2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

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Índice

Cap 1. INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SOLOS....................................................................11 Introdução...............................................................................................................................................11 Objetivo do livro ....................................................................................................................................11 Origem e formação dos solos .................................................................................................................12 Caracterização dos solos.........................................................................................................................17 Granulometria.........................................................................................................................................17 Índices físicos .........................................................................................................................................19 Exemplo 1.1 ...........................................................................................................................................22 Exemplo 1.2 ...........................................................................................................................................22 Densidade relativa das areias..................................................................................................................23 Limites de Atterberg...............................................................................................................................24 Atividade das argilas ..............................................................................................................................27 Índice de liquidez ...................................................................................................................................28 Exemplo 1.3 ...........................................................................................................................................28 Perfis geotécnicos...................................................................................................................................29 Exercícios ...............................................................................................................................................31

Cap 2. TENSÕES E DEFORMAÇÕES NOS SOLOS.......................................................................33 Introdução...............................................................................................................................................33 Conceito de tensão..................................................................................................................................33 Condições de equilíbrio..........................................................................................................................36 Tensões segundo um plano qualquer......................................................................................................36 Transformação de coordenadas ..............................................................................................................36 Tensões principais ..................................................................................................................................37 Tensões octaédricas ................................................................................................................................38 Espaço bidimensional.............................................................................................................................39 Condição assimétrica..............................................................................................................................40 Círculo de Mohr .....................................................................................................................................40 Pólo do círculo de Mohr .........................................................................................................................42 Exemplo 2.1 ...........................................................................................................................................43 Estado de deformação.............................................................................................................................43 Relações tensão-deformação ..................................................................................................................45 Exemplo 2.2 ...........................................................................................................................................48 Tensores esférico e desviatório...............................................................................................................48 Comportamento da tensão-deformação dos solos ..................................................................................50 Exercícios ...............................................................................................................................................51

Cap 3. TENSÕES INICIAIS NOS SOLOS........................................................................................53

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Introdução...............................................................................................................................................53 Tensões iniciais no terreno .....................................................................................................................53 Água no solo...........................................................................................................................................54 Pressões verticais totais ..........................................................................................................................56 Exemplo 3.1 ...........................................................................................................................................57 Princípio da pressão efetiva....................................................................................................................58 Exemplo 3.2 ...........................................................................................................................................61 Exemplo 3.3 ...........................................................................................................................................61 Pressões efetivas em condições hidrodinâmicas.....................................................................................63 Exemplo 3.4 ...........................................................................................................................................63 Tensão horizontal ...................................................................................................................................65 Exemplo 3.5 ...........................................................................................................................................66 Exemplo 3.6 ...........................................................................................................................................68 Exercícios ...............................................................................................................................................68

Cap 4. TENSÕES DEVIDO A SOBRECARGAS .............................................................................70 Introdução...............................................................................................................................................70 Carga concentrada: solução de Boussinesq ............................................................................................71 Exemplo 4.1 ...........................................................................................................................................73 Exemplo 4.2 ...........................................................................................................................................75 Carga distribuída em faixa infinita .........................................................................................................75 Carregamento circular distribuído ..........................................................................................................76 Exemplo 4.3 ...........................................................................................................................................76 Bulbo de pressões...................................................................................................................................77 Tensões sob a borda de uma sapata ........................................................................................................80 Exemplo 4.4 ...........................................................................................................................................81 Exemplo 4.5 ...........................................................................................................................................84 Rotação de tensões principais.................................................................................................................85 Exemplo 4.6 ...........................................................................................................................................86 Modelagem numérica .............................................................................................................................87 Trajetórias de tensão...............................................................................................................................88 Diagrama tipo MIT.................................................................................................................................89 Exemplo 4.7 ...........................................................................................................................................92 Exemplo 4.8 ...........................................................................................................................................93 Trajetória de tensões totais e efetivas .....................................................................................................94 Exemplo 4.9 ...........................................................................................................................................94 Diagrama tipo Cambridge ......................................................................................................................95 Exercícios ...............................................................................................................................................96

Cap 5. HIDRÁULICA DE SOLOS ....................................................................................................98

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Introdução...............................................................................................................................................98 Regime de escoamento nos solos ...........................................................................................................98 Lei de Darcy .........................................................................................................................................100 Determinação da permeabilidade .........................................................................................................100 Exemplo 5.1 .........................................................................................................................................102 Exemplo 5.2 .........................................................................................................................................103 Valores de permeabilidade ...................................................................................................................103 Potenciais .............................................................................................................................................105 Carga hidráulica ...................................................................................................................................106 Exemplo 5.3 .........................................................................................................................................107 Exemplo 5.4 .........................................................................................................................................107 Exemplo 5.5 .........................................................................................................................................108 Exemplo 5.6 .........................................................................................................................................109 Exemplo 5.7 .........................................................................................................................................110 Força de percolação..............................................................................................................................110 Liquefação............................................................................................................................................113 Definição alternativa para o gradiente hidráulico.................................................................................114 Equação diferencial do fluxo................................................................................................................115 Solução analítica...................................................................................................................................116 Solução numérica .................................................................................................................................117 Analogia elétrica...................................................................................................................................118 Modelo físico........................................................................................................................................118 Solução gráfica .....................................................................................................................................119 Rede de fluxo........................................................................................................................................119 Linhas de fluxo.....................................................................................................................................119 Linhas eqüipotenciais ...........................................................................................................................120 Elementos da rede ................................................................................................................................120 Exemplo 5.8 .........................................................................................................................................121 Potenciais ou cargas .............................................................................................................................121 Exemplo 5.9 .........................................................................................................................................122 Gradientes hidráulicos ..........................................................................................................................122 Exemplo 5.10........................................................................................................................................122 Fluxo bidimensional .............................................................................................................................123 Exemplo 5.11........................................................................................................................................123 Exemplo 5.12........................................................................................................................................126 Exemplo 5.13........................................................................................................................................128 Exercícios .............................................................................................................................................130

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Cap 6. COMPRESSIBILIDADE E RECALQUES ..........................................................................135 Introdução.............................................................................................................................................135 Ensaio oedométrico ..............................................................................................................................135 Comportamento de areias .....................................................................................................................138 Comportamento de argilas....................................................................................................................140 História de tensões................................................................................................................................144 Causas de pré-adensamento..................................................................................................................146 Parâmetros de compressibilidade .........................................................................................................148 Exemplo 6.1 .........................................................................................................................................148 Relação entre parâmetros de compressibilidade...................................................................................152 Cálculo de recalques.............................................................................................................................154 Exemplo 6.2 .........................................................................................................................................156 Exemplo 6.3 .........................................................................................................................................158 Correlações entre parâmetros de compressibilidade.............................................................................159 Exemplo 6.4 .........................................................................................................................................162 Valor de Ko de ensaios oedométricos ...................................................................................................163 Diagrama s’:t:e no ensaio oedométrico ................................................................................................165 Equações das retas de compressão oedométrica e isotrópica ...............................................................167 Exemplo 6.5 .........................................................................................................................................168 Solos colapsíveis por saturação ............................................................................................................170 Solos expansivos ..................................................................................................................................173 Exercícios .............................................................................................................................................174

Cap 7. ADENSAMENTO ................................................................................................................176 Introdução.............................................................................................................................................176 Analogia do sistema água-mola de Terzaghi........................................................................................176 Teoria do adensamento unidimensional de Terzaghi ...........................................................................178 Solução exata da equação diferencial unidimensional de adensamento ...............................................183 Grau de adensamento localizado ..........................................................................................................184 Exemplo 7.1 .........................................................................................................................................184 Exemplo 7.2 .........................................................................................................................................186 Grau de adensamento médio ................................................................................................................187 Exemplo 7.3 .........................................................................................................................................189 Exemplo 7.4 .........................................................................................................................................190 Exemplo 7.5 .........................................................................................................................................190 Soluções da equação diferencial do adensamento para distribuições iniciais de poropressões variando

linearmente com a profundidade ..........................................................................................................191 Tipos de recalque quanto à dissipação de poropressões .......................................................................192 Determinação de cv a partir de ensaios oedométricos...........................................................................194

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Método de Casagrande ou log t ............................................................................................................194 Método de Taylor ou √t ........................................................................................................................196 Discussão dos métodos.........................................................................................................................198 Correlação entre cv e índices físicos .....................................................................................................200 Exemplo 7.6 .........................................................................................................................................201 Determinação de cv a partir de ensaios in situ ......................................................................................202 Piezocone .............................................................................................................................................202 Método de Asaoka................................................................................................................................209 Exemplo 7.7 .........................................................................................................................................210 Método combinado...............................................................................................................................213 Breve comparação entre os métodos ....................................................................................................215 Exercícios .............................................................................................................................................215

Cap 8. ENSAIOS PARA O ESTUDO DE TENSÃO-DEFORMAÇÃO..........................................220 Introdução.............................................................................................................................................220 Tipos de ensaio.....................................................................................................................................220 Compressão isotrópica..........................................................................................................................220 Compressão oedométrica......................................................................................................................222 Compressão triaxial ..............................................................................................................................222 Cisalhamento direto..............................................................................................................................222 Cisalhamento simples...........................................................................................................................223 Cisalhamento torcional.........................................................................................................................224 Outros tipos de ensaio ..........................................................................................................................224 Equipamentos e técnicas do ensaio de cisalhamento direto..................................................................224 Equipamentos e técnicas do ensaio triaxial ..........................................................................................227 Classificação dos ensaios quanto à drenagem ......................................................................................230 Classificação dos ensaios quanto à trajetória de tensões de consolidação............................................231 Classificação dos ensaios quanto à trajetória de tensões no cisalhamento ...........................................232 Exercícios .............................................................................................................................................232

Cap 9. COMPORTAMENTO DAS AREIAS ..................................................................................233 Introdução.............................................................................................................................................233 Envoltória de resistência de Mohr-Coulomb........................................................................................233 Inclinação do plano de ruptura .............................................................................................................235 Comparação entre τff e a tensão cisalhante máxima τmax ......................................................................236 Envoltória transformada .......................................................................................................................236 Exemplo 9.1 .........................................................................................................................................237 Exemplo 9.2 .........................................................................................................................................239 Determinação da envoltória de resistência no cisalhamento direto ......................................................240

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Exemplo 9.3 .........................................................................................................................................240 Fatores que influenciam σ’ das areias ..................................................................................................242 Comportamento sob baixos níveis de tensões ......................................................................................244 Estado crítico........................................................................................................................................245 Analogia do dente de serra ...................................................................................................................246 Exemplo 9.4 .........................................................................................................................................248 Influência do nível de tensões ..............................................................................................................250 Não-linearidade da envoltória de resistência ........................................................................................252 Linha de estado crítico..........................................................................................................................254 Previsão de φ’ em função da compacidade e do nível de tensões.........................................................256 Exemplo 9.5 .........................................................................................................................................257 Valores típicos de φ’.............................................................................................................................257 Areias calcárias.....................................................................................................................................258 Exercícios .............................................................................................................................................259

Cap 10. COMPORTAMENTO DRENADO DE ARGILAS..............................................................262 Introdução.............................................................................................................................................262 Fases de ensaio .....................................................................................................................................262 Comportamento de argila normalmente adensada................................................................................263 Estado crítico........................................................................................................................................263 Envoltória de Mohr-Coulomb ..............................................................................................................264 LIC e LEC ............................................................................................................................................265 Comportamento normalizado ...............................................................................................................266 Exemplo 10.1........................................................................................................................................267 Correlações para determinação de φ’....................................................................................................269 Exemplo 10.2........................................................................................................................................270 Adensamento e sobreadensamento isotrópicos.....................................................................................270 Comportamento de argila sobreadensada .............................................................................................271 Exemplo 10.3........................................................................................................................................275 Regiões no espaço s’:t:e .......................................................................................................................276 Aplicação da resistência drenada em análise de estabilidade ...............................................................277 Comparação entre o comportamento drenado de argilas e areias.........................................................278 Exercícios .............................................................................................................................................279

Cap 11. COMPORTAMENTO NÃO-DRENADO DE ARGILAS....................................................281 Introdução.............................................................................................................................................281 Fases de ensaio .....................................................................................................................................281 Resultados de ensaio triaxial em argila normalmente adensada...........................................................282 Resultados de ensaio triaxial em argila pré-adensada ..........................................................................283 Estado crítico........................................................................................................................................283

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Trajetórias de tensão em ensaios CIU ..................................................................................................284 Influência da tendência à dilatação nas poropressões...........................................................................285 Equações de poropressão......................................................................................................................286 Método elástico ....................................................................................................................................286 Hipótese de Terzaghi............................................................................................................................287 Método de Skempton............................................................................................................................288 Exemplo 11.1........................................................................................................................................288 Método de Henkel ................................................................................................................................289 Exemplo 11.2........................................................................................................................................290 Exemplo 11.3........................................................................................................................................290 Valores dos parâmetros de poropressão ...............................................................................................291 Comportamento de argilas NA no diagrama s’:t:e................................................................................293 Comportamento de argila PA no diagrama s’:t:e .................................................................................294 Comportamento de argilas com mesmo índice de vazios.....................................................................296 Superfície limite de estado SLE............................................................................................................297 Ensaios drenados e não-drenados e a envoltória de estado crítico .......................................................298 Aplicação do modelo de estado crítico à argila do Rio de Janeiro .......................................................298 Exemplo 11.4........................................................................................................................................301 Exemplo 11.5........................................................................................................................................303 Exemplo 11.6........................................................................................................................................304 Exercícios .............................................................................................................................................305

Cap 12. MÉTODO φu E ENSAIOS UU.............................................................................................308 Introdução.............................................................................................................................................308 Método φ = 0 ........................................................................................................................................308 Determinação de cu em ensaios triaxiais ..............................................................................................310 Exemplo 12.1........................................................................................................................................310 Resistência não-drenada de laboratório e mobilizada in situ................................................................312 Perfil de cu ............................................................................................................................................313 Influência da perturbação da amostra ...................................................................................................315 Ensaio de compressão não confinada U ...............................................................................................316 Ensaio de palheta in situ EP ou VST....................................................................................................316 Sensibilidade ........................................................................................................................................320 Correção dos valores de cu fornecidos pelo VST ..................................................................................321 Exemplo 12.2........................................................................................................................................322 Determinação empírica de cur ...............................................................................................................323 Relação entre cu e pressões efetivas e OCR ..........................................................................................324 Exemplo 12.3........................................................................................................................................325

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Aplicação da análise tipo UU e do método φ = 0 .................................................................................326 Exercícios .............................................................................................................................................329

Cap 13. APLICAÇÕES A PROBLEMAS PRÁTICOS .....................................................................331 Introdução.............................................................................................................................................331 Classificação das trajetórias de tensão..................................................................................................331 Generalização do modelo de estado crítico ..........................................................................................334 Análise de problemas práticos..............................................................................................................336 Muros de arrimo ...................................................................................................................................336 Aterro sobre solo mole construído em uma etapa.................................................................................337 Aterro sobre solo mole construído em duas etapas...............................................................................338 Escavação em solo mole.......................................................................................................................339 Estaca em argila NA .............................................................................................................................340 Estaca em argila PA..............................................................................................................................342 Resistência ao cisalhamento residual ...................................................................................................342 Exercícios .............................................................................................................................................344

Cap 14. CAM-CLAY..........................................................................................................................347 Introdução.............................................................................................................................................347 Modelo elastoplástico...........................................................................................................................347 Curva de tensão-deformação e escoamento..........................................................................................349 Diagrama p’: q:e ...................................................................................................................................350 Equação da superfície de escoamento ..................................................................................................352 Deformações.........................................................................................................................................354 Simulação automática de ensaios triaxiais ...........................................................................................356 Entrada de dados ..................................................................................................................................357 Definição do ensaio ..............................................................................................................................357 Resultados ............................................................................................................................................358 Exercícios .............................................................................................................................................359 Observações..........................................................................................................................................373 Pressões ou tensões ..............................................................................................................................373 Relação entre tensões e deformações ...................................................................................................374 Deslocamento e deformação.................................................................................................................374 Parâmetros de tensão-deformação-resistência ......................................................................................374 Parâmetros de consolidação .................................................................................................................375 Índices físicos .......................................................................................................................................375 Miscelânea............................................................................................................................................376 Ângulos ................................................................................................................................................378 Tipos de ensaios ...................................................................................................................................378 Ensaios in situ.......................................................................................................................................381

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Ensaios de laboratório ..........................................................................................................................382 Capítulo 1 .............................................................................................................................................383 Capítulo 2 .............................................................................................................................................383 Capítulo 4 .............................................................................................................................................383 Capítulo 5 .............................................................................................................................................383 Capítulo 6 .............................................................................................................................................384 Capítulo 7 .............................................................................................................................................384 Capítulo 9 .............................................................................................................................................384 Capítulo 10 ...........................................................................................................................................384 Capítulo 11 ...........................................................................................................................................384 Capítulo 12 ...........................................................................................................................................385 Capítulo 13 ...........................................................................................................................................385

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PREFÁCIO

Este livro foi resultado da minhas aulas na Universidade Federal do Rio

de Janeiro, onde lecionei por 25 anos. Foi publicado pela LTC Editores

em 1993, revisado dois anos depois e agora publicado através da

internet.

O texto será atualizado aos poucos e divulgado através do site da

Terratek.

O autor

Abril 2007

[email protected]

www.terratek.com.br

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Cap 1. INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SOLOS

Introdução

A definição do que é solo depende em muitos casos de quem o utiliza. Os agrônomos, por exemplo, o

vêem como um material de fixação de raízes e um grande armazém de nutrientes e água para as plantas.

Para o geólogo de mineração, a capa de solo sobrejacente ao minério é simplesmente um material de

rejeito a ser escavado. Para o engenheiro civil, os solos são um aglomerado de partículas provenientes de

decomposição da rocha, que podem ser escavados com facilidade, sem o emprego de explosivos, e que

são utilizados como material de construção ou de suporte para estruturas.

Como material de construção e de fundação, os solos têm grande importância para o engenheiro civil. Nas

barragens de terra, nas fundações de estruturas, o solo – assim como o concreto e o aço – está sujeito a

esforços que tendem a comprimi-lo e a cisalhá-lo, provocando deformações e podendo, eventualmente,

levá-lo à ruptura.

Objetivo do livro

O objetivo deste livro é apresentar, de forma simples, o modelo teórico de comportamento denominado

modelo de estado crítico, cuja finalidade é calcular as deformações de um elemento quando sujeito a um

certo estado de tensões. Esse modelo foi desenvolvido na Universidade de Cambridge, Inglaterra, no final

dos anos 60, tendo conquistado desde então muitos adeptos. O primeiro livro sobre o assunto foi

publicado por Schofield e Wroth em 1968. Seguiram-se o de Atkinson e Bransby (1978) e o de Bolton

(1979). Um livro em português foi publicado em Lisboa por Neves, em 1975, mas teve pouca divulgação

no Brasil. Certamente, a primeira publicação brasileira a respeito foi o artigo de Negro, datado de 1978.

Na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) o interesse pelo assunto surgiu somente nos anos 80

(Almeida, 1982; Almeida et al, 1987; Ortigão e Almeida, 1988), sendo que, após 1985, os cursos de

mestrado passaram a incluir os modelos de estado crítico. Face a sua importância, os modelos de

Cambridge foram introduzidos nos cursos de graduação a partir de 1986, com uma abordagem alternativa

– que finalmente resultou neste livro –, sem equações nem deduções teóricas, mas somente sob a forma

de tratamento gráfico.

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O capítulo 1 deste livro trata da origem e da formação dos solos, dos índices físicos, dos limites de

Atterberg e da granulometria, apresentados de maneira muito resumida. Para maiores detalhes, sugere-se

ao leitor consultar livros de geologia de engenharia e de mecânica dos solos, em particular os de Chiossi

(1975), Hunt (1984), Lambe e Whitman (1979) e Vargas (1977), e o de comportamento dos solos de

Mitchell (1976).

Os dois capítulos seguintes abrangem as tensões totais e efetivas em um elemento, apresentando uma

revisão da mecânica dos contínuos. No capítulo 4 é estudado o efeito de sobrecargas e no 5, o movimento

da água nos solos – a hidráulica de solos. A compressibilidade e os recalques dos terrenos são tratados

nos capítulos 6 e 7. O capítulo 8 é uma introdução ao comportamento em ensaios de laboratório, sendo

estes ensaios estudados nos capítulos 9 a 12. Algumas aplicações práticas são estudadas no capítulo 13, o

que, na UFRJ, permite uma ligação com a disciplina de Mecânica dos Solos II.

Finalmente, no capítulo 14, o cálculo de deformações a partir dos modelos denominados Cam-Clay é

introduzido de forma resumida e sem deduções teóricas. Visa-se com isto demonstrar as potencialidades

do método e estimular os alunos a empregá-lo através de um programa para microcomputador, que é

distribuído gratuitamente a todos os interessados.

Origem e formação dos solos

Os solos são provenientes da deterioração da rocha através de um processo denominado intemperismo, ou

seja, a ação do tempo. As várias formas de intemperismo podem ser classificadas em dois grandes grupos:

intemperismo químico e intemperismo mecânico. O primeiro está relacionado com os vários processos

químicos que alteram, solubilizam e depositam os minerais de rocha, transformando-a em solo. Esse tipo

é mais freqüente nos climas quentes e úmidos e, portanto, muito comum no Brasil. O segundo é

proveniente da ação mecânica desagregadora de transporte da água, do vento e da variação de

temperatura. Muitas vezes ocorre a ação conjunta de vários agentes do intemperismo.

Os solos que permanecem próximos à rocha que lhes deu origem são denominados residuais; os demais

são sedimentares ou transportados. A Fig. 1.1 apresente um perfil típico de solo residual.

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Solo residual jovemou saprolito

Solo residual maduro

Rocha fraturada

Rocha sã

Fig. 1.1. Perfil geotécnico típico de solo residual de gneiss do Rio de Janeiro

O agente transportador pode ser a água ou o vento, este último dando origem aos depósitos denominados

loess. As dunas são também um exemplo da ação do vento. Quando o agente transportador é a água, os

solos sedimentares podem ser classificados como de origem marinha, fluvial ou deltaico.

A rocha que mantém as características originais, ou seja, a rocha sã, é a que ocorre em profundidade.

Quanto mais próximo da superfície do terreno, maior o efeito do intemperismo. Sobre a rocha sã

encontra-se a rocha alterada, em geral muito fraturada e permitindo grande fluxo de água através de

descontinuidades. A rocha alterada é sobreposta pelo solo residual jovem, ou saprolito (sapros, em grego,

significa deteriorado, podre), que é um material arenoso. O material mais intemperizado ocorre acima do

saprolito e é denominado solo residual maduro, o qual contém maior percentagem de argila.

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Fig. 1.2. Exemplo de boletim de sondagem em solo residual e em rocha ( filito), Paracatu, Minas Gerais

A Fig. 1.2 apresenta um exemplo de boletim de sondagem em solo residual penetrando até a rocha.

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A Fig. 1.3 mostra um perfil típico de solo sedimentar, muito comum no litoral brasileiro devido à

sedimentação do transporte fluvial no ambiente marinho das baías e restingas, como é o caso, por

exemplo, da argila do Rio de Janeiro, depositada em toda a periferia da baía de Guanabara, e das argilas

de Santos, de Florianópolis e de São Luís. A camada superficial de argila mole é muito fraca e a

construção sobre este tipo de terreno é sempre problemática, requerendo a realização de estudos especiais

por engenheiro geotécnico experiente. Um boletim de sondagem típico é apresentado na Fig. 1.4.

Fig. 1.3. Perfil geotécnico tipico de argila mole

A Fig. 1.5 apresenta um tipo de solo denominado coluvial ou talus, muito comum ao pé de encostas

naturais de granito e gnaisse, caso típico dos morros do Rio de Janeiro e de toda a serra do Mar. Devido

ao deslizamento e ao transporte pela água de massas de solo, um material muito fofo e em geral contendo

muitos blocos soltos é depositado próximo ao pé das encostas. Este depósito é sempre a grande causa de

acidentes durante chuvas intensas, que o saturam e elevam o nível d’água do terreno, levando-o ao

deslizamento.

Page 18: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

16

1

3

3

2

3

4

1

0

1

2

0

1

3

0

0

4

8

19

24

33

Sondagem ABNT NBR 6484

Descrição

Rev

est

NA Camadas Espessura (m)

N

Job site: Porto Novo, Caju, Rio de Janeiro

Prof (m)

ESC.: 1:10028-01-81

Furo F3 Elev. (m):2.6 m

Silte arenoso compacto

Data início

10,00

5,00

15,00

20,00

10 F

Sondador

Aterro arenoso

16,55

Aterro arenoso (material dragado)

Data finalF - Série final

Massa 65 kgAlt queda 75 cm

I - Série inicial

Desenho:

Sheet

TC

TH

Amostrador SPT

TC - Trado conchaTH - Trado helicoidalCA - Lavagem

CA

20 30 40 50

RevestimentoDiam. 63 mm

7.75

Eng

Argila mole

Fig. 1.4. Exemplo de boletim de sondagem em argila mole do Rio de Janeiro

Page 19: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

17

Fig. 1.5. Solo coluvial ou talus

Muitas vezes, a presença de talus pode ser identificada pelo tipo de vegetação. As bananeiras têm uma

predileção especial por esses terrenos, devido à baixa compacidade (muito fofos) e à elevada umidade.

Caracterização dos solos

Algumas propriedades dos solos são especialmente úteis para sua caracterização, entre elas a

granulometria, os índices físicos e os limites de Atterberg, descritos nos itens seguintes.

Granulometria

A análise da distribuição das dimensões dos grãos, denominada análise granulométrica, objetiva

determinar uma curva granulométrica. Para a realização dessa análise, uma amostra de material granular é

submetida a peneiramento em uma série-padrão de peneiras, cuja abertura de mahas tem a seqüência

apresentada no quadro 1.1.

Em seguida, determina-se a massa de material retido em cada peneira e os resultados são plotados em um

gráfico (Fig. 1.6) , no qual o eixo das abscissas corresponde à abertura de malha, em escala logarítmica, e

as ordenadas, à percentagem do material que passa. Esse ensaio tem procedimento normatizado pela

ABNT NBR 7181. Os solos muito finos, com granulometria inferior a 75μm, são tratados de forma

diferenciada através do ensaio de sedimentação, cujos detalhes podem ser vistos em Vargas (1977) ou na

norma ABNT NBR 7181.

Page 20: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

18

Abertura

da malha

4,8 mm 2,0 mm 600 μm 420 μm 250 μm 75 μm

Quadro 1-1. Série de peneiras (ABNT NBR 5734)

Granulometria (μm)

1 10 100 1000 10000

% P

assa

ndo

0

20

40

60

80

100

2 60 600

Silte AreiaPedregulho

Argila

F M G F M G

Fino Médio Grosso

Argilamole

Silte

Areia

Pedregulho

Fig. 1.6. Curvas granulométricas para vários solos

A interpretação dos resultados é feita mediante comparação com escalas granulométricas padrão, duas das

quais incluídas na Fig. 1.6. A primeira é a escala internacional, recomendada pela ISSMFE. É a mais

simples, fácil de ser memorizada – porque se baseia nos algarismos 2 e 6, conforme indicado no quadro

1.2 – e, portanto, a mais lógica. Essa escala pretende unificar os diversos sistemas de classificação, tendo

sido proposta pela primeira vez em um congresso de ciência dos solos, em 1927 (Means e Parcher, 1965),

e logo adotada em todos os países desenvolvidos, exceto nos Estados Unidos.

Page 21: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

19

Quadro 1-2. Escala granulométrica internacional recomendada pela ISSMFE

Descrição Diâmetro das

partículas

Argila < 2 μ m

Silte 2 a 60 μm

Areia fina 60 a 200 μm

Areia média 200 a 600 μm

Areia grossa 600 a 2 mm

Pedregulhos > 2 mm

Nos Estados Unidos, a escala mais utilizada é a segunda, a Unified Soil Classification System (USCS).

Os materiais que apresentam uma curva granulométrica suave, como a indicada na curva à direita da Fig.

1.6 para os pedregulhos (solo residual), são denominados bem graduados; os demais, como a areia das

dunas de Santa Catarina, mal graduados. As areias de dunas apresentam uma granulometria quase

constante devido ao tipo de agente transportador, o vento. Os grãos de areia podem ser classificados de

acordo com a forma, que pode ser angular, subangular e arredondada (Fig. 1.7), sendo esta última

característica das areias de rios.

Índices físicos

A Fig. 1.8 mostra um elemento de solo contendo sólidos, água e ar. Os índices físicos e as equações para

sua definição constam do quadro 1.3. Algumas relações entre esses índices são apresentadas no quadro

1.4.

Fig. 1.7. Formas de grãos de areia

Angular Subangular Arredondada

Page 22: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

20

Ar

Water

SolidsVs

Vo

Vw

Vv

V

sW

wW

W

Água

Sólidos

Fig. 1.8. Pesos e volumes em um elemento de solo não saturado

V = volume total

Vv = volume de vazios

Va = volume de ar

Vw = volume de água

Vs = volume de sólidos

P = peso total

Pw = peso da água

Ps = peso de sólidos

γw = peso específico da água, considerado igual a 10 kN/m³

O índice de vazios é usado para representar o estado em que se encontra o material. As deformações

volumétricas, como demonstrado no capítulo 6, são proporcionais a uma variação de índice de vazios Δe.

Quanto maior o índice de vazios, maior a deformação volumétrica quando o material é comprimido.

Page 23: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

21

Quadro 1-3. Índices físicos

Nome Símbolo Equação

Índice de vazios e e = Vv / Vs

Porosidade n n = Vv / V

Grau de saturação s s = Vw / Vv

Umidade w w = Ps / Ps

Peso específico aparente úmido γ γ = P / V

Peso específico aparente saturado γsat Idem, para S = 100%

Peso específico aparente submerso γsub ou γ’ γsub = γsat – γw

Peso específico aparente seco γd γd = Ps / V

Densidade dos grãos Gs Gs = γs / γw

Quadro 1-4. Relações entre índices físicos

Equações

een+

=1

n

ne−

=1

SewGs =

ws

ewG γγ

++

=1

)1(

wd +=

1γγ w

ssat e

eG γγ++

=1

)(

O grau de saturação é igual a 100% nos materiais saturados, isto é, cujos vazios estão totalmente

preenchidos pela água. A umidade tem pouca importância nas areias, ao contrário do que ocorre nas

argilas, e permite chegar-se a uma série de conclusões quanto à suscetibilidade à variação volumétrica por

expulsão da água dos vazios. É determinada em laboratório a partir da relação entre o peso de uma

amostra úmida e após a secagem em estufa a 105ºC.

O peso específico aparente úmido permite calcular as pressões na massa de solo, como é abordado no

capítulo 3. As argilas apresentam valores da ordem de 13 a 17 kN/m³, enquanto para as areias obtém-se γ

entre 17 e 20 kN/m³. O peso específico aparente submerso permite descontar o empuxo hidrostático

específico, ou seja, γw. O valor de γsub resultante é empregado para o cálculo de pressões intergranulares,

ou efetivas.

A densidade dos grãos refere-se à relação entre o peso específico do material seco e o da água, sendo

Page 24: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

22

portanto uma grandeza adimensional. O valor obtido para Gs está freqüentemente na faixa de 2,7 ± 0,1,

sendo igual ao dos minerais constituintes dos grãos. Para o quartzo, Gs = 2,65. Alguns minerais, como a

hematita e a magnetita, encontradas nas regiões de mineração de ferro de Minas Gerais, apresentam Gs

muito elevado, da ordem de 5,1. Os solos residuais dessas regiões podem apresentar, conseqüentemente,

pesos específicos muito elevados.

Exemplo 1.1

Uma amostra de argila saturada com volume de 560 cm³ apresentou massa de 850 g. Após secagem total

durante 24 h em estufa a 105ºC, a massa resultante foi de 403 g. Estimando-se Gs = 2,7, determinar: (a) w,

(b) e e (c) γ.

Solução

(a) %11111,1403

403850==

−===

s

w

s

w

MM

PPw

(b) A partir da equação Gsw = Se, obtém-se:

31

11,17,2=

×==

SwGe s

(c) 333

33

kN/m9,14)01,0(cm5601081,910g850

×××==

−−

VPγ

Exemplo 1.2

Para uma amostra de areia argilosa de origem aluvial foram obtidos Gs = 2,72, e = 0,75 e S = 50%.

Determinar: (a) w, (b) γ, (c) γsat, (d) γsub e (e) γd.

Solução

(a) A partir da equação Gsw = Se, obtém-se:

%1472,2

75,050=

×==

sGSew

Page 25: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

23

(b) A partir das equações do quadro 1.4, tem-se:

3kN/m7,171075,01

)14,01(72,21

)1(=

++

=++

= ws

ewG γγ

(c) 3kN/m8,191075,01

75,072,21

)(=

=++

= ws

sat eeG γγ

(d) 3kN/m8,9108,19 =−=−= wsatsub γγγ

(e) 3kN/m5,15100/1417,17

1=

+=

+=

wdγγ

Densidade relativa das areias

A densidade relativa das areias Dr é definida pelas equações:

minmax

maxr ee

eeD

−−

=

Eq. 1-1

onde:

emax = índice de vazios máximo no estado mais fofo;

emin = índice de vazios mínimo possível, no estado mais compacto;

e = índice de vazios atual.

O valor de Dr é expresso em percentagem, o que é uma indicação da compacidade da areia. As areias com

Dr inferior a 30% são consideradas fofas, com Dr entre 30 e 70%, medianamente compactas, e com Dr

maior que 70%, compactas.

O parâmetro Dr tem grande importância prática em obras civis. No controle de construção de aterros

Page 26: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

24

especifica-se, em geral, que o material acabado tenha Dr ≥ 70% para que se obtenha areia compacta.

Limites de Atterberg

Por volta de 1911, o agrônomo sueco Atterberg (Über dir Physikalische Bodenuntersuchung und über die

Plasticitat der Tone, Internationale Mitteilungen Bodenkunde, vol 1, pp 10-43) dividiu os valores de

umidade que uma argila pode apresentar em limites correspondentes ao estado aparente do material (Fig.

1.9).

Fig. 1.9. Relação entre volume e umidade

Os limites definidos foram os de contração (LC), plasticidade (LP) e liquidez (LL), correspondentes à

transição entre os estados sólido, em que não há mais variação de volume, plástico, em que o volume

varia com a umidade, e líquido.

Atterberg sugeriu que a diferença, em percentagem, entre os limites de plasticidade e liquidez,

denominada índice de plasticidade (IP), informa quanto à amplitude da faixa de plasticidade, e que este

índice poderia ser empregado para classificar os solos. A equação correspondente é:

LPLLIP −=

Eq. 1-2

O assunto foi abordado mais tarde por Casagrande, que projetou um equipamento para a realização do

Umidade (%)

Volume

Estadosólido

Estadosemi-líquido

Estado plástico

Estadolíquido

Page 27: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

25

ensaio para a determinação do limite de liquidez (Fig. 1.10), o qual é empregado em todo o mundo e

padronizado no Brasil pela ABNT NBR 6459.

Fig. 1.10. Aparelho de Casagrande para a determinação do limite de liquidez

O ensaio consta inicialmente do destorroamento e da homogeneização de uma amostra de solo,

determinando-se sua umidade w. Em seguida, a amostra é colocada no recipiente do aparelho (Fig. 1.11),

fazendo-se então um sulco longitudinal com o auxílio do cinzel.

Cinzel

Mecanismo de acionamentoRecipiente

que contémo solo

0 50 mm

Page 28: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

26

Fig. 1.11. Determinação do limite de liquidez

O recipiente contendo a amostra é deixado cair de uma altura padrão, batendo sobre a base do aparelho, e

o número de golpes necessário para provocar o fechamento desse sulco é registrado. Adicionando água à

amostra, vai-se repetindo tal procedimento, com várias umidades. Os resultados são plotados conforme

indicado na Fig. 1.12, determinando-se o valor do LL correspondentes a 25 golpes.

Cinzel

Recipientedoaparelho

Solo

Base

Page 29: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

27

Fig. 1.12. Gráfico do número de golpes × umidade para determinação do limite de liquidez

O ensaio de limite de plasticidade, padronizado pela ABNT NBR 7180, consta da determinação da

umidade correspondente ao início do fraturamento de uma amostra cilíndrica de 3 mm de diâmetro (Fig.

1.13). A amostra é rolada com a mão, em um movimento de vaivém, determinando-se a umidade na qual

ela começa a se partir (Fig. 1.13b).

Atividade das argilas

A atividade coloidal das argilas foi estudada por Skempton (1953), que definiu a atividade A’c:

argila FraçãoIPAc =

Eq. 1-3

A fração argila é considerada igual à percentagem de material com granulometria inferior a 2 μm. Esse

parâmetro serve como indicador do potencial de variação de volume da argila, de acordo com o quadro

1.5.

10 25 40 7070

80

100

Nº de Golpes

Umidade(%)

Page 30: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

28

(a) (b)

Glass tablet

Soil

Placa de vidro

Fig. 1.13. Determinação do limite de plasticidade

Quadro 1.5. Atividade das argilas (apud Skempton, 1953)

Ac Atividade

< 0,75 Inativa

0,75 – 1,25 Normal

> 1,25 Ativa

Índice de liquidez

O índice de liquidez IL, utilizado para classificar as argilas, é definido pela equação:

IPLPwIL −

=

Eq. 1-4

onde w é a umidade natural da amostra.

O índice de liquidez é igual a 1, para argilas em que a umidade é igual ao limite de liquidez, e maior que

1, quando w > LL.

Exemplo 1.3

Para uma amostra de argila do Rio de Janeiro (Error! Reference source not found.) obtiveram-se os

seguintes valores médios: LL = 120%, LP = 40% e w = 150%. Sabendo-se que a percentagem de argila,

isto é, de material menor que 2 μm, é de 55%, obter: (a) o índice de plasticidade, (b) a atividade e (c) o

índice de liquidez.

Page 31: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

29

Solução

(a) Índice de plasticidade

IP = LL – LP = 120 – 40 = 80%

(b) Atividade

Ac = IP (% < 2 μm) = 80 / 55 = 1,45

(c) Índice de liquidez

IL = (w – LP) / IP = (150 – 40) / 80 = 1,4

Perfis geotécnicos

Os índices físicos e os demais parâmetros estudados neste capítulo podem ser plotados versus a

profundidade, servindo para caracterizar e identificar as camadas de solo. Alguns exemplos são dados a

seguir, para solos de diferentes origens geológicas.

A Fig. 1.14Error! Reference source not found. sumariza algumas propriedades da argila de origem

marinha do Rio de Janeiro, encontrada em toda a periferia da baía de Guanabara: os limites de Atterberg,

o índice de vazios in situ, o peso específico aparente úmido e a resistência não-drenada cu (parâmetro

estudado no capítulo 12). Esse material apresenta IP ≅ 40% e LL ≅ 120%; conseqüentemente, IP ≅ 80%.

A umidade é maior que LL, concluindo-se que IL é superior a 1. O índice de vazios in situ e0 é da ordem

de 4 no topo da camada, diminuindo para 3 no fundo; o peso específico γ varia entre 13 e 14 kN/m³.

e0

2 3 4 5 60

2

4

6

8

10

12

cu (kPa)

0 5 10 15 20 250

2

4

6

8

10

12

AmolgadaIndeformada

γ (kN/m3)

11 12 13 14 150

2

4

6

8

10

12

(%)

50 100 150

Pro

f (m

)

0

2

4

6

8

10

12

LPLLw

LP LL

w

Fig. 1.14. Propriedades geotécnicas da argila do Rio de Janeiro

Page 32: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

30

A Fig. 1.15 apresenta índices físicos da argila marinha da Baía de Sepetiba, RJ, de dois locais: Casa da

Moeda, construída na década de 70 e da obra da CSA Cia Siderúrgica do Atlântico, cujo ínicio de

execução ocorreu em 2007. Os dados indicam LP da ordem de 30 a 40%, LL da ordem 100 a 120% e a

umidade acima do LL. O peso específico γ é da ordem de 12 a 14 kN/m3 e o índice de vazios entre 1 e 3.

(%)

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180

Pro

f (m

)

0

2

4

6

8

10

γ (kN/m3)

10 12 14 16 18 200

2

4

6

8

10

Casa da MoedaCSA

e0

1 2 3 4 50

2

4

6

8

10

LP LL w

Fig. 1.15. Propriedades geotécnicas da argila da Baía de Sepetiba, RJ

A Error! Reference source not found. mostra as propriedades referentes a um depósito de argila mole

marinha de Sergipe, subjacente a uma camada de areia com 4 m de espessura. Os valores de LL são da

ordem de 80% e os de LP, de 40%; portanto, IP ≅ 40%. Esses valores são muito inferiores aos da argila

do Rio de Janeiro. Dados referentes ao peso específico e à umidade constam também da Error!

Reference source not found.. As propriedades cu (resistência não drenada) e qc (resistência de ponta do

ensaio de cone) são tratadas em outros capítulos deste livro.

Page 33: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

31

cu (kPa)σ'v (kPa)

0 50 100 150 0 10 20 30

(%)

0 20 40 60 80 100

Prof

(m

)

0

5

10

15

LPLL

w

σ'v0

σ'vm

Areia

Argila

Areia

Fig. 1.16. Propriedades geotécnicas de um depósito de argila de Sergipe

Exercícios

1.1. Uma amostra de solo saturado com volume de 300 cm³ apresentou, no estado úmido, massa de

423g. Após secagem completa em estufa a 105ºC, a massa da amostra foi de 320 g. Estimando-se

Gs = 2,65, determinar a umidade w, o índice de vazios e e os pesos específicos seco, saturado e

submerso.

1.2. Repetir o exercício 1.1 imaginando que a amostra seja de solo residual de hematita, oriunda da

região do quadrilátero ferrífero de Minas Gerais, cujo valor de Gs é muito alto, tomado igual a 5.

1.3. Um enrocamento construído com blocos de rocha granítica (Gs = 2,7) apresentou índice de vazios

e = 0,5. Estimar os pesos específicos seco e submerso do material.

1.4. Com os dados da Error! Reference source not found., plotar os gráficos de IL e IP versus

profundidade.

1.5. Sabendo-se que a argila do Rio de Janeiro apresenta 55% de argila, isto é, granulometria inferior a

2 μm, elaborar um diagrama de atividade Ac versus profundidade para esse material. Classificar os

resultados segundo Skempton.

1.6. Deseja-se executar um aterro arenoso com densidade relativa de 70%. Sabendo-se que emin = 0,565

e emax = 0,878, determinar qual deve ser o índice de vazios do material após a construção.

1.7. Para a camada de areia superior da Error! Reference source not found., determinar o peso

Page 34: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

32

específico seco e o índice de vazios, admitindo que Gs = 2,69.

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

33

Cap 2. TENSÕES E DEFORMAÇÕES NOS SOLOS

Introdução

Este capítulo apresenta uma revisão sobre a mecânica dos meios contínuos, que é tratada com mais ênfase

nas disciplinas de resistência dos materiais, sendo porém aqui abordada visando sua aplicação em

mecânica dos solos. Ao leitor interessado em mais detalhes, sugere-se consultar, por exemplo,

Timoshenko e Goodier (1951), Poulos e Davis (1974) ou Harr (1966).

Conceito de tensão

A Fig. 2.1 mostra um corpo qualquer, que se encontra em equilíbrio sob a ação de forças externas. Esse

corpo é seccionado por um plano A qualquer, que o divide em duas partes. A parte inferior também está

em equilíbrio sob a ação de forças externas, bem como de forças internas, que são as que têm ponto de

aplicação na seção transversal determinada pelo plano. Na área elementar dA dessa seção, cuja normal é

n, a força atuante elementar interna é dF e pode ser decomposta nos componentes dN, segundo a normal

n, e dT, contida na seção transversal do corpo. As tensões normal e cisalhante segundo o plano A são:

(a) tensão normal

dAdN

n 0dAlim

→=σ

(b) tensão cisalhante

dAdT

0dAlim

→=τ

Page 36: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

34

Fig. 2.1. (a) Condições de equilíbrio no meio contínuo sujeito a forças externas; (b) decomposição de

forças internas em uma área elementar dA

A força elementar transversal dT pode ser decomposta segundo dois eixos coordenados x e y, obtendo-se

os componentes dTx e dTy (Fig. 2.2).

Fig. 2.2. Decomposição da força elementar dT

Definem-se, então, as tensões cisalhantes τx e τy através das equações:

Page 37: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

35

dAdTx

x 0dAlim

→=τ

dAdTy

y 0dAlim

→=τ

O objetivo final desse estudo é conhecer o estado de tensão em qualquer ponto da massa de solo. Isto

implica, então, conhecer as tensões normal e cisalhante segundo qualquer plano que passa pelo ponto.

Entretanto, uma vez determinadas as tensões segundo três planos ortogonais quaisquer, é possível

resolver o problema, como mostrado adiante.

Considerando agora o mesmo ponto, porém seccionado por três planos ortogonais (Fig. 2.3) definidos por

um sistema de eixos cartesianos x, y e z, é possível definir as tensões normais segundo esses três planos

que passam pelo ponto mencionado: σx, σy e σz.

Fig. 2.3. (a) Três planos ortogonais; (b) decomposição das tensões normais e cisalhantes em três planos

ortogonais

A cada uma das tensões normais estão relacionadas duas tensões cisalhantes, perfazendo três tensões

normais e seis cisalhantes, nove componentes ao todo. Tais componentes, quando arranjados segundo a

matriz:

zzyzx

yzyyx

xzxyx

στττστττσ

σ =

formam o que se chama de tensor das tensões.

Page 38: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

36

Condições de equilíbrio

Considerando as equações de equilíbrio em torno de um ponto, é possível concluir que:

τxy = τyz τyz = τzy τzx = τxz

Conseqüentemente, os nove componentes do tensor das tensões se reduzem, na realidade, a somente seis

termos independentes.

Tensões segundo um plano qualquer

As tensões segundo um plano qualquer podem ser conhecidas, desde que se tenham as tensões segundo

três planos ortogonais quaisquer. Então, considere-se um plano N definido pelos seus co-senos diretores

cos(n,x), cos(n,y) e cos(n,z), isto é, co-senos de ângulo formado entre a normal ao plano, que passa pela

origem dos eixos cartesianos, e cada um dos eixos x, y e z. Tomando pn como a resultante das tensões

segundo o plano N, e pnx, pny e pnz como as componentes de pn segundo os eixos x, y e z, essa resultante

pode ser obtida através da equação matricial:

),cos(),cos(),cos(

znynxn

ppp

zzyzx

yzyyx

xzxyx

nz

ny

nx

στττστττσ

=

Eq. 2-5

Conclui-se portanto que, conhecendo-se as tensões normais e cisalhantes que atuam em três planos

ortogonais quaisquer que contêm um ponto do meio contínuo, o estado de tensões é conhecido neste

ponto. Em outras palavras, conhecendo-se o tensor das tensões em um ponto, o estado de tensões é

também conhecido. Conclui-se ainda que o tensor das tensões forma uma base no espaço vetorial R³.

Transformação de coordenadas

As conclusões anteriores permitem avançar. Ora, se os componentes segundo um plano qualquer podem

ser obtidos através da equação 2.1, também poderão ser obtidos os componentes segundo um novo

conjunto de três planos ortogonais. Ou seja, é possível realizar transformações de coordenadas de um

sistema x, y, z para um outro x1, y1, z1. A seguinte equação matricial permite tais transformações:

Page 39: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

37

T1 AA σσ =

Eq. 2-6

onde:

| σ1 | = tensor das tensões em relação ao novo sistema de coordenadas x1, y1, z1

| A | = matriz dos co-seno diretores

),cos(),cos(),cos(),cos(),cos(),cos(),cos(),cos(),cos(

111

111

111

zzyzxzzyyyxyzxyxxx

| A |T = matriz transportada de | A |

Tensões principais

É possível demonstrar que, para qualquer ponto do meio contínuo, haverá um sistema de eixos

coordenados x*,y*, z* em relação aos quais as tensões cisalhantes são nulas e as tensões normais têm

valores máximos e mínimos. Esta demonstração é realizada a partir da equação 2.2, igualando-se a zero as

tensões cisalhantes que aparecem no tensor | σ1 | e procurando-se, então, o novo sistema de eixos

correspondentes a planos onde as tensões cisalhantes são nulas. Nessa dedução, chega-se a uma equação

do terceiro grau (equação 2.3), denominada equação característica, cujas incógnitas σ1 são as tensões

normais do novo sistema de eixos pesquisado.

As raízes da equação característica são denoinadas tensões principais, cuja simbologia é σ1, σ2 e σ3.

Convenciona-se que: σ1 > σ2 > σ3.

03i22i1

3i =−+− III σσσ

Eq. 2-7

onde:

Page 40: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

38

zyx1 σσσ ++=I

Eq. 2-8 2

zy2

xz2

xyxzzyyx2 τττσσσσσσ −−−++=I

Eq. 2-9

zxyzxy2

xyz2

xzy2

zyxzyx3 2 ττττστστσσσσ −−−+=I

Eq. 2-10

Os termos independentes I1, I2 e I3 da equação característica têm valores constantes e independentes do

sistema de eixos escolhido, como pode ser verificado pelas equações 2.4 a 2.6. Por este motivo são

denominados invariantes de tensão. As equações 2.4 a 2.6 podem ser bastante simplificadas, desde que o

sistema de eixos escolhido seja correspondente às tensões principais. Neste caso, obtêm-se:

3211 σσσ ++=I

Eq. 2-11

3132212 σσσσσσ ++=I

Eq. 2-12

3213 σσσ=I

Eq. 2-13

Tensões octaédricas

Algumas teorias sobre o comportamento da tensão-deformação de materiais utilizados em sua formulação

a tensão normal média, também denominada tensão normal octaédrica, definida pela equação:

( )zyx σσσσ ++=31

oct

Eq. 2-14

Verifica-se que o valor da tensão normal octaédrica independe do sistema de eixos, pois:

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

39

1oct 31 I=σ

Eq. 2-15

Pesquisando os planos onde essa tensão ocorre, verifica-se que os mesmos fazem um ângulo de arc cos ±

3-0,5 com as direções das tensões principais, formando um octaedro imaginário em torno da origem dos

eixos coordenados; daí provém o nome tensões octaédricas.

A tensão octaédrica cisalhante é dada, em função das tensões principais, pela equação:

( ) ( ) ( )[ ] 5,0231

232

221oct 3

1 σσσσσστ −+−+−=

Eq. 2-16

Verifica-se também que τoct pode ser obtido em função dos invariantes, através da equação:

( )22

1 392 IIoct −±=τ

Eq. 2-17

Uma outra notação para tensão octaédrica, que é muito utilizada adiante no estudo de trajetórias de

tensão, é p, ou seja: p = σoct.

Espaço bidimensional

Muitas obras de engenharia apresentam características geométricas que levam à simplificação do

tratamento quanto ao estado de tensão e deformação. Um caso muito freqüente é quando se pode admitir

um estado plano de deformação. Por exemplo, em uma barragem de terra na qual a dimensão ao longo do

eixo x é muito maior que as demais (Fig. 2.4a), as deformações no sentido de x serão insignificantes, ou

nulas, em relação às sofridas pela obra nas direções y e z. Daí o nome estado plano, pois todas as

deformações estarão contidas no plano transversal yz. As tensões principais σ1 e σ3 também ocorrerão

nesse plano e σ2 não é independente, pois é função das demais tensões principais. Esta simplificação é

Page 42: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

40

muito vantajosa nas aplicações.

x

yz

σ1

σ3

Fig. 2.4. (a) Exemplo de estado plano de deformação: barragem de terra; (b) situação axissimétrica em

um corpo-de-prova

Outros exemplos de obras em que se pode admitir estado plano de deformação são as rodovias e os muros

muito longos.

Condição assimétrica

Esta condição ocorre em problemas que apresentam um eixo de simetria axial, como nos casos de corpos-

de-prova cilíndricos que são testados em laboratório e de estacas de seção circular. Na condição

axissimétrica, tem-se σ2 = σ3, conforme indicado na Fig. 2.4b.

Círculo de Mohr

O círculo de Mohr (Fig. 2.5) é uma representação gráfica do estado de tensão em um ponto do meio

contínuo, extremamente útil para todos os problemas de tensão e deformação. Este é um ponto de grande

importância, sugerindo-se ao leitor exercitar-se bastante nesta técnica gráfica antes de avançar.

Page 43: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

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41

σ

τ

τ

max

maxτ

Value of Value of

50 100

50

0

−50

(σ , τ )

σ σ3

z zy

yzy

(kPa)

(kPa)

+

+

σ

σ

σ

τ

τ

τ

zy

yz

y

z

(−)(−)

(a) (b)

(c)

1

(-)

(σ , τ )(+)

Fig. 2.5. (a) Situação bidimensional de tensões; (b) convenção de sinais para a tensão cisalhante τ; (c)

círculo de Mohr

A Fig. 2.5a apresenta uma situação bidimensional de tensões no plano yz em que são conhecidas as

tensões σy, σz e τyz. O círculo de Mohr (Fig. 2.5c) é obtido da seguinte maneira:

(a) representa-se, em uma escala adequada, um sistema de eixos cartesianos no qual as abscissas são as

tensões normais σ e as ordenadas, as tensões cisalhantes τ;

(b) escolhe-se um dos planos, ou facetas, cujas tensões se deseja representar, como, por exemplo, o plano

vertical xy, onde atuam σy e τyz;

(c) determina-se o sinal da tensão cisalhante τyz segundo a convenção indicada à direita da Fig. 2.5a, isto

é, marcando um ponto fora da faceta, ou seja, o traço do plano onde atuam as tensões consideradas;

observa-se então qual o sentido de rotação que a tensão cisalhante teria ao redor desse ponto; o

sentido horário é, por convenção, positivo;

(d) as tensões normais serão positivas quando forem de compressão, segundo a convenção de sinais

utilizada em Mecânica de Solos; note-se que isto é exatamente o contrário da convenção empregada,

por exemplo, em concreto;

Page 44: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

42

(e) plota-se o ponto de coordenadas (σy, τyz) em que o sinal de τyz é positivo, como descrito no item

anterior;

(f) plota-se o ponto de coordenadas (σz, τzy), em que o sinal de τzy é negativo, pois tem sentido de

rotação anti-horário;

(g) segmento de reta entre os pontos (σy, τyz) e (σz, τzy) interceptará o eixo das abscissas no ponto

correspondente ao centro do círculo de Mohr, que é, então, obtido.

Os pontos correspondentes às tensões principais estão indicados na Fig. 2.5c, sendo obtidos para tensões

cisalhantes nulas. Outros pontos notáveis do círculo de Mohr são os correspondentes às tensões

cisalhantes máxima τmax e mínima τmin, indicadas na mesma figura. Note-se que τmax é igual a τmin em

módulo.

Pólo do círculo de Mohr

O pólo do círculo de Mohr é uma construção gráfica auxiliar, que permite determinar o ponto do círculo

correspondente a uma faceta cuja direção seja conhecida, ou vice-versa. Dado um círculo de Mohr, como

o da Fig. 2.6, pode-se averiguar como a técnica do pólo pode auxiliar na determinação das tensões σθ e

τθ segundo uma faceta qualquer, da qual só se conhece a inclinação θ.

Na primeira etapa determina-se a localização do pólo, tomando um ponto do círculo de Mohr cuja faceta

correspondente tenha direção conhecida, como é o caso do ponto 1 do círculo. A partir deste ponto, traça-

se uma paralela à faceta. O pólo será determinado na interseção dessa paralela com o círculo de Mohr,

como indicado no ponto 2.

σ-5

5 10 15

0

5

32

1

Pole

(σ , τ )

(σ , τ )

yxy

x xyτσ

θ

θτ

(MPa)

(MPa)

θτ

θσ

yxτxyτ

Pólo

Fig. 2.6. Determinação de σθ e τθ através do círculo de Mohr empregando o processo gráfico do pólo

Page 45: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

43

Uma vez determinado o pólo, torna-se muito fácil obter para qualquer faceta o ponto do círculo de Mohr

correspondente. Para tanto, traça-se, a partir do pólo, uma paralela à faceta onde atuam as tensões σθ e

τθ, cujo valor se deseja. Essa paralela corta o círculo no ponto 3, que fornece graficamente o valor das

tensões σθ e τθ.

Exemplo 2.1

No círculo de Mohr apresentado na Fig. 2.7 , o ponto A corresponde a uma faceta vertical. Determinar: (a)

o pólo; (b) as tensões atuantes na faceta horizontal; (c) valores de σ1 e σ3 e as direções das facetas onde

atuam: (d) τmax e τmin (iguais em módulo) e as direções das facetas onde atuam.

Solução

É apresentada na Fig. 2.7.

Fig. 2.7. Exemplo 2.1

Estado de deformação

Considerando deslocamentos infinitesimais wvu ∂∂∂ e, ocorridos nas direções dos eixos coordenados

x, y e z, respectivamente, as deformações lineares segundo estes eixos são definidas por:

-

σ

στ

0 5 10 15-5

0

5

3

v

max h

1

A (10.5,2.75)

P

τ ⊕

σ

σ

σ

τ max

(MPa)

(MPa)

Page 46: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

44

xu

x ∂∂

=ε yv

y ∂∂

=ε zw

z ∂∂

As deformações distorcionais, ou distorções angulares, são definidas pelas pressões:

yu

xvyxy ∂

∂+

∂∂

=

zv

ywyyz ∂

∂+

∂∂

=

zu

xwyxz ∂

∂+

∂∂

=

O tensor das deformações, apresentado na forma matricial, é:

zzyzx

yzyyx

xzxyx

2/12/12/12/1

1/22/1

εγγγεγγγε

ε =

As deformações cisalhantes podem ser interpretadas fisicamente, conforme mostrado na Fig. 2.8.

Após a deformação sofrida por um ponto do material, foram medidos os ângulos θ e β, respectivamente

em relação à vertical (eixo z) e à horizontal (eixo y). Ora, como

,eyw

zv

∂∂

=∂∂

= βθ

conclui-se que γxy = θ + β.

Uma outra notação também empregada para as deformações lineares e distorcionais é εij, em que i e j

assumem valores de x, y e z. Quando i = j, trata-se de deformações lineares; do contrário, trata-se de

deformações cisalhantes, notadas da seguinte maneira:

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

45

ji ≠= ,21

ijij γε

De acordo com essa notação, o tensor das deformações é:

zzzyzx

yzyy

εεεεεεεεε

ε yz

xzxyxx

=

Fig. 2.8. Interpretação física de deformação cisalhante

Analogamente ao que foi visto sobre o estado plano de tensão, podem-se deduzir: as deformações

principais ε1, ε2 e ε3, as invariantes de deformações J1, J2 e J3 e o círculo de Mohr de deformações. Nota-

se que, no círculo de Mohr em estado plano de deformação, a ordenada é 1/2 γij ou εij.

Relações tensão-deformação

Viu-se até agora que o estado de tensão, representado pelo tensor das tensões, tem seis termos

∂∂

γ θ β

θ

β

z

v

y

vz

wy∂

∂w

= +yz

Page 48: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

46

independentes. O estado de deformação, analogamente, tem igual número de termos independentes. Ora,

se se deseja obter relações de tensão-deformação lineares, deve-se resolver a equação matricial:

{ } { }σε c=

Eq. 2-18

onde: { ε } e { σ } são vetores cujos elementos são os termos independentes dos tensores das tensões e

deformações, ou seja,

{ } { }

yz

xz

xy

z

y

x

yz

xz

xy

z

y

x

τττσσσ

σ

γγγεεε

ε ==

e | C | = matriz 6×6 dos coeficientes do sistema de equações lineares representado pela equação 2.14.

No caso mais geral, poderiam ser formuladas relações constitutivas lineares, desde que fossem

determinados cada um dos 36 elementos da matriz | C |. Seria necessário realizar pelo menos 36 tipos

diferentes de ensaio, o que não é prático.

Assim, são feitas hipóteses simplificadoras quanto ao comportamento do material em questão, supondo-o

homogêneo, elástico-linear (proporcionalidade entre tensões e deformações) e isotrópico. Isto possibilita

reduzir para somente duas o número de constantes, ou propriedades do material, que são o módulo de

Young E e o coeficiente de Poisson v. Neste caso, a equação 2.14 fica:

{ } { }σε E=

Eq. 2-19

Essa equação matricial é denominada lei de Hooke generalizada. A matriz | E | dos coeficientes fica,

então:

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

47

( )( )

EvEv

EvEEvEvEvEEvEvEvE

E

/)1(2000000/12000000/12000000/1//000//1/000///1

++

+−−

−−−−

=

Nessa matriz, o inverso da relação 2(1+v)/E é denominado módulo cisalhante G, ou seja:

)1(2 vEG+

=

Eq. 2-20

Na forma canônica, a equação 2.15 resulta no sistema:

( )zyx

x σσσε +−=Ev

E

( )zxy

y σσσ

ε +−=Ev

E

( )yxz

z σσσε +−=Ev

E

Eq. 2-21

Gxy

xy

τγ =

Gyz

yz

τγ =

Page 50: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

48

Gzx

zxτγ =

Exemplo 2.2

Em um ensaio de compressão axial em um corpo-de-prova cilíndrico de solo, aplicaram-se as tensões σ2

= σ3 = 100 kPa e σ1 = 300 kPa. As deformações resultantes foram ε1 = 6% e ε2 = ε3 = –1% (expansão).

Obter as constantes elásticas E, v e G.

Solução

Trata-se de resolver o sistema de equações 2.17, o qual, substituindo os valores dados, fica:

( )10010030006,0 +−=Ev

E

( )10030010001,0 +−=−Ev

E

Resolvendo-se o sistema, obtêm-se E ≅ 3,8 MPa e v ≅ 0,35. O valor de G é obtido em seguida pela

equação 2.16, encontrando-se G ≅ 1,4 MPa.

