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CHM * rtstita) V«g»in 2 2 MAR 1988 FEV-MAR/a/ANIO XVI N^lÜ Sabem o que acontece quando dois velhos conhecidos se encontram? É claro! Sentam, tomam seu chímarrao e prozeiam horas e horas... Foi o que aconteceu com os milhos híbridos e criolo. O híbrido, famoso e forte, se espalhava pelas grandes propriedades, esquecendo-se daquele que lhe deu origem, o criolo. Mas, depois de algum tempo, se encontram e conversam bastante i Durante a conversa, o milho criolo começa a entender muita coisa que não entendia do milho híbrido. Se vocês querem saber o que ele descobriu, leiam as páginas centrais... Trabalho conjunto da Assesoar, CPT e Articulação Sindicai mostra uma boa conscientização na base de Borrazópolis. "Seminário de política de desenvolvimento dos serviços além mar", mandam carta ao Presidente Sarney e ao Chanceler Kohl,da Alemanha, apoiando as exigências dos pequenos agricultores dos dois países. Qual será a prioridade nascida da vida do povo sofrido? E que prioridade foi escolhida para as lutas da Igreja Evangélica \ de Confissão Luterana no Brasil? 4 de março "Dia do Basta" Basta de injustiça, opressão, fome, miséria, corrupção, mentira... Página 3 Página 6 Página 7 Página 8

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CHM * rtstita) V«g»in

2 2 MAR 1988 FEV-MAR/a/ANIO XVI N^lÜ

Sabem o que acontece quando dois velhos conhecidos se encontram?

É claro! Sentam, tomam seu chímarrao e prozeiam horas e horas...

Foi o que aconteceu com os milhos híbridos e criolo.

O híbrido, famoso e forte, se espalhava pelas grandes propriedades, esquecendo-se daquele que lhe deu origem, o criolo. Mas, depois de algum tempo, se encontram e conversam bastante i

Durante a conversa, o milho criolo começa a entender muita coisa que não entendia do milho híbrido.

Se vocês querem saber o que ele descobriu, leiam as páginas centrais...

Trabalho conjunto da Assesoar, CPT e Articulação Sindicai mostra uma boa conscientização na base de Borrazópolis.

"Seminário de política de desenvolvimento dos serviços além mar", mandam carta ao Presidente Sarney e ao Chanceler Kohl,da Alemanha, apoiando as exigências dos pequenos agricultores dos dois países.

Qual será a prioridade nascida da vida do povo sofrido? E que prioridade foi escolhida para as lutas da Igreja Evangélica \ de Confissão Luterana no Brasil?

4 de março "Dia do Basta" Basta de injustiça, opressão, fome, miséria, corrupção, mentira...

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GRITA POVO

Quem não se recorda que, ao contrário do que pensavam os nos- sos pais e os mais velhos de nós, o gol- pe militar de 64 trouxe o medo, a re- pressão, o arrocho, a falta de liberdade e terminou de entregar o Brasil aos es- trangeiros - sobretudo americanos do norte\...

Em 78-79, o povo humilhado, in- justiçado e com fome reage com gran- des manifestações e greves. Quem não se lembra da famosa greve de mais de 40 dias dos Metalúrgicos do ABC pau- lista?...

Essas mobilizações e a solidarie- dade de praticamente toda a socieda- de, que contribuiu com alimentos e di- nheiro levaram os militares a ceder, começando o processo de abertura po- lítica.

Em 85, os militares seriam substi- tuídos por civis. Era a "Nova Repúbli- ca". O povo renovou as suas esperan- ças, acreditou que a melhora viria. Mais uma vez seria enganado.

Hoje, 3 anos depois, o povo per- cebeu que, os que assumiram o gover- no, não tinham nada de novo - eram antigos ditadores, opressores e não de- mocratas. Conseqüência: o país hoje atravessa séria crise econômica, moral, social e política.

Pelo lado dos trabalhadores, ve- mos arrocho, desemprego, subempre- go, fome. Por outro, vemos um grupo pequeno mamando tetas do governo, às nossas custas. Esses fatos levaram o povo a novamente desacreditar das autoridades e políticos. O barulhaço de 4 de março, no país inteiro, com- prova isto. Quem não cansa de dema- gogia^.

