2006-08-APM 570
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Revista da APM Agosto de 2006
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Publicao da AssociaoPaulista de Medicina
Edio n 570 Agosto de 2006
REDAOAv. Brigadeiro Lus Antnio, 278
Cep 01318-901 So Paulo SPFones: (11) 3188-4200/3188-4300
Fax: (11) 3188-4279E-mail: [email protected]
Diretores ResponsveisNicolau DAmico Filho
Roberto Lotfi Junior
Editor ResponsvelUlisses de Souza MTb 11.459SP
Editora-assistenteLuciana Oncken MTb 46.219SP
ReprteresAdriana Reis
Carla NogueiraLeandro de Godoi
Ricardo Balego
Editor de ArteLeandro Deltrejo
Projeto e Produo GrficaCubo Editorial e [email protected]
Fotos: Osmar BustosRevisora: Thais Oncken
Secretaria: Rosenaide da SilvaAssistente de Comunicao:
Laura Rocha Passerini
ComercializaoDepartamento de Captao
e Marketing da APMFones: (11) 3188-4200/3188-4300
Fax: (11) 3188-4293
Periodicidade: mensalTiragem: 30 mil exemplares
Circulao: Estado de So Paulo(Inclui Suplemento Cultural)
Portal da APMwww.apm.org.br
APRESENTAORoberto Lotfi Jr.Nicolau DAmico Filho
A tecnologia sempre alavancou os grandes avanos na medicina, mas,
desta vez, ela foi alm, pois vai possibilitar toda classe mdica a oportu-
nidade de atualizao, troca de experincias, mesmo que o profissional
esteja trabalhando no mais remoto local do planeta. As redes de Telemedi-
cina vo permitir, por meio de computadores, a unificao de procedi-
mentos na rea da sade, que vai beneficiar mdicos e pacientes. Tudo pela
Internet de baixo custo, seja discada ou banda larga.
O Brasil se prepara para agilizar o uso dessa tecnologia. A Faculdade de
Medicina da Universidade de So Paulo (USP) saiu na frente e hoje o maior
centro de Telemedicina do pas e um dos principais da Amrica Latina.
A Telemedicina o nosso assunto de capa. H tambm matrias que
mostram o debate sobre temas polmicos, como a Terminalidade da Vida.
Pautamos ainda outras reportagens jornalsticas interessantes, inseridas
nesta edio.
Boa leitura!
Nicolau DAmico Filho e Roberto Lotfi Jr.Diretores de Comunicao
Tecnologia a servio da sade
3 Apresentao
4 Editorial
6 Sade Pblica
8 Msica Popular Paulista
10 Radar Mdico
14 CAPA
Telemedicina
USP a pioneira nessa tecnologia
20 Msica Popular Paulista
22 Profisso
26 Sade Pblica
32 Cotidiano
34 Cncer
36 Radar Mdico
38 Msica
39 Agenda Cientfica
41 Agenda Cultural
42 Produtos & Servios
43 Literatura
44 Por Dentro do SUS
45 Classificados
CONTEDO
Clara Brando,a me damultimistura
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O mundo ainda est atordoado com a nova onda de intensa violn-cia e intolerncia no Oriente Mdio. Esse conflito milenar causa,tristemente, mais uma disputa blica que, alm de incontveis danosmateriais, deixa como rastro o massacre de inmeras vidas humanas.
incrvel que, no sculo XXI, aps tantos avanos da humanida-de, guerras ainda faam parte do cotidiano. Quanto vale uma vida?Independentemente de qualquer tendncia racial ou religiosa, todossabemos que o maior bem existente, embora tantas vezes no parea.
Infelizmente muitos outros pases, tantos os desenvolvidos comoos demais, enfrentam igualmente ondas de enorme violncia. OBrasil, lamentavelmente, um deles. Na periferia das nossas grandese ricas metrpoles, contabilizamos diariamente um nmero maiorde baixas de jovens pobres assassinados do que em todas essas guerrasque acompanhamos distncia, por intermdio da mdia.
Temos vrios recordes vergonhosos. No perdemos para nin-gum em trauma e violncia. Nossos ndices so contundentes, hmuitos anos. Tendem a piorar agora com a guerra urbana e asdiferenas sociais crescendo cada vez mais. A profunda corrupoestimula os desvios de carter. Hoje nem sabemos a real dimensoda falta de tica nas instncias de poder.
Guerras e criminalidade sempre houve, o que assusta mais, nestemomento, a incrvel perda de valores da nossa sociedade. Especialis-tas e militantes de inmeras ONGs tm se proposto a recuperar jovens
Plantar mudanas ecolher bons frutos
que caram na delinqncia, vtimas do trfico de drogas, por exem-plo. Esta batalha confirma, na maioria dos casos, que h associaontima do crime com a degradao familiar e ausncia do pai.
A histria mostra que devemos incluir sempre, que aps as grandescrises ocorrem incrveis avanos da humanidade. isso que devemosesperar, mas no de braos cruzados. Como reverter o incrvel crculovicioso da corrupo e dos crimes que tanto desanima? Existe o exem-plo de pases que protagonizaram grandes viradas, investindo na reasocial, e, especialmente, em educao de verdade e de qualidade.
Com responsabilidade, o Estado pode e deve modular esseprocesso, garantindo financiamento efetivo para a sade, seguran-a educao, assistncia social. necessrio estabelecer uma pol-tica de valorizao adequada para os funcionrios desses segmentose priorizar a eficcia na formao do brasileiro, inclusive dos atu-almente excludos, para alcanar um novo status de nao.
Todos temos de romper com o desnimo moral desta m hora,registrando nossa indignao e empreendendo aes para a constru-o de um Brasil mais justo e digno. Principalmente ns, os mdicos,que sempre nos envolvemos intensamente com a luta por mudanassociais que beneficiem a comunidade. Nesta eleio, alis, devemosusar nossa fora para potencializar candidatos que estejam compro-metidos com essa causa, com nomes que esto de fato ao nosso lado,para transformar o Brasil do presente e colher bons frutos agora.
DIRETORIA ELEITA - DIRETORIA 2005-2008Presidente: Jorge Carlos Machado Curi1 Vice-presidente: Florisval Meino2 Vice-presidente: Paulo De Conti3 Vice-presidente: Donaldo Cerci Da Cunha4 Vice-presidente: Lus Fernando PeixeSecretrio Geral: Ruy Y. Tanigawa1 Secretrio: Renato Franoso Filho
DIRETORESAdministrativo: Akira Ishida; AdministrativoAdjunto: Roberto de Mello; 1o Patrimnio eFinanas: Lacildes Rovella Jnior; 2oPatrimnio e Finanas: Murilo RezendeMelo; Cientfico: Alvaro Nagib Atallah;Cientfico Adjunto: Joaquim Edson Vieira;Defesa Profissional: Toms Patrcio Smith-Howard; Defesa Profissional Adjunto:Jarbas Simas; Comunicaes: NicolauDAmico Filho; Comunicaes Adjunto:Roberto Lotfi Jnior; Marketing: RonaldoPerches Queiroz; Marketing Adjunto: ClvisFrancisco Constantino; Eventos: Hlio Alvesde Souza Lima; Eventos Adjunto: FredericoCarbone Filho; Tecnologia da Informao:Renato Azevedo Jnior; Tecnologia da
Silvana Maria Figueiredo Morandini; 4oDiretor Distrital Sorocaba: Wilson OlegrioCampagnone; 5o Diretor DistritalCampinas: Joo Luiz Kobel; 6o DiretorDistrital Ribeiro Preto: Joo CarlosSanches Anas; 7o Diretor DistritalBotucatu: No Luiz Mendes de Marchi; 8oDiretor Distrital So Jos do Rio Preto:Pedro Teixeira Neto; 9o Diretor DistritalAraatuba: Margarete de Assis Lemos; 10oDiretor Distrital Presidente Prudente: EnioLuiz Tenrio Perrone; 11o Diretor DistritalAssis: Carlos Chadi; 12o Diretor DistritalSo Carlos: Lus Eduardo Andreossi; 13oDiretor Distrital Barretos: Marco AntnioTeixeira Corra; 14o Diretor DistritalPiracicaba: Antonio Amauri Groppo
CONSELHO FISCALTitulares: Antonio Diniz Torres, Braulio deSouza Lessa, Carlos Alberto Monte Gobbo, JosCarlos Lorenzato, Tarcsio Eloy Pessoa deBarros Filho. Suplentes: Krikor Boyaciyan,Nelson Hamerschlak, Carlos RodolfoCarnevalli, Reinaldo Antonio MonteiroBarbosa, Joo Sampaio de Almeida Prado.
Informao Adjunto: Antonio Ismar Maral Menezes;Previdncia e Mutualismo: Alfredo de Freitas SantosFilho; Previdncia e Mutualismo Adjunto: Maria dasGraas Souto; Social: Nelson lvares Cruz Filho; SocialAdjunto: Paulo Cezar Mariani; Aes Comunitrias:Yvonne Capuano; Aes Comunitrias Adjunto:Mara Edwirges Rocha Gndara; Cultural: Ivan de MeloArajo; Cultural Adjunto: Guido Arturo Palomba;Servios Gerais: Paulo Tadeu Falanghe; ServiosGerais Adjunto: Cristio Fernando Rosas; EconomiaMdica: Caio Fabio Camara Figliuolo; EconomiaMdica Adjunto: Helder de Rizzo da Matta; 1o DiretorDistrital So Caetano do Sul: Delcides Zucon; 2oDiretor Distrital Santos: Percio Ramon Birilo BeckerBenitez; 3o Diretor Distrital So Jos dos Campos:
Associao Paulista de MedicinaFiliada Associao Mdica Brasileira
SEDE SOCIAL:Av. Brigadeiro Lus Antnio, 278 CEP 01318-901
So Paulo SP Fones: (011) 3188-4200/3188-4300
EDITORIAL
Jorge Carlos Machado CuriPRESIDENTE DA APM
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esde o dia 17 de julho, os trans-plantes de fgado no Brasil tm
como parmetro um novo critrio paraa ordem na fila de espera: o de gravi-dade dos pacientes. A nova regra subs-titui o modelo rgido e cronolgico,estabelecido no ano de 1997 e usadoat ento.
A portaria do Ministrio da Sade n1.160, de 29 de maio, estabelece tambmque o estado de gravidade seja aferidopor um modelo de exames chamadoMELD/PELD.
O alto ndice de mortalidade na filade espera, perto de 60%, foi um dosprincipais motivos para a mudana,segundo o Ministrio da Sade.
H de se considerar tambm os riscosinerentes ao prprio procedimento,estimados em torno de 15% a 20%.Mesmo aps o transplante, somente65% dos pacientes conseguem sobre-viver um ano, segundo dados do Estadode So Paulo.
