2009 Mara Lessa - SUSTENTABILIDADE PARA ELEMENTOS CONSTRUTIVOS
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITCNICA DA UFBA
MEAU MESTRADO EM ENGENHARIA AMBIENTAL E URBANA
MARA LVIA SANTOS LESSA
CRITRIOS DE SUSTENTABILIDADE PARA
ELEMENTOS CONSTRUTIVOS UM ESTUDO SOBRE TELHAS ECOLGICAS EMPREGADAS
NA CONSTRUO CIVIL
Salvador - Bahia
2009
-
MARA LVIA SANTOS LESSA
CRITRIOS DE SUSTENTABILIDADE PARA
ELEMENTOS CONSTRUTIVOS UM ESTUDO SOBRE TELHAS ECOLGICAS EMPREGADAS
NA CONSTRUO CIVIL
Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado em Engenharia Ambiental Urbana da Escola Politcnica da Universidade
Federal da Bahia, como requisito para obteno do grau de
Mestre.
Orientadora: Prof. Dr. Rita Dione Arajo Cunha
Salvador - Bahia
2009
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Aos
Meus filhos, Andr e Natlia e meu marido, Andr: minhas bssolas.
-
AGRADECIMENTOS
A cada desafio vencido na minha vida paro para refletir sobre como tudo aconteceu. E sempre
chego incrvel concluso que a vitria no de um, mas de muitos. Muitos que esto por
trs das pequenas batalhas que terminam naquela grande vitria. E neste momento,
relembrando o meu caminho durante esta pesquisa que comeo a enumerar os tantos a quem
devo agradecer.
Em primeiro lugar e antes de tudo a DEUS, por me permitir a graa de ter ao meu lado, nesta
jornada pela vida terrena, tantas pessoas to especiais.
Aos meus filhos muito amados, Deco e Nat, por despertarem em mim o desejo incessante de
ser uma pessoa melhor a cada dia e trazerem alegria e luz para minha vida.
Ao meu amado Andr, companheiro e cmplice de cada momento, por seu amor, carinho e
por ser quem ele .
Aos meus pais, Antonio Carlos e Neusa, incio de tudo, pelo amor, incentivo e por acreditar
incondicionalmente em mim.
A minha irm, grande amiga e confidente, Roberta, pelo amor e apoio em todas as horas,
suprindo minhas ausncias com aqueles a quem tanto amo e a minha irm Rosa, pelas risadas
nos almoos de domingo.
A minha tia Marlene, por estar sempre presente em nossas vidas, torcendo por ns.
Aos meus amigos queridos, pessoas to presentes na minha vida, pelos convites ao
relaxamento nas horas de maior estresse.
Aos colegas do MEAU, pelas trocas de conhecimento e risos em sala de aula.
A minha orientadora, Prof. Dr. Rita Dione Araujo Cunha, por ter me acolhido em hora
decisiva do meu mestrado e pela amizade e cooperao durante todo esse perodo.
Aos professores do MEAU, em particular ao Prof. Dr. Roberto Jorge Cmara Cardoso, por
sua grandiosa contribuio neste trabalho.
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As fbricas e instituies visitadas, Eternit S.A, Simonassi Nordeste, Tecolit Indstria de
Telhas Ecolgicas Ltda, CM. Venturoli Cruzetas e Madeiras Venturoli Ltda., e IDHEA
Instituto para o Desenvolvimento da Habitao Ecolgica, por abrirem suas portas,
fornecendo dados para o enriquecimento desta pesquisa.
E, finalmente, a todos aqueles que contriburam direta ou indiretamente na execuo deste
trabalho, meu sincero agradecimento.
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A terra possui recursos suficientes para prover s necessidades de todos,
mas no avidez de alguns.
Mahatma Gandhi
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RESUMO
Com o despertar do mundo para o desenvolvimento sustentvel, surgiu uma preocupao com
o crescente consumo de recursos naturais, bem como para com a quantidade de resduos que
retorna para o meio ambiente. A construo civil um dos setores da economia que mais
consomem recursos minerais, portanto carente de materiais mais ecolgicos, ou seja, que
causem menos impactos ao meio ambiente. Algumas iniciativas j esto sendo observadas
neste sentido, como o caso das telhas ecolgicas comercializadas no mercado brasileiro.
Entretanto, no h um padro balizador para atestar se essas telhas realmente atendem aos
requisitos de sustentabilidade ou se esto apenas se utilizando do marketing verde como uma
estratgia de mercado. Esta pesquisa tem como objetivo estabelecer alguns parmetros para o
design de telhas que sejam sustentveis, considerando os aspectos ambientais, tcnicos,
econmicos e sociais. Foi desenvolvida atravs da anlise crtica e comparativa de trs telhas
denominadas de ecolgicas por seus fabricantes, tendo como matria-prima materiais
reciclados e/ou renovveis a produzida com resduo de papel, a produzida com resduo de
polietileno e alumnio e a produzida com madeira proveniente de rea de manejo florestal - e
de duas telhas convencionais, a de fibrocimento e a cermica, todas produzidas e
comercializadas no Brasil. Para chegar a um modelo de telha ecolgica efetivamente
sustentvel foram utilizadas tcnicas de design para novos produtos.
Palavras-chave: sustentabilidade; telha ecolgica; reciclagem; design sustentvel.
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ABSTRACT
With the awakening of the world to sustainable development, there came as a result the worry
with the increasing consumption of natural resources and with the amount of residues that
goes back to the environment. Civil construction is one of the sectors of the economy that
mostly consumes mineral resources and as such it lacks more ecological materials, that is,
materials that can cause less impact on the environment. Some initiatives have already been
taken like the use of ecological tiles that are being commercialized in the Brazilian market.
However, there is no pattern to evaluate if these tiles meet the requirements of sustainability
or if people are just using the green marketing as a business strategy. This research aims at
establishing some parameters for the design of tiles that are sustainable, taking into account
technical, economic and social environmental aspects. It was developed through the critical
and comparative analysis of three kinds of tiles called ecological by their manufacturers and
having as raw material recycled and/or renewable materials the one produced with paper
residue, the one produced with polyethylene and aluminum, and the one produced with wood
from forestall maneuver area. They were compared with two conventional tiles, the one made
of fiber cement and the one made of ceramic, all of them produced and commercialized in
Brazil. To arrive at a model of ecological tile that may be effectively sustainable, techniques
of design for new products were used.
Key-words: sustainability; ecological tile; recycling; sustainable design.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 01 - Evoluo da explorao da mina de Cana Brava no Brasil .......................... 42
Figura 02 - Pedra de amianto crisotila ............................................................................. 51
Figura 03 - Bloco de 50 Kg de amianto compactado e embalado ................................... 53
Figura 04 - Desenho Esquemtico do Processo Produtivo da Telha de Fibrocimento ... 56
Figura 05 Silo de Argila ............................................................................................... 62
Figura 06a - Triturador de Argila ...................................................................................... 63
Figura 06b - Triturador de Argila ...................................................................................... 63
Figura 07 - Extrusora ...................................................................................................... 63
Figura 08 - Prensa ............................................................................................................ 63
Figura 09 - Secadores de telhas ....................................................................................... 64
Figura 10 - Telha Ecolgica Produzida com Resduo de Papel ...................................... 67
Figura 11 - Silos de papel da para fabricao da telha ecolgica com resduo de papel ..............................................................................................................
73
Figura 12a - Misturador de papel reciclado ...................................................................... 74
Figura 12b - Misturador de papel reciclado em servio .................................................... 74
Figura 13 - Formao da manta fibro-vegetal ................................................................. 74
Figura 14 - Mquina de moldagem e corte ...................................................................... 75
Figura 15 - Telhas em estrado para secagem ao ar livre ................................................. 75
Figura 16 - Tanque para banho de betume ...................................................................... 76
Figura 17 - Telha Tubo .................................................................................................... 78
Figura 18 - Matria-prima da Telha Tubo ....................................................................... 79
Figura 19 - Distribuio em Aplicaes de PEBD .......................................................... 81
Figura 20a - Embalagem de creme dental em triturador ................................................... 82
Figura 20b - Embalagem de creme dental em triturador ................................................... 82
Figura 21a - Polietileno triturado - sada para bandeja ..................................................... 82
Figura 21b - Polietileno triturado espalhado manualmente na bandeja ............................ 82
Figura 22a - Prensa aquecida 180C .............................................................................. 83
-
Figura 22b - Prensa aquecida 180C .............................................................................. 83
Figura 23a - Forma de ondulao da telha ........................................................................ 83
Figura 23b - Forma de ondulao da telha ........................................................................ 83
Figura 24a - Mquina de corte .......................................................................................... 84
Figura 24b - Mquina de corte ......................................................................................... 84
Figura 25 - Telha Taubilha na cobertura de quiosque .................................................... 86
Figura 26 - Recipientes de CCA .................................................................................... 90
Figura 27 - Telhado sendo preparado com manta de alumnio para receber telha Taubilha ........................................................................................................
91
Figura 28 - Medidor digital de densidade da madeira ..................................................... 92
Figura 29 - Plaina Mecnica ............................................................................................ 93
Figura 30 - Mquina de Corte da Telha ........................................................................... 93
Figura 31 - Mquina de corte do desenho da telha .......................................................... 93
Figura 32 - Telhas taubilha empilhadas em paletes ......................................................... 94
Figura 33 - Cilindro autoclave para impregnao de CCA Vistas frontal e lateral ...... 95
Figura 34 - Funcionrio recebendo a madeira impregnada de CCA na sada do cilindro
autoclave .......................................................................................................