Esses fatos levam à previsão de um futuro negro. Possivelmente o po- vo com fome vá buscar a comida que lhe falta. Aí não adianta meter a polí- cia e taxá-los de baderneiros, ladrões, vagabundos, etc... A nível político, ca- so o presidente Sarney insista em chu- par na teta mais um ou dois anos e o Congresso Constituinte (e a sociedade) não concordar estaremos correndo o risco de uma intervenção militar, o que será ainda pior.

carta a assescmr Haia, lõde fevereiro de 1988 - Holanda

Estimados amigos da ASSESOAR,

Entre as muitas reações que recebi, por motivo de minha aposenta- doria de CEBEMO, tanto no Brasil como de outros países da América Lati- na, me emocionou a placa comemorativa que vocês me enviaram.

Me lembro das visitas às comunidades onde os lavradores e pequenos proprietários de terra tentam, unidos, lutar para construir um mundo me- lhor, solidários com outros que vivem em condições ainda piores. Senti, na- queles momentos, o espírito humano e cristão que forma a base de todo o trabalhador da ASSESOAR.

Desejo que vocês continuem com este mesmo espírito e a mesma fé na construção de um mundo mais justo e mais humano. Se eu tiver contri- buído algo para transmitir deste espírito aos meus companheiros de CEBE- MO, estou muito feliz.

De minha parte quero transmitir o meu apreço e a minha amizade que sinto para todos vocês e as comunidades que vocês representam. Que Deus abençoe este seu trabalho\

Muito obrigado e um grande abraço. Eduardo Van de Walle

Jovens da Alemanha Federal

ititerrâtiilfío brasil/ aletttatika

Estiveram em visita ao Sudoeste, entre os dias 9 e 14 de fevereiro pp, um grupo de jovens da Alemanha Fe- deral. 0 grupo faz parte de uma Asso- ciação de Jovens Evangélicos da região de Nürnberg, a qual tem 5.000 (cinco mil) sócios.

Esta é mais uma visita que faz parte de um relacionamento entre tra- balhadores do Brasil e Alemanha que começou com a ida de Daniel Meurer, atual presidente da Assesoar, àquele país, a convite, para discutir os proble- mas dos camponeses do Brasil, visando despertar a solidariedade entre os dois países.

A solidariedade entre trabalhado- res dos dois países vem se fortalecen- do. Em outubro, receberemos outro grupo de Jovens Evangélicos de outra região daquele país - Vestfalia e Lippe.

Daqui, o grupo desceu para San- ta Catarina e Rio Grande do Sul a fim de continuar o intercâmbio com ou- tras organizações de trabalhadores.

/"

EXPEDIENTE

O jornal CAMBOTA é editado sob a responsabilidade da ASSESOAR

Conselho Administrativo Daniel Meurer, Assis M. Couto, Délcio Perin

Valdir Duarte, Moacir Carboni, Aríete Calegari Felipe Grzeça, Guerino Bochi, Osório F. da

Silva e Antônio Capitani Reportagem:

Valdir Duarte, Vanderlei Darmbrós, Marcelo Apel Elir Battisti, Ari de David, Valdir Maffioietti,

Claudino Veronese, Doraci C.de Souza, Jair Grzeça

Oiagramação/Arte Final: Ligia Apel Fotolito:

Use Composição:

IMeiva Coordenação Gráfica:

Iza Pyjak "Composto e Impresso:

ASSESOAR-Av. Gal. Osório, 500 Cx. Postal, 124 - Fco. Beltrão - PR

DISTRIBUIÇÃO DIRIGIDA

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ADMINISTRAÇÃO COLETIVA A Assesoar vem desenvolvendo um trabalho conjunto com a CPT e a Articulação Sindical em

mais de 40 municípios com o objetivo de firmar grupos de lideranças na organização dos trabalhadores rurais. Vamos ver a seguir uma carta que o Hipòlito nos escreve dizendo

o que as lideranças daquele município vem realizando.

"Borrazópolis, 12 de fevereiro de 1988.

Estimados companheiros da As- sesoar.

E com bastante alegria que escre- vo-lhes para relatar os fatos aconteci- dos em Borrazópolis.