Para Joo Galizzi Filho, presidenteda Sociedade Brasileira de Hepatolo-gia, esse sistema tem sido bem usadoem muitos pases da Amrica do Nortee Europa. Por outro lado, ns no
SADEPBLICA
Transplantesde fgadotm nova regraEmbora represente avanos, novo critrio deve ser vistocom cautela, segundo especialistas
RICARDO BALEGO
Dsabemos como vai ser o resultado dissonum pas com as caractersticas do Bra-sil. Os programas de transplante defgado tm evoludo nos ltimos anos,mas so ainda heterogneos e encontramgrandes dificuldades, sobretudo nacaptao dos rgos, o que contribuiem muito para a mortalidade na listade espera, afirma.
Devemos ficar atentos e ver at queponto isso contempla bem os nossospacientes, qual ser o impacto nosresultados e nos custos e se isso no estdificultando o acesso, recomendaPaulo Celso Bosco Massarollo, secre-trio da Associao Brasileira de Trans-plantes de rgos (ABTO) e chefe doservio de transplantes de fgado da
Santa Casa de Misericrdia de So Paulo.A nova regra comeou a vigorar aps
todo o sistema de informtica das centraisde transplantes ter sofrido mudanas ereadequaes. Os pacientes que estona fila tambm precisaram fazer novosexames para se readequar ao novocritrio. No entanto, de acordo com omdico Paulo Massarollo, at a ltimasemana de julho, a Secretaria Estadualde Sade de So Paulo (SES) s haviaconseguido refazer os exames para rea-locao dos pacientes em cerca de 20%dos que compunham a lista.
Dos cerca de 7.000 doentes queaguardam um transplante de fgado noBrasil, 3.000 esto no Estado de SoPaulo, onde a espera pode chegar a at
Centrais de transplantes foram readequadas
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Segundo dados da prpria SES, noperodo em que foi usado o critriocronolgico, cerca de 63% dos pacientesda lista eram excludos porque morriamna espera.
O critrioA partir da mudana nas regras para
transplantes de fgado, a avaliao dagravidade de cada caso deve ser feita pormeio do MELD (Model for End-StageLiver Disease), referente a indivduos
Processos aguardam na lista de espera
A avaliao dos especialistas de queo novo processo, apesar de positivo,deve ser acompanhado de perto. Onovo critrio representa avanos por-que, da forma como estava, era insus-tentvel uma perspectiva de tratamento.Mas h uma srie de outras questes,h riscos que no esto dimensiona-dos. Minha posio neste momento de cautela, reafirma PPPPPaulo Celsoaulo Celsoaulo Celsoaulo Celsoaulo CelsoBosco MassarolloBosco MassarolloBosco MassarolloBosco MassarolloBosco Massarollo.
Acredito que isso representa um passo frente, mas no podemos ter a inge-nuidade de achar que vai resolver porcompleto as dificuldades para obtenode um transplante, porque a demandatem crescido muito mais que a oferta dergos. A posio da Sociedade Brasi-leira de Hepatologia uma posio deprudncia, confirma Joo GalizziJoo GalizziJoo GalizziJoo GalizziJoo GalizziFilhoFilhoFilhoFilhoFilho, para quem o maior problemaainda a falta de doadores.
Segundo o coordenador da CentralEstadual de Transplantes de So Paulo(CET), LLLLLuiz Augusto Puiz Augusto Puiz Augusto Puiz Augusto Puiz Augusto Pereiraereiraereiraereiraereira, paraimplantar o novo sistema aqui em SoPaulo, o sistema informatizado precisouser completamente alterado. As mu-danas levaram cerca de um ms e meiopara serem feitas.
adultos, e PELD (Pediatric End-StageLiver Disease), indicado para crianas,modelos baseados em trs exames labora-toriais que atribuem pontos ao paciente.
A pontuao vai de 6 a 40, sendo que,quanto maior o nmero, maior a gravi-dade do paciente e menor sua expecta-tiva de vida.
Valores iguais ou superiores a 15 jso considerados casos de hepatologiagrave. Casos com ndices superiores a25 devem ter seus exames repetidos emmenos de sete dias, assim como, de 19a 24, o procedimento deve ser realizadoem at 30 dias.
Na prtica, significa que a lista dereceptores se torna flutuante, e pode sealterar conforme oscila o estado desade de seus pacientes, alternandoposies. importante lembrar que oscritrios utilizados pelo MELD/PELD avaliam a sobrevida dos pacien-tes enquanto esto na lista, e no depoisque recebem o rgo.
CaptaoDo ponto de vista da captao dos
rgos, a portaria do MS tambm exigiualgumas mudanas.
Estruturalmente, as duas Centrais deNotificao, Captao e Distribuiode rgos (CNCDO) continuam agindode forma descentralizada no Estado, deacordo com a regio em que se encontrao enxerto a ser transplantado. A primeiraCentral, que fica na SES, na capital pau-lista, abrange tambm a Grande SoPaulo, Litoral Norte e Vale do Ribeira.A segunda, sediada no Hospital dasClnicas de Ribeiro Preto, atende orestante do Estado. A estrutura conti-nua igual, o que muda o sistemainformatizado e o fluxo de informaesdas equipes, confirma Pereira.
Site informativo da Centralde Transplantes
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Mestre dosamba
uito prazer, eu me apresento:
sou o samba paulista. Chego
de mansinho e, pouco a pouco, entusi-
asmo quem est a minha volta. Meu
ritmo marcado pelos tambores e pela
caixa. Herana de um povo festivo, de
pele retinta, que foi trazido pelos por-
tugueses e que cantava por sua liberta-
o. O batuque, que era um menino
cativo, foi coroado pela beleza sonora
do cavaquinho, que veio da Ilha da
Madeira para enfeitar o meu samba.
Depois chegou o violo, usado pelos
espanhis, herana dos mouros. O pan-
deiro rabe, mas foi na mo do brasi-
leiro que ganhou personalidade. Virou
at disco voador. E tem a cuca. Ins-
trumento oriental, foi introduzido no
samba por Bento Ribeiro. A cuca tem
o dom de cantar sem ter voz. Essa a
MSICAPOPULARPAULISTA
trilha sonora do nosso Brasil. Est for-
mada a nossa orquestra.
Uma verdadeira histria da criao
do mais brasileiro dos gneros musi-
cais. Osvaldinho da Cuca mostrou, na
noite de 6 de julho e para um pblico
animado, porque considerado mestre
na arte de tocar, cantar e contar o samba.
Em quase duas horas de show, ele apre-
sentou composies prprias e clssi-
cos de outros gnios do samba, como
Adoniran Barbosa, fazendo a platia do
Auditrio Nobre da APM repetir os
versos e aplaudir a cada nova msica.
Acompanhado por cinco msicos
Renato 7 Cordas, no violo; Julio C-
sar, na percusso e voz; Marcelo Barro,
na percusso; Odair Menezes, no cava-
quinho e voz; e Boro, na percusso
dois deles seus filhos, Osvaldinho da
Cuca conversou com o pblico e contou
inmeras histrias, que inspiraram suas
criaes. Uma delas, gravada no CD
Osvaldinho da Cuca Convida em
referncia ao samba paulista, o mais
recente do artista, ele fala sobre as difi-
culdades em conviver com uma vizi-
nha num prdio da Vila Monumento,
bairro da zona sul de So Paulo, onde
mora. Os versos arrancaram risos:
Minha vizinha maloqueira/ Malo-
queira, maloqueira / Sem era nem
beira, sem educao / Desabafo can-
tando esse samba pra ela / Com muito
respeito e considerao.
A irreverncia das letras era evidente
tambm no visual: Osvaldinho da Cuca
subiu ao palco de terno branco, camisa
preta, corrente dourada no pescoo,
sapato bicolor rigorosamente lustrado
e o inseparvel chapu. Espalhou sor-
riso e exibiu seu samba no p. Um tpico
Irreverncia marcaapresentao deOsvaldinho da Cuca nahomenagem de julho doprojeto Msica PopularPaulista. No palco, umaverdadeira aula de samba
MADRIANA REIS
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representante do samba paulista, ver-
dadeiro professor.
Osvaldinho da Cuca nasceu Osvaldo
de Barros, na capital paulista, em 1940.
Tornou-se conhecido do pblico em
1967, ao participar do Terceiro Festi-
val da Record, ao lado de outro cone
do samba paulista: Demnios da Ga-
roa. Juntos, defenderam a msica Mu-
lher, patro e cachaa, que reproduzia
um dilogo entre os instrumentos mu-
sicais. Osvaldinho fez da cuca sua com-
panheira inseparvel. Desse casamento,
surgiram frutos ao lado de parceiros
como Martinho da Vila, Beth Carva-
lho, Elizeth Cardoso, Cartola, Vincius
de Morais, Gal Costa, alm do imortal
Adoniran Barbosa.
Apaixonado pelo Carnaval, Osvaldi-
nho fundador da Ala dos Composito-
res da escola de samba Vai-Vai. Para
homenage-la, cantou em seu show na
APM os versos: Quem nunca viu o
samba amanhecer, vai no Bixiga pra
A prxima atrao do Msica
Popular Paulista Dona Inah, no dia
14 de setembro (ver agenda, pgina
41). Herdeira de uma tradio de
canto peculiar, arraigada escola das
grandes divas do rdio e expresso
do samba de raiz, Dona Inah iniciou
sua carreira na dcada de 1950,
cantando em rdios e clubes de
Araras, cidade paulista onde nasceu.
E do interior para a capital, seu
trajeto foi marcado pelo equilbrio
Apresentao de Osvaldinho da Cuca, na APM
ver..., em referncia ao bairro onde a
escola est instalada.
Em sua trajetria musical, Osvaldi-
nho da Cuca formou o Trio Canela,
com Osmar do Cavaco e Jair do Cava-
quinho, ambos da Velha Guarda da
Portela. Tambm integrou o grupo
Velhos Amigos e, em 1999, gravou o
disco Histria do Samba Paulista,
com participao de Thobias da Vai-
Vai, Germano Mathias e Aldo Bueno.
Ao final do show, uma surpresa:
Osvaldinho convida o msico Jos Ro-
berto para integrar o grupo, agregando
outra cuca formao do palco. Todos
fazem um verdadeiro passeio pelas tra-
dies do samba paulista, entoando
clssicos como Saldosa Maloca, Trem
das Onze e Samba do Ernesto. Osvaldi-
nho da Cuca encerrou seu show sendo
homenageado pela APM e mostrou,
mais uma vez, que seus instrumentos
falam, cantam e encantam quando o
assunto samba.
Dona Inah
da vida artstica e o trabalho con-
vencional. Desde cedo, buscou
como referncia musical grandes
nomes que conheceu de perto, nos
bastidores da Rdio Record e em
apresentaes na Rdio Clube de
Santo Andr. Entre eles, Isaurinha
Garcia, Aracy de Almeida, Nelson
Gonalves e Orlando Silva.
Em 2005, aos 70 anos, a sambista
foi coroada com o prmio Melhor
Revelao na edio do prmio
Tim. Antes disso, Dona Inah gra-
vou o lbum Divino Samba Meu
e representou o Brasil em importan-
tes festivais internacionais. No mes-
mo ano, ainda se apresentou em
Paris durante as comemoraes do
Ano do Brasil na Frana.
