade ......................................................................................... 72

Tabela 8. Rácio entre o consumo feminino e masculino de bebidas alcoólicas, ao longo da vida, por grupos de idade .......................................................... 75

Tabela 9. Rácio entre o consumo feminino e masculino de bebidas alcoólicas, no último ano, por grupos de idade ............................................................... 76

Tabela 10. Rácio entre o consumo feminino e masculino de bebidas alcoólicas, no último mês, por grupos de idade .............................................................. 76

Tabela 11. Experiência de consumo de bebidas alcoólicas ao longo da vida por grupos de idade ...................................................................................... 78

Tabela 12. Frequência do consumo de bebidas alcoólicas no último ano ..................... 79

Tabela 13. Frequência do consumo de bebidas alcoólicas no último mês ..................... 80

Tabela 14. Experiência de consumo de bebidas alcoólicas ao longo da vida ................ 81

Tabela 15. Frequência do consumo de cerveja no último ano ....................................... 81

Tabela 16. Frequência do consumo de alcopops no último ano .................................... 82

Tabela 17. Frequência do consumo de vinho no último ano .......................................... 82

Tabela 18. Frequência do consumo de bebidas espirituosas no último ano .................. 83

Tabela 19. Frequência do consumo de cerveja no último mês ....................................... 83

Tabela 20. Frequência do consumo de alcopops no último mês .................................... 84

Tabela 21. Frequência do consumo de vinho no último mês .......................................... 84

Tabela 22. Frequência do consumo de bebidas espirituosas no último mês ................. 85

Tabela 23. Frequência do consumo de seis ou mais bebidas alcoólicas na mesma ocasião ........................................................................................ 87

Tabela 24. Idades da 1.ª vez, última vez e duração média de consumo de bebidas alcoólicas ...................................................................................................... 89

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CBA Portugal 2001-2007

Tabela 25. Razões do consumo de bebidas alcoólicas, por género e grupos de idade (2007) ............................................................................................................ 90

Tabela 26. Motivos de abandono do consumo de bebidas alcoólicas, por género (2007) ......................................................................................... 93

Tabela 27. Motivos de abandono do consumo de bebidas alcoólicas, por grupos de idade (2007) ........................................................................... 93

Tabela 28. Número de ocorrências de situações de embriaguez ................................... 94

Tabela 29. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas ..................................................... 95

Tabela 30. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função do género ................. 98

Tabela 31. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função da idade ................... 98

Tabela 32. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função do estado civil .......... 99

Tabela 33. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função da nacionalidade ...... 101

Tabela 34. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função do nível de educação formal ....................................................................................... 102

Tabela 35. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função da posição perante o emprego ........................................................................................ 104

Tabela 36. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função do grupo profi ssional .................................................................................................... 105

Tabela 37. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função da situação no trabalho .................................................................................................... 107

Tabela 38. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função do vínculo profi ssional ...................................................................................................... 108

Tabela 39. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função do tempo dedicado à actividade profi ssional ................................................................................ 109

Tabela 40. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função do indicador socioprofi ssional individual ............................................................................ 110

Tabela 41. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função do rendimento mensal líquido individual ............................................................................... 111

Tabela 42. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função do rendimento mensal líquido do agregado familiar ............................................................. 112

Tabela 43. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função das regiões (NUT II) . 114

Tabela 44. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função dos distritos .............. 115

Tabela 45. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função da tipologia do grau de urbanização .............................................................................................. 116

Tabela 46. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função do tipo de agregado familiar ........................................................................................................... 117

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Tabela 47. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função do posicionamento no agregado familiar ..................................................................................... 118

Tabela 48. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função da dimensão do agregado familiar ..................................................................................... 119

Tabela 49. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função da percepção de riscos ligados à saúde .............................................................................. 122

Tabela 50. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função de riscos associados ao consumo ................................................................................................... 124

Tabela 51. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função da aprovação de comportamentos relativos ao consumo (I) ............................................... 126

Tabela 52. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função da aprovação de comportamentos relativos ao consumo (II) .............................................. 129

Tabela 53. Frequência de algumas actividades de convívio em função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas ............................................................... 133

Tabela 54. Frequência de actividades de lazer realizadas nas noites dos dias úteis, em função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas ............................. 136

Tabela 55. Frequência de actividades de lazer realizadas nas noites nas noites de fi m-de-semana em função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas .... 139

Tabela 56. Grau de valorização em diferentes espaços em função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas ............................................................... 142

Tabela 57. Pertença a associações (respostas positivas) em função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas ............................................................... 145

Tabela 58. Posicionamento político em função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas ...................................................................................................... 146

Tabela 59. Dedicação (presente ou intenção futura) em colaborar numa instituição de voluntariado em função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas ... 147

Tabela 60. Tipo de organização em que desempenha actividades (presente ou passado) como voluntariado em função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas ......................................................................................... 148

Tabela 61. Tipo de actividade que desempenha (presente ou passado) como voluntariado em função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas ........ 150

Tabela 62. Religião praticada no presente em função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas .................................................................................... 151

Tabela 63. Frequência com que vai ao local de culto em função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas ............................................................... 153

Tabela 64. Dedicação de tempo a actividades artísticas em função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas ............................................................... 154

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CBA Portugal 2001-2007

Tabela 65. Actividade artística a que se dedica em função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas .................................................................................... 154

Tabela 66. Prática de algum desporto ou exercício físico regular em função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas ............................................................... 155

Tabela 67. Modalidade desportiva praticada em função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas .................................................................................... 156

Tabela 68. Número de horas por semana utilizadas em actividades desportivas ou exercício físico regular em função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas ...................................................................................................... 157

Tabela 69. Prática de actividade desportiva ou exercício físico regular (presente ou passado) em clube/associação em função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas .................................................................................... 158

Tabela 70. Frequência com que costuma jogar em jogos que envolvam dinheiro em função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas ............................. 160

Tabela 71. Perfi s de consumo de cada tipo de bebida alcoólica .................................... 164

Tabela 72. Perfi s de consumo de cada tipo de bebida alcoólica, em função do género . 165

Tabela 73. Perfi s de consumo de cada tipo de bebida alcoólica, em função do grupo de idade ........................................................................................................ 166

Tabela 74. Perfi s de consumo de cada tipo de bebida alcoólica, em função do estado civil ................................................................................................................ 167

Tabela 75. Perfi s de consumo de cada tipo de bebida alcoólica, em função da posição perante o trabalho ......................................................................................... 168

Tabela 76. Perfi s de consumo de cada tipo de bebida alcoólica, em função do indicador socioprofi ssional individual de classe ....................................... 170

Tabela 77. Perfi s de consumo de cada tipo de bebida alcoólica, em função do nível de escolaridade frequentado ......................................................................... 173

Tabela 78. Perfi s de consumo de cada tipo de bebida alcoólica, em função da NUT II . 174

Tabela 79. Perfi s de consumo de cada tipo de bebida alcoólica, em função do grau de urbanização .............................................................................................. 176

Tabela 80. Perfi s de consumo de cada tipo de bebida alcoólica, em função do perfi l de consumo de tabaco .................................................................................. 177

Tabela 81. Perfi s de consumo de cada tipo de bebida alcoólica, em função do perfi l de consumo de medicamentos ..................................................................... 178

Tabela 82. Perfi s de consumo de cada tipo de bebida alcoólica, em função do perfi l de consumo de substâncias ilícitas ............................................................... 179

Tabela 83. Perfi s de consumo de cada tipo de bebida alcoólica .................................... 179

Tabela 84. Consequências associadas ao consumo de bebidas alcoólicas .................. 184

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Tabela 85. Número de consequências referidas pelos consumidores de bebidas alcoólicas ...................................................................................................... 185

Tabela 86. Distribuição dos inquiridos face ao consumo de bebidas alcoólicas ao longo da vida ............................................................................................ 186

Tabela 87. Distribuição dos inquiridos em função da existência de dependência .......... 186

Tabela 88. Distribuição dos Inquiridos consumidores em função da existência de dependência de bebidas alcoólicas por género ....................................... 187

Tabela 89. Distribuição dos inquiridos consumidores em função da existência de dependência de bebidas alcoólicas por grupos de idade ........................ 188

Tabela 90. Distribuição dos inquiridos consumidores em função da existência de dependência de bebidas alcoólicas por estado civil ................................ 189

Tabela 91. Distribuição dos inquiridos consumidores em função da existência de dependência de bebidas alcoólicas por rendimento mensal líquido do inquirido .................................................................................................... 190

Tabela 92. Distribuição dos inquiridos consumidores em função da existência de dependência de bebidas alcoólicas por rendimento mensal bruto do agregado doméstico ................................................................................. 191

Tabela 93. Distribuição dos inquiridos consumidores em função da existência de dependência de bebidas alcoólicas por posição ocupada no trabalho ......... 192

Tabela 94. Distribuição dos inquiridos consumidores em função da existência de dependência de bebidas alcoólicas por nível de escolaridade frequentada . 193

Tabela 95. Distribuição dos inquiridos consumidores em função da existência de dependência de bebidas alcoólicas por indicador socioprofi ssional individual de classe ....................................................................................... 194

Tabela 96. Distribuição dos inquiridos consumidores em função da existência de dependência de bebidas alcoólicas por NUT II ............................................. 195

Tabela 97. Distribuição dos inquiridos consumidores em função da existência de dependência de bebidas alcoólicas por grau de urbanização da freguesia .. 196

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CBA Portugal 2001-2007

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RESUMO

Analisamos neste livro a relação dos portugueses com as bebidas alcoólicas. Os

dados apresentados foram constituídos no âmbito de um projecto mais vasto, conduzido

numa perspectiva ao mesmo tempo epidemiológica e sociológica, com o objectivo de

estudar o consumo de substâncias psicoactivas na população geral em Portugal.

Na primeira parte fazemos uma breve contextualização do consumo de álcool e

do problema social do alcoolismo e das respostas normativas e institucionais que ele

tem merecido nos últimos tempos a nível nacional e europeu. Procedemos, ainda, a uma

revisão da literatura, com o objectivo de contextualizar o consumo de bebidas alcoólicas

em Portugal e de dar conta dos principais indicadores utilizados e dos problemas de

medida que se colocam.

Na segunda parte apresentamos uma análise ao consumo de álcool na população

portuguesa, com base nos inquéritos nacionais ao consumo de substâncias psicoactivas

na população geral levados a cabo em 2001 e em 2007 pelo CEOS – Investigações

Sociológicas, Universidade Nova de Lisboa, para o IDT – Instituto da Droga e da

Toxicodependência. São consideradas as prevalências, experiências, frequências,

circunstâncias e contextos de consumo comparando a sua evolução entre 2001 e

2007. Uma abordagem tipológica permite-nos caracterizar diversos tipos de consumo,

particularmente o consumo abusivo e as situações de dependência. Tratando-se de

comportamentos ancorados em culturas, algumas ancestrais, daremos conta de algumas

representações e atitudes associadas aos diferentes tipos de consumo encontrados.

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CBA Portugal 2001-2007

ABSTRACT

In this book we analyse the relationship of Portuguese people with alcoholic

beverages. The data was produced under a broader project, conducted both in an

epidemiological and sociological perspective, for the purpose of studying the consumption

of psycho-active substances by the general population in Portugal.

The fi rst part presents a brief overview of the context of the consumption of alcohol

and social problem of alcoholism and of the legislative and institutional responses

which have occurred over recent times at a national and European level. A review of

the literature will also be made, with the objective of contextualising the consumption of

alcoholic beverages in Portugal and provide a description of the key indicators used and

measurement problems encountered.

The second part covers an analysis of the consumption of alcohol by the Portuguese

population, based on national surveys on the consumption of psycho-active substances by

the general population carried out in 2001 and 2007 by CEOS – Investigações Sociológicas,

Universidade Nova de Lisboa, for IDT – Instituto da Droga e da Toxicodependência

(National Institute for Drugs and Addiction). The prevalence, experiences, frequencies,

circumstances and contexts of consumption are considered, comparing their evolution

between 2001 and 2007. The classifi cation of the data allows for the characterisation

of different types of consumption, in particular, the abuse of consumption and situations

of addiction. Since this behaviour is deeply embedded in cultural values, some of which

ancestral, we will describe some of the manifestations and attitudes associated to the

different types of consumption encountered.

19

RÉSUMÉ

Nous analysons, dans ce livre, la relation des portugais avec les boissons alcooliques.

Les données que nous présentons ont été constituées dans le cadre d’un projet plus

vaste, conduit dans une perspective à la fois épidémiologique et sociologique, dans le but

d’étudier la consommation de substances psychoactives au sein de la population générale

au Portugal.

Dans la première partie de l’ouvrage nous faisons une brève contextualisation de la

consommation d’alcool et du problème social de l’alcoolisme e des réponses normatives et

institutionnelles qui lui ont été données au Portugal aussi bien qu’en Europe. Nous faisons,

encore, une révision de la littérature avec l’objectif de contextualiser la consommation de

boissons alcooliques au Portugal et de passer en revue les principaux indicateurs utilisés

et les problèmes de mesure qu’ils soulèvent.

Dans la deuxième partie, nous présentons une analyse de la consommation d’alcool

au sein de la population portugaise, en nous appuyant sur les résultats des Enquêtes

à la Consommation de Substances Psychoactives au sein de la Population Générale,

au Portugal, réalisées en 2001 et en 2007, par CEOS – Recherches Sociologiques de

l’Université Nova de Lisboa à la demande de l’IDT, IP, Institut de la Drogue et de la

Toxicomanie. Nous avons considéré les prévalences, les expériences, les fréquences,

les circonstances et les contextes de la consommation, en comparant leur évolution entre

2001 et 2007. Une approche typologique nous permettra, fi nalement, de caractériser les

différents types de consommation, particulièrement les consommations abusives et les

situations de dépendance. S’agissant de comportements ancrés dans des cultures, parfois

ancestrales, nous rendrons compte des quelques représentations et attitudes associées

aux différents types de consommation recensés.

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CBA Portugal 2001-2007

RESUMEN

En este libro se analizan las relaciones de los portugueses con las bebidas

alcohólicas. Los datos que se presentan se constituyeron en el ámbito de un proyecto

más amplio, dentro de una perspectiva al mismo tiempo epidemiológica y sociológica,

con el objetivo de estudiar el consumo de substancias psicoactivas en el conjunto de la

población en Portugal.

En su primera parte hacemos una breve contextualización del consumo de alcohol

y del problema social del alcoholismo y de las respuestas normativas e institucionales que

se le han dirigido en los últimos tiempos a nivel nacional e internacional. Procedemos a

revisar la literatura publicada, con el objetivo de situar el contexto del consumo de bebidas

alcohólicas en Portugal y dar cuenta de los principales indicadores utilizados y de los

problemas provocados por su medición.

En su segunda parte se presenta un análisis del consumo de alcohol de la población

portuguesa, sobre la base de las encuestas nacionales de consumo de substancias

psicoactivas en el conjunto de la población realizadas en 2001 y en 2007 por CEOS –

Investigaciones Sociológicas, Universidad Nova De Lisboa, para el IDT – Instituto de la

Droga y de la Toxico dependencia. Se consideran las prevalencias, las experiencias, las

frecuencias, las circunstancias y los contextos de consumo comparando su evolución

entre 2001 y 2007. El abordaje tipológico nos permite caracterizar diversos tipos de

consumo, especialmente el consumo abusivo y las situaciones de dependencia. Al

tratarse de comportamientos enraizados en culturas, algunas ancestrales, daremos

cuenta de algunas representaciones y actitudes asociadas a los diferentes tipos de

consumo encontrados.

21

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CBA Portugal 2001-2007

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Introdução

Em Portugal, apesar dos últimos dados disponíveis indicarem um ligeiro decréscimo

a nível nacional, o consumo de álcool per capita mantem-se bastante elevado. Para além

disso, e um pouco à semelhança do que se passa no resto da Europa, tem-se verificado

consumos crescentes de álcool entre jovens e mulheres e alterações significativas nos

modos de ingestão que desmultiplicam ou agravam as situações de risco, justificando

que o consumo abusivo de álcool tenha vindo a impor-se de forma crescente na agenda

das políticas públicas.

A definição das políticas tem-se feito com base no princípio de que o alcoolismo

é uma doença e, de uma forma geral, no sentido de uma maior responsabilização

individual pelas consequências dos consumos. Assim, as representações dos consumos

constroem-se hoje, entre um modelo onde a ingestão de bebidas alcoólicas surge mais

como um desvio individual que apela à criação e mobilização de meios de controlo social

e um modelo mais tradicional onde o consumo se integra e é gerido em referência a

padrões culturais e é considerado como um comportamento social. De acordo com esta

tradição, para além de ser um acto individual, “o beber é um acto social embebido no

contexto de valores, atitudes, normas, modos de classificação do tempo e concepções

de realidade, muito frequentemente implícitos nos comportamentos referentes” (Neves,

2004: 8). O consumo de bebidas alcoólicas está, aliás, fortemente entrosado na

cultura e economia da maioria dos países europeus e inserido em padrões culturais

bem ancorados socialmente, extremamente difundidos e, muitas vezes, ainda, bem

valorizados.

Existe assim uma enorme diversidade de modos sociais de ingestão de bebidas

alcoólicas, associada, designadamente, a quem bebe, ao que se bebe, com quem se

bebe, a frequência com que se bebe, como se bebe, quando se bebe… Quer dizer

que para além do estudo das situações de consumo problemático, justifica-se que a

investigação se interesse, num plano mais geral, pelo estudo dos diferentes modos

de consumo de álcool, considerado como um comportamento social. Aliás, só assim

é possível dar conta das situações extremas de “dependências” ou de “consumo

abusivo”. Nesta perspectiva, os temas susceptíveis de serem tratados motivam estudos

nos mais diversos campos disciplinares e desmultiplicam-se em inúmeras questões

que são efectivamente tratadas na literatura científica. O nosso estudo sobre o álcool

enquadra-se num projecto mais vasto conduzido numa perspectiva ao mesmo tempo

INTRODUÇÃO

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CBA Portugal 2001-2007

epidemiológica e sociológica e cujo objecto é o consumo de substâncias psicoactivas

em Portugal l1 .

Daremos conta, nesta publicação, das informações recolhidas em 2001, ano da

primeira aplicação, e em 2007, ano da segunda aplicação do inquérito.

Na primeira aplicação, o consumo do álcool não foi tratado de forma muito

desenvolvida por que a prioridade política e o enquadramento institucional no qual o

estudo se realiza2 levaram a dar prioridade ao universo das substâncias psicoactivas

ilícitas. Na segunda aplicação foram já detalhadas algumas informações, e as novas

prioridades políticas associadas à reformulação do problema social do alcoolismo

permitirão que na terceira aplicação do estudo, prevista para 2011, o álcool beneficie de

um maior aprofundamento.

Procuramos enquadrar a apresentação dos nossos resultados considerando, por

um lado, o enquadramento normativo e institucional do problema e, por outro lado, as

orientações e os resultados de outros estudos conduzidos no plano nacional e inter-

nacional.

1 Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoactivas na População Geral conduzidos em 2001 e 2007. BALSA, C.; FARINHA, T.; URBANO, C.; FRANCISCO, A. (2003). Inquérito nacional ao consumo de substâncias psicoactivas na população Portuguesa 2001. Lisboa: CEOS – Instituto de Investigações Sociológicas, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa. BALSA, C.; VITAL, C.; URBANO, C.; PASCUEIRO, L. (2008). II Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoactivas na População Geral, Portugal 2007. Lisboa: CEOS/FCSH/UNL.2 O estudo benefi cia do fi nanciamento do IDT, Instituto da Droga e da Toxicodependência, IP e a defi nição dos principais indicadores utilizados segue as orientações do Modelo de Questionário Europeu proposto pelo OEDT, Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência que se interessava apenas sobre substâncias psicoactivas ilícitas.

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Parte I

Álcool:

Enquadramento Normativo,

Institucional e Epidemiológico

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CBA Portugal 2001-2007

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ÁLCOOL: ENQUADRAMENTO NORMATIVO, INSTITUCIONAL E EPIDEMIOLÓGICO

Capítulo I. Enquadramento normativo e institucional de umproblema público

1. Breve contextualização do problema social do alcoolismo

Ao longo da história, a aceitação pública ou a rejeição de uma determinada droga

podem mudar. Os valores e as normas culturais determinam que tipos de drogas são

socialmente aceites e em que circunstâncias o seu consumo pode constituir um problema

social. As defi nições do uso e do abuso de drogas podem assim mudar durante os diferentes

períodos históricos ou variar de um contexto para outro.

Quando se fala em álcool referimo-nos à substância etanol ou álcool etílico, principal

componente das bebidas alcoólicas. Defi nem-se por bebidas alcoólicas as bebidas que,

como o nome indica, contêm álcool (UNODCCP, 2000). O álcool é considerado uma droga

psicotrópica com efeitos depressores no sistema nervoso central, provocando alterações

no comportamento de quem as consome.

As bebidas alcoólicas podem ser fermentadas (vinho, cerveja), quando se obtêm

por fermentação alcoólica dos sumos açucarados pela acção de leveduras, ou destiladas

(aguardentes, licores), quando resultam da destilação do álcool produzido no decurso da

fermentação. A graduação alcoólica de uma bebida é defi nida pela percentagem volumétrica

de álcool puro que contém; por exemplo, um vinho de 10º signifi ca que 1l contém 10% de

álcool, ou seja, 100ml ou 80g de álcool. As bebidas fermentadas geralmente têm uma

graduação alcoólica que vai até um máximo de 13 a 14%, e os valores para as destiladas

variam, normalmente, entre os 15 e os 75% (Mello, 2001).

O álcool é actualmente, em Portugal, uma droga legal e comercializada, fazendo

parte dos hábitos alimentares de uma larga maioria da população. Para além disso o

álcool aparece muitas vezes associado, como elemento primordial, a inúmeros quadros

do relacionamento social, tanto privado como público, de natureza ritual, comemorativa,

recreativa, para além de fazer parte do imaginário, dos estilos de vida ou mesmo das

identidades de muitos grupos sociais.

Todos os estudos que lemos sobre o tema indicam o álcool como uma das

substâncias de uso e abuso mais antigas de que se tem conhecimento. Através de estudos

arqueológicos e bibliográfi cos é possível afi rmar que a utilização das bebidas alcoólicas

remonta ao período paleolítico, onde sumo de fruta, grãos ou mel fermentados seriam fonte

de produção de álcool, e que no período neolítico surgiu o processo de fabrico da cerveja.

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CBA Portugal 2001-2007

Os árabes foram os primeiros a produzir álcool destilado, por volta do ano 800, técnica que os europeus aprenderam e que fez com que a destilação do vinho e a maior alcoolização das bebidas se tenha generalizado na Europa a partir do século XI. Foi, portanto, com a destilação do álcool (que permitia a produção de bebidas com uma maior graduação alcoólica) durante a Idade Média, que se verifi cou uma maior disponibilidade, mas não um menor custo, de bebidas alcoólicas. Até cerca de 1500 o consumo de bebidas alcoólicas estava fora de alcance da maioria das pessoas, encontrando-se o seu uso associado a conceitos de saúde e bem-estar, sendo aliás, a designação do álcool até essa altura de aqua vitae.

Se até ao século XV o consumo de álcool não tinha levantado problemas, estando associado em algumas sociedades a conceitos de saúde, e noutras a rituais religiosos, curativos e mágicos, a partir daí dá-se um aumento do consumo de bebidas alcoólicas e começam a surgir os primeiros registos de intoxicação por álcool.

Durante o século XVIII surgem as primeiras tentativas de moderar o consumo excessivo de álcool: em Inglaterra o parlamento aprova a repressão da embriaguez, e nos Estados Unidos da América são criadas leis para controlar o crescente número de pessoas embriagadas; são criados impostos sobre o álcool e, iniciam-se tentativas de defi nição de embriaguez.

É no fi nal do século XVIII e princípios do século XIX que se desenvolvem as concepções de embriaguez como doença. Inicialmente o alcoolismo é visto como um vício (a embriaguez) e só depois o termo começa a ser utilizado com o signifi cado de alcoolismo crónico e entendido como doença. Estas concepções de embriaguez como doença foram infl uenciadas pelos trabalhos do Dr. Benjamin Rush, no Estados Unidos da América, em 1785, e pelos do Dr. Thomas Trotter, em Inglaterra, em 1804, tendo-se devido a este último a primeira descrição do Delirium Tremens (estado de hiperactividade confusa e desorganizada, que se segue normalmente a um excessivo abuso de bebidas alcoólicas).

Portanto, é a partir do século XIX, com a Revolução Industrial, período de grandes transformações sociais, em sentido lato, que o consumo do álcool aumenta. O crescimento da sua produção e consequente acesso, as mudanças que então ocorriam com os demais problemas sociais associados, entre outros factores, fi zeram com que um maior número de pessoas consumisse álcool. Se até então os problemas sociais causados pelo abuso de bebidas alcoólicas eram vistos mais como uma questão moral, já que a maioria parecia beber moderadamente, a partir do momento em que a situação se alterou e constatando-se a perigosidade dos efeitos do álcool sobre a saúde pública e as suas repercussões no tecido social, o consumo do álcool, ou pelo menos o seu abuso, deixa de ser visto à luz de um problema moral, para passar a ser um problema de saúde, sendo que, ainda no século

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ÁLCOOL: ENQUADRAMENTO NORMATIVO, INSTITUCIONAL E EPIDEMIOLÓGICO

XIX, vamos encontrar alcoólicos internados nos hospitais psiquiátricos, considerado o abuso do álcool como causa da doença mental.

Desde então muitas defi nições se têm dado do alcoolismo e do alcoólico. Para Fouquet (1955, apud Mello, 2001) o “alcoólico é todo aquele que perdeu a liberdade de se abster do álcool, e que, por conseguinte, não exerce controlo no seu consumo” enquanto que para Jellinek o “alcoolismo é todo o uso de bebidas alcoólicas susceptíveis de causar prejuízo no indivíduo, na sociedade, ou em ambos” (apud Mello, 2001). Em meados do século XX (1940), a Escola de Jellinek, consciente da importância dos diversos vectores associados ao alcoolismo, começou a associar como colaboradores nos seus estudos, profi ssionais das mais diversas áreas científi cas, ultrapassando, assim, o estrito domínio psiquiátrico a que a doença estava restringida.

Segundo Mello (2001), é à Organização Mundial de Saúde que se deve o maior empenhamento na defi nição de alcoolismo e de alcoólico. Nos termos das suas defi nições, “o alcoolismo não constitui uma entidade nosológica defi nida, mas a totalidade dos problemas motivados pelo álcool, no indivíduo, estendendo-se em vários planos e causando perturbações orgânicas e psíquicas, perturbações da vida familiar, profi ssional e social, com as suas repercussões económicas, legais e morais” e “os alcoólicos são bebedores excessivos, cuja dependência em relação ao álcool se acompanha de perturbações mentais, da saúde física, da relação com os outros e do seu comportamento social e económico. Devem submeter-se a tratamento.” (OMS apud Mello, 2001). Nestas defi nições o alcoolismo surge como doença, e o alcoólico como doente, mas existem já referências às extensões do problema para lá do plano individual.

Actualmente, utiliza-se muito a sigla PLA – Problemas ligados ao álcool. Segundo a OMS (1982 apud Mello, 2001) os Problemas ligados ao álcool, ou simplesmente problemas de álcool, é uma expressão imprecisa mas cada vez mais usada nestes últimos anos para designar as consequências nocivas do consumo de álcool. Estas consequências atingem não só o bebedor, mas também a família e a colectividade em geral. As perturbações causadas podem ser físicas, mentais ou sociais e resultam de episódios agudos, de um consumo excessivo ou inoportuno, ou de um consumo prolongado.”. Apesar de imprecisa, muitos a utilizam e, segundo Mello (2001), apresenta a vantagem de ter uma perspectiva mais abrangente, comparativamente ao conceito de alcoolismo como doença.

A Europa é, actualmente, o continente onde existe o maior consumo de álcool. Têm- -se assistido a alterações em termos de padrões de consumo, dos tipos de bebidas ingeri-das e da forma de as ingerir (binge drinking). Portugal não foge a esta regra, apresentando mesmo um dos maiores consumos de álcool per capita a nível mundial, segundo os últimos relatórios do World Drink Trends (2002, 2005).

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CBA Portugal 2001-2007

2. Políticas públicas sobre o álcool

2.1. Orientações das políticas públicas sobre o álcool na Europa

As políticas do álcool constituem, sem dúvida, um bom exemplo da forma como os problemas sociais, comportando diversas dimensões e formulações, podem ser assumidos por diferentes níveis de iniciativa e de responsabilidade da sociedade. Esta é uma história que valeria a pena reconstituir precisamente no caso português, já que ela poderia mostrar como a sociedade civil e instituições privadas, em conjunção ou não com o Estado, orientam e concretizam uma acção pública, que permite perceber melhor do que a estrita política pública, e cada vez melhor à medida que o Estado privilegia a sua função de regulação, a forma que é dada ao tratamento dos problemas sociais. Neste sentido, as “políticas do álcool” poderiam ser consideradas, no seguimento de Babor & Caetano (2005) como quaisquer esforços ou decisões de autoridade por parte de governos ou de grupos não- -governamentais para minimizar ou prevenir problemas relacionados com o álcool.

As políticas do álcool, baseadas, quer na sua natureza, quer nos seus objectivos, podem ser divididas em duas categorias: as alocatórias e as regulatórias (Laranjeira & Romano: 2004). As primeiras promovem o recurso a um grupo ou organização específi ca para prevenção e tratamento, de modo a atingir objectivos de interesse público. Exemplos deste tipo de políticas são o fi nanciamento de campanhas educativas e a oferta de tratamento aos dependentes de álcool, visando assim reduzir os danos provocados. As políticas regulatórias procuram infl uenciar comportamentos e decisões dos indivíduos através de acções mais directas, como leis e normas que são usadas para restringir o acesso ao álcool por motivos de saúde e segurança públicas, tais como as que regulam o preço e a taxação de bebidas alcoólicas, que impõem uma idade mínima para a venda de bebidas alcoólicas, que proíbem total ou parcialmente a publicidade a bebidas alcoólicas, entre outras.

As políticas de controlo do álcool traduzem “os factores legais, económicos e orgânicos, que decorrem da disponibilidade de cada pessoa para as bebidas alcoólicas” (Bruun, 1975). Isto é, dirigem-se às estratégias e medidas utilizadas pelos governos e autoridades administrativas para infl uenciar essa disponibilização mas não aos efectivos motivos directos ou profundos dessas situações. Ou, no dizer do ECAS I: “Estritamente consideradas, as políticas de controlo de álcool não incluem mensagens de informação ou educação sobre o álcool, direccionadas para pessoas ou grupos, tentando interferir com os seus valores e atitudes e, em última instância, com a procura de bebidas alcoólicas”.

Políticas do álcool efi cazes deveriam ter como resultados efectivos a redução global do consumo, a redução dos danos relacionados com o álcool, tais como a violência

31

doméstica, os acidentes rodoviários, morbilidade e mortalidade associadas, entre outros, e ainda a criação de um clima social propício para demais políticas do álcool.

No entanto, uma análise desenvolvida por Robin Room, Thomas Babor e Jürgen Rehm, apresentada no artigo Alcohol and Public Health, revela que os estudos feitos até ao momento sobre o alcoolismo têm falhado em provocar impactos relevantes sobre as políticas de saúde públicas. Segundo os autores, “há uma enorme discrepância entre os resultados de estudos sobre a efi ciência de medidas de controlo e as opções políticas adoptadas pela maioria dos governos. Na maior parte dos países, os interesses da indústria têm vetado as medidas mais efi cientes, direccionando a ênfase no combate ao problema a estratégias pouco efectivas, como práticas de orientação” 3.

No caso particular da Europa, região com maior consumo mundial per capita, uma das estruturas com poder de iniciativa sobre a região – a OMS-EURO – desenvolveu, em 1984, o Collaborative study on community response to alcohol-related problems, que envolveu 15 Estados, entre eles Portugal (Mello et al., 2001). De 1992 a 1999 incrementou o 1º Plano de Acção Europeu sobre o Álcool (EAAP I – European Alcohol Action Plan I), no âmbito do qual foi assinada pelos países membros em Paris, em 1995, a 1ª Carta Europeia sobre o Álcool, que defi ne dez estratégias de abordagem aos PLA. Naquele intervalo de tempo, a Itália e a Espanha alcançaram a meta preconizada, enquanto que em França e Portugal, e em menor grau na Grécia, também se observou um decréscimo dos índices de consumo considerados, à custa de uma drástica redução no consumo de vinho. Neste Plano, recomendava-se uma aproximação directa à população e a grupos de risco, como doentes hepáticos, condutores automóveis e grávidas. A OMS promoveu durante este período projectos a nível local, nomeadamente projectos dirigidos a médicos de clínica geral e médicos de família sobre a identifi cação precoce e estratégias de intervenção breve.

O 2º Plano de Acção Europeu sobre o Álcool (EAAP II – European Alcohol Action Plan II), que vigorou de 2000 a 2005, teve como objectivo prevenir e reduzir os consumos e os danos consequentes. No seu âmbito foi promovida a Conferência Ministerial Europeia da OMS sobre os Jovens e o Álcool (Estocolmo, 2001), concertada com a cooperação e o apoio fi nanceiro da Comissão Europeia, que aprovou a Declaração sobre os Jovens e o Álcool (WHO-EURO, 2001).

Ao considerarem-se as políticas sobre o álcool na Europa é inevitável o recurso aos relatórios do European Comparative Alcohol Study (ECAS). O primeiro, ou ECAS I, analisa

3 The Lancet, http://www.thelancet.com.

ÁLCOOL: ENQUADRAMENTO NORMATIVO, INSTITUCIONAL E EPIDEMIOLÓGICO

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CBA Portugal 2001-2007

e inter-relaciona as políticas, as tendências globais e os padrões dos consumos e dos danos das bebidas alcoólicas entre 1950/1995 (Norström, 2002); o segundo, designado ECAS II, estima a prevalência e os padrões dos consumos não registados e avalia a consistência e a expressão dos indicadores dos danos dos consumos (Leifman et al., 2002).

Esta investigação analisou dados de 14 dos 15 países que integravam a União Europeia em 1998 (com exclusão, por razões técnicas, do Luxemburgo), aos quais se associou a Noruega para viabilizar uma representação mais sólida dos países da Europa do Norte 4.

Em 1950, data a que remonta o início do período de referência do estudo, registavam-se grandes diferenças entre os 15 países em análise. Os Nórdicos apresentavam taxas fi scais elevadas e, com excepção da Dinamarca, sistemas globais de monopólio estatal e um rigoroso controlo pessoal; nos países da Europa Central, onde existiam taxas especiais, parte optou por um rígido sistema de licenciamento, sobretudo dos pontos de vendas a retalho, enquanto outros mantinham em vigor um apertado sistema de controlo; nos países Mediterrânicos, as medidas políticas eram poucas e em geral motivadas por interesse da indústria ou do comércio, sendo as taxas muito baixas, sobretudo para o vinho.

Na segunda metade do século XX assiste-se a uma convergência de políticas – o controlo da produção e das vendas, globais e a retalho, decresceu, em virtude quer do incremento da perspectiva do mercado livre, através da livre circulação de capital, bens, serviços e trabalho, quer do aumento do consumo, em que a perspectiva de criação de um mercado único europeu levou à abolição nos países Nórdicos dos monopólios de produção, importação, exportação e de vendas de bebidas alcoólicas.

O crescimento do consumo pressionou as medidas de controlo sobre o álcool, nomeadamente quanto às restrições de dias e horas de venda a retalho, que progressivamente foram sendo atenuadas ou mesmo abolidas. Apenas a idade limiar para a sua aquisição se manteve, por vezes até com mais rigor. Simultaneamente ganharam importância o controlo social e ambiental bem como o do marketing – passou a haver mais rigor, por exemplo, quanto à condução rodoviária sob o efeito de álcool, num período em que cresceu quer o trânsito quer o consumo, bem como na informação e educação sobre os seus efeitos ou na introdução ou condicionamento das regulamentações de publicidade e patrocínios.

4 O projecto ECAS teve o apoio fi nanceiro da Comissão Europeia (DG-V), do Instituto Nacional de Saúde Pública e do Ministério Sueco da Saúde e Assuntos Sociais e, na Finlândia, do Centro Nacional de Investigação e Desenvolvimento para o Bem-Estar e Saúde (STAKES). Os parágrafos que se seguem referenciam-se, sobretudo, ao capítulo 9 – Conclusions, do ECAS I, de responsabilidade da respectiva equipa de investigadores.

33

5 A World Drink Trends (WDT) é uma extensão em língua inglesa da versão original holandesa do “Hoeveel alcoholhoudende dranken worden er in de wereld gedronken?” publicado por Productschap voor Gedistilleerde dranken, Schiedam, Netherlands (www.pgd.nl), sendo produzida e publicada na Grã-Bretanha por World Advertising Research Center Ltd (WARC), Oxfordshire.

Quanto às tendências nas políticas do álcool na Europa, é comum considerarem-se três grupos de países de acordo com as culturas tradicionais de consumo: (1) Os da Europa do Norte, ou área “seca”, consumidores predominantes, ao fi m-de-semana e fora das refeições, de bebidas espirituosas (mas também de cerveja), em que se inclui a Finlândia, Suécia e Noruega; (2) Os da Europa Central, com predomínio do recurso à cerveja – Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Holanda, Irlanda, Luxemburgo e Reino Unido; e, (3) Os da Europa do Sul ou Mediterrânicos, ou área “líquida”, consumidores preferenciais de vinho, cujo consumo faz parte da rotina diária, em particular às refeições, apresentam raiz latina, tradição rural, vínculo familiar forte e industrialização relativamente recente, onde se incluem a Espanha, Grécia, França, Itália, Portugal (Allamani, 2001; Norstöm, 2002; Room, 2002).

Apesar da iniciativa de uma maior convergência de políticas, no início do século XXI, continuavam a observar-se as diferenças que distinguiam os principais blocos geopolíticos europeus no que respeita à taxação das respectivas bebidas alcoólicas preferidas, – taxas mais baixas nos países Mediterrânicos e noutros países produtores de vinho, mais altas nos países Nórdicos, seguidos pela Dinamarca, Irlanda e Reino Unido e, entre estes grupos extremos, surgem os países da Europa Central.

2.2. Orientações das políticas públicas sobre o álcool em Portugal

Em Portugal, de longa data um dos maiores consumidores mundiais per capita, a cronologia política é escassa e avulsa. Registaram-se até à década de 80 do século XX, investimentos isolados como a criação em 1977 da Comissão de Combate ao Alcoolismo (Mello et al., 2001). Só em meados da década de 1980, quando Portugal começou a fi gurar entre os países com maior consumo de etanol per capita (WDT 5), houve sinais tímidos de uma resposta estatal aos PLA, o que motivou o desenvolvimento de estruturas específi cas, embora no contexto da psiquiatria institucional e, como tal, com elevada probabilidade de indução de estigma e em clivagem com os serviços de saúde que já trabalhavam nas repercussões do consumo de álcool sobre a saúde. Foi assim que se desenvolveram Serviços de Alcoologia em três dos seis Hospitais Psiquiátricos (de Sobral Cid em Coimbra, de Júlio de Matos em Lisboa, de Magalhães Lemos no Porto), cujos responsáveis se mobilizaram para uma autonomização que viabilizou a diferenciação e a afi rmação da disciplina (Mello et al., 2001). Desse movimento, entrosado num outro

ÁLCOOL: ENQUADRAMENTO NORMATIVO, INSTITUCIONAL E EPIDEMIOLÓGICO

34

CBA Portugal 2001-2007

promovido pela OMS-EURO, nasceram, em 1988, os Centros Regionais de Alcoologia (CRA), integrados na rede de serviços de saúde mental.

Em 1995, Portugal subscreve a Carta Europeia sobre o Álcool promovida pela OMS, apesar de não ter assumido nenhuma das dez estratégias ai anunciadas; é preciso esperar por 1998 ano em que, no plano “Saúde em Portugal, uma estratégia para o virar do Século (1998-2002)”, o Governo propõe-se baixar, em quatro anos, o consumo anual de álcool para menos de dez litros per capita, e reduzir em dez por cento os acidentes laborais e de tráfego relacionados com a bebida, as admissões nas urgências e os internamentos hospitalares.

Em 1999, através da Resolução do Conselho de Ministros 40/99, de 8 de Maio, fi cou estabelecido um primeiro compromisso Governamental articulado sobre a matéria, tendo sido criada uma comissão interministerial incumbida de apresentar um Plano de Acção de Luta contra o Alcoolismo (PALA), onde se propunham medidas como 1) a taxação de um por cento sobre o preço de cada bebida que reverteria para o tratamento de doenças relacionadas com o consumo, 2) a defi nição de uma idade mínima legal para a aquisição e o consumo, 3) o alargamento do período de proibição de publicidade na televisão e na rádio, entre outras, no entanto, a maioria das medidas ainda não foi implementada.

Através de um trabalho de concertação entre a Direcção Geral de Saúde (DGS) e o Gabinete Ministerial, passou a haver uma melhor coordenação das respostas ao tratamento e prevenção do alcoolismo, como, por exemplo: a revisão da regulamentação sobre a condução rodoviária sob o efeito de álcool e de outros psicotrópicos, levada a efeito por um grupo de trabalho misto dos Ministérios da Administração Interna e da Justiça; a aprovação do Plano de Acção Contra o Alcoolismo (PACA) através da resolução do Conselho de Ministros 166/2000 e da publicação do Decreto-Lei 318/2000, em que se revêem as estruturas orgânicas e funcionais dos CRA, defi ne-se a sua articulação com os Serviços de Saúde Mental e cria-se, integrada na Rede de Referenciação Hospitalar da Saúde Mental, a Rede Alcoológica, que articula funcionalmente os CRA e os Serviços Locais de Saúde Mental, para, concertadamente, apoiarem os Centros da Saúde.

O PACA, primeiro compromisso governamental estruturado e abrangente sobre o consumo, venda e intervenção integrada dos PLA, contempla, nomeadamente, a vertente de promoção e educação para a saúde (como vertente nuclear); a vertente clínica e de investigação (esta numa perspectiva sobretudo epidemiológica) e a vertente de regulamentação e fi scalização, procurando viabilizar, de modo prático, o combate ao consumo excessivo ou inconveniente de álcool.

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Capítulo II. O Consumo de álcool na literatura científi ca

1. Introdução

O álcool tem sido discutido no meio académico, desde o século XIX, como um

problema e é actualmente mais tratado no campo das ciências físicas: biomédica, química e

de pesquisa genética. As ciências sociais continuam a ter um lugar relativamente periférico

neste campo e o que é feito é ainda, na sua maioria, na perspectiva patológica, sendo no

essencial considerados os consumos problemáticos. Apesar de muitos estudos continuarem

com este cariz, novas orientações de pesquisa começam a integrar o estudo dos consumos

problemáticos no contexto dos outros tipos de consumo. Esta orientação, que é seguida no

nosso próprio estudo, justifi ca-se pela necessidade de colocar em perspectiva os consumos

problemáticos em relação aos consumos em geral. No nosso caso procuramos, ainda,

através de uma abordagem sociológica, conhecer as características dos consumidores que

se perfi lam por detrás dos consumos.

Neste capítulo, damos conta das principais fontes de indicadores estatísticos sobre a

questão e das orientações da tradição de estudos na qual nos inserimos.

2. Indicadores de consumo de álcool a nível mundial

A monitorização dos níveis e padrões de consumo de álcool a nível mundial é

sobretudo feita a partir de estimativas obtidas através da contabilização da produção e

das trocas comerciais de bebidas alcoólicas, e não através de estudos realizados pelas

autoridades de saúde (WHO, 1999).

No geral, os dados relativos ao volume de vendas de bebidas alcoólicas são uma

das fontes mais fi áveis para estimar a quantidade de álcool consumido por uma população

num determinado tempo de referência. Estes dados são facilmente disponíveis, tendo em conta que os valores relativos aos impostos da venda de bebidas alcoólicas são acessíveis através dos organismos dos Governos ou das entidades competentes. Há contudo que ter em atenção que a compra de bebidas alcoólicas estimadas através destes indicadores, não se traduz necessariamente por consumos durante os períodos de referência, particularmente quando se trata de vinhos de qualidade ou em bebidas espirituosas mais caras. A outro nível, estratégias comerciais e sobretudo a produção e o comércio clandestinos de bebidas alcoólicas podem enviesar este tipo de estatísticas que os organismos que as produzem nem sempre conseguem corrigir.

ÁLCOOL: ENQUADRAMENTO NORMATIVO, INSTITUCIONAL E EPIDEMIOLÓGICO

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A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) publica as estatísticas mais completas e disponíveis sobre a produção e consumo de cerveja, vinho e bebidas espirituosas destiladas. A FAO baseia-se nas informações que lhe são fornecidas pelos países membros produzindo estatísticas que permitam comparar as situações aos níveis nacional e regional.

Também o United Nations Statistical Offi ce recolhe informações desde 1950 relativas aos movimentos de produção, importação e exportação de bebidas alcoólicas, entre outras informações. Estes dados são muitas vezes semelhantes aos fornecidos pela FAO, tendo, contudo, uma abrangência menor.

Para além destes dois organismos públicos, as próprias indústrias de bebidas alcoólicas podem constituir igualmente fontes de dados de um grande interesse, utilizadas por associações e empresas de estudos de mercado para monitorizar as tendências globais de produção, comercialização e consumo de bebidas alcoólicas. O World Drink Trends (1997), compilado pelo Dutch Distiller’s Association com base em cerca de 100 fontes publicadas e não publicadas, incluindo os dados das Nações Unidas e da FAO, produz estatísticas relativas a 57 países. Para todos eles, o World Drink Trends informa sobre o consumo e produção de bebidas alcoólicas, quer sejam produções caseiras, produção ilícita, consumos realizados por turistas, vendas livres de imposto, tráfi co fronteiriço e contrabando. O United Kingdom Brewers e a Licensed Retailers Association publicam anualmente o Statistical Handbook onde são registados dados relativos à produção de bebidas espirituosas destiladas e de vinho em 44 países e de cerveja em 136 países, embora se registem algumas falhas ao longo dos anos.

Nos Estados Unidos, empresas de estudos de mercado que trabalham para as indústrias de bebidas alcoólicas, como a Shanken Communications, a Datamonitor (1994) a Q-mulative Research (1996), disponibilizam estudos sobre as tendências dos mercados em que operam (Cfr. Spirits Report, 1995).