Borrazópolis está tendo a pior administração municipal. Prefeito e vereadores envolvidos na maior corru- pção de todos os tempos. Maquinário e frota de veículos totalmente destru (- dos. Estradas em todo município, to- talmente intransitáveis.

No mês de outubro último, mo- bilizamos o povo prá uma reunião. Objetivo: reivindicar melhoria nas es- tradas do município. Convocamos prá reunião, mais de mil participantes, o deputado estadual mais votado no mu- nicípio. Exigimos sua interferência junto ao Governo do Estado, no sen- tido de obter uma patrulha mecaniza- da, prá fazer o conserto das estradas. As máquinas foram enviadas, mas, de- vido nossa inexperiência em luta con- creta, não nos organizamos o suficien- te. Nosso erro foi não ter formado uma comissão municipal de estradas. Máquinas do Estado vieram, mas fo- ram comandadas pelos vereadores para beneficiar apenas suas propriedades.

Agora, nos primeiros dias de fe- vereiro, começamos a mobilização. Objetivo: conseguir melhoria nas estra- das. Como sempre, fomos taxados de arruaceiros, vermelhos, etc. Eu pes- soalmente, fui ameaçado de morte pu- blicamente e particularmente.

Nossa primeira vitória e primei- ro grande erro político do sr. prefeito. O prefeito me caluniou através da rá- dio local. No dia seguinte, compareci à emissora para fazer a minha defesa. Preparei a defesa antecipadamente e outra emissora da região, de maior al- cance, entrou em cadeia para transmi- tir meu pronunciamento. Foi a pri- meira vez que um roceiro conseguiu fazer duas rádios entrar em cadeia prá transmitir seu pronunciamento. A re- percussão de minha entrevista não po- dia ter sido melhor, conseguimos mo- bilizar 98% do povo contra o prefeito e contra todos os vereadores (todos

do PMDB). Organizada a Comissão Munici-

pal de estradas, o próximo passo foi mobilizar o povo para o dia de protes- to por falta de estradas. Costuramos todas as lideranças políticas no objeti- vo de conseguir estradas.

Faltava o último passo. Aqui ha- via uma briga entre duas facções do PMDB. A comissão solicitou uma reu- nião na câmara municipal, com todos os veredores e com os três deputados estaduais mais votados aqui. Apenas 5 vereadores compareceram e, depu- tados, nenhum. Aproveitamos para desmoralizar os faltantes.

No dia seguinte, a comissão foi até o escritório do deputado estadual mais votado (Apucarana), Scarpelini, e exigimos a sua interferência. Saimos bastante recepcionados. A esta altura o clamor do povo estava quase no cli- ma de revolta. Voltamos. Organizamos o alto-falante e saimos aos bairros (co- munidades) para mobilizar o povo pa- ra o dia do Protesto, que seria no sá- bado, dia 15 às 15 :00 horas. O Pre- feito compareceu à rádio para amea- çar o povo, dizendo que colocaria tro- pas de polícia e do exército na praça.

De fato, o protesto não pode ser realizado, pois na quinta-feira à noite recebi o telefonema do deputado Scarpelini, dando-me a notícia de que no dia seguinte, às 10 horas da manhã, chegaria a Borrazópolis uma patrulha mecanizada do DER, composta de 2 motoniveladoras, 1 trator de esteira, 4 caminhões caçamba, 1 pá carregado- ra, 1 caminhonete e 1 caminhão de abastecimento.

Graças a Deus e aos companhei- ros havíamos vencido. Mas, o melhor estava ainda prá acontecer.

O deputado Scarpelini, prá não entregar as máquinas ao comando do prefeito e dos vereadores, entregou o comando das máquinas à Comissão Municipal de Estradas, da qual sou seu presidente. Era um sonho, prá ser verdade. Uma patrulha mecanizada sob o comando dos roceiros, de sindi- calistas. (...)