Em seu novo show, a veterana
sambista Dona Inah apresenta um
repertrio composto por sambas de
seu primeiro CD, com msicas dos
grandes mestres do samba.
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Uma parceria envolvendo diver-sas entidades como a AssociaoPaulista de Medicina (APM), Pro-Teste, organizao no-governamen-tal Criana Segura, SociedadeBrasileira de Queimadura, InstitutoPr-Queimados, Sociedade Brasilei-ra de Pediatria e Associao MdicaBrasileira (AMB) foi firmada paralutar contra a venda direta do lcoollquido com teor acima de 46INPM Instituto Nacional dePesos e Medidas. Um dos principaismotivos da iniciativa o nmeroalarmante de vtimas de queimadu-ras provocadas pelo uso do produto.S no Brasil, so cerca de 150 milpessoas, sendo um tero crianas.
Com o objetivo de mostrar operigo do uso do produto e de pro-curar apoio da populao na proi-bio da venda, as entidadeslanaram, em seus sites, um mani-festo (abaixo-assinado). A aotambm pretende chamar a atenoda Cmara Federal para retornar oprocesso de votao do projeto que
No venda de lcool lquidoest ainda em tramitao, que dis-pe sobre a proibio da venda dolcool lquido acima de 46 INPM.
O perigoHoje, o consumidor usa o produ-
to, na maioria das vezes, para lim-peza ou acendimento de fogo. Maso que poucos sabem que os pro-dutos oferecidos no mercado naforma lquida no tm capacidadetotalmente bactericida. Portanto,no so eficazes no caso de limpeza.A gradao correta deve ser entre68 e 72 INPM e, mesmo assim,somente os setores de sade tmacesso a este tipo de lcool. Exis-tem outros produtos mais eficazespara atender a tal finalidade comogua e sabo.
Para acendimento de fogo, a ver-so em gel no traz risco de explo-so em condies normais de uso erende trs vezes mais. Alm disso,o fogo no se espalha, como ocorrecom o lquido, evitando que gran-des reas do corpo sejam queimadas.
RADARMDICO
Para participar, s acessar www.proteste.org.br;www.criancasegura.org.br, www.amb.org.br ou www.apm.org.br e
preencher o formulrio confirmando sua colaborao.
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Campos do JordoAs inscries para o sorteio
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vembro esto abertas at 10 de
outubro. A diria do apartamento,
para 4 pessoas, de R$ 30,00.
No valor, no est incluso o caf
da manh, que cobrado parte.
O benefcio s tem validade para
mdicos associados. Informa-
es: (11) 3188-4280 Departa-
mento Social.
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O Hospital Universitrio da Univer-
sidade de So Paulo comemorou, no
dia 7 de agosto, 25 anos de atividade. A
cerimnia do festejo contou com a pre-
sena do superintendente do hospital,
o professor e doutor Paulo Lotufo, do
professor titular da FMUSP, Giovanni
Guido e da reitora da USP, professora
Suely Vilela.
A Associao Paulista deMedicina sediou, nos dias 4 e 5 de agos-to, a I Jornada Multidisciplinar em Pe-rcia Mdica do Departamento dePercias Mdicas do Estado de SoPaulo e do Comit Multidisciplinar dePsiquiatria Forense da APM. O evento,que teve apoio da Secretaria do Estadoda Sade, do Conselho Regional de Me-dicina do Estado de So Paulo(Cremesp), foi destinado a mdicos pe-ritos, assistentes sociais, psiclogos eoutros profissionais envolvidos na rea.
Na ocasio, foram levantadas questescomo: fundamentos de percia mdica;medidas administrativas frente a simu-laes e dissimulaes, assdio moralno trabalho, conseqncias da falsa pe-rcia e da impercia, Responsabilidade
25 anos de HU
Foto
: Div
ulg
ao
USP
Foto: Divulgao USP
Percia Mdica discutida na APMLegal e tica em Percia Mdica, do-enas da coluna vertebral limitantes, osmitos e realidades da DORT/LER -leses provocadas por situaes de tra-balho prejudiciais que levam incapa-cidade temporria ou definitiva dostrabalhadores, os aspectos mdicoslegais sobre simulaes e dissimula-es. Alm de assuntos como avalia-o pericial em Psiquiatria e Sndromede Burnout, entre tantos outros presentesno dia-a-dia do profissional que traba-lha em percia.
O mdico psiquiatra forense GuidoPalomba, diretor cultural adjunto daAPM, falou sobre o tema AlienaoMental. O diretor de Defesa Profissi-onal da APM, Jarbas Simas, que tam-bm mdico perito, ministrou a
O diretor da APM, Guido Palomba,foi um dos palestrantes
palestra sobre Impercia e AtestadosFalsos. Em sua avaliao, o eventomarca um grande avano na rea depercia que discutiu o segmento emtodas as reas, desde administrativaat a legislao. Os profissionaispresentes saram mais esclarecidos,conhecendo mais a rea em que atuam,analisou Simas.
Os funcionrios da Associao Paulista
de Medicina (APM) foram o pblico-alvo
da palestra Segurana no Trnsito do
ponto de vista mdico, no dia 20 de
julho, ministrada pelos mdicos especia-
listas em Medicina do Trfego, Henrique
Funcionrio bem informadoNaoki Shimabukuro, Maria Ceclia Za-
non e Maria de Ftima Queiroga Neves.
Durante uma hora e meia, os pales-
trantes falaram sobre: os perigos do
trnsito; como conduzir o veculo de
forma mais segura, ndices de mortes
causadas por negligencia no trnsito,
entre outros. As pessoas precisam
saber que o trnsito um exerccio de
cidadania. uma troca de espao onde
o risco grande quando no se tem res-
peito, considerou Shimabukuro.
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Foi publicado no Dirio Oficial daUnio faz cerca de quinze dias o Decreton 5.839, que dispe sobre a organiza-o, as atribuies e o processo eleitoraldo Conselho Nacional de Sade CNS,alm de outras providncias.
Em linhas gerais, a normativa tratadas competncias do CNS e estabelecenovas regras para sua composio. Onmero de membros titulares ampli-ado de 40 para 48, na proporo de50% de representantes de entidades edos movimentos sociais de usurios doSUS; 25% de representantes de enti-dades de profissionais de sade, inclu-da a comunidade cientfica da rea desade; e 25% de representantes dogoverno, de entidades de prestadoresde servios de sade, do ConselhoNacional de Secretrios de Sade -CONASS -, do Conselho Nacional de
Conselho Nacional de Sade semmdicos um atentado sade dapopulao, diz AMB
RADARMDICO
Secretrios Municipais de Sade -CONASEMS - e de entidades empre-sariais com atividade na rea de sade.
Lamentavelmente, a tradicional enecessria participao da classe mdicano Conselho Nacional de Sade noest garantida pelo Decreto n 5.839.Neste momento, a representao estmantida precria e temporariamente,graas a um acordo que teve como baseo regimento interno. Porm, a qualquermomento os mdicos podem ficar sema cadeira que lhes tem permitido de-fender a boa prtica mdica e a assis-tncia de qualidade.
Tendo em vista a importncia singu-lar da medicina para o diagnstico e tra-tamento de mais de 180 milhes debrasileiros e a contribuio dos mdi-cos para a consolidao do Sistemanico de Sade (SUS), a Associao
Mdica Brasileira vem a pblico lamen-tar mais esta equivocada deciso dasautoridades do Pas, especialmente asda rea de sade. Um Conselho Nacionalde Sade sem mdicos representa umatentado contra a sade dos cidados. pblico e notrio que a viglia per-manente dos profissionais de medicinaem prol dos pacientes sempre foi desuma importncia para o sistema, as-sim como para evitar abusos e tenta-es antidemocrticas.
A AMB espera que tal decreto sejarevisto, de forma a garantir que a parce-ria entre mdicos e pacientes continueconsagrada como um dos pilares fiscali-zadores na rede de sade do Brasil. Ocontrole social dos conselhos nacional,estaduais e municipais de sade ben-fico a todos os agentes do setor e a Asso-ciao Mdica Brasileira faz questo depreserv-lo por intermdio de mecanis-mos eficientes e democrticos.
Saiba mais:Assessoria de Imprensa da AMB
(11) 3178-6800
www.amb.org.br
A Associao Paulista de Medicina,por meio de seu Presidente, atendendos disposies estatutrias, convocaseus associados para:
1) ASSEMBLIA GERAL ORDI-NRIA a fim de deliberar sobre a pro-posta oramentria referente aoexerccio seguinte;
2) ASSEMBLIA GERAL EX-TRAORDINRIA a fim de deliberarsobre a REFORMA DO ESTATUTOSOCIAL DA APM:
adaptao ao Cdigo Civil em vigor;
Edital de ConvocaoAssemblia Geral Ordinria e Extraordinria
Associao Paulista de Medicina
demais reformulaes a serem pro-postas, nos termos do Pargrafo Ter-ceiro do art. 26 do estatuto social.
As sugestes para reforma estatutriapodero ser elaboradas: pelos associa-dos em dia com suas obrigaes estatu-trias, sendo encaminhadas Diretoriada APM, em sua Sede Social, at o dia12/09/2006, por intermdio das Se-es Regionais ou Associaes Filiadas,devendo constar a identificao clara elegvel do proponente, bem como o dis-positivo a ser alterado e sua sugesto.
A Associao Paulista de Medicinadisponibilizar aos associados, por meiode seu site, (www.apm.org.br), at o dia11/10/2006, as propostas recebidas eordenadas, nos termos estatutrios.
As Assemblias sero realizadas nodia 11 de novembro de 2006 (sbado),na Sede Social da Associao Paulistade Medicina, situada na cidade de SoPaulo, av. Brigadeiro Luis Antonio,278, 9 andar, sendo que, a Assem-blia Geral Ordinria ter incio s11h00 e a Assemblia de Geral Extra-ordinria a partir das 11h30.
So Paulo, 10 de agosto de 2006.
Dr. Jorge Carlos Machado CuriPresidente
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Revista da APM Agosto de 2006
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RICARDO BALEGO
U
CAPA
Telemedicina aoalcance de todos
m cenrio que, primeira vista,
pode parecer somente a teoria
de uma prtica bastante distante no dia-
a-dia do mdico: um pas do tamanho
do Brasil sendo capaz de se intercomu-
nicar de um extremo a outro por meio
de redes de Telemedicina e Telesade.
disposio dos mdicos de todo o
pas estaria a atualizao profissional,
necessidade constante na medicina, e
possibilidades de segunda opinio em
diagnsticos; populao, apoio aten-
o primria e preveno de doenas
por meio da educao distncia.
Esta , na verdade, uma realidade que
vem se tornando cada vez mais acessvel.
Sua tecnologia j est disponvel e suas
possibilidades imediatas na promoo
Apesar de suas enormes possibilidades, a tecnologia detransmisso de dados a servio da medicina no Brasil apostana simplicidade e eficcia tanto para a atualizao e usomdico como para a ateno primria da populao
da ateno sade so inegveis.