Tensores esférico e desviatório

Define-se como tensor esférico das tensões a matriz | Te |, semelhante ao tensor das tensões, porém

correspondente a um estado hidrostático, em que todas as tensões cisalhantes são nulas e as tensões

principais são iguais à tensão média p:

pp

ppT

000000

e ==

Eq. 2-22

Subtraindo o tensor esférico do tensor das tensões, obtém-se o que se denomina tensor-desvio das tensões

| Td |:

Page 51: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

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49

32

32

32

yxzzyzx

yxzy

yx

xzxyzyx

ed

σσσττ

τσσσ

τ

ττσσσ

σ

−−

−−

−−

=−= TT

Eq. 2-23

Analogamente às tensões, definem-se os tensores esférico e desviatório das deformações, respectivamente

| De | e | Dd |, cujo significado físico fica claro quando escrevem as equações da lei de Hooke generalizada

da seguinte maneira (eliminando as barras verticais das matrizes):

d

d 2 DGT =

Eq. 2-24

ee 3 DKT =

Eq. 2-25

onde K é módulo volumétrico, definido como a relação entre a tensão média p a deformação volumétrica

εvol, isto é,

volεpK =

Eq. 2-26

onde: zyxvol εεεε ++=

Eq. 2-27

K é obtido também pela equação:

Page 52: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

50

)21(3 vEK−

=

Eq. 2-28

Em resumo, as variações de volume estão relacionadas com variações no tensor esférico, enquanto as

variações de forma, com o tensor-desvio.

Comportamento da tensão-deformação dos solos

A aplicação de modelos teóricos de comportamento, ou constitutivos, a materiais reais é uma arte, pois

tais modelos só existem na imaginação. Os solos apresentam grandes dificuldades para um tratamento

tensão-deformação devido à não-linearidade acentuada, à histerese e à plastificação a partir de certa

deformação. A arte está em se determinar um modelo o mais simples possível, mas que seja

razoavelmente acurado, para a aplicação pretendida. A Fig. 2.9 sumariza as características de alguns

modelos constitutivos.

A lei de Hooke, como visto anteriormente, é aplicada a materiais homogêneos elástico-lineares e que não

apresentam histerese. A aplicação desse modelo a solos apresenta várias limitações e só pode ser feita

para níveis muito baixos de tensão, isto é, no início da curva de tensão-deformação, quando o fator de

segurança é ainda muito alto. A grande vantagem do modelo é a simplicidade de cálculos em relação a

qualquer outro, e ele é o único para o qual se dispõe de soluções fechadas. Fora do modelo elástico-linear,

as análises de tensão e deformação são feitas por métodos numéricos, como o dos elementos finitos,

através de computadores.

Uma das maneiras de se tratar a não-linearidade da curva de tensão-deformação dos solos é utilizar

pequenos incrementos de tensão, alterando o módulo de Young à medida em que se percorre a curva.

Soluções desse tipo têm tido bastante aplicação prática (Desai & Christian, 1977).

A partir da década de 70, devido principalmente ao trabalho desenvolvido na Universidade de Cambridge,

tem sido dada atenção especial aos modelos elastoplásticos. O comportamento do solo é representado por

um trecho inicial elástico-linear até atingir um ponto de escoamento, a partir do qual ocorrem

deformações plásticas ou irreversíveis, somando-se às elásticas. Tais modelos têm demonstrado grandes

potencialidades. O assunto será abordado novamente no capítulo 14.

Page 53: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

51

Fig. 2.9. Comportamento da tensão-deformação dos solos: (a) elástico-linear; (b) elástico não-linear; (c)

histerese; (d) elastoplástico

Exercícios

2.1. Quais as condições de equilíbrio de tensões em um ponto de um meio contínuo?

2.2. Apresentar o tensor das deformações e explicar seu significado.

2.3. que é a equação característica do tensor das tensões e quais são suas raízes? Idem, quanto às

deformações?

2.4. Explicar o significado físico dos tensores esféricos e desviatórios das tensões e deformações.

2.5. Em um corpo-de-prova cilíndrico de solo em que foram aplicadas as tensões σ1 = 280 kPa e σ2 =

σ3 = 0, as deformações correspondentes foram ε1 = 6% e ε2 = ε3 = 1,5% (expansão). Admitindo

material elástico-linear, obter o módulo de Young, o coeficiente de Poisson, o módulo cisalhante G

e o módulo volumétrico K.

2.6. Uma amostra cilíndrica de solo saturado é ensaiada à compressão axial muito rapidamente, sem

permitir qualquer variação de volume durante o teste (isto é, εvol = ε1 + ε2+ ε3 = 0). As tensões

aplicadas foram iguais às do exercício 2.5. Mediu-se a deformação axial resultante, igual a ε1 =

5%. Qual foi a deformação lateral ε2 ou ε3? Obter os parâmetros elásticos E, v e G. Qual será o

módulo volumétrico K?

σ

ε1

1

1σ σ

1

1ε 1εe p

(a)

(c)

(b)

(d)

Page 54: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

52

2.7. Demonstrar que, em estado plano de deformação, a tensão principal intermediária é σ2 = v (σ1 +

σ3).

2.8. Para o seguinte estado de tensão, obter as tensões normais e cisalhantes em um plano com α = 30º

com a direção horizontal, as tensões principais e suas orientações, a tensão cisalhante máxima e o

plano onde atua.

2.9. Repetir o problema anterior para o eixo vertical do elemento girado de 30º no sentido anti-horário.

2.10. Considerando um estado de deformação de um elemento em que se tem ε1 = 20% e ε3 = 5%, traçar

o círculo de Mohr e obter a distorção máxima que pode ocorrer nesse elemento (lembrando que εxy

= 1/2 γxy).

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53

Cap 3. TENSÕES INICIAIS NOS SOLOS

Introdução

No capítulo anterior foi estudado o estado de tensão e deformação em torno de um ponto no meio

contínuo. Passa-se agora a sua primeira aplicação a solos, com o estudo das tensões iniciais e a introdução

do conceito de pressão efetiva.

Tensões iniciais no terreno

A Fig. 3.1 mostra um perfil geotécnico no qual o nível do terreno é horizontal, não ocorrem cargas

aplicadas ou distribuídas próximo à região considerada e o solo é seco, sendo γ o peso específico aparente

desse material, que pode ser considerado homogêneo sob uma visão macroscópica.

O ponto A está na profundidade z, onde se deseja a tensão normal vertical inicial σvo. O valor de σvo pode

ser obtido considerando o peso de solo acima de A, dividido pela área. Alternativamente, considera-se o

peso da coluna de solo sobre A como área da base unitária. Isso equivale a dizer que:

zγσ =vo

Eq. 3-29

Por outro lado, se o solo acima do ponto A for estratificado, isto é, composto de n camadas, o valor de σvo

é dado pelo somatório de γi z1 (i = 1, n), ou seja:

∑=

=n

zy1i

iivoσ

Eq. 3-30

Page 56: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

54

Fig. 3.1. Cálculo de σvo em solo seco

Água no solo

O ingresso da água no solo, através de infiltração no terreno e a ocorrência de um perfil estratificado, com

uma sucessão de camadas permeáveis e impermeáveis, permitem a formação de lençóis freáticos ou

artesianos. Para entender estes fenômenos, pode-se imaginar que no local foram instalados três tubos: A,

B e C (Fig. 3.2), o primeiro atravessando a camada inicial permeável, seguindo por uma camada de solo

impermeável (hachurada) e atingindo a camada inferior, onde ocorre lençol confinado, artesiano ou sob

pressão. Estes nomes se aplicam porque o nível d’água (NA) do tubo A está acima do nível do terreno

(NT).

O tubo B encontra um lençol livre, situação que é verificada pelo operador no campo, pois a profundidade

do NA no tubo permanece estacionária. Já a perfuração feita para instalar o tubo C atinge inicialmente o

lençol livre. Avançando-a, pode-se observar que a água subirá no tubo, indicando que se atingiu também

o lençol artesiano inferior.

A Fig. 3.2 apresenta também um caso de lençol pendurado ou cativo, ou seja, preso sobre uma fina

camada de material impermeável. Se uma perfuração for aí realizada, ocorrerá perda d’água repentina no

furo assim que a perfuração atingir a camada permeável inferior.

Page 57: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

55

Fig. 3.2. Água no solo

Observe agora que o que acontece próximo ao NA (Fig. 3.3), onde um poço foi escavado. Pelas paredes

do poço, verifica-se que a água sobe acima do NA por efeito de capilaridade, formando franjas de

saturação capilar. Até onde a água consegue saturar totalmente o solo, denomina-se franja de saturação

capilar total; no restante, a franja é de saturação parcial. Nesta região, a água que ocupa os poros ou

interstícios do solo está sob pressão negativa, ou seja, inferior à atmosférica.

As franjas capilares têm uma importância primordial para os agrônomos, pois daí as plantas retiram água

e outras substâncias que necessitam. Para os engenheiros geotécnicos, o maior interesse está no que

acontece abaixo do NA, onde as pressões intersticiais da água, ou poropressões (uo), são positivas e

calculadas pela expressão:

wwo γzu =

Eq. 3-31

onde:

γw = peso específico da água, tomado igual a 10 kN/m³;

zw = profundidade em relação ao NA.

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56

γu =zwo w

Solo insaturado

Saturação capilar

Solo saturado

Poço

Fig. 3.3. Sistema capilar

Nos últimos anos, o interesse pelo estudo dos solos residuais, que ocorrem com muita freqüência em

regiões tropicais, tem levado os engenheiros geotécnicos a estudarem também as variações de umidade na

região do terreno acima do NA.

Pressões verticais totais

Foi visto anteriormente como calcular o valor da pressão vertical inicial σvo em um solo seco. Se o solo

apresentar água, o cálculo das pressões também é muito simples, bastando considerar separadamente as

camadas abaixo e acima do NA e aplicar a equação 3.2. Tem-se então, para o ponto A da Fig. 3.4 :

σvo = γ1 z1 + γsat z2

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

57

Fig. 3.4. Cálculo de σvo em solo com água

Exemplo 3.1

Para um perfil abaixo de solo saturado deseja-se a tensão total σvo no ponto A, com o NA na posição

indicada na Fig. 3.5 e 2 m acima do nível do terreno.

Fig. 3.5. Exemplo 3.1: cálculo de σvo

Solução

O valor de σvo é calculado considerando duas camadas de solo com diferentes valores do peso específico

aparente:

kP13420kN/m4m18kN/m3mNAdoAbaixo

3

NAdoAcima

3vo =×+×= 44 344 2144 344 21σ

Page 60: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

58

Se o NA estiver 2 m acima do NT, considera-se a pressão da água ao nível do terreno que será somada às

parcelas do solo:

kPa15420kN/m4m18kN/m3m10kN/m2mcamada2ª

3

camada1ª

3

águad’Lâmina

3vo =×+×+×= 44 344 2144 344 2144 344 21σ

Princípio da pressão efetiva

O princípio da pressão efetiva, de Terzaghi, foi uma das maiores contribuições à engenharia e é

considerado o marco fundamental do estabelecimento da Mecânica dos Solos com bases científicas

independentes.

K. Terzaghi (1883-1963), um conhecido engenheiro e professor austríaco, publicou, em 1925, em Viena,

o livro Erdbaumechanik auf der Bodenphysikalischen Grundlage (A Mecânica dos Solos com Base na

Física dos Solos), no qual estabelece o princípio da pressão efetiva a partir de observações e da intuição

de que o comportamento dos solos saturados quanto à compressibilidade e à resistência ao cisalhamento

depende fundamentalmente da pressão média intergranular, denominada por ele de pressão efetiva.

Terzaghi propôs uma expressão muito simples para o cálculo das pressões efetivas:

u−= σσ’

Eq. 3-32

onde σ’ é a pressão efetiva, σ a pressão total e u a poropressão (sendo que o apóstrofo após um símbolo

de grandeza indica que este é tomado em termos de pressão efetiva). Assim, o tensor das tensões em

termos de pressões efetivas é:

u−= σσ ’

Eq. 3-33

onde o tensor das tensões, em termos de pressões efetivas, é:

zzyzx

yzyyx

xzxyx

’’

’’

στττστττσ

σ =

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

59

e o tensor das tensões, em termos de poropressões, é:

uu

uu

000000

=

Note-se que as tensões cisalhantes não são alteradas, pois a água não tem resistência ao cisalhamento.

Então, τ’ij = τij. A comprovação desse princípio foi feita por Terzaghi de maneira muito simples,

utilizando um tanque com solo saturado e água (Fig. 3.6). Aumentando o nível da água no tanque, a

pressão total σvo também aumenta no solo. Entretanto, não se observa qualquer diminuição de volume no

solo, o que vem comprovar que seu comportamento é totalmente independente das pressões totais.

Water

Solo saturado

Água

Fig. 3.6. Experiência de Terzaghi para demonstrar o princípio da pressão efetiva

Procurando agora interpretar a equação 3.4 através de uma visão microscópica, a Fig. 3.7a apresenta um

conjunto de partículas de solo saturado no terreno seccionado por um plano horizontal e outro ondulado,

este último ao longo dos contatos reais entre grãos. As seções transversais obtidas por essas superfícies

são representadas nas Fig. 3.7b e Fig. 3.7c.

(a) (b) (c)

Page 62: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

60

Fig. 3.7. Visão microscópica de solo: (a) conjunto de partículas de um solo saturado secionado por um

plano horizontal e outro ondulado; (b) seção transversal do plano horizontal; (c) seção transversal do

plano ondulado

Logo, a pressão total média σ é dada por:

wgg’ aua += σσ

Eq. 3-34

onde:

σ’g = tensão nos contatos reais dos grãos, cujo valor é muito elevado, pois a área de contato é muito

pequena;

ag = percentagem da área total de contato real entre grãos da seção ondulada (fugura 3.3c), cujo

valor é muito pequeno;

u = poropressão;

aw = percentagem da área total da seção menos ag ou:

gw 1 aa −=

Eq. 3-35

A tensão efetiva σ’, atuante no plano horizontal, é aproximadamente igual à tensão de contato real entre

grãos multiplicada pela área de contato real entre grãos, isto é:

gg’’ aσσ ≅

Eq. 3-36

Substituindo as expressões 3.7 e 3.8 na 3.4, obtém-se σ = σ’ + u (1 – ag). Como o valor de ag é muito

pequeno, 1 – ag ≅ 1, pode-se simplificar ainda mais: σ = σ’ + u.

Page 63: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

61

Exemplo 3.2

Aplicar a equação 3.4 de pressão efetiva de Terzaghi para verificar que, na Fig. 3.6, as pressões efetivas

não variam durante a elevação do NA no recipiente.

Solução

Tomando um ponto de profundidade z (em relação ao NT) da massa de solo do recipiente e sendo zw a

espessura da lâmina d’água e γ e γw, respectivamente os pesos específicos do solo e da água, as pressões

efetivas serão:

(a) pressão total σvo = γw zw + z γ

(b) poropressão uo = γw (zw + z)

(c) pressão efetiva σ’vo = σvo – uo = γw zw + z γ – γw (zw + z)

Simplificando, vem: σ’vo = z (γ – γw). Como esta equação é independente de zw, a pressão efetiva não

varia com a espessura da lâmina d’água.

Exemplo 3.3

Calcular as tensões verticais totais e efetivas nos pontos A a D do perfil geotécnico da Fig. 3.8.

Fig. 3.8. Exemplo 3.3: perfil geotécnico para os cálculos

γ

γ

γ

γ

=17 kN/m³

=18 kN/m³

=20 kN/m³

=19 kN/m³

2m

2.5m

4m

3m

NT

A

B

C

D

Page 64: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

62

Solução

Ponto A σvo = 2 × 17 = 34 kPa

uo = 0

σ’vo = σvo = 34 kPa

Ponto B σvo = 2 × 17 + 3 × 18 = 88 kPa

uo = 3 × 10 = 30 kPa

σ’vo = 88 – 30 = 58 kPa

Ponto C σvo = 88 + 2,5 × 20 = 138 kPa

uo = (3 + 2,5) 10 = 55 kPa

σ’vo = 138 – 55 = 83 kPa

Ponto D σvo = 138 + 4 × 19 = 214 kPa

uo = (3 + 2,5 + 4) × 10 = 95 kPa

σ’vo = 214 – 95 = 119 kPa

Uma forma mais simples de calcular a pressão efetiva, quando ocorrerem condições hidrostáticas de

poropressão é utilizar o peso específico submerso γsub ou γ’ do solo igual ao peso específico do solo

saturado γsat menos o peso específico da água γw:

wsatsub γγγ −=

Eq. 3-37

Neste caso, substitui-se γsat por γsub quando o cálculo é feito abaixo do NA. Assim:

(a) ponto A σ’vo = 2 × 17 = 34 kPa

(b) ponto B σ’vo = 34 + 4 (18 – 10) = 58 kPa

(c) ponto C σ’vo = 58 + 2,5 (20 – 10) = 83 kPa

(d) ponto D σ’vo = 83 + 4 (19 – 10) = 119 kPa

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

63

Pressões efetivas em condições hidrodinâmicas

Pressões efetivas verticais em condições hidrodinâmicas são calculadas pela equação 3.4, na qual o valor

da poropressão u é estimado ou medido in situ através de piezômetros. Um desses instrumentos,

conhecido como piezômetro Casagrande ou de tubo aberto (Fig. 3.9), utilizado em 1949 por A.

Casagrande.

Fig. 3.9. Piezômetro Casagrande

O equipamento consta de uma ponta porosa (vela de filtro ou tubo perfurado, revestido com manta ou

geossintético permeável), que é instalada no terreno através de uma perfuração, ao redor da qual executa-

se um bulbo de areia. Este dispositivo permite que a água flua para o interior do instrumento. A ponta

porosa se comunica com a superfície por um tubo plástico com diâmetro de 12 ou 25 mm, através do qual

o NA é medido. A diferença de cota entre o NA medido e a ponta porosa corresponde à poropressão, em

metros de coluna d’água.

O exemplo seguinte mostra um caso de lençol artesiano ou sob pressão, no qual foram empregados

piezômetros Casagrande para leituras de poropressão, permitindo calcular as pressões efetivas verticais no

terreno.

Exemplo 3.4

A Fig. 3.10 mostra o perfil geotécnico de um terreno onde os piezômetros Casagrande instalados

indicaram artesianismo do lençol inferior. Calcular σvo, uo e σ’vo nos pontos A, B e C e traçar os

diagramas destas grandezas com a profundidade.

Page 66: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

64

Fig. 3.10. Exemplo 3.4: perfil geotécnico para os cálculos

Solução

O cálculo é semelhante ao do exemplo 3.2:

Ponto A σvo = 2 × 10 = 20 kPa

uo = 2 × 10 = 20 kPa

σ’vo = 0

Ponto B σvo = 20 + 3 × 17 = 71 kPa

uo = 5 × 10 = 50 kPa

σ’vo = 71 – 50 = 21 kPa

Ponto C σvo = 71 + 2,5 × 14 + 2 × 18 = 142 kPa

uo = (2 + 2 + 3 + 2,5 + 2) 10 = 115 kPa

σ’vo = 142 – 115 = 27 kPa

O diagrama pedido consta da Fig. 3.11, tendo sido traçado pelos pontos A, B e C e outros adicionais, cujo

γ

γ

γ

γ

A

B

C

2m

3m

2.5m

4m

NT

Areia

Argila

Areia

=10 kN/m³

=17 kN/m³

=14 kN/m³

=18 kN/m³

2m

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

65

cálculo não é apresentado, mas é análogo aos anteriores.

Fig. 3.11. Exemplo 3.4: gráficos de uo × z e de σvo, σ’vo × z

Tensão horizontal

Até agora foram vistas apenas as tensões verticais iniciais, totais e efetivas. Entretanto, conforme

abordado no capítulo 2, isto não é suficiente para se conhecer o estado de tensão inicial, pois,

considerando uma situação bidimensional, é necessário determinar as tensões que atuam em dois planos

ortogonais (Fig. 3.12).

Fig. 3.12. Tensões efetivas vertical e horizontal que atuam em um elemento de solo

Como faltam as tensões horizontais σ’ho e σho, define-se:

σ , σ′

σ′

0 100 200 0 100 200-4

0

4

8

u (kPa)o vo vo

'

z

vo voσ

(kPa)

σ′

σ′

NT

vo

ho

Page 68: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

66

vo

hoo σ

σ′′

=K

Eq. 3-38

onde Ko é o coeficiente de empuxo no repouso, pois se trata de uma relação entre tensões efetivas iniciais.

O valor de Ko pode ser obtido através de ensaios de laboratório em que se simulam condições iniciais, ou

seja, sem deformações laterais, situação esta ocorrida durante o processo de formação de terrenos

sedimentares. Este assunto é abordado adiante.

Para determinar Ko são empregados também ensaios in situ, um dos quais consiste na introdução, de uma

célula-espada no terreno, (Fig. 3.13), ou seja, um medidor de pressão semelhante a uma almofada, porém

de pequena espessura, que é cravado verticalmente no terreno, como uma espada, e após a estabilização

permite deduzir a tensão lateral total σho após correções nas medições in situ. Conhecendo o valor da

poropressão inicial uo e da tensão efetiva vertical σ’vo, obtém-se o valor de Ko pela equação 3.10.

Exemplo 3.5

Calcular σ’vo e σ’ho nos pontos A, B, C e D do perfil geotécnico da Fig. 3.14a e traçar os diagramas de

variação de σ’vo e σ’ho com a profundidade.

Fig. 3.13. Célula-espada para a determinação da tensão horizontal total σho

σσ

hoho

NT

Page 69: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

67

σv0, σ'v0 (kPa)

0 20 40 60 80 100 120 140

Prof

(m)

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Areia

Argila

Areia

σ'v0

σ'h0

NAA

B

C

D

γ = 17 kN/m3

γ = 19 kN/m3

γ = 15 kN/m3

γ = 20 kN/m3

K0 = 0,5

K0 = 0,8

K0 = 0,6

Fig. 3.14. Exemplo 3.5: perfil geotécnico para os cálculos

Solução

Os dados do problema incluem pesos específicos das camadas e valores de Ko. Os cálculos estão

sumarizados no quadro 3.1.

Quadro 3.1. Cálculo das tensões iniciais σ’vo e σ’ho

Ponto σ’vo (kPa) σ’ho (kPa)

A 17 × 2 = 34 34 × 0,5 = 17

B 34 + 9 × 3 = 61 61 × 0,5 ≅ 30

61 × 0,8 ≅ 49

C 61 + 4 × 5 = 81 81 × 0,8 ≅ 65

81 × 0,6 ≅ 49

D 81 + 5 × 10 = 131 131 × 0,6 ≅ 79

Como os pontos B e C estão localizados na interface entre camadas, os valores correspondentes de σ’ho

foram obtidos para os dois valores de Ko. As tensões efetivas assim obtidas estão plotadas na Fig. 3.14b,

representando descontinuidade de σ’ho na interface entre camadas. Essa descontinuidade é teórica, pois na

realidade a transição in situ é suave.

Page 70: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

68

Exemplo 3.6

Para o ponto B do exemplo 3.5, cujas tensões efetivas obtidas são σ’vo = 61 kPa e σ’ho = 30 kPa (o valor

de σ’ho adotado corresponde a Ko = 0,5 da camada de areia), obter o círculo de Mohr em termos de

tensões efetivas e totais.

Solução

O ponto B (tomado na camada de areia) da Fig. 3.14a está sob superfície do terreno horizontal, não

havendo carregamentos próximos. Então, as tensões σ’vo e σ’ho são principais, isto é, τvho = 0. O círculo

de Mohr correspondente é apresentado na Fig. 3.15. As tensões principais totais que atuam em B são

obtidas somando-se uo = 30 kPa às tensões efetivas σ’vo e σ’ho:

σvo = 61 + 30 = 91 kPa

σho = 30 + 30 = 60 kPa

σ

Efetivas Totaisu

30

0

-300 30 60 90 120

(kPa)

(kPa)τ

Fig. 3.15. Exemplo 3.6: círculos de Mohr para pressões totais e efetivas

O círculo de Mohr em tensões totais obtido também consta da figura 3.15.

Exercícios

3.1. Definir lençóis livre, artesiano e cativo.

3.2. Definir franja de saturação parcial e total.

3.3. Por que na franja de saturação capilar a poropressão é negativa?

3.4. que são pressões efetivas? O que é o tensor das pressões efetivas?

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

69

3.5. Definir Ko e estabelecer como esse coeficiente pode ser determinado.

3.6. Refazer o exemplo 3.4 com o NA 3 m acima do NT. Traçar os diagramas de variação de σ’vo, σ’ho,

σvo, σho e uo com a profundidade e os círculos de Mohr em pressões totais e efetivas para o ponto

A.

Page 72: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

70

Cap 4. TENSÕES DEVIDO A SOBRECARGAS

Introdução

Conhecendo-se o tensor das tensões iniciais | σo | do ponto P da figura 4.1, quer-se encontrar, para uma

determinada sobrecarga aplicada, o tensor das tensões finais | σf |. Para tanto, é necessário conhecer o

tensor dos acréscimos de tensão | Δσ |, pois:

σσσ Δ+= of

Eq. 4-39

P

vΔσ

voσ

Fig. 4.1. Efeito de uma sobrecarga aplicada a carga sobre o nível do terreno, provocando acréscimos de

tensão vertical Δσv

O estudo do efeito de cargas sobre o terreno foi iniciado pelo matemático francês Boussinesq, através da

aplicação da teoria da elasticidade. Boussinesq estudou o efeito de uma carga concentrada sobre terreno

semi-infinito, elástico-linear, isotrópico e homogêneo, tendo publicado em Paris, em 1885, o livro

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

71

Application des potentiels à l’étude de equilibre et de mouvement des solids elastiques (Ed Gauthiers-

Villars).

Partindo da solução de Boussinesq, vários outros autores resolveram, por integração, problemas como os

apresentados na figura 4.2, isto é, carregamento linear e carga distribuída retangular ou com formas

diversas (triangulares, trapezoidais, etc).

Carga concentradaBoussinesq (1885)

Integração

Dupla integração

Fig. 4.2. Soluções teóricas de distribuição de pressões no terreno obtidas para vários tipos de

carregamento, a partir da integração da solução de Boussinesq

São apresentadas neste capítulo somente algumas aplicações mais importantes de distribuição de pressões

em geotecnia, através de equações e ábacos. Para um estudo profundo do assunto devem ser consultados

textos especializados, principalmente o trabalho de Poulos e Davis (1974), que apresenta uma coletânea

de fórmulas e ábacos, além de Harr (1966) e Giroud (1975). Em português, sugerem-se os livros de

Barata (1984) e Vargas (1977).

Ao final deste capítulo é mostrado como representar graficamente variações de tensões, através da técnica

de trajetórias de tensão.

Carga concentrada: solução de Boussinesq

Para uma carga concentrada Q (figura 4.3) aplicada sobre semi-espaço semi-infinito, homogêneo,

elástico-linear e isotrópico, os acréscimos de tensão resultantes em um ponto qualquer do material com

coordenadas cilíndricas em relação à carga, isto é, profundidade z e afastamento r, são:

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72

5

3

z 23

RQzπ

σ =Δ

Eq. 4-40

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡+

−−=Δ

)()21(3

2 5

2

r zRRv

RzQ τ

πσ

Eq. 4-41

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡+

−−=Δ)(

1)21(2 3 zRRR

zvQπ

σθ

Eq. 4-42

5

2

rz 23

RzrQ

πτ =Δ

Eq. 4-43

onde: R2 = z2 + r2 .

Uma importante conclusão a partir das equações de Boussinesq é que os acréscimos de tensão vertical e

cisalhante Δσz e Δτrz independem dos parâmetros elásticos do material. Em outras palavras, independem

do tipo de solo. Mesmo os acréscimos horizontais de tensão Δσr eΔσθ só dependem do coeficiente de

Poisson v, que varia relativamente pouco para a maioria dos solos, em geral entre 0,2 e 0,5. Essas

conclusões se aplicam, aproximadamente, a solos razoavelmente homogêneos, no início do carregamento,

ou seja, enquanto o fator de segurança é ainda muito alto (maior que 2) e para uma camada de solo

espessa.

Page 75: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

73

Δσ

Q

R

Δσ

Δσrxzτ

z

z

θ

Fig. 4.3. Tensões em um ponto devido a uma carga concentrada: solução de Boussinesq

A equação 4.2 pode ser apresentada sob outra forma, permitindo a utilização de ábacos, como o da figura

4.4:

2Bz zQN=Δσ

Eq. 4-44

onde NB é o fator de influência de Δσz de Boussinesq.

Exemplo 4.1

Considerando a aplicação de uma carga de 1.000 kN sobre a superfície do terreno e admitindo v = 0,5

(figura 4.5), obter as tensões finais σvf, σhf e τvhf no ponto P.

Solução

As coordenadas de P são z = 3 m e r = 3 m. Daí, obtém-se R = (32+ 32)0,5 = 4,24 m. Aplicando as

equações de Boussinesq, vem:

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74

kPa4,924,42

3100035

3

z =××

=Δπ

σ

kPa4,9)324,4(24,4

)5,021(25,4

3332

10005

2

r =⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡+

×−−

××=Δ

πσ

kPa4,924,42

33100025

2

rz =×××

=Δπ

τ

Fig. 4.4. Ábaco para a determinação de coeficientes para carga concentrada: solução de Boussinesq

N

0.00.10.30.61.01.52.02.53.0

0.4770.4650.3850.2210.0840.0250.0080.0030.0015

0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

N

r/z

B

B

ByQNz²

r/z

3 m

3 m4.24 m

1000 kN

γ

0K

= 20 kN/m³

= 0.5

Page 77: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

75

Fig. 4.5. Exemplo 4.1: dados para os cálculos

As tensões iniciais são:

σvo = 3 × 20 = 60 kPa

σho = 0,5 × 60 = 30 kPa

As tensões finais são:

σvf = σvo + Δσz = 60 + 9,4 = 69,4 kPa

σhf = σho + Δσz = 30 + 9,4 = 39,4 kPa

τvhf = τvho + Δτrz = 0 + 9,4 = 9,4 kPa

Exemplo 4.2

Para a situação do exemplo 4.1, calcular o valor de Δσz aplicando o ábaco da figura 4.4.

Solução

Entra-se no ábaco com o valor de r/z = 3/3 = 1, obtendo-se NB = 0,084. Aplicando a equação 4,6, vem:

kPa3,93

1000084,0 2z ==Δσ

Carga distribuída em faixa infinita

A situação da figura 4.6 ocorre, por exemplo, em fundações de muros ou em sapatas de fundação que

transmitem ao terreno carga distribuída de valor p por unidade de área. Para a seção transversal média de

uma fundação, pode ser admitido carregamento infinito sempre que o comprimento L e a largura total B

(B = 2b) satisfizerem a relação L ≥ 3B. As equações, nesse caso, são (α é definido em radianos):

)]2(cossen[z δαααπ

σ ++=Δp

Eq. 4-45

Page 78: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

76

)]2(cossen[z δαααπ

σ +−=Δp

Eq. 4-46

απ

σ vp2y =Δ

Eq. 4-47

)2(sensen δααπ

τ +=Δp

Eq. 4-48

Fig. 4.6. Carga distribuída em faixa infinita

Carregamento circular distribuído

Esta situação ocorrem, por exemplo, no caso de um tanque cilíndrico ou de uma fundação de chaminé

circular de raio R que transmite carga distribuída p ao terreno. A figura 4.7 apresenta um ábaco que

fornece isóbaras de Δσv/p, em função do afastamento e da profundidade relativa x/R e z/R.

Exemplo 4.3

Calcular o acréscimo de pressão vertical nos pontos A e B transmitido ao terreno por um tanque circular

2b

O

(x,z)

xO1 2

αδ

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

77

de 6 m de diâmetro, cuja pressão transmitida ao nível do terreno é igual a 240 kPa. Os pontos A e B estão

à profundidade de 3 m, porém A está sob o centro do carregamento e B, sob a borda (figura 4.8).

Solução

Primeiro determinam-se o afastamento e a profundidade relativa, respectivamente x/R e z/R, e depois

localiza-se o ponto correspondente a esses valores no ábaco. Em seguida, determina-se a isóbara

correspondente, obtendo-se o valor de Δσv/p. Os cálculos constam do quadro 4.1.

Bulbo de pressões

Um conceito importante para a prática da engenharia geotécnica é deduzido do ábaco da figura 4.7, na

qual devem ser observadas as dimensões da isóbara de 10% da carga aplicada, ou seja, a isóbara

correspondente a Δσv/p = 0,10. Essa isóbara contém a região do terreno que recebe a parcela mais

significativa do carregamento aplicado e é, portanto, a que está sujeita a deformações, sendo por esta

razão denominada bulbo de pressões.

Page 80: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

78

Fig. 4.7. Ábaco para determinação de acréscimos de tensões verticais devido a carregamento circular

= 16.5 kN/m³

Carga 240 kPa6m

3m

φ

γ

A B

Fig. 4.8. Exemplo 4.3: dados para os cálculos

x/R0

1

2

30.15

4

0.100.05

0.20

0.30

0.40

0.50

0.60

0.700.80

0.90

1 2 3

z/R

R

p

Page 81: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

79

Fig. 4.9. (a) Bulbo de pressões; (b) integração em bulbos

Quadro 4.1. Exemplo 4.3: cálculo de Δσv

Ponto x (m) z (m) x/R z/R Δσv/p (kPa) Δσv

A 0 3 0 1 0,64 154

B 3 3 1 1 0,33 79

A profundidade atingida pelo bulbo é aproximadamente 2B, sendo B a largura total ou o diâmetro do

carregamento (figura 4.9a). Se o bulbo atingir camadas de solo mais compressíveis, a fundação estará

sujeita a recalques significativos. Por esta razão, é um passo importante em qualquer projeto de fundações

a verificação das camadas abrangidas pelo bulbo.

Quando se projeta a fundação de um prédio ao lado de um outro existente, ocorre uma interação entre os

respectivos bulbos (figura 4.9b). O bulbo resultante terá profundidade igual a 2(B1 + B2), onde B1 é a

largura do primeiro prédio e B2, a do segundo. Ao projetar uma obra, o engenheiro de fundações sempre

analisará as fundações dos prédios vizinhos. Se as camadas abrangidas pelo bulbo resultante incluírem

solos moles, os recalques poderão ser excessivos, levando à exclusão desse tipo de fundação.

2B

B +BB B

1 2

1 2

B

2(B +B )1 2

(a)

(b)

Page 82: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

80

Tensões sob a borda de uma sapata

Os acréscimos de tensões sob a borda de uma área retangular com dimensões l e b (figura 4.10),

carregada com a carga distribuída p, é dada pelas expressões (Holl, 1940):

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡++=Δ −− )(tan

22

22

133

z RRRlbz

zRlbap

πσ

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−=Δ

32

13x tan

2 RRlbz

zRlbap

πσ

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−=Δ

3223

y tanRR

lbzzRlbaσ

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−=Δ

32

1

2

2xz 2 RR

bzRbp

πτ

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−=Δ

322

2

1yz 2 RR

lzRlp

πτ

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡−−+=Δ −− )(1

21

21

13

xy RRzRzp

πτ

Eq. 4-49

onde:

R1 = (l2 + z2)0,5

R2 = (b2 + z2)0,5

R3 = (l2 + b2 + z2)0,5

a tan = arco tangente

Observa-se que os valores de l e b são intercambiáveis, exceto nas equações de Δτxy e Δτyz. O valor do

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

81

acréscimo de tensão vertical Δσz pode ser obtido também por meio de ábacos, como o da figura 4.11.

Fig. 4.10. Acréscimos de tensões sobre a borda de uma área retangular, carregada com uma carga

distribuída (Holl, 1940)

Exemplo 4.4

Calcular, através das equações 4.11 e do ábaco da figura 4.11, o acréscimo de tensão vertical Δσz a 5 m

de profundidade sob a borda de uma sapata retangular com 6m × 8m, carregada com 300 kPa.

Solução

Tem-se: p = 300 kPa, z = 5 m, l = 6 m, b = 8 m (pode-se fazer também l = 8 m e b = 6 m com os mesmos

resultados, pois l e b são intercambiáveis). Através das equações 4.11, tem-se:

R1 = (62 + 52)0,5 = 7,8 m

R2 = (82 + 52)0,5 = 9,4 m

R3 = (62 + 82 + 52)0,5 = 11,2 m

yb

z

z

p

x

l

Page 84: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

82

kPa6221,0300

)59,071,0(2300)59,086,0tan(

2300

)4,98,7(2,11

5862,115

86tan2300 22

z

=×=

=+=+=

=⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡+

××+

××

=Δ −−

rada

a

ππ

πσ

y

b

z

L

x

p

z

0 . 0 1 2 3 4 5 6 8 0 . 1 2 3 4 5 6 8 1 . 0 2 3 4 5 6 8 1 0 . 0

0 . 2 6

0 . 2 4

0 . 2 2

0 . 2 0

0 . 1 8

0 . 1 6

0 . 1 4

0 . 1 2

0 . 1 0

0 . 0 8

0 . 0 6

0 . 0 4

0 . 0 2

0

m = L / z

n = b / z

0 . 0

0 . 1

0 . 2

0 . 3

0 . 4

0 . 5

0 . 6

0 . 7

0 . 8

0 . 9

1 . 0

1 . 2

m = n3 . 0

2 . 52 . 0

1 . 8

1 . 4

1 . 6

I

n

N o t a : m e n s ã o

I n te r c a m b iá v e is

Δσz = pI

Fig. 4.11. Ábaco para determinação do valor do acréscimo de tensão vertical (Δσz) sob a borda de uma

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

83

área retangular uniformemente carregada (Fadum, 1948)

Para calcular Δσz através do ábaco da figura 4.8 admitem-se:

m = l/z = 6/5 = 1,2

n = b/z = 8/5 = 1,6

Entrando no ábaco com esses valores, obtém-se o valor do fator de influência l = 0,21. O valor de Δσz é

dado por:

kPa6221,0300z

z

=×=Δ∴=Δ

σσ Ip

Eq. 4-50

A figura 4.12 apresenta um ábaco para uma sapata com l = 2b, que fornece a variação do fator de

influência I em vários pontos em função da profundidade, observando-se que o valor de Δσz no centro da

sapata é muito maior que nas bordas para uma pequena profundidade, mas fica praticamente uniforme a

uma profundidade igual à do bulbo de pressões.

Δσ Δσ

ΔσΔσzo zn

zmzc

znΔσ

zoΔσzmΔσ

zcΔσ

p

0 0.25 0.50 1

1B

2B

3B

4B

5B

Δσ

0.75

C

L=2B

M

O N

B

z

I= /pz

Fig. 4.12. Ábaco para determinação de tensões sob uma área retangular de comprimento igual ao dobro

da largura (Giroud, 1975)

Page 86: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

84

Através do princípio da superposição dos efeitos, pode-se calcular o valor dos acréscimos de tensão em

pontos afastados da borda de uma sapata, como demonstra o exemplo 4.5.

Exemplo 4.5

A planta baixa apresentada na figura 4.13 indica uma área retangular HECI carregada com p = 100 kPa,

aplicada ao nível do terreno. Calcular o incremento de tensão vertical no ponto A, afastado da área

carregada tanto em planta quanto em profundidade, estando 10 m abaixo do NT.

Fig. 4.13. Exemplo 4.5: dados para os cálculos

Solução

Como o ponto A está fora da área carregada, as equações 4.11 e o ábaco da figura 4.11 não podem ser

aplicados diretamente. Entretanto, admitindo-se domínio elástico, aplica-se o princípio da superposição

de efeitos, segundo o qual a tensão atuando independentemente. Em outras palavras, os efeitos não

interagem. Este princípio é válido no domínio elástico.

Assim, o problema pode ser resolvido calculando-se o incremento de tensão devido à área ABCD e

deduzindo-se o incremento devido a ABEF e AGID. Como isto implica a dedução duas vezes da área

AGHF, calcula-se o incremento devido a essa área, que é então somado ao valor anteriormente obtido,

como mostrado no quadro 4.2.

B

E

CI D

H F

AG

p=100kPa

Page 87: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

85

Quadro 4.2. Exemplo 4.5: cálculo de Δσ2

Área l (m) b (m) m (*) n (*) I Δσz (kPa)

ABCD 15 20 1,5 2,0 0,223 22,3

ABEF 5 20 0,5 2,0 0,135 –13,5

AGID 15 5 1,5 0,5 0,131 –13,1

AGHF 5 5 0,5 0,5 0,085 8,5

∴ Δσz = 4,2 kPa

(*) m = l/z, n = b/z

Rotação de tensões principais

Comparando as tensões em um ponto qualquer antes e após um carregamento, as tensões principais

podem ter assumido novas direções. Este fenômeno é denominado rotação de tensões principais. As

direções das tensões podem ser calculadas pelo processo gráfico do círculo de Mohr, como discutido no

capítulo 2. A figura 4.14 apresenta um caso de rotação de tensões em que, sobre um terreno originalmente

plano, aplicou-se um carregamento que apresenta um eixo de simetria.

Após carregamentoAntes

1

3

v

h

σ = σ

σ = σ

θ

Fig. 4.14. Rotação de tensões principais

As tensões principais iniciais tinham as direções vertical e horizontal, pelas razões discutidas no capítulo

3. Sob o eixo de simetria, os acréscimos de tensão cisalhante são nulos; conseqüentemente, não há rotação

de tensões sob esse eixo. Afastando-se do mesmo, mas ainda na região de influência do carregamento, o

Page 88: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

86

cálculo através do círculo de Mohr indica que há uma tendência de a tensão principal maior estar voltada

para o centro do carregamento. O exemplo 4.6 apresenta um cálculo de rotação de tensão através do

círculo de Mohr.

Exemplo 4.6

Um determinado carregamento provocou, no ponto A da figura 4.15a, os seguintes acréscimos de tensão:

Δσv = 40 kPa, Δσh = 30 kPa, Δτvh = 32 kPa. Sabendo que as tensões iniciais eram σvo = 70 kPa e σho = 30

kPa, determinar, através da construção gráfica de Mohr, a direção das tensões finais.

0 50 100 150-50

0

50

σ

τ

σ

σ

τ

vo

hoσ A

σ

σ

σ σσ

σ

σ

ho 3

hf

vo 1

3f

vf vhf

vhf

==

1f

,

(kPa)

(kPa)

(a)

(b)

P

Fig. 4.15. Exemplo 4.6: determinação da rotação de tensões através do círculo de Mohr

Solução

As tensões finais são:

σvf = 70 + 40 = 110 kPa

σhf = 30 + 30 = 60 kPa

τvhf = 0 + 32 = 32 kPa

É necessária a análise do sinal de τvhf para efeito de plotagem no círculo de Mohr. Para tanto, recomenda-

se arbitrar um sinal positivo ou negativo, traçar o círculo de Mohr e analisar a direção final da tensão

principal maior σ1f, que deve estar voltada para o carregamento. Neste exemplo, o sinal correto de τvhf é

negativo, como pode ser verificado na figura 4.15b. Só desta maneira obtém-se σ1f voltado para o

carregamento. Os passos para o traçado da figura 4.15b são:

Page 89: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

87

(a) traçar o círculo de Mohr para o estado de tensão final, caracterizado por σvf = 110 kPa, σhf = 60

kPa e τvhf = –32 kPa;

(b) determinar o pólo traçando, a partir do ponto do círculo (σvf, τvhf), uma reta horizontal, paralela à

faceta, até cortar o círculo no pólo P;

(c) a partir de P, traçar retas aos pontos correspondentes às tensões principais finais σ1f e σ3f,

determinando suas direções, e finalmente, analisando a direção de σ1f, como comentado

anteriormente.

Modelagem numérica

A modelagem numérica do contínuo é uma das ferramentas atuais mais importantes em engenharia que

permite modelar numericamente o contínuo e obter tensões e deformações. O método numérico mais

comum é o método dos elementos finitos (MEF) em que o contínuo é discretizado em elementos de

pequenas dimensões. Os computadores pessoais e as interfaces gráficas popularizaram o uso destas

ferramentas. Atualmente, pode ser mais rápido e prático o emprego de modelagem numérica do que

soluções simples através de ábacos.

Existem muitos programas de computador no mercado que permitem isso. O autor utiliza o programa de

elementos finitos Plaxis (Brinkgreve, 2002) (www.plaxis.nl), cuja descrição detalhada está fora do escopo

deste texto, mas que é apresentado através do exemplo seguinte.

Uma sapata com semilargura de 5 m foi aplicada sobre 20 m de espessura de solo. A Fig. 4.16 apresenta

a geometria do problema, que tem um eixo de simetria no centro da carga.

X

Y

AA

Fig. 4.16. Geometria de análise de tensões em baixo de uma sapata com carga uniforme de 100 kPa

Os resultados (Fig. 4.17) indicam a forma aproximada do bulbo de pressões calculado. A profundidade

do mesmo, indicada pela região amarela, é da ordem de 15 m, ou seja, 15/(2x 5m) = 1.5 B, inferior que as

teorias elásticas. Isso pode ser causado pela profundidade do solo ser somente de 20 m, ou seja 2B e os

métodos elásticos adotam espaços semi-infinitos.

Page 90: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

88

Fig. 4.17. Resultados de acréscimos de tensões verticais calculados pelo MEF

Fig. 4.18. Rotação de tensões calculadas pelo MEF

A Fig. 4.18 apresenta gráficamente através de cruzes as rotações de tensões calculadas pelo MEF. À

esquerda do gráfico, ou seja, sob o centro do carregamento, as rotações são nulas e aumentam à medida

que se afasta horizontalmente.

Trajetórias de tensão

Viu-se anteriormente como utilizar o círculo de Mohr para representar o estado de tensão em um certo

instante, em um elemento de solo de uma estrutura ou em um ensaio de laboratório. Entretanto, como

Page 91: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

89

mostrado no exemplo 4.6, muitas vezes é necessário representar a alteração de tensões sofrida por um

elemento de solo durante um carregamento, caso em que o círculo de Mohr não é adequado.

Se for tomado um material perfeitamente elástico, o estado final de tensões e deformações é independente

dos estados intermediários. Não há histerese, nem não-linearidade da curva de tensão-deformação e,

conseqüentemente, cada estado depende somente das tensões que atuam naquele momento. Em

plasticidade, ao contrário, o estado final depende de como o material se comportou durante o

carregamento. Se um elemento de solo se plastifica, transferirá carga para os demais. O material ainda

apresenta histerese e não-linearidade da curva de tensão-deformação. Por estas razões, é importante

conhecer sua trajetória de tensões.

Uma das maneiras de se traçar as trajetórias de tensão de um ponto é adotar um sistema de eixos

tridimensional em que as variáveis são os invariantes de tensão (I1, I2, I3). Com isto, representa-se a

magnitude do estado de tensão, evitando-se a influência do sistema de eixos x, y e z, pois os invariantes

são independentes dos mesmos. Alternativamente, podem ser adotadas as tensões octaédricas que,

conforme estudado no capítulo 2, são função dos invariantes. Ambas as soluções, entretanto, não são

práticas, pois tanto a representação gráfica quanto o cálculo de τoct são trabalhosos.

Duas maneiras são mais empregadas atualmente para representar as trajetórias, sempre que se trata de

estado bidimensional de tensão. Uma delas é a utilizada pela Massachussetts Institute of Technology

(MIT), dos Estados Unidos (Lambe e Whitman, 1979), e a outra, a adotada pela Universidade de

Cambridge, da Inglaterra (Atkinson e Bransby, 1978).

Diagrama tipo MIT

O diagrama tipo MIT, ou diagrama s:t, tem a grande vantagem de ser construído de maneira equivalente à

do círculo de Mohr. Isto pode ser constatado pela figura 4.16a, que apresenta uma sucessão de estados de

tensão. Tomando o ponto A no topo do círculo inicial, antes do carregamento, o ponto B no círculo

seguinte, e assim sucessivamente até o ponto final E, a trajetória de tensão correspondente será uma linha

unindo os pontos A a E, como indicado na figura 4.16b. Isto corresponde a se tomarem os seguintes eixos

coordenados s e t:

223131 σσσσ −

=+

= ts

Eq. 4-51

O valor de t é positivo quando a tensão vertical é maior que a horizontal; do contrário, é negativo. Desde

Page 92: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

90

que as tensões principais atuem nos planos vertical e horizontal, o que ocorre na maioria dos casos, as

equações 4.13 podem ser assim escritas:

22hvhv σσσσ −

=+

= ts

Eq. 4-52

A plotagem de um ponto no diagrama s:t pode ser feita através da determinação dos valores de s e t, pelas

equações 4.13 ou 4.14, plotando-se o ponto com coordenadas (s,t), ou pelo método dos LGs, plotando-se,

a partir do eixo s, os lugares geométricos (LGs) dos pontos que têm σv e σh constantes. Este último

método deve ser praticado, pois será muito útil mais adiante, devendo ser memorizados os seguintes LGs:

(a) o LG dos pontos com o mesmo σh, que é uma reta a partir da abscissa s = σh, com inclinação de

1:1 à direita (figura 4.16c);

(b) o LG dos pontos com o mesmo σv, que é uma reta a partir da abscissa s = σv, com inclinação de

1:1 à esquerda (figura 4.16d);

(c) o LG dos pontos com σv = σh, que é uma reta coincidente com os eixos (figura 4.17a), também

conhecido como eixo hidrostático;

(d) o LG dos pontos com t/s = constante, ou K = σh/σv = constante, que é uma reta inclinada (figura

4.17b).

Page 93: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

91

t

σ

σ

sA

B CDE

ABC

DE

Stress path

t

s(b)

(a)

(c)

(d)

s

s

t

t

h

v

11

11

Trajetória de tensão

Fig. 4.19. Trajetórias de tensões no diagrama tipo MIT: (a) diagrama de Mohr; (b) diagrama s:t; (c)

lugar geométrico dos pontos com s = σh; (d) lugar geométrico dos pontos com s = σv

Page 94: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

92

σ = σ

s

t

v h

(a)

(b)

s

t

K=K

K<1

K=1

K>1

0

Fig. 4.20. Lugar geométrico dos pontos com: (a) σv = σh; (b) σh / σv = constante

Exemplo 4.7

Marcar os seguintes pontos no diagrama s:t, utilizando o método dos LGs:

(a) σv = 200 kPa, σh = 100 kPa

(b) σv = 150 kPa, σh = 100 kPa

(c) σv = σh = 100 kPa

Solução

A partir do eixo s, determina-se o ponto com s = σv e traça-se a reta inclinada de 1:1 à esquerda, que é o

LG dos pontos com s = σv. Realiza-se a mesma operação para s = σh, sendo a reta inclinada à direita. A

interseção dos dois LGs é o ponto desejado, estando os resultados plotados na figura 4.18.

Page 95: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

93

t(kPa)

0 100 200

200100

200100

s

(kPa)t

(kPa)t

(a)

(b)

(c)

(1)

(2)

(3)

(kPa)

s (kPa)

s (kPa)

Fig. 4.21. Exemplo 4.7: resultados

Exemplo 4.8

Apresentar em um diagrama s:t as trajetórias de tensão para os seguintes carregamentos:

(a) condição inicial σv = σh = 200 kPa; σh permanece constante enquanto σv aumenta até 600 kPa;

(b) condição inicial σv = σh = 200 kPa; σv permanece constante enquanto σh aumenta até 600 kPa;

(c) condição inicial σv = σh = 200 kPa; σv permanece constante, enquanto σh diminui até 100 kPa;

(d) condição inicial σv = σh = 200 kPa; σv e σh aumentam em uma razão de Δσh/Δσv = 3.

Solução

A figura 4.19 apresenta a solução para o problema pelo método dos LGs. Os casos (a) a (c) são imediatos;

no caso (d), a partir do ponto s = σv = σh = 200 kPa, aplica-se um incremento qualquer, por exemplo, Δσv

= 100 kPa e, em seguida, marca-se um ponto arbitrário com Δσh = 3 × Δσv ∴ σh = 200 + 3 × 100 = 500

kPa e σv = 200 + 100 = 300 kPa. Este ponto pertencerá à trajetória pedida.

Page 96: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

94

200

-200

200 400 600

s

t(kPa)

a

c

d

b

(kPa)

Fig. 4.22. Exemplo 4.8: diagrama s:t

Trajetória de tensões totais e efetivas

Analogamente às definições de pressões totais e efetivas, definem-se trajetórias de tensões totais (TTT),

correspondentes ao diagrama s:t, e trajetórias de tensões efetivas (TTE), correspondentes ao diagrama

s’:t’. Os valores de s’ e t’ são dados por:

ttuss =−= ’’

Eq. 4-53

Exemplo 4.9

Representar em um diagrama tipo MIT, em tensões totais e efetivas, o ponto B do exemplo3.5, cujas

tensões são σvo = 91 kPa; σho = 60 kPa e uo = 30 kPa.

Solução

Obtém-s o ponto B em tensões totais pelo método dos LGs (figura 4.20) e, em seguida, considerando as

equações 4.14, obtém-se o ponto B’, correspondente a pressões efetivas, marcando-se uo para a esquerda

de B.

Page 97: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

95

t(kPa)

s,s'

60

30

030 60 90

B' Bou

(kPa)

Fig. 4.23. Exemplo 4.9: ponto B

Diagrama tipo Cambridge

Considerando que a abscissa s tem por limitação desprezar a influência de σ2, o grupo de solos da

Universidade de Cambridge (eg Atkinson e Bransby, 1978) vem adotando eixos coordenados p e q (figura

4.21), procurando relacioná-los com os invariantes de tensão e, conseqüentemente (ver equações 2.11 e

2.13), com as tensões octaédricas σoct e τoct. As seguintes expressões definem p e q:

octoct 23 τσ == qp

Eq. 4-54

p= σ σ σ

σ − σ

31 2 3

+ +

q=1 3

Page 98: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

96

Fig. 4.24. Eixos coordenados do diagrama de Cambridge p:q

O valor de q dado pela equação 4.13 é utilizado em situações tridimensionais. O cálculo é bastante

trabalhoso mas, em situações axissimétricas, em que σ2 = σ3, traz uma grande simplificação. Neste caso, o

valor de q é dado por:

31 σσ −=q

Eq. 4-55

Analogamente ao que foi visto para o diagrama s:t, definem-se trajetórias de tensões totais (eixos p:q) e

efetivas (eixos p’:q’):

qqupp =−= ’’

Eq. 4-56

Para o caso de deformação plana, a tensão σ2 depende das demais tensões principais, podendo ser

verificado, pela aplicação da lei de Hooke, que σ2 = v (σ1 + σ3). Em uma situação não drenada, isto é, sem

variação de volume, v = 0,5. Neste caso, obtém-se p = s. Para comportamento drenado, caso se tenha v =

0,2, obtém-se p’ = 0,4 (σ’1 + σ’3), ou seja, p’ ≅ s’. Por essas razões, o grupo de Cambridge prefere

empregar o diagrama s’:t para analisar situações de estado plano de deformação.

Exercícios

4.1. Em que condições a teoria de Boussinesq é aplicável?

4.2. Definir bulbo de pressões e explicar sua importância prática?

4.3. Um muro de arrimo é construído sobre terreno arenoso e transmitirá carga de 500 kPa através de

uma sapata com 4 m de largura. Sabendo que γ = 20 kN/m³ e Ko = 0,6, e que o NA está 1 m abaixo

do NT, traçar a TTE e a TTT em diagramas s:t e p:q para um ponto situado a 4 m de profundidade.

4.4. Comparar a distribuição de tensões com a profundidade para: (a) carregamento concentrado de

3.000 kN; (b) carga de 3.000 kN distribuída em uma área de 3m × 3m. Plotar os resultados.

4.5. Em que consiste o princípio da superposição dos efeitos e em que situações é e não é válida sua

aplicação?

Page 99: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

97

4.6. centro de uma área retangular na superfície do terreno tem coordenadas, em metros, de (0,0) e os

cantos, de (6,15). A área está sujeita a um carregamento distribuído de 400 kPa. Estimar as tensões

a uma profundidade de 15 m nos seguintes pontos: (0,0), (0,15), (6,0) e (10,25).

4.7. Considerar um ponto P em um terreno arenoso seco, inicialmente sem carregamento (estágio

inicial), da seguinte forma: v = 0,3.

P

1000 kN1500 kN

3 m

3 m

3 m

K0 = 0,5γ = 20 kN/m3

ν = 0,3

Uma força concentrada de 1.000 kN é aplicada (primeiro estágio), seguida de outra de 1.500 kN

(segundo estágio). As forças e o ponto P são coplanares. Dar para o ponto P: (a) tensões iniciais;

(b) acréscimos de tensão segundo Boussinesq; (c) círculos de Mohr, magnitude e direção das

tensões principais para todos os estágios; (d) TTT através do diagrama p:q.

4.8. Plotar no diagrama s:t a TTE para um material com Ko = 0,60. Idem com Ko = 1,1.

4.9. Plotar no diagrama s:t a TTT de um corpo-de-prova sujeito à seguinte seqüência de tensões: (a)

início σv = 100 kPa e K = 0,6; (b) σh constante e σv aumenta até 250 kPa; (c) com σv constante,

aplica-se Δσh de –30 kPa; (d) com σh constante, aplica-se Δσv de –30 kPa.

Page 100: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

98

Cap 5. HIDRÁULICA DE SOLOS

Introdução

Este capítulo aborda o escoamento da água nos solos e algumas de suas implicações em obras de

engenharia. Em barragens de terra, por exemplo, o engenheiro geotécnico deseja saber a vazão que

percolará através do maciço e da fundação; já em uma lagoa de estabilização de rejeitos, precisa-se evitar

a contaminação do lençol através de uma barreira impermeabilizante, sendo necessário selecionar o

material adequado a esta aplicação.

Regime de escoamento nos solos

As bases teóricas sobre o regime de escoamento em condutos forçados foram estabelecidas por Reynolds,

em 1883 (An experimental investigation of the circumstances which determine whether the motion of

water shall be direct or sinuous and of the law of resistance in parallel channels, Phil Trans, The Royal

Society, London).

A conhecida experiência de Reynolds, que é assunto de todos os compêndios de Mecânica dos Fluidos,

comprovou que o regime de escoamento é linear, sob certas condições, ou turbulento. Esta experiência,

mostrada esquematicamente na Fig. 5.1a, consistiu em permitir o fluxo de água através de uma tubulação

transparente e, por meio de um pequeno funil instalado no tanque superior, introduzir um corante no

fluxo: se o corante escoasse com uma trajetória retilínea, o regime de escoamento seria laminar, pois as

partículas têm trajetórias paralelas; caso contrário, o regime seria turbulento.

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

99

i

Turbulent flow

Laminar flow

vc

h

L

v

v

(a)

(b)

Fluxolaminar

Fluxoturbulento

Fig. 5.1. Experiência de Reynolds: (a) montagem; (b) resultados

Reynolds variou o diâmetro D e o comprimento L do conduto e a diferença de nível h entre os

reservatórios, medindo a velocidade de escoamento v. Os resultados constam da figura 5.1b, onde estão

plotados o gradiente hidráulico i = h/L versus a velocidade de escoamento v. Verifica-se que há uma

velocidade crítica vc abaixo da qual o regime é laminar, havendo proporcionalidade entre gradiente

hidráulico e velocidade de fluxo. Para velocidades acima de vc, a relação não é linear e o regime de

escoamento é turbulento. Ainda segundo Reynolds, o valor de vc é relacionado teoricamente com as

demais grandezas intervenientes através da equação:

gDvRe μ

γc=

Eq. 5-57

onde:

Re = número de Reynolds, adimensional e igual a 2.000;

vc = velocidade crítica;

Page 102: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

100

γ = peso específico do fluido;

μ = viscosidade do fluido;

g = aceleração da gravidade.

Substituindo na equação 5.1 os valores correspondentes à água a 20ºC, obtém-se o valor de vc (em m/s)

em função do diâmetro do conduto D (em metros):

Dv

4

c1028 −×

=

Eq. 5-58

Nos solos, o diâmetro dos poros pode ser tomado como inferior a 5 mm. Levando este valor à equação

5.2, obtém-se vc = 0,56 m/s, que é uma velocidade muito elevada. De fato, a percolação da água nos solos

se dá a velocidades muito inferiores à crítica, concluindo-se daí que a percolação ocorre com regime

laminar. Como conseqüência imediata haverá, segundo os estudos de Reynolds, proporcionalidade entre

velocidade de escoamento e gradiente hidráulico (Fig. 5.1b). Denominando o coeficiente de

proporcionalidade entre v e i de permeabilidade ou condutibilidade hidráulica k, vem:

ikv =

Eq. 5-59

Lei de Darcy

Na realidade, a equação 5.3, deduzida no item anterior segundo a teoria de Reynolds, foi obtida

experimentalmente cerca de 30 anos antes pelo engenheiro francês H. d’Arcy (Les fontaines publiques de

la ville de Dijon, 1856, Ed Dalmon, Paris), e por isto é conhecida como lei de Darcy. Por motivos

exclusivamente didáticos é que o assunto é apresentado de forma não cronológica.

A experiência de Darcy (Fig. 5.2) consistiu em percolar água através de uma amostra de solo de

comprimento L e área A, a partir de dois reservatórios de nível constante, sendo h a diferença de cota

entre ambos. Os resultados indicaram que a velocidade de percolação v = Q/A é proporcional ao gradiente

hidráulico i=h/L, como visto na equação 5.3.

Determinação da permeabilidade

A determinação da permeabilidade dos solos pode ser feita através de ensaios in situ e de laboratório.

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

101

Neste capítulo são abordados apenas os tipos mais comuns, que são os ensaios de laboratório através de

permeâmetros de carga constante ou variável. O primeiro (Fig. 5.3a) é o tipo empregado por Darcy e

consta de dois reservatórios onde os níveis d’água são mantidos constantes e com diferença de altura h.