Talvez um fato inédito no Brasil. Al? vez uma administração coletiva graças a um trabalho que começou a tão pouco tempo. Merece ser destaca-

do na imprensa sindical. Na hora da entrega das máquinas

à comissão, máquinas e muitos carros, enfileirados para a passeata pela cida- de. Os 3 coordenadores da comissão no 19 carro da fila, puxando a passea- ta pela cidade. Invadimos a cidade, soltando fogos. O povo nas ruas e nas praças nos aplaudindo. Os roceiros mostrando ao povo a força que os tra- balhadores podem conseguir. A pas- seata terminou no Sindicato, com dis- cursos dos políticos da facção dissi- dente do PMDB e o meu dircurso. O prefeito, enlouquecido de raiva,compa- receu à rádio local para criticar os membros dissidentes de seu partido, que haviam entregue o comando das máquinas ao líder do PT prá ele des- filar pela cidade e desrespeitar a au- toridade do prefeito.

Reuni meus companheiros, dis- tribui tarefas a cada um e fomos prá estrada prá comer poeira junto das máquinas. Fomos dirigir os trabalhos.

Quando o prefeito saiu da rádio o pau quebrou entre eles. Se pegaram no braço e a briga entre eles foi feia. Teve até pessoas com braço fraturado, a cara quebrada. Nenhum dos nossos companheiros participou da briga. Es- tavam <odos nas estradas comandando o trabalho das máquinas.

O mais difícil agora é manter o comando e as máquinas em Borrazó- polis. Temos 25 prefeitos e 3 deputa- dos trabalhando contra nós. Mas nós também estamos aprendendo fazer pressão ao Governador, aos deputados e aos prefeitos da região. Já manda- mos mais de 200 telegramas solicitan- do a permanência das máquinas e que o comando continue conosco, pois segundo o povo, o serviço não pode ser melhor administrado. Se conse- guirmos que as máquinas permane- çam por 30 dias, vai dar para fazer o conserto de estradas em todo o muni- cípio. Em 30 dias vamos fazer o que não foi feito em 5 anos pela atual administração do PMDB. O povo ho- je está muito satisfeito e a alegria vol- tou a Borrazópolis.

"DEUS EXALTOU OS HUMILDES E HUMILHOU OS PODEROSOS."

Abraços do seu companheiro Hipòlito Rodacki".

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DIÁLOGO ENTRE II IS MILHOS Boa tardei Tudo bem?

Tudo bem!

Como tu te chamas?

Eu... Ha sim, eu me chamo milho,

Mas que tipo de milho?

Pois bem, já que tu queres saber, então eu vou te dizer. Eu me cha-

mo Milho Criolo, ou Milho Co- mum, ou também Milho Rústico. Mas eu prefiro que me chamem de Milho Criolo.

Muito bem. Milho Criolo.

E o teu nome? Como techamas?

Bem, já que tu estás ansioso em saber... O meu nome é Milho Hí- brido.

C(criolo) - Mas quais as novida- des, seu Milho Híbrido?

H(híbrido) - Ha sim, Criolo. Eu queria te fazer umas perguntas.

CPois bem, se for do meu alcance e se eu souber responder, estou

às tuas ordens.

IPor que tu andavas sumido, criolo? Há muito tempo não te

via. Qual a causa disso?

CÉ uma boa pergunta! Eu não andava sumido, mas estava meio

afastado dos agricultores conven- cionais.

H Criolo, quero que me expliques, o que é convencional?

CSe tu me entenderes, agricultor convencional é aquele que usa a

mecanização. E que usa a mecani- zação são os grandes produtores, os granjeiros.

Tu falastes que não andavas su- mido, mas afastado. O que si-

gnifica isto?

CÉ... Uma coisa é diferente da outra. Sumido quer dizer que

não existe, mas eu existia. Eu só andava fastado das grandes áreas e do comércio, mas vivi junto aos pequenos agricultores, e pequenas áreas, e também junto aos agricul- tores mais antigos, aqueles não en- traram na mecanização.

HMas tu achas que a moderniza- ção é ruim?

CÉ, em parte eu acho ruim, por- que a modernização fez os agri-

cultores perderem o hábito de fa- zer a sua própria semente. Por e- xemplo: eu era selecionado na ro- ça ou no paiol pelo próprio agri- cultor, sem custar nada ou muito pouco. E tu, já estás custando um dinheirão para os agricultores.

HÉ... o meu custo é muito alto, mas eu acho que ainda é pouco,

porque eu sou mais produtivo que tu. E depois, eu já estou pronto, limpo, parreio, escolhidinho e ensacado!

1 Muito bem, seu híbrido, mas

quais as condições que tu neces- sitas para ser mais produtivo do que eu?