Acredita-se que as primeiras aplica-
es da Telemedicina aconteceram nos
Estados Unidos, em sua agncia espa-
cial (Nasa), ainda na dcada de 1960.
O contexto era o da corrida espacial e
da guerra fria. Logo, a potncia que
detivesse melhor tecnologia, inclusive
de transmisso de dados, poderia dar
um passo frente.
At meados da dcada de 1990, ela
no conseguia ser muito bem difundida
no meio comum, porque a tecnologia
era cara. Estava reservada a centros
altamente especializados, explica
Chao Lung Wen, professor associado e
coordenador geral da disciplina de
Telemedicina da Faculdade de Medi-
cina da USP (FMUSP).
Esta situao comeou a se alterar
medida que o poder dos computadores
e a modernizao dos sistemas de tele-
comunicaes evoluram, possibilitan-
do atividade um amplo e efetivo
campo de trabalho.
Hoje, a Telemedicina j no mais
considerada exclusivamente de uso
mdico, mas sim um resultado da unio
de profissionais da sade e da tecnolo-
gia, cuja a finalidade promover a sa-
de. Conceitos variantes como Telesade
e Teleducao so comuns, uma vez que
as atividades podem envolver equipes
Tecnologia servio da medicina
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multiprofissionais e educao distncia.
Pases como EUA, Canad, Austrlia
e outros vm apresentando importante
crescimento no uso dessa tecnologia.
No Brasil, tudo parece caminhar para
uma gradual implantao da Teleme-
dicina tambm, uma vez que j exis-
tem condies para tal. Alm de redes
de telecomunicaes federais j dispo-
nveis, como a RNP, RUTE, SIVAM/
SIPAM e redes governamentais estadu-
ais, h grandes possibilidades tambm
por linhas digitais, DSL (banda larga)
e mesmo a linha telefnica discada. Isso
possibilitaria a conexo entre dois ou
mais pontos em qualquer local do pas.
A linha discada, inclusive, vem sen-
do a grande aposta em projetos que en-
volvem centros de ensino, entidades
mdicas e a esfera governamental.
Segundo o professor Chao Lung Wen,
embora haja a Telemedicina de alta
tecnologia (videoconferncia, robtica)
e mdia (internet de banda larga), cerca
de 70% da necessidade brasileira se
resolve com internet de baixo custo,
com o uso de linha discada, um mi-
crocomputador com leitor de cd e m-
quina fotogrfica digital.
fundamental hoje, com a grande
multiplicidade de novidades mdicas,
ter um instrumento que seja baseado nas
melhores evidncias. A Telemedicina
passa a ser uma ferramenta muito til
devido s dificuldades que muitos
mdicos tm para ter acesso. A Inter-
net e a Telemedicina podem melhorar
de forma excepcional esse rendimen-
to, concorda Jorge Carlos Machado
Curi, presidente da APM.
Ateno primriaComo exemplo, no dia 7 de julho, foi
lanado o Projeto de Telesade aplica-
da Ateno Bsica, coordenado pelo
Ministrio da Sade e que visa capaci-
tar equipes estratgicas do Programa de
Sade da Famlia (PSF), atuando em
regies mais remotas e de difcil acesso
no pas.
Da cidade de Parintins, interior do
Amazonas, o ministro da Sade, Age-
nor lvares, se comunicou e assistiu a
uma apresentao gerada pela equipe
da FMUSP, em So Paulo.
As equipes podero obter a segunda
opinio por teleconsulta, numa ao
combinada de teleassistncia e teledu-
cao. Sero implantados inicialmente
Tela de vdeoconferncia
Site tecnolgico da USP
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oito Ncleos de Telesade, sediados em
oito universidades pblicas, que j tm
experincia desenvolvida em telesade
e esto estrategicamente distribudas
pelas cinco regies do Brasil, ressalta
Ana Estela Haddad, coordenadora de
Gesto da Educao em Sade da Se-
cretaria de Gesto do Trabalho e da
Educao do MS (DEGES/SGTES).
Segundo ela, alm de ligados em rede,
os oito ncleos estaro conectados,
cada um, a outros cem pontos localiza-
dos em Unidades Bsicas de Sade.
Participam tambm do projeto enti-
dades como a Universidade Federal de
Minas Gerais, Conselho Federal de
Medicina, Sociedade Brasileira de
Medicina da Famlia e Comunidade e
a biblioteca virtual em sade Bireme,
que combinam aes, ainda, com
programas de outros Ministrios, como
o da Educao, Cincia e Tecnologia,
Comunicaes e Defesa. Estas e outras
instituies formam, inclusive, a Co-
misso Permanente de Telesade do
governo, criada em maro para avaliar
e acompanhar os projetos da rea.
Fizemos isso para provar que, mes-
mo a Amaznia, est hoje conectvel
por tecnologia. Por isso, eu acho que a
Telemedicina no Brasil no pode ser
mais vista s como medicina distn-
cia. Ela tem que ser vista j como uma
questo de estratgia de sade para o
pas, opina o especialista Lung Wen.
A Telesade representa um campo
emergente do conhecimento em sade,
desenvolvido a partir de uma intersec-
o entre a informtica mdica, a sade
pblica e a administrao. O termo tem
conotao mais ampla do que apenas o
desenvolvimento tecnolgico, carac-
terizando-se por um novo modo de
O projeto na Amaznia Legal
est em andamento e indo muito
bem; levando desde educao con-
tinuada, para os mdicos e outros
profissionais de sade, por ser uma
regio menos populosa, at atendi-
mento e segunda opinio, orienta-
o para o colega distncia, frente
alguma dificuldade que ele tenha,
explica Gerson Zafalon Martins,
coordenador da Cmara Tcnica e
2 secretrio do CFM.
pensar, agir e trabalhar em rede, con-
ceitua Ana Estela.
As novas possibilidades de comu-
nicao em sade exigiram, recente-
mente, a criao, no Conselho Federal
de Medicina, de uma Cmara Tcnica
exclusiva para assuntos relacionados
Telemedicina.
Na atuao entre Governo e Uni-
versidade, h, ainda, projetos como o
Estao Digital Mdica, que tem a mis-
so de estruturar uma rede entre os
centros hospitalares e vem contando
com um oramento de R$ 5 milhes do
Ministrio da Cincia e Tecnologia.
Os valores so secundrios aos bene-
fcios que a Telemedicina pode propor-
cionar, opina Gerson Zafalon.
Educao MdicaPara falar em medicina distncia no
Brasil preciso falar na FMUSP, que,
em 1997, instituiu em sua graduao a
disciplina de Telemedicina. A FMUSP
hoje o maior centro de Telemedicina
no Brasil e certamente um dos grandes
em toda a Amrica Latina, representado
A USP o maior centro de telemedicina do pas
CAPA
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por todo seu complexo, como o HC,
HU, Centro de Sade-Escola Butant,
Faculdade de Odontologia de Bauru e
mais nove instituies, todas interligadas
entre si, formando uma grande comu-
nidade de Telemedicina, orgulha-se o
professor Chao.
De fato, so 150 mil m de rea hospi-
talar interligada, com possibilidade de
transmitir para qualquer lugar do mun-
do, desde que haja conexo disponvel.
A Faculdade dispe, ainda, de outros
projetos destinados ao ensino e preven-
o de doenas, como o Homem Virtu-
al, uma srie de programas educativos
feitos em computao grfica e trs
dimenses, que levam informaes tan-
to para alunos e especialistas em medi-
cina como para o pblico leigo. A srie
Questo de Peso, do mdico Druzio
Varella, exibida pelo programa Fants-
tico em 2003, foi feita pela FMUSP.
A prpria Associao Paulista de Me-
dicina (APM) tambm vem se utilizando
da Telemedicina para levar atualizao
sobre temas mdicos aos profissionais.
Toda segunda tera-feira de cada
ms, o Departamento de Medicina de
Famlia e Comunidade da entidade se
rene para discutir assuntos que envol-
vem a prtica da medicina familiar no
mundo e conta sempre com a partici-
pao, por videoconferncia, de espe-
cialistas internacionais.
No dia 8 de agosto, foi a vez do chefe
do departamento de Medicina da Fa-
mlia da Universidade do Kansas
(EUA), Joshua Freeman, contribuir via
web cam com suas experincias para o
encontro cientfico.
O especialista falou sobre o tema
Cuidados Primrios Orientados para
a Comunidade, com enfoque para o
mdico de famlia no contexto da
ateno primria.
Todo complexo da USP interligado pela tecnologia
Projetos de sade passam pelo computador
Recertificao de ttulosEducao continuada aos mdicos
tambm um campo frtil e til para a
atuao da Telemedicina. Desde 1 de
janeiro deste ano, todos os mdicos que
obtiverem ttulo de especialista ou
certificado de rea de atuao tero
cinco anos para obter os crditos vlidos
para o CAP (Certificado de Atualiza-
o Profissional).
Para tal, os especialistas devero
somar cem pontos em atividades de atu-
alizao ao longo desse perodo, sendo
que, pelo menos dez crditos por ano
(cerca de 20 horas/aula) podem ser
obtidos por meio de programas dis-
tncia, como a Telemedicina. Para isso,
as atividades precisam ser credencia-
das Comisso Nacional de Acredita-
o (CNA), composta por membros da
Associao Mdica Brasileira (AMB)
e Conselho Federal de Medicina (CFM),
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e terem o desempenho de seus partici-
pantes avaliados.
Embora uma avaliao completa a
respeito de meios como a internet na
formao do mdico ainda sejam objeto
de discusso, o primeiro secretrio da
AMB e membro da CNA, Aldemir Hum-
berto Soares, considera a experincia
positiva para a educao mdica. En-
tendemos que a atualizao poder ser
contemplada por esta forma e que cur-
sos distncia so ferramentas impor-
tantes para atingir os mdicos
brasileiros nos locais mais distantes, e
com baixo custo, disse.
Os mdicos que se especializaram
antes de janeiro, no entanto, podem
optar por acumular ou no os pon-
tos. Alm disso, a CNA ainda estuda
como levar o sistema a todas as So-
ciedades de Especialidades, para que
estas acompanhem a atualizao de
seus profissionais.
A Federao Brasileira de Gastroen-
terologia (FBG), por exemplo, lanou
recentemente seu Programa Nacional
de Educao e Desenvolvimento
Continuado Distncia para Certifica-
o de Atualizao Profissional, que
est aliado s normas do CFM.
Gratuito aos associados da entidade
e previsto para o ms de setembro, o
primeiro curso ter 12 aulas cursadas
em um ano, que contar 12 crditos para
efeito de comprovao junto CNA.
O objetivo incentivar o aprimora-
mento tcnico e estender o conheci-
mento ao maior nmero possvel de
profissionais que atuam na rea de Gas-
troenterologia ou sua rea de atuao,
a hepatologia, afirma Luiz Gonzaga
Vaz Coelho, presidente da FBG.
A Telemedicina pode ajudar de for-
ma fundamental na atualizao mdica,
proporcionando grande interatividade
aos mdicos e estabelecendo contato
distncia com os grandes centros, opi-
na o presidente da APM, Jorge Curi.