Medindo-se vazão Q e conhecendo-se as dimensões do corpo-de-prova (comprimento L e área da seção

transversal A), obtém-se o valor da permeabilidade k, dado por:

hALQk =

Eq. 5-60

Fig. 5.2. Experiência de Darcy

Fig. 5.3. Permeâmetros de carga: (a) constante; (b) variável

Page 104: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

102

10 10 10 10 10 1010 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5

-5-6-7-8-9-10-1110 101010101010

0.8

0.6

0.4

1.0

Permeability (m/s)

Void

Basalt LL=60, IP=40

Colluvium (Basalt) LL=50, IP=16

Sandstone LL=28, IP=12

Sandstone LL=28, IP=12

SandstoneLL=25, IP=13

Gneiss LL=53, IP=23

Gneiss LL=80, IP=39

Ratio

e

Permeabilidade

Basalto

Gneiss

Gneiss

Colúvio

Arenito

Arenito

Fig. 5.4. Resultados de ensaios de permeabilidade em solos residuais versus índice de vazios (Vargas,

1977)

Exemplo 5.1

Um ensaio de permeabilidade em um permeâmetro de carga constante forneceu um volume percolado, em

500 s, de 0,034 m³, sendo h = 2 m, L = 0,20 m e A = 0,04 m². Determinar a permeabilidade.

Solução

A vazão percolada foi de Q = 0,034/500 = 6,8 × 10-5 m³/s. Aplicando a equação 5.4, vem:

sm107,1204,0

20,0108,6 45

/k −−

×=×××

=

No permeâmetro de carga variável o corpo-de-prova é submetido a um nível d’água variável (Fig. 5.3b).

Durante o ensaio, observa-se a descida do nível d’água, h1 e h2, em função do tempo, t1 e t2, no tubo

transparente ou bureta de vidro, cuja seção transversal é a. O cálculo da permeabilidade é feito pela

equação 5.5, cuja dedução é apresentada no exemplo 5.2:

2

1

12

ln)( h

httA

Lak−

×=

Eq. 5-61

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

103

Exemplo 5.2

Deduzir a equação 5.5 para o permeâmetro de carga constante, considerando o volume elementar dV de

altura dh, cujo volume é dado por dV = a dh.

Solução

Aplicando a lei de Darcy v = k i para esse volume e considerando que a velocidade é v = dV/(A dt),

obtém-se dV = k i dt. Igualando as expressões em dV, vem:

dtLaAk

hdh

dtALhkdha

dtaikdha

=∴

=

=

Realizando-se a integração entre h1 e h1 e t1 e t2, vem:

2

1

12

h

h

t

t

ln)(

2

1

1

2

hh

ttALak

dtLa

Akh

dh

−=∴

=∫ ∫

Valores de permeabilidade

O quadro 5.1 apresenta valores típicos de permeabilidade para solos arenosos e argilosos. Os solos

permeáveis, ou que apresentam drenagem livre, são aqueles que têm permeabilidade maior que 10-7 m/s.

Os demais são solos impermeáveis ou com drenagem impedida.

Page 106: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

104

Quadro 5.1. Valores de permeabilidade

Permeabilidade Tipo de solo k (m/s)

Solos permeáveis

Alta Pedregulhos > 10-3

Alta Areias 10-3 a 10-5

Baixa Siltes e argilas 10-5 a 10-7

Solos impermeáveis

Muito baixa Argila 10-7 a 10-9

Baixíssima Argila < 10-9

A Fig. 5.4 apresenta uma série de correlações para vários tipos de solos brasileiros através de uma

equação logarítmica do tipo log k = f(e), onde e é o índice de vazios do material. Como essa figura

engloba solos bastante diferentes, desde areias a argilas, conclui-se que correlações do tipo log k = f(e)

são aplicáveis aos mais diferentes materiais. Uma outra comprovação desse tipo de correlação para o

mesmo solo, porém em diferentes estados, é apresentada na Fig. 5.5.

Permeability (m/s)

Void

0.8

1.0

1.2

1.4

1.6

1.8

2.010 10 10

-8-9

Residual soil fromGneissLL=80IP=39 Remoulded (w=LL)

In situ (porous)

Compacted

-10

W

Ratio

e

opt

Solo residualde gneissLL = 80%IP = 39%

Amolgado(w = LL)

In situ(poroso)

Compactado

Permeabilidade

Fig. 5.5. Correlações k × e para o mesmo solo em estados diferentes (Vargas, 1977)

Uma interessante aplicação dessas correlações é na estimativa da permeabilidade in situ do solo versus

profundidade, através da seguinte metodologia:

(a) a partir de ensaios de permeabilidade, obtém-se a correlação log k = f(e);

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105

(b) através de ensaios, obtém-se a relação e = f(z), onde z é a profundidade;

(c) através das correlações obtidas em (a) e (b), obtém-se log k = f(z).

Em areias, uma maneira indireta de determinar a permeabilidade é a proposta por Hazen (Discussion on

dams on sand foundations, Transactions ASCE, vol 73, 1911), aplicável a areias limpas e uniformes, sem

finos, e cuja equação é:

2

10DCk =

Eq. 5-62

onde k é a permeabilidade em m/s, D10 é o diâmetro efetivo da areia, em metros, obtido na curva

granulométrica. O coeficiente C pode ser tomado igual a 0,01.

Potenciais

Para o estudo do movimento da água, bem como do calor ou da eletricidade, é necessário conhecer seu

estado de energia, ou seja, o potencial ψ. Diferentes formas e quantidades de energia podem ser

caracterizadas, como a energia cinética e a potencial, que são estudadas em Física. O movimento da água

pode ser estudado como a resultante de uma diferença de potencial, pois o equilíbrio é conseguido para

um estado de potencial mínimo.

O potencial da água é sempre tomado em relação a um referencial, de valor arbitrário ψ0 = 0, que em

geral é atribuído à água sob condições normais de temperatura e pressão. As unidades utilizadas para

expressar o potencial são:

(a) energia por unidade de massa – a unidade de energia do SI é o joule (J), correspondente ao

trabalho de uma força de um newton percorrendo uma distância de um metro; em engenharia é

mais conveniente utilizar o kJ, que, dividido pela unidade de massa do SI, fornece kJ/kg;

(b) energia por unidade de volume – é o kJ/m³, mas como kJ = kNm, obtém-se kJ/m³ = kNm/m³ =

kPa, concluindo-se que a energia possui dimensões de pressão;

(c) energia por unidade de volume – a energia possui dimensão de comprimento, pois, assim como

pode ser expressa como pressão, também pode sê-lo como altura de coluna de um líquido;

expressa desta maneira, a energia será denominada carga hidráulica (h). O assunto é abordado

adiante.

O potencial total da água no solo ψt pode ser estudado (Reichardt, 1985) como a soma de vários

componentes: o cinético ψc, o piezométrico ψp, o altimétrico ψa, o térmico ψk e o material ψm. Assim:

Page 108: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

106

mkaptt ψψψψψψ ++++=

Eq. 5-63

O componente cinético ψc, segundo a Física, é proporcional ao quadrado da velocidade de escoamento v.

Como nos solos os valores de v são muito pequenos, esta parcela é desprezível.

O componente piezométrico ψp corresponde à diferença entre a pressão da água atuante em um ponto e a

pressão do potencial de referência ψo, cuja pressão é atmosférica. Conseqüentemente, este componente é

igual à poropressão u no ponto considerado.

O componente altimétrico ψa, também chamado gravitacional, é a própria energia potencial do campo

gravitacional, igual a mgz, onde m é a massa, g a aceleração da gravidade e z a cota ou elevação em

relação a um referencial arbitrário.

O componente térmico ψk é considerado desprezível, porque as variações de temperatura que ocorrem na

água do solo são pequenas, de tal forma que o escoamento pode ser considerado isotérmico.

O potencial matricial ψm é o resultado de forças capilares e de adsorção que surgem devido à interação

entre a água e as partículas sólidas, ou seja, a matriz do solo. Estas forças atraem e fixam a água no solo,

diminuindo sua energia potencial em relação à água livre. São fenômenos capilares que resultam da

tensão superficial da água.

O potencial matricial só tem importância nas franjas de saturação capilar e em solos parcialmente

saturados, sendo nulo abaixo do nível d’água. Como sua determinação teórica é difícil, ele é determinado

experimentalmente, através de técnicas descritas, por exemplo, por Reichardt (1985). De grande

importância em agronomia, esse potencial tem sido abordado no estudo do comportamento de solos

residuais.

Carga hidráulica

Denomina-se carga hidráulica (h) a energia por unidade de peso. Como dito no item anterior, a carga

hidráulica tem unidade de comprimento. Expressando desta forma a equação 5.7, e desprezando os

potenciais cinético, térmico e matricial, obtém-se:

apt hhh +=

Eq. 5-64

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107

onde ht é a carga hidráulica total, hp a carga piezométrica e ha a carga altimétrica.

A carga piezométrica pode ser obtida pela expressão:

wp /γuh =

Eq. 5-65

onde u é a poropressão e γw é o peso específico do fluido, no caso a água. A carga altimétrica é igual à

cota ou elevação do ponto em relação a um referencial arbitrário. Os exemplos 5.3 a 5.6 mostram como

determinar as cargas altimétrica, piezométrica e total para alguns casos simples.

Exemplo 5.3

Obter o diagrama de elevação × carga hidráulica para os pontos 1 e 2 do tanque de água da Fig. 5.6.

Fig. 5.6. Exemplo 5.3: dados para os cálculos

Solução

Os valores das cargas piezométricas hp, altimétrica ha e total ht constam do quadro 5.2, verificando-se que

as cargas totais dos pontos considerados são iguais a ht. Traçando o diagrama de cargas (Fig. 5.6a),

verifica-se que não há variação da carga total h para todos os pontos do tanque, o que implica não haver

fluxo.

Exemplo 5.4

Obter o diagrama de elevação × carga hidráulica para o tubo capilar da Fig. 5.7.

Carga (m)

h

h

h

h

h

1

2

h

h

t

a

pa 1

a2

p2

p1

(m)

Page 110: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

108

Solução

Os valores das cargas piezométricas hp, altimétrica ha e total ht dos pontos 1 e 2 constam do quadro 5.3.

Quadro 5.2. Exemplo 5.3: carga hidráulica

Carga Ponto

Altimétrica Piezométrica Total

1 ha1 hp1 ha1 + hp1 = ht

2 ha2 hp2 ha2 + hp2 = ht

Fig. 5.7. Exemplo 5.4: dados para os cálculos

Quadro 5.3. Exemplo 5.4: carga hidráulica

Carga Ponto

Altimétrica Piezométrica Total

1 hc –hc hc – hc = 0

2 0 0 0 + 0 = 0

Exemplo 5.5

Obter o diagrama de elevação × carga hidráulica para a amostra de solo da Fig. 5.8, submetida a um fluxo

descendente.

Carga (m)

Tubo capilar

Ascençãocapilar

h

1

2

h h

h

Elevação (m)

'c

p a

t

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109

Fig. 5.8. Exemplo 5.5: dados para os cálculos

Solução

Para traçar o diagrama, devem ser dados os seguintes passos:

(a) obter o diagrama de carga altimétrica – como as escalas escolhidas, para as cargas e as elevações

são iguais, o diagrama será uma linha inclinada de 45º, como indicado na Fig. 5.8;

(b) obter o diagrama de carga piezométrica – conhecendo-se as pressões hidrostáticas, ou

poropressões u, as cargas piezométricas são calculadas pela equação 5.9; lembrando que os valores

de u são nulos nos níveis d’água, o diagrama é então obtido;

(c) somar os diagramas obtidos em (a) e (b) para se ter o diagrama de cargas totais. Note-se que só há

variação de carga total onde há perda de energia, isto é, ao longo da amostra de solo.

Exemplo 5.6

Obter o diagrama de elevação × carga hidráulica para a amostra de solo da Fig. 5.9, submetida a um fluxo

ascendente.

Page 112: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

110

Fig. 5.9. Exemplo 5.6: dados para os cálculos

Solução

A solução é análoga à do exemplo 5.5.

Exemplo 5.7

Para o exemplo 5.5, obter a velocidade de escoamento da água, admitindo que a amostra de solo tenha

permeabilidade de 3 × 10-5 m/s.

Solução

Basta aplicar a lei de Darcy (equação 5.3). O valor do gradiente hidráulico é dado por i = h/L, onde h é a

diferença de carga total entre as extremidades da amostra, igual a 3 m (Fig. 5.8), e L é o comprimento da

amostra, igual a 1,5 m. Daí obtém-se i = 3/1,5 = 2. A velocidade de fluxo é dada pela equação 5.3:

v = ki = 3 × 10-5 × 2 = 6 × 10-5 m/s

Força de percolação

A percolação da água no solo implica a dissipação de energia através das partículas de solo. De fato, os

diagramas de carga total do item anterior permitem determinar quanto de energia por unidade de peso, ou

carga hidráulica total, é dissipada por atrito ao longo de uma amostra de solo. Este atrito provocará no

solo uma força de percolação Fp, cujo valor e determinado conforme exemplificado na Fig. 5.10a,

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

111

referente a uma amostra solo sujeita a percolação.

Fig. 5.10. Forças de percolação

As forças atuantes na amostra, denominadas na figura como forças de fronteira, podem ser decompostas

em forças de submersão e de percolação. Esta última é o componente devido à dissipação da carga

hidráulica h entre os níveis d’água do reservatório superior e inferior, e seu valor é Fp = h γw A (Fig.

5.10b).

Considerando agora o valor de Fp por unidade de volume V, tem-se:

wwwp γγγ i

Lh

ALAh

VF

===

Conseqüentemente:

Page 114: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

112

wp γi

VF

=

Eq. 5-66

Como o valor de γw é constante, a força de percolação por unidade de volume é proporcional ao gradiente

hidráulico i.

As forças de percolação são consideradas em vários problemas de Mecânica dos Solos. Na análise de

estabilidade de taludes, por exemplo, a existência ou não de percolação influencia sobremaneira a

estabilidade. Em problemas desse tipo, o peso do solo pode ser considerado adotando-se o peso específico

total γt ou o submerso γ’. No primeiro caso, os esforços de percolação são considerados através das forças

de fronteira e, no segundo, através da força de percolação. Embora os dois métodos forneçam a mesma

resposta, o primeiro é mais utilizado na análise de estabilidade de taludes (eg Lambe e Whitman, 1979).

A Fig. 5.11a apresenta os esforços atuantes em um elemento sob percolação. A força resultante F será:

AhALFAhALF

ALzhAzALF

w

ww

wwt

’)’(

)(

γγγγγ

γγγ

−=∴−+=∴

++−+=

Eq. 5-67

(a)

F =hLA

z A

LA

(b)

w wp

''t

w

γ γ

γ

γ

γ(h+z+L) A

W= LA W=

Fig. 5.11. Forças de percolação

Por outro lado, calculando-se o resultante F através da Fig. 5.11b, vem:

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113

AhALF w’ γγ −=

Eq. 5-68

Como as equações 5.11 e 5.12 são iguais, conclui-se que os esforços em um elemento de solo sob

percolação podem ser obtidos considerando-se o peso específico total e as forças nas fronteiras ou o peso

específico submerso e a força de percolação, com idênticos resultados.

Liquefação

A condição de liquefação pode ocorrer em solos granulares, principalmente areias e siltes finos e fôfos,

quando as poropressões se elevam a ponto de anular as pressões efetivas. Se isso acontecer, a pressão

intergranular também será nula, assim como o atrito entre partículas. Neste caso, o material se

comportará como um líquido.

O fenômeno da liquefação pode ocorrer em situações distintas: dinâmica, quando o agente deflagrador é

um terremoto ou explosão; ou estática, quando deflagrada por carregamento rápido, aumento de

poropressões durante períodos de muita chuva.

A liquefação de areias fofas é um problema em caso de rejeitos de mineração. Grande parte dos rejeitos

de ouro, ferro e outrs metais, produzem um rejeito areno-siltoso, com condições ideais para a liquefação

ocorrer e causar grandes rupturas de diques e barragens construídas sobre o rejeito.

O fenômeno de liquefação em areias finas e fofas durante terremotos, o que é atribuído a deformações

cíclicas que ocorrem rapidamente, conduzindo a um aumento de poropressões. Como não há tempo para

dissipação, o excesso de poropressões induz à liquefação. A condição de liquefação pode ser atingida

também por percolação sob fluxo ascendente (Fig. 5.12), quando a força de percolação Fp atinge o valor

do peso submerso W do elemento de solo de volume V. Nesse caso, considerando W = Fp como a situação

crítica, obtém-se o gradiente hidráulico crítico ic, dado por:

wc

’γγ

=i

Eq. 5-69

Como para a maioria dos solos γ’ ≅ γw, o valor do gradiente crítico ic é aproximadamente igual a 1,

situação que tem de ser evitada a todo o custo em projetos de engenharia. O assunto é novamente

Page 116: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

114

abordado no exemplo 5.11.

Definição alternativa para o gradiente hidráulico

No início deste capítulo viu-se uma definição para o gradiente hidráulico como sendo i = h/L, ou seja, a

razão entre a diferença de nível h dos reservatórios do permeâmetro de carga constante e o comprimento

L da amostra de solo. Com base no estudo dos potenciais de carga hidráulica, é possível rever tal

definição. De fato, para o fluxo unidimensional estudado nos permeâmetros de carga constante, o

gradiente hidráulico representa a perda de energia ou de carga ao longo do fluxo. No caso de fluxo

unidimensional na direção x, a variação do potencial ou da carga hidráulica pode ser representada

matematicamente por:

x/hixi ∂∂=∂∂= ou/ψ

Eq. 5-70

Fig. 5.12. Condição de liquefação por percolação ascendente

Generalizando para o fluxo tridimensional (x, y, z), a definição de i será:

zh

yh

xhi

∂∂

+∂∂

+∂∂

=

Eq. 5-71

A equação 5.15 pode ser apresentada de uma forma alternativa utilizando-se o operador vetorial gradiente

∇ (daí, aliás, o nome gradiente hidráulico), obtendo-se:

Page 117: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

115

hi ∇=v

Eq. 5-72

Conseqüentemente, a equação 5.3 de Darcy pode ser apresentada da seguinte forma:

hkv ∇=v

Eq. 5-73

Equação diferencial do fluxo

A equação diferencial do fluxo é a base para o estudo da percolação bi ou tridimensional. Neste item são

estudadas algumas aplicações bidimensionais em geotecnia.

Tomando um ponto definido por suas coordenadas cartesianas (x, y, z), considerando o fluxo através de

um paralelepípedo elementar em torno deste ponto, e assumindo a validade da lei de Darcy, solo

homogêneo e solo e água incompressíveis, é possível deduzir (eg Lambe e Whitman, 1979; Vargas, 1977)

a equação tridimensional do fluxo em meios não-saturados:

⎥⎦⎤

⎢⎣⎡

∂∂

+∂∂

+=

∂∂

+∂∂

+∂∂

=tSe

teS

ezhk

yhk

xhk

11

2

2

z2

2

y2

2

x

Eq. 5-74

onde ki é a permeabilidade na direção j, h a carga hidráulica total, S o grau de saturação, e o índice de

vazios e t o tempo (o subscrito t, referente à carga hidráulica total, é omitido para tornar as fórmulas mais

claras).

Em muitas aplicações em geotecnia, a equação 5.18 pode ser simplificada para a situação bidimensional,

em meio saturado e com fluxo estacionário (isto é, ∂S/∂t = 0), obtendo-se:

02

2

y2

2

x =∂∂

+∂∂

=yhk

xhk

Eq. 5-75

Page 118: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

116

Se nessa equação for considerada isotropia na permeabilidade, isto é, kx = ky, pode-se simplificar ainda

mais:

02

2

2

2

=∂∂

+∂∂

yh

xh

Eq. 5-76

Este tipo de expressão é conhecido como equação de Laplace, que governa vários fenômenos físicos,

como transmissão de calor e campo elétrico, e que pode ser escrita sob forma operacional, através do

operador gradiente ∇:

02 =∇ h

Eq. 5-77

É importante observar que a permeabilidade k do solo não interfere na equação de Laplace.

Conseqüentemente, em solos isotrópicos a solução depende unicamente da forma do fluxo e das

condições de contorno.

A resolução de um problema de fluxo pode ser obtida de várias formas: solução analítica, solução

numérica, analogia elétrica, modelo físico e solução gráfica.

Solução analítica

Algumas soluções analíticas são possíveis através de integração da equação diferencial apropriada. As

principais referências sobre o assunto, e que apresentam uma coletânea de soluções, são Polubarinova

Kochina (1962) e Harr (1962).

O método dos fragmentos é um tipo de solução analítica muito interessante e fácil de aplicar,

desenvolvido na Rússia por Pavlovsky (1956) e publicado em inglês por Harr (1962) e, mais

recentemente, por Holtz e Kovacs (1981). As soluções analíticas têm, entretanto, aplicação limitada a

casos de permeabilidade constante e isotrópica e fluxo estacionário.

Page 119: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

117

Solução numérica

Desde a primeira edição deste livro em 1993, o cenário de aplicação de soluções numéricas mudou

completamente. As aplicações de soluções numéricas através de PC’s ficaram tão eficientes que tornaram

todos os outros métodos coisa do passado. Não se cogita mais de traçar uma rede de fluxo. Os programas

de computados são cada vez mais fáceis de usar e fornecem soluções em pouco segundos com gáficos de

excelente qualidade.

Os métodos mais usados são diferenças finitas, ou de elementos finitos (MEF), sendo este cada di mais

aplicado. Existe farta literatura sobre estas soluções numéricas (e.g., Rushton e Redshaw, 1978, Veeruijt,

1982; Franciss, 1980) e não faz parte do escopo deste livro uma discussão.

Vários programas estão disponíveis no mercado. O autor ustiliza o programa PlaxisFlow (www.plaxis.nl)

e apresenta um exemplo. Trata-se de um dique em que se deseja obter as poropressões devido à

percolação. A Fig. 5.13, que corresponde à figura gerada pelo PlaxisFlow, indica os níveis dágua de

montante e jusante.

x

y

0 1

23

45

67

Fig. 5.13. Geometria de um dique de material siltoso para análise de percolação pelo MEF

Page 120: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

118

-0.000 3.000 6.000 9.000 12.000 15.000 18.000 21.000 24.000

-6.000

-3.000

0.000

3.000

6.000

9.000

12.000

Active pore pressuresPhase number: 0 Phase time: 0 day, Extreme active pore pressure -50.00 kN/m2

(pressure = negative)

kN/m2

-52.000

-48.000

-44.000

-40.000

-36.000

-32.000

-28.000

-24.000

-20.000

-16.000

-12.000

-8.000

-4.000

0.000

4.000

8.000

12.000

16.000

20.000

Fig. 5.14 Poropressões calculadas

A Fig. 5.14 apresenta os resultados da análise com as poropressões calculadas.

Analogia elétrica

Como a equação de Laplace rege o problema da condução de corrente, pode-se solucionar

experimentalmente um problema de fluxo d’água através de analogia com o fluxo elétrico em um meio

condutor. Nesse tipo de experiência utiliza-se um papel especial condutor elétrico, cortado de maneira a

simular as condições de contorno do problema prático, e aplica-se um potencial elétrico conhecido,

medindo-se a voltagem em vários pontos do papel com um voltímetro comum.

Detalhes sobre esta experiência podem ser encontrados, por exemplo, em Franciss (1980) e Bowles

(1970), sendo que ela já foi empregada para a solução de problemas bi e tridimensionais (Cedergren,

1977). Com o avanço dos métodos numéricos esta técnica foi abandonada.

Modelo físico

Em casos especiais podem ser empregados modelos de areia em escala de laboratório, medindo-se

poropressões com pequenos piezômetros instalados em vários locais do modelo. Andrade (1983) relata

um interessante trabalho em que um modelo físico tridimensional de fundação de barragem de concreto

foi executado para simular a instalação de drenos horizontais para diminuir subpressões.

Page 121: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

119

Solução gráfica

A equação bidimensional de Laplace pode ser representada graficamente, através de famílias de curvas

que se interceptam em ângulos retos, formando uma figura denominada rede de fluxo. Esse método é

descrito no item seguinte.

Rede de fluxo

A rede de fluxo é uma figura que representa o fluxo através de um meio poroso e consiste em um

conjunto de linhas de fluxo e linhas equipotenciais que se cruzam em ângulos retos. A rede pode ser

obtida graficamente por tentativas e, uma vez isto feito, podem ser determinados facilmente poropressões

e gradientes hidráulicos em qualquer ponto dela. Em seguida, conhecendo-se a permeabilidade,

determina-se a vazão que percola.

Não é do escopo deste livro discutir técnicas para o traçado da rede de fluxo, recomendando-se o trabalho

de Cedergren (1977) para os leitores que desejarem dominá-las. A abordagem aqui é dirigida para o

estudo de sua utilização na determinação de poropressões, vazões e gradientes. A Fig. 5.15 dá um

exemplo muito simples de fluxo unidimensional, que consiste em uma amostra de areia com 5 m de

altura, seção transversal de 2 m × 2m e permeabilidade de 5 × 10-4 m/s, sujeita a um fluxo vertical e

descendente. Na figura é apresentado o diagrama de cargas piezométrica, altimétrica e total e, ao lado, a

rede de fluxo do problema, que consta dos itens detalhados a seguir.

Linhas de fluxo

As linhas de fluxo indicam a trajetória das partículas do fluido percolado. No caso em análise, são cinco

linhas de fluxo verticais (nlf = 5), sendo que os espaços entre elas definem o que se denomina canal de

fluxo. Os canais de fluxo nc são quatro. Observar que:

1lfc −= nn

Eq. 5-78

Page 122: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

120

Fig. 5.15. Rede de fluxo unidimensional

Linhas eqüipotenciais

As linhas eqüipotenciais são, no caso analisado, as linhas horizontais, que interceptam as linhas de fluxo

com ângulos retos e são o lugar geométrico de pontos com o mesmo potencial total ou a mesma carga

hidráulica total. Entre duas eqüipotenciais adjacentes ocorre uma perda de carga, que é igual à perda total

de carga dividida pelo número de quedas de carga nq. No exemplo da Fig. 5.15, nq = 10 e o número de

eqüipotenciais neq é 11. Observar que:

1eqq −= nn

Eq. 5-79

Elementos da rede

Os elementos da rede são a figura definida por dois pares de eqüipotenciais e linhas de fluxo adjacentes

que se cruzam. O comprimento (ao longo da direção do fluxo) é l e a largura b. No exemplo da Fig. 5.15

os elementos da rede são quadrados, uma vez que a permeabilidade é igual nas direções vertical e

horizontal. Uma vez definidos os principais elementos geométricos da rede, quais sejam, nc e nq, realiza-

se o cálculo da vazão, das cargas e dos gradientes hidráulicos. A vazão Q1 por unidade de comprimento

em uma rede de fluxo é dada por:

Page 123: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

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121

q

c1 n

nHkQ =

Eq. 5-80

É importante ressaltar que, nessa equação, Q1 é a vazão por unidade de comprimento da rede (m³/s/m) e k,

a permeabilidade (m/s); a relação nc/nq é o fator de forma da rede de fluxo, cujos termos já foram

definidos, e H é a perda de carga total (m) que ocorre na rede. A dedução da equação 5.24 não é

apreentada aqui, porém o exemplo 5.8 compara os valores calculados pela mesma com a vazão obtida a

partir da lei de Darcy (equação 5.3), provando que os resultados são idênticos.

Exemplo 5.8

Calcular a vazão através da amostra da Fig. 5.15 pela equação 5.24 e a partir da lei de Darcy (equação

5.3).

Solução

Da Fig. 5.15 obtém-se k = 5 × 10-4 m/s, nc/nq = 4/10 = 0,4 e H = 8 m. Daí:

Q1 = 5 × 10-4 × 0,4 × 8 = 1,6 × 10-3 m³/s/m

Como a seção transversal da amostra tem 2 m × 2 m, a vazão total Q que percola é o dobro desse valor,

ou seja, Q = 3,2 × 10-3 m³/s. Através da equação 5.3, obtém-se: v = Q/A = ki, ∴ Q = Aki. Como a área da

seção transversal da amostra é A = 2 × 2 = 4 m² e o gradiente hidráulico é i = HL = 8/5 = 1,6, a vazão

total é:

Q = 4 × 5 × 10-4 × 1,6 = 3,2 × 10-3 m³/s

Potenciais ou cargas

Como o potencial, ou a carga hidráulica, pode ser determinado em qualquer ponto da rede de fluxo

através de linhas eqüipotenciais, é possível determinar também poropressões em qualquer ponto, como

exemplificado a seguir.

Page 124: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

122

Exemplo 5.9

Calcular a poropressão indicada em um piezômetro instalado na elevação de 3 m na amostra da Fig. 5.15.

Solução

Considerando que a carga total no NA superior é de 8 m, calcula-se a perda de carga entre cada queda, ou

seja, entre duas eqüipotenciais adjacentes. Como a carga hidráulica total dissipada é H = 8 m em 10

quedas de carga (nq = 10), a carga dissipada em cada queda é ΔH = H/nq = 8/10 = 0,8 m.

A carga total ht no piezômetro é obtida subtraindo-se as quedas desde a carga total do NA superior até o

local de instalação do instrumento. Como são seis quedas, a carga total no piezômetro é ht = 8 m – 6

quedas × 0,8 m = 3,2 m. A carga piezométrica hp no total do piezômetro é calculada pela equação 5.8,

obtendo-se hp = ht – ha = 3,2 m – 3 m = 0,2 m. A poropressão, dada pela equação 5.9, é u = 0,2 × γw = 0,2

× 10 = 2 kPa.

Gradientes hidráulicos

Os gradientes hidráulicos podem ser determinados em qualquer elemento da rede através da equação:

lHi /Δ=

Eq. 5-81

onde ΔH é a perda de carga no elemento, ou seja, entre as duas eqüipotenciais que o delimitam, e l o

comprimento do mesmo na direção do fluxo.

Exemplo 5.10

Calcular o gradiente i para um elemento da rede de fluxo da Fig. 5.21.

Solução

Nesta rede de fluxo unidimensional, todos os elementos têm o mesmo gradiente i. Aplicando a equação

5.25, com l = 0,5 m, obtido graficamente, e ΔH = 0,8 m, calculado no exemplo 5.9, vem:

i = 0,8/0,5 = 1,6

Page 125: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

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123

Fluxo bidimensional

Situações bidimensionais formam a maioria dos problemas práticos em geotecnia e a rede de fluxo, nestes

casos, apresenta curvatura, tanto nas linhas de fluxo quanto nas eqüipotenciais. Os exemplos 5.11 a 5.13

mostram alguns casos práticos de como a rede pode ser empregada para a determinação de vazões,

pressões e gradientes.

Exemplo 5.11

Para a cortina de estacas-pranchas apresentada na Fig. 5.16, determinar as pressões d’água na cortina, a

vazão que percola e o gradiente de saída. A permeabilidade do terreno é de 3 × 10-7 m/s.

Fig. 5.16. Exemplo 5.11: (a) percolação através da fundação de cortina de estacas-pranchas; (b)

diagrama de empuxos hidrostáticos da cortina

Solução

As características da rede de fluxo determinadas a partir da Fig. 5.16 constam do quadro 5.4. O quadro

5.5 apresenta, para pontos selecionados ao longo da cortina: a carga altimétrica ha, determinada na figura

0

9

1819.5

27mCortinaEstaca-PranchaA

IHB

GC

FD

E

Elevação (m)

k=5x10 m/s-4

(a)

150 100 50 0 50 100 150E

D

(b)

Elevação (m)

Pressão de água na cortina (kPa)

8

12

16

20

24

28

C

B

A

IH

G

F

E

HB

C

D F

G

E

u

u

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124

5.14; a carga total ht, calculada verificando-se a posição de cada ponto em relação à eqüipotencial mais

próxima, pois se conhece o valor da perda de carga entre duas eqüipotenciais adjacentes; a carga

piezométrica, obtida a partir das anteriores pela equação 5.8; e as poropressões u junto à cortina,

calculadas pela equação 5.9.

Quadro 5.4. Exemplo 5.11: características da rede de fluxo

Características da rede de fluxo Valor

Carga total na entrada (NA montante) 27 m

Carga total de saída (NA jusante) 19,5 m

Carga total dissipada H = NAmon – NAjus 27 – 19,5 = 7,5

Número de quedas de fluxo nq = 8

Número de canais de fluxo nc = 4

Número de eqüipotenciais neq = 9

Número de linhas de fluxo nlf = 5

Fator de forma da rede nc/ nq = 0,5

Queda de carga entre eqüipotenciais

adjacentes (ΔH = H/nq)

7,5 m/nq = 7,5/8 = 0,94 m

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

125

Quadro 5.5: Exemplo 5.11: cálculo das subpressões

Ponto ha (m) ht (m) hp (m) u (kPa)

A 27,00 27,0 0,0 0

B 18,00 27,0 9,0 90

C 14,70 26,1 11,4 114

D 11,70 25,1 13,4 134

E 9,00 23,2 14,2 142

F 11,70 21,4 9,7 97

G 14,70 20,4 5,7 57

H 18,00 19,5 1,5 15

I 19,50 19,5 0,0 0

A vazão pela fundação é calculada pela equação 5.24, obtendo-se:

Q1 = 3 × 10-7 m/s × 7,5 m × 0,5 = 1,13 × 10-6 m³/s/m

O gradiente de saída corresponde ao gradiente hidráulico na região de saída da rede de fluxo e seu valor

máximo deve ser controlado em todos os projetos de engenharia. Como se viu anteriormente, o gradiente-

limite de valor 1 conduz à condição de liquefação por percolação. Além disso, gradientes altos na região

de saída da rede podem provocar erosão interna, através do carreamento de partículas.

Fenômenos desse tipo têm sido responsáveis pela ruptura hidráulica de diversas obras, como as barragens

da Pampulha, no Brasil (Nunes, 1971), e Teton, nos EUA (ENR, 1977). O fator de segurança

recomendado para o problema é da ordem de 3; conseqüentemente, o gradiente de saída deverá ser

inferior a 0,3. Altos gradientes internos à obra não apresentam grandes problemas. Apesar disso, um

projeto contemplando gradientes menores é sempre mais seguro. Uma discussão abrangente sobre o

assunto pode ser vista em Cedergren (1977).

Para calcular o gradiente de saída escolhe-se o elemento mais desfavorável, que, no exemplo da Fig. 5.16,

é o próximo aos pontos G e H. Assim, obtém-se i = (ΔH/nq)/l = (7,5 m/8)/3,5 m = 0,27, valor inferior ao

do limite de segurança (0,3).

Page 128: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

126

Exemplo 5.12

Para a rede de fluxo na fundação da barragem de concreto de gravidade da Fig. 5.17, obter o diagrama de

subpressões e calcular a vazão e o gradiente de saída. A permeabilidade da fundação é de 5 × 10-9 m/s.

Solução

Seguindo os passos do exemplo anterior, obtêm-se as características da rede de fluxo e o cálculo das

subpressões, apresentados nos quadros 5.6 e 5.7. A vazão através da fundação, calculada pela equação

5.20, é:

Q1 = 5 × 10-9 m/s × 7,8 m × 4/13 = 1,20 × 10-8 m³/s/m

O gradiente de saída, calculado para o elemento mais desfavorável, que é o menor elemento entre os de

saída junto ao pé da barragem, é:

i = (H/nq)/l = (7,8 m/13)/3,5 m = 0,11

valor também inferior ao do limite de segurança.

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127

Fig. 5.17. Exemplo 5.12: (a) percolação através da fundação de barragem de gravidade; (b) diagrama de

subpressões

Quadro 5.6. Exemplo 5.12: características da rede de fluxo

Características da rede de fluxo Valor

Carga total na entrada (NA montante) 28,2 m

Carga total de saída (NA jusante) 20,4 m

Carga total dissipada H = NAmon – NAjus 28,2 – 20,4 = 7,80

Número de quedas de fluxo nq = 13

Número de canais de fluxo nc = 4

Número de eqüipotenciais neq = 14

Número de linhas de fluxo nlf = 5

25.5m =4 =13

=5x10 m /s

El 28.2m

El 19.2m

A B C D E F

A B C D E F

u

El 20.4m

120

60

0

-4

c

q

(a)

(b)

(kPa)

El 18m

El 12,9m

nnk

Page 130: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

128

Fator de forma da rede nc/ nq = 0,31

Queda de carga entre eqüipotenciais

adjacentes (ΔH = H/nq)

7,8 m/nq = 7,8/13 = 0,6 m

Quadro 5.7. Exemplo 5.12: cálculo das subpressões

Ponto ha (m) ht (m) hp (m) u (kPa)

A 18,00 25,50 7,50 75

B 18,00 25,20 7,20 72

C 18,00 24,60 6,60 66

D 18,00 24,00 6,00 60

E 18,00 23,40 5,40 54

F 18,00 23,10 5,10 51

Exemplo 5.13

A Fig. 5.18 apresenta a rede de fluxo para uma barragem homogênea de terra com filtro de pé, onde

foram instalados três piezômetros Casagrande (P1, P2 e P3) para controle de poropressões. Sabendo que a

permeabilidade do maciço é de 2 × 10-8 m/s, realizar a previsão de leituras piezométricas nos pontos P1,

P2 e P3, calcular a vazão e determinar o gradiente hidráulico no elemento X.

Fig. 5.18. Exemplo 5.13: percolação através do maciço de barragem de terra homogênea

Solução

Ao contrário dos exemplos 5.11 e 5.12, em que o fluxo era confinado, neste o escoamento se dá com

superfície livre, em que a linha de fluxo mais elevada é também denominada linha freática, pois coincide

Page 131: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

129

com o nível d’água no interior da barragem. O NA de montante está 12 m acima do nível do terreno e não

há NA de jusante. Nestas condições, as características da rede de fluxo são as indicadas no quadro 5.8.

Quadro 5.8. Exemplo 5.13: características da rede de fluxo

Características da rede de fluxo Valor

Carga total na entrada (NA montante) 12 m

Carga total de saída (NA jusante) 0 m

Carga total dissipada H = NAmon – NAjus 12 – 0 = 12 m

Número de quedas de fluxo nq = 8

Número de canais de fluxo nc = 3

Número de eqüipotenciais neq = 9

Número de linhas de fluxo nlf = 4

Fator de forma da rede nc/ nq = 0,38

Queda de carga entre eqüipotenciais

adjacentes (ΔH = H/nq)

12 m/nq = 12/8 = 1,5 m

A previsão de leituras nos piezômetros pode ser feita pela metodologia dos exemplos 5.11 e 5.12,

calculando-se as cargas altimétrica, total e piezométrica. Alternativamente, como se trata de escoamento

não-confinado, as pressões nos piezômetros podem ser determinadas graficamente (Fig. 5.18), definindo-

se a eqüipotencial mais próxima do local do instrumento e seguindo-a até a linha freática. Este ponto

determina a cota máxima que a água subirá no tubo do piezômetro. A vazão através do maciço, calculada

pela equação 5.24, é:

Q1 = 2 × 10-8 m/s × 12 m × 3/8 = 9 × 10-8 m³/s/m

O gradiente no elemento X, junto ao pé do maciço, é:

i = (H/nq)/l = (12 m/8)/1,5 m = 1

superior, portanto, ao limite de segurança de 0,3. Trata-se, porém, de um gradiente interno e protegido por

Page 132: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

130

um filtro de pé que impede a erosão interna.

Exercícios

5.1. que se entende por liquefação por percolação e qual é o gradiente necessário para provocar esta

situação?

5.2. Definir rede de fluxo, linha de fluxo e linha eqüipotencial.

5.3. Qual a faixa de permeabilidade que uma areia deverá ter para que se diga que ela apresenta

drenagem livre?

5.4. A Fig. 5.19 mostra a rede de fluxo traçada através da fundação de uma barragem de concreto. A

montante e a jusante foram cravadas duas cortinas de estacas-pranchas, consideradas como

impermeáveis. Pede-se: (a) o valor da poropressão nos pontos A, B, C e D; (b) a vazão através da

fundação por unidade de comprimento da barragem; e (c) o valor do gradiente hidráulico no

quadrado X. Sabe-se que k = 2 × 10-6 m/s, h1 = 50 m, h2 = 10 m, ΔH = 26 m e L = 85 m.

Fig. 5.19. Exercício 5.4: percolação através da fundação de barragem de gravidade

5.5. Por que nas barragens de concreto executa-se uma cortina de injeções a montante da fundação,

seguida por uma cortina de drenagem?

5.6. A Fig. 5.20 mostra a seção de uma barragem com coeficiente de permeabilidade igual a 2,5 × 10-7

m/s. Determinar a vazão através da barragem e a poropressão no ponto P, sendo H = 18 m.

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131

Fig. 5.20. Exercício 5.6: percolação através de barragem de terra homogênea

5.7. Determinar a vazão sob a barragem mostrada na Fig. 5.21 e plotar a distribuição da poropressão

em sua base, sabendo que k = 2 × 10-5 m/s, H = 10 m, h1 = 2,8 m, h2 = 1,6 m e h3 = 2 m.

Fig. 5.21. Exercício 5.7: percolação através da fundação de barragem de gravidade com cortina de

estacas-pranchas a montante

5.8. Considerando o perfil de solo da Fig. 5.22, pede-se (a) σv, σ’v e u no meio da camada de silte; (b)

velocidade de percolação na camada de silte.

Page 134: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

132

Fig. 5.22. Exercício 5.8: perfil de solo

Para a amostra de solo da Fig. 5.23, traçar os diagramas de distribuição das cargas total, piezométrica e

altimétrica e da força de percolação.

Fig. 5.23. Exercício 5.9: dados de cálculo

5.9. Calcular a força de percolação que atua na amostra da Fig. 5.24.

A

B

NA

NA

Areia

Silte

Areia= 18 kN/m³

= 20 kN/m³

= 0.67= 19 kN/m³

= 10 m/s

sat

sat

-7

2

1

γ

γ

= 10 m/s-6

k

ek

2m

1.5m

1m

2m

Page 135: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

133

1m

Fig. 5.24. Exercício 5.10: dados de cálculo

5.10. A Fig. 5.25 apresenta quatro soluções de projeto para barragens homogêneas, sendo (a) sem filtro,

com a linha freática saindo no talude de jusante, (b) com filtro de pé, (c) com filtro horizontal, tipo

tapete, e (d) com filtro chaminé interceptando o filtro horizontal. Com auxílio da bibliografia

recomendada, apresentar uma discussão explicando por que o tipo (d) é o mais seguro e a seção do

tipo (a) geralmente é contra-indicada.

Fig. 5.25. Exercício 5.11: soluções para barragens de terra homogêneas: (a) sem filtro, com a linha

freática saindo no talude de jusante; (b) com filtro de pé; (c) com filtro horizontal, tipo tapete; e (d) com

Page 136: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

134

filtro chaminé interceptando o filtro horizontal

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

135

Cap 6. COMPRESSIBILIDADE E RECALQUES

Introdução

Este capítulo trata da compressibilidade e dos recalques dos solos em condições de deformação lateral

nula, situação que ocorre, por exemplo, no centro de uma camada de solo sob uma grande área carregada,

como mostra a figura 6.1, referente a um aterro de largura B, grande em relação à espessura D da camada

sujeita a recalques, e com pontos A e B situados, respectivamente, no centro e na borda do carregamento.

Fig. 6.1. Deslocamentos verticais e horizontais sob pontos na borda e no centro de um aterro em

construção

O ponto A está sujeito a tensões cisalhantes nulas, pois se localiza sob o eixo da área carregada, sofrendo

deformações volumétricas sem que haja deformações laterais significativas. Já o ponto B sofre

deformações laterais durante e após o carregamento, devido ao aumento das tensões cisalhantes em sua

vizinhança. Neste capítulo é estudado apenas o que ocorre no ponto A.

Ensaio oedométrico

No estudo das deformações volumétricas de amostras de solo sem deformações laterais é utilizado um

aparelho desenvolvido por Terzaghi, denominado oedômetro (oedos, do grego, significa confinado

lateralmente), mostrado na figura 6.2

D

B

AB

Page 138: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

136

Fig. 6.2. Oedômetro

Um corpo-de-prova cilíndrico é confinado por um anel de aço e, no topo e na base, são colocadas pedras

porosas para permitir a drenagem. A carga vertical é transmitida através de uma placa de distribuição

rígida, que serve para uniformizar pressões, e uma bacia de saturação permite manter a amostra sob água,

evitando a perda de umidade durante o ensaio de solos saturados.

No ensaio oedométrico são impostas as condições mostradas na figura 6.3, aplicando-se incrementos de

carga e medindo-se as deformações verticais com o auxílio de um deflectômetro. Admitindo-se os grãos

sólidos como incompressíveis, a variação volumétrica se dará pela expulsão de gases e da água

intersticial, conforme indicado na figura 6.4.

Peras porosas

Amostra de Solo

Carga axial

Anel

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

137

Fig. 6.3. Condições de deformação impostas em um ensaio oedométrico

Fig. 6.4. Compressão unidimensional

A correlação entre a variação do índice de vazios Δe e a deformação volumétrica εvol é feita, então, por:

oovol

o

1o

os

1sos

o

1o

o

1

1)1()1()1(

ee

VV

eee

eVeVeV

VVV

VV

=∴

+−

=+

+−+=

−=

Δ

ε

Eq. 6-1

Pedras porosas

Anel de aço

H

Corpo de prova

(a)

(b)

Δ

Antes da

Água

GásGás

Sólidos

V = V - V

e V

V

V =V (1+e )V =V (1+e )

V =e V

V

Δ

Sólidos

Água

Compressão

Page 140: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

138

onde:

eo = índice de vazios inicial

e1 = índice de vazios após a deformação

Vo = volume inicial

Vs = volume de sólidos

Vv = volume de vazios = eoVs

V1 = volume após a deformação = e1Vs

Comportamento de areias

Para o estudo da compressibilidade de areias consideram-se os resultados de ensaios oedométricos

realizados por Roberts (1964) e de compressão isotrópica efetuados por Vesic e Clough (1968). Os

primeiros estão plotados na figura 6.5, representando-se, nas ordenadas, a variação do índice de vazios

durante o ensaio e, no eixo das abscissas, a pressão em escala logarítmica.

Fig. 6.5. Resultados de ensaios realizados para o estudo da compressibilidade de areias (Roberts, 1964)

Observa-se que a curva da areia ensaiada apresenta uma fase inicial quase horizontal, em que

praticamente não há variação do índice de vazios com o aumento de log σ’v, ou seja, a compressão

volumétrica é quase nula até atingir pressões verticais σ’v muito elevadas, da ordem de 10 MPa. A partir

deste valor, as deformações volumétricas são sensivelmente maiores. Observa-se também que os

0.1 1 10 100 1000

0.2

0.4

0.6

0.8

Areia

Quartzo moído

48 a 150 m

Feldspato moído

400 a 800 m

e

Pressão vertical ' (MPa)

Faixa de pressões queocorrem em engenharia

μφ

μ

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

139

resultados relativos a materiais granulares fabricados com quartzo e feldspato moído são equivalentes aos

da areia.

Para todos os materiais ensaiados é possível determinar um valor de pressão vertical a partir do qual as

deformações volumétricas aumentam rapidamente com o logaritmo de σ’v. Essa pressão efetiva pode ser

denominada pressão de escoamento, para a qual é adotada a notação σ’vm. As deformações volumétricas

para pressões inferiores a σ’vm são pequenas e praticamente desprezíveis. Ultrapassando-se σ’vm, as

deformações são consideráveis.

Analisando a distribuição granulométrica antes e após os ensaios (eg Datta et al, 1980; Almeida et al,

1987), verifica-se que esse fenômeno se deve à quebra de grãos, que provoca o aumento da

compressibilidade volumétrica. De fato, em ensaios em areias com grãos de sílica que não ultrapassam

σ’vm, não há alteração na distribuição granulométrica; já naqueles em que se atingem pressões superiores

ao valor de σ’vm, verifica-s uma grande percentagem de quebra de grãos do material, frente às altas

pressões aplicadas.

Outra conclusão importante que se tira dos ensaios em areias é que o valor de σ’vm está associado à

dureza dos grãos, isto é, quanto maior a dureza, maior o valor de σ’vm. Em areias de sílica ou quartzo,

σ’vm é em geral superior a 10 MPa, como indica a figura 6.5. Este valor é superior às pressões aplicadas

na grande maioria dos projetos de engenharia, visto que os carregamentos, as estacas e as sapatas de

fundação transmitem ao solo pressões inferiores a 10 MPa. Por esta razão, recalques em areias são

desprezíveis na grande maioria dos projetos.

Os resultados obtidos por Vesic e Clough (1968) estão plotados na figura 6.6, também com a variação dos

índices de vazios nas ordenadas e a pressão, em escala logarítmica, no eixo das abscissas. Esses

resultados foram obtidos em ensaios de compressão isotrópica, uma vez que, devido às altas pressões

necessárias para se alcançar σ’vm, é experimentalmente mais fácil induzir altas pressões em uma célula de

compressão isotrópica do que no oedômetro.

A figura 6.6 compara a compressão volumétrica de duas areias, uma fofa e outra compacta, mostrando

que a compressibilidade independe da compacidade, mas que o valor de σ’vm é influenciado. Em areias

fofas, portanto, os projetos de engenharia devem considerar a influência, ainda que na maioria das vezes

pequena, dos recalques em areias.

Page 142: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

140

Fig. 6.6. Resultados de ensaios realizados para o estudo da compressibilidade de areias (Vesic e Clough,

1968)

Uma importante exceção nesse comportamento é o dos depósitos marítimos de areia calcária que ocorrem

na plataforma continental, longe da costa brasileira, conforme comentado no capítulo 1 (figura 1.16).

Esses materiais apresentam grãos muito frágeis e quebradiços e, em conseqüência, excessiva compressão

volumétrica, sendo que várias estruturas offshore da bacia de Campos foram construídas sobre os

mesmos. Entretanto, não há registro de ocorrência em terra, no Brasil, de depósitos de areia calcária.

Comportamento de argilas

Para o estudo da compressibilidade das argilas foram considerados os resultados de um material

representativo de muitas argilas brasileiras: a argila mole do Rio de Janeiro, que tem sido objeto de

muitas pesquisas na UFRJ (eg Ortigão e Almeida, 1988). Uma amostra desse material, coletada a 5,5 m

de profundidade, foi submetida a um ensaio oedométrico com pressões efetivas verticais σ’v, em estágios

crescentes de 4 a 160 kPa, e depois descarregada em três etapas. As leituras de deformação foram feitas

ao final de cada etapa com duração mínima de 24 horas, isto é, após a estabilização das deformações. Os

resultados estão sumarizados no quadro 6.1.

1 MPa 4 MPa

Idealização

.04 .1 .4 1 4 10 40

Areia fofa

Areia compacta

Dados experimentais

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

e

e

p401041.4.1.04

1.0

0.8

0.6

0.4

0.2

' (MPa)

p ' (MPa)

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

141

Quadro 6.1. Resultados de ensaio oedométrico em argila do Rio de Janeiro

Fase σ’v (kPa) εv (%) e

Carga 0 0 3,60

4,0 0,6 3,57

10,0 1,8 3,52

20,0 3,6 3,43

40,0 8,6 3,20

80,0 22,1 2,58

160,0 33,7 2,05

Descarga 80,0 32,8 2,09

10,0 27,3 2,34

2,5 24,6 2,47

Os dados de σ’v versus εv do quadro 6.1 foram plotados inicialmente na figura 6.7a, com ambas as escalas

aritméticas. A curva resultante é bastante não-linear e dela podem ser obtidos dois módulos de

deformação: o oedométrico E’oed ou de Janbu M e seu inverso, o módulo de variação de volume mv, cujas

equações são:

v

voed

’ε

σd

dEM ==

Eq. 6-2

MEddm 1

’1

’ oedvv ===

σε

Eq. 6-3

Observando a figura 6.7a, constata-se que esses módulos variam com a tensão, o que levou Terzaghi a

preferir plotar a tensão efetiva de consolidação σ’v, em escala logarítmica, conforme apresentado na

Page 144: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

142

figura 6.7b. A curva resultante apresenta um longo trecho aproximadamente linear, tanto no carregamento

quanto no descarregamento, facilitando, segundo Terzaghi, a adoção de um modelo de comportamento

que permite o cálculo de recalques.

Fig. 6.7. Resultados de ensaio oedométrico na argila do Rio de Janeiro

Na figura 6.7b observa-se que:

(a) logo no início da curva, a partir do estágio inicial de 4 kPa, há um trecho de recompressão, em que

a amostra está sendo reconduzida às tensões in situ e onde as deformações são relativamente

pequenas;

(b) após uma curvatura acentuada há um trecho retilíneo, denominado por Terzaghi reta virgem, em

que a amostra sofre grandes deformações com o aumento do logaritmo das pressões verticais;

(c) finalmente, durante o descarregamento ou inchamento da amostra, as deformações verticais

também são relativamente pequenas.

A pressão vertical correspondente ao início da reta virgem, a partir da qual o solo passa a sofrer grandes

deformações, é denominado pressão de pré-adensamento σ’vm ou de sobreadensamento, ou ainda de pré-

consolidação. O conhecimento do valor de σ’vm é extremamente importante para o estudo do

comportamento dos solos, pois é a fronteira entre deformações relativamente pequenas e muito grandes.

Vários métodos têm sido propostos para sua determinação, tendo sido sumarizados por Leonards (1962).

2.0

2.5

3.0

3.5

0 100 2000

10

20

30

d

v

v

Reta virgem

Descarregamentoou inchamento

(a)

(kPa)

(%)

εε

σ′

ε(%)

30

20

10

03.5

3.0

2.5

2.0

2004 10 20 40 100

e

e

σ′

σ′d

v (kPa)σ′

σ′

Page 145: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

143

Dois deles, entretanto, merecem atenção: o de Casagrande (figura 6.8), devido a sua importância

histórica, pois foi o primeiro a ser proposto (Casagrande, 1936), e o de Pacheco Silva (figura 6.9),

engenheiro do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT), que propôs um método de fácil

aplicação e muito usado no Brasil (Silva, 1970).

Fig. 6.8. Determinação da pressão de pré-adensamento pelo método de Casagrande

3.5

3.0

2.5

2.0

4 10 20 40 100

PontoR

Horizontal

Bissetriz

Tangente

e

(kPa)v

vo

vm

vmσ′

σ′

σ′

σ′

Prolongamento da reta virgem

4 10 20 40 100 200

2

2.5

3.0

3.5

vm

o

v

eA

BC

e

(kPa)σ′

σ′

Page 146: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

144

Fig. 6.9. Determinação da pressão de pré-adensamento pelo método de Pacheco da Silva

Para a determinação de σ’vm pelo método de Casagrande, é definido inicialmente o ponto de menor raio

de curvatura, a partir do qual são traçadas duas retas, uma tangente à curva e a outra paralela ao eixo das

tensões. Após determinar a bissetriz do ângulo formado por essas duas retas, prolonga-se a reta virgem

até encontrar bissetriz. O ponto de encontro terá coordenadas (evm, σ’vm). O valor de σ’vm encontrado para

a amostra de argila do Rio de Janeiro analisada é da ordem de 34 kPa.

Para a determinação de σ’vm pelo método de Pacheco da Silva, traça-se uma reta horizontal, passando

pela ordenada correspondente ao índice de vazios inicial eo, e prolonga-se a reta virgem até interceptar a

reta horizontal. A partir dessa interseção (ponto A), traça-se uma reta vertical até interceptar a curva (B) e,

daí, traça-se outra reta horizontal até sua interseção com o prolongamento da reta virgem (C). As

coordenadas deste ponto são (evm, σ’vm).

História de tensões

O ensaio de adensamento em amostra de argila do Rio de Janeiro mostrado na figura 6.7b está replotado

na figura 6.10, com uma diferença: neste caso, o ensaio foi executado com um ciclo de descarga e

recarga, iniciado na pressão de 80 kPa. As deformações obtidas durante o ciclo foram pequenas e

reversíveis, o que caracteriza um comportamento aproximadamente elástico. Já o trecho virgem, antes e

após o ciclo de descarga-recarga, apresenta características de comportamento plástico, pois as

deformações são grandes e irreversíveis.

Page 147: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

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145

Fig. 6.10. Ciclo de carga-descarga apresentando deformações reversíveis

A pressão de 80 kPa, a partir da qual o descarregamento teve início, é muito importante, pois representa

um estado-limite entre o plástico (reta virgem) e o elástico. Ao recarregar a amostra, verifica-se que, para

pressões superiores a 80 kPa, o material retorna à reta virgem. Portanto, essa pressão pode ser considerada

como uma nova pressão de pré-adensamento aplicada em laboratório, ou seja, (σ’vm)lab. Desta forma,

pode-se dizer que a argila tem seu comportamento muito influenciado pela maior pressão vertical a que

esteve submetida anteriormente, algo como uma memória do passado, ou uma história de tensões.

Comparando a pressão efetiva vertical atual, σ’v, com a máxima anteriormente registrada, σ’vm, o

comportamento das argilas pode ser classificado como normalmente adensado (NA) ou pré-adensado

(PA). O quadro 6.2 mostra o valor da relação entre pressões efetivas verticais atual e máxima passada,

aqui notada como OCR (overconsolidation ratio), preferencialmente às siglas RSA (razão de

sobreadensamento) e RPA (razão de pré-adensamento), adotadas em alguns textos em português.

Quadro 6.2. Comparação entre pressões atual σ’v e máxima passada σ’vm

Pressão Comportamento da argila

σ’v < σ’vm Solo pré-adensado (PA)

4 10 20 40 100

2.0

2.5

3.0

3.5

Deformaçõesreversíveis

DeformaçõesIrreversíveis

e

(kPa)vcσ′

Page 148: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

146

Deformações pequenas e reversíveis

Comportamento elástico

OCR > 1

σ’v ≥ σ’vm Solo normalmente adensado (NA)

Deformações grandes e irreversíveis

Comportamento plástico

OCR = 1

O valor do OCR é definido por:

vvm ’/’ σσ=OCR

Eq. 6-4

O cálculo do OCR pode ser exemplificado pela amostra de argila do Rio de Janeiro: sabendo-se que o

valor de σ’vm é de 34 kPa e que σ’vo na profundidade da amostra é igual a 16 kPa, vem: OCR = 34/16 ≅ 2.

Causas de pré-adensamento

A figura 6.11a mostra uma partícula A de argila em processo de sedimentação. Logo após a deposição, a

partícula estará submetida a uma tensão efetiva σ’vo, pressão esta jamais excedida anteriormente,

podendo-se afirmar daí que σ’vo = σ’vm, e a amostra estará sobre a reta virgem (figura 6.11b). Admitindo

que um processo de erosão superficial remova da superfície do terreno uma capa de solo (figura 6.11c),

ocorrerá então um alívio da tensão σ’vo aplicado ao ponto A. Em conseqüência, o elemento A sofrerá

descarregamento e inchamento, afastando-se da reta virgem como mostra a figura 6.11d, e estará pré-

adensado.

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147

Fig. 6.11. (a) sedimentação; (b) erosão

Esta é uma das causas de pré-adensamento, havendo porém várias outras possibilidades. A variação do

nível d’água também é uma das causas freqüentes, pois, se o NA sofrer uma elevação no interior do

terreno, as pressões efetivas serão aliviadas, provocando um pré-adensamento. Outra causa importante é o

ressecamento devido a variações de nível d’água próximo à superfície de um depósito de argila

normalmente adensada, que provoca o aparecimento de uma crosta pré-adensada. Finalmente, o

adensamento secundário, ou fluência, abordado no capítulo 7, foi empregado por Bjerrum (1973) para

explicar o fenômeno de envelhecimento de uma argila, que por sua vez provoca o pré-adensamento.

A lixiviação, que é o fenômeno da precipitação de elementos químicos solúveis, como compostos de

sílica, alumina e carbonatos, pode ocorrer nos solos, nas camadas superiores, devido à chuva. Tais

elementos, se precipitados nas camadas inferiores, podem provocar a cimentação entre grãos, fenômeno

este utilizado por Vargas (1977) para interpretar a formação e as pressões de pré-adensamento em argilas

porosas de São Paulo e da região centro-sul do Brasil.

Segundo Vargas (1953), o fenômeno do pré-adensamento não se restringe aos solos sedimentares. Os

solos residuais também podem apresentar um pré-adensamento virtual, relacionado com ligações

intergranulares provenientes do intemperismo da rocha. A figura 6.12 exemplifica este fato através do

perfil geotécnico de um solo residual de Belo Horizonte, onde se verifica um forte sobreadensamento nos

WT

A

GL

Argila

Solo erodido

A'

Reta virgem

A'A

vmvo

vo vm=

log

e

v

σ′

σ′

e

σ′vlog

σ′ σ′

(c)

(b)

(d)

(a)

Solo PA

A: SoilNC

σ′

Page 150: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

148

primeiros 5 m de profundidade.

Qualquer que seja a causa, o importante é ter em mente que, se o material for carregado abaixo de σ’vm, as

deformações serão pequenas e reversíveis e o material apresenta comportamento que se pode admitir

como elástico; carregando-se acima de σ’vm, as deformações serão grandes e irreversíveis e o solo

apresenta comportamento admitido como plástico.

Parâmetros de compressibilidade

Para se adotar um modelo teórico no cálculo de deformações, podem ser definidos alguns parâmetros de

compressibilidade (figura 6.13). A figura 6.13a apresenta os parâmetros relativos à curva de índice de

vazios e versus log σ’v e a figura 6.13b, os relativos à curva de deformação εv versus log σ’v. O quadro

6.3 apresenta as equações que definem os parâmetros de compressibilidade utilizados.

Os parâmetros da curva e × log σ’v podem ser convertidos nos parâmetros da curva εv × log σ’v pelas

equações:

o

c

1 eCCR+

=

Eq. 6-5

o

s

1 eCSR+

=

Eq. 6-6

Exemplo 6.1

Considerando as curvas de e × log σ’v e εv × log σ’v da amostra de argila do Rio de Janeiro, cujos dados

constam do quadro 6.1, obter graficamente e através das equações do quadro 6.3 os parâmetros de

compressibilidade.