HÉ uma boa pergunta! Eu preci- so primeiro de terra bem corri-

gida com calcarão, em segundo lu- gar uma boa adubação química, e em terceiro lugar uma boa cober- tura de uréia, sem falar no herbici- da para que não haja outras plan- tas para me prejudicarem e do fungicida para que os fungos não atrapalhem minha vida. CMas para que tu precisas de tu-

do isso para seres produtivo se eu produzo sem tanta coisa co- mo tu usas?

HÉ que eu sou um híbrido. E necessito de tudo isso, porque

eu sou sensível e não tenho rusti- cidade.

CMas, e tu não tens medo que o agricultor, quando descobrir is-

to, não vai mais te procurar?

HNao... esse medo eu não tenho, porque eu sou produzido oelas

multinacionais, e elas são podero- sas e usam uma propaganda mui- to forte em todos os meios de co- municação para influenciar os agri- cultores. Elas não vão deixar que isto aconteça, vão fazer de tudo para que os agricultores não ve- nham a descobrir isto.

CAh... então tu és das multina- cionais. Por isso que tu apareces

no rádio, na televisão, no comér- cio, nas grandes mecanizações e és bem visto pelos grandes latifun- diários!

HÉ, meu caro companheiro. Eu sou bem conhecido, até no ex-

terior. E tu, até que f ícares só com

os pequenos e antiqos agricultores, nunca vais ser conhecido!

CPois é, isso me chateia um DOU- co, mas eu prefiro não ser mui-

to conhecido. Me interessa mesmo é favorecer os aaricultores e fazer com que eles se tornem indeoen- dentes e se libertem do consumis- mo. Mas eu tenho outra pergunta para xe fazer, seu híbrido, tu fa- laste que és sensível e não és rús- tico. Os bichinhos tioo traças, fun- gos e caruncho não te atacam fa- cilmente?

HÉ, este problema eu tenho. Mas, para os produtores, isso já não é

mais problema porque eles usam os inseticidas e os fungicidas.

C(Pensando:Nossa! Quanta coisa esse híbrido usa? Pucha, eu não

sabia de tudo isso! É, mas eu não sei, quando o agricultor descobrir que alguma coisa prejudica a vida dele, da família, seu bolso e até mesmo a terra com esses venenos, se ele vai ficar com este h íbrido.) - Mas, seu híbrido, tu achas que o agricultor ficando com a produ- tividade é o suficiente?

HSim... o que interessa para os grandes e para o governo é a

produtividade. Eles querem expor- tar e, para exportar, tem que pro- duzir. E, para produzir, tem que tirar o máximo da terra, aplicar os químicos e os defensivos e tem que entar na modernização.

CMas, e quando o agricultor fi- zer os seus cálculos para ver o

seu lucro, ele não vai se decepcio- nar?

HÉ, isso pode até acontecer. Mas isso não interessa ao governo e

letttlirete Prezado Amigo

Você sabia que o veneno é fatal ou provoca câncer e é Mutagênico (provoca mudanças genéticas que degradam o ser humano).

Entre tantos o TORDOM 2,40 P.L. 50, com 66 mg mata 1 kg de ser vivo e é muito tóxico para peixes e pessoas diabéticas. Além disso, quando aplicado em potreiros, o gado come o feno, e se o estéreo for usado na lavou- ra, as verduras, o feijão, a batata doce, a batata inglesa, o tomate e outros produtos não produzem. E, caso produzirem, o produto fica envenenado e in tóxica quem o come.

Valdir Luiz Rech Monitor Agrícola do Canoas - Dois Vizinhos

aos grandes grupos. Para eles o que interessa é a produtividade. Para o capitalismo, isso é ótimo!

C(Pensando: Mais uma coisa eu fiquei sabendo... Produtividade

só é bom e interessa aos grandes e ao governo... E os pequenos agricultores como ficam? Sempre mais pobres? Mas uma coisa é certa. Com tudo isto que o híbrido falou, não me convenceu de que eu não sirvo.

Tenno a certeza que os agriculto- res não irão me abandonar. Já tem uns agricultores conscientes, sa- bendo de toda esta realidade.)