Chao Lung Wen, da USP
O Projeto Jovem Doutor, como
explica Chao Lung Wen, da USP,
vai comear pelos alunos da fa-
culdade de medicina, que vo ensi-
nar, por meio do Homem Virtual e
Gerao Sade, o aluno do ensino
mdio a como prevenir doenas. E
esse aluno vai dar palestras aos seus
amigos mensalmente.
A APM quer levar a medicina s escolas pblicas
Projeto com a APMA APM tambm vem estudando par-
ticipar de um projeto que, em parceria
com a FMUSP, pretende levar educao
e preveno de doenas a alunos de
escolas pblicas no Estado de So Paulo.
As regionais e distritais da APM
seriam responsveis por levar o projeto
a todas as regies do Estado. Seria a
Associao Paulista de Medicina, numa
ao conjunta com a universidade,
promovendo a sade da populao do
Estado, completa o professor.
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Tecnologia que humanizaA preocupao com possveis infraes
ticas nas relaes entre os mdicos e seus
pacientes no uso da Telemedicina tem
suas normas previstas principalmente em
dois documentos: a Declarao de Tel
Aviv, adotada pela 51 Assemblia
Geral da Associao Mdica Mundial em
1999, e, no caso brasileiro, a resoluo
do CFM n 1.643/2002, que reconhece
e institui a prtica no pas.
A norma define, por exemplo, que o
mdico que acompanha seu paciente
o responsvel pelo ato, independente
de participaes distncia e segundas
opinies, e que a tecnologia no substi-
tui essa relao. Ela est aprovada
para segunda opinio, no para atendi-
mento direto ao paciente, faz questo
de lembrar Lung Wen.
Com isso, uma segunda opinio mdi-
ca no descarta a presena do mdico
junto ao seu paciente, mas sim agrega
dados para um diagnstico mais correto.
Segundo a Declarao de Tel Aviv,
que inspirou a resoluo do CFM, a
Telemedicina no deve afetar adver-
samente a relao individual mdico-
paciente. Quando utilizada de
maneira correta, tem o potencial de
melhorar esta relao por meio de mais
oportunidades para comunicar-se e um
acesso mais fcil de ambas as partes.
Sabe-se que, como qualquer outra tec-
nologia, a medicina distncia, se bem
usada, pode trazer benefcios atuao
mdica e ao prprio sistema de sade
brasileiro. No fundo, a tecnologia, se
for utilizada em pontos adequados,
humaniza muito mais do que a gente
Participantes do Frum que discutiu os servios mdicos prestados distncia
Lideranas mdicas debatem o uso da telemedicina
imagina, atesta Chao.
As possibilidades vo de reduo dos
custos com transporte e diminuio das
distncias, maior eficincia no mapea-
mento de epidemias at o uso de outras
ferramentas, como a telenfermagem.
Estamos num momento histrico
muito bom. O Ministrio da Sade est
muito sensibilizado e a entrada das
associaes mdicas junto com o CFM,
hoje criaria uma fora to grande, que
viabilizaria vrias outras coisas.
preciso ensinar os mdicos a como uti-
lizar a telemedicina e a teleducao,
completa o professor.
Nos dias 14 e 15 de julho, profissio-
nais mdicos, governo, professores, ges-
tores de sade e outros atores envolvidos
no uso da Telemedicina no pas se reuni-
ram para discutir, entre outros pontos,
como implantar o reembolso dos servi-
os mdicos prestados distncia.
Realizado na Faculdade de Medicina
da USP (FMUSP), o evento tambm
props critrios para a sistematizao da
segunda opinio mdica, apresentou
experincias j realizadas e suas poten-
cialidades, bem como as possibilidades
para a recertificao dos ttulos de espe-
cialistas e de rea de atuao.
Quando se fala em reembolso, muita
gente pensa que s questo de dinheiro,
mas a idia no essa. A Telemedicina
hoje no Brasil um recurso que visa
otimizar o servio de sade do pas e
reduzir os seus custos, afirmou Chao
Lung Wen.
Reunio discutevalorizao do servio
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MSICAPOPULARPAULISTA
Carlinhos Vergueirolota auditrio da APM
CLUCIANA ONCKEN
arlos Vergueiro chegou. A Bolsa
vai abrir. Em queda ou alta? O
leilo vai comear. Aquela loucura de
gente gritando pra c e pra l. Opa, volta
a fita. Carlinhos Vergueiro chegou. O
show vai comear. Aquela loucura de
gente, chegando sem parar, para ver
Carlinhos cantar. Sem dvida, o show
abre em alta.
O Msica Popular Paulista segue 2006 fazendo sucesso,marcando momentos inesquecveis
Houve um tempo em que este cone
da msica paulista, da msica brasi-
leira, dedicava seu tempo Bolsa de
Valores. A msica era para as horas
vagas. Isso foi j h muito tempo, nos
idos de 1973. E daquela data em diante,
a msica foi ganhando mais espao na
vida deste compositor. At tomar conta
de sua vida. Ficou conhecido depois de
ganhar o festival de Abertura da TV
Globo, com a msica Como um ladro.
Passaram-se 31 anos desde ento. E,
hoje, difcil imaginar este cara metido
num terno e gravata. Enfrentando os
altos e baixos do mercado financeiro. A
Bolsa perdeu um profissional bom de
lbia, e todos ns ganhamos muitas com-
posies para ficar em nossa memria.
Era 1o de junho, l estava ele, sentado
num banquinho, roupa despojada, cala
de sarja preta, colete, tnis, com o toque
marcante de sua touca preta de lante-
joulas. Estava ali para ser homenageado
pela sua longa carreira e pela contri-
buio Msica Popular Brasileira,
Foto: Gisela Gutara
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dentro do projeto Msica Popular
Paulista, da Associao Paulista de
Medicina (APM).
Com seu estilo jovial e alegre, seu
humor s vezes beira o sarcstico.
Gosta de uma prosa com o pblico,
coisa que aprendeu com o mestre
Adoniran Barbosa.
Com o Auditrio Nobre da APM
lotado e em companhia dos msicos
Edson Alves (violo e flauta) e Adriano
Busko (percusso), Carlinhos relem-
brou as vrias fases de sua carreira.
Por Edson, declama o seu amor, mais
do que isso, uma certa dependncia
qumica do amigo e companheiro. Eu
sofri de sndrome de abstinncia. Eu
no sabia o que era viver sem o Edson,
principalmente no show. Ele o me-
lhor companheiro de palco, o maestro
Edson Alves, um dos fundadores da
Banda Mantiqueira, onde permanece
at hoje, e j foi homenageado pelo
Msica Popular Paulista.
medida que a noite passava, Carli-
nhos ia conquistando cada vez mais o
pblico, parecia crescer e crescer. Vol-
tando no tempo, indo alm. Relembrou
antigos sucessos.
Para quem precisa de refresco para a
memria, a discografia de Vergueiro
composta de dois compactos, onze LPs
e quatro Cds. Entre eles, destaca-se
Carlinhos Vergueiro -15 anos de car-
reira, no qual divide cada msica com
um convidado, entre os quais Paulinho
da Viola, Caetano Veloso, Djavan, Chico
Buarque, Martinho da Vila, Toquinho,
Ney Matogrosso, entre outros.
Durante sua trajetria, trabalhou com
Cartola, viajando por todo o Brasil pelo
Projeto Pixinguinha, em 1978. Tambm
dividiu o palco com Nlson Cavaqui-
nho, em 1980, e com Ney Matogrosso,
Zizi Possi e Virginia Rosa, em 1995.
Carlinhos no est neste mundo para
brincadeira, no. O sucesso atravessou
fronteiras, com shows por todo o pas, e
em outros tambm, como Itlia, Frana,
Cuba. Parcerias com Adoniran Barbosa,
Toquinho, Chico Buarque, Vincius de
Moraes, Sombrinha, Aldir Blanc, Pau-
linho da Viola, Arlindo Cruz, entre
muitos outros. E tem mais, como pro-
dutor, esteve frente do LP A pera
do Malandro, de Chico Buarque para
o filme de Ruy Guerra (1985).
Quem perdeu, perdeu...
Carlinhos Vergueiro e seu estilo jovial e alegre
Foto: Gisela Gutara
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PROFISSO
mdico est preparado para
lidar com a morte?
Qual a postura que ele, em especial o
intensivista, deve ter diante de pacientes
terminais?
Estas e outras perguntas, igualmente
polmicas, foram debatidas por espe-
cialistas a fim de procurar as respostas
que afligem atualmente as reas mdica
e jurdica. Durante dois dias, os assuntos
foram discutidos no frum sobre De-
safios ticos na Terminalidade da
Vida, promovido pelo Conselho Re-
gional de Medicina do Estado de So
Paulo (Cremesp) em parceria com o
Conselho Federal de Medicina (CFM)
e realizado na capital paulista.
O evento contou com a presena de es-
pecialistas mdicos e jurdicos, que queri-
am esclarecer at onde vai o poder de
deciso dos profissionais de medicina pe-
rante a morte iminente de seus pacientes.
Esta discusso trata das angstias
que sofremos como intensivistas, lem-
brou, no segundo dia do frum, Rachel
Duarte Moritz, que faz parte da Cmara
Tcnica sobre Terminalidade da Vida
do Conselho Federal de Medicina
(CFM). Os mdicos custam a aceitar
a morte de seus pacientes. Para ns a
responsabilidade parece ser maior,
completou, abrindo mais uma sesso
de discusses.
Roberto Dvila, tambm diretor do
CFM, disse que o Frum o era pontap
inicial para discutir a terminalidade da
Terminalidade da vidaTerminalidade da vidaDa esq. p/dir. Jos de Siqueira, Jeferson Piva, Rachel Moriz, Miguel Kfouri, Jairo Othero, Gabriel Oselka e Renato Terzi
O
Marcos Segre, Maria Marchi, Maria Vilas Boas, Gerson M., Solimar Pinheiro eLuis Manreza (da esq. p/dir.)
vida sem preconceitos. Ele esclareceu
ainda que era a oportunidade para debater
a resoluo da entidade sobre o assunto.
O artigo nmero primeiro da reso-
luo diz que permitido ao mdico
limitar ou suspender procedimentos e
tratamentos que prolonguem a vida do
doente em fase terminal, de enfermi-
dade grave e incurvel, respeitada a
vontade da pessoa ou de seu represen-
tante legal.
No caso de morte enceflica, a re-
soluo esclarece em seu artigo ter-
ceiro: vedado ao mdico manter
At onde vai a obrigaodo mdico?
CARLA NOGUEIRA
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os procedimentos que asseguravam o
funcionamento dos rgos vitais,
quando houver sido diagnosticada a
morte enceflica em no doador de
rgos, tecidos e partes do corpo hu-
mano para fins de transplante.
Segundo Roberto D vila, a con-
duta, prevista na resoluo, deno-
minada ortotansia, que diferente
do conceito eutansia - prtica pela
qual se abrevia, sem dor ou sofrimento,
a vida de um enfermo incurvel.