96
-
LISTA DE QUADROS
Quadro 01
- Cronologia de eventos mundiais em prol da preservao ambiental ............ 29
Quadro 02
- Estratgia de ecodesign ................................................................................. 38
Quadro 03
- Anlise da tarefa .......................................................................................... 101
Quadro 04
- Classificao das funes do material telha ................................................. 104
Quadro 05
-
Carga mnima de ruptura flexo por metro de largura da telha de
fibrocimento sem amianto, de acordo com categoria e
classe............................................................................................................... 106
Quadro 06 -
Classificao do material de acordo com o ndice de propagao
superficial de chama ..................................................................................... 110
Quadro 07
- Requisitos ambientais baseado no ciclo de vida do material .............. 113
Quadro 08
- Parmetros para telha ecolgica referencial ................................................. 125
Quadro 09
- Caractersticas das telhas ............................................................................. 128
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LISTA DE TABELAS
Tabela 01 - Produo Mundial de Amianto ..................................................................... 52
Tabela 02 - Consumo mundial de amianto ...................................................................... 52
Tabela 03 - Progresso da reciclagem do papel ondulado no Brasil ............................... 68
Tabela 04 - Reciclagem de Papel/Papelo no mundo ..................................................... 69
Tabela 05 - Preo do papel reciclado em algumas cidades brasileiras ............................ 70
Tabela 06 - Propriedades do PEBD ................................................................................. 80
Tabela 07 - Propriedades da madeira Pinus Taeda na fase adulta e juvenil do lenho ..... 87
Tabela 08 - Formulao dos diversos tipos de CCA ....................................................... 89
Tabela 09 - Tempo de fixao primria do CCA na madeira aps aplicao ................. 97
Tabela 10 - Carga de ruptura flexo mnima admissvel para telha de fibrocimento
com amianto..................................................................................................
106
Tabela 11 - Capacidade de atendimento da demanda de mercado das telhas ................. 121
-
SUMRIO
1. INTRODUO .............................................................................................. 16
1.1. Problema e Hiptese ........................................................................................ 17
1.2. Objetivos ......................................................................................................... 18
1.2.1 Objetivo Geral .................................................................................................. 18
1.2.2 Objetivos Especficos ....................................................................................... 19
1.3. Justificativa da Pesquisa ................................................................................... 20
1.4. Metodologia Empregada na Pesquisa ............................................................... 23
1.5 Limite da Pesquisa ............................................................................................ 25
2. A INDSTRIA E O MEIO AMBIENTE ..................................................... 26
2.1. Sustentabilidade ................................................................................................ 27
2.1.1 Sustentabilidade e a Indstria da Construo Civil .......................................... 30
2.2. Ecologia Industrial ............................................................................................ 32
2.3. Ecoeficincia ..................................................................................................... 34
2.4 Design do Produto ............................................................................................ 36
2.4.1 Design Sustentvel ............................................................................................ 37
2.5 As Telhas como Elementos Construtivos ......................................................... 39
2.6 A Minerao e seus Efeitos no Meio Ambiente ............................................... 43
3. TELHAS CONVENCIONAIS ....................................................................... 48
3.1 A Telha de Fibrocimento .................................................................................. 48
3.1.1 Caracterizao da Matria-prima da Telha de Fibrocimento ....... .................... 49
3.1.1.1 O Cimento ......................................................................................................... 49
3.1.1.2 O Calcrio ......................................................................................................... 49
3.1.1.3 A Celulose ......................................................................................................... 50
3.1.1.4 O Amianto Crisotila .......................................................................................... 50
3.1.1.5 A Lama de Cal .................................................................................................. 54
3.1.2 O Processo Produtivo da Telha de Fibrocimento ............................................. 54
3.1.3 Propriedades da Telha de Fibrocimento ........................................................... 58
3.2 A Telha Cermica ............................................................................................. 59
3.2.1 Caracterizao da Matria-prima da Telha Cermica ....................................... 59
3.2.1.1 A Argila ............................................................................................................ 60
3.2.2 Processo Produtivo da Telha Cermica ............................................................ 62
3.2.3 Propriedades da Telha Cermica ...................................................................... 64
4. AS TELHAS ECOLGICAS ........................................................................ 66
4.1 Telha Ecolgica Produzida com Papel Reciclado ............................................ 67
-
4.1.1 Caracterizao da Matria-prima da Telha Produzida com Papel Reciclado.... 68
4.1.1.1 O Resduo de Papel ........................................................................................... 68
4.1.1.2 A Emulso Asfltica Betume ......................................................................... 71
4.1.2 O Processo Produtivo da Telha Produzida com Papel Reciclado ..................... 72
4.1.3 Propriedades da Telha Produzida com Papel Reciclado ................................... 77
4.2 A Telha Tubo .................................................................................................... 78
4.2.1 Caracterizao da Matria-prima da Telha Tubo............................................... 78
4.2.1.1 A embalagem de Creme Dental ........................................................................ 79
4.2.2 O Processo Produtivo da Telha Tubo ............................................................... 81
4.2.3 Propriedades da Telha Tubo ............................................................................. 84
4.3. A Telha Taubilha .............................................................................................. 85
4.3.1 Caracterizao da Matria-prima da Telha Taubilha ........................................ 87
4.3.1.1 A Madeira Pinus ............................................................................................... 87
4.3.1.2 O CCA Arseniato de Cobre Cromatado ........................................................ 88
4.3.1.3 A Manta de Impermeabilizao ........................................................................ 90
4.3.2 Processo Produtivo da Telha Taubilha ............................................................. 91
4.3.3 Propriedades da Telha Taubilha ....................................................................... 97
5. GERAO DO CONCEITO DA TELHA ECOLGICA
REFERENCIAL .............................................................................................
99
5.1 Anlise da Tarefa .............................................................................................. 100
5.2 Anlise da Funo ............................................................................................. 102
5.3 Seleo dos Conceitos da Telha Ecolgica Referencial .................................. 104
5.3.1 Os Aspectos Tcnicos ....................................................................................... 104
5.3.2 Os Aspectos Ambientais ................................................................................... 112
5.3.3 Os Aspectos Econmicos .................................................................................. 119
5.3.4 Os Aspectos Sociais .......................................................................................... 122
5.3.5 Convergncias dos Conceitos ........................................................................... 123
6 CONSIDERAES FINAIS ......................................................................... 131
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .......................................................... 138
APNDICE A Tipos e Propriedades da Telha de Fibrocimento ............ 144
ANEXO A Ensaios Laboratoriais da Telha de Papel ............................... 146
ANEXO B Ensaios Laboratoriais da Telha Tubo ..................................... 150
-
17
1. INTRODUO
Com o crescimento populacional e, consequentemente, com o aumento constante
do consumo de materiais, h uma preocupao mundial relativa ao uso dos recursos naturais,
bem como com a destinao de resduos provenientes do processo de produo, transporte e
utilizao desses materiais e, ainda, os provenientes do seu descarte, no final da sua vida til.
Os recursos naturais do ecossistema terrestre so finitos e a rea do planeta tambm, o que
leva a temer que haja escassez de alimentos e materiais, bem como de rea destinada
disposio de resduos. Urge a tomada de medidas preventivas para a eliminao ou
minimizao desse problema. Portanto, um novo produto que tenha como matria-prima
material reciclado e tenha desempenho satisfatrio em servio deve ser bem vindo
sociedade, a fim de que se possa manter o seu desenvolvimento sustentvel.
A Comisso de Brundtland, em 1987, definiu desenvolvimento sustentvel como
aquele que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de satisfao
das necessidades das futuras geraes. Para que se consiga direcionar e manter um
desenvolvimento sustentvel do planeta, mister se faz a busca de solues ecoeficientes. A
ecoeficincia consiste em produzir mais, utilizando menos recursos naturais, a partir de
processos produtivos economicamente mais eficientes (FURTADO, 2001). Ela alcanada
por meio da produo materiais e componentes que satisfaam as necessidades humanas e que
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18
contribuam para a melhoria da qualidade de vida, sem impactar o meio ambiente (FLORIM e
QUELHAS, 2004).
1.1. Problema e Hiptese
Atualmente h uma preocupao crescente com as questes ambientais,
principalmente com o despertar da populao mundial aps a publicao do Relatrio da
Comisso Mundial de Ambiente e Desenvolvimento (1987) e da Agenda 21, elaborada pelo
Ministrio do meio Ambiente (1992), fruto da conferncia ECO-92, ocorrida no Rio de
Janeiro. A demanda por produtos que satisfaam as necessidades de consumo e no afetem o
planeta, resultado de uma conscincia de preservao do meio ambiente, leva as empresas,
dentro do mercado competitivo, a auto chancelar sua mercadoria como produto ecolgico
ou produto verde, baseando-se em critrios estabelecidos por elas prprias.
O marketing de diferenciao de produtos enfatiza uma caracterstica benfica
existente nele, para que seja percebida pelos consumidores e os motive a optar pelo consumo
do mesmo (GONZAGA, 2005). Com a demanda por produtos mais ecolgicos, surge uma
nova faceta do marketing de diferenciao: o ecomarketing. Este enfatiza como diferencial
competitivo, os benefcios ambientais proporcionados pelo produto. Hoje o ecomarketing
uma ferramenta comercial muito usada no mercado que traz consigo a denominao de
produto verde ou produto ecolgico. Entretanto, essas denominaes no so dadas por
um organismo certificador credenciado para tal fim e sim pelas prprias empresas.
Analisando esse cenrio, emergem algumas questes:
Como comprovar a veracidade dos benefcios ambientais nos produtos
ecolgicos, to difundidos pelos seus fabricantes, antes do uso?
Quais os critrios adotados pelos fabricantes para certificarem seus produtos
com a chancela verde ou ecolgica?
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19
Como identificar se um produto mais ecolgico que outro produto com a
mesma denominao ou que um produto convencional?