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MALES INTERRELACIOIMADOS Exmo. Sr. Presidente Sarney,

da República do Brasil. Exmo. Sr. Chanceler Kohl,

da República Federal da Alemanha.

Nós, os signatários tratamos num seminário de política de desenvolvi- mento, entre outras coisas, dos efei- tos da exportação de soja do Brasil a população agrícola do Brasil e na Re- pública da Alemanha.

Nos nossos dois países há males na agricultura que estão interreiacio- nados. As importações de forragens vindas a preços baixos entre outros países do Brasil, beneficiam na Repú- blica Federal da Alemanha em primei- ro lugar as empresas agroindustriais, enquanto que as pequenas explorações agrícolas familiares, cuja estrutura foi crescendo com os séculos, vai sendo destruida devido à falta de competi- vidade. isto teve como conseqüência a perda de lugares de trabalho, a paisa- gem vai sendo destruida e a longo pra- zo diminui a qualidade de nossos pro- dutos alimentícios.

No Brasil, são os grandes proprie- tários que se beneficiam da cultura da soja para a exportação. A cultura in- tensiva de soja exige a utilização de sementes, adubos e pesticidas que os pequenos agricultores não podem pa- gar por muito tempo. As conseqüên- cias são a perda de lugares de trabalho e de terra, diminuição da produção de gêneros alimentícios básicos, pobreza, fome e um êxodo rural massivo para as favelas das cidades, que vão aumen- tando cada vez mais.

0 Brasil apresenta uma distribui- ção muito desigual de propriedade: cerca de 80% do terreno fértil está nas mãos de proprietários, metade do qual fica improdutivo porque serve de in- vestimento em dinheiro ou como meio de especulação.

Com base nesta análise da situa- ção, apoiamos por um lado as exigên- cias da Associação Brasileira dos pe- quenos agricultores (ASSESOAR) e, por outro lado, as exigências do Grê- mio dos pequenos agricultores na Re- pública Federal da Alemanha.

As exigências para o Brasil são as seguintes: • realização da Reforma Agrária com

a colaboração dos pequenos agricul- tores;

• expropriação pelo governo de su- perfícies de terrenos improdutivos dos grandes proprietários, a terra pertence a quem a cultiva;

• nenhuma deportação de pequenos agricultores nem de trabalhadores rurais;

• criação de infra-estrutura necessária para os pequenos agricultores.

As exigências para a República Federal da Alemanha são as seguintes: • preços móveis e limites máximos

para o número de reses para prote- ção de pequenas e médias empre- sas;

§ produção em relação à superfície; • limites máximos de arrendamento e

de recusa de arrendamento;

• redução do emprego de adubos e de produtos de proteção para plantas.

Apelamos a V. Ex? Sr. Presiden- te Sarney para que realize a Reforma Agrária anunciada em maio de 1985, tendo em consideração as exigências da ASSESOAR. Do mesmo modo ape- lamos ao Sr. Chanceler Federa! para que corresponda às exigências do Grê- mio dos pequenos agricultores.

Com os melhores cumprimentos.

Os participantes do seminário de política de desenvolvimento dos servi- ços além mar (Grupo regional de Han- nover) em outubro de 1987.

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Essa é uma prioridade que nasce da realidade do povo

sofrido. Prioridade que foi escolhida pela Igreja Evangélica de Confissão

Luterana no Brasil (IECLB) até o Concilio Geral de 1990.

O texto abaixo, foi tirado do "INFORMATIVO IECLEB"

(Ano IX, nP 87 de janeiro de 1988 - pág. 5).

ALÉM DA BÍBLIA, ESTUDAR ECONOMIA "Tudo pelo social", slogan do go-

verno Sarney, esvaziou-se pelos fatos. A situação de crise e desespero do po- vo nunca esteve tão aguda quanto ago- ra e nem mesmo durante o regime mi- litar os pastores foram tão unânimes em apontar para a realidade e aplau- dir a preocupação pela "justiça e res- ponsabilidade social", prioridade esco- lhida pela IECLEB até o Concilio Geral de 1990. "Na situação em que se vive hoje no país não é mais possí- vel permanecer na igreja de atendi- mento" manifesta-se Werner Brunken pastor de Petrópolis (RJ).