Várias instituições sintetizam estas estatísticas para construírem tendências mundiais de consumo de álcool numa perspectiva de saúde pública. A Foundation for Alcohol Studies publicou os dados recolhidos entre 1960 e 1972, a Addiction Research Foundation em Toronto, os que foram produzidos entre os anos de 1970 a 1977. Em 1985 a Organização Mundial de Saúde publicou uma síntese das tendências verifi cadas na produção global de álcool nos países das Nações Unidas. Em 1994 o Addiction Research Foundation publicou o International Profi le: Alcohol and Other Drugs, em colaboração com a Organização Mundial de Saúde. O European Regional Offi ce da Organização Mundial de Saúde produziu recentemente um conjunto de modelos de perfi s para descrever consumidores e problemas decorrentes do consumo de álcool nos países europeus. Estes perfi s servem para a monitorização da estratégia do European Alcohol Action Plan.

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A OMS, centrando-se na recolha e apresentação de dados provenientes de países europeus e de outras regiões do mundo, desenvolveu o Global Status Report on Alcohol, que inclui estimativas relativamente ao consumo adulto per capita de bebidas alcoólicas, integrando uma combinação de estimativas nacionais e regionais, dados de indústrias, da FAO, e da UN Statistical Offi ce.

De todas as substâncias psicoactivas, o álcool é a mais consumida, estimando-se que cerca de 2 biliões de pessoas no mundo (num total de 6,7 biliões) consumam bebidas alcoólicas.

Número de Países Incluídos

Total de Consumo de Álcool Per Capita (2002)

Europa Ocidental 20 7,80 União Europeia 15 9,04 Europa do Leste 10 7,08 América Latina 10 4,07 América do Norte 2 6,82 Ásia Austral 2 7,13 Resto do Mundo 13 2,48

TOTAL 72 3,87

Fonte: World Drink Trends, 2005

Os estudos desenvolvidos apontam para um quadro global em que os consumos per capita de álcool entre a população com idade superior a 15 anos são mais elevados nas regiões do globo com maior desenvolvimento económico. No entanto, na maior parte dos países destas regiões, nomeadamente na região europeia, o consumo per capita de álcool tem sofrido um decréscimo rápido desde o início da década de 1980.

Na região do Pacífi co Ocidental e nos países da Europa Central e de Leste, tem--se verifi cado o inverso, o consumo per capita de álcool revela um aumento lento mas sustentado desde a década de 1970 (WHO, 1999). As regiões Africana, Mediterrânea e Americana parecem manter consumos essencialmente estáveis (WHO, 1999).

Tabela 1. Consumo total de álcool puro por regiões do mundoTabela 1. Consumo total de álcool puro por regiões do mundo

ÁLCOOL: ENQUADRAMENTO NORMATIVO, INSTITUCIONAL E EPIDEMIOLÓGICO

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Gráfi co 2. Dez principais consumidores mundiais de vinho (2003)

Como já deixava adivinhar a análise por regiões, podemos constatar que os dez principais países consumidores de álcool puro a nível mundial se situam no continente Europeu. Se considerarmos a análise por tipo de bebida alcoólica consumida (vinho, cerveja e bebidas destiladas), apesar de os países do continente Europeu serem em maior número, e sempre nos lugares cimeiros, surgem entre os dez principais consumidores países de outros continentes, como se pode verifi car nos gráfi cos abaixo.

Gráfi co 1. Dez principais consumidores mundiais de álcool puro (2003)

Fonte: World Drink Trends, 2005

Fonte: World Drink Trends, 2005

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Gráfi co 3. Dez principais consumidores mundiais de cerveja [+Portugal] (2003)

Gráfi co 4. Dez principais consumidores mundiais de bebidas destiladas [+Portugal] (2003)

Fonte: World Drink Trends, 2005

Fonte: World Drink Trends, 2005

3. Indicadores de consumo de álcool a nível nacional

Portugal surge reiteradamente entre os maiores consumidores de bebidas alcoólicas e de álcool a nível Europeu e Mundial, quando consultamos as estatísticas provenientes do comércio e da indústria. São no entanto escassas as fontes de dados e de informação de base populacional acerca do consumo de álcool existentes no nosso país (DEPS, 1990; DGS, 1998; INSA, 2000; Gameiro, 1998; Balsa et al, 2003, 2008). A par da Grécia, Irlanda, França e Bélgica, Portugal é o país Europeu com menor número de estudos especializados realizados especifi camente acerca do consumo de álcool e dos problemas a ele associados (Simpura et al., 2001).

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O Inquérito Nacional de Saúde (INS) é um instrumento de medida e de observação que recolhe dados de base populacional, gera estimativas sobre alguns estados de saúde e de doença da população portuguesa considerando variáveis associadas e a sua evolução ao longo do tempo. O questionário foi planeado e testado pela primeira vez entre 1980 e 1982. Nestes anos decorreram várias actividades preparatórias, incluindo um estudo piloto conduzido na área da grande Lisboa e numa área rural na região de Coimbra. Entre 1983 e 1985 foram conduzidos inquéritos diversos, em pequena escala, na região Metropolitana de Lisboa. O Primeiro Inquérito Nacional de Saúde cobrindo o continente português foi realizado em 1987. Até à data foram realizados quatro Inquéritos Nacionais de Saúde (1987, 1996, 1999 e 2005) utilizando amostras probabilísticas representativas da população de Portugal Continental. Apenas na sua última aplicação o Inquérito abrange todo o território nacional. Os Inquéritos Nacionais de Saúde permitem construir alguns indicadores de base populacional da frequência declarada pelos entrevistados do consumo de vários tipos de bebidas alcoólicas nos 12 meses e nos sete dias anteriores à entrevista, bem como do volume consumido nos sete dias anteriores à entrevista (DEPS, 1990; DGS, 1998; INSA, 2000). Utilizando estes dados foi possível estudar as prevalências de consumidores de bebidas alcoólicas no ano anterior à entrevista, 1987, 1995/96, 1998/99 e 2005/2006 e na semana anterior à entrevista, desagregadas por grupo etário, sexo e região em 1995/96, 1998/99 e 2005/2006. Por outro lado, utilizando os valores de frequência e de volume de consumo referidos pelos entrevistados e os teores em etanol defi nidos pela Tabela Nacional de Composição de Alimentos, foi também possível obter uma estimativa do consumo de álcool puro, expresso em gramas de etanol, para cada uma das pessoas entrevistadas que declararam ter consumido algum tipo de bebida alcoólica na semana anterior à entrevista (Matias Dias, 2003).

Outros estudos realizados em amostras da população portuguesa em 1987, 1991 e 1997, permitiram aprofundar o estudo dos padrões e das motivações para o consumo de bebidas alcoólicas, complementando, assim, os indicadores obtidos pelos Inquéritos Nacionais de Saúde (Gameiro, 1998).

Apesar de, anteriormente, terem sido realizados estudos esporádicos em amostras populacionais de menor dimensão (DGS, 2001), os dados relativos aos consumos de bebidas alcoólicas pela população mais jovem em Portugal provêm, essencialmente, dos estudos elaborados no âmbito do projecto ESPAD – European School Survey Project on Alcohol and other Drugs, em 1995, 1999, 2001, 2003 e 2007.

Os Estudos em Meio Escolar iniciaram-se em Portugal no ano lectivo de 1986/87 (Machado Rodrigues, 1994). Em 1987 (Machado Rodrigues, 1988) e 1988 (Machado Rodrigues e Antunes, 1989) foi realizado um estudo-piloto (não representativo da região) em 12 escolas do ensino ofi cial da Grande Lisboa e, simultaneamente, decorreu o projecto Estudos em Meio Escolar do Grupo Pompidou, que tinha por objectivo desenvolver uma metodologia comum entre os países participantes.

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Em 1989 foi realizado um inquérito às escolas de Portugal Continental (Machado Rodrigues e Mendes, 1994). A amostra foi representativa para os 7.º, 8.º e 9.º anos de escolaridade do ensino ofi cial.

Em 1992 realizou-se um estudo representativo para a Grande Lisboa (Machado Rodrigues, 1993), para os 7.º, 8.º e 9.º anos de escolaridade, e em 1995 (Machado Rodrigues et al., 1996a) foi realizado um estudo representativo para Portugal Continental a nível dos mesmos anos de escolaridade.

Em 2001 e em 2007 são aplicados os Inquéritos Nacionais em Meio Escolar (INME) (Feijão & Lavado, 2003, 2009). Estes têm por objectivo principal fornecer informação útil ao nível das intervenções no terreno. Apresentam uma amostra global composta por diversas subamostras que asseguram a representatividade a nível nacional, regional e local para a população escolar do ensino público do 3.º ciclo do ensino básico (7.º, 8.º e 9.º anos de escolaridade) e do ensino secundário (10.º, 11.º e 12.º anos de escolaridade).

Em 2003 e 2007 aplicam-se os inquéritos do Estudo sobre o Consumo de Álcool, Tabaco e Drogas (ECATAD) (Feijão & Lavado, 2006, 2009). O objectivo deste passa por fornecer informação representativa a nível nacional para os alunos do ensino público com idades compreendidas entre os 13 e os 18 anos (em ambos os casos, inclusive).

Em 1994 realizou-se o primeiro estudo-piloto da Equipa do Projecto Aventura Social e Saúde, integrado na rede internacional do Health Beahviour in School-aged Children/Organização Mundial de Saúde (HBSC/OMS). Realizou-se posteriormente em 1994, 1996, 1998, 2001/2002 e 2006.

Aires Gameiro começou por fazer pequenas investigações sobre o consumo de álcool cujos resultados apresentou em 1985 e que continuou com a posterior realização do seu primeiro inquérito nacional aos hábitos de beber dos portugueses – Hábitos de Consumo de Bebidas Alcoólicas em Portugal (Gameiro, 1986). Prosseguiu o seu investimento alargando a sua pesquisa não apenas às prevalências de consumo, mas também às razões que levam a beber ou a não beber, resultados que serão apresentados no inquérito em Portugal Continental de 1991 (Gameiro, 1991). Em 1997 a análise estende-se aos Açores e Madeira, com a ressalva, feita pelo próprio autor, das defi ciências da amostra nas Regiões Autónomas, defi ciências essas que vão ser colmatadas com o desenvolvimento de um questionário aplicado exclusivamente nas ilhas (Gameiro, 1997).

Em 2001 e em 2007 foram aplicados dois inquéritos à população geral sobre o consumo de substâncias psicoactivas em Portugal, onde uma das substâncias analisadas foi o álcool. Este estudo foi desenvolvido pelo CEOS – Investigações Sociológicas a pedido do IDT – Instituto da Droga e da Toxicodependência, tendo como objectivo principal estimar a prevalência do uso de substâncias psicoactivas.

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Tabela 2. Estudos realizados com representatividade para Portugal Ou Portugal Continental

Ano Estudo

1985 Hábitos de Consumo de Bebidas Alcoólicas em Portugal. Aires Gameiro

1987 I Inquérito Nacional de Saúde

1989 Estudos em Meio Escolar – Portugal Continental, 3.º Ciclo – 1989

1991 Hábitos de Consumo de Bebidas Alcoólicas em Portugal 1991. Aires Gameiro

1995 Estudos em Meio Escolar – Portugal Continental, 3.º Ciclo - 1995

1995 Inquérito a Alunos do Ensino Secundário, Portugal Continental -1995

1995 ESPAD 1995 (European School Survey Project on Alcohol and other Drugs) - Portugal

1996/1997 II Inquérito Nacional de Saúde

1997 Hábitos de Consumo de Bebidas Alcoólicas em Portugal 1997. Aires Gameiro

1998/1999 III Inquérito Nacional de Saúde

1999 ESPAD 1999 (European School Survey Project on Alcohol and other Drugs) - Portugal

2001 Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoactivas na População Portuguesa 2001

2001 Inquérito Nacional em Meio Escolar (INME) – 2001 – 3.º Ciclo e Secundário. Consumo de drogas e outras substâncias psicoactivas, uma abordagem integrada.

2003 ESPAD 2003 (European School Survey Project on Alcohol and other Drugs) - Portugal

2003 Estudo sobre o Consumo de Álcool, Tabaco e Drogas (ECATD) – 2003. Alunos dos grupos etários dos 13 aos 18 anos.

2005/2006 IV Inquérito Nacional de Saúde

2006 Inquérito Nacional em Meio Escolar (INME) – 2001 – 3.º Ciclo e Secundário. Consumo de drogas e outras substâncias psicoactivas, uma abordagem integrada.

2007 Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoactivas na População Geral, Portugal 2007

2007 ESPAD 2007 (European School Survey Project on Alcohol and other Drugs) - Portugal

2007 Estudo sobre o Consumo de Álcool, Tabaco e Drogas (ECATD) - 2007. Alunos dos grupos etários dos 13 aos 18 anos.

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A cultura europeia mediterrânica, enquadrada pela religião dominante (o catolicismo), ao longo dos séculos integrou socialmente a produção, transformação e comercialização vitivinícolas. Portugal enquadrava-se no modelo de consumo que Jellineck (1960) denominou de mediterrânico, sendo este caracterizado como sendo diário, sobretudo de vinho e respectivas destiladas, com indução de dependência e eventuais ingestões intoxicantes agudas.

Até à década de 70, o consumo quase se esgotava no vinho e um pouco com as resultantes da sua destilação, as aguardentes e bagaços, por parte de homens adultos. Os vinhos fi nos e as bebidas destiladas ou espirituosas, sobretudo importadas, eram consumidos, geralmente, apenas em acontecimentos ou dias festivos. Também a cerveja era, até este momento, um produto ao alcance de poucos.

Do ponto de vista das dinâmicas sociais importa salientar algumas transformações que têm marcado as últimas quatro décadas da sociedade portuguesa. Como referem Almeida et al., nos anos 60 a população portuguesa era ainda, em grande medida, uma população rural dedicada a formas de agricultura tradicionais quer de assalariado precário (sobretudo a Sul) quer de pequeno campesinato proprietário ou rendeiro (predominantemente nas regiões do Centro e Norte). As taxas de natalidade eram altas e o perfi l demográfi co era caracterizado por uma população jovem ou pouco envelhecida. A taxa de analfabetismo ultrapassava os 30%, e 60% da população não atingia sequer o 4.º ano de escolaridade.

Com o 25 de Abril de 1974, e os anos que se lhe seguiram, ocorreram profundas mudanças na sociedade portuguesa. Passou a haver um maior poder de compra nos vários estratos sociais, a classe média engordou e criaram-se novos hábitos. Passou a haver uma maior disponibilidade de produtos, passou a haver um maior consumo, ou pelo menos mais diversifi cado. Desde essa altura, no plano geográfi co, intensifi caram-se os fenómenos de desruralização, desertifi cação e litoralização aos quais se associam importantes mudanças nos modos de vida da população (Almeida, et al., 2007). A própria composição social foi signifi cativamente alterada, registando fortes impactos nos perfi s de escolaridade e socioeconómicos da população.

A par destas mudanças, e fruto de decisivas recomposições socioeducativas e socioprofi ssionais, o estatuto social das mulheres modifi cou-se, com uma quase triplicação da taxa de actividade profi ssional feminina, desde 1960 (Almeida, et al., 2007). Com efeito, salientam-se ainda alterações na vida familiar e conjugal, assistindo-se (sobretudo a partir da década de 70, com a difusão dos ideias democráticos e de liberdade) a uma maior adesão aos valores da igualdade de género e aos ideais de companheirismo e afectividade na vida privada (Aboim, 2006). O princípio da igualdade entre homens e mulheres em todos os domínios consagrado na Constituição de 1976 veio posteriormente a ser aplicado na legislação específi ca sobre o matrimónio (1978), o trabalho (1979), e o poder paternal

ÁLCOOL: ENQUADRAMENTO NORMATIVO, INSTITUCIONAL E EPIDEMIOLÓGICO

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CBA Portugal 2001-2007

(1995). No entanto, sabe-se que as práticas sociais podem antecipar-se às normas jurídicas, segui-las ou adaptar-se-lhes segundo estratégias diversifi cadas, o que neste caso, ainda se está longe da uniformização das atitudes, dos comportamentos e dos valores. Mas é um facto que as relações e as representações de género estão a mudar na sociedade portuguesa. De acordo com vários estudos recentes6, verifi cou-se que os padrões sociais masculinos e femininos têm vindo a evoluir no sentido de uma parcial homogeneização, na medida em que se atribuem às mulheres características secundárias tradicionalmente conferidas aos homens, como a capacidade de trabalho, a inteligência, a força, enquanto aos homens se atribuem características também secundárias ligadas ao domínio afectivo que, no passado, pertenciam exclusivamente ao estereótipo feminino. A elevação da escolaridade obrigatória de 4 para 6 e, mais recentemente, para 9 anos, a massifi cação do ensino secundário e o alargamento do universitário, a difusão dos meios de comunicação de massas, a globalização da economia e da comunicação, o turismo de massas, o retorno dos migrantes, a integração na CEE e as mudanças nas práticas sociais daí decorrentes são poderosos factores de homogeneização de condutas e de valores.

Nas últimas quatro décadas as transformações espaciais, demográfi cas e socioprofi ssionais ocorridas na sociedade portuguesa foram de tal ordem que alteraram a confi guração do país, levando Machado Pais e Firmino da Costa (1998:17) a falar de uma “mudança estrutural”. Neste processo vasto de mudança estrutural as transformações de natureza política (normalização democrática) e cultural (difusão alargada de novos valores e estilos de vida) surgem como efeitos e factores de alteração profunda das estruturas sociais (ibidem).

Portugal, e praticamente todos os países europeus do mediterrâneo, é um país de longa tradição vitivinícola. O consumo de vinho incorporou-se nos nossos rituais e tradições e faz parte da chamada “dieta mediterrânea” exercendo uma poderosa infl uência em diversos sectores económicos de grande importância: turismo, restauração, divertimento, indústria produtora, etc. Foi nesta cultura europeia mediterrânea, que ao longo dos séculos se integrou socialmente a produção, transformação e comercialização vitivinícola (Carvalho, 2002).

Admitindo o importante papel que o vinho tem tido no desenvolvimento da nossa cultura e tradições, nas últimas décadas tem sofrido profundas transformações que tem infl uenciado decisivamente os modos e formas de beber. Em Portugal, temos vindo a assistir ao aumento do consumo de cerveja em detrimento do vinho e a concentração dos

6 Ver, entre outros: Perista, Heloísa (2002). Os tempos das mulheres e os tempos dos homens, Análise Social, vol. XXXVII (163), Lisboa: ICS-UL.; e, Aboim, S. (2006). Conjugalidade em Mudança, Lisboa: ICS.

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consumos em fi ns-de-semana, basicamente com fi ns recreativos e especialmente entre a população jovem.

Para Carvalho (2003) após a década de 70 a melhoria do poder de compra e a liberalização dos costumes contribuíram para a progressiva agressividade das cervejeiras e das empresas de comercialização de bebidas destiladas e cria novos hábitos, nomeadamente a indução do consumo de álcool progressivamente disseminado entre jovens e mulheres, entre outros factores. O aumento da sociedade de consumo e a globalização vieram aumentar o leque de bebidas disponíveis concomitantemente com um discurso anti-álcool, mal aceite por alguns sectores. A publicidade, em revistas e cartazes, a televisão, envolvem os indivíduos na ideia de que a bebida alcoólica traz prestígio, poder, sedução, afi rmação pessoal, alegria, bem-estar, sensações fortes.

O uso de bebidas alcoólicas começa a ser um problema social, colectivo, quando acontecem circunstâncias sociais e culturais que por um lado fomentam e tornam possível o seu uso generalizado com todas as suas consequências e por outro lado se desenvolvem atitudes contrárias de repúdio incompatíveis com o uso considerado excessivo e inclusivamente com qualquer uso de álcool. O consumo de álcool em Portugal é agora visto como constituindo um grave problema de saúde pública, podendo interferir simultaneamente na vida pessoal, familiar, escolar, ocupacional e social do consumidor.

Entre nós durante décadas, o consumo tradicional do álcool foi quotidiano, praticamente exclusivo dos homens, com uma enorme componente social e essencialmente protagonizado pelo vinho. Naturalmente que o facto de sermos um dos maiores produtores mundiais de vinho associados a mitos e preconceitos (“o vinho aquece”, “o vinho dá força”) e em certas regiões servindo de pagamento complementar da jorna e utilizado como alimentação pobre (“sopas de cavalo cansado”) justifi ca, em certa medida, que sejamos também um dos maiores consumidores europeus de álcool per capita. Como referimos anteriormente, o âmbito de consumo de álcool alargou-se, particularmente aos combinados, às bebidas destiladas e à cerveja (Oliveira, 2001). No entanto, têm-se registado alterações, quer nas frequências, quer nas quantidades, quer nos padrões. Vejamos o que nos dizem alguns estudos realizados sobre o consumo de álcool em Portugal.

De acordo com o Inquérito Nacional de Saúde de 1998/1999, cerca de 60% da população com 15 ou mais anos de idade residente em Portugal Continental, declarou ter consumido pelo menos uma bebida alcoólica nos 12 meses anteriores à entrevista, sendo a frequência nos homens (82,2%) muito superior à observada nas mulheres (45,8%). Esta prevalência era mais elevada na região Norte (68,8%) e mais baixa no Algarve (55,7%) e Alentejo (42,8%), aparentemente devido à menor percentagem de mulheres consumidoras nessas regiões (INSA, 2000; Matias Dias et al., 2003).

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Considerando os Inquéritos Nacionais de Saúde realizados no território Continental em 1987, 1995/1996 e 1998/1999, a percentagem de consumidores do sexo masculino terá decrescido em todas as Regiões, observando-se, no entanto, aumentos na prevalência de consumidores pertencentes aos grupos etários extremos (15-17 anos e mais de 75 anos).

Já no sexo feminino terá ocorrido um ligeiro aumento na prevalência de consumidoras, com alguma diminuição nas regiões do Norte, Centro e Lisboa e Vale do Tejo e forte aumento nas regiões do Alentejo e Algarve (no Alentejo em todos os grupos etários e no Algarve a partir dos 35 anos de idade) (Matias Dias et al., 2003).

Aires Gameiro, por seu lado, sugere que cerca de um terço da população nunca tenha consumido, ou tenha deixado de consumir, bebidas alcoólicas e que um terço da população consuma habitualmente álcool e, fi nalmente, que um terço consome bebidas alcoólicas a todas, ou quase todas, as refeições (Gameiro, 1998). Este estudo encontrou as seguintes estimativas em maiores de 15 anos para o País, incluindo as Regiões Autónomas: 58.000 doentes alcoólicos (síndrome de dependência de álcool), isto é, cerca de 7% da população nacional; 750.000 bebedores excessivos (síndrome de abuso de álcool), equivalente a 9,4% da população nacional (Gameiro, 1998).

Entre a população escolar portuguesa, estima-se que a prevalência de problemas ligados ao álcool se situe entre 10% e 20%, em alunos universitários (Breda, 1999). Por seu lado, dos alunos do ensino secundário, com idade média de 16 anos, entre 18% e 20% ter-se-ão embriagado durante o ano anterior ao estudo.

Numa série de inquéritos em meio escolar realizados entre 1987 e 1993 em escolas públicas de diversas regiões portuguesas, estimou-se que 60% dos jovens com idade entre os 12 e os 18 anos já tivesse consumido bebidas alcoólicas alguma vez durante a vida e que entre 27% e 42% o tivesse feito durante os 30 dias anteriores (Machado-Rodrigues et al., 1994).

Uma fonte importante de dados e de informação para a monitorização do consumo de bebidas alcoólicas na população jovem têm sido os inquéritos realizados no âmbito do projecto ESPAD (European School Survey Project on Alcohol and Drugs). De acordo com os dados obtidos no ESPAD de 1999, a prevalência de consumo de pelo menos uma bebida alcoólica ao longo da vida destes jovens era de 78%, enquanto a prevalência de consumo, nos 30 dias anteriores ao inquérito, era de 49%. No mesmo período de referência, o consumo mais elevado foi o de cerveja (44% dos alunos), enquanto o consumo de bebidas espirituosas e de vinho foi mencionado por, respectivamente, 37% e 15% dos alunos.

Ainda de acordo com o último inquérito ESPAD referido, os indicadores de consumo excessivo de álcool, revelaram que cerca de 3% dos jovens indica ter tido experiências de

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embriaguez “20 vezes ou mais ao longo da vida”, enquanto 4% referiu ter-se embriagado 3 ou mais vezes durante o mês anterior ao inquérito.

O padrão de consumo de bebidas alcoólicas em grande quantidade e num curto espaço de tempo (5 ou mais bebidas “de seguida” em pelo menos 3 ocasiões nos 30 dias anteriores ao estudo) foi referido por cerca de 7% dos jovens inquiridos, enquanto 9% referiu a ingestão de 10cl de bebidas espirituosas e 8% mais de 100cl de cerveja durante a última ocasião em que consumiram bebidas alcoólicas (IPDT, 2001).

Relativamente às idades de início do consumo, cerca de 45%, 30% e 28% dos alunos tiveram a sua primeira experiência de consumo, respectivamente de cerveja, de vinho e de bebidas espirituosas, até aos 13 anos de idade.

Comparando os inquéritos ESPAD efectuados em 1995 e 1999, verifi ca-se uma estabilidade do consumo de cerveja e de vinho, e um aumento do consumo de bebidas espirituosas. Preocupante é, também, a maior frequência de situações de embriaguez e de consumos concentrados no tempo reportadas pelos jovens (tomar 5 ou mais bebidas de seguida) comparativamente com o observado em 1995. Refi ra-se, ainda, a estabilização da percentagem de jovens que referiu o início de experiências abusivas de consumo de álcool em idades precoces (até aos 13 anos), facto referido por 12% dos jovens (14% dos rapazes e 9% das raparigas) (IPDT, 2001).

Comparativamente com os dados gerados pelos inquéritos ESPAD noutros países, Portugal continua a ser um dos países Europeus em que este grupo populacional específi co tem menores prevalências de consumo de álcool e, sobretudo, em que uma menor percentagem de alunos tem padrões de consumo abusivo de álcool (IPDT, 2001).

De acordo com os dados recolhidos através do Inquérito Nacional de Saúde, efectuados durante 1998/1999 em Portugal Continental, o consumo médio de etanol por português era maior no sexo masculino (47.3g de etanol) do que no sexo feminino (17,1g de etanol), sendo os valores mais elevados observados no grupo etário 35 a 44 anos, tanto nos homens como nas mulheres (Matias Dias et al., 2003).

Ainda com base na quantifi cação do volume de etanol obtida a partir dos dados do Inquérito Nacional de Saúde de 1998/1999, é possível estimar em aproximadamente um milhão e duzentos mil o número de homens que em Portugal Continental têm um consumo médio diário de etanol acima de 37,8 gramas. Da mesma forma o número de mulheres que em Portugal Continental têm um consumo médio diário de etanol acima de 12,1 gramas será de, aproximadamente, quatrocentas e quinze mil (Matias Dias, 2003).

A informação obtida através da análise dos dados da produção industrial e do comércio indicam que o consumo médio de álcool per capita em Portugal foi de 10,8 litros no ano

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de 2000. Portugal, ocupava, assim, a terceira posição entre os maiores consumidores de álcool a nível mundial, apenas ultrapassado pelo Luxemburgo (12,1 litros) e Roménia (11,7 litros) (Produkschap Voor Gedistilleerde Dranken, 2000).

Dados da mesma fonte permitem apreciar a evolução dos volumes consumidos per capita em Portugal desde 1961 (12,2 litros de álcool) com valores máximos observados em 1971 (14,3 litros de álcool).

A importância relativa da cerveja como bebida cada vez mais consumida é também revelada por dados desta fonte. De facto, entre 1961, ano em que eram consumidos cerca de 4,9 litros de cerveja per capita, e o ano 2000, em que foram consumidos 65,3 litros de cerveja per capita em Portugal, o volume de cerveja consumido em média por cada português durante um ano terá aumentado mais de catorze vezes.

Gráfi co 5. Evolução do consumo per capita de álcool puro em Portugal (1980-2003)

Fonte: World Drink Trends, 2005

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Capítulo III – Epidemiologia dos consumos de álcool

1. Introdução

A palavra epidemiologia tem origem etimológica no grego e signifi ca conhecimento ou estudo (logos) sobre (epi) a população (demos).

Durante o século XIX a estratégia epidemiológica tomou forma, sendo aplicada ao estudo das epidemias de doenças transmissíveis. No século seguinte a área de aplicação dos métodos e estratégias epidemiológicas alargou-se ao estudo das doenças não transmissíveis, dos programas de saúde e dos serviços de saúde.

Actualmente a defi nição de epidemiologia mundialmente aceite é a referida no Dicionário de Epidemiologia, patrocinado pela Associação Internacional de Epidemiologia (Last, 1988), como sendo o “estudo da ocorrência, da distribuição dos acontecimentos, problemas e estados de saúde em populações especifi cadas e dos seus factores determinantes, bem como a aplicação deste estudo ao controlo dos problemas de saúde.”.

O conhecimento epidemiológico do consumo de bebidas alcoólicas, dos padrões e volumes, das consequências agudas e crónicas, dos factores que o determinam, é de especial importância para o planeamento de políticas públicas.

Apesar de existirem problemas de natureza metodológica, culturas organizacionais e de serviços distintas e até modelos culturais diferentes que difi cultam a obtenção de estimativas quantifi cadas e comparáveis da prevalência e da incidência do consumo e dos seus padrões, dos problemas a ele associados e dos factores que determinam o consumo, diversos estudos têm sido realizados a nível mundial, europeu e nacional com a esperança de o conseguir. É verdade que nem sempre são consensuais os resultados apresentados, mas as tendências globais coincidem.

2. Problemas de defi nição e mensuração

2.1. Aspectos técnicos e metodológicos

2.1.1. Contextos, objectivos e dimensões dos estudos

No plano dos conteúdos, a difi culdade da comparação prende-se não só com a escolha dos indicadores susceptíveis de serem utilizados para medir os consumos, mas igualmente com as áreas disciplinares e as problemáticas utilizadas para os contextualizar. A maior parte dos países recolhe informações sobre o consumo de álcool nos inquéritos

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ao consumo de substâncias psicoactivas. É o caso do nosso questionário, mas também de países como a Áustria, a Alemanha, Bulgária, Espanha, Holanda, Irlanda, Itália, Lituânia, Malta, Noruega, Polónia. Na Inglaterra, o estudo dos consumos é enquadrado num inquérito sobre a criminalidade (British Crime Survey). Outros países optaram por recolher este tipo de informação através de inquéritos de saúde, tais como a Dinamarca, França, Grécia. Também Portugal recolhe alguns indicadores sobre o consumo de álcool através de inquéritos à saúde (Inquérito Nacional de Saúde, 1987, 1995/1996, 1998/1999 e 2005/2006). Países como o Brasil, a Eslováquia e a Noruega têm inquéritos em que a problemática de contextualização é o próprio álcool. Também em Portugal se verifi ca esta orientação com o estudo de Aires Gameiro, Hábitos de Consumo de Bebidas Alcoólicas em Portugal (1987, 1991 e 1997).

Todos estes estudos têm como objecto a população geral, quer dizer que eles não seleccionam previamente as suas populações alvo em função de uma qualquer relação com os consumos estudados. Eles visam, assim, medir a prevalência e a incidência dos consumos de substâncias e determinar os factores que lhes estão associados, podendo estes ser equacionados de maneira muito diferente de acordo com a orientação disciplinar ou problemática de estudo desenvolvidas pelos autores dos estudos.

2.1.2. A defi nição do universo de estudo

Embora haja uma preocupação de promover universos de estudo que permitam a comparação internacional dos resultados obtidos, este objectivo nem sempre é conseguido. Tendo em consideração o facto de que os comportamentos de consumo estão muito associados com a idade dos indivíduos, estudos realizados com base em coortes diferentes difi cilmente serão comparáveis.

Como é mencionado no estudo comparativo do European Monitoring Centre for Drugs and Drugs Addiction (EMCDDA, 1997), a idade dos respondentes é, por isso, um dos critérios mais geralmente considerado na defi nição dos universos de estudo. Não obstante os esforços feitos no sentido de conseguir resultados comparáveis, os limites mínimos e máximo de idade dos indivíduos entrevistados variam substancialmente de um estudo para outro. Na tentativa de homogeneizar metodologias e incrementar a comparabilidade de dados, o European Expert Group on Drug Use Surveys (EEDUS) propôs um intervalo de idades entre os 18 e os 59 anos, justifi cando o limite mínimo pela obrigação de recorrer à autorização dos pais no caso de jovens com menos de 18 anos, sendo mais tarde este intervalo alterado para os limites entre os 15 e os 64 anos. Esta proposta não corresponde, no entanto, às opções seguidas nos estudos grego e holandês, por exemplo, onde o limite mínimo de idade aplicado é de 12 anos. Também no inquérito nacional americano (SAMSHA)

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os 12 anos foram defi nidos como limite mínimo de idade. No caso do inquérito britânico foi adoptado como limite mínimo de idade os 16 anos. No estudo de Espanha considerou-se a população com 15 e mais anos de idade até 1997, tendo-se a partir daí passado a utilizar o intervalo dos 15-64 anos.

Existem países onde não se considera um limite máximo de idade, tais como a Dinamarca e a Polónia. Outros países, como a Bélgica, não existe restrições de idade, isto é, não existem limites mínimo nem máximo de idades.

A proposta do EEDUS quanto ao critério da idade mínima opta pela simplifi cação do trabalho de campo, mas tem por consequência a restrição do grupo alvo, precisamente nas idades cujo controlo de utilização de drogas é considerado crucial. Talvez por essa razão as recomendações da EMCDDA vão no sentido da adopção de um intervalo de idades comum, que seria dos 15 aos 64 anos (EMCDDA, 1999).

As comparações podem ainda ser prejudicadas pelo tratamento diferente dado a determinadas características das populações tais como a nacionalidade, a situação face ao serviço militar, os tipos de unidades de residência seleccionadas (individuais ou colectivas tais como hospitais, centros de tratamento, prisões, casernas…) inclusão ou não de populações “sem abrigo”, não-residentes não nacionais (a língua do questionário pode conduzir à exclusão de estrangeiros, como no caso alemão7).

Finalmente, a experiência dos diferentes inquéritos realizados aponta para a possibilidade de ponderar certos grupos da população, em função da importância que eles podem assumir para o estudo. Assim, a Espanha, a Holanda e a Grécia sobredi- mensionaram grupos da população mais jovens. No British Crime Survey as áreas centrais das cidades são sobredimensionadas em detrimento de outro tipo de áreas, aumentando, assim, o número de vítimas na amostra. No inquérito holandês optou-se por extrair amostras das quatro grandes cidades e de cinco estratos criados com base na densidade populacional. Neste inquérito, o grupo de idades 12-18 foi igualmente sobredimensionado.

2.1.3. Características da amostragem

No que respeita aos princípios metodológicos na base da defi nição das amostras utilizadas para realizar os estudos, a diversidade das experiências coloca-se ao nível das suas dimensões, das unidades de observação consideradas (indivíduos ou agregados), dos níveis de representatividade programados, na qualidade da base de sondagem e no modo de extracção da população de inquérito.

7 No entanto, o recurso a tradutores revelou-se pouco conclusivo num estudo holandês (Abraham et al., 1999).

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Os procedimentos de amostragem dependem muito das listagens da população disponíveis. As listagens de moradas dos agregados familiares são as mais utilizadas. A origem destas listagens pode variar, podendo ir de registos centrais da população, quando estes existem, até fi cheiros constituídos a partir dos códigos postais ou listagens de telefones. Outras alternativas existem, como no caso do nosso estudo, onde procedemos à selecção aleatória de lares, no interior de pontos amostrais (secções estatísticas) seleccionadas por sua vez de forma igualmente aleatória sobre todo o território nacional.

No estudo do uso de substâncias psicoactivas, em grande parte dependente dos estilos de vida e de contextos sociais particulares, as características da área residencial são de primeira importância. Por estas razões, a amostragem com estratifi cação multistage tendo por base uma estratifi cação das áreas residenciais tende a ser a mais frequente. Várias soluções têm sido utilizadas a este nível. Citaremos dois exemplos.

No inquérito holandês (Abraham et al., 1999), a amostragem realiza-se através de uma primeira tiragem de municípios, a partir do critério de “densidade de moradas” utilizado pela Statistics Netherlands, que se traduz em quatro tipos de áreas residenciais consoante a densidade populacional. Neste modelo de operacionalização, as grandes cidades são objecto de uma amostragem específi ca, encontrando-se seleccionadas a priori e, portanto, excluídas da amostragem segundo a densidade residencial. A classifi cação de áreas residenciais permite ainda controlar a representatividade das diferentes regiões nacionais.

No caso do inquérito nacional britânico (Ramsay; Spiller, 1997), a metodologia baseia--se nas regiões ACORN (A Classifi cation of Residential Neighbourhouds), que constituem uma classifi cação das áreas residenciais segundo factores demográfi cos, habitacionais e outros que têm a ver com a situação das populações face ao emprego.

Os resultados dos dois inquéritos são conclusivos no sentido da importância dos factores mencionados na explicação dos consumos de substâncias psicoactivas e demonstram assim a necessidade de promover um tipo de amostragem que tenha em conta as características das áreas residenciais.

O método amostral que mais se adequa ao cálculo da prevalência do consumo na população em geral parece ser, sob todos os pontos de vista exceptuando o custo, o da amostra probabilística. Quer pelas possibilidades de controlo do erro amostral e consequente determinação da margem de erro e dos intervalos de confi ança, quer pelo elevado número de indivíduos que, usualmente, é necessário entrevistar neste tipo de amostra. Esse elevado número de entrevistas possibilita alguma diversidade entre os consumidores das substâncias menos usuais, o que é, de forma geral, tido como um aspecto positivo em termos da qualidade da informação apurada.

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No caso dos estudos relativamente aos quais tivemos oportunidade de recolher informação sobre as suas orientações metodológicas, constatamos que invariavelmente foram utilizadas metodologias amostrais probabilísticas, ainda que distintas entre si. Amostras aleatórias simples realizaram-se nos países nórdicos, em França, na Bélgica, ou no Canadá, enquanto noutros países se optou por desenhos amostrais mais complexos, envolvendo múltiplas etapas, estratifi cação, sobre-dimensionamento e posterior ponderação, como em Espanha, Reino Unido, Holanda ou EUA e Portugal.

No inquérito realizado na Holanda (Abraham et al., 1999) procedeu-se, como vimos acima, a uma amostragem estratifi cada em função da densidade populacional. A amostra da população era composta por nove sub-amostras, em que quatro correspondiam às quatro maiores cidades holandesas, sendo representativas por si próprias de cada tipo de população em particular. As cinco outras sub-amostras representavam cinco estratos de

densidades populacionais diferenciadas, que cobriam todo o restante país. Este interesse

em dispor de amostras representativas das maiores cidades holandesas teve o efeito de as sobredimensionar, relativamente ao seu peso efectivo na população holandesa. Também a população do grupo de idades 12-18 foi sobredimensionada em todas as amostras, o que resultou na necessidade de proceder à sua ponderação a posteriori para que se obtivesse uma amostra representativa da população nacional.

França, não possuindo registos centrais da população, mas contando com uma taxa de cobertura telefónica muito boa, optou por realizar um inquérito telefónico também como forma de garantir a possibilidade de selecção aleatória. Procedeu-se a um sorteio aleatório de números de telefone, utilizando de seguida o método de Kish na selecção do indivíduo dentro do lar.

No Canadá (MacNeil e Webster, 1997), a amostra foi seleccionada utilizando um sistema de marcação telefónica aleatória. As diversas províncias (10) foram divididas em estratos. De uma forma geral, em cada uma delas um estrato representava as áreas metropolitanas e o outro, as restantes áreas (Toronto e Montreal apareciam como estratos independentes). Posteriormente procedeu-se à extracção de uma amostra aleatória de números de telefone em cada um dos estratos de cada província. Ao ser contactado o domicílio, todos os moradores eram identifi cados segundo o sexo, a idade e o estado civil, sendo entre eles sorteado aleatoriamente uma pessoa com mais de 15 anos.

Nos EUA (SAMSHA, 1998) o inquérito domiciliário que repetidamente se tem levado a cabo, tem garantido sempre a representatividade da população norte-americana com 12 ou mais anos, ainda que o tipo de amostragem se tenha alterado. Em 1997, foi utilizada uma amostra de áreas probabilística e multietápica. Num primeiro momento de selecção

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obteve-se uma amostra de unidades primárias de amostragem nacional; cada uma destas unidades era composta por unidades administrativas dos Estados ou grupos de áreas metropolitanas. No seu interior foram seleccionados segmentos (como quarteirões ou bairros). Em cada um desses segmentos foram listados todos os endereços existentes, de que foi extraída, por fi m, uma amostra. Dos endereços seleccionados, uma parte foi eleita como unidades de amostragem, nas quais os indivíduos foram seleccionados aleatoriamente (com probabilidades diferenciadas) através de um dispositivo que acompanhava os entrevistadores.

Em Espanha (Plan Nacional de Drogas) recorreu-se a uma metodologia em tudo semelhante à americana, tendo-se utilizado uma amostra probabilística, polietápica por conglomerados, em que a selecção das sucessivas unidades de observação se faz de forma aleatória ou aleatória proporcional. Estratifi cou-se primeiro a população das regiões, cruzando os seus concelhos com uma tipologia da dimensão do habitat. Determinou-se em seguida o número de entrevistas a realizar em cada estrato, dividindo-se esse valor pelos concelhos de forma equitativa. Seguidamente, dentro de cada concelho, efectuou-se a selecção das subsecções estatísticas de forma aleatória proporcional (pois possuem aproximadamente a mesma população), sendo elas os conglomerados. Nelas levou-se a cabo a selecção dos indivíduos, que se fez, primeiramente, por sorteio sistemático dentre a lista de lares existentes, e depois, dentro do lar, o respondente foi seleccionado mediante a utilização de uma tabela de números aleatórios. Assegurou-se assim que o inquiridor não teria nenhuma iniciativa na escolha nem dos lares nem dos indivíduos a entrevistar. A isto acrescia ainda não ser possível efectuarem-se substituições, para o que foi sorteado de início um número suplementar de alojamentos. Garantia-se, assim, o carácter probabilístico da amostra.

2.1.4. A selecção das técnicas de observação

Os modos de aplicação dos questionários a que se tem recorrido na investigação aos consumos de substâncias psicoactivas são diversifi cados, como na generalidade dos outros aspectos metodológicos a que se tem feito referência.

Os meios de inquirição mediados por sistemas informáticos, em que seja o respondente a operar com esses sistemas, oferecem a vantagem de aumentar a confi ança no anonimato, mas podem constituir um obstáculo em populações pouco familiarizadas com este tipo de tecnologia. No que se refere à entrevista telefónica, embora essa situação aumente a distância entre inquirido e inquiridor, podendo favorecer a confi ança para o tipo de inquérito a realizar, revela-se um factor de inefi ciência em entrevistas de maior extensão. Procedimentos como a inquirição por envio do questionário por via postal, têm sido pontualmente postos em prática mas, na percepção do inquirido, parecem pôr em

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causa o anonimato. A confi ança no anonimato das respostas pode ainda ser incrementada por procedimentos mistos como os utilizados no inquérito nacional dos EUA (SAMSHA), em que as questões consideradas mais pessoais são respondidas de forma privada e seladas pelo inquirido no momento da entrevista, sendo posteriormente enviadas por este por serviço postal. Outros autores optam ainda por processos mais tradicionais de inquirir, assentes num maior cuidado na formação dos inquiridores, no controlo rigoroso do trabalho de campo e com a utilização eventual de sistemas informáticos mas que são operados pelos técnicos e não pelos respondentes. No entanto, o recurso à entrevista directa, particularmente num inquérito ao consumo de substâncias psicoactivas, implica cuidados particulares na gestão da relação interpessoal entre entrevistados e entrevistadores e das situações de entrevista. Alguns países têm mesmo utilizado matched interviewers, ou seja, recorrem a entrevistadores com características socialmente próximas dos entrevistados, para alguns subgrupos populacionais.

Neste ponto torna-se interessante ter em consideração as conclusões a que chegou o estudo sobre prevalência de consumos na população geral8, promovido pelo Observatório Europeu e no qual o questionário foi aplicado utilizando três métodos distintos (postal, telefónico e face a face) em três países europeus (Holanda, Grécia e Suécia). Perante a diversidade dos resultados obtidos, a equipa de investigação concluiu não importar muito o tipo de técnica utilizada, uma vez que elas são responsáveis apenas por pequenas diferenças nos resultados obtidos. Bastante mais importante enquanto fonte de erro revela- -se ser a questão da não resposta, pois frequentemente ela está ligada a grupos específi cos. A equipa de investigação aconselha, como forma de resolver esta questão, que sejam aplicados diferentes métodos de inquirição em simultâneo pois, dessa forma, poder-se-ão corrigir distorções induzidas pelos tipos de não resposta que cada um dos métodos mais propicia. A utilização de métodos diversos implica maior variedade de distorções; porém, há razões para crer que o seu efeito será menos importante do que o provocado pela não resposta, que desta forma será reduzida.

2.2. Níveis, modos, circunstâncias e representações do consumo deálcool

2.2.1. Indicadores do consumo de álcool e dos seus contextos

A produção de dados de nível nacional sobre consumos de substâncias psicoactivas, quer lícitas – como é o caso do álcool – quer ilícitas, através de metodologias de inquérito

8 Winter, 1999.

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por questionário tem assentado, em vários casos, em intenções pragmáticas de medição da amplitude do problema social das drogas, nem sempre sustentadas por abordagens científi cas susceptíveis de problematizar o fenómeno investigado. Para além de visar a produção de uma boa base descritiva, parece-nos igualmente importante incluir no desenho do questionário preocupações de natureza teórica. Aliás, parece-nos que só a partir de uma base teórica se pode proceder à comparação internacional de resultados empíricos, necessariamente impregnados das condições muito diversas nas quais eles foram produzidos.

A um outro nível, a comparação internacional e o benefício que se pode tirar desta comparação para construir o instrumento de recolha exige mais do que uma leitura distraída dos vários protocolos de recolha utilizados. A acumulação de instrumentos de recolha a nível internacional torna possível proceder a uma comparação sistemática, não só das formulações das questões, mas de todas as dimensões dos indicadores de investigação que elas constituem (contexto, fi ltros, dimensões consideradas, condições de aplicação, modalidades de resposta, etc.). Este esforço foi feito com a construção de uma base de indicadores utilizados em inquéritos nacionais sobre o consumo de drogas.