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

149

Fig. 6.12. Pré-adensamento virtual em solo residual de Belo Horizonte (Vargas, 1953)

Fig. 6.13. Parâmetros de compressibilidade: (a) curva de e × log σ’v; (b) curva de εv × log σ’v

Prof

undi

dade

vm

0 200 400 600

5

10

15

vo

0

vσ′

σ′

σ′

(kPa)

σ′vo

σ′vm

(m)

e C

SR

CR

1 ciclo

(a)

(b)

v

σ′

e

σ′log

c

C

Coeficiente de descompressão ou inchamento

s

Compressibilidade

1 ciclo

1 ciclo

1 ciclo

σ′

σ′ σ′

Page 152: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

150

Quadro 6.3. Parâmetros de compressibilidade

Inclinação Curva

Reta virgem Reta de descompressão ou

inchamento

(a)

e × log σ’v v’logσd

deCc −= v’logσd

deCs =

(b)

εv × log σ’v v

v

’logσε

ddCR −=

v

v

’logσε

ddSR =

(a) Os valores de e e σ’v são determinados no trecho apropriado da curva de e ×

log σ’v.

(b) Os valores de εv e σ’v são determinados no trecho apropriado da curva de εv

× log σ’v.

Solução gráfica

Para a obtenção de Cc e Cs, determina-se, na escala logarítmica de σ’v, um intervalo correspondente a um

ciclo na escala logarítmica, ou seja, entre 4 e 40 kPa ou entre 10 e 100 kPa, de forma que a diferença dos

respectivos logaritmos seja unitária, isto é:

110log100logou14log40log =−=−

Para este ciclo, o valor de Cc pode ser assim calculado:

1010010100

v 10log100log’logeeeeeCc −=

−−

Δ=

σ

onde e100 e e10 são os índices de vazios dos pontos da reta virgem correspondentes às pressões verticais do

ciclo de pressões adotado. O segundo passo consiste em se prolongar a reta virgem, de forma a ser

interceptada pelas abscissas correspondentes ao ciclo selecionado. Os valores de Cc Cs assim obtidos

estão indicados na figura 6.14. A determinação gráfica de CR e SR é análoga e consta da figura 6.15.

Page 153: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

151

Fig. 6.14. Determinação gráfica dos parâmetros Cc e Cs

Fig. 6.15. Determinação gráfica dos parâmetros CR e SR

2.0

2.5

3.0

3.5

4.0

4.5

5.0

4 10 40 100 400

C

e

C

c

s

e

(kPa)v

σ′

40

30

20

10

0

-10

-20

CR

SR

4 10 40 100 400

Compressão

(%)vε

Page 154: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

152

Solução analítica

Aplicando-se as equações do quadro 6.3 para o trecho correspondente das curvas de e × log σ’v e εv × log

σ’v, cujos dados constam do quadro 6.1, vem:

91,140log160log

05,220,3c =

−−

=C

23,05,2log160log

05,247,2s =

−−

=C

%4240log160log

6,87,33≅

−−

=CR

%55,2log160log

6,247,33≅

−−

=SR

Alternativamente, pode-se obter CR e SR através das equações 6.5 e 6.6:

%4242,060,31

91,1=≅

+=CR

%505,060,31

23,0=≅

+=SR

Relação entre parâmetros de compressibilidade

É possível relacionar o módulo oedométrico E’oed com o módulo de Young E’, bastando aplicar a

condição de deformação oedométrica ε2 = ε3 = 0 nas equações da lei de Hooke, estudadas no capítulo 2.

Obtêm-se, assim, as seguintes equações (onde o módulo de Young E’ e o coeficiente de Poisson v’

referem-se a ensaios drenados, ou seja, durante os quais foi permitida a drenagem do corpo-de-prova):

Page 155: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

153

)’21)(’1()’1(’’oed vv

vEE−+

−=

Eq. 6-7

’1’

’’

vo

hoo v

vK−

==σσ

Eq. 6-8

Essas equações só têm validade, é claro, se o material puder ser considerado elástico. Mais adiante pode

ser visto que a equação 6.8 não fornece resultados satisfatórios na maioria dos casos, havendo, entretanto,

correlações empíricas cujo uso é recomendado.

Outra relação de interesse pode ser obtida entre o módulo de variação de volume mv e o coeficiente de

compressibilidade Cc. Para tanto, a partir da definição de Cc (quadro 6.3) obtém-se o valor de uma

variação infinitesimal do índice de vazios de:

v

vcv

cvc ’

’2,3

’ln3,2

’logσσσσ dCdCdCde ===−

Eq. 6-9

Por outro lado, de pode ser obtido a partir de mv:

vov

v

’)1(’ σσε

dede

ddmv

+−

==

Eq. 6-10

Combinando e rearranjando as equações 6.9 e 6.10, obtém-se:

Page 156: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

154

médiovov ]’[)1(3,2 σe

Cm+

=

Eq. 6-11

Cálculo de recalques

Partindo da equação 6.1, conclui-se que o recalque unidimensional ρ é dado pela equação:

oo 1 e

eH+Δ

Eq. 6-12

onde Ho é a espessura inicial da camada. Essa equação é válida independentemente do mecanismo que

causa a variação de volume e do grau de saturação do material. O valor da variação do índice de vazios

Δe pode ser obtido diretamente na curva de ensaio e × log σ’v, correspondente à variação de pressões

efetivas inicial σ’vi e final σ’vf.

Para solo normalmente adensado, o valor de Δe da equação 6.12 pode ser substituído, resultando na

expressão:

vi

vfc

vi

vfvivfv

’’log

’’log

c’log’log’log

σσ

σσσσσ

Ce

eeCc

=Δ∴

Δ=

−Δ

Δ=

Eq. 6-13

Combinando as equações 6.12 e 6.13, vem:

vi

vf

o

co ’

’log1 σ

σρe

CH+

=

Eq. 6-14

Page 157: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

155

O valor de CR pode ser substituído na equação 6.14, resultando em:

vi

vfo ’

’logσσρ CRH=

Eq. 6-15

A vantagem do emprego do parâmetro CR em lugar de Cc fica clara a partir da equação 6.15, pois um

parâmetro a menos é necessário para o cálculo de recalques. Para solo pré-adensado, mutatis mutandis,

obtêm-se as expressões:

vi

vf

o

so ’

’log1 σ

σρe

CH+

=

Eq. 6-16

vi

vfo ’

’logσσρ SRH=

Eq. 6-17

Para solo pré-adensado, porém carregado além da pressão de pré-adensamento σ’vm, ou seja, σ’vf > σ’vm,

as equações 6.14 e 6.12 podem ser combinadas, fornecendo:

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+

++

=vm

vf

o

c

vo

vm

o

so ’

’log1’

’log1 σ

σσσρ

eC

eCH

Eq. 6-18

Analogamente, obtém-se:

Page 158: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

156

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+=

vm

vf

vo

vmo ’

’log

’’

logσσ

σσ

ρ CRSRH

Eq. 6-19

A figura 6.16 apresenta um resumo das expressões empregadas nos casos de material pré-adensado

carregado além e aquém da pressão de pré-adensamento, isto é, σ’vf > σ’vm e σ’vf > σ’vm, e de material

normalmente adensado.

Exemplo 6.2

Calcular os recalques na argila do Rio de Janeiro para o perfil geotécnico da figura 6.17, sobre o qual se

construirá um aterro arenoso com alturas Ha de 0,5 m, 1 m e 3 m e peso específico γ = 20 kN/m³. As

propriedades geotécnicas, obtidas em um ensaio oedométrico de uma amostra do meio da camada de

argila, são Cc = 1,91, Cs = 1,16, eo = 3,6, σ’vm = 34 kPa e γ = 13 kN/m³.

Solução

Para a altura do aterro Ha = 0,5 m, considerando a camada de argila homogênea, o cálculo de pressões é

realizado para o ponto A no meio da camada. Tem-se:

σ’vo = 5,5 m × 3 kN/m³ ≅ 17 kPa

σ’vf = σ’vo + Δσ = 17 + 0,5 m × 20 kN/m³ = 27 kPa

Verifica-se que σ’vf < σ’vm. O recalque calculado é pela equação 6.16, obtendo-se:

m08,01727log

6,3116,0m11 =−

+=ρ

Page 159: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

157

Fig. 6.16. (a) Solo PA carregado com σ’vf > σ’vm; (b) idem, com σ’vf < σ’vm; (c) solo NA

Fig. 6.17. Exemplo 6.2: cálculo de recalques

Para o aterro com altura H = 1 m, tem-se:

(a)

(b)

(c)

log

evo

vm

vf

vmvfvo

vo = vm

vf

vσ′

e

vlog

log v

σ′

σ′

σ′ σ′

σ′

σ′ σ′σ′

σ′σ′

σ′

Argila Mole

AterroH=20 kN/m³

= 1.91

= 3.6 = 42%=13 kN/m³

= 0.16

= 3.5%

= 34kPa

a

o

vm

γ

σ′

γ

CR11 m e

C

SRcC s

Page 160: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

158

σ’vf = σ’vo + Δσ = 17 + 1 m × 20 kN/m³ = 37 kPa

∴ σ’vf > σ’vm

O recalque, também calculado pela equação 6.18, é:

m28,03437log

6,3191,1

1734log

6,3116,011 =⎟

⎞⎜⎝

⎛+

++

Para o aterro com Ha = 3 m, tem-se:

σ’vf = σ’vo + Δσ = 17 + 3 m × 20 kN/m³ = 77 kPa

∴ σ’vf > σ’vm

O recalque, calculado pela equação 6.18, é:

m74,13477log

6,3191,1

1734log

6,3116,011 =⎟

⎞⎜⎝

⎛+

++

Exemplo 6.3

Calcular os recalques na argila do Rio de Janeiro para o perfil geotécnico da figura 6.17, onde se

construirá um aterro arenoso com 2 m de altura e peso específico γ = 18 kN/m³. As propriedades

geotécnicas da argila, neste caso, são as obtidas através de vários ensaios oedométricos, que constam da

figura 6.18. O peso específico da argila é γ = 13 kN/m³.

Solução

Como as propriedades da argila variam com a profundidade, divide-se a camada de argila em várias

subcamadas e calcula-se o recalque em cada uma delas. O resultado final é a soma dos recalques das

subcamadas. As propriedades geotécnicas consideradas constam da figura 6.18. Devido ao

sobreadensamento da argila, a equação 6.18 foi usada nos cálculos, que são apresentados no quadro 6.4.

Page 161: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

159

σ'v0 σ'vm (kPa)

0 20 40 60

Pro

f. (m

)

0

2

4

6

8

10

12

OCR

1 3 5 70

2

4

6

8

10

12

e0

1 2 3 4 5 6 70

2

4

6

8

10

12

CR (%)

20 30 40 50 600

2

4

6

8

10

12

SR (%)

2 4 6 8 100

2

4

6

8

10

12

σ 'vm

σ 'v0

Fig. 6.18. Resultados de ensaios oedométricos em argila do Rio de Janeiro

Quadro 6.4. Exemplo 6.3: cálculo de recalques

z (m) H0 (m) zmed

(m)

σ’vo

(kPa)

σ’vm

(kPa)

σ’vf

(kPa)

CR

(%)

SR

(%)

ρ (m)

0 a 2 2 1,0 3,0 19 39 40 6 0,10+0,25

2 a 5 3 3,5 10,5 23 47 40 6 0,06+0,37

5 a 8 3 6,5 19,5 34 56 40 6 0,04+0,26

8 a 11 3 9,5 28,5 46 65 40 6 0,04+0,18

ρ = Σ 1,3

Correlações entre parâmetros de compressibilidade

Correlações entre parâmetros de compressibilidade são muito úteis na prática da engenharia. Procura-se

correlacionar, por exemplo, o coeficiente de compressibilidade Cc, obtido em ensaios oedométricos, com

os limites de Atterberg, fornecidos por ensaios bem mais simples, de caracterização. Com isto, na fase de

anteprojeto de uma estrutura é possível realizar uma estimativa de recalques, antes mesmo de se iniciar a

campanha de ensaios oedométricos. Assim, podem ser avaliadas nessa fase diferentes soluções de projeto

sem grandes investimentos em ensaios.

Posteriormente, durante a campanha de investigações geotécnicas, as correlações podem ser utilizadas

para aferir os resultados dos ensaios: constatando-se grandes diferenças, será conveniente uma

Page 162: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

160

investigação das causas, pois são freqüentes os erros devido à má qualidade da amostra, a ensaios

conduzidos erroneamente, e mesmo a erros nos cálculos dos resultados.

O quadro 6.5 resume algumas correlações do tipo Cc = f(LL) para vários solos sedimentares, onde LL é o

limite de liquidez. Tais correlações apresentam grande dispersão no valor calculado de Cc, da ordem de

30%, e têm validade restrita ao depósito de solo para o qual foram determinadas.

Em solos tropicais (saprolíticos e lateríticos) as correlações do tipo Cc = f(LL) fornecem dispersão

excessiva (Lacerda, 1985, Milititsky, 1986), preferindo-se correlacionar Cc com o índice de vazios eo. A

figura 6.19 apresenta uma correlação desse tipo, obtida pelo autor para solos de diferentes origens.

Page 163: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

161

Quadro 6.5. Correlações Cc = f(LL)

Argila Correlação Referência

São Paulo (argilas terciárias) Cc = 0,0046 (LL-9) Cozzolino (1961)

Santos Cc = 0,0186 (LL-30) Cozzolino (1961)

Rio de Janeiro (Sarapuí) Cc = 0,013 (LL-18) Ortigão (1975)

Rio de Janeiro (Grande Rio) Cc = 0,021 (LL-40) Costa-Filho et al (1985)

Recife Cc = 0,014 LL Coutinho et al (1988)

Vitória Cc = 0,01 (LL-8) Castello et al (1986)

Argilas de baixa sensibilidade Cc = 0,009 (LL-10) Terzaghi e Peck (1967)

Outras correlações mais recentes têm caráte universal, podendo ser aplicadas a materiais de diferentes

origens geológicas. Entre as que podem ser enquadradas nesse tipo, são particularmente úteis às

correlações correspondentes às seguintes equações:

512

d

wc 2

1⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡=

γγ

C (Herrero, 1980)

Eq. 6-20

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡+

−++=

+

wLPAIP

eC

027,01027,0)192,1(0133,0

1329,01

1-1c

o

c (Carrier, 1985)

Eq. 6-21

onde:

γw = peso específico da água

γd = peso específico seco = γ / (1+w)

Ac = atividade = IP / (% < 2 μm)

w = umidade (%)

LP = limite de plasticidade (%)

Page 164: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

162

IP = índice de plasticidade (%)

A figura 6.20 apresenta um ábaco para a solução gráfica da equação 6.21.

Exemplo 6.4

Estimar o valor de Cc e CR a partir de ensaios de caracterização em argila do Rio de Janeiro, que, na

profundidade de 5,5 m, apresenta: γ = 13 kN/m³, IP = 80%, LP = 40%, w = 150%, eo = 3,6 e 55% de

argila com granulometria menor que 2 μm.

e0

0.2 0.3 0.4 0.50.60.70.80.9 2 3 4 5 6 7 8 90.1 1 10

Cc

0.0

0.5

1.0

1.5

Sowers (1963)Nuñez e Micucci (1985)Mori et al (1974)Polido e Castelo (1985)Dias e Gehling (1983)Milititsky e Dias (1985)Gonzales et al (1981)RegressãoLimites de confiança

Cc = 0.94 log e0 + 0.339

Fig. 6.19. Correlação entre Cc e eo para solos saprolíticos e lateríticos

180 160 140 120 100 80 60 40 20 0

Activity

5 0.5 A =0.3c

2

Cam clay Model

= 0.0135 IPC

0.5

1

1.5

2

2.5

3

C c00.10.20.3

0.40.5

0.6

Cc

40%80%100%

40%60% 80%

100%

w=20%

40%

w=20%

60%80%

100%

LP=60

50

40

3020

10

C

(1+e)

Page 165: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

163

Fig. 6.20. Ábaco para solução gráfica da equação 6.21 (Carrier, 1985)

Solução

Aplicando-se a equação 6.20, vem:

4,22,5

1021

kN/m2,5100/1501

13

512

c

3d

=⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡=∴

=+

=

C

γ

Aplicando-se a equação 6.21, vem:

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡×+

−×−+×+=

+=∴

==−

150027,01140027,0)45,1192,1(800133,01329,0

1

45,155/801

o

c

c

eCCR

A

Valor de Ko de ensaios oedométricos

Como em um ensaio oedométrico convencional não se mede o valor da tensão horizontal σ’h, o

coeficiente Ko não é obtido. Entretanto, em ensaios especiais, se for instalado um dispositivo lateral de

medição da pressão horizontal σ’h, o valor de Ko poderá ser calculado pela equação 3.10 (capítulo 3) para

cada estágio de carga vertical σ’v. Neste caso, será possível estudar a variação de Ko nos solos. Para

estudar o comportamento de argilas, pode-se utilizar como exemplo os resultados de um ensaio

oedométrico em caulim, reproduzidos na figura 6.21.

Page 166: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

164

500

400

300

200

100

0 100 200 300 400

4003002001000

0.5

1.0

1.5

1.5

1.0

0.5

0 1.0 3.0 5.0 7.0 9.0 11.0

v

h

v h

B

D

A

A B

D

A,B

Do

o

v

h

v

K

K

OCR

(kPa)

(kPa)

(kPa)

σ′

σ′

σ′

σ′

σ′

σ′ = σ′

(A)

(b)

(c)

Fig. 6.21. Ensaio oedométrico em caulim (Nadarajah, 1973)

A amostra foi normalmente adensada na pressão vertical σ’v de 50 kPa, correspondente ao primeiro

estágio de carga (ponto A da figura 6.21a). Seguiram-se outros estágios de valores crescentes de σ’v, até

550 kPa (ponto B). Em seguida, descarregou-se em estágios até a pressão de 80 kPa (ponto D). O trecho

AB corresponde ao comportamento normalmente adensado da argila, enquanto no trecho BD o material

foi pré-adensado.

A figura 6.21b apresenta a variação do valor de Ko versus σ’v durante o ensaio, verificando-se que Ko é

aproximadamente constante e da ordem de 0,55 durante o carregamento; no descarregamento seu valor

cresce, até atingir 1,5 no final do ensaio. A partir desses dados foi possível estabelecer uma relação entre

Ko e o OCR (figura 6.21c), constatando-se que o valor do primeiro depende fortemente do segundo. Em

resumo, pode-se dizer que, para solos normalmente adensados, Ko é aproximadamente constante e menor

que 1; em solos muito pré-adensados, Ko > 1, sendo Ko = f(OCR). Estudos realizados em areias (eg Al

Hussaini et al, 1975; Daramola, 1980; Mayne e Kulhawy, 1982) permitem estender tais conclusões a

esses tipos de solos.

A tentativa de relacionar Ko com outras propriedades dos solos normalmente adensados levou Jaky (1944)

a correlacioná-lo com o atrito mobilizado entre as partículas de solo, ou seja, uma relação do tipo Ko =

f(φ’). Nesta equação, φ’ é o ângulo de atrito interno efetivo dos solos, parâmetro estudado nos capítulos 9

e seguintes. Jaky propôs a seguinte correlação:

Page 167: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

165

φsen1o −=K

Eq. 6-22

Embora muito simples e de caráter empírico, essa relação produz resultados surpreendentemente bons,

tanto para areias quanto para argilas normalmente adensadas, como pode ser verificado pelos dados

plotados na figura 6.22. Mais recentemente, Mayne e Kulhawy (1982) procuraram estender o emprego da

equação de Jaky para areias e argilas pré-adensadas, propondo a equação:

’)’sen1( senφφ OCRKo −=

Eq. 6-23

Diagrama s’:t:e no ensaio oedométrico

A técnica de representação gráfica de trajetórias de tensões efetivas (TTE) tipo MIT, estudada no capítulo

4, é agora aplicada a um ensaio oedométrico especial em que se conhece o valor de Ko durante o mesmo.

A figura 6.23a apresenta a TTE desse ensaio, sendo que o trecho inicial AB corresponde ao primeiro

carregamento da argila. Nesse trecho a argila é normalmente adensada, e o valor de Ko é constante. No

diagrama, esse trecho é plotado como uma reta, denominada linha Ko.

Page 168: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

166

Fig. 6.22. Ko em solos normalmente adensados: (a) argilas (Ladd et al, 1977) e (b) areias (Al Hussaini et

al, 1975)

Fig. 6.23. Trajetória de tensões no ensaio oedométrico

0,9

0,7

0,3

0,5

12 20 28 36

0,9

0,7

0,5

0,3

0,127 31 35 39 43

= 1-sen

o

o

K

K

F'

φ′

o

o = 1-senφ′

φ′K

K

A

BCCB

A

A

B

Linha Virgem

Descarregamento

K K

t

ee

= constante o

vmσ′

σ′

σ′

log s'

Linha

Page 169: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

167

A partir do ponto B se inicia o descarregamento do ensaio, tendo o material comportamento

sobreadensado. O valor do OCR aumenta à medida que σ’v diminui. Ko pode ser estimado,

aproximadamente, pela equação 6.23 e, como seu valor aumenta com o OCR, o trecho BC do diagrama

não é linear, sendo traçado por pontos. A figura 6.23b apresenta o gráfico de s’ versus índice de vazios e,

que não é linear. Entretanto, desde que a escala de s’ seja logarítmica (figura 6.23c), obtêm-se segmentos

de reta AB e BC, correspondentes aos trechos virgem e de descarregamento.

Plotado da forma apresentada na figura 6.23, o diagrama s’:t:e permite visualizar tanto a variação de

tensões quanto as deformações volumétricas sofridas por um elemento. Outros autores (eg Atkinson e

Bransby, 1978) utilizam representação tridimensional para o mesmo diagrama. Neste livro, entretanto,

deu-se preferência aos diagramas bidimensionais, plotados conforme a figura 6.23.

Equações das retas de compressão oedométrica e isotrópica

No diagrama e × log s’ as retas virgem e de descarregamento têm inclinação aproximada Cc e Cs,

respectivamente. Para a localização dessas retas, é importante estabelecer suas equações (figura 6.24).

Fig. 6.24. Compressões oedométrica e isotrópica

Assim, denominando de eco o índice de vazios da reta virgem correspondente a um valor de s’ = 1 kPa, a

LICIsotrópica

K CL

Oedométrica

ee

ee

c

co

s

so

co

c c

o

e

log s'

oulog p'

s'=1kPaou

p'=1kPa

e = e - C log s'

e = e - C log s'c

Page 170: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

168

equação da reta virgem de um ensaio oedométrico será:

’logcco sCee −=

Eq. 6-24

Analogamente, para a compressão isotrópica a equação será:

’logco sCee −=

Eq. 6-25

e as retas de descarregamento terão as seguintes equações:

’logaoedométric sso sCee −=

Eq. 6-26

’logisotrópica ss sCee −=

Eq. 6-27

As equações 6.24 a 6.27 podem ser definidas também com p’ em lugar de s’, como pode ser visto no

capítulo 14.

Exemplo 6.5

Traçar o diagrama s’:t:e de um ensaio oedométrico com os seguintes estágios de pressão σ’v:

carregamento com 80, 300 e 600 kPa, seguido de descarregamento com 300, 150 e 75 kPa. Os valores de

Ko podem ser obtidos através da equação 6.23, com φ’ = 25º. Têm-se ainda Cc = 2,07 e Cs = 0,28, e sabe-

se que o índice de vazios para o primeiro estágio de carga é 2,58.

Solução

Inicialmente, é empregada a equação 6.23 para se obter Ko, conforme os cálculos apresentados no quadro

6.6. Em seguida, obtêm-se σ’h pela equação 3.10 (capítulo 3) e s’ pela equação s’ = 0,5 (σ’v + σ’h). Os

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

169

valores dos índices de vazios da reta virgem e de descarregamento (última coluna à esquerda do quadro

6.6) são obtidos pelas equações 6.24 e 6.26. Para a aplicação destas equações são necessários os valores

de eco e eso, que podem ser calculados sabendo-se que o índice de vazios correspondente à pressão σ’v =

80 kPa é 2,58, e que este estágio corresponde a um valor de s’ de 63 kPa. Aplicando-se então a equação

105 para s’ = 63 kPa e e = 2,58, vem:

2,58 = eco – 2,07 × log 63 ∴ eco = 6,3

A equação da reta virgem é, portanto:

e = 6,3 – 2,07 log s’

Quadro 6.6. Exemplo 6.5: Cálculos para a obtenção de Ko

σ’v (kPa) OCR Ko σ’h (kPa) s’ (kPa) e

80 1 0,58 46 63 2,58

300 1 0,58 174 237 1,39

600 1 0,58 348 473 0,77

300 2 0,78 234 266 0,84

150 4 1,04 154 153 0,93

75 8 1,39 104 90 1,01

Com essa equação, calculam-se os valores de e para o carregamento sob as pressões médias s’ de 237 e

473 kPa. Como o último ponto da reta virgem também corresponde ao início do descarregamento,

utilizam-se os dados deste ponto (s’ = 473 kPa, e = 0,77) para se determinar a equação da reta de

descarregamento. Aplicando a equação 6.26, vem:

0,77 = eso – 0,28 log 473 ∴ eso = 1,5

A equação da reta de descarregamento é:

Page 172: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

170

e = 1,5 – 0,28 log s’

a partir da qual se determinam os valores de e para o descarregamento. O diagrama s’:t:e resultante está

plotado na figura 6.25.

Solos colapsíveis por saturação

Alguns solos formados em ambientes muito secos e os denominados solos porosos (porosidade provocada

por lixiviação, isto é, solubilização de compostos pela água de chuva) apresentam deformações

volumétricas acentuadas quando encharcados. Entre os terrenos sujeitos a este fenômeno estão os solos de

formação eólica, loess, e as argilas lixiviadas, estas encontradas em regiões muito secas do Nordeste, do

Planalto Central e em São Paulo (Vargas, 1973).

O fenômeno da colapsibilidade ocorre quando a lixiviação provoca uma alteração estrutural por

dissolução ou alteração do material de ligação entre grãos. É comum em regiões áridas e semi-áridas onde

uma estação chuvosa se alterna com períodos muito secos.

Fig. 6.25. Exemplo 6.5: diagrama s’:t:e

80 100 15060 400 600 1000

1

2

30 200 400 600

6004002000

200

K

Linha virgeme

t(kPa)

(kPa)

o

e

(kPa)s' s'

Linha

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

171

CIUCIU

10 20 30

c (kPa)

20 40

eγ S (%)

50 75 1001.0 1.5 2.0

(%)

30 60 900

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

w

LPLL

(kN/m3)

10 15 20

φ (ο)

Fig. 6.26. Propriedades geotécnicas da argila porosa de Brasília (Ortigão e Macedo, 1993)

Como exemplo, tomemos a argila porosa de Brasília, como resumo das propriedades consta da figura

6.26. Toda a região de Brasília está coberta por um manto de material argiloso vermelho, denominado

argila porosa, que foi muito estudada por ocasião da construção do túnel do Metrô daquela cidade

(Ortigão et al, 1993 e 1994; Macedo et al, 1994). Os três primeiros metros ao longo de sua profundidade

encontram-se muito lixiviados e, por isso, fornecem um valor do peso específico γ muito baixo, de

somente 13 kN/m³ e, conseqüentemente, um índice de vazio e elevado de 1,7. Abaixo da camada lixiviada

no topo verifica-se uma alteração nos valores de γ e e.

Embora já seja um fenômeno célebre desde o início da construção de Brasília, o autor pode presenciar as

conseqüências do esquecimento disto. Um empreiteiro daquela cidade resolveu afrontar os solos

colapsíveis e montou o seu canteiro em fundações diretas. Em menos de 6 meses, após o início das

chuvas, ocorreram muitas trincas, com danos a diversas construções.

A ocorrência de colapso na argila porosa de Brasília está demonstrada na figura 6.27 em um ensaio

oedométrico em que a amostra foi encharcada na pressão vertical de 200 kPa. O resultado foi uma

deformação volumétrica considerável.

A prática de fundações da região é assentar qualquer construção sobre estacas. Mesmo as pequenas, de

um só pavimento, não devem ter fundações diretas. Nesse caso, a solução corrente é empregar estacas

tipo trado manual. Nos prédios maiores a solução tem sido tubulões a céu aberto.

Page 174: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

172

1.00

1.50

2.00

e

1 10 100 1000Pressão vertical (kPa)

Encharcamento

Amostra Bloco 701Argila porosa z = 3m

Fig. 6.27. Colapso em amostra de argila porosa de Brasília

Em pequenos barramentos construídos no Nordeste, a compactação pode ser feita com umidade muito

abaixo da ótima, devido à falta d’água na região. No primeiro enchimento pode ocorrer o colapso do

aterro, conforme observado por Miranda (1988).

O ensaio oedométrico pode ser empregado para o estudo do efeito da saturação dos solos. A figura 6.2

compara o comportamento de três amostras idênticas, a primeira completamente saturada antes do início

do ensaio e a segunda, seca. A terceira, inicialmente seca, é adicionada de água na célula após um certo

estágio de pressão para provoca a saturação e, em conseqüência, apresenta uma compressão volumétrica

acentuada e uma variação correspondente do índice de vazios de Δec.

A deformação volumétrica correspondente é Δεc, obtida pela equação o

cc 1 e

ee+Δ

=Δ onde eo é o índice de

vazios inicial da amostra seca. Segundo Vargas (1973), o solo é considerado colapsível se Δεc > 2%. Há,

entretanto, outros critérios para se caracterizar um solo como colapsível (Vilar et al, 1981), não abordados

neste livro.

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

173

Fig. 6.28. Colapso devido à saturação em solos insaturados (Vargas, 1977)

Solos expansivos

Certos solos tropicais apresentam uma situaçao inversa à descrita no item anterior: em contato com a

água, apresentam expansão, o que freqüentemente é a causa de acidentes ou defeitos em construções

sobre os mesmos. Tais solos ocorrem em regiões semi-áridas, sendo freqüentes no Recôncavo Baiano,

onde são conhecidos como massapê, originando-se de rochas sedimentares de argilito e folhelho.

Esses materiais são constituídos de minerais expansivos, como a montmorilonita e a ilita. Após períodos

de seca prolongados, o nível d’água fica muito abaixo da superfície do terreno e aparecem trincas

superficiais devido à grande contração volumétrica. Ocorrendo chuvas ou molhagem, mesmo devido a

pequenos vazamentos em tubulações, observa-se o inchamento desses solos, provocando defeitos em

construções.

Uma descrição pormenorizada de suas propriedades geotécnicas e técnicas construtivas foge do escopo

deste livro, podendo ser encontrada, por exemplo, em Nunes (1978), Simões e Costa-Filho (1981) e Hunt

(1984).

e

log vc

ec

oe

Inicialmente saturada

Devido à saturação

Insaturada

σ′

Δ

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174

Exercícios

6.1. Qual o significado da pressão de pré-adensamento em areias e argilas? Qual a importância da

compressibilidade desses materiais na prática da engenharia?

6.2. Por que as areias calcárias, encontradas por exemplo na bacia de Campos, apresentam grande

compressibilidade volumétrica em comparação com uma areia de quartzo terrestre?

6.3. Definir os seguintes parâmetros e apresentar as equações correspondentes: σ’vm, E’oed, mv, OCR,

Cc, Cs, CR, SR e Ko.

6.4. Deduzir a equação εo = Δe/(1+eo).

6.5. Com base no quadro 6.7, que apresenta os resultados de um ensaio oedométrico em uma argila

com eo = 0,965: (a) plotar o gráfico e × log σ’v em papel milimetrado (e não logaritmo), usando a

função log de uma calculadora; (b) obter σ’vm, Cc, Cs, CR e SR; (c) sabendo que esse ensaio é

representativo de uma camada de argila saturada com 10 m de espessura, NA na superfície do

terreno e γ = 13 kN/m³, calcular o recalque provocado por uma sobrecarga de 300 kPa.

Quadro 6.7. Exercício 6.4: resultados de ensaio oedométrico em argila

σ’v (kPa) e

20 0,953

40 0,948

80 0,938

160 0,920

320 0,878

640 0,789

1.280 0,691

320 0,719

80 0,754

20 0,791

6.6. Estimar os recalques devido a um aterro de 3 mde altura (com γ = 18 kN/m³) sobre argila do Rio

de Janeiro, cujos dados constam do ensaio oedométrico apresentado no quadro 6.1. Usar quatro

subcamadas.

6.7. Plotar o diagrama s’:t:e para uma argila com φ’ = 30º, Cc = 0,65, Cs = 0,04 e eco = 5,2. Este

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

175

material, inicialmente NA com σ’v = 100 kPa, foi adensado em um oedômetro até σ’v = 320 kPa e

em seguida descarregado até σ’v = 20 kPa. O valor de Ko pode ser estimado pela equação 6.23.

6.8. Refazer os gráficos para a mesma argila do exercício 6.7, porém em compressão isotrópica com eo

= 5,7.

6.9. que significa colapso devido à saturação e qual a importância do fenômeno?

Page 178: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

176

Cap 7. ADENSAMENTO

Introdução

Um depósito de solo saturado e de baixa permeabilidade, quando submetido a uma sobrecarga, apresenta

recalques que tendem a aumentar lentamente com o tempo. Aterros em solos aluvionares de baixada ou

em regiões de formação marinha, como os mangues, e até mesmo edificações assentadas sobre camadas

fracas, como é o caso de muitos prédios altos construídos sobre argila de Santos, SP, são exemplos típicos

da ocorrência desse fenômeno.

Denominado adensamento ou consolidação, o fenômeno foi estudado por Terzaghi a partir de 1914,

quando ainda era professor da Universidade de Istambul. Terzaghi desenvolveu o ensaio oedométrico,

estudado no capítulo 6, e posteriormente a denominada teoria do adensamento de Terzaghi, abordada

neste capítulo.

Analogia do sistema água-mola de Terzaghi

Iniciando o estudo do fenômeno de consolidação através de um modelo físico, é apresentada na figura

7.1a uma amostra de solo totalmente saturado e de baixa permeabilidade, que será submetida a um estágio

de pressão Δσ1 no oedômetro da mesma figura. A amostra é composta de partículas de solo envolvidas

por água, que preenche seus vazios. Um dispositivo qualquer, como um manômetro, permite a medição

do acréscimo de pressão na água.

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

177

Fig. 7.1. (a) Condições impostas à amostra em um ensaio de adensamento; (b) analogia do sistema água-

mola de Terzaghi; (c) aplicação do carregamento versus tempo; (d) variação da poropressão com o

tempo

A figura 7.1b apresenta o modelo físico denominado analogia do sistema água-mola de Terzaghi, que

consiste em um cilindro indeformável, um pistão sustentado por uma mola e uma válvula para controle do

fluxo. O cilindro é preenchido pela água, cuja compressibilidade é admitida como sendo nula. Cada

componente do sistema corresponde a outro na amostra da figura 7.1a. A água do cilindro corresponde à

água intersticial da amostra de solo; a permeabilidade é representada pela abertura parcial da válvula e a

deformação do esqueleto sólido, pela mola.

Uma vez aplicado o acréscimo de tensão vertical Δσ1 no oedômetro, a pressão da água intersticial, ou

poropressão, sofre imediatamente um acréscimo correspondente, que pode ser observado no manômetro.

No pistão é aplicada analogamente a força F, cujo valor é ajustado de forma a aplicar uma pressão

uniforme e igual a Δσ1. No instante inicial, com a válvula ainda fechada, a pressão na água é igual à

sobrecarga, ou seja, Δut=0 = Δσ1. Nesta ocasião, a força suportada pela mola ainda é nula, pois toda a

pressão é suportada inicialmente pela água.

Com o passar do tempo, a água dos vazios começa a ser expulsa da amostra de solo, o que é representado

Δ

u

t

t(c)

(d)

11

1

1

uΔσ

Δσ

Δσ

Δ

s

u

Válvula

Mola

Água

(a) (b)

F

Abrir válvula

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178

no modelo de Terzaghi por uma pequena abertura na válvula. À medida que a água sai, diminui a

poropressão e aumenta a tensão na mola. Este fenômeno é denominado transferência de carga da água

para a mola, ou seja, da água intersticial do solo para o esqueleto sólido. O aumento da pressão sobre o

esqueleto sólido corresponde um aumento de pressão efetiva σ’1.

As figuras 7.1c e 7.1d apresentam a variação da pressão total vertical σ1 e da poropressão u com o tempo.

A dissipação e o processo de transferência de carga ocorrem a partir do momento em que a válvula é

aberta. Para um tempo grande, o acréscimo Δu tende a zero, ou seja, às condições de equilíbrio, enquanto

o esqueleto sólido tem sua pressão efetiva aumentada em um valor igual a Δu.

Teoria do adensamento unidimensional de Terzaghi

A equação diferencial do adensamento unidimensional, incluída por Terzaghi em seu conhecido livro

Erdbaumechanik, de 1925, é considerada o marco fundamental da Mecânica dos Solos. É importante

entender seu desenvolvimento teórico, analisando as hipóteses sobre as quais a teoria se baseia e suas

limitações.

Para representar matematicamente a analogia do sistema água-mola de Terzaghi são necessárias três

equações, uma para representar o fluxo d’água, outra para a compressibilidade da mola, ou seja, do

esqueleto sólido, e a terceira para garantir o equilíbrio. No primeiro caso é empregada a equação de

continuidade de fluxo estudada no capítulo 5 (equação 5.18), que, para o caso unidimensional, pode ser

assim simplificada:

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛

∂∂

+∂∂

+=

∂∂

=tSe

teS

ezhk

11

2

2

Eq. 7-28

onde:

k = permeabilidade na direção vertical

z = coordenada na direção vertical

h = carga hidráulica total

e = índice de vazios

S = grau de saturação

t = tempo

Quando empregada na teoria de Terzaghi, essa equação considera várias hipóteses, uma das quais é a

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

179

validade da lei de Darcy. A proporcionalidade entre velocidade de fluxo e gradiente hidráulico tem sido

comprovada mesmo em gradientes muito baixos, como os que podem ocorrer devido ao fluxo por

consolidação (Tavenas et al, 1983). Com isso, a lei de Darcy pode ser estendida ao processo de

consolidação, sem restrições.

Outra hipótese é a de deformações infinitesimais, que considera que as deformações, ou os recalques por

adensamento, são pequenos em relação à espessura total da camada sujeita ao fenômeno, situação que se

aplica a grande parte dos casos práticos em Mecânica de Solos. Há, entretanto, uma classe de problemas

que deve ser tratada diferenciadamente como deformações finitas. Por exemplo, no estudo de

adensamento em lagoas de estabilização de rejeitos, em que o material é lançado ainda como líquido e

ocorre um processo de sedimentação e consolidação, o recalque da superfície do rejeito pode alcançar

70% da espessura inicial da camada; neste caso, a aplicação de deformações infinitesimais conduzirá a

erros consideráveis nas previsões feitas com base na teoria de Terzaghi.

As partículas de solo e a água são admitidas como incompressíveis. A compressibilidade da água é muito

baixa e pode ser desprezada sem problemas. Os grãos de solo também podem ser considerados

incompressíveis, sendo toda a compressibilidade do conjunto solo-água atribuída ao esqueleto sólido, que

funciona, como visto na analogia de Terzaghi, como uma mola.

A hipótese de fluxo unidimensional é válida quando a espessura da camada em processo de consolidação

é bem inferior à largura do carregamento (figura 7.2).

Fig. 7.2. Fluxo unidimensional durante o adensamento e caminho de drenagem de uma partícula A de

água

A teoria de Terzaghi restringe ainda mais a equação 7.1 no caso de solo saturado. Considerando S = 1 e

∂S/∂t = 0, essa equação simplifica para:

A

Hd

vΔσ

dH

Page 182: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

180

te

ezhk

∂∂

+=

∂∂

11

2

2

Eq. 7-29

O valor da carga total h é a soma da carga altimétrica ha e piezométrica hp, e esta última é igual à

poropressão u dividida pelo peso específico da água γw (equações 5.8 e 5.8, capítulo 5). Daí, vem:

wapa γ

uhhhh +=+=

O valor de u pode ser substituído por uo + Δu, isto é, poropressão estática uo corrspondente à condição de

equilíbrio, mais o acréscimo de poropressão Δu. Obtém-se, então:

woa /)( γuuhh Δ++=

Eq. 7-30

Aplicando o operador diferencial ∂²/∂z² na equação 7.3, verifica-se que ∂²ha/∂z² = 0 e ∂²uo/∂z² = 0. Assim:

2

2

w2

2 1z

uzh

∂Δ∂

=∂∂

γ

Eq. 7-31

Conseqüentemente, a equação 7.2 pode ser assim reescrita (eliminando o Δ, pois escrever ∂Δu é uma

heresia matemática, já que não se pode diferenciar um acréscimo; por esta razão, adota-se ∂u, onde u é o

acréscimo de poropressão):

te

ezuk

∂∂

+=

∂∂

111

2

2

Eq. 7-32

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181

Para o comportamento do esqueleto sólido, Terzaghi adotou uma relação tensão-deformação linear:

vv’

ae−=

∂∂σ

Eq. 7-33

onde ∂σ’v é a tensão efetiva vertical e av, um módulo de compressibilidade. Introduzindo a equação 7.6 na

7.5 e rearranjando os termos, vem:

tzu

aek

∂∂

−=∂∂+ v

2

2

vw

’)1( σγ

Eq. 7-34

O termo independente à esquerda dessa equação foi denominado por Terzaghi de coeficiente de

adensamento cv (ou coeficiente de consolidação, que deve ser expresso em m²/ano para facilitar as

aplicações práticas em engenharia geotécnica). Esse coeficiente é expresso por:

vwv

)1(a

ekcγ

+=

Eq. 7-35

Nessa equação, verifica-se que a relação (1 + e)/av é o inverso do módulo de variação de volume mv

definido no capítulo 6 (equação 6.2). Daí:

vwv m

kcγ

=

Eq. 7-36

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182

Uma outra hipótese de Terzaghi, a de que cv permanece constante durante o adensamento, foge bastante

à realidade, pois o coeficiente de adensamento não é uma propriedade independente, mas sim variável

com a permeabilidade e a compressibilidade do solo, como demonstra a equação 7.9. À medida que o

solo adensa, tanto a permeabilidade quanto a compressibilidade, e conseqüentemente cv, diminuem. A

experiência em ensaios de laboratório e medições de campo comprovam, como é estudado adiante, que cv

apresenta valores elevados em argilas pré-adensadas, reduzindo muito seu valor quando o material se

torna normalmente adensado. Assim, admitir cv constante é, na melhor das hipóteses, uma aproximação

grosseira. Desta forma, a equação 7.7 pode ser assim apresentada:

tzuc

∂∂

−=∂∂ v

2

2

v’σ

Eq. 7-37

Em outra hipótese, a de condição de equilíbrio, Terzaghi admitiu que as tensões totais não variam durante

o processo de consolidação, isto é:

σv = σvo + Δσv = constante

onde σv é a tensão vertical total, σvo a tensão vertical total inicial e Δσv o acréscimo de tensão total devido

à sobrecarga, que, por ser extensa em relação à espessura da camada, é constante em toda a profundidade.

Com isto, uma variação no excesso de poropressão Δu corresponde a uma variação contrária na tensão

efetiva σ’v, isto é, ∂u = –∂σ’v. Realizando esta substituição na equação 7.10, obtém-se finalmente a

equação diferencial do adensamento unidimensional de Terzaghi:

tu

zuc

∂∂

=∂∂

2

2

v

Eq. 7-38

Essa equação é composta de derivadas parciais de segunda ordem. Há soluções exatas, aproximadas e

numéricas, algumas das quais são abordadas nos itens seguintes.

Page 185: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

183

Solução exata da equação diferencial unidimensional de adensamento

A solução exata da equação 7.11 foi obtida inicialmente pelo próprio Terzaghi e consta de seu livro

Erdbaumechanik. As condições de contorno adotadas basearam-se nas seguintes hipóteses

simplificadoras:

(a) peso específico da argila desprezado – com isso, o problema da consolidação devido ao peso

próprio, como o processo de sedimentação, não pode ser analisado pela solução original de

Terzaghi; a hipótese é válida, entretanto, para analisar o efeito de sobrecarga aplicada ao nível do

terreno;

(b) comportamento isotrópico da argila – isto implica adotar acréscimos iniciais de poropressões

iguais à sobrecarga aplicada, ou seja, Δut=0 = Δσv; esta hipótese só pode ser válida quando a

largura do carregamento é muito maior que a espessura da camada; medições de campo,

entretanto, indicam que Δut=0 < Δσv (esse assunto será novamente abordado no capítulo 11);

(c) drenagem no topo e no fundo da camada sujeita à consolidação – esta hipótese ocorre comumente

em engenharia geotécnica e sua validade nas aplicações práticas pode (e deve) ser verificada com

facilidade nas obras de porte, através de observações in situ com piezômetros.

A solução do caso (c) consta de vários livros (eg, Vargas, 1973; Caputo, 1980; Lambe e Whitman, 1979).

A função u (z, t), que satisfaz a equação 7.11 para uma sobrecarga Δσv no tempo t, é uma de Fourier:

)exp(sen2),(0m

v2

d

v∑∞

=

−Δ

= TMH

zMM

tzu σ

Eq. 7-39

onde:

M = 0,5 π (2m + 1), m = 1, 2, 3, ...

Hd = caminho de drenagem, ou seja, o comprimento da maior trajetória vertical percorrida por uma

partícula de água A até atingir a fronteira drenante (figura 7.2)

Tv = fator tempo, fornecido pela equação:

2d

vv H

tcT =

Eq. 7-40

Page 186: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

184

Grau de adensamento localizado

O grau de adensamento localizado, ou percentagem de adensamento localizado Uz, que é função da

profundidade z e do tempo t, é definido pela equação:

0t

tz 1

=ΔΔ

−=uuU

Eq. 7-41

onde Δut é o acréscimo de poropressão no tempo t e Δut=0, o valor inicial correspondente ao tempo t = 0.

De acordo com esta definição, Uz é nulo no instante inicial do adensamento e igual a 1 ou a 100% em um

tempo infinito.

Através das equações 7.13 e 7.14 é possível obter Uz em função da profundidade relativa z/Hd, para vários

valores do fator tempo Tv, conforme apresentado na figura 7.3. As curvas assim obtidas são denominadas

isócronas, pois correspondem a um único tempo (cronos, em grego).

Exemplo 7.1

O perfil da figura 7.4 mostra um aterro arenoso que aplicou instantaneamente, ao nível do terreno, uma

sobrecarga de 100 kPa. Obter: (a) a altura de drenagem Hd; (b) o valor do acréscimo inicial de

poropressão no meio da camada de argila; (c) idem, após passados três anos; (d) idem, 2 m abaixo da

superfície do terreno. Considerar cv = 2 m²/ano.

Solução

(a) Altura de drenagem Hd

Como há duas camadas de material drenante, uma no topo e outra na base da camada de argila, a partícula

de água que percorrerá a maior trajetória até atingir a fronteira drenante será a que estiver no centro da

camada, no ponto A. Conseqüentemente, Hd = H/2 = 10 m/2 = 5 m.

Page 187: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

185

Fig. 7.3. Grau de adensamento localizado Uz em função do fator tempo Tv

Fig. 7.4. Exemplo 7.1: perfil geotécnico

(b) Valor do acréscimo inicial de poropressão Δut=0

Segundo a teoria de Terzaghi, Δut=0 = Δσv, ou seja, Δut=0 é tomado igual à sobrecarga aplicada. Portanto,

Δut=0 = 100 kPa. Como o aterro é extenso em relação à espessura da camada de argila, o acréscimo de

tensão vertical é constante com a profundidade, o mesmo acontecendo com Δut=0.

(c) Valor de Δut para t = 3 anos, no meio da camada de argila

0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

1.6

1.8

2.0

=0.0 0.050.1

0.20.3

0.40.5

0.60.7

0.80.9

z

dz/H

- Degree of consolidationU

T

Argila Mole

Aterro

A10m

Hd

dH

Page 188: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

186

Calcula-se inicialmente o fator tempo pela equação 7.13, obtendo-se:

24,05

anos3ano/m22

2

v =×

=T

Com z/Hd = 5 m/5 m = 1, entra-se no gráfico da figura 7.3 utilizando a isócrona correspondente ao Tv

calculado, interpolando entre as isócronas correspondentes a Tv = 0,2 e 0,3. Assim, obtém-se no eixo das

abscissas um valor de U ≅ 0,33. Empregando a equação 7.14, vem:

kPa67)33,01(100)1(

t

z0t1

=−=Δ∴−Δ=Δ =

uUuu

(d) Cálculo de Δut para t = 3 anos e z = 2 m

Para o mesmo valor de Tv, mas com z/Hd = 2 m/5 m = 0,4, entra-se no gráfico da figura 7.3 e obtém-se Uz

≅ 0,60. Assim:

kPa40)601(100t =−=Δ∴ u

Exemplo 7.2

Repetir os cálculos do exemplo 7.1 imaginando drenagem simples somente pela base a camada de argila.

Solução

(a) Altura de drenagem Hd

Neste caso, a partícula de água que percorrerá a maior trajetória até alcançar a fronteira drenante será a

que estiver sobre a fronteira impermeável. O valor de Hd coincide, então, com a espessura da camada, que

é de 10 m.

(b) Valor do acréscimo inicial de poropressão Δut=0

Como no exemplo 7.1, Δut=0 = 100 kPa.

(c) Valor de Δut para t = 3 anos, no meio da camada de argila

O fator tempo, calculado pela equação 7.13, é:

Page 189: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

187

06,010

anos3ano/m22

2

v =×

=T

Com z/Hd = 5 m/10 m = 0,5, entra-se no gráfico da figura 7.3, interpolando para a isócrona

correspondente ao Tv calculado e obtendo-se Ut ≅ 0,15. Empregando a equação 7.14, vem:

kPa85)15,01(100)1( tz0tt =−=Δ∴−Δ=Δ = uUuu

(d) Cálculo de Δut para t = 3 anos e z = 2 m

Para o mesmo valor de Tv, mas com z/Hd = 2 m/10 m = 0,2, entra-se no gráfico da figura 7.3, obtendo Uz

≅ 0,55. Assim:

kPa45)55,01(100t =−=Δ∴ u

Grau de adensamento médio

O grau de adensamento médio U para toda a camada pode ser obtido através da integração do grau de

adensamento localizado Uz ao longo da profundidade. Ou seja, para um certo valor de Tv, a área

delimitada por uma isócrona, como a apresentada na figura 7.5a, corresponde ao valor de U.

Pode-se escrever também que:

∫=2

0 zd2

11 dzUH

U

Eq. 7-42

Efetuando esta integração para vários valores de Tv obtém-se a relação U = f (Tv), apresentada na figura

7.5b e no quadro 7.1.

Alguns autores (eg, Atkinson e Bransby, 1978), pesquisando funções que representassem

aproximadamente a relação U = f (Tv), propuseram as equações apresentadas no quadro 7.2, que são úteis

em aplicações práticas, pois permitem facilmente o cálculo automático através de minicalculadoras.

Page 190: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

188

Fig. 7.5. Grau de adensamento médio U em função do fator tempo Tv

Quadro 7.1. Valores de U = f (Tv) na teoria de Terzaghi para distribuição inicial de Δu constante com a

profundidade

U (%) Tv

0 0

10 0,0077

20 0,0314

30 0,0707

40 0,126

50 0,196

60 0,286

70 0,403

80 0,567

90 0,848

100 ∞

100

80

60

40

20

0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9

U

Uz

T

0

2

z/Hd

(a)

(b)

1

Fator TempoTV

UPo

rcen

tage

m d

e A

dens

amen

to

Page 191: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

189

Quadro 7.2. Relações aproximadas U = f (Tv)

Função Eq Validade

U = 1,155 Tv0,5 7.16 U < 33%

U = 1 – 0,67 exp (0,25 – 3 Tv) 7.17 U > 33% 6/1

3v

3v

5,0 ⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡+

=T

TU 7.18 0 < U < 95%

A equação 7.15 pode ser reescrita como uma relação entre o recalque ρ∞:

=ρρtU

Eq. 7-43

Exemplo 7.3

Comparar resultados do grau de adensamento médio U calculado pela teoria de Terzaghi (quadro 7.1) e

pelas expressões aproximadas do quadro 7.2 para Tv = 0,03.

Solução

Os valores obtidos para U são:

(a) pela teoria de Terzaghi (solução rigorosa), U = 0,20;

(b) pela equação 7.16, U = 1,155 × 0,030,5 = 0,20;

(c) pela equação 7.18,

22,05,003,0

03,06/1

3

3

=⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡+

=U

A diferença entre o valor fornecido pela solução rigorosa e o obtido pela equação 7.16 é insignificante. Já

em relação ao valor obtido pela equação 7.18, há uma diferença de 0,02.

Page 192: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

190

Exemplo 7.4

Para o perfil geotécnico da figura 7.4, determinar o tempo necessário para que ocorra 20% dos recalques

devido à aplicação da sobrecarga, considerando cv = 2 m²/ano.

Solução

Entrando no gráfico da figura 7.5b com U = 20%, obtém-se T20 ≅ 0,03. Devido à dupla drenagem, tem-se

Hd = 10 m/2 = 5 m. Assim, através da equação 7.13, obtém-se:

anos4,02

503,0 2

20v

2dv ≅

×=∴= t

cHTt

Exemplo 7.5

Sabendo que, para o perfil geotécnico da figura 7.4, o recalque total calculado para uma determinada

sobrecarga foi de 1,2 m, obter a curva de tempo × recalque considerando cv = 2 m²/ano.

Solução

Os cálculos constam do quadro 7.3, sendo que: para a primeira coluna, arbitram-se valores de U; a

segunda é obtida sabendo-se que, para U = 100%, o valor do recalque total ρ é 1,2 m; na terceira coluna,

os valores de Tv são obtidos a partir do quadro 7.1 ou pelas equações do quadro 7.2; e na quarta coluna, o

valor de t é obtido a partir da equação 7.16, com Hd = 5 m (dupla drenagem). A curva de tempo ×

recalque é apresentada na figura 7.6.

Quadro 7.3. Exemplo 7.5: cálculo da curva de tempo × recalque

U (%) ρ (m) Tv t (anos)

20 0,24 0,031 0,4

40 0,48 0,126 1,6

60 0,72 0,286 3,6

80 0,96 0,567 7,1

100 1,20 ∞ ∞

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191

Fig. 7.6. Exemplo 7.5: curva de tempo × recalque

Soluções da equação diferencial do adensamento para distribuições iniciais de

poropressões variando linearmente com a profundidade

Uma importante contribuição à teoria de Terzaghi foi o trabalho de Ortenblad Mathematical theory of the

process of consolidation of mud deposits (ScD Thesis, MIT, 1925). Trata-se da primeira tese de

doutorado em engenharia do MIT, pois até aquela época havia somente teses em Ciências: julgavam que a

engenharia não poderia produzir nada de original. A tese foi defendida pelo então estudante brasileiro,

que se interessou pela solução da equação diferencial do adensamento, na qual o próprio Terzaghi havia

introduzido hipóteses simplificadoras, uma das quais admitia que Δut=0 = Δσv, o que implica erros em

certos casos (ver interessante entrevista de Ortenblad no Volume comemorativo do centenário de K.

Terzaghi, publicado pela ABMS em 1983).

Ortenblad desenvolveu soluções originais para condições de contorno em que a distribuição inicial de

acréscimos de poropressão Δut=0 varia com a profundidade. Estas soluções vieram a constar de vários

livros tradicionais (eg, Caputo, 1981; Taylor, 1948; Leonards, 1962) e algumas estão reproduzidas no

quadro 7.4, sendo que o caso 1 corresponde à situação em que Δut=0 é nulo na superfície e o caso 2, em

que Δut=0 é nulo no fundo da camada. Uma compilação de várias outras soluções é apresentada por

Ortigão e Almeida (1988).

Quadro 7.4. Soluções exatas da equação diferencial do adensamento de Terzaghi, para Δu inicial variando

linearmente com a profundidade

U (%) Tv

Tempo (Anos)

1.6

1.2

0.8

0.4

0 4 8 12

ρh

Rec

alqu

(m)

Page 194: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

192

Caso 1 Caso 2

0 0 0

10 0,04 0,003

20 0,10 0,009

30 0,15 0,024

40 0,22 0,048

50 0,29 0,092

60 0,38 0,160

70 0,50 0,271

80 0,66 0,440

90 0,94 0,720

100 ∞ ∞

Tipos de recalque quanto à dissipação de poropressões

As deformações que ocorrem durante a compressão oedométrica podem ter diferentes causas e, para

analisá-las, estão plotados na figura 7.7 os resultados de um estágio de carga de um ensaio oedométrico.

O gráfico apresenta resultados típicos de recalques, plotados com o logaritmo do tempo decorrido durante

um estágio de carga, distinguindo-se três tipos de recalque: inicial, primário e secundário.

O recalque inicial ocorre simultaneamente à aplicação da carga, devido não só à compressão de gás dos

vazios do solo, quando o material não é completamente saturado, mas também à influência de

deslocamentos horizontais in situ nas vizinhanças do ponto considerado, quando a largura do

carregamento não é grande em relação à espessura da camada.

O recalque primário é o que ocorre por adensamento devido à expulsão da água dos vazios do solo, sendo

o único que pode ser tratado pela teoria do adensamento.

Page 195: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

193

Fig. 7.7. Recalques inicial, primário e secundário

O recalque secundário, também denominado fluência, ocorre mesmo com pressões efetivas constantes e é

devido à deformação lenta do esqueleto sólido. Corresponde ao trecho retilíneo da curva, no final do

ensaio, em que as poropressões são nulas e as deformações variam proporcionalmente ao logaritmo do

tempo.

A divisão em três tipos de recalque tem fins exclusivamente didáticos, por facilitar a compreensão dos

fenômenos e seu tratamento matemático, pois, na realidade, eles ocorrem no solo de forma simultânea.

Os recalques primários podem ser tratados como qualquer problema de cálculo de tensões e deformações

em meios contínuos: com a aplicação da teoria da elasticidade, em que o comportamento do material é

simplesmente representado pelo módulo de Young E e o coeficiente de Poisson v, ou até por métodos

numéricos sofisticados, considerando comportamento elastoplástico e vários tipos de material. Os casos

simples podem ser resolvidos com a aplicação de quadros gráficos, como os apresentados por Poulos e

Davis (1974), desde que se conheçam os parâmetros elásticos do solo.

Na maioria dos solos, a fluência tem menor importância durante a fase inicial da obra e de utilização da

estrutura, porque sua magnitude é inferior à dos outros tipos de recalque, sendo por esta razão

desconsiderada na maioria das análises. Medições de recalque realizadas ao longo de muitos anos em

estruturas permitem classificar os solos quanto à fluência. Nas areias, é praticamente inexistente. Nas

argilas, é comum os engenheiros geotécnicos admitirem para a fluência uma pequena parcela de 5 a 10%

log

Secundário

Primário

Inicial

Rec

alqu

t

Page 196: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

194

do recalque total. Como a velocidade de fluência pode ser admitida como constante com o logaritmo do

tempo, sua magnitude reduz a cada ciclo da escala log, mas teoricamente nunca cessa.

Um exemplo desse comportamento é o muro central da Avenida Brasil, no Rio de Janeiro, próximo à

refinaria de Manguinhos, onde ocorre uma camada de solo mole com muitos metros de espessura: a obra

foi executada por volta de 1948, mas, como ao longo do muro há trechos estaqueados, notam-se os

defeitos provocados por recalques diferenciais, que parecem desacelerar com o tempo, mas não cessam.

Em prédios antigos sobre argila, Nunes (1971) observou velocidades mínimas de recalques da ordem de 1

μm por dia.

Um material cujo comportamento é sui generis quanto à fluência são as turfas (eg, Casagrande, 1966;

Perrin, 1973), que apresentam uma alta percentagem de matéria orgânica, sendo constituídas de um

emaranhado de matéria vegetal com argila e tendo, muitas vezes, aspecto fibroso. Outras características

importantes são as altíssimas umidades, que podem atingir 1.000%, e os elevados índices de vazios, que

alcançam o valor de 20.

Devido à alta quantidade de vazios, as turfas apresentam também compressibilidade e permeabilidade

inicial muito elevadas, que decrescem rapidamente após a aplicação de um carregamento. Com isso, o

adensamento primário e a dissipação dos excessos de poropressões são excepcionalmente rápidos, da

ordem de minutos, e o adensamento secundário, ou fluência, começa a atuar logo após a aplicação da

carga. Nos recalques medidos em turfas, sempre a maior parcela é devida ao adensamento secundário.

Uma implicação prática que se pode deduzir do comportamento das turfas é que, como a dissipação de

poropressões é muito rápida, qualquer método de tratamento do solo que vise acelerar a drenagem (para

acelerar os recalques) não funciona. Os recalques nas turfas, como foi visto, são eminentemente de

fluência, ocorrendo após a dissipação de poropressões.

Determinação de cv a partir de ensaios oedométricos

O fator mais importante e mais difícil para a utilização da teoria do adensamento é a determinação correta

do coeficiente cv, havendo dois métodos tradicionais para obtê-lo: o de Casagrande, ou log t, e o de

Taylor, ou √t, ambos desenvolvidos a partir do ajustamento de curvas de ensaio à teoria do adensamento.

Método de Casagrande ou log t

A figura 7.8 apresenta os resultados de um estágio de carga com 160 kPa de pressão vertical em amostra

de argila do Rio de Janeiro. O eixo das abscissas corresponde ao tempo decorrido desde o início do

estágio, plotado em escala logarítmica. As leituras em cada estágio são feitas em tempos dobrados, em

progressão geométrica, adotando-se em geral a seqüência (em minutos): 0,1; 0,25; 0,5; 1; 2,4; 8; 15; 30;

60; 120; 240; 480; 1.440 (24 horas). As ordenadas correspondem ao deslocamento vertical (em

milímetros) sofrido pelo corpo-de-prova no estágio.