Na verdade, a busca tem que ser por produtos sustentveis, ou seja, produtos que
no causem impactos ao meio ambiente nas diversas fases no seu ciclo de vida, mas que
tambm sejam viveis tcnica, social e economicamente. Dentre muitos produtos
denominados ecolgicos encontram-se telhas que utilizem estratgias de eco-marketing para
impulsionar sua difuso e aplicao. Deste modo, o problema pode ser sintetizado na
seguinte questo:
Diante da demanda por produtos sustentveis, as telhas ecolgicas
existentes no mercado brasileiro esto atendendo aos requisitos de
sustentabilidade ou esto apenas utilizando-se da estratgia de eco marketing,
a fim de obterem vantagens competitivas, sem maiores preocupaes com a
ecoeficincia e a sustentabilidade aplicadas construo civil?
Parte-se da hiptese de que aplicando uma metodologia de design de produto para
telhas, a partir da anlise das telhas ecolgicas existentes no mercado brasileiro, possvel
chegar a um conceito mais preciso de telhas ecolgicas e sustentveis.
1.2. Objetivos
1.2.1. Objetivo geral
A presente pesquisa tem como objetivo geral a elaborao de critrios para
avaliao de telhas como material de construo sustentvel, atravs de uma anlise crtica e
comparativa de trs telhas denominadas ecolgicas, comercializadas no Brasil e produzidas a
partir de diferentes materiais reciclados e/ou renovveis e de diferentes processos produtivos,
focando os aspectos ambientais, tcnicos, econmicos e sociais.
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20
1.2.2 - Objetivos especficos
Os objetivos especficos desta pesquisa so os descritos a seguir:
Contextualizar as telhas como elementos construtivos sob o ponto de vista
histrico da construo civil e dos conceitos de ecologia, sustentabilidade,
ecologia industrial, ecoeficincia produtiva e design sustentvel.
Levantar os processos produtivos, as caractersticas tcnicas e o
comportamento no mercado dos seguintes produtos:
a. trs telhas ecolgicas: a telha produzida com resduo de papel; a
produzida com resduo de embalagem de creme dental, denominada de
telha-tubo; e a telha de madeira, denominada Taubilha, produzida com
madeira Pinus reflorestada.
b. de duas telhas convencionais j consolidadas no mercado como material
de construo: a telha cermica e a telha de fibrocimento
Estabelecer um conceito referencial de telha ecolgica, utilizando um mtodo
de projeto do produto baseado em tcnicas de design de novos produtos e da
anlise de normas tcnicas nacionais e internacionais, aspectos ambientais,
tcnicos, econmicos e sociais, que sirva de parmetro para anlise das trs
telhas selecionadas.
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21
1.3. Justificativa da Pesquisa
A construo do ambiente urbano tem sido, em geral, executada com padres de
produo baseados em elevado consumo de recursos minerais, alto consumo de energia e
gerao de grande volume de resduo. De acordo com Sjstrm (1996) apud John (2007), a
indstria da construo civil uma das maiores consumidoras de matrias-primas naturais,
sendo este consumo estimado entre 20 e 50% do total de recursos naturais consumidos pela
sociedade, no podendo ser subestimado esse impacto na demanda ambiental. Logo, a
engenharia de materiais demanda estudos em busca de produtos que:
Reduzam o uso de recursos no renovveis;
Reduzam o consumo de energia, tanto no seu processo produtivo, como na
sua vida til;
Minimizem a gerao de resduos, permitindo a reutilizao ou reciclagem
dos possveis resduos gerados no processo de produo e no seu descarte, ao
final do seu ciclo de vida;
Tenham uma vida til prolongada, de modo a conter o consumo;
No agridam o meio ambiente e a sade humana durante o processo de
produo e uso.
Considerando que o produto ainda tem que atender requisitos tcnicos para uso,
requisitos estticos e ser vivel financeiramente, a combinao de todas essas premissas
redunda em uma busca no muito fcil, porm possvel. Segundo Silva (2002), a indstria da
construo civil, pela sua ampla distribuio geogrfica e pelo volume de materiais
consumidos, apresenta-se como uma boa alternativa para absoro dos resduos agro-
industriais, gerados em outros setores produtivos.
Na anlise das solues para as coberturas das edificaes, percebe-se que o setor
da construo civil faz largo uso da telha de fibrocimento, principalmente nas construes de
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22
baixo custo, cuja composio integra fibra de amianto (asbesto), muito prejudicial sade
humana e ao meio ambiente e da telha cermica, produzida a partir da queima da argila. O
amianto um material comprovadamente cancergeno e h uma tendncia mundial para o
banimento total do uso desse produto. O Brasil o terceiro produtor mundial de amianto,
ficando atrs apenas da Rssia e China (CRISOTILA BRASIL, 2009). No mundo, quarenta e
oito pases j baniram totalmente o uso do amianto, inclusive todos os pases da Unio
Europia e, no Brasil, legislaes foram aprovadas, em alguns estados, restringindo o uso
desse mineral. Este movimento, segundo Wnsch Filho (2001), tende para uma legislao
federal que impea definitivamente o uso comercial do amianto no pas.
A Sucia e Holanda tm investido bastante em pesquisas utilizando compsitos
reforados com matria-prima vegetal, buscando um material de baixo consumo de energia e
amigvel ao ambiente. O Brasil, por possuir grande reserva de recursos naturais, deve se
adiantar em busca do domnio da tecnologia de produtos reforados com fibras vegetais, visto
que isto parece ser a tendncia natural e mais adequada para substituio do amianto
(Rodrigues, 1999 apud ANJOS, GHAVAMI e BARBOSA, 2003).
A justificativa desse trabalho vem de uma observao da nossa atual conjuntura
ambiental, econmica e social e da necessidade de materiais ecoeficientes e, ao mesmo
tempo, viveis tcnica e economicamente. Segundo John (2007), o setor da construo civil
o maior consumidor de produtos naturais e alguns desses recursos tm reservas mapeadas
escassas o que leva a uma alta de preo no mercado, dificultando o uso. Esse setor, maior
gerador de resduo, tambm gera poluio do ar durante a extrao das matrias-primas da
natureza. Em contrapartida, a FIESP (2008) afirma que, no Brasil, o setor da construo civil
a mola propulsora do desenvolvimento sustentvel, sendo o incio de uma cadeia
produtiva com poder multiplicador, pois leva ao consumo de outros bens em um mbito
secundrio, sendo, ainda, responsvel por 18% do Produto Interno Bruto (PIB) e pela gerao
-
23
de aproximadamente 15 milhes de empregos. No resta dvida que se deve ter um olhar
cuidadoso sobre esse setor e sua relao com o meio ambiente e o desenvolvimento
sustentvel.
J se observa, no cenrio brasileiro, uma busca por produtos ambientalmente
adequados dentro da indstria da construo civil. H iniciativas na rea de reciclagem de
resduos provenientes da prpria indstria da construo civil ou de outras indstrias. As
telhas denominadas ecolgicas so exemplos dessas iniciativas. So comercializadas, no
Brasil, algumas telhas produzidas a partir da reciclagem de resduos ou usando material
renovvel, com a bandeira de telha ecolgica. Sua matria-prima no extrada da natureza
ou, se extrada, de fonte renovvel, como o caso das madeiras retiradas de florestas
plantadas, nas quais permitido, pela Lei 4.771/65 - Cdigo Florestal Brasileiro, o corte de
madeira, por entender que no h prejuzo para o meio ambiente.
Alguns fabricantes tentam substituir a telha de fibrocimento por outro material
menos prejudicial ao meio ambiente, como exemplo destas telhas tm-se: a telha fibra de
celulose produzida a partir do resduo de papel; a telha tetrapak, produzida a partir de resduo
de embalagem de leite longa vida; e a telha-tubo, produzida a partir de resduo de embalagem
de creme dental. Outras solues tentam substituir a telha cermica, como o caso da telha de
madeira Taubilha, fabricada com madeira Pinus proveniente de florestas plantadas.
Apesar destas iniciativas, no h, no Brasil, normas ou parmetros que indiquem
que essas telhas so sustentveis como material de construo, atendendo as demandas
tcnicas, ambientais, sociais e econmicas. Esse trabalho prope estabelecer critrios de
sustentabilidade para telhas de cobertura de edificaes, a partir do estudo e anlise de trs
telhas denominadas ecolgicas e duas telhas convencionais, consolidadas no mercado.
Espera-se que esses critrios sirvam como subsdio para novas propostas de produo de
telhas para construo civil e como suporte para a escolha destes produtos pelo consumidor.
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24
1.4. Metodologia Empregada na Pesquisa
A presente pesquisa de natureza aplicada, ou seja, objetiva gerar novos
conhecimentos para serem aplicados para solucionar problemas especficos (SILVA e
MENEZES, 2000). Usando, ainda a classificao das mesmas autoras, essa pesquisa tem
carter descritivo e qualitativo, pois visa a descrio da atual conjuntura, analisando-a, para
chegar ao mais prximo possvel do que seria o ideal, sem quantificar os dados coletados, mas
sim, interpretando-os.
Para realizar os objetivos desta pesquisa so definidas as etapas metodolgicas
relacionadas a seguir:
1. Para descrever o contexto das telhas ecolgicas pesquisadas foi realizada uma
reviso bibliogrfica, consultando bibliografias nacionais e internacionais,
gerando um breve histrico sobre a utilizao de telhas e a atual
industrializao deste produto no Brasil.
2. Para caracterizar as telhas objeto de pesquisa e os seus processos produtivos
foram consideradas duas etapas:
a. Na primeira foram realizadas visitas s fabricas das respectivas telhas,
procurando levantar in loco as etapas dos processos produtivos de cada
telha. Para isto, foi realizada uma documentao fotogrfica, juntamente
com anotaes das observaes feitas;
b. Na segunda etapa foram realizadas entrevistas desestruturadas com
pessoas chaves das empresas, como tcnica complementar de
levantamento de dados. Ainda como material para levantamento dos
dados, foram investigados documentos fornecidos pelas empresas como:
laudos de ensaios laboratoriais, prospectos tcnicos e propagandas,
referentes s telhas. Esses ltimos documentos, ainda que no tenham
-
25
valor cientfico, foram levantados a ttulo de ilustrao, a fim de investigar
como as empresas refletem seus produtos no mercado.
c. Ainda na segunda etapa, foram realizadas anlises dos requisitos de
normas tcnicas nacionais e internacionais pertinentes ao assunto, a fim de
parametrizar os requisitos para as telhas presentes no mercado.