Com o apoio desta informação, procurámos chegar a uma defi nição motivada dos indicadores utilizados, tanto no que respeita aos temas que relacionámos com os consumos, como no plano da possibilidade de comparação dos resultados do nosso estudo com os de outros estudos similares a nível internacional.

Pretendemos aqui apresentar uma visão geral dos itens, das questões e dos indicadores constantes nos inquéritos à população geral nacionais e em alguns estudos internacionais.

2.2.2. Prevalência e padrões de consumo

A inclusão de medidas de prevalência do consumo de álcool varia bastante de inquérito para inquérito. Muitas vezes, apenas a prevalência do consumo ao longo da vida é medido, outras vezes apenas a prevalência no último ano e/ou no último mês, e outros ainda utilizam a prevalência de consumo na última semana/últimos sete dias. O factor determinante para a escolha de uma destas medidas de prevalência parece ser o contexto e os objectivos do inquérito. Nos inquéritos ao consumo de substâncias psicoactivas, uma vez que são utilizadas as medidas de prevalência longo da vida, último ano e último mês para as substâncias ilícitas, como recomenda o Observatório Europeu das Drogas e Toxicodependências, alguns destes utilizam as mesmas medidas para aferir as prevalências das substâncias lícitas. É o caso dos inquéritos Português (2001 e 2007), Malta (2001), Holanda (1997), Áustria (2004), entre outros. Nos inquéritos de saúde a

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inclusão de indicadores de prevalência tendem a ser mais limitados. Na maior parte dos países em que se afere as prevalências do consumo de álcool em inquéritos nacionais de saúde, apenas a medida de prevalência no último ano é utilizada, sendo disso exemplo os Inquéritos Nacionais de Saúde portugueses e belgas.

Alguns peritos optam por não utilizar a prevalência de consumo de álcool ao longo da vida pois não o consideram um indicador signifi cativo uma vez que a abstinência do consumo de álcool é bastante diminuta (Hungria, Lituânia, República Checa). Outros países optam pelas três medidas de prevalência – longo da vida, último anos e último mês (Portugal, Holanda, Espanha). O último inquérito fi nlandês mede apenas a prevalência do consumo ao longo da vida e no último ano, enquanto o inquérito nacional de saúde francês mede a prevalência ao longo da vida, no último ano e na última semana. Os inquéritos de saúde dinamarquês e belga medem apenas a prevalência do consumo de álcool no último ano.

Como foi dito acima, a escolha das medidas de prevalência do consumo de álcool prende-se com o próprio contexto do inquérito e com os objectivos gerais e específi cos do estudo. Assim, enquanto o OEDT propõe no seu “questionário modelo” as medidas de prevalência do consumo de álcool no último ano e no último mês, a OMS propõe antes a medida de prevalência de consumo no último ano, ou quando existe oportunidade de alargar nos questionários o número de questões relativas ao consumo de álcool, a medida de prevalência ao longo da vida e no último ano.

Relativamente à frequência do consumo de álcool, esta é preferencialmente medida através dos períodos “último ano” e “último mês”. A medição da frequência do consumo de álcool ao longo da vida é rara, sendo utilizada nos inquéritos holandês e grego. Os países que inquerem sobre o consumo de álcool em inquéritos nacionais à saúde utilizam bastante a medida de frequência na última semana ou nos últimos sete dias. Segundo a OMS o indicador da frequência de consumo nos últimos sete dias faculta a possibilidade de termos o chamado exact recall. Este método, que se baseia na recolha da quantidade diária de consumo por dia nos últimos 7 dias anteriores à realização da entrevista, tem a desvantagem de impossibilitar a verifi cação dos consumos de longa data. Uma das vantagens reside na averiguação dos consumidores usuais e de consumos pesados, em vez da estipulação dos consumos ao longo da vida. Quando questionados acerca do consumo habitual ao longo de um determinado perído de tempo (geralmente longo) os inquiridos tendem a minimizar os consumos abusivos. Outra desvantagem na utilização da temporalidade “sete dias” reside no facto desta ser bastante sensível ao período em que o questionário é aplicado, podendo sobre ou subdimensionar a prevalência de consumo. Dai o indicador alternativo de “frequência de consumo na última semana”. De forma a contornar a questão dos abstinentes na última semana anterior à realização do questionário altera-

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se a questão para a referência última semana em que consumiu bebidas alcoólicas (não necessariamente que se refi ram à semana anterior à realização do inquérito).

Na maioria dos inquéritos, a frequência do consumo de álcool é medida pelo número de dias no último ano, pelo número de vezes durante o último mês, ou pela frequência média no último mês. Alguns países (França, Bélgica) fazem a distinção entre os dias da semana e os dias do fi m-de-semana.

Em relação ao indicador quantidade de consumo, são menos os estudos a utilizá- -lo. A Alemanha e o Canadá medem a quantidade de consumo no último ano e a Espanha e a Alemanha no último mês. Os inquéritos nacionais de saúde portugueses medem a quantidade de consumo de álcool na última semana. Uma boa parte dos países utiliza uma ou duas questões para aferir o binge drinking durante um certo período de tempo: a Holanda no período dos últimos 6 meses, Bélgica e Malta no último ano, França e Irlanda no último mês, por exemplo. Na maior parte dos países europeus o binge drinking é defi nido como o consumo de 6 ou mais copos numa mesma ocasião, é o caso dos inquéritos nacionais ao consumo de substâncias psicoactivas na população geral portugueses (2001 e 2007).

Outra questão que se coloca relativamente aos indicadores de prevalência e padrões de consumo de álcool é a sua quantifi cação por dia ou por ocasião. Em países onde o consumo de bebidas alcoólicas ocorre essencialmente às refeições, a quantidade de bebidas consumidas por dia acaba por ter uma interpretação diferente do tipo de consumo que ocorre somente numa ocasião. A solução reside no questionamento da ocasião do consumo, mais do que a quantidade consumida por dia. Geralmente, nos inquéritos nacionais de saúde quantifi ca-se o consumo por ocasião. É o caso dos inquéritos nacionais de saúde portugueses (1987 e 1995/1996), onde se questiona a quantidade do consumo de vinho, de cerveja, de bagaço/aguardente/brandy, de vinho do Porto/Martini/licores e de whisky/gin ao almoço, ao lanche, ao jantar e em outras ocasiões.

Uma boa parte dos questionários analisados opta por descriminar o tipo de bebida nos indicadores de prevalência, frequência e/ou quantidade de consumo de álcool. Segundo a OMS, as questões descriminadas por tipo de bebida consumida produzem prevalências de consumo mais elevadas. A desvantagem consiste em que as questões desagregadas por tipo de bebida implicam ou que seja indicado somente o consumo de um tipo de bebida ou, caso se opte por desdobrar o conjunto de questões para cada tipo de bebida, o questionário se torne demasiado longo e repetitivo para os inquiridos. Uma grande parte dos estudos inquere sobre quatros tipos diferentes de bebidas, a saber: vinho, cerveja, alcopops (bebidas frutadas com baixo teor alcoólico) e bebidas

espirituosas/destiladas (whisky, aguardente, etc.). É o caso do Inquérito Nacional ao

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Consumo de Substâncias Psicoactivas na População Geral, Portugal, onde é perguntada

a frequência do consumo ao longo do último ano e a frequência (em número de vezes

e em número de dias) no último mês para cada um destes tipos de bebida. No primeiro

inquérito nacional de saúde português (1987) inquiriu-se sobre a frequência na última

semana de vinho, cerveja, bagaço e aguardente, e outras bebidas alcoólicas diferentes

das mencionadas. Para além da frequência na última semana destes tipos de bebida,

era ainda possível saber as quantidades e ocasiões de consumo de vinho e de cerveja.

Nos inquéritos seguintes, passou-se a inquirir sobre a frequência de consumo na última

semana e sobre as quantidades e ocasiões de consumo de vinho, de cerveja, de bagaço/

aguardente/brandy, de vinho do Porto/Martini/licores e whisky/gin.

Outra questão a ter em conta nos indicadores de prevalência e padrões de consumo

de álcool é o tamanho das bebidas. Uma boa parte dos questionários refere-se a bebidas

estandardizadas, não especifi cando o tamanho. Existem duas formas de se apresentar a

quantidade de etanol contido numa bebida. Na recolha de dados acerca do tipo de bebida

consumida, pode-se fazer referência ao tamanho/capacidade da bebida consumida (por

exemplo, quantidade de cervejas de 330 ml ou de 200 ml de vinho, etc.) e multiplicar esta

informação pela quantidade de etanol contido em cada quantidade de bebida, segundo

a tabela de referência. A quantidade de etanol em cada bebida difere de país para país,

contudo é geralmente cerca de 4-5% para a cerveja, cerca de 12% para o vinho e cerca

de 40% para as bebidas destiladas e espirituosas. Há contudo outros factores que podem

de alguma forma infl uenciar a quantidade de etanol: o tamanho das garrafas de vinho,

por exemplo, não são as mesmas e esta bebida difere bastante em termos da quantidade

de etanol; as bebidas destiladas são muitas vezes misturadas com outras bebidas ou

com gelo e podem ser misturadas por outra pessoa que não o inquirido, não tendo este

consciência da quantidade álcool consumida. A utilização de imagens de copos ou de

garrafas de consumo são uma das alternativas para que o inquirido possa demonstrar que

tipo de consumo tem (exemplo dos questionários australiano e canadiano). Os inquéritos

nacionais de saúde portugueses questionam acerca do número de copos e/ou garrafas e

a capacidade que cada um contém.

2.2.3. Circunstâncias e modos de consumo

Um dos indicadores das circunstâncias e modos de consumo que considerámos, e que se interrelaciona com a quantificação do consumo por ocasião, é a embriaguez. A questão da frequência com que se embriaga possibilita a definição da dimensão do consumo de uma só vez ou numa só ocasião para o estado de embriaguez. Há contudo

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CBA Portugal 2001-2007

que ter em conta que o estado de embriaguez pode ter diferentes interpretações de cultura para cultura. E mesmo num único país pode variar ao longo dos tempos, o que pode dificultar a possibilidade de comparação. Os inquéritos nacionais ao consumo de substâncias psicoactivas na população geral em Portugal utilizam este indicador, sendo que no inquérito de 2001 inquiria sobre a embriaguez ao longo da vida, último ano e último mês, e no inquérito de 2007 apenas as duas últimas temporalidades. Também Espanha, Canada, Grécia e França questionam sobre o número de vezes em que se embriagou no último ano. O inquérito alemão, para além do número de vezes em que se embriagou no último ano, inquere também sobre o número de vezes em que se embriagou ao longo da vida.

Também as idades de início e de fi m de consumo de álcool são inquiridas num grande número de questionários. É o caso do português, do espanhol, do holandês e do grego.

As razões que levam um indivíduo a consumir também surgem num número razoável de inquéritos – Portugal, França, Canada, etc. – assim como as razões ou os motivos que levam um indivíduo a não consumir ou a deixar de consumir – Portugal, Alemanha, Canada, Dinamarca, França, entre outros.

Mais rara é a medição dos contextos propriamente ditos de consumo de álcool. Apesar de os contextos de consumo serem importantes para se perceber a associação entre o consumo e as consequências associadas muitos estudos não os têm em conta. Em parte, e como referimos atrás por outros motivos, isto deve-se em parte ao contexto em que ocorre o próprio inquérito – em inquéritos ao consumo de substâncias psicoactivas lícitas e ilícitas o espaço de inquirição para as substâncias lícitas acaba por ser menor em comparação com o das ilícitas. Os inquéritos que centram a sua problemática sobre o consumo de álcool per si são mais sensíveis a este tipo de indicador. Geralmente os contextos de consumo focalizam aspectos como o local de consumo e com quem consome. Segundo a OMS, no caso de se utilizar a temporalidade nos últimos 7 dias, é importante integrar o tipo de bebida ao local e à companhia de consumo. Quando se utiliza o princípio de consumo generalizado há 3 questões para medir o contexto. Cada uma pode aplicar-se ao local em que ocorre esse consumo ou à companhia:

1) O inquirido pode ser questionado acerca do contexto em que habitualmente ocorre o consumo ou, alternativamente, todos os contextos onde ocorreu esse mesmo consumo;

2) Os inquiridos podem ainda ser interpelados a identifi car a proporção de tempo gasto em diferentes contextos de consumo;

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3) Os inquiridos podem ser questionados acerca da frequência com que bebem em determinados contextos.

2.2.4. Consumos problemáticos

Segundo a OMS as formas mais usuais para a medição do consumo de grande risco para o desenvolvimento de problemas graves são: (1) o número ou a proporção de consumidores ou o total de população cujo consumo é problemático – ou seja, cujo consumo ultrapassa ou está no limiar do número/gramas de etanol por dia que já é considerado abusivo – com uma frequência ou duração de consumo num dado período temporal.

O limiar do que é considerado risco elevado de consumo tem geralmente por base critérios científi cos e pode refl ectir estratégias nacionais do que é considerado consumo moderado. Na verdade, o interesse na medição do nível de consumo abusivo num país é exactamente para comprovar a efi cácia e a adesão a programas de prevenção.

A forma mais habitual de verifi car a exposição a um risco elevado de consumo é através da questão de consumo de 5 ou mais bebidas por dia – ou binge drinking. A quantidade de etanol assumida depende do país em questão e tem diferentes padrões caso se refi ra ao consumo feminino ou ao masculino.

A medição de riscos elevados utilizando a prevalência de consumo nos últimos sete dias não é recomendado para calcular a proporção de população que bebe em excesso, geralmente estimado num consumo de 60g de etanol por dia, isto porque geralmente a proporção de indivíduos com este padrão de consumo é na maioria dos casos subestimado.

Mais uma vez, o contexto do inquérito, assim como os seus objectivos, têm bastante infl uência nos indicadores de consumos problemáticos utilizados. Os inquéritos nacionais de saúde tendem maioritariamente a aferir os consumos problemáticos ou de risco através do volume de álcool ingerido, enquanto a aferição dos consumos problemáticos ou de risco em questionários ao consumo de substâncias psicoactivas lícitas e ilícitas tendem a ser aferidos através da quantidade de álcool ingerido mas também de testes construídos para o efeito, tais como o DSM-IV (dependence adapted in National Household Survey on Drug Abuse) (Kandel et al., 1997), o Ontario Alcohol and Other Drug Opinion Survey (Ferris et al., 1994), o ALAC – Alcohol Advisory Council of New Zealand (ALAC, 1996), o AUDIT – Alcohol Use Disorders Identifi cation Test (Saunders et al., 1993), entre outros.

O maior problema relativamente ao indicador do consumo problemático de álcool parece ser os vários conceitos a ele associados – dependência de álcool, consumo de álcool, consumo prejudicial de álcool, consumo problemático de álcool, entre outros,

ÁLCOOL: ENQUADRAMENTO NORMATIVO, INSTITUCIONAL E EPIDEMIOLÓGICO

62

CBA Portugal 2001-2007

apresentando cada um destes distinções subtis próprias, quer em termos médicos e/ou sociais.

2.2.5. Opiniões e percepções de risco

O OEDT propõe no seu “questionário modelo”, baterias de questões de atitudes e de opinião. Contudo, como se pode ler no Handbook for surveys on drug use among the general population, Final Report 9 (2002: 52), o consenso sobre a inclusão destas não se fez sem difi culdades. Alguns peritos consideravam este tipo de questões demasiado complexas e com demasiada carga ideológica para um questionário modelo europeu e que, para além disso, seriam irrelevantes em questionários cujo objectivo é aferir prevalências de consumo. Outros peritos, no entanto, consideravam este tipo de questões como uma parte vital num questionário modelo europeu pois através destas poderiam acumular informação que permitiria uma melhor compreensão das diferenças interculturais nos padrões de consumo de substâncias psicoactivas.

Como se pode ler ainda neste documento (idem), o maior problema relacionado com as questões de atitude e opinião parece residir no facto de não parecer ainda evidente o quê, porquê e como se devem exactamente medir estas “atitudes e opiniões”. De um modo geral, estas questões não resultam em variáveis individuais, antes serão combinadas em escalas para medir algum atributo relevante do inquirido. Apesar de existirem vários inquéritos de prevalência de consumos de substâncias psicoactivas a incluir baterias de questões de atitudes e opinião que permitem a construção de escalas, estas continuam a carecer de estudos metodológicos mais aprofundados e de validação.

Assim, a maioria das questões que o OEDT optou por incluir no seu questionário modelo foram seleccionadas do questionário ESPAD – European School Survey10, uma vez que este representa já um padrão a nível europeu.

As questões relativas a atitudes e opiniões constantes na maioria dos questio-nários podem-se agrupar, grosso modo, em torno de cinco tópicos: (1) opiniões sobre comportamentos (de risco); (2) percepção de riscos (de saúde); (3) opiniões sobre políticas; (4) representações sobre o consumo e/ou os consumidores; e, (5) conheci-mento de aspectos relacionados com as substâncias (a própria substância, os seus efeitos, etc.).

9 European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction – EMCDDA (2002). Handbook for surveys on drug use among the general population, Final Report. Lisbon: European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction, p.52.

10 http://www.espad.org/

63

A necessidade de assegurar a comparabilidade dos resultados entre as diferentes aplicações conduz a uma relativa estabilidade dos protocolos e das metodologias de observação, assim como dos itens e dos indicadores utilizados.

A comparação entre os diferentes estudos, embora viável para alguns indicadores, deve ser feita com muita cautela. Entre os estudos referidos, apesar de existirem alguns itens e indicadores comuns, muitas vezes a enunciação da questão e as modalidades de resposta são bastantes diferentes.

A comparação de resultados de estudos internacionais não se revela tarefa fácil. Como vimos anteriormente são muitos os factores divergentes, quer no que diz respeito aos vários aspectos técnicos e metodológicos considerados, quer no que diz respeito aos indicadores do consumo e dos seus contextos. Para além destes factores, acresce o problema de muitas vezes os resultados dos inquéritos não serem publicados, outras vezes não estão acessíveis ao público, e outras vezes ainda são publicados na língua original, não havendo traduções, difi cultando assim a comparação internacional. Aconteceu também, depois de analisados a formulação das questões e das modalidades de resposta e dos indicadores, e se ter verifi cado a sua similitude com o nosso e outros estudos, verifi carmos que a forma de apresentação dos resultados no relatório era diferente, acabando por não permitir a comparação. Tal como existe uma relativa homogeneidade de protocolos e das metodologias de observação entre as diferentes aplicações dos estudos, também existem formas de apresentar os resultados, de redigir os relatórios em cada um dos países, que acabam por difi cultar a comparação a nível internacional.

Tivemos ainda de ter em conta a dimensão temporal da aplicação dos estudos. Assim, seleccionámos estudos nacionais à população geral que tivessem sido realizados entre 2005 e 2008, de modo a não distar muito do nosso inquérito realizado em 2007. Conseguimos informação de seis estudos que cumpriam este requisito, todos os outros países que foram sendo referidos ao longo deste capítulo ou não tinham estudos neste espectro temporal, ou não disponibilizaram os resultados dos estudos, ou não o fi zeram em português, inglês, francês ou espanhol.

Depois de seleccionados os estudos destes países passámos à comparação dos indicadores possíveis e que foram dados a conhecer nos diferentes relatórios/publicações. Temos, assim, a comparação para os indicadores de prevalência de consumo ao longo da vida, no último ano e no último mês e consumo diário; ainda relativamente à prevalência e padrão de consumo, é possível comparar os resultados para o binge drinking; e, por fi m, relativamente às circunstâncias e modos de consumo, a maioria destes estudos apresenta a idade média do primeiro consumo de álcool.

ÁLCOOL: ENQUADRAMENTO NORMATIVO, INSTITUCIONAL E EPIDEMIOLÓGICO

64

CBA Portugal 2001-2007

País Ano Grupo

de Idades

Prevalências Binge

Drinking

Idade média do

1.º consumo

Longo da vida

Último ano

Último Mês

Portugal 2007 15-64 79,1 70,6 59,6 41,6

(Último ano)

17,0

Austrália 2007 14 89,9 82,9 -- -- 17,0

Brasil 2005 12-65 74,6 49,8 38,3 -- --

Espanha 2007/2008 16-64 88,0 72,9 60 12,6*

(Último mês)

16,8

EUA 2007 12 -- -- 51,1 23,3*

(Último mês)

--

França 2005 12-75 91,6 84,8 -- 14,0

(Último mês)

--

Irlanda 2007 18 -- 81,0 -- 28,0

(Último ano)

--

Tabela 3. Comparação de alguns resultados de estudos internacionais

65

Parte II

Consumo de Álcool na População

Portuguesa:

Os dados dos Inquéritos Nacionais

ao Consumo de Substâncias Psicoactivas

na População Geral, 2001 e 2007

66

CBA Portugal 2001-2007

67

Capítulo I. Caracterização geral do consumo de álcool:análise diacrónica 2001-2007

Apresentamos aqui os resultados comparativos do Primeiro e do Segundo Inquéritos

Nacionais ao Consumo de Substâncias Psicoactivas na População Geral, realizado pelo

CEOS – Investigações Sociológicas, Universidade Nova de Lisboa para o IDT – Instituto da

Droga e da Toxicodependência, I.P., no que se refere ao consumo de bebidas alcoólicas.

Para além de se poder considerar como um documento único pela leitura específi ca em

torno deste tipo de substância psicoactiva, realce-se o facto de se constituir uma mais-

-valia a possibilidade de se efectuar, a partir da leitura dos dados dos dois anos – 2001

e 2007 –, uma análise diacrónica das tendências de consumo de bebidas alcoólicas em

Portugal.

Damos aqui conta, numa primeira parte, das prevalências de consumo ao longo da

vida, no último ano e no último mês, atendendo às características sociodemográfi cas dos

indivíduos – género e grupos etários. Sempre que possível, o detalhe é ainda apresentado

em função do tipo de bebida alcoólica consumida: cerveja, alcopops, vinho e bebidas

espirituosas/destiladas.

Seguidamente, centraremos a nossa atenção na experiência de consumo ao longo

da vida e frequências de consumo. Nesta parte, dedicamos ainda uma atenção especial

ao binge drinking.

Numa terceira parte, a atenção recai sobre as circunstâncias e contextos de

consumo, numa leitura mais atenta a idades de início e fi m de consumo, motivos de início,

razões de abandono e a ocorrência de situações de embriaguez.

Alguns dos dados apresentados serão uttilizados, numa quarta parte, para cons-

truir algumas tipologias de consumo, que diferenciam perfis de consumo de bebidas

alcoólicas.

1. Prevalências de consumo

A prevalência do consumo de bebidas alcoólicas é de 79,1% ao longo da vida,

70,6% nos últimos 12 meses e 59,6% nos últimos 30 dias.

O consumo ao longo da vida é mais signifi cativo na população com idade superior

a 25 anos, destacando-se os grupos etários 25-34 anos, 35-44 anos e 45-54 anos onde a

proporção de consumidores ronda os 80%.

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

68

CBA Portugal 2001-2007

Entre 2001 e 2007 constata-se uma subida do consumo ao longo da vida na quase

totalidade dos grupos etários (exceptuando o grupo dos 25-34 anos), sendo particularmente

signifi cativo o aumento do consumo entre os mais jovens (15-24 anos).

Tendo em conta as prevalências no último ano o padrão de consumo permanece em

tudo semelhante ao encontrado ao longo da vida: os três grupos de idade com maior proporção

de consumidores permanecem os 25-34 anos, 35-44 anos e 46-54 anos, apresentando uma

prevalência de cerca de 72%; entre 2001 e 2007 a proporção de consumidores manteve-

-se estável apenas no grupo etário dos 25-34 anos, tendo aumentado nos restantes,

principalmente no grupo com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos.

O vinho (59%) e a cerveja (56%) continuam a ser as bebidas alcoólicas mais

consumidas entre a população portuguesa, sendo que mais de metade da população afi rma

tê-las consumido no decorrer do último ano. As bebidas menos consumidas são as bebidas

espirituosas e os alcopops, com uma proporção de consumo anual na ordem dos 49% e

22% respectivamente.

Entre os dois anos de análise ocorreram ligeiros aumentos percentuais em todos

os tipos de bebidas considerados. As prevalências de consumo de vinho e de cerveja

aumentaram cerca de 3%, as bebidas espirituosas 1% e os alcopops 4%.

Fazendo a análise tendo em conta os grupos etários, constatamos que, relativamente

ao consumo de vinho, apenas o grupo dos 25-34 anos apresenta uma prevalência menor

comparativamente a 2001 (menos 4%) e o grupo dos 55-64 anos regista o maior aumento

(mais 8%); o grupo etário dos 45-55 anos continua a apresentar a maior prevalência de

consumo deste tipo de bebida alcoólica. Também o consumo de cerveja regista uma

diminuição da prevalência no grupo dos 25-34 anos (menos 2%), ocorrendo os maiores

Gráfi co 6. Prevalência do consumo de bebidas alcoólicas

59,165,975,6

59,670,6

79,1

0

20

40

60

80

100

Longo da Vida Último Ano Último Mês

2001 2007

69

aumentos nos grupos com as idades compreendidas entre os 35 e os 54 anos (mais 7%). Apesar do decréscimo de consumo verifi cado no grupo etário 25-34 anos, estes consumidores juntamente com os consumidores com idades compreendidas entre os 35 e os 44 anos continuam a apresentar as maiores prevalências para o consumo de cerveja. De salientar ainda o aumento da prevalência do consumo desta bebida entre os mais jovens (mais 5%), acima do verifi cado para o total da população. No que diz respeito ao consumo de bebidas espirituosas, o maior aumento ocorreu entre o grupo etário dos 15-24 anos (mais 6%), tendo-se mantido ou mesmo descido nos grupos entre os 25 e os 44 anos, e aumentado cerca de 3% nos grupos acima dos 45 anos de idade. Apesar da prevalência de consumo ter diminuído entre os consumidores com idades entre os 25 e os 34 anos, estes continuam a registar o maior consumo de bebidas espirituosas. O consumo de alcopops regista um aumento em todos os grupos etários. O grupo dos mais jovens (15-24 anos) que já apresentava a maior prevalência de consumo em 2001, continua a ser o maior consumidor em 2007, tendo sido, juntamente com o grupo etário dos 45-54 anos, um dos que registou maiores aumentos (em ambos os casos mais 7%).

Finalmente, atendendo agora ao consumo de bebidas alcoólicas no último mês, verifi camos que, para o total da população, a prevalência dos consumos regista um aumento de apenas meio ponto percentual entre 2001 e 2007, variando entre um mínimo de 52% no grupo etário dos 15-24 anos e um máximo de 63% no grupo dos 45-54 anos de idade.

As prevalências de consumo continuam a ser mais elevadas entre os 25 e os 54 anos. No entanto, entre os anos de 2001 e de 2007, a diminuição mais signifi cativa do consumo de bebidas alcoólicas ocorreu no grupo etário 25-34 (menos 5%), e no grupo dos 35-44 anos o consumo manteve-se estável. Os maiores aumentos de consumo ocorreram no grupo dos mais jovens (15-24 anos – mais 2%) e no grupo dos mais velhos (55-64 anos – mais 4%).

O tipo de bebidas alcoólicas consumidas no último mês acompanha a tendência verifi cada no último ano, continuando o vinho a ser a bebida mais consumida (47%), seguido da cerveja (42%), depois das bebidas espirituosas (26%) e por fi m dos alcopops (8%).

Comparativamente a 2001 verifi camos um ligeiro decréscimo percentual nas prevalências do consumo de todos os tipos de bebidas alcoólicas considerados no último mês: a diminuição mais acentuada ocorreu no consumo das bebidas destiladas (menos 5%), o consumo de vinho e de alcopops diminui em 2% e o de cerveja em 1%. Tendo em conta a análise por grupos etários constatamos que o vinho continua a ser mais consumido pelos indivíduos com idades compreendidas entre os 45 e os 54 anos, seguindo-se o grupo etário dos 55 aos 64 anos, o único que registou um aumento percentual do consumo

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

70

CBA Portugal 2001-2007

relativamente a 2001 (mais 3%). A maior quebra das prevalências do consumo de vinho

ocorreu no grupo etário dos 25-34 anos (menos 8%). No que diz respeito ao consumo de

cerveja, este aumentou nos grupos etários dos 35-44 anos e no dos 45-54 anos (1 e 3%,

respectivamente), manteve-se nos grupos dos 15-24 e 55-64 anos e desceu no dos 25-34

anos (menos 8%). Apesar desta descida este grupo etário, juntamente com o grupo dos

35-44 anos, são os que apresentam prevalências mais elevadas de consumo de cerveja.

As prevalências do consumo de bebidas destiladas diminuiu em todos os grupos etários,

principalmente no grupo dos 25-34 anos, apesar deste continuar a ser, à semelhança de

2001, o grupo mais consumidor. O consumo de alcopops manteve-se (35-44 anos) ou

desceu (todos os restantes grupos etários) em todas as idades, principalmente no grupo

dos 25-34 anos (menos 4%). O seu consumo, à semelhança do já verifi cado em 2001, é

superior entre os mais jovens (15-24 anos).

71

15

-64

15-3

4 15

-24

25-3

4 35

-44

45-5

4 55

-64

M

F T

M

F T

M

F T

M

F T

M

F T

M

F T

M

F T

Beb

idas

alc

oólic

as

2001

85

,266

,475

,679

,966

,673

,370

,161

,866

,089

,1

71,1

80,1

89,0

67,7

77,8

89,8

68,0

78,5

90,4

63,1

75,8

2007

88

,969

,579

,184

,370

,377

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,869

,574

,388

,6

70,9

79,8

91,7

69,7

80,5

92,6

71,5

81,8

92,6

65,2

78,2

15

-64

15-3

4 15

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25-3

4 35

-44

45-5

4 55

-64

M

F T

M

F T

M

F T

M

F T

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F T

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Beb

idas

alc

oólic

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2001

78

,454

,065

,974

,657

,165

,965

,453

,659

,6 8

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60,4

71,9

83,3

54,7

68,7

81,6

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79,1

44,2

60,5

2007

81

,959

,670

,679

,061

,870

,574

,561

,868

,3 8

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61,7

72,2

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58,8

71,8

83,1

62,3

72,4

83,7

52,3

67,1

Cer

veja

20

01

70,6

35,4

52,7

69,5

43,4

56,5

59,6

39,5

49,7

78,

847

,062

,976

,035

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,472

,929

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,463

,620

,440

,5

2007

73

,438

,955

,972

,443

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,167

,241

,854

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6,5

44,7

60,7

80,8

41,3

60,8

73,8

40,4

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65,3

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43,4

Alc

opop

s 20

01

22,5

12,6

17,5

28,9

22,3

25,6

30,3

24,5

27,5

27,

520

,223

,822

,77,

2 14

,815

,64,

5 9,

8 10

,92,

8 6,

5

2007

26

,217

,922

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,530

,538

,730

,434

,6 3

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23,7

27,4

26,6

15,6

21,1

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12,8

16,6

11,2

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8,8

Vinh

o 20

01

67,9

44,6

56,0

56,1

41,8

49,0

38,4

32,1

35,3

72,

850

,761

,778

,348

,663

,179

,449

,263

,776

,441

,857

,9

2007

70

,646

,658

,557

,739

,048

,544

,228

,236

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47,3

58,0

79,2

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67,8

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48,1

64,2

Beb

idas

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01

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58,6

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67,

142

,154

,667

,529

,848

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2007

58

,237

,647

,859

,642

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26,4

37,9

Tabe

la 4

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e id

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CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

72

CBA Portugal 2001-2007

Tabe

la 6

. Pre

valê

ncia

do

cons

umo

de b

ebid

as a

lcoó

licas

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Tabe

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15

-64

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M

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F T

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M

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Beb

idas

alc

oólic

as

2001

73

,645

,159

,168

,646

,557

,657

,040

,949

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46,0

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2007

75

,544

,059

,669

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,356

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59,5

Cer

veja

20

01

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73,

036

,354

,668

,924

,446

,262

,217

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,250

,011

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2007

61

,922

,141

,860

,226

,546

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27,7

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42,4

52,5

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29,3

Alc

opop

s 20

01

13,3

7,4

10,3

17,9

13,4

15,7

18,2

14,3

16,3

17,

612

,615

,111

,73,

9 7,

7 10

,32,

4 6,

2 4,

8 1,

5 3,

1

2007

11

,15,

3 8,

2 15

,69,

5 12

,615

,512

,414

,0 1

5,6

7,2

11,4

12,3

3,4

7,8

7,8

2,8

5,2

2,0

0,6

1,3

Vinh

o 20

01

60,9

37,5

48,9

46,0

33,0

39,5

27,6

22,7

25,2

63,

542

,453

,072

,441

,656

,774

,943

,458

,673

,937

,554

,4

2007

60

,333

,546

,843

,324

,534

,025

,815

,220

,6 5

7,3

31,7

44,6

68,9

36,7

52,6

72,0

44,4

57,8

79,3

37,6

57,2

Beb

idas

esp

iritu

osas

/ des

tilad

as20

01

43,9

18,8

31,1

42,9

26,4

34,7

34,6

24,9

29,8

50,

727

,839

,348

,415

,731

,747

,913

,329

,936

,28,

4 21

,3

2007

36

,516

,426

,338

,420

,729

,734

,123

,629

,0 4

1,9

18,4

30,2

37,9

15,5

26,6

36,7

16,7

26,4

29,0

7,5

17,7

15

-64

15-3

4 15

-24

25-3

4 35

-44

45-5

4 55

-64

M

F T

M

F T

M

F T

M

F T

M

F T

M

F T

M

F T

Beb

idas

alc

oólic

as

2001

92

,081

,387

,293

,485

,790

,093

,286

,890

,293

,6

84,9

89,7

93,6

81,6

88,3

90,9

79,9

85,9

87,5

70,1

79,7

2007

92

,185

,789

,393

,787

,991

,194

,588

,591

,993

,2

87,0

90,5

92,9

84,5

89,2

89,6

87,1

88,5

90,4

80,0

85,8

73

A taxa de continuidade indica a proporção entre o número de indivíduos que declara ter consumido uma dada substância ao longo da vida e o número de indivíduos que declara ter consumido essa mesma substância no último ano.

No caso das bebidas alcoólicas, a taxa de continuidade é elevada, registando cerca de 89%, mais dois pontos percentuais comparativamente a 2001. Esta subida regista- -se em todos os grupos etários sendo mais elevada, quer em 2001 quer em 2007, nos consumidores com idades compreendidas entre os 15 e os 34 anos.

As prevalências do consumo de bebidas alcoólicas difere signifi cativamente quando comparados mulheres e homens. Atendendo ao consumo ao longo da vida, à semelhança do já verifi cado em 2001, o consumo masculino é superior ao feminino independentemente do grupo etário considerado, indo de uma diferença mínima de 9% entre os mais jovens até uma diferença máxima de 27% entre os mais velhos, enquanto nos grupos com idades compreendidas entre os 25 e os 54 anos essa diferença ronda os 20%.

O consumo masculino regista prevalências na ordem dos 70% no grupo etário mais jovem (15-24 anos), indo num crescendo até aos grupos etários de idades mais avançadas, registando no grupo dos 55-64 anos uma prevalência de 93%. Este padrão já se verifi cava em 2001, no entanto, convém registar relativamente a 2007 a menor diferença de amplitude das prevalências entre o grupo etário dos mais jovens e o dos mais idosos, o que se deve a um aumento da prevalência do consumo que ronda os 9% por parte dos primeiros, enquanto os aumentos de prevalências de consumo nos restantes grupos etários se manteve ou aumentou apenas 2 a 3 pontos percentuais.

O consumo feminino regista uma prevalência mínima de 65% no grupo etário dos 55-64 anos e uma prevalência máxima no grupo etário dos 45-54 anos. Os grupos etários dos 15 aos 44 anos registam prevalências entre os 70% e os 71%. Comparativamente a 2001, os grupos etários onde se registaram maiores aumentos foi o dos mais jovens (15-24 anos), com uma diferença de 8% e o grupo dos 45-54 anos, com um aumento de 4%. O consumo nos grupos etários dos 55-64 e dos 35-44 anos aumentou cerca de 2% e no grupo dos 25-34 anos manteve os mesmos valores entre 2001 e 2007.

O consumo no último ano mantém a tendência de um consumo maioritariamente masculino em todos os grupos de idade registando-se igualmente uma tendência para uma maior proporção de consumidores masculinos nos grupos de idade superiores a 25 anos. Entre a população feminina o consumo de bebidas alcoólicas apresenta maiores prevalências (62%) nas mulheres com idades compreendidas entre os 15 e os 34 e os 45 e os 54 anos, e menores prevalências (52%) nas mulheres com idades entre os 55 e os 64 anos. Em termos de evolução temporal, a subida do consumo de bebidas alcoólicas

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

74

CBA Portugal 2001-2007

no último ano registou um aumento em todos os grupos etários, sendo estes valores mais signifi cativos entre a população feminina. Efectivamente, enquanto o aumento verifi cado ao nível de cada grupo etário no género masculino não foi além dos 5%, entre a população feminina os aumentos foram de 8% nos grupos etários 15-24, 35-44 e 55-64 anos, de 4% para o grupo dos 35-44 anos, e, fi nalmente, de 2% no grupo etário dos 25-34 anos.

O consumo no último ano continua a ser maioritariamente masculino, quer consideremos o vinho, a cerveja, as bebidas espirituosas ou os alcopops. O vinho permanece como a bebida mais consumida para ambos os géneros entre a população com mais de 25 anos. No que diz respeito ao consumo masculino, as prevalências vão subindo gradualmente dos cerca de 44% registados para o grupo dos mais jovens, até um valor máximo de cerca de 82% registado no grupo dos mais velhos. Relativamente ao consumo feminino, as prevalências apresentam um valor mínimo de 16% no grupo dos 15-24 anos, aumentando para cerca do dobro no grupo etário seguinte (25-34), subindo gradualmente até ao valor máximo (57%) registado no grupo etário dos 45-54 anos, para descer no último grupo etário para os 48%. Este último grupo etário referido (55-64 anos) é o que apresenta uma maior diferença percentual (34%) entre os géneros para o consumo de vinho.

A cerveja, segunda bebida de eleição dos consumidores e consumidoras, apresenta uma distribuição mais uniforme pelos diferentes grupos de idade. O consumo masculino apresenta prevalências entre os 65% e os 81%, sendo o grupo etário mais consumidor o dos 35-44 anos, e o consumo feminino apresenta prevalências entre os 24% e os 45%, sendo as mulheres mais consumidoras as que têm entre 25 e 34 anos. As maiores diferenças percentuais das prevalências de consumo de cerveja no último ano entre os dois géneros reportam-se às encontradas nos grupos etários dos 55-64 e 35-44 anos (menos 41% e 40% de mulheres consumidoras, respectivamente).

As bebidas espirituosas apresentam entre os homens prevalências mínimas de 51% no grupo dos mais velhos, e máximas de 62% no grupo etário dos 25-34 anos. No que diz respeito ao consumo feminino, as prevalências de consumo são inferiores (26%) no grupo etário dos 55-64 anos e registam valores mais elevados no grupo etário dos 15-24 anos. É neste grupo etário dos mais jovens onde a diferença entre géneros é menor (menos 13% de mulheres consumidoras relativamente aos homens) e é no grupo dos mais velhos onde a diferença é maior (menos 24% de mulheres consumidoras relativamente aos homens).

O consumo de alcopops distingue-se dos outros por apresentar um padrão distinto quando analisado por grupos de idade. Ao contrário dos outros tipos de bebidas analisados o seu consumo é mais elevado entre o grupo dos mais jovens (15-24), onde apresenta

75

uma prevalência de cerca de 39% para os homens e de 30% para as mulheres, e vai diminuindo gradualmente até ao último grupo de idades considerado (55-64), onde regista uma prevalência de cerca de 11% para os homens e de 7% para as mulheres.

Considerando o consumo por género e grupos de idade no último mês confi rmamos que o consumo de bebidas alcoólicas é mais frequente entre a população masculina, rondando os 60% no grupo etário mais jovem (15-24 anos) e os 82% no mais idoso (55-64 anos). Entre a população feminina, as prevalências mais baixas – em torno de 40% – registam-se no grupo mais idoso (55-64 anos) e no mais jovem (15-24) e as mais elevadas no grupo etário 25-34 em 2001 e no grupo dos 45-54 anos em 2007. A análise entre os dois anos permite a verifi cação da existência de uma tendência semelhante entre géneros no grupo dos mais jovens (15-24 anos) que regista um aumento de consumo, mais signifi cativo em termos percentuais no género masculino do que no feminino (4% contra 1% no feminino); no grupo dos mais idosos (55-64 anos) regista-se igualmente um aumento (também superior no género masculino, mais 6%, tendo registado um aumento de 1% no género feminino); e fi nalmente o grupo etário dos 25-34 anos que regista em ambos os géneros uma diminuição do consumo, diminuição esta mais signifi cativa no género feminino (8%) do que no masculino (4%).

À excepção dos alcopops, que apresentam um consumo essencialmente jovem, as restantes bebidas alcoólicas são consumidas maioritariamente por homens dos 25 aos 54 anos, sendo que no caso do vinho essa faixa etária estende-se até aos 64 anos.

Para as mulheres verifi ca-se uma percentagem de consumos sempre inferior à dos homens e com características diferentes do consumo destes. É um consumo de idades mais jovens para todos os tipos de bebida, excepção feita ao vinho, que é consumido essencialmente a partir dos 25 anos.

Tabela 8. Rácio entre o consumo feminino e masculino de bebidas alcoólicas, ao longo da vida,por grupos de idade

15-64 15-34 15-24 25-34 35-44 45-54 55-64

Bebidas alcoólicas

2001 81,0 82,2 85,7 79,6 78,7 81,7 80,3

2007 80,1 81,4 84,8 79,0 77,6 81,4 79,0

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

76

CBA Portugal 2001-2007

15-64 15-34 15-24 25-34 35-44 45-54 55-64

Bebidas alcoólicas

2001 71,6 75,5 79,7 72,3 68,6 71,8 64,3

2007 74,5 76,4 78,8 73,7 70,6 79,1 69,9

Cerveja 2001 52,2 61,6 64,5 59,6 49,3 43,5 36,9

2007 54,3 58,5 59,8 57,7 52,2 57,7 41,0

Alcopops 2001 58,1 76,0 78,8 73,2 33,2 30,8 29,5

2007 69,7 75,3 75,5 75,5 59,9 65,8 66,7

Vinho 2001 68,2 73,4 81,3 69,5 64,9 66,7 62,8

2007 67,7 65,9 61,5 68,1 64,8 75,4 65,5

Bebidas espirituosas/ destiladas

2001 55,9 68,6 76,9 62,7 46,2 48,7 40,4

2007 66,2 70,0 75,2 66,1 62,1 68,3 58,2

15-64 15-34 15-24 25-34 35-44 45-54 55-64

Bebidas alcoólicas

2001 63,7 66,6 69,8 64,5 60,9 64,1 58,6

2007 59,7 60,6 65,8 57,3 56,6 66,4 54,1

Cerveja 2001 41,1 51,2 53,6 49,6 37,1 31,1 25,2

2007 36,6 43,0 45,9 41,2 36,0 36,5 18,6

Alcopops 2001 57,9 73,8 76,2 71,5 35,3 25,2 36,0

2007 48,4 59,7 77,1 45,5 28,2 38,0 36,8

Vinho 2001 64,0 70,6 80,0 66,7 60,1 62,4 58,3

2007 56,9 55,3 56,7 54,7 54,4 65,0 53,1

Bebidas espirituosas/ destiladas

2001 44,4 60,7 69,9 54,8 33,9 30,0 26,8

2007 43,1 52,6 66,8 43,4 41,7 47,9 28,9

Tabela 9. Rácio entre o consumo feminino e masculino de bebidas alcoólicas, no último ano,por grupos de idade

Tabela 10. Rácio entre o consumo feminino e masculino de bebidas alcoólicas, no último mês,por grupos de idade

Finalmente, confi rma-se, através das temporalidades que o consumo de bebidas alcoólicas é maioritariamente masculino. Na verdade, para cada 100 homens consumidores ao longo da vida, existem 80 mulheres, facto que se mantém mais ou menos estável ao longo dos diferentes grupos etários e das várias temporalidades em estudo. No entanto, esta proporção do consumo feminino face ao masculino tende a diminuir se tivermos em conta a prevalência ao longo do último ano e ainda mais ao longo do último mês. De salientar que entre 2001 e 2007 o rácio de mulheres aumenta nos consumos no último ano (passando de 71,6 a 74,5), aumento que é particularmente sensível no grupo etário

77

dos 45-64 anos (de 71,8 para 79,1), o que situa os consumos deste grupo em 2007 ao nível dos consumos de referência do grupo 15-24.

2. Experiência e frequências de consumo

2.1. Experiência de consumo ao longo da vida

De uma forma geral, constata-se que, pelo menos uma vez na vida, 79% dos inquiridos consumiu bebidas com teor alcoólico. Destes, quase metade (48%) somente experimentou, sendo o consumo regular uma realidade para cerca de 29% da população. A proporção de inquiridos que nunca bebeu atinge os 21% da população. Em termos de caracterização sociodemográfi ca constatamos que a proporção de indivíduos do género masculino que bebeu alguma vez na vida é francamente superior à proporção de indivíduos do género feminino (89,3% e 69,8%, respectivamente). A grande diferença entre os géneros quando consideramos o estatuto do consumo é a sua regularidade: a proporção de mulheres com um padrão de consumo de experimentação é francamente superior ao dos homens (54,9% contra 41%), pelo contrário quando consideramos os que bebem, os homens declaram um consumo regular com muito mais frequência do que as mulheres: 45,8% contra 12,5% das mulheres. Tendo em conta a distribuição etária, constatamos que a proporção de inquiridos que bebeu pelo menos uma vez na vida uma bebida alcoólica é superior nos grupos etários dos 34-44 e 45-54 anos. Contudo, o consumo experimental é mais signifi cativo no grupo etário mais jovem (15-24 anos, com 59,5%), enquanto o consumo regular é mais frequente no grupo etário dos mais idosos (55-64 anos, com 40,3% de consumo regular).