Page 197: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

195

Fig. 7.8. Determinação de cv pelo método log t

Para a determinação de cv são traçadas duas retas, uma tangente à parte retilínea do final da curva de

ensaio, correspondente ao trecho de adensamento secundário, e a outra tangente à parte central da curva,

através de seu ponto de inflexão. O ponto de interseção das duas retas corresponde ao fim teórico do

adensamento primário, cujo tempo correspondente é denominado de t100.

A técnica para se obter o ponto correspondente ao início do adensamento no início da curva de ensaio

consiste em ajustar uma parábola, determinando-se graficamente sua assíntota. Para tanto, a partir da

abscissa correspondente a 1 minuto, determina-se o ponto A na curva de ensaio e, a partir de A, traça-se

uma horizontal que determina B na abscissa de 0,25 minutos. O ponto C está na mesma abscissa de 0,25

minutos, mas sobre a curva de ensaio. O ponto D, também com abscissa de 0,25 minutos, é determinado

sabendo-se que o segmento de reta BC tem o mesmo comprimento do segmento CD.

A reta horizontal que passa pelo ponto D é a assíntota à parábola ajustada, cuja interseção E com a reta

anteriormente traçada, tangente à parte central da curva de ensaio, determina t0. O ponto central do

segmento de reta entre t0 e t100 permite determinar t50 e h50, respectivamente o tempo e a altura de

drenagem (metade da altura total, no caso de drenagem dupla) do corpo-de-prova, correspondentes a 50%

de adensamento. Assim, para t50 obtém-se:

anos1007,13652460

5,6min6,5 550

−×=××

=t

0.1 0.25 10 100 1000 10000

0

4

8

12

16

20

24

Tempo Decorrido (min)

(mm)

B A

C

DE

t

t

d

Fim do adensamento primário

Argila do Rio de

= 160kPa

50

0

100

50

t

Janeiro

'

ΔH

Page 198: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

196

Para h50, considerando que

)(21

50050 HHh Δ−=

e sendo H0 a altura inicial do corpo-de-prova, igual a 14 mm, e ΔH50 o deslocamento medido na curva de

ensaio correspondente a t50, igual a 0,88 mm, obtém-se:

m0066,0mm6,6)88,014(21

50 ==−=∴h

Finalmente, aplicando a equação 7.13, vem:

50

25050

v thTc =

Eq. 7-44

onde T50 é igual a 0,196 (quadro 7.1, para U = 50%). Daí:

ano/m8,0)1007,1(/0066,0196,0 252v =××= −c

Método de Taylor ou √t

Para calcular cv por esse método, os resultados do ensaio em cada estágio de carga são plotados conforme

a figura 7.9, em que a abscissa é a raiz quadrada do tempo decorrido, √t, e a ordenada, os deslocamentos

verticais.

A curva típica do ensaio é inicialmente acentuada, seguindo-se um trecho retilíneo. Para este trecho

obtém-se inicialmente uma tangente, interpolando-a entre os pontos experimentais e estendendo-a até

encontrar o eixo das ordenadas, determinando-se o ponto A. Em seguida, arbitra-se o ponto B em qualquer

lugar sobre a tangente, cuja distância (em milímetros) em relação ao eixo das ordenadas tem valor x.

Prosseguindo, determina-se o ponto C, à direita do ponto B e distando deste 0,15x, e traça-se uma reta AC,

que seciona a curva experimental no ponto D. As coordenadas do ponto D são t90 e ΔH90, respectivamente

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

197

o tempo e o recalque correspondentes a U = 90%.

Fig. 7.9. Determinação de cv pelo método √ t

Com isto obtém-se o gráfico t90 = 16 min. Daí, vem t90 = 3,04 × 10-5 anos. Sabendo que a altura inicial do

corpo-de-prova é de 14 mm e que o deslocamento ΔH90 tirado do gráfico é de 1,3 mm, a altura de

drenagem será:

m0063,0mm3,6)3,114(21

90 ==−=∴h

O valor de cv é dado pela equação:

90

29090

v thTc =

Eq. 7-45

0 1 4 8 15 30 60 120 2402.5

2.0

1.5

1.0

0.5

0.0

0 5 10 15

Tempo decorrido (min)

Tempo decorrido t (min )

A

D

B C

d

t

x

90

90

Rio de JaneiroArgila do

= 160 kPa

0.15x

σ

Des

loca

men

to V

ertic

alΔ

(mm

)H

Page 200: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

198

onde:

T90 = 0,848, segundo o quadro 7.1. Assim:

ano/m1,1)1004,3(/0063,0848,0 252v =××=∴ −c

Discussão dos métodos

A curva experimental da figura 7.8 em que foi aplicado o método de Casagrande é, na realidade, uma

curva típica obtida nas fases finais de carga de ensaio, em que o material está normalmente adensado.

Este fato está ilustrado na figura 7.10, que apresenta uma família de curvas de deformação vertical εv

versus log t, obtidas em um único ensaio realizado com vários estágios de carga em argila mole do Rio de

Janeiro.

Page 201: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

199

0.1 1 10 10 10 1060

50

40

30

20

10

0

4

3

2

Elapsed time (min)

(%)Void ratio

2 3 4

640

320

160

80

40

30

20

15 10

consolidationVertical

vcσ

4.5 67.5

strainVertical

'E

v

stress

εv

(%)e

Tempo (min)

(kPa)

Fig. 7.10. Comparação entre as curvas de tempo × recalque para vários estágios de carga em amostra de

argila do Rio de Janeiro

Os primeiros estágios foram realizados com o valor da carga e o incremento entre estágios bem pequenos,

até se atingir a pressão de pré-adensamento de 25 kPa. A partir daí, os incrementos foram dobrados

sucessivamente até o limite de 640 kPa. Algumas observações feitas a partir desse gráfico podem ser

generalizadas para muitos materiais. Não é possível obter cv pelo método log t nos estágios iniciais de

carga, pois as curvas não tem o aspecto da curva teórica da figura 7.8, dificultando a aplicação do método.

Page 202: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

200

Isto não ocorre nos estágios com pressões superiores à de pré-adensamento. Já com método √t é possível

obter cv para a maioria dos estágios de carga do ensaio oedométrico. Por esta razão o autor prefere adotar

o método de Taylor.

Os valores de cv calculados pelos dois métodos não são iguais. Nos exemplos aqui apresentados foram

obtidos 0,8 m²/ano pelo método de Casagrande e 1,1 m²/ano pelo de Taylor, o que corresponde a uma

diferença aproximada de 40%. Isto ocorre comumente em argilas, já tendo sido verificadas diferenças de

até 150% (Ladd, 1973). Embora à primeira vista a influência do método de cálculo possa parecer

significativa, na realidade sua importância é menor que a da variação dos valores de cv em ensaios

oedométricos realizados para uma mesma argila, como comprovam os dados da figura 7.11. Esta figura

apresenta a faixa de variação de cv par argila do Rio de Janeiro correspondente a mais de 100 ensaios

oedométricos (Ortigão e Almeida, 1988).

Fig. 7.11. Faixa de valores de cv da argila do Rio de Janeiro obtida em ensaios oedométricos

Observa-se que para σ’v até 100 kPa, região em que o material está pré-adensado, a dispersão de

resultados é muito grande, entre 1 e 3,5 m²/ano. Para valores de σ’v superiores a 100 kPa, os resultados

estão compreendidos na faixa de 0,5 ± 0,3 m²/ano. Estes dados demonstram a dificuldade em se

selecionar, a partir de ensaios oedométricos, um valor de cv para aplicação da teoria de Terzaghi.

Correlação entre cv e índices físicos

Uma correlação universal empírica entre cv e índices físicos simples foi obtida por Carrier (1985):

0 100 300 500

v (kPa)

2v

vm

Dispersão de para Mais de 100 ensaios

Oedométricos

σ

σ

v

1.0

2.0

3.0

(m /ano)

c

'

'

c

Page 203: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

201

ano)/m()192,103,2(

)192,1(28,67 2993,71-

c

993,6-1c

v AILA

IPc

+++

=

Eq. 7-46

onde:

IP = índice de plasticidade (%)

Ac = atividade (equação 1.3, capítulo 1)

IL = índice de liquidez (equação 1.4, capítulo 1)

Essa equação é válida para amostras amolgadas, ou seja, as que tiveram sua estrutura perturbada durante

o processo de coleta, transporte e armazenamento, e por isso apresentam valores de cv inferiores aos de

argilas intactas. Essa correlação é muito útil na estimativa preliminar de cv em anteprojetos de engenharia

e para aferição de valores obtidos em laboratório. A figura 7.12 apresenta um ábaco para solução gráfica

da equação 7.22.

Exemplo 7.6

Determinar cv para a argila do Rio de Janeiro, que apresenta w = 150%, IP = 80%, LP = 40% e 55% de

material inferior a 2 μm.

Solução

Obtém-se inicialmente Ac = 1,45 e IL = 1,38. Aplicando a equação 7.22, vem:

ano/m5,0)45,1192,138,103,2(

29,4)138,1135,4()45,1192,1(80

67,28

2v

993,71

993,61

v

≅∴

++×+×+

= −

c

c

O valor obtido está dentro da faixa de resultados apresentada na figura 7.11 para a região normalmente

adensada. O ábaco da figura 7.12 também pode ser usado para resolver este problema.

Page 204: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

202

5

2

1

0.5

A =0.3c

Act iv ity

1.0 0.8 0.6 0.4 0.2 0LI

52

1

0.5

A =0.3c

200 100 50 20 10

0.1 1 10 100 1000

PI

v2

10.9 0.8 0.70.6 0.50.4 0.30.2

0.10

LI

(m / year)c

Fig. 7.12. Ábaco para a determinação de cv a partir de correlação (Carrier, 1985)

Determinação de cv a partir de ensaios in situ

A imprecisão e a grande dispersão em cv obtido por métodos correntes de ensaios de laboratório leva a

buscar outros meios, como os ensaios in situ, Schnaid (2000) publicou um excelente resumo sobre o os

ensaios in situ e as suas aplicações. As principais vantagens dos mesmos são a rapidez e o fato de

eliminarem o amolgamento ou perturbação de amostragem, transporte e da preparação do corpo-de-prova,

o que é impossível evitar no caso de amostras destinadas a ensaios de laboratório. Entretanto, perde-se o

controle das condições de tensão, deformação e drenagem, bem conhecidas nos ensaios de laboratório

mas impossíveis de serem controladas integralmente no campo.

Entre os métodos in situ, odem ser citados o do piezocone, o de Asaoka e o método combinado através de

permeabilidade in situ e compressibilidade de laboratório, descritos a seguir.

Piezocone

Os ensaios de piezocone, conhecidos mundialmente pela sigla CPTU (piezocone penetration test)

consistem na penetração lenta, no terreno, de uma ponteira de aço instrumentada (figura 7.13) em forma

de cone e com área de 10 cm², correspondente a um diâmetro de 3,6 mm e ângulo de apex de 60º.

Page 205: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

203

qc

fs

u2

Fig. 7.13. Piezocone

Fig. 7.14. Caminhão de investigações geotécnicas

O aparelho permite medir simultaneamente a resistência de ponta qc, em MPa, o atrito lateral fs, em MPa,

e a poropressão u (também de notada como u2), em kPa. As medidas são praticamente contínuas e

automatizadas ao longo da penetração, oferecendo uma grande sensibilidade para detecção das camadas

até mesmo muito delgadas, com espessura da ordem de centímetros, o que é impossível por outros

métodos. As figuras apresentam exemplos de resultados obtidos, sendo que as grandezas medidas qc, fs, u

e a relação de atrito Rf = fs/qc, são plotadas ao longo da profundidade. A poropressão hidrostática é

indicada como u0. Dois parâmetros de porpressão são empregados e fornecem valores muito próximos:

O DPPR é a sigla de differential porepressure ratio, definido por:

cc quu

quDPPR 02 −

=

O outro parâmetro é:

Page 206: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

204

0vcq q

uBσ−

Δ=

qt (MPa)

0 5 10 150

5

10

15

20

25

u (kPa)

0 300 600 9000

5

10

15

20

25

Rf (%)

0 2 4 6 8 100

5

10

15

20

25

Bq (%)

0.0 0.2 0.4 0.6 0.80

5

10

15

20

25

Aterro argiloso

Areia compacta

Argila média

Lente de areia

Silte arenoso

u2

u0

Fig. 7.15. Resultados típicos de CPT: atrito lateral fs, resistência de ponta qc e relação de atrito Rf,

ensaio em Tijucas, SC

u (kPa)

0 100 200 300 400 5000

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

qt (MPa)

0 2 4 6 8

Pro

fund

idad

e (m

)

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

Rf (%)

0 3 6 9 12 150

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

u0 u2

Aterro

Argilamole

Estratigrafia

Fig. 7.16. Resultados típicos de CPTU, argila de São Luiz, MA, apresentando grande homogeneidade da

argila, sem lentes

Page 207: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

205

qt (MPa)

0 1 2 3 4 5 6 7 8

Pro

fund

idad

e (m

)

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

22

24

26

28

30

u (kPa)

0 200 4000

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

22

24

26

28

30

u0

Rf (%)

0 2 4 6 8 100

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

22

24

26

28

30

u2

DPPR & Bq

-0.5 0.0 0.5 1.00

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

22

24

26

28

30

DPPRBq

Estratigrafia

Aterro

Argila médiacom lentes deareia e silte

u2

Lentesde areia

Fig. 7.17. CPTU em argila de Santos com várias lentes de areia

Este método é certamente o mais avançado para se obter a estratigrafia do terreno, ou seja, a identificação

e a descrição da seqüência de camadas que compõem um perfil geotécnico, e soluciona um problema

antigo no estudo de adensamento de camadas moles: a identificação da ocorrência ou não de lentes de

areia, como são chamadas as camadas muito finas que ocorrem intercaladas com camadas espessas de

argila.

A presença de uma lente de areia não detectada no meio de uma camada de argila, conforme apresentado

na figura 7.16, faria com que o caminho de drenagem fosse a metade do que se supunha. Isso acarretaria

um erro considerável no estudo de adensamento, pois se tomaria um valor duas vezes maior para o

caminho de drenagem Hd, sua influência nos resultados seria muito significativa.

Erros desse tipo em estudos de adensamento foram muitas vezes atribuídos à presença de lentes de areia,

que são difíceis de se identificar através de uma sondagem comum, em que a estratigrafia se baseia em

amostragem de metro em metro. Como exemplo, pode ser citado um caso em que o autor esteve

recentemente envolvido, de construção de um enrocamento sobre fundação mole. A projetista, com base

em sua experiência com a argila de Santos, em que observou valores de cv da ordem de 20 m²/ano devido

à presença de lentes de areia, admitiu para o terreno de fundação do enrocamento um valor de cv da

mesma ordem de grandeza. Entretanto, após a realização de uma campanha de CPTU, não foi detectada

Page 208: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

206

qualquer lente e o valor de cv constatado foi, na realidade, muito mais baixo.

Perfilreal

Perfiladmitido

Lente de areia

não detectada

Hd

Hd

Hd

Fig. 7.18. Significado de uma lente de areia na previsão de velocidade de recalque

Exemplos de resultados de CPTU estão apresentados nas figuras 7.14 e 7.15. A primeira apresenta um

perfil de areia densa sobrejacente à argila siltosa ou silte argiloso de Richmond, British Columbia,

Canadá, obtido pelo autor a bordo do caminhão de investigações geotécnicas da UBC – Universidade de

British Columbia, Vancouver. Os resultados mostram claramente, a 20 m de profundidade, uma transição

brusca entre a camada superior de areia e a argila siltosa. Logo em seguida, na profundidade de 25 m,

observam-se lentes finas de areia que provocam um aumento no valor da resistência de ponta qc e um

decréscimo na poropressão u.

Mesmo em argila mole do Rio de Janeiro, em que métodos convencionais de investigação nunca

detectaram a presença de lentes finas de areia, o CPTU (figura 7.15) revelou a presença de lentes.

Em um outro exemplo, o autor esteve envolvido na construção de um enrocamento sobre fundação mole

(Ortigão e Sayão, 1994). O projetista, com base na experiência na argila de Santos, utilizou um valor

muito alto de cv de 20 m²/ano, alegando que a presença de lentes de areia não detectáveis aumentaria cv

para este valor. Uma campanha de CPTU foi então realizada e mostrou que o valor de cv a ser usado no

projeto deveria ser muito mais baixo.

O CPTU pode ser executado a partir de caminhão de investigações, como o apresentado na figura 7.17,

que imprime grande mobilidade e velocidade de execução de ensaio. Um caminhão como este carrega sua

própria tara de até 200 kN e não precisa de reação por meio de ancoragens. Com isso, o tempo de

mobilização e deslocamento até um novo furo é muito reduzido, como também o custo do ensaio. Deve-

se observar que, como o fluxo ao redor da ponta é radial, a notação ch é a mais apropriada, não sendo

Page 209: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

207

teoricamente correto confundi-la com cv, exceto no caso de materiais isotrópicos.

Embora alguns pesquisadores preconizem a utilização de procedimentos bem mais elaborados (eg

Thomas, 1986; Danzinger, 1990), o ensaio de dissipação pode ser analisado através do seguinte

procedimento simples, sem perda significativa de acurácia:

(a) interromper a penetração do piezocone e observar a variação de Δu versus tempo decorrido t:

plotar Δu versus √t, conforme indicado na figura 7.18;

(b) interpolar uma reta através dos pontos experimentais da figura, extrapolar a reta para obter o início

da dissipação (tempo zero) e obter t50, conforme indicado, correspondente a 50% de dissipação;

daí √t = 8,8s, ∴ t50 = 77s;

(c) obter o valor teórico do valor tempo T50 correspondente a 50% de dissipação, empregando uma

solução teórica de fluxo radial em volta do cone; Danziger (1990) avaliou várias soluções

disponíveis e recomenda empregar o trabalho de Houlsby e Teh (1988), que fornece o coeficiente

de adensamento através da equação

tIrTc

0,5r

2

h =

Eq. 7-47

onde r é o raio do piezocone, padronizado em 18,3 mm, Ir é o índice de rigidez, dado por Ir = G/cu, sendo

G o módulo cisalhante do solo e cu a resistência não drenada, assunto estudado no capítulo 12.

Page 210: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

208

Fig. 7.19. Exemplo de resultados de ensaios de dissipação ao redor de piezocone com medição de

poropressão através da ponta

Para a maioria das argilas, pode ser empregado um valor de Ir = 100. Houlsby e Teh (1988) indicam, para

o fator tempo, um valor de T50 = 0,245 para dissipação de poropressão observada logo atrás do cone,

conforme indicado na figura 7.18. Então, empregando a equação 7.23, o valor de ch é:

anom336

36524360077

1000183,0245,0 25,02

h /c =

××

××=

O valor de ch assim obtido é em geral maior que o obtido em ensaios de laboratório. Isto pode ser

explicado pelo fato de que a dissipação em volta do piezocone ocorre na recompressão, isto é, o solo

apresenta comportamento sobreadensado com valores de ch maiores que na região normalmente adensada.

Com isso, a aplicação prática de valor de ch requer uma correção, conforme discutido com mais detalhes

por Robertson e Campanella (1989) e Schnaid (2000).

( )

50%

50%

0 5 10 15 20 25

40

80

120

160

200

Δu

(kPa)

t

( s)

Δu

t

0 , t0

50= 8.8

∴ t50

= 77 s

Page 211: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

209

ch (m2/ano)

1 10 100 1000 10000

Rio de Janeiro

Santos

Santa Catarina

Aracaju, SE

Fig. 7.20. Faixas de valores de cv (ou ch) em algumas argilas

Método de Asaoka

Um método muito prático e de fácil aplicação para a estimativa de recalques totais e do coeficiente de

consolidação cv in situ foi proposto por Asaoka (1978), sendo utilizado para a análise de observações de

recalque de um carregamento sobre fundação mole.

Em uma obra importante, muitas vezes é economicamente viável executar uma experiência de campo em

verdadeira grandeza, que permita verificar parâmetros do solo, como a resistência e a compressibilidade,

e testar algum tipo de solução de engenharia. No caso de construção de uma estrada que atravessa muitos

quilômetros sobre solos moles, de uma barragem ou de uma obra portuária muito extensa, a execução de

um aterro experimental é uma solução já utilizada no Brasil.

Como exemplo, os aterros experimentais executados pelo Instituto de Pesquisas Rodoviárias (IPR) sobre

argila mole do Rio de Janeiro (Ortigão et al, 1983; Almeida et al, 1988), que até hoje são úteis em

projetos de engenharia nessas argilas. Outro exemplo é o da barragem de Juturnaíba (Coutinho e Ortigão,

1990), onde foi construída uma obra provisória para verificar as condições de fundação. Em ambos os

casos, além da resistência da fundação, o valor de cv foi verificado in situ e os projetos utilizaram dados

com incerteza muito menor.

O método de Asaoka (figura 7.19) é uma ferramenta muito útil nos casos em que se dispõe de medições

de recalque. A apresentação de bases teóricas do método não é objetivo deste livro, pretendendo-se

mostrar aqui apenas sua versatilidade e aplicação.

Pelo método de Asaoka, as observações de recalque são plotadas em um gráfico de recalque versus

Page 212: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

210

tempo, em escala aritmética (figura 7.19a). A escala de tempo é dividida em intervalos Δt constantes, em

geral entre 15 e 100 dias, e na curva experimental são obtidos os valores de recalque ρ1, ρ2, ρ3... ρn

correspondentes aos tempos t1, t2, t3... tn.

Fig. 7.21. Método de Asaoka para análise de recalques: (a) pontos da curva de tempo × recalque obtidos

para um intervalo de tempo Δt constante; (b) obtenção do recalque total ρ∞ e do parâmetro β1

Um outro gráfico (figura 7.19b) é construído para representar os recalques ρ1, no tempo t1, versus os

recalques ρi-1, correspondentes aos tempos ti-1, e é traçada uma reta com 45º. Através dos pontos

experimentais da figura interpola-se uma outra reta, e o ponto onde esta interceptar a reta de 45º

corresponde ao recalque total ρ∞. O ângulo β1 permite obter o coeficiente de consolidação cv através da

seguinte equação, válida para drenagem dupla:

tHc d

v Δ−=

12ln5 1

2 β

Eq. 7-48

Exemplo 7.7

Aplicar o método de Asaoka para analisar os recalques medidos na barragem de Juturnaíba (figura 7.20),

Δ

Recalque

Tempot

(a)

(b)

t

t t t t to

Ângulo

1 2 3 n n+1

1234

n+1

2

3

4

1 2 3

i=i-1i

i

h

h β

ρ

ρ

ρ

Δt Δ t

1

-1

ρ

ρ

ρ

ρ

ρ ρ ρ ρ0

ρρρρ

ρ

Page 213: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

211

construída sobre camada de solo mole. Os dados de recalque estão plotados na figura 7.21, de onde foram

extraídos os dados do quadro 7.5.

Fig. 7.22. Seção transversal da barragem de Juturnaíba

Solução

O intervalo de tempo Δt escolhido foi de 25 dias. Para facilitar a representação gráfica de Asaoka, foi

incluída no quadro 7.5 a terceira coluna, com os valores de ρi-1. Em seguida, foi plotada a figura 7.22 e

obtida a regressão linear que correlaciona os valores das ordenadas ρ1 com as abscissas ρi-1, qual seja:

1ii 83,05,153 −+= ρρ

Fig. 7.23. Dados de tempo e recalque observados na barragem de Juturnaíba

Quadro 7.5. Aplicação do método de Asaoka para análise de recalques medidos na barragem de

Juturnaíba

BermaNúcleo Filtro

Berma

Solo mole

0 50m

Ponto de mediçãode recalque

'

Tempo (dias)300 400 500 600 700 800

400

500

600

700

800

900

Recalque (mm)

Page 214: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

212

Tempo (dias) ρi (mm) ρi-1 (mm)

400 530

425 610 530

450 650 610

475 690 650

500 720 690

525 750 720

550 770 750

575 770 770

600 820 720

625 820 820

650 830 820

675 870 830

700 880 870

O recalque total ρ∞, determinado pela interseção dessa correlação com a reta de 45º, foi de 908 mm. O

valor do ângulo β1 é igual ao coeficiente angular da mesma correlação, ou seja, tan β1 = 0,83; então, β1 =

0,69 rad. Considerando a espessura da camada mole abaixo da crista da barragem (figura 7.20) de 4,5 m,

o valor de cv pela equação 7.24 é:

ano/m11365/2512

69,0ln)2/5,4(5 22

≅×

×−=cv

Deve-se notar que uma das vantagens do método de Asaoka é a facilidade com que um critério

probabilístico pode ser adotado para se avaliar a distribuição do recalque total. Basta considerar os erros

de estimativa dos parâmetros da correlação anterior e a faixa de variação do ponto de interseção com a

reta de 45º.

Page 215: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

213

Fig. 7.24. Construção de Asaoka para análise de recalques observados na barragem de Juturnaíba

Método combinado

O método combinado consiste na utilização da equação 7.9, que relaciona cv com a permeabilidade k,

obtida através de ensaios in situ, e com o módulo de variação de volume mv, obtido através de ensaios

oedométricos de laboratório. O nome combinado advém do emprego dos parâmetros k e mv.

Os ensaios de permeabilidade in situ podem ser conduzidos por várias metodologias (eg ABGE, 1981;

Cedergren, 1977). Em solos moles, a permeabilidade in situ é facilmente determinada através de ensaios

de carga variável em piezômetros Casagrande (capítulo 3). A metodologia desses ensaios e uma discussão

detalhada sobre o assunto podem ser vistas em Daniel (1989), Tavenas et al (1986), Leroueil et al (1985)

e no trabalho clássico de Hvorslev (1951).

Tanto o ensaio quanto o cálculo de k são análogos ao ensaio de permeabilidade de laboratório de carga

variável, visto no capítulo 5, consistindo simplesmente em se elevar o nível d’água no interior do tubo de

acesso do piezômetro (figura 7.23), por exemplo, em 1 m, e observar sua variação com o tempo até a

estabilização.

0

500

1000

1500

0 500 1000 1500

(mm)i

(mm)i-1

= 908mm

= 153.5+0.83

=

i i-1

i i-1

ρ

ρρ

ρ ρ

ρ ρ

h

Page 216: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

214

Fig. 7.25. Ensaio de permeabilidade in situ com piezômetro Casagrande

A permeabilidade é obtida através da equação:

2

1

12

ln)( h

httF

ak−

=

Eq. 7-49

onde t1, h1 e t2, h2 são observações nos tempos t1 e t2 das alturas do nível d’água h1 e h2 no interior do tubo

do piezômetro; a é a área da seção transversal do tubo de acesso do piezômetro e F é o fator de forma do

piezômetro, dado pela equação:

⎭⎬⎫

⎩⎨⎧ ++

=2)/(1ln

2

DLDL

LF π

Eq. 7-50

h

a

D

L

Page 217: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

215

Em relação às determinações de laboratório, a permeabilidade in situ tem como vantagem possibilitar o

ensaio de uma massa de solo consideravelmente maior, incluindo o efeito de eventuais lentes de areia,

fissuras etc. Como o fluxo de água que sai do instrumento é essencialmente radial (figura 7.23), a

permeabilidade obtida é radial, ou horizontal. Nas argilas que apresentam um alto grau de

homogeneidade, este fato é pouco relevante.

Breve comparação entre os métodos

A figura 7.24 compara valores médios do coeficiente de adensamento obtidos para a argila do Rio de

Janeiro através dos métodos apresentados neste capítulo. Há uma boa concordância entre os resultados

dos ensaios do piezocone e os obtidos pelo método de Asaoka a partir de dados de recalques em aterros.

Já os valores obtidos pelo método combinado são da ordem de 50% dos primeiros e os fornecidos por

ensaios de laboratório são muito pequenos, da ordem de 5 a 10% dos valores de campo. Comparações

desse tipo são importantes para permitir a seleção do valor de cv a ser empregado em um projeto de

engenharia.

b

Fig. 7.26. Comparação entre valores de coeficiente de adensamento da argila do Rio de Janeiro obtidos

por diferentes métodos (dados de Almeida et al, 1989 e Danziger, 1990)

Exercícios

7.1. Definir o coeficiente de adensamento, o fator tempo e a percentagem de adensamento.

0

5

10

15

20

25

CPTU ASAOKACombinado Laboratório

min

maxCoe

ficie

nte

de A

dens

amen

to(m

/ano

)

Page 218: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

216

7.2. Explicar por que as areias apresentam consolidação imediata, enquanto nas argilas o processo é

lento.

7.3. que se entende por analogia do sistema água-mole de Terzaghi?

7.4. Apresentar e discutir a validade das hipóteses da teoria do adensamento de Terzaghi.

7.5. fator tempo para uma argila em adensamento é 0,2. Qual o grau de consolidação no centro da

camada e nos pontos correspondentes a z/H = 0,25 e 0,75? Qual o grau de consolidação médio

para a camada de argila?

7.6. Se o recalque final estimado para o exercício 7.5 fosse de 1 m, quais os recalques que ocorreriam

para fatores tempo de 0,2 e 0,7?

7.7. Repetir os exercícios 7.5 e 7.6 considerando drenagem somente no topo da camada de argila.

7.8. Com base nos dados do quadro 7.6, referentes ao carregamento de 40 kPa em um corpo-de-prova

de argila mole com 27 mm de altura inicial, submetido a um ensaio oedométrico, obter: (a) o valor

de cv pelos métodos log t e √t, comparando os resultados (plotar em papel milimetrado comum, e

não logaritmo, e usar uma calculadora com função log); (b) o valor do coeficiente de

permeabilidade k através da equação k = cvmvγw, em que o valor de mv pode ser obtido dos

resultados de ensaios da argila do Rio de Janeiro (figuras 6.8 e 6.9, capítulo 6).

7.9. Um aterro com 4,5 m de espessura e γ = 20 kN/m³ será executado sobre argila do Rio de Janeiro,

cujos valores de compressibilidade e de cv podem ser obtidos no capítulo 6 e na figura 7.11,

respectivamente. Obter, para esse aterro: (a) o recalque total; (b) a curva de tempo x recalque,

justificando o valor de cv selecionado; (c) as curvas de variação de poropressão com o tempo para

um piezômetro instalado a 2 m e outro a 5 m de profundidade na argila.

7.10. Os dados de tempo x recalque do quadro 7.7 foram obtidos através de medições de recalque na

barragem de Juturnaíba, cuja seção transversal consta da figura 7.20. Traçar a curva de tempo x

recalque e aplicar o método de Asaoka para estimar recalques totais e o valor de cv.

7.11. Um piezômetro Casagrande, com bulbo de 37 mm de diâmetro e 0,6 m de altura, foi instalado a

25 m de profundidade em argila. Realizou-se um ensaio de permeabilidade in situ, cujos dados

constam do quadro 7.8, sendo t o tempo decorrido (em horas) e h o valor da poropressão (em

metros de coluna d’água). O ensaio teve início com t = 47 horas, quando foi adicionada água no

tubo do piezômetro. Obter a permeabilidade in situ k e, empregando os valores de mv do capítulo

6 para a argila do Rio de Janeiro, calcular cv.

Page 219: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

217

Quadro 7.6. Exercício 7.8: dados

Tempo decorrido

(min)

Leitura

(mm)

0 4.041

0,10 3.927

0,25 3.879

0,50 3.830

1,00 3.757

2,00 3.650

4,00 3.495

8,00 3.282

15,00 3.035

30,00 2.766

60,00 2.550

120,00 2.423

240,00 2.276

505,00 2.184

1.485 2.040

Quadro 7.7. Exercício 7.10: valores de tempo x recalque obtidos na barragem de Juturnaíba

Tempo t

(dias)

Recalque ρ

(mm)

400 700

425 750

450 780

475 800

500 840

525 860

550 870

575 880

600 920

625 940

650 950

675 995

Page 220: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

218

700 1.100

Quadro 7.8. Exercício 7.11: resultados de ensaio de permeabilidade in situ

t (h) h (m) t (h) h (m) t (h) h (m) t (h) h (m)0 21,60 47 22,64 92 21,68 130 21,575 21,58 47 22,61 100 21,67 131 21,586 21,60 48 22,60 101 21,66 139 21,5614 21,57 48 22,57 102 21,64 140 21,5518 21,57 49 22,53 103 21,64 141 21,5420 21,61 63 22,07 104 21,64 142 21,5627 21,58 64 22,02 105 21,65 143 21,5729 21,60 73 21,92 112 21,65 150 21,5730 21,64 74 21,90 113 21,63 151 21,5638 21,62 75 21,85 114 21,59 152 21,5539 21,58 79 21,79 115 21,58 153 21,5441 21,59 88 21,75 116 21,58 154 21,5442 21,60 89 21,73 117 21,58 155 21,5544 21,62 90 21,72 128 21,56 156 21,5647(*) 21,64 91 21,70 129 21,57 162 21,57

(*) NA no tubo de acesso elevado em 1 m, tendo-se adicionado água.

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

219

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220

Cap 8. ENSAIOS PARA O ESTUDO DE TENSÃO-DEFORMAÇÃO

Introdução

Os ensaios de laboratório têm grande importância para o estudo de propriedades de tensão-deformação e

resistência dos solos. No capítulo 6 foi vista a aplicação do ensaio oedométrico para o estudo de

recalques. Aqui são abordados outros tipos muito utilizados, detalhando-se o de cisalhamento direto e o

triaxial, que, por serem os ensaios de resistência mais utilizados, têm os equipamentos necessários para

sua realização disponíveis em quase todos os laboratórios de solos.

Tipos de ensaio

As figuras 8.1 e 8.2 sumarizam os principais tipos de ensaios de solos, suas trajetórias de tensão e as

deformações sofridas pela amostra.

Compressão isotrópica

No ensaio de compressão isotrópica (figura 8.1a), o estado de tensão aplicado corresponde à condição σ1

= σ2 = σ3. Como tais condições dificilmente ocorrem em situações reais, esse ensaio é pouco empregado

em Mecânica dos Solos, exceto para o estudo de deformações sob tensões muito elevadas, da ordem de

vários MPa, em que é conveniente utilizá-lo por problemas relativos à resistência do próprio

equipamento. A trajetória de tensões no diagrama s:t coincide com o eixo hidrostático.

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

221

Fig. 8.1. Tensões e deformações aplicadas em ensaios geotécnicos de laboratório e trajetória de tensões

nos casos de compressão: (a) isotrópica, (b) oedométrica e (c) triaxial

Fig. 8.2. Tensões e deformações aplicadas em ensaios geotécnicos de laboratório e trajetória de tensões

nos casos de cisalhamento: (a) direto, (b) simples e (c) torsional

Antes

Após

(a) Compressão isotrópica

t

s'

(b) Compressão oedométrica

t

s'

K o

t

s'

(c) Compressão triaxial

σ

σ

σ σ σ

Antes

Antes

Após

s'

s' K s'

ε

σ

σ

Δ

Após

σ

N TT

TT

t

t

t

s'

s'

s'

K

K

K

?o

o

o

?

(a)Cisalhamento direto

(b) Compressão oedomértica

(c) Cisalhamento torcional

σt

σ

Page 224: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

222

Compressão oedométrica

Na compressão oedométrica (figura 8.1b), impõem-se deformações laterais nulas, isto é, ε2 = ε3 = 0,

simulando-se a condição mais freqüentemente encontrada in situ durante a formação dos solos

sedimentares. Tal condição é freqüente também no estudo dos recalques, razão pela qual o ensaio de

compressão oedométrica é muito utilizado. A trajetória de tensões efetivas TTE, como visto no capítulo 6,

segue uma relação K0. O ensaio de compressão oedométrica se presta ao estudo de deformações antes da

ruptura.

Compressão triaxial

O ensaio de compressão triaxial (figura 8.1c) refere-se à compressão em uma amostra cilíndrica em que

se variam as tensões radial e axial. O nome dado ao ensaio é inapropriado, pois as condições impostas à

amostra são axissimétricas, e não triaxiais verdadeiras.

Em geral, o ensaio é conduzido em duas fases: na primeira, aplica-se uma tensão confinante σc isotrópica

e, na segunda, denominada fase de cisalhamento, mantém-se constante o valor de σc e aumenta-se o valor

da tensão axial σ1, através da aplicação da tensão-desvio ou desviatória Δσ1 = σ1 – σ3. A trajetória de

tensões é composta de dois trechos: um horizontal, correspondente à compressão isotrópica, e o outro

inclinado de 45º à direita, correspondente ao aumento da tensão-desvio.

O ensaio de compressão triaxial se presta tanto ao estudo de resistência quanto ao de relações tensão-

deformação. É muito versátil , permitindo a aplicação de trajetórias de tensão diversas, como estudado no

capítulo 13, e pode ser considerado como o ensaio-padrão de Mecânica dos Solos. O custo do

equipamento necessário à sua execução é acessível à maioria dos laboratórios de solos.

Cisalhamento direto

Pioneiro dos ensaios de solo, o de cisalhamento direto (figura 8.2a) foi utilizado por Coulomb, em 1776

(Essai sur une application des regles de maximis et minimis à quelques problèmes de statique relatifs à

l’architecture, Memoires Academie Royales, Paris, 38p), e permite o estudo de resistência em um único

plano de ruptura, que é imposto.

A amostra é colocada em uma caixa bipartida, onde se aplica a força normal N, aumentando em seguida a

força tangencial T, provocando o deslocamento de uma das partes da caixa em relação à outra, até a

ruptura. As tensões normal e cisalhante no plano de ruptura são, respectivamente, σ = N/a e τ = T/a, onde

a é a área da seção transversal da amostra. Na primeira fase do ensaio, em que a tensão normal é aplicada,

as condições são equivalentes às do ensaio oedométrico, pois não se permite a deformação lateral. A

trajetória de tensões mantém uma relação K0, conforme indicado na figura 8.2a.

Page 225: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

223

Uma vez iniciada a aplicação da força T, o campo de deformações passa a ser desuniforme, ou seja,

diferente para cada ponto considerado no interior do corpo-de-prova. As deformações específicas lineares

ou distorcionais não podem ser determinadas a partir de observações na superfície da amostra. A única

possibilidade é a utilização de sensores instalados no interior de uma amostra de grandes dimensões,

conforme as pesquisas de Palmeira (1987), que empregou um corpo-de-prova de 1m×1m×1m com

diversos sensores internos. Como em ensaios convencionais de pequenas dimensões isto é inviável, uma

vez iniciado o cisalhamento não se tem qualquer informação sobre o estado de tensão ou de deformação

da amostra, sendo impossível saber quais as trajetórias de tensões e deformações e obter módulos de

deformação, como o de Young e o coeficiente de Poisson. As únicas informações obtidas são as tensões

no plano de ruptura. Assim, o resultado do ensaio de cisalhamento direto em um corpo-de-prova é

somente um ponto no diagrama de Mohr (figura 8.3), pelo qual podem ser traçados vários círculos.

Fig. 8.3. Círculos de Mohr possíveis para um ensaio de cisalhamento direto em que se conhecem as

tensões τff e σff

Cisalhamento simples

O ensaio de cisalhamento simples (figura 8.2b), desenvolvido no Instituto Norueguês de Geotecnia, NGI

(Bjerrum e Landva, 1966), e posteriormente em Cambridge (Roscoe, 1970), constituiu um avanço em

relação ao ensaio de cisalhamento direto, por procurar submeter a amostra a um estado de deformação e

tensao uniforme. O ensaio é conduzido aplicando-se inicialmente a tensão normal σ, em condições

oedométricas, com TTE ao longo da linha K0. Em seguida, aplica-se a tensão cisalhante τ, provocando

deformações distorcionais até a ruptura. O equipamento utilizado para sua execução é bem mais

complexo que o empregado no ensaio de cisalhamento direto, perdendo-se, portanto, a grande vantagem

deste – a simplicidade.

σ

τ

σ

τ

Page 226: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

224

Cisalhamento torcional

O ensaio de cisalhamento torcional (figura 8.2c) permite submeter a amostra a uma compressão

oedométrica inicial, seguida de uma torção conhecida. A ruptura ocorre, como no cisalhamento direto,

segundo um plano predeterminado. Sua maior utilidade é no estudo de resistência sob deformações muito

grandes, da ordem de metro, por permitir aplicar várias rotações entre as partes superior e inferior da

amostra. A resistência do solo obtida nessas condições é denominada residual, ocorrendo, por exemplo,

ao longo da superfície de ruptura de uma encosta que deslizou. O assunto é novamente abordado no

capítulo 13.

O equipamento hoje utilizado foi desenvolvido por Bromhead (1979), havendo um em operação na UFRJ.

De utilização simples, equivale ao empregado no ensaio de cisalhamento direto, o que permite

recomendá-lo para uso em aplicações práticas. As técnicas de ensaio são discutidas por Bromhead e

Curtis (1983) e Bromhead (1986).

Outros tipos de ensaio

Há vários tipos de ensaio que utilizam equipamentos bem complexos, razão pela qual são empregados

exclusivamente em pesquisa. Por exemplo, os ensaios triaxiais verdadeiros, em que se pode variar

independentemente σ1, σ2 e σ3, os ensaios de deformação plana, em que se impõe a condição ε2 = 0 e, o

mais atual, o ensaio de cilindro vazio (Sayão e Vaid, 1988), em que se pode inclusive aplicar uma rotação

de tensões principais sem alterar a magnitude das mesmas.

Equipamentos e técnicas do ensaio de cisalhamento direto

O equipamento empregado no ensaio de cisalhamento direto é uma célula, ou caixa bipartida (figura 8.4),

onde o corpo-de-prova é colocado. Para facilitar a drenagem são colocadas duas pedras porosas, no topo e

na base da amostra. A força normal é aplicada através de uma placa rígida de distribuição de carga e é

possível manter o corpo-de-prova sob água, evitando a perda excessiva de umidade durante o ensaio em

amostras saturadas.

A força lateral é aplicada na parte inferior da caixa, provocando seu deslocamento em relação à parte

superior, mantida imóvel durante o ensaio. Rolamentos lineares atuando abaixo da caixa eliminam o

atrito. A força lateral é medida através de um transdutor de força, ou seja, um dispositivo elétrico ou

mecânico que permite a medição da carga aplicada. Deflectômetros permitem medir os deslocamentos

verticais e horizontais durante ensaio.

A descrição dos dispositivos de aplicação das cargas vertical e horizontal e dos procedimentos para a

preparação do corpo-de-prova não faz parte do escopo deste livro, estando contida em manuais de

laboratório de solos, como o de Vickers (1978) ou o excelente tratado de Head (1980).

Page 227: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

225

Fig. 8.4. Detalhes da caixa de cisalhamento direto

Uma deficiência importante do ensaio de cisalhamento direto é a impossibilidade de controle da

drenagem no corpo-de-prova, pois a caixa não tem um sistema de vedação adequado. Mesmo que fossem

usadas placas impermeáveis no topo e na base da amostra, seria impossível impedir a saída da água, pois

logo que se inicia o ensaio o deslocamento de uma parte da caixa sobre a outra provoca uma abertura

entre elas, permitindo a drenagem. Com isso, as pressões efetivas seriam alteradas, tornando difícil a

análise dos resultados. Por estas razões, a única solução é conduzir o ensaio em condições totalmente

drenadas, mantendo nulas as poropressões.

A condição drenada implica a total dissipação de poropressões durante o cisalhamento. Nas areias, devido

à alta permeabilidade, isto é automático; em solos argilosos, é necessário reduzir a velocidade de

deformação para aumentar o tempo de ensaio. Muitos laboratórios comerciais insistem em realizar

ensaios de cisalhamento direto com drenagem impedida, e portanto mais rápidos, conseguindo maior

produtividade, porém incorrendo em uma prática teoricamente inaceitável.

No ensaio de cisalhamento direto, a imposição do plano de ruptura é uma desvantagem quando se trata de

testar solos aparentemente homogêneos, cujo plano de fraqueza não foi detectado a priori. Pode-se

incorrer no erro de se moldar o corpo-de-prova segundo a direção de maior resistência, obtendo-se

resultados contra a segurança.

A Fig. 8.5 apresenta um talude em saprolito estruturados, ou seja, um material que guarda as estruturas da

rocha de origem. Este caso é um filito de Minas Gerais, com planos ou juntas mergulhando na direção do

talude. A Fig. 1.1 apresenta um outro exemplo em solo residual de gneiss do Rio de Janeiro.

Pedras porosas

Carganormal Plano de

ruptura imposto

Tradutor de força

Amostra de solo

Força Cisalhante

Rolamentos

Caixa bipartida

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226

Fig. 8.5. (a) Talude em filito, Minas Gerais; (b) Planos de menor resistência ao longo das juntas

Nesses materiais estruturados há interesse em se avaliar sua resistência ao cisalhamento em função da

direção das juntas ou planos de fraqueza. Nesse caso, o procedimento recomendado é retirar amostras em

blocos (Fig. 8.6) com dimensões mínimas de 0,3m × 0,3m × 0,3m e extrair corpos-de-prova com

orientação definida. A Fig. 8.6 exemplifica como os corpos-de-prova A e B são extraídos conforme os

planos paralelos ou perpendiculares às juntas.

Fig. 8.6. Amostra de solo com forte xistosidade, de onde foram moldados corpos-de-prova paralelo (A) e

transversal (B) à xistosidade

Um exemplo concreto dessa situação é o quadrilátero ferrífero de Minas Gerais, região de mineração de

ferro próxima às cidades de Ouro Preto e Itabira, onde as rochas, da série Minas, são compostas de filitos,

itabiritos e quartzitos cujos solos de alteração apresentam fortes estruturas da rocha. Quando se analisa a

estabilidade de taludes nessa região, é necessário considerar a variação da resistência com a direção, caso

em que o ensaio de cisalhamento direto é uma ferramenta útil, devido à possibilidade de se escolher a

direção do plano de ruptura.

A

B

Xistosidade

Page 229: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

227

Equipamentos e técnicas do ensaio triaxial

O ensaio triaxial é tão importante em Mecânica dos Solos que pode ser considerado como o ensaio-

padrão. As principais referências sobre o assunto são o livro de Bishop e Henkel (1962) e, mais

recentemente, o trabalho de Head (1980). A abordagem aqui feita é bastante simplificada, abrangendo a

célula triaxial, as medições de poropressão e variação de volume e a saturação do corpo-de-prova.

A célula triaxial (figura 8.6) consiste em uma câmara de acrílico transparente assentada sobre uma base

de alumínio, uma bucha e um pistão. O corpo-de-prova é colocado sobre um pedestal, através do qual há

uma ligação com a base da célula. A carga axial é aplicada pelo pistão e a pressão confinante, através da

água da célula. Entre o pedestal e a amostra utiliza-se uma pedra porosa para facilitar a drenagem.

Fig. 8.7. Detalhes da célula triaxial

O corpo-de-prova é envolvido por uma membrana de borracha, vedada no topo e na base por anéis de

borracha ou elásticos comuns, para evitar contato com a água e variação de umidade durante o ensaio. Em

contato direto com o corpo-de-prova utiliza-se uma tira de papel-filtro em espiral, cujo objetivo é

diminuir o caminho de drenagem ao longo do mesmo para obter equalização de poropressões e facilitar a

drenagem. O papel-filtro é utilizado também entre o corpo-de-prova e a pedra porosa, para evitar o

ingresso de solo e a colmatação da pedra.

Os instrumentos necessários para a medição da variação volumétrica e da poropressão estão

esquematizados na figura 8.7, constando de um transdutor de pressão, uma válvula para controle da

Força axial

Pistão

Bucha

Placa superior

Membrana de borracha

Cilindro de acrílico transparente

Pedra porosa

Válvula

'

σ

Page 230: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

228

drenagem e uma bureta graduada. A drenagem é controlada através da válvula, que é o único caminho

possível de entrada ou saída de água; fechando-a, o ensaio é realizado em condições não drenadas. Nesse

tipo de ensaio há interesse no controle das poropressões, que são medidas pelo transdutor de pressão.

Trata-se de instrumento que possui um diafragma muito sensível à variação de pressão na água,

produzindo um sinal elétrico proporcional, que é medido por instrumentos eletrônicos digitais. O valor da

poropressão é obtido diretamente em unidades de engenharia, kPa ou MPa, mediante uma calibração

prévia.

Fig. 8.8. Medições na base do corpo-de-prova durante o ensaio triaxial: poropressões, variação de

volume e aplicação de contrapressão

Quando o ensaio é realizado em condições drenadas, deseja-se medir a variação de volume do corpo-de-

prova para conhecer as deformações volumétricas. Isso pode ser feito facilmente em materiais saturados,

bastando observar, através da bureta graduada, a quantidade de água que sai ou entra no corpo-de-prova.

A linha de drenagem na base do corpo-de-prova, indicada na figura 8.7, permite aplicar uma pressão

inicial u0 no interior da amostra, denominada contrapressão, ao mesmo tempo em que se altera o valor da

pressão da água na célula σcel. Com isso, a pressão confinante σc não é alterada, pois σc = σcel – u0.

Aplicada desta forma, a contrapressão não tem qualquer influência nos cálculos, equivalendo a aumentar

a pressão atmosférica, conforme indicado no quadro 8.1. O aumento de u0 é feito em estágios até se

atingir o valor desejado, que, na maioria dos casos, é da ordem de 300 kPa.

Quadro 8.1. Exemplo de aplicação na contrapressão

Válvula

Contrapressão

Tradutor de pressão

Indicador de pressão

V

u

σ

σ

σΔ

σΔ

Page 231: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

229

Estágio Contrapressão

u0 (kPa)

Pressão na célula

σcel (kPa)

Pressão confinante

σc = σcel – u0 (kPa)

0 0 100 100

1 20 120 120

2 40 140 100

3 80 180 100

. .

. .

. .

10 300 400 100

A contrapressão tem por objetivos saturar o corpo-de-prova e facilitar as medições de deformação

volumétrica e de poropressão durante o ensaio, conforme o caso. Por exemplo, quando a amostra é

saturada in situ mas, devido às perturbações durante a coleta, o transporte, o armazenamento e a

moldagem do corpo-de-prova, perde umidade e deixa de ser totalmente saturada. Antes do início do

ensaio é importante voltar às condições iniciais de saturação, através da aplicação de contrapressão, sob

pena de se obterem medições errôneas de poropressão. A saturação é obtida porque as eventuais bolhas de

ar são dissolvidas na água sob pressão.

Outro exemplo é quando a amostra não é saturada in situ, como no caso de argila compactada do núcleo

de barragens de terra e enrocamento, mas se deseja estudar o comportamento em condições que existirão

após o enchimento do reservatório. As poropressões durante o cisalhamento são maiores à medida que se

aumenta o grau de saturação, como pode ser visto no capítulo 11. Neste caso, a saturação do corpo-de-

prova através de contrapressão simulará condições que poderão ocorrer.

Medições internas de variação de volume do corpo-de-prova, ou seja, através da água que entra ou sai do

mesmo, só serão possíveis se o corpo-de-prova for 100% saturado. Por esta razão, é sempre conveniente a

saturação por contrapressão. Este tipo de medição é muito mais conveniente do que qualquer outro, como,

por exemplo, medições externas, que envolvem a observação da variação de volume da água da câmara

triaxial, incorrendo em problemas devido à flexibilidade de diversos componentes do equipamento, como

o cilindro de acrílico.

Nos materiais dilatantes, isto é, aqueles que tendem ao aumento de volume durante o cisalhamento, os

acréscimos Δu de poropressão são negativos durante esta fase do ensaio, conforme é estudado no capítulo

11. Se a pressão de referência fosse a atmosférica, seria impossível medi-los. Com aplicação da

Page 232: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

230

contrapressão u0, com um valor adequado, isto se torna possível, pois estará sendo medido u positivo e

calculado Δu através da equação Δu = u – u0.

Classificação dos ensaios quanto à drenagem

As primeiras classificações de ensaios empregavam a velocidade de cisalhamento como característica

mais importante, o que levava a classificá-las como lentos ou rápidos (cf Lambe, 1951). Essa prática

persiste até hoje, principalmente entre os engenheiros de barragens. Nas classificações mais recentes, que

empregam as condições de drenagem, os ensaios podem ser drenados ou não-drenados. Estas são as

características realmente mais importantes, sendo por isto utilizadas neste livro.

Como visto anteriormente, os ensaios são realizados em duas fases, uma de consolidação e outra de

cisalhamento. As condições de drenagem podem variar nas duas fases e os ensaios serão (figura 8.8):

consolidado drenado CD, consolidado não-drenado CU e não-consolidado não-drenado UU (o primeiro U

de UU vem de unconsolidated e o segundo, de undrained; o C vem de consolidated e o D de drained,

termos ingleses empregados mundialmente).

No ensaio consolidado drenado CD (figura 8.8a), ao se aplicar a tensão confinante σc ainda com as

válvulas de drenagem fechadas, será observado um acréscimo de poropressão Δu. Abrem-se então as

válvulas, permitindo a drenagem e, ao final da consolidação, no tempo t = t*, o acréscimo Δu terá se

dissipado. A tensão confinante efetiva e de consolidação é σ’c. Inicia-se então a fase de cisalhamento em

condições drenagem total, com as válvulas abertas e na velocidade de cisalhamento, ou seja, de aplicação

da tensão-desvio Δσ = σ1 – σ3, ajustada de forma a permitir a drenagem e a dissipação dos acréscimos de

poropressão durante o ensaio.

Se o ensaio for conduzido em areia, a velocidade de cisalhamento poderá ser grande, com a ruptura

ocorrendo, por exemplo, em 20 minutos. Ensaiando-se uma argila com permeabilidade muito baixa, a

velocidade de cisalhamento também terá de ser muito baixa para que a drenagem ocorra, o que pode

demorar, por exemplo, uma semana. Como se vê, a classificação de acordo com a velocidade de

cisalhamento confunde e deve ser evitada.

Page 233: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

231

Fig. 8.9. Fases dos ensaios triaxiais CD, CU e UU

No ensaio consolidado não-drenado CU (figura 8.8b), apenas a fase de consolidação é drenada e igual à

do ensaio CD. O cisalhamento é conduzido em condições não drenadas e com medições de poropressões.

No ensaio não-consolidado não-drenado UU (figura 8.8c), as duas fases são não-drenadas e, em geral, as

poropressões não são medidas.

Os ensaios CD, CU e UU têm finalidades específicas, abordadas nos capítulos seguintes. Nas areias, cujo

comportamento in situ é quase sempre drenado, é utilizado o tipo CD. Os ensaios não-drenados nesse

material visam simular casos de solicitação transiente, como os terremotos. Nas argilas são realizados os

três tipos, dependendo da situação que se quer analisar. O ensaio de cisalhamento direto, como só deve

ser conduzido em condições drenadas, deverá ser sempre CD.

Classificação dos ensaios quanto à trajetória de tensões de consolidação

A trajetória de tensões mais comum nos ensaios triaxiais durante a fase de consolidação é a isotrópica,

empregando-se neste caso as notações CID e CIU, onde o I significa que a consolidação é isotrópica.

Em casos especiais, as tensões de consolidação são aplicadas com uma relação K0, caso em que os ensaios

triaxiais são notados como CK0D e CK0U. Os ensaios UU são realizados quase sempre com a tensão

confinante em condições isotrópicas, dispensando esta notação. Excetuam-se os ensaios utilizados para

previsão de poropressões durante a construção de barragens, muitas vezes chamados de K-constante, mas

que deveriam levar a notação UKU. Estes ensaios especiais são abordados no capítulo 13.

Page 234: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

232

Classificação dos ensaios quanto à trajetória de tensões no cisalhamento

Neste capítulo tratou-se apenas de ensaios de compressão triaxial, em que se aumenta a tensão-desvio na

fase de cisalhamento até a ruptura, e que corresponde à grande maioria dos ensaios triaxiais correntes. No

capítulo 13 são discutidos outros tipos especiais em que a tensão-desvio diminui, rompendo o corpo-de-

prova por extensão axial, ou em que se varia a tensão horizontal, provocando compressão ou extensão

lateral.

Exercícios

8.1. Quais são as medições necessárias no ensaio triaxial para se determinar o coeficiente de Poisson v

de uma amostra de solo?

8.2. Podem ser realizados ensaios não-drenados de cisalhamento direto? Por quê?

8.3. Qual ensaio você escolheria para determinar parâmetros de deformabilidade de uma areia: o

triaxial ou o de cisalhamento direto? Por quê?

8.4. Por que a designação adensado rápido ou lento para um ensaio triaxial não é adequada? Qual a

alternativa que você sugere?

8.5. Para que servem as medições de poropressão no ensaio triaxial? E a contrapressão?

8.6. Por que e quando se aplica a contrapressão em ensaios triaxiais em argila?

Page 235: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

233

Cap 9. COMPORTAMENTO DAS AREIAS

Introdução

Os materiais granulares, como as areias e os pedregulhos, têm como característica mais importante a alta

permeabilidade e se comportam com características de drenagem livre. Neste caso, utilizam-se ensaios

drenados para representar seu comportamento em laboratório, exceto no caso de carregamentos

transientes ou cíclicos, como os de terremotos, em que pode haver acréscimos de poropressão e

liquefação de areias finas e fofas. Como esta situação raramente é encontrada no Brasil, é abordado neste

capítulo somente o comportamento drenado das areias.

Envoltória de resistência de Mohr-Coulomb

A figura 9.1 mostra as curvas de tensão-deformação resultantes de ensaios triaxiais CID, com pressões

confinantes σ’c de 100, 200 e 300 kPa, realizados em três corpos-de-prova extraídos de uma amostra de

areia. Para cada corpo-de-prova, o ponto correspondente à ruptura é indicado por uma pequena seta para

baixo. Os valores da tensão-desvio de ruptura (σ1 – σ3)f constam do quadro 9.1, sendo que o valor da

tensão efetiva principal menor σ’3 é igual ao da tensão confinante, mantida constante durante o ensaio, e o

da tensão efetiva principal maior de ruptura σ’1f, incluído na terceira coluna, resulta da soma das colunas

anteriores, pois σ’1f e σ’3 + (σ1 – σ3)f. Como se dispõe das tensões efetivas principais na ruptura σ’1f e

σ’3f, podem ser traçados os círculos de Mohr correspondentes, como indicado na figura 9.2

Page 236: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

234

Fig. 9.1. Resultados de ensaios triaxiais em areia com corpos-de-prova testados com tensões confinantes

σ’c de 100, 200 e 300 kPa

Quadro 9.1. Resultados de ensaio triaxial CID

Corpo-de-prova σ’c = σ’3 (kPa) (σ1 – σ3)f (kPa) σ’1f (kPa)

1 100 269 369

2 200 538 738

3 300 707 1.007

Fig. 9.2. Obtenção da envoltória de resistência de Mohr-Coulomb tangente aos círculos de Mohr na

ruptura

1000

800

600

400

200

0 1 2 3 4

=300kPa

200kPa

100kPa

5

3

3

1 3

1

31

(kPa)

(%)ε

σ′

(σ − σ ) σ

σ σ-c

σ''

0 500 10000

500Envoltória deMohr-Coulomb

(kPa)

(kPa)

φ′

τ

σ′

=0c'

Page 237: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

235

Em seguida, obtém-se uma reta tangente aos três círculos de Mohr, denominada envoltória de resistência

de Mohr-Coulomb, que delimita duas regiões no gráfico: os pontos situados abaixo da reta correspondem

a estados de tensão antes da ruptura e, portanto, possíveis; os situados acima são impossíveis, pois o

material terá rompido antes de alcançá-los. A envoltória de Mohr-Coulomb, em sua forma geral, pode ser

representada pela equação:

’tan’’ ffff φστ += c

Eq. 9-51

onde:

τff = tensão cisalhante no plano de ruptura, por ocasião da ruptura;

σ’ff = tensão normal efetiva no plano de ruptura, por ocasião da ruptura;

c’ e φ’ = parâmetros efetivos de resistência, em que c’ é o intercepto da envoltória no eixo das

ordenadas, denominado coesão efetiva, e φ’ é o ângulo de inclinação da envoltória denominado

ângulo de atrito efetivo.

Para as areias, considerando que para tensões normais efetivas nulas a resistência ao cisalhamento τff

também é nula, pode-se tomar c’ = 0. A equação 9.1 simplifica para:

’tan’ffff φστ =

Eq. 9-52

Inclinação do plano de ruptura

A figura 9.3a mostra as tensões σ’ff e τff que atuam no plano de ruptura e no círculo de Mohr

correspondente à ruptura (figura 9.3a), obtidas em um ensaio triaxial.

Page 238: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

236

Fig. 9.3. (a) Tensões no plano de ruptura por ocasião da ruptura e (b) determinação da inclinação

teórica do plano de ruptura pelo processo gráfico do pólo

Utilizando o processo gráfico do pólo (capítulo 2) para determinar a inclinação do plano de ruptura

(figura 9.3b), traça-se uma paralela à faceta horizontal, a partir do ponto correspondente à tensão principal

maior σ’1f, obtendo-se o pólo P no outro extremo do círculo, coincidente com o ponto correspondente à

tensão principal σ’3f. A reta que liga P ao ponto do círculo que corresponde ao plano de ruptura fornece a

inclinação do plano de ruptura θcr. O valor de θcr assim obtido é teórico, podendo ser diferente daquele

determinado experimentalmente a partir de ensaios.

Comparação entre τff e a tensão cisalhante máxima τmax

Na figura 9.3b observa-se que o valor da tensão cisalhante τff no plano de ruptura é inferior à tensão

cisalhante máxima τmax, que ocorre no apex do círculo. Esta condição ocorre sempre que o valor de φ’ é

maior que zero; quando φ é igual a zero, a envoltória de Mohr-Coulomb é horizontal e, portanto, τff =

τmax.

Envoltória transformada

A figura 9.4 mostra as trajetórias de tensões efetivas TTEs obtidas para os três corpos-de-prova do ensaio

triaxial, cujos resultados constam do quadro 9.1.