3. Para chegar a um conceito referencial de telha ecolgica, foi utilizado um
mtodo de projeto de produto baseado na metodologia do design de Baxter
(1995). Dentro deste mtodo, foram consideradas as tcnicas apresentas por
este autor para projetos de novos produtos:
a. Gerao dos conceitos de telha ecolgica atravs de dois mtodos:
Anlise da tarefa que consiste em uma tcnica descritiva, para explorar as
interaes entre o produto e o consumidor, atravs de observaes e
anlises.
Anlise das funes, que consiste no levantamento das funes principal
e secundrias a que o produto se prope e como elas funcionam.
Anlise terica do ciclo de vida do produto, que consiste em uma
avaliao de todas as etapas da vida do produto, desde a extrao da sua
matria-prima at o seu descarte, no final da sua vida til, ponderando
todos os impactos ambientais nas diversas fases. Essa anlise ser
puramente terica, visto que o tempo disponvel para pesquisa no
permite uma avaliao prtica,
b. Seleo do conceito referencial, ou seja, uma vez gerados os conceitos do
produto, ser possvel selecionar um conceito referencial, atravs do
processo da convergncia controlada, tcnica pela qual um conjunto de
-
26
conceitos vai convergindo em um nico, que, por sua vez, contempla os
aspectos positivos dos diversos conceitos gerados.
1.5. Limitao da Pesquisa
Essa pesquisa consiste na avaliao de trs telhas ecolgicas e duas telhas
convencionais citadas ao longo desse trabalho, de modo a produzir diretrizes para um design
mais ecolgico para esse tipo de produto. Vale salientar que existe no mercado outras telhas
auto-denominadas ecolgicas, produzidas com materiais reciclveis ou renovveis, bem como
diversos tipos de telhas convencionais, fabricadas com diferentes matrias-primas, que no
sero objeto de estudo no presente trabalho.
A anlise das propriedades das telhas presente nesta pesquisa foi realizada de
forma comparativa, atravs do levantamento da bibliografia existente, das normas tcnicas e
das investigaes realizadas nas visitas as fbricas. No foi realizado nenhum teste
laboratorial acerca das propriedades tcnicas destes materiais, adotando, para efeito dessa
pesquisa, os laudos de ensaios apresentados pelos fabricantes.
Foi realizada uma anlise terica do ciclo de vida do material de construo telha,
a fim de obter requisitos de sustentabilidade durante toda a vida do material, contudo essa
avaliao consiste to somente em consideraes tericas, por no haver tempo hbil para
uma anlise prtica dentro do prazo estipulado para pesquisa pelo mestrado.
-
27
2. A INDSTRIA E O MEIO AMBIENTE
O homem sempre viu o planeta como uma fonte de infinitos recursos naturais.
Com a revoluo industrial e a produo de materiais e produtos em srie, houve um
incremento na explorao dos recursos naturais de forma perdulria, objetivando atender a
crescente demanda de consumo dos pases desenvolvidos e, consequentemente, atingir um
desenvolvimento econmico e social. Houve uma ampliao das possibilidades de
atendimento das demandas humanas e uma acelerao no atendimento das mesmas, tornando
o meio ambiente mais vulnervel, quer pela aplicao dos recursos naturais na transformao
em bens de consumo, quer pela sua utilizao como corpo receptor dos resduos de
industrializao e/ou do consumo. Tudo isso associado ao crescimento populacional, fez com
que se acentuasse a percepo de escassez (FIESP, 2002), bem como do crescente conflito
entre a expanso do modelo de crescimento econmico, com base na indstria, e o volume de
efeitos desagregadores sobre os ecossistemas naturais (LIMA, 1997).
Aps a segunda guerra mundial, no final da dcada de 40 do sculo XX, surgiram
as primeiras conjecturas sobre a possvel finitude dos recursos naturais e uma possvel
escassez dos mesmos em tempos futuros.
-
28
2.1 - Sustentabilidade
Com o lento despertar do homem para a questo ambiental e a lgica inferncia de
que findando os recursos que o sustenta redundaria no seu prprio fim, muitas discusses
foram estabelecidas mundialmente acerca desse tema, por organizaes governamentais e
comunidades cientficas. Alguns eventos em prol da preservao do meio ambiente comeou
a surgir em meados do sculo XX.
Em 1987, foi formada a World Comission on Environment and Development
(Comisso Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento) da Organizao das Naes
Unidas ONU, presidida por Gro Harlem Brundtlandt, primeira ministra da Noruega. Essa
comisso trabalhou trs anos para apresentar sociedade mundial um relatrio, abordando a
escassez dos recursos naturais e o aumento da pobreza e misria no mundo, com medidas a
serem implementadas pelas naes em favor da minimizao desses problemas: o Relatrio
de Brundtlandt Our Commom Future (Nosso Futuro Comum) - que tambm apresentou e
conceituou para o mundo a expresso desenvolvimento sustentvel como sendo a satisfao
das necessidades do presente sem comprometer a capacidade de satisfao das necessidades
das futuras geraes. O quadro 01 apresenta uma cronologia dos mais importantes eventos
para discusses acerca do desenvolvimento mundial e conservao dos recursos naturais.
O meio ambiente um conjunto de interaes no qual o homem est inserido. fato
indiscutvel que o homem precisa vitalmente do planeta e das riquezas que este lhes oferece
para que haja um desenvolvimento scio-econmico e isso continuar atravs das geraes
vindouras, o que redunda na necessidade de preservao dos recursos naturais. Conseguir o
necessrio crescimento do bem-estar humano sem comprometer a capacidade de suporte do
planeta, implica em conseguir melhorar a relao hoje existente entre produo de bens e
servios e o consumo de recursos naturais (KIPERSTOK, 2006). O Relatrio de Brundtlandt
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29
no procura deter o desenvolvimento econmico. Este perfeitamente aceito, deste de que
sejam respeitados os limites ambientais.
Na dcada de 70, surgiu o conceito de ecodesenvolvimento, caracterizando uma
concepo alternativa de desenvolvimento, baseado, segundo Lima (1997), em alguns
princpios elementares, tais como:
Satisfao das necessidades bsicas da populao;
Solidariedade para com as geraes futuras;
Participao da populao envolvida;
Preservao dos recursos naturais;
Elaborao de um sistema social garantindo emprego, segurana social e respeito
outras culturas;
Efetivao dos programas educativos.
No quadro 01 apresentada uma cronologia dos eventos mundiais pela preservao do
meio ambiente.
O que se busca uma compatibilidade entre o binmio desenvolvimento scio-
econmico e preservao ambiental, de modo que esse desenvolvimento sempre seja possvel,
a qualquer tempo, sem o risco da falta de recurso para sua viabilidade. Para isso deve haver
participao ativa de todas as partes envolvidas e para viabilizar esse envolvimento deve
haver uma disseminao das informaes, facilitando a tomada de decises.
Segundo Jacobi (1999), o desafio proposto construir uma sociedade sustentvel
com base no exerccio de uma cidadania ativa e na mudana de valores individuais e
coletivos. Esse processo deve ser facilitado por instituies sociais e sistemas de informao,
atravs de prticas de educao ambiental, suprimento de dados, desenvolvimento e
disseminao de indicadores. Desse modo, pode-se garantir os meios de criar novos estilos de
vida e desenvolver uma conscincia tica que questione o atual modelo de desenvolvimento.
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Quadro 01 - Cronologia de eventos mundiais em prol da preservao ambiental.
CRONOLOGIA DE EVENTOS MUNDIAIS EM PROL DA PRESERVAO AMBIENTAL
DATA EVENTO
1949 Conferncia Cientfica das Naes Unidas sobre Conservao e Utilizao de Recursos
1968 Conferncia Intergovernamental para o Uso Racional e Conservao da Biosfera ou simplesmente
Confrncia da Biosfera, organizada pela United Nations Educational, Scientific and Cultural
Organization (UNESCO)
1971 Conferncia de Founex, na Sua levanta a importncia de integrar o meio-ambiente s
estratgias de desenvolvimento
1972 Conferncia Internacional para o Meio Ambiente Humano, promovida pelas Naes Unidas
ONU, em Estocolmo, Sucia. Marco histrico-poltico de iniciativas para um novo tratamento para
os assuntos ambientais
1974 Publicao da Declarao de Cocoyok, resultado da reunio da United Nations Conference on
Trade e Development (UNCTAD), no Mxico
1975 Publicao do Relatrio Que Faire - Relatrio Final da Fundao Dag-Hammarskjold, abordando a
problemtica do abuso do poder dos pases desenvolvidos, o excesso de interferncia desses pases
nos destinos dos pases do terceiro mundo e sua interligao com a degradao ecolgica.
1980 A UICN publica a World Conservation Strategy (Estratgia de Conservao Mundial), onde consta
uma seo intitulada Em Direo ao desenvolvimento Sustentvel
1983 Formao da World Comission on Environment and Development (Comisso Mundial para o
Meio Ambiente e Desenvolvimento) da Organizao da Naes Unidas ONU
1987 Publicao do Relatrio de Brundtlandt Our Common Future (Nosso Futuro Comum
1992 Conferncia da Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro
Brasil, conhecida como ECO-92, que apresentou como fruto a Agenda 21 Global, com aes para
serem implementadas pelas naes em prol do desenvolvimento sustentvel.