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

78

CBA Portugal 2001-2007

Tabela 11. Experiência de consumo de bebidas alcoólicas ao longo da vida por grupos de idade

15-64 15-24 25-34 35-44 45-54 55-64

M F T M F T M F T M F T M F T M F T

Experimentou 41,0 54,9 48,0 56,6 62,5 59,5 48,6 60,2 54,4 38,4 54,4 46,4 32,1 53,3 43,0 25,9 42,7 34,8

Bebeu ocasionalmente 0,2 0,6 0,4 0,0 0,0 0,0 0,1 0,1 0,1 0,2 0,4 0,3 0,3 0,9 0,6 0,1 1,5 0,8

Bebeu durante alguns períodos 2,3 1,8 2,0 2,1 1,7 1,9 2,8 1,8 2,3 1,8 1,9 1,9 1,9 1,5 1,7 2,7 2,1 2,4

Bebeu regularmente 45,8 12,5 28,9 20,4 5,5 13,2 37,3 8,9 23,2 51,7 13,1 32,1 58,9 16,1 36,9 64,2 19,1 40,3

Nunca Bebeu 10,7 30,3 20,7 20,8 30,4 25,5 11,1 28,9 20,0 7,9 30,2 19,2 6,8 28,2 17,8 7,1 34,6 21,7

2.2. Frequências de consumo

Considerando as frequências de consumo é possível perceber um pouco melhor os

comportamentos dos indivíduos em relação a cada um dos tipos de bebidas alcoólicas em

análise. Género, idade e região poderão ser factores que interferem nessa frequência de

consumo ocorrida no último ano e no último mês.

O vinho e, depois, a cerveja são os tipos de bebida de teor alcoólico consumidos

com maior frequência: no caso do vinho, mais de 20% consumiu diariamente no último ano

e quase 10% fê-lo várias vezes ao dia, e também cerca de 20% fê-lo entre 2 ou três vezes

por semana e 2 a 4 vezes por mês; relativamente à cerveja, consumida diariamente por

uma percentagem de indivíduos inferior à registada no vinho, ela apresenta um consumo

semanal ou mensal superior àquele que pode ser observado nos outros tipos de bebida.

As bebidas espirituosas são consumidas mais raramente. A proporção de não

consumo de alcopops no último ano é superior a dois terços do total de consumidores.

Comparativamente a 2001, no ano de 2007 verifi ca-se um ligeiro aumento da frequência,

ainda que de modo mais ocasional, do consumo de alcopops. Todas as restantes

frequências de consumo, e para os restantes tipos de bebida, mantêm-se similares entre

os dois anos de resultados.

O consumo diário de álcool é um comportamento marcadamente masculino

sobretudo à medida que consideramos as populações mais idosas. Pelo contrário, as

79

Tabela 12. Frequência do consumo de bebidas alcoólicas no último ano

Cerveja Alcopops Vinho Bebidas

espirituosas

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Várias vezes ao dia 3,3 1,4 0,2 0,0 10,1 8,4 0,7 0,3

Diariamente 9,4 8,9 0,4 0,2 25,7 23,2 2,3 2,3 4 ou mais vezes por semana 6,7 6,2 0,4 0,4 7,7 5,7 2 1,4

2-3 vezes por semana 15,7 16,5 1,1 1,5 10,9 10,2 7,3 5,7

2-4 vezes por mês 13,0 15,0 5,1 3,1 8,9 10,6 9,7 9,8

1 vez por mês 7,0 7,6 4,5 3,2 4,6 6,2 8 9,0

Raramente 24,9 23,8 13,4 22,8 17 18,6 40,6 39,3

Nunca 20,1 20,6 74,8 68,6 15,1 17,1 29,5 32,2

TOTAL 100,0 100,0 100 100,0 100 100,0 100 100,0

diferenças relacionadas com o género não são signifi cativas entre os jovens, grupo onde

os consumos diários são, aliás, pouco frequentes.

A entrada tardia da cerveja nos hábitos de consumo faz com que, ao contrário do

vinho, o consumo semanal ou mensal diminua com a idade. A cerveja continua a ser um

consumo masculino sendo que neste caso isso se verifi ca em todos os grupos etários.

No caso das bebidas destiladas os jovens consomem relativamente mais,

diminuindo o consumo à medida que a idade aumenta. Independentemente do grupo

etário considerado, as mulheres consomem sempre menos.

Os alcopops são um tipo de bebida menos frequentemente consumido e onde as

diferenças em termos de género são quase inexistentes. Elas verifi cam-se antes em

termos etários, uma vez que as declarações de consumo são signifi cativamente mais

elevadas nos grupos mais jovens.

A análise dos consumos no último mês confi rma que o vinho é a bebida alcoólica

consumida com uma maior frequência no dia-a-dia. Seguem-se a cerveja, com uma

base de consumo mais semanal, e as bebidas destiladas vêm a seguir, ocorrendo o

seu consumo maioritariamente menos de uma vez por semana e os alcopops que é um

consumo de uma minoria (jovem) e ocasional.

As tendências encontradas em 2007 são, em geral, as mesmas que tínhamos

registado em 2001, observando-se no entanto uma ligeira diminuição do consumo diário

e repetido de vinho, e uma ligeira diminuição do consumo de bebidas espirituosas.

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

80

CBA Portugal 2001-2007

Tabela 13. Frequência do consumo de bebidas alcoólicas no último mês

À semelhança do que acontece com o indicador de frequência de consumo no

último ano, também no consumo no último mês se faz sentir o efeito quer do género quer

da idade.

No último mês, o consumo regular e diário de vinho é mais frequente a partir dos

35 anos e é, pelo contrário, signifi cativamente ausente no grupo mais jovem. Neste

indicador, ainda, o consumo de vinho é bastante mais elevado nos homens do que nas

mulheres. Essas diferenças de género acentuam-se com a idade.

Considerando os consumos no último mês, a cerveja é uma bebida claramente

masculina, registando os homens mais frequentemente um consumo diário ou semanal

contrariamente às mulheres onde esse padrão é raro, qualquer que seja, aliás, o grupo

etário considerado.

O consumo de bebidas espirituosas/destiladas regista um valor diário mais elevado

nos grupos etários dos 45 aos 64 anos entre os consumidores masculinos. Já o consumo

de alcopops é essencialmente raro (poucos consomem, sendo a frequência de “menos de

uma vez por semana a que regista maior percentagem) e jovem (principalmente entre os

15 e os 24 anos).

Cerveja Alcopops Vinho Bebidas

espirituosas

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Várias vezes ao dia 3,4 1,6 0,2 0,0 10,0 5,9 0,5 0,2

Diariamente 4,9 5,9 0,3 0,1 13,6 15,4 1,5 1,5

Várias vezes por semana 8,8 11,0 0,5 0,5 8,2 7,9 2,7 3,3 Pelo menos uma vez por semana 8,5 9,2 1,5 1,5 5,4 6,2 6,2 4,4

Menos de 1 vez por semana 16,6 13,9 7,3 5,9 11,2 11,0 19,8 16,7

Nunca/Ns/Nr 57,7 58,4 90,3 92,0 51,6 53,5 69,4 73,9

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

81

Tabe

la 1

4. E

xper

iênc

ia d

e co

nsum

o de

beb

idas

alc

oólic

as a

o lo

ngo

da v

ida

Tabe

la 1

5. F

requ

ênci

a do

con

sum

o de

cer

veja

no

últim

o an

o

15

-64

15-3

4 15

-24

25-3

4 35

-44

45-5

4 55

-64

M

F T

M

F T

M

F T

M

F T

M

F T

M

F T

M

F T

Expe

rimen

tou

41,0

54,9

48,0

52,1

61,2

56,6

56,6

62,5

59,5

48,6

60

,254

,438

,454

,446

,432

,153

,343

,025

,942

,734

,8

Beb

eu o

casi

onal

men

te

0,2

0,6

0,4

0,1

0,1

0,1

0,0

0,0

0,0

0,1

0,1

0,1

0,2

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CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

82

CBA Portugal 2001-2007

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83

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CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

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CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

86

CBA Portugal 2001-2007

2.3. Binge drinking

Quando questionados relativamente à frequência de consumo de seis ou mais

bebidas alcoólicas na mesma ocasião, 41,6% responde afi rmativamente, sendo que

28,5% fê-lo muito raramente, 5,0% fê-lo com uma frequência igual ou inferior a 1 vez por

mês e os restantes – em torno de 8% – fê-lo entre várias vezes no mês (pelo meno duas)

e várias vezes por dia.

Entre 2001 e 2007 esta prática diminui ligeiramente – de 43,2 para 41,6% – embora

tenham aumentado as experiências que se contam entre 1 a 4 vezes por mês.

A experiência de beber seis ou mais bebidas numa mesma ocasião é sobretudo

masculina: 55,8% dos homens (dos quais 5% com uma frequência semanal ou diária),

contra 22,6 das mulheres (frequência semanal ou diária de 1,3%).

A ocorrência desta experiência diminui com a idade. Assim, as respostas afi rmativas

representam 48,3% no grupo dos 15 aos 24 anos; 46,3% no grupo dos 25 aos 34; 43,5%

no grupo dos 35 a 44 anos; 37,2% no grupo dos 45 aos 54 anos e, por fi m, 30% no grupo

de idades que vai dos 55 aos 64 anos. As experiências mais frequentes (diariamente ou

várias vezes ao dia) observam-se, no entanto, nos grupos etários intermédios – 35 a 44 e

45 a 54 anos que a referem, respectivamente, em 1,6% e 2,1% dos casos.

87

Tabe

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70,0

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

88

CBA Portugal 2001-2007

3. Circunstâncias e contextos de consumo

Na medida em que o beber se pode enquadrar em diversos modelos culturais,

importa conhecer em que circunstâncias se bebe e quais os contextos em que beber

aparece como um comportamento adequado. São estas questões que discutiremos a

seguir.

3.1. Idades de início e fi m de consumo

Em média, a população portuguesa iniciou o consumo de bebidas alcoólicas com

17 anos de idade, com um desvio padrão de 4 anos. Os resultados dos inquéritos de

2001 e de 2007 são coincidentes neste ponto. No entanto as idades mais frequentes

variam ligeiramente de um inquérito para outro. Assim, as concentrações percentuais

mais elevadas registam-se para ambos os inquéritos ao nível dos 15 anos (10% em 2001

e 12% em 2007), 16 (11% e 17% e), 17 (9% e 11%), e 18 anos (17% nos dois casos).

Relativamente à duração de consumo, constata-se que 34% situa-se num período

superior a 25 anos, 15% entre 1 e 5 anos, 14% nos intervalos situados entre 6 e 10 anos

e entre 11 e 15 anos (em cada situação), 12% num período entre 16 e 20 anos, 11% num

período entre 21 e 25 anos e, por fi m, 0,6% num período inferior a um ano, valores já

verifi cados em 2001.

Podemos caracterizar o consumo de bebidas alcoólicas, quanto à duração do

mesmo, como sendo de média e longa duração: para cerca de 19% o consumo realizou-

-se durante um período inferior a 12 meses (proporção igual verifi cada em 2001), 18%

consumiu num período entre 1 a 5 anos (15% em 2001), 12% num período que varia

entre os 6 e os 10 anos (também verifi cado em 2001), 11% entre 11 e 15 anos (10% em

2001) e outros 11% num período entre 16 e 20 anos (com a mesma proporção em 2001),

e fi nalmente 29% consumiu durante um período superior a 20 anos (representando este

valor 36% da população em 2001).

Relativamente ao fi m de consumo, verifi ca-se uma diminuição na idade em que este

facto ocorre, passando dos 33 anos em 2001 para os 32 anos em 2007, em que a idade

mínima de último consumo é aos 6 anos de idade em 2001 e de 5 anos em 2007.

A duração do consumo é também inferior comparativamente a 2001: em termos

médios este representava em 2001 uma duração de 20 anos, enquanto em 2007 este

valor baixou para os 14 anos, sendo o valor máximo de duração de consumo 57 anos em

2001 e 53 anos em 2007.

89

Tabela 24. Idades da 1.ª vez, última vez e duração média de consumo de bebidas alcoólicas

Idade Duração (em anos)

1.ª Vez Última Vez

2001 2007 2001 2007 2001 2007

Média 17 17 33 32 20 14

Mediana 17 17 32 30 18 11

Moda 18 18 50 18 3 0

Máximo 58 60 64 64 57 53

Mínimo 7 2 6 5 0 0

Desvio Padrão 4 4 14,3 13,9 13,5 12,9

3.2. Motivos de início do consumo

Diversos são os motivos de consumo de bebidas alcoólicas. De uma forma geral,

as razões mais frequentemente referidas pelos consumidores para o início do consumo

são a necessidade de ser mais sociável, a infl uência do grupo de amigos, a necessidade

de se sentir alegre e ainda o facto de a substância ajudar a relaxar.

Apesar de a ordem de importância dos diferentes motivos ser quase idêntica entre

homens e mulheres, verifi ca-se um peso maior de motivos relacionados com questões

de sociabilidade – beber para ser mais sociável ou beber porque no grupo de amigos há

quem o faça também – ou de sensações procuradas – sentir-se alegre, relaxar, ou como

factor desinibidor de timidez – no género masculino.

A idade é também factor diferenciador dos motivos avançados para consumir

bebidas alcoólicas. Assim, os mais jovens (15 aos 24 anos) consomem com o intuito

de serem mais sociáveis e por existirem amigos a fazê-lo também. São também eles

os que mais afi rmam a experimentação como um dos motivos mais importantes para o

consumo, seguindo-se a procura de estados de euforia ou de descontracção/desinibição.

Pelo contrário, “beber para relaxar” é um motivo que é valorizado igualmente por todos

os grupos etários.

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

90

CBA Portugal 2001-2007

Tabela 25. Razões do consumo de bebidas alcoólicas, por género e grupos de idade (2007)

91

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

33,9

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19,3

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3,5

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Saúde

Não gosta

Só o faz esporadicamente

Apenas experimentou

Interdição de beber

Gravidez/amamentação

Decisão própria

Postura ético-social

Não apeteceu

Consequências

Risco de adição

Outros

2007

2001

3.3. Motivos de abandono do consumo

As razões que motivaram alguns consumidores de bebidas alcoólicas a deixar de o fazer prendem-se, em primeiro lugar, com motivos de saúde, seguindo-se a interrupção do consumo por desagrado face à substância consumida. Outra situação é não existir uma prática continuada do consumo e este ser feito apenas esporadicamente, situações que se aproximam de razões de abandono justifi cadas por um consumo estritamente experimental.

Gráfi co 7. Motivos de abandono do consumo de bebidas alcoólicas

Homens e mulheres indicam diferentes motivos para abandonar o consumo de bebidas alcoólicas: os homens referem sobretudo motivos de saúde ou o facto de não gostar; as mulheres, apesar de também referirem estes dois aspectos, acabam por indicar mais a frequência esporádica ou o carácter apenas experimental com que terão realizado esse consumo.

93

Tabela 26. Motivos de abandono do consumo de bebidas alcoólicas, por género (2007)

M F T

Risco de adição 0,0 1,9 1,2

Consequências 0,0 4,3 2,7

Não apeteceu 0,0 4,9 3,1

Postura ético-social 9,3 0,0 3,5

Decisão própria 5,3 3,8 4,8

Gravidez/amamentação 0,0 9,8 6,0

Interdição de beber 8,6 5,7 6,8

Apenas experimentou 8,8 18,9 15,1

Só o faz esporadicamente 6,5 23,7 17,1

Não gosta 30,4 12,4 19,3

Saúde 30,1 14,5 20,4

Também a idade constitui um factor destrinçador dos motivos de abandono: o facto de não gostar da substância é sobretudo afi rmado como motivo de abandono nos grupos etários mais jovens – 15-24 anos e 25-34 anos – enquanto os mais velhos referem com especial incidência motivos de saúde ou a realização de um consumo esporádico. Ainda que com percentagens totais mais baixas – são dos motivos menos mencionados – assinale-se as consequências do consumo observadas em terceiros como uma das razões apontadas pelos mais jovens, e o receio de adição como sendo mencionado pelos ex-consumidores de 55-64 anos.

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

Tabela 27. Motivos de abandono do consumo de bebidas alcoólicas, por grupos de idade (2007)

15-24 25-34 35-44 45-54 55-64

Saúde 18,6 24,0 20,2 18,0 24,6

Não gosta 35,2 34,9 8,7 0,0 12,7

Só o faz esporadicamente 9,6 21,6 11,5 24,0 25,3

Apenas experimentou 17,6 0,0 37,7 10,2 0,0

Interdição de beber 0,0 0,0 0,0 21,8 19,3

Gravidez/amamentação 0,0 19,6 10,0 0,0 0,0

Postura ético-social 0,0 0,0 0,0 15,5 0,0

Decisão própria 8,9 0,0 0,0 10,5 0,0

Não apeteceu 0,0 0,0 12,0 0,0 5,2

Consequências 10,2 0,0 0,0 0,0 0,0

Risco de adição 0,0 0,0 0,0 0,0 12,7

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

94

CBA Portugal 2001-2007

3.4. Situações de embriaguez

A maior parte da população consumidora afi rmou nunca ter fi cado embriagada, quer no decorrer do último ano (79%), quer no decorrer do último mês (92%) independentemente de consumir bebidas alcoólicas regularmente. Com experiências de embriaguez igual ou inferior a 5 vezes, encontramos 17% dos consumidores no último ano e 7% durante o último mês. Por outro lado, com um número de experiências de embriaguez superior a 5 vezes, registam-se cerca de 3% no último ano e menos de meio ponto percentual no último mês.

Comparativamente a 2001 constata-se um aumento (mais 6%) da proporção de população que experienciou situações de embriaguez no decorrer do último ano e manteve-se a mesma proporção relativamente ao último mês (8%).

O número de situações de embriaguez igual ao inferior a 5 vezes no último ano sofreu também um aumento entre os dois períodos de referência em análise: passando de 12% em 2001 para 17% em 2007. No último mês os valores mantêm-se nos 7% entre os dois anos de análise. A ocorrência de 6 ou mais situações de embriaguez no último ano mantém os valores de cerca de 3% de ocorrência, enquanto no último mês este valor sofre um decréscimo de 2% para 0,4% entre 2001 e 2007.

Tabela 28. Número de ocorrências de situações de embriaguez

Ultimo Ano Último Mês

2001 2007 2001 2007

Nunca 85,0 79,3 91,8 92,2

1 a 2 vezes 8,5 13,1 5,3 6,5

3 a 5 vezes 3,3 4,1 1,2 0,9

6 a 9 vezes 1,4 1,6 0,8 0,1

10 a 19 vezes 1,0 1,1 0,4 0,2

20 a 39 vezes 0,3 0,4 0,2 0,1

40+ vezes 0,5 0,3 0,2 0,0

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0

4. Tipologias do Consumo

Mobilizando a informação sobre a frequência de consumo de uma quantidade igual ou superior a seis copos de bebida numa mesma ocasião e a frequência de consumo dos diferentes tipos de bebidas alcoólicas – cerveja, alcopops, vinho e bebidas destiladas –

95

11 Os drinking patterns no caso canadiano são construídos com base na quantidade e na frequência de bebidas alcoólicas consumidas. Não tendo, no caso português, informação sobre a quantidade, a classifi cação dos respondentes é feita a partir da frequência de consumo de seis ou mais copos de uma qualquer bebida numa mesma ocasião.

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

construímos uma tipologia, baseada na utilizada no Canadian Addiction Survey11, que permite classifi car os indivíduos em seis perfi s de consumo:

• Abstinentes (A): que nunca consumiram álcool;

• Desistentes (D): que consumiram alguma vez ao longo da vida mas não nos últimos 12 meses;

• Consumidores moderados irregulares (MI): que consomem menos frequentemente do que uma vez por semana, normalmente menos de 6 copos de bebida numa mesma ocasião;

• Consumidores moderados regulares (MR): que consomem uma vez por semana ou mais, sendo normalmente em quantidade inferior a 6 copos numa mesma ocasião;

• Consumidores abusivos irregulares (AI): que consomem menos frequentemente do que uma vez por semana, em quantidades iguais ou superiores a 6 copos de bebida numa mesma ocasião;

• Consumidores abusivos regulares (AR): que consomem normalmente 6 ou mais copos numa mesma ocasião pelo menos uma vez por semana.

Aplicando a tipologia aos dois anos de resultados a nível nacional, esta é a distribuição dos indivíduos face ao consumo de bebidas alcoólicas:

Tabela 29. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas

2001 2007

Abstinentes 24,4 20,6

Desistentes 9,7 8,8

Moderados Irregulares 20,5 26,7

Moderados Regulares 37,6 34,7

Abusivos Irregulares 0,9 1,2

Abusivos Regulares 7 7,9

TOTAL 100,0 100,0

96

CBA Portugal 2001-2007

Em ambos os anos o perfi l de consumo que mais se destaca é aquele que corresponde a um consumo moderado, em quantidades inferiores a seis copos numa mesma ocasião, ocorrido numa base regular, ou seja, pelo menos uma vez por semana. Segue-se, com um ligeiro aumento de 2001 para 2007, o consumo moderado irregular, realizado numa base mais ocasional. A percentagem de ausências de consumo – os abstinentes – diminui ligeiramente entre os dois anos em análise, tendo aumentado ligeiramente, no entanto, aquele que é designado como um consumo mais abusivo, onde a quantidade de álcool consumido numa mesma ocasião é superior a 6 copos, seja ele realizado numa base mais ocasional ou com um registo de frequência mais intenso.

97

Capítulo II. Tipologia de consumo de álcool e característicassociodemográfi cas da população

Pretendemos aqui dar conta dos tipos de consumo e das características sociodemográfi cas da população consumidora de álcool.

Numa primeira leitura, os diferentes perfi s de consumo de bebidas alcoólicas terão como vector principal de análise a caracterização individual, nas informações sobre género, idade, estado civil e nacionalidade.

Segue-se uma leitura tendo em conta a sua caracterização socioprofi ssional e económica. Questões como a educação formal, o trabalho – em termos de situação face ao trabalho, tipo de vínculo profi ssional, tempo de dedicação à actividade, indicador socioprofi ssional individual e os rendimentos fazem parte desta análise detalhada dos perfi s de consumo em termos socioprofi ssionais e socioeconómicos.

A terceira dimensão incide sobre o espaço, procurando perceber como se distribuem os perfi s de consumo em função da região, do distrito e da tipologia do grau de urbanização.

Por último, será dada uma atenção especial à caracterização do agregado familiar, onde se analisará a sua dimensão, posição e composição.

1. Caracterização individual

1.1. Género

Os perfi s de consumo de bebidas alcoólicas apresentam pesos diferentes em função do género. Aos homens associa-se um perfi l de consumo moderado e regular – cerca de metade dos consumidores masculinos bebe frequentemente uma quantidade inferior a 6 copos de bebida numa mesma ocasião. Às mulheres está mais associado um consumo menos frequente: em paralelo com a abstinência, encontra-se um consumo igualmente moderado, embora realizado mais ocasionalmente. Aliás, esse consumo moderado irregular nas mulheres aumentou em dez pontos percentuais o seu peso face a 2001, devido a uma ligeira diminuição da abstinência e da percentagem quer de desistentes quer do consumo moderado regular. Destaca-se ainda na análise por género o consumo abusivo regular (consumo em quantidades mais elevadas e realizado de forma regular) associado maioritariamente ao género masculino, assim como uma percentagem de desistências superior nas mulheres comparativamente àquela que se regista para os homens.

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

Abstinentes Desistentes Moderados

Irregulares Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Masculino 14,8 10,7 6,8 7,5 15,3 16,8 49,6 49,3 1,0 1,6 12,4 14,1

Feminino 33,6 30,3 12,4 10,2 25,5 36,4 26,1 20,5 0,7 0,8 1,7 1,9

TOTAL 24,4 20,6 9,7 8,8 20,5 26,7 37,6 34,7 0,9 1,2 7,0 7,9

Abstinentes Desistentes Moderados

Irregulares Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

15-24 34,0 25,4 6,5 6,5 32,5 39,6 18,2 18,0 1,9 2,6 6,9 8,0

25-34 19,9 20,0 8,2 7,8 23,2 32,5 38,6 27,9 0,2 1,5 9,0 10,4

35-44 22,2 19,1 9,1 9,0 16,7 24,2 44,5 38,0 0,3 1,2 7,2 8,5

45-54 21,5 17,7 11,0 9,9 14,3 21,2 46,3 43,8 0,4 0,4 6,5 7,0

55-64 24,2 21,7 15,3 11,3 12,2 14,7 43,9 47,3 0,3 0,2 4,1 4,7

TOTAL 24,4 20,6 9,7 8,8 20,5 26,7 37,6 34,7 0,9 1,2 7,0 7,9

Tabela 30. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função do género

Tabela 31. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função da idade

1.2. Idade

Além da diferenciação por género, também a idade faz desenhar perfi s diferenciados de consumo de bebidas alcoólicas. A abstinência e o consumo pouco frequente e de reduzida intensidade (consumo moderado irregular) parecem ser características associadas às camadas mais jovens da sociedade, particularmente até aos 24 anos. Pelo contrário, o abandono do consumo e o consumo moderado mas com um cariz regular estão associados a populações mais idosas (entre os 55 e os 64 anos). Nos perfi s de consumo mais abusivo, destacam-se os mais jovens numa prática de consumo irregular de 6 ou mais copos de bebida numa mesma ocasião, enquanto que é ao grupo etário dos 25-34 anos e seguinte que o consumo abusivo ocorrido numa base mais frequente (pelo menos uma vez por semana) mais se associa.

1.3. Estado civil

O estado civil aqui considerado tem como base de análise a classifi cação do Instituto Nacional de Estatística acerca da situação jurídica do indivíduo face às relações pessoais que constam no registo civil, que se divide nas categorias de solteiro, casado, viúvo e

99

Abstinentes Desistentes Moderados

Irregulares Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Solteiro 28,7 20,4 7,4 7,8 30,2 33,0 22,9 25,0 1,7 2,6 9,0 11,2

União de Facto 29,9 13,8 2,9 7,8 17,9 30,8 32,3 33,9 0,2 1,5 16,7 12,3

Casado 21,8 20,7 10,8 9,2 16,9 23,6 44,7 40,7 0,5 0,5 5,4 5,4

Viúvo 29,7 34,0 15,9 13,2 14,5 15,1 33,1 33,7 0,8 0,3 5,9 3,8

Divorciado/Separado 24,0 20,1 6,9 9,9 16,4 23,7 42,2 35,0 1,1 0,0 9,5 11,3

TOTAL 24,4 20,6 9,7 8,8 20,5 26,7 37,6 34,7 0,9 1,2 7,0 7,9

Tabela 32. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função do estado civil

divorciado. Para uma melhor defi nição da situação familiar dos indivíduos, optamos por integrar a categoria viver em união de facto.

Cruzando-se a informação relativa à tipologia de consumo de bebidas alcoólicas com o estado civil dos indivíduos, constata-se que entre os abstinentes e os desistentes domina a população viúva. Os consumos moderados alteram-se como mais signifi cativos na população solteira, para consumos menos regulares (MI), e na população casada para consumos com um cariz mais regular (MR). Finalmente, os consumos abusivos são atribuídos de forma mais signifi cativa à população solteira nos consumos de menor frequência (AI) e à população que vive em união de facto para os consumos de maior frequência (AR).

Entre os dois anos de análise as tendências gerais são semelhantes, de salientar contudo o aumento do número de viúvos abstinentes com a diminuição de abstinentes solteiros. Evidencia-se também a diminuição do consumo abusivo irregular entre a população divorciada/separada e o aumento da proporção de população solteira e a viver em união de facto nesta categoria.

1.4. Nacionalidade

A proporção de população com nacionalidade estrangeira que consumiu alguma vez na vida uma qualquer bebida alcoólica é de 6%. Neste sentido, a nacionalidade dos inquiridos será feita com base numa junção entre países, de acordo com a representatividade que cada nacionalidade assume face ao total da população. As categorias gerais de análise integram as modalidades Portuguesa, Europa dos 27 (subdividida entre Espanha, França e Outros países); África (diferenciando-se da categoria outros países africanos, os países de Angola, de Cabo Verde, de Guiné, de Moçambique e de São Tomé e Príncipe); América

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

100

CBA Portugal 2001-2007

do Sul (analisada através da categoria Brasil e Outros países); Ásia; América do Norte e

Oceânia.

Neste sentido, e analisando a composição de cada perfi l de consumo, constata-se

que ao nível da abstinência os países da América do Sul, alguns países africanos (como

a Guiné e Moçambique), a Ásia e a América do Norte apresentam-se como os países

onde o não consumo de bebidas alcoólicas é mais elevado. A nacionalidade portuguesa,

assume o 9º lugar quando analisada a proporção de abstinentes entre a sua população.

A presença de população desistente é reduzida, pelo que a sua análise em termos

de características da população que a compõe reveste-se de igual forma de baixas

proporções. As nacionalidades que se destacam relativamente a um perfi l de desistência

são o Brasil, a Espanha, a América do Norte, Angola, Moçambique e Cabo Verde,

seguindo-se Portugal.

Tendo em conta os consumos moderados com uma frequência irregular destacam-

-se as nacionalidades francesa, os países da América do Norte, outros países africanos

(que não os destacados), outros países europeus não pertencentes à Europa dos 27 e o

Brasil. A nacionalidade portuguesa assume neste perfi l de consumo o 7º lugar. O consumo

moderado com frequência regular é mais signifi cativo em populações provenientes da

Ucrânia, de países asiáticos, de Moçambique, de Espanha e de São Tomé e Príncipe.

Finalmente, os consumos abusivos são mais comuns, quando se trata de uma

periodicidade irregular em populações provenientes de São Tomé e Príncipe, Brasil,

França, Portugal e Angola. Enquanto os consumos mais regulares são proporcionalmente

mais signifi cativos em populações provenientes da Oceânia, de outros países da Europa

dos 27, de Angola, de França e de outros países africanos. Surgindo Portugal como o

sexto país com uma maior proporção de população com um perfi l abusivo e regular de

consumo de bebidas alcoólicas.

Em termos gerais e comparando a proporção que cada um dos perfi s assume em

cada ano de análise, verifi ca-se que entre a população de nacionalidade portuguesa

ocorre uma diminuição da proporção de abstinentes, de desistentes e de consumidores

moderados regulares, enquanto a proporção de consumidores moderados irregulares e

de consumidores abusivos regulares aumentam.

Tendo em conta a população de nacionalidade estrangeira verifi ca-se de igual

forma uma diminuição da proporção do perfi l abstinente, compensado nesta população

com o aumento da proporção de população desistente e de consumo moderado regular. Os restantes perfi s mantêm um peso semelhante entre os dois anos de análise.

101

Tabela 33. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função da nacionalidade

Abstinentes Desistentes Moderados

Irregulares Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Portuguesa 25,3 20,4 7,5 8,8 28,4 26,8 29,4 34,9 1,0 1,2 8,5 7,9

Europa dos 27

Espanha 54,5 19,0 9,1 14,3 0,0 19,0 36,4 42,9 0,0 0,0 0,0 4,8

França 16,7 8,3 3,3 4,2 40,0 45,8 33,3 27,1 0,0 2,1 6,7 12,5

Outros 0,0 18,8 0,0 0,0 33,3 29,2 66,7 35,4 0,0 0,0 0,0 16,7

Resto da Europa

Ucrânia 0,0 28,0 11,1 4,0 33,3 10,0 44,4 56,0 0,0 0,0 11,1 2,0

Outros 0,0 20,0 0,0 0,0 33,3 40,0 66,7 40,0 0,0 0,0 0,0 0,0

África

Angola 41,5 20,2 7,4 10,6 14,9 27,7 25,5 25,5 1,1 1,1 9,6 14,9

Cabo Verde 50,0 27,2 3,8 9,8 15,4 26,1 15,4 30,4 0,0 1,1 15,4 5,4

Guiné-Bissau 32,0 45,1 4,0 2,0 12,0 25,5 44,0 19,6 0,0 0,0 8,0 7,8

Moçambique 50,0 40,0 0,0 10,0 50,0 5,0 0,0 45,0 0,0 0,0 0,0 0,0

S. Tomé e P. 66,7 7,1 0,0 0,0 16,7 21,4 16,7 42,9 0,0 21,4 0,0 7,1

Outros 0,0 26,3 33,3 0,0 33,3 42,1 33,3 21,1 0,0 0,0 0,0 10,5

América do Sul

Brasil 22,6 17,4 7,5 15,1 26,4 31,2 32,1 26,1 3,8 2,3 7,5 7,8

Outros 16,7 55,0 0,0 5,0 33,3 15,0 50,0 25,0 0,0 0,0 0,0 0,0

América do Norte 40,0 28,6 0,0 14,3 40,0 42,9 0,0 7,1 20,0 0,0 0,0 7,1

Oceânia 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 42,9 0,0 0,0 0,0 57,1

Ásia 47,4 33,3 0,0 0,0 26,3 11,1 26,3 55,6 0,0 0,0 0,0 0,0

TOTAL 24,4 20,6 9,7 8,8 20,5 26,7 37,6 34,7 0,9 1,2 7,0 7,9

2. Caracterização socioprofi ssional e económica

2.1. Educação formal

Relativamente ao tipo de educação formal dos inquiridos constatamos tendências diferenciadas tendo em conta os seus hábitos de consumo de bebidas alcoólicas. Efectivamente, a população não consumidora e a que deixou de consumir bebidas alcoólicas caracteriza-se por um nível de educação formal baixo: entre os abstinentes existe uma elevada proporção de analfabetos, assim como de população sem escolaridade ou com escolaridade baixa (até ao 2º ciclo). Também os consumidores moderados regulares apresentam um nível de educação formal relativamente baixo, ao nível dos 1º e 2º ciclos. Os consumos irregulares, quer sejam moderados ou abusivos, são os que pautam pela

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

presença de população com nível de educação formal mais elevada. Efectivamente, tanto entre os consumidores moderados irregulares como entre os consumidores abusivos irregulares domina um conjunto de população com nível de escolaridade entre o ensino médio e o ensino superior. Finalmente, os consumidores abusivos regulares atravessam quase todos os níveis de educação formal. Existindo contudo uma maior incidência nos níveis de ensino básico (2º e 3º ciclos) e no ensino superior. Entre ambos os anos de análise o perfi l de consumo de bebidas alcoólicas tendo em conta o nível de educação formal dos inquiridos mantém a tendência acima descrita.

Tabela 34. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função do nível de educação formal

Abstinentes Desistentes Moderados

Irregulares Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Analfabeto 31,9 38,0 16,6 10,9 9,4 12,4 36,2 30,7 0,5 0,0 5,4 8,0

1º ciclo 23,8 23,8 12,8 10,8 12,6 15,8 43,9 42,7 0,4 0,2 6,4 6,6

2º ciclo 23,3 17,5 9,2 9,9 18,0 20,6 41,8 42,4 0,8 0,6 7,0 8,9

3º ciclo 28,1 21,0 7,7 8,5 22,9 27,2 31,4 33,3 0,8 1,3 9,0 8,7

Ens. secundário 26,2 20,2 6,9 8,6 27,6 34,7 31,5 27,2 1,4 1,9 6,4 7,5

Ensino médio 17,8 20,7 8,1 4,0 28,0 37,1 36,5 27,0 1,8 3,2 7,9 8,0

Ensino superior 18,4 16,2 6,1 6,0 36,2 37,2 31,3 29,8 1,7 2,1 6,4 8,6

TOTAL 24,4 20,6 9,7 8,8 20,5 26,7 37,6 34,7 0,9 1,2 7,0 7,9

2.2. Trabalho

A actividade laboral dos inquiridos foi analisada tendo em conta aspectos como a posição perante o emprego, o grupo profi ssional a que pertence, a actividade laboral que desempenha, a situação na profi ssão, o tipo de vínculo profi ssional, o tempo dedicado à actividade profi ssional e fi nalmente um último aspecto de análise que resulta da combinação dos indicadores anteriores: o indicador socioprofi ssional individual.

2.2.1. Posição perante o emprego

A posição perante o emprego pode constituir-se enquanto causa/efeito do tipo de consumo de bebidas alcoólicas. Neste sentido, constata-se que o perfi l dos inquiridos abstinentes bem como dos desistentes se caracteriza por situações de inactividade laboral: entre os abstinentes domina a presença de indivíduos com actividades ligadas às tarefas do lar, desempregados, reformados ou estudantes; entre os desistentes existe uma maior proporção de indivíduos acidentados ou que estão “de baixa”. O domínio de

103

populações que não apresentam uma actividade laboral é também frequente no perfi l de consumo moderado e irregular de bebidas alcoólicas: estudantes, militares e indivíduos que vivem de rendimentos ou que se encontram incapacitados para realizar actividades laborais são as principais posições perante o emprego que se evidenciam neste perfi l de consumo.

Contrariamente aos não consumidores (que nunca o foram ou que desistiram) e aos que apresentam um consumo pouco frequente e de baixo intensidade (consumo moderado irregular), os consumidores moderados regulares são essencialmente indivíduos que mantém actualmente uma actividade laboral ou que em tempos já tiveram (reformados), sendo também expressiva a proporção de inquiridos que vivem de rendimentos.

O consumo abusivo irregular caracteriza-se pela existência de indivíduos que não apresentam actividade laboral, sendo maioritariamente populações estudantis e desempregados.

Tendo em conta o consumo abusivo regular, salienta-se a presença tanto de populações sem actividade profi ssional, nomeadamente incapacitados e desempregados, bem como de populações com ocupação profi ssional ou que se encontram no momento a estudar.

Comparativamente a 2001 ocorreram algumas alterações nas tendências gerais de alguns perfi s: no que confere ao perfi l dos abstinentes constata-se uma diminuição da proporção de estudantes, compensado com o aumento da proporção de inquiridos que se ocupam de tarefas do lar; no perfi l de consumo moderado irregular as tendências gerais também de alteram: se em 2001 dominavam as posições de acidentado ou “de baixa”, desempregado e estudante, em 2007 somente se manteve o grupo dos estudantes, sendo as outras duas posições ocupadas pelas posições militares e de populações que vivem de rendimentos; fi nalmente, o perfi l dos consumidores abusivos regulares apresenta também alterações: se em 2001 as posições perante o trabalho mais signifi cativas em termos proporcionais eram as de militar, acidentado ou “de baixa” e exerce uma actividade laboral, em 2007 os dois primeiros grupos diminuem o seu peso, passando a ocupar os primeiros três lugares as posições de desempregado e incapacitado, além da população que exerce uma actividade laboral, já encontrado em 2001.

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

Tabela 35. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função da posição perante o emprego

Abstinentes Desistentes Moderados

Irregulares Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 Exerce uma ocupação profissional

20,2 17,7 8,4 8,7 18,8 26,3 43,7 37,6 0,8 1,0 8,2 8,7

Desempregado 31,0 23,9 10,8 9,6 19,9 25,3 29,7 29,0 0,9 2,0 7,7 10,2

Acidentado/de “baixa” 29,0 16,1 17,8 30,4 21,5 21,4 21,5 28,6 0,0 0,0 10,3 3,6

Reformado 27,8 23,6 14,9 12,1 13,7 12,1 39,5 48,6 0,4 0,2 3,5 3,4

Incapacitado 18,8 8,6 26,1 24,1 7,2 29,3 39,1 27,6 0,0 0,0 8,7 10,3

Vive de rendimentos 23,4 23,1 14,1 3,8 14,1 30,8 48,4 42,3 0,0 0,0 0,0 0,0

Estudante 36,1 27,6 5,0 5,2 37,3 40,4 12,9 15,8 2,0 3,3 6,7 7,8

Militar 30,8 0,0 7,7 0,0 7,7 33,3 38,5 24,1 0,0 0,2 15,4 1,1

Tarefas do lar 29,8 39,6 17,1 9,8 16,3 25,2 34,6 24,1 0,5 0,2 1,6 1,1

TOTAL 24,4 20,6 9,7 8,8 20,5 26,7 37,6 34,7 0,9 1,2 7,0 7,9

2.2.2. Grupos profi ssionais

Para os indivíduos que declaram actividade profi ssional, e tendo como categorização a classifi cação nacional das profi ssões, verifi ca-se uma tendência para que a população abstinente e a desistente pertençam aos grupos profi ssionais menos privilegiados socialmente: entre os abstinentes dominam as profi ssões ligadas aos serviços e vendas, empregos não qualifi cados, agricultores e pessoal administrativo. No perfi l desistente dominam os agricultores, os trabalhadores não qualifi cados e os operadores de instalações e máquinas.

A população que apresenta hábitos moderados de consumo de bebidas alcoólicas pertence maioritariamente a grupos profi ssionais de maior prestígio social: no perfi l de consumo irregular dominam os grupos de profi ssões ligados ao pessoal administrativo, aos serviços e vendedores, especialistas e profi ssões científi cas e quadros superiores. O consumo moderado regular verifi ca-se nos grupos operários/ artífi ces e operadores de

105

instalações e máquinas, e a grupos de maior prestígio social, como são os de especialistas e profi ssões científi cas, de técnicos de nível intermédio e de quadros superiores. Os consumos abusivos mas que mantém uma periodicidade irregular distribuem-se entre especialistas e profi ssões científi cas, técnicos de nível intermédio, pessoal dos serviços e vendedores e operadores de instalações e máquinas, revelando uma heterogeneidade no que confere aos grupos de profi ssões com este perfi l de consumo. Nos consumos abusivos regulares destacam-se os operários/ artífi ces, os agricultores e os operadores de instalações e máquinas, e técnicos de nível intermédio. As tendências gerais mantém--se entre os dois anos de análise (2001 e 2007).

Tabela 36. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função do grupo profi ssional

Abstinentes Desistentes Moderados

Irregulares Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Quadros superiores 15,4 17,6 8,6 8,5 16,8 29,1 52,0 37,4 1,0 0,9 6,2 6,4

Especialistas e profissões científicas

16,9 16,0 7,0 5,1 29,5 31,1 40,6 39,3 0,8 2,6 5,2 6,0

Técnicos de nível intermédio 16,3 13,1 7,7 8,3 21,7 29,1 46,3 37,4 1,2 1,8 6,9 10,3

Pessoal administrativo 23,5 21,0 8,1 9,1 24,9 34,3 37,6 28,7 1,2 0,7 4,8 6,1

Pessoal dos serviços e vendedores

28,1 25,4 9,3 8,9 20,9 33,2 34,8 26,0 1,0 1,4 5,9 5,2

Agricultores 19,3 22,7 13,5 12,9 12,4 18,5 48,5 34,9 0,3 0,0 5,9 11,1

Operários/ artífices 17,3 16,9 9,1 8,2 13,9 18,3 48,2 44,0 0,7 1,2 10,9 11,5

Operadores de instalações e máquinas

12,6 12,9 9,1 10,1 15,7 21,2 54,8 44,1 0,4 1,4 7,4 10,3

Trabalhadores não qualificados 30,1 24,7 11,1 10,8 17,3 26,4 32,5 30,5 0,2 0,7 8,7 6,9

TOTAL 24,4 20,6 9,7 8,8 20,5 26,7 37,6 34,7 0,9 1,2 7,0 7,9

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

2.2.3. Situação na profi ssão

A situação na profi ssão demonstra de igual forma uma semelhança entre o perfi l dos abstinentes e dos desistentes. Efectivamente, para ambos os perfi s se destaca a presença de trabalhadores por conta de outrem no privado e/ou no público e trabalhadores por conta própria sem empregados. De salientar ainda que no grupo dos abstinentes a proporção de população trabalhadora familiar não remunerada é também elevada. O consumo moderado irregular é maioritariamente desenvolvido por trabalhadores familiares não remunerados, patrões ou trabalhadores por conta de outrem de ambos os sectores – público e/ou privado. Os consumidores moderados irregulares apresentam uma composição diferenciada e que indicia uma maior liberdade individual: são essencialmente trabalhadores por conta própria – com ou sem empregados – patrões e, em menor escala, trabalhadores por conta de outrem no sector público. O consumo abusivo regular revela a mesma tendência verifi cada no perfi l de consumo moderado regular: efectivamente, são os indivíduos cuja situação na profi ssão apresenta uma maior liberdade, ou seja, trabalhador por conta própria com empregados e patrão (embora o peso dos trabalhadores por conta de outrem do sector privado tenha também uma expressão considerável) os que estão mais bem representados neste perfi l de consumo. O consumo abusivo irregular apresenta uma distribuição pouco signifi cativa no que confere à situação na profi ssão, salientando-se a presença de trabalhadores por conta de outrem do sector privado. Em termos comparativos constata-se uma manutenção dos perfi s já defi nidos em 2001. De salientar, contudo, que entre a população desistente a tendência geral alterou--se: enquanto em 2001 os desistentes pertenciam em maior proporção aos grupos de trabalhadores por conta própria e trabalhadores familiares não remunerados, em 2007 os grupos mais signifi cativos passam a ser o dos trabalhadores por conta de outrem.

107

Tabela 37. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função da situação no trabalho

Abstinentes Desistentes Moderados

Irregulares Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Patrão 14,4 16,1 9,6 6,3 13,1 29,5 52,5 38,8 0,6 0,4 10,0 8,9

Por conta de outrem no privado

22,4 19,3 9,3 9,7 18,5 24,7 40,8 36,4 0,8 1,2 8,2 8,8

Por conta de outrem no público

23,0 18,0 8,6 8,8 24,0 28,5 37,9 38,3 0,9 0,8 5,5 5,6

Por conta própria sem empregados

19,3 17,9 10,8 10,3 16,2 24,2 48,6 39,5 0,2 0,5 4,8 7,6

Por conta própria com empregados

16,7 15,0 10,2 4,3 14,5 15,0 51,6 55,3 1,6 0,3 5,4 10,0

Trabalhador familiar não remunerado

27,0 28,6 12,7 4,8 17,5 33,3 41,3 33,3 0,0 0,0 1,6 0,0

TOTAL 24,4 20,6 9,7 8,8 20,5 26,7 37,6 34,7 0,9 1,2 7,0 7,9

2.2.4. Tipo de vínculo profi ssional

O vínculo contratual da profi ssão que se desempenha possibilita uma breve refl exão acerca da possível ligação entre perfi s de consumo de bebidas alcoólicas e a existência de situações contratuais instáveis. Assim, constata-se que os abstinentes mantêm uma situação contratual relativamente estável com contratos efectivos ou a prazo. Entre a população desistente encontram-se situações de maior instabilidade: a inexistência de vínculos contratuais e de contratos a prazo. Os consumidores moderados irregulares revelam também alguma fragilidade em termos de vínculos contratuais, sobressaindo as situações de recibos verdes e de contratos a prazo. Este perfi l distancia-se do dos consumidores moderados regulares, que se defi nem pela presença mais signifi cativa de situações de efectivo assim como de inexistência de vínculo contratual. Finalmente, os consumos abusivos, apesar da sua fraca expressão, evidenciam situações de instabilidade contratual: entre os consumidores com uma menor regularidade de frequência (consumidores abusivos irregulares) dominam as situações de recibos verdes e de contratos a prazo; enquanto que entre os consumidores regulares dominam as situações de inexistência de contrato e de contratos a prazo.