Plano de ruptura teórico

P1f3f 3f

1f

ff

ff

Envoltória

CRθ σ

σ

σ σ

τ

σ

τ

τ

σ

σ

= f ( ' )ff ffστ

(a)

(b)

CRθ

'

Page 239: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

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237

Fig. 9.4. Envoltória transformada obtida através dos pontos finais das TTEs do ensaio triaxial

O trecho horizontal das TTEs corresponde à comparação isotrópica inicial até se alcançar o valor da

pressão confinante do ensaio; o trecho com inclinação 1:1 corresponde à fase de aplicação da tensão-

desvio até a ruptura, sendo (s’f, tf) as coordenadas deste ponto. A reta que contém os pontos de

coordenadas (s’f, tf) para todos os corpos-de-prova é denominada envoltória transformada, expressa por:

’tan’’ ff αsat +=

Eq. 9-53

onde a’ e α’ são os parâmetros efetivos de resistência da envoltória transformada, ou seja, o intercepto na

origem e o ângulo de inclinação da reta, respectivamente. A equivalência entre os parâmetros tradicionais

c’ e φ’ da envoltória de Mohr-Coulomb e os da envoltória transformada está deduzida no exemplo 9.1

Exemplo 9.1

Obter uma relação entre os parâmetros da envoltória transformada a’ e α’ e da envoltória de Mohr-

Coulomb c’ e φ’.

Solução

Na figura 9.5 estão representadas as duas envoltórias, correspondentes a um único círculo de Mohr na

ruptura, com eixos s’:t coincidentes com os eixos σ’:τ. A envoltória de Mohr-Coulomb é tangente no

0 500 1000 (kPa)

K f

TTE

500

t

Envoltória transformada

t = + s' f tan

1

1

α′f(kPa)

s'

α′

Linha

Page 240: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

238

ponto B e a transformada é secante no ponto C. Pode-se verificar, através de geometria elementar, que as

duas envoltórias se cruzam sobre o ponto A, situado no prolongamento do eixo das abscissas.

Fig. 9.5. Relação entre os parâmetros das envoltórias de Mohr-Coulomb e da transformada

Considerando os triângulos AOC e AOB, o segmento comum AO e que OC = OB = tf, vem:

’tan’sen|sene|tan ff

αφφα

=∴== AOtAOt

Eq. 9-54

Os triângulos ADF e ADE têm o mesmo cateto AD e permitem escrever:

tan α’ = a’ | AD e tan φ’ = c’ | AD

Substituindo AD e introduzindo a equação 9.4, vem:

’cos’ ’φ

ac =

Eq. 9-55

s'

, t

,s'A

BC

o

fff

aE

F

ff f

t

σ

τ

σ

τ

α

φ

c

Page 241: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

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239

A vantagem da envoltória transformada é que ela pode ser obtida através de interpolação de uma reta

entre pontos experimentais de ensaio. Ainda que em uma mesma amostra de solo, devido a dificuldades

de caráter experimental e a pequenas heterogeneidades entre os corpos-de-prova, os pontos resultantes

jamais se alinham em uma única reta. Assim, os parâmetros a’ e α’ podem ser obtidos por regressão

linear e transformados, através das equações 9.4 e 9.5, nos tradicionais c’ e φ’.

Esta é a via mais fácil para a obtenção dos parâmetros de resistência de Mohr-Coulomb, pois utilizar o

diagrama de Mohr significa tentar obter uma única envoltória tangente a três ou mais círculos, que,

devido aos problemas mencionados, jamais têm uma única tangente. O exemplo 9.2 trata deste assunto.

Exemplo 9.2

Conhecidos os resultados de ensaios triaxiais CID em areia (figura 9.6), obter: os círculos de Mohr na

ruptura; as TTEs; os parâmetros da envoltória de resistência de Mohr-Coulomb através do diagrama σ’:τ;

idem, a partir do diagrama s’:t; a inclinação teórica do plano de ruptura.

Fig. 9.6. Exemplo 9.2: resultados de ensaios triaxiais em areia

Solução

A partir da figura 9.6 obtêm-se as pressões confinantes e as tensões-desvio na ruptura, sumarizadas no

0 1 3 5

200

400 =140 kPa

=70 kPa

=35 kPa

1 (%)

1 3

(kPa)

3

3

3σ′

σ′

σ′

ε

(σ − σ )

Page 242: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

240

quadro 9.2. O ponto de ruptura considerado nas curvas de tensão-deformação, indicado na figura,

corresponde à tensão-desvio máxima. O valor da tensão efetiva principal na ruptura σ’1f foi obtido

somando-se as duas primeiras colunas do quadro, pois σ’1f = σ’3 + (σ1 – σ3)f.

Quadro 9.2. Exemplo 9.2: resultados de ensaio triaxial CID

Corpo-de-prova σ’c = σ’3 (kPa) (σ1 – σ3)f (kPa) σ’1f (kPa)

1 35 93 128

2 70 270 340

3 140 425 565

A figura 9.7a apresenta os círculos de Mohr na ruptura para os três corpos-de-prova ensaiados. A

envoltória de resistência de Mohr-Coulomb foi obtida adotando-se a equação 9.2, ou seja, c’ = 0, e

traçando uma envoltória secante aos círculos, já que, analisando-se resultados experimentais, é

praticamente impossível conseguir uma única tangente aos três círculos. Assim, obteve-se φ’ = 40º.

A inclinação teórica dos planos de ruptura θr é indicada na figura 9.7a. As TTEs constam da figura 9.8b e

terminam no ponto correspondente à ruptura dos corpos-de-prova. Através destes pontos foi interpolada a

envoltória transformada com a’ = 0 (ou seja, c’ = 0), por se tratar de areia. O valor de α’ obtido foi de

32,5º. A partir da equação 9.4 obtém-se φ’ ≅ 40º, valor que está de acordo com φ’ obtido pela construção

de Mohr.

Este exemplo mostra que a utilização do diagrama s’:t é vantajosa para a determinação de parâmetros de

resistência.

Determinação da envoltória de resistência no cisalhamento direto

A utilização do ensaio de cisalhamento direto para obter a envoltória de Mohr-Coulomb é apresentada

através do exemplo 9.3.

Exemplo 9.3

De uma amostra de areia foram preparados cinco corpos-de-prova, os quais foram testados no

cisalhamento direto com pressões normais entre 0,35 e 1,1 MPa. Os resultados constam da figura 9.8a, na

qual foi plotada a variação da tensão cisalhante versus o deslocamento lateral da caixa para cada corpo-

de-prova. Obter a envoltória de Mohr-Coulomb e o valor de φ’.

Page 243: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

241

Fig. 9.7. Exemplo 9.2: envoltórias (a) de Mohr-Coulomb e (b) transformada

Solução

As tensões normais no plano de ruptura não variam durante o ensaio. As tensões cisalhantes aumentam à

medida que a caixa se desloca lateralmente (figura 9.8a), passando por um valor máximo, que pode ser

admitido como o de ruptura, isto é, τff = τmax. Os valores de τff obtidos nas curvas de ensaio estão plotados

na figura 9.8b versus o valor de σ’ff correspondente. A envoltória de Mohr-Coulomb é obtida através dos

pares de pontos (σ’ff, τff). Como se trata de areia, admite-se a aplicação da equação 9.4, com c’ = 0. O

valor de φ’ está indicado na figura 9.8b.

σ

0 200 400 600

100

200

300

6004002000

300

200

100

(kPa)

(kPa)

(kPa)

t(kPa)

= 39º

= 32.5º

τ

φ′

α′

θ

s'

'

Page 244: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

242

Fig. 9.8. Exemplo 9.3: (a) curvas de tensão-deslocamento e (b) envoltória de resistência

Fatores que influenciam σ’ das areias

O ângulo de atrito das areias durante o cisalhamento é influenciado pelo deslizamento e pelo rolamento

entre grãos (figuras 9.9a e 9.9b); no primeiro caso porque os grãos podem deslizar uns sobre os outros,

provocando o atrito, e no segundo porque os grãos podem também rolar uns sobre os outros,

influenciando o atrito entre partículas. Estes dois fatores são, por sua vez, influenciados pela forma e pela

rugosidade superficial das partículas. Por exemplo, uma areia de rio ou seixos rolados (pedregulhos de

rio) têm forma arredondada e pouca rugosidade superficial, devido ao tipo de intemperismo a que

estiveram sujeitos. Já a pedra britada tem rugosidade superficial mais pronunciada, o que aumentará a

parcela de atrito por deslizamento e rolamento.

0 .2 .4 .6 .8 1.0 1.2

0 10 20

.2

.4

.6

.8

1.1 1.0

0.8

0.55

0.35

= 35º

L

ff

ff

ff

(MPa)

(MPa)

τ

Δ

σ′

ττ Δ

L

φ′

.6

.4

.2

σ′

(mm)(a)

(b) (MPa)σ′ff

in MPA

Page 245: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

243

Fig. 9.9. Fatores que influenciam o ângulo de atrito das areias

Outro fator que influencia o ângulo de atrito durante o cisalhamento é o entrosamento entre grãos. Uma

amostra de areia bem graduada, com uma distribuição granulométrica suave, sem predominância de

partículas com um mesmo diâmetro, e que tenha sido compactada, ou seja, submetida a um processo

mecânico de diminuição do índice de vazios e da densificação, através de vibração mecânica, poderá

apresentar um bom entrosamento entre grãos (figura 9.9c), com os menores ocupando o espaço entre os

maiores. Ao ser iniciado o cisalhamento, as partículas tenderão a subir ou a cavalgar umas sobre as

outras, o que resultará no aumento do volume da amostra.

Quanto maior o entrosamento entre partículas, maior a tendência da amostra em aumentar o volume

durante o cisalhamento. Este fenômeno é denominado de dilatância e tem grande importância na

resistência, pois uma boa parcela da energia despendida para cisalhar a amostra é utilizada na variação de

seu volume. Se o material, ao contrário, estiver fofo e suas partículas forem todas do mesmo diâmetro

(figura 9.9d), não haverá tendência ao aumento de volume durante o cisalhamento. O atrito resultante será

devido somente às parcelas de deslizamento e rolamento.

O entrosamento entre grãos pode ser caracterizado pela compacidade ou pelo índice de vazios inicial e0

da amostra, que se for fofa apresentará maior valor de e0 que o de uma areia compacta ou densa. As

parcelas de atrito devidas ao deslizamento e ao rolamento dependem da forma e da rugosidade das

partículas, que são propriedades intrínsecas do material ensaiado. A dilatância, ao contrário, depende da

Deslizamento

Rolamento

Entrosamento

(a)

(b)

(c)

(d)

Areia densa V>0

Areia fofa V=0

Δ

Δ

Page 246: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

244

compacidade, que é função do estado em que o material está no momento – fofo ou denso.

Comportamento sob baixos níveis de tensões

Para o estudo do comportamento de areias sob níveis de tensões relativamente baixos (100 a 300 kPa) e

da influência do índice de vazios inicial, são apresentados na figura 9.10 os resultados de dois ensaios

triaxiais CID em uma mesma areia, com a mesma tensão confinante σ’ ≅ 200 kPa, porém com um corpo-

de-prova denso, com índice de vazios inicial e0 = 0,605, e o outro fofo, com e0 = 0,834.

As curvas de tensão-deformação (figura 9.10a) têm comportamento bem distinto. A areia compacta

apresenta maiores valores de resistência e um pico bem definido, correspondente à resistência máxima (σ1

– σ3)max. Traçando-se o círculo de Mohr correspondente e a envoltória com c’ = 0, obtém-se o ângulo de

atrito máximo ou de pico φ’f. O comportamento pós-pico é de amolecimento, ou seja, o material perde

resistência com o aumento da deformação. Já a areia fofa apresenta comportamento plástico, sem um pico

definido, e a resistência permanece aproximadamente constante até o fim do ensaio.

Os trechos tracejados das curvas da figura 9.10 foram extrapolados, pois não se consegue prosseguir o

ensaio triaxial; a partir de cerca de 20% de deformação vertical as amostras ficam muito deformadas e as

medições perdem significado. Entretanto, a partir de informações de outros ensaios, como o de

cisalhamento direto, as duas curvas de tensão-deformação tendem para o mesmo valor de resistência a

grandes deformações, independentemente do estado inicial.

As deformações volumétricas são bastante diferentes nos dois corpos-de-prova (figura 9.10b). A areia

densa aumenta de volume gradativamente, tendendo no final à estabilização. O comportamento dilatante é

explicado pela tendência dos grãos a subirem uns nos outros, ou a cavalgarem. A areia fofa, ao contrário,

apresenta inicialmente uma pequena diminuição de volume, logo recuperada pela amostra, e depois o

volume praticamente não varia até o fim do ensaio.

Page 247: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

245

Fig. 9.10. Ensaios triaxiais em areia fofa e densa sob baixos níveis de tensão confinante, σ’c = 200 kPa

(Taylor, 1948)

O índice de vazios (figura 9.10c), na areia fofa, permanece praticamente constante, a despeito de uma

pequena diminuição, logo recuperada, no início do ensaio; na areia densa, aumenta continuamente e, a

grandes deformações, tende ao mesmo valor da areia fofa.

Estado crítico

Os corpos-de-prova de areia fofa e densa em análise tendem, ao final do ensaio, a um estado estável, a

grandes deformações, em que a resistência (q ou t) e o índice de vazios e não variam mais. Nesta situação,

010 20 30

0.6

0.7

0.8

0.9

0

-10

-20

0

200

400

Estado crítico = 0.834

= 0.605

o

o

Fofa

Pico

o = 0.834

o = 0.605

t(kPa)

(a)

(b)

(c)

Índice de

Aum

enta

1 (%)

V

=200kPas

ε

ΔDensa =0.605o

=0.834o

vazios

(%)

e

σ′

e

e

e

e

e

Page 248: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

246

conforme estudado adiante, o valor de p’ e s’ também são constantes. Este estado foi denominado pelo

grupo de solos de Cambridge (Schofield e Wroth, 1968; Atkinson e Bransby, 1978) de estado crítico, que

matematicamente pode ser expresso por:

0’111

=∂∂

=∂∂

=∂∂

εεεepq

Eq. 9-56

Ou, no diagrama tipo MIT s’:t:e, por:

0’111

=∂∂

=∂∂

=∂∂

εεεest

Eq. 9-57

O ângulo de atrito correspondente a esse estado é denominado ângulo de atrito crítico φ’cr.

Analogia do dente de serra

O fenômeno da dilatância e seu efeito na resistência podem ser visualizados através da analogia do dente

de serra, idealizado por Rowe (1961 e 1963). Exemplificando, a figura 9.11 mostra um bloco bipartido,

cuja superfície entre suas partes é denteada. Essa superfície é a de ruptura, que ocorrerá durante o

cisalhamento provocado por forças tangenciais entre as duas partes do bloco.

A inclinação ψ do dente, que corresponde à inclinação do plano AA com a horizontal, controla a variação

de volume do bloco durante o cisalhamento. Uma areia fofa, por exemplo, cuja variação de volume

durante o cisalhamento é nula, será representada neste modelo por ψ = 0 – as partes do bloco não

tenderão a se afastar na direção vertical durante o cisalhamento, o que corresponde a ΔV = 0. Se ψ for

diferente de zero, uma vez iniciado o cisalhamento haverá deslocamento entre as partes do bloco na

direção vertical e, portanto, o solo terá comportamento dilatante.

Ainda de acordo com esse modelo, o ângulo de atrito efetivo máximo φ’f, correspondente ao valor de

pico, pode ser analisado como sendo constituído de duas parcelas:

ψφφ += crf ’’

Eq. 9-58

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247

Fig. 9.11. Analogia do dente de serra

onde:

φ’cr = ângulo de atrito efetivo correspondente ao estado crítico;

ψ = inclinação do dente de serra, ou seja, parcela influenciada pela dilatância.

Para exemplificar a aplicação da equação 9.8, estão plotados na figura 9.12 os resultados de ensaios de

cisalhamento direto na areia grossa do rio Guandu, RJ. Os ensaios foram realizados em corpos-de-prova

moldados com vários índices de vazios iniciais, determinando-se o valor do ângulo de atrito de pico φ’f e

o valor final para grandes deformações φ’cr. Para a areia densa, com e0 ≅ 0,55, obtiveram-se φ’f ≅ 42º e

φ’cr ≅ 33º. Para a areia fofa, testada com e0 ≅ 0,8, obtiveram-se φ’f ≅ 36º e φ’cr ≅ 32º. A curva interpolada

entre os valores de φ’f cruza a reta horizontal correspondente a φ’cr no ponto A, cujas coordenadas são (ecr,

φ’cr). A diferença ψ = φ’f – φ’cr está plotada na figura 154b versus e0. O valor de ecr também pode ser

obtido nesse gráfico, extrapolando-se a curva para a condição ψ = 0.

A

A

(a)

(b)A

A

fΦ′

Φ′ ψ

ψ

cr

Page 250: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

248

Fig. 9.12. Determinação de φ’cr e ecr para areia do rio Guandu (Pacheco, 1978)

Resultados de ensaios triaxiais CID (figura 9.13) para a mesma areia, com o mesmo valor de σ’c,

variando-se, entretanto, o índice de vazios inicial, comprovam que, à medida que se aumenta e0, o valor

de φ’f de pico tende para o valor crítico φ’cr, o que tem duas conseqüências imediatas para aplicação

prática:

(a) φ’cr pode ser interpretado como uma propriedade do material, pois é independente do estado, ou seja,

da compacidade;

(b) φ’cr é um valor conservador e, adotando-o em projetos, fica-se a favor da segurança.

Exemplo 9.4

Obter as TTEs no diagrama s’:t, as envoltórias de resistência e os valores de φ’f e φ’cr para os ensaios

triaxiais CID cujos resultados constam da figura 9.10.

0.5 0.7 0.9 1.10

5

10

20

30

40

50

A

e

Final

cr

e

o

(e , ' )cr cr

φφ'

Ψ

φφ

Pico

cre

e1.10.90.70.5

'

'

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249

Fig. 9.13. Valores de φ’ em ensaios triaxiais em areia sob mesma tensão confinante, em corpos-de-prova

moldados com diferentes e0 (Rowe, 1961)

Solução

Os principais resultados do ensaio extraídos da figura 9.10 estão tabulados no quadro 9.3, onde tf e tcr

correspondem, respectivamente, aos valores de t de pico (ruptura) e estado crítico. Os valores de σ’1f e

σ’1cr foram obtidos a partir desses resultados.

Quadro 9.3. Resultados de ensaios triaxiais CID em areia

Compacidade σ’c (kPa) tf (kPa) tcr (kPa) σ’1f (kPa) σ’1cr (kPa)

Densa 200 475 250 1.150 700

Fofa 200 250 250 700 700

Conhecendo-se as tensões principais, o traçado das TTEs é imediato. Para a areia densa, a fase de

cisalhamento inicia no ponto A (figura 9.14), caminhando até o ponto C, correspondente ao pico da curva

de tensão-deformação; em seguida, retorna sobre a mesma linha até B, correspondente ao estado crítico.

0.45 0.55 0.65 0.75 0.85

36 40 4424

28

32

36

40

Porosidade (%)

Índice de vazios

oe

Estado crítico

φφ

cr

''

Todos os ensaioscom' = 200 kPaσc

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250

A areia fofa também inicia a TTE de cisalhamento no ponto A e vai até B, permanecendo neste ponto até o

estado crítico.

Fig. 9.14. Exemplo 9.4: diagrama s’:t

A envoltória de resistência correspondente ao pico, também denominada linha Kf, fornece α’f ≅ 35,5º. A

envoltória de estado crítico, ou linha Kcr, fornece α’cr ≅ 30º. Através da equação 9.4 obtêm-se φ’f = 45º e

φ’cr = 35º.

Influência do nível de tensões

A influência do nível de tensões confinantes é aqui abordada utilizando os dados de Lee (1965),

publicados também por Holtz e Kovacs (1981) e referentes a ensaios triaxiais CID em areias compactas e

fofas, em que se variou a tensão confinante σ’c de valores baixos (100 kPa) a muito altos (13,7 MPa) e se

normalizaram as curvas de tensão-deformação dividindo o valor de σ’1 por σ’3.

Os resultados obtidos para areias compactas mostram que, sob tensões confinantes baixas, as amostras

apresentam um pico de resistência (figura 9.15a) e dilatação durante o cisalhamento (figura 9.15b), que

vai perdendo significado, até desaparecer totalmente, à medida que as tensões confinantes aumentam. A

inclinação inicial da curva de tensão-deformação e, conseqüentemente, o módulo de Young diminuem

bastante. A variação de volume da amostra também sofre uma enorme influência do aumento da tensão

confinante, passando de dilatante, sob baixas pressões, a contração volumétrica, sob pressões confinantes

altas.

A0 500 1000

Fofa

500 K f

KLinha do estado críticoB

CDensa

f

t

s'

(kPa)

(kPa)

α′

α′

cr

crLinha

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251

Fig. 9.15. Comportamento de areia compacta em ensaios triaxiais (Lee, 1965)

O comportamento das areias fofas também é bastante influenciado pelo aumento das tensões confinantes,

que provoca alterações na curva de tensão-deformação (figura 9.16a), com o aumento da deformação

correspondente à ruptura e a diminuição do módulo de Young, bem como na curva de deformações

volumétricas (figura 9.16b), com significativa compressão durante o cisalhamento.

0 5 10 2015 25 30 35 40Deformação axial (%)

1

2

3

4

5

6

10

5

0

-5

-10

-15

(%)

(a)

(b)

0.1

0.3

0.61.0

2.02.9

3.97.8

13.7Areia compacta

= 0.61, = 100% (MPa)

Dilatação

Compressão

0.1

0.3

0.6

1.0

2.0

2.93.9

7.813.7

1

VOL

σ′ / σ′

ε

ε

σ′

(MPa)

1 3

ε1Deformação axial (%)

4035302515 201050

σ′

e D

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252

Fig. 9.16. Comportamento de areia fofa em ensaios triaxiais (Lee, 1965)

A influência da tensão confinante na variação do índice de vazios durante o cisalhamento, tanto nas areias

fofas quanto nas compactas, pode ser explicada da mesma forma que a descrita para o comportamento de

areias no oedômetro (capítulo 6). De fato, análises granulométricas realizadas antes e após os ensaios

triaxiais demonstram que as pressões muito elevadas são responsáveis pela quebra de grãos, vindo daí as

deformações volumétricas.

Não-linearidade da envoltória de resistência

Resultados de ensaios de laboratório (figura 9.17) evidenciam que os solos e outros materiais apresentam

curvatura na envoltória de resistência.

0 5 10 15 20 25 30 35

-15

-10

-5

0

+2.5

1

2

3

4(a)

(b)

(%)

Areia fofae = 0.87 D = 38%

VOL

1 3

1

DilataçãoCompressão

o r

0.10.20.3

1.3&0.44

2.02.93.9

13.77.8

0.10.20.3

0.441.3

2.02.93.9

13.7

7.8

σ′ / σ′

ε

ε

σ′3c (MPa)

302520151050

σ′3c (MPa)

(%)

Deformação axial1ε (%)

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253

Fig. 9.17. Não-linearidade na envoltória de resistência para uma ampla faixa de tensões normais σ’ff

Nos materiais granulares, o fenômeno pode ser resultante de algum tipo de cimentação entre grãos (que

pode ser destruída à medida que as tensões aumentam), da variação na compacidade do material e da

quebra de grãos com o aumento da tensão confinante. As areias calcárias, por exemplo, depositadas

offshore ao longo da costa brasileira, apresentam freqüentemente cimentação e têm grãos muito frágeis,

sujeitos a quebra, mesmo com baixas pressões confinantes (Ortigão et al, 1985).

As areias de sílica ou quartzo, cujos grãos são bastante resistentes, apresentam curvatura quando a faixa

de variação de tensões é muito grande, conforme o exemplo da figura 9.17. Nesse caso, a equação de

Mohr-Coulomb tem aplicação restrita a uma pequena faixa de pressões, daí a necessidade de se

realizarem sempre ensaios com tensões na faixa prevista para a obra.

Os materiais granulares grossos, como os enrocamentos empregados nos taludes de barragens e de

quebra-mares, compostos de grandes blocos de rocha, têm sua envoltória de resistência com curvatura

bastante acentuada (Barton e Kjaernskli, 1981; Charles e Soares, 1984). Ao se analisar a estabilidade de

barragens de enrocamento, principalmente as mais altas (acima 60m), é importante considerar esse

fenômeno, sob pena de se incorrer em erros consideráveis. O mesmo se aplica aos taludes de rocha

(Hoek, 1983). Em todos esses casos, a variação da tensão confinante do topo à base do talude é muito

grande e a envoltória de resistência, fortemente não-linear.

A curvatura da envoltória pode ser considerada adotando-se pequenos trechos lineares ao longo da

mesma, cada um com valores diferentes dos parâmetros c’ e φ’, em função do nível de tensões.

Selecionam-se, então, c’ e φ’ para a faixa de tensões que ocorrerá na obra. Este método tem a

desvantagem de empregar dois parâmetros, c’ e φ’, razão pela qual o método descrito em seguida é mais

Page 256: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

254

conveniente.

Em areias puras sem cimentação, como não há resistência sob tensões confinantes nulas, mantém-se a

condição c’ = 0 e adota-se φ’ tangente a um único círculo de Mohr, conforme mostrado na figura 9.17. Os

valores de φ’, então altos para tensões baixas, vão diminuindo com o aumento destas. Uma areia fina, por

exemplo, pode fornecer φ’ = 47º para σ’ff = 10 kPa e φ’ = 31º para σ’ff = 400 kPa. A variação de φ’ com o

nível de tensões pode ser considerada através de uma função φ’ = f(σ’ff), como a proposta por Wong e

Duncan (1974) para análise de materiais granulares em barragens:

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛Δ−=

a

c

p’log’’ ’ 0

σφφφ

Eq. 9-59

Nesta equação, φ’0 é o valor de φ’ para σ’c igual à pressão atmosférica pa e Δφ’ é a redução de φ’

correspondente à variação de 10 vezes o valor de σ’c.

Para enrocamentos, tem sido empregada a seguinte equação exponencial, proposta por Mello (1977):

b

ffff )’(στ A=

Eq. 9-60

onde A e b são parâmetros determinados por regressão exponencial à envoltória curva fornecida por

ensaios.

Linha de estado crítico

Como visto anteriormente, os pontos de uma TTE que estão no estado crítico, satisfazendo portanto a

equação 9.7, se alinham no espaço s’:t ao longo de uma única linha Kcr. Com base nos resultados dos

ensaios triaxiais CID realizados por Lee (1965) em areias compactas e fofas (figura 9.15 e 9.16), estuda-

se agora o que acontece no espaço s’:e com os pontos no estado crítico.

Esses ensaios foram conduzidos mantendo-se σ’3 constante, mas variando e0 em cada corpo-de-prova. Em

seguida, plotando-se um gráfico semelhante ao da figura 9.12b, o valor de ecr foi obtido para cada σ’3.

Como σ’3 é mantido constante, tem-se s’0 = σ’3. Os pares de pontos (s’0, ecr) assim obtidos estão plotados

na figura 9.18 em escala logarítmica de tensões, obtendo-se aproximadamente uma relação linear.

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255

Fig. 9.18. Linha de estado crítico obtida para os resultados de ensaios triaxiais de Lee (1965)

Em seguida, obteve-se o valor de s’cr correspondente a cada valor de ecr, pela equação:

s’cr = 0,5 s’0 [ 1 + (σ’1 / σ’3)cr ]

onde (σ’1/σ’1)cr é a relação de tensões principais no estado crítico, cujo valor foi estimado em 3,5 a partir

das figuras 9.15a e 9.16a. Os pontos resultantes (s’cr, ecr) foram plotados na figura 9.18 segundo uma

única linha de estado crítico (LEC). Essas evidências experimentais permitem afirmar que, tanto no

espaço s’:t quanto no s’:e, os pontos no estado crítico apresentam relação unívoca, no primeiro caso,

linear e, no segundo, logarítmica.

O comportamento das areias em ensaio CID está sumarizado na figura 9.19, referindo-se a duas amostras,

uma densa e outra fofa. Quanto às curvas de tensão-deformação e de variação volumétrica (figura 9.19a),

o comportamento das duas amostras é semelhante ao da figura 9.11, comentado anteriormente. Para as

duas areias, o ponto inicial das TTEs (figura 9.19b) é A e o ponto C corresponde ao estado crítico; o ponto

B é o pico da TTE da areia densa. Quanto ao comportamento com eixos s’:e (figura 9.19c) e log s’:e

(figura 9.19d), a amostra fofa inicia o cisalhamento no ponto A’ e atinge o estado crítico em C’; a densa

inicia o cisalhamento em A’’, atinge B’ no pico e continua a aumentar de volume até atingir o estado

crítico, também em C’. O lugar geométrico dos pontos no estado crítico é a LEC, que pode ser

0.1 1 100,40

0.50

0.60

0.70

0.80

0.90

LEC

Ensaios CID em areia

(s' , e )

cr cr

cro

(MPa)

Índice de vazioscrítico

cr

= 0.78 - 0.32 logs'

e

s'

e'

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256

aproximada por uma reta no gráfico log s’:e.

Fig. 9.19. Comportamento de areia fofa e densa sob baixos níveis de tensão confinante: (a) curvas de

tensão-deformação e de deformações volumétricas; (b) TTEs no diagrama s’:t; (c) diagrama s’:e; (d)

diagrama log s’:e

Previsão de φ’ em função da compacidade e do nível de tensões

Um interessante método semi-empírico de previsão de variação de φ’ de areias em função da

compacidade e do nível de tensões foi proposto por Bolton (1986). Nesse método, o nível de tensões é

caracterizado pelo valor da tensão efetiva média p’ e a compacidade, pela densidade relativa Dr (equação

1.1). O valor de φ’f é calculado pela equação 9.8, onde, segundo Bolton (op cit), ψ é dado por:

rcDn=ψ

Eq. 9-61

onde n é igual a 5 em situações axissimétricas e a 3 em deformação plana. Drc é a densidade relativa

corrigida, dada pela seguinte equação empírica:

1)’ln10(rrc −−= pDD

Eq. 9-62

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257

válida para valores de Drc entre 0 e 4. O valor de p’ é em kPa.

Exemplo 9.5

Estimar a variação de φ’f pelo método de Bolton para uma areia submetida a um ensaio triaxial CID, com

pressões confinantes entre 20 kPa e 1 MPa, sendo Dr = 70% e φ’cr = 35º.

Solução

O valor da Drc é calculado pela equação 9.12, obtendo-se, para p’ = 20 kPa, Drc = 0,70 (0 – ln 20) – 1 =

3,9, e para p’ = 1 MPa, Drc = 0,70 (10 – ln 1000) – 1 = 1,2. Como os valores de Drc estão entre 0 e 4, o

método de Bolton é aplicável. Os valores de ψ = 5 × 3,9 = 19,5º, e para p’ = 1 MPa, ψ = 5 × 1,2 = 6º. Os

valores de φ’f (em graus), calculados pela equação 9.8, são, para p’ = 20 kPa, φ’f = 35 + 9,5 = 54,5º, e

para p’ = 1 MPa, φ’f = 35 + 6 = 41º.

Valores típicos de φ’

Nas fases preliminares de projeto muitas vezes ainda não se dispõe de ensaios de resistência e de

compacidade da areia, e a resistência tem de ser estimada com base em caracterização visual ou tátil. O

quadro 9.4 e a figura 9.20 permitem estimar φ’.

Quadro 9.4. Valores típicos de φ’ (graus)

Material Compacto Medianamente

compacto

Estado crítico

Silte 30-34 28-32 26-34

Areia fina a média,

uniforme

32-36 30-34 26-30

Areia bem graduada 38-46 34-40 30-34

Mistura de areia e

pedregulhos

40-48 36-42 32-36

Page 260: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

258

Fig. 9.20. Ábaco para estimativa de φ’ em areias, siltes e pedregulhos (Navfac DM-7)

Os valores do quadro 9.4 devem ser bastante reduzidos quando se verificar a presença de mica, pois este

mineral tem ângulo de atrito baixíssimo, da ordem de 10º, e quando presente em areia ou silte, mesmo em

pequenas percentagens, afeta sobremaneira o valor de φ’ de solos granulares. Como o quadro se refere a

areias com grãos predominantemente angulosos, se não for este o caso (por exemplo, se as areias forem

de origem fluvial), os valores de φ’ deverão também ser reduzidos.

A figura 9.20 permite estimar φ’ em função do peso específico seco γd ou do índice de vazios e0 e da

densidade relativa Dr. De acordo com o Sistema de Classificação Unificada dos Solos (USCS), φ’ varia

também com o tipo de material, assunto que é tratado em vários livros de Mecânica dos Solos (eg Vargas,

1977; Holtz e Kovaks, 1981). Os tipos de solo referidos na figura são siltes de baixa plasticidade (ML),

areias siltosas (SM), areias mal graduadas (SP), areias bem graduadas (SW), pedregulhos mal graduados

(GP) e pedregulhos bem graduados (GW).

Areias calcárias

Uma areia especial é encontrada somente a vários quilômetros da costa, na plataforma continental

brasileira. A Fig. 9.21 apresenta um perfil geotécnico do sítio de Carapeba na Bacia de Campos, com

cerca de 100 m de lâmina d’água. O depósito é constituído predominantemente de areia calcária, que, ao

contrário das terrestres, cujos grãos são de sílica ou quartzo, é formada de partículas muito frágeis de

calcário. Esses depósitos têm origem em lixo orgânico de corais, conchas e carapaças de moluscos,

depositados somente em águas marítimas tropicais, entre os paralelos ± 30º. A identificação das areias

calcárias pode ser feita pelo alto teor de CaCO3, conforme indicado para profundidades entre 20 e 120 m.

1.2 1.0 0.8 0,7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.15

13 15 17 19 21 23

25

30

35

40

45

Densidade relativa (%)

0

25

50

75

100

MLSM

SP

SWGP

GW

SM & SPnesta faixa

Índice de vazios

graus

Peso específico seco d (kN/m )3

φ′

γ

e

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259

Os grãos de calcário são facilmente quebradiços, aos contrário das areias de sílica. Ortigão et al (1985)

discutem problemas geotécnicos destes materiais e observaram alguns aspectos interessantes que

caracterizam os materiais calcários (Fig. 9.21), tais como: o alto teor de CaCO3 , baixos valores de peso

específico, e o vai-e-vem da resistência de ponta qc do ensaio CPT. O valor de qc aumenta rapidamente, e

leva a uma quebra de grãos que faz com que qc reduza novamente e assim por diante.

7 8 9 10100

(kN/m³ )Soil descriptionCaCO q

Fine to medium SAND

Fine to mediumcemented calcareous

SAND

weathered corals

Borehole limit

0

20

40

60

80

100

120

140

0 50 0 20 40 600

20

40

60

80

100

120

140

3cγ(%)

Fine to medium SAND

Depth below

(m)

Fine to mediumcemented calcareous

SAND with

mudlevel

subCPT(MPa)

Prof abaixodo pisomarinho(m)

Estratigrafia

Areia finaa médiacompacta

Areia calcáriacimentada

Areia calcáriacimentada comcoraisintemperizadosAreia compacta

Fig. 9.21. Propriedades geotécnicas de um depósito de areia calcária da bacia de Campos (Ortigão et al,

1986)

Exercícios

9.1. Definir estado crítico e apresentar sua equação matemática.

9.2. Explicar em que consiste e para que serve a analogia do dente de serra.

9.3. Para um ensaio de cisalhamento direto em areia com tensão normal na ruptura de 100 kPa e tensão

cisalhante de 35 kPa, e admitindo c’ = 0, obter φ’. Explicar por que não é possível obter módulos

de deformação nesse ensaio.

9.4. Um ensaio de cisalhamento direto em areia densa apresentou os resultados do quadro 9.5. O índice

de vazios inicial foi de 0,668, tendo o ensaio sido realizado em caixa de cisalhamento quadrada

com 75 mm de lado e 10 mm e altura, aplicando-se uma carga vertical de 2,3 kN. Traçar as curvas

Page 262: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

260

usuais (τ × deslocamento horizontal e deslocamento horizontal × deslocamento vertical) e calcular

φ’ admitindo c’ = 0.

Quadro 9.5. Exercício 9.4: resultados de ensaio de cisalhamento direto em areia densa

Deslocamento (mm)

Horizontal Vertical Carga horizontal (N)

8,89 3,56 0

8,82 3,54 356

8,63 3,52 721

8,44 3,51 1.014

7,92 3,53 1.428

7,18 3,59 1.655

6,38 3,63 1.770

5,49 3,65 1.744

9.5. A partir do quadro 9.6, que apresenta os resultados de dois ensaios triaxiais CID realizados em

uma mesma areia, com corpos-de-prova (CP 1 e 2) moldados no mesmo índice de vazios (0,65),

obter: (a) gráficos de t:ε1, s’:t:e e εvol:εv; (b) módulos de deformação inicial e a um nível de tensões

de 50%; (c) idem, coeficiente de Poisson; (d) ângulos de atrito na condição de ruptura e no estado

crítico; (e) círculos de Mohr na condição de ruptura, indicando o plano de ruptura teórico.

Comentar os resultados.

9.6. Estimar φ’ das areias das praias da Barra da Tijuca (grossa) e de Santos (muito fina). Comentar.

9.7. Estimar φ’ para: (a) pedregulho arenoso bem graduado com γ = 20 kN/m³; (b) areia siltosa mal

graduada com γ = 15,5 kN/m³; (c) pedregulho mal graduado com índice de vazios in situ igual a

0,4.

Quadro 9.6. Exercício 9.5: resultados de ensaios triaxiais CID em areia

CP 1 σ3 = 100 kPa CP 2 σ3 = 3 MPa

ε1 (%) σ1 – σ3

(kPa)

εvol (%) ε1 (%) σ1 – σ3

(kPa)

εvol (%)

Page 263: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

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261

0 0 0 0 0 0

1,71 325 –0,10 0,82 2.090 –0,68

3,22 414 0,60 2,50 4.290 –1,80

4,76 441 1,66 4,24 5.810 –2,71

6,51 439 2,94 6,00 6.950 –3,36

8,44 405 4,10 7,76 7.760 –3,38

10,40 370 5,10 9,56 8.350 –4,27

12,30 344 5,77 11,40 8.710 –4,53

14,30 333 6,33 13,20 8.980 –4,71

16,30 319 6,70 14,90 9.120 –4,84

18,30 318 7,04 16,80 9.140 –4,92

20,40 308 7,34 18,60 9.100 –4,96

20,50 9.090 –5,01

9.8. O quadro 9.7 apresenta os resultados de ensaios triaxiais CID em areia média, nos quais todos os

corpos-de-prova tinham o mesmo índice de vazios inicial. Obter os círculos de Mohr e os

diagramas s’:t e estimar φ’ para as faixas de tensões de 0-500 kPa, 1000-1500 kPa, 3-6 MPa e 0-6

MPa. Comentar.

Quadro 9.7. Exercício 9.8: resultados de ensaios triaxiais CID em areia média

Corpo-de-prova σ3 (kPa) σ1 – σ3 (kPa)

1 100 480

2 400 1.870

3 997 4.080

4 1.880 7.050

5 2.990 10.200

6 3.850 12.690

Page 264: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

262

Cap 10. COMPORTAMENTO DRENADO DE ARGILAS

Introdução

Este capítulo aborda o comportamento de argilas em ensaios triaxiais drenados, tipo CID. Como se trata

de um material de baixa permeabilidade, para simular seu comportamento totalmente drenado em

laboratório, as fases do ensaio devem ser suficientemente lentas para permitir a total dissipação de

poropressões. Embora as argilas sejam muito diferentes das areias, constata-se que os dois materiais

apresentam resultados bem semelhantes, podendo ser adotado para ambos o mesmo modelo de estado

crítico.

Fases de ensaio

Conforme estudado no capítulo 8, nos ensaios triaxiais CID aplica-se inicialmente a tensão confinante σc

(figura 10.1a), provocando um acréscimo de poropressão Δu na amostra. Com a válvula de drenagem

aberta (figura 10.1b), permitem-se a consolidação e a dissipação de Δu. Na maioria dos casos, a duração

desta fase é tipicamente de 24 a 48 horas. Ao final da consolidação, o volume da amostra terá variado e as

poropressões serão nulas.

Mantendo-se as válvulas de drenagem abertas, inicia-se a aplicação da tensão-desvio (σ1 – σ3) de forma

controlada, para que as poropressões também sejam nulas durante o ensaio. Isso implica adotar uma taxa

de variação de (σ1 – σ3) muito pequena, o que pode levar esta fase a durar até uma semana. As

deformações axiais e volumétricas são registradas durante todo o ensaio.

t=0 t=t

u u u

c c

1 3

cσ σσ σσ

Δ Δ Δσc σc σc σ3

-

=0

(a) Pressão de consolidação aplicada

(b) Consolidação:drenagem permitida

(c) Cisalhamento drenado

= 0

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263

Fig. 10.1. Fases do ensaio triaxial CID

Comportamento de argila normalmente adensada

O comportamento da argila normalmente adensada NA é exemplificado na figura 10.2, que apresenta os

resultados de ensaios CID realizados em três corpos-de-prova de argila do Rio de Janeiro, adensados nas

pressões confinantes de 70, 200 e 700 kPa.

Tal como nas areias, nas argilas a resistência, ou seja, o valor máximo da tensão-desvio (σ1 – σ3)max,

aumenta com a tensão confinante em cada corpo-de-prova. Uma vez atingido esse valor, a resistência se

mantém constante até o final do ensaio. O módulo de Young tangente e drenado E’, obtido pela

inclinação inicial da curva de tensão-deformação, aumenta com a tensão confinante (figura 10.2a). As

deformações volumétricas são de compressão e aumentam com as deformaçõs axiais, até que estas

atinjam um patamar próximo dos 20% (figuras 10.2b). A partir daí, o volume não varia mais.

Estado crítico

Analogamente às areias, pode ser definido, para os resultados da figura 10.2, um estado estável, a grandes

deformações, em que a resistência e o volume da argila normalmente adensada não variam mais. Nesta

situação, os valores de p’, q e e (ou s’, t e e) também não são alterados, caracterizando-se o denominado

estado crítico, expresso pela equação 9.6.

Page 266: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

264

Fig. 10.2. Resultados de ensaio triaxial CID em argila NA: (a) curvas de tensão-deformação; (b) curvas

de deformação volumétrica versus deformação axial

Envoltória de Mohr-Coulomb

Os dados das curvas de tensão-deformação da figura 10.2a estão replotados na figura 165a, com os

valores de t nas ordenadas. Estão assinalados os valores de tmax que, neste caso, correspondem aos valores

de estado crítico e de ruptura, isto é, tcr = tf = tmax.

A figura 10.3b apresenta as TTEs na fase de cisalhamento, iniciando no ponto do eixo das abscissas com

valores de s’ igual à tensão confinante e terminando no ponto (tmax, smax). A envoltória transformada de

resistência é obtida por interpolação através dos pares de valores (tmax, smax), resultando em uma reta que

passa pela origem, fornecendo, para a argila NA do Rio de Janeiro, os parâmetros a’ = 0 e α’ = 2,5º,

correspondentes a c’ = 0 e φ ≅ 25º na envoltória de Mohr-Coulomb. Verifica-se que a resistência drenada

das argilas normalmente adensadas pode ser expressa pela equação 9.2, utilizado para as areias. Como os

pontos correspondentes à ruptura coincidem com os de estado crítico, as linhas Kf e Kcr são coincidentes

(figura 10.3b).

10

5

00 10 20 30

123

(%)1

voloV

V(%)=ε Δ

ε

3

2

1

3020100

σ′

(σ − σ ) (kPa)

1 3

c =700 kPa

200 kPa

70 kPa

400

800

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265

Fig. 10.3. Resultados de ensaio triaxial CID em argila NA: (a) curvas de tensão-deformação; (b)

diagrama s’:t e TTEs; (c) diagrama s’:e; (d) diagrama log s’:e

LIC e LEC

Como dito anteriormente, as amostras foram consolidadas até a reta virgem ou até a linha isotrópica de

consolidação LIC. As figuras 10.3c e 10.3d indicam as trajetórias percorridas pelas amostras no espaço

s’:e ou log s’:e desde o início do cisalhamento até atingir o estado crítico, situação da qual os pontos

dessas trajetórias podem ser unidos por uma única linha de estado crítico LEC. As seguintes equações

(figura 10.4) são empregadas para a LIC e a LEC:

’logcco sCeeLIC −=

Eq. 10-63

’logccs sCeeLIC −=

Eq. 10-64

onde eco e ecs correspondem ao valor do índice de vazios para s’ = 1 kPa.

0

1 10 100 1000

s'

CSL

ICL

400

200

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

3.5

10 200

200

400t

(kPa)

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

3.5

Índica de vazios

e

(kPa)

s' (kPa)

200 400 800600 1000 1200

200 400 800600 1000 1200

σ ' = 700 kPa

t(kPa)

Page 268: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

266

Fig. 10.4. LIC e LEC

Comportamento normalizado

O conceito de comportamento normalizado (Ladd e Foott, 1974) deriva de observações empíricas em que,

para grande parte dos solos finos e argilosos, as características de tensão-deformação-resistência de

amostras semelhantes, consolidadas em laboratório sob pressões confinantes diferentes, são diretamente

proporcionais às pressões de consolidação. A figura 10.5a mostra curvas de tensão-deformação de argilas

semelhantes, consolidadas sob pressões de 400 e 700 kPa. A figura 10.5b apresenta as mesmas curvas,

porém plotadas com as ordenadas normalizadas em relação à pressão confinante, isto é, divididas pelo

valor de σ’c. Neste caso, o comportamento é normalizado porque as curvas resultantes são coincidentes.

Aplicando esse conceito aos resultados dos ensaios CID em argila do Rio de Janeiro, foram plotadas as

curvas de tensão-deformação da figura 10.6a, que são coincidentes, e as TTEs da figura 10.6b, também

coincidentes.

O estado crítico para todos os corpos-de-prova se resume a um ponto nos diagramas s’:t. Entretanto, a

experiência indica que os solos argilosos com algum tipo de cimentação entre partículas, ou alta

sensibilidade, não apresentam comportamento normalizado. Deve-se notar que a sensibilidade é uma

relação entre a resistência determinada em uma amostra intacta e em outra completamente perturbada, ou

amolgada, servindo como indicador do efeito da estrutura da argila. Este assunto é abordado no capítulo

12.

e

e

e

c

cs

=1kPa log

LEC LIC

cs

c ce = e - C log s'

e = e - C log s'c

s's'

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267

Fig. 10.5. Comportamento normalizado

Fig. 10.6. (a) Comportamento e (b) TTEs normalizados

Exemplo 10.1

Prever o comportamento de uma argila NA a ser submetida a um ensaio triaxial CID, sendo a amostra

consolidada isotropicamente de 40 a 100 kPa e em seguida cisalhada com σ’c = 100 kPa. Sabe-se que esse

material apresentou, em ensaios anteriores, os seguintes parâmetros: φ’ = 25º, Cc = 2,01, eco = 5,72 e ecs =

0 10 20 30

(b)(%)1

0

0.2

0.4

0.6tcσ

ε

ε1 (%)(a)

30201000

200

400' =700 kPa

' = 400 kPa

σ c

t

'

(kPa)

(a) (b)

1

t / 'c

σ

ε

σct / '

0 1 s'/ ' cσ

cr

Page 270: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

268

5,70.

Solução

A TTE no diagrama s’:t (figura 10.7a) é obtida sabendo-se que a fase de consolidação isotrópica

corresponde ao trecho AB da TTE. O ponto A tem coordenadas tA = 0 e s’A = σ’cA = 40 kPa e o ponto B, tB

= 0 e s’B = σ’cB = 100 kPa. A inclinação da TTE na fase de cisalhamento é de 1:1 e o ponto final, ou de

estado crítico C, é obtido na interseção da linha Kcr (inclinação α’ ≅ 22,9º). Os valores de s’ e t no final da

TTE, correspondentes ao estado crítico, são s’cr = 173,2 kPa, obtido graficamente, e tcr = s’cr tan α’ =

173,27 × tan 22,9º = 73 kPa.

Fig. 10.7. Exemplo 10.1: diagrama s’:t:e

A LIC e a LEC são traçadas por pontos, a partir de suas equações:

LIC e = 5,72 – 2,01 log s’

LEC e = 5,72 – 2,01 log s’

(c) (b)

(a)

1.0

1.5

2.0

2.5

e e

C''

B''

A''

LIC

LEC

LIC

LEC

C'

B'

A'

AB

C

TTE

(kPa)40 100 200

(kPa)0 100 200 300

t K = Kf cr

300200100

100

s' s'

(kPa)

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269

que permitem determinar o valor dos índices de vazios e0 na LIC, no final da consolidação, e o valor final

ecr de estado crítico, na LEC. Os resultados obtidos estão sumarizados no quadro 10.1 e plotados na figura

10.7.

Quadro 10.1. Exemplo 10.1: resultados

Consolidação isotrópica Coordenadas

Início / Ponto A Fim / Ponto B

Estado crítico

Ponto C

s’ (kPa) 40,0 100,0 173,2

t (kPa) 0 0 73,0

e 2,5 1,7 1,2

Correlações para determinação de φ’

O valor de φ’ para argilas normalmente adensadas pode ser estimado através de correlações empíricas,

como as apresentadas no quadro 10.2. O valor de φ’ é correlacionado com propriedades mais fáceis de

serem obtidas, como os limites de Atterberg. A figura 10.8 apresenta os dados empregados por Kenney

(1959) e por outros autores.

Quadro 10.2. Obtenção de φ’ para argilas NA por correlações

Equação (*) Referência

sen φ’ = 0,82 – 0,24 log IP Kenney (1959)

sen φ’ = 0,656 – 0,409 LLIP

Mayne (1980)

(*) IP = índice de plasticidade; LL = limite de liquidez

Page 272: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

270

Fig. 10.8. Correlação entre φ’ e IP para argilas NA (Holtz e Kovacs, 1981)

Exemplo 10.2

Prever o valor de φ’ para a argila mole do Rio de Janeiro, cujos valores de IP e LL são, respectivamente,

80 e 150%.

Solução

Aplicando as correlações do quadro 10.2, vem:

Kenney φ’ = arc sen (0,82 – 0,24 log 80) = 21,3º

Mayne φ’ = arc sen (0,656 – 0,409 15080

) = 26º

Adensamento e sobreadensamento isotrópicos

No capítulo 6 é estudada a compressão oedométrica de argilas e as trajetórias no espaço s’:t:e. Na câmara

triaxial, entretanto, é muito mais simples executar o adensamento ou a consolidação isotrópica através da

aplicação de uma tensão confinante, seguida de drenagem até a dissipação total de poropressões. Se o

material for normalmente adensado, estará sobre a LIC (figura 10.9), continuando sobre esta linha com o

aumento da tensão confinante.

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

10

20

30

40

50

PI

KENNEY (1959)

φ′° LADD, et al. (1977)

STD deviation (NAVFAC DM-7, 1971)

Mean (BJERRUM and SIMONS, 1960)

BJERRUM and SIMONS (1960)

(%)

Page 273: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

271

Fig. 10.9. Inchamento ou descarregamento

O sobreadensamento pode ser simulado em laboratório simplesmente reduzindo-se a pressão confinante e

deixando a amostra inchar sob tensões efetivas inferiores. O comportamento no diagrama s’:e está

esquematizado na figura 10.9 para três amostras semelhantes, porém consolidadas sobre pressões

diferentes. As amostras incham percorrendo as linhas de descarregamento ou inchamento, cujas equações

constam do capítulo 6. O valor do OCR é obtido pela relação entre a pressão efetiva vertical máxima

aplicada e a final. Se a redução de tensões for suficientemente grande – o que corresponde, como é visto

adiante, a um OCR superior à faixa de 8 a 10 –, a linha de descarregamento ultrapassará a LEC.

Comportamento de argila sobreadensada

O efeito do sobreadensamento nas argilas é aqui analisado com base nas conclusões de diversos autores

(eg Henkel, 1960; Bishop e Henkel, 1962; Ladd, 1971). Inicialmente, a figura 10.10 compara o

comportamento de uma argila normalmente adensada NA com outra amostra do mesmo material, porém

fortemente pré-adensada PA. A amostra NA foi adensada sob tensão confinante σ’c e a PA foi

inicialmente adensada sob a mesma tensão confinante, mas em seguida o valor desta foi reduzido,

permitindo-se o inchamento. Ambas foram submetidas a compressão triaxial drenada, observando-se as

LEC

LIC

s'

e

Inchamentoou

Descarregamento

Page 274: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

272

deformações axiais e volumétricas durante o ensaio. Todas as tensões foram normalizadas em relação à

tensão vertical de sobreadensamento σ’vm.

Fig. 10.10. Comparação entre o comportamento de argilas NA e PA

As curvas de tensão-deformação (figura 10.10a) e de variação volumétrica (figura 10.10b) apresentam

resultados bastante influenciados pelo sobreadensamento. A argila NA, conforme estudado anteriormente,

não apresenta pico de resistência e as deformações volumétricas são de compressão; o estado crítico é

atingido para deformações axiais da ordem de 20%. Já a argila PA apresenta um pico de resistência na

ruptura, seguido de amolecimento, ou enfraquecimento, com o aumento da deformação. O volume

apresenta um ligeiro decréscimo, logo recuperado, e tende a aumentar durante todo o ensaio, que foi

paralisado quando as deformações axiais atingiram cerca de 20%.

A interrupção do ensaio decorre da dificuldade em se observarem deformações superiores a 20% no

ensaio triaxial. Neste ponto, os corpos-de-prova apresentam, em geral, muitas distorções em sua forma e

as medições de deformações perdem significado. Por esta razão, os trechos tracejados das curvas de

tensão-deformação consistem em extrapolação com base em outros ensaios e hipóteses simplificadoras

empregadas para modelar o comportamento. No caso da argila PA imagina-se que, para grandes

deformações, haverá estabilização nas deformações volumétricas, o que é uma das condições para se

supor que o material atingirá o estado crítico.

As TTEs são comparadas na figura 10.10c: na argila NA ela cresce continuamente até atingir o estado

crítico na envoltória ou linha Kcr; na argila PA, ultrapassa a linha Kcr, atingindo uma envoltória de ruptura

ou de pico – a linha Kf –, mas perde resistência em seguida, retornando à Kcr. A presença de uma

NC

OC

OC

NC

20 40 60

0

(+)

(-)

vol

t

vm

(a)

(b)

ε1

ε

σ σ vm

t'

'vmσ

σvm's'/

Kcr

Kf

0 1

(c)

e

LIC

LEC

Inchamento

K t

(d)

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

273

envoltória Kf acima da de estado crítico está de acordo com a existência de uma coesão efetiva em argilas

sobreadensadas. De fato, uma argila PA pode apresentar um valor de c’ maior que zero em um ensaio

triaxial. Entretanto, à medida que o material se aproxima do estado crítico e a TTE retorna à envoltória de

estado crítico, o valor de c’ tende a zero para grandes deformações.

O diagrama s’:e (figura 10.10d) permite acompanhar a evolução do índice de vazios com o nível de

tensões. Ambas as amostras foram consolidadas no mesmo ponto da LIC, mas na argila PA permitiram-se

o descarregamento e o inchamento, ultrapassando a LEC e ficando à esquerda da mesma. Na fase de

cisalhamento, a amostra NA diminui de volume e, no final, atinge a LEC; a amostra PA aumenta de

volume à medida que tende para a LEC.

Vejo agora o que acontece à medida que se aumenta o OCR. Em três das quatro amostras da mesma argila

NA simulou-se o pré-adensamento no laboratório com diferentes valores de OCR. Os resultados estão

sumarizados na figura 10.11 e no quadro 10.3. A simulação foi realizada isotropicamente, consolidando

as quatro amostras até o ponto A’, ao longo da LIC (figura 10.11b). A amostra NA permaneceu neste

ponto e, nas demais, diminuíram-se as pressões confinantes, permitindo-se o descarregamento e o

inchamento. Os caminhos seguidos no diagrama s’:e foram A’C’, A’E’ e A’H’. As TTEs seguidas pelas

três amostras foram (figura 10.11a) de consolidação até o ponto A, seguidas de descarregamento e

inchamento até os pontos C, E, e H (cada amostra atingindo um desses pontos).

Terminada a consolidação, iniciou-se o cisalhamento drenado de todas as amostras. A TTE de

cisalhamento da amostra NA inicia no ponto A e atinge o estado crítico em B, enquanto a variação do

índice de vazios é representada no diagrama s’:e pela trajetória A’B’, este último ponto pertencente à

LEC. A amostra levemente pré-adensada, que inicia o cisalhamento em C, atinge o estado crítico em D e,

no diagrama s’:e, apreenta trajetória A’D’, também com diminuição de volume.

Page 276: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

274

Fig. 10.11. Efeito do sobreadensamento com vários OCRs

Quadro 10.3. Trajetória de consolidação e cisalhamento drenado das amostras da figura 10.12

Amostra / trajetória Fases de ensaio

NA PA PA PA

Consolidação isotrópica Até A Até A Até A Até A

Até A’ Até A’ Até A’ Até A’

Descarregamento ou

inchamento devido ao

alívio de tensão

confinante

AC

A’C’

AE

A’E’

AF

A’F’

Estado antes do

cisalhamento

NA

PA

PA

PA

e

t

s'

s'

LEC

LICInchamento

Kf

fK

Kcr

ACEH

I

G

DB

J

F

B'

A'C'G'I'

J'

H'E'

F'

D'

Page 277: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

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275

Cisalhamento drenado AB

A’B’

CD

C’D’

EFG

E’F’G’

HIJ

H’I’J’

Estado crítico Kcr B D G J

LEC B’ D’ G’ J’

Esse comportamento é radicalmente alterado nas amostras muito pré-adensadas, que iniciam o

cisalhamento à esquerda da LEC, nos pontos H’ e E’, e, ao contrário das anteriores, aumentam de volume

durante o cisalhamento, tendendo a atingir a LEC nos pontos J’ e G’. As TTEs ultrapassam a linha Kcr e

atingem uma outra envoltória acima, porém tendem a retornar à envoltória de estado crítico com o

aumento das deformações.

Exemplo 10.3

Uma amostra de argila NA consolidada isotropicamente com σ’c = 50 kPa apresentou e0 = 3,8 (ponto A1,

figura 10.12). Em seguida, foi consolidada sob σ’c = 1.000 kPa (ponto B). Posteriormente, simulou-se um

pré-adensamento, diminuindo o valor de σ’c para 50 kPa e permitindo o inchamento da amostra (ponto

A2). Iniciou-se então a fase de cisalhamento drenado por compressão triaxial. Sabendo que os parâmetros

de estado crítico desse material são φ’ = 42,4º (α’ = 34º), Cc = 1, Cs = 0,083, eco = 5,5 e ecs = 5, e supondo

que a TTE atingirá a LEC no final do ensaio (ponto C), estimar o comportamento da amostra através do

diagrama s’:t:e.

2

3

4

5

10 10 102 3

LIC

LEC

A''

A''

B''

C''e

s'

LEC

LIC

B'

C'

A'

A'

Inchamento

(b)

e

2

3

4

5

A =AB

C

Kf(a)

200

400

200 600 1000

=34°α

t(kPa)

(kPa)

s' (kPa)

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276

Fig. 10.12. Exemplo 10.3: comportamento de argila NA

Solução

As equações da LIC, da LEC e da Kcr, cujas curvas estão plotadas nas figuras 10.12a, 10.12b e 10.12c,

respectivamente, são:

LIC e = 5,5 – log s’

LEC e = 5 – log s’

Kcr t = s’ tan 34º

Seguindo as TTEs de consolidação A1B, de inchamento BA2 e de cisalhamento A2C, calcularam-se as

tensões vertical e horizontal e o índice de vazios, empregando as equações da LIC, da LEC e da Kcr. O

índice de vazios no descarregamento (BA2) foi determinado a partir do ponto B, considerando uma reta de

descarregamento com inclinação igual a –Cs. Os valores obtidos constam do quadro 10.4.

Quadro 10.4. Exemplo 10.3: resultados numéricos

Ponto s’ (kPa) t (kPa) σ’v (kPa) σ’h (kPa) e

A1 50 0 50 50 3,80

B 1.000 0 1.000 1.000 2,50

A2 50 0 50 50 2,75

C 150 100 250 50 3,00

Regiões no espaço s’:t:e

A partir das diferenças de comportamento das argilas, pode-se dividir o espaço s’:t:e nas seguintes regiões

(figura 10.13):

(a) possível – os estados de tensão possíveis e estáveis são os que estão abaixo da envoltória de estado

crítico (linha Kcr) e da linha Kf;

(b) impossível – os estados de tensão acima das linhas Kcr e Kf estão em ruptura e são, portanto,

impossíveis; os estados no diagrama s’:e à direita da LIC são também impossíveis, pois os pontos

dessa região correspondem a material ainda em sedimentação, não constituindo um solo;

(c) metaestável – região entre as linhas Kcr e Kf, correspondentes às TTEs que ultrapassam a primeira,

Page 279: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

277

mas apresentam amolecimento com o aumento da deformação e, no estado crítico, voltam à linha Kcr;

(d) lado úmido – região entre a LIC e a LEC, correspondente às amostras de argila NA e levemente pré-

adensadas que, durante a compressão triaxial drenada CID, diminuem de volume;

(e) lado seco – região à esquerda da LEC, correspondente às amostras de argila PA que, durante a

compressão triaxial drenada CID, aumentam de volume.

Fig. 10.13. Regiões do espaço s’:t:e

Aplicação da resistência drenada em análise de estabilidade

A aplicação prática em análise de estabilidade da resistência drenada das argilas, ou seja, da equação de

Mohr-Coulomb τff = c’ + σ’ff tan φ’, utilizando parâmetros efetivos de resistência c’ e φ’, só é possível se

as condições de drenagem in situ forem compatíveis com as simuladas nos ensaios de laboratório.