Fonte: Camargo (2002) Adaptado
O desenvolvimento sustentvel est alicerado em trs condicionantes,
denominadas triple botton line, ou trip de sustentabilidade, tambm conhecido como 3P
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31
Planet, People, e Profit, ( palavras da lngua inglesa que significam, na lngua portuguesa,
planeta, pessoas e lucro, respectivamente. Esse trip abrange campos, social, econmico e
ambiental que, trabalhando de forma holstica, conduzem ao to almejado desenvolvimento
sustentvel. No mbito ambiental se busca um equilbrio entre proteo do meio ambiente e o
uso dos seus recursos procurando no comprometer a qualidade de vida da sociedade. No
mbito social busca-se o desenvolvimento de sociedades justas onde haja oportunidades de
desenvolvimento social e qualidade de vida. J no mbito econmica busca-se a facilidade de
circulao de recursos, proporcionando acesso a toda a sociedade (MARQUES; SALGADO,
2007).
2.1.1. Sustentabilidade e a Indstria da Construo Civil
O setor construo civil um dos maiores responsveis pelos impactos ao meio
ambiente, quer pelo alto ndice de extrao de matrias-primas da natureza, quer pela enorme
gerao de resduo que so devolvidos ao planeta, muitos deles contaminados, alm do alto
consumo de energia. O ndice de desperdcio de materiais tambm muito grande dentro
deste setor.
Segundo Schenini, Bagnatti, Cardoso (2004), no havia, na indstria da
construo civil, preocupao com os impactos ambientais causados pelo esgotamento dos
recursos naturais no renovveis, devido ao desperdcio de materiais ao longo de sua cadeia
produtiva, e com destino dado aos rejeitos produzidos nestas atividades at a Conferncia
Rio-92. A Schenini, Bagnatti, Cardoso (2004) acrescentam:
No Brasil, em particular, a falta de uma conscincia ecolgica na indstria da
construo civil resultou em estragos ambientais irreparveis, agravados pelo
macio processo de migrao havido na segunda metade do sculo passado, quando
a relao existente de pessoas no campo e nas cidades, de 75 (setenta e cinco) para 25% (vinte e cinco por cento), foi invertida, ocasionando uma enorme demanda por
novas habitaes.
-
32
Hoje, no entanto, j se fala em construo sustentvel. Segundo Arajo (2008), a
construo sustentvel consiste no desenvolvimento de um modelo que identifique e
solucione os problemas ambientais causados pela indstria da construo civil, sem renunciar
moderna tecnologia e edificaes que atendam s necessidades de seus usurios. Segundo
esse autor, deve-se procurar atingir a auto-sustentabilidade do empreendimento que consiste
na capacidade de manter-se, atendendo s suas prprias necessidades, gerando e reciclando
seus prprios resduos, tudo isso no seu local de implantao.
Surge, assim, o conceito de ecotcnicas, que consiste no uso de tcnicas na
execuo dos empreendimentos, de modo a atender as necessidades da sociedade, com o
mnimo de custos financeiros e ambientais. O uso de materiais mais ecolgicos uma
vertente da ecotcnica.
Existem organismos certificadores de empreendimentos sustentveis, tais como:
BREEAM da Inglaterra, LEED, dos Estados Unidos, Green Star da Austrlia e HQE, da
Frana (ARAUJO, 2008). Suas principais diretrizes para edificaes sustentveis podem ser
resumidas em nove etapas:
1. Planejamento sustentvel da obra
2. Aproveitamento passivo dos recursos naturais
3. Eficincia energtica
4. Gesto e economia da gua
5. Gesto dos resduos na edificao
6. Qualidade do ar e do ambiente interior
7. Conforto termo-acstico
8. Uso racional de materiais
9. Uso de produtos e tecnologias ambientalmente amigveis
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33
Dentro das diretrizes de construo sustentvel definidos por estes organismos
est o uso de materiais mais ecolgicos. Esses materiais devem atender a alguns requisitos:
no devem demandar matria-prima no renovvel;
no devem gerar resduos slidos, efluentes lquidos e/ou emisses
atmosfricas durante sua fabricao;
no devem consumir muita energia durante a sua produo e/ou instalao;
devem ser durveis;
devem ser reciclveis ou inertes no final do seu ciclo de vida.
Esses parmetros indicam uma situao ideal. Na realidade, deve-se chegar
prximo o quanto possvel a estes requisitos. Segundo Arajo (2008), a construo
sustentvel no apenas atende aos requisitos acima descritos, mas sustenta aqueles que nelas
habitam e suas futuras geraes. Para o atendimento desses requisitos, surge o conceito de
ecologia industrial, definido no item que se segue.
2.2 Ecologia Industrial
medida que as sociedades se desenvolvem, maior a necessidade de novos
produtos, com novos e melhores recursos, para a satisfao de suas necessidades. Isso leva a
uma busca de melhoria tecnolgica e do desenvolvimento de novos designs para produtos.
Segundo a Arajo et al. (2003), at os meados dos anos 50 do sculo XX, a
indstria no estava preocupada com os problemas ambientais dentro do processo produtivo.
Havia uma anlise das conseqncias da poluio ambiental depois que todo o processo
industrial j estava concludo, ou seja, os problemas ambientais estavam totalmente
dissociados do processo industrial. o que se chama hoje de tratamento de fim de tubo (end
of pipe).
-
34
Hoje, entretanto, j se percebe uma preocupao com impactos ambientais em
todas as fases do processo produtivo de um produto. Indo mais alm, a preocupao com os
impactos ambientais est presente em todas as fases do ciclo de vida de um produto, desde a
extrao da matria-prima da natureza para sua produo, passando por todas as fases do
processo produtivo, o seu transporte at o consumidor final, o uso e o seu descarte. A ecologia
industrial surge como um conjunto de anlises e medidas que procura associar o processo
produtivo em todas as suas fases com os possveis impactos ambientais por ele causados,
buscando sua reduo. Esse sistema objetiva conservar o desenvolvimento econmico-social
e tecnolgico, preservando o meio ambiente, atravs de uma nova concepo dentro do
processo produtivo.
Para Garner e Keoleian (1995), ecologia industrial uma estrutura que serve para
identificar e implementar estratgias, com o objetivo de reduzir impactos ambientais de
produtos e processos associados com o sistema industrial, e, consequentemente, chegar a um
desenvolvimento sustentvel, atravs do estudo das interaes e inter-relaes fsicas,
qumicas e biolgicas dentro e entre os sistemas industriais e ecolgicos. A ecologia industrial
visa aperfeioar os seus processos produtivos, adequando-se ao meio ambiente, atravs da
priorizao de utilizao de recursos renovveis como matria-prima, baixa utilizao de
energia e reduo de resduos slidos, efluentes lquidos e emisses atmosfricas.
Para Teixeira e Csar (2005), a ecologia industrial se consubstancia na menor
interferncia possvel no meio ambiente, retirando o mnimo de recursos naturais e
devolvendo o mnimo ou nenhum resduo, aps o processo de produo. A meta um ciclo
fechado de produo, buscando aperfeioar o uso dos recursos naturais e energticos dentro
do ciclo do processo produtivo e de consumo. Para isso, a ecologia industrial usa o conceito
de ecoeficincia dos materiais e ferramentas como o ecodesign e anlise do ciclo de vida.
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35
2.3 Ecoeficincia
De acordo com CEBDS (2008), a ecoeficincia alcanada atravs do
fornecimento de bens e/ou servios para atender as necessidades humanas, promovendo a
qualidade de vida, integrando preos competitivos com reduo progressiva do impacto
ambiental e do consumo de recursos ao longo do ciclo de vida desse material, a um nvel, no
mnimo, equivalente capacidade de sustentao estimada da Terra.
O CEBDS (2008) define como elementos da ecoeficincia:
Reduzir o consumo de materiais com bens e servios.
Reduzir o consumo de energia com bens e servios.
Reduzir a disperso de substncias txicas.
Intensificar a reciclagem de materiais.
Maximizar o uso sustentvel de recursos renovveis.
Prolongar a durabilidade dos produtos.
Agregar valor aos bens e servios
De acordo Furtado (2001), para alcanar a ecoeficincia, preciso atender a, pelo
menos, seis grandes requisitos:
Possuir princpios de responsabilidade ambiental e social;
Possuir estratgias e instrumentos de design para o ambiente (ecodesign ou
uso de fatores ambientais para a concepo e construo de produtos);
Criar eco-indicadores;
Usar tecnologias de gesto ambiental;
Contabilizar a eco-eficincia;
Definir e implementar poltica ambiental com metas quali-quantitativas e
respectivos marcos de referncia (benchmarking).
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36
A busca por materiais ecoeficientes um desafio para a cincia dos materiais.
De acordo com Callister (2002), o uso de materiais reciclados reduz a necessidade de extrair
matrias-primas da terra, capaz de conservar os recursos naturais e de eliminar os impactos
ecolgicos relacionados com a fase de extrao. Ele afirma ainda que a energia para refino de
materiais reciclados , geralmente, menor que o montante gasto pelos seus equivalentes
naturais.
Para Callister (op.cit. 2002), deve haver um estudo da ACV Anlise do Ciclo de
Vida, analisando todas as entradas e sadas nos diversos processos ao longo da vida do
material. As entradas so as matrias-primas e energia e as sadas so os materiais utilizveis,
resduos slidos, emisses atmosfricas, efluentes lquidos e outros possveis impactos
causados no meio-ambiente. Partindo dessa anlise, o produto ecoeficiente aquele que
atenda aos seguintes requisitos:
Seja concebido com matria-prima cuja extrao no cause impactos ao
meio-ambiente ou com matria-prima reciclada;
Demande baixo consumo de energia nas diversas fases do seu ciclo de vida;
Tenha nenhuma ou baixa produo de resduos slidos, efluentes lquidos e
emisses atmosfricas nos processos das diversas fases do seu ciclo de vida;
Seja um produto durvel;
No final do seu ciclo de vida, seja um produto totalmente reciclvel ou
totalmente biodegradvel, isto , tenha a propriedade de, em tempo do seu
descarte, atravs de interaes com o meio-ambiente, se deteriorar e voltar ao
mesmo estado em que ele existia na natureza antes do seu processamento
inicial.