Comparativamente ao ano de 2001 constatam-se alterações nas tendências gerais de alguns perfi s de consumo, a saber: entre os desistentes verifi ca-se um aumento da proporção de população que se encontra com um vínculo contratual a prazo, passando

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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esta categoria em 2007 a ser a segunda situação contratual mais comum, posição essa ocupada em 2001 pela situação de recibos verdes. Também entre os consumidores abusivos regulares se encontram algumas alterações: o peso de inquiridos sem vínculo contratual aumentou consideravelmente, distanciando-se este valor do verifi cado noutras situações, nomeadamente no que confere à situação efectivo.

Tabela 38. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função do vínculo profi ssional

Abstinentes Desistentes Moderados

Irregulares Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Efectivo 21,5 19,6 8,4 8,4 17,2 23,3 44,8 40,7 0,8 0,8 7,3 7,2

Contrato a prazo 24,4 18,3 9,3 10,6 25,6 29,1 31,6 29,1 0,9 1,7 8,1 11,3

Recibos verdes 13,2 14,0 10,1 7,7 31,0 46,4 38,0 23,7 2,3 2,4 5,4 5,8

Nenhum vínculo 19,7 16,5 12,8 12,4 17,6 25,7 42,0 34,7 0,6 0,9 7,3 9,8

TOTAL 24,4 20,6 9,7 8,8 20,5 26,7 37,6 34,7 0,9 1,2 7,0 7,9

2.2.5. Tempo dedicado à actividade profi ssional

O tempo dedicado à actividade profi ssional diferencia-se ligeiramente se tivermos em conta cada um dos seis perfi s em análise. Os inquiridos abstinentes desenvolvem geralmente actividades a tempo parcial, contrariamente aos desistentes, cujas actividades profi ssionais não apresentam, na maioria dos casos, um horário defi nido. Entre os consumidores regulares, quer sejam moderados ou abusivos, existe uma tendência para que executem actividades a tempo parcial, enquanto os consumidores irregulares de maior ou menor intensidade, tendem a apresentar actividades sem horário defi nido. De salientar ainda que, entre os consumos abusivos regulares, a proporção de inquiridos com este perfi l de consumo nas restantes temporalidades é bastante semelhante ao verifi cado nos indivíduos que não apresentam uma temporalidade laboral defi nida.

Estabelecendo uma ligação aos resultados de 2001 verifi ca-se que no geral os perfi s de consumo em 2007 mantêm as tendências. A alteração mais signifi cativa encontra-se no perfi l de consumo abusivo regular: em 2001 o peso mais signifi cativo parecia recair sobre indivíduos que desempenhavam actividades a tempo inteiro, e em 2007 este perfi l de consumo associa-se preferencialmente a indivíduos que desempenham actividades laborais sem horário defi nido.

109

Tabela 39. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função do tempo dedicado à actividadeprofi ssional

Abstinentes Desistentes Moderados

Irregulares Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Tempo inteiro 22,0 19,1 8,7 9,1 18,2 24,6 42,6 38,1 0,8 1,0 7,7 8,2

Tempo parcial 26,8 22,9 11,0 9,7 30,9 36,7 24,2 20,7 1,4 1,5 5,8 8,5 Sem horário definido 16,2 13,3 16,6 11,7 16,7 25,6 45,4 39,8 0,3 0,7 4,8 8,9

TOTAL 24,4 20,6 9,7 8,8 20,5 26,7 37,6 34,7 0,9 1,2 7,0 7,9

2.2.6. Indicador socioprofi ssional individual

O indicador socioprofi ssional individual é construído a partir da conjugação de

diferentes aspectos da actividade profi ssional: a posição perante o emprego, a profi ssão

desempenhada através da análise do grupo profi ssional a que pertence, a situação

profi ssional e ainda o vínculo contratual.

Em termos de tendências gerais, e como se tem vindo a demonstrar através

das várias dimensões que compõem a análise do ponto referente ao emprego, os

abstinentes e os desistentes apresentam características laborais semelhantes:

pertencem maioritariamente a grupos socioprofi ssionais mais baixos na hierarquia social,

como sendo ligados às actividades agrícolas (assalariados agrícolas e agricultores

independentes) assim como a empregos de actividades executantes. Tendo em conta

os consumidores moderados irregulares verifi ca-se uma tendência para que estes se

posicionem nos lugares cimeiros da hierarquia socioprofi ssional: embora o peso do grupo

dos empregados executantes apresente uma elevada proporção de indivíduos neste

perfi l, os grupos dos empresários, dirigentes e profi ssionais liberais e o dos profi ssionais

técnicos e de enquadramento assumem um peso considerável. O perfi l dos consumidores

moderados regulares denota igualmente uma tendência para a presença de indivíduos

nos grupos mais baixos, entre os quais o dos operários, dos trabalhadores independentes

e dos agricultores independentes. Os consumidores abusivos caracterizam-se por uma

profunda heterogeneidade relativamente à posição ocupada na escala socioprofi ssional:

se entre os consumos irregulares se denota uma presença mais regular de inquiridos

dos grupos socioprofi ssionais de profi ssões técnicas e de enquadramento, empresários

bem como de operários e de empregados executantes, entre os consumidores regulares

denota-se a presença mais vincada de operários, de assalariados agrícolas assim como

de empresários e profi ssionais técnicos e de enquadramento.

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

Comparativamente a 2001 verifi cam-se algumas alterações nos vários perfi s em análise: entre os abstinentes e os desistentes constatam-se alterações ao nível dos 3 principais grupos socioprofi ssionais: de 2001 para 2007 a proporção de trabalhadores independentes abstinentes diminuiu consideravelmente, aumentando a proporção de agricultores independentes; entre os consumidores moderados irregulares assiste-se à diminuição da proporção de agricultores independentes e ao aumento da proporção de empregados executantes; fi nalmente nos consumos moderados regulares, as 3 principais posições sofrem uma alteração num dos grupos: enquanto em 2001 os principais grupos socioprofi ssionais eram o dos operários, agricultores independentes e empresários, dirigentes e profi ssionais dirigentes, em 2007 este último grupo deixou de ter uma tão grande representatividade, passando o grupo de trabalhadores independentes a ser um dos principais neste perfi l de consumo.

Tabela 40. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função do indicador socioprofi ssional individual

111

Abstinentes Desistentes Moderados

Irregulares Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

250 € ou menos 27,1 36,7 15,1 11,4 26,6 21,0 26,6 23,5 0,5 2,0 4,2 5,3

251-500 € 23,1 23,4 10,0 10,2 21,4 24,2 37,6 33,7 0,9 1,2 7,1 7,4

501-750 € 17,2 16,0 6,9 8,2 16,5 26,6 49,1 37,9 0,6 0,6 9,7 10,6

751-1000 € 19,1 12,2 7,3 8,4 15,5 24,6 49,0 40,2 1,5 1,4 7,6 13,1

Mais de 1000 € 22,2 11,8 8,4 10,5 16,8 23,9 43,8 36,0 1,4 3,9 7,5 13,9

TOTAL 24,4 20,6 9,7 8,8 20,5 26,7 37,6 34,7 0,9 1,2 7,0 7,9

2.3. Rendimento

2.3.1. Mensal líquido individual

Vamos atender agora ao nível económico dos inquiridos, aqui distribuídos pelos seis perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, através do rendimento mensal líquido individual.

Entre os abstinentes destacam-se as categorias de rendimentos mais baixos – 250 euros ou menos e entre 251 e 500 euros. Também entre os desistentes se registam estas duas categorias de rendimentos inferiores, mas igualmente a categoria de rendimentos mais elevados – acima dos 1000 euros.

Nos consumidores moderados, quer regulares, quer irregulares, destacam-se as categorias de rendimentos intermédios, entre os 501 e os 1000 euros.

Por fi m, nos consumidores abusivos, regulares e irregulares, os rendimentos são superiores, entre os 751 e os 1000 euros e acima destes. De ressalvar ainda, entre os consumidores abusivos irregulares, a categoria de rendimentos dos 250 ou menos euros.

Comparativamente aos dados do estudo referente a 2001, a distribuição dos perfi s mantém-se basicamente a mesma, com excepção para os consumidores moderados irregulares onde se destacavam as categorias de rendimentos até 500 euros mensais e em 2007 passam a destacar-se as categorias de rendimentos entre os 501 e os 1000 euros mensais.

Tabela 41. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função do rendimento mensal líquido individual

2.3.2. Mensal líquido do agregado familiar

Atendendo agora ao nível económico dos inquiridos tendo em conta o rendimento mensal líquido do agregado familiar verifi camos que entre os não consumidores – abstinentes e desistentes – continuam a destacar-se os escalões de rendimento inferiores (até um máximo de 500 euros).

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

Entre os consumidores moderados os escalões de rendimento aumentam, passando a ser mais signifi cativos os valores acima dos 751 euros e, no caso dos consumidores moderados irregulares valores acima dos 1000 euros.

Nos consumidores abusivos irregulares destaca-se a categoria de rendimentos intermédia – entre os 501 e os 750 euros – e no caso dos consumidores abusivos regulares, a categoria de rendimentos que assume maior destaque é a dos 250 euros ou menos, apesar das categorias de rendimentos entre os 501 e os 1000 euros também se destacarem.

Em relação aos dados de 2001 a maioria dos seis perfi s apresenta as mesmas tendências em termos do rendimento mensal líquido do agregado familiar. As excepções vão para os abstinentes que se apresentam mais representados em 2007 nas categorias de rendimentos inferiores, enquanto em 2001, para além da categoria de rendimentos mais relevante ser a dos 250 euros ou menos, também a categoria de mais de 1000 euros apresentava um peso importante; nos consumidores abusivos irregulares destacavam--se em 2001 as categorias de rendimento acima dos 751 euros, enquanto em 2007 a categoria que mais se destaca é a dos rendimentos entre os 501 e os 750 euros; e, por fi m, nos consumidores abusivos regulares destaca-se o aumento, relativamente a 2001, do escalão de rendimentos inferior (250 euros ou menos).

Tabela 42. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função do rendimento mensal líquidodo agregado familiar

Abstinentes Desistentes Moderados

Irregulares Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

250 € ou menos 25,2 39,7 19,0 13,8 16,5 9,5 34,6 25,9 0,3 0,9 4,4 10,3

251-500 € 22,8 30,4 14,7 11,7 17,2 16,0 38,4 34,0 0,5 0,9 6,3 7,0

501-750 € 21,6 22,9 10,5 10,2 18,6 21,8 42,7 34,1 0,6 1,2 6,0 9,8

751-1000 € 22,8 19,4 8,6 9,0 18,7 22,7 41,0 38,1 0,9 0,8 8,0 9,9

Mais de 1000 € 23,6 16,6 8,3 9,8 19,8 27,5 40,8 36,1 1,0 0,8 6,6 9,2

TOTAL 24,4 20,6 9,7 8,8 20,5 26,7 37,6 34,7 0,9 1,2 7,0 7,9

3. Caracterização espacial

3.1. Região

A distribuição dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas num plano regional permite melhor conhecer o país onde o álcool é a substância psicoactiva mais consumida.

113

Fazendo a análise das regiões em cada um dos perfi s de consumo, e distinguindo primeiro os que não consomem, verifi camos que entre os abstinentes (cerca de 21% da população total) se destacam as regiões da Madeira, do Algarve e do Alentejo; entre os desistentes (cerca de 9% da população total) destacam-se as regiões dos Açores, de Lisboa e do Alentejo.

Os consumidores moderados, quer regulares (35% da população total), quer irregulares (27% da população total) são os mais representativos a nível nacional. Em termos regionais, destacam-se entre os consumidores moderados regulares o Norte, o Centro e o Algarve; entre os moderados irregulares surgem com maior destaque as regiões Açores, Lisboa e Centro.

Os consumidores abusivos, quer os regulares, quer os irregulares, existem em menor número na população portuguesa. Os primeiros surgem com valores acima da média nacional (8% da população total) nas regiões do Algarve, do Alentejo e do Centro; os consumidores abusivos irregulares, que são cerca de 1% da população total, apresentam valores superiores a este nas regiões dos Açores, do Algarve e de Lisboa.

Fazendo a leitura de outro modo, podemos dizer que as regiões do Norte, do Centro e de Lisboa apresentam uma distribuição dos perfis de consumo de bebidas alcoólicas igual ao encontrado para a população nacional, ou seja, ordenando por grau decrescente de representatividade, temos primeiro os consumidores moderados regulares e depois os irregulares, seguidos dos abstinentes e dos desistentes, e por fim os consumidores abusivos, primeiro os regulares, depois os irregulares. Fogem a esta distribuição dos perfis as regiões do Alentejo e do Algarve, onde os abstinentes surgem como os segundos mais frequentes, passando os moderados irregulares para terceiro lugar, mantendo-se os restantes na mesma ordem; os Açores, em que os moderados irregulares surgem como o perfil de maior peso e em segundo surgem então os moderados regulares, mantendo-se também os restantes perfis iguais aos apresentados para o país; e a Madeira, onde o perfil que mais se destaca é o dos desistentes, seguido dos moderados regulares e depois os irregulares, mantendo-se os restantes pela mesma ordem.

Fazendo agora uma análise tendo em conta os anos a que reportam os dois estudos, Lisboa e Madeira são as regiões onde se regista uma maior alteração dos perfi s de consumo entre 2001 e 2007, embora com tendências diferentes: em Lisboa verifi ca-se uma diminuição dos abstinentes e um aumento dos moderados irregulares; na Madeira, diminui signifi cativamente a proporção de desistentes e aumenta ainda mais o peso dos abstinentes, de resto o perfi l mais presente nesta região autónoma.

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

Tabela 43. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função das regiões (NUT II)

Abstinentes Desistentes Moderados

Irregulares Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Norte 23,7 22,9 8,4 7,7 18,4 24,4 42,9 36,7 0,7 1,1 5,9 7,3

Centro 17,0 16,7 12,7 9,2 22,9 29,1 38,3 35,8 1,2 0,9 7,8 8,3

Lisboa 30,9 17,1 7,5 10,4 19,5 29,6 34,7 33,8 0,5 1,4 6,9 7,6

Alentejo 31,0 25,7 10,6 9,6 20,2 23,6 29,5 29,6 1,1 1,3 7,7 10,2

Algarve 30,4 27,2 7,5 3,4 21,2 19,2 31,0 35,0 1,0 2,1 8,8 13,1

Açores 20,8 19,4 13,7 13,1 30,1 35,7 26,8 25,1 2,4 2,5 6,3 4,2

Madeira 9,9 36,5 19,1 7,6 30,6 20,8 26,6 29,2 1,9 0,3 11,8 5,6

TOTAL 24,4 20,6 9,7 8,8 20,5 26,7 37,6 34,7 0,9 1,2 6,9 7,9

3.2. Distrito

Fazendo agora a análise por distrito, destacam-se entre os abstinentes o de Portalegre, Madeira, Braga e Bragança. Comparativamente a 2001, Portalegre era e continua a ser o distrito de maior destaque entre os abstinentes e a Madeira que se assumia como a menos abstinente passou a assumir um lugar de destaque entre este perfil de consumidores.

Entre os desistentes destacam-se, em 2007, os Açores, Guarda e Vila Real, quando em 2001, e por ordem decrescente de representatividade, se destacavam a Madeira, Leiria e Açores.

Passando agora para os consumidores moderados, entre os irregulares ressaltam os Açores, Coimbra e Guarda, quando em 2001 se destacam as duas regiões autónomas e Viseu; entre os regulares destacam-se os distritos de Viana do Castelo, Santarém e Aveiro, distritos que já se apresentavam como preponderantes em 2001, assim como o de Braga.

Entre os consumidores abusivos (regulares e irregulares) destaca-se o distrito de Portalegre. Nos consumidores abusivos irregulares ressaltam ainda os distritos de Setúbal, Coimbra, Faro e os Açores, quando em 2001 os distritos mais salientes entre este perfil de consumidores eram os de Évora, Beja e Açores. Nos consumidores abusivos irregulares, para além de Portalegre, destacam-se ainda os distritos de Beja, Vila Real, Faro e Castelo Branco. Com excepção para Vila Real, todos estes distritos eram também em 2001 mais marcantes neste perfil de consumo juntamente com a Madeira.

115

Tabela 44. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função dos distritos

Abstinentes Desistentes Moderados

Irregulares Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Aveiro 19,4 22,4 11,3 7,0 18,9 25,2 44,3 37,2 0,7 1,1 5,4 7,1

Beja 31,9 17,1 6,4 9,1 19,1 30,9 27,0 25,1 2,0 1,7 13,7 16,0

Braga 20,2 28,8 8,0 5,9 16,8 20,0 47,5 35,8 0,6 1,0 6,9 8,5

Bragança 22,1 28,7 12,6 9,8 20,5 24,4 41,1 32,9 0,5 0,0 3,2 4,3

Castelo Branco 32,8 15,6 13,0 7,6 17,2 31,3 24,0 33,0 1,5 0,9 11,5 11,6

Coimbra 19,7 15,9 11,1 9,0 23,3 34,8 33,9 30,8 1,9 2,2 10,1 7,3

Évora 27,4 23,4 9,4 8,9 22,9 31,3 30,5 28,6 2,2 1,6 7,6 6,3

Faro 30,1 27,2 7,5 3,5 21,0 19,6 31,3 34,1 0,9 2,2 9,2 13,5

Guarda 19,3 9,3 11,7 12,9 20,6 34,5 40,4 35,1 0,4 1,5 7,6 6,7

Leiria 16,3 19,9 14,8 7,7 23,7 29,6 36,2 34,8 1,4 0,4 7,6 7,7

Lisboa 31,7 17,3 7,9 10,6 19,9 31,2 33,4 33,0 0,6 0,9 6,6 7,0

Portalegre 34,8 46,7 8,4 5,9 10,1 12,6 27,1 8,1 1,3 3,0 10,3 23,7

Porto 26,1 21,7 8,2 7,8 19,5 27,7 39,5 36,0 0,8 1,4 5,9 5,3

Santarém 24,8 26,3 10,7 9,2 19,8 18,9 41,9 40,5 0,2 0,6 2,7 4,5

Setúbal 24,9 15,2 9,6 10,5 19,7 29,4 37,8 32,5 0,4 2,4 7,6 9,9

Viana do Castelo 22,5 11,3 4,9 9,2 16,4 29,7 50,8 41,7 0,0 0,7 5,5 7,4

Vila Real 26,5 8,3 8,2 12,6 17,7 32,0 43,2 30,4 0,0 1,6 4,4 15,0

Viseu 14,6 24,3 12,8 8,8 24,7 20,7 41,2 36,7 0,8 0,7 6,0 8,8

Açores 20,9 19,2 13,8 13,0 29,7 36,6 27,2 25,0 2,2 2,2 6,3 4,0

Madeira 9,9 36,9 19,6 7,7 29,8 20,9 26,8 28,6 1,8 0,3 12,0 5,6

TOTAL 24,4 20,6 9,7 8,8 20,5 26,7 37,6 34,7 0,9 1,2 7,0 7,9

3.3. Tipologia do grau de urbanização

Tendo agora em conta a tipologia do grau de urbanização, os abstinentes, que em 2001 se faziam notar sobretudo em áreas predominantemente urbanas são, em 2007, preponderantes em áreas medianamente urbanas. Os desistentes em ambos os anos de análise destacam-se sobretudo nas áreas predominantemente rurais.

Relativamente aos consumidores moderados, os irregulares destacam-se nas áreas predominantemente urbanas em ambos os anos de análise, e os regulares que se faziam notar em 2001 em áreas medianamente urbanas, passam em 2007 a fazer-se notar em áreas predominantemente rurais.

Os consumidores abusivos irregulares distribuem-se uniformemente em 2007 entre as áreas predominante e medianamente urbanas, sendo que em 2001 se destacavam essencialmente nas áreas predominantemente urbanas. Por fi m, os consumidores

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

abusivos regulares que eram em 2001 predominantes nas áreas urbanas passam em 2007 a ser predominantes nas áreas rurais.

Tabela 45. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função da tipologia do grau de urbanização

Abstinentes Desistentes Moderados

Irregulares Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

APU 25,9 20,1 8,9 8,8 20,6 27,1 36,5 34,9 1,0 1,3 7,2 7,9

AMU 19,8 23,9 11,0 8,1 20,3 25,9 41,7 33,6 0,8 1,3 6,4 7,4

APR 23,3 20,0 11,5 10,0 20,4 25,6 37,8 35,4 0,5 0,6 6,5 8,4

TOTAL 24,4 20,6 9,7 8,8 20,5 26,7 37,6 34,7 0,9 1,2 7,0 7,9

4. Caracterização do agregado familiar

Conhecendo melhor o contexto familiar em que o indivíduo se insere teremos maiores possibilidades de perceber um pouco melhor os perfi s de consumo de bebidas alcoólicas que se traçam, partindo do princípio de que a família pode ser factor diferenciador da frequência e intensidade de consumo.

Atendendo à informação de que dispomos, são o tipo de agregado familiar em que se insere, a sua situação/posição no agregado em termos de dependência de ou para com terceiros, e a dimensão do agregado no que toca ao número de pessoas que o compõem, que, em concreto, nos vão ajudar a defi nir o contexto familiar dos inquiridos.

4.1. Composição do agregado familiar

A situação mais comum em termos de tipo de agregado é a de o inquirido fazer parte de um núcleo familiar composto por um casal com fi lho(s) (53,8%). Seguem-se, em termos de representatividade, os casais sem fi lhos (18,6%), a pessoa singular (que vive sozinha, com 9,2%) e a família monoparental (9,1%). A diversidade de tipos de agregado familiar contempla ainda situações como a de famílias extensas ou alargadas (com três ou mais gerações a coabitar, representando 4,8%) e outros modelos de constituição do agregado, cada um representando menos de 2% do total da população.

Na análise da distribuição dos perfi s de consumo de álcool por tipo de agregado familiar surgem diferenças interessantes a registar: é em agregados onde coabita o casal, com ou sem fi lhos e, no caso de não haver fi lhos, com ou sem pai(s) a viver consigo onde os moderados regulares apresentam maior peso, ocorrendo também semelhante prevalência entre os indivíduos que vivem sós; em contrapartida, em famílias que fogem ao

117

“padrão normal”, ou seja, famílias monoparentais, duas famílias em coabitação e famílias alargadas, o perfi l de consumo maioritariamente representado é também o moderado, mas aquele que ocorre de uma forma irregular. Acresce ainda que a percentagem de abstinentes é inferior em famílias monoparentais ou em famílias em coabitação, justamente aquelas onde a percentagem de desistentes é ligeiramente superior.

Em relação aos consumos abusivos, destacamos a particularidade de eles incidirem mais junto de indivíduos que vivem sós ou de agregados que são constituídos por grupos de amigos que vivem em conjunto.

De 2001 para 2007, a assinalar o aumento de consumidores moderados irregulares em quase todos os tipos de agregados, e a diminuição signifi cativa de consumidores desistentes entre o grupo de amigos em coabitação e de abstinentes nas famílias em coabitação, justamente os dois tipos de agregado que apresentam um maior crescimento do consumo moderado irregular. No caso das famílias em coabitação, a assinalar a diminuição signifi cativa de consumo abusivo.

Tabela 46. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função do tipo de agregado familiar

Abstinentes Desistentes Moderados

Irregulares Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Singular 23,3 21,1 10,6 9,0 15,6 20,0 39,0 36,7 0,9 0,5 10,6 12,7

Casal sem filhos 20,6 21,2 11,8 8,9 15,7 21,8 45,7 40,9 0,6 0,6 5,6 6,6

Casal sem filhos a viver com pai(s) (e irmãos)

24,1 22,4 12,3 8,5 20,3 26,1 40,1 37,6 0,5 0,6 2,7 4,8

Casal com filhos 24,9 20,4 8,8 8,4 21,6 28,2 37,5 34,3 0,7 1,2 6,4 7,5

Família monoparental 26,5 18,8 9,0 12,0 23,9 29,7 29,2 27,6 2,2 2,5 9,2 9,5

Agregado/grupo de amigos 22,6 21,2 19,0 5,4 17,9 36,0 26,2 24,3 2,4 1,4 11,9 11,7

Famílias em coabitação 28,9 17,6 8,3 12,4 20,6 37,9 26,7 29,4 1,3 0,0 14,3 2,6

Família de três gerações 28,9 22,5 9,5 7,3 27,7 30,7 26,7 29,9 1,1 2,9 6,0 6,7

TOTAL 24,4 20,6 9,7 8,8 20,5 26,7 37,6 34,7 0,9 1,2 7,0 7,9

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

4.2. Posição no agregado familiar

Perante a informação sobre a existência de fi lhos dependentes com idades superiores a 12 anos e, em caso negativo, a existência ou não de uma situação de dependência face ao(s) pai(s), podem-se integrar os indivíduos em três categorias diferentes face à sua posição no agregado familiar: aqueles que têm fi lhos adolescentes na sua dependência (24,3%), os que são, eles próprios, fi lhos dependentes dos pais em questões de alimentação, habitação e educação (16,7%), e os que não se encontram nem numa situação nem noutra (59,0%).

Destes três posicionamentos no interior do agregado familiar resultam perfi s de consumo ligeiramente distintos: os que têm fi lhos dependentes são claramente os que se enquadram melhor no perfi l de consumidor moderado regular, enquanto os indivíduos que vivem na dependência dos pais surgem mais como moderados irregulares, sendo também quem apresenta uma percentagem superior de consumos abusivos. Por contemplar uma diversidade de situações em termos de posicionamento no agregado, a situação de não existência de fi lhos dependentes e de não dependência dos pais é a que apresenta uma distribuição do peso dos perfi s de consumo similar à que encontramos para a população geral.

Em 2007, comparativamente a 2001, há um ligeiro aumento do consumo moderado irregular para os indivíduos com fi lhos e para aqueles que não dependem nem têm dependentes, e uma diminuição da percentagem de abstinentes no grupo dos indivíduos que vivem na dependência dos pais.

Tabela 47. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função do posicionamento no agregado familiar

Abstinentes Desistentes Moderados

Irregulares Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 Tem filhos dependentes com idades superiores a 12 anos

22,2 19,3 10,7 9,4 16,1 22,0 45,5 42,9 0,4 0,6 5,1 5,9

Vive na dependência de pai/mãe

29,8 21,3 6,4 7,0 34,6 39,2 19,1 20,0 2,0 2,6 8,0 9,8

Não tem filhos dependentes maiores de 12 anos nem vive na dependência de pai/mãe

23,7 20,9 10,3 9,1 17,8 25,1 40,1 35,6 0,7 1,0 7,5 8,2

TOTAL 24,4 20,6 9,7 8,8 20,5 26,7 37,6 34,7 0,9 1,2 7,0 7,9

119

Tabela 48. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função da dimensão do agregado familiar

4.3. Dimensão do agregado familiar

Um outro indicador sobre o contexto familiar refere-se à dimensão do agregado, ou seja, o número de pessoas que o compõem, que varia entre 1 elemento (um individuo singular, que representa 9,2%), 2 elementos (24,0%), 3 elementos (32,5%), 4 elementos (24,3%) e 5 ou mais elementos (10,0%).

Entre os abstinentes e os consumidores moderados regulares destacam-se os agregados familiares com 5 ou mais indivíduos, o que já ocorria em 2001. Entre os desistentes e os consumidores moderados irregulares destacam-se os agregados com 2 pessoas, facto que também já ocorria em 2001. Entre os consumidores abusivos irregulares destacam-se os agregados de 5 ou mais pessoas, quando em 2001 eram as pessoas singulares e os agregados de duas pessoas os que mais se destacavam neste perfi l. Nos consumidores abusivos regulares, quer em 2001, quer em 2007, sobressaem as pessoas singulares.

Abstinentes Desistentes Moderados

Irregulares Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Pessoa singular 23,2 21,1 10,7 8,9 15,4 20,1 39,2 36,6 0,9 0,5 10,6 12,7

2 pessoas 22,3 21,1 11,3 9,3 17,0 23,1 42,0 37,6 0,9 1,0 6,5 7,8

3 pessoas 24,8 19,7 9,5 8,9 20,7 28,6 37,3 33,6 0,7 1,1 6,9 8,1

4 pessoas 25,0 19,9 7,6 8,4 24,0 29,1 36,3 34,7 0,8 1,4 6,3 6,5 5 ou mais pessoas 25,6 24,1 10,6 7,6 24,3 29,6 32,6 29,8 0,8 2,2 6,0 6,7

TOTAL 24,4 20,6 9,7 8,8 20,5 26,7 37,6 34,7 0,9 1,2 7,0 7,9

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

Capítulo III. Tipologia de consumo de álcool e representações eatitudes face a comportamentos de risco

Tendo anteriormente construído uma imagem sociográfi ca de cada perfi l de

consumo de bebidas alcoólicas que podemos encontrar na população portuguesa a partir

da informação sociodemográfi ca, socioprofi ssional, escolar, entre outras, importa, agora,

começar a perceber quais os comportamentos que adoptam e as representações que

têm acerca de determinados assuntos. Sabendo que a percepção do risco resulta da

combinação entre a probabilidade de ocorrência de um determinado acontecimento e

o impacto que provoca no caso de ocorrer, coloca-se, neste ponto, a hipótese de as

representações dos indivíduos serem diferentes em função do seu comportamento em

matéria de ingestão de bebidas alcoólicas, assim como poderá variar a sua aprovação

face a comportamentos adjectivados como sendo de risco. Nesse sentido, o perfi l de

consumo de bebidas alcoólicas passa a ser a nossa variável independente, fazendo dela

depender atitudes e ideias sobre alguns assuntos.

Desta forma, procuramos aqui entender as formas como o risco é representado e

gerido por cada um dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas. Assim, numa primeira

parte, vemos como cada um dos seis perfi s se posiciona relativamente à importância

atribuída a determinados riscos ligados à saúde, para depois vermos como se posicionam

relativamente a outros ligados exclusivamente ao consumo de substâncias psicoactivas.

Por fi m será analisada a atitude de cada um destes perfi s face a alguns comportamentos

considerados de risco.

1. Percepção de riscos ligados à saúde

A percepção sobre os riscos de saúde da população geral passa pela análise

da importância dada a diferentes situações apresentadas e inseridas nesse âmbito.

Questionados sobre a importância que atribuem a vários comportamentos considerados

de risco ligados à saúde – problemas de saúde ocasionais, problemas resultantes do

consumo de tabaco, do consumo excessivo de álcool, da transmissão de doenças sexuais,

do consumo de drogas e de acidentes de viação – observam-se percepções diferentes em

função do tipo de risco: há, por parte da população geral, uma maior preocupação com

questões relativas à transmissão de doenças por via sexual e à ocorrência de acidentes

de automóvel ou veículos motorizados, a que se seguem os riscos inerentes ao consumo

de drogas, sendo os riscos associados ao consumo de tabaco aqueles que apresentam

uma menor importância.

121

O risco, ou o perigo de determinadas situações ocorrerem, é percepcionado de maneira diferente variando em função do perfi l de consumo de bebidas alcoólicas. A ordem de importância das diferentes situações de risco é semelhante em todos os perfi s: acidentes de viação, doenças sexualmente transmitidas e consumo de drogas são os tipos de risco aos quais é atribuída maior importância; e, regra geral, o consumo de tabaco ou de bebidas alcoólicas em excesso, bem como problemas de saúde ocasionais, apresentam-se em segundo plano em termos de importância do risco que representam.

Comparando, risco a risco, as diferenças entre os vários perfi s, realçam-se as seguintes diferenças: há uma tendência para o grau de importância ser maior à medida que se caminha para um consumo mais moderado ou para um não consumo (actual, a que correspondem os abstinentes, ou passado, ou seja, desistentes), acusando os consumidores abusivos uma maior despreocupação face aos riscos enunciados. Nessa diferença entre perfi s, o risco que mais diferencia abstinentes dos restantes perfi s de consumo é aquele que se refere a problemas associados ao consumo de drogas.

De assinalar também a menor expressão de uma maior importância face a riscos associados ao consumo de álcool por parte dos abstinentes, quando comparados com os desistentes ou os consumidores moderados. Tal pode ser justifi cado pela ausência de consumo da sua parte e, portanto, uma percepção do risco menor por ser também menor a probabilidade de tal situação ocorrer.

Nesta análise comparativa entre perfi s de consumo podemos ainda acrescentar, como nota de observação, o facto de desistentes e de consumidores moderados irregulares terem percepções muito próximas entre si nos vários tipos de risco questionados.

Entre 2001 e 2007, assinale-se um decréscimo da importância atribuída a riscos ligados ao consumo de tabaco em todos os perfi s, e ao consumo de bebidas alcoólicas de forma excessiva sobretudo por parte de abstinentes e de consumidores abusivos, verifi cando-se essa diminuição nos riscos associados ao consumo de droga expresso por desistentes e consumidores moderados irregulares.

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

Tabela 49. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função da percepção de riscos ligados à saúde

123

2. Percepções de riscos associados ao consumo

Avaliando ainda a percepção da população sobre o risco, procura-se, neste ponto, conhecer a sua opinião quanto à adopção de comportamentos de risco relacionados com o consumo de substâncias psicoactivas. De entre um leque de situações, tais como fumar um ou mais maços de cigarros por dia, beber cinco ou mais bebidas alcoólicas durante um fi m-de-semana, fumar haxixe regularmente, tomar ecstasy uma vez por outra e tomar cocaína uma vez por outra, questionou-se os inquiridos acerca da existência e dimensão dos riscos que envolvem.

De entre as cinco situações de consumos questionadas, a tendência é a de, para mais de metade dos inquiridos, se atribuir, por ordem, elevados riscos no que toca à cocaína, ecstasy e haxixe, seguindo-se o tabaco. O consumo de bebidas alcoólicas apresenta, no entanto, tendências de resposta bastante diferentes das das outras substâncias: no caso do álcool, apenas 30% dos indivíduos se refere à sua associação a muitos riscos, 50% a alguns e os restantes 20% opta por o associar a poucos ou nenhuns riscos, enquanto nas restantes substâncias a percentagem de indicações da inexistência de riscos é inferior a 5% no caso das drogas e 6% para o tabaco.

Comparando os diferentes perfi s de consumo de bebidas alcoólicas e as respectivas percepções do risco face ao consumo de substâncias psicoactivas, podemos afi rmar que em todos eles a ordem de risco associado é a mesma: como mais graves o consumo de cocaina, ecstasy e haxixe, e menor o de tabaco ou bebidas alcoólicas. Verifi ca-se, no entanto, uma tendência para a manifestação de um maior grau de risco acontecer por parte dos abstinentes, decrescendo à medida que aumenta a actualidade e intensidade de consumo de bebidas alcoólicas, sendo, portanto, os consumidores abusivos os que em menor percentagem se apresentam na indicação de riscos máximos. Essa diferença

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

entre abstinentes e restantes perfi s de consumo é sobretudo visível face ao consumo de bebidas alcoólicas e de haxixe.

Entre 2001 e 2007 há um decréscimo na percepção do risco associado ao consumo de tabaco nos seis perfi s, e do risco associado ao consumo de haxixe no caso dos abstinentes.

Tabela 50. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função de riscos associados ao consumo

125

3. Atitudes face a comportamentos de risco

Os inquiridos foram questionados acerca da aprovação ou desaprovação de determinados comportamentos relativos ao consumo de diversas substâncias psicoactivas. Vejamos como cada um dos seis perfi s manifesta a sua aprovação ou não relativamente a comportamentos como o experimentar ecstasy ou heroína uma ou duas vezes, a fumar 10 ou mais cigarros por dia, a beber uma ou duas bebidas alcoólicas, várias vezes, numa só semana e a fumar haxixe ou marijuana ocasionalmente.

No geral, todos os comportamentos de risco anunciados são tidos pelos inquiridos como atitudes susceptíveis de desaprovação. São, contudo, as atitudes referentes às substâncias psicoactivas ilícitas (nomeadamente no que confere à experimentação de ecstasy, de heroína e de haxixe ou marijuana) as que são consideradas como de maior desaprovação por parte dos inquiridos: no geral, a proporção de desaprovação ronda os 90% para cada uma das situações mencionadas. Por contraposição, as atitudes referentes ao consumo de bebidas alcoólicas (várias vezes numa mesma semana) e ao fumar (10 ou mais cigarros por dia) são as menos desaprovadas pelos inquiridos. No geral, e estabelecendo uma ordem do nível de desaprovação dos comportamentos de risco apresentados, constata-se que o experimentar de heroína (1 ou 2 vezes), seguindo-se o de ecstasy (também de 1 ou 2 vezes) e o de fumar haxixe ou marijuana ocasionalmente são

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

os três comportamentos menos aprovados O consumo de tabaco (10 ou mais cigarros por dia) e de bebidas alcoólicas (várias vezes numa mesma semana) são os comportamentos com uma menor taxa de desaprovação. Esta tendência mantém-se em todos os perfi s de consumo de bebidas alcoólicas. De salientar ainda que são os abstinentes os que menos aprovam os comportamentos descritos (à excepção do consumo de heroína, em que se destaca os consumidores abusivos irregulares), seguindo-se os desistentes. Da mesma forma, são os inquiridos que apresentam padrões de consumo de bebidas alcoólicas mais intensos (consumidores abusivos irregulares e consumidores abusivos regulares) os que proporcionalmente mais aprovam os comportamentos de risco apresentados, principalmente os que se referem ao consumo de bebidas alcoólicas, de tabaco e de haxixe ou marijuana.

Tabela 51. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função da aprovação de comportamentosrelativos ao consumo (I)

Abstinentes Desistentes Moderados

Irregulares Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Experimentar Ecstasy uma ou duas vezes

Aprovo fortemente 0,7 0,1 0,4 0,0 0,8 0,1 0,7 0,2 0,9 0,0 0,5 0,7

Aprovo 1,0 0,7 0,8 1,0 1,9 1,3 2,0 1,6 9,6 5,5 6,8 4,5 Não aprovo nem desaprovo 5,1 2,8 3,9 6,6 6,9 6,8 5,2 6,4 9,6 13,1 13,2 14,7

Desaprovo 19,1 35,3 19,0 27,5 25,0 25,2 23,6 29,9 23,5 33,8 27,8 29,9 Desaprovo fortemente 74,2 61,2 75,9 64,9 65,3 66,7 68,6 61,9 56,5 47,6 51,7 50,3

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Experimentar heroína uma ou duas vezes

Aprovo fortemente 0,1 0,1 0,0 0,0 0,1 0,0 0,2 0,1 0,0 0,0 0,2 0,1

Aprovo 0,4 0,2 0,1 0,4 0,5 0,4 0,7 0,5 0,8 0,7 1,6 1,3 Não aprovo nem desaprovo 2,4 2,0 2,2 5,0 3,2 3,9 2,9 3,6 5,0 0,7 8,8 6,3

Desaprovo 16,5 32,5 13,6 23,0 17,8 18,7 17,6 25,6 17,4 32,9 23,8 25,2 Desaprovo fortemente 80,5 65,2 84,0 71,7 78,4 77,1 78,6 70,2 76,9 65,8 65,5 67,1

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

127

(cont.) Abstinentes Desistentes Moderados

Irregulares Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Fumar 10 ou mais cigarros por dia

Aprovo fortemente 0,5 0,0 0,2 0,1 0,4 0,1 0,4 0,5 0,8 0,0 1,1 1,5

Aprovo 4,9 3,6 4,9 6,4 6,9 7,6 8,9 9,6 18,7 14,8 22,2 20,5 Não aprovo nem desaprovo 20,9 14,9 21,4 25,8 27,6 25,7 33,1 32,5 26,8 33,1 43,2 47,0

Desaprovo 39,5 51,8 37,6 44,2 37,5 47,9 34,4 44,6 32,5 38,7 19,5 22,3 Desaprovo fortemente 34,2 29,6 36,0 23,6 27,6 18,6 23,2 12,7 21,1 13,4 14,0 8,8

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Beber 1 ou 2 bebidas alcoólicas, várias vezes, numa só semana

Aprovo fortemente 1,6 0,1 1,0 0,9 1,4 1,1 2,1 1,3 1,6 0,7 4,4 4,1

Aprovo 10,9 12,6 16,5 15,8 21,4 23,9 29,8 35,6 33,6 34,5 39,2 42,8 Não aprovo nem desaprovo 27,3 22,3 33,4 36,5 40,3 40,0 40,2 39,5 32,8 33,8 38,5 41,0

Desaprovo 31,1 41,8 26,8 31,1 23,5 27,7 15,5 19,7 19,7 25,5 8,8 8,5 Desaprovo fortemente 29,1 23,2 22,3 15,6 13,3 7,2 12,3 4,0 12,3 5,5 9,1 3,7

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fumar haxixe ou marijuana ocasionalmente

Aprovo fortemente 0,4 0,1 0,4 0,7 0,3 0,1 0,4 0,2 4,9 0,7 1,4 0,7

Aprovo 2,2 0,6 2,2 1,7 3,3 2,5 3,4 3,2 15,4 9,7 11,0 15,9 Não aprovo nem desaprovo 6,4 4,9 4,4 9,8 10,3 12,9 10,3 12,0 14,6 27,6 21,0 23,4

Desaprovo 34,3 40,5 20,1 33,8 28,2 35,5 28,4 36,2 22,0 33,1 26,2 27,9 Desaprovo fortemente 56,8 53,9 72,8 54,0 57,9 49,1 57,5 48,3 43,1 29,0 40,4 32,1

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Comparativamente a 2001 as tendências gerais mantém-se: a experimentação de heroína e de ecstasy assim como o consumo ocasional de haxixe ou marijuana permanecem como os comportamentos menos aprovados, sendo o consumo de bebidas alcoólicas e o tabaco os comportamentos mais tolerados. Contudo, ao compararmos os perfi s de consumo de bebidas alcoólicas entre os dois anos de análise, constata-se que a desaprovação da experimentação de heroína e de ecstasy assim como o consumo ocasional de haxixe ou marijuana, que em 2001 eram comportamentos desaprovados maioritariamente por desistentes de consumo de bebida alcoólicas, em 2007 este perfi l de consumo diminui a sua proporção de população com opinião desaprovativa, passando a ser, no caso da heroína os consumidores abusivos irregulares e no caso do ecstasy e do consumo de haxixe ou marijuana, os abstinentes como os perfi s com maior proporção

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de desaprovação. Relativamente ao consumo de tabaco, constata-se uma diminuição da proporção de desistentes que desaprovam este comportamento, compensado com o aumento signifi cativo da desaprovação dos abstinentes. O consumo de 1 ou duas bebidas alcoólicas várias vezes na mesma semana permanece como um comportamento essencialmente condenado por abstinentes, aumentando a sua proporção de população que desaprova entre os dois anos de análise.

A escala utilizada na pergunta que acabamos de analisar apresenta uma desagregação das posições da escala proposta no questionário modelo europeu do OEDT. Neste, a escala comporta apenas três posições: “não desaprovo”, “desaprovo” e “desaprovo fortemente”12. A comparação entre as respostas anteriores e as encontradas através desta escala de três posições levanta alguns problemas, na medida em que a segunda utiliza uma dupla negativa na formulação da pergunta (não desaprovo), juntando todos os posicionamentos que vão da aprovação até à indiferença (existente na escala de cinco posições).

O resultado mais imediatamente perceptível da utilização das duas escalas diferentes é o de uma diminuição da indiferença, aumentando a desaprovação. Essa diferença de declarações intensifi ca a desaprovação dos comportamentos relacionados com a experimentação ou consumo das substâncias psicoactivas ilícitas, nomeadamente do ecstasy, heroína e haxixe ou marijuana.

O consumo de heroína e de ecstasy (embora avaliado enquanto experimentação) e o consumo esporádico de haxixe ou marijuana continuam a ser os comportamentos mais desaprovados em todos os perfi s de consumo de bebidas alcoólicas. Sendo o beber de 1 ou 2 bebidas alcoólicas, várias vezes, numa só semana e o fumar de 10 ou mais cigarros por dia os comportamentos menos desaprovados.

À excepção da experimentação de heroína, em que se destacam os consumidores moderados irregulares como o perfi l com uma maior proporção de opiniões de desaprovação, são maioritariamente os abstinentes que se destacam na desaprovação dos comportamentos de consumo apresentados – como aliás, já tinha sido visto com a escala de análise anterior.

12 A nossa proposta alternativa visava de facto evitar a dupla negativa expressa no “não desaprovo” e propor um maior leque de opções de posicionamento aos inquiridos.

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Tabela 52. Perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, em função da aprovação de comportamentos relativos ao consumo (II)

Comparando com os resultados de 2001, e tal como já tínhamos explicitado com a escala de análise em cinco posições, as tendências são também as mesmas entre os dois anos de análise. As alterações cingem-se, mais uma vez, ao nível dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas. Efectivamente, se em 2001 a experimentação de heroína e de ecstasy, o consumo ocasional de haxixe ou marijuana e o fumar de 10 ou mais cigarros por dia eram atitudes desaprovadas mais intensamente por consumidores desistentes,

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em 2007 estes comportamentos passam a ser menos desaprovados por este perfi l de consumo, passando os abstinentes a ocupar o primeiro lugar no que confere à proporção de população que desaprova fortemente estes. A desaprovação do consumo de 1 ou 2 bebidas alcoólicas várias vezes na mesma semana, permanece em ambos os anos como um comportamento difícil de aceitar entre os abstinentes.

131

Capítulo IV. Tipologia de consumo de álcool e modos devida, vivências e lazeres

Conhecidos os perfi s sociodemográfi cos, socioescolares e socioeconómicos de consumidores e abstinentes, bem como as suas representações e percepções face ao risco e a comportamentos a ele associados, tentaremos explorar um pouco mais a informação, desta vez debruçando-nos sobre a análise dos seus modos de vida.

Integrada nesta temática dos modos de vida surge, então, uma leitura em torno das actividades de convívio e nocturnas realizadas, e em que momentos da semana o fazem, e quais os espaços onde os indivíduos se sentem ou não valorizados por parte de outros.