A ortotansia visa garantir a possi-
bilidade de morrer com dignidade,
sendo que a eutansia uma interrup-
o direta da vida, explica.
Para o presidente da Sociedade de Bi-
otica, Jos Eduardo Siqueira, o frum
abriu novas possibilidades para a huma-
nizao do tema. Fizemos crescer a
tecnologia e diminumos a reflexo ti-
ca. No podemos desprezar as tcnicas,
mas preciso humanizar a terminalida-
de da vida e ampliarmos a discusso
sobre a resoluo. A morte no ade-
quadamente tratada na rea da sade.
necessria a reflexo, completou.
Segundo o professor Jos Eduardo
de Siqueira, da Sociedade Brasileira
de Biotica (SBB), as angstias m-
dicas frente impossibilidade de cura
e morte so incutidas na prpria
faculdade. A culpa nossa. Ns
transmitimos aos ainda alunos de
medicina que a morte um fracasso
e no somos educados para fazer di-
ferente disso, disse. arrogncia
nossa, dos professores de medicina,
pois dizemos que eles tm o poder
de cura sempre. Curamos s vezes,
aliviamos freqentemente e confor-
tamos sempre, completou.
DesafiosO coordenador do Ncleo de Estudos
e Pesquisa em Biotica do Centro Uni-
versitrio So Camilo, em So Paulo, o
padre Lo Pessini, classificou o evento
como um desafio. Ou melhor, uma
ousadia, pois o assunto provoca angs-
tia, mas necessrio discut-lo. A morte
deixou de ser um evento para se tornar
um processo, afirmou o religioso.
Pessini conceituou a distansia - morte
com sofrimento fsico ou psicolgico
do indivduo lcido e ressaltou que
os mdicos devem ouvir seus pacientes,
avaliar a eficcia do tratamento e o prin-
cipal, curar a morte e no a doena.
Vemos um milagre: o avano tec-
nolgico, mas o momento de anali-
sar a questo tica nos critrios da
utilizao desta tecnologia a favor do
paciente. A medicina vive um conflito:
lutar contra a morte e entender este
caminho, afirmou.
Pessini destacou os mtodos adota-
dos pelos mdicos na forma de atender
Pblico que acompanhou um dos debates
Saulo Eduardo Siqueira, Clvis Constantino e Desir Callegari (da esq. p/dir.)
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seus pacientes, principalmente, os que
se encontram em fase terminal. O
paciente tem direito de morrer com dig-
nidade. Ele (paciente) tem sua bagagem
de valores e culturas e isto to impor-
tante o mdico compreender como ava-
liar seu exame de sangue.
Segundo o padre, os mdicos preci-
sam ser educados para saber lidar com
situaes crticas da vida e da morte.
Poder judicirio e medicinaO ministro do Superior Tribunal de
Justia (STJ), Gilson Lngaro Dipp, clas-
sificou o tema do evento como complexo
e de muitas controvrsias. Mas no po-
demos fugir da responsabilidade de discu-
tirmos. E o Frum vem agregar cada vez
mais a ligao do Poder Judicirio com a
Medicina, porque at para ns, a termina-
lidade da vida um assunto novo.
O ministro entende tambm que
preciso olhar mais o paciente em estado
terminal como ser humano, pensar no
paciente e no na doena.
Precisamos oferecer conforto ao
enfermo terminal. Apoio psicolgico
e moral so mais essenciais do que fo-
car apenas no prolongamento da vida.
Os mdicos precisam saber os limites
que podem chegar nos procedimentos
em benefcio do bem-estar do paciente.
Quanto nossa rea, necessita-se de
uma manifestao do judicirio mais
concreta sobre o tema, disse o juiz.
Para o procurador geral de Justia
do Distrito Federal e Territrios, Leo-
nardo Bandarra, a terminalidade da
vida precisa primeiro ser compreendi-
da entre os mdicos.
Vocs que daro o diagnstico de
paciente terminal e acredito que, entre
os profissionais, h uma necessidade de
entendimento e compreenso sobre o
assunto. importante destacar que o
mdico no est s, a resoluo um
avano e que dar amparo a vocs (m-
dicos), afirmou o procurador.
Para Miguel Kfouri Neto, do Tribu-
nal de Justia do Paran, h uma dife-
rena grande entre morrer e morrer com
dignidade, tratando tambm sobre a
chamada interrupo de tratamento,
questo presente em casos irreversveis.
ResoluoAlm da importncia de se tratar sobre
a terminalidade da vida, as discusses
apresentadas durante o frum devem
resultar, em breve, em uma resoluo
normativa editada pelo CFM.
O intuito amparar o mdico em con-
tato direto com tais dilemas ticos,
como a posio da famlia, teraputica
desnecessria em casos irreversveis e
respeito morte sem sofrimentos.
O prprio Cdigo de tica Mdica
no traz nada sofre o tema pacientes ter-
minais. Essa resoluo deve auxiliar
muito nas questes com as quais convi-
vemos, no aspecto legal, implicitamen-
te, e no aspecto tico, explicitamente,
destacou Gabriel Oselka, ex-presiden-
te do CFM e coordenador do Centro de
Biotica do Cremesp. Diaulas Ribeiro, Gilson Dipp, Maria Goretti, Cludia Burla, leonardo Bandarra eMaria Kovacks (da esq. p/dir.)
Vdeo ilustrativo de um dos debates
PROFISSO
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Clara Brando. Do outro lado, 200 pesso-
as, a maioria mulheres j acostumadas
ADRIANA REIS
E m uma tigela, junte um copode farelo de trigo tostado,
um de farinha de milho tipo biju, outro
de farinha de mandioca bem crocante,
outro ainda de leo (de preferncia de
arroz) e sal. Misture bem. Em seguida,
acrescente bananas picadas, caldo do
limo e salsinha a gosto. Est pronto.
Fcil de fazer, no precisa nem de fogo.
H 35 anos, a pediatra enutrloga Clara Brandoajuda a salvar vidas comreceitas simples, de altovalor nutritivo e baixo custo
Quem ensina pacientemente o prepa-
ro desta farofa a pediatra e nutrloga
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Farofa preparada pela nutrloga
A me da multimistura
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com o dia-a-dia da cozinha, anotam
cada detalhe. Esto impressionadas com
a receita e aguardam o momento de
experimentar a novidade. O ritual se
repete h 35 anos, desde que a doutora
Clara decidiu unir o que havia aprendido
com a medicina e os conhecimentos
partir destas constataes, passou a usar
sua criatividade para inventar receitas
que garantiam os nutrientes necessrios
e que cabiam no bolso da populao
mais carente.
Foi assim que surgiu a idia da mul-
timistura um misto com alto valor
nutritivo, formado por folhas e semen-
tes secas e trituradas at virarem um
p, que acrescido ao prato de comida,
diariamente. O conceito da multimis-
tura foi adotado pela Pastoral da Cri-
ana, da Igreja Catlica, que passou a
distribuir para as mes cujos filhos
estavam abaixo do peso. O resultado foi
surpreendente. A receita bsica da mul-
timistura contm: 70% de farelo (de
arroz e/ou de trigo) tostado; 15% de p
de folhas (mandioca, batata-doce etc.)Anotaes do curso preparado pela nutrloga Clara Brando
Ensinar a comer direito no
difcil. O complicado fazer
as pessoas comerem bem com
o que tm disposio, perce-
beu Clara Brando.
Dicas para seguir umaalimentao sustentvel
Para assegurar o consumo dos
nutrientes necessrios, o ideal
comer maior variedade possvel de
alimentos disponveis;
A boa digesto comea com
uma boa mastigao;
Prefira frutas e gua aos sucos
com acar/adoante e refrigerantes;
Comece sempre o almoo e o
jantar com um prato de salada de
folhas cruas e limo;
Sempre que possvel, coma trs
tipos de frutas por dia e cinco tipos
de folhas.
com as pesquisas que desenvolveu na
rea de alimentao.
Clara descobriu um dom e uma mis-
so. O dom: combinar produtos simples
e disposio da maioria dos brasilei-
ros e com baixo custo e transformar
em receitas reaplicveis, com alto valor
nutritivo. A misso: ajudar a diminuir
a desnutrio infantil no pas. Um ter-
o dos brasileiros vive abaixo da linha
da pobreza. Isso sempre me incomo-
dou, conta Clara, formada pela Uni-
versidade de So Paulo em 1969.
Cuidar da sade de crianas foi o que a
motivou pela escolha da pediatria como
especialidade. Mas agir combatendo
apenas a doena era pouco para ela. O
desafio era prevenir, evitando que os
pequenos chegassem aos consultrios
e ambulatrios.
Clara passou a pesquisar o que essas
crianas comiam em casa. Desenvol-
veu estudos que comprovavam a influ-
ncia da alimentao na sade e, a
Clara Brando
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e 15% de ps de sementes (gergelim,
abbora, linhaa, girassol). Foi to dis-
seminada que atualmente pode ser en-
contrada pronta, nas lojas de produtos
naturais. Basta uma colher de sopa ao
dia, distribuda nas refeies.
Sculo das cidadesO brasileiro tem se alimentado de
forma cada vez mais precria em termos
de qualidade. Clara Brando acredita
Projeto ensina a fazer horta
que isso acontece porque a populao,
que antes ocupava essencialmente a
rea rural, migrou para os grandes cen-
tros urbanos. Vivemos o sculo das
cidades. A maioria da sociedade vive
nas periferias desses centros metropo-
litanos e se depara com a falta de diver-
sidade dos alimentos, aponta.
Outro problema, segundo a mdica,
nossa alimentao estar baseada no
que vendido em supermercados.
Nossas refeies so pautadas pelos
supermercados. Consumimos cada vez
mais produtos industrializados e dei-
xamos para trs uma herana de alimen-
tos naturais e saudveis, critica.
Antes, nossa relao com o alimento
era mais direta. Conhecamos o ven-
dedor de frutas, legumes e verduras
pelo nome. Sabamos o tempo certo de
colheita de cada produto, acompanh-
vamos seu ciclo. Tudo isso se perdeu
quando abandonamos as feiras livres,
acredita Clara.
Projeto alimentao sustentvel, granola e multimistura
Dicas para seguir umaalimentao sustentvel
Clara Brando
Acrescente duas folhas a mais
de tempero (salsa, coentro etc.) por
dia. Em dez anos, haver ingesto
de 7.300 folhas: uma grande quan-
tidade de vitaminas e minerais.
Multimistura pode ser encontrada em lojas de produtos naturais
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Clara Brando faz palestras a merendeiras
O alerta foi feito pela doutora em
So Paulo, recentemente, para um
grupo de 200 merendeiras que traba-
lham em projetos sociais de comple-
mentao escolar, da Fundao Banco
do Brasil. Em dois dias de oficina so-
bre Alimentao Sustentvel, elas
receberam instrues de como prepa-
rar alimentos saudveis, usando pro-
dutos disponveis na prpria regio.
Saram do curso com um livro de re-
ceitas, outro de orientaes para ini-
ciar uma horta perene e a vontade de
multiplicar esse conhecimento.