No cause impactos sade humana no decorrer das diversas etapas do seu
ciclo de vida.
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37
Para conceber produtos com tais requisitos, lana-se mo do ecodesign que
emprega tcnicas de desenvolvimento do produto, considerando caractersticas de
ecoeficincia e sustentabilidade.
2.4 Design do Produto
Design de um produto, segundo Gomes F (2006), pode ser definido como a
concepo, planejamento e fabricao de um produto, em conformidade com as funes que
ele tem que atender, ao longo da sua vida til.
De acordo com Margolin e Margolin (2002), desde a revoluo industrial, o
design est voltado para o mercado. Esse tipo de design preconiza a criao de produtos para
a venda. A partir de 1972, quando Victor Papanek publicou um livro intitulado Design for
the Real World (Design para o Mundo Real), foi introduzido o conceito de design para as
necessidades social. Esse novo paradigma busca uma concepo de produto para atender as
necessidades humanas e no se ope ao design para o mercado e sim o completa. Trata-se de
avaliar as prioridades: aliar o atendimento das necessidades sociais com a aceitao do
produto no mercado. E dentre essas necessidades, est o requisito de preservao ambiental,
como demanda da sociedade.
Baxter (1995) prope uma tcnica design de produto para atender ao mercado e as
necessidades humanas. Na primeira etapa, ele busca conceituar o produto, gerando vrios
conceitos, atravs de trs anlises:
Analisando como o produto interage com o seu usurio;
Analisando as funes a que o produto se prope, construindo uma rvore
funcional, tcnica analtica que consiste na construo de um diagrama, partindo das funes
principal e secundrias do produto e como elas funcionam
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Analisando o ciclo de vida do produto, sendo esta mais longa, j que encerra uma
tcnica analtica mais abrangente, com o fim de avaliar os custos ambientais de cada etapa da
fabricao do produto, desde a extrao da matria-prima do meio-ambiente, passando pelas
etapas de fabricao, uso do produto pelo consumidor, at o seu descarte, no final da sua vida
til.
Na segunda etapa, h a seleo do conceito final do produto, onde todos os
conceitos gerados convergem para um nico. A metodologia proposta por Baxter (1995), por
sua abrangncia, possibilita no s o atendimento das necessidades de mercado, mas tambm
ao atendimento dos requisitos de sustentabilidade.
2.4.1 Design Sustentvel
O design sustentvel ou ecodesign uma vertente do design de produto que
procura atender aos requisitos de preservao ambiental, nas diversas fases do ciclo de vida
do produto.
Para kazazian (2005), o ecodesign, tambm chamado de ecoconcepo ou design
for Environment DfE, visa a reduo dos impactos ambientais de um produto e ao mesmo
tempo preservar sua qualidade de uso, traduzida pela funcionalidade e desempenho e a
prpria qualidade do produto. Assim pode melhorar a qualidade de vida dos usurios de hoje
e do futuro. O meio ambiente torna-se requisito to importante quanto a exeqibilidade
tcnica, o controle de custos e a demanda de mercado.
Uma ferramenta utilizada pelo ecodesign a anlise do ciclo de vida. Segundo
Baxter (1985), ela essencial para quem projeta para o meio ambiente. Esta ferramenta
possibilita analisar a vida do material, desde o seu nascimento, quando da extrao da sua
matria-prima da natureza, passando pelo processamento, manufatura, distribuio e
transporte, instalao e uso, at o final da sua vida til, ao tempo do seu descarte. Em cada
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39
uma dessas fases so avaliados os impactos ambientais causados e o que pode ser feito para
minimiz-los ou mesmo elimina-los. Entretanto, paralelo a esta anlise h de se conciliar as
funes do produto objeto do projeto, a qualidade e a viabilidade econmica.
Furtado (2001), estabelece estratgias de ecodesign, de modo a seguir um roteiro,
possibilitando contemplar todos os requisitos, a fim de obter um produto ecoeficiente, que
esto relacionadas no Quadro 02.
Quadro 02 - Estratgia de Ecodesign
ESTRATGIA DE ECODESIGN
Extrao e processamento
de materiais
Conservao de recursos
Utilizao de materiais de baixo impacto
Conservao de energia
Minimizao de resduos atravs reduo na fonte, segregao, preveno da
contaminao, recuperao e reuso de resduos, incinerao
Conservao de energia, atravs de reduo de energia na produo, na
distribuio e no uso e atravs de utilizao de formas renovveis de energia
Conservao de material atravs da opo por produtos multifuncionais,
especificao de materiais reciclveis, renovveis e remanufaturveis, com maior
longevidade, para recuperao de embalagens, reutilizao de containers e
desenvolvimento de programas de leasing.
Reduo de riscos crnicos: reduo de liberaes, evitar substncias
txicas/perigosas, evitar substncias destruidoras da camada de oznio, uso de
tecnologia baseada em gua, garantir biodegradabilidade de produtos e o descarte
de resduos
Extrao e processamento
de materiais
Preveno de acidentes: evitar materiais custicos e ou inflamvel, minimizar o
potencial de vazamentos, usar fechos para proteo de crianas, desencorajar o
mau uso pelo consumidor.
Manufatura, embalagem e
distribuio
Produo mais limpa
Embalagem de baixo impacto
Distribuio eficiente
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Quadro 02 - Estratgia de Ecodesign (Continuao)
Uso do Produto
Eficincia energtica
Conservao de gua
Consumo mnimo
Uso de baixo impacto
Servios e consertos
Durabilidade
Final da vida til
Recuperao e reuso de materiais e componentes
Remanufatura
Reciclagem
Destinao
Desmontagem: simplificao, facilidade de acesso e simplificao das interfaces
dos componentes
Reduo de riscos
Preveno e reduo da poluio
Reduo do uso de substncias txicas
Reduo da exposio a riscos crnicos
Converso de resduos perigosos
Preveno de acidentes
Sade e higiene ocupacional
Gesto de riscos no transporte
Segurana de produtos para o consumidor
Reduo de materiais perigosos
Proteo ambiental Proteo de habitats ecolgicos
Proteo da biodiversidade
Proteo do clima global
Proteo da qualidade do ar, gua e solo
Proteo da camada de oznio
Proteo ambiental Conservao dos solos e florestas
Conservao de energia
Conservao de gua
Conservao de materiais
Fonte: Furtado (2001)
2.5 As telhas como elementos construtivos
A telha um componente usado desde os primrdios da humanidade e tem como
funo vedar horizontalmente uma edificao. Nos tempos mais remotos, eram usadas as
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41
telhas feitas de pedra - a ardsia. Mais tarde, outros materiais comearam a ser introduzidos
na construo civil e alguns so usados at os dias atuais, a exemplo da telha cermica e da
telha com fibra de cimento-amianto.
Com o desenvolvimento da engenharia dos materiais, surgiram diversos designs
de telhas, com diferentes matrias-primas em sua composio, ao longo dos anos, oferecendo
ao consumidor diversidade, com opes para utilizao em vrios tipos de edificaes e em
diversas regies do planeta, com diferentes climas. Podemos observar no mercado mundial a
comercializao de telhas de concreto, de cimento, de alumnio, de policarbonato e de PVC.
Essas telhas, entretanto, consomem grande quantidade de recursos naturais, alm das
demandas para sua fabricao.
A Associao Brasileira de Normas Tcnica elenca uma srie de normas
estabelecendo requisitos tcnicos a serem atendidos pelas telhas convencionais, incluindo
padronizao de mtodos para ensaios. Normas internacionais como ASTM - American
Society for Testing and Materials, tambm tm estabelecido requisitos para estas telhas. Vale
enfatizar, entretanto, que essas normas se preocupam com parmetros tcnicos, sem atentar
para os quesitos de sustentabilidade referentes s telhas.
As telhas, chamadas de ecolgicas, surgiram mais recentemente como alternativas
as telhas convencionais, cujas matrias-primas, em geral, provem de extrao mineral, to
prejudicial ao meio ambiente. Elas usam em sua formulao material reciclado ou proveniente
de manejo florestal, no caso de madeira. Por ser um produto novo no mercado, pouca
literatura h acerca destes materiais, o que refora a justificativa dessa pesquisa como uma
forma de trazer mais informaes sobre esse tipo de telha.
Dentre as telhas convencionais, duas so largamente utilizadas no mbito da
construo civil: a telha cermica e a telha de fibro-cimento. A primeira uma telha j
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42
consolidada no mercado e tem como principal matria-prima a argila. A palavra "Cermica"
derivada do grego keramik, keramos, que significa argila.
A origem da telha cermica data de tempos muito remotos. Segundo Grimmer e
Willians (2009), essas telhas surgiram em duas partes do mundo: primeiro na China, durante a
era neoltica, cerca de 10.000 anos AC. e, pouco tempo depois, no Oriente mdio. A partir
dessas regies, o seu uso foi expandido para Europa e para a sia. A telha cermica foi
largamente usadas pelo antigos egpcios, babilnios, gregos e romanos.
No Brasil a telha cermica tem sido usada desde o descobrimento, com a
colonizao portuguesa. Inicialmente as peas de telhas eram moldadas nas pernas dos
escravos que as fabricavam. Hoje j existem muitas olarias e at processos de certificao e
padronizao para as telhas cermicas.
J as telhas de fibrocimento surgiram por volta de 1895 em substituio aos
telhados de ardsia natural utilizados na poca, quando o austraco Ludwig Hatschek
descobriu a pasta de cimento amianto, uma mistura de cimento, calcrio, amianto e gua. As
novas telhas eram apresentadas em pequenas placas com espessura reduzida e diversas formas
(ETERNIT, 2009). Esse material se desenvolveu rapidamente devido as suas boas
propriedades: baixa massa especfica, alta resistncia trao, elevada resistncia a agentes
agressivos e bom isolante trmico. (PETRUCCI, 1979). Depois de desenvolv-lo em escala
industrial, Ludwig Hatschek patenteou o novo material com o nome de Eternit, do latim
aeternitas que significa eterno, fazendo uma aluso alta durabilidade do produto (ETERNIT,
2009).