Um segundo ponto de abordagem centra-se na questão cívica, política e religiosa e de como ela pode diferir em função do perfi l de consumo de bebidas alcoólicas.

A realização de actividades artísticas e/ou desportivas será, por fi m, uma terceira vertente abordada e que permitirá construir uma imagem em torno dos modos de vida de consumidores e não consumidores de bebidas alcoólicas.

1. Espaços e lugares

Quais os hábitos da população geral no que toca à frequência de encontros com pessoas conhecidas nas proximidades da zona de residência, de passeios, a sós, em locais não próximos de casa, de convívio com amigos em sua casa ou em casa de outros, de idas a bares ou discotecas, ou a colectividades e associações, ou de passeios em família? E como se diferenciam essas actividades de convívio em função do perfi l de consumo de bebidas alcoólicas? E como ocupam os seus momentos nas noites de semana e de fi m-de-semana? Ficam em casa ou saem? Com que frequência? Ainda na relação entre o indivíduo e os espaços que frequenta, qual o grau de valorização que sente e como varia em função do tipo de espaço a que se refere? A percepção de consumidores e não consumidores será similar?

São a estas questões que iremos procurar dar resposta nos pontos que se seguem.

1.1. Actividades de convívio

Encontrar-se com pessoas conhecidas em locais próximos de casa é o mais frequente entre a população geral: quase metade fá-lo diária ou quase diariamente e são em escasso número aqueles que esporadicamente ou nunca o fazem. Seguem-se, na ordem decrescente de ocorrência, o encontro com amigos/conhecidos na sua ou noutra

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residência e os passeios em família, tendo lugar maioritariamente algumas vezes no mês. A deslocação a colectividades ou associações e a ida a discoteca ou bares são, de todas, as actividades menos frequentes para a maioria da população geral.

Em qualquer dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, a actividade de convívio realizada com maior assiduidade é o encontro com pessoas conhecidas na zona de residência. Com menor frequência registam-se os passeios com elementos da família e os passeios realizados sem companhia, o convívio em casa de amigos ou do próprio com pessoas conhecidas e, em último, as saídas a bares/discotecas e a colectividades/associações. Fogem a esta regra de sequência de espaços menos frequentados os consumidores abusivos, invertendo a ordem entre a ocorrência de convívio em sua casa ou na de amigos, que passa a surgir em segundo lugar, e a de passeios a sós ou com familiares.

Na análise comparativa entre perfi s de consumo para cada uma das actividades de convívio, assinalemos as diferenças de maior destaque: consumidores abusivos e consumidores moderados regulares declaram uma frequência maior de convívio com pessoas nas proximidades da sua residência, comparativamente às declarações de desistentes e, sobretudo, de abstinentes; esta tendência regista-se também nas ocorrências de visitas de amigos ou a casa de amigos, bem como a idas a bares ou discotecas, fazendo do local e/ou da companhia uma condição de destaque na diferença entre consumo e não consumo de bebidas alcoólicas, como, aliás, tivemos oportunidade de ver em análises anteriores, nomeadamente no que toca a motivos de consumo. Desistentes e consumidores abusivos regulares são os que manifestam uma ocorrência menor de passeios em família e, no caso dos primeiros, passeios a sós.

Comparando 2001 e 2007, os passeios em família são a actividade de convívio que apresenta um aumento percentual nas situações de maior frequência. Observa-se ainda um aumento da frequência de encontro com pessoas conhecidas para consumidores moderados e abusivos. De uma maneira geral, todas as restantes actividades, menos frequentes, registam em 2007 uma diminuição na cadência de ocorrência – falamos nomeadamente de encontros de amigos em casa de uns ou de outros, idas a discotecas/bares e a colectividades/associações.

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Tabela 53. Frequência de algumas actividades de convívio em função dos perfi s de consumode bebidas alcoólicas

Abstinentes Desistentes Moderados

Irregulares Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Encontrar-se com pessoas conhecidas em locais próximos da sua residência

Todos ou quase todos os dias

38,4 36,7 47,3 43,4 42,0 47,8 40,4 52,3 52,0 46,6 59,6 58,6

Algumas vezes por semana 35,0 35,8 30,5 34,1 35,3 29,6 36,6 30,7 26,8 37,7 25,8 28,1

Algumas vezes no mês 17,7 11,5 6,4 8,2 11,4 9,8 12,7 7,6 8,1 8,9 7,3 6,5

Esporadica-mente 6,3 11,7 11,9 9,0 8,6 9,3 8,1 6,7 12,2 5,5 5,9 6,3

Nunca 2,6 4,3 3,9 5,3 2,8 3,5 2,3 2,8 0,8 1,4 1,4 0,5

TOTAL

Passear, sozinho, em sítios fora do local de residência

Todos ou quase todos os dias

4,0 2,9 3,7 2,7 3,0 2,0 2,4 3,5 1,6 4,1 8,1 4,3

Algumas vezes por semana 17,0 18,4 10,7 13,5 11,5 13,4 12,3 15,9 27,6 22,6 24,1 18,2

Algumas vezes no mês 23,2 18,6 13,6 18,8 18,8 17,6 22,5 18,8 23,6 17,8 25,1 26,2

Esporadica-mente 29,2 30,1 27,2 31,7 34,8 36,0 35,4 37,7 31,7 32,2 29,6 30,0

Nunca 26,7 30,0 44,8 33,3 31,9 31,0 27,5 24,0 15,4 23,3 13,1 21,4

TOTAL

Receber em sua casa amigos ou conhecidos

Todos ou quase todos os dias

3,2 1,4 2,6 1,3 3,9 1,0 2,0 1,7 8,9 6,2 5,8 4,5

Algumas vezes por semana 21,4 16,6 16,2 13,9 22,3 16,3 20,3 14,2 32,3 24,7 25,1 24,6

Algumas vezes no mês 41,6 34,3 37,2 38,4 41,4 39,5 42,8 37,2 31,5 38,4 38,1 36,5

Esporadica-mente 27,8 38,0 35,1 39,4 28,3 38,5 29,8 39,9 25,0 19,2 26,1 28,6

Nunca 6,1 9,7 8,9 7,0 4,2 4,7 5,0 7,0 2,4 11,6 5,0 5,8

TOTAL

Ir a casa de amigos ou conhecidos

Todos ou quase todos os dias

2,9 1,6 2,5 0,8 2,6 1,3 1,6 1,0 9,0 4,9 5,4 5,4

Algumas vezes por semana 18,9 15,0 14,1 11,7 21,9 14,4 17,6 12,4 29,5 26,1 24,5 23,7

Algumas vezes no mês 42,4 34,6 35,7 36,7 41,6 39,7 43,5 35,7 36,1 43,7 37,2 36,2

Esporadica-mente 28,9 38,5 38,7 43,6 29,4 39,7 31,1 43,0 23,0 17,6 28,3 30,1

Nunca 6,9 10,3 9,1 7,2 4,5 4,9 6,3 7,9 2,5 7,7 4,6 4,6

TOTAL

100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

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1.2. Actividades nocturnas durante a semana

Sabendo que a grande maioria da população geral exerce uma actividade profi ssional, uma maneira de distinguir os seus modos de vida passará por olhar para o tipo de actividades a que se dedicam nas noites dos dias úteis da semana (excepto sexta--feira, por ser véspera de fi m-de-semana).

Sendo relativamente variado o leque de hipóteses apresentadas, fi car em casa é, para a esmagadora maioria, a actividade que ocorre com maior frequência. Ainda que com a maioria da população geral a indicar que nunca o faz, as actividades mais frequentemente realizadas fora de casa são, por ordem, o sair à noite para se encontrar com amigos/conhecidos, ainda que aconteça sobretudo mensal ou esporadicamente,

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seguido das deslocações a sítios que só têm interesse à noite e do aproveitar a noite como tempo pessoal de liberdade. Mais raro é o sair em busca do efeito surpresa ou, por razões inerentes às características sociais da população, sair por motivos de trabalho ou estudo.

A concentração da população na permanência do lar durante a semana e a menor frequência de actividades nocturnas ocorridas fora de casa não invalida a diferença de modos de vida nocturna entre os diferentes perfi s de consumo de bebidas alcoólicas: os consumidores abusivos são os que se apresentam em menor número na permanência em casa e, complementarmente, os que apresentam uma maior frequência – ainda que seja numa base mensal ou ocasional – de saídas à noite durante a semana, sobretudo para se encontrar com amigos ou conhecidos, comparativamente com as declarações feitas por abstinentes, desistentes ou consumidores moderados. Também nas saídas à noite em busca de um momento de liberdade pessoal se notam diferenças signifi cativas entre os consumidores abusivos e os restantes perfi s de consumo de bebidas alcoólicas. Actividades há – nomeadamente sair sem “programa” à procura das surpresas que a noite tem para dar ou ir a sítios que só têm interesse de noite –, que por serem menos frequentes em qualquer dos perfi s, a diferença se observa nos registos de ocorrência mensal ou de forma esporádica e, consequentemente, nos registos de inexistência de realização da(s) actividade(s). Nesse caso, regra geral, à medida que vai aumentando a intensidade e actualidade de consumo, vai também aumentando a probabilidade de ocorrerem saídas nocturnas durante os dias úteis.

No ano de 2007, quando comparado com os resultados de 2001, regista-se uma diminuição na frequência de encontro com os amigos e conhecidos à noite em quase todos os perfi s, e uma diminuição mais signifi cativa na ocorrência de actividades fora de casa por parte de consumidores abusivos.

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Tabela 54. Frequência de actividades de lazer realizadas nas noites dos dias úteis, em função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas

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1.3. Actividades nocturnas durante o fi m-de-semana

Comparando as frequências de ocorrência entre as actividades nocturnas realizadas nos dias úteis (de 2ª. a 5ª. feira) e as efectuadas aos fi ns-de-semana, verifi ca-se, ainda que continue a ser a actividade modal, uma clara diminuição das permanências diárias no lar em detrimento do aumento das actividades fora de casa. De todas as actividades que ocorrem fora de casa, o sair à noite para se encontrar com amigos ou conhecidos é a modalidade que recolhe mais adeptos, chegando a realizar-se na maioria dos fi ns-de--semana do mês para cerca de 40% da população geral. Aproveitar a noite como tempo pessoal de liberdade e ir a sítios que só têm interesse à noite são as actividades que se seguem, na ordem de actividades mais realizadas.

É nas actividades de fi m-de-semana que se fazem notar mais as diferenças de modos de vida de abstinentes e consumidores de bebidas alcoólicas, sobretudo se tomarmos como referência os modos de vida declarados por indivíduos que apresentam perfi s de consumo mais intenso: enquanto a esmagadora maioria dos abstinentes permanece todas ou quase todas as noites de fi m-de-semana em casa, no caso dos consumidores abusivos são pouco mais de metade os que o fazem com a mesma cadência; enquanto menos de um terço dos abstinentes sai regularmente com amigos

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ou conhecidos, no caso dos consumidores abusivos são o dobro aqueles que declaram encontrar-se frequentemente com os amigos à noite; mais, dispara para mais do dobro as percentagens de consumidores abusivos, comparativamente às percentagens de abstinentes, que frequentemente saem à noite em busca do efeito surpresa, vão a locais apenas de interesse nocturno ou aproveitam o momento para liberdade pessoal.

De entre os dois tipos de consumo abusivo, é o consumo irregular o que apresenta uma maior frequência de realização das actividades nocturnas fora de casa e aos fi ns--de-semana, daí resultando, na associação entre lazer outdoor e bebidas alcoólicas, o carácter irregular do consumo que traçam em termos de perfi l. Destaca-se em particular as saídas com amigos ou conhecidos, as saídas sem programa e em busca da surpresa da noite, a ida a sítios com interesse exclusivo à noite e a procura de um momento de liberdade pessoal.

Os desistentes, no que diz respeito às frequências de realização das diversas actividades, de uma maneira geral, apresentam hábitos bastante próximos dos levados a cabo por abstinentes.

As declarações de consumidores moderados, regra geral, situam-se entre os modos de vida extremos de abstinentes e de consumidores abusivos.

Em 2007 há algumas diferenças a assinalar, face ao que ocorria em 2001: abs-tinentes tendem a permanecer com maior frequência e em maior número em casa; desistentes e consumidores abusivos irregulares aumentaram um pouco a frequência de saídas para encontro com os amigos e para ter um momento de liberdade pessoal, enquanto os consumidores abusivos regulares a diminuem, assim como diminuem também as saídas para locais de interesse nocturno e as saídas sem programa definido.

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Tabela 55. Frequência de actividades de lazer realizadas nas noites nas noites de fi m-de-semana em função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas

Abstinentes Desistentes Moderados

Irregulares Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Fico em casa

Todos ou quase todos os dias

49,6 53,5 59,5 48,0 38,2 34,7 40,3 42,7 25,0 8,6 22,5 25,9

Algumas vezes por semana 29,0 33,8 27,0 36,8 39,3 41,1 35,9 36,9 35,5 46,8 34,9 33,6

Algumas vezes no mês 11,7 5,5 5,6 7,4 9,7 10,2 13,7 7,4 13,7 12,2 16,9 13,3

Esporadica-mente 7,5 4,7 5,6 5,4 10,2 10,8 7,2 10,3 16,1 17,3 17,0 21,3

Nunca 2,3 2,5 2,3 2,3 2,7 3,3 2,9 2,7 9,7 15,1 8,8 5,9

TOTAL

Saio à noite para me encontrar com amigos ou conhecidos

Todos ou quase todos os dias

7,3 6,1 5,7 5,6 15,1 10,4 10,3 10,4 33,9 28,4 35,4 27,5

Algumas vezes por semana 27,5 24,3 21,5 26,4 31,9 35,5 36,2 29,3 29,8 42,6 33,7 29,8

Algumas vezes no mês 13,0 7,6 9,2 9,6 10,2 9,9 10,2 8,9 9,1 12,8 9,6 12,7

Esporadica-mente 23,2 24,2 29,8 34,5 25,5 28,7 23,7 26,7 17,4 9,9 13,1 22,1

Nunca 28,9 37,8 33,9 23,9 17,3 15,5 19,6 24,7 9,9 6,4 8,3 8,0

TOTAL

Saio à noite porque trabalho (ou estudo) nesse período

Todos ou quase todos os dias

3,6 2,0 3,0 4,4 4,3 3,4 3,2 2,4 5,5 6,7 7,5 4,9

Algumas vezes por semana 10,1 4,9 5,8 8,9 6,2 6,8 9,9 7,1 8,2 11,1 11,3 7,1

Algumas vezes no mês 12,5 3,4 6,7 3,7 5,0 2,8 6,6 2,9 6,8 15,6 7,3 6,0

Esporadica-mente 7,4 6,4 8,5 8,1 10,4 8,1 10,1 6,9 8,2 4,4 9,0 13,1

Nunca 66,5 83,3 75,9 74,9 74,0 78,9 70,1 80,7 71,2 62,2 64,9 68,9

TOTAL

Saio, sem grande “programa”, à descoberta das surpresas que a noite me pode dar

Todos ou quase todos os dias

1,9 1,4 1,8 1,4 2,6 1,5 2,1 0,9 11,1 7,2 7,9 5,3

Algumas vezes por semana 9,0 7,9 5,1 5,8 8,3 7,4 7,4 8,1 12,8 17,4 21,0 13,7

Algumas vezes no mês 9,7 4,8 4,3 7,8 7,7 7,4 7,4 6,5 15,4 21,0 14,0 9,9

Esporadica-mente 19,6 14,4 15,9 17,1 23,6 19,4 27,6 18,5 22,2 29,0 25,3 21,4

Nunca 59,9 71,5 72,8 67,8 57,8 64,3 55,5 66,1 38,5 25,4 31,8 49,6

TOTAL

100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

140

CBA Portugal 2001-2007

(cont.) Abstinentes Desistentes Moderados

Irregulares Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Vou a sítios que só têm interesse de noite

Todos ou quase todos os dias

2,7 0,9 1,3 1,2 4,2 2,1 2,9 1,7 14,0 12,3 14,1 6,9

Algumas vezes por semana 10,8 8,7 4,8 6,5 11,6 12,4 12,4 10,2 19,0 26,1 23,2 17,3

Algumas vezes no mês 10,0 6,5 6,0 8,9 11,3 9,8 9,9 9,1 12,4 21,7 11,5 8,8

Esporadica-mente 27,1 19,3 20,9 25,4 26,8 27,3 26,4 23,2 23,1 21,7 25,9 27,0

Nunca 49,4 64,6 67,0 58,0 46,0 48,4 48,3 55,8 31,4 18,1 25,3 40,1

TOTAL

Aproveito a noite como o meu tempo de liberdade pessoal

Todos ou quase todos os dias

5,1 4,6 8,0 7,3 9,8 7,9 7,1 6,6 17,9 17,9 19,2 9,8

Algumas vezes por semana 10,2 12,0 5,7 17,7 11,7 23,2 11,1 17,4 17,9 26,9 18,1 19,9

Algumas vezes no mês 6,7 6,7 4,7 6,6 8,9 6,6 10,7 5,4 8,9 16,4 8,9 7,5

Esporadica-mente 24,2 17,0 18,3 15,2 22,5 14,6 23,0 14,0 21,1 19,4 23,7 16,8

Nunca 53,8 59,7 63,3 53,3 47,1 47,6 48,1 56,6 34,1 19,4 30,2 45,9

TOTAL

100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

1.4. Espaços de valorização do indivíduo

Quais as representações que os indivíduos têm sobre a valorização que lhes é feita por outros? Varia em função do espaço? Certamente que sim. Atendendo à diversidade de espaços frequentados – que varia desde o ambiente mais fechado (a sua casa) ao mais aberto (o bairro, os locais de férias e de fi ns-de-semana), indo até àqueles em que os indivíduos estão mais expostos por haver um maior contacto com terceiros (o trabalho, a escola), ou àqueles onde há uma rede de suporte afectivo maior (os espaços frequentados, de dia e à noite, com amigos) ou em que pode haver um anonimato maior (espaços onde ninguém o conhece) – os indivíduos não sentem o mesmo grau de valorização. É em casa, em ambiente familiar, que a maioria sente que lhe é atribuído maior valor. Seguem-se, na ordem de maior valorização do indivíduo, os espaços formais – escola e local de trabalho – e, depois, os espaços frequentados com amigos. Os espaços onde o anonimato é maior são, por natureza, aqueles onde se verifi cam declarações de menor convicção sobre a valorização pessoal que lhes é feita.

Há diferenças signifi cativas entre os perfi s de consumo no que toca à valorização sentida por parte dos indivíduos nos diversos espaços frequentados. Concentrando-

141

-se a maior parte das respostas entre a valorização máxima e o grau de valorização imediatamente a seguir, as diferenças fazem-se notar nos extremos da escala – muito valorizado e pouco/nada valorizado. Comparando a concentração de respostas de indivíduos com perfi s de consumo de bebidas alcoólicas bastante distintos, verifi ca-se uma tendência para serem os abstinentes a declarar um grau de valorização menor em todos os lugares, excepto no local de trabalho.

A esta tendência juntam-se os consumidores abusivos irregulares nos seguintes espaços: em casa, na escola e no local de trabalho, e ainda no bairro ou rua onde vive. Apresentam-se, no entanto, como os que declaram um maior grau de valorização nos locais onde passam férias ou os fi ns-de-semana.

São os consumidores moderados irregulares e os desistentes aqueles que manifestam, regra geral e na maioria dos espaços considerados, um maior grau de valorização sentida por parte de terceiros.

Há diferenças signifi cativas a assinalar entre os resultados de 2001 e aqueles que encontramos em 2007: decresceu consideravelmente o grau de valorização manifestado por abstinentes e, embora menos e nem sempre em todos os espaços mencionados, pelos restantes perfi s – à excepção dos consumidores abusivos regulares que, para locais como a casa, os sítios onde passam férias ou fi ns-de-semana, os espaços frequentados com os amigos e aqueles onde é anónimo, aumentam ligeiramente o grau de valorização sentido.

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

Tabela 56. Grau de valorização em diferentes espaços em função dos perfi s de consumode bebidas alcoólicas

143

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

2. Dimensão cívica, política e religiosa

2.1. Participação cívica e política

A participação cívica e política será analisada tendo em conta a fi liação em associações de diversas áreas: profi ssional, sindical, organizações cívicas, associações locais ou regionais, associações de moradores, associações desportivas, recreativas, culturais ou de lazer ou em partidos políticos.

144

CBA Portugal 2001-2007

Em termos gerais, os inquiridos estão mais receptivos à fi liação em clubes ou colectividades desportivas, recreativas, culturais ou de lazer, associações ou organizações cívicas e em organizações sindicais. Estes três tipos de organizações permanecem como as preferenciais quando analisados os vários perfi s de consumo de bebidas alcoólicas. De salientar ainda, além dos três tipos de organizações referidas, a elevada participação dos consumidores abusivos irregulares em organizações de ordem profi ssional ou associações profi ssionais e de consumidores abusivos regulares em associações locais ou regionais.

Para cada uma das três principais organizações apresentadas constata-se que os clubes ou colectividades desportivas, recreativas, culturais ou de lazer são preferencialmente da escolha dos consumidores abusivos irregulares; as associações ou organizações cívicas são preferidas pelos consumidores moderados regulares e a fi liação em sindicatos é preferencialmente da escolha de consumidores regulares.

Comparativamente a 2001, verifi cam-se algumas alterações. Enquanto os abstinentes e desistentes permanecem como sendo nos clubes ou colectividades desportivas, recreativas, culturais ou de lazer, nos sindicatos e nas organizações de ordem profi ssional ou associação profi ssional, onde mais regularmente se encontram fi liados, entre os consumidores moderados (regulares e irregulares) e os abusivos irregulares diminuiu a proporção de inquiridos pertencentes a associações ou organizações cívicas compensado principalmente pela adesão a clubes ou colectividades desportivas, recreativas ou de lazer. Finalmente, entre os consumidores abusivos regulares cons-tata-se uma diminuição signifi cativa de fi liados em sindicatos e associações locais ou regionais, compensado mais uma vez pelo aumento signifi cativo de inquiridos em clubes ou colectividades desportivas, recreativas, culturais ou de lazer.

145

Tabela 57. Pertença a associações (respostas positivas) em função dos perfi s de consumode bebidas alcoólicas

Abstinentes Desistentes Moderados Irregulares

Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

Ordem Profissional ou Associação Profissional

2,6 3,3 4,9 4,1 5,4 5,3 5,7 4,9 4,9 5,0 4,3 3,4

Sindicato 5,3 5,0 7,7 6,0 8,8 7,3 11,2 6,1 8,1 4,8 8,9 3,6

Associações ou Organizações Cívicas 3,6 3,7 3,4 5,0 4,4 6,7 5,1 7,8 2,4 6,2 3,3 4,8

Associações Locais ou Regionais 1,7 3,1 2,3 2,8 4,4 3,6 3,9 4,9 4,1 3,4 5,9 3,6

Associação de Moradores 2,4 0,9 0,4 2,0 1,2 1,2 2,2 1,8 1,6 2,1 1,6 1,8

Clubes/Colectividades Desportivas, Recreativas, Culturais ou de Lazer

9,6 9,6 10,2 14,7 13,8 17,9 18,3 18,3 17,9 26,2 17,7 24,4

Partidos políticos 0,8 2,4 2,5 1,7 2,1 2,2 3,2 2,9 3,3 3,4 3,5 3,4

O posicionamento político, medido através de uma escala numérica situada entre os valores 1 (mais à esquerda) e 5 (mais à direita), permite a constatação de que, em termos gerais, a tendência política dos inquiridos se posiciona tendencialmente entre as posições de centro (3) e as de esquerda (1 e 2). Tendo em conta os perfi s de consumo, constata-se que esta tendência é coincidente com os perfi s dos consumidores regulares (abusivos e moderados). Pelo contrário, os desistentes identifi cam-se a um posicionamento político tendencialmente à direita. Finalmente, os abstinentes, e os consumidores irregulares (moderados e abusivos) revelam um posicionamento político de centro.

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

Tabela 58. Posicionamento político em função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas

Abstinentes Desistentes Moderados Irregulares

Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Esquerda 6,0 14,7 5,5 9,4 5,8 8,6 6,6 12,3 10,8 16,5 10,6 15,7 Centro-Esquerda 26,3 18,4 21,5 22,0 21,2 22,6 27,3 23,8 31,2 22,6 27,3 29,6

Centro 44,1 41,0 41,8 32,8 48,3 37,3 40,3 33,4 45,2 40,9 36,8 29,2 Centro-Direita 19,6 14,9 24,4 23,1 20,0 21,2 20,5 18,3 9,7 14,8 19,4 21,6

Direita 3,9 11,0 6,8 12,7 4,7 10,4 5,4 12,2 3,2 5,2 5,9 3,8

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Em relação ao ano de 2001, algumas tendências alteraram-se: os consumidores desistentes, que em 2001 eram maioritariamente de centro, passam em 2007 a ter um posicionamento político mais de direita; e os consumidores moderados regulares que em 2001 eram maioritariamente de centro, passam em 2007 a revelar um posicionamento polí-tico mais direccionado para a esquerda. Nos restantes perfi s de consumo não existiram alterações das tendências gerais entre os dois anos.

2.2. Voluntariado

A proporção de população que revela ter (actualmente ou no passado) dedicado algum tempo, de forma voluntária, ao desenvolvimento de actividades em alguma organização de apoio social é bastante diminuta, cerca de 9% no total da população. Ao termos em conta os perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, constata-se que os consumidores abusivos (irregulares e regulares) e os consumidores moderados irregulares são os grupos que presentemente ou no passado se dedicam ou dedicaram a actividades enquanto voluntários numa organização de apoio social. Pelo contrário, são os consumidores moderados regulares, os abstinentes e os desistentes os que menos se dedicam a estas actividades.

Comparativamente a 2001 a proporção de população que dedica algum tempo a actividades de voluntariado em organizações de apoio social subiu de 6% para 9% em 2007. Tendo em conta o perfi l de consumo e a dedicação a organizações de apoio social de forma voluntária, as tendências são semelhantes: são essencialmente os consumidores abusivos (irregulares e regulares) e os consumidores moderados irregulares que se dedicam a estas actividades. É necessário, contudo, ter em conta que a proporção de população destes três perfi s que se dedicam a actividades de voluntariado desceu ligeiramente em 2007, e que a proporção de abstinentes subiu para o dobro registado em 2001.

147

No futuro, cerca de 32% da população inquirida pensa vir a desenvolver actividades de voluntariado numa instituição de apoio social. Destes, e analisando cada perfi l da tipologia de consumo de bebidas alcoólicas em análise, constata-se que entre os que nunca consumiram e os que consomem com uma periodicidade irregular (quer sejam moderados ou abusivos) são os que apresentam uma maior proporção de inquiridos que revelam intenção de no futuro integrarem alguma instituição de prestação de apoio social enquanto voluntários.

A proporção de inquiridos que revela intenção de no futuro prestar serviços enquanto voluntário numa instituição de apoio social subiu consideravelmente entre 2001 e 2007 (passando de 19% para 32%). Este aumento traduziu-se de igual forma na alteração dos três principais perfi s de consumidores de bebidas alcoólicas com intenção de integrar instituições de voluntariado: entre 2001 e 2007 a proporção de desistentes que tinham intenção de no futuro integrarem equipas de voluntariado desceu consideravelmente, sendo em 2007 o grupo dos abstinentes os que revelam, além dos consumidores irregulares (moderados e abusivos), maior proporção de inquiridos que pretendem realizar este tipo de actividades.

Tabela 59. Dedicação (presente ou intenção futura) em colaborar numa instituição de voluntariadoem função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas

Abstinentes Desistentes Moderados Irregulares

Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 Sim, dedica 2,0 4,0 3,3 3,5 4,5 4,1 3,0 3,0 4,8 2,8 3,0 3,5

Sim, já dedicou 1,6 3,8 3,1 3,8 5,5 6,3 3,1 4,6 9,7 10,3 3,5 6,0

Não, nunca dedicou

96,4 92,2 93,6 92,7 90,0 89,6 93,8 92,4 85,5 86,9 93,4 90,5

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Pensa vir a dedicar 15,1 31,6 18,9 29,4 27,8 38,2 15,9 28,3 34,1 39,4 16,7 26,3

Não pensa vir a dedicar

84,9 68,4 81,1 70,6 72,2 61,8 84,1 71,7 65,9 60,6 83,3 73,7

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

As associações ou fundações de solidariedade social, as associações de bombeiros voluntários e as organizações religiosas são as preferenciais para a realização de actividades de voluntariado. Analisando os vários grupos de organizações indicadas em função do perfi l de consumo de bebidas alcoólicas constata-se que os abstinentes preferem as associações de bombeiros voluntários, enquanto os desistentes, os consumidores moderados e os consumidores abusivos (irregulares e regulares) dão preferência às associações ou funda-

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

Tabela 60. Tipo de organização em que desempenha actividades (presente ou passado) como voluntariado em função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas

Abstinentes Desistentes Moderados Irregulares

Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

Associação de bombeiros voluntários

0,0 40,6 0,0 14,7 0,0 11,3 0,0 27,4 0,0 5,9 0,0 24,4

Associações de voluntariado na área da saúde

7,8 3,3 7,1 0,0 10,5 10,0 8,6 5,6 0,0 35,3 10,3 4,9

Associação juvenil 14,8 7,2 9,4 8,8 16,2 11,3 26,4 7,7 31,3 11,8 44,8 6,1

ONG de desenvolvimento 2,6 0,0 4,7 0,0 1,8 0,0 0,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Associação de desenvolvimento local

16,5 2,8 7,1 2,9 18,4 4,9 15,8 2,5 12,5 0,0 17,2 7,3

Organização religiosa 36,5 10,6 49,4 30,9 38,3 14,2 29,7 10,9 25,0 5,9 10,3 7,3

Associação/Fundação de solidariedade social

13,0 32,2 21,2 33,8 9,7 40,8 13,5 31,9 18,8 35,3 15,5 34,1

Associação de imigrantes 2,6 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Cooperativa 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Casa do Povo 0,9 3,3 0,0 7,4 0,4 6,5 0,0 12,3 0,0 0,0 0,0 12,2

Outra 5,2 0,0 1,2 1,5 4,7 1,0 5,3 1,8 12,5 5,9 1,7 3,7

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

ções de solidariedade social. De destacar ainda que os consumidores moderados irregu-lares, além das associações ou fundações de solidariedade social, mencionam ainda como organizações preferenciais para a prática de voluntariado as associações na área da saúde.

Comparativamente a 2001 verifi camos que as tendências gerais se alteraram consideravelmente. Entre a população geral, passou-se da preferência da prática de voluntariado em organizações religiosas, em associações juvenis e em associações de desenvolvimento local para associações ou fundações de solidariedade social, associações de bombeiros voluntários e organizações religiosas. Este fenómeno pode ser justifi cado pelo aumento considerável na proporção de inquiridos que em 2007 respondeu ter aderido à prática de actividades de voluntariado em instituições de apoio social.

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

149

A população que declara actividades de voluntariado (presentemente ou no passado) desenvolveu actividades nessas instituições como apoio ou solidariedade social, em actividades desportivas e em protecção civil. Tendo em conta o tipo de relação ao consumo de bebidas alcoólicas constata-se que a totalidade dos perfi s (entre abstinentes, desistentes e consumidores) desenvolvem preferencialmente actividades de apoio social ou de solidariedade social, excepção feita para os consumidores abusivos regulares em que se destacam também actividades na área do desporto.

Entre 2001 e 2007 o tipo de actividades desenvolvidas nas instituições de voluntariado manteve-se, embora as instituições sejam ligeiramente diferentes. Neste sentido, já em 2001 se destacavam as actividades no âmbito do apoio social, sendo que, também neste ano os consumidores abusivos regulares demonstram uma elevada proporção em actividades ligadas ao escutismo.

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

150

CBA Portugal 2001-2007

Tabela 61. Tipo de actividade que desempenha (presente ou passado) como voluntariadoem função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas

151

2.3. Religião

A crença religiosa expressa pelos inquiridos foi agrupada tendo em conta as seguintes

modalidades: católico, outra religião, indiferente, agnóstico, ateu, sem posição defi nida e

ainda a modalidade outra posição. A grande maioria da população declara-se católica

(cerca de 86%). Os restantes inquiridos distribuem-se pelas categorias indiferença, ateu

e outra religião (com cerca e 3% dos inquiridos em cada categoria), sendo que menos de

2% considera-se agnóstico ou sem posição defi nida.

Tendo em conta os perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, existe em todas

um predomínio da posição católica. Os abstinentes, os desistentes e os consumidores

moderados (irregulares e regulares) destacam-se como sendo os perfi s onde a proporção

de inquiridos católicos é superior (rondando os 80% em cada perfi l). De todos os perfi s de

consumo, são os abusivos (irregular e regular) os que apresenta uma menor proporção

de inquiridos católicos, destacando-se nestes perfi s as posições de indiferença, de ateu

ou sem posição religiosa defi nida.

A religião católica é a mais comum entre os inquiridos, facto que já se verifica na

análise de 2001 – 89% dos inquiridos neste ano declaram ser católicos e as tendências

gerais mantêm-se entre os dois anos em análise: católicos são essencialmente

os abstinentes, os desistentes e os consumidores moderados; enquanto entre os

consumidores abusivos, apesar de dominar a religião católica, existe ainda uma propor-

ção significativa de inquiridos que declara outras posições religiosas, nomeadamente a

posição de indiferença religiosa, de ateísmo e ainda sem posição religiosa definida.

Tabela 62. Religião praticada no presente em função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas

Abstinentes Desistentes Moderados Irregulares

Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Católico 90,8 88,6 93,4 87,6 89,3 86,6 88,8 87,5 81,1 68,1 82,6 72,8 Outra religião 3,0 4,7 1,2 3,6 2,6 2,9 1,5 2,5 1,6 1,4 1,5 2,7

Indiferente 2,1 2,2 2,9 2,5 3,0 3,5 4,0 3,6 3,3 8,7 9,0 10,0

Agnóstico 1,6 0,8 0,5 1,8 1,5 2,0 2,6 2,0 2,5 2,2 2,0 1,6

Ateu 1,4 2,4 1,2 2,8 2,1 2,5 2,3 3,0 6,6 9,4 2,8 9,5 Sem posição definida

0,8 1,4 0,6 1,7 1,3 2,3 0,6 1,3 3,3 9,4 1,9 3,1

Outra posição 0,3 0,0 0,1 0,1 0,3 0,1 0,1 0,0 1,6 0,7 0,2 0,3

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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Entre a população geral a frequência com que se deslocam ao local de culto é, para quase metade da população, rara: algumas vezes por ano ou com menos frequência. Para cerca de 20% da população a deslocação de pelo menos uma vez por semana ao local de culto é uma realidade. Proporção semelhante apresenta hábitos de deslocação mensais (entre uma a três vezes por mês) a locais de culto. É igualmente de 20% a proporção de inquiridos que declara nunca frequentar locais de culto.

Os abstinentes e os desistentes são os que se deslocam com mais frequência a locais de culto (embora neste último perfi l também se encontre uma elevada proporção de inquiridos com uma frequência de 1 a 3 vezes por mês). Com uma frequência rara (algumas vezes por ano) encontramos os perfi s de consumidores moderados (irregulares e regulares). Finalmente, são os consumidores abusivos (irregulares e regulares) os que declaram uma frequência menor aos locais de culto.

Entre 2001 e 2007 assistimos a uma diminuição da frequência de deslocações a locais de culto. A proporção de inquiridos cujas práticas de visita aos locais de culto eram de pelo menos uma vez por mês desceu consideravelmente, compensada com o aumento da proporção de inquiridos que declara deslocações a estes locais com uma frequência inferior a uma vez por ano ou mesmo a inexistência de idas aos locais de culto. Em termos de perfi s, assiste-se entre os dois anos a alteração de padrões comportamentais: os abstinentes intensifi cam as suas visitas aos locais de culto (passando de uma deslocação mensal em 2001 – entre uma a três vezes por mês – para uma deslocação semanal em 2007 – pelo menos uma vez por semana); os desistentes passam de visitas semanais para visitas mensais ou semanais em 2007; os consumidores moderados mantêm as suas visitas algumas vezes por ano (embora os consumidores regulares apresentassem em 2001 uma elevada proporção de inquiridos cujas deslocações ocorriam numa periodicidade semanal); e fi nalmente os consumidores abusivos permanecem entre os dois anos de análise com deslocações pouco frequente aos locais de culto.

153

Tabela 63. Frequência com que vai ao local de culto em função dos perfi s de consumode bebidas alcoólicas

Abstinentes Desistentes Moderados

Irregulares Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 1 ou mais vezes por semana

24,2 25,3 34,7 23,1 24,0 17,6 23,7 15,3 14,0 14,1 11,4 9,6

2 ou 3 vezes por mês

13,8 6,4 16,0 4,3 11,5 4,8 12,6 4,1 7,5 1,5 10,9 2,5

1 vez por mês 12,2 14,6 9,2 12,5 9,9 13,3 8,3 12,2 8,4 8,9 9,1 10,8

Algumas vezes por ano

22,8 23,3 19,5 23,1 24,7 29,3 23,9 27,6 26,2 20,7 23,3 22,0

Com menos frequência ainda

16,0 17,2 13,7 17,9 20,7 20,3 18,8 23,4 28,0 29,6 28,6 28,8

Nunca 11,0 13,2 6,8 19,1 9,2 14,6 12,7 17,4 15,9 25,2 16,7 26,3

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

3. Artes e desporto

3.1. Actividades artísticas

Correspondem a cerca de 14% os indivíduos que se dedicam (7,5%), ou se dedicaram (6,4%), a actividades artísticas. A maior parte delas incidem em áreas como a música (20%), a pintura (19%) e o artesanato tradicional (17%), seguindo-se outras ainda com algum relevo como sejam o teatro (13%) ou a dança (7%). Listamos por ordem de referência, para conhecimento, outras que foram ou são desenvolvidas por parte da população geral que dedica algum tempo a actividades artísticas: desenho, escrita, fotografi a, canto, escultura, trabalhos manuais, costura, artesanato urbano, artes ofi cinais, decoração, gastronomia, jardinagem, TV, cenografi a e restauro.

Dos que se dedicam a actividades artísticas, pouco mais de 10% fá-lo a título profi ssional.

De entre a população geral que não exerce ou exerceu alguma actividade artística, são cerca de 10% os que afi rmam que gostariam de, no futuro, vir a desenvolver este tipo de iniciativa.

São os abstinentes os que menos se dedicam ou dedicaram tempo a actividades artísticas e os consumidores irregulares, moderados ou abusivos, os que em maior percentagem realizam ou realizaram actividades artísticas.

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

À excepção do grupo de consumidores abusivos irregulares, de 2001 para 2007 nota-se um acréscimo na percentagem de indivíduos dedicados às actividades artísticas.

Tabela 64. Dedicação de tempo a actividades artísticas em função dos perfi s de consumode bebidas alcoólicas

Tabela 65. Actividade artística a que se dedica em função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas

Abstinentes Desistentes Moderados

Irregulares Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 Sim, dedica 3,7 5,2 4,2 9,6 8,9 11 4,8 5,1 12,2 13 7 7,5

Sim, já dedicou 2,4 4,3 4,2 5,3 7,7 8,7 4,2 6 16,3 9,6 4 8,5

Não 93,9 90,5 91,5 85,1 83,4 80,3 91 88,9 71,5 77,4 89,1 84

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Abstinentes Desistentes Moderados

Irregulares Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Música 17,3 16,7 16,5 16,2 19,7 16,2 21,8 24,1 15,6 24,6 27,2 24,6

Pintura 20,3 18,5 25,4 14,9 18,9 22,1 18,0 16,6 14,8 10,3 20,6 10,3

Artesanato 12,4 23,4 9,1 29,3 7,4 20,6 7,0 10,8 7,5 3,0 7,6 3,0

Teatro 18,4 10,7 22,6 11,1 16,6 13,2 23,7 17,5 19,6 19,0 16,4 19,0

Dança 13,2 9,3 11,8 7,3 15,9 7,6 7,9 7,4 11,6 21,1 6,7 21,1

Outras 18,4 21,4 14,6 21,3 21,5 20,3 21,6 23,5 30,9 21,9 21,5 21,9

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Se há diferenças na percentagem de indivíduos que se ocupam de actividades artísticas, quando comparados os perfi s, elas também existem quanto ao tipo de actividade desenvolvida: a música, o teatro e a dança são as actividades mais frequentes entre consumidores moderados regulares e consumidores abusivos; em contrapartida, comparativamente aos outros perfi s, o artesanato tradicional e a pintura são mais frequentes entre abstinentes, desistentes e consumidores moderados irregulares.

3.2. Actividades desportivas

A prática de algum desporto ou de exercício físico era em 2007 realizada por cerca de 30% da população geral. Cerca de 25% afi rmou já ter praticado no passado alguma actividade

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desportiva, o que perfaz cerca de 55% da população que em alguma altura da vida já praticou actividade desportiva ou exercício físico regular. Tendo em conta o perfi l de consumo de bebidas alcoólicas verifi ca-se que são os consumidores actuais que praticam ou praticaram no passado algum desporto ou exercício físico regular. São os consumidores irregulares (abusivos e moderados) os que no presente mais declaram praticar actividades desportivas. No passado, são essencialmente os consumidores abusivos (irregulares e regulares) os que praticaram algum desporto ou exercício físico de forma regular.

A prática desportiva associada a consumidores actuais de bebidas alcoólicas já se verifi cava em 2001: também neste ano eram os consumidores abusivos irregulares e os consumidores moderados irregulares que declaravam praticar actividades desportivas. As alterações parecem estar nas tendências verifi cadas nas práticas passadas: em 2001 eram os consumidores abusivos regulares e os moderados irregulares os que já tinham praticado actividades desportivas, enquanto que em 2007 passam a ser os abusivos (irregulares e regulares) os que declaram ter praticado actividades desportivas ou exercício físico regular no passado.

Abstinentes Desistentes Moderados

Irregulares Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Sim, pratica 15,7 26,1 10,4 25,8 23,1 36,0 15,9 28,9 39,8 39,0 19,8 33,2 Sim, praticou 13,7 17,2 16,7 23,9 26,4 27,6 21,8 25,8 25,2 40,4 30,5 35,1

Não pratica 70,5 56,7 72,8 50,3 50,5 36,5 62,3 45,3 35,0 20,5 49,7 31,7

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Tabela 66. Prática de algum desporto ou exercício físico regular em função dos perfi s de consumode bebidas alcoólicas

As modalidades preferidas para a prática de actividades desportivas são, por ordem de proporção de preferência, os desportos de equipa, o exercício físico, a natação, as actividades em ginásio, o ciclismo e a dança. Estas são também as modalidades que se destacam nos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas. Entre os perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, os desportos de equipa são os preferidos para a quase totalidade dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, excepção feita para os desistentes, que preferem actividades de exercício físico sem recorrer a organizações ou a compromissos.

A pouca diversidade da análise por perfi l, leva-nos a centrar a análise no tipo de actividade desportiva realizada. Neste sentido, constata-se que os desportos de equipa assumem uma elevada proporção de consumidores abusivos (irregulares e regulares); o

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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exercício físico e a natação de desistentes e abstinentes; as actividades em ginásio integram uma maior proporção de desistentes e de consumidores moderados irregulares; o ciclismo de consumidores abusivos regulares; e fi nalmente, a dança integra uma proporção elevada de consumidores abusivos irregulares, de abstinentes, de desistentes e de consumidores moderados irregulares.

Entre os dois anos de análise as principais modalidades desportivas mantêm-se as mesmas: os desportos de equipa, a natação e as actividades em ginásio permanecem como sendo as que mais agradam os inquiridos para a prática de desporto.

Tabela 67. Modalidade desportiva praticada em função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas

Abstinentes Desistentes Moderados Irregulares

Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 Desporto de contacto 5,3 2,4 3,4 1,8 4,2 2,2 3,7 3,1 6,0 3,6 6,8 2,2

Desportos motorizados 0,4 0,3 3,4 0,4 0,3 0,0 0,4 0,0 0,0 0,0 0,0 0,6

Ginásio 10,7 8,9 21,4 12,6 17,4 14,4 13,1 9,4 24,0 7,3 10,9 9,8

Atletismo 4,4 5,2 2,1 5,8 3,7 5,1 6,1 7,0 2,0 7,3 1,0 6,6 Desportos de equipe 41,1 24,0 28,3 18,7 34,9 25,7 35,6 29,7 32,0 50,9 50,0 38,5

Desportos radicais 1,3 0,3 2,8 0,7 0,1 0,4 0,4 0,4 6,0 3,6 2,6 0,3

Desportos aquáticos 2,0 1,8 2,8 0,4 0,9 0,7 2,2 1,4 0,0 0,0 0,5 2,5

Caça e Pesca 0,9 0,0 2,1 0,7 1,2 0,3 5,5 2,2 0,0 0,0 6,8 2,2

Ciclismo 2,6 8,4 9,7 7,2 3,4 7,7 5,7 8,0 2,0 1,8 4,2 10,7

Golfe 0,0 0,0 0,0 0,0 0,6 0,0 0,2 0,1 0,0 0,0 1,0 0,6

Exercício físico 11,0 21,9 9,7 24,1 8,9 20,5 11,4 21,0 10,0 9,1 7,3 8,2

Natação 16,6 15,3 13,1 15,1 21,3 11,7 13,1 9,6 18,0 3,6 7,8 13,6 Desportos na neve 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Desportos com raquetes 2,6 2,0 0,7 1,8 1,2 1,4 1,3 1,2 0,0 1,8 1,0 0,9

Dança 0,6 9,3 0,0 9,4 1,2 9,2 0,2 6,7 0,0 10,9 0,0 3,2

Hipismo 0,6 0,2 0,7 1,4 0,6 0,7 0,8 0,2 0,0 0,0 0,0 0,0

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

De uma forma geral, os inquiridos utilizam até 4 horas por semana em actividades desportivas ou em exercício físico regular, sendo que 34% da população geral o faz com uma periodicidade de 2 a 4 horas e 29% entre 1 a 2 horas. A restante população (cerca de 37%) utiliza mais de 5 horas neste tipo de actividades. Tendo em conta o perfi l de bebidas

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alcoólicas, são os desistentes, os consumidores moderados (irregulares e regulares) e os abusivos irregulares os que utilizam mais tempo em actividades desportivas (entre 3 a 4 horas por semana). Os abstinentes e os consumidores abusivos regulares são os que utilizam menos horas em actividades desportivas (até 2 horas por semana).