Lutar por justiça, define o pas- tor Geraldo Schach, de Morro Redon- do, Pelotas (RS), é lutar por uma vida digna para todas as pessoas. "A ne- gação do direito das pessoas à alimen- tação, à saúde, à educação, à moradia, como se consta, é a injustiça vigente no país". Para o pastor Uwe Kliewer de Cuiabá, justiça significa mais i- gualdade de chances para as pessoas. "Alguns poucos têm tudo, podem via- jar ao exterior para um tratamento de saúde, enquanto à maioria falta aten- dimento mádico. Alguns poucos têm terra em demasia e com ela fazem es- peculação, enquanto outros não con- seguem um pedaço de chão para pro- duzir", exemplifica.

FAZER JUS

A Igreja quer, requer e reclama justiça para o povo, assinala o pastor regional Valdemar Lückemeyer, da Região 3, define, é fazer jus àquilo que a pessoa tem direito, e por isso, a- crescenta Kliewer, que olha a priori- dade bem concretamente, a justiça é uma questão entre os homens. Mais radical, o pastor Günter Adolf Wolff, da assessoria bíblica entre os traba- lhadores sem terras do Distrito Uru-

guai, afirma que a justiça requer, em todo o caso, que os trabalhadores de- tenham os meios de produção e pos- sam determinar o que produzir, co- mo produzir e para quem produzir.

"Enquanto os trabalhadores não tiverem os meios de produção serão mero objeto, que se compra, se ven- de e se joga fora quando ele não se precisa mais". E retorna à Sagrada Escritura para demonstrar como es- ta sua posição é bíblica. Quando o po- vo de Israel saiu do Egito, saiu para conquistar os meios de produção, que era a terra, na época. "O conceito bíblico não admite que alguns dete- nham os meios de produção, excluin- do a maioria. A igualdade é um con- ceito bem concreto, que se faz sentir no estômago, quando alguém passa fo- me, ou na cabeça, quando chove e não existe um teto para protegê-lo". Para o pastor Günther Boebel, de Blume- nau (SC), a justiça só é possível quan- do o ser humano entender que ele es- tá aí para o outro e não para se servir do outro.

BfBLIAE ECONOMIA

A luta por justiça leva ao engaja- mento, à responsabilidade social. Brunken, entende que é responsabili- dade da igreja abrir ainda mais suas portas para aqueles que estão engaja- dos nas lutas sociais no país. Na visão de Wolff, esse engajamento tem como conseqüência a ação prática de trans- formação. "Dentro da atual estrutura, •transformação implica acabar com o capitalismo, que está impedindo que as pessoas sejam cristãs.Os cristãos es- tão se adaptando ao capitalismo e não ao evangelho", lamenta. "Tudo o que acaba com pessoas é contra o Evange- lho", raciocina. "E o capitalismo arra-

sa pessoas, portanto deve ser extermi- nado. Jesus Cristo morreu para que pessoas tivessem mais vida".

A função da Igreja, prescreve Wolff, é capacitar cristãos e criar as condições de reflexão para que pos- sam atuar da maneira mais eficaz no sindicato, no partido político, no mo- vimento popular. Acha que o cristão, junto com a Bíblia, deve estudar eco- nomia, pois assim terá mais clareza na hora de optar. "A Igreja peca em não dar instrumentos para que cristãos fa- çam análise da realidade.Eles só podem fazer missão na medida em que co- nhecem o que querem missionar", diz.

FORMALIDADES

Schach lastima que a Igreja pro- cura se adequar ao sistema dominan- te. "É preciso ter coragem e botar os pés no chão". Lembra que o Evange- lho diz bem-aventurados aqueles que são perseguidos por aderirem à causa de Cristo. "A responsabilidade social da Igreja é cruz, que muitas vezes pro- curamos evitar", afirma o pastor de Morro Redondo. Ele se diz cansado de, no pastorado, ficar preenchendo formalidades ligadas à tradição e aos costumes, "quando se deixa de ata- car o problema verdadeiro da exis- tência humana, as suas angústias e sofrimentos".

Não tanto através de pronun- ciamentos - que também são necessá- rios -, mas nas bases, junto à socieda- de, a Igreja, através dos cristãos, deve lutar pela causa da justiça, propõe Brunken. "Ela também deve arrega- çar as mangas e assumir a responsabi- lidade social, não só denunciar mas meter a mão e fazê-lo", acrescenta Boebel. As oportunidades de engaja- mento estão aí, prossegue, agora é preciso assumir.