A Eternit foi amplamente difundida na Europa e em 1940 comeou a se expandir
pelo mundo. No Brasil, foi criada a mineradora Sama em 1939, para explorar as grandes
reservas de amianto existentes. A partir da comearam a surgir as fabricas de telhas Eternit
no pas: em 1940, foi fundada a primeira fbrica brasileira, em Osasco, So Paulo,
-
43
denominada Eternit do Brasil Cimento Amianto S.A. em parceria com a Eternit Sua e
Belga; em 1967 foi fundada a Eternit da Bahia, em Simes Filho; em 1971, foi fundada a
fbrica de Goinia Gois e em 1972, foi fundada a fbrica de Colombo, no Paran. Todas
essas plantas de fbrica continuam ativas at hoje (ETERNIT, 2009).
Tanto a telha cermica como a telha de fibro-cimento tem matria-prima mineral
farta no Brasil, com disponibilidade de grandes jazidas. Entretanto, essas jazidas so finitas e
podem se esgotar, como aconteceu com a primeira mina brasileira de amianto, a de So Felix,
localizada em Pores, na Bahia. Ela comeou a ser explorada em 1939, quando a SAMA
Minerao de Amianto S.A. veio para o Brasil e teve suas reservas esgotadas em 1967.
Hoje, o amianto brasileiro vem da mina de Cana Brava em Minau, no estado de
Gois, a maior da Amrica do Sul. De acordo com a SAMA (2009), a mina de Cana Brava
tem reserva de amianto para atender a produo por mais sessenta anos. A Figura 01 mostra a
evoluo da explorao da mina de Cana Brava desde a sua descoberta em 1963.
Figura 01- Evoluo da explorao da Mina de Cana Brava, no Brasil Fonte: CRISOTILA BRASIL, 2009
Alm do esgotamento dos recursos minerais, a extrao deste tipo de matria-
prima traz outros prejuzos para o meio-ambiente, como alterao da flora e fauna local e
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decrscimo da qualidade de vida das comunidades de entorno, no que concerne qualidade
do ambiente, devido aos efeitos da minerao nas jazidas.
2.6 A Minerao e seus efeitos ao meio ambiente
A minerao a atividade de extrao da terra de minerais que possuem valor
econmico e os minerais so os exemplos mais claros de recursos naturais no renovveis, ou
seja, uma vez retirados do solo, no surgem no mesmo lugar; so finitos (NUNES, 2007). A
argila, matria-prima da telha cermica, e o calcrio e a fibra de amianto, matrias-primas da
telha de fibro-cimento, so minerais retirados de jazidas brasileiras.
O Cdigo de Minerao Brasileiro, no seu artigo 4 define jazida como toda
massa individualizada de substncia mineral ou fssil, aflorando superfcie ou existente no
interior da terra, e que tenha valor econmico.
Para extrair esses minrios do planeta, existe uma seqncia de procedimentos
operacionais, com poucas variveis para diferentes tipos de materiais. Em geral, essa extrao
se d a cu aberto e, segundo Sampaio e Almeira (2005), compem-se de quatro etapas
bsicas:
Decapeamento da rea;
Perfurao da pedreira;
Desmonte da rocha;
Transporte at a usina de beneficiamento.
No decapeamento, todos os estreis (vegetao, solo arvel) so retirados da
camada superficial da rea, limpado-a at alcanar a face do minrio, expondo-o lavra. O
Cdigo de Minerao Brasileiro, no seu artigo 36 define lavra como o conjunto de operaes
coordenadas, objetivando o aproveitamento industrial da jazida, desde a extrao das
substncias minerais teis que contiver, at o beneficiamento das mesmas.
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Segue a perfurao da rocha com equipamentos prprios para este fim e o
desmonte da mesma, atravs de explosivos. No Brasil, a extrao da argila dispensa
explosivos e realizada com equipamentos como retro-escavadeiras. Em outros pases, como
a Inglaterra, a extrao da argila feita atravs de explosivos (SBRT, 2009).
Por fim, o minrio transportado para a usina de beneficiamento. O processo de
beneficiamento desses minrios transforma-os, deixando-os em um estado adequado para
ingressar no processo produtivo a que ele se destina. Para a produo de telhas, nenhum
beneficiamento necessrio ser realizado na argila retirada da jazida (SBRT, 2009), logo o
material extrado vai direto para fbrica e est pronto para entrar na linha de produo. J o
amianto e o calcrio passam por este processo.
No processo de beneficiamento, o calcrio modo e separado das impurezas
manualmente ou atravs de processos mais sofisticados como a separao magntica, para
impedir a contaminao com ferro. Essa contaminao prejudica o calcrio em termos
econmicos (SAMPAIO e ALMEIRA, 2005). J o amianto, conduzido a uma britadeira
giratria para britagem primria e em seguida para uma peneira vibratria e uma britadeira
cnica, para a britagem secundria. O material de granulometria mais fina segue direto para
secagem, enquanto que os gros mais grossos, depois de britados secundariamente so
enviados para a planta de concentrao.
A linha de concentrao possui trs peneiras giratrias intercaladas com dois
impactadores, dois fibrerizadores e duas peneiras giratrias, com o objetivo de separar gros
mais finos e enviar para secagem e gros mais grossos que so considerados rejeito, sendo
depositados nas bancas de rejeito.
A secagem dos gros finos feita atravs de fornos giratrios que retira a gua do
minrio pelo processo de evaporao devido temperatura dos fornos. Uma vez seco, o
minrio enviado para os silos de minrio seco e posteriormente para a usina de tratamento,
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onde a fibra separada por comprimento e so retiradas as impurezas do material. Por fim, o
material classificado de acordo com as especificaes pr-determinadas. O material
ensacado e segue para o seu consumidor. Vale salientar que cada um desses processos produz
resduos.
A argila possui baixo custo unitrio, o que inviabiliza o seu transporte para
grandes distncias, fato que leva as olarias se situarem prximas as jazidas desse minrio
(TANNO, MOTTA, 2000). Isso gera conflitos com a populao vizinha como: problemas
ambientais, gerao de poeira, rudo, vibraes, controle de efluentes (BARRETO, 2001).
Alm disso, a extrao desse minrio causa impactos no meio ambiente que, aliados aos
conflitos de outras formas de uso e ocupao do solo, esto provocando uma diminuio
crescente nas jazidas disponveis para atendimento da demanda.
importante salientar que toda minerao causa impacto no meio ambiente, em
particular as lavras de calcrio e amianto. Faria e Coelho (2002) enfatizam como o impacto
ambiental da extrao de calcrio em rea de caverna, leva a degradao do patrimnio
espeleolgico. Guimares (2005) descreve como passivo ambiental adquirido com a
minerao o aspecto visual da rea, resultante da operao de lavra, acmulos de rejeito do
beneficiamento, poluio do ar por excesso de poeira, avano de frentes de lavras oriundas de
reas crsticas, pelo uso de explosivo e trfego de caminhes.
Outros impactos so a degradao da vegetao, a destruio da fauna
circunvizinha, atravs dos explosivos e os impactos sonoros, devido aos rudos e vibraes. O
beneficiamento desses minerais tambm prejudica o meio ambiente. O refino dos materiais
gera poeira que levada pelo vento, provocando poluio do ar, prejudicando a sade humana
e comprometendo o visual da regio.
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Wanderley (2008) avalia que o impacto ambiental no abrange apenas as questes
relacionadas ao meio-ambiente, mas se estende as questes, sociais, culturais e econmicas.
Nessa linha, ele pondera:
Estes processos alteram a organizao territorial, a paisagem, a morfologia, a
ecologia, e instauram uma nova dinmica social, econmica, cultural, ecolgica e
espacial. A temporalidade dos impactos da minerao deve ser estendida desde os
primeiros rumores do projeto incluindo o perodo de estudos geolgicos, quando se produzem incertezas nos habitantes locais e provocam o aumento das migraes e
das especulaes, at o trmino do empreendimento e o que deixado com o
fechamento da mina.
A Constituio Federal, no seu Art. 225 2 reza que aquele que explorar
recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com
soluo tcnica exigida pelo rgo pblico competente, na forma da lei. Tambm o Cdigo
de Minerao Brasileiro, nos incisos do artigo 47, busca uma associao de gesto ambiental
com a atividade de minerao, transferindo a responsabilidade da preservao ambiental s
mos do minerador, incumbindo-o de promover a segurana e a salubridade das habitaes
existentes no local (inciso IX), evitar o extravio das guas e drenar as que possam ocasionar
danos e prejuzos aos vizinhos (inciso X), evitar poluio do ar ou da gua, que possa
resultar dos trabalhos de minerao (inciso XI), proteger e conservar as fontes... (inciso
XII).
O ideal conciliar a conservao de reas com grande potencial mineral, com as
atividades econmicas, garantindo minerao o acesso ao solo e subsolo e populao que
vive nessas regies, o direito ao desenvolvimento e ao meio ambiente saudvel. (Sirotheau et
al,1998 UPUD Guimares, 2005).
No se pode desprezar os benefcios trazidos pela minerao no mbito social,
com a gerao de empregos, favorecendo as comunidades circunvizinhas e no econmico,
com a movimentao do setor industrial e comercial. Por isso, o governo procura estabelecer
um sistema de gesto ambiental nesse setor que concilie as atividades de minerao e a
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preservao ambiental, mantendo, por conseguinte, as razes culturais da sociedade, mas,
ainda buscando atender as suas necessidades, para uma melhor qualidade de vida.
Atravs de uma gesto de processos, h possibilidade de reduo a grandes nveis
dos impactos ambientais acima citados. Entretanto, nenhuma medida torna possvel a
renovao do minrio no meio-ambiente. Uma vez retirado, ele no renasce, no floresce.