Entre os dois anos de análise deram-se algumas alterações no que confere às horas utilizadas em actividades desportivas: apesar da maioria da população continuar a praticar actividades desportivas até 4 horas (68% em 2001 e 63% em 2007), em termos de perfi s de consumo de bebidas alcoólicas encontramos uma alteração nas tendências: se em 2001 eram os consumidores abusivos regulares, os consumidores moderados regulares e os abstinentes os que mais gastavam tempo em actividades desportivas (mais de 7 horas para o primeiro e entre 3 a 4 horas para os dois últimos perfi s), em 2007 passam a ser os consumidores moderados (irregulares e regulares), os consumidores abusivos irregulares e os desistentes (todos com uma utilização de 3 a 4 horas por semana). Os desistentes e os consumidores irregulares (moderados e abusivos) eram em 2001 os que menos horas ocupavam em actividades desportivas.

Tabela 68. Número de horas por semana utilizadas em actividades desportivas ou exercício físico regular em função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas

Abstinentes Desistentes Moderados

Irregulares Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

1a 2 horas 28,7 29,8 34,5 22,4 34,4 28,2 30,3 28,9 32,0 19,6 25,9 33,2 3 a 4 horas 35,6 29,2 30,2 29,9 33,3 36,8 29,6 36,5 30,0 33,9 26,5 28,8

5 a 6 horas 17,0 18,1 20,9 21,6 16,5 20,3 23,6 18,9 26,0 17,9 17,5 22,9

7 ou mais horas 18,7 22,9 14,4 26,1 15,9 14,8 16,6 15,7 12,0 28,6 30,2 15,0

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

A proporção de inquiridos que pratica ou já praticou actividades desportivas ou exercício físico regular em clubes ou associações desportivas é de cerca de 1/3 da população geral (37% para se ser mais exacto). Também nos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas a proporção de inquiridos que presentemente ou no passado realiza actividades desportivas em clubes ou associações desportivas ronda, para todos os perfi s, uma proporção entre os 40% e os 50%. São os consumidores moderados irregulares, os consumidores abusivos irregulares e os desistentes que apresentam uma maior proporção de inquiridos que utilizam instituições desportivas organizadas para a prática de actividades desportivas.

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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Comparativamente a 2001, assistimos a uma diminuição de mais de 10% (de 49% em 2001 para 37% em 2007) na proporção de inquiridos que praticam ou praticaram actividades desportivas em clubes ou associações desportivas. Centrando a análise nos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas, constata-se que também em termos de tendências gerais existiram alterações entre os dois anos de análise: se em 2001 eram os abstinentes, os consumidores moderados (irregulares e regulares) e os consumidores abusivos regulares os que mais recorriam a clubes ou associações desportivas para a prática de actividades desportivas, em 2007, são os consumidores moderados irregulares, os consumidores abusivos irregulares e os desistentes os que mais frequentemente utilizam este tipo de instituições.

Tabela 69. Prática de actividade desportiva ou exercício físico regular (presente ou passado) em clube/associação em função dos perfi s de consumo de bebidas alcoólicas

Abstinentes Desistentes Moderados Irregulares

Moderados Regulares

Abusivos Irregulares

Abusivos Regulares

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 Em clube/Associação 53,9 39,4 45,1 32,6 46,9 38,4 49,0 35,1 44,9 35,1 46,7 41,7

Em outro local 46,1 60,6 54,9 67,4 53,1 61,6 51,0 64,9 55,1 64,9 53,3 58,3

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

3.3. Jogos de azar

Os jogos de azar, que incluem práticas como o jogar no totobola ou totoloto, nas lotarias, nos jogos de cartas (entre amigos ou conhecidos a dinheiro), nos jogos de apostas (entre amigos ou conhecidos a dinheiro) e nos jogos de apostas em salões de jogo (jogos de casino, bingo, etc.), são práticas pouco habituais para a grande maioria da população. Na verdade, excluindo o totobola ou o totoloto, em que 29% da população joga pelo menos 1 vez por semana, todas as restantes actividades apresentam uma frequência diminuta ou inexistente quando analisada a sua prática semanal. Tendo em conta os diversos perfi s de consumo, constata-se uma tendência semelhante em todos eles: com uma prática de jogo mais regular (de pelo menos uma vez por semana), são os jogos do totobola ou totoloto os que mais atraem os inquiridos de todos os perfi s de consumo, seguindo-se os jogos de lotarias e os jogos de cartas entre amigos ou conhecidos a dinheiro. As restantes práticas têm uma proporção muito residual quando analisada a sua frequência semanal. Centrando-nos nos três principais jogos semanais, constata-se que os consumidores moderados regulares e os consumidores abusivos (irregulares e regulares) são os que apresentam uma maior proporção de inquiridos que revelam que pelo menos uma vez por semana jogam no totobola ou no totoloto. Tendo

159

em conta os jogos de lotarias, a proporção em cada perfi l que afi rma jogar pelo menos uma vez por semana neste jogo são muito semelhantes. Contudo, são os consumidores abusivos irregulares e os desistentes os que afi rmam fazê-lo mais frequentemente. Para os restantes jogos a proporção de inquiridos que joga pelo menos uma vez por semana é bastante reduzida.

Comparativamente a 2001, a tendência geral mantém-se: o totobola ou totoloto continuam a ser os jogos que mais atraem os inquiridos. Tendo em conta os perfi s de consumo, constata-se que em todos os perfi s ocorreu um aumento da proporção de inquiridos jogadores desta modalidade. Na verdade, permanecem os perfi s dos consumidores abusivos regulares e consumidores moderados regulares como os que mais declaram jogar pelo menos uma vez por semana no totobola ou totoloto, existindo uma alteração no nível de importância que os desistentes apresentavam em 2001: um dos perfi s que semanalmente mais jogavam neste tido de jogos (totobola ou totoloto), passa em 2007 a ter um menor peso, passando a ser os consumidores abusivos irregulares como um dos perfi s que mais aposta neste tipo de jogos. Os restantes jogos de azar permanecem com níveis de signifi cância muito reduzidos.

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

Tabela 70. Frequência com que costuma jogar em jogos que envolvam dinheiro em função dos perfi sde consumo de bebidas alcoólicas

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13 A modalidade Casino só existia em 2001. Em 2007 optou-se por se juntar à categoria de Jogos de apostas em salões de jogo.

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

Capítulo V. Tipologia de consumo de álcool e dependências

Neste ponto dedicado às situações experimentadas pelos diferentes perfi s de consumo de álcool e às dependências pretendemos, primeiramente, olhar em concreto para o consumo de bebidas alcoólicas atendendo em concreto ao tipo de bebida consumida. A partir da informação que dispomos, partiremos para a construção de perfi s de consumo por tipo de bebida – cerveja, alcopops, vinho e bebidas espirituosas/destiladas –, conjugando-os com a frequência de consumo, à semelhança dos perfi s construídos em partes anteriores. Depois, procuraremos centrar-nos na abordagem sobre consumos exclusivos e policonsumos de bebidas alcoólicas, tentando perceber até que ponto se diferenciam em função das características sociais dos consumidores.

Numa segunda parte, o ponto principal da análise centra-se nas consequências associadas ao consumo de bebidas alcoólicas e, em concreto, a dependências desse consumo, isto porque é importante diferenciar, perante níveis de consumo mais ou menos regulares, a população que apresenta comportamentos que podem ser associados a dependência. Antes de apresentarmos os resultados extraídos do Segundo Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoactivas na População Geral, 2007, faremos um breve intróito pelo tema das dependências, onde faremos uma incursão por alguns dos testes mais utilizados para detectar consumos problemáticos e/ou dependências, onde apresentaremos o teste CAGE o utilizado no nosso questionário – e a justifi cação da sua escolha como forma de detecção de dependência de álcool na população portuguesa. Por fi m serão apresentados os dados sobre a população que apresenta sintomas de dependência de álcool em Portugal, sendo desenhada uma caracterização sociodemográfi ca, socioeconómica e socioprofi ssional.

1. Perfi s de consumo de cada tipo de bebida alcoólica

Da população geral, 59% foi consumidor de vinho no último ano, 56% consumiu cerveja, 48% bebidas destiladas/espirituosas e 22% alcopops. Percebendo, por estas taxas de prevalências e pela informação anteriormente analisada, que há bebidas mais comuns e outras que são consumidas menos frequentemente, procuramos traçar perfi s de consumo de cada uma das quatro bebidas em causa – cerveja, alcopops, vinho e bebidas espirituosas/destiladas – comparando-os posteriormente e relacionando-os com algumas características dos indivíduos.

Aplicaram-se os mesmos critérios que estiveram na base da construção da tipologia de consumo de bebidas alcoólicas. No entanto, não foi possível traçar, para cada tipo de

163

bebida, o perfi l de consumidor desistente, uma vez que a especifi cidade sobre o tipo de bebida consumida não foi inquirida na temporalidade ao longo da vida, tendo-o sido apenas para os últimos doze meses e trinta dias. Nesse sentido, para os consumidores dos últimos doze meses, diferenciamo-los e comparamos os seus pesos relativos em termos de consumo moderado ou abusivo, regular ou irregular, deixando de lado os abstinentes e os desistentes do consumo de qualquer bebida alcoólica uma vez que já foram vastamente abordados em blocos de análise anteriores e não adiantam informação específi ca sobre cada um dos tipos de bebida em concreto.

Defi nidos os quatro tipos de perfi l de consumo, quanto à sua regularidade e intensidade, comparemo-los de acordo com o tipo de bebida alcoólica, acrescentando ainda à análise a dimensão longitudinal.

O vinho é, de todas, a bebida que mais promove um consumo moderado regular, enquanto os alcopops e as bebidas destiladas são de consumo mais ocasional, defi nindo--se a maioria dos seus consumidores como moderados irregulares. O consumo de cerveja é, também ele, maioritariamente moderado, sendo, no entanto, menos irregular que o de alcopops ou bebidas espirituosas/destiladas mas não tão regular quanto o de vinho.

Há ainda que assinalar, no caso do consumo de alcopops, o volume signifi cativo de consumidores abusivos irregulares, que, nesse sentido, o fazem ocasionalmente mas em quantidades mais elevadas.

Distribuindo-se a maioria pelo consumo moderado irregular e havendo ainda quase um terço dos consumidores que o fazem de forma regular, o consumo de cerveja destaca-se igualmente pelos mais de 10% de consumidores abusivos regulares. O consumo abusivo ocorrido de forma regular é igualmente registado para cerca de 9% dos consumidores de vinho.

Entre 2001 e 2007, podemos observar uma manutenção nos padrões de consumo no caso da cerveja, do alcopops e de bebidas espirituosas/destiladas; no caso do vinho, há a registar um aumento do consumo abusivo irregular e moderado irregular, e uma diminuição da percentagem de consumidores moderados regulares.

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

Tabela 71. Perfi s de consumo de cada tipo de bebida alcoólica

Cerveja Alcopops Vinho Bebidas

Espirituosas/ Destiladas

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Moderados Irregulares 53,0 54,6 77,0 77,5 32,1 38,1 73,5 75,8

Moderados Regulares 33,2 30,4 4,6 5,0 55,6 48,4 12,4 8,3

Abusivos Irregulares 3,2 3,9 14,4 15,5 0,5 4,5 9,3 9,8

Abusivos Regulares 10,6 11,1 4,1 2,0 8,4 9,0 4,7 6,1

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Como variarão as características dos consumidores em função do tipo de bebida? Na tentativa de traçar diferentes perfi s sociodemográfi cos, socioeconómicos e socioprofi ssionais, o próximo bloco de análise será dedicado ao cruzamento dessa informação individual com o tipo de bebida consumida. Por não termos o detalhe sobre a desistência face a cada substância em concreto e sendo que os abstinentes já foram vastamente caracterizados em pontos anteriores, ressalvamos o facto de esta análise contemplar apenas os indivíduos que no último ano consumiram especifi camente cada um dos quatro tipos de bebidas mencionados: cerveja, alcopops, vinho e bebidas espirituosas/destiladas.

Sem alterações de maior entre 2001 e 2007, verifi ca-se uma tendência para, qualquer que seja o tipo de bebida consumido, o perfi l de consumidores moderados irregulares corresponder muito mais ao género feminino, enquanto ao género masculino se associa mais um consumo moderado regular. As diferenças de género são mais acentuadas no caso da cerveja, onde os perfi s de consumo são bastante distintos, seguindo-se o vinho, que apresenta o mesmo padrão: regularidade maior entre os homens e moderação irregular no caso das mulheres. No que se refere aos alcopops e às bebidas espirituosas/destiladas, apresentando-se em ambos os géneros uma maioria de consumidores moderados irregulares, ela encontra-se com maior expressividade no caso das mulheres consumidoras.

Há ainda a assinalar as percentagens signifi cativas de consumo abusivo irregular – nos alcopops e nas bebidas espirituosas/destiladas – ou regular – quando se trata de vinho ou cerveja – no género masculino.

165

Tabela 72. Perfi s de consumo de cada tipo de bebida alcoólica, em função do género

Cerveja Alcopops Vinho Bebidas

Espirituosas/ Destiladas

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Masculino

Moderados Irregulares 39,3 38,7 79,2 68,4 24,2 25,0 66,0 65,8

Moderados Regulares 42,5 41,1 15,5 6,5 58,2 55,7 15,0 11,6

Abusivos Irregulares 3,5 4,8 2,6 22,5 5,0 5,8 12,4 13,5

Abusivos Regulares 14,7 15,4 2,7 2,6 12,5 13,4 6,6 9,0

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Feminino

Moderados Irregulares 79,2 83,8 87,6 90,5 43,7 57,5 86,9 91,0

Moderados Regulares 15,5 10,7 4,3 2,8 51,7 37,6 7,9 3,3

Abusivos Irregulares 2,6 2,2 6,6 5,7 2,2 2,5 3,7 4,1

Abusivos Regulares 2,7 3,3 1,5 1,0 2,3 2,4 1,5 1,6

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

O efeito geração pode ser observado quando detalhamos os tipos de consumidores em função da bebida e da idade: correspondendo a uma maioria de consumidores, o perfi l de consumidor moderado irregular é o mais frequente no caso dos alcopops, bebidas espirituosas/destiladas e cerveja, aumentando o seu peso à medida que avançamos nos grupos de idade em análise.

No caso da cerveja, esse aumento só se verifi ca a partir do grupo etário dos 45-54 anos, e no que se refere aos alcopops, os jovens dos 25-34 anos são excepção nessa curva ascendente. Verifi ca-se ainda, no caso destas três bebidas, outras situações a assinalar: em relação à cerveja, a percentagem de consumidores moderados regulares vai aumentando até ao grupo etário dos 45-54 anos, diminuindo, em paralelo, a proporção de consumidores abusivos regulares, que é signifi cativa nos grupos etários mais jovens; no caso dos alcopops e das bebidas espirituosas/destiladas, a percentagem de consumidores abusivos irregulares entre a população jovem adulta, por comparação com os grupos etários acima dos 34 anos, é signifi cativa.

O consumo de vinho acaba por apresentar um comportamento face à idade bastante distinto dos demais. Com uma maioria de consumidores moderados irregulares entre os jovens adultos (15-24 anos e 25-34 anos), há uma clara inversão de tendência, passando a ser o perfi l de moderado regular aquele que mais se verifi ca para este tipo de bebida, chegando a atingir mais de dois terços dos consumidores mais velhos.

Ainda que com algumas diferenças em termos percentuais, as tendências assinaladas para 2007 são as mesmas que encontramos em 2001.

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

Tabela 73. Perfi s de consumo de cada tipo de bebida alcoólica, em função do grupo de idade

Cerveja Alcopops Vinho Bebidas

Espirituosas/ Destiladas

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

15-24 anos

Moderados Irregulares 57,3 56,2 73,9 77,3 59,2 66,7 73,0 73,6 Moderados Regulares 25,8 25,3 5,7 5,9 22,5 13,6 9,7 7,2 Abusivos Irregulares 4,4 5,4 16,2 14,3 12,5 14,3 12,6 11,5 Abusivos Regulares 12,5 13,0 4,1 2,5 5,8 5,3 4,7 7,7

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

25-34 anos

Moderados Irregulares 48,3 52,2 76,3 73,9 39,1 49,8 68,4 73,4 Moderados Regulares 36,3 29,2 1,9 3,6 46,2 32,7 15,8 6,6 Abusivos Irregulares 2,9 3,4 17,3 19,6 5,0 7,3 10,4 12,8 Abusivos Regulares 12,5 15,1 4,5 2,9 9,8 10,2 5,3 7,2

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

35-44 anos

Moderados Irregulares 48,1 51,5 78,2 75,7 27,2 35,5 74,4 76,8 Moderados Regulares 39,1 33,5 6,7 7,8 61,4 50,2 12,7 7,4 Abusivos Irregulares 1,9 3,2 10,6 16,0 2,1 3,6 7,6 11,1 Abusivos Regulares 10,9 11,9 4,4 0,5 9,2 10,7 5,3 4,7

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

45-54 anos

Moderados Irregulares 52,8 54,1 84,3 82,9 20,6 29,0 76,9 78,3 Moderados Regulares 34,9 34,1 5,0 3,2 69,0 60,7 10,8 9,6 Abusivos Irregulares 3,2 4,1 8,7 12,2 1,4 0,9 7,7 6,4 Abusivos Regulares 9,1 7,6 2,1 1,7 9,0 9,4 4,6 5,8

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

55-64 anos

Moderados Irregulares 65,4 63,1 81,8 87,2 19,9 21,1 79,5 78,4 Moderados Regulares 25,7 28,2 6,1 2,2 72,8 71,5 11,5 12,7 Abusivos Irregulares 4,0 3,7 8,3 9,5 0,8 0,7 6,4 4,5 Abusivos Regulares 4,8 4,9 3,8 1,1 6,4 6,8 2,6 4,4

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

À excepção do consumo de vinho, em todas as restantes bebidas e em todos os estados civis o perfi l modal é o de consumidor moderado irregular, perfi l esse que, ainda assim, tende a encontrar-se menos representado no grupo dos solteiros e no dos divorciados/separados judicialmente, fazendo, nestes casos, crescer o peso dos consumidores abusivos – regulares no caso da cerveja e das bebidas espirituosas/destiladas (nesta bebida apenas entre os divorciados) e irregulares no caso dos alcopops e das bebidas espirituosas/destiladas (aqui, apenas para os solteiros). Se os consumos de alcopops e de bebidas espirituosas/destiladas tendem a apresentar distribuições bastante similares – presença fortíssima de moderados irregulares, e um peso interessante de abusivos irregulares –, no caso da cerveja há que destacar o facto de se falar da mesma tendência mas que corresponde a proporções bastante diferentes, na medida em que,

167

havendo uma maioria de moderados irregulares, ainda assim os consumos moderados regulares representam uma parte signifi cativa (aproximadamente um terço) do total de consumidores deste tipo de bebida.

No caso do vinho, os moderados irregulares são apenas o perfi l mais representativo dos solteiros, uma vez que consumidores casados, divorciados/separados judicialmente e viúvos tendem a praticar um consumo moderado regular.

De um modo geral mantêm-se as mesmas tendências entre 2001 e 2007.

Tabela 74. Perfi s de consumo de cada tipo de bebida alcoólica, em função do estado civil

Cerveja Alcopops Vinho Bebidas

Espirituosas/ Destiladas

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Solteiro

Moderados Irregulares 49,5 48,5 76,9 73,7 50,5 51,0 68,5 69,7

Moderados Regulares 30,2 29,9 4,7 5,1 28,9 27,0 10,8 7,6

Abusivos Irregulares 4,1 5,5 14,4 15,5 9,6 11,4 14,1 14,5

Abusivos Regulares 16,2 16,1 4,1 1,9 11,0 10,6 6,6 8,2

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Casado/ em união de facto

Moderados Irregulares 54,8 58,6 82,5 81,5 26,0 33,6 77,6 80,1

Moderados Regulares 35,2 30,4 5,0 4,6 65,1 56,6 12,3 8,1

Abusivos Irregulares 2,5 3,0 9,9 12,6 1,8 1,9 6,7 7,4

Abusivos Regulares 7,5 8,0 2,6 1,2 7,2 7,9 3,4 4,4

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Divorciado/ separado

Moderados Irregulares 46,7 47,7 75,0 78,5 26,6 32,6 57,1 71,2

Moderados Regulares 36,8 34,0 7,2 6,7 58,0 50,6 25,9 12,0

Abusivos Irregulares 3,1 4,2 15,1 13,3 4,6 2,6 9,2 6,3

Abusivos Regulares 13,3 14,2 2,6 1,5 10,7 14,2 7,8 10,5

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Viúvo

Moderados Irregulares 63,0 65,2 81,0 81,8 25,6 30,0 76,4 77,6

Moderados Regulares 21,1 27,8 7,1 0,0 61,8 62,1 7,9 13,1

Abusivos Irregulares 6,2 0,9 7,1 18,2 2,8 0,5 8,9 6,5

Abusivos Regulares 9,7 6,1 4,8 0,0 9,8 7,4 6,8 2,8

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Atendendo à caracterização socioprofi ssional, e ao descrito anteriormente, e sabendo que os consumos de alcopops e de bebidas espirituosas/destiladas são similares e correspondem na maioria das referências a uma cadência irregular e

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

quantidade moderada, verifi ca-se que são os reformados e os que se ocupam de tarefas do lar que mais fazem vingar esta tendência. Trabalhadores, estudantes e, sobretudo, desempregados, em contrapartida, apresentam um segundo perfi l que, ainda que em valores percentuais bastante inferiores aos dos moderados irregulares, não deixa de ser signifi cativo: o de abusivo irregular.

Também o consumo de cerveja é maioritariamente moderado irregular em qualquer situação perante o trabalho: é-o mais entre os que se ocupam de tarefas do lar e menos para os desempregados e os que exercem uma actividade profi ssional. Na maioria das situações é o consumo moderado regular o que surge em segundo lugar, ainda que a mais de metade do valor percentual da categoria mais representativa (os moderados irregulares), sendo que no caso dos trabalhadores, dos desempregados e dos estudantes se destaca ainda o perfi l de consumidor abusivo regular.

No caso do vinho, a ocupação exercida refl ecte-se no perfi l de consumo: o consumo de vinho entre os estudantes é claramente moderado irregular, enquanto que para os que exercem (trabalhadores actuais) ou exerceram (desempregados e reformados) uma actividade profi ssional o perfi l que se destaca é o de moderado regular. De destacar ainda a percentagem expressiva de consumo abusivo irregular de vinho entre os estudantes, e de consumo abusivo regular entre empregados e desempregados.

Não se notam diferenças signifi cativas entre os dois momentos de inquirição (2001 e 2007), reproduzindo-se em 2007 as tendências do ano de observação anterior.

Tabela 75. Perfi s de consumo de cada tipo de bebida alcoólica, em função da posição perante o trabalho

Cerveja Alcopops Vinho Bebidas

Espirituosas/ Destiladas

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Exerce uma actividade profissional

Moderados Irregulares 48,0 52,3 78,6 76,8 30,0 36,9 71,6 75,8

Moderados Regulares 37,9 32,8 3,9 4,9 57,2 49,2 14,2 8,3

Abusivos Irregulares 2,8 3,5 13,8 16,1 3,6 4,0 9,3 10,0

Abusivos Regulares 11,3 11,4 3,6 2,2 9,2 9,9 4,9 5,9

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Desempregado

Moderados Irregulares 57,8 50,7 62,5 70,9 33,3 39,5 73,4 72,3

Moderados Regulares 24,6 26,3 7,7 5,8 51,7 42,5 9,0 5,5

Abusivos Irregulares 3,5 7,4 21,2 22,7 3,4 7,6 12,4 12,5

Abusivos Regulares 14,2 15,6 8,7 0,6 11,5 10,3 5,3 9,8

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

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Ocupa-se de tarefas do lar

Moderados Irregulares 77,2 88,2 74,1 86,6 26,5 46,8 94,5 94,4

Moderados Regulares 18,7 9,5 17,2 10,4 69,6 50,6 1,2 2,1

Abusivos Irregulares 2,3 0,6 1,7 3,0 1,3 0,4 2,4 2,1

Abusivos Regulares 1,8 1,8 6,9 0,0 2,7 2,3 1,8 1,4

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Outra

Moderados Irregulares 54,4 62,3 75,7 81,8 36,5 38,5 80,2 75,0

Moderados Regulares 30,4 24,6 2,7 0,0 51,1 51,3 4,6 11,5

Abusivos Irregulares 5,1 0,0 21,6 0,0 2,8 5,1 8,4 5,8

Abusivos Regulares 10,1 13,1 0,0 18,2 9,6 5,1 6,9 7,7

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Reformado

Moderados Irregulares 67,9 65,0 76,1 92,9 23,1 20,1 79,5 77,9

Moderados Regulares 24,3 28,5 10,9 2,0 69,9 74,3 11,7 16,3

Abusivos Irregulares 4,9 2,8 13,0 4,1 0,8 0,4 6,8 3,5

Abusivos Regulares 3,0 3,7 0,0 1,0 6,2 5,3 1,9 2,2

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Estudante

Moderados Irregulares 64,7 58,6 75,5 78,3 67,7 67,7 73,0 72,1

Moderados Regulares 18,1 22,2 4,1 4,2 11,3 10,2 9,2 7,1

Abusivos Irregulares 4,8 6,4 15,5 15,7 13,9 16,4 12,4 12,4

Abusivos Regulares 12,4 12,8 4,9 1,9 7,1 5,7 5,4 8,5

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

(cont.) Cerveja Alcopops Vinho Bebidas

Espirituosas/ Destiladas

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Através do indicador socioprofi ssional de classe, construído a partir da informação sobre a actividade profi ssional desenvolvida (ou a última que desenvolveu, no caso dos desempregados, reformados e outros) e a situação na profi ssão (patrão, trabalhador por conta própria ou trabalhador dependente), aprofundamos a análise do consumo das diferentes bebidas alcoólicas no que se refere à caracterização socioprofi ssional dos consumidores do último ano.

Sabendo de antemão, pelo que já foi descrito anteriormente, que há diferenças de perfi l quanto ao tipo de bebidas – umas de consumo mais regular, outras mais esporádicas, umas de consumo mais moderado, outras menos –, essas diferenças acentuam-se quando cruzamos a informação com o indicador socioprofi ssional de classe.

O vinho, bebida com uma cadência de consumo mais frequente, não é consumido com a mesma intensidade entre grupos socioprofi ssionais de topo e de base: apre-

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

senta-se com um consumo moderado mais regular entre os agricultores independentes, os operários e os trabalhadores independentes, sendo a parcela de consumidores abusivos mais elevada nos operários e nos assalariados agrícolas; em contrapartida, a percentagem de consumo moderado irregular, comparativamente aos demais grupos socioprofi ssionais, é superior nos grupos de topo, nomeadamente entre empresários, dirigente e profi ssionais liberais, bem como profi ssionais técnicos e de enquadramento, ocorrendo também essa tendência entre os empregados executantes.

Aliás, de 2001 para 2007, observa-se uma diminuição do consumo moderado regular nestes últimos grupos socioprofi ssionais, para dar lugar a um aumento do consumo moderado irregular, assim como se reforça, de um ano para o outro, o consumo abusivo regular entre os assalariados agrícolas.

As tendências acima referidas e as diferenças entre os dois anos em análise – para um consumo moderado mais irregular nos grupos socioprofi ssionais de topo e um consumo mais regular e, em parte, também mais abusivo na base da hierarquia socioprofi ssional – ocorrem de forma similar no que diz respeito ao consumo de cerveja.

Quanto ao consumo de alcopops e de bebidas espirituosas/destiladas, com distribuições percentuais bastante similares entre si, por corresponderem a consumos menos frequentes concentram-se, em qualquer grupo socioprofi ssional, no consumo moderado irregular, que é mais evidente no caso dos profi ssionais técnicos e de enquadramento, trabalhadores independentes e empregados executantes, e menos entre os operários e assalariados agrícolas, que, complementarmente, apresentam valores percentuais mais elevados no consumo abusivo irregular (tendo este aumentado signifi cativamente em 2007 entre os assalariados agrícolas).

Cerveja Alcopops Vinho Bebidas

Espirituosas/ Destiladas

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Empresários, Dirigentes e Profissionais Liberais

Moderados Irregulares 48,3 58,8 79,1 76,7 24,4 39,7 70,0 72,3

Moderados Regulares 38,3 26,1 3,4 4,2 63,5 46,4 15,6 11,6

Abusivos Irregulares 3,4 4,7 14,6 16,9 3,3 5,6 7,9 10,4

Abusivos Regulares 10,0 10,4 2,9 2,1 8,9 8,3 6,5 5,7

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Tabela 76. Perfi s de consumo de cada tipo de bebida alcoólica, em função do indicador socioprofi ssional individual de classe

171

Empregados Executantes

Moderados Irregulares 59,4 65,3 80,1 80,7 37,7 49,5 74,5 81,1

Moderados Regulares 28,6 21,9 3,2 5,2 51,0 40,2 13,2 6,3

Abusivos Irregulares 3,4 3,3 12,7 13,2 4,0 4,5 8,4 7,9

Abusivos Regulares 8,6 9,5 4,0 0,9 7,3 5,9 3,8 4,6

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Operários

Moderados Irregulares 39,1 44,0 64,9 70,6 22,8 27,1 70,6 70,0

Moderados Regulares 42,9 37,8 8,7 7,0 61,5 55,7 11,7 9,7

Abusivos Irregulares 2,7 3,6 20,8 19,9 3,4 4,6 11,8 12,1

Abusivos Regulares 15,3 14,6 5,6 2,5 12,4 12,6 5,8 8,3

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Assalariados Agrícolas

Moderados Irregulares 39,1 49,7 75,8 58,5 24,5 33,9 74,4 71,2

Moderados Regulares 42,9 29,3 6,1 1,9 62,5 46,3 6,2 5,6

Abusivos Irregulares 2,7 7,5 9,1 35,8 2,8 0,6 14,0 16,8

Abusivos Regulares 15,3 13,6 9,1 3,8 10,2 19,2 5,4 6,4

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Profissionais Técnicos e de Enquadramento

Moderados Irregulares 55,2 53,3 83,7 81,0 38,1 41,6 72,6 75,8

Moderados Regulares 34,1 32,4 3,2 2,9 52,6 45,2 17,1 8,7

Abusivos Irregulares 2,5 4,8 10,5 13,6 3,8 6,3 6,4 8,9

Abusivos Regulares 8,3 9,4 2,6 2,5 5,5 7,0 3,9 6,6

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Trabalhadores Independentes

Moderados Irregulares 56,6 49,3 82,1 82,5 27,3 27,8 80,0 80,9

Moderados Regulares 36,1 38,3 3,8 3,3 67,0 61,4 12,5 5,7

Abusivos Irregulares 1,7 1,2 14,1 9,2 1,0 1,6 5,6 8,5

Abusivos Regulares 5,6 11,2 0,0 5,0 4,7 9,2 2,0 4,9

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Agricultores Independentes

Moderados Irregulares 56,9 48,6 89,5 73,4 17,3 22,5 80,0 74,6

Moderados Regulares 34,0 39,4 5,3 10,9 74,2 65,6 10,0 11,4

Abusivos Irregulares 2,3 4,6 5,3 12,5 1,3 1,6 6,5 9,2

Abusivos Regulares 6,9 7,3 0,0 3,1 7,2 10,2 3,5 4,9

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

(cont.) Cerveja Alcopops Vinho

Bebidas Espirituosas/

Destiladas 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Mais do que o indicador socioprofi ssional individual de classe, é em função do nível de escolaridade frequentado que mais se diferenciam os perfi s de consumo e o tipo

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

172

CBA Portugal 2001-2007

de bebidas consumidas: em relação ao consumo de vinho, percorrendo as distribuições percentuais pelos diferentes níveis de ensino frequentados pelos inquiridos, observa--se uma tendência para, à medida que aumenta o nível de escolaridade, diminuir a regularidade e intensidade de consumo, ou seja, a maioria dos consumidores de vinho com habilitações ao nível do ensino secundário e superior pratica um consumo moderado irregular, enquanto a maioria dos que têm habitações equivalentes ou inferiores ao 2º ciclo tendem a enquadrar-se num consumo também moderado mas, neste caso, regular, chegando também os analfabetos a apresentar valores elevados de consumo abusivo regular.

Ao invés do que se sucede no consumo de vinho, o consumo de cerveja tende a apresentar-se mais equitativo: todos os níveis de escolaridade apresentam tendências e valores percentuais bastante similares entre si, com uma clara presença de consumo moderado irregular, uma parcela interessante de consumo moderado regular e outra, com valores mais baixos, mas que se fazem destacar, de consumo abusivo regular.

Alcopops e bebidas espirituosas/destiladas tendem a ser consumidos de forma moderada irregular, qualquer que seja o nível de escolaridade dos inquiridos. No entanto, nos consumos não modais, destacam-se os indivíduos com habilitações ao nível do 3º ciclo em ambos os tipos de bebida e o ensino superior no caso das bebidas espirituosas/destiladas para um consumo abusivo irregular, e na ausência de credenciações escolares destacam-se de forma relevante os consumos abusivos regulares, consumos esses que, em 2001, pautavam-se antes pela irregularidade.

173

Cerveja Alcopops Vinho Bebidas

Espirituosas/ Destiladas

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Analfabeto

Moderados Irregulares 64,5 59,5 68,2 83,3 17,9 22,2 71,9 73,1

Moderados Regulares 21,8 29,7 9,1 0,0 70,4 61,9 13,5 7,7

Abusivos Irregulares 5,6 0,0 18,2 0,0 3,9 0,0 9,0 3,8

Abusivos Regulares 8,1 10,8 4,5 16,7 7,8 15,9 5,6 15,4

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

1º ciclo

Moderados Irregulares 54,2 54,8 76,9 79,7 20,6 23,2 75,5 78,9

Moderados Regulares 32,4 32,6 8,7 5,2 68,6 66,1 10,7 9,3

Abusivos Irregulares 3,5 4,1 11,1 13,9 1,5 1,1 8,6 7,0

Abusivos Regulares 9,9 8,5 3,3 1,3 9,4 9,6 5,2 4,7

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

2º ciclo

Moderados Irregulares 42,5 51,4 62,0 74,9 27,6 28,4 76,6 75,0

Moderados Regulares 44,2 33,9 10,5 7,2 60,5 58,3 9,9 9,4

Abusivos Irregulares 2,4 2,4 21,3 15,8 3,5 2,9 9,2 8,3

Abusivos Regulares 10,8 12,3 6,2 2,2 8,4 10,4 4,3 7,2

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

3º ciclo

Moderados Irregulares 47,8 51,0 71,0 71,2 37,4 38,4 72,2 75,0

Moderados Regulares 35,3 32,9 3,1 7,6 46,1 46,4 9,7 6,9

Abusivos Irregulares 29,9 2,9 19,9 18,3 5,2 5,0 13,0 11,3

Abusivos Regulares 13,9 13,1 6,0 2,9 11,3 10,2 5,0 6,8

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Ensino secundário

Moderados Irregulares 58,0 56,5 82,2 80,3 43,3 51,9 71,2 76,1

Moderados Regulares 29,0 28,6 2,8 3,4 44,4 33,9 16,3 8,4

Abusivos Irregulares 3,1 4,2 11,9 15,5 6,4 6,4 7,8 10,0

Abusivos Regulares 9,9 10,7 3,2 0,8 5,9 7,7 4,6 5,5

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Ensino superior

Moderados Irregulares 59,2 59,5 81,1 80,5 50,0 51,3 72,0 74,3

Moderados Regulares 27,7 23,8 3,0 3,3 37,9 34,0 15,0 8,1

Abusivos Irregulares 3,6 5,9 12,5 13,5 6,2 8,1 8,7 11,6

Abusivos Regulares 9,5 10,8 3,4 2,6 5,9 6,5 4,2 6,1

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Tabela 77. Perfi s de consumo de cada tipo de bebida alcoólica, em função do nível de escolaridade frequentado

Orientando agora a leitura dos resultados para uma vertente sociogeográfi ca, a partir da informação em torno do local de residência, aqui agregado em NUTs II, verifi ca-se não tanto uma diferença entre tipos de bebida, com uma reprodução ao nível regional das

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

174

CBA Portugal 2001-2007

Cerveja Alcopops Vinho Bebidas

Espirituosas/ Destiladas

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Norte

Moderados Irregulares 52,3 56,9 76,8 77,5 26,6 34,6 75,8 76,8

Moderados Regulares 36,4 28,9 5,7 4,1 63,5 52,6 12,6 7,0

Abusivos Irregulares 2,2 3,6 12,5 15,2 2,3 4,1 8,2 10,0

Abusivos Regulares 9,1 10,5 5,0 3,2 7,7 8,7 3,5 6,2

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Centro

Moderados Irregulares 55,7 52,7 78,5 78,1 33,1 38,6 72,3 77,9

Moderados Regulares 29,3 31,9 2,8 3,2 53,6 48,2 12,2 7,3

Abusivos Irregulares 3,8 3,6 15,6 16,3 4,6 4,4 10,2 9,1

Abusivos Regulares 11,3 11,7 3,1 2,3 8,7 8,7 5,3 5,7

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Lisboa

Moderados Irregulares 52,1 56,9 77,8 78,1 33,1 42,9 71,7 76,1

Moderados Regulares 34,1 29,3 5,2 7,7 54,3 44,4 14,6 8,9

Abusivos Irregulares 3,1 4,1 12,4 13,6 3,9 4,3 8,1 9,5

Abusivos Regulares 10,6 9,7 4,5 0,5 8,6 8,4 5,6 5,4

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Alentejo

Moderados Irregulares 49,0 45,5 79,6 75,7 38,7 34,1 72,4 71,7

Moderados Regulares 34,4 34,5 3,1 1,4 45,6 48,1 11,2 11,3

Abusivos Irregulares 4,1 5,2 14,8 21,4 5,6 5,1 11,2 11,0

Abusivos Regulares 12,5 14,8 2,6 1,4 10,1 12,6 5,2 6,1

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Tabela 78. Perfi s de consumo de cada tipo de bebida alcoólica, em função da NUT II

tendências para a população geral, mas diferenciando-se o peso dos diferentes perfi s em função da região em que se reside. São as regiões do Alentejo e, sobretudo Algarve, que se destacam por uma menor presença de consumo moderado e uma representatividade signifi cativa de consumos abusivos regulares e/ou irregulares, facto que é transversal a qualquer tipo de bebida; a região dos Açores é a que tendencialmente apresenta uma sobrerepresentação de consumidores moderados irregulares e a da Madeira com igual destaque, mas por uma maior elevada presença de consumo moderado regular.

Algarve

Moderados Irregulares 53,7 42,3 69,8 61,7 39,3 31,6 75,7 56,5

Moderados Regulares 28,4 33,0 3,5 3,2 44,3 45,2 7,1 15,0

Abusivos Irregulares 3,9 5,4 23,3 30,9 6,1 9,6 13,3 15,0

Abusivos Regulares 14,0 19,4 3,5 4,3 10,3 13,6 4,0 13,5

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

175

Açores

Moderados Irregulares 55,5 66,0 70,3 84,3 54,0 50,0 75,2 79,3

Moderados Regulares 30,2 23,1 10,8 5,6 32,4 37,5 8,5 9,0

Abusivos Irregulares 5,5 4,8 18,9 9,0 9,7 5,1 13,7 9,0

Abusivos Regulares 8,8 6,1 0,0 1,1 4,0 7,4 2,6 2,7

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Madeira

Moderados Irregulares 52,0 41,2 65,4 78,8 49,0 39,3 71,7 75,0

Moderados Regulares 25,3 45,8 7,4 3,8 30,6 50,0 7,1 12,0

Abusivos Irregulares 5,4 1,5 19,8 13,5 8,7 3,3 12,8 5,6

Abusivos Regulares 17,2 11,5 7,4 3,8 11,7 7,4 8,4 7,4

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

(cont.) Cerveja Alcopops Vinho Bebidas

Espirituosas/ Destiladas

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Ainda numa dimensão geográfi co-espacial, olhando para a distribuição dos perfi s de consumo por tipo de bebida e por grau de urbanização da localidade de residência, podemos afi rmar que as tendências para a população geral reproduzem-se de forma muito semelhante nas três áreas consideradas (de acordo com a classifi cação do INE): áreas predominantemente rurais, áreas medianamente urbanas e áreas predominantemente urbanas.

Um outro enfoque que se pode dar nesta leitura dos perfi s de consumo do último ano para os quatro tipos de bebida refere-se à prática de consumo de outras substâncias, nomeadamente substâncias psicoactivas ilícitas em geral e substâncias lícitas – tabaco e medicamentos tomados sem prescrição médica.

Atendendo ao facto de que, nesta análise, se encontram apenas presentes consumidores actuais dos diferentes tipos de bebida, centramo-nos nos perfi s de consumos correntes de bebidas alcoólicas, cruzando esta informação com a existência e, no caso de ter ocorrido, a actualidade ou não do consumo de tabaco, medicamentos e de substâncias psicoactivas ilícitas.

Sabendo que há comportamentos diferentes em função do tipo de bebida, verifi camos que o não consumo de tabaco tende a corresponder, no caso das bebidas alcoólicas, a um consumo moderado irregular. Da mesma forma, ainda que com valores percentuais ligeiramente diferentes, também a desistência do consumo de tabaco é complementar com um consumo mais regrado de bebidas alcoólicas. Em contrapartida, são os consumidores recentes e, sobretudo, correntes de tabaco, aqueles que menos

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

176

CBA Portugal 2001-2007

Cerveja Alcopops Vinho Bebidas

Espirituosas/ Destiladas

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Áreas predominantemente rurais

Moderados Irregulares 54,6 53,1 80,9 79,2 31,1 36,6 73,5 76,8

Moderados Regulares 32,7 28,7 4,2 3,8 57,7 50,9 12,9 8,0

Abusivos Irregulares 3,4 3,8 11,9 14,2 2,5 4,4 10,0 9,0

Abusivos Regulares 9,3 11,3 3,0 2,7 8,7 8,0 3,5 6,1

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Áreas medianamente urbanas

Moderados Irregulares 54,3 52,8 83,2 78,4 28,5 35,2 74,3 75,6

Moderados Regulares 33,8 32,5 3,9 2,6 60,4 50,4 12,2 8,9

Abusivos Irregulares 2,9 3,7 11,8 15,8 3,1 2,4 9,5 8,7

Abusivos Regulares 9,0 11,0 1,1 3,2 7,9 11,9 4,1 6,7

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Áreas predominantemente urbanas

Moderados Irregulares 52,2 54,6 74,3 77,0 33,3 39,0 73,3 75,7

Moderados Regulares 33,2 30,3 4,9 5,6 53,7 47,5 12,4 8,2

Abusivos Irregulares 3,2 3,9 15,6 15,7 4,5 4,9 9,1 10,1

Abusivos Regulares 11,4 11,1 5,2 1,6 8,5 8,5 5,2 5,9

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Tabela 79. Perfi s de consumo de cada tipo de bebida alcoólica, em função do grau de urbanização

tendem para um consumo moderado, praticando antes, de forma mais intensa quando comparados com os outros perfi s de consumo de tabaco, um consumo regular e um consumo abusivo, em concreto de cerveja, vinho e bebidas espirituosas/destiladas.

No caso dos medicamentos, a tendência é inversa: é aos abstinentes do consumo de produtos farmacêuticos não prescritos por um médico que tendencialmente cabe, comparativamente com outros perfi s, um consumo menos moderado; os consumidores correntes e recentes de medicamentos praticam um consumo mais moderado de qualquer tipo de bebida alcoólica.

O consumo de substâncias psicoactivas ilícitas, abarcando uma percentagem inferior de consumidores actuais, é, de forma nítida, praticado em simultâneo com um consumo tendencialmente mais abusivo de qualquer bebida alcoólica. Cabe aos desistentes e aos abstinentes do consumo de substâncias ilícitas um perfi l de consumo mais moderado e/ou irregular de bebidas alcoólicas.