Enquanto as areias apresentam sempre drenagem livre, à exceção de carregamentos cíclicos em

terremotos, e o uso da resistência drenada é indiscriminado, as argilas impedem a drenagem, a não ser que

o carregamento seja muito lento, capaz de não provocar acréscimos de poropressão, ou que haja tempo

suficientemente grande para a dissipação de poropressões.

Algumas aplicações práticas da resistência drenada em análise de estabilidade estão compiladas nas

figuras 10.14 e 10.15. O método de análise, entretanto, não faz parte do escopo deste livro, sendo tratado

em vários textos voltados à aplicação prática (eg Cruz, 1973; Guidicini e Nieble, 1976; Ortigão e

Almeida, 1988; Mitchell, 1983).

LEC

LIC

Lado úmidoLado seco

s'

e

t

s'

Impossível

PossívelEstável

K

K

cr

f

Page 280: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

278

Comparação entre o comportamento drenado de argilas e areias

Conforme estudado no capítulo 9, as areias compactadas sob pressões confinantes baixas apresentam um

pico na curva de tensão-deformação e, em seguida, amolecimento. As deformações volumétricas são de

dilatação durante o cisalhamento. Um comportamento muito semelhante é observado nas argilas pré-

adensadas, cisalhadas a partir do lado seco. Uma outra similaridade de comportamento pode ser

observado entre as areias fofas e as argilas cisalhadas a partir do lado úmido: ambas não apresentam pico

de resistência.

Fig. 10.14. Aplicações da resistência drenada: (a) aterro sobre argila mole construído lentamente; (b)

barragem de terra com núcleo argiloso, longo tempo após o enchimento do reservatório; (c) fundação

direta construída lentamente (Ladd, 1971)

Verifica-se, portanto, que há grandes semelhanças no comportamento de materiais aparentemente

diferentes e, o mais importante, que tal comportamento pode ser explicado através de um modelo de

estado crítico muito simples. Os parâmetros empregados nesse modelo são apenas φ’ e a equação da LEC,

definida por Cc e ecs.

q

(a)

(b)

(c)

ff

ffτ

τ

= Resistência drenada in situ

τ ff

τ ff φ′

γB D

, , são funções de

γ

φ′

qu

c'= f ( , ) do núcleo

u

N N Nc qγ

c γq= c' N + ( N / 2 )+ N

Page 281: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

279

Fig. 10.15. Estabilidade de talude de encosta em solo residual saprolítico

Exercícios

10.1. Definir estado crítico em condições drenadas, LEC e LIC.

10.2. Quais são e o que significam os parâmetros de estado crítico?

10.3. Um corpo-de-prova de argila com φ’ = 33º, Cc = 1,2 e Cs = 0,02 foi consolidado isotropicamente

sob σ’c = 50 kPa, apresentando no final e = 3,1. Em seguida, realizou-se um ensaio CID,

verificando-se que, para grandes deformações, o corpo-de-prova apresentou grande variação de

volume, estabilizando com εvol = 20% ao final do ensaio. Plotar o diagrama s’:t:e.

10.4. Da mesma argila do exercício 10.3 extraiu-se um corpo-de-prova, que foi consolidado

isotropicamente com σ’c = 1.000 kPa. Em seguida, aliviaram-se as pressões, descarregando para

σ’c = 50 kPa, permitiu-se o inchamento e cisalhou-se a amostra em condições drenadas.

Imaginando que o material atinja no final o estado crítico, obter o diagrama s’:t:e.

10.5. Estimar φ’ para a argila do Rio de Janeiro (LL = 120%, LP = 40%) pelas correlações de Kenney

(1959) e Mayne (1980). Comparar os resultados com os fornecidos neste livro para ensaios com

essa argila e comentar.

10.6. Explicar as razões pelas quais é difícil uma argila muito sobreadensada atingir o estado crítico em

um ensaio triaxial CID e esquematizar seu comportamento no diagrama s’:t:e.

= f ( , , ) φ′c'

Solo arenoso

τ

ff medido

ff

τ Δ u

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280

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281

Cap 11. COMPORTAMENTO NÃO-DRENADO DE ARGILAS

Introdução

Este capítulo aborda a realização, em argilas, de ensaios triaxiais não-drenados, tipo CIU, que servem

para representar o comportamento desses materiais em situação de drenagem praticamente impedida,

como é o caso de obras de duração relativamente curta (aterros construídos rapidamente, escavações,

aterros de barragens homogêneas etc). A abordagem refere-se quase que exclusivamente a argilas

saturadas, embora sejam apontadas algumas diferenças em relação a solos insaturados.

Fases de ensaio

Conforme estudado no capítulo 8, nos ensaios triaxiais CIU (figura 11.1) aplica-se inicialmente a tensão

confinante σc, provocando um acréscimo de poropressão Δu na amostra. Com a válvula de drenagem

aberta, permitem-se a consolidação e a dissipação de Δu. Na maioria dos casos, a duração desta fase é

tipicamente de 24 a 48 horas. Ao final da consolidação, o volume da amostra terá variado e o acréscimo

de poropressão Δu será nulo. Após o fechamento das válvulas de drenagem e a instalação do transdutor de

pressão, inicia-se a fase de cisalhamento em condições não-drenadas. Nos solos saturados, nem o volume

nem o índice de vazios variam nesta fase, pois a drenagem é impedida.

Prosseguindo o ensaio, incrementa-se a tensão-desvio (σ1 – σ3) progressivamente, de forma controlada,

para que as poropressões no interior do corpo-de-prova sejam uniformes, isto é, para que a poropressão

no meio da amostra seja aquela que se está medindo na base da mesma. Isto é muito importante pois, se a

velocidade de ensaio for excessivamente rápida, não haverá tempo para que a poropressão no meio da

amostra seja transmitida às suas extremidades e a leitura Δu na base será incorreta. Em geral, o

cisalhamento dura de 8 a 36 horas e as deformações axiais, as poropressões e a carga axial são registradas

durante todo o ensaio.

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282

Fig. 11.1. Esquema do ensaio triaxial CIU

Resultados de ensaio triaxial em argila normalmente adensada

A figura 11.2 apresenta os resultados de um ensaio CIU em argila normalmente adensada NA, incluindo

as curvas de t = (σ1 – σ3)/2 e de Δu versus ε1. Trata-se de um corpo-de-prova de argila do Rio de Janeiro,

adensado na pressão confinante σ’c = 150 kPa.

Os resultados do ensaio mostram que o valor da resistência máxima, ou seja, tmax, é alcançado para

deformações axiais relativamente pequenas, da ordem de 2%, ponto em que a ruptura é alcançada. Daí

em diante, a resistência praticamente não varia mais. As poropressões Δu, ao contrário, aumentam

gradativamente e só tendem à estabilização para valores muito maiores de deformação, superiores a 10%.

O ensaio realizado, entretanto, teve de ser paralisado quando as deformações axiais atingiram cerca de

10%. Neste ponto, o corpo-de-prova ensaiado já apresentava distorções excessivas em sua forma

cilíndrica original e as medições de deformação perdiam o significado.

cs = s3

i l l

s

(s - s )31

cs

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

283

Fig. 11.2. Resultados de ensaio triaxial CIU em argila NA do Rio de Janeiro

Resultados de ensaio triaxial em argila pré-adensada

O comportamento da argila saturada pré-adensada PA é aqui estudado com base nos resultados obtidos há

mais de duas décadas no Imperial College of Science and Technology, da Universidade de Londres, por

Henkel (1960) e Bishop e Henkel (1962), e utilizados por vários autores (eg Atkinson e Bransby, 1978;

Lambe e Whitman, 1979; Ladd, 1971). A figura 11.3 (c e d) apresenta resultados típicos de uma argila

PA, muito pré-adensada, e os compara com os resultados mostrados nos itens anteriores (a e b) para argila

NA.

A característica aparentemente surpreendente da argila PA é que as poropressões (figura 11.3d),

ligeiramente positivas no início do ensaio, se tornam negativas e só tendem a se estabilizar em um valor

constante para uma deformação axial muito grande. A resistência t nesse ensaio também só atinge um

máximo para valores grandes de deformação axial.

Estado crítico

Os dois corpos-de-prova de argila – normalmente e pré-adensada – analisados no item anterior tendem,

para grandes deformações, a um estado estável, em que a resistência (q ou t) e a poropressão Δu não

variam mais. Nesta situação, da mesma forma que nos ensaios drenados em areias e argilas, os valores de

p’ ou t’ também não são alterados. Este estado, denominado de estado crítico, é caracterizado pela

EnsaioArgila NA

u

t

=150 kPa

0 2 4 6 8 10 120

20

40

60

80

100

120

(%)1

t

Δ

ε

Δ

σ′c

(kPa)u

CIU

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284

equação:

Fig. 11.3. Comparação de resultados típicos de ensaio triaxial: (a) e (b) argila NA; (c) e (d) argila PA

0’

111

=∂∂

=∂∂

=∂∂

εεεupq

Eq. 11-65

ou, no diagrama tipo MIT s’:t:e, por

0’111

=∂∂

=∂∂

=∂∂

εεεust

Eq. 11-66

O ângulo de atrito correspondente a este estado é denominado ângulo de atrito crítico φ’cr.

Trajetórias de tensão em ensaios CIU

As trajetórias de tensão totais e efetivas na fase de cisalhamento de ensaios CIU não coincidirão sempre

que o valor de Δu não for nulo, de acordo com as equações 4.14 e 4.15. Devido às diferenças nas

poropressões Δu, o aspecto apresentado pela TTEs em ensaios CIU de compressão axial em argilas NA e

PA é bem distinto: em argilas NA (figura 11.4a), comoΔu é positivo durante o cisalhamento, a TTE

apresenta uma curvatura à esquerda da TTT do ensaio; já em uma argila PA, os valores negativos de Δu

50 10 15 20

t

u

t

u

NA

f

NA

PA

(+)

(-)

(%)

(a)

(b)

(c)

(d)

ε ε (%)2015100 5

ε (%)2015100 5

ε (%)2015100 5

Δ

Δ

crcr

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285

serão plotados à direita da TTT (figura 11.4b).

Fig. 11.4. Trajetórias de tensão de argilas (a) NA e (b) PA

A figura 11.4 indica uma maneira prática de se obter a TTE por pontos: marca-se o ponto A da TTT e, em

seguida, conhecendo-se o valor de Δu, obtém-se o ponto A’ da TTE, e assim sucessivamente.

Alternativamente, a TTE pode ser traçada pelas coordenadas s’:t.

Influência da tendência à dilatação nas poropressões

A razão pela qual Δu pode ser positivo ou negativo está na tendência à dilatação ou à contração da

amostra. Em uma argila PA saturada, que em um ensaio CID apresenta dilatação volumétrica no

cisalhamento (figura 11.5a), quando o material for submetido a um ensaio não drenado CIU, as partículas

tenderão a se afastar; entretanto, como as válvulas estão fechadas, não poderá ocorrer qualquer dilatação

e, com isto, a água será tensionada e a poropressão diminuirá. Com um material saturado que tende a se

contrair durante o cisalhamento (Figura 11.5b) ocorre o inverso: as poropressões tendem a aumentar,

como acontece com uma argila NA.

Argila

Argila

Transdutor de pressão

u

TTE TTTA' A

s, s'

TTT

TTE

u

t

t

u

(a)

(b)

Δ

Δ

Δ

(σ − σ )σ

σ

A'A

s', s

PAnegativo

positivo

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286

Fig. 11.5. Poropressões em ensaios triaxiais CIU: (a) tendência à dilatação diminuindo Δu; (b) tendência

à contração aumentando Δu

Resumindo, quando a tendência à variação volumétrica no cisalhamento não-drenado é de dilatação, Δu

diminui; quando a tendência é de compressão, Δu aumenta.

Equações de poropressão

A situação apresentada na figura 11.6, em que um elemento de solo saturado é submetido sem drenagem

aos acréscimos de tensão total Δσ1, Δσ2 e Δσ3, resulta em um acréscimo de poropressão Δu no interior do

elemento. Têm sido feitas várias tentativas para relacionar matematicamente Δu com Δσ1, Δσ2 e Δσ3,

entre as quais se destacam o método elástico, a hipótese de Terzaghi, o método de Skempton e o método

de Henkel, descritos a seguir.

Método elástico

Se o solo é perfeitamente elástico e o fluido intersticial incompreensível, a variação volumétrica será nula

durante um carregamento não-drenado. Isso impõe que a pressão efetiva octaédrico σ’oct = p’ permaneça

Tendência à dilatação

Tendência à contração

Δ

Δ

σ

σ

u

V

1

3

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287

constante durante todo o processo, satisfazendo a equação 2.22. Então: p’ = constante. Em outras

palavras:

Fig. 11.6. Acréscimo de poropressão em elemento de solo saturado sujeito aos incrementos Δσ1, Δσ2 e

Δσ3

.3

321 pu oct Δ=Δ+Δ+Δ

=Δ=Δσσσσ

Eq. 11-67

A validade dessa equação foi verificada (Höeg et al, 1969) para a previsão de Δu in situ no início do

carregamento, na fundação de aterros sobre argila mole, enquanto o solo se aproximava de uma condição

elástica. Outros autores (Leroueil et al, 1978 e 1985) consideram difícil sua aplicação prática, devido à

dissipação de poropressões que ocorre desde o início da construção, simultaneamente à aplicação da

carga. Com efeito, medições de campo em vários aterros sobre solos moles indicam que, no início do

carregamento, Δu < Δσoct.

Hipótese de Terzaghi

A hipótese de Terzaghi para carregamento unidimensional é uma simplificação da equação 11.3, pois

admite que:

Δ

Δ

2

3

1 u

σ

Δσ

Δσ

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288

1σΔ=Δu

Eq. 11-68

Embora seja bastante questionada a aplicação dessa equação para estimar Δu in situ no início do

carregamento, ou seja, no domínio elástico (Höeg et al, Leroueil et al, op cit), sua validade é admitida no

domínio plástico, a partir do momento em que o material inicia o escoamento. Este comportamento foi

confirmado em medições de campo na argila do Rio de Janeiro (Ortigão et al, 1983).

Método de Skempton

Reconhecendo as limitações do método elástico para a previsão de Δu durante a fase de cisalhamento de

ensaios triaxiais, Skempton (1954) propôs a seguinte equação empírica:

( )[ ]311 σσσ Δ−Δ+Δ=Δ ABu

Eq. 11-69

onde A e B são parâmetros empíricos de poropressão determinados experimentalmente a partir de ensaios.

Se o material é totalmente saturado, B = 1 e a equação 11.5 se reduz a:

( )313 σσσ Δ−Δ+Δ=Δ Au

Eq. 11-70

Essa equação é limitada a condições axissimétricas, que prevalecem no ensaio triaxial, pois não considera

o efeito do acréscimo da tensão principal intermediária Δσ2.

Exemplo 11.1

Determinar os parâmetros de poropressão de Skempton nas condições de ruptura (tmax) e estado crítico

para o ensaio CIU em argila do Rio de Janeiro, cujos resultados constam da figura 11.2.

Solução

Como o ensaio é isotrópico de compressão triaxial e em argila saturada, Δσ3 = 0 e B = 1, a equação 11.6

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289

simplifica para:

11 / σσ ΔΔ=∴Δ=Δ uAAu

Eq. 11-71

Como σ3 = constante, o valor de Δσ1 é dado por Δσ1 = (σ1 – σ3) = 2t. O quadro 11.1 resume os dados

obtidos na figura 11.2 e os valores de Af e Acr correspondentes à ruptura e ao estado crítico,

respectivamente.

Quadro 11.1. Exemplo 11.1: valores de ruptura e estado crítico

Condição ε1

(%)

σ3

(kPa)

t

(kPa)

Δu

(kPa)

Δσ1

(kPa)

A

Ruptura 2,0 150 40 60 80 0,75

Estado crítico 10,5 150 45 105 90 1,17

Método de Henkel

Reconhecendo as limitações da equação 11.5, Henkel (1960) propôs uma equação análoga à anterior, mas

relacionando Δu com os acréscimos de tensão octaédrica, ou seja, incluiu o efeito de Δσ2:

[ ]octoctu τασβ Δ+Δ=Δ 3

Eq. 11-72

onde α e β são parâmetros empíricos de poropressão. Para solos saturados, β = 1.

Substituindo os valores de p e q nas equações 2.10 e 2.12, a equação 11.5 pode ser reescrita:

[ ]qpu Δ+Δ=Δ 2αβ

Eq. 11-73

Page 292: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

290

Exemplo 11.2

Para um ensaio CIU de compressão triaxial, obter uma relação entre os parâmetros α e A de Henkel e

Skempton.

Solução

Considerando que Δσ3 = Δσ2 = 0, B = β = 1, Δp = Δσ1/3 e Δq = Δσ1, e aplicando as equações 11.7 e 11.9,

vem:

( ) 1313 σσσσ Δ=Δ−Δ+Δ=Δ AAu

11 2

32 σασα Δ+

Δ=Δ+Δ=Δ qpu

Igualando as duas equações, vem:

11 2

31 σασ

Δ+Δ

=ΔA

Simplificando e explicitando α:

2313 −

=Aα

Eq. 11-74

Exemplo 11.3

Repetir o exercício do exemplo 11.1 para os parâmetros de poropressão de Henkel.

Solução

Para o ensaio CIU da figura 11.2, tem-se β = 1, Δσ3 = 0, p0 = 150 kPa e q0 = 0. Os demais dados para a

aplicação da equação 11.9 constam do quadro 11.2. Alternativamente, α pode ser obtido pela equação

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

291

11.10, a partir dos valores de A do exemplo 11.1.

Quadro 11.2. Exemplo 11.3: dados para os cálculos

Condição ε1

(%)

σ3

(kPa)

Δq

(kPa)

Δu

(kPa)

Δσ1

(kPa)

Δp

(kPa)

A

Ruptura 2,0 150 80 60 80 27 0,29

Estado crítico 10,5 150 90 105 90 30 0,59

Valores dos parâmetros de poropressão

O quadro 11.3 apresenta, para algumas argilas submetidas a ensaios triaxiais de compressão, valores

típicos do parâmetro de poropressão Af (estudado no capítulo 12), correspondente à ruptura, em função de

sua sensibilidade. A figura 11.7a apresenta TTEs típicas obtidas no diagrama s’:t para vários valores de

Af.

Quadro 11.3. Valores do parâmetro Af de poropressão (Skempton, 1954)

Material Af

Argila mole sensível 0,71 a 1,5

Argila mole NA 0,50 a 1,0

Argila compactada –0,25 a 0,5

Argila rija PA –0,50 a 0

Como visto anteriormente, materiais elásticos saturados apresentam p’ = constante e Δu = Δp. Aplicando

estas condições às equações de Skempton e Henkel, obtêm-se A 1/3 e α = 0. Uma importante

conseqüência desse fato é que a TTE para materiais elásticos no diagrama p’:q é uma reta vertical (figura

11.7b).

Page 294: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

292

(a)

t

s'

>1 1 0.5 1/3 0 <0Solo elástico

Valores de A

Solo elástico

p'

q

(b)

Fig. 11.7. Trajetórias de tensão: (a) diagrama s’:t para vários valores de A; (b) diagrama p’:q para solo

elástico

A variação do parâmetro B para vários tipos de solos insaturados, em função do grau de saturação S, é

apresentada na figura 11.8.

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293

Fig. 11.8. Parâmetro B de poropressão para solos insaturados (B < 1) (Black e Lee, 1973)

Observa-se uma enorme diminuição no valor de B, mesmo para uma pequena queda no grau de saturação,

de 100 para 95%. Por outro lado, solos com grau de saturação inferior a 90% apresentam valores de B

inferiores a 0,4, o que implica que o parâmetro A também será pequeno.

Comportamento de argilas NA no diagrama s’:t:e

Os resultados de ensaios CIU para argila NA apresentados na figura 11.2 são agora reanalisados através

do diagrama s’:t:e. Os resultados típicos da argila NA do Rio de Janeiro estão replotados na figura 11.9a,

incluindo os valores de Δu e t versus ε1 e indicando os pontos de ruptura (C) e estado crítico (D).

Faixa para a maioria dos solos

(%)

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100

B

S

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294

Fig. 11.9. Diagrama s’:t:e para ensaios CIU em argila NA

A figura 11.9b apresenta a TTT (AB) e a TTE (ACD), verificando-se que, no ponto C, a argila entra em

ruptura, tendo atingido tmax. Entretanto, como as poropressões ainda continuam a crescer até o estado

crítico, a TTE prossegue até o ponto D, quando tal estado é atingido. Os pontos da TTE de ruptura e

estado crítico pertencem às linhas correspondentes Kf e Kcr, que não são coincidentes.

No diagrama s’:e (figura 11.9c) o material está inicialmente sobre a LIC (ponto A’). Como o ensaio não é

drenado e o material é saturado, não pode haver alteração de volume e de índice de vazios. A trajetória

percorrida é obrigatoriamente uma reta horizontal, até encontrar a LEC no ponto D’. O mesmo ocorre no

diagrama log s’:e (figura 11.9d), em que a amostra percorre a trajetória A’’D’’, sem variação de volume.

Comportamento de argila PA no diagrama s’:t:e

Uma argila PA fortemente consolidada (ponto A’ da figura 11.10b) foi submetida a consolidação

isotrópica sobre a LIC (ponto O’ do diagrama s’:e) e depois permitiu-se o inchamento até atingir o ponto

A’ do lado seco, isto é, à esquerda da LEC. Conforme salientado, nesta fase as válvulas de drenagem são

fechadas e o cisalhamento por compressão triaxial não-drenada é iniciado. Como não pode ocorrer

A

B C

O

t

s'

(a)

(b)

A' B' C' O'

Inchamento LEC

eLIC

K cr

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

295

variação de volume, a amostra percorre a trajetória horizontal A’B’ no diagrama s’:e, dirigindo-se para a

LEC, tendendo a atingir o estado crítico em C’. A TTE correspondente (figura 11.10a) é comentada com o

auxílio da figura 11.11, que apresenta um conjunto maior de gráficos da mesma amostra PA.

Fig. 11.10. Diagrama s’:t:e para ensaios CIU em argila PA

As curvas de tensão-deformação e de poropressão versus deformação constam das figuras 11.11a e

11.11b. Os pontos B1 e B2 correspondem à ruptura (tmax). Como neste ponto a amostra apresenta

deformações excessivas, o ensaio foi interrompido, embora tendesse a atingir o estado crítico em C. A

TTE é apresentada na figura 11.11c. O ponto B está na reta Kf, que se situa acima da reta Kcr, na região

metaestável. Como as poropressões no final do ensaio são negativas, a TTE se curva para a direita,

tendendo a atingir o estado crítico em C. As figuras 11.11d e 11.11e apresentam os diagramas s’:e e log

s’:e, em que as trajetórias são horizontais, pois não há variação de volume no cisalhamento.

B

A''D''A'D'

A

C

Kf

cr

s', s

K

ILIC

LIC

LECLEC

e

s'

t

(a)

(c)(d)

(b)

C

t

e

log

ε 1

s'

Δ u

Dt

Δ u&

D

TTE TTT

Page 298: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

296

B

A'' B'' C''A' B' C'

A

CKf

cr

s'

K

LICLIC

LECLEC

e

log s' s'

t

(a) (c)

(e) (d)

BA

C2

2

2

(b)

(+)

(-)

A1

B1C1

t

e

ε 1

ε1

Fig. 11.11. Resultados de ensaio CIU e diagrama s’:t:e em argila PA

Comportamento de argilas com mesmo índice de vazios

Algumas amostras saturadas do mesmo material foram consolidadas com diferentes pressões confinantes

e diferentes OCRs, porém todas tinham o mesmo índice de vazios e0 antes do cisalhamento. Ao se iniciar

a fase de cisalhamento, como não se permite a variação de volume, todas as trajetórias no diagrama s’:e

tenderam para um único ponto C’ da LEC (figura 11.12b), apresentando trajetória horizontal no diagrama

s’:e.

Page 299: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

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297

Fig. 11.12. Diagrama s’:t:e para várias amostras de argila com o mesmo e0 e diferentes OCRs

As TTEs correspondentes são apresentadas na figura 11.12a. As amostras com OCR superior a 4

alcançam a região metaestável, tocam a linha Kf e em seguida tendem a atingir o estado crítico em C. A

TTE da amostra com OCR = 1, normalmente adensada, é o limite à esquerda de todas as TTEs.

Superfície limite de estado SLE

As TTEs da figura 11.12 estão reproduzidas na figura 11.13, mostrando que, para um mesmo índice de

vazios e0 antes do cisalhamento, nenhuma delas ultrapassa os limites formados, à esquerda, pela linha Kf,

e à direita, pela TTE da amostra normalmente adensada. Esses limites constituem o que se denomina

superfície limite de estado SLE.

Como para cada valor de e0 há uma SLE correspondente, verifica-se a existência de uma família de SLEs,

conforme indicado na figura 11.14.

s'

eLIC

LEC

C'

(b)

6.3 3.8 2.72.0

1.31

OCR

K

K

t

(a)

cr

f

C

Page 300: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

298

Fig. 11.13. Superfície limite de estado SLE

Ensaios drenados e não-drenados e a envoltória de estado crítico

O modelo de estado crítico assume a existência de uma única envoltória ou linha Kcr para um mesmo

material, independentemente do tipo de ensaio. De fato, ao realizar um ensaio CIU e outro CID a partir do

mesmo ponto A (figura 11.15), verifica-se que o estado crítico é atingido respectivamente em B e C,

situados sobre a linha Kcr.

Aplicação do modelo de estado crítico à argila do Rio de Janeiro

O arcabouço teórico de estado crítico é uma forma simples de interpretar o comportamento de materiais.

Para visualizar a possibilidade de aplicá-lo em casos reais, são aqui utilizados resultados da argila do Rio

de Janeiro, para a qual se dispõe de muitos dados.

Os resultados de ensaios triaxiais CIU em amostras normalmente adensadas dessa argila constam da

figura 11.16a, onde estão plotadas algumas TTEs e interpolada a envoltória de resistência. Esses ensaios

foram realizados com pressões confinantes relativamente altas, até 10 vezes superiores às pressões in situ,

cujos valores de σ’vo e σ’vm constam da figura 6.18.

t(a)

(b)e

s'

s'

B A

A

B

K

LIC

LEC

eo

cr

SLE

SLE

Page 301: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

299

t(a)

(b)e

s'

s'

B' A'

A

B

K

LIC

LEC

e

e

e

o1

o2

o3

cr

Fig. 11.14. Família de SLEs em função de e0

Fig. 11.15. Ensaios CIU e CID na mesma argila e com a mesma envoltória de estado crítico, ou linha Kcr

A figura 11.16b mostra os resultados de ensaios CIU com pressões confinantes de até cerca de 100 kPa,

mas ainda consolidados sob pressões superiores às in situ, realizados por Gerscovich et al (1986). Esses

pesquisadores realizaram também ensaios com pressões muito baixas, cujas dificuldades experimentais

t

A

B

C K

CID

CIU

c r

s '

t

A

B

C K

CID

CIU

cr

s'

Page 302: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

300

são bem maiores, pois até a resistência da membrana e o papel-filtro que envolvem o corpo-de-prova

interferem nas medições e esses efeitos têm de ser corrigidos.

Fig. 11.16. Resultados de ensaios triaxiais em argila do Rio de Janeiro com diferentes pressões

confinantes

As pressões confinantes nesses ensaios (figura 11.16c) são da ordem de 2 a 15 kPa, ou seja, inferiores às

pressões in situ. Neste caso, as amostras foram testadas em condições PA, como pode ser deduzido pelo

aspecto das TTEs, aproximadamente verticais ou voltadas para a direita. A existência de uma região

metaestável acima da linha Kcr e valores de coesão efetiva da ordem de 2 kPa são constatados.

A figura 11.17 apresenta uma outra série de ensaios CIU em amostras NA e PA, cujas consolidação é pré-

consolidação foram simuladas em laboratório. As TTEs foram normalizadas, isto é, os valores de s’ e t

foram divididos pela pressão vertical máxima σ’vm aplicada em laboratório. O ponto final da TTE das

amostras NA (OCR = 1) corresponde aproximadamente ao estado crítico. As amostras PA tenderiam a

0 4 8 12 16 20

4

8

t

0 20 40 60 80 100

(b)

20

40

s'

(c)

100 200 3000

100COSTA FILHO (1977)

ORTIGAO (1978)

Detalhe abixo

(a)

GERSCOVITCH et al (1986)

Detalhe abixo

(kPa)

s' (kPa)

s' (kPa)

GERSCOVITCH et al (1986)

(kPa)

t (kPa)

t (kPa)

Page 303: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

301

atingir este ponto se o ensaio fosse prolongado.

Fig. 11.17. Trajetórias de tensão normalizadas: ensaios CIU em argila do Rio de Janeiro (Ortigão,

1978)

A figura 11.18 apresenta um diagrama log p’:e, incluindo vários tipos de ensaios triaxiais, alguns dos

quais estudados no capítulo 13. Esses resultados comprovam a existência da LIC e da LEC para a argila

do Rio de Janeiro, as quais, entretanto, apresentam uma certa curvatura, devido à larga faixa de valores de

p’ analisados, levando à conclusão de que o modelo deve ser aplicado para uma faixa limitada de valores

de p’.

Exemplo 11.4

Uma amostra de argila NA foi submetida a um ensaio triaxial CIU de compressão que resultou na TTE AC

(figura 11.19a). Dadas a LIC e a LEC na figura 11.19b. Plote a trajetória no diagrama s’:e e (b) calcule o

parâmetro de poropressão A no estado crítico.

0.2 0.4 0.6 0 .8 1

1

1.5248

0.4

0.2

0

K

Kf

cr

s'/

t

vm

vms

s

OCR'

'

Linha

Linha

Page 304: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

302

Fig. 11.18. LIC e LEC para argila do Rio de Janeiro (Almeida, 1982)

Solução

(a) Diagrama s’:e:

O ponto A da TTE corresponde a A’ sobre a LIC no diagrama s’:e. Como não há variação de volume, a

trajetória A’C’ é horizontal e alcança o estado crítico no ponto C’ sobre a LEC.

(b) parâmetro de poropressão A:

Como Δσ3 = 0, o valor de A pode ser obtido através da equação 11.7. Valores de Δσ1 e Δu são obtidos

graficamente no diagrama MIT, como mostrado na figura. Os resultados estão sumarizados na tabela a

seguir:

Amostra TTE TTT Δu Δσ1 A

NA AC AE EC = 230 kPa AG = 190 kPa 1.21

10 40 160 6401.4

1.8

2,2

2.6

3.0

LIC LEC Test Reference

CIU-C

CIU-E

CIU-C

CK U-C

COSTA F(1981)

ORTIGAO(1978)

log (kPa)

LEC

LIC

e

p'

Page 305: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

303

Exemplo 11.5

Repetir o exercício anterior para uma argila PA indicada na figura 11.20. O índice de vazios antes da fase

de cisalhamento do ensaio é o mesmo que o da argila NA do exemplo anterior.

Fig. 11.19. Exemplo 11.4: amostra NA

200

100

0 200 400A G

CE

TTETTT

t(kPa)

K

u = 230 kPaΔ

200 40001

1.5

2

e

(a)

(b)

LIC

LEC

C' A'

s' (kPa)

s', s (kPa) σΔ

Page 306: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

304

Fig. 11.20. Exemplo 11.5: amostra PA

Solução

(a) Trajetória no diagrama s’:e:

O valor do índice de vazios inicial e é o mesmo do problema anterior. A argila PA atingirá o estado crítico

no mesmo ponto C’ como no exemplo anterior. A trajetória no diagrama s’:e (figura 11.20b) é horizontal,

os pontos B’ e D’ determinados.

(b) parâmetro de poropressão A:

Amostra TTE TTT Δu Δσ1 A

PA BDC BF FC = 24 kPa BH = 190 kPa –0.13

Exemplo 11.6

Quatro amostras de argila foram consolidadas sob diferentes pressões confinantes e OCRs, mas no final

da consolidação todas apresentaram o mesmo e0. No final do processo, duas das amostras estão sobre o

ponto A da figura 11.21a e são NA; as outras duas estão sobre o ponto B e são PA. Inicia-se, então, a fase

de cisalhamento por compressão triaxial. Em uma amostra NA e outra PA realiza-se um ensaio CIU e, nas

200

100

0 200 400A G

C

t(kPa)

K

σΔ

200 40001

1.5

2

e

(a)

(b)

LIC

LEC

C'

s' (kPa)

s', s (kPa)

H

DK

F

B' D'

Δu = - 24 kPa

Page 307: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

305

restantes, um ensaio CID. Sendo dadas as linhas Kcr, Kf, LEC e LIC, completar o diagrama s’:t:e.

Solução

A amostra NA submetida ao ensaio CIU, cuja TTE inicia no ponto A, tem trajetória s’:e horizontal,

alcançando o estado crítico em C’, sobre a LEC. A partir de C’, obtém-se C sobre a linha Kcr. A amostra

NA submetida ao ensaio CID tem a TTE com inclinação de 1:1, que atinge o estado crítico em F. A partir

deste ponto, determina-se F, obtendo-se a trajetória A’F’. A amostra PA submetida ao ensaio CIU, cuja

TTE inicia no ponto B, tem o mesmo e0 das demais e, por isto, atinge o estado crítico em C’. Como sua

trajetória é horizontal no diagrama s’:e, determina-se o ponto B’. A TTE toca a linha Kf e continua até C.

Finalmente, a amostra PA submetida ao ensaio CID tem a TTE com inclinação de 1:1, que atinge o ponto

D sobre a linha Kf, na região metaestável, e em seguida volta à linha Kcr, alcançando o estado crítico em

E. No diagrama s’:e a trajetória será B’D’E’. O ponto D’ foi arbitrariamente escolhido e o ponto E’ está

sobre a LEC.

Fig. 11.21. Exemplo 11.6: dados de cálculo

Exercícios

11.1. Definir estado crítico em condições não-drenadas.

LEC

LIC

A'C'B'

D'

E'

eo

e

AB

E

D C

FK

K

s'

t(a)

f

cr

(b)

F'

Page 308: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

306

11.2. Quais são e para que servem os parâmetros de estado crítico?

11.3. Um corpo-de-prova de argila será submetido a um único ensaio triaxial CIU para determinar os

parâmetros Cc, Cs, φ’, ecs e G. Plotar a TTE que deve ser aplicada.

11.4. Apresentar o diagrama s’:t:e para uma argila normalmente adensada e para outra muito

sobreadensada, com OCR da ordem de 20, submetidas a ensaios triaxiais CID e CIU.

11.5. Com os dados do ensaio CIU em argila mole do Rio de Janeiro apresentados na figura 11.2, plotar

a TTT e a TTE e obter φ’ e os parâmetros A e α de poropressão. Os parâmetros assim obtidos se

referem à condição de ruptura ou de estado crítico? Por quê? Obter também os parâmetros não

drenados de deformação Eu e vu correspondentes a um nível de tensões de 50%.

11.6. Demonstrar que, para um material elástico, têm-se Δu = Δσoct e A = 1/3. Plotar para esse material

a TTE esperada nos gráficos tipos MIT e Cambridge. Qual será o valor do parâmetro α de Henkel

neste caso?

11.7. Dois ensaios triaxiais CID e um CIU foram realizados na mesma amostra de argila, com pressão

de sobreadensamento estimada, através de ensaios oedométricos, entre 90 e 160 kPa. Os quadros

11.5 e 11.6 apresentam, respectivamente, os resultados finais dos ensaios CID e os resultados do

ensaio CIU consolidado na pressão confinante de 330 kPa. Com base nesses dados: (a) determinar

φ’ a partir dos ensaios CID; (b) plotar as curvas de t × ε1 e Δu × ε1 para o ensaio CIU; (c) traçar as

TTEs dos ensaios CID e CIU; (d) obter φ’ nas condições de ruptura e estado crítico para o ensaio

CIU; (e) determinar os parâmetros A e α de poropressão nas condições de estado crítico.

Quadro 11.5. Exercício 11.7: resultados dos ensaios CID

Ensaio σ’1

(kPa)

σ’3

(kPa)

CID-1 704 200

CID-2 979 278

Quadro 11.6. Exercício 11.7: resultados dos ensaios CIU

Tensão-desvio ε1

(%)

Poropressão

(kPa)

0 0 0

30 0,06 15

Page 309: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

307

60 0,15 32

90 0,30 49

120 0,53 73

150 0,90 105

180 1,68 144

210 4,40 187

240 15,50 238

235 20,00 240

Page 310: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

308

Cap 12. MÉTODO φu E ENSAIOS UU

Introdução

Neste capítulo é estudado um método simplificado para se verificar o comportamento de argilas saturadas

através de tensões totais, denominado método φ = 0, em que são empregados os ensaios não-adensados

não-drenados, tipo UU.

Método φ = 0

O método φ = 0, cujas bases teóricas foram desenvolvidas há várias décadas por Skempton (1948),

constitui uma simplificação muito grande na forma de se averiguar o comportamento dos solos de baixa

permeabilidade e saturados, quando sujeitos a uma solicitação quase instantânea.

No caso de uma camada de argila saturada como a ilustrada na figura 12.1, sobre cujo ponto P será

aplicado instantaneamente o carregamento indicado ao nível do terreno, a forma teoricamente correta para

se analisar a resistência ao cisalhamento naquele ponto P é através de um tratamento em termos de

pressões efetivas, como abordado no capítulo 11. Imaginando que o estado de tensões in situ do ponto P

seja representado pelo ponto A da figura 12.1a, e conhecendo os acréscimos de tensões totais aplicados

pelo carregamento, obtém-se a TTT, que é AB. A TTE é AC, tendo o material atingido a ruptura em C. O

valor de Δu na ruptura é definido pelo segmento CB e a resistência do ponto P corresponde ao valor de tf,

indicado na figura.

Page 311: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

309

Fig. 12.1. Resistência do ponto P da fundação de um aterro sobre solo mole: análise em tensões (a)

efetivas e (b) totais com envoltória φu = 0

A resistência em termos de pressões efetivas é determinada pela equação de Mohr-Coulomb τff = c’ + [σff

– (u0 – Δu)] tan φ’ (ou a transformada tf = a’ + (s – u) tan α’), em que é necessário conhecer os valores de

c’, φ’, σ, u0 e Δu. Os valores de σ e u0 são fáceis de se determinar, e c’ e φ’ podem ser obtidos através de

ensaios CIU ou CID. O grande problema é a determinação de Δu in situ durante o carregamento, pois a

experiência tem demonstrado (eg Bishop e Bjerrum, 1960) que é muito difícil prever seu valor correto. As

equações de poropressão estudadas no capítulo 11 conduzem freqüentemente a previsões erradas.

Para resolver esse impasse, Skempton propôs um tratamento em termos de tensões totais integralmente

fictício, mas que funciona bem nas aplicações práticas. Segundo esta técnica (figura 12.1b), em lugar da

TTE e da envoltória efetiva de resistência, utiliza-se uma envoltória fictícia horizontal (daí a denominação

φu = 0) que passa pelo ponto B da TTT. O intercepto na origem desta envoltória fictícia é cu, denominado

de resistência não-drenada. Com isso, a determinação da resistência do ponto P passa a ser feita com

apenas um parâmetro cu, pois tf = cu. As diferenças entre os métodos em termos de tensões efetivas e

totais estão sumarizadas no quadro 12.1.

Quadro 12.1. Diferenças entre o método das tensões efetivas e o método φ = 0

Método de Equação de resistência Parâmetros

p

a) Tensões efetivas

A

C B

t

s', s

t

K

b) Tensões totais

Envoltória fictícia

t

φ′ =

=c

TTTTTE

0

TTT

Page 312: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

310

tensões Mohr-Coulomb necessários

Efetivas τff = c’ + (σff – u) tan φ’ u, c’, φ’

Totais φ = 0 tf = cu cu

Determinação de cu em ensaios triaxiais

A resistência não-drenada de solos saturados e de baixa permeabilidade é determinada em ensaios

triaxiais tipo UU, não-adensados não-drenados, em amostras com o mesmo índice de vazios in situ e0.

Com efeito, tomando-se o ponto P da figura 12.2a cujo índice de vazios in situ é e0, coleta-se uma

amostra indeformada no local com o mínimo de perturbação, de forma a preservar sua umidade natural e

o valor de e0 (figura 12.2b). Ensaiando a amostra em laboratório nessas condições, obtém-se a curva de

tensão-deformação (figura 12.2c), permitindo o cálculo das tensões totais na ruptura e a obtenção do

círculo de Mohr (figura 12.3).

O valor de cu é dado por:

( )2

31fu

ftcσσ −

==

Eq. 12-75

Exemplo 12.1

Com base nos resultados de um ensaio triaxial UU com σ3 = 100 kPa, em amostra de argila do Rio de

Janeiro, na profundidade de 4,5 m, apresentados no quadro 12.2, traçar a curva de tensão-deformação e

determinar o valor da resistência não-drenada cu.

Solução

A curva (σ1 – σ3) × ε1 consta da figura 12.4. O valor de (σ1 – σ3)max é 14 kPa e o de cu, obtido pela

equação 12.1, é 14/2 = 7 kPa.

Page 313: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

311

Fig. 12.2. Determinação da resistência do ponto P através de ensaio triaxial UU

Fig. 12.3. Círculo de Mohr e envoltória φu = 0

Quadro 12.2. Exemplo 11.6: resultados de ensaio triaxial UU

ε1

(%)

(σ1 – σ3)

(kPa)

0,2 2,5

(a)

p e

(b) Ensaios triaxial

e e=

σ − σ

σ

(c)

0 5 10

t = σ − σ (σ − σ )

( )2

(%)ε

fc = t =2

UU

in situ

Envoltória =0

Resistência não drenada

2

φ

σ σ σ

τ

1 3

1σ 3σ( - )u

u

c =

Page 314: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

312

0,5 4,8

1,0 8,5

1,5 11,0

3,0 12,5

5,5 13,5

8,0 14,0

11,0 14,0

13,0 14,0

15,0 14,0

Fig. 12.4. Resultados de ensaio triaxial UU

Resistência não-drenada de laboratório e mobilizada in situ

A questão quanto à forma de se reproduzir em laboratório a resistência não-drenada cu, que será

mobilizada in situ durante a construção, pode ser respondida com o auxílio da figura 12.5, referente a um

ensaio UU especial em que foram medidas poropressões, permitindo traçar o diagrama s’:t:e. Desde que o

índice de vazios de campo seja o mesmo do ensaio de laboratório, a amostra seguirá a trajetória A’’B’’ do

EnsaioProfundidade da amostra:4,5m

= 100kPaDiâmetro de corpo de prova: 100mm

0 5 10 150

5

10

15Max

(kPa)

ε

σ(σ − σ )1 3

1 (%)

c

UU

Page 315: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

313

diagrama s’:e (figura 12.5b), atingindo a LEC no ponto B’’ e reproduzindo exatamente o que aconteceria

no campo. A TTE correspondente é A’B’, indicada na figura 12.5a.

Fig. 12.5. TTT e TTE em ensaio triaxial UU

Com isso, o valor de cu de campo é reproduzido em laboratório, independentemente da trajetória de

tensões totais AB adotada no ensaio (figura 12.5c). Em outras palavras, qualquer que seja a TTT do ensaio

de laboratório ou o valor da tensão total confinante aplicada no ensaio (ponto A do início da TTT), o

estado crítico será alcançado nos pontos B’’ e B’’ e o valor correto de cu será obtido.

Perfil de cu

Plotando-se os resultados de cu versus profundidade obtém-se um perfil de cu, que pode ser empregado

em projetos de engenharia. Na figura 12.6 estão plotados resultados de ensaios triaxiais UU realizados em

amostras de argila do Rio de Janeiro coletadas a várias profundidades. A figura 12.7 apresenta outros

perfis de cu de diferentes locais: um em Guarujá, SP, outro em Aracaju, SE, e um terceiro em argila

sobreadensada, em Cowden, a noroeste da Inglaterra.

Enquanto em argilas NA, ou levemente PA, o valor de cu aumenta bastante com a profundidade, em

argilas PA, cu é praticamente constante. Este fato é facilmente explicado através das figuras 12.8a e 12.8b.

A primeira mostra um perfil de cu em que a argila é PA entre os pontos A e B e se torna NA abaixo do

ponto B, o que é comum em muitas argilas. Realizando-se ensaios não drenados em amostras dos pontos

A, B e C, as TTEs serão semelhantes às indicadas na figura 12.8b, de onde se deduz que, entre os pontos

A’ e B’, não há um crescimento significativo de cu, ocorrendo o contrário na região NA, onde se situa o

(a) t Tensões efetivas (c) t Tensões totais

B'

TTE

A' A

B

TTT

A" B" LEC

ee

(b)

s' s

u

o

uc c

Page 316: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

314

ponto C’.

Fig. 12.6. Resultados de ensaios UU em argila do Rio de Janeiro (Costa-Filho et al, 1977)

Fig. 12.7. Resultados de ensaios UU e perfis de cu: (a) argila mole de Guarujá (Teixeira, 1988); (b)

argila mole de Aracaju (Ortigão, 1988); (c) argila rija de Cowden, Inglaterra (Gallagher, 1983; Ortigão

e Randolph, 1983)

2

4

6

8

10

0 5 10 15 20

Profundidade (m)

u (kPa)c

0

5

10

15

0

5

10

10

5

00 100 2000 20 40 600 10 20 30

Santos Aracaju(Ortigao, 1988b)

Cowden, England

c u

(m)

Prof

undi

dade

Prof

undi

dade

aba

ixo

do N

T

Prof

undi

dade

aba

ixo

do N

T

(kPa)c u (kPa)c u (kPa)

Page 317: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

315

Fig. 12.8. (a) Perfil de cu; (b) TTEs seguidas por amostras NA e PA

Influência da perturbação da amostra

Os resultados apresentados na figura 12.7 mostram certa dispersão, em conseqüência da impossibilidade

de se resgatarem amostras perfeitas, com as mesmas características de campo. As perturbações

introduzidas na amostra durante a coleta, a retirada do solo, o alívio de tensões, o transporte, o

armazenamento e, finalmente, a moldagem do corpo-de-prova (amolgamento) provocam alterações na

umidade, no índice de vazios, na tensão efetiva e em outras propriedades.

Entretanto, é muito importante obter amostras de alta qualidade e com a maior dimensão (diâmetro)

possível, pois a qualidade é diretamente proporcional à dimensão. Os valores de cu, particularmente, são

muito influenciados pelas dimensões da amostra, como atestam os dados plotados na figura 12.9.

(a)

(b)

A

B

C

PA NA

A' B'

C'

CBA s'

t

z Perfil de

c

c cc

c

K

K

Page 318: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

316

Fig. 12.9. Efeito do amolgamento em perfis cu obtidos em amostras e corpos-de-prova de diferentes

diâmetros (Ortigão e Almeida, 1988)

Quanto maior o diâmetro, em geral maiores são os valores de c. Além disso, fica patente que amostras de

50 mm de diâmetro, muito usuais em investigações geotécnicas de rotina, provocam grande

amolgamento, devendo ser evitadas para ensaios triaxiais.

Ensaio de compressão não confinada U

O ensaio de compressão não confinada, ou de compressão simples, ou ainda ensaio U, consiste na

compressão axial de uma amostra cilíndrica com pressão confinante nula. Teoricamente, este ensaio é

igual ao triaxial UU.

Em geral, o ensaio U é conduzido em corpos-de-prova de 50 mm de diâmetro, extraídos de amostras de

mesmo diâmetro, obtendo-se resultados muito influenciados pelo amolgamento, conforme comentado

anteriormente. Por outro lado, por não se aplicar a pressão confinante, não é necessária a membrana

lateral que envolve o corpo-de-prova nos ensaios triaxiais, o que pode levar à alteração da umidade

durante o ensaio, influenciando a resistência.

Ensaio de palheta in situ EP ou VST

Os problemas inerentes à perturbação na amostragem, que afetam os resultados dos ensaios de

0 5 10 15 20

2

4

6

8

10

Pro

fund

idad

e(m

)uc (kPa)

Amostradiâmetro

(mm)

Corpo de provadiâmetro

(mm)50 5063

12563

125

501003636

Page 319: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

317

laboratório, têm propiciado a procura de procedimentos alternativos de determinação da resistência

através de ensaios in situ, dentre os quais o ensaio de palheta (EP) é um dos mais utilizados.

As primeiras tentativas de utilização do ensaio de palheta ocorreram na Escandinávia, por volta de 1919

(Flodin e Broms, 1981), mas seu uso só foi disseminado em outros países a partir do final da década de

40. No Brasil, sua introdução se deu em 1949, simultaneamente por Milton Vargas, em São Paulo, e

Raymundo Costa, no Rio de Janeiro (Ortigão, 1988).

O ensaio é utilizado em solos argilosos, cujo comportamento pode ser caracterizado pela drenagem

impedida, constando da inserção, no solo, de uma palheta cruciforme (figura 12.10), com relação entre

altura (H) e diâmetro (D) igual a 2, sendo tais dimensões padronizadas pela ABNT NBR 10905: diâmetro

de 65 mm e altura de 130 mm.

Fig. 12.10. Palheta

Mediante a aplicação de uma rotação lenta de 6º/min, registra-se a curva de torque versus rotação (figura

12.11).

Τ

H

D

Page 320: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

318

Fig. 12.11. Curva de torque-rotação em ensaio de palheta in situ em material indeformado e amolgado

Os resultados são interpretados admitindo-se que a resistência ao cisalhamento não drenada cu se distribua

igualmente ao longo da superfície cilíndrica circunscrita à palheta. Isso conduz a:

3u 86,0DTc

π=

Eq. 12-76

onde T é o torque máximo aplicado (kNm) e D, o diâmetro da palheta, igual a 0,065 m.

Têm sido empregados nesses ensaios vários tipos de equipamento, que diferem na qualidade (Ortigão e

Collet, 1987; Ortigão, 1988). A figura 12.12 apresenta um tipo, originalmente concebido por Cadling e

Odenstad (1950), que oferece alta produtividade e permite obter resultados de boa qualidade. O aparelho

consta de um sistema de hastes, que transmitem o torque a uma palheta e são totalmente protegidas para

evitar atritos solo-haste e mecânicos internos. O conjunto é introduzido no solo por cravação estática, com

a palheta inserida em uma sapata de proteção para evitar danos durante a cravação. Uma vez atingida a

profundidade desejada, crava-se a palheta no solo, avançando-a 0,5 m à frente do equipamento, e em

seguida realiza-se o ensaio, aplicando-se a rotação e medindo-se o torque com o auxílio de uma unidade

de leituras.

0 20 40 60 80 100 120

Amolgado

Ensaio indeformado

T max

Rotação (graus)

Torque

5

10

15

20

25

(Nm)

Page 321: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

319

A alta produtividade oferecida pelo equipamento resulta do fato de não ser necessário retirar as hastes do

furo a cada ensaio, para avançar a perfuração. A alta qualidade obtida nos resultados deve-se à total

eliminação de atritos solo-haste e mecânicos internos.

Fig. 12.12. Equipamento para ensaios de palheta in situ (Ortigão e Collet, 1987)

Logo após a realização do ensaio com a argila indeformada, aplicam-se 10 rotações completas à palheta e

refaz-se o ensaio com a argila amolgada, determinando-se então a resistência amolgada cur pela equação

12.2, porém com o valor do torque nessa condição. Os resultados de um furo completo com ensaios a

cada 0,5 m são plotados versus a profundidade (figura 12.13), obtendo-se um perfil de cu e de cur.

Fig. 12.13. Resultados de um furo completo de ensaios de palheta em argila do Rio de Janeiro

Resultados de vários furos no mesmo material podem ser analisados em conjunto, conforme apresentado

na figura 12.14, o que permite tirar conclusões sobre o perfil de cu de projeto, bem como sobre a

dispersão de resultados, através do cálculo da medida e do desvio-padrão.

0 5 10 15 20 25

2

4

6

8

10

Prof

undi

dade

(m)

uc

AmolgadoIndeformado

(kPa)

Page 322: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

320

Sensibilidade

A relação entre a resistência indeformada e a amolgada é definida como sensibilidade St da argila:

ur

ut c

cS =

Eq. 12-77

que indica a perda relativa de resistência da argila quando totalmente amolgada e a importância de sua

estrutura, que aumenta proporcionalmente à sensibilidade. O ensaio de palheta permite determinar esse

parâmetro de uma forma rápida e barata.

O quadro 12.3 apresenta a classificação das argilas quanto à sensibilidade proposta por Skempton e

Northey (1952).

Fig. 12.14. Resultados de ensaios de palheta in situ em argila do Rio de Janeiro, obtidos em vários furos

próximos (Ortigão e Collet, 1986)

Quadro 12.3. Sensibilidade das argilas (Skempton e Northey, 1952)

5 10 15 20 250

2

4

6

8

10

12

u

Pro

fund

idad

e(m

)

IndeformadoAmolgado

c (kPa)

Page 323: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

321

Sensibilidade St

Baixa 2-4

Média 4-8

Alta 8-16

Muito alta > 16

Algumas argilas ocorrentes na Escandinávia e no Canadá (eg Lerouiel et al, 1985) apresentam

sensibilidade extremamente elevada, da ordem de 100. Estes materiais perdem totalmente a resistência

quando amolgados, tornando-se verdadeiros líquidos. Felizmente, no Brasil, a sensibilidade dos depósitos

de argila pode ser classificada de baixa a média, como se deduz dos dados apresentados no quadro 12.4.

Quadro 12.4. Sensibilidade de alguns depósitos de argila mole do litoral brasileiro

Local Valor

médio

Faixa de

variação

Referência

Santa Cruz, RJ (zona litorânea) 3,4 Aragão, 1975

Santa Cruz, RJ (offshore) 3,0 1-5 Aragão, 1975

Rio de Janeiro, RJ 4,4 2-8 Ortigão e Collet, 1986

Sepetiba, RJ 4,0 Machado, 1988

Cubatão, SP (Alemoa) 4-8 Teixeira, 1988

Florianópolis, SC 3,0 1-7 Maccarini et al, 1988

Aracaju, SE 5,0 2-8 Ortigão, 1988

Correção dos valores de cu fornecidos pelo VST

A experiência na construção de aterros e nas escavações em depósitos de argila em muitos países tem

demonstrado que, para aplicação em projetos, o perfil de cu fornecido pelo EP deve ser corrigido pela

equação:

EPucorrigidou cc μ=

Eq. 12-78

Page 324: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

322

A necessidade de correção foi explicada por Bjerrum (1973) como um meio de se levarem em conta as

diferenças de velocidade de deformação, os efeitos de anisotropia e a fluência. A determinação do fator μ

é totalmente empírica e baseada na análise de casos históricos de rupturas ocorridas em aterros e

escavações. Assim, alguns autores têm recomendado fatores de correção (Bjerrum, 1973; Azzouz et al,

1983) em função do índice de plasticidade da argila (IP), mas os dados apresentam grande dispersão

(figura 12.15a), o que dificulta selecionar o valor adequado de μ. As recomendações mais recentes,

publicadas por Aas et al (1986), são para obter a relação cu/σ’vo, onde cu é a resistência fornecida pelo EP

e σ’vo a pressão efetiva vertical in situ, e empregar a figura 12.15b, que fornece μ para argilas NA e PA.

A experiência brasileira na aplicação dessas correções empíricas, através de retroanálise de rupturas em

solos moles (Ortigão et al, 1987 e 1988), tem demonstrado que elas não se aplicam a argilas de alta

plasticidade, como as que ocorrem no litoral brasileiro, em que o fator μ encontrado é igual a 1. Por esta

razão, Ortigão e Almeida (1988) recomendam que o perfil de cu fornecido pelo EP seja comparado com o

de ensaios triaxiais UU: havendo diferença muito significativa, empregam-se as correções; do contrário,

não.

Fig. 12.15. Correção dos valores de cu obtidos em ensaios de palheta (Aas et al, 1986)

Exemplo 12.2

Ao aplicar a correção de resultados de EP indicada na figura 12.15b ao perfil médio de cu da argila do Rio

80

40

0

1.4

1.0

0.6

0.20 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0

NA

PA

PANA

IP

(a)

(b)

μ

σ′

μ=c c

c

(%)

Page 325: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

323

de Janeiro que consta da figura 12.14.

Solução

Obtém-se a relação cu/σ’vo para várias profundidades ao longo da camada de argila, sendo σ’vo calculado

adotando-se γ = 13 kN/m³. Como nos primeiros 3 m da argila o valor médio de cu é aproximadamente

constante, e com base na história de tensões deste material abordada no capítulo 7, considerou-se que

esses 3 m iniciais são PA e, a partir daí, NA. Os cálculos constam do quadro 12.5.

Quadro 12.5. Exemplo 12.1: correção de cu

z

(m)

cu médio

(kPa)

σ’vo

(kPa)

cu / σ’vo PA / NA μ cu corrigido

(kPa)

1 8,6 3 2,9 PA 0,4 3,4

2 8,6 6 1,4 PA 0,4 3,4

3 8,6 9 0,9 PA 0,4 3,4

4 9,4 12 0,8 NA 0,5 4,7

6 12,6 18 0,7 NA 0,5 6,3

8 14,8 24 0,6 NA 0,6 8,9

10 18,6 30 0,6 NA 0,6 8,9

Determinação empírica de cur

A resistência não drenada amolgada de um depósito de argila pode ser estimada através da correlação

empírica obtida por Carrier e Beckman (1984):

6,33

1c

atmur

)14,4(1,37163,0

166,0

⎥⎥⎥⎥

⎢⎢⎢⎢

++

+=

−AIPLPepc

Eq. 12-79

Page 326: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

324

onde:

patm = pressão atmosférica = 10 kPa

IP = índice de plasticidade (%)

e = índice de vazios

Ac = atividade da argila

LP = limite de plasticidade

A figura 12.16 apresenta um ábaco que pode ser empregado em lugar da equação 12.5.

Fig. 12.16. Ábaco para a determinação da resistência amolgada cur a partir de correlação com os limites

de Atterberg (Carrier e Beckman, 1984)

Relação entre cu e pressões efetivas e OCR

Uma forma alternativa de se obter um perfil de cu é através de relações com as pressões efetivas e o valor

do OCR. A relação cu/σ’v, onde σ’v é a pressão efetiva vertical antes do cisalhamento, pode ser

determinada em ensaios UU especiais, em que a pressão efetiva é medida, ou obtida em ensaios do tipo

CU. Embora preconizada por vários autores (eg Ladd e Foott, 1974), essa metodologia exige ensaios de

laboratório muito trabalhosos e caros, sendo por isto pouco prática para aplicação em obras correntes de

engenharia.

Page 327: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

325

Por outro lado, equações semi-empíricas, que relacionam cu com pressões efetivas, são fáceis de se

aplicar e devem ser utilizadas para aferir os valores de cu fornecidos por EP ou por ensaios triaxiais UU.

A seguinte equação relaciona o valor da relação cu/σ’v em amostras NA e PA:

Λ= OCRcc

NAvu

PAvu

]’/[]’/[

σσ

Eq. 12-80

O valor de Λ é obtido em ensaios especiais em várias amostras, com diferentes OCRs. Na prática,

entretanto, Λ varia pouco, entre 0,7 e 0,85 (Ladd et al, 1977), e o valor médio de 0,8 pode ser adotado

para a maioria dos depósitos de argila. Por outro lado, um valor conservador de 0,25 pode ser adotado

para a relação cu/σ’v em argilas NA. Assim, a equação 12.6 pode ser reescrita:

8,0

vu 25,0’/ OCRc =σ

Eq. 12-81

Uma outra relação de natureza semi-empírica, preconizada por Mesri (1975), relaciona cu com a pressão

de sobreadensamento σ’vm:

vmu ’22,0 σ=c

Eq. 12-82

Exemplo 12.3

Determinar o perfil de cu para a argila do Rio de Janeiro através das equações 12.7 e 12.8 e comparar os

resultados com os obtidos por ensaios triaxiais UU e EP, representando-os graficamente.

Solução

Os cálculos realizados constam do quadro 12.6, onde z é a profundidade, σ’vo e σ’vm foram obtidos na

figura 6.18 e o OCR foi calculado pela equação 6.1. Pela equação 12.7 calculou-se cu/σ’v, obtendo cu

multiplicando cu/σ’v por σ’vo. A equação 12.8 é aplicada multiplicando-se σ’vm por 0,22. Os resultados

Page 328: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

326

estão plotados na figura 12.17.

Aplicação da análise tipo UU e do método φ = 0

Na análise tipo UU são empregadas tensões totais e a envoltória fictícia de resistência em termos de

tensões totais. A figura 12.18 mostra alguns exemplos em que se admite que a resistência τff, mobilizada

na superfície de ruptura e por ocasião desta, é igual a cu.

Quadro 12.6. Exemplo 12.2: determinação de cu pelas equações 12.7 e 12.8

Equação 12.7 Equação 12.8

z

(m)

σ’vo

(kPa)

σ’vm

(kPa)

OCR cu/σ’v

(kPa)

cu

(kPa)

cu

(kPa)

1 3 19 6,3 1,09 3,3 4,2

2 6 18 3,0 0,60 3,6 4,0

3 9 23 2,6 0,54 4,9 5,1

4 12 26 2,2 0,47 5,6 5,7

5 15 30 2,0 0,44 6,6 6,6

7 21 38 1,8 0,40 8,4 8,4

9 27 45 1,7 0,38 10,2 9,9

10 30 48 1,6 0,36 10,8 10,6

Page 329: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

327

Fig. 12.17. Exemplo 12.2: resultados

A aplicação do método UU no caso de um aterro construído rapidamente sobre camada mole é

esquematizada na figura 12.19, cujos gráficos referem-se ao ponto A da superfície de ruptura. À medida

que o aterro é construído, as tensões mobilizadas aumentam até atingir o limite cu, quando o material

entra em ruptura.