As merendeiras ficaram impressiona-
das com os nmeros de uma pesquisa,
apresentados por Clara Brando duran-
te a oficina: 50% dos brasileiros se ali-
mentam com pouca qualidade; 30%
comem mais do que necessitam; 40%
da nossa produo agrcola desperdi-
ada ou estraga antes de chegar mesa.
A vida corrida das grandes cidades
tambm prejudica nossa alimentao.
Trocamos as refeies pelos sanduches
e os sucos, pelos refrigerantes. O bra-
sileiro inverte a pirmide de alimen-
tos. Consumimos mais aquilo que deveria
ter menor peso na nossa balana: arroz
branco, po e massas feitos com fari-
nha branca e acar, critica a pedia-
tra. Segundo ela, h um provrbio que
diz: Mudar o hbito alimentar mais
difcil do que mudar a religio de al-
gum. Foi por isso que Clara estudou
para desenvolver uma mistura que
complementasse a alimentao, garan-
tindo imediata absoro de nutrientes.
Assim, ajudou a salvar vidas de inme-
ras crianas por todo o Brasil. Quando
a criana nasce desnutrida, abaixo dos
2,5 quilos, ela tem duas vezes mais
chances de ser um adulto hipertenso,
ensina Clara.
Durante a oficina, Clara mostrou que
o resultado do uso da multimistura na
regio do semi-rido brasileiro foi
significativo. Antes de incluir o com-
posto na alimentao local, 25,4% das
crianas at um ano de idade estavam
abaixo do peso. Depois, apenas 1%.
Dicas para seguir uma alimentao sustentvel
Clara Brando
Uma colher de sopa por dia de
farelo (de arroz e/ou trigo) melhora
o rendimento fsico, mental e com-
bate a constipao intestinal;
Uma colher de sopa de multi-
mistura por pessoa/dia, dividida
em trs refeies, pode reduzir
em at 30% o volume de alimento
ingerido;
Prefira mandioca gratinada,
cozida ou frita a fazer bolo, nho-
que, pur. Ela brasileira e 100%
orgnica;
O arroz parbolizado tem 528%
mais vitamina B1, 150% mais cl-
cio e 250% mais ferro que o arroz
branco. sempre soltinho, rende
20% mais, nunca tem gro quebrado
e gasta menos leo no preparo;
Frutas secas e rapaduras so
timos substitutos dos doces;
Vitaminas A, C e E presentes
nas verduras e frutas melhoram a
resposta imunolgica, reduzem a
gravidade das infeces e o risco de
catarata;
Alimentos ricos em gordura e
acar favorecem doenas crnico-
degenerativas, hipoglicemia, de-
ficincia de micronutrientes,
obesidade e sobrepeso em todas
as idades.
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GuloseimasDoces industrializados, prontos para
consumir e agradveis ao paladar... ten-
tao difcil de resistir. Mas esse tipo
de guloseima um vilo da nossa sade
alimentar. Esses produtos industria-
lizados nem deviam ser considerados
alimentos. Alguns desses doces so ver-
dadeiros venenos para nossas crian-
as, critica Clara. A mdica aponta,
entre as conseqncias da m alimen-
tao, a diminuio da capacidade in-
telectual e o aumento da pr-disposio
para doenas degenerativas, obesidade
e hipoglicemia. Sem contar que uma
alimentao mais saudvel deixa as
pessoas mais felizes, aponta.
Entre as inmeras dicas da mdica
esto o consumo da folha de mandioca,
rica em minerais e vitaminas. Tem
mais ferro do que a carne e mais vita-
mina A do que o leite, revela. Ela
pode ser ingerida em formato de p,
reduzir a gravidade das infeces como
a dengue, malria, pneumonia, diar-
ria, tuberculose e gripe.
Os farelos de arroz e de trigo tambm
so recomendados por ela, assim
como as saladas com folhas verde-
escuras. Outro coringa o gergelim,
que tem dez vezes mais clcio que o
leite e pode ser usado em sopas, fei-
jo, farofa e saladas. Alm, claro,
da prpria multimistura, que pode ser
includa na alimentao diria, sem
contra-indicao.
Clara incentiva a ter em casa uma
pequena horta. D para aproveitar o
quintal e at as encostas do muro. Quem
mora em apartamento pode produzir
em vasos. Basta escolher as mudas e
sementes que melhor se adaptem s
condies do ambiente.Merendeiras em curso ministrado por Clara Brando
O leo de arroz tem uma subs-
tncia que acelera a formao e fi-
xao da memria. Pode ser usado
mais de uma vez sem se decompor;
Use milho pelo menos duas
vezes por semana, em polenta,
angu, canjiquinha, cuscuz, bolo,
farofa ou o milho verde;
O limo nas refeies aumenta
a absoro de ferro;
O acar retira o clcio da nossa
alimentao;
O p da folha de mandioca tem
sete vezes mais ferro do que a carne
e 180 vezes mais vitamina A do que
o leite;
O gergelim tem dez vezes mais
clcio do que o leite;
A luz do sol na pele aumenta a
produo de vitamina D, impor-
tante para a absoro do clcio;
Os sucos com folhas verde-
escuras como hortel, capim-santo,
agrio, salsa e couve melhoram a
disposio para o trabalho, o apren-
dizado e reduzem as infeces.
Dicas para seguir uma alimentao sustentvel
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acrescido na comida, e ajuda a contro-
lar a anemia, aumentar a imunidade e
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31Cestas bsicas regionalizadas para o Fome Zero
A alimentao um assunto que
tem atrado cada vez mais a ateno
da sociedade, da mdia e do meio aca-
dmico. Quem confirma o presi-
dente da Associao Brasileira de
Nutrologia (Abran), Durval Ribas
Filho. A entidade, que funciona desde
1973 - a Nutrologia uma especiali-
dade mdica desde 1978 -, tem de-
senvolvido inmeros projetos para
melhorar a qualidade nutricional da
populao. Um dos mais recentes foi
uma minuciosa pesquisa, em parceria
com o governo federal, para a
montagem de cestas bsicas regiona-
lizadas para o Programa Fome Zero.
Passamos dois anos investigando a
alimentao nas regies Norte, Nordes-
te, Centro-Oeste, Sul e Sudeste, para
identificar os produtos com alto valor
nutritivo, dentro das particularidades
de cada lugar, afirma Ribas.
Segundo ele, possvel alimentar-se
corretamente mesmo vivendo a cor-
reria dos grandes centros urbanos.
Uma das boas invenes recentes
o restaurante por quilo. A pessoa
monta o prprio prato, buscando
combinaes coloridas, e garante
uma refeio saudvel, exemplifica.
Com alguns cuidados bsicos, o
presidente da Abran ensina que d
para manter uma alimentao equi-
librada, mesmo recorrendo a produ-
tos industrializados e aos sanduches.
A indstria alimentcia evoluiu
muito. Hoje temos uma infinidade
de pes integrais disposio. Pode-
mos comer sanduches, optando pela
combinao de po, carne branca, de
preferncia, alface e tomate, sem
abusar de ketchup e mostarda e evi-
tando a maionese, diz. Ele tambm
alerta para o comportamento atual
da sociedade em deixar de lado a
velha conhecida combinao de ar-
roz e feijo. uma mistura muito
adequada, elogia.
O mdico incentiva ainda a po-
pulao a olhar para outro problema
crescente relacionado alimenta-
o: a obesidade. O Brasil tem 38,8
milhes de obesos. Temos de nos
preocupar com essa questo, afir-
ma. Esse e outros assuntos sero de-
batidos nos dias 14, 15 e 16 de
setembro, em So Paulo, durante o
Congresso Brasileiro de Nutrolo-
gia. Mais informaes no site
www.abran.org.br.
As invenes de Clara Brando pa-
recem agradar ao bolso, ao organismo
e ao paladar. Prova disso so os sinais
de satisfao das merendeiras, que
experimentaram e repetiram a farofa
preparada pela mdica. Ao ocupar os
bancos da faculdade de medicina, dou-
tora Clara fez um juramento: trabalhar
para salvar vidas. Em especial, a das
crianas, j que optou pela pediatria.
Foi alm. Reproduziu conhecimento
e mostrou que sade se garante no
cotidiano, a cada escolha feita. A cada
prato de comida.
A hipoglicemia, que provoca
mal-estar, tonturas, mau-humor,
violncia e agressividade, pode ser
reduzida com alimentos integrais,
granola, verduras e castanhas;
As folhas verde-escuras como
taioba, dente de leo, hortel, man-
jerico, jambu, capeba, vinagreira,
serralha, beldroega, ora-pro-nbis,
moringa, so mais ricas em mine-
rais e vitaminas do que as folhas
verde-claras;
Dicas para seguir uma alimentao sustentvel
Clara Brando
A castanha-do-par contm se-
lnio, que essencial para a sade.
Consuma uma a duas por dia;
Brotos, algas e cogumelos so
ricos em minerais e vitaminas.
Consuma-os com freqncia;
O exerccio fsico regular e a
boa alimentao ajudam o bom fun-
cionamento do corpo e so funda-
mentais para a sade.
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COTIDIANO
CARLA NOGUEIRA
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Jovens soprincipal alvo nocombate ao fumo
fumaa do vcio. A tragadaque pode levar morte. Presasfceis, os jovens caem no vcio.
cada vez mais freqente o nmero deusurios de tabaco, principalmente ocigarro, entre adolescentes. Dados doInstituto Nacional do Cncer (Inca)apontam esta realidade. O tabaco considerado uma doena peditrica.Cerca dos 90% de fumantes comearama fumar antes dos 19 anos, completoua representante do Inca, rika Caval-cante, durante o I Frum Nacional daSade Juventude contra o Tabaco,ocorrido na manh do dia 8 de agostono auditrio nobre da APM.
O evento foi realizado pela APM,Sociedade Brasileira de OncologiaClnica, Associao Mdica Brasileirae Ncleo de Apoio ao Paciente comCncer e teve o apoio de vrias entidadesque trabalham em prol do pacienteportador de cncer.
A iniciativa, realizada em comemo-rao ao Dia Nacional da Sade, 6de agosto, teve como principal fococonscientizar e alertar sobre o perigodo tabagismo entre os jovens, bem
Frum realizado na APMmostra os riscos a que apopulao jovem expostaquando faz uso do tabaco,especialmente o cigarro
como mostrar que o cncer tem cura.Segundo rika, cerca de 100 mil
pessoas por dia se iniciam no hbito defumar, sendo que 80% dos casos ocorreem pases em desenvolvimento. preciso entender que a dependncia dotabagismo por toda a vida. O nossotrabalho consiste em mostrar os peri-gos do tabaco, o que isso pode causar pessoa e, principalmente, dar respaldopara o dependente que deseja se afastardo vcio. uma vigilncia eterna.
Em sua concluso, na apresentao noFrum, rika destacou que o combateao tabagismo precisa ser um trabalhoconstante e em conjunto com a sociedade.Precisamos da conscientizao dasociedade para mobilizarmos e escla-recer cada vez mais a populao sobreos danos causados pelo tabagismo.