177

Tabela 80. Perfi s de consumo de cada tipo de bebida alcoólica, em função do perfi l de consumo de tabaco

Cerveja Alcopops Vinho Bebidas

Espirituosas/ Destiladas

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Desistentes

Moderados Irregulares 54,1 61,9 75,2 83,1 30,3 34,4 73,3 82,8

Moderados Regulares 32,7 27,0 5,1 3,4 57,2 54,9 13,1 6,3

Abusivos Irregulares 3,0 3,2 16,1 12,2 4,0 3,8 9,3 6,1

Abusivos Regulares 10,2 7,9 3,6 1,3 8,5 6,9 4,3 4,8

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Consumidores recentes

Moderados Irregulares 61,1 59,2 59,1 82,4 20,8 43,8 74,2 76,1

Moderados Regulares 27,8 22,4 18,2 3,9 69,4 41,1 11,3 7,3

Abusivos Irregulares 2,8 8,8 9,1 13,7 4,2 10,7 9,7 14,7

Abusivos Regulares 8,3 9,6 13,6 0,0 5,6 4,5 4,8 1,8

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Consumidores correntes

Moderados Irregulares 36,9 35,5 73,6 66,4 27,9 32,8 60,2 61,4

Moderados Regulares 42,0 38,9 3,9 5,8 51,6 42,8 19,0 12,0

Abusivos Irregulares 3,8 5,4 17,7 24,8 6,7 7,5 13,3 16,1

Abusivos Regulares 17,3 20,2 4,8 3,0 13,8 16,9 7,6 10,5

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Abstinentes

Moderados Irregulares 67,5 69,4 83,5 85,8 35,9 44,3 86,4 87,0

Moderados Regulares 25,3 24,2 5,2 5,2 57,9 49,8 6,0 5,6

Abusivos Irregulares 2,7 2,5 8,5 7,7 1,8 2,2 5,4 5,0

Abusivos Regulares 4,5 3,9 2,7 1,4 4,4 3,6 2,2 2,4

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

178

CBA Portugal 2001-2007

Tabela 81. Perfi s de consumo de cada tipo de bebida alcoólica, em função do perfi lde consumo de medicamentos

Cerveja Alcopops Vinho Bebidas

Espirituosas/ Destiladas

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Desistentes

Moderados Irregulares 63,7 68,7 77,9 84,7 39,0 44,1 80,5 79,9

Moderados Regulares 25,6 18,2 2,5 1,0 52,7 44,6 8,7 5,8

Abusivos Irregulares 2,9 3,3 18,0 11,8 3,0 3,7 7,1 9,6

Abusivos Regulares 7,9 9,8 1,6 2,5 5,2 7,7 3,7 4,7

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Consumidores recentes

Moderados Irregulares 66,0 62,0 81,5 77,0 43,4 45,4 83,3 76,5

Moderados Regulares 25,4 23,4 6,2 3,3 50,0 41,4 7,6 5,9

Abusivos Irregulares 4,1 6,6 10,8 14,8 3,9 7,2 6,1 11,8

Abusivos Regulares 4,5 8,0 1,5 4,9 2,7 5,9 3,0 5,9

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Consumidores correntes

Moderados Irregulares 70,1 71,9 66,7 93,5 36,0 48,0 85,1 84,0

Moderados Regulares 20,3 17,0 8,6 0,0 56,0 43,7 7,1 4,8

Abusivos Irregulares 3,6 4,0 21,9 6,5 3,1 1,2 5,6 5,4

Abusivos Regulares 6,1 7,1 2,9 0,0 4,9 7,1 2,3 5,8

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Abstinentes

Moderados Irregulares 50,0 51,7 77,3 75,8 30,4 36,3 71,4 74,7

Moderados Regulares 35,4 32,8 4,5 5,7 56,1 49,5 13,5 8,9

Abusivos Irregulares 3,1 3,9 13,8 16,5 4,1 4,9 10,0 10,2

Abusivos Regulares 11,5 11,7 4,3 2,0 9,4 9,4 5,1 6,2

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

179

Tabela 82. Perfi s de consumo de cada tipo de bebida alcoólica, em função do perfi lde consumo de substâncias ilícitas

Cerveja Alcopops Vinho Bebidas

Espirituosas/ Destiladas

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Desistentes

Moderados Irregulares 34,8 38,6 68,9 66,7 33,6 37,5 59,9 67,0

Moderados Regulares 43,4 37,0 3,8 3,5 45,5 39,3 19,2 8,1

Abusivos Irregulares 4,2 5,1 21,9 27,2 8,3 9,3 12,9 16,9

Abusivos Regulares 17,6 19,3 5,5 2,7 12,6 13,9 8,0 8,0

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Consumidores recentes

Moderados Irregulares 27,7 32,8 60,9 65,8 31,4 44,5 48,5 47,1

Moderados Regulares 30,4 25,2 1,6 7,9 20,6 13,4 6,7 9,1

Abusivos Irregulares 8,9 12,6 34,4 21,1 27,5 26,9 31,4 36,4

Abusivos Regulares 33,0 29,4 3,1 5,3 20,6 15,1 12,4 7,4

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Consumidores correntes

Moderados Irregulares 19,9 14,4 34,9 35,4 22,0 19,8 30,1 30,8

Moderados Regulares 30,3 25,2 6,8 4,7 24,5 22,7 19,1 8,7

Abusivos Irregulares 8,4 12,2 43,2 49,6 23,0 18,6 33,1 31,9

Abusivos Regulares 41,4 48,1 15,1 10,2 30,5 38,8 17,8 28,5

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Abstinentes

Moderados Irregulares 55,9 59,1 81,5 82,4 32,3 38,8 76,8 80,3

Moderados Regulares 32,7 29,9 4,6 5,2 57,6 51,2 11,7 8,3

Abusivos Irregulares 2,8 3,1 10,8 11,2 2,8 2,9 7,7 6,9

Abusivos Regulares 8,6 7,9 3,1 1,2 7,3 7,1 3,8 4,5

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

2001 2007

Abstinentes 24,4 20,6

Desistentes 9,6 8,8

Consumidor exclusivo de vinho 6,2 6,1

Consumidor de vinho e cerveja 8,2 9,9

Consumidor de vinho e bebidas espirituosas/destiladas 5,6 5,8

Consumidor de vinho, cerveja e bebidas espirituosas/destiladas 23,0 19,9

Consumidor de cerveja e alcopops 3,5 4,4

Consumidor de todo o tipo de bebidas 12,5 16,0

Outro perfil de consumo 7,0 8,5

TOTAL 100,0 100,0

Podemos ainda, com base na informação disponível, classifi car os consumidores em função do consumo exclusivo ou do policonsumo de bebidas alcoólicas, com os seguintes resultados para os dois anos de observação (2001 e 2007):

Tabela 83. Perfi s de consumo de cada tipo de bebida alcoólica

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

Havendo cerca de 20% de abstinentes e 9% de desistentes de bebidas alcoólicas na população geral, de entre os que consomem destacam-se os que no último ano consumiram vinho, cerveja e bebidas espirituosas/destiladas, seguindo-se os que indicam ter consumido todo o tipo de bebidas (situação que aumenta ligeiramente em 2007). São em percentagem reduzida aqueles que consomem exclusivamente um tipo de bebida, em concreto o vinho (6%). Há ainda a assinalar os cerca de 10% da população geral que consome vinho e cerveja.

2. Intróito ao tema das dependências

A principal problemática do estudo em questão assenta na difi culdade em determinar que factores ter em conta para determinar a existência de consumos problemáticos, nomeadamente os que estão associados a situações de dependência. A maioria dos estudos utiliza como factor base o total domínio do indivíduo pela substância, levando este domínio à perda de autocontrolo, verifi cado através da presença de um conjunto de sintomas que os descrevem.

Contudo, ao analisarmos situações de dependência, que factores devem ser considerados? Existem diversas perspectivas ou directrizes de análise para determinar a existência de dependência, assentes em diferentes problemáticas, das quais salientamos:

- A frequência do consumo;

- Os riscos associados ao consumo, nomeadamente problemas de saúde, psicológicos ou sociais;

- As síndromes de tolerância e de abstinência face ao consumo.

Seguir uma das perspectivas implica determinar se a dependência se verifi ca a nível físico ou psicológico, considerando que uma delas possa determinar a ocorrência de consumos problemáticos.

A passagem de um consumo esporádico para um consumo de dependência efectiva pode ter como causa inúmeros factores, podendo estar dependente da disponibilidade de acesso à substância, a via de administração, as características individuais de cada indivíduo, antigos consumos e antigas situações de dependência, stress e outros factores de pressão e ainda exposição a situações ou acontecimentos traumáticos.

A difi culdade encontrada em diferenciar consumos esporádicos de dependência está bem patente na multiplicidade de linhas de análise da problemática em questão. A Organização Mundial de Saúde (OMS), defi ne dependência como um “Conjunto de

181

fenómenos comportamentais, cognitivos e fi siológicos que se desenvolvem após repetido consumo de uma substância psicoactiva, tipicamente associado ao desejo poderoso de tomar a droga, à difi culdade de controlar o consumo, à utilização persistente apesar das suas consequências nefastas, a uma maior prioridade dada ao uso da droga em detrimento de outras actividades e obrigações, a um aumento da tolerância pela droga e por vezes, a um estado de abstinência física. A síndrome de dependência pode dizer respeito a uma substância psicoactiva específi ca (por exemplo, o fumo, o álcool ou o diazepam), a uma categoria de substâncias psicoactivas (por exemplo, substâncias opiáceas) ou a um conjunto mais vasto de substâncias farmacologicamente diferentes”14. São ainda apresentadas directrizes para o diagnóstico da dependência, segundo as quais, considera-se dependência se pelo menos três dos critérios seguintes forem satisfeitos durante algum tempo no decorrer do último ano:

1. Forte desejo ou compulsão para o consumo da substância;

2. Difi culdade em controlar o consumo da substância, em termos de início, término e quantidade;

3. Presença de síndrome de abstinência ou uso da substância para evitar o aparecimento da mesma;

4. Presença de tolerância, evidenciada pela necessidade de aumentar a quantidade para obter o mesmo efeito anterior;

5. Abandono progressivo de outros interesses ou prazeres em prol do uso da substância;

6. Persistência no uso, apesar das diversas consequências danosas.

No entanto, existem ainda outros factores que determinam o estado de dependência, como por exemplo o tipo de substância consumida, a via de administração, o meio social e o ambiente societal em que ocorre o consumo, as características constitucionais do indivíduo, entre outros. Mas habitualmente o processo de consumo é crónico, com períodos de agudização e remissão parcial ou total.

Perante esta descrição, os comportamentos de dependência estão portanto associados ao tipo de substância consumida, ao ambiente em que ocorre o consumo e às características intrínsecas ao indivíduo. Há ainda autores que defendem a necessidade em considerar os factores de transtorno psiquiátrico anteriores ao comportamento aditivo, os quais podem ter levado ao consumo. Segundo esta perspectiva, existem portanto

14 CID 10 apud Adicção, Drogadicção, Drogadicto.

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

causas ou disfunções anteriores ao comportamento aditivo e que, efectivamente têm um papel crucial para o (re)começo do consumo. É também importante termos consciência de que o próprio processo de consumo, particularmente em casos de dependência, produz perturbações comportamentais no dito “comportamento normal” do indivíduo, sendo que alguns autores defendem mesmo que em caso de dependência ocorre a alteração da personalidade individual.

Testes utilizados na detecção da dependência

Como referido anteriormente, até há cerca de três, quatro décadas atrás, o principal foco de pesquisa dos investigadores nesta área era a dependência grave de álcool ou alcoolismo. Apenas nos últimos anos houve uma tentativa de alargar a base de pesquisa de modo a incluir o beber perigoso e prejudicial, além da dependência. Esta mudança refl ecte-se nos instrumentos de selecção que eram então desenvolvidos comparativamente àqueles que têm sido desenvolvidos mais recentemente.

O questionário CAGE (Mayfi eld e outros 1974) inclui itens como a culpa relacionada com o beber excessivo e com o beber logo pela manhã. Não existe nenhuma tentativa de avaliar níveis de consumo arriscados/perigosos. O questionário AUDIT, por seu lado, inclui questões sobre a quantidade e a frequência do consumo de álcool. Avalia o consumo perigoso e prejudicial, assim como dependência (Babor e outros, 1989).

O consumo do álcool e os problemas relacionados com este existem como parte de um continuum. O uso do álcool pode variar de um uso leve ou moderado, a um consumo pesado ou excessivo e à dependência. Os problemas de saúde e os problemas sociais de um modo geral relacionados com o consumo de álcool tendem a aumentar à medida que os níveis de consumo aumentam também (Anderson, 1993). Conforme vários estudos o demonstram, é possível reduzir a prevalência de problemas relacionados com o consumo de álcool intervindo cedo no continuum – quando os indivíduos começam a beber de modo perigoso, e incentivando-os a reduzir o consumo. As intervenções precoces fazem parte do continuum de respostas aos problemas relacionados com o consumo de álcool.

A escolha dos testes de detecção de problemas relacionados com álcool depende do que queremos avaliar. Existem testes para detectar dependência do consumo de álcool, enquanto outros foram concebidos para aferir consumos de álcool perigosos ou prejudiciais.

O nosso questionário inclui questões relativas à frequência e às quantidades de álcool consumidas, o que fornece informações importantes sobre os padrões de consumo e pistas úteis para detectar consumos de álcool perigosos e/ou prejudiciais. Mas, para

183

além disto, temos informação relativa aos consumos ao longo da vida, assim como

questões sobre hábitos de consumo, o que nos permite obter informação sobre consumos

dependentes de álcool.

Segundo Wallace (2001) os melhores questionários consistem numa combinação

de medidas simples das quantidades e frequências de consumo de álcool, uma ou mais

questões com o propósito de identifi car episódios de beber excessivo/pesado (binge

drinking), e de algumas questões para mostrar indícios de dependência e/ou de efeitos

prejudiciais decorrentes do consumo de álcool.

A maioria dos testes apresenta algum grau de erro. A exactidão e a fi abilidade

dos testes são medidas e comparadas segundo a sensibilidade (mede a capacidade

de um teste de identifi car bebedores perigosos ou dependentes numa população) e a

especifi cidade (mede a capacidade de um teste de identifi car correctamente os indivíduos

que não bebem de forma perigosa). Os testes mais exactos e fi áveis apresentam elevada

sensibilidade e elevada especifi cidade. O facto de os testes terem um grau de erro não os

impede de serem uma ferramenta essencial na detecção, prevenção e também tratamento

do consumo nocivo de álcool.

O teste CAGE é simples e de fácil e rápida aplicação. Consiste em quatro questões:

(1) Alguma vez sentiu que devia reduzir o seu consumo de bebidas alcoólicas? (2) Alguma

vez as pessoas que lhe são próximas o aborreceram com críticas ao seu consumo de

bebidas alcoólicas? (3) Alguma vez se sentiu culpado em relação ao seu consumo de

bebidas alcoólicas? (4) Alguma vez tomou bebidas alcoólicas a seguir a acordar, para se

acalmar ou para se livrar de uma ressaca? Basta que duas destas quatro questões tenham

resposta positiva por parte dos inquiridos para se considerar que existe dependência.

Este teste foi concebido para identifi car consumidores dependentes de álcool e tem

como foco o consumo ao longo da vida e não o consumo actual.

Foi validado em 1974 e é o teste mais amplamente utilizado na prática clínica (Smart

e outros, 1991). Toma um minuto para terminar e é fácil administrar. A sensibilidade varia

entre 60-90% e a especifi cidade entre 40-95%.

Um dos problemas apontados ao uso do CAGE prende-se com o facto de não aferir

sobre a frequência do uso de álcool, os níveis de consumo e sobre episódios de beber

excessivo, todos considerados como factores que podem identifi car indivíduos nas fases

iniciais de consumos problemáticos (Nilssen & Cone, 1994). No entanto, uma vez que no

nosso questionário obtemos estas informações através de outras questões, optámos por

utilizar este teste para aferir a dependência do consumo de álcool.

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

3. Consequências associadas ao consumo de álcool

Dos indicadores apresentados, constatamos que, apesar de em proporções abaixo dos 10% face à população consumidora, as consequências mais “sentidas” são a necessidade de reduzir o consumo e as críticas de pessoas próximas (ocorridas maioritariamente há mais de um ano).

Sim Não

Há menos de 1 ano Há mais de 1 ano TOTAL N %

N % N % N %

Necessidade de reduzir o consumo 264 2,8 654 6,8 918 10,6 8 665 90,4

Críticas de pessoas que lhe são próximas 144 1,5 578 6,0 722 7,5 8 880 92,5

Sentimento de culpa 108 1,1 441 4,6 549 5,7 9 055 94,3

Consumo ao acordar para acalmar ou ressacar 56 0,6 266 2,8 322 3,4 9 272 96,6

Problemas no rendimento escolar 23 0,4 136 2,1 159 2,5 6 217 97,5

Problemas no rendimento no trabalho 29 0,3 245 2,7 274 3,0 8 731 97,0

Problemas de conduta em casa 32 0,3 319 3,3 351 3,6 9 242 96,3

Problemas de saúde 39 0,4 262 2,7 301 3,1 9 267 96,9

Tabela 84. Consequências associadas ao consumo de bebidas alcoólicas

Salientando o facto da proporção de inquiridos que releva sintomas de dependência não ser elevada (80% não apresenta qualquer sintoma), a maioria dos inquiridos que releva sintomas salienta somente 1 das 8 consequências.

185

N % % com sintomas

1 consequência associada ao consumo 500 7,8 40,1

2 consequências associadas ao consumo 228 3,6 18,3

3 consequências associadas ao consumo 131 2,0 10,5

4 consequências associadas ao consumo 128 2,0 10,3

5 consequências associadas ao consumo 52 0,8 4,2

6 consequências associadas ao consumo 68 1,1 5,5

7 consequências associadas ao consumo 62 1,0 4,9

8 consequências associadas ao consumo 79 1,2 6,4

Sem consequências 5 154 80,5 --

TOTAL 6 401 100,0 100,0

Tabela 85. Número de Consequências referidas pelos consumidores de bebidas alcoólicas

4. Dependência de álcool

De uma forma geral, a maioria dos indivíduos que consome álcool não se torna efectivamente dependente deste. Pode ocorrer como experimentação ou com um carácter esporádico, ou até de um modo regular mas em quantidades consideradas seguras15. Uma pequena parte torna-se efectivamente dependente, passando a apresentar um conjunto de características que serão seguidamente apresentadas e associadas a comportamentos característicos de indivíduos aditivos.

Tendo em conta os resultados do Segundo Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoactivas na População Geral, 2007, constatamos que a prevalência ao longo da vida para o consumo de álcool é de 79% e que de entre estes 1,3% apresenta actualmente sintomas de dependência e 5,2% já passou por sintomas de dependência há mais de 12 meses.

Comparativamente a 2001 constata-se um aumento da proporção de inquiridos que revela pelo menos uma vez na vida ter consumido alguma bebida com teor alcoólico. Contudo, a proporção de dependentes decresceu entre os dois anos de análise, não só em termos de dependentes actuais (sintomas sentidos nos últimos 12 meses), passando

15 A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelece que para se evitar problemas com o álcool, o consumo aceitável é de até 15 doses por semana para os homens e 10 doses por semana para as mulheres, sendo que 1 dose contém de 8 a 13 gramas de etanol (ou seja, o equivalente a aproximadamente 285 ml de cerveja, 120 ml de vinho, ou 30 ml de bebidas espirituosas/destiladas). Os homens não devem ultrapassar o consumo de 3 doses diárias de álcool e as mulheres duas doses diárias.

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

2001 2007

N % N %

Consumidor 10725 75,6 9650 79,3

Não consumidor 3461 24,4 2512 20,7

TOTAL 14186 100,0 12162 100,0

2001 2007

N % N %

Dependência actual (últimos 12 meses) 208 1,9 126 1,3

Dependência no passado (há mais de 12 meses) 602 5,6 502 5,2

Sem dependência 9915 92,5 9024 93,5

TOTAL 10725 100,0 9652 100,0

Tabela 86. Distribuição dos inquiridos face ao consumo de bebidas alcoólicas ao longo da vida

Tabela 87. Distribuição dos inquiridos em função da existência de dependência

de 1,9% em 2001 para 1,3% em 2007, bem como em dependentes no passado (sintomas sentidos há mais de 12 meses), registando-se um decréscimo de 5,6% em 2001 para 5,2% em 2007.

4.1. Caracterização individual

A construção do perfi l sociodemográfi co da população que declara sintomas de dependência segundo o teste CAGE – anteriormente descrito – assentará em aspectos como a diferenciação por género, por grupos etários e por estado civil.

Em termos de diferenciação por género, constata-se que em ambos os géneros domina a não dependência face a bebidas alcoólicas. Contudo, verifi camos que a proporção de homens dependentes é superior à das mulheres, sendo mais signifi cativos os sintomas de dependência registados há mais de 12 meses.

Comparativamente a 2001 as tendências são semelhantes: a grande maioria da população não apresenta sintomas de dependência e, existindo, são particularmente os homens a senti-los.

187

Dependência actual (últimos 12 meses)

Dependência no passado (há mais de

12 meses) Sem dependência

2001 2007 2001 2007 2001 2007

Masculino 3,2 1,8 8,8 8,1 88,0 90,0

Feminino 0,4 0,6 1,7 1,5 98,0 97,8

TOTAL 1,9 1,3 5,6 5,2 92,5 93,5

Tabela 88. Distribuição dos Inquiridos consumidores em função da existência de dependência de bebidas alcoólicas por género

Tendo em conta a distribuição etária dos inquiridos que apresentam sintomas de dependência (que como analisamos anteriormente apresentam um peso reduzido face ao total de inquiridos que alguma vez na vida consumiram alguma bebida alcoólica) constata-se que, por um lado, os que apresentam sintomas de dependência na actualidade diminuem à medida que caminhamos para os grupos etários mais velhos e, por outro lado, os inquiridos que revelam sintomas de dependência no passado aumentam em sentido inverso (ou seja, existe um aumento da proporção de dependentes no passado entre os 15 e os 54 anos, existindo uma pequena diminuição entre os 55 e os 64 anos).

Entre os inquiridos que revelaram dependências actuais e estabelecendo uma comparação entre os dois anos de análise verifi ca-se uma manutenção (grupos de idade dos 15-24 anos e 55-64 anos) ou uma redução (grupos de idade dos 25-34, 35-44 e 45-54 anos) da proporção de inquiridos com este tipo de dependência. No grupo dos inquiridos que revelaram no passado sintomas de dependência registamos um aumento no grupo etário dos 35 aos 44 anos, uma redução de inquiridos dependentes nos grupos de idade mais jovens (15-24 e 25-34 anos) e uma manutenção da proporção de dependentes antigos nos grupos de idade mais velhos (45-54 e 55-64 anos).

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

188

CBA Portugal 2001-2007

Dependência actual (últimos 12

meses)

Dependência no passado (há mais

de 12 meses) Sem dependência

2001 2007 2001 2007 2001 2007

Entre 15-24 anos 1,7 2,1 2,9 1,5 95,4 96,4

Entre 25-34 anos 2,6 1,7 5,7 4,1 91,7 94,1

Entre 35-44 anos 2,2 1,3 6,3 6,6 91,4 92,1

Entre 45-54 anos 1,8 0,6 7,0 7,0 91,2 92,5

Entre 55-64 anos 0,9 0,8 6,1 6,3 93,0 92,9

TOTAL 1,9 1,3 5,6 5,2 92,5 93,5

Tabela 89. Distribuição dos inquiridos consumidores em função da existência de dependência de bebidas alcoólicas por grupos de idade

Centrando a análise no estado civil dos inquiridos constata-se que são os casados ou a viverem em união de facto e os solteiros os grupos que manifestam uma maior proporção de inquiridos sem sintomas de dependência. Apesar da elevada proporção de inquiridos solteiros sem sintomas de dependência, a proporção de inquiridos que manifestam sintomas actuais de dependência são elevados comparativamente aos valores registados nos restantes estados civis. Com sintomas de dependência no passado, destacam-se os divorciados ou separados judicialmente e os viúvos.

Entre o ano 2001 e 2007 a proporção de inquiridos sem sintomas de dependência subiu, exceptuando no grupo dos viúvos onde a proporção de inquiridos sem sintomas de dependência desceu cerca de 2 pontos percentuais. Ao nível das dependências actuais ocorreu uma diminuição geral em todos os grupos de estado civil e uma alteração das tendências gerais: enquanto em 2001 era o grupo dos divorciados ou separados judicialmente que apresentavam uma maior proporção de inquiridos dependentes, em 2007 passa a ser o grupo dos solteiros o que mais se demarcou ao nível da dependência actual. Finalmente, entre os inquiridos que em tempos já sentiram sintomas de dependência, assistimos a uma diminuição da proporção de dependentes casados ou a viverem em união de facto; mantem-se da proporção de solteiros e dá-se um aumento do número de dependentes viúvos e divorciados ou separados judicialmente.

189

Dependência actual (últimos 12

meses)

Dependência no passado (há mais

de 12 meses) Sem dependência

2001 2007 2001 2007 2001 2007

Casado/ Vive em união de facto 1,5 0,7 5,7 4,8 92,8 94,5

Viúvo 1,6 0,0 4,2 7,8 94,2 92,2

Divorciado/Separado judicialmente 4,8 1,4 9,9 12,4 85,3 86,2

Solteiro 2,4 2,4 5,0 4,5 92,5 93,1

TOTAL 1,9 1,3 5,6 5,2 92,4 93,5

Tabela 90. Distribuição dos inquiridos consumidores em função da existência de dependência de bebidas alcoólicas por estado civil

4.2. Caracterização socioeconómica e profi ssional

A caracterização socioeconómica e profi ssional dos inquiridos será apresentada mediante a análise do rendimento mensal (líquido do inquirido e bruto do agregado doméstico), a posição face à actividade profi ssional que desempenha, o nível de escolaridade alcançado e ainda o indicador socioprofi ssional individual de classe que se apresenta como um mecanismo de síntese da informação relativa à profi ssão e ao tipo de funções.

Estabelecendo uma relação entre o rendimento líquido do inquirido e a presença de sintomas de dependência constata-se que os dependentes actuais apresentam a mesma proporção em todos os escalões de rendimento. Contudo, há a salientar uma ligeira subida da proporção de inquiridos actualmente dependentes no escalão de rendimento superior a 1501 euros. Tendo em conta os inquiridos que no passado já passaram por situações de dependência constata-se o inverso: são os escalões de rendimento mais baixos (até 500 euros) os que apresentam uma maior proporção de inquiridos que passaram por situações de dependência. Contudo, mais uma vez se observa que o escalão mais elevado de rendimento apresenta uma proporção considerável de inquiridos dependentes: 9% dos inquiridos que possuem um rendimento mensal líquido igual ou superior a 1501 euros teve sintomas de dependência, mas não no último ano. Em 2001 as tendências eram relativamente diferentes: tendo em conta a dependência actual constatava-se uma predominância de inquiridos dependentes nos escalões de rendimento mais baixos (até aos 750 euros), decrescendo o número de inquiridos com dependência actual à medida que subíamos no nível de rendimento líquido, enquanto em 2007 a proporção de dependentes actuais assemelha-se em todos os escalões de rendimento. Entre os inquiridos dependentes mas que no último ano não revelaram sintomas de dependência,

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

Dependência actual (últimos 12

meses)

Dependência no passado (há mais

de 12 meses) Sem dependência

2001 2007 2001 2007 2001 2007

Até 250 euros 2,4 1,0 6,0 12,0 91,6 87,0

Entre 251 e 500 euros 2,5 1,4 6,1 7,2 91,4 91,4

Entre 501 e 750 euros 2,5 1,1 8,6 4,4 88,9 94,6

Entre 751 e 1000 euros 2,1 1,3 6,2 5,3 91,7 93,4

Entre 1001 e 1250 euros 1,5 1,2 6,7 6,2 91,8 92,6

Entre 1251 e 1500 euros 0,6 0,6 3,9 6,1 95,5 93,3

Entre 1501 e mais euros 0,7 2,4 4,7 8,5 94,6 89,2

TOTAL 2,2 1,2 6,6 6,2 91,1 92,6

Tabela 91. Distribuição dos inquiridos consumidores em função da existência de dependência de bebidas alcoólicas por rendimento mensal líquido do inquirido

estes possuíam em 2001 rendimentos desde os escalões mais baixos até aos 1250 euros, enquanto em 2007 tendem em localizar-se no escalão inferior de rendimento (até 205 euros).

Tendo em conta o rendimento bruto do agregado doméstico a tendência para que as dependências se associem a indivíduos integrados em escalões de rendimento inferiores é mais notória que a análise nos escalões de rendimento líquido mensal do indivíduo, particularmente no que confere à presença de dependência há mais de 12 meses. Entre os inquiridos que revelam dependência na actualidade permanece a tendência para que o número de dependentes se mantenha constante em todos os escalões de rendimento.

Comparativamente a 2001, a tendência para que os indivíduos de escalões de rendimento baixos do agregado familiar apresentassem sintomas de dependência mantém-se no passado, apesar de em proporções numéricas mais reduzidas que em 2007. Tendo em conta os inquiridos com dependência actual, já em 2001 se denotavam proporções semelhantes de dependentes em todos os escalões de rendimento (apesar de em 2007 uma ligeira tendência para que fossem os inquiridos de escalões mais baixos a apresentarem sintomas de dependência).

191

Dependência actual (últimos 12 meses)

Dependência no passado (há mais de 12

meses) Sem dependência

2001 2007 2001 2007 2001 2007

Até 250 euros 1,7 1,5 13,3 25,0 85,0 73,5

Entre 251 e 500 euros 2,7 1,4 5,7 13,3 91,6 85,4

Entre 501 e 750 euros 2,0 1,1 7,2 10,2 90,8 88,7

Entre 751 e 1000 euros 2,6 1,2 5,4 4,1 92,0 94,7

Entre 1001 e 1250 euros 1,6 1,6 9,0 5,0 89,4 93,4

Entre 1251 e 1500 euros 1,3 0,5 6,4 5,4 92,3 94,1

Entre 1501 e mais euros 1,3 1,1 5,1 4,4 93,6 94,6

TOTAL 2,0 1,1 6,7 6,7 91,3 92,2

Tabela 92. Distribuição dos inquiridos consumidores em função da existência de dependência de bebidas alcoólicas por rendimento mensal bruto do agregado doméstico

A presença de situações de dependência em função da posição ocupada no trabalho não é muito demarcada – isto porque, como se tem vindo a verifi car, a maioria dos inquiridos não evidencia sintomas de dependência (no presente ou no passado). A maioria dos inquiridos que revelam sintomas de dependência na actualidade são desempregados ou estudantes, enquanto situações de dependência no passado estão associadas às posições de reformado e de desempenho actual de uma ocupação profi ssional (além da forte presença na categoria outra posição, que optamos por não descrever devido à sua fraca representatividade numérica em termos absolutos).

Em termos de evolução temporal, constatam-se algumas alterações nas tendências gerais: em 2001 além das categorias de desempregado e de estudante, que se mantêm em 2007 – os dependentes actuais possuem também uma actividade profi ssional. Os inquiridos que no passado (há mais de12 meses) evidenciaram sintomas de dependência mantém-se nos dois anos como sendo reformados, desempregados ou com uma ocupação profi ssional.

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

Dependência actual (últimos 12

meses)

Dependência no passado (há mais

de 12 meses) Sem dependência

2001 2007 2001 2007 2001 2007

Exerce uma ocupação profissional 2,3 1,2 6,3 5,7 91,4 93,1

Desempregado 2,5 3,5 5,7 4,3 91,8 92,3

Reformado 1,5 0,6 8,0 6,3 90,5 93,1

Estudante 1,6 1,6 2,7 1,3 95,6 97,1

Ocupa-se de tarefas do lar 0,1 0,5 1,1 1,9 98,8 97,6

Outra situação 1,8 2,3 9,7 11,6 88,5 86,0

TOTAL 1,9 1,3 5,6 5,2 92,5 93,5

Tabela 93. Distribuição dos inquiridos consumidores em função da existência de dependência de bebidas alcoólicas por posição ocupada no trabalho

A análise do nível de escolaridade dos inquiridos que alguma vez na vida consumiram bebidas alcoólicas permite-nos constatar que a proporção de inquiridos que passou por situações de dependência (actual ou no passado) diminui à medida que aumenta o nível de escolaridade frequentado. Centrando-nos somente nos inquiridos que revelam sintomas de dependência, constata-se contudo que na actualidade são os inquiridos com um nível de escolaridade superior, com 3º ciclo e os que não sabem ler nem escrever que declaram dependência. Os inquiridos com dependência no passado possuem habilitações escolares até ao 3º ciclo, sendo de salientar uma elevada proporção de inquiridos que não sabe ler nem escrever.

Comparativamente a 2001, as tendências gerais são bastante semelhantes: os sintomas de dependência manifestam-se essencialmente entre os inquiridos com nível de escolaridade mais baixa (até ao 3º ciclo). Contudo, de 2001 para 2007 alterou-se o perfi l dos dependentes actuais: em 2001 eram essencialmente os inquiridos entre o 1º e o 3º ciclos que apresentavam sintomas de dependência, enquanto em 2007 passam a ser essencialmente os inquiridos com o 3º ciclo de escolaridade, com ensino superior ou que não sabem ler nem escrever os que demonstram maior tendência para situações de dependência. Os dependentes não actuais mantém-se desde 2001 como sendo os inquiridos com menores habilitações, sendo maioritariamente os analfabetos ou os que têm até ao 3º ciclo os que no passado (há mais de 12 meses) evidenciaram sintomas de dependência.

193

Dependência actual (últimos 12 meses)

Dependência no passado (há mais de

12 meses) Sem dependência

2001 2007 2001 2007 2001 2007

Não sabe ler nem escrever 0,0 2,4 8,6 14,1 91,4 83,5

1º ciclo 2,1 0,4 6,8 7,2 91,1 92,4

2º ciclo 3,2 1,4 5,4 7,1 91,4 91,5

3º ciclo 2,3 2,0 6,7 5,5 91,0 92,5

Ensino secundário 1,0 1,3 3,7 2,8 95,3 95,9

Ensino superior 1,1 1,6 3,7 3,3 95,2 95,1

TOTAL 1,9 1,3 5,6 5,2 92,5 93,5

Tabela 94. Distribuição dos inquiridos consumidores em função da existência de dependência de bebidas alcoólicas por nível de escolaridade frequentada

O indicador socioprofi ssional individual de classe permite-nos a conjugação de

factores como a profi ssão desempenhada e o tipo de funções exercidas. Conjugando

este indicador com a presença de indícios de dependência (nos últimos 12 meses ou há

mais tempo), constata-se que são essencialmente os inquiridos pertencentes às classes

de agricultores (independentes ou assalariados) e os operários que mais evidenciam

situações de dependência, correspondendo estas maioritariamente a ocasiões decorridas

há mais de 12 meses, não sendo portanto situações de dependência actual. Relativamente

aos dependentes actuais, além dos operários, salienta-se ainda o grupo dos empresários,

dirigentes e profi ssionais liberais como sendo os grupos socioprofi ssionais com maior

proporção de inquiridos dependentes.

Entre os dois anos de análise as tendências gerais são semelhantes: os grupos

socioprofi ssionais dos agricultores (independentes e assalariados) e o dos operários

permanecem como os de maior proporção de inquiridos que revelam sintomas de

dependência face a bebidas alcoólicas. Também ao nível da descrição do perfi l de

inquiridos que revelam situações de dependência no passado (há mais do que 12

meses) as tendências são semelhantes, permanecendo, mais uma vez, os agricultores

e operários como os grupos de maior risco. Somente na caracterização dos inquiridos

com dependência actual parecem existir algumas alterações: entre os anos de 2001 e

2007 constata-se que a presença de inquiridos com indícios de dependência nos grupos

socioprofi ssionais de empregados executantes e de trabalhadores independentes reduz,

mantendo-se a proporção de empregados, dirigentes e profi ssionais liberais e o aumento

da proporção de operários dependentes.

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

Dependência actual (últimos

12 meses)

Dependência no passado (há mais de 12

meses)

Sem dependência

2001 2007 2001 2007 2001 2007 Empresários, Dirigentes e Profissionais Liberais 2,3 2,1 4,8 3,7 92,9 94,2

Profissionais Técnicos e de Enquadramento 1,2 1,0 3,8 3,9 95,0 95,1

Trabalhadores Independentes 2,2 1,0 3,4 6,4 94,4 92,6

Agricultores Independentes 1,0 0,3 6,8 10,0 92,1 89,7

Empregados Executantes 1,7 1,2 4,7 3,4 93,7 95,4

Operários 3,2 1,5 9,5 7,8 87,3 90,7

Assalariados Agrícolas 1,3 0,8 9,1 8,7 89,6 90,6

TOTAL 2,1 1,3 6,2 5,2 91,7 93,5

Tabela 95. Distribuição dos inquiridos consumidores em função da existência de dependência de bebidas alcoólicas por indicador socioprofi ssional individual de classe

4.3. Caracterização socioedemográfi ca

Relativamente à distribuição geográfi ca da população que já viveu situações de

dependência constatamos que são as regiões dos Açores, do Centro, de Lisboa e do Algarve

as que apresentam uma maior proporção de inquiridos com sintomas de dependência. Se

tivermos em conta os inquiridos com sintomas na actualidade permanecem como sendo

as regiões do Algarve, dos Açores e de Lisboa as de maior relevo. No passado (sintomas

que foram registadas há mais de 12 meses) todas as regiões apresentam proporções

semelhantes de antigos dependentes, destacando-se o Centro como a região com maior

proporção e o Algarve como a de menor proporção de dependentes.

Tanto em 2001 como em 2007 a proporção de dependentes é mais signifi cativa

nos Açores, Lisboa, Alentejo e Algarve, apesar de a proporção que representam face ao

total da população dessa região que já consumiu bebidas alcoólicas ter decrescido em

termos comparativos. Em 2001 os dependentes actuais pertenciam maioritariamente às

regiões do Algarve e do Alentejo, enquanto em 2007 além do Algarve passam a ter uma

signifi cativa importância as regiões dos Açores e de Lisboa. Tendo em conta a distribuição

por ano dos dependentes que não declararam sintomas de dependência nos últimos 12

meses mas há mais tempo, constata-se que entre os dois estudos se procedeu a uma

uniformização da proporção de dependentes por região. Neste sentido, se em 2001

se destacavam as regiões dos Açores, de Lisboa e do Alentejo, em 2007 a proporção

de dependentes por região é semelhante em quase todas as regiões (distanciando-se

195

um pouco o Algarve, como a região que apresenta uma menor proporção de inquiridos

dependentes no passado). Contudo, esta transição para a uniformização dos valores de

dependentes sem sintomas nos últimos 12 meses traduziu-se entre ambos os estudos

como uma diminuição nas regiões de Lisboa, Alentejo, Algarve e Açores; uma manutenção

da proporção de dependentes na região Norte e fi nalmente pelo aumento da proporção de

dependentes nas regiões Centro e Madeira.

Dependência actual (últimos 12

meses)

Dependência no passado (há mais

de 12 meses) Sem dependência

2001 2007 2001 2007 2001 2007

Norte 1,9 1,1 5,4 4,9 92,7 94,0

Centro 1,5 1,0 5,0 5,9 93,5 93,1

Lisboa 2,1 1,6 6,8 5,3 91,0 93,1

Alentejo 2,5 1,0 5,9 4,8 91,5 94,2

Algarve 3,0 2,9 5,1 4,4 91,9 92,7

Açores 1,9 3,1 7,9 4,5 90,2 92,4

Madeira 1,5 0,0 2,4 4,9 96,1 95,1

TOTAL 1,9 1,3 5,6 5,2 92,4 93,5

Tabela 96. Distribuição dos inquiridos consumidores em função da existência de dependência de bebidas alcoólicas por NUT II

O grau de urbanização da freguesia, analisado mediante as categorias de

predominantemente rural, medianamente urbana e predominantemente urbana, permite

a verifi cação das características espaciais onde os inquiridos (dependentes ou não) se

localizam. A proporção de inquiridos dependentes de bebidas alcoólicas é superior nas

áreas medianamente urbanas e inferior nas áreas predominantemente rurais. Tendo

em conta as características dos dependentes que evidenciaram sintomas nos últimos

12 meses constata-se uma semelhança em termos de características de urbanização: a

proporção de dependentes actuais é igual em qualquer dos graus de urbanização. Tendo

em conta os inquiridos dependentes mas que não demonstraram sintomas nos últimos

12 meses, constata-se que são em maior proporção nas áreas medianamente urbanas.

Comparativamente a 2001, as tendências entre os dois anos são ligeiramente

diferentes: em termos gerais, entre 2001 e 2007 diminuiu a proporção de população

dependente nas áreas predominantemente rurais e predominantemente urbanas,

aumentando a proporção de dependentes (actuais ou no passado) nas áreas

CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO PORTUGUESA: OS DADOS DOS INQUÉRITOS NACIONAISAO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NA POPULAÇÃO GERAL, 2001 E 2007

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CBA Portugal 2001-2007

Dependência actual (últimos 12

meses)

Dependência no passado (há mais

de 12 meses) Sem dependência

2001 2007 2001 2007 2001 2007

Área predominantemente rural 1,6 1,4 6,5 3,6 92,0 95,0

Área medianamente urbana 2,1 0,6 5,7 7,3 92,2 92,1

Área predominantemente urbana 2,0 1,4 5,4 5,1 92,6 93,5

TOTAL 1,9 1,3 5,6 5,2 92,4 93,5

Tabela 97. Distribuição dos inquiridos consumidores em função da existência de dependência de bebidas alcoólicas por grau de urbanização da freguesia

medianamente urbanas. Analisando a distribuição espacial dos inquiridos dependentes

actuais, constata-se uma manutenção das tendências verifi cadas em 2001: em ambos os

estudos a proporção de inquiridos dependentes actuais é igual nos três perfi s da tipologia

de urbanização, embora tenha decrescido de 2001 para 2007. Tendo em conta os

dependentes que não tenham sentido sintomas nos últimos 12 meses, constata-se uma

alteração ao nível das tendências gerais: em 2001 eram as áreas predominantemente

rurais as que apresentavam uma maior proporção de inquiridos que já sentiram sintomas

de dependência, enquanto em 2007 passam a ser as áreas medianamente urbanas as

que demonstram uma maior proporção de inquiridos dependentes no passado.

197

Considerações Finais

As defi nições a respeito do álcool e dos comportamentos relacionados com este

são construídas socialmente. Isto é, as defi nições sobre o álcool não são baseadas

numa verdade ontológica, mas em signifi cados que os indivíduos nos diferentes grupos

imputaram a determinadas coisas e comportamentos. Ao analisar, ainda que de forma

breve, a génese e desenvolvimento históricos das estruturas sociais ligadas ao álcool

demonstrou-se que o que se designa de “realidade social” não se constitui sempre uma

“realidade”, ela vai tomando a forma que apresenta na actualidade no termo de um longo

processo que poderia ter decorrido de modo diferente. Dito de outro modo, ao historicizar

as estruturas, atendendo, nomeadamente, às alterações socioeconómicas e demográfi cas

ocorridas nos diferentes espaços e tempos, a evolução das políticas públicas e da

legislação, entre outros, podemos perceber a importância da defi nição social do álcool e

como esta muda ao longo do tempo.

O estudo do álcool tem sofrido mudanças de paradigmas, de perspectivas,

intra e inter disciplinarmente. Vários autores indicam que o álcool deve ser tratado na

sua multidimensionalidade: comportamentos, ideias, costumes, mitologias, padrões,

processos, tradições, rituais e regras sociais implícitas de consumo e instituições, entre

outros, que constituem o fenómeno. No entanto, talvez porque o estudo do álcool se

iniciou como uma questão patológica, muitos estudos continuam a dar importância apenas

aos consumos problemáticos. Ora, não relacionando o álcool com as outras actividades

e fenómenos sociais, assim como ao não traçar a sua historicidade, muitos acabam por

cair na perspectiva patológica.

Através de estudos epidemiológicos sabemos que de todas as substâncias

psicoactivas, o álcool é a mais consumida, estimando-se quer cerca de 2 biliões de

pessoas no mundo (num total de 6,7 biliões) consumam bebidas alcoólicas. A nível

mundial têm ocorrido alterações nos comportamentos de consumo, passando algumas

regiões do mundo a consumir mais, e outras a ver a sua taxa de prevalências a diminuir. A

Europa continua a ser o continente onde o consumo de álcool per capita é mais elevado,

apenas um quarto da população se abstem.

Em Portugal durante décadas, o consumo tradicional do álcool foi quotidiano,

praticamente exclusivo dos homens, com uma enorme componente social e essencialmente

protagonizado pelo vinho. O facto de sermos um dos maiores produtores mundiais de vinho

associados a alguns mitos e preconceitos e em certas regiões servindo de pagamento

complementar da jorna e utilizado como alimentação pobre justifi ca, em certa medida,

CONSIDERAÇÕES FINAIS

198

CBA Portugal 2001-2007

que sejamos também um dos maiores consumidores europeus de álcool per capita. Mas

nos últimos tempos o âmbito de consumo de álcool alargou-se, particularmente aos combinados, às bebidas destiladas e à cerveja. Têm-se registado alterações, quer nas frequências, quer nas quantidades, quer nos padrões de consumo em Portugal.

Pensamos que para agir é preciso conhecer a realidade social, os fenómenos e as características da sociedade que compõem essa realidade. Deste modo, julgamos ser fundamental a caracterização da população portuguesa na sua relação com o álcool.

Seria importante haver uma defi nição clara dos conceitos utilizados nos estudos sobre o consumo de bebidas alcoólicas, quer em termos nacionais, quer internacionais. Seria importante haver uma formalização e uniformização dos indicadores a utilizar nos diferentes estudos para que as comparações fossem mais profícuas, o que, por outro lado permitiria a validação dos seus resultados.

No fundo, seria importante que o esforço que o OEDT desenvolveu para a monitorização dos consumos de substâncias psicoactivas ilícitas se alarga-se às substâncias lícitas.

Ao desenvolvermos este trabalho realizamos muitas leituras de estudos realizados sobre os consumos de álcool e uma das falhas que verifi cámos em quase todos foi a quase inexistência de referências a contextos onde ocorre o consumo. Apesar de o contexto ser considerado um aspecto chave na compreensão dos consumos, este é um aspecto descurado na maioria das pesquisas.

Assim, propomos que em pesquisas futuras sobre os consumos se tenha em conta o contexto, nomeadamente:

- local onde ocorre o consumo: pode ser um local público (bar, café, discoteca) ou privado (própria casa, casa de amigos, de familiares);

- situações em que ocorre o consumo: pode beber sozinho ou acompanhado, se acompanhado, por quem;

- circunstâncias em que ocorre o consumo: consome às refeições, ou consome em festas, por exemplo.

Para além das características e dos factores individuais, para tentar perceber o comportamento social de qualquer tipo, torna-se essencial saber em que contextos esses comportamentos ocorrem.

Também a questão das quantidades de álcool ingeridas é importante. Através do questionário na base da nossa análise, sabemos sobre os consumos ao longo da

199

vida, no último ano e no último mês, sabemos a frequência com que costuma beber em cada uma destas temporalidades. Em relação às quantidades, a única pergunta que as refere questiona apenas sobre a frequência com que bebe seis ou mais copos de uma qualquer bebida alcoólica na mesma ocasião. Não sabemos, assim, a quantidade de bebidas ingeridas de cada vez que consome, independentemente da temporalidade do consumo ou da sua frequência.

As questões acima levantadas prendem-se mais com aspectos metodológicos dos questionários. Em termos de futuras investigações, projectos e/ou análises, pensamos ser importante desenvolver esta temática partindo de questões como a percepção que os indivíduos têm do consumo do álcool; saber o papel que a indústria do álcool e as diferentes campanhas de marketing e publicidade tem no aumento ou não das prevalências do consumo; aferir se as campanhas de sensibilização e de prevenção são elaboradas também a pensar em grupos alvo ou se apenas a pensar na população geral; relacionar os consumos de álcool com o consumo de outras substâncias, quer lícitas, quer ilícitas.

Estes são apenas alguns dos exemplos de carências em termos de estudos em Portugal. Existe uma enorme variedade e diversidade de temas a serem explorados no domínio da problemática dos consumos de álcool entre nós. Como vimos anteriormente, a história deste país como produtor de álcool, principalmente vinho, e o aceitar cultural e social, que surge de forma natural, do consumo de bebidas alcoólicas, ajuda a explicar,

em parte, que não se tenha desenvolvido muita investigação nesta área.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

200

CBA Portugal 2001-2007

201

Referências

Bibliográfi cas

202

CBA Portugal 2001-2007

203

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