10

8

6

4

2

0 5 10 15 20c u

Prof

undi

dade

(m)

Equação 7.20Equação 7.19

UUEP

(kPa)

Page 330: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

328

Fig. 12.18. Exemplos de aplicação da resistência cu em análise de obras: (a) aterro construído

rapidamente sobre solo mole; (b) análise de estabilidade de final de construção do maciço de uma

barragem construída rapidamente com núcleo de argila; (c) fundação direta construída rapidamente

sobre argila (Ladd, 1971)

Os acréscimos de poropressão Δu aumentam gradativamente durante o carregamento, atingindo seu valor

máximo no final de construção; a partir daí tendem a se dissipar e, após longo tempo, atingem o equilíbrio

(ou seja, Δu = 0). O fator de segurança FS decresce inicialmente durante o carregamento e atinge o valor

mínimo ao final da construção; logo em seguida aumenta, à medida que as poropressões se dissipam,

estabilizando quando Δu = 0.

O método φ = 0 pode ser aplicado para análise de estabilidade de final de construção, evitando-se as

incertezas na previsão de Δu. Durante a fase de dissipação, a análise de estabilidade pode ser conduzida

em termos de pressões efetivas, com os parâmetros c’ e φ’ e com Δu medido.

Compactada do núcleo l

D

B

=

q

t

t t

τ

t

g

(TE RZA GHI)

(a)

(b)

(c)

= c

= c

q = 5.7 c + D

Page 331: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

329

b

Fig. 12.19. Fases de construção de um aterro sobre solo mole em que se pode aplicar o método φu = 0

(Bishop e Bjerrum, 1960)

Exercícios

12.1. Para um ensaio UU convencional em um corpo-de-prova de argila, pergunta-se: (a) a TTE é

conhecida? (b) por quê? (c) quais são e como utilizar os resultados de ensaio?

12.2. Dissertar resumidamente (uma página no máximo) sobre a aplicação do conceito φu = 0 para a

construção rápida de um aterro sobre argila mole.

12.3. Por que ensaios UU em argila apresentam em geral grande dispersão de resultados?

12.4. Uma argila apresenta os seguintes parâmetros de estado crítico: φ’ = 30º, Cc = 1,2, Cs = 0,1, ecs =

A

ffτ

τ

τ

ff

ffTensão cisalhante

Altura do terrenoH

e

u

t

t

Método

FS

φ = 0

= 0DissipaçãoConstrução ΔΔ

(a)

(b)

(c)

(d)

H

u u

φ′ Δ

u

MedidoMétodo u

Page 332: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

330

5,3 e ec = 5,9. Neste material, com uma amostra isotropicamente adensada com σ’c = 50 kPa, foi

executado um ensaio UU. Estimar o valor da resistência não drenada que se espera do ensaio.

12.5. Descrever resumidamente o ensaio de palheta in situ.

12.6. Definir o que é sensibilidade de uma argila.

12.7. Quais são os ensaios recomendados para cada uma das seguintes obras: (a) análise de barragem de

terra em final de construção; (b) idem, longo tempo após o enchimento do reservatório; (c)

encosta natural em que se observou escorregamento antigo; (d) fundação direta sobre argila

normalmente adensada; (e) idem, sobre areia; (f) tanque de petróleo sobre solo mole.

Page 333: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

331

Cap 13. APLICAÇÕES A PROBLEMAS PRÁTICOS

Introdução

Este capítulo aborda as aplicações do modelo de estado crítico, através dos diagramas s’:t:e, em análise de

problemas de Mecânica dos Solos. São vistas inicialmente as trajetórias de tensão que mais

freqüentemente ocorrem no campo, muitas vezes diferentes da compressão axial. Em seguida, esses

conceitos são aplicados em análise do comportamento de muros de arrimo, aterros, escavações e estacas.

Finalmente, é abordada a resistência ao cisalhamento residual, que não é abrangida pelas teorias de estado

crítico.

Classificação das trajetórias de tensão

A classificação das TTTs segundo a direção é apresentada na figura 13.1, havendo quatro tipos principais:

de compressão axial, de extensão axial, de extensão lateral e de compressão lateral.

A TTT de compressão axial é a que ocorre, por exemplo, sob o eixo de um aterro (figura 13.1a). As

tensões verticais aumentam e a TTT cresce para a direita, com inclinação de 1:1, sendo esta a trajetória

mais comum em ensaios triaxiais de laboratório, devido à facilidade de se aumentar a tensão-desvio e

manter constante a tensão confinante. Pode-se afirmar que mais de 90% dos ensaios triaxiais correntes

utilizam essa TTT, razão pela qual os ensaios CU, CD e UU estudados nos capítulos anteriores foram de

compressão axial.

Page 334: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

332

Fig. 13.1. Trajetórias de tensão mais freqüentes: (a) compressão axial; (b) extensão axial; (c) extensão

lateral; (d) compressão lateral

A TTT de extensão axial ocorre, por exemplo, sob o eixo de uma escavação em que há um alívio de carga

vertical, enquanto as tensões horizontais se mantêm aproximadamente constantes. Os ensaios que seguem

essa TTT são caracterizados pela sigla adicional E (por exemplo, CIU-E e CID-E). Conforme mostrado na

figura 13.1b, essa TTT caminha para a parte inferior do programa s:t.

A TTT de extensão lateral ocorre, por exemplo, durante a execução de reaterro atrás de um muro de

arrimo (figura 13.1c). O muro tende a se deslocar no sentido contrário ao do reaterro, o que provoca um

alívio na tensão horizontal, enquanto a tensão vertical se mantém aproximadamente constante. Ensaios

feitos com essa trajetória são raros e têm a sigla adicional EL (por exemplo, CIU-EL).

A TTT de compressão lateral ocorre, por exemplo, quando uma ponte é apoiada externamente em um

muro existente, fazendo com que este tenda a se deslocar no sentido do terreno. Isto resulta em um

acréscimo de carga horizontal, embora a tensão vertical permaneça constante, e a TTT corresponde

caminha para a parte inferior do diagrama s:t. Ensaios feitos com essa trajetória também são raros e têm a

sigla adicional CL (por exemplo, CIU-CL).

Outras duas trajetórias são empregadas em casos especiais, uma delas para simular a construção de

s',s

s',s

s',s

s',s

t

t

t

t C

E

ELDeslocamento

CLE

(a)

(b)

(c)

(d)

ho

voσ′

σ′

E

p

a

−Δσ

−Δσ

+Δσ

+Δσv

v

h

h

Page 335: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

333

barragens de terra, em que as tensões totais σ1 e σ3 variam segundo uma relação K, definida por K =

σ3/σ1, que é mantida constante (figura 13.2), representando a variação de tensões que ocorre no maciço da

barragem.

Fig. 13.2. Trajetórias de tensão no ensaio UKU para simulação da construção rápida de barragens de

terra com K = σ3 / σ1 = constante

Os ensaios correspondentes são realizados sem drenagem e com medição de poropressões, aumentando-se

as tensões totais segundo a relação K, e em seguida são rompidos por compressão axial. Esses ensaios,

denominados mais adequadamente de UKU (e não K-constante, como preferem alguns construtores de

barragens), foram objeto de um importante trabalho de Cruz (1967) sobre argilas compactadas utilizadas

em núcleos de barragens.

A trajetória empregada para a análise do efeito das tensões in situ é a de reconsolidação nas tensões

estimadas que ocorriam no solo antes da amostragem. As TTEs utilizadas estão indicadas na figura 13.3,

sendo que os ensaios assim executados são identificados pela sigla adicional Ko (por exemplo, CKoU e

CKoD). A reconsolidação K0 implica deformações horizontais nulas, como visto no capítulo 6.

t

s

=

cr

1

3 1 3

h max

Compressão axial

1

3

σ

σ

σ

σσ σ

σ

Constantet

K

K= /

Page 336: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

334

Fig. 13.3. Trajetória de consolidação anisotrópica K0

Generalização do modelo de estado crítico

O modelo de estado crítico pode ser considerado como um modelo generalizado, pois é válido para

qualquer trajetória de tensões que for aplicada em uma amostra. Além disso, segundo esse modelo, as

tensões efetivas controlam o comportamento, independentemente das tensões totais. Para comportamnto

não drenado, isto é explicado na figura 13.4. Ressalta-se também que o modelo é simétrico em relação ao

eixo p’ ou s’.

Com efeito, um ensaio não drenado em argila NA tem a trajetória A’B’ horizontal no diagrama s’:e (figura

13.4c), pois o índice de vazios não pode ser alterado. O ponto A’ pertence à LIC e o ponto B’, à LEC. As

TTEs correspondentes (figura 13.4b) partem do ponto A e atingem B1 ou B2, conforme a TTT se dirija para

a parte superior ou inferior do diagrama s’:t. Entretanto, de acordo com o modelo de estado crítico, as

TTEs AB1 ou AB2 são simétricas em relação ao eixo dos s’. As curvas de tensão-deformação (figura 13.4a)

são também simétricas e têm a mesma inclinação inicial, ou seja, o mesmo módulo de deformação.

Page 337: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

335

Fig. 13.4. Generalização do modelo de estado crítico: aplicação em ensaios não drenados com TTTs

diversas

Aplicando-se quaisquer das TTTs indicadas na figura 13.4b, o comportamento em termos de pressões

efetivas não pode ser alterado. Assim, as poropressões se ajustarão de forma a manter as TTEs indicadas.

De fato, cada uma das TTTs provocará diferentes valores de Δu, o que pode ser verificado na figura 13.4b,

pois a poropressão final de cada ensaio uf é obtida pela distância entre os pontos finais correspondentes da

TTT e da TTE. Por exemplo, o valor de uf para o ensaio de extensão axial é determinado pela distância

entre os pontos E e B2. Neste caso, como uf < u0, Δuf será negativo. Exatamente o contrário ocorre, por

exemplo, no ensaio de compressão axial, em que Δuf será positivo.

A generalização do comportamento em ensaios drenados é obtida considerando no modelo que o volume

da amostra será alterado, de maneira que o ponto final das trajetórias esteja sempre sobre a LEC e a Kcr.

Para a amostra NA da figura 13.5, a variação de volume para cada TTE aplicada é diferente: para as TTEs

AB e AC, o índice de vazios diminui e, para as TTEs AD e AE, aumenta.

Page 338: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

336

Fig. 13.5. Generalização do método de estado crítico: aplicação em ensaios drenados com TTEs diversas

Análise de problemas práticos

A técnica das trajetórias de tensões é muito útil na análise de problemas práticos, como muros de arrimo,

aterros, escavações e estacas.

Muros de arrimo

A figura 13.6 exemplifica muros de arrimo com reaterro executado em areia, com drenagem livre e,

portanto, com as TTEs coincidindo com as TTTs. As tensões horizontais finais que atuarão no paramento

do muro (desprezando-se o atrito solo-muro) podem ser obtidas através de um modelo muito simples, que

forma a base da teoria de Rankine (On the stability of loose earth, Phil Transactions, Royal Society,

London, 1857) para o cálculo de empuxos de terra. O modelo considera três estados: ativo, passivo e K0.

O estado ativo (figura 13.6a) é alcançado pelo ponto P, devido aos deslocamentos sofridos pelo muro à

medida que se reaterra. Isto provoca um alívio na tensão horizontal e a TTE é AB de extensão lateral. O

estado final B é denominado estado ativo e a tensão efetiva horizontal correspondente é σ’ha.

Page 339: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

337

Fig. 13.6. Interpretação do comportamento de estruturas de arrimo via trajetórias de tensão

O estado passivo (figura 13.6b) é a conseqüência dos deslocamentos do muro no sentido do reaterro

devido a uma carga aplicada, como a fundação de uma ponte que se apóia sobre o muro. A TTE é AB de

compressão lateral, à medida que as tensões horizontais aumentam, e a tensão efetiva horizontal

correspondente é σ’hp.

O estado K0 (figura 13.6c) ocorre no terreno in natura durante o processo de formação dos solos, quando

não há deformações laterais significativas. Uma situação equivalente pode ocorrer na vizinhança de uma

estrutura muito rígida que impeça qualquer deslocamento do terreno. A TTE coincide com a linha K0 e a

tensão efetiva horizontal correspondente é σ’ho.

Aterro sobre solo mole construído em uma etapa

A figura 13.7 apresenta o diagrama s’:t:e para um ponto sob o eixo de um aterro construído rapidamente,

em uma etapa, sobre fundação mole. Admitindo-se comportamento não drenado, a TTE é AB e não atinge

a linha Kcr, pois a construção é paralisada antes da ruptura. No ponto B, a segurança quanto à ruptura é

mínima. A TTT correspondente é AC de compressão axial. Os trechos BC e B’C’ correspondem ao

adensamento e à dissipação de poropressões, admitindo que as tensões totais não variam. Como a TTE

caminha de B para C à medida que as poropressões se dissipam, fica-se mais longe da ruptura e o fator de

B

K

A

t

t

t

A

C

K

K

C

A

B

K

KB

C

P

P

E

PE

σ′

σ

σ′ σ′

'

s'

s'

s'

Page 340: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

338

segurança da obra aumenta.

Fig. 13.7. Interpretação do comportamento de aterro sobre solo mole construído em uma etapa, via

trajetórias de tensão

Aterro sobre solo mole construído em duas etapas

Quando o carregamento total a ser aplicado excede a capacidade de carga da fundação, uma das

alternativas de projeto é executá-la em etapas, paralisando-se a obra para permitir a dissipação parcial de

poropressões. Isto resulta em um ganho de resistência não drenada. Na primeira etapa, a TTE é AB (figura

13.8), paralisada antes de atingir a ruptura em C. A resistência não drenada inicial é cuo. O tempo de

paralisação permite a dissipação de poropressões, e a TTE caminha de B para D.

K

K

A

BC

t

e

C'

B' A'

LECLK Co

o

cr

( u)

Inchamento

Δ

s'

s'

Page 341: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

339

Fig. 13.8. Interpretação do comportamento de aterro sobre solo mole construído em etapas, via

trajetórias de tensão

Reiniciando a construção em D, a TTE atinge E rapidamente em condições não drenadas e a obra é

novamente paralisada, antes da ruptura em F. A ordenada de F corresponde à resistência não drenada

final cuf, que é maior que a inicial cuo, demonstrando que o material ganhou resistência.

Escavação em solo mole

Os engenheiros de dragagem conhecem bem o fenômeno da suavização de taludes dragados, após a

escavação: é comum dragar um canal submerso em solo mole com talude íngreme, por exemplo, de 1:1, e

após alguns dias ou semanas observar a suavização gradativa deste até a estabilização, com, por exemplo

1:6. Isto pode ser facilmente explicado com o auxílio do diagrama s’:t:e da figura 13.9.

Pt

ee C' B'

A'

D'

E'F'

LEC

G'

LKC

K

K

CF E G

DAc c

o

cr

uo uf

o

1ºcarga: Dissipação: 2º carga: Dissipação:

B

s'

s'

ABBDDEEG

Page 342: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

340

Fig. 13.9. Interpretação da estabilidade com o tempo de escavação em solo mole, via trajetórias de

tensão

Verifica-se que a TTT é AC de extensão axial, aplicada rapidamente em condições não drenadas, sem

variação do índice de vazios. A TTE é AA1B, paralisada em B antes da ruptura, que ocorreria em F se a

escavação prosseguisse. Ora, com o ponto C da TTT está à esquerda do ponto B da TTE, os acréscimos de

poropressões são negativos, mas com o tempo tenderão a alcançar o equilíbrio em C. À medida que se

caminha de B para C, aproxima-se da linha Kcr e o fator de segurança diminui após a paralisação da

escavação, o que pode levar à ruptura dentro de algum tempo.

Estaca em argila NA

O interesse no desenvolvimento de métodos de previsão de capacidade de carga de estacas, com base nas

tensões efetivas (eg Kraft, 1982), tem levado à análise das tensões no elemento de solo P em contato com

o fuste da estaca, conforme apresentado na figura 13.10.

s'

e

t

K

KA

A

B

C

F

C'

F'B'

A'A'

LIC

LEC

cr

o

1

o

1

Inchamento

- Escavação- Inchamento

s'

ABBC

Page 343: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

341

Fig. 13.10. Interpretação do comportamento de estaca instalada em argila NA, via trajetórias de tensão

A cravação da estaca permite supor que o elemento P será suficientemente tensionado em condições não

drenadas, seguindo a trajetória AB e atingindo o estado crítico em B. Em seguida, as poropressões se

dissipam e as tensões totais relaxam. A relaxação é o fenômeno da diminuição ou alívio de tensões totais

ou efetivas, sem que haja alteração nas deformações. É exatamente o contrário da fluência ou

adensamento secundário mencionado no capítulo 6.

A dissipação das poropressões e a relaxação das tensões totais provocam o que se denomina de

recuperação da estaca. Isto significa um ganho de resistência e de capacidade de carga com o tempo, pois

as poropressões se dissipam em algumas semanas. Ao final da recuperação, o elemento considerado

estará em C, mais longe da linha Kf e, portanto, da ruptura. Imaginando agora que a estaca seja carregada

rapidamente até a ruptura, a TTE será CD e o estado crítico será alcançado em D.

Durante o carregamento da estaca, as tensões totais aplicadas no elemento P serão fundamentalmente de

cisalhamento. Isso significa que o valor de q ou t será alterado, mantendo-se constante o valor da tensão

total média p ou s (Lopes, 1985). A TTT terá direção vertical, sendo representada na figura 13.10 pelo

segmento vertical AD1.

Page 344: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

342

Estaca em argila PA

Esse caso é semelhante ao anterior, exceto quanto às tensões iniciais e ao índice de vazios inicial no

elemento P, em contato com o fuste (figura 13.11), que são caracterizados pelos pontos A e A’,

respectivamente abaixo da linha K0 e do lado seco da LEC.

Fig. 13.11. Interpretação do comportamento de estaca instalado em argila PA, via trajetórias de tensão

Resistência ao cisalhamento residual

A resistência residual ao cisalhamento ocorre nos solos argilosos quando sujeitos a deformações enormes,

da ordem de metros, verificando-se, por exemplo, em encostas sujeitas a deslizamentos antigos e a

grandes movimentos de massa.

A resistência residual, entretanto, não é abrangida pelas teorias de estado crítico, pois estas se aplicam

somente à condição final, enquanto a massa de solo ainda se desloca como um meio contínuo e as

partículas têm orientação randômica. Quando a ruptura da massa de solo ocorre segundo um plano bem

definido de deslizamento, partículas em sua vizinhança se alinham segundo a direção da ruptura,

ocorrendo então a situação residual. Esses conceitos são apresentados na figura 13.12 para uma areia

densa bem graduada e uma argila PA.

Page 345: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

343

Fig. 13.12. Curvas de tensão-deformação para areia pura densa e argila PA, indicando pico, estado

crítico e estado residual

Na areia, a condição de pico se caracteriza pelo grande entrosamento entre grãos, conforme estudado no

capítulo 9. Com o prosseguimento das deformações, a areia dilata e atinge o estado crítico com os grãos

mais afastados e desentrosados. Prosseguindo os deslocamentos, não há mais queda de resistência, pois o

atrito é devido ao rolamento e ao deslizamento entre grãos, que não sofrem grandes alterações.

Já a argila PA apresenta um pico e, em seguida, atinge a condição de estado crítico a grandes

deformações, em que as partículas têm orientação randômica. Prosseguindo os deslocamentos, formam-se

um plano de deslizamento e uma descontinuidade, segundo os quais há uma direção preferencial de

orientação das partículas.

Os parâmetros efetivos de resistência residual (c’r, φ’r) podem ser muito inferiores aos de pico, como

apresentado no quadro 13.1.

Quadro 13.1. Exemplo de parâmetros residuais, de pico e de estado crítico

Parâmetros efetivos

de resistência

c’

(kPa)

φ’

(graus)

Pico 10 35

Estado crítico 0 30

Residual 0 17

Page 346: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

344

A determinação da resistência residual pode ser feita através de retroanálise de deslizamentos de encostas

ou de ensaios especiais em que se simulam grandes deslocamentos, conforme detalhado por Fell e Jeffery

(1987). Entre os ensaios que podem ser empregados estão o de cisalhamento direto com reversões

múltiplas, em que a caixa de cisalhamento se desloca muitas vezes para cada lado, revertendo-se o sentido

do deslocamento a cada etapa, ou o de cisalhamento torcional, comentado no capítulo 8.

Como exemplo, a figura 13.13 apresenta resultados de uma investigação conduzida por Massad et al

(1981) em argilas da região de Curitiba, denominadas localmente de sabão de caboclo por acarretar

problemas de expansão e estabilidade de taludes. Após reversões múltiplas na caixa de cisalhamento

direto, o ângulo de atrito do material decresce de 21 para 10º, o que pode explicar a origem de vários

problemas geotécnicos comuns na área de Curitiba.

As figuras 13.14 a 13.16 apresentam resultados de resistência residual para diversas argilas, os quais

permitem avaliar preliminarmente o valor de φ’r em função da fração de argila (% de material < 2 μm) e

dos limites de Atterberg.

Exercícios

13.1. Em que condições deve ser aplicada a resistência ao cisalhamento residual de uma argila e de uma

areia, e como determiná-la?

Fig. 13.13. Ensaio de cisalhamento direto drenado com reversões múltiplas em argila de Curitiba

(Massad et al, 1981).

0

40

80

120

0 10 20 30 40 50 60

0 100 200 300

Deslocamento horizontal (mm)

(kPa)

(kPa)

σ′τ

τ

σ′ (kPa)

Envoltória de Picoφ=10 kPa = 21ºc'

Envoltória residualφ= 0 = 10ºc'

Page 347: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

345

Fig. 13.14. Relação entre φ’r, teor de argila e IP (Lupini et al, 1981)

Fig. 13.15. Relação entre φ’r e LL (Mesri et al, 1986)

0 20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 1000

10

20

30

40

Mistura com argila de LONDRES

Mistura de areia-betonita

r

IP Porcentagem de argila(% < 2 m)

φ′ φ′ r

40

30

20

10

0

10

(%)μ

0

8

16

24

32

0 40 80 120 160 200

LL

rφ′

(%)

Page 348: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

346

Fig. 13.16. Relação entre φ’r e φ’ (Mesri et al, 1986)

13.2. Para uma argila com φ’ = 33º e LIC com C0 = 1,3, Cs = 0,02 e ecs = 6,5, pede-se: (a) definir a

equação da LEC; (b) considerando a realização de ensaios CIDs de compressão e extensão axiais

e laterais, iniciando a fase de cisalhamento com s’ = 150 kPa, obter o índice de vazios nas

condições de estado crítico para cada ensaio; (c) idem, pra ensaios CIU, desejando-se porém o

valor da variação das poropressões; (d) repetir (b) e (c) para CPs consolidados anisotropicamente,

com K0 = 0,6 e tensão confinante lateral de 200 kPa; localizar a LK0C com eco = 6,1.

13.3. Para um ponto ao longo do fuste de uma estaca a ser cravada em argila normalmente adensada,

esquematizar a TTE durante as fases de cravação e de dissipação de poropressões (geradas durante

a cravação) e durante o carregamento muito lento até a ruptura.

13.4. Idem, em argila muito pré-adensada.

13.5. Idem, em areia compacta.

0 8 16 24 320

8

16

24

32Oxford clay

London clay

r

φ′

φ′

40

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

347

Cap 14. CAM-CLAY

Introdução

Este capítulo resume as bases teóricas e as equações dos modelos elastoplásticos denominados Cam-Clay,

que permitem o cálculo de deformações. Com isso, pretende-se demonstrar a potencialidade dos modelos

de estado crítico, sem entretanto apresentar todos os detalhes teóricos. São incluídos exemplos de

simulação teórica de deformações e tensões em ensaios triaxiais utilizando um programa de computador

denominado Cris.

As deduções das equações e um estudo mais abrangente sobre a teoria da plasticidade não fazem parte do

escopo deste livro, recomendando-se para tal os trabalhos de Britto e Gunn (1987), Desai e Siriwardane

(1984), Bolton (1979) e Schofield e Wroth (1968).

Modelo elastoplástico

As deformações em um modelo elastoplástico podem ser tratadas nos domínios elástico e plástico

separadamente. A figura 14.1 apresenta um diagrama e:log s’ de um solo que se deforma do ponto A ao

C. A trajetória de deformação AC pode ser decomposta em AB e BC, sendo a primeira ao longo da linha

de inchamento e a segunda, vertical. Como estudado no capítulo 6, as deformações ao longo da linha de

inchamento são pequenas e reversíveis e, portanto, elásticas, ao contrário das que ocorrem ao longo de

BC, que são irreversíveis e plásticas.

Page 350: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

348

Fig. 14.1. Decomposição de deformação volumétrica em elástica e plástica

A energia ou trabalho de deformação W é obtida por uma equação do tipo (Timoshenko e Goodier, 1951):

332211 ’’’ εσεσεσ ++=W

Eq. 14-83

No domínio elástico, os materiais armazenam a energia de deformação, enquanto no domínio plástico,

parte dessa energia é dissipada por atrito sob a forma de calor. Então:

dissipadoarmazenado WWW +=

Eq. 14-84

Os modelos elastoplásticos diferem quanto às hipóteses que são admitidas quanto à dissipação da energia

durante o regime plástico.

Inchamento

A B

VirgemElástico

Plástico

e

log

C

s'

Page 351: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

349

Curva de tensão-deformação e escoamento

A figura 14.2 mostra o aspecto da curva de tensão-deformação segundo um modelo elastoplástico. O solo

se deforma elasticamente até o ponto E, onde tem início o escoamento, ou seja, além das deformações

elásticas εe, o material admite também deformações plásticas εp, sendo a deformação total ε calculada

pela soma de ambas:

pe εεε +=

Eq. 14-85

Fig. 14.2. Curvas de tensão-deformação segundo modelos elastoplásticos

Após o início do escoamento, distinguem-se três casos quanto ao aspecto da curva de tensão-deformação:

no primeiro (figura 14.2a), as deformações aumentam indefinidamente sob resistência constante,

caracterizando um material elastoplástico perfeito; no segundo (figura 14.2b), há queda na resistência

com o aumento das deformações, o que caracteriza um amolecimento; no terceiro, ocorre aumento de

resistência após o escoamento (figura 14.2c), o que se denomina de endurecimento ou enrijecimento.

A determinação do ponto E, de início do escoamento, é feita nos modelos elastoplásticos através de uma

superfície de escoamento (figura 14.3), cuja determinação experimental através de ensaios triaxiais é

estudada no capítulo 11. Abaixo dessa superfície, admite-se que as deformações sejam puramente

elásticas. Com efeito, em uma TTE qualquer AE, conforme indicado na figura 14.4, o ponto de início do

Elasto-plásticoperfeito

Elasto-plásticocom amolecimento

Elasto-plásicocom enrijecimento

E

E

E

s

s

s

ε

ε

ε

Page 352: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

350

escoamento E ocorrerá quando a TTE tocar a superfície de escoamento.

Os modelos elastoplásticos diferem, entretanto, quanto à forma ou à equação matemática assumida para

representar a superfície de escoamento. Nos itens seguintes são apresentados dois modelos – Cam-Clay e

Cam-Clay Modificado – que incorporam o conceito de estado crítico mas apresentam superfícies de

escoamento diferentes.

Fig. 14.3. Superfície limite de estado SLE sob a qual as deformações são puramente elásticas

Fig. 14.4. (a) Curva de tensão-deformação com comportamento elástico até o ponto E, em que a TTE

toca a (b) curva de escoamento

Diagrama p’: q:e

Nas equações dos modelos Cam-Clay são utilizadas as notações do diagrama p’:q:e, ou p’:q:v, onde v é o

volume específico, igual a v = 1 + e. Essas notações são diferentes das empregadas até agora neste livro

(ou seja, s’:t:e), mas o aspecto dos diagramas obtidos é muito parecido. As figuras 14.5 e 14.6 e os

t

s'

Superfície deescoamento

Domínio elástico

tt

s'

EE

TTE

1ε A

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

351

quadros 14.1 e 14.2 comparam os dois diagramas e os parâmetros empregados. Deve-se observar que as

equações da LEC e da LIC foram deduzidas para as abscissas log s’, enquanto na notação de Cambridge

as abscissas são ln p’.

Fig. 14.5. Comparação entre a envoltória de estado crítico e a LEC nos diagramas s’:t:e e p’:q:v

Fig. 14.6. Equação da LIC nos diagramas s’:t:e e p’:q:v

Quadro 14.1. Relação entre os parâmetros nos diagramas s’:t e p’:q

p's'

p's'

t

e

v

q

LEC LEC

e = e + C s'

q=Mp't=s'

= 1+ e

v = + p'cs

cs

c

Γ

Γ λ

Γ

α′α

ecs

tan

log

log log

ln

M1

s'

e v

LIC LIC

1 kPa 1 kPa

e

e

N

v

N = 1+ e

v = N+ p'-ks

co

s

c

c c

co

k

e = e + C s'

- C

- C

λ−λ

p'

log

log ln

ln

Page 354: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

352

Nome

Diagrama

s’:t:e

Diagrama

p’:q:v ou e

Relação entre

parâmetros

Eq

Variável s’ p’ )’3(31’ tsp −= 14.4(a)

Variável t q q = 2 t 14.5

Variável e e ou v v = 1 + e 14.6(b)

Envoltória de

resistência

tan α’ M ’sen3

’sen6φ

φ−

=M 14.7

LEC ecs Γ Γ = ecs + 1 14.8

LEC Cc λ λ = Cc / 2,3 14.9

LIC ec N N = ec + 1 14.10

Linha de

inchamento

es vk vk = es + 1 14.11

Linha de

inchamento

Cs κ κ = Cs / 2,3 14.12

(a) Caso axissimétrico, com σ’2 = σ’3

(b) v = volume específico

Quadro 14.2. Equações nos diagramas s’:t e p’:q

Nome Diagrama

s’:t:e

Diagrama

p’:q:e

Eq

Envoltória de resistência t = s’ tan α q = Mp’ 14.13

LEC e = ecs + Cc log s’ v = Γ + λ ln p’ 14.14

LIC e = ec + Cc log s’ v = N + λ ln p’ 14.15

Linha de inchamento e = es + Cs log s’ v = vk + κ ln p’ 14.16

Inclinação da TTE K = σ’3 / σ’1 η = q / p’ 14.17

Equação da superfície de escoamento

As hipóteses sobre a dissipação de energia durante a deformação plástica levaram (Schofield e Wroth,

Page 355: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

353

1968) à seguinte equação para a superfície de escoamento do modelo Cam-Clay, cuja representação

gráfica consta da figura 14.7a:

)’/’(ln’ m ppMpq =

Eq. 14-86

onde o parâmetro p’m corresponde à pressão isotrópica de pré-adensamento.

Fig. 14.7. Diferentes curvas de escoamento adotadas nos modelos: (a) Cam-Clay e (b) Cam-Clay

Modificado

O modelo Cam-Clay pode ser considerado um importante avanço na simulação teórica do comportamento

de solos, mas, como todo modelo, apresenta deficiências. A análise destas deficiências através de

comparações com resultados experimentais torna possível a introdução de melhoramentos, como fez

Burland (1967), que propôs o modelo denominado Cam-Clay Modificado, cuja superfície de escoamento

tem a forma de uma elipse (figura 14.7b) com a seguinte equação:

0’’’ 2m

222 =+− qppMpM

Eq. 14-87

Rearranjando os termos, obtém-se:

q q

(a) (b)

crcr

p' /2p' / 2.72m

Elástico

p' p'm

Superfície de escoamentoCAM-CLAY

Superfície de escoamentoCAM-CLAYmodificado

K K

p' p'mm

Page 356: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

354

1’

’’ m −=p

ppMq

Eq. 14-88

Deformações

A partir da equação 14.1, é possível relacionar a energia de deformação com os valores dos invariantes de

tensão p’ e q (eg Schofield e Wroth, 1968), através da equação:

vs ’εε pqW +=

Eq. 14-89

onde εs e εv são definidos como deformações cisalhantes e volumétricas, dadas por:

)(32

31s εεε −=

Eq. 14-90

)2( 31v εεε +=

Eq. 14-91

onde ε1 e ε3 são as deformações específicas principais do corpo-de-prova. Os valores de εs e εv podem ser

expressos como a soma dos componentes elástico e plástico, de acordo com a equação 14.3:

ps

ess εεε +=

Eq. 14-92 pv

evv εεε +=

Eq. 14-93

Page 357: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

355

Equações similares são válidas para incrementos de deformação:

sss εεε ddd +=

Eq. 14-94 pv

evv εεε ddd +=

Eq. 14-95

Nos modelos Cam-Clay e Cam-Clay Modificado são feitas hipóteses para as deformações nas fases

elástica e plástica. Na fase elástica, as hipóteses são de:

(a) incremento infinitesimal de deformação volumétrica elástica dεev, calculado a partir da equação da

linha de inchamento (equação 14.16), derivando-a para obter o efeito de uma pequena variação de

p’; daí, vem

’1’e

v pedpd

+=

κε

Eq. 14-96

(b) incremento infinitesimal de deformação cisalhante elástica dεes, obtido pelas equações da lei de

Hooke

Gdqd3

ev =ε

Eq. 14-97

onde G é o módulo cisalhante.

Na fase plástica, as deformações volumétricas são obtidas pelo que se denomina em plasticidade de lei de

endurecimento, que no modelo Cam-Clay é:

Page 358: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

356

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+

+−

=+

=Md

pdp

eeded ηκλε

’’

11

ppv

Eq. 14-98

O cálculo do incremento de deformação plástica cisalhante dεpv é feito a partir do que se denomina em

plasticidade de lei de escoamento, que para o modelo Cam-Clay é:

ηεε

−=

Mdd 1

pv

ps

Eq. 14-99

As equações para o cálculo das deformações plásticas no modelo Cam-Clay Modificado são:

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+

++−

=+

= 22

ppv

2’’

11 ηηηκλε

Md

pdp

eeded

Eq. 14-100

22pv

ps 2

ηη

εε

−=

Mdd

Eq. 14-101

Simulação automática de ensaios triaxiais

Através da simulação teórica pelos modelos de estado crítico e da comparação com resultados de ensaios,

podem ser analisadas as potencialidades desses modelos. Para resolver automaticamente as equações, foi

desenvolvido um programa de computador denominado Cris, que permite traçar os diagramas p’:q:e ou

s’:t:e e, com isto, simular ensaios triaxiais através dos modelos Cam-Clay ou Cam-Clay Modificado. Esse

programa se baseia em um anterior, também desenvolvido na UFRJ (Almeida et al, 1987), denominado

Cam-Clay X.

O programa Cris, distribuído em forma executável para microcomputadores tipo IBM-PC, é fornecido

gratuitamente com este livro. O programa tem objetivo didático, mas pode ser útil também na previsão do

comportamento de ensaios e no estudo de ajustamento de parâmetros. O programa é auto-explicativo e

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

357

interage com o usuário através de menus. As fases de utilização são explicitadas a seguir.

Entrada de dados

O primeiro menu é o da entrada de dados feita pelo teclado. O programa perguntará os valores dos

parâmetros de estado crítico φcr, Cc, Cs, G e ecs. A seleção desses parâmetros é feita através de ensaios,

cujos resultados devem ser aferidos por correlações, como as apresentadas em capítulos anteriores. Para

facilitar o usuário inexperiente, o programa assume alguns valores como default, ou seja, basta selecionar

OK e teclar Enter para o programa assumir automaticamente os valores do quadro 14.3, obtidos de uma

argila mole de alta plasticidade, conforme explicado a seguir.

Quadro 14.3. Dados de entrada do programa Cris

Parâmetro de

estado crítico

Valor

adotado

φ’ 30º

Cc 2

Cs 0,3

G 2.000 kPa

ecs 5

Para uma argila mole de alta plasticidade, o valor de φ’ pode ser estimado pela figura 10.9 em função de

IP. As correlações apresentadas no capítulo 6 permitem avaliar Cc, e o valor de Cs pode ser tomado como

uma fração de Cc da ordem, por exemplo, de 10 a 20%.

O módulo cisalhante G das argilas pode ser avaliado através da relação G/cu, que é aproximadamente

função de IP, como apresentado na figura 14.8. Para IP entre 50 e 100%, pode-se estimar G/cu = 200.

Supondo cu = 10 kPa, obtém-se G = 2.000 kPa.

O valor de ecs pode ser obtido a partir de ensaios triaxiais tipo CIU, extrapolando-se a LEC para um valor

de p’ = 1 kPa. Alternativamente, podem ser empregados ensaios oedométricos.

Definição do ensaio

Nesta fase, o programa Cris pergunta:

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358

(a) o tipo de diagrama desejado, de Cambridge p’:q ou de MIT s’:t; no exemplo adotado, optou-se

pelo segundo;

(b) o valor inicial de p’ ou s’, isto é, o valor correspondente ao início da TTE do ensaio, tendo-se

adotado s’ = 150 kPa;

(c) o valor do OCR, sendo o defaut de 1,33;

(d) as condições de drenagem do ensaio, não-drenado ou drenado, tendo-se optado pelo primeiro;

(e) a inclinação da TTT, tendo-se selecionado uma relação ds/dt = 1;

(f) o incremento de deformação cisalhante dεs a ser aplicado internamente pelo programa a cada passo

de cálculo; o valor selecionado deve ser pequeno, por exemplo, 0,2%;

(g) o tipo de ensaio, de compressão ou de extensão, tendo-se optado pelo primeiro;

(h) o modelo adotado, Cam-Clay ou Cam-Clay Modificado, tendo-se optado pelo segundo.

Fig. 14.8. Relação entre G/cu e IP (Holtz e Kovacs, 1981)

Resultados

Os resultados são apresentados graficamente na tela do vídeo, e os valores numéricos tabelados são

Ensaios de palhetaEnsaios triaxiais ecisalhamento simplesExperiência de campo^

1400

1200

1000

800

600

400

200

0 50 100 150IP (%)

uG /c

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

359

gravados em um arquivo de saída. Quanto ao tipo de gráfico, selecionou-se o comando All (Todos) no

menu apresentado pelo programa, o que resulta no vídeo em um desenho como o mostrado na figura 14.9:

no topo são apresentados, à esquerda, o diagrama s’:t e, à direita, a curva de tensão-deformação t:ε1;

embaixo são apresentados, à esquerda, o valor do parâmetro de poropressão A de Skempton versus

deformação e, à direita, os acréscimos de poropressão versus deformação principal. Esses gráficos podem

ser impressos em seguida, através da função Print Screen do DOS.

Fig. 14.9. Gráficos gerados pelo programa Cris para ensaio não-drenado

Quadro 14.4. Dados de saída do programa Cris para ensaios CIU

------------------inserir programa ------------

Todos os cálculos são tabelados e gravados em um arquivo denominado Cris.out (quadro 14.4). Os

caracteres alfanuméricos são escritos sempre entre aspas, o que permite sua importação por uma planilha

eletrônica tipo Lotus ou Quattro, para processamento adicional e traçado de gráficos com alta resolução.

A figura 14.10 e o quadro 14.5 apresentam resultados referentes à simulação pelo programa de um ensaio

drenado empregando os mesmos parâmetros anteriores.

Fig. 14.10. Gráficos gerados pelo programa Cris para ensaio drenado

Quadro 14.5. Dados de saída do programa Cris para ensaios CID

------------------inserir programa ------------

Exercícios

14.1. Obter os parâmetros de estado crítico para a argila do Rio de Janeiro através dos resultados CIU

apresentados na figura 11.2 e do diagrama e:log p’ da figura 11.18.

Recomenda-se o seguinte procedimento:

(a) extrapolar as curvas de resistência e poropressão (figura 11.2) para uma deformação superior

Page 362: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

360

à alcançada pelo ensaio correspondente ao estado crítico;

(b) selecionar alguns pontos igualmente distribuídos ao longo dessas curvas e obter suas

coordenadas. Digitar esses dados em um programa de planilha eletrônica e plotar as curvas.

(c) ainda através da planilha, plotar o diagrama do MIT e o de Cambridge e obter os valores de

φ’ e G;

(d) a partir da figura 11.18, obter Cc e ecs para a faixa de tensões do ensaio CIU da figura 11.2 (≈

150 kPa) e estimar o valor de Cs.

14.2. Utilizando o programa Cris com os parâmetros obtidos no exercício anterior, simular o ensaio

CIU da figura 11.2 empregando o modelo Cam-Clay Modificado. Comparar os resultados com

dados experimentais e, então, ir alterando no programa o valor de um parâmetro de cada vez,

observando o efeito. Comentar se é ou não possível melhorar a concordância entre a simulação e

os dados experimentais.

14.3. Repetir o exercício anterior para o modelo Cam-Clay original. Houve concordância?

14.4. Use os mesmos parâmetros de estado crítico do exercício 14.1 para simular um ensaio CID em

amostra NA sob uma tensão confinante de 150 kPa.

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

373

SIMBOLOGIA

Observações

(a) Um apóstrofo após um símbolo indica que este se refere a pressões efetivas

(b) O subscrito ‘‘f’’ indica condições finais ou de ruptura

(c) O subscrito ‘‘ff ’’indica condições finais ou de ruptura no plano de ruptura

(d) O subscrito ‘‘cr’’ indica condições de estado crítico

(e) O subscrito ‘‘o’’ indica condições iniciais ou in situ

(f) O prefixo Δ indica uma variação

(g) O prefixo d indica uma variação infinitesimal

Pressões ou tensões

p Tensão média, 3

321 σσσ ++=p

patm Pressão atmosférica

p’m Pressão isotrópica de pré-adensamento

q q = σ1 – σ3

s 2

31 σσ −=s

σ Tensão normal

σ’ Pressão de pré-adensamento

σc Tensão confinante isotrópica

σ’c Tensão efetiva de consolidação

σcel Pressão da água na célula

σ’g Tensão nos contatos reais dos grãos

σh Tensão normal horizontal

σoct, p Tensão normal octaédrica

σv Tensão normal vertical

σ1 Tensão principal maior

σ2 Tensão principal intermediária

σ3 Tensão principal menor

t 2

21 σσ −=t

τ Tensão cisalhante

τoct Tensão cisalhante octaédrica

Page 376: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

374

u Poropressão

Relação entre tensões e deformações

A Parâmetro de poropressão de Skempton

α Parâmetro de poropressão de Henkel

B Parâmetro de poropressão de Skempton, B = Δu/Δσ3

β Parâmetro de poropressão de Henkel

Kcr Linha de estado crítico no diagrama s’:t

Kf K correspondente à ruptura (σ’3/σ’1)max

Ko Coeficiente de empuxo no repouso

LEC Linha de estado crítico

LIC Linha isotrópica de consolidação

OCR Razão de pré-consolidação, OCR = σ’vm/σ’v

SLE Superfície limite de estado

TTE Trajetória de tensões efetivas

TTT Trajetória de tensões totais

Deslocamento e deformação

ε Deformação linear

εe Deformação elástica

εh Deformação horizontal

εp Deformação plástica

εv Deformação vertical

εvol Deformação volumétrica

γ Deformação cisalhante

Parâmetros de tensão-deformação-resistência

a’ Intercepto da envoltória transformada

α’ Inclinação da envoltória transformada

β1 Coeficiente angular da reta do gráfico de Asaoka

c Coesão

cu Resistência não-drenada

cur Resistência amolgada

E Módulo de Young

E’oed ou M Módulo de deformação oedométrico ou módulo de Janbu

Page 377: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

375

φ’ Ângulo de atrito

G Módulo cisalhante

η Inclinação da TTE, η = q/p

ψ Inclinação do dente de serra

K Módulo volumétrico

v Coeficiente de Poisson

qc Resistência de ponta do ensaio do piezocone

St Sensibilidade (cu / cur)

Parâmetros de consolidação

av Módulo de compressibilidade

Cc Coeficiente de compressibilidade

ch Coeficiente de consolidação radial

CR Relação de compressão, CR = Cc / (1 + eo)

Cs Coeficiente de descompressão ou inchamento

cv Coeficiente de adensamento

κ Coeficiente de inchamento, diagrama e:log p’

λ Coeficiente de inclinação virgem, diagrama e:log p’

mv Módulo de variação de volume

ρ Recalque

SR Relação de descompressão ou inchamento, SR = Cs / (1 + eo)

U Grau de adensamento médio

Uz Grau de adensamento localizado

Índices físicos

Dr Densidade relativa das areias

Drc Densidade relativa corrigida

e Índice de vazios

Gs Densidade dos grãos

γ Peso específico aparente úmido

γd Peso específico aparente seco

γsat Peso específico aparente saturado

γsub Peso específico aparente submerso

γw Peso específico aparente da água

n Porosidade

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376

S Grau de saturação

w Umidade

Miscelânea

a Área da seção transversal da amostra

A Parâmetro de regressão exponencial

Ac Atividade das argilas

ag Área total real de contato entre grãos

aw Área total da seção menos ag, aw = 1 – ag

b Parâmetro de regressão exponencial

B Largura

C Coeficiente de Hazen

D Diâmetro

D10 Diâmetro efetivo da areia

F Fator de forma do piezocone

Fp Força de percolação

Rf Relação de atrito, Rf = fs / qc

FS Fator de segurança

fs Atrito lateral

g Aceleração da gravidade

H Altura da camada

ha Carga altimétrica

Hd Caminho de drenagem

hp Carga piezométrica

hi Carga hidráulica total

i Gradiente hidráulico

I Fator de influência

ic Gradiente hidráulico crítico

IL Índice de liquidez

IP Índice de plasticidade

Ir Índice de rigidez, Ir = G / cu

I1, I2, I3 Invariantes de tensão

ψa Potencial altimétrico

ψc Potencial cinético

ψk Potencial térmico

ψm Potencial matricial

ψp Potencial piezométrico

ψt Potencial hidráulico da água no solo

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

377

J1, J2, J3 Invariantes de deformação

k Permeabilidade

L Comprimento

LG Lugar geométrico

LL Limite de liquidez

LP Limite de plasticidade

μ Viscosidade do fluido

N Força normal

NA Normalmente adensada

NA Nível d’água

Nb Fator de influência de Boussinesq

nc Número de canais de fluxo

neq Número de linhas eqüipotenciais

nlf Número de linhas de fluxo

nq Número de quedas de carga

NT Nível térmico

p Carga distribuída

P Peso

PA Pré-adensado

Q Carga concentrada

Q Vazão

r Raio do piezocone

r Afastamento

Re Número de Reynolds

R Raio de um elemento circular de fundação

t Tempo

T Força tangencial

T Torque máximo aplicado

Td Tensor desviatório

Te Tensor esférico

Tv Fator-tempo

v Velocidade de escoamento

v Volume específico

V Volume

vc Velocidade crítica

Vs Volume dos sólidos

Vv Volume de vazios

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378

W Energia ou trabalho de deformação

W Peso

x,y,z Eixos coordenados, onde z é a profundidade

∇ Operador vetorial gradiente

Ângulos

β Ângulo de inclinação com a direção horizontal

ψ Inclinação do dente de serra

θ Ângulo de inclinação com a direção vertical

θr Inclinação do plano de ruptura

Tipos de ensaios

CAU Consolidado anisotropicamente não-drenado

CID Consolidado isotropicamente drenado

CIU Consolidado isotropicamente, não-drenado, com medições de poropressões

CKoD Consolidado anisotropicamente drenado em condições Ko

CKoU Consolidado anisotropicamente não-drenado em condições Ko

CPTU Ensaio de piezocone

EP Ensaio de palheta in situ

SPT Standard penetration test

UU Não-consolidado não-drenado

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

379

UNIDADES SI

Os quadros a seguir relacionam as unidades SI recomendadas para emprego em geotecnia.

Grandeza Símbolo Nome Múltiplos e

submúltiplos usuais

Massa kg Quilograma g, Mg

Força, peso N Newton kN, MN

Pressão ou tensão Pa Pascal (*) kPa, MPa

Massa específica kg/m³ Quilograma por

metro cúbico

Peso específico kN/m³ Quilonewton por

metro cúbico

Densidade Adimensional

Tempo s Segundo min, h

Coeficiente de

adensamento

m²/ano Metro quadrado por

ano

Coeficiente de

permeabilidade

m/s Metro por segundo

(*) 1 Pa = 1 N/m²

Grandeza Certo Errado

Comprimento m, km, μm (*) Km, mts, μ

Massa g, kg, Mg gr, Kg, t, ton

Força, peso N, kN, MN kgf, tf, KN, kn

Pressão ou tensão kPa, MPa, GPa kgf/cm², tf/m², KPa

Massa específica kg/m³, Mg/m³ t/m³

Peso específico kN/m³ kgf/m³, tf/m³

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380

Tempo h, min, s sec, seg

(*) μm = micrometro, ou seja, 10-6 do metro

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

381

NORMAS PARA ENSAIOS GEOTÉCNICOS

Os quadros a seguir relacionam as normas existentes para a realização de ensaios geotécnicos in situ e de

laboratório, estabelecidas pelas seguintes instituições técnicas:

– ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

– ABGE – Associação Brasileira de Geologia de Engenharia

– ASTM – American Society for Testing and Materials

– BS – British Standards Institution

– Cesp – Companhia Energética de São Paulo

– DNER – Departamento Nacional de Estradas de Rodagem

– USBR – United States Bureau of Reclamation

Ensaios in situ

Ensaio ABNT ABGE ASTM BS USBR

Sondagem e percussão

(SPT)

NBR6484 — D4633 — E21

Identificação e descrição

de amostras obtidas em

sondagens

NBR7250 — — — —

Palheta in situ (VST) NBR10905 — D2573 1377 E20

Permeabilidade em furo de

sondagem

Bol 4 — — E18

Em cavas — Bol 4 — — —

Page 384: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

382

Ensaios de laboratório

Ensaio ABNT ASTM BS CESP DNER USBR

Cisalhamento

direto CD (a)

— — — — — —

Adensamento MB3326 D2435 1377 — TE05-71 E17

Triaxial UU — D2850 1377 — — E17

Triaxial CIU (b) — — — — — E17

Triaxial CID (b) — — — — — —

Permeabilidade

Constante — D2434 — MSL09 — —

Variável — — — MSL09 — —

Umidade — D2216 1377 MSL01 — E9

LL NBR6459 D423 1377 MSL04 ME44-71 E7

LP NBR7180 D424 1377 MSL04 ME82-63 E7

Gs NBR6508 D854 1377 MSL03 ME93-64 E10

Granulometria NBR7181 D422 1377 MSL05 E18 E6

Massa específica

de areias

NBR3324 D2049 1377 MSL11 ME93-64 E12

Segundo recomendações de:

(a) USCE (1970). Laboratory soils testing. Engineer Manual EM 1110-2-1906. United States Corps of

Engineers, Washington.

(b) Head, K.A. (1986). Manual of soil laboratory testing. Pentech Press, London, vol. 1 a 3.

Page 385: 2007 Ortigao J a R Mecanica Dos Solos Dos Estados Criticos 3a Ed

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383

RESPOSTAS AOS EXERCÍCIOS

Capítulo 1

1.1. w = 32%; e = 0,85; γd = 14,3 kN/m³; γsat = 18,9 kN/m³; γsub = 8,9 kN/m³.

1.2. w = 32%; e = 1,6; γd = 19,2 kN/m³; γsat = 25,4 kN/m³; γsub = 15,4 kN/m³.

1.3. γd = 18 kN/m³; γsub = 11,3 kN/m³.

1.4. e = 0,66.

1.5. γd = 14,6 kN/m³; e = 0,84.

Capítulo 2

2.8. σθ = 136 kPa; τθ = 145 kPa; σ1 = 260 kPa em um plano que faz 10º com a horizontal; σ3 = –37 kPa

em um plano que faz 10º com a vertical; τmax = 147 kPa em um plano que faz 55º com a vertical.

2.9. σθ = 137 kPa; τθ = 145 kPa; σ1 = 260 kPa em um plano que faz 20º com a horizontal; σ3 = –37 kPa

em um plano que faz 20º com a vertical; τmax = 147 kPa em um plano que faz 25º com a vertical.

2.10. γmax = 15%.

Capítulo 4

4.6. Ponto (0,0) = 560 kPa; ponto (0,15) = 490 kPa; ponto (6,0) = 528 kPa; ponto (10,25) = 416 kPa.

Capítulo 5

5.4. ua = 266 kPa, ub = 236 kPa, uc = 266 kPa, ud = 206 kPa; Q1 = 1,6 × 10-5 m³/s/m; i = 0,24.

5.6. Q1 = 1,125 × 10-6 m³/s/m; up = 85,2 kPa.

5.7. Q1 = 5,33 × 10-5 m³/s/m.

5.8. NA1, σv = 66 kPa, uo = 20 kPa, σ’v = 46 kPa; NA2, σv = 89 kPa, uo = 55 kPa, σ’v = 34 kPa; v =

1,75 × 10-7 m/s.

5.9. Fp = 5 kN.

5.10. Fp = 0,1 kN.

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384

Capítulo 6

6.5. σ’vm = 251 kPa; Cc = 0,21; Cs = 0,05; CR = 11%; SR = 2,5%; p = 0,41 m.

6.6. ρtotal = 1,86 m.

Capítulo 7

7.5. Centro da camada, Uz = 23%; para z/h = 0,25, Uz = 45%; para z/h = 0,75, Uz = 45%; U = 52%.

7.6. ρ = 0,52 m; ρ = 0,85 m.

7.7. Centro da camada, Uz = 45%; para z/h = 0,25, Uz = 70%; para z/h = 0,75, Uz = 28%; U = 52%; ρ =

0,52 m; ρ = 0,85 m.

7.8. Pelo método log t, cv = 1,5 m²/ano, pelo método √ t, cv = 2,3 m²/ano; com cv = 1,5 m²/ano, k = 1,4

× 10-9 m/s, com cv = 2,30 m²/ano, k = 2,2 × 10-9 m/s.

7.9. ρtotal = 2,66 m.

7.10. ρtotal = 1,12 m; supondo Δt = 15 dias e Hd = 4,5 m, tem-se cv = 4,3 m²/ano.

7.11. k = 4,10 × 10-10 m/s.

Capítulo 9

9.3. φ’ = 19,3º.

9.4. φ’ = 38,2º.

9.5. Para CP1, Eo = 27 MPa, E50% = 15 MPa, e para CP2, Eo = 285 MPa, E50% = 172 MPa; para CP1, vo

= 0,5, v50% = 0,57 e para CP2, vo = 0,85, v50% = 0,48; para CP1, φrut = 44,9º, φerit = 37,9º, e para

CP2, φrut = 36,9º, φerit = 36,5º; CP1 é uma areia densa e CP2, uma areia fofa.

9.6. Barra da Tijuca, φ’ entre 30º e 35º; Santos, φ’ entre 35º e 38º.

9.7. (a) φ’ entre 30º e 32º; (b) φ’ entre 27º e 30º; (c) φ’ entre 33º e 35º.

9.8. 0-500 kPa, φ’ = 42º; 1000-1500 kPa, φ’ = 45º; 3-6 MPa, φ’ = 37,5º; 0-6 MPa, φ’ = 38,7º.

Capítulo 10

10.5. Kenney, φ’ = 21,3º; Mayne, φ’ = 22,5º.

Capítulo 11

11.5. φ’erit = 33,7º, φ’rut = 22,6º; Aerit = 1,04, Arut = 0,73; αerit = 0,28, αrut = 0,50; Eu = 10.750 kPa, vu =

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Mec Solos dos Estados Críticos J A R Ortigão

385

0,50.

11.6. α = 0.

11.7. φ’ = 33,7º; φ’rut = 19,5º; φ’erit = 34,8º; Aerit = 1; αerit = 0,5.

Capítulo 12

12.4. cu = 7,5 kPa.

12.7. (a) UU; (b) CD; (c) cisalhamento torsional CD ou cisalhamento direto com reversões múltiplas

CD; (d) UU; (e) CD; (f) UU.

Capítulo 13

13.2. (a) e = 5,5 – 0,02 log s’; (b) compressão axial e = 2,23, extensão axial e = 2,23, compressão lateral

e = 2,93, extensão lateral e = 2,93; (c) compressão axial Δu = 127 kPa, extensão axial Δu = 127

kPa, compressão lateral Δu = 70 kPa, extensão lateral Δu = 70 kPa; (d) compressão axial e = 2,36,

extensão axial e = 3,06, compressão lateral e = 2,09, extensão lateral e = 2,78; (e) compressão

axial s’ = 130 kPa, extensão axial s’ = 45 kPa, compressão lateral s’ = 280 kPa, extensão lateral s’

= 95 kPa.

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Obras do autor

Ortigao J A R (1995) Soil Mechanics in the Light of Critical State Theories Balkema, Rotterdam, 315Hwww.balkema.nl, 300 p.

Este livro apresenta uma introdução à mecânica dos solos sob a ótica das

teorias de estado crítico. É uma versão atualizada do livro texto publicado

i l ê 1993 d i d

GeoRio (1999) Manual Técnico de Encostas, Rio de Janeiro, [email protected] Trata-se de um manual de estabilização de taludes e encostas em quatro

volumes organizado e editado por J A R Ortigão (ex-professor UFRJ) e A S

F J Sayão (PUC RJ). Colaboraram vários especialistas geotécnicos. A obra

se tornou a norma técnica para obras de taludes na cidade do Rio de Janeiro.

O manual abrange a geologia e geotecnia do Rio, estabilidade de taludes em

Ortigao J A R & Sayao A S F J (2004) Handbook of Slope Stabilisation, Springer Verlag, Heidelberg, 478 p., 317Hwww.springeronline.com Este é um manual prático dedicado a engenheiros e geólogos de engenharia para projetos e obras de estabilização de taludes. O texto é dividido em 16 capítulos dedicados à geologia e geotecnia de taludes e trazendo a grande experiência de diversos autores em mais de dez países nas Américas e sul da Ásia. O texto cobre: geologia, classificação dos deslizamentos, investigações, estabilidade de taludes em rochas e solos e técnicas de

t bili ã i t t ã té i d t l d

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Engenharia geotécnica e estrutural

A Terratek traz mais de trinta anos de experiência em engenharia geotécnica e estrutural com projetos em diversos países, oferecendo soluções e tecnologia de ponta nos serviços de:

Instrumentação geotécnica Instrumentação dinâmica estrutural Ensaios in situ Ensaios geofísicos Estudos de rejeitos de mineração

Terratek Av Érico Veríssimo 901 / 302 22621-180 Rio de Janeiro, RJ tel 21 2486 3386 [email protected] No Brasil: Rio de Janeiro Belo Horizonte, Em outros países: Caracas, Venezuela Lima, Peru Kuala Lumpur, Malásia

Experiência A Terratek tem experiência comprovada em projetos de larga escala nos setores de mineração, siderurgia, transportes, energia e construção civil em todos países da América do Sul e Sudeste Asiático, como Hong Kong e Malásia.

Seus maiores clientes incluem: Kinross, RPM Mineração, AngloGold, CVRD, Gerdau, Andrade Gutierrez, Southern Peru Copper Corp, , IEI International Engineering (Malaysia).

Tecnologia A Terratek oferece tecnologia de ponta em instrumentação, geotécnica e estrutural, sendo a única no mercado com um sistema de verificação de integridade estrutural através de vibrações naturais. Foi a primeira no Brasil a executar CPT sísmico e um aterro experimental instrumentado sobre rejeito de ouro.

Equipe

Visi e nosso website: t www.terratek.com.br

A Terratek conta com equipe de consultores em várias especialidades de engenharia, liderados por Alberto Ortigão, PhD em engenharia geotécnica, com 35 anos de experiência internacional em estudos, pesquisas e obras na América Latina, Europa e Ásia. Autor de livros-texto e manuais, utilizados como referência em vários países, conforme lista anexa.

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Serviços

Instrumentação geotécnica: A Terratek atua em todas as fases do projeto de instrumentação, desde a concepção do monitoramento, seleção de instrumentos, instalação e análise de resultados. A Terratek fornece e instala:

Piezômetros elétricos de corda vibrante, Inclinômetros, Medidores de recalque Sistemas automáticos de aquisição de dados

Instrumentação dinâmica estrutural: consiste em uma “prova de carga dinâmica” 3D em uma estrutura através da medição de vibrações naturais, sem forçar. As medições atendem à norma ABNT NBR 15307. Aplicação a pontes, cais, dolfins, barragens, torres, fundações. Mais informações em folheto específico.

Ensaios geotécnicos in situ: Programas completos de investigação, desde o planejamento até a análise e interpretação de resultados. Realizamos os seguintes ensaios:

CPTUS, piezocone sísmico, VST, palheta ou vane shear tests, PMT pressiômetro Ménard DMT, dilatômetro Marchetti;

Ensaios sísmicos e geofísicos: Ensaios downhole, sísmica de refração e eletro-resistividade, Medição de vibrações em solos e fundações

Rejeitos de mineração: A Terratek elabora estudos e pesquisas sobre propriedades de rejeitos de mineração e comportamento de barragens e diques de contenção de rejeitos. Realizamos estudos especiais sobre liquefação estática e dinâmica de rejeitos empregando técnicas mais avançadas.

Software: a Terratek distribui os programas Plaxis 2D e 3D de elementos finitos e o software estrutural da Microstran

Instalação de inclinômetros permanentes

Piezômetro elétrico de

corda vibrante com sensor encapsulado a vácuo

Caminhão para CPTU

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Projetos e obras A Terratek já instrumentou um grande número de obras com piezômetros, inclinômetros, perfilômetros e diversos outros instrumentos. Executamos serviços e estudos geotécnicos em todos países da América do Sul e Central, em particular Venezuela e Peru, bem como Hong Kong e Malásia.

Aterro experimental instrumentado sobre rejeito de ouro, com piezômetros, inclinômetros e perfilômetro

Ensaios de refração sísmica e downhole

Instrumentação

Barragem Morro do Ouro,

Paracatu, MG, com 70 m de

altura e 4 km de extensão

Instrumentação Túnel Cerrillos, Bolívia, com 800 m de comprimento em solo

Instrumentação Barragem de Pirapama com piezômetros

Instrumentação pilhas de minério, Porto de Sepetiba, com perfilômetros e inclinômetros