IniciativaA diretora de Aes Comunitrias da
APM, Yvone Capuanno, abriu a pro-gramao do evento com destaque para
iniciativa da APM na realizao doFrum. Para a APM uma honrarealizar um evento desta importncia.Estamos [APM] de portas abertassempre. Obrigada a todos.
Em seguida, a presidente da SociedadePaulista de Oncologia, Nise Yamaguchi,apresentou aos presentes, representantesdo Idem rede internacional que visaajudar e incentivar jovens na integraoe transformao de causas sociais.
Os jovens do Idem fizeram um louvor maior causa: a transformao domundo, e, principalmente, a transfor-mao de si mesmo, longe de vcios.
A presidente da Sociedade Brasileirade Oncologia Peditrica, Snia Viana,explanou sobre o cncer em crianas que,segundo ela, no tem preveno, mas,com um diagnstico precoce h chancede 70 a 80% de cura. J Eliana Caran, doGrupo de Apoio Criana e Adolescentecom Cncer (GRAACC), apresentou ainfra-estrutura do GRAACC e todo otrabalho desenvolvido pela entidade.
Yvone Capuanno, diretora da APM, e Nise Yamaguchi, durante palestracontra o tabagismo na APM
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CNCER
PADRIANA REIS
esquisadores do mundo inteirocomemoraram, em junho, a
divulgao do resultado de uma pesqui-sa realizada por 55 instituies e quedesenvolve um exame capaz de identifi-car a predisposio gentica para o cn-cer de intestino. Uma dessas instituiesera brasileira: o Hospital do Cncer. Ocoordenador do grupo o oncologistaBenedito Mauro Rossi, mineiro forma-do pela Pontifcia Universidade Catlicade Minas Gerais. Desde 1985, ele traba-lha no Hospital do Cncer, onde perce-beu a necessidade de pesquisar ainfluncia gentica na predisposio paraessa doena, ainda hoje considerada umtabu. De seu consultrio, no bairro daLiberdade, Dr. Rossi concedeu uma en-trevista exclusiva Revista da APM:
Revista da APM - A mdia tem noti-ciado a descoberta de um exame gen-tico para identificar a predisposiopara o cncer de intestino. O que esseresultado representa?
Pas integra equipe de 55instituies internacionaispara desenvolver examegentico que identifica apredisposio ao cncerde intestino
Benedito Mauro Rossi Essa pes-quisa que a mdia tem comentado, trata-se de um resultado parcial de um trabalhoque comeou em 1997. Desde este per-odo, estamos estudando casos de cncerhereditrio de intestino. uma pesqui-sa contnua, que envolve 55 instituiesde todo o mundo, da qual o Hospital doCncer, em So Paulo, faz parte. Somosum grupo de estudos com cerca de 20profissionais, coordenados por mim.
APM Como essa pesquisa come-ou? O que o grupo tem conseguidoem termos de conhecimento cientficodesde 1997?
Rossi Para ser sincero, essa pesquisacomeou antes ainda, em 1992. O pro-cesso iniciou com o registro dos casosde cncer no intestino que recebamosno Hospital do Cncer. O primeiro passofoi montar um imenso banco de dados.A comunidade cientfica sabia que ha-via uma predisposio gentica para ocncer de intestino, mas at aquelemomento no tinha um embasamentode pesquisa para saber o grau disso. Euacompanhava os pacientes chegando aohospital com o diagnstico de cncerde intestino e, muitas vezes, percebiaque o pai, o irmo ou o primo dele tam-bm tinham a doena. Isso precisavaser organizado em forma de base para apesquisa. Foi o que fizemos. J com obanco de dados, que recolheu informa-es de mais ou menos 150 famlias,
comeamos a pesquisa, em 1997. Osresultados foram publicados em 2002,numa revista internacional.
APM A partir disso, a equipe ganhouprojeo internacional?
Rossi Sim, o resultado foi publica-do em uma revista importante do meiocientfico e passamos a ter contato comoutros pesquisadores, do mundo todo.Em 2004, comeamos a segunda faseda pesquisa, com registro de 300 fam-lias. O resultado dessa pesquisa foi pu-blicado em junho de 2006, com adescoberta do exame que identifica apredisposio gentica para desenvol-ver o cncer de intestino.
APM E se trata de uma divulgaomundial?
Rossi Isso mesmo, porque a pesquisafoi desenvolvida em conjunto por estas55 instituies que formam o grupo deestudos. A organizao dos dados tevecoordenao de um pesquisador coreano.
APM verdade que o senhor onico brasileiro na equipe?
Rossi Sim e no. Sou o nico brasi-leiro que assina o estudo, mas, na verda-de, nenhum trabalho desenvolvido poruma pessoa somente. um trabalho deequipe. O grupo de estudos tem 20 pes-quisadores, como mencionei, e todostrabalham juntos. importante dizer
Brasil no timetitular daspesquisas Oncologista Benedito Mauro Rossi
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isso, porque a pesquisa resultado doesforo de todos. Ns nos reunimos se-manalmente, desde 2003, quando o gru-po foi criado. At montamos um site naInternet, em que publicamos um resu-mo das nossas reunies. O endereo www.gbeth.org.br (Grupo Brasileiro deEstudos de Tumores Hereditrios).
APM E de que forma feito esteexame?
Rossi Funciona da seguinte forma:a pessoa chega at o Hospital do Cncerpara saber sua predisposio gentica. Oprimeiro passo identificar as pessoasna famlia que j tiveram a doena. Fa-zemos a coleta do sangue delas para oestudo gentico. Depois, organizamosa rvore genealgica daquela famlia epassamos a verificar alguns critriospr-definidos que, se preenchidos, qua-lificam aquela pessoa como predispos-ta geneticamente. A herana para agerao seguinte de 50%, ou seja, se opai ou a me tm a predisposio, achance do filho tambm ter de 50%.
APM Mas ter a predisposio nosignifica que a pessoa vai desenvolvero cncer, no ?
Rossi Pode acontecer. Nossas pes-quisas mostram que se a pessoa tiver apredisposio, a chance de ter cncer de 80%. Para que se entenda o que issorepresenta, eu costumo comparar comuma grande escadaria. Vamos suporque todos nasam no degrau zero, ouseja, no andar trreo. medida quevamos crescendo, passamos a agredirnosso organismo com alimentos nosaudveis, com lcool e cigarro. Va-mos subindo essa escada. Quando che-gamos aos 50 anos, num certo patamar,desenvolvemos o cncer. A pessoa compredisposio gentica j nasce no quin-to degrau dessa escada. Ela j est al-guns passos adiante e, portanto, deveredobrar os cuidados.
APM E qual o procedimento a partirdo momento que a pessoa sabe que tema predisposio?
Rossi Ela deve fazer um exame anu-al para monitorar a doena e comearisso cedo, a partir dos 25 anos. A partirdos 50 anos, todos devem fazer esse exa-me, mesmo quem no tem a predispo-sio gentica.
APM O senhor mencionava hpouco sobre a alimentao. Ela toimportante assim na preveno do cncerde intestino?
Rossi Ela importantssima, fun-damental. O cigarro, o lcool e a ativi-dade fsica so importantes, mas aalimentao o determinante. Um dosprincipais agressores do intestino agordura saturada. E sabe onde ela maisencontrada? Na carne vermelha. umaverdadeira vil. Eu brinco que nas em-balagens de carne do supermercado de-veriam vir imagens de pessoas doentes,assim como acontece com o cigarro.Outro agressor o alimento processa-do: salsicha, presunto, mortadela, pa-ts enlatados. Aumentam em 40 ou 50vezes a chance de desenvolver cncerde intestino. Sempre ouo pessoas di-zendo: ah, mas conheci um velhinhoque comia de tudo, bebia, fumava e vi-veu at os 90 anos. Pois se ele no ti-vesse feito tudo isso viveria at os 120,porque tinha condio gentica favor-vel. Em resumo, no se deve subesti-mar a importncia da alimentaosaudvel para a preveno da doena.
APM Alm de evitar a carne, o quemais possvel fazer pela alimentao?
Rossi Pode abusar de gros, casta-nhas, cereais. Comer alimentos frescos,frutas, legumes. O Brasil um pas privi-legiado, porque tem produtos frescos oano todo. Nosso clima proporciona isso,ao contrrio dos pases europeus, que
sofrem com o frio rigoroso. s ir fei-ra, est tudo l, bonito e colorido. Se pos-svel, substituir a carne vermelha pelopeixe, que no tem gordura saturada. Noprecisa deixar de comer carne vermelha,mas faa isso apenas uma vez por sema-na. Porque j est comprovado pela Ci-ncia o quanto ela faz mal ao nossoorganismo.
APM Quais os prximos passos dapesquisa?
Rossi Acabamos de conseguir aaprovao de um apoio financeiro daFapesp (Fundao de Amparo Pes-quisa do Estado de So Paulo) paraampliar essa descoberta, incluindo ou-tros aspectos. Um deles, que nunca foiestudado no Brasil, a abordagem psi-colgica da doena. Sabemos como,ainda hoje, o cncer um tabu na nos-sa sociedade. Temos psiclogos e psi-quiatras no Hospital do Cncer paradar esse suporte. Estou orientandouma pesquisa de doutorado que estestudando justamente isso, porquequanto maior for a resistncia psico-lgica doena menor a chance da pes-soa se submeter a exames preventivos.Com estes recursos financeiros pode-remos abordar os mais diferentes as-pectos dentro deste tema, vamosverticalizar a pesquisa, aprofund-la.
APM O Brasil tem avanado comopromotor de pesquisas cientficas?
Rossi Ainda estamos longe do ide-al, mas temos avanado. Existem ilhasde pesquisa no Brasil, como o Hospitaldo Cncer. O Estado de So Paulo ain-da concentra a maior parte dessas pes-quisas, mas acredito que estamoscrescendo. Com este trabalho sobrecncer do intestino, o Brasil est en-trando no time titular de pesquisado-res. Estar nesse grupo significa queestamos compatveis com o resto domundo. uma grande conquista.
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Revi
sta
da A
PMAg
osto
de
2006
RADARMDICO
O Sistema de Atendimento Sade
(Sinasa) e o Sindicato das Empresas
Sinasa e Sescon-SP firmam parceria
Foto
: Le
and
ro d
e G
odoi
de Servios Contbeis e das Empresas
de Assessoramento, Percias, Informa-
es e Pesquisas no Estado de So Pau-
lo (Sescon-SP) firmaram uma parceria
que poder beneficiar um universo de
mais de 50 mil pessoas. O acordo, fir-
mado no dia 5 de agosto, vem com o
objetivo de fornecer atendimento em
sade para funcionrios e colaboradores
de mais de 4 mil empresas filiadas ao
sindicato. Na ocasio, estiveram pre-
sentes o diretor de defesa profissional
Diretores assinam parceria
Saiba mais:www.sinasa.com.br
A Associao Paulista de Medi-cina (APM), em parceria com aAssociao Brasileira de Brin-quedotecas, abre, at o dia 20 desetembro, inscries para o cursode formao de brinquedista hos-pitalar. O eve