Assim, o esgotamento das minas algo inevitvel com a continuidade da sua explorao,
ainda que no seja hoje.
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3. CARACTERIZAO DAS TELHAS
CONVENCIONAIS
No mercado atual, as telhas convencionais so largamente conhecidas e usadas
pelo consumidor, com suas propriedades j comprovadas no meio da construo civil.
Entretanto, em contraponto s telhas ecolgicas elas no possuem a chancela de produto verde
ou ambientalmente sustentvel e, a despeito de usar matrias-primas que podem trazer
prejuzo ao meio-ambiente e sade do ser humano, buscam provar no mercado competitivo
sua condio de estar apta a participar do seleto grupo dos produtos com a chancela verde.
Duas telhas convencionais, amplamente usadas no mercado da construo civil,
foram eleitas para esta pesquisa, a fim de se ter parmetros para o estudo das telhas
denominadas ecolgicas. So elas: as telhas de fibrocimento e as telhas cermicas.
3.1 A Telha de Fibrocimento
A telha de fibrocimento est presente no mercado brasileiro desde 1940.
amplamente usada pela construo civil no Brasil, principalmente em cobertura de habitaes
populares, de galpes e de edifcios.
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O uso desse material muito criticado pelos defensores do meio ambiente, devido
ao fato da sua composio conter minrios retirados da natureza, dentre eles o amianto,
prejudicial sade humana e com uso banido em vrios pases do mundo.
3.1.1 Materiais constituintes da telha de fibrocimento
A telha de fibrocimento composta de uma mistura de gua, cimento, calcrio,
fibra de amianto crisotila, celulose e lama de cal.
3.1.1.1 - O Cimento
O cimento um aglomerante que em contato com a gua endurece, tanto em
ambiente aquoso como areo. O cimento utilizado na fabricao da telha de fibrocimento o
Cimento Portland tipo CP II-32. Este um cimento artificial, composto, devido adio de
calcrio e com resistncia mecnica compresso de 32 MPA aos 28 dias de idade.
O cimento recebido granel e armazenados em silos primrios que estocam os
material logo que descarregado na fbrica. H tambm os silos secundrios que abrigam
uma reserva dessa matria-prima.
3.1.1.2 - O Calcrio
O calcrio um material proveniente das rochas calcrias ricas em carbonato de
clcio (CaCO3) a calcita. Segundo Sampaio e Almeida (2005), uma rocha sedimentar
formada por material precipitado devido a agentes fsicos e qumicos. Alm da calcita, o
calcrio pode trazer na sua composio impurezas, como argila, slica, talco e mica. As
reservas de rochas carbonatadas so muito grandes em todo o planeta, entretanto, a ocorrncia
com elevada pureza corresponde a menos de 10% das reservas.
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O calcrio, como o cimento, recebido na fabrica de telha a granel, sendo,
tambm, armazenado em silos primrios e secundrios.
3.1.1.3 - A Celulose
A celulose obtida atravs da reciclagem de papis e papeles, em um
procedimento semelhante ao utilizado pela telha ecolgica fabricada com resduo de papel. O
papel passa por desfibrilador, onde ocorre a separao das fibras de celulose, atravs da
mistura com gua, formando uma massa homognea de celulose que, depois de pronta, segue
para o seu recipiente dosador no processo de produo da telha. Os papeis reciclveis so
adquiridos pela fbrica, prensados e empilhados, atravs de cooperativas de catadores de
papel e so armazenados em galpes fechados at entrarem no processo produtivo.
3.1.1.4 - O Amianto Crisotila
O amianto, segundo ABREA, (2007), um mineral presente em 2/3 da superfcie
terrestre e formado por silicatos hidratados de magnsio fibrosos. Ele est presente em
jazidas, em rios, lagos e nas guas do subsolo. Conhecido tambm como asbesto, palavra
derivado do grego que significa indestrutvel, aludindo a sua alta resistncia mecnica e alta
durabilidade (ETERNIT, 2009). O amianto tem sido utilizado pelo homem desde o incio das
civilizaes, onde era adicionado na argila para fazer utenslios cermicos com melhores
propriedades, inclusive refratrias. encontrado no meio ambiente em forma de rocha
compacta de onde se extraem as fibras que correspondem de 5% 10% do mineral. Na Figura
02, pode-se observar as fibras brancas na rocha de amianto.
Existe dois grupos de rochas amiantficas, a saber, as serpentinitas e os anfiblios.
Os anfiblios possuem fibras retas, pontiagudas e cilindras. Possui alta concentrao de ferro.
Nesse grupo esto a crosidolita, conhecida como amianto azul e a amosita, conhecida como
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amianto marrom. No grupo das serpentinitas esto as crisotilas ou amianto branco. Estas
possuem fibras finas, sedosas, flexveis e com alto teor de magnsio A crisotila, segundo
ABREA, (2007), responsvel por 97% do consumo mundial. Este tipo de amianto usado
na fabricao das telhas de fibrocimento.
Figura 02: Pedra de amianto crisotila
Fonte: SAMA (2009)
O amianto crisotila possui excelentes propriedades fsicas e qumicas, entre as
quais se destacam sua alta resistncia trao, superior a do ao, sua alta resistncia mecnica
abraso, sua flexibilidade, sua elevada resistncia ao ataque de cidos e lcalis, a resistncia
ao fogo e sua baixa transmisso de calor. Essas propriedades so conferidas telha que o
contem. Alm disso, um material de baixo custo.
O Brasil o terceiro produtor mundial de amianto, sendo que 30% de sua
produo para exportao. A Tabela 01 lista os maiores produtores mundiais de amianto.
De acordo com CRISOTILA BRASIL, 2009, o consumo anual brasileiro de
amianto crisotila gira em torno de 110 mil toneladas/ano, sendo que 98% deste consumo
voltado para materiais de fibrocimento. No mundo, o consumo total est em torno de 2,2
milhes de toneladas/ano, lideradas pelos pases asiticos. A tabela 02 elenca os maiores
consumidores mundiais de amianto. Observando essa tabela podemos confirmar a tendncia
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de banimento do amianto na Europa, onde muitos pases tem seu uso proibido. O consumo
nos pases asiticos e na Rssia grande, por ser a China e a Rssia os maiores produtores
mundiais desse minrio.
Tabela 01 - Produo Mundial de Amianto
PRODUO MUNDIAL DE AMIANTO
PAS PRODUO (M.TON)
RSSIA 920.000
CHINA 320.000
BRASIL 290.000
CASAQUISTO 210.000
CANAD 200.000
ZIMBABWE 130.000
OUTROS 15.000
TOTAL
Fonte: CRISOTILA BRASIL, 2009
Tabela 02: Consumo Mundial de Amianto
CONSUMO MUNDIAL DE AMIANTO
CONSUMIDORES CONSUMO (%)
PASES ASITICOS 58
PASES DA ANTIGA URSS
30
AMRICA LATINA 8,5
FRICA E ORIENTE MDIO 2,2
EUROPA 0,6
Fonte: CRISOTILA BRASIL, 2009
A fbrica recebe o amianto compactado em blocos de 50Kg , ensacado em
embalagens plsticas e vedados atravs de costura (Figura 03). Esses blocos so armazenados
em galpes fechados at seguir para o processo de produo da telha. A retirada da
embalagem e a triturao do bloco so feitas atravs de mquinas, sem o contato humano.
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Figura 03 - Bloco de 50 Kg de amianto compactado e embalado
Fonte: CRISOTILA BRASIL, 2009
Segundo WNSCH, NEVES, MONCAU (2001) so muitas as patologias
relacionadas com o amianto e, apesar de serem conhecidas desde a antiguidade, as evidncias
clnicas e epidemiolgicas s foram reveladas a parir do sculo XX.
So doenas relacionadas a exposio ao amianto, a asbestose, que consiste em
uma fibrose pulmonar progressiva, ou seja, o endurecimento da pleura, diversos tipos de
cncer, dentre eles o pulmonar, de laringe e gastrointestinais, dentre outros. Vale salientar que
a exposio ao diversos tipos de amianto, tanto a crisotila, como os anfiblios, pode causar
essas doenas. A exposio no ocupacional tambm est relacionada a alguns tipos de
cncer. A WHO World Health Organization (2006) que afirma que atualmente 125 milhes
de pessoas encontram-se exposta ao amianto em seu local de trabalho em todo o mundo e 90
mil pessoas morrem por ano em decorrncia de cncer de pulmo e asbestose causadas por
esta exposio. Calcula, ainda, que outros milhares de pessoas seguem morrendo em
decorrncia da exposio no ocupacional ao amianto, inclusive em pases onde o amianto j
foi banido, devido latncia das enfermidades. Finaliza afirmando que essas doenas s
comearo a diminuir nestes pases daqui a alguns anos, devido a esta latncia.
Em contrapartida, fabricantes de telha de fibrocimento defendem o uso do
amianto crisotila, alegando que o dano sade depende do tipo, do uso e da tecnologia
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empregada nos processos com esse mineral e que s o amianto anfiblio causa esses tipos de
doenas, por possuir grandes concentraes de ferro em sua composio. Eles afirmam, ainda
que no h registros na literatura mdica e nem na OMS Organizao Mundial de Sade que
disponha sobre doenas relacionadas a usurios de produtos que contenham a fibra de amianto
em sua composio, como as telhas de fibrocimento.
3.1.1.5 - A Lama de Cal
A lama de cal um resduo da fabricao de celulose. Segundo Stappe e Balloni
(1988), ela provem da clarificao do liquor branco extrado do eucalipto e rica em
carbonato de clcio (CaCO3). semelhante a um calcrio calctico.
3.1.2 O Processo Produtivo da Telha de Fibrocimento
A tcnica utilizada para fabricao da telha de fibrocimento industrializada e
mecanizada, com alguns processos realizados sob enclausuramento devido toxidade dos
produtos utilizados. A dosagem dos produtos controlada atravs de painel de controle
automatizado e os produtos so submetidos a controle de qua