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BASTA DE:

• Arrocho salarial • Repressão aos trabalhadores e suas enti-

dades • Pagamento à dívida externa • Centrão pressionando a Constituinte • Fome, miséria • Latifúndios/UDR • Corrupção

BASTA DE SARNEY

EXIGIMOS:

Quatro de março foi dia de: "Basta de injustiça, opressão, fome, miséria, corrupção, mentira ...". Em todo o país explodiu panela, lata, bu- zina, etc. Beltrão não ficou pra trás.

A partir das 17:30 hs, uma caravana de carros partiu do terreno da Catta-

m (saida para Marmeleiro), passando pelo Bairro Vila Nova e Cango indo em direção ao Centro da Cidade. As pessoas deixavam as casas e o trabalho para acompanhar da rua a caravana barulhenta. O que chamou atenção é que elas (pessoas) demonstravam sim- patia pelo movimento fazendo gestos

• Diretas já/88 • Salários justos/D IEESE • Jornada de 40 horas semanais • Direito a autonomia sindical • O não pagamento da dívida externa • Reforma Agrária imediata • Atendimento a saúde gratuito para todos • Punição aos corruptos • Educação gratuita em todos os níveis

FORA SARNEY

Assesoar Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de

Construção Civil Mobiliária Sindicato dos Trabalhadores no Comércio

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de positivo, estamos com vocês.

Na praça da Catedral (Centro) realizou-se o buzinaço total em repú- dio ao governo e sua prática. Em se- guida, na presença de mais 400 pes- soas as entidades promotoras se mani- festaram publicamente.

...e o etitulho autoritário cotitítttut Verdadeira demonstração ou legi-

timação de autoritarismo é o que vem fazendo o atual governo do Estado do Paraná, Álvaro Dias, na sua "adminis- tração democrática e popular" (leia-se populista). O mais interessante ainda é que enquanto o "Exmo. Sr. Governa- dor" goza desta popularidade, verda- deiros absurdos vêm acontecendo sob seu consentimento, praticados por seus famosos "testas-de-ferro". Exem- plo disto é o seu irmão, Osmar Dias, Secretário da Agricultura, que encabe- çou as demissões de vários funcioná- rios da ACARPA (recentemente extin- ta e incorporada à Emater). Demissões estas constatadas puramente de cunho político-ideológico, já que a maioria do pessoal demitido são os funcioná- rios ligados, de alguma forma, a um trabalho de fortalecimento da organi-

zação popular que vem emergindo no campo e na cidade.

Esses funcionários, acusados pelo secretário da agricultura de "não suja- rem as botas", são justamente os que lutam por uma vida mais digna e igua- litária do trabalhador e não simples- mente absorvem os pacotes tecnológi- cos ou decisões de cúpula e os enfiam goela abaixo do trabalhador rural.

Um total de ^1 (trinta e um) técnicos foram demitidos da ACARPA e 05 (cinco) técnicos que sao^dirigen- tes sindicais foram transferidos do lo- cal de trabalho.

Só em Francisco Beltrão foram demitidos em maio/junho/87, seis a- grònomos e em agosto/87 e médico veterinário Jorge Acioly, de Marme- leiro. Neste ano, em janeiro, foram de- mitidos Pedro Boller (técnico agríco-

la) e Jeneci Pagliari (secretária da ACARPA - Marmeleiro). No mês de fevereiro, foi demitida a extencionista social regional, Zélia Gomes Maffio- letti, de Francisco Beltrão.

Para comprovar a arbitrariedade de tais atos, o presidente da AFA (As- sociação dos Funcionários da ACAR- PA), Arnaldo Bandeira, também demi- tido, voltou ao trabalho em 01/03/88, por decisão do Ju íz Eduardo Günther que considerou arbitrária a demissão do mesmo. Além disto, os cinco técni- cos transferidos entraram na justiça e a mesma determinou que retornassem a seus antigos locais de trabalho.

Atos inconseqüentes como estes recém ocorridos, só fazem legitimar a falsa democracia em que vivemos.

Departamento